Você está na página 1de 12

Resenha sobre os 3 volumes de Escravidão

Escravidão. Volume 1. Laurentino Gomes.


Devo inicialmente dizer que aprecio bastante os livros do Laurentino
Gomes. Comprei, li e resenhei os seus livros 1808, 1822 e 1889. Por isso não
tive dúvidas agora, em também comprar o seu livro Escravidão, Volume 1.
- Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos
Palmares. O projeto prevê o lançamento de mais dois volumes, um em 2020 e
outro 2021. Foram, como relata Laurentino, seis anos de pesquisas, incluindo
viagens aos locais da escravidão, visita às bibliotecas e conversas com muitos
historiadores.

O primeiro dos três livros de Laurentino Gomes sobre a escravidão.

O sub-título nos indica a delimitação deste primeiro volume. Das origens da


escravidão feita pelos portugueses, até a morte de Zumbi dos Palmares. Aliás,
se o livro for suscitar polêmica, será exatamente em função dos dois capítulos,
um sobre Palmares e outro sobre Zumbi. São os capítulos 28 e 29.  Como
percebem, o livro é volumoso, por conter tantos capítulos. Na verdade, são 30
ao todo. Este volume contém 479 páginas. Laurentino promete em torno de
1500 páginas para nos apresentar esta verdadeira chaga, possivelmente a
maior da humanidade.

O livro entra em muitos detalhes, especialmente sobre a questão da captura


dos negros na África, sobre os dois grandes entrepostos do comércio de cativos
na África, a cidade de Luanda e a ilha de São Tomé, hoje São Tomé e Príncipe,
sobre a captura e o transporte e também os maiores portos negreiros de
recepção aqui na América. E também muitos números, números totalizadores,
de mortos já no transporte inicial, na travessia e até a venda nos grandes
leilões. Eu particularmente gostei mais dos capítulos que envolvem a questão
dos holandeses, os de número 23 e 24. A invasão holandesa não envolveu
apenas Pernambuco, mas também as colônias no Oriente (especiarias) e a
África (pelo domínio do tráfico).

Mas vamos a uma sistematização da resenha. Os trinta capítulos. Antes ele


dá uma linha do tempo, com as principais datas e fatos e uma introdução, um
tanto longa, mostrando um panorama geral da escravidão ao longo de todos os
tempos.

Vamos aos capítulos.


1. A grande agonia: é um relato sobre a captura do escravo e a travessia do
Atlântico. O capítulo tem uma epígrafe, retirada do Coração das trevas, de
Joseph Conrad, "O horror! O horror!"
2. O leilão: É o relato do primeiro leilão em Lagos e versa também sobre as
formas de comercialização dos cativos na Europa.
3. As origens. Versa sobre as origens e as finalidades da escravidão e a
presença dela em todas as grandes obras do mundo.

4. Em nome de Alá. O relato é sobre a enorme expansão da escravidão sob


os muçulmanos e sobre as suas práticas, como as contra os eunucos.
5. O Patrono. O patrono da escravidão é o infante Dom Henrique, o da
escola de Sagres, sobre a qual existem dúvidas se de fato existiu. Mostra as
primeiras navegações e os primeiros navegadores, todos cavaleiros de Cristo,
os sucessores dos templários.
6. Mar infinito. Continua descrevendo as navegações e os conhecimentos
náuticos que as tornaram possíveis. Entra também na história de Portugal,
cristãos novos, inquisição e financiamento das expedições.

7. Terra dos papagaios. Os descobrimentos e o caráter secreto dos


conhecimentos náuticos. A terra dos papagaios é uma referência ao
descobrimento do Brasil.
8. O massacre. Um capítulo extraordinário, onde mostra os massacres
indígenas praticados pelos bandeirantes. Aqui mais uma vez caberia a
expressão de Conrad: "O horror! Oh horror"
9. A África. São mostrados os países e os povos africanos, rivalidades tribais
e a grande fragmentação.
10. A cicatriz. Esta cicatriz é universal. Foi praticada por todos os povos.
Trata da questão da participação dos africanos na captura para a escravização.
Aborda também a questão atual da dívida social.

11. Reconciliação. Um chefe africano pede perdão pelo fato de que eles


próprios contribuíram com a escravidão.
12. O laboratório. Trata das ilhas de Cabo Verde e de São Tomé, os grandes
entrepostos, ou depósitos africanos do tráfico.
13. Ruínas de um sonho. Trata do desejo frustrado da europeização e
cristianização do Congo.
14. Angola. O maior país fornecedor de escravos e a rota Luanda - Salvador,
descrita pelo padre Antônio Viera, como uma rota de salvação.
15. O negócio. Tudo sobre o tráfico. Captura, venda, valores e moedas.
16. Os lucros do tráfico. Fala dos riscos e dos lucros auferidos com o
negócio.

17. Os números. É um aprofundamento do capítulo anterior. Mostra os


estudiosos do tema e os números. Tudo sobre a questão dos números.
18. O navio negreiro. Tudo sobre os embarques e as viagens e o tratamento
dado. O navio era simultaneamente uma máquina de guerra, prisão móvel e
uma fábrica.
19. A chegada. Mostra a transformação dos seres humanos em mercadorias
atraentes, nos grandes portos de chegada e os castigos físicos, sempre
aplicados.
20. O Brasil. É um relato sobre o trabalho no canavial e nos engenhos.
21. Visão do inferno. Uma referência às caldeiras, na descrição de Antonil.

22. A cruz e o chicote. Por óbvio, aborda a questão moral cristã diante da


escravidão. A epígrafe sintetiza bem o tema: "Nunca consideramos este tráfico
ilícito. Na América, todo escrúpulo é fora de propósito". A frase é de um padre
jesuíta, reitor de um seminário em Luanda.
23. O Atlântico holandês. Já fiz referência. Trata da guerra que a Holanda
declarou a Portugal, em Pernambuco, na África e no oriente.
24. A guerra pelos cativos. Ainda a guerra da Holanda pelo domínio
africano, na busca pelos cativos. Aborda também os resultados desses
conflitos.

25. O padre eterno. Trata-se do maior dos navios negreiros.


26. O destino de Catarina. Foi considerada a rainha da escravidão, rainha de
Portugal e da Inglaterra.
27. O destino de Jinga. Esta já foi exaltada pelo seu poder e coragem posta a
serviço da causa negra.
28. Palmares. É uma descrição do quilombo e as investidas de holandeses e
portugueses, até a sua destruição pelo facínora Domingos Jorge Velho.
29. Zumbi. Um capítulo bem polêmico. Fala do pouco conhecimento que se
tem do personagem e de sua mistificação pelos historiadores Décio Freitas e
Joel Rufino dos Santos e ainda o fato de ter sido apresentado como gay, por
Luiz Mott.
30. Ouro! Ouro! Ouro!. É uma chamada para os dois próximos livros. Ainda
falta a questão da mineração e da lavoura cafeeira.

Termino com uma frase do padre Antônio Vieira, que é mostrada na


contracapa do livro: "O Brasil tem o seu corpo na América e sua alma na
África".

Escravidão. Volume II. Laurentino Gomes.


Ler os livros de Laurentino Gomes é sempre uma certeza de que você terá
muitas informações. E você as terá sempre de uma forma muito leve e fluente.
A leitura nunca deixará de fluir, embora a aspereza dos temas abordados,
como é o caso da escravidão. Estou me referindo especificamente ao segundo
volume de Escravidão - Da corrida do ouro em Minas Gerais até a chegada
de dom João ao Brasil. É um panorama do século XVIII, o chamado século
das luzes, que tantos processos revolucionários causou. Esse século também
provou que as verdades proclamadas pelos princípios do Iluminismo ou
Esclarecimento não eram universais. Eles enfrentaram a barreira da cor. O
tema é trabalhado no livro, no capítulo 28, sob o título de A liberdade é
branca. O que se dirá então da igualdade? Deixo a resenha do volume I da
trilogia: 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/03/escravidao-volume-1-laurentino-gomes.html
Escravidão. Volume II. Globo Livros. 2021.

O século XVIII. Um dos séculos mais conturbados da história. Um século


de rebeldia e de afirmação de direitos. Grandes mudanças históricas.
Destacaria duas datas que simbolizam essas mudanças: 1776 e 1789. A
Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. Os dois fatos
foram acompanhados de pomposas declarações de afirmação de direitos,
proclamados como universais. Já na entrada do século XIX, em 1804 o Haiti
proclama a sua independência e põe à prova a universalidade dos direitos
afirmados. Até hoje o Haiti paga o preço de sua ousadia. A escravidão dos
povos africanos permanecerá intacta ao longo de todo o século em questão e
será um dos alicerces econômicos de todas as grandes nações europeias da
época.

É este o panorama traçado no volume II da trilogia de Laurentino Gomes.


Por óbvio, o principal foco do livro é o Brasil, mas a abordagem do tema é
impossível sem voltar o olhar para o continente africano, donde, sob as
bênçãos das autoridades, inclusive as eclesiásticas, saíam as "mercadorias"
mais desejadas e valiosas desse triste período de nossa história. Um período de
muitas violências e de violências que duravam uma vida inteira. Era todo um
regime de escravidão.

O livro de Laurentino passa por uma exaustiva pesquisa bibliográfica,


apontada no livro, tanto por citações, como  através de uma extensa lista dos
livros utilizados, ao final do livro. Uma pesquisa que certamente consumiu
anos de trabalho. Por isso mesmo o livro se transforma numa grande
referência.

O livro tem, ao todo 511 páginas, divididas em 31 capítulos. Como os


títulos são curtos, eu os anuncio, com alguns entre parênteses explicativos:

1. A fronteira (sua expansão);


2. Esplendor e miséria;
3. Ouro! Ouro! Ouro!;
4. O herói invisível (o negro e a tecnologia da extração);
5. Fome, crime e cobiça;
6. Sertão adentro;
7. Escravismo piedoso;
8. Isolamento, censura e atraso;
9. Piratas;
10. Corruptos e ladrões;
11. Onda negra;
12. Os castelos (a partir daqui o livro se volta para a África);
13. Ajudá;
14. Agaja;
15. Conversa de reis.
16. Traficante escravizado;
17. Áfricas brasileiras (a herança cultural);
18. O sagrado;
19. Irmãos, reis e rainhas;
20. O trabalho;
21. A violência;
22. O sonho;
23. A família escrava;
24. As mulheres;
25. Chica na terra dos diamantes;
26. Fugitivos e rebeldes;
27. O medo (rebeliões);
28. A liberdade é branca;
29. Quebrando os grilhões;
30. O naufrágio;
31. O presente.

Na orelha do livro, uma síntese: "[...]


Desta vez, o tema é a escravidão e seu profundo e definitivo impacto na
formação do Brasil e da sociedade em que vivemos hoje. Composta por uma
série de ensaios e reportagens de campo, a obra é resultado das leituras,
pesquisas e observações feitas pelo autor ao longo de seis anos em viagens por
doze países e três continentes. O volume inicial, lançado em 2019, cobriu um
período de mais de 250 anos, desde o primeiro leilão de cativos africanos em
Portugal, em 1444, até a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Este segundo
livro concentra-se no século XVIII, auge do tráfico negreiro no Atlântico,
motivado pela descoberta das minas de ouro e diamantes no Brasil e pela
disseminação, em outras regiões da América, do cultivo da cana de açúcar,
arroz, tabaco, algodão e outras lavouras marcadas pelo uso intensivo de mão
de obra cativa.

Num período de apenas cem anos, mais de seis milhões de seres humanos
foram traficados da África para o Novo Mundo. O Brasil sozinho recebeu um
terço desse total, cerca de dois milhões de africanos escravizados. É também o
período mais decisivo na construção da África brasileira, pela introdução de
novos hábitos e costumes que teriam profundas influências na vida nacional,
incluindo a culinária, o vestuário, as festas e danças, os rituais religiosos e o
uso dos espaços públicos.

No século XVIII, essas transformações podiam ser observadas em


variados aspectos, como a família escrava, as alforrias, a escravidão urbana, as
festas, irmandades e práticas religiosas, a assimilação, as fugas, rebeliões e
movimentos de resistência".

No último parágrafo do livro, na sua parte final, temos o anúncio do 3º e


último volume da trilogia: "Ao longo de todo o século (XIX), senhores de
engenho, barões do café, fazendeiros, donos e traficantes de escravos apoiaram
o trono brasileiro. Em troca teriam dele a garantia de que tudo continuaria
como antes. Em nome dos interesses da aristocracia escravista agrária e
mercantil, o império resistiria até o limite do possível a todas as pressões e
esforços para acabar com o tráfico de cativos e a própria escravidão. Até que o
edifício inteiro, tornado insustentável, implodisse na sequência da lei Áurea,
que pôs fim ao cativeiro em 13 de maio de 1888 e seria decisiva na queda da
própria monarquia, no ano seguinte. Esses serão os temas do terceiro e último
volume da trilogia".

Brasil! Pobre Brasil! Seria a herança da escravidão uma chaga irremovível


para a construção de um país com efetiva justiça social e dos princípios de
liberdade e igualdade proclamados desde o século aqui em questão? Temo que
sim! Existe toda uma ideologia dominante para que uma verdadeira lei de
gravidade social, se imponha.  Trago as notícias desses dias, da diminuição das
desigualdades no Brasil, entre os anos de 2003-2014, nos governos do Partidos
dos trabalhadores, trazidas pelo Banco Mundial. No entanto, por essa e outras
razões, as políticas desse período foram abortadas pelo golpe de estado de
2016, aplicado pelas eternas elites brasileiras, herdeiras de um espírito
bandeirante e escravocrata. Esse caminho precisa ser retomado.

Escravidão. Volume III. Da independência à Lei


Áurea. Laurentino Gomes.
 Como Laurentino Gomes escreveu uma trilogia sobre a escravidão
brasileira, antes de fazer a resenha do terceiro volume, apresento o link da
resenha dos volumes I e II, já feitas nesse blog.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2020/03/escravidao-volume-1-laurentino-gomes.html

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2021/10/escravidao-volume-ii-laurentino-gomes.html

O terceiro volume da trilogia Escravidão. Globo Livros. 2022.

Apresento também os subtítulos dos três volumes. O título geral


é Escravidão. O subtítulo do volume I é Do primeiro leilão de cativos em
Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares, o do volume II é Da corrida do
ouro em Minas Gerais até a chegada da corte de dom João ao Brasil e o do
volume III é Da Independência do Brasil à Lei Áurea. O terceiro volume é o
mais volumoso deles. São quase 600 páginas de muito conteúdo. Ao todo, a
soma dos três volumes atinge praticamente 1500 páginas, passando pelo
tráfico, pela análise do sistema da escravidão, até a abolição, que, de fato não
existiu. A desigualdade pela qual o Brasil passa ainda nos dias de hoje é um
reflexo de que no Brasil pode ter havido um processo de abolição da
escravidão, mas não a sua obra, usando uma afirmação de Joaquim Nabuco.

O terceiro volume está estruturado em 29 capítulos e, conforme o


subtítulo nos indica, ele faz a abordagem desde os tempos da independência
até a abolição, de 1822 a 1888, portanto. A proclamação da independência,
nada significou para a população brasileira escravizada. José Bonifácio era
praticamente uma voz solitária na abordagem dessa  questão nessa época.
Como os títulos dos capítulos são curtos, eu os apresento. Depois vou me deter
em alguns deles.

Cap. I. Folguedos da libertação (geral do período);


cap. II. O comendador (Sousa Breves, um símbolo da escravidão nesse
período, já dominado pela lavoura cafeeira no vale do rio Paraíba);
cap. III. Os esquecidos (por óbvio, os escravizados, não atingidos pela
independência);
cap. IV. Para inglês ver (a lei de 1831 que aboliu o tráfico negreiro,
assinado junto a Inglaterra);
cap. V. Hipocrisia (as relações comerciais com a Inglaterra, sem levar em
conta a lei de 1831);
cap. VI. Honoráveis beneméritos (traficantes benfeitores da humanidade e
cidadãos exemplares);
cap. VII. Barões e fidalgos (a distribuição de comendas da nobreza no vale
do Paraíba, o coração escravista ao longo do século XIX).

Capítulo VIII. O Império escravista (O cotidiano escravista nas fazendas


de café do vale do Paraíba);
cap. IX. Vende-se, compra-se, aluga-se (Trabalho desumanizante, as
diferentes formas de escravidão. Escravos de ganho, de aluguel, amas de leite,
além de outras formas ainda menos dignas. Aborda também a questão de uma
linguagem escravista);
cap. X. O Valongo (o centro de comercialização dos escravizados no Rio de
Janeiro);
cap. XI. A testemunha (A história da escravidão é contada por brancos);
cap. XII. O amigo do rei (os traficantes africanos, amigos dos reis -
enquanto houver comprador, nós venderemos);
cap. XIII. Nã Agotimé (A escravização de nobres e de reis africanos).
Capítulo XIV. Angola, frente e verso (As dores de Angola - o comércio de
escravos); cap. XV. Medo, morte e repressão (24 de janeiro de 1835, a rebelião
dos malês); cap. XVI. Manual do cativeiro (sob o princípio de que - quem se
diverte não conspira. Como lidar com os escravizados para não chicotear 24
horas por dia. A dosagem entre a severidade e a "brandura", para evitar as
rebeliões); cap. XVII. Na mira dos canhões (dos canhões ingleses. Lei Eusébio
de Queirós - abolição do tráfico - 1850);  cap. XVIII. No limbo (Como eram
tratados os ex escravizados, os alforriados. O tratamento dado aos lanceiros
negros na Revolução dos Farroupilha); cap. XIX. Apogeu e queda (depois de
1870, ao término da Guerra do Paraguai, os alicerces da monarquia começam a
tremer. Lei do Ventre Livre e Sexagenários). 

Capítulo XX. Os abolicionistas (Os radicais e os do interior do sistema);


cap. XXI. O precursor (Luiz Gama, o famoso e temido Dr. Gama).
cap. XXII. A conversão (Fatos marcantes que levaram ao abolicionismo:
Luiz Gama, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e André Rebouças);
cap. XXIII. Terra da luz (Ceará e Amazonas - os estados precursores da
abolição. A lavoura cafeeira como polo de resistência);
cap. XXIV. Reação (As resistências à abolição. A sedimentação de ódios e
preconceitos);
cap. XXV. Aliança escravocrata (A vinda ao Brasil dos escravocratas
confederados dos Estados Unidos);
cap. XXVI. Maré Branca (As teorias do branqueamento. O latifúndio
permanece intocado. 1850 e a lei da terra no Brasil. 1862 e o Homestead Act
nos USA).

Capítulo XXVII. Pânico (o clima pré-emancipação. As rebeliões escravas e


a aliança com os abolicionistas);
cap. XXVIII. Isabel (Sua fragilidade. A agonia do império. José do
Patrocínio e o título de Isabel - A Redentora. O 13 de maio X 20 de novembro);
cap. XXIX. O dia seguinte (Da euforia à depressão. As favelas. A
manutenção da brutal desigualdade).

Laurentino Gomes deu também três entrevistas ao Programa Roda Viva


da TV Cultura de São Paulo. Recomendo muito assistir ao terceiro, sobre o
terceiro volume. O ponto alto da entrevista é o relato sobre as transformações
pessoais por ele sofridas ao longo da escrita da obra, transformações de vida,
do modo de vê-la ao adquirir uma maior compreensão do nosso processo
histórico. Quanto ao livro, ele é maravilhoso do começo ao fim, mas eu anotei
alguns capítulos em particular, como os de número IX XV e XVI, XXII, XXV e
XXVI.
Do capítulo IX, destaco a questão da linguagem. A linguagem é um
importante passo para aquilo que hoje se chama de racismo estrutural. Do XV,
o destaque se dá em função da revolta dos malês, na Bahia, em 1835, um
capítulo pouco estudado em nossos livros escolares. Para mim o capítulo que
mais me chamou a atenção foi o de número XVI. Os escravagistas chegaram a
escrever um manual de como deveriam tratar os escravizados para que eles
não se rebelassem. Tentaram construir uma espécie de hegemonia, para não
usarem permanentemente a violência do chicote, o das chibatadas e açoites.
Castigo em demasia, embrutece e o embrutecimento tem consequências
imprevisíveis.

O destaque do capítulo XXIV é para a presença dos escravocratas


confederados, que depois da Guerra da Secessão vieram se estabelecer aqui no
Brasil, para continuarem a usufruir do sistema da escravização. Tentaram em
vários lugares, mas os maiores êxitos estão relacionados à região de Americana
em São Paulo. O destaque para o capítulo XXVI vai para a questão da terra, da
reforma agrária. Que oportunidade perdida! Joaquim Nabuco e André
Rebouças tiveram uma grande visão relativa a essa questão.

Enfim, a minha recomendação para a leitura do livro. Este terceiro


volume vai para muito além da escravidão. Ele é um belo livro sobre o Segundo
Reinado, a queda da monarquia e a instauração de uma República, nada
republicana. Além disso é uma obra completa, não definitiva. Ele fornece as
informações, os fatos históricos e os referenciais de análise também são
excelentes, basta conferir a bibliografia usada nesses seus livros. Super
recomendo, especialmente quando completamos 200 anos de independência e
o Brasil parece tentar não lembrar de sua história, ao não promover debates
sobre a efeméride. Estaríamos praticando um historicídio, como denunciaram
alguns historiadores, em texto do dia 03.09.2022 na Folha de S. Paulo.  

Deixo ainda o segundo parágrafo da orelha da capa do Livro: "A


escravidão era, na definição de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca
da Independência, 'um cancro que contaminava e roía as entranhas da
sociedade brasileira'. Disseminado por todo o território, o escravismo
perpassava todas as atividades e todas as classes sociais. Ricos e pobres,
fazendeiros, comerciantes e profissionais urbanos, instituições públicas e
privadas, ordens religiosas, bispos e padres, brancos, mestiços e mesmo negros
libertos - todos, indistintamente, eram donos de escravos ou almejavam sê-lo.
Maior território escravista da América em 1822, o Brasil assim se manteria até
o final do século XIX, com sua rotina pautada pelo chicote e pela violência
contra homens e mulheres escravizados".

Você também pode gostar