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Direito Constitucional
1ºAno
Doutora Luísa Neto
2021/2022
Parte I- O Estado e a experiência constitucional
Título I- O Estado na História
Capítulo I- Localização histórica do Estado
Capítulo II- O Direito Público moderno e o Estado de
tipo europeu
O fenómeno político é, genericamente entendido, como o
objeto, como o objeto de estudo de disciplinas como a Ciência
Política e o Direito Constitucional. É um objeto que pode, no
entanto, ser apreciado da perspetiva fáctica/de facto (ou de “o
que é”), como é o caso da Ciência Política, ou da perspetiva
normativa (“dever ser”), como é o caso do Direito
Constitucional.
O Direito Constitucional trata dos assuntos normativos
(não do que é, mas sim do DEVER SER do ser político, daí o
objeto do Direito Constitucional ser a Constituição). A
Constituição cria as estruturas para que o Estado desempenhe
as suas funções. O Direito Constitucional=Direito Político
(Política- Polis; Polis- cidade (vida em comum) ou Estado
(fenómeno político)) é então um Direito de Organização, que
respeita ao modo de criação do Estado, visto que este é a
única forma de sociedade política que tem Constituição.
Por sua vez, o Direito Constitucional distingue-se dos
outros ramos, na medida em que corresponde ao tronco do
ordenamento político.
DEFINIÇÃO DE ESTADO
O Estado é uma sociedade política de fins gerais (que se dedica a uma
pluralidade de fins), e que visa a realização temporal das necessidades
coletivas. Por isso, é a única sociedade coletiva que não está sujeita a um
princípio de especialidade, na medida em que causa todos os fins gerais
da sociedade. Até agora apenas o Estado tem poder coercitivo (a ONU
pode ter esse poder coercitivo através do Conselho de Segurança, mas
apenas sobre os Estados em geral- uma decisão dependente da vontade dos
membros efetivos).
O Estado é regido por uma Constituição.
Constituição:
rege fins gerais da ordem do Estado;
contém os grandes princípios da ordem jurídica do Estado;
estabelece o modo de relacionamento do Estado com os outros
Estados.
O Estado é:
uma das formas de sociedade política, sendo na verdade, a única
regida por uma Constituição;
é o objeto de estudo da ciência política (perspetiva fática “o que
é”) e do direito constitucional perspetiva normativa (“dever
ser”);
é abalado e/ou condicionado por fatores internos e externos.
De facto, quando falamos em fenómeno estadual, referimo-nos a
organizações que estão em mutação e em transformação. No entanto, e
apesar dessas mutações, a soberania do Estado prevalece e ele é ainda a
principal referência de estruturação política no tempo e no espaço.
Basicamente, o Estado aparece sujeito a 2 pressões, pressão temporal e
histórica, porém permanece independentemente destas duas. O Estado é
atemporal, embora mudem as instituições, mudem os titulares e os órgãos
políticos, o Estado permanece, perdura, e ahistórico, o Estado vai a par
com a história.
Não apenas os indivíduos, mas também as demais instituições que
exercem autoridade política, devem obediência ao Estado. Não há ideia
de poder sem ideia de Direito (mudando a conceção de um, muda a
conceção de outro). O Direito Constitucional é a parcela de ordem
jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto
poder.
Podemos olhar para o Estado de duas formas:
Estado enquanto comunidade (conjunto de pessoas): exerce poder para a
realização de fins comuns (da sociedade, de que fazemos parte);
Estado enquanto poder- regulamenta as relações, entre as várias entidades e
o poder supremo estadual ( poder político manifestado através de órgãos,
serviços, e relações de autoridade.
No entanto, encontramos já alguns fenómenos de paraconstitucionalização.
Paraconstitucionalização: fenómenos de aproximação ao Estado por parte
de organizações supraestaduais (ex.: UE, com marcas de estadualidade
como o Parlamento Europeu; Euro, política económica comum, Carta da
ONU que prevalece sobre todos os demais tratados internacionais).
Entidades intraestadual: autarquias, regiões autónomas;
Entidades supraestaduais: União Europeia ou qualquer outra instituição
internacional de que o Estado faz parte.
ORIGEM DA PALAVRA ESTADO
Sociedade em geral
Sociedades políticas
Estado
Estado Moderno
Estado Constitucional
Desde séculos XV e XVI Representativo e de Direito
desde século XVIII
2 tipos de Constituição
FASES DO ESTADO
Na sua obra “Teoria Geral do Estado”, de 1900, Jellinek refere-se aos
Estados como formas de organização do território, poder político e povo
num determinado tempo e espaço para atingir as suas finalidade e apresenta
uma categorização dos mesmo:
Estado Oriental
Estado Grego
Estado Romano
Estado Medieval
Estado Moderno- sécs. XIV e XV/ sécs. XV e XVI
Ao contrário de Jellinek, Jorge Miranda considera uma classificação de
tipo históricos de Estado- Oriental, Grego, Romano e Medieval não
coexistem- e não de tipos fundamentais, já que estes não coexistem
realmente. Seguindo este pensamento, será também mais correto falar-se de
uma organização de tipo medieval e não de um Estado medieval, já que aí
não se verificaria uma identificação do poder estadual como poder supremo
nem a característica da coercibilidade ( autonomia- o Rei era o senhor, o
Estado não tinha autonomia-; estávamos perante uma modulação feudal),
antes existindo uma fragmentação do poder político decorrente da
organização feudal da sociedade. Assim, Jorge Miranda não utiliza a
designação de Estado, mas sim “Organização de tipo Medieval”.
CAPÍTULO II- O DIREITO PÚBLICO MODERNO E O
ESTADO DE TIPO EUROPEU
Se os primeiros tipos de Estado têm localizações espácio-temporais bem
definidas, já o Estado Moderno:
Pode surgir no século XIV (Inglaterra e Portugal)
Surge essencialmente nos séculos XV e XVI com o Renascimento e com os
Descobrimentos
Resulta de uma centralização do poder por reação à fase anterior.
Além das cinco características comuns a todos os Estados, o Estado
Moderno conta com mais três características que marcam a rutura cpm as
anteriores formas de Estado:
Ideia de soberania do poder político;
O Estado como Nação
Estado laico
Assim, estas três estão aglutinadas às cinco características gerais do Estado.
Características adicionais do Estado Moderno de Tipo Europeu:
Soberania do poder político
A teorização da soberania pode dizer-se ter sido realizada por Jean Bodian,
na sua obra “Les six livre de la République”- nesta altura o aparecimento
de fronteiras territoriais exíguas fazem da centralização do poder uma
condição para a existência e sobrevivência do próprio Estado (sem elas-
“sine qua non”, não existiria Estado). O poder político centralizado evita a
desagregação do Estado em pequenas unidades territoriais e é o garante da
unidade política estadual, surgindo:
- Como uma necessidade de afirmação para com os outros Estados
europeus;
- Como uma necessidade de comunicação com os Estados mais longínquos.
No que diz respeito à ideia de soberania, o poder político pode ser
observado a nível interno e externo:
Nível interno: é o poder supremo, não há poderes acima do poder político,
todos os outros poderes se subordinam em relação ao poder político.
Nível externo: é um poder independente, não recebe diretrizes de outros
Estados, apenas tem uma relação de coordenação com eles.
Estado como Nação
Noutros tipo anteriores de Estados, o fator de união entre determinado
número de pessoas havia sido, por exemplo, o fator religioso (Estado
Oriental, Grego e Romano). No Estado Moderno, o fator de coesão é a
NAÇÃO, que corresponde a um vínculo objetivo/emocional que resulta de
vivências históricas e que promove a coesão de determinadas comunidades
humanas.
Podemos encontrar num Estado uma só Nação ou várias Nações, assim
como podemos encontrar uma Nação dividida em vários Estados. Mas no
Estado Moderno a um Estado corresponde tendencionalmente uma Nação,
e a Nação define-se por relação com o Estado.
Laicidade do Estado
Separação dos fins religiosos e fins políticos. O Estado deve reconhecer os
fenómenos religiosos, mas manter-se neutro- radica, no fundo, ainda no
Cristianismo e no brocardo “Dai a César o que é de César, a Deus o que é
de Deus”
FASES DO ESTADO MODERNO EUROPEU
1º fase- Estado Estamental- sécs. XIV/XV/XVI- forma política de
transição, tem ainda elementos do período de organização medieval e
elementos do Estado Moderno, como a centralização do poder e a
correspondência entre ideias de poder político e soberania; monarquia
limitada pelos estamentos (assembleias representativas, consultivas e
deliberativas de cada Estado-ex.: Cortes em Portugal; Estados Gerais em
França; Parlamento em Inglaterra). O rei tinha a legitimidade, embora
estivesse dependente dos segundos) e os estamentos (corpos organizados
ou ordens, vindos da Idade Média) criam a comunidade política.
Casos Especiais
Inglaterra
Em 1215, o rei João assina a Magna Carta, que reconhecia a representação
do povo e a consequente limitação do poder real/monárquico. No século
XIII, deu-se a emergência do Parlamento, Inglaterra passa diretamente de
um Estado Estamental para um Estado Constitucional, Representativo e de
Direito.
Portugal
O Estado Estamental atingiu o seu apogeu com o Mestre de Avis, durante o
século XIV- período de limitação do poder monárquico pelas cortes, que
não impediu uma posterior centralização do poder e consequente passagem
para Estado Absoluto. Entra em declínio no reinado de D. Afonso V e
termina em D. João II, com qual se inicia o Estado Absoluto.
2º fase- Estado Absoluto
Há uma progressiva centralização do poder durante a fase do Estado
Estamental, até que deixa de haver limitação das ordens representativas por
haver uma centralização total do poder na figura do monarca.
Monarquia do Direito Divino- século XVII; legitimidade assenta no poder
dado pela divindade, o rei é escolhido por Deus, tem um mandato divino
para governar (ex.: Luís XIV “L’État c’est moi”- glorificação e deificação
do poder político).
Referência a Maquiavel- na Antiguidade Clássica distinguiam-se 3 formas do exercício do
poder, Monarquia, Aristocracia e Democracia, Maquiavel distingue a Monarquia e a República:
Monarquia- exercício do poder político por um órgão singular por via hereditária ou eletiva;
República – o poder executivo cabe ou a um órgão coletivo ou a um órgão singular desde que
este esteja limitado por uma assembleia.
CORRENTES NEOLIBERAIS
Estado de polícia: Estado no qual o poder político se exerce em função do
bem-estar da pólis (ex.: despotismo; Estado Absoluto- o monarca assume-
se como déspota para o bem-estar da pólis);
Estado polícia: nada faz e funciona como fiscalizador que intervém quando
necessário. Estado Liberal, século XIX;
Estado policial: a polícia enquanto instituição é utilizada para manter a
ordem em termos totalitários (exercício ditatorial do poder). Uma ditadura,
a polícia será usada como instrumento de repressão.
Paralelamente ao Estado Social de Direito encontramos hoje:
Estados Fascistas
Estados Socialistas
Estados sociais: as preocupações sociais não são inseridas num
enquadramento de Direito
MANIFESTAÇÕES DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO
• 1917 - Constituição Mexicana
• •1919 - Constituição de Weimar (apesar de não ser a primeira,
é emblemática desta nova fase)
• 1947 - Constituição Italiana
• 1949 - Constituição de Bona
• 1988 - Constituição Brasileira
• 1976 - Constituição Portuguesa
ELEMENTOS DO ESTADO
Os três elementos que nos permitem caracterizar o Estado enquanto Estado,
partindo do princípio de que são cumpridas todas as características já
enunciadas, são os seguintes:
Elemento humano- povo (Artigo 4º- Cidadania portuguesa)
Elemento físico- território (interessa que haja delimitação do território, mas
é variável // Artigo 5º- Território)
Elemento institucional- poder político (artigo 3º da Constituição- Soberania
e Legalidade; 1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a
exerce segundo as formas previstas na Constituição)
ELEMENTO HUMANO- POVO
Expressões afins:
População (não deve ser utlizado em termos políticos)- atende-se a um
ponto de vista socioeconómico/ estatístico;
Pátria / Nação- prende-se com um vínculo de natureza histórica e
emocional. Esta ideia corresponde a uma certa homogeneidade de emoções,
tradições, não corresponde a um vínculo jurídico;
República – Durante muito tempo foi entendido como sinónimo de povo; a
partir do momento em que Maquiavel trabalha este conceito, deixa de
haver correspondência entre os dois termos;
Grei- Expressão arcaica em desuso.
Povo: corresponde à comunidade de cidadãos ligada por um vínculo
jurídico, e consiste pois no conjunto de pessoas permanentemente ligadas a
um Estado através de um vínculo jurídico que lhes reconhece direitos e, se
estivermos num Estado Democrático, os cidadãos podem participar na
gestão da vida pública. Realce para os artigos 14º e 15º, estrangeiros
também podem integrar a população portuguesa // “Os cidadãos
portugueses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da
proteção do Estado (…) / “Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem
ou residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do
cidadão português.”
O povo é o titular do poder político e é também o destinatário das normas
jurídicas na ordem jurídica estadual.
Assim, a cidadania (aquilo que é o povo e integra a população) é o vínculo
jurídico que une as pessoas ao Estado- vai impor deveres e reconhecer
direitos, corresponde à suscetibilidade de nos ligarmos ao Estado- (a
palavra nacionalidade é muitas vezes utilizada como sinónimo, mas não o é
verdadeiramente, nacionalidade deve ser aplicada a pessoas coletivas ou
coisas, ex.: empresas). Assim, o povo titular do poder político e destinatário
das normas jurídicas da ordem jurídica estadual pode então incluir pessoas
que estão fora do território português.
O elemento humano é, de algum modo, mais condicionante do que o
elemento físico do território.
Podemos observar duas situações distintas relativamente à cidadania:
Pluricidadania- conflitos positivos : um cidadão possui mais do que uma
cidadania, pelo que, merece proteção de mais do que um Estado, ou seja, se
tem duas cidadanias, merecerá, efetivamente, a proteção desses mesmos
dois Estados aos quais se encontra ligado pelo vínculo jurídico // overdose
de direitos // há Estado que obrigam a optar e que não
Apatridia- conflitos negativos: uma pessoa não é cidadã de nenhum Estado,
logo, não lhe é garantida a segurança por nenhum Estado // situação de
desproteção.
CRITÉRIOS DE AQUISIÇÃO DE CIDADANIA
Ius sanguinis (direito que vem do sangue)- adquirem a cidadania
aqueles que forem filhos de pai ou mãe desse Estado,
independentemente do sítio onde nasceram;
Ius solis (direito do solo)- adquire cidadania aquele que nascer em
território desse Estado.
TIPOLOGIAS POLÍTICAS
Formas de Estado: diz respeito à articulação entre os três elementos
(povo, poder político e território);
Forma de Governo: República (eleição do Chefe de Estado) ou
Monarquia (hereditariedade- Chefe de Estado é designado)- relação entre
governante e governados;
Sistema de Governo: analisam o modo como os órgãos políticos se
relacionam entre si, o modo como o Parlamento e o Governo se organizam
entre si, por exemplo. Isto só acontece num Estado de Democracia, onde há
separação de poderes (esfera dos governantes). Temos três Sistemas de
Governo:
1. Sistema Parlamentar: o Governo é responsável única e
exclusivamente perante o Parlamento e esta ideia de
responsabilidade está associada à ideia de destituição, na medida me
que o Parlamento pode destituir o Governo. Há dois órgãos de poder
ativo; o Chefe de Estado não tem um poder político ativo, tem
apenas um poder simbólico (por exemplo, o caso do Reino Unido
“the queen reigns but does not rule”).
2. Sistema Presidencial: não existe Governo enquanto órgão político
autónomo nem responsabilidade política entre o Chefe de Estado e o
Parlamento, não se podem destituir um ao outro (casamento sem
divórcio). Neste sistema, o Chefe de Estado exerce funções
presidenciais e executivas.
3. Sistema Semipresidencial (ou Semiparlamentarista): origem em
França. Existe um Governo enquanto órgão autónomo e temos
também a ideia de responsabilidade política: o Governo é
duplamente responsável perante o Parlamento e perante o Chefe de
Estado. O Governo pode ser destituído quer pelo Parlamento quer
pelo Chefe de Estado (caso de Portugal). Deste modo, o Sistema
Semipresidencialista tem influência do Sistema Presidencial, na
medida em que o Chefe de Estado tem poderes executivos como no
Sistema Presidencial. No entanto, não estabelece nenhuma
semelhança com o Sistema Parlamentar, uma vez que nesse sistema
o Chefe de Estado apenas tem um poder simbólico.
Regime político: o que anima o regime é a ideologia. O regime
político corresponde à ideia de direito existente num determinado
Estado, ou seja, à forma como o poder é exercido.
1. Democracia/Regimes democráticos: podemos ter uma
Democracia direta ou representativa. O fundamento é sempre a
legalidade, há respeito total pelos direitos fundamentais dos
cidadãos e das pelas suas liberdades.
2. Regime não democrático (autoritário): é menos severo do que
o regime totalitário, na medida em que, em alguns casos, há um
respeito por alguns direitos fundamentais. O controlo do Estado
não é total, sendo que este Estado implica reconhecer uns certos
limites que são exteriores ao Estado, como é o caso do Estado
Novo que respeitava um dever moral católico (exterior ao
Estado).
3. Regime não democrático (totalitário): não há garantia efetiva
dos direitos fundamentais do cidadãos, o Estado controla todas as
associações sociais, culturais. Há um controlo total do Estado.
Título II- Sistemas e famílias constitucionais
Capítulo I- Sistemas e famílias constitucionais em geral
Capítulo II- As diversas famílias constitucionais
Capítulo III- Os sistemas constitucionais do Brasil e dos países
africanos de línguas portuguesa
Tal como afirma Jorge Miranda, “com o estudo das experiências
constitucionais, assenta-se no sistema constitucional como um todo e
procura-se conhecer a sua origem, quais os elementos políticos,
económicos, culturais e religiosos que o têm condicionado, quais os
seus traços dominantes e as projeções futuras. É a experiência da
organização jurídico-política de cada povo. Quanto ao método de
formação de famílias constitucionais consiste em examinar o Direito
Constitucional de cada país e tentar agrupar sistemas semelhantes
num pequeno número de famílias constitucionais.
FAMÍLIAS CONSTITUCIONAIS
Até 1914, o liberalismo era o sistema dominante (modelo de Estado-
Estado Liberal). Contudo, a 1º Guerra Mundial começa a afastar esse
suposto triunfo do liberalismo (Congresso de Viena- 1815; Bismark 1870),
levantou questões que este tipo de Estado não conseguia responder. Havia
duas exceções no panorama europeu (Rússia e Turquia).
Deste modo, esta ideia democrata-liberal, é assim, abandonada a partir da I
Guerra Mundial e entre as duas Grandes Guerras há uma alteração
acelerada que leva à fragmentação dos modelos de Estado. O antagonismo
é expresso em vários encontros: Conferência de Paris, em Versalhes, 1919
e Conferência de Ialta, 1945.
Também entre 85 e 89 há novamente transformações internacionais.
Maurice Duverger (Les instituitions politiques) refere uma tendencial
aproximação entre o modelo liberal e soviético. Há, de facto, uma efetiva
aproximação, mas por mutação interna do modelo soviético e não por
cedência mútua dos dois modelos.
As quatro grandes famílias de Direito Constitucional: a inglesa, a norte-
americana, a francesa e a soviética. Como afirma Jorge Miranda, “daqui se
difundiram com amplitude e fidelidade variáveis para numerosos países”.
Resumidamente:
Família Britânica: berço do sistema parlamentar; bipartidarismo rígido;
direito de base consuetudinário (baseado no Costume- fonte de Direito por
excelência na família britânica); 1º Estado com reconhecimento de
liberdades públicas;
Família norte-americana: berço do sistema presidencialista; berço do
federalismo; precedente judicial; modelo de fiscalização da
constitucionalidade;
Família francesa: resulta do triunfo da lei enquanto expressão da vontade
democrática; revolução francesa: início do Constitucionalismo moderno;
não tem tanta estabilidade; (Portugal inspira-se nesta família);
Família soviética: diferença fundamental de todos os outros modelos e
famílias.
Encontramos ainda Estados que não se enquadram em nenhuma destas
famílias por seguirem vias completamente originais (Argélia, Tanzânia);
por apresentarem características específicas que mereçam o seu tratamento
autonomizado (Alemanha, Suíça, Áustria); caso do Brasil e dos PALOPS
são especiais.
FAMÍLIA CONSTITUCIONAL BRITÂNICA
Reino Unido Inglaterra + Gales (1283- anexação)
Inglaterra + Escócia (1602- União
Pessoal, 1707- União Real)
Irlanda do Norte
(com estatuto de
autonomia 1922/1969)
Nota: Parlamento escocês
adquire mais poderes em
Na matriz britânica se há a disseminação do 1997- engrandecimento de
Governo por via de responsabilidade política funções.
Em 2014 houve um
perante o Parlamento, desaparece o Governo e referendo que oferecia aos
desaparece o Parlamento. escoceses a independência.
Contudo, eles recusaram.
CONSTITUIÇÃO BRITÂNICA
Não encontramos aqui uma constituição britânica formal ou um texto
escrito em que se incorporem os princípios básicos. A Grã-Bretanha tem
uma Constituição consuetudinária- com base no costume (consuetudo =
costume). Como afirma Jorge Miranda “A Inglaterra, porém, em vez de
dotar o Estado com um documento constitucional rigoroso, modelar,
coerente, limitou-se a viver dentro do respeito da Constituição histórica da
Nação e do seu Estado”.
Ainda assim, existem vários textos que podem servir de fonte de
identificação desses princípios básicos: Magna Carta (1215, constitui sem
dúvida um embrião da Constituição, onde pela primeira vez um monarca
aceita auto limitar-se); Petition of Rights (1628, pedido ao rei para o
reconhecimento de certos direitos); Bill of Rights (1689, surge como
resposta à Petition of Rights); Lei sobre o Habeas Corpus (1679. Forma de
garantia contra as detenções ilegais); Act of Settlement (1701, lei que
estabelece a forma de organização do Parlamento- “marcam com as fases
do processo gradual que deu uma estrutura determinada ao Estado”,
completado em 1901; e 1911- Estatuto de Westminster).
DIVISÃO DA HISTÓRIA CONSTITUCIONAL BRITÂNICA
Na formação e evolução do Direito Constitucional Inglês ou Britânico,
Jorge Miranda distingue três fases:
1. A fase dos primórdios, iniciada em 1215 com a concessão da Magna
Carta;
2. A fase de transição, aberta pela luta entre o Rei e o Parlamento e de
que são momentos culminares a Petition of Rights (1628) que resulta
na Bill of Rights (1689) e as revoluções de 1648 e 1688;
3. A fase contemporânea, desencadeada a partir de 1832 pelas reformas
eleitorais tendentes ao alargamento do direito do sufrágio. Até 1832,
o Direito político britânico tinha uma índole libras, mas pouco
democrática. É essa índole democrática que entre 1832 e 1929 ele
vai adquirir- passagem de um sistema eleitoral não muito afastado do
dos séculos passados a um sistema assente no sufrágio universal de
adultos de ambos os sexos.
1. 1215 – 1689 Bill of Rights
INSTITUIÇÕES
Instituições (protagonistas da história constitucional britânica): Rei,
Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns (no seu conjunto formam o
Parlamento). Elas encontram-se presentes nas três épocas aludidas. O tom
peculiar de cada período histórico resulta da instituição, do órgão que aí
domina:
1. Até ao século XVII prevalece a autoridade do Rei- fase monárquica;
2. Entre o século XVII e meados do século XIX prevalece a Câmara
dos Lordes- fase aristocrática;
3. Desde o século XIX transfere-se para a Câmara dos Comuns a sede
principal do poder- fase democrática.
Instituições britânicas
Rei (designado por via hereditária)- Chefe de Estado;
Parlamento bicameral:
Câmara dos Comuns- constituída por representantes e eleitos
do povo;
Câmara dos Lordes (não tem legitimidade democrática):
constituída por pessoas que ganham o direito por via
hereditária (Lordes consagrados em Lei própria). Em 27 de
outubro de 1999 foi aprovada a lei que retira o direito de voto
por via hereditária a alguns membros desta Câmara,
Governo: órgão autónomo, conhecido como “Gabinete” (e
portanto “sistema de Gabinete”), por razões históricas, já que
resulta de um órgão que existia para aconselhar o rei. No
Reino Unido o Primeiro Ministro tem normalmente uma pasta
a seu cargo e tem ainda funções de coordenação dos restantes
membros do Governo.
O Sistema do Governo na Grã-Bretanha é Parlamentar, o que se identifica
por:
1. O Governo ser emanação do Parlamento/Governo “sai” do
Parlamento (não há eleições para os membros do Governo, há
eleições legislativas e todos os membros do governo têm que ter sido
candidatos às eleições legislativas).
2. O Governo ser responsável única e exclusivamente perante o
Parlamento (só o Parlamento pode destituir o Governo).
O sistema britânico assenta num sistema eleitoral de círculos uninominais
(por cada círculo é eleito um deputado). Por outro lado, não há
representação proporcional, mas sim maioritária, ou seja, o partido que
tiver maioria dos votos no círculo elege o representante para o Parlamento
(o que implica que não há representação de pequenas maiorias).
Este sistema maioritário a uma volta- “the first past the post” leva à
existência e funcionamento de dois partidos (Bipartidário), de forte
ideologia. Leis de Duverger
-Sistemas eleitorais de partidos
Maioritário a 1 voto BIPARTIDÁRIO
Proporcional MULTIPARTIDÁRIO
Atualmente, o Rei tem apenas poder simbólico de representação do Estado
e do poder- “The queen reigns but does not rule”.
A Câmara dos Lordes* tem um poder diminuto: é um fórum de discussão e
funciona como Tribunal de Recurso de algumas decisões jurisdicionais. “O
Rei e a Câmara dos Lordes guardam poderes formais porque a sua simples
existência impede que surjam difíceis problemas de equilíbrio político e
porque continuam a desempenhar uma função social e pública, interna e
externa, insubstituível (o Monarca é a expressão da unidade do
Commonwealth. Nota: de todos os Estados que integram só 16 reconhecem
realmente a rainha como Monarca)”- Jorge Miranda.
*LEGITIMIDADE POR VIA HEREDITÁRIA
A Câmara dos Comuns (Parlamento*) constitui o grande centro da vida
política britânica.*
*LEGITIMADADE POR ELEIÇÃO
*SISTEMA PARLAMENTAR ESTÁVEL
Órgãos:
Chefe de Estado (executivo)
Congresso (legislativo)
Tribunais (jurisdicional)
Sociedade
Grupos sociais que articulam com o Estado
Sistema federalista
SISTEMA DO GOVERNO
O Sistema de Governo é o Presidencialista: não há Governo enquanto
órgão autónomo, mas apenas um conjunto de secretários que auxiliam o
Chefe de Estado que é também Chefe do Executivo. Fala-se a propósito
de um casamento sem divórcio, já que não há a possibilidade do
Congresso destituir o Presidente e vice-versa. As comissões de inquérito
criminal são a única possibilidade de destituir o Presidente
(impeachment).
As facultes de statuer et d´empecher de que fala Montesquieu
transformam o sistema dos EUA num sistema de checks and balances
(ou de freios e contrapesos), onde se estabelecem meios de fiscalização
recíprocos:
CHEFE DE ESTADO
1. Poder executivo;
2. Pode sugerir determinadas iniciativas legislativas (através de
mensagens);
3. Pode vetar as leis.
CONGRESSO
Poder legislativo- faz leis (Senadores- eleitos por 6 anos e os
Representantes por 2 anos);
Possibilidade de “impeachment” ou sujeição do Presidente a
responsabilidade CRIMINAL efetivada pela deliberação do
Congresso;
É aí que funcionam as comissões de inquérito
-expresso
Veto -de bolso / de gaveta (não é tomada nenhuma atitude)
TRIBUNAIS
Poder jurisdicional;
CHEFE DE ESTADO
Nomeação de juízes e concessão de indultos
No que diz respeito ao sistema jurisdicional funciona a regra do
precedente judicial: as decisões jurisdicionais devem obediência a
uma decisão que tenha sido tomada perante casos análogos
anteriormente.
No que toca ao sistema partidário, encontramos tendencialmente um
bipartidarismo, apesar de fraca a ideologia de partidos que se organizam
em volta de pessoas e não um projeto político. A influência dos partidos
verifica-se mais ao nível dos estados federados do que ao nível da
União.
Quanto à eleição para o Chefe de Estado (sufrágio universal indireto por
colégio*) , a importância dos partidos reside nas primárias que têm
como objetivo a confrontação de várias pessoas dentro do partido para
saber quem são os candidatos às presidenciais.
Nos EUA ao lado dos partidos (visam exercer o poder; sistema
fulanizado; partido democrata e partido republicano) aparecem os
“lobbys” e grupos de pressão (pretendem influenciar o poder) com
grande importância.
*Nota importante: Complexidade da definição do sufrágio como direto ou indireto. Fala-se
de sufrágio direto devido aos eleitores escolherem diretamente o colégio eleitoral e depois
indiretamente o Presidente. Logo, na prática, o que os cidadãos vão eleger nas eleições
presidenciais são os delegados que sentem que os representam para escolher o Presidente.
Em suma, repare que os eleitores votam diretamente nos representantes (colégio eleitoral) e
INDIRETAMENTE porque os representantes por eles elegidos diretamente é que elegem o
Presidente.
Nota (s):
1791- Estabelece uma monarquia constitucional;
1793 + 1795 (Golpe de Estado) - influência jacobina (Rosseau)- Sistema de Convenção: todos
os poderes estão concentrados na Assembleia;
1799- Golpe de Termidor;
1802 + 1804 - há quem as entenda como novas Constituições outros como Revisões;
1814- derrota de Napoleão em Waterloo, restauração da monarquia (monarquia napoleónica e
monarquia bourbónica);
1830- 2º Revolução Francesa de carácter burguês;
1946- Estado Social e de Direito. O Preâmbulo está em vigor até aos dias de hoje bem como a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789;
1958- atual- Já teve várias revisões mas a mais interessante é a de 1962.
SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTAR
Segundo Jorge Miranda, “O princípio democrático, mitigado pelo princípio
da separação de poderes em certa aceção, deu origem a uma forma
intermédia: o governo parlamentar”.
Até 1958 o sistema mais “seguido” é o parlamentar (muito diferente do
Britânico).
Nota: forma de governo- República (1870- “estabilidade”); 1870-1958:
sistema de governo Parlamentar. Contudo, há uma enorme instabilidade
devido ao sistema eleitoral e de partidos.
DISTINÇÃO DO SISTEMA BRITÂNICO
1. Não há bipartidarismo;
2. Não é maioritário, mas antes proporcional, o que leva ao
pluripartidarismo (maior instabilidade)*.
*RECORDAR: Leis de Duverger // “o sistema eleitoral é proporcional”, não temos um
bipartidarismo tendencial, não tem um bipartidarismo regional, temos um pluripartidarismo,
ora, um sistema de governo parlamentar em que o Governo só depende do Parlamento , com um
sistema proporcional que leva a um sistema partidário de pluripartidarismo, leva a uma enorme
instabilidade, não temos maiorias estáveis, há uma sucessão de quedas do Governo (mesmo
aconteceu em Portugal durante a 1º República, tivemos um sistema de Governo Parlamentar não
suportado por um sistema eleitoral maioritário, nem por um sistema bipartidário)
CONSTITUIÇÃO DE 1958
Em 1958, a última Constituição francesa buscou uma tentativa de síntese
de vários sistemas de governo, esta constituição surge num momento de
grande instabilidade político-parlamentar.
• poderes do Chefe de Estado ≠ poderes do Chefe de Estado no Sistema
Parlamentar
- poderes efetivos (influência do sistema napoleónico)- Chefe de Estado.
- tem apenas função simbólica- Chefe de Estado no sistema parlamentar.
A esta ideia se pretendeu aglutinar:
O apelo à participação democrática dos cidadãos através de
referendos (influência da democracia jacobina);
Manutenção da instituição parlamentar, mas acrescentando como
órgão de pode efetivo o Governo e o Chefe de Estado.
Com resultado:
Reforço dos poderes do Presidente da República
Apelo à participação democrática
Três órgãos ativos de poder (sistema trialista/triárquico) / um
Parlamento forte: a manutenção da instituição parlamentar, mas
acrescentando com órgãos de poder efetivo o Governo e o Chefe de
Estado.
Jorge Miranda afirma: “Pode pensar-se que aproveita, em larga medida,
algumas das mais marcantes tendências dos sistemas anteriores: do
parlamentarismo (responsabilidade do Governo perante o Parlamento), do
bonapartismo (reforço dos poderes do Chefe de Estado) e do governo
jacobino (participação do povo através de referendo)”.
Pretende ultrapassar se a instabilidade do Sistema Parlamentar, mas
rejeitando o Presidencialismo. Assim, pode dizer se que o sistema gaulista
corresponde a um sistema semipresidencial.
Tudo conduz ao…
SISTEMA SEMI-PRESIDENCIAL
A principal característica é o Governo ser duplamente responsável perante
o Parlamento e o Presidente da República, o que significa que o Governo
pode ser destituído/demitido por estes dois órgãos.
Vantagem deste sistema: ultrapassa-se a instabilidade do sistema
parlamentar puro através de uma via média, sem cair no extremo oposto do
Presidencialismo norte-americano (nota: não é verdade que neste sistema o
Presidente tenha mais poderes: tem os poderes de demitir o Governo e
dissolver o Parlamento no Sistema Semipresidencial mas não no Sistema
Presidencial).
O sistema Semipresidencial é um Sistema triárquico / trialista, de que é
obreiro o General de Gaulle, pois:
• Resulta da Constituição de 1958 : - três órgãos ativos no
sistema de governo (Chefe de Estado- eleito por sufrágio
universal // pode destituir o Governo e dissolver o Governo //
quanto mais for a base da legitimidade democrática do Chefe
de Estado, mais fácil é para se lhe garantir poderes; Governo-
responsável perante o PR e o Parlamento e podem demitir o
Governo).
Nota:
Parlamentarismo: 2 órgãos ativos - Parlamento / Governo
Presidencialismo: 2 órgãos ativos - Chefe de Estado / Parlamento*
*SISTEMAS DUALISTAS OU DIÁRQUICOS
Expansão do sistema:
- Chefe de Estado Colegial – sistema diretorial da Suíça
- China – 1949
- Mongólia –
1922 difusão do sistema soviético
- Vietname
SISTEMAS CONSTITUCIONAIS NÃO INTEGRADOS EM
FAMÍLIAS
SISTEMA SUÍÇO | ALEMÃO | AUSTRÍACO
Sistema Suíço
O seu estudo interessa pela existência de:
1. Federalismo municipal;
2. Mecanismos de democracia direta e semi-direta;
3. Sistema de Governo diretorial, não há Presidente enquanto Chefe de
Estado singular (há um Conselho que exerce as funções de chefia de
estado, semelhança ao sistema presidencialista).
4. Nome oficial da Suíça- Confederação Helvética, é uma federação,
tem este nome pela questão de tradição e de honra o que uma vez foi.
FEDERALISMO DE BASE MUNICIPAL
A Suíça teve duas Constituições, a de 1848 e a de 1874, estabelecendo
ambas formas compostas de Estado.
• A Constituição de 1874 tem no seu texto a base da atual
Constituição Suíça.
• Apesar de a forma de Estado ser uma Federação, a Suíça é
ainda designada como Confederação Helvética.
Federalismo de Base Municipal:
(faz equivaler os Cantões aos Estados Federados)
- “Federalismo cantonal, em que cada Estado federado parece ter mais a ver
com as Cidades-Estados da Grécia antiga do que com os Estados
modernos” (Jorge Miranda)
Com os EUA:
Semelhança: quanto à organização do Estado federal;
Diferença: quanto à extensão dos Estados federados (EUA- larga extensão
territorial).
MECANISMO DA DEMOCRACIA DIRETA E SEMI-DIRETA (dá
grande importância)
Democracia direta: cidadãos tomam diretamente as decisões, sem eleições
dos representantes (cantões mais pequenos). “Em conexão com a estrutura
municipal dos Estados, a prática secular de democracia direta em cinco dos
menores cantões, através de assembleias populares (Landesgemeinden)”,
Jorge Miranda. (no caso de Portugal, artigo nº 245º nº2, apenas numa única
situação- “a lei pode determinas nas freguesias de população diminuta a
assembleia de freguesia seja substituída pelo plenário dos cidadãos
eleitores)
Democracia semi-direta: os cidadãos não tomam diretamente as decisões,
mas auxiliam a tomada de decisão (cantões maiores). “A consagração e a
frequência da iniciativa popular e do referendo, sendo o referendo
obrigatório para a revisão constitucional e facultativo para as leis
ordinárias”, Jorge Miranda. (no caso de Portugal artigo nº 167º e 115º).
SISTEMA DE GOVERNO DIRETORIAL
Os órgãos políticos federais são a Assembleia Federal e o Conselho
Federal.
Assembleia Federal (parlamento bicameral típico do federalismo)
*SISTEMA AUSTRÍACO
Com a proclamação da República, foi aprovada a Constituição de 1920, em
cuja preparação interveio Hans Kelsen (expoente do positivismo jurídico).
Vem criar um órgão jurisdicional (concentrado) a que cabe a fiscalização
da constitucionalidade: Tribunal -Constitucional (grande contribuição
original para o Direito constitucional). Por isso, onde existe esse tribunal
fala-se em modelo austríaco de fiscalização da constitucionalidade. Revista
em 1929, seria reposta em vigor em 1945.
Conselho Nacional Conselho de Estados
Nota: a derrota em Versalhes e as vicissitudes provoca uma anexação por
parte da Alemanha.
Na Alemanha, a instituição de uma ditadura nacional socialista;
Na Áustria, em consequência também da ditadura nazi, uma
anexação por parte da Alemanha.
CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR
“Com a derrota na 1ª Guerra Mundial, desparecem os chamados Impérios
Centrais e proclamaram-se sistemas republicanos. (...) Vencidas as
perturbações do momento, prepararam-se novos textos constitucionais.”
(Jorge Miranda)
11 de Agosto de 1919- Constituição de Weimar / Constituição do Reich
alemão: o mais importante texto na altura concebido. É a primeira
Constituição alemã Republicana e é também a primeira a estabelecer
formalmente o Estado Social de Direito no âmbito europeu. Garante os
direitos dos particulares, mas aponta ao Estado a obrigação de intervenção
para a garantia dos direitos.
Distingam-se assim duas gerações de Direitos Fundamentais:
1ª Geração dos Direitos Fundamentais- refere e estabelece direitos,
liberdades e
garantias;
2ª Geração dos Direitos Fundamentais- exige ao Estado uma intervenção
para que haja uma efectiva manutenção dos direitos económicos, sociais e
culturais.
Dadas as circunstâncias, com o nacionalismo exacerbado pela guerra e pelo
tratado de Versalhes, o sistema não funcionaria corretamente.
A derrota em Versalhes e as vicissitudes que atingem ambos os sistemas
provocam:
• na Alemanha, a instituição de uma ditadura nacional socialista.
• na Áustria, em consequência também da ditadura nazi, uma
anexação daquela por parte da Alemanha.
O fim da 2ª Guerra Mundial divide a Alemanha em:
• RDA –que se rege pela Constituição de 1968, de ideologia
marxista-leninista;
• RFA – que se rege pela Constituição de Bona de 1949;
• situação atípica da divisão de Berlim pelas potência ocupantes.
A partir da reunificação das duas Alemanhas, é a Constituição de Bona de
1949 que vigora.
Características da Constituição de Bona de 1949 (novação constitucional,
os representantes da Alemanha reunificada fazem com que esta
Constituição seja aplicada a toda a Alemanha reunificada*):
• realce da ideia de democracia e relevo do princípio
democrático
• preocupação com previsão e efetivação dos Direitos
Fundamentais
• consagração de um sistema de governo que parte do sistema
parlamentar britânico, mas que pode definir-se como um
sistema parlamentar racionalizado, com introdução de
elementos de racionalização que têm em vista o fim da
instabilidade política:
moção de censura construtiva: exige a
apresentação de um programa alternativo de
governo.
saída da circulação política dos partidos que
não, consigam obter mais de 5% nas
eleições, não há bipartidarismo.
Lei Fundamental de 23 de Maio de 1949 / Constituição de Bona
Constituição rigorosa;
Adota o sistema parlamentar: racionaliza o sistema britânico /
sistema bipartidário– sistema parlamentar racionalizado.
Introduz alguns instrumentos visando o fim da instabilidade
política:
-Moção de censura construtiva: para evitar que a oposição estivesse
sempre a apresentar moções que levassem à destituição do Governo.
Assim, tinham que apresentar um Governo alternativo (mais difícil) //
mecanismo que ajuda a racionalizar o sistema parlamentar // que é
possível o Parlamento apresentar moções de censura ao Governo, mas
estas moções de censura têm de corresponder a uma alternativa;
-Proibição de partidos (pertei verbote) - significa que há uma
percentagem mínima para terem representação parlamentar. Logo,
partidos diminutos nunca poderão ter representação. Contudo, permite
uma estabilidade política ainda que não haja bipartidarismo // limita a
instabilidade governamental;
Sistema parlamentar racionalizado de Chanceler (figura
preponderante- 1º Ministro em Portugal, tem mais poderes que
num sistema parlamentar normal).
• Faz uma clara profissão de fé na dignidade da pessoa humana e admite
que o Direito natural limita o poder do Estado.
*Havia uma norma que previa que se a reunificação alemã viesse a acontecer, a Constituição de
Bona deixava de vigorar e elaborava-se uma nova Constituição. Contudo, tal não se sucedeu,
assiste-se a uma NOVAÇÃO / renovação da Constituição de Bona para toda a Alemanha- nova
capa de legitimidade.
1. Constituição de 1824
“Corresponde às bases apresentadas pelo Imperador D. Pedro I a
uma Conselho de Estado por ele convocado” (Jorge Miranda).
Apresenta um compromisso entre as ideias liberais e a tradição
monárquica europeia. “As fontes do texto foram, incontestavelmente,
o próprio projeto vindo da Assembleia Constituinte, as teses de
Benjamin Constant de um poder real convertido em poder moderado
(que depois é previsto também na Carta Constitucional de 1826 de
Portugal) e a Carta Constitucional francesa de 1814.
A Constituição declarava a separação de poderes, mas com saliente
posição do Imperador. Deste modo, estabelece uma Monarquia
Constitucional apesar de haver uma concentração do poder executivo
no monarca. No dizer de D. Pedro I- “toda a força ao poder
executivo” (aliás, a tónica presidencialista- apesar de mais atenuada-
mantém-se ainda hoje na Constituição de 1988).
O poder moderador corresponderia a uma forma de introduzir
harmonia e equilíbrio dentro da separação tradicional de poderes
(Benjamin Constant // explica como a monarquia brasileira é
fortemente centralizada).*
*Montesquieu separava os três poderes (executivo, judicial e
legislativo), já Benjamin acresce o poder moderadora “dotando” o
monarca do poder executivo e moderador. Para além disso, nesta
Constituição, a separação de poderes surge-nos então, da seguinte
forma:
Poder executivo + Poder moderador (balança) = MONARCA
Poder judicial- TRIBUNAIS
Poder legislativo- DUAS CÂMARAS (representativa de opinião-
assembleia eletiva-; representativa da duração- membros com
assento hereditário).
2. Constituição Brasileira de 1891 (1º Constituição da federação
brasileira, Constituição difusa)
Prevê um federalismo por influência dos EUA- “Foi reorganizado o
poder, distribuído entre União e os Estados federados, e substituiu-se
à tendência parlamentar um princípio de governo presidencial”.
Federalismo complexo: União (Estados e municípios são governos
autónomos)- Governo soberano da federação.
A União tem uma Constituição federal. Os Estados federados têm
Constituição. Os municípios têm leis orgânicas que são formas de
juridificar o exercício do poder político. Cada Estado federado rinha
a sua Constituição, as suas leis, os seus tribunais.
Forma de Estado: Federação || Sistema de Governo: Presidencialismo
Trata-se, no entanto, de um federalismo imperfeito:
O federalismo implica uma divisão total de poderes. No Brasil há
uma forte concentração do poder executivo. Alguns autores falam de
um ultra-federalismo: há um receio pelos impérios centrais, ou seja,
Estados que fomentassem a desvinculação da União por parte deles e
outros estados.
Surge a “Política do café com leite”- alternância entre Presidentes
entre dois Estados:
São Paulo- produtor de café;
Minas Gerais- produtor de leite.
República com governo representativo. Sistema Presidencial, com a
particularidade de nem o Presidente, nem os Governadores poderem
ser reeleitos. Sistema de fiscalização jurisdicional da
Constitucionalidade.
3. Constituição de 1934
Tem a mesma estrutura e fontes (centralizada) da Constituição
portuguesa de 1933. É autoritária de direita e resulta das
consequências da crise de 1929, sendo uma tentativa de cópia do
sistema fascista italiano de 1922 (figura de Gertúlio Vargas é
importante). “Consagrou a justiça eleitoral; reforçou os poderes do
Congresso; previu formas de intervenção do Estado na economia e
direitos sociais na linha da Constituição mexicana de 1917 e da
Constituição de Weimar; introduziu o mandato de segurança.”
4. Constituição de 1937
Apesar de ser provocada por um golpe de Estado, os princípios são
os mesmos da anterior. Reduziu a autonomia dos Estados, alargou os
poderes do Presidente da República, criou o Conselho da Economia
Nacional, etc.
5. Constituição de 1946
Tenta ultrapassar a tendência autoritária de Direita das Constituições
de 1934 e de 1937 e voltar ao espírito de 1891.
6. Constituição de 1967 (concentração do poder)
segue-se ao golpe de Estado / Revolução de Março de 1964.
É permanentemente alterada por várias revisões- Atos Constitucionais.
Há constitucionalistas que discutem se o 1º Ato Constitucional não terá
sido ele próprio uma outra Constituição (1971).
7. Constituição de 1988 (5 de outubro- abre com um preâmbulo e com
“princípios fundamentais”)*
5 de outubro de 1988: data em que se estabelece um estado federal.
Possui um federalismo complexo. Representa a Constituição de um
Estado Social de Direito que revê, à parte de direitos, liberdades e
garantias, direitos económicos e sociais. Define como:
Forma de Estado - Estado composto sobre a forma de
Federação
Forma de Governo - República
Regime - democrático
Sistema – presidencialista (decalcado dos EUA- não há
Governo enquanto órgão autónomo)
Parlamento é bicameral (duas Câmaras) - Câmara dos deputados
(representação proporcional em cada Estado e no Distrito Federal) +
Senado com 3 senadores por Estado.
*- tenta descentralizar o poder. - dá importância à ideia de cidadania e dos direitos
fundamentais. - um dos valores fundamentais é o respeito pelo valor do trabalho. - é uma
Constituição social, isto é defende direitos económicos e sociais e reclama intervenção do
Estado para a sua garantia. - estabelece um Presidencialismo.
Constituições- 1º Geração
1990- São Tomé e Príncipe
1992- Angola (sistema marxista-leninista moderado, tal como em
Moçambique), Moçambique e Cabo Verde (eventualmente logrou maior
desenvolvimento económico e social)
1993- Guiné-Bissau
Trazem uma constatação, muitos parecidas com a Constituição portuguesa
de 1976.
Os países de língua portuguesa: são todos unitários, exceto o Brasil; forma
de governo: república; regime: democrático; sistema de governo:
presidencial em Moçambique e no Brasil, todos os outros têm um
semipresidencialista ou um parlamentarismo racionalizado, no caso de
Cabo Verde.
Constituição de 1822*
Apesar da sua curta vigência (7 meses entre setembro de 1822 e junho de
1823 e mais 19 meses entre setembro de 1836 e abril de 1838), é
impossível negar a importância da Constituição de 1822, por ter marcado o
início do Constitucionalismo em Portugal, bem como pelo facto de partir
de uma ideia de legitimidade democrática do poder constituinte, associada
a uma ideia contratualista de poder, lê-se por exemplo que o Reino de
Portugal consiste na associação de todos os portugueses.
Na prática, o poder constituinte manifestou-se nas Cortes Gerais,
Extraordinárias (contavam com a presença de deputados africanos,
asiáticos e brasileiros) e Constituintes de 1821, tendencialmente
representativas dos vários estratos sociais e do compromisso entre várias
alas ideológicas:
A Constituição espanhola de Cádis de 1812, foi a principal
inspiração para a Constituição vintista. No entanto, o
constitucionalismo inglês foi o modelo apoiado pela ala moderada,
enquanto que o Constitucionalismo francês (tendo por documentos a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a
Constituição francesa de 1791), foi preferida pela ala mais radical.
Previa uma MONARQUIA LIMITADA, inspirada no modelo da
Constituição de Cádis, na qual o poder do monarca era meramente
simbólico e legitimidade popular (artigo 121º: “A autoridade do Rei
provém da Nação”).
O poder do Rei era de “Chefe de Estado” e “Chefe de Executivo”.
As Cortes constituíam o poder legislativo (separação de poderes),
que, apesar de serem um órgão eletivo, o seu sufrágio era NÃO
DIRETO NEM UNIVERSAL, porque excluía as mulheres do direito
ao voto e os eleitores elegiam, não diretamente as Cortes, mas uma
Assembleia Primária que elegia as Cortes.
Quanto aos direitos fundamentais, como característico do
Constitucionalismo liberal, garantiram-se fundamental liberdades
negativas (direito à liberdade, à segurança, à propriedade, as “três
liberdades fundamentais” de Locke) de proteção contra a
interferência do Estado, mas também cláusulas de igualdade perante
a lei e no acesso aos cargos públicos e liberdades positivas que
exigiam uma prestação da parte do Estado, como o dever do “ensino
da Mocidade portuguesa de ambos os sexos a ler, escrever e contar”
(artigo 237º).
Por último, a previsão de uma União Real com o Brasil, que viria a
falhar. Este documento é criticado com um excesso de ingenuidade e
dificuldade de regular a realidade a partir dela (por este
incongruidade entre a constituição e a realidade constitucional,
poder-se-ia, à luz da catergorização de Karl Lowenstein, ser
considerada uma Constituição semântica).
* 1ª Constituição portuguesa formal, decorrendo da ideologia revolucionária liberal
francesa. • apontada como radical e quimérica, quase ingénua. É a 1ª Constituição formal
que estabelece uma união real. No que diz respeito à Forma e Sistema de Governo tem
carácter “para – republicano”. Do ponto de vista de poder atribuído aos órgãos, o poder
monárquico está muito reduzido. Está presente o elemento democrático (previsto aqui talvez
com a maior clareza durante o 1º período Constitucional português).
A Constituição adere a uma ideia de patriotismo e nacionalismo liberais.
A Constituição é elaborada pelas Cortes – assembleia representativa dos cidadãos (carácter
democrático).
O primeiro documento elaborado contém as bases constituintes da que viria a ser a
Constituição.
Estão consagradas no artigo 1º da Constituição as três “liberdades liberais”: liberdade,
segurança e propriedade (John Locke).
O artigo 26º diz respeito à soberania nacional.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA*
O regime, como já referido, era não-democrático e autoritário,
caracterizado pela sua rejeição do liberalismo, do pluralismo político, da
livre expressão e associação política e o não reconhecimento da oposição.
O sistema de governo previsto formalmente na Constituição era diferente
daquele que se verificava na prática. Formalmente, estavam previstos
vários poderes presidenciais que, na prática, estavam concentrados na
figura do Presidente do Conselho (o chefe do Governo), constituindo-se, de
facto, um sistema de governo de base parlamentar (mas anti partidário e
anti pluralista), aproximando-se de um sistema de chanceler.
Continua-se a verificar a dualidade política entre o Chefe de Governo e o
Chefe de Estado. Apesar de os poderes previstos do Chefe de Estado
previstos constitucionalmente terem sido, na realidade, exercidos pelo
Chefe do Governo. Tornando o Presidente da República numa figura
meramente simbólica, estando subordinado ao Presidente do Conselho de
Ministros.
A Constituição de 1933 foi a primeira a prever o Governo como um órgão
autónomo. Pressupunha-se uma União Pessoal entre o líder da União
Nacional (o "partido" único) e o Chefe de Governo (o Presidente do
Conselho de Ministros).
O Parlamento era bicameral, composto pela Câmara Corporativa (de
representação das corporações económicas e sociais) e pela Câmara dos
Representantes/Assembleia Nacional (de representação dos cidadãos).
Dois órgãos eram eleitos por sufrágio direto: o Chefe de Estado (Presidente
da República) e a Câmara dos Representantes/Assembleia Nacional.
Apesar do sufrágio para a Assembleia Nacional ser, em teoria, direto, na
prática tratava-se de nada menos do que uma adesão/ratificação, pois o
sistema era efetivamente unipartidário.
Nota: É discutível se a União Nacional, 1933-1970, e a Ação Nacional Popular, 1970- 1974,
constituíram verdadeiramente partidos. Alguns autores, como Marcelo Rebelo de Sousa,
consideravam que foram partidos únicos. Por outro lado, outros autores defendem que não eram
verdadeiros partidos pois não havia um substrato associativo, o partido era uma manifestação do
Estado [de cima para baixo] e não da liberdade da associação dos cidadãos [de baixo para cima]
e esta organização não tinha permanência para além do ato eletivo).
Balanço
O surgimento do Constitucionalismo autoritário português não é
estranho no contexto europeu, apenas sendo de apontar como
surpreendente a longevidade e estabilidade alcançadas pelo regime;
Os direitos que são mais violentamente restringidos são os que se
relacionam com a liberdade de expressão;
Quanto ao sistema político, não há um reconhecimento da oposição;
A Câmara Corporativa acaba por funciona como uma segunda
câmara parlamentar, com extensos poderes.
CONSTITUIÇÃO DE 1976- pós-revolucionária (elaborada em tempo de
rutura entre duas legitimidades diferentes (preâmbulo); compromissória (no
seu conteúdo resulta de um compromisso, de um pacto)
A CRP de 1976 representou, não só mais uma descontinuidade
constitucional, causada pela Revolução de 25 de Abril de 1974, uma
vicissitude expressa, que representou a queda de um sistema autocrático e
substituição desse por um regime democrático, criando-se um novo Direito.
Representou, acima de tudo, a mudança de um Estado baseado no Poder
constituinte autoritário-plebiscitário, para um estado baseado no Poder
constituinte democrático representativo.
Diz-se que a Constituição de 1976 é uma Constituição pós-revolucionária,
não só porque a vicissitude que levou à sua conceção foi uma revolução
(uma rotura com o regime anterior pela vontade popular), mas também pela
existência de um Período Revolucionário e Constituinte (PREC) que durou
entre a data da Revolução e 25 de novembro de 1975, tendo moldado o
desenvolvimento da que viria a ser a Constituição (p. ex., se a Constituição
tivesse sido aprovada antes de 25 de Novembro de 1975, possivelmente ter-
se-ia adotado um diferente modelo de sistema político), este contexto
histórico do momento constituinte encontra-se preservado no Preâmbulo,
apesar de sucessivas Revisões Constitucionais terem progressivamente
vindo a retirar "elementos revolucionários" da CRP.
Cronologia do PREC
25 de Abril de 1974 – Revolução / Golpe de Estado (*certos autores
consideram que o 25 de Abril começou como um Golpe de Estado
tendo evoluído para uma Revolução ao adquirir apoio popular e
garantir a democratização do regime);
11 de Março de 1975- dá-se uma tentativa de Golpe de Estado da
direita, por Spínola, que agitou em termos político-partidários o
período revolucionário. *
13 abril de 1975 – 1ª Plataforma de Acordo Constitucional (resulta
do 11 de Março) MFA/Partidos Políticos (programa não é um mero
texto, tem valor jurídico, o texto invoca a DUDH e autolimita-se- em
12 meses teve de invocar eleições);
25 Abril de 1975 – eleição da Assembleia Constituinte - era
obrigação do programa do MFA apresentado em abril 1974 com o
objetivo de elaboração da Constituição;
25 novembro de 1975- dá-se uma outra tentativa de Golpe de Estado,
desta vez encabeçado pelas forças radicais de esquerda, que fracassa.
*
26 fevereiro 1976 – 2ª Plataforma de Acordo Constitucional
MFA/Partidos Políticos.
2 abril de 1976 – aprovação da Constituição;
25 Abril de 1976 – entrada em vigor da Constituição.
*Tentativas de Golpe de Estado
Acordo MFA/Partidos é o que leva ao futuro texto democrático
Nota: Se a Constituição tivesse sido aprovada até 25 de novembro de 1975, ela seria
completamente diferente da que acaba por ser adotada, nomeadamente no que diz respeito ao
modelo de sistema político.
REVISÕES DA CONSTITUIÇÃO
Preâmbulo sempre inalterado. Representa a certidão histórica da
Constituição.
A primeira revisão (1982): Incidiu sobretudo sobre o plano da Organização
do Poder Político (Parte III). Foi uma revisão obrigatória e prevista. Entre
os seus principais marcos, estão: 1. "A eliminação de fórmulas linguísticas
típicas de narrativas emancipatórias" e a "atenuação da componente
ideológica" (Gomes Canotilho), reduzindo-se as marcas ideológico-
conjunturais comuns no texto de 1976. 2. A extinção programada do
Conselho de Revolução, que levou à redistribuição das suas tarefas: a
fiscalização política do Governo passou a ser feita pela AR; a fiscalização
da constitucionalidade por um órgão criado para esse efeito, o Tribunal
Constitucional. Foi também criado Conselho de Estado, com o objetivo de
ser o órgão de aconselharia do Presidente da República.
A segunda revisão (1989): Foi essencialmente uma "recentração" da
Organização Económica. Visa a abertura de Portugal para a Economia de
Mercado Comum, suprime a "Irreversibilidade das Nacionalizações",
reconhecendo a possibilidade de reprivatização dos meios de produção e
económicos nacionalizados depois do 25 de Abril. (artigo 293º). Introdução
da figura do referendo nacional (artigo 115º). A terceira revisão (1992):
"Revisão cirúrgica" que contempla a assinatura do Tratado de Maastricht e
a entrada de Portugal na CEE (facto este que viria a modificar
instrumentalmente a Constituição material). Modificaram-se os artigos 7º,
nº6 (prevendo formalmente a coordenação entre estados- membros e a
construção do projeto europeu), o artigo 15º (introduzindo a capacidade
eleitoral ativa e passiva para o Parlamento Europeu dos cidadãos dos
estados-membros residentes em Portugal) e o artigo 105º (que retirou do
Banco de Portugal a exclusividade de emissão de moeda, preparando
Portugal para a adesão à moeda única).
A quarta revisão (1997): Renumera muitos artigos da CRP, não incidiu
sobre um aspeto específico. Alarga o sistema de atos legislativos, introduz
a possibilidade de os cidadãos apresentarem propostas à AR (modificação
ao artigo 167º).
A quinta revisão (2001): Outra "revisão cirúrgica", diretamente relacionada
com a criação do Tribunal Penal Internacional, resolvendo os problemas
suscitados pela sua ratificação. Permitiu que Portugal aderisse ao estatuto
de Roma.
A sexta revisão (2004): Introduziu a autonomia legislativa nacional,
passando Portugal a efetivar-se um Estado soberano unitário parcialmente
regional.
A sétima revisão (2005): Criada de modo a permitir o referendo sobre a
Constituição Europeia, no âmbito da cimeira de Lisboa.
Análise da Constituição
Preâmbulo
Nos últimos 3 parágrafos do preâmbulo encontramos um certificado de
origem da Constituição (1); Condensação do projeto político (2); Formula
de aprovação, historicamente datada (3).
Formal complementar
Receção formal da DUDH (artigo 16.o, nº 2 da CRP)
Recessão material- (Leis 8, 16 e 18/75 – artigos 292 e 29, CRP - a
Constituição empresta valor constitucional).
Norma geral – artigo 29º
Norma especial – concretiza/desenvolve a norma geral – art.º 292
Norma excecional – segue no sentido contrário da norma geral
Corresponde à constituição material do Estado português
Princípios fundamentais (art.º 1 ao art.º 11)
Forma de governo: república (chefe de estado eleito por via de sufrágio
direto e universal). (Artigo 1);
Forma de estado: estado unitário parcialmente regional. (Artigo 6);
Sistema de governo: semipresidencialismo (Artigo 190);
Regime democrático – democracia social, cultural e participativa e que não
seja meramente representativa. Vai além da democracia política. (art.º 9, c)
e d))
Elementos de democracia direta (art.245.o, nº 2- nas freguesias de
população diminuta em vez de se eleger uma assembleia de freguesia,
convoca-se um plenário de cidadãos) e semi-direta (art.º 115.o - ex.
referendos);
Estado de Direito Democrático – proteção da confiança dos cidadãos (não
está diretamente, mas pode tirar-se por interpretação do artigo 2).
Democracia – se tivermos a ideia de que o Estado democrático é de que
todas as preferências são equivalentes e ganham as que tirem mais votos
então, neste sentido, o estado democrático pode colocar em causa o estado
de direito. A consonância entre o princípio de estado democrático e estado
de Direito depende daquilo que temos enquanto conceito de democracia.
Quando olhamos para o estado de direito, não podemos ver como um
estado de mera legalidade. No Estado de Direito importa o conteúdo do
tipo de lei que esta a ser observada (separação de poderes e direitos).
“Devíamos falar em estado democrático limitado pelo direito.” - Manuel
Afonso Soares
Art.º 46, nº 4 proíbe a constituição de associações de ideologia fascista
(decorre do princípio de estado de direito). Expressão da limitação do
estado democrático em relação ao estado de direito;
Art.º 3 - titularidade da soberania (povo). Exercício (órgãos de soberania);
Princípio da constitucionalidade (nº 2, art.º 3);
Estado deve garantir os direitos liberdades e garantias. Estado promover a
efetivação dos direitos (art.º 9).
O Domínio do Estado português nas relações internacionais depende
daquilo que a configuração do estado no ordenamento internacional. Na
ordem externa é um poder independente: o Estado não recebe diretrizes de
outros Estados / há uma coordenação com os restantes Estados. (soberania
do poder político).
O povo exerce o poder político através do sufrágio igual, direto, secreto e
periódico.
Parte III
Art.º 109- a lei deve promover a igualdade. Lei das Quotas;
Art.º110 e 111- órgãos de soberania - Governo, Assembleia da República e
Presidente da República;
Art.º 122- única situação que faz referência a portugueses de origem;
Art.º 127 – 5 anos de mandato, toma posse na assembleia.
PODER CONSTITUINTE E FORMAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
O poder constituinte consiste na vontade soberana de um povo que se
expressa por meio dos seus representantes. Pode ser: originário ou
derivado.
PODER CONSTITUNTE ORIGINÁRIO
O poder constituinte atua nas situações/pode emergir em caso de:
Momento de criação do Estado- momento típico para o exercício do poder
constituinte. Pode assumir várias formas: normal- órgãos do próprio Estado
elaboram a Constituição; exceções- heteroconstituições (constituições
feitas por órgãos exteriores ao Estado; resultam da descolonização de
territórios da Grã-Bretanha e do desmembramento de uniões reais ou
pessoais; ou podem ainda ser Constituições que decorrem de tratados
internacionais (Albânia, Chipre-1960).
Transformação do Estado- o artigo 146º da Constituição 1949 de Bona,
para a RFA previa que em caso de reunificação esta Constituição deixaria
de vigorar. Sucedeu, no entanto, que após a reunificação ela vigora também
nos territórios da ex-RDA.
Mudança de regime do Estado/da ideia de Direito- constituição portuguesa
de 1976 (adaptação do texto constitucional à constituição material); veja-se
o caso das Revoluções, serão ainda um fenómeno jurídico? Durante muito
tempo foram o símbolo do “não-direito”. Mas hoje é claro que são
porventura a mais jurídica das vicissitudes constitucionais, porque se
pretende substituir uma ideia de Direito por outra.
Transição constitucional- mais gradual que a revolução; revisão TOTAL da
Constituição. Porém, na nossa Constituição é impossível devido aos limites
impostos pelo artigo 288º- “Limites materiais da revisão”. Jorge Miranda
defende que a existência de limites de 1º e 2º grau, o que leva a um duplo
processo de revisão. Por exemplo, imaginemos que através de um primeiro
processo de revisão é eliminada a alínea b) do artigo 288º- “A forma
republicana do governo” -, Portugal iria continuar a não ser uma monarquia
(não deixam de ser limites materiais). Posteriormente, através de um
segundo processo, eliminam-se os limites materiais implícitos noutros
artigos.
LIMITES DO PODER CONSTITUINTE
“O poder constituinte é logicamente anterior e superior aos poderes ditos
constituídos (legislativo, executivo e judicial)”. Todavia, é errado dizer que
o poder constituinte equivalha a um poder soberano absoluto. O poder
constituinte está sujeito a limites.
Encontra assim limites (materiais):
Transcendentes- “provêm de imperativos de Direito natural, de valores
éticos superiores, de uma consciência jurídica coletiva”; decorrem também,
aliás, de um Estado não estar isolado internacionalmente- requisitos de
sociabilidade pelo espaço social em que está inserido na cena internacional,
por exemplo, no caso da DUDH (promove os direitos fundamentais
conexos com a dignidade da pessoa humana, assim, seria ilegítimo decretar
normas constitucionais que gravemente os ofendessem); ideias de direito
que fluem internacionalmente.
Imanentes- resulta da ideia de constituição material; decorrem do poder
constituinte natural, este é o poder de afixar princípios axiológicos
fundamentais da sociedade; “decorrem da noção e do sentido do poder
constituinte formal enquanto poder situado, que se identifica por certa
origem e finalidade e se manifesta em certas circunstâncias”.
Heterónomos- aqueles que resultam na ordem interna (ex.: vontade de ter
um Estado federal) e na ordem externa, de algumas componentes do
ordenamento jurídico internacional; referem-se a princípios, regras ou atos
de Direito Internacional (na ordem externa), donde resultam obrigações
para todos os Estados, ou para um certo Estado e reportam-se a princípios e
regras de Direito interno (na ordem interna), quando o Estado seja
composto ou complexo (são tipicamente os limites recíprocos, em união
federativa, entre poder constituinte federal e poderes constituintes dos
Estados federados).
PODER CONSTITUINTE DERIVADO
É previsto na Constituição e tem como objetivo legitimar a sua alteração
em caso de necessidade. É definido como derivado pois, distintivamente do
poder constituinte originário, não surge com autonomia, mas sim DERIVA
de outro poder.
Este poder tem relevância no plano das vicissitudes (modificações)
constitucionais.
RELEMBRAR: vicissitudes são eventos, acontecimentos, factos políticos, sociais e jurídicos
novos. O conjunto de acontecimentos que afetam a vida das pessoas formam vicissitudes. Logo,
“quaisquer eventos que se projetem sobre a subsistência da Constituição ou de algumas das suas
normas.”
Formas de revisão
Constituição flexível: o processo legislativo e o processo de revisão
constitucional são idênticos. O modo de introduzir uma modificação
constitucional é semelhante à elaboração de uma lei ordinária. Pode ser
material (Grã-Bretanha) ou formal (Israel e Nova Zelândia).
1. Revisão feita pelo órgão legislativo normal sem exigência de maioria
agravada, mas com exigências especiais de tempo e iniciativa- artigo
286º;
2. Revisão feita pelo órgão legislativo normal, mas com maioria
agravada- Constituição de 1976.
3. O órgão legislativo normal decide fazer uma revisão, mas é
destituído e há eleições para um novo Parlamento que fara a revisão
(Constituições de 1822, 1826, 1838; França em 1791, Norte da
Europa).
4. Paralelismo de formas- a forma de revisão depende daquela que foi a
sua forma de elaboração- ex.: EUA.
5. É o Parlamento (a Assembleia Representativa) que elabora a revisão
e há a possibilidade de consulta pública por referendo- ex.:
Constituição francesa atual.
6. Revisão feita por Assembleia Representativa e obrigatoriedade de
recurso ao referendo.
7. Nos Estados federais a revisão da Constituição é mais complexa do
que num Estado unitário, já que os estados federados têm um papel
ativo na revisão da Constituição:
consentimento dos Estados federados (EUA).
não oposição expressa- Constituição alemãs anteriores à atual.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Divide-se em:
Direitos, liberdades e garantias- artigos 24º a 57º da Constituição;
Direitos Económicos, sociais e culturais- artigos 58º a 79º da Constituição.
Regime comum dos Direitos Fundamentais
Aplica-se a qualquer Direito, uma vez que abrange os Direitos, Liberdades
e Garantias e os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. É o núcleo
comum a todos os Direitos Fundamentais.
Artigo 12º- “Princípio da universalidade”
1. “Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres
consignados na Constituição.” - ideia de que a cidadania é o vínculo
que temos com o Estado. É necessário articular com os artigos 14o e
15o (Princípio da equiparação).
2. “As pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres
compatíveis com a sua natureza” - (ex. O Direito à vida não é
compatível com a natureza de uma pessoa coletiva, mas o direito à
defesa da honra ou à associação podem ser aplicáveis).
Artigo 13º- “Princípio da igualdade”
1. Estabelece o princípio da igualdade perante a lei, não de uma igualde
geral.
2. Enumera as situações que tipicamente/historicamente mais forma
usadas para discriminar grupos ou pessoas na sociedade. Porém,
trata-se de uma lista aberta, não se restringindo somente aos casos
enumerados, mas a todas as situações em que, de forma análoga,
possam originar discriminação injustificada.
Note-se ainda que este preceito não impossibilita a discriminação positiva
por exemplo, pelo artigo 71º, os cidadãos portadores de deficiência
positivamente gozam da garantia de efetivação e realização dos direitos
pelo Estado. A discriminação positiva é, a luz da doutrina, algo não é
permitido como desejável nos casos justificados.
Artigo 16- “Âmbito e sentido dos Direitos Fundamentais”
1. Cláusula de Magnanimidade/Generosidade do Legislador: havendo
Direitos Fundamentais previstos fora da Constituição, em regras e
tratados do Direito Internacional, ou na lei ordinária, estes são
considerados Direitos Fundamentais à luz da Constituição. (limites
Heterónomos)
2. Remissão extra-sistemática e receção formal da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Os preceitos constitucionais devem
ser interpretados em harmonia com a DUDH.
Instrumento Organização Tribunal Local
DUDH. ONU Tribunal Haia
Declaração (criada em Internacional de
Universal dos 1945) Justiça
Direitos
Humanos- 1948
CEDH: Conselho da Tribunal Estrasburgo
Convenção Europa (criado Europeu de
Europeia dos em 1946) Direitos
Direitos do Humanos
Homem
(Humanos)-
1950
CDFUE: Carta União Tribunal de Luxemburgo
dos Direitos Europeia (nome Justiça da União
Fundamentais da alterado em Europeia)
União Europeia- 1992, começa
2000 por ser
Comunidade
Económica
Europeia-
Tratado de
Roma, 1957)