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Faculdade de Direito da Universidade do Porto

Direito Constitucional
1ºAno
Doutora Luísa Neto

2021/2022
Parte I- O Estado e a experiência constitucional
Título I- O Estado na História
 Capítulo I- Localização histórica do Estado
 Capítulo II- O Direito Público moderno e o Estado de
tipo europeu
O fenómeno político é, genericamente entendido, como o
objeto, como o objeto de estudo de disciplinas como a Ciência
Política e o Direito Constitucional. É um objeto que pode, no
entanto, ser apreciado da perspetiva fáctica/de facto (ou de “o
que é”), como é o caso da Ciência Política, ou da perspetiva
normativa (“dever ser”), como é o caso do Direito
Constitucional.
O Direito Constitucional trata dos assuntos normativos
(não do que é, mas sim do DEVER SER do ser político, daí o
objeto do Direito Constitucional ser a Constituição). A
Constituição cria as estruturas para que o Estado desempenhe
as suas funções. O Direito Constitucional=Direito Político
(Política- Polis; Polis- cidade (vida em comum) ou Estado
(fenómeno político)) é então um Direito de Organização, que
respeita ao modo de criação do Estado, visto que este é a
única forma de sociedade política que tem Constituição.
Por sua vez, o Direito Constitucional distingue-se dos
outros ramos, na medida em que corresponde ao tronco do
ordenamento político.
DEFINIÇÃO DE ESTADO
O Estado é uma sociedade política de fins gerais (que se dedica a uma
pluralidade de fins), e que visa a realização temporal das necessidades
coletivas. Por isso, é a única sociedade coletiva que não está sujeita a um
princípio de especialidade, na medida em que causa todos os fins gerais
da sociedade. Até agora apenas o Estado tem poder coercitivo (a ONU
pode ter esse poder coercitivo através do Conselho de Segurança, mas
apenas sobre os Estados em geral- uma decisão dependente da vontade dos
membros efetivos).
O Estado é regido por uma Constituição.
Constituição:
 rege fins gerais da ordem do Estado;
 contém os grandes princípios da ordem jurídica do Estado;
 estabelece o modo de relacionamento do Estado com os outros
Estados.
O Estado é:
 uma das formas de sociedade política, sendo na verdade, a única
regida por uma Constituição;
 é o objeto de estudo da ciência política (perspetiva fática “o que
é”) e do direito constitucional perspetiva normativa (“dever
ser”);
 é abalado e/ou condicionado por fatores internos e externos.
De facto, quando falamos em fenómeno estadual, referimo-nos a
organizações que estão em mutação e em transformação. No entanto, e
apesar dessas mutações, a soberania do Estado prevalece e ele é ainda a
principal referência de estruturação política no tempo e no espaço.
Basicamente, o Estado aparece sujeito a 2 pressões, pressão temporal e
histórica, porém permanece independentemente destas duas. O Estado é
atemporal, embora mudem as instituições, mudem os titulares e os órgãos
políticos, o Estado permanece, perdura, e ahistórico, o Estado vai a par
com a história.
Não apenas os indivíduos, mas também as demais instituições que
exercem autoridade política, devem obediência ao Estado. Não há ideia
de poder sem ideia de Direito (mudando a conceção de um, muda a
conceção de outro). O Direito Constitucional é a parcela de ordem
jurídica que rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto
poder.
Podemos olhar para o Estado de duas formas:
Estado enquanto comunidade (conjunto de pessoas): exerce poder para a
realização de fins comuns (da sociedade, de que fazemos parte);
Estado enquanto poder- regulamenta as relações, entre as várias entidades e
o poder supremo estadual ( poder político manifestado através de órgãos,
serviços, e relações de autoridade.
No entanto, encontramos já alguns fenómenos de paraconstitucionalização.
Paraconstitucionalização: fenómenos de aproximação ao Estado por parte
de organizações supraestaduais (ex.: UE, com marcas de estadualidade
como o Parlamento Europeu; Euro, política económica comum, Carta da
ONU que prevalece sobre todos os demais tratados internacionais).
Entidades intraestadual: autarquias, regiões autónomas;
Entidades supraestaduais: União Europeia ou qualquer outra instituição
internacional de que o Estado faz parte.
ORIGEM DA PALAVRA ESTADO
Sociedade em geral

Sociedades políticas

Estado

Estado Moderno

Estado Constitucional
Desde séculos XV e XVI Representativo e de Direito
desde século XVIII

O Estado é tanto objeto de estudo da Ciência Política e do Direito


Constitucional.
A ciência é determinada pelo objeto, mas também resulta do método e
perspetiva de análise.
Assim, enquanto o Direito Constitucional estuda o Estado enquanto
realidade sujeita a normas (dever ser), a Ciência Política estuda o Estado
enquanto facto ou realidade (ser).
Por Estado podemos entender:
Comunidade de pessoas
Instituição de um poder
Regulamenta as relações que se estabelecem entre pessoas e poder
A realidade estadual e a palavra “Estado” surgem em épocas diferentes:
O Estado, tal como o conhecemos, começou a ser usado principalmente
depois do século XVIII.
Estado advém do verbo estar ou permanecer- sto, stas, stare, staui,
statum.
O Estado permanece/dura no tempo, é a realidade política que
permanece, o que se prenda com uma das suas características, que é a
institucionalização.

O Estado é uma instituição!


Maurice Hauriou define instituição como “ideia de obra ou
empreendimento que vive e perdura no meio social” (ex.: Estado, família,
propriedade privada)- perdura na esfera externa e na esfera interna. Deste
modo, podemos concluir que o Estado é uma instituição que corresponde a
uma realidade histórica, mas que existe apesar das mutações históricas, isto
é, os titulares podem mudar, mas o Estado permanece, é, enfim, a realidade
política que permanece e dura no tempo, daí ser ahistórico (vai
prevalecendo ao lado da história, tal como foi referido anteriormente).
A palavra Estado é utilizada pela primeira vez num livro de Maquiavel-
“Todos os Estados são monarquias ou Repúblicas”- no século XVI, veio
generalizar/solidificar o sentido de Estado.
Portugal é uma espécie de Estado desde 1140 (possuíam normas que
poderiam seguir a ideia de Constituição).
(características do Estado)
O Estado tem, desde sempre, cinco características, em qualquer uma das
suas fases. Estas permitem-nos caracterizar o Estado enquanto tal e
distingui-lo de outras sociedades políticas:
Complexidade (de organização e atuação/oposição ao princípio da
especialidade): O Estado é uma sociedade de fins gerais-abanca a sua
totalidade- que procura satisfazer as necessidades coletivas, ao contrário
das outras entidades, que se regem pelo princípio da especialidade, uma vez
que se regem por fins particulares. O Estado é complexo, tem uma
multiplicidade de fins que tem de prever e abarcar e tem uma grande
diferenciação de órgãos e serviços.
Princípio da especialidade: cada associação tem um determinado fim
Pessoa coletiva: associação ou empresa

Autonomia do poder político: autonomia face à sociedade e poder político


(aos titulares do poder político). O Estado é composto por uma comunidade
de pessoas sujeita a um poder que se destaca. Fala-se em soberania do
Estado, se bem que haja uma separação entre a comunidade civil e o poder
político instituído. Mesmo sem ser absoluto ou totalitário, o Estado
determina a sua mística de poder e justifica as suas ações em nome de
objetivos próprios. A esfera do Estado (poder político) é completamente
independente perante a esfera social (sociedade civil).
Coercibilidade (possibilidade): suscetibilidade ou possibilidade de o direito
estadual ser imposto pela força. As normas do Estado e o poder político
têm uma característica de coercibilidade, de suscetibilidade de aplicação
coativa, isto é, caso as normas não sejam cumpridas, há instrumentos que
permitem a sua aplicação, ex.: os tribunais. O Estado promove a integração,
a direção, a defesa da sociedade, a própria sobrevivência como um fim em
si, a segurança quer interna, quer externa. Não é o Estado que se impões
pela força, mas sim o Direito do Estado com as suas leis e normas jurídicas.
Estado proíbe o desforço (justiça privada).
Preferível falar em coercibilidade e não em coação ou coerção para melhor acentuar a ideia de
mera suscetibilidade ou possibilidade de vindicação normativa pela força.
Coação: obrigar pela intimidação, pela força ou pela violência.
Coerção: direito de reprimir, ato de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela
força, ex.: polícia apontar a arma à cabeça e obrigar a dar-lhe dinheiro

Institucionalização: ideia de duração, de permanência do poder, para além


da mudança dos titulares. Corresponde a uma ideia de permanência,
fixação e enraizamento do Estado como realidade transtemporal, e
imbrinca com permanência dos fins gerais a que o Estado se propõe.
Nível externo: Estado mantém relações com outros Estados a nível
internacional;
Nível interno: esta característica remete para o facto de o Estado
permanecer mesmo com as mudanças do governo, titulares, poderes e leis.
O poder político permanece independentemente dos respetivos titulares.
Esta institucionalização e permanência também se notam a nível da
Constituição. Também os princípios gerais da Constituição permanecem.
Há, porém, exceções, pois existem governos que não assumem as normas
jurídicas de governos anteriores.
Constituição

2 tipos de Constituição

Constituição material Constituição formal


Diz respeito aos princípios gerais do Surge nas revoluções liberais do século
Estado (regras de ocupação do poder XVIII. Com elas surge um tipo diferente de
político e regras do cidadão e de Estado, precisamente chamado de
Estado). O artigo 16º da DDHC “Constitucional”.
referia que uma Constituição para o
ser, não poderia prescindir de regular * A generalização do aparecimento das
os direitos das pessoas e a separação Constituições Escritas deu-se no século
dos poderes, o que ainda hoje XVIII, sendo a primeira a dos Estados
podemos dizer que corresponde ao Unidos, em 1787, permanecendo até hoje,
conteúdo mínimo essencial de uma com algumas modificações.
Constituição.
* A primeira Constituição Formal
Portuguesa foi em 1822, pós-Revolução
Liberal. Contudo, o Estado tal como
encaramos, surgiu apenas após o 25 de
abril.
Territorialidade ou sedentariedade: corresponde à necessidade de um
espaço físico para que o Estado realize o seu poder (espaço físico de
atuação).

FASES DO ESTADO
Na sua obra “Teoria Geral do Estado”, de 1900, Jellinek refere-se aos
Estados como formas de organização do território, poder político e povo
num determinado tempo e espaço para atingir as suas finalidade e apresenta
uma categorização dos mesmo:
Estado Oriental
Estado Grego
Estado Romano
Estado Medieval
Estado Moderno- sécs. XIV e XV/ sécs. XV e XVI
Ao contrário de Jellinek, Jorge Miranda considera uma classificação de
tipo históricos de Estado- Oriental, Grego, Romano e Medieval não
coexistem- e não de tipos fundamentais, já que estes não coexistem
realmente. Seguindo este pensamento, será também mais correto falar-se de
uma organização de tipo medieval e não de um Estado medieval, já que aí
não se verificaria uma identificação do poder estadual como poder supremo
nem a característica da coercibilidade ( autonomia- o Rei era o senhor, o
Estado não tinha autonomia-; estávamos perante uma modulação feudal),
antes existindo uma fragmentação do poder político decorrente da
organização feudal da sociedade. Assim, Jorge Miranda não utiliza a
designação de Estado, mas sim “Organização de tipo Medieval”.
CAPÍTULO II- O DIREITO PÚBLICO MODERNO E O
ESTADO DE TIPO EUROPEU
Se os primeiros tipos de Estado têm localizações espácio-temporais bem
definidas, já o Estado Moderno:
Pode surgir no século XIV (Inglaterra e Portugal)
Surge essencialmente nos séculos XV e XVI com o Renascimento e com os
Descobrimentos
Resulta de uma centralização do poder por reação à fase anterior.
Além das cinco características comuns a todos os Estados, o Estado
Moderno conta com mais três características que marcam a rutura cpm as
anteriores formas de Estado:
Ideia de soberania do poder político;
O Estado como Nação
Estado laico
Assim, estas três estão aglutinadas às cinco características gerais do Estado.
Características adicionais do Estado Moderno de Tipo Europeu:
Soberania do poder político
A teorização da soberania pode dizer-se ter sido realizada por Jean Bodian,
na sua obra “Les six livre de la République”- nesta altura o aparecimento
de fronteiras territoriais exíguas fazem da centralização do poder uma
condição para a existência e sobrevivência do próprio Estado (sem elas-
“sine qua non”, não existiria Estado). O poder político centralizado evita a
desagregação do Estado em pequenas unidades territoriais e é o garante da
unidade política estadual, surgindo:
- Como uma necessidade de afirmação para com os outros Estados
europeus;
- Como uma necessidade de comunicação com os Estados mais longínquos.
No que diz respeito à ideia de soberania, o poder político pode ser
observado a nível interno e externo:
Nível interno: é o poder supremo, não há poderes acima do poder político,
todos os outros poderes se subordinam em relação ao poder político.
Nível externo: é um poder independente, não recebe diretrizes de outros
Estados, apenas tem uma relação de coordenação com eles.
Estado como Nação
Noutros tipo anteriores de Estados, o fator de união entre determinado
número de pessoas havia sido, por exemplo, o fator religioso (Estado
Oriental, Grego e Romano). No Estado Moderno, o fator de coesão é a
NAÇÃO, que corresponde a um vínculo objetivo/emocional que resulta de
vivências históricas e que promove a coesão de determinadas comunidades
humanas.
Podemos encontrar num Estado uma só Nação ou várias Nações, assim
como podemos encontrar uma Nação dividida em vários Estados. Mas no
Estado Moderno a um Estado corresponde tendencionalmente uma Nação,
e a Nação define-se por relação com o Estado.

Laicidade do Estado
Separação dos fins religiosos e fins políticos. O Estado deve reconhecer os
fenómenos religiosos, mas manter-se neutro- radica, no fundo, ainda no
Cristianismo e no brocardo “Dai a César o que é de César, a Deus o que é
de Deus”
FASES DO ESTADO MODERNO EUROPEU
1º fase- Estado Estamental- sécs. XIV/XV/XVI- forma política de
transição, tem ainda elementos do período de organização medieval e
elementos do Estado Moderno, como a centralização do poder e a
correspondência entre ideias de poder político e soberania; monarquia
limitada pelos estamentos (assembleias representativas, consultivas e
deliberativas de cada Estado-ex.: Cortes em Portugal; Estados Gerais em
França; Parlamento em Inglaterra). O rei tinha a legitimidade, embora
estivesse dependente dos segundos) e os estamentos (corpos organizados
ou ordens, vindos da Idade Média) criam a comunidade política.
Casos Especiais
Inglaterra
Em 1215, o rei João assina a Magna Carta, que reconhecia a representação
do povo e a consequente limitação do poder real/monárquico. No século
XIII, deu-se a emergência do Parlamento, Inglaterra passa diretamente de
um Estado Estamental para um Estado Constitucional, Representativo e de
Direito.
Portugal
O Estado Estamental atingiu o seu apogeu com o Mestre de Avis, durante o
século XIV- período de limitação do poder monárquico pelas cortes, que
não impediu uma posterior centralização do poder e consequente passagem
para Estado Absoluto. Entra em declínio no reinado de D. Afonso V e
termina em D. João II, com qual se inicia o Estado Absoluto.
2º fase- Estado Absoluto
Há uma progressiva centralização do poder durante a fase do Estado
Estamental, até que deixa de haver limitação das ordens representativas por
haver uma centralização total do poder na figura do monarca.
Monarquia do Direito Divino- século XVII; legitimidade assenta no poder
dado pela divindade, o rei é escolhido por Deus, tem um mandato divino
para governar (ex.: Luís XIV “L’État c’est moi”- glorificação e deificação
do poder político).
Referência a Maquiavel- na Antiguidade Clássica distinguiam-se 3 formas do exercício do
poder, Monarquia, Aristocracia e Democracia, Maquiavel distingue a Monarquia e a República:
Monarquia- exercício do poder político por um órgão singular por via hereditária ou eletiva;
República – o poder executivo cabe ou a um órgão coletivo ou a um órgão singular desde que
este esteja limitado por uma assembleia.

Despotismo esclarecido- século XVIII; mesma divinização do poder, mas a


sua legitimidade é diferenciada, pretende-se atribuir ao poder uma
fundamentação racionalista dentro do Iluminismo- déspota assume-se como
iluminado pela razão.
Linhas essenciais: justificação do poder político é a razão- deificada e mitificada (na esteira dos
ideais iluministas)

3º fase- Estado Constitucional, Representativo e de Direito (Locke, Kant,


Montesquieu, Rosseau): “melhor do que a razão de um (despotismo) é a
razão de todos” – a razão de todos fundada numa lei fundamental
(incorpora a razão geral ou da comunidade).
Constitucional- o Estado assenta numa Constituição reguladora tanto de
toda a sua organização- pode ou não ser escrita-, como da relação com os
cidadãos, e tendente à limitação do poder e começaram a existir
constituições formais;
Grandes contributos americanos:
1776: Declaração de Direitos da Virgínia;
4 de julho 1776: Declaração da Independência dos EUA
1787: Constituição Americana- primeira Constituição escrita
Grandes contributos franceses:
1789: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão- determina o sistema francês e mantém-
se em vigor, por expressa referência dos preâmbulos das Constituições francesas seguintes.
1822: Primeira Constituição Portuguesa

Representativo: falamos da forma como o poder é exercido. Um governo


representativo é a forma em que se opera numa dissociação entre
titularidade/exercício do poder. A titularidade reside no povo, na Nação, na
coletividade, e o exercício é conferido a governantes eleitos ou
considerados representativos de toda a coletividade; soberania reside no
povo, que escolhe determinados representantes que tomas determinadas
decisões por si;
Com a ideia de Estado Representativo surge uma nova forma de encarar a relação entre poder
político a súbditos (sujeitos a um poder e não têm qualquer tipo de escolha ou participação) e
cidadãos (participam/têm poder de intervenção).

Direito: quer-se fazer expressar que o único critério de atuação possível é o


critério legal, o critério do Direito, da Lei. Esta ideia vem da Antiguidade
Clássica, uma vez que Platão já dizia que “melhor que um governo de
homens será um governo de leis, uma vez que estas estabelecem normas de
conduta que pautam a sociedade”. É um Estado de Direito porque quem
cria as normas também lhes está sujeito, ao seu cumprimento. Quem cria a
lei é o criador que por sua vez também é o destinatário das mesmas.
Na verdade, também dizemos que é de Direito por cumprir o artigo 16º da DDHC, onde está
patente o conteúdo mínimo de qualquer Constituição, nomeadamente a separação de poderes e a
garantia dos direitos fundamentais e liberdade.
Um Estado em que, para garantir dos direitos dos cidadãos, se estabelece juridicamente s
divisão do poder e me que respeito pela legalidade se eleva o critério de ação dos governantes.

Estado de legalidade ≠ Estado de Direito


- cumpre-se a lei seja qual for -considera a ideia de Direito
que está em causa; - é mais do que um estado de
legalidade;
- considera os valores subjacentes a
determinada lei
Legalidade = estrito cumprimento da lei
Direito = mais do que isso
Esta ideia de Direito implica:
- separação de poderes, segundo Montesquieu;
- limitação recíproca dos poderes- fiscalização de uns poderes em relação a
outros;
- respeito pelos Direitos Fundamentais e Liberdades dos cidadãos*;
- cumprimento da legalidade.
*é preciso defendê-los, os direitos negativos (respeitar- Direito negativo é um conceito
formulado pela doutrina para aqueles direitos e garantias fundamentais que têm como objetivo a
abstenção do Estado ou de terceiros de violá-las; ex.: Direito ao não impedimento de
determinados atos (ex.: liberdade de pensamento); direito a não intervenção dos entes públicos
em situações jurídico-subjetivas (ex.: violação de correspondência); direito a não eliminação de
posições jurídicas (ex.: propriedade) e os direitos positivos (designa o conjunto de princípios e
normas jurídicas aplicáveis a um determinado povo em determinada época)

FASES DO ESTADO CONSTITUCIONAL, REPRESENTATIVO E


DE DIREITO
Estado Liberal- século XIX: Estado não intervencionista e abstencionista;
não tem qualquer intervenção em assuntos económicos. No Estado Liberal,
apesar de existir uma ausência da intervenção proativa do Estado, este
continua a ter um papel importante, nomeadamente, na esfera social, isto é,
na segurança dos indivíduos (caso de roubo, fraude ou uso de força) e na
verificação do cumprimento de contratos. Apesar de o Estado Liberal
entender que a melhor atuação é a abstenção, não significa que não atue.
Estado Liberal = Estado Negativo ou Estado Mínimo
“Laissex faire, laissez passer”
Estado polícia
Estado meramente fiscalizador, só intervém quando é estritamente necessário

Estado Social de Direito- século XX, após a 1º Guerra Mundial e acentua


questões sociais que reclamam a intervenção do Estado em TODAS as
esferas da vida em comunidade.
Estado Social de Direito= Estado positivo ou Welfare State ou Estado-
Providência ou Estado do Bem-estar
1º Guerra Mundial faz eclodir questões sociais a que o Estado Liberal não estava a dar resposta
A primeira Constituição “representativa” deste Estado é a de Weimar (1919), acresce
preocupações sociais ao Estado
2º categoria de bens fundamentais, Direitos económicos, culturais e sociais ex.: direito à
habitação, direito à proteção de saúde

CORRENTES NEOLIBERAIS
Estado de polícia: Estado no qual o poder político se exerce em função do
bem-estar da pólis (ex.: despotismo; Estado Absoluto- o monarca assume-
se como déspota para o bem-estar da pólis);
Estado polícia: nada faz e funciona como fiscalizador que intervém quando
necessário. Estado Liberal, século XIX;
Estado policial: a polícia enquanto instituição é utilizada para manter a
ordem em termos totalitários (exercício ditatorial do poder). Uma ditadura,
a polícia será usada como instrumento de repressão.
Paralelamente ao Estado Social de Direito encontramos hoje:
Estados Fascistas
Estados Socialistas
Estados sociais: as preocupações sociais não são inseridas num
enquadramento de Direito
MANIFESTAÇÕES DO ESTADO SOCIAL DE DIREITO
• 1917 - Constituição Mexicana
• •1919 - Constituição de Weimar (apesar de não ser a primeira,
é emblemática desta nova fase)
• 1947 - Constituição Italiana
• 1949 - Constituição de Bona
• 1988 - Constituição Brasileira
• 1976 - Constituição Portuguesa
ELEMENTOS DO ESTADO
Os três elementos que nos permitem caracterizar o Estado enquanto Estado,
partindo do princípio de que são cumpridas todas as características já
enunciadas, são os seguintes:
Elemento humano- povo (Artigo 4º- Cidadania portuguesa)
Elemento físico- território (interessa que haja delimitação do território, mas
é variável // Artigo 5º- Território)
Elemento institucional- poder político (artigo 3º da Constituição- Soberania
e Legalidade; 1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a
exerce segundo as formas previstas na Constituição)
ELEMENTO HUMANO- POVO
Expressões afins:
População (não deve ser utlizado em termos políticos)- atende-se a um
ponto de vista socioeconómico/ estatístico;
Pátria / Nação- prende-se com um vínculo de natureza histórica e
emocional. Esta ideia corresponde a uma certa homogeneidade de emoções,
tradições, não corresponde a um vínculo jurídico;
República – Durante muito tempo foi entendido como sinónimo de povo; a
partir do momento em que Maquiavel trabalha este conceito, deixa de
haver correspondência entre os dois termos;
Grei- Expressão arcaica em desuso.
Povo: corresponde à comunidade de cidadãos ligada por um vínculo
jurídico, e consiste pois no conjunto de pessoas permanentemente ligadas a
um Estado através de um vínculo jurídico que lhes reconhece direitos e, se
estivermos num Estado Democrático, os cidadãos podem participar na
gestão da vida pública. Realce para os artigos 14º e 15º, estrangeiros
também podem integrar a população portuguesa // “Os cidadãos
portugueses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da
proteção do Estado (…) / “Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem
ou residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do
cidadão português.”
O povo é o titular do poder político e é também o destinatário das normas
jurídicas na ordem jurídica estadual.
Assim, a cidadania (aquilo que é o povo e integra a população) é o vínculo
jurídico que une as pessoas ao Estado- vai impor deveres e reconhecer
direitos, corresponde à suscetibilidade de nos ligarmos ao Estado- (a
palavra nacionalidade é muitas vezes utilizada como sinónimo, mas não o é
verdadeiramente, nacionalidade deve ser aplicada a pessoas coletivas ou
coisas, ex.: empresas). Assim, o povo titular do poder político e destinatário
das normas jurídicas da ordem jurídica estadual pode então incluir pessoas
que estão fora do território português.
O elemento humano é, de algum modo, mais condicionante do que o
elemento físico do território.
Podemos observar duas situações distintas relativamente à cidadania:
Pluricidadania- conflitos positivos : um cidadão possui mais do que uma
cidadania, pelo que, merece proteção de mais do que um Estado, ou seja, se
tem duas cidadanias, merecerá, efetivamente, a proteção desses mesmos
dois Estados aos quais se encontra ligado pelo vínculo jurídico // overdose
de direitos // há Estado que obrigam a optar e que não
Apatridia- conflitos negativos: uma pessoa não é cidadã de nenhum Estado,
logo, não lhe é garantida a segurança por nenhum Estado // situação de
desproteção.
CRITÉRIOS DE AQUISIÇÃO DE CIDADANIA
 Ius sanguinis (direito que vem do sangue)- adquirem a cidadania
aqueles que forem filhos de pai ou mãe desse Estado,
independentemente do sítio onde nasceram;
 Ius solis (direito do solo)- adquire cidadania aquele que nascer em
território desse Estado.

Critérios de aquisição de cidadania no direito português


• Constituição 1822 – ius sanguinis
• Constituição 1826 – ius soli
• Constituição 1838 – ius sanguinis
Em 1867 o primeiro Código Civil Português regula a matéria em lei
ordinária
Hoje a regra geral – apesar de algumas evoluções no sentido da relevância
do ius soli – ainda continua a ser a do ius sanguinis.
A aquisição da cidadania pode ainda ser:
Originária: adquirida no nascimento;
Derivada ou superveniente, por atribuição- casamento ou naturalização.
Dentro desta vertente existe:
 Facto- pode ganhar a cidadania por casamento, mas ser um “acaso”,
não ser essa a intenção;
 Ato- intervenção humana- manifestação de vontade.
ELEMENTO INSTITUCIONAL- PODER POLÍTICO
No Estado Moderno de tipo Europeu, o poder político corresponder à ideia
de soberania. Só pela subordinação do poder político ao Direito é que se
encontra organização estadual (artigos 1º e 3º- “Portugal é uma República
soberana, baseada (…) na vontade popular (…)” / “ O Estado subordina-se
à Constituição e funda-se na legalidade democrática”.
Esta soberania implica coordenação na ordem externa e na ordem interna.
Não conseguimos configurar uma situação de um Estado que não tenha um
poder político soberano na ordem interna e o tenha na ordem externa. Pode
ter poder político na ordem interna e não na externa.
O QUE CARACTERIZA O ESTADO ENQUANTO PODER
POLÍTICO SOBERANO?
Na ordem externa:
Tradicionalmente e desde 1648 e do Tratado de Vestefália/ Westefália:
 Ius tractum (direito de celebrar tratados/convenções);
 Ius legationis (direito de terem representações diplomáticas noutros
Estados);
 Ius belli (direito de fazer guerra).
No mundo contemporâneo, o ius tractum e o ius legationis mantêm-se, o
ius belli mudou ligeiramente com a Carta de São Francisco (1945).
Deixam de conseguir “fazer a guerra”, é ilícito, mas há causas/situações de
ilicitude que justificam o uso da força em legítima defesa.
Ainda se acrescentam o direito de:
 Fazer parte de organizações internacionais: ONU, Conselho da
Europa (1949, o Tratado de Londres), Comunidade Económica
Europeia (Tratado de Roma), União Europeia (Tratado de
Maastricht);
 De reclamação internacional (perante os tribunais internacionais-
tribunal internacional da justiça, europeu dos direitos do homem, de
justiça da União Europeia);
SERÁ QUE FAZ SENTIDO FALAR-SE EM SOBERANIA NA
ORDEM EXTERNA?
O poder político na ordem externa é um poder independente porque os
Estados são independentes uns dos outros, não recebem ordens de outros
Estados. No entanto, faz sentido em falar-se em poder político na ordem
externa porque há Estados que fazem parte de outros estados
supraestaduais (Portugal pertence à União Europeia).
As Organizações Internacionais (ONU) resultam de uma associação e
Organizações supranacionais que têm como objetivo a integração dos
Estados (por exemplo, no âmbito da UE haveria uma “maior perda de
soberania”- não será inteiramente correto falar-se de perda de soberania
visto que há uma autolimitação do Estado – i.e., a integração em
organizações supranacionais implica escolha e vontade própria de Estado).
Em termos processuais, tendencialmente:
Nas organizações internacionais as decisões são tomadas por unanimidade
(o que garante mais a posição dos Estados e não perdem qualquer
soberania).
Nas organizações supranacionais são tomadas por maioria, podendo perder
alguma soberania. Exemplo: Portugal perdeu ligeiramente a soberania
externa com a adesão à União Europeia.
União Europeia: organização regional
OIT/OMS: organizações parauniversais setoriais (parte especializada da ONU)
O Estado tem possibilidade de delegação de poderes:
Esfera interna
Descentralização de poderes – quando o estado faz descentralização de poderes, cria novas
pessoas coletivas (Ex. pessoa coletiva responsável pelo meio ambiente);
Desconcentração de poderes – cria novos órgãos dentro da pessoa coletiva estado. A
desconcentração de poderes não vai tão longe como a descentralização (Ex. ministério da
educação).
A desconcentração permite que se façam leis, mas, na descentralização, isso não é possível.

Como sujeitos no Direito Internacional encontramos o Estado, as


organizações internacionais, e também o próprio indivíduo.

TERCEIRO ELEMENTO: TERRITÓRIO


Formas de Estado
Consistem precisamente no modo de articular os três elementos do Estado
(povo, poder político, território), mas têm consequências importantes ao
nível do exercício da soberania externa.
 Estados soberanos:
1. Estados unitários (regionais- integralmente regionais ou
parcialmente regionais- e não regionais)
2. Estados compostos (Confederação; federação; união
pessoal; união real)
 Estados semi-soberanos
1. Confederados;
2. Exíguos;
3. Vassalos;
4. Protegidos;
 Estados não soberanos
1. Federados
Estados soberanos
Nos Estados unitários há um único centro de impulsão do poder.
Quando falamos em Estados soberanos unitários REGIONAIS, estes
podem ser integralmente regionais ou parcialmente regionais (art.º 6º da
CPR-Estado unitário).
Integralmente regionais: todo o território se divide em regiões
autónomas.
Parcialmente regionais: encontram-se regiões politicamente autónomas
e regiões ou circunscrições só com a descentralização administrativa,
verificando-se diversidade de condições jurídico-políticas de região para
região. Este é o caso de Portugal.
Quando falamos Estados soberanos unitários REGIONAIS e NÃO
REGIONAIS falamos de regiões políticas e não administrativas, ou seja,
estão em causa regiões que contam com órgãos do governo próprio (e
em grande medida é o poder legislativo primordial).
Estados soberanos compostos
São Estados com mais do que um centro de impulsão do poder. Há
várias unidades com poder dentro dos Estados Composto: confederação,
federação, união pessoal e união real.
 Confederação: associação de vários Estados que se associam
entre si, formando um Estado Composto, mas apenas em termos
de uma partilha horizontal de poderes. Estados confederados são
estados semi-soberanos que fazem parte da confederação (os
EUA passaram de confederação para federação).*
*os Estados têm uma associação entre si para tomar decisões; partilham os poderes,
partilha horizontal
 Federação/Estado federal: associação de vários Estados que se
associam, mas criando uma terceira entidade à qual dão poder- há
uma partilha horizontal e vertical dos poderes (união). Dá origem
a um novo Estado, que vai englobar ou integrar, e passar a
exercer poderes sobre os seus membros. Existem Estados
Federados (não são soberanos). Por exemplo, os Estados
Federados nos EUA não têm soberania externa.
Estados federados são Estados não soberanos que fazem parte da
federação.
Não há uma frente externa na confederação, enquanto que na Federação
existe. A Suíça apesar de oficialmente ainda se chamar de Confederação
Helvética, é hoje, de facto, uma Federação
No entanto, podemos ter Estados que são Confederação e não passam a
Federação, assim como da União Pessoal não têm obrigatoriamente de
passar a União Real.
 União pessoal: há um Chefe de Estado comum a dois Estados.
Por via de linhas genéticas diferentes, por acaso, acidentalmente,
o Chefe de Estado de Espanha foi também Chefe de Estado de
Portugal. Ex.: Jaime e a Dinastia Filipina.
 União Real: evolução da União Pessoal, por exemplo, a
Inglaterra e a Escócia começaram como União Pessoal até que
quiseram manter essa união de forma propositada. Assim, o
Chefe de Estado de Inglaterra passou a ser sempre o chefe de
Estado da Escócia (o que ainda hoje se verifica). Deste modo, a
União Pessoal passou a União Real (propositada). // fruto da
intenção; ex.: Grã-Bretanha
Em suma, o que distingue a União Pessoal da União Real é que na
União Pessoal, a situação ocorre de forma acidental, enquanto que na
União Real, a União Pessoal evolui de forma propositada, por vontade.
Estados semi-soberanos
Estados confederados: compõem a Confederação e têm pouca
autonomia da esfera internacional.
Estados exíguos: estados com território reduzido (microestados) que
por si só não têm soberania externa completa e, por isso, precisam de se
associar a um outro Estado numa ordem externa para, assim, terem
importância e “semissoberania” no plano internacional, como é o caso d
Mónaco, Andorra, Liechtenstein e San Marino.
Estados vassalos: ligados à Época medieval. O exemplo mais recente
que se estabeleceu com o Egipto e a Turquia no século XIX. Ou até
mesmo os reinos no Oriente na época dos Descobrimentos.
Protegidos: protetora dos coloniais. Estados em que as colónias
detinham representação na cena internacional através da potência
colonial. Exemplo: Commonwealth, Gronelândia, Dinamarca.*
*mais verificação histórica do que externa (protegidos e vassalos)

Estados não soberanos


Os Estados não soberanos não têm poder de se representarem
externamente.
Estados federados: fazem parte de uma federação.
A distinção entre os Estados semi-soberanos e os Estados não
soberanos é também uma diferença de grau.
NA ORDEM INTERNA:
Na ordem interna, o poder político é o poder supremo que se relaciona com
os demais poderes infra-estaduais (com os poderes que estão abaixo do
poder Estadual que é supremo), segundo uma relação de subordinação
desses mesmos poderes infra-estaduais relativamente ao poder supremo.
O poder do Estado é um poder supremo, é um poder originário, é o povo
que dá poder ao Estado. Não é outra entidade que faculta o poder político.
Todos os Estados têm poder constituinte (o Estado faz para si próprio uma
Constituição)
Na ordem interna, a soberania caracteriza-se por:
1. Originariedade: o Estado tem o poder ordinário que vem de si
próprio e não é um poder delegado por uma entidade externa;
2. Supremacia: não há poder superior ao do Estado, tal como
defendia Jean Bodin. Esta é uma característica rejeitada por
autores como Marcelo Rebelo de Sousa. Para estes autores as
Regiões Autónomas (poder não originário e supremo) difere
do Estado (poder originário e que pode ou não ser supremo);
3. Poder constituinte: o Estado faz para si próprio uma
Constituição, adota-se de uma Constituição. Mesmo os
Estados federados (não soberanos na ordem externa) têm
poder constituinte, tal como acontece nos EUA;
4. Poderes constituídos, o Estado detém todos os poderes- poder
político, legislativo, jurisdicional e executivo;
5. Possibilidade de delegação de poderes: o Estado tem ainda
possibilidade de delegar os poderes através de:
 Desconcentração: o Estado cria novos órgãos dentro da
pessoa coletiva Estado e atribui poderes a essas mesmas
novas entidades, mas elas existem dentro da pessoa
coletiva Estado. Na verdade, a desconcentração de
poderes não vai tão longe como a descentralização. Por
exemplo: cria o ministério da educação;
 Descentralização: o Estado atribui poderes, mas cria
outras pessoas, novas pessoas coletivas. Cria uma
pessoa coletiva responsável pelo meio ambiente, por
exemplo.
Esta descentralização pode ser: administrativa e política.
 Administrativa: territorial- atribui poderes tendo em conta a
delimitação de um determinado território. Por exemplo, dentro desse
território é uma determinada entidade que vai exercer estas funções.
1. Autarquias locais: freguesias, municípios, regiões
administrativas. É uma descentralização administrativa
territorial. Critério de distribuição em função da geografia.
2. Institucional: critério de distribuição em função da matéria. Dá
origem a institutos públicos. Ex.: para tratar da matéria da
água.
 Política: dá origem a regiões políticas, isto é, órgãos de governo
próprio com poder legislativo, como é o caso das RA da Madeira e
doa Açores.
Quanto ao que identifica verdadeiramente os Estados, para além destas
cinco notas, têm os autores discutido se é

o poder de O poder de fazer executar O poder tributário.


emitir normas e coercivamente essas leis- Thomas
Há ainda autores que
leis, segundo No entanto, alguns autores dizem que
defendem que aquilo
Locke e leis todos fazem, como as regiões
autónomas, portanto, não há de ser isso que identifica
Rosseau.
que caracteriza o poder do Estado. verdadeiramente o
Assim sendo, dizem que o que Estado é o poder
caracteriza o poder de Estado é a tributário, ou seja, a
coercibilidade, o poder de fazer imposição de
executar coercivamente essas leis.
impostos.
Todavia, também temos autores que
dizem que a maior parte das normas
são cumpridas pelos cidadãos de forma
espontânea sem a necessidade de
recorrer a esses instrumentos. O Estado
tem uma forma de justiça pública que
impede a justiça privada (eu matar
alguém porque acho que merecia).
Portanto, dizem que a coercibilidade
também não caracteriza o Estado.
Há ainda uma quarta parte desta discussão, em que Carl Schmitt defendia
que o que caracterizava o Estado é aquilo que o Estado pode fazer na
exceção constitucional, ou seja, segundo o artigo 19º da CPR (suspensão do
exercício de direito), só os Estados de Sítio e de Emergência é que escapam
à normalidade constitucional e permitem a suspensão de Direitos de
liberdades e garantias.

TIPOLOGIAS POLÍTICAS
Formas de Estado: diz respeito à articulação entre os três elementos
(povo, poder político e território);
Forma de Governo: República (eleição do Chefe de Estado) ou
Monarquia (hereditariedade- Chefe de Estado é designado)- relação entre
governante e governados;
Sistema de Governo: analisam o modo como os órgãos políticos se
relacionam entre si, o modo como o Parlamento e o Governo se organizam
entre si, por exemplo. Isto só acontece num Estado de Democracia, onde há
separação de poderes (esfera dos governantes). Temos três Sistemas de
Governo:
1. Sistema Parlamentar: o Governo é responsável única e
exclusivamente perante o Parlamento e esta ideia de
responsabilidade está associada à ideia de destituição, na medida me
que o Parlamento pode destituir o Governo. Há dois órgãos de poder
ativo; o Chefe de Estado não tem um poder político ativo, tem
apenas um poder simbólico (por exemplo, o caso do Reino Unido
“the queen reigns but does not rule”).
2. Sistema Presidencial: não existe Governo enquanto órgão político
autónomo nem responsabilidade política entre o Chefe de Estado e o
Parlamento, não se podem destituir um ao outro (casamento sem
divórcio). Neste sistema, o Chefe de Estado exerce funções
presidenciais e executivas.
3. Sistema Semipresidencial (ou Semiparlamentarista): origem em
França. Existe um Governo enquanto órgão autónomo e temos
também a ideia de responsabilidade política: o Governo é
duplamente responsável perante o Parlamento e perante o Chefe de
Estado. O Governo pode ser destituído quer pelo Parlamento quer
pelo Chefe de Estado (caso de Portugal). Deste modo, o Sistema
Semipresidencialista tem influência do Sistema Presidencial, na
medida em que o Chefe de Estado tem poderes executivos como no
Sistema Presidencial. No entanto, não estabelece nenhuma
semelhança com o Sistema Parlamentar, uma vez que nesse sistema
o Chefe de Estado apenas tem um poder simbólico.
 Regime político: o que anima o regime é a ideologia. O regime
político corresponde à ideia de direito existente num determinado
Estado, ou seja, à forma como o poder é exercido.
1. Democracia/Regimes democráticos: podemos ter uma
Democracia direta ou representativa. O fundamento é sempre a
legalidade, há respeito total pelos direitos fundamentais dos
cidadãos e das pelas suas liberdades.
2. Regime não democrático (autoritário): é menos severo do que
o regime totalitário, na medida em que, em alguns casos, há um
respeito por alguns direitos fundamentais. O controlo do Estado
não é total, sendo que este Estado implica reconhecer uns certos
limites que são exteriores ao Estado, como é o caso do Estado
Novo que respeitava um dever moral católico (exterior ao
Estado).
3. Regime não democrático (totalitário): não há garantia efetiva
dos direitos fundamentais do cidadãos, o Estado controla todas as
associações sociais, culturais. Há um controlo total do Estado.
Título II- Sistemas e famílias constitucionais
 Capítulo I- Sistemas e famílias constitucionais em geral
 Capítulo II- As diversas famílias constitucionais
 Capítulo III- Os sistemas constitucionais do Brasil e dos países
africanos de línguas portuguesa
Tal como afirma Jorge Miranda, “com o estudo das experiências
constitucionais, assenta-se no sistema constitucional como um todo e
procura-se conhecer a sua origem, quais os elementos políticos,
económicos, culturais e religiosos que o têm condicionado, quais os
seus traços dominantes e as projeções futuras. É a experiência da
organização jurídico-política de cada povo. Quanto ao método de
formação de famílias constitucionais consiste em examinar o Direito
Constitucional de cada país e tentar agrupar sistemas semelhantes
num pequeno número de famílias constitucionais.
FAMÍLIAS CONSTITUCIONAIS
Até 1914, o liberalismo era o sistema dominante (modelo de Estado-
Estado Liberal). Contudo, a 1º Guerra Mundial começa a afastar esse
suposto triunfo do liberalismo (Congresso de Viena- 1815; Bismark 1870),
levantou questões que este tipo de Estado não conseguia responder. Havia
duas exceções no panorama europeu (Rússia e Turquia).
Deste modo, esta ideia democrata-liberal, é assim, abandonada a partir da I
Guerra Mundial e entre as duas Grandes Guerras há uma alteração
acelerada que leva à fragmentação dos modelos de Estado. O antagonismo
é expresso em vários encontros: Conferência de Paris, em Versalhes, 1919
e Conferência de Ialta, 1945.
Também entre 85 e 89 há novamente transformações internacionais.
Maurice Duverger (Les instituitions politiques) refere uma tendencial
aproximação entre o modelo liberal e soviético. Há, de facto, uma efetiva
aproximação, mas por mutação interna do modelo soviético e não por
cedência mútua dos dois modelos.
As quatro grandes famílias de Direito Constitucional: a inglesa, a norte-
americana, a francesa e a soviética. Como afirma Jorge Miranda, “daqui se
difundiram com amplitude e fidelidade variáveis para numerosos países”.
Resumidamente:
Família Britânica: berço do sistema parlamentar; bipartidarismo rígido;
direito de base consuetudinário (baseado no Costume- fonte de Direito por
excelência na família britânica); 1º Estado com reconhecimento de
liberdades públicas;
Família norte-americana: berço do sistema presidencialista; berço do
federalismo; precedente judicial; modelo de fiscalização da
constitucionalidade;
Família francesa: resulta do triunfo da lei enquanto expressão da vontade
democrática; revolução francesa: início do Constitucionalismo moderno;
não tem tanta estabilidade; (Portugal inspira-se nesta família);
Família soviética: diferença fundamental de todos os outros modelos e
famílias.
Encontramos ainda Estados que não se enquadram em nenhuma destas
famílias por seguirem vias completamente originais (Argélia, Tanzânia);
por apresentarem características específicas que mereçam o seu tratamento
autonomizado (Alemanha, Suíça, Áustria); caso do Brasil e dos PALOPS
são especiais.
FAMÍLIA CONSTITUCIONAL BRITÂNICA
Reino Unido Inglaterra + Gales (1283- anexação)
Inglaterra + Escócia (1602- União
Pessoal, 1707- União Real)
Irlanda do Norte
(com estatuto de
autonomia 1922/1969)
Nota: Parlamento escocês
adquire mais poderes em
Na matriz britânica se há a disseminação do 1997- engrandecimento de
Governo por via de responsabilidade política funções.
Em 2014 houve um
perante o Parlamento, desaparece o Governo e referendo que oferecia aos
desaparece o Parlamento. escoceses a independência.
Contudo, eles recusaram.

CONSTITUIÇÃO BRITÂNICA
Não encontramos aqui uma constituição britânica formal ou um texto
escrito em que se incorporem os princípios básicos. A Grã-Bretanha tem
uma Constituição consuetudinária- com base no costume (consuetudo =
costume). Como afirma Jorge Miranda “A Inglaterra, porém, em vez de
dotar o Estado com um documento constitucional rigoroso, modelar,
coerente, limitou-se a viver dentro do respeito da Constituição histórica da
Nação e do seu Estado”.
Ainda assim, existem vários textos que podem servir de fonte de
identificação desses princípios básicos: Magna Carta (1215, constitui sem
dúvida um embrião da Constituição, onde pela primeira vez um monarca
aceita auto limitar-se); Petition of Rights (1628, pedido ao rei para o
reconhecimento de certos direitos); Bill of Rights (1689, surge como
resposta à Petition of Rights); Lei sobre o Habeas Corpus (1679. Forma de
garantia contra as detenções ilegais); Act of Settlement (1701, lei que
estabelece a forma de organização do Parlamento- “marcam com as fases
do processo gradual que deu uma estrutura determinada ao Estado”,
completado em 1901; e 1911- Estatuto de Westminster).
DIVISÃO DA HISTÓRIA CONSTITUCIONAL BRITÂNICA
Na formação e evolução do Direito Constitucional Inglês ou Britânico,
Jorge Miranda distingue três fases:
1. A fase dos primórdios, iniciada em 1215 com a concessão da Magna
Carta;
2. A fase de transição, aberta pela luta entre o Rei e o Parlamento e de
que são momentos culminares a Petition of Rights (1628) que resulta
na Bill of Rights (1689) e as revoluções de 1648 e 1688;
3. A fase contemporânea, desencadeada a partir de 1832 pelas reformas
eleitorais tendentes ao alargamento do direito do sufrágio. Até 1832,
o Direito político britânico tinha uma índole libras, mas pouco
democrática. É essa índole democrática que entre 1832 e 1929 ele
vai adquirir- passagem de um sistema eleitoral não muito afastado do
dos séculos passados a um sistema assente no sufrágio universal de
adultos de ambos os sexos.
1. 1215 – 1689 Bill of Rights

• Magna Carta [fase Monárquica (Rei)]


2. 1689 – 1832 alargamento do sufrágio

• Fase Aristocrática (Câmara dos Lordes)


3. 1832 – atualidade

• Fase Democrática (Câmara dos Comuns)

INSTITUIÇÕES
Instituições (protagonistas da história constitucional britânica): Rei,
Câmara dos Lordes e Câmara dos Comuns (no seu conjunto formam o
Parlamento). Elas encontram-se presentes nas três épocas aludidas. O tom
peculiar de cada período histórico resulta da instituição, do órgão que aí
domina:
1. Até ao século XVII prevalece a autoridade do Rei- fase monárquica;
2. Entre o século XVII e meados do século XIX prevalece a Câmara
dos Lordes- fase aristocrática;
3. Desde o século XIX transfere-se para a Câmara dos Comuns a sede
principal do poder- fase democrática.
Instituições britânicas
 Rei (designado por via hereditária)- Chefe de Estado;
 Parlamento bicameral:
 Câmara dos Comuns- constituída por representantes e eleitos
do povo;
 Câmara dos Lordes (não tem legitimidade democrática):
constituída por pessoas que ganham o direito por via
hereditária (Lordes consagrados em Lei própria). Em 27 de
outubro de 1999 foi aprovada a lei que retira o direito de voto
por via hereditária a alguns membros desta Câmara,
 Governo: órgão autónomo, conhecido como “Gabinete” (e
portanto “sistema de Gabinete”), por razões históricas, já que
resulta de um órgão que existia para aconselhar o rei. No
Reino Unido o Primeiro Ministro tem normalmente uma pasta
a seu cargo e tem ainda funções de coordenação dos restantes
membros do Governo.
O Sistema do Governo na Grã-Bretanha é Parlamentar, o que se identifica
por:
1. O Governo ser emanação do Parlamento/Governo “sai” do
Parlamento (não há eleições para os membros do Governo, há
eleições legislativas e todos os membros do governo têm que ter sido
candidatos às eleições legislativas).
2. O Governo ser responsável única e exclusivamente perante o
Parlamento (só o Parlamento pode destituir o Governo).
O sistema britânico assenta num sistema eleitoral de círculos uninominais
(por cada círculo é eleito um deputado). Por outro lado, não há
representação proporcional, mas sim maioritária, ou seja, o partido que
tiver maioria dos votos no círculo elege o representante para o Parlamento
(o que implica que não há representação de pequenas maiorias).
Este sistema maioritário a uma volta- “the first past the post” leva à
existência e funcionamento de dois partidos (Bipartidário), de forte
ideologia. Leis de Duverger
-Sistemas eleitorais de partidos
Maioritário a 1 voto  BIPARTIDÁRIO
Proporcional  MULTIPARTIDÁRIO
Atualmente, o Rei tem apenas poder simbólico de representação do Estado
e do poder- “The queen reigns but does not rule”.
A Câmara dos Lordes* tem um poder diminuto: é um fórum de discussão e
funciona como Tribunal de Recurso de algumas decisões jurisdicionais. “O
Rei e a Câmara dos Lordes guardam poderes formais porque a sua simples
existência impede que surjam difíceis problemas de equilíbrio político e
porque continuam a desempenhar uma função social e pública, interna e
externa, insubstituível (o Monarca é a expressão da unidade do
Commonwealth. Nota: de todos os Estados que integram só 16 reconhecem
realmente a rainha como Monarca)”- Jorge Miranda.
*LEGITIMIDADE POR VIA HEREDITÁRIA
A Câmara dos Comuns (Parlamento*) constitui o grande centro da vida
política britânica.*
*LEGITIMADADE POR ELEIÇÃO
*SISTEMA PARLAMENTAR ESTÁVEL

FAMÍLIA CONSTITUCIONAL DE MATRIZ NORTE-


AMERICANA
A formação dos EUA identifica-se de modo estreito com o movimento
constitucionalista. Em 1787 é quando encontramos a 1º Constituição
escrita, que vem na continuidade da Declaração dos Direitos da Virgínia e
da Declaração de Independência dos EUA (1776)- e que curiosamente
consagra o direito de procurar a felicidade. “A Constituição dos Estados
Unidos da América data de 1787. Porém, o Direito Constitucional norte-
americano não começa apenas nesse ano.” (Jorge Miranda).
CONSTITUIÇÃO*
 Escrita
 Histórica- perspetiva de continuidade em relação a textos anteriores,
como a Declaração de Independência e a Declaração de Direitos da
Virgínia;
 Elástica- “a partir do seu texto primitivo tem podido ser
concretizada, adaptada, vivificada sobretudo pelos tribunais (órgãos
jurisdicionais); sistema norte-americano “ready to go to court”. Ou
seja, na sua versão original tem sete artigos e estes foram sofrendo
um trabalho de interpretação e de atualização.
 Rígida e não flexível- “qualquer modificação requer um processo
complexo”, modo de alterar a constituição difere do procedimento
legislativo ordinário (“não pode ser alterada em moldes idênticos
aos anotados para feitura das leis ordinárias”).
*institui uma forma federal, o que significa que vai prever formas entre os Estados
federados (não soberanos e o Governo)

Todos estes fatores (como a elasticidade da Constituição, o trabalho


jurisprudencial, as circunstâncias histórico-sociais, etc.) “explicam a
longevidade da Constituição e a consistência das instituições político
americanas”.*
*Segundo Jorge Miranda, o estudo do Direito Constitucional norte-americano deve-se à
importância da sua experiência:
• primeiro grande Estado de tipo europeu formado fora da Europa;
• primeira revolução vitoriosa que se revela também anticolonial;
• primeira e mais duradoura Constituição escrita em sentido moderno;
• Constituição de base legal modelada pela jurisprudência;
• primeiro Estado federal;
• primeiro Estado a decretar a separação das confissões religiosas;
• primeira república alicerçada no princípio democrata;
• primeiro sistema de governo presidencial por aplicação direta da doutrina da separação dos
poderes.

No seio da Constituição dos EUA há lugar para a teoria dos poderes


implícitos, importante em termos de interpretação e de relacionamento
entre as competências da Federação e dos Estados federados. Princípio da
subsidiariedade- a União só deve intervir se se comprovar que os Estados
federados não têm capacidade. O poder federal foi-se afirmando e
robustecendo.
A fiscalização da constitucionalidade é feita por todos os órgãos
jurisdicionais- todo e qualquer tribunal pode fiscalizar a
constitucionalidade-, pelo que se trata de uma fiscalização jurisdicional
difusa.
FEDERALISMO
A forma de Estado é a do Federalismo. O federalismo americano é
perfeito* em que se verifica uma estrutura de sobreposição e uma de
participação.
*perfeito,pois o Estado americano resultou da intenção dos Estados federados- “Nós, as
pessoas dos Estados Unidos, pretendemos formar uma união mais perfeita (…)”, referência à
passagem de Confederação para Federação; federalismo igualitário- todos os Estados são iguais

Segundo Jorge Miranda, baseia-se em quatro princípios jurídicos:


1. Poder constituinte de cada estado federado- cada Estado decreta e
altera a sua própria Constituição, nos limites da Constituição federal;
2. Intervenção dos Estados Federados a nível do funcionamento das
instituições:
 Congresso:
Senado: igual representação dos Estados (2 senadores por
Estado);
Câmara dos Representantes: a representação tem em conta a
dimensão populacional de cada Estado.
*Composição e processo de votação do colégio eleitoral presidência (formado
por tantos eleitores por Estado quantos Senadores e Representantes que lhe
cabem);
*Adiamentos à Constituição têm de ser aprovados por 2/3 dos membros das
suas câmaras e ratificados por 3/4 dos Estados.
3. Especialidades das atribuições federais: as que não forem próprias do
Estado Federal ou não estiver reservado à União (ex.: defesa,
comércio, moeda) pertencem aos Estados federados (ex.: Direito
civil, penal, etc.);
4. Igualdade jurídica dos Estados federados: igualdade de condição e
participação no Senado e no processo de revisão constitucional e
igual capacidade de cidadãos de cada Estado noutros Estados e
reconhecimento de atos públicos, documentos e processos
produzidos em qualquer Estado.
Juridicamente: na forma de revisão da Constituição é garantida e
obrigatória a intervenção dos vários Estados Federados.
 “No taxation without representation”
SEPARAÇÃO DOS PODERES E O SISTEMA PRESIDENCIAL
Nos EUA, há, então, lugar para a verdadeira separação de poderes
advogada por Montesquieu, não esquecendo que este autor defendia que
para além de uma repartição deveria existir também uma fiscalização e
coordenação recíproca dos vários órgãos e poderes.
Esta separação de poderes manifesta-se ao nível:
Legislativo- faz as leis, é constituído pelo Congresso (Senado + Câmara
dos Representantes);
Executivo- executa as leis, constituído pelo Presidente (Vice-Presidente
+ Gabinete)
Jurisdicional- avalia as leis, constituído pelo Supremo Tribunal de
Justiça e outros Tribunais federais.
Separação de poderes.

Órgãos:
 Chefe de Estado (executivo)
 Congresso (legislativo)
 Tribunais (jurisdicional)
 Sociedade
 Grupos sociais que articulam com o Estado
 Sistema federalista
SISTEMA DO GOVERNO
O Sistema de Governo é o Presidencialista: não há Governo enquanto
órgão autónomo, mas apenas um conjunto de secretários que auxiliam o
Chefe de Estado que é também Chefe do Executivo. Fala-se a propósito
de um casamento sem divórcio, já que não há a possibilidade do
Congresso destituir o Presidente e vice-versa. As comissões de inquérito
criminal são a única possibilidade de destituir o Presidente
(impeachment).
As facultes de statuer et d´empecher de que fala Montesquieu
transformam o sistema dos EUA num sistema de checks and balances
(ou de freios e contrapesos), onde se estabelecem meios de fiscalização
recíprocos:
CHEFE DE ESTADO
1. Poder executivo;
2. Pode sugerir determinadas iniciativas legislativas (através de
mensagens);
3. Pode vetar as leis.
CONGRESSO
Poder legislativo- faz leis (Senadores- eleitos por 6 anos e os
Representantes por 2 anos);
Possibilidade de “impeachment” ou sujeição do Presidente a
responsabilidade CRIMINAL efetivada pela deliberação do
Congresso;
É aí que funcionam as comissões de inquérito

-expresso
Veto -de bolso / de gaveta (não é tomada nenhuma atitude)

TRIBUNAIS
Poder jurisdicional;
CHEFE DE ESTADO
 Nomeação de juízes e concessão de indultos
 No que diz respeito ao sistema jurisdicional funciona a regra do
precedente judicial: as decisões jurisdicionais devem obediência a
uma decisão que tenha sido tomada perante casos análogos
anteriormente.
No que toca ao sistema partidário, encontramos tendencialmente um
bipartidarismo, apesar de fraca a ideologia de partidos que se organizam
em volta de pessoas e não um projeto político. A influência dos partidos
verifica-se mais ao nível dos estados federados do que ao nível da
União.
Quanto à eleição para o Chefe de Estado (sufrágio universal indireto por
colégio*) , a importância dos partidos reside nas primárias que têm
como objetivo a confrontação de várias pessoas dentro do partido para
saber quem são os candidatos às presidenciais.
Nos EUA ao lado dos partidos (visam exercer o poder; sistema
fulanizado; partido democrata e partido republicano) aparecem os
“lobbys” e grupos de pressão (pretendem influenciar o poder) com
grande importância.
*Nota importante: Complexidade da definição do sufrágio como direto ou indireto. Fala-se
de sufrágio direto devido aos eleitores escolherem diretamente o colégio eleitoral e depois
indiretamente o Presidente. Logo, na prática, o que os cidadãos vão eleger nas eleições
presidenciais são os delegados que sentem que os representam para escolher o Presidente.
Em suma, repare que os eleitores votam diretamente nos representantes (colégio eleitoral) e
INDIRETAMENTE porque os representantes por eles elegidos diretamente é que elegem o
Presidente.

É um sistema fulanizado, que se encontra também essencialmente nos


países da América Latina que adotaram e adaptaram o sistema
americano.
EXPANSÃO DO SISTEMA AMERICANO
Segundo Jorge Miranda, na difusão do Direito Constitucional norte-
americano há transplantações globais e parciais. As difusões globais
raramente são reais. As transplantações parciais ou as transplantações
dos três principais institutos forma introduzidas no constitucionalismo
moderno pelo Direito Constitucional dos Estados Unidos:
Modelo Presidencialista- ex.: América do Sul e Latina;
Fiscalização jurisdicional difusa da Constitucionalidade- ex.: muitos
países do Commonwealth britânico; Suíça; Grécia; Portugal; Japão e
países escandinavos;
Forma federalista de Estado- ex.: continente americano- Brasil; e
Europa- Alemanha e Suíça.
O presidencialismo é o com menos êxito tem obtido, pois é também um
sistema que apresenta diversas dificuldades no seu funcionamento.
“Exige um equilíbrio e transigência entre Presidente e Parlamento como
órgãos independentes um do outro” (Jorge Miranda),
FAMÍLIA CONSTITUCIONAL DE MATRIZ
FRANCESA
Sistema Francês
Grande diferença entre o sistema constitucional francês e os sistemas
constitucionais britânico e americano:
• Origem revolucionária;
• Vocação universalista de difusão de ideias que lhe está associada.
Tem origem na Revolução Francesa que marca o início do
constitucionalismo Moderno (1789): não traz imediatamente um sistema
estável que chegue até à atualidade devido ao corte radical com os
princípios do Antigo Regime.
TRAÇOS DO SISTEMA FRANCÊS ATÉ 1958
A Constituição, em França, é essencialmente lei*:
Importância da Constituição formal escrita (lei escrita) que se distingue
das restantes normas parlamentares (leis) num nível superior;
*lei é a fonte do Direito, aquilo que melhor expressa aquilo que é um pressuposto da
Revolução Francesa, do jusracionalismo, do Iluminismo e até aquilo que é a lei enquanto
vontade geral, que emana do Parlamento, do princípio democrático (algo que falaria
Rosseau); ligação com o terceiro ponto

Importância dada à garantia dos Direitos do Homem (Declaração de


1789)- preocupação com os Direitos do Homem, quer o preâmbulo da
Declaração quer o da Constituição de 1946 mantêm-se em vigor na
Constituição atual.
Papel da lei vista como sinónimo de razão, que é instrumento racional
que exprime a vontade geral (doutrinas iluministas e jusracionalistas) e
que está ligada ao princípio democrático- é o Parlamento que elabora as
leis.
Na conceção francesa, a força jurídica formal da Constituição e a sua
rigidez excluem o costume.
SISTEMA CONSTITUCIONAL FRANCÊS
Papel fundamental da lei como fonte do direito;
Recusa da fiscalização jurisdicional da constitucionalidade- quem faz as
leis fiscaliza-as.
SISTEMA ANGLO-SAXÓNICO
Reino Unido: mais importância ao costume;
EUA: Jurisprudência como fonte de direito.
Para ambos, as leis: fiscalização jurisdicional; órgão legislativo ou
político.
*Diferença da constitucionalidade dos EUA e da França, em França esqueceram a segunda
parte do princípio da separação dos poderes. Montesquieu fala da separação de poderes e a
interdependência; a pátria francesa de Montesquieu esquece-se da separação de poderes, o
que leva ao esquecimento da interdependência, isto justifica que em França a fiscalização da
constitucionalidade, contrário aos EUA- fiscalização é feita por órgãos de outro poder (por
exemplo: Congresso faz as leis, então é o poder jurisdicional que verifica se as normas estão
de acordo com a Constituição), em França há uma visão estrita e estanque daquilo que é o
princípio da separação de poderes, ou seja, se o Parlamento cria as leis, não podem ser
órgãos da função jurisdicional a fiscalizar a sua constitucionalidade.
INSTABILIDADE DO SISTEMA FRANCÊS
SISTEMA FRANCÊS
PERIODIFICAÇÃO
Períodos Número de Datas das
Constituições Constituições

Revolução 3 Constituições 1791


1789 a 1799 1793
1795

Consulado – 1799 3 Constituições 1799


1º Império - 1804 1802
1804

Restauração - 1814 2 Constituições 1814


1830

2ª República - 1848 3 Constituições 1848


2º Império - 1851 1852
1870

3ª República – 1870 3 Constituições 1875


4ª República – 1940 1946
5ª República - 1958 1958 (62)

Nota (s):
1791- Estabelece uma monarquia constitucional;
1793 + 1795 (Golpe de Estado) - influência jacobina (Rosseau)- Sistema de Convenção: todos
os poderes estão concentrados na Assembleia;
1799- Golpe de Termidor;
1802 + 1804 - há quem as entenda como novas Constituições outros como Revisões;
1814- derrota de Napoleão em Waterloo, restauração da monarquia (monarquia napoleónica e
monarquia bourbónica);
1830- 2º Revolução Francesa de carácter burguês;
1946- Estado Social e de Direito. O Preâmbulo está em vigor até aos dias de hoje bem como a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789;
1958- atual- Já teve várias revisões mas a mais interessante é a de 1962.
SISTEMA DE GOVERNO PARLAMENTAR
Segundo Jorge Miranda, “O princípio democrático, mitigado pelo princípio
da separação de poderes em certa aceção, deu origem a uma forma
intermédia: o governo parlamentar”.
Até 1958 o sistema mais “seguido” é o parlamentar (muito diferente do
Britânico).
Nota: forma de governo- República (1870- “estabilidade”); 1870-1958:
sistema de governo Parlamentar. Contudo, há uma enorme instabilidade
devido ao sistema eleitoral e de partidos.
DISTINÇÃO DO SISTEMA BRITÂNICO
1. Não há bipartidarismo;
2. Não é maioritário, mas antes proporcional, o que leva ao
pluripartidarismo (maior instabilidade)*.
*RECORDAR: Leis de Duverger // “o sistema eleitoral é proporcional”, não temos um
bipartidarismo tendencial, não tem um bipartidarismo regional, temos um pluripartidarismo,
ora, um sistema de governo parlamentar em que o Governo só depende do Parlamento , com um
sistema proporcional que leva a um sistema partidário de pluripartidarismo, leva a uma enorme
instabilidade, não temos maiorias estáveis, há uma sucessão de quedas do Governo (mesmo
aconteceu em Portugal durante a 1º República, tivemos um sistema de Governo Parlamentar não
suportado por um sistema eleitoral maioritário, nem por um sistema bipartidário)

Daqui resulta a instabilidade do sistema francês*, de não estar associado ao


sistema maioritário nem ao bipartidarismo.
Segundo Jorge Miranda, no sistema de governo de tipo britânico, “o
Governo nunca é posto em minoria no Parlamento, mas, se acaso o for, este
será dissolvido, realizando se novas eleições”, contrariamente, no sistema
de governo parlamentar francês, “pode haver crise ou dissidências na
coligação governamental ou construir-se nova coligação, sem que, por
causa disso, tenha de ser dissolvido o Parlamento”.
*resulta da radicalidade da Revolução Francesa, não trouxe um sistema estável, porque,
internamente, a reação contra o ancien régime foi muito radical e, externamente, no contexto
europeu, houve uma reação muito forte dentro dos Estados monárquicos, sentiam-se ameaçados
pelos propósitos da revolução (ideia de institucionalização da Constituição escrita e formal; a
importância dos Direitos Fundamentais, este último é o que leva às inúmeras Constituições).

CONSTITUIÇÃO DE 1958
Em 1958, a última Constituição francesa buscou uma tentativa de síntese
de vários sistemas de governo, esta constituição surge num momento de
grande instabilidade político-parlamentar.
• poderes do Chefe de Estado ≠ poderes do Chefe de Estado no Sistema
Parlamentar
- poderes efetivos (influência do sistema napoleónico)- Chefe de Estado.
- tem apenas função simbólica- Chefe de Estado no sistema parlamentar.
A esta ideia se pretendeu aglutinar:
 O apelo à participação democrática dos cidadãos através de
referendos (influência da democracia jacobina);
 Manutenção da instituição parlamentar, mas acrescentando como
órgão de pode efetivo o Governo e o Chefe de Estado.
Com resultado:
 Reforço dos poderes do Presidente da República
 Apelo à participação democrática
 Três órgãos ativos de poder (sistema trialista/triárquico) / um
Parlamento forte: a manutenção da instituição parlamentar, mas
acrescentando com órgãos de poder efetivo o Governo e o Chefe de
Estado.
Jorge Miranda afirma: “Pode pensar-se que aproveita, em larga medida,
algumas das mais marcantes tendências dos sistemas anteriores: do
parlamentarismo (responsabilidade do Governo perante o Parlamento), do
bonapartismo (reforço dos poderes do Chefe de Estado) e do governo
jacobino (participação do povo através de referendo)”.
Pretende ultrapassar se a instabilidade do Sistema Parlamentar, mas
rejeitando o Presidencialismo. Assim, pode dizer se que o sistema gaulista
corresponde a um sistema semipresidencial.
Tudo conduz ao…
SISTEMA SEMI-PRESIDENCIAL
A principal característica é o Governo ser duplamente responsável perante
o Parlamento e o Presidente da República, o que significa que o Governo
pode ser destituído/demitido por estes dois órgãos.
Vantagem deste sistema: ultrapassa-se a instabilidade do sistema
parlamentar puro através de uma via média, sem cair no extremo oposto do
Presidencialismo norte-americano (nota: não é verdade que neste sistema o
Presidente tenha mais poderes: tem os poderes de demitir o Governo e
dissolver o Parlamento no Sistema Semipresidencial mas não no Sistema
Presidencial).
O sistema Semipresidencial é um Sistema triárquico / trialista, de que é
obreiro o General de Gaulle, pois:
• Resulta da Constituição de 1958 : - três órgãos ativos no
sistema de governo (Chefe de Estado- eleito por sufrágio
universal // pode destituir o Governo e dissolver o Governo //
quanto mais for a base da legitimidade democrática do Chefe
de Estado, mais fácil é para se lhe garantir poderes; Governo-
responsável perante o PR e o Parlamento e podem demitir o
Governo).
Nota:
Parlamentarismo: 2 órgãos ativos - Parlamento / Governo
Presidencialismo: 2 órgãos ativos - Chefe de Estado / Parlamento*
*SISTEMAS DUALISTAS OU DIÁRQUICOS

Quando se fala do reforço de poderes do Presidente da República no


Sistema Semipresidencial, deve-se atentar no facto:
 o Chefe de Estado é eleito por sufrágio universal direto, retirando daí
a sua legitimidade;
 o Presidente da República poder demitir o Governo e dissolver o
Parlamento;
 o Presidente da República é quem preside ao Conselho de Ministros;
 segundo a Constituição francesa, o Presidente da República é
originariamente eleito por 7 anos, apesar de se ter alterado a duração
do mandato para 5 anos.
O Sistema Semipresidencial só funciona se tivermos uma situação de
COABITAÇÃO, ou seja, se a maioria sustenta o Chefe de Estado (funciona
como um árbitro de sistemas) e maioria que sustenta o Parlamento não
coincidam.
Maiorias de Direita
• De Gaulle
• Pompidou
• Giscard d’ Estaing
 (nesta altura também a maioria era de direita).
 Maiorias de esquerda
• François Miterrand
(mudam as duas maiorias)
Este sistema conjugado com fatores de ciência política e combinações
partidárias, está a um passo do sistema presidencialista, e na prática
francesa não se verificou o sistema semipresidencialista antes de 1986 (só a
partir desta data é que há maiorias distintas), apesar de estar previsto na
Constituição de 1958. Aquilo que aconteceu até 1986 foi que houve uma
coincidência de maiorias.
A partir de 1986 verifica-se na prática o semipresidencialismo, pois as
maiorias não coincidem
 O sistema Semi-Presidencial foi transposto para a Constituição
Portuguesa de 1982 (1º revisão constitucional da CPR de 1976).
*Em Portugal, entre 1976 e 1982 havia no sistema órgãos alheios aos modelos tradicionais,
como por exemplo o Conselho de Revolução. Em Portugal, houve sempre uma coabitação
apenas interrompida em 1995 com a eleição de Jorge Sampaio para a Presidência da República.
Alguns autores consideram mesmo que uma não coabitação pode neste sistema originar um
super presidencialismo.

SISTEMAS SIMILARES AO FRANCÊS


Espanha, Itália – partem da matriz francesa, têm características similares e
verificam-se os aspetos importantes do sistema francês.
FAMÍLIA CONSTITUCIONAL DE MATRIZ SOVIÉTICA (EX-
URSS)
1917- (24/25 de outubro), Revolução de Outubro(diferença absoluta dos
restantes constitucionalismos // traz ao poder o partido bolchevista, Lenine
e Trotsky)- traz ao poder o partido marxismo-leninismo “direta
consequência das circunstâncias históricas da Rússia- autocracia em crise
interna, grande atraso administrativo, económico e social e derrotada em
duas guerras”. (Jorge Miranda)*
*REAÇÃO CONTRA O CONSTITUCIONALISMO BRITÂNICO, AMERICANO E
FRANCÊS (+TURQUIA), APARECEM À MARGEM DO LIBERALISMO

DOUTRINA DO MARXISMO-LENINISMO (junção de duas ideologias-


Marx-igualdade económica, social, etc. para todas as pessoas, rejeição
TOTAL DO CAPITALISMO- e Lenine- primeiro chefe do partido
bolchevista-; é a vanguarda política do proletariado, queriam chegar e
exercer o poder para o proletariado)
• Visava a igualdade total entre membros de uma sociedade
(sociedade sem classes e sem “exploração do Homem pelo
Homem”);
• Rejeitava o sistema capitalista (defendia a abolição do
capitalismo);
• Contextualização: Hegel defendia que as ideias se formulavam
através de uma dialética idealista. Ou seja, há uma tese (ideia);
uma antítese (uma ideia contrária) e uma síntese (vai ser uma
nova tese, a que se vai opor uma nova antítese e assim
sucessivamente- modo de como se produzem e evoluem as
ideias). Marx pega nesta dialética e transforma-a numa
dialética materialista. Opõe infraestrutura e supraestrutura:
 Infraestrutura: evolução dos modos de
produção, relacionado com a luta de classes (a
sociedade resultava desta evolução) (os modos de
produção eram uma combinação entre os fatores de
produção: trabalho, capital e recursos naturais) //
condiciona a supraestrutura;
 Supraestrutura: todo o sistema social e jurídico de
regulação- política, religião, o Estado, quando se
chegasse ao comunismo o Estado já não era
necessário.
Tudo o que acontece na política deriva da decorrência da evolução dos
modos de produção.
 Visava-se fazer florescer o proletariado e o operariado no
lugar da burguesia.
 O exercício do poder cabe ao proletariado, é feito em nome
dele (Ditadura do proletariado- seria mais espectável de
encontrar esta “ditadura” em países mais industrializados)
Nota: na teoria de Marx, a fase de transição do capitalismo
para o comunismo é a ditadura do proletariado. É quando se
chega a um estádio em que as diferenças sociais se apagam e o
Estado deixa de fazer sentido, extinguindo-se.
 A influência do sistema arrasta-se para países e Estados
poucos desenvolvidos em termos industriais.
1917- construção de um Sistema Convencional (concentração de poderes
no Parlamento); diferença essencial, rejeição da separação de poderes.
Soviete – conselho, assembleia representativa de determinados cidadãos e
determinados interesses. Importância e influência de Rousseau para a
definição de um Sistema Convencional / de Convenção, com concentração
de poderes, que estão todos atribuídos a uma assembleia (no Sistema
Francês tal verificou-se entre 1792 – 1795, que represente os populares);
órgão português é o Parlamento.
TODO O PODER AO PROLETARIADO, TODO O PODER AOS
SOVIETES (concelhos que correspondem à concentração de poderes- na
Assembleia)
Nota/diferença:
Sistema de convenção soviético: concentração de poderes num Estado de Partido Único.
Contrariamente, (1792-1795) sistema de convenção francês: concentração de poderes que não é
centrada no mesmo partido.

(Importância e influência de Rousseau para a definição de um Sistema de


Convenção).
Assim, como afirma Jorge Miranda, tanto se fala em constitucionalismo
soviético pois “a revolução foi feita em nome de ‘todo o poder aos
sovietes’ como em constitucionalismo marxista-leninista, por causa
daquela ideologia e do partido que a assume como sua, o partido
comunista”.
Através das vicissitudes várias, outros países acabaram por experimentar
sistemas político-constitucionais idênticos aos semelhantes.
Principalmente, arrasta-se para países e Estados pouco desenvolvidos em
termos industriais. Neste momento, o marxismo-leninismo apenas subsiste
na China, na Coreia do Norte, no Vietname, no Laos e em Cuba
CONSTITUIÇÕES DO SISTEMA SOVIÉTICO
*Jorge Miranda, aponta oito grandes fases na história política e constitucional soviética:
(resumidamente, de forma introdutória)
• 1917-1921, fase revolucionária e guerra civil;
• 1921-1928, fase de reconstrução (NEP), morte de Lenine e sucessão de
Estaline;
• 1928-1936, fase de consolidação, industrialização e coletivização;
• 1936-1953, estalinismo (II Guerra mundial e Guerra Fria);
• 1953/56-1964, fase da desestalinização, reformas de Kruschev;
• 1964-1985, Brejnev- fase de estabilização;
• 1985-1989, fase com Gorbachev;
• 1989-1991, desagregação.

1918- primeira Constituição da Rússia, única e exclusivamente para a


Rússia e que é a primeira formal e escrita não inspirada no liberalismo;
1924- segunda Constituição, federal, do ponto de vista da forma de Estado,
temos a previsão de um Estado federalista (composto, diferente dos EUA,
influência do Partido único; surge a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas- assentes nos sovietes, na assembleia, no partido único).*
*federalismo diferente dos EUA, é complexo, ou seja, tínhamos as repúblicas, repúblicas
autónomas, regiões e circunscrições, vários níveis de vinculidade; também é um federalismo
fictício, quando se passa para a URSS, não resultou da vontade de todas as estruturas
componentes da federação, decisão tomadas pelos órgãos centrais (de cima para baixo);
federalismo inegualitário, princípio da igualdade, a dois níveis (jurídico- Constituição; e do
ponto de vista do direito (Rússia não tem órgãos próprios, os órgãos da República Rússia eram
os órgãos da federação) e mesmo externamente, haviam duas repúblicas que tinham
representação externa, a quem a federação soviética atribuía representação externa- Rússia e
Bielorrússia.
(mais aprofundado)- ponto específico
*Estas duas Constituições, de 1918 e 1924, têm entre si características comuns:
• estabelecem uma estrutura do poder em pirâmides (verticais);
• estabelecem o sufrágio de classe (≠sufrágio universal – apenas tem direito a voto o povo
trabalhador).

1936- 3ª Constituição, “boletim de vitórias do Estado e do Direito


socialistas”. Todavia, aproximou-se dos esquemas do Estado
constitucional representativo, apesar de corporizar um outro ideal.
Identificada por Estaline, mais coletivista de todas as Constituições, do
ponto de vista formal é a mais parecida comas restantes constituições
europeias.
1977- 4ª Constituição, propôs-se a ampliar a “democracia socialista”,
dando importância em termos formais aos direitos fundamentais e
manifestando alguma abertura à coexistência pacífica. Racionaliza a de
1936, fala da defesa dos direitos fundamentais, fala na importância da
ciência, da legalidade socialista e de uma Abertura à coexistência pacífica
com outros Estados.
Esta Constituição viria a sofrer, em 1988/1989 e 1994, importantes
modificações, leva ao sufrágio direto e ao pluripartidarismo, Mikael
Gorbatchev (deu-se uma globalização dos fatores económicos,
concentração de poderes era insustentável). Há uma destruturação do
marxismo-leninismo. Como explica Jorge Miranda, “no respeitante à
organização política, com vista a certa abertura da sociedade, à limitação
recíproca dos órgãos de poder e a uma fiscalização da constitucionalidade
das leis.”*
Em 1991 a URSS desapareceria.
*(No início dos anos 80 há uma tentativa de reforma interna na União Soviética, aproximando-
se o modelo socialista do modelo liberal. Para esta reforma contribuíram: •fatores económicos;
•envelhecimento do regime; •aceleração da difusão de ideias / maior rapidez de transmissão de
ideias a nível internacional; •fator pessoal - Gorbachev. Em vez de uma rutura ≠encontramos
uma reforma / transição.)

O FEDERALISMO DA EX-URSS (muito distinto dos EUA)


1. Complexo- Repúblicas / Repúblicas Autónomas / Regiões /
Circunscrições;
2. Fictício- a Federação não parte da vontade dos Estados federados, a
decisão é, pelo contrário, tomada unilateralmente pelos órgãos
centrais para a formação da federação, não há a possibilidade de
abandonar a Federação;
3. Inegualitário- fatores de diferenciação:
 Internamente:
 de facto- a Rússia não tem órgãos diferentes da
Federação.
 de direito- são vários os escalões de entidades que
compõem a Federação.
 Externamente- a representação externa não é feita apenas pela
Federação, mas também pela Bielorússia e Rússia, que lado a lado
com a Federação têm poderes de representação externa.
4. Centralizado- há um partido único que controla os poderes.
Modelo de concentração de poderes; modelo em que a ideia de legalidade é
expressamente prevista enquanto legalidade socialista, constituição
balanço, de programa (passos para chegar ao FIM DO ESTADO).
PARA O ESTADO SOVIÉTICO
A ideia de Constituição é diferente da do Estado Constitucional
Representativo e de Direito, já que tem um duplo papel:
- balanço do caminho que a sociedade empreendeu até então,
- apresentação do programa para os passos que falta dar.
• A ideia de lei e do princípio de legalidade é também diferente da do
Estado Constitucional Representativo e de Direito. Para este está em causa
uma ideia formal da lei – os atos têm que ser legais. Para o Estado
Soviético o princípio de legalidade vem referido no artigo 4º da
Constituição, sendo considerado enquanto princípio integrador: os atos são
legais quando e enquanto contribuem para uma sociedade socialista.*
*A ideia de Constituição é diferente da do Estado Constitucional Representativo e de Direito. A
Constituição socialista “desempenha uma função simultaneamente de balanço do que está feito
(no socialismo) e de programa do que falta fazer (a caminho do comunismo).”
A ideia de lei e do princípio de legalidade é também diferente da do Estado Constitucional
Representativo e de Direito. Artigo 4º da Constituição: os atos são legais quando e enquanto
contribuem para uma sociedade socialista. A concentração de poderes é justificada pelo facto
de ser essencial para o desenvolvimento da sociedade e da comunidade.

- ideia diferente de Constituição – a Constituição é


antes de mais um meio para atingir o Estado Socialista/
funciona mais no sentido de manifesto ou de programa
político.
- ideia diferente de lei e princípio de legalidade.
Concentração de poderes* -federalismo fictício, complexo, inegualitário;

- existência de um partido único*, que tem um papel


previsto na Constituição.
*justificada pelo facto de ser essencial para o desenvolvimento da sociedade e da comunidade
-1977/1988- Sovietes + Praesidium- sistema de diretorial/chefia de Estado
Colegial;
-1994- Chefe de Estado, que é singular, mas eleito por sufrágio universal
*Um sistema de partido único esta previsto na constituição (só há X partido), se não for o caso,
ainda que se tenha percentagens estratosféricas em eleições é um partido dominante (resulta
da ciência política, eleições). No caso da URSS, era sistema de Partido Único, própria
Constituição “desenha” a figura do partido- passagem da Constituição de 1977, art.º 6º “A força
dirigente e orientadora da sociedade soviética, o núcleo de todo o seu sistema político e de todas
as organizações estatais e sociais é o Partido Comunista da União Soviética. O PCUS existe
para o povo e serve o povo. O PCUS munido com a doutrina marxista-leninista determina toda a
perspetiva geral do desenvolvimento geral do desenvolvimento da sociedade, a linha de política
externa e interna da URSS, dirige a grande atividade criadora do povo soviético e imprime um
carácter planificado e cientificamente fundamentado à sua luta pelo triunfo do comunismo.
Todas as organizações do partido atuam neste âmbito” (previsão de um Partido Único)

Expansão do sistema:
- Chefe de Estado Colegial – sistema diretorial da Suíça
- China – 1949
- Mongólia –
1922 difusão do sistema soviético
- Vietname
SISTEMAS CONSTITUCIONAIS NÃO INTEGRADOS EM
FAMÍLIAS
SISTEMA SUÍÇO | ALEMÃO | AUSTRÍACO
Sistema Suíço
O seu estudo interessa pela existência de:
1. Federalismo municipal;
2. Mecanismos de democracia direta e semi-direta;
3. Sistema de Governo diretorial, não há Presidente enquanto Chefe de
Estado singular (há um Conselho que exerce as funções de chefia de
estado, semelhança ao sistema presidencialista).
4. Nome oficial da Suíça- Confederação Helvética, é uma federação,
tem este nome pela questão de tradição e de honra o que uma vez foi.
FEDERALISMO DE BASE MUNICIPAL
A Suíça teve duas Constituições, a de 1848 e a de 1874, estabelecendo
ambas formas compostas de Estado.
• A Constituição de 1874 tem no seu texto a base da atual
Constituição Suíça.
• Apesar de a forma de Estado ser uma Federação, a Suíça é
ainda designada como Confederação Helvética.
Federalismo de Base Municipal:
(faz equivaler os Cantões aos Estados Federados)
- “Federalismo cantonal, em que cada Estado federado parece ter mais a ver
com as Cidades-Estados da Grécia antiga do que com os Estados
modernos” (Jorge Miranda)
Com os EUA:
Semelhança: quanto à organização do Estado federal;
Diferença: quanto à extensão dos Estados federados (EUA- larga extensão
territorial).
MECANISMO DA DEMOCRACIA DIRETA E SEMI-DIRETA (dá
grande importância)
Democracia direta: cidadãos tomam diretamente as decisões, sem eleições
dos representantes (cantões mais pequenos). “Em conexão com a estrutura
municipal dos Estados, a prática secular de democracia direta em cinco dos
menores cantões, através de assembleias populares (Landesgemeinden)”,
Jorge Miranda. (no caso de Portugal, artigo nº 245º nº2, apenas numa única
situação- “a lei pode determinas nas freguesias de população diminuta a
assembleia de freguesia seja substituída pelo plenário dos cidadãos
eleitores)
Democracia semi-direta: os cidadãos não tomam diretamente as decisões,
mas auxiliam a tomada de decisão (cantões maiores). “A consagração e a
frequência da iniciativa popular e do referendo, sendo o referendo
obrigatório para a revisão constitucional e facultativo para as leis
ordinárias”, Jorge Miranda. (no caso de Portugal artigo nº 167º e 115º).
SISTEMA DE GOVERNO DIRETORIAL
Os órgãos políticos federais são a Assembleia Federal e o Conselho
Federal.
Assembleia Federal (parlamento bicameral típico do federalismo)

Conselho Nacional Conselho de Estados


Conselho Federal: órgão executivo da Federação, exerce a direção política
do Estado. (“O Conselho Federal está na Suíça um pouco como o
Presidente nos Estados Unidos”). O chefe de Estado é colegial e não
singular.
• Sistema com separação de poderes;
• Não há responsabilidade política (“casamento sem divórcio” =
EUA);
• Sistema menos personalizado.
OS SISTEMAS CONSTITUCIONAIS ALEMÃES E
AUSTRÍACO
 Estes sistemas são analisados sistematicamente em termos paralelos,
porque em termos de evolução cronológica têm um percurso
análogo, sofrendo alterações idênticas e paralelas.
 São também sistemas com a mesma língua, ou seja, têm uma cultura
organizacional idêntica. Quer isto dizer, também mais
explicitamente, que têm o mesmo tipo de instituições políticas,
sociais, culturais e económicas.
 A Áustria e a Alemanha encontram-se unificadas até ao período de
Napoleão (divisão territorial e estatal). A União entre a Áustria e a
Alemanha era o estado da Prússia.
1871 – Há uma articulação entre a Áustria e a Alemanha sob domínio
imperial (Estado Federal);
• Durante os séculos XVIII e XIX, ao contrário de outros
estados europeus, a Prússia não sofre revoluções.
 A Alemanha tem uma construção de tal modo autónoma da
francesa, que se fala de uma tradição francesa e de uma tradição
germânica.

 As constituições alemãs de 1849, 1871 estabelecem formas de


monarquia limitada, não absoluta, mas uma monarquia que se auto–
limita (i.e., estabelecem uma monarquia constitucional):
 Na monarquia constitucional do tipo austro-alemão /
monarquia limitada / monarquia constitucional propriamente
dita o princípio monárquico sobrepõe-se ao princípio
democrático. Esta Monarquia Constitucional está limitada pelo
Parlamento (nunca passaram por momentos de monarquia
absoluta), e pelas posições de garantias dos direitos
fundamentais.
Com o fim da 1a Guerra Mundial os Impérios centrais da Europa
desagregaram-se.
Isto dará origem à Constituição Alemã de 1919 (Constituição de Weimar-
1º Constituição europeia a promover um Estado Social de Direito no
âmbito europeu. Garante, assim, os direitos dos particulares, mas aponta ao
Estado obrigatoriedade de intervenção para a garantia desses mesmos
direitos.) e a Austríaca de 1920* (escrita por Kelsen)*. Semelhanças das
constituições:
1. terem um grande rigor técnico – os conceitos são tratados de uma
forma precisa.
2. preverem formas federativas de Estado.
3. preverem sistemas semi-presidenciais ou sistemas parlamentares
racionalizados, ou seja, com uma base que assenta no
parlamentarismo puro, mas introduzindo adições que nada têm a ver
com ele.
*A Constituição Austríaca de 1920, elaborada por Hans Kelsen e tendo uma estrutura positivista
e hierarquizada, estabelece uma fiscalização da constitucionalidade através de um Tribunal
Constitucional. (foi suspensa em 1929 e reposta em 1945).
*caem na 2º Guerra Mundial, Alemanha temos ditadura e Áustria anexação

*SISTEMA AUSTRÍACO
Com a proclamação da República, foi aprovada a Constituição de 1920, em
cuja preparação interveio Hans Kelsen (expoente do positivismo jurídico).
Vem criar um órgão jurisdicional (concentrado) a que cabe a fiscalização
da constitucionalidade: Tribunal -Constitucional (grande contribuição
original para o Direito constitucional). Por isso, onde existe esse tribunal
fala-se em modelo austríaco de fiscalização da constitucionalidade. Revista
em 1929, seria reposta em vigor em 1945.
Conselho Nacional Conselho de Estados
Nota: a derrota em Versalhes e as vicissitudes provoca uma anexação por
parte da Alemanha.
 Na Alemanha, a instituição de uma ditadura nacional socialista;
 Na Áustria, em consequência também da ditadura nazi, uma
anexação por parte da Alemanha.
CONSTITUIÇÃO DE WEIMAR
“Com a derrota na 1ª Guerra Mundial, desparecem os chamados Impérios
Centrais e proclamaram-se sistemas republicanos. (...) Vencidas as
perturbações do momento, prepararam-se novos textos constitucionais.”
(Jorge Miranda)
11 de Agosto de 1919- Constituição de Weimar / Constituição do Reich
alemão: o mais importante texto na altura concebido. É a primeira
Constituição alemã Republicana e é também a primeira a estabelecer
formalmente o Estado Social de Direito no âmbito europeu. Garante os
direitos dos particulares, mas aponta ao Estado a obrigação de intervenção
para a garantia dos direitos.
Distingam-se assim duas gerações de Direitos Fundamentais:
1ª Geração dos Direitos Fundamentais- refere e estabelece direitos,
liberdades e
garantias;
2ª Geração dos Direitos Fundamentais- exige ao Estado uma intervenção
para que haja uma efectiva manutenção dos direitos económicos, sociais e
culturais.
Dadas as circunstâncias, com o nacionalismo exacerbado pela guerra e pelo
tratado de Versalhes, o sistema não funcionaria corretamente.
A derrota em Versalhes e as vicissitudes que atingem ambos os sistemas
provocam:
• na Alemanha, a instituição de uma ditadura nacional socialista.
• na Áustria, em consequência também da ditadura nazi, uma
anexação daquela por parte da Alemanha.
O fim da 2ª Guerra Mundial divide a Alemanha em:
• RDA –que se rege pela Constituição de 1968, de ideologia
marxista-leninista;
• RFA – que se rege pela Constituição de Bona de 1949;
• situação atípica da divisão de Berlim pelas potência ocupantes.
A partir da reunificação das duas Alemanhas, é a Constituição de Bona de
1949 que vigora.
Características da Constituição de Bona de 1949 (novação constitucional,
os representantes da Alemanha reunificada fazem com que esta
Constituição seja aplicada a toda a Alemanha reunificada*):
• realce da ideia de democracia e relevo do princípio
democrático
• preocupação com previsão e efetivação dos Direitos
Fundamentais
• consagração de um sistema de governo que parte do sistema
parlamentar britânico, mas que pode definir-se como um
sistema parlamentar racionalizado, com introdução de
elementos de racionalização que têm em vista o fim da
instabilidade política:
 moção de censura construtiva: exige a
apresentação de um programa alternativo de
governo.
 saída da circulação política dos partidos que
não, consigam obter mais de 5% nas
eleições, não há bipartidarismo.
Lei Fundamental de 23 de Maio de 1949 / Constituição de Bona
 Constituição rigorosa;
 Adota o sistema parlamentar: racionaliza o sistema britânico /
sistema bipartidário– sistema parlamentar racionalizado.
Introduz alguns instrumentos visando o fim da instabilidade
política:
-Moção de censura construtiva: para evitar que a oposição estivesse
sempre a apresentar moções que levassem à destituição do Governo.
Assim, tinham que apresentar um Governo alternativo (mais difícil) //
mecanismo que ajuda a racionalizar o sistema parlamentar // que é
possível o Parlamento apresentar moções de censura ao Governo, mas
estas moções de censura têm de corresponder a uma alternativa;
-Proibição de partidos (pertei verbote) - significa que há uma
percentagem mínima para terem representação parlamentar. Logo,
partidos diminutos nunca poderão ter representação. Contudo, permite
uma estabilidade política ainda que não haja bipartidarismo // limita a
instabilidade governamental;
 Sistema parlamentar racionalizado de Chanceler (figura
preponderante- 1º Ministro em Portugal, tem mais poderes que
num sistema parlamentar normal).
• Faz uma clara profissão de fé na dignidade da pessoa humana e admite
que o Direito natural limita o poder do Estado.
*Havia uma norma que previa que se a reunificação alemã viesse a acontecer, a Constituição de
Bona deixava de vigorar e elaborava-se uma nova Constituição. Contudo, tal não se sucedeu,
assiste-se a uma NOVAÇÃO / renovação da Constituição de Bona para toda a Alemanha- nova
capa de legitimidade.

A derrota em Versalhes provoca, na Alemanha, a instituição de uma


ditadura nacional socialista.
O fim da II Guerra Mundial divide a Alemanha em:
RDA- que se rege pela Constituição de 1968, de ideologia-marxista;
RFA- que se rege pela Constituição de Bona de 1949.
A partir da reunificação das duas Alemanhas, é a Constituição de Bona de
1949 que vigora.
SISTEMA BRASILEIRO
O Brasil já tem uma história constitucional longa e complexa: foi colónia,
Império e República. Da história constitucional brasileira constam 7
constituições desde a independência, sendo a de 5 de outubro de 1988 a
mais recente
Estas constituições são a expressão de que o Brasil é um território muito
vasto e com variedade de situações económicas- heterogeneidade social,
económica e política.
Norte do Brasil- rural e pobre;
Sul do Brasil- urbano e rico
A título de curiosidade, a primeira Constituição aplicável ao Brasil é a
Constituição de 1822 que estabelecia uma União Real com o Brasil (forma
de Estado composto). Foi uma constituição que durou pouco tempo devido
à declaração da independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1823
(Grito do Ipiranga).
Nota: na palavras de Jorge Miranda, “O constitucionalismo nasceu em Portugal e no Brasil ao
mesmo tempo. Nasceu com a revolução de 1820, em consequência da qual se reuniram Cortes
Constituintes (…) A Constituição de 1922 seria votada pelos portugueses e brasileiros”.

1. Constituição de 1824
“Corresponde às bases apresentadas pelo Imperador D. Pedro I a
uma Conselho de Estado por ele convocado” (Jorge Miranda).
Apresenta um compromisso entre as ideias liberais e a tradição
monárquica europeia. “As fontes do texto foram, incontestavelmente,
o próprio projeto vindo da Assembleia Constituinte, as teses de
Benjamin Constant de um poder real convertido em poder moderado
(que depois é previsto também na Carta Constitucional de 1826 de
Portugal) e a Carta Constitucional francesa de 1814.
A Constituição declarava a separação de poderes, mas com saliente
posição do Imperador. Deste modo, estabelece uma Monarquia
Constitucional apesar de haver uma concentração do poder executivo
no monarca. No dizer de D. Pedro I- “toda a força ao poder
executivo” (aliás, a tónica presidencialista- apesar de mais atenuada-
mantém-se ainda hoje na Constituição de 1988).
O poder moderador corresponderia a uma forma de introduzir
harmonia e equilíbrio dentro da separação tradicional de poderes
(Benjamin Constant // explica como a monarquia brasileira é
fortemente centralizada).*
*Montesquieu separava os três poderes (executivo, judicial e
legislativo), já Benjamin acresce o poder moderadora “dotando” o
monarca do poder executivo e moderador. Para além disso, nesta
Constituição, a separação de poderes surge-nos então, da seguinte
forma:
Poder executivo + Poder moderador (balança) = MONARCA
Poder judicial- TRIBUNAIS
Poder legislativo- DUAS CÂMARAS (representativa de opinião-
assembleia eletiva-; representativa da duração- membros com
assento hereditário).
2. Constituição Brasileira de 1891 (1º Constituição da federação
brasileira, Constituição difusa)
Prevê um federalismo por influência dos EUA- “Foi reorganizado o
poder, distribuído entre União e os Estados federados, e substituiu-se
à tendência parlamentar um princípio de governo presidencial”.
Federalismo complexo: União (Estados e municípios são governos
autónomos)- Governo soberano da federação.
A União tem uma Constituição federal. Os Estados federados têm
Constituição. Os municípios têm leis orgânicas que são formas de
juridificar o exercício do poder político. Cada Estado federado rinha
a sua Constituição, as suas leis, os seus tribunais.
Forma de Estado: Federação || Sistema de Governo: Presidencialismo
Trata-se, no entanto, de um federalismo imperfeito:
O federalismo implica uma divisão total de poderes. No Brasil há
uma forte concentração do poder executivo. Alguns autores falam de
um ultra-federalismo: há um receio pelos impérios centrais, ou seja,
Estados que fomentassem a desvinculação da União por parte deles e
outros estados.
Surge a “Política do café com leite”- alternância entre Presidentes
entre dois Estados:
São Paulo- produtor de café;
Minas Gerais- produtor de leite.
República com governo representativo. Sistema Presidencial, com a
particularidade de nem o Presidente, nem os Governadores poderem
ser reeleitos. Sistema de fiscalização jurisdicional da
Constitucionalidade.
3. Constituição de 1934
Tem a mesma estrutura e fontes (centralizada) da Constituição
portuguesa de 1933. É autoritária de direita e resulta das
consequências da crise de 1929, sendo uma tentativa de cópia do
sistema fascista italiano de 1922 (figura de Gertúlio Vargas é
importante). “Consagrou a justiça eleitoral; reforçou os poderes do
Congresso; previu formas de intervenção do Estado na economia e
direitos sociais na linha da Constituição mexicana de 1917 e da
Constituição de Weimar; introduziu o mandato de segurança.”
4. Constituição de 1937
Apesar de ser provocada por um golpe de Estado, os princípios são
os mesmos da anterior. Reduziu a autonomia dos Estados, alargou os
poderes do Presidente da República, criou o Conselho da Economia
Nacional, etc.
5. Constituição de 1946
Tenta ultrapassar a tendência autoritária de Direita das Constituições
de 1934 e de 1937 e voltar ao espírito de 1891.
6. Constituição de 1967 (concentração do poder)
segue-se ao golpe de Estado / Revolução de Março de 1964.
É permanentemente alterada por várias revisões- Atos Constitucionais.
Há constitucionalistas que discutem se o 1º Ato Constitucional não terá
sido ele próprio uma outra Constituição (1971).
7. Constituição de 1988 (5 de outubro- abre com um preâmbulo e com
“princípios fundamentais”)*
5 de outubro de 1988: data em que se estabelece um estado federal.
Possui um federalismo complexo. Representa a Constituição de um
Estado Social de Direito que revê, à parte de direitos, liberdades e
garantias, direitos económicos e sociais. Define como:
 Forma de Estado - Estado composto sobre a forma de
Federação
 Forma de Governo - República
 Regime - democrático
 Sistema – presidencialista (decalcado dos EUA- não há
Governo enquanto órgão autónomo)
Parlamento é bicameral (duas Câmaras) - Câmara dos deputados
(representação proporcional em cada Estado e no Distrito Federal) +
Senado com 3 senadores por Estado.
*- tenta descentralizar o poder. - dá importância à ideia de cidadania e dos direitos
fundamentais. - um dos valores fundamentais é o respeito pelo valor do trabalho. - é uma
Constituição social, isto é defende direitos económicos e sociais e reclama intervenção do
Estado para a sua garantia. - estabelece um Presidencialismo.

Traços comuns na História Constitucional brasileira:


Proteção dos Direitos fundamentais.
Alternância entre sistemas de índole mais parlamentar ou mais
presidencialista (quase sempre mais comum, verificando-se quase sempre
uma maior ou menor concentração do poder executivo).
A Constituição de 1988 (7ª Constituição) previa a realização de um
plebiscito em 1993, para que os brasileiros escolhessem entre Monarquia e
República – é a 1ª vez desde 1891 que se põe em causa a existência da
República. ( a mesma previsão ocorreu para a Austrália em 1999)
Sistemas não incluídos em Famílias Constitucionais
Sistemas fascistas ou fascizantes (ou com tendência para) impossíveis de
caracterizar de forma rigorosa devido à sua heterogeneidade.
Outros modelos nos Continentes Asiático e Africano.
-Sistemas fascistas ou fascizantes: de ideologia de Direita que se traduz
pela negativa, isto é, que renuncia quer o liberalismo puro quer o
comunismo (relação de rejeição).
-Outros modelos: nada têm a ver com a forma de organização do Estado
Moderno de Tipo Europeu.
Nos continentes Africano e Asiático há três situações ou modelos a
destacar:
1. Modelo de Monarquia Tradicional- não é limitada pela constituição-
ex.: Marrocos e Etiópia;
2. Poder político ligado à religião- ex.: Estados em que vigora o
fundamentalismo islâmico (ex.: Irão);
3. Opção formal por uma “via original” ou “via autónoma”, que se
manifesta não só no âmbito do poder político, mas também a nível
económico e social- ex.: Tanzânia, Argélia, Birmânia, São Tomé e
Príncipe e Cabo Verde (nestes dois últimos estados observamos a
“via autónoma” na primeira Constituição de cada um). Estas “vias
originais” estão relacionadas com Estados que consolidam através
daquelas o seu nascimento e desenvolvimento – faz-se nascer um
Estado e tenta-se constituir uma nação.
Há uma tendência para a concentração de poderes, que é diferente da
concentração de poder- ex.: modelo soviético, única voa para vincar
os poderes num Estado que está em fase de criação; na maior parte
dos casos não há uma correspondência com uma ideologia
determinada.
Os Estados que adotaram “vias autónomas” acabaram por ser
Estados Autoritários (limitação dos poderes dos cidadãos, mas não
há uma anulação; autonomia entre sociedade e exercício do poder
político), mas não totalitários (há uma supressão dos direitos dos
cidadãos; sociedade civil não tem autonomia).
PALOP´S
falamos de Estados que sofreram um processo dramático de acesso à
independência, ao invés da situação de evolução que se verificou por
exemplo com as ex-colónias francesas e britânicas. Podemos identificar
duas fases ou gerações tendo em conta o número de Constituições desses
Estados, e o facto de na maior parte deles já estar em vigor a segunda
constituição após os Acordos de Independência celebrados entre 1974 e
1975 em Argel (Guiné-Bissau), Lusaka (Moçambique) e Alvor (Angola)*.
*acordos feitos nos movimentos de independência. Deviam cessar-fogo, criar órgãos
transitórios que assegurem o poder e de um Alto Comissário que represente a transição do
poder. Submetiam-se à Carta de São Francisco de 1949 e geram a 1º Geração de Constituições
Africanas- anos 90

Constituições- 1º Geração
1990- São Tomé e Príncipe
1992- Angola (sistema marxista-leninista moderado, tal como em
Moçambique), Moçambique e Cabo Verde (eventualmente logrou maior
desenvolvimento económico e social)
1993- Guiné-Bissau
Trazem uma constatação, muitos parecidas com a Constituição portuguesa
de 1976.
Os países de língua portuguesa: são todos unitários, exceto o Brasil; forma
de governo: república; regime: democrático; sistema de governo:
presidencial em Moçambique e no Brasil, todos os outros têm um
semipresidencialista ou um parlamentarismo racionalizado, no caso de
Cabo Verde.

Em termos formais, as Constituições são hoje muito idênticas*:


• todas preveem um Estado de Direito democrático.
• todas preveem um Parlamento unitário.
• todas preveem um poder judicial independente.
• todas preveem possibilidade de um referendo nacional.
• todas preveem o Parlamento como tendo competência
legislativa.
• todos os Estados são unitários aliados a uma forte previsão de
poder local (PALOPS).
• todos preveem fiscalização jurisdicional da
constitucionalidade (PALOPS), à exceção de Moçambique
que tem uma fiscalização política.
• todas preveem os direitos, liberdades e garantias do cidadão
em 1º lugar (PALOPS), e depois direitos económicos e sociais,
com exceção de Moçambique onde se verifica a situação
inversa.
• todas são rígidas – têm uma forma especificamente prevista
para serem alteradas.
*Todas as constituições preveem a independência do poder judicial, Parlamento representativo,
todas RÍGIDAS no sentido que têm um processo de revisão diferente da revisão ordinária,
sistema jurisdicional de fiscalidade constitucional, exceto Moçambique. Todas preveem um
sistema de economia social de mercado, exceto Moçambique (base coletivista).

*NÃO TEMOS MANEIRA DE JUNTAR ESTAS CARACTERÍSTICAS E AFIRMAR QUE


TEMOS UMA FAMÍLIA CONSTITUCIONAL LUSÓFONA.

Título III- As constituições portuguesas


Capítulo I – As constituições portuguesas em geral
Capítulo II - As constituições liberais
Capítulo III – A Constituição de 1993
Capítulo IV – A Constituição de 1976
A História Constitucional portuguesa não é recente e aproxima-se bastante
do exemplo francês, mas apresenta uma maior estabilidade do que as
situações verificadas em Espanha ou nos países da América latina.
A História Constitucional portuguesa no sentido moderno começa em 1820
com a Revolução Liberal de 24 de agosto na cidade do Porto que determina
o fim da monarquia tradicional e o início do sistema constitucional.
Apesar de a 1º Constituição formal ser a de 1822, antes, possuíamos outros
documentos que poderiam fazer a vez da Constituições, as
ORDENAÇÕES* (recolha das Leis Fundamentais do Rei, tendo o valor de
Constituição Material do Estado).
*compilações das normas fundamentais do reino, conjunto de leis, encontra-se nelas o que se
encontra numa Constituição.

Ordenações afonsinas (século XV)*: têm como objetivos as relações entre


monarcas e os súbditos, entre o Estado e a Igreja. São o embrião/génese
daquilo que viria a ser uma Constituição formal. Procuram colocar a ordem
naquilo que eram a pluralidade das fontes de Direito. Não resistiram ao
tempo e foram substituídas pelas ordenações MANUELINAS.
Ordenações manuelinas: nunca atingiram a vigência efetiva, aparece uma
Comissão Revisora liderada por D. Manuel e em 1521 surgem novas
ordenações que tentam centralizar o poder do rei (negam a existência de
várias fontes do Direito). Estas ordenações são afastadas e são mandadas
elaborar as ordenações FILIPINAS.
Ordenações filipinas*: entram em vigor em 1603 e vigoram até 1822 (pelo
meio há a Lei da Boa Razão)- até ao início do Constitucionalismo formal
português (tentam pôr ordem às fontes do Direito).
*tentaram pôr ordem às diversas fontes do Direito, reconheciam que existiam diversas fontes
*ordenações Filipinas em vigor, mas filtradas pela Lei da Boa Razão (1769) desde o tempo do
Marquês de Pombal. Após a sua morte, tentou-se reformar as fontes de direito em vigor (“A
questão do novo código”). Estes códigos só se vieram a introduzir numa fase posterior à
vigência da 1ª Constituição Formal (1822).

Lei da Boa Razão: 1769 (de Marquês de Pombal ou Sebastião José


Carvalho e Melo, inspirada pelas ideias iluministas), é essencial para
perceber a vigência do direito nesta fase. Diz que tudo o que são fontes de
direito devem estar submetidas ao escrutínio da Razão humana. Diz que a
fonte de direito primeira é a lei, mas podemos entender também enquanto
fonte de direito o costume em termos subsidiários e desde que este não
colida com a Razão.
* 3ª perspetiva - Diz que o Direito nacional é superior ao Direito Canónico e ao Direito
Romano.

As Constituições portuguesas em geral (cada um dos períodos começa com


uma revolução ou com um golpe de Estado)
O Constitucionalismo formal português divide-se em três períodos
Constitucionalismo liberal ( início com a Revolução liberal de 24 de
Agosto de 1820) – 1820 a 1926- CRP de 1822; Carta Constitucional (tem
esta designação por ter sido outorgada pelo monarca) de 1826; CRP de
1838 e CRP de 1911. 5 de outubro de 1910 – alteração de forma de
governo (4 Constituições);
Constitucionalismo Democrático (início a 25 de Abril de 1974 em Lisboa)
– 1974- CRP de 1933 (1 Constituição);
Constitucionalismo Democrático (início a 25 de Abril de 1974 em Lisboa)
– 1974- CRP de 1976
*diferença entre golpe de Estado e revolução é que o golpe de estado resulta de elementos
interiores ao sistema e a revolução tem interferência popular.

É um período que corresponde ao Estado liberal em que prevalece (apesar


das contrarrevoluções e das duas restaurações da Monarquia Absoluta) uma
ideia de direito liberal, como aparece consagrada na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 no artigo 16º.
Relevantes são as ideias de: garantia dos direitos e liberdades; separação de
poderes; liberalismo político e económico.
Há ainda assim quatro constituições no período liberal porque: há uma
dificuldade de instauração do liberalismo em Portugal, porque ele aparece
como estrangeirado, não se adaptando às necessidades do país; eram muito
poderosas as forças reacionárias; havia entre os liberais várias tendências:
liberais democratas e liberais conservadores.
* O Constitucionalismo liberal português inicia-se com a Revolução Liberal ocorrida em agosto
de 1820 e perdura, abrangendo quatro constituições (cujos períodos de vigência não foram
sempre contínuos, mas permutaram entre si), até ao Golpe de Estado em Braga, a 28 de maio de
1926. As 3 primeiras Constituições Liberais foram monárquicas e a última foi republicana.
Plano de vigência das várias constituições liberais
• 1822 - 1823 à 1a vigência da Constituição de 1822 (era de tal forma radical que trouxe o
retorno da monarquia absoluta)
• 1823 - 1826 à Monarquia Absoluta
• 1826 - 1828 à 1a vigência da Carta Constitucional de 1826
• 1828 - 1834 à Monarquia Absoluta
• 1834 - 1836 à 2a vigência da Carta Constitucional de 1826, com introdução da figura do 1º
Ministro
• 1836 - 1838 à 2a vigência da Constituição de 1822
• 1838 - 1842 à vigência da Constituição de 1838
• 1842 - 1910 à 3a vigência da Carta Constitucional de 1826

Constituição de 1822*
Apesar da sua curta vigência (7 meses entre setembro de 1822 e junho de
1823 e mais 19 meses entre setembro de 1836 e abril de 1838), é
impossível negar a importância da Constituição de 1822, por ter marcado o
início do Constitucionalismo em Portugal, bem como pelo facto de partir
de uma ideia de legitimidade democrática do poder constituinte, associada
a uma ideia contratualista de poder, lê-se por exemplo que o Reino de
Portugal consiste na associação de todos os portugueses.
Na prática, o poder constituinte manifestou-se nas Cortes Gerais,
Extraordinárias (contavam com a presença de deputados africanos,
asiáticos e brasileiros) e Constituintes de 1821, tendencialmente
representativas dos vários estratos sociais e do compromisso entre várias
alas ideológicas:
 A Constituição espanhola de Cádis de 1812, foi a principal
inspiração para a Constituição vintista. No entanto, o
constitucionalismo inglês foi o modelo apoiado pela ala moderada,
enquanto que o Constitucionalismo francês (tendo por documentos a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a
Constituição francesa de 1791), foi preferida pela ala mais radical.
Previa uma MONARQUIA LIMITADA, inspirada no modelo da
Constituição de Cádis, na qual o poder do monarca era meramente
simbólico e legitimidade popular (artigo 121º: “A autoridade do Rei
provém da Nação”).
 O poder do Rei era de “Chefe de Estado” e “Chefe de Executivo”.
As Cortes constituíam o poder legislativo (separação de poderes),
que, apesar de serem um órgão eletivo, o seu sufrágio era NÃO
DIRETO NEM UNIVERSAL, porque excluía as mulheres do direito
ao voto e os eleitores elegiam, não diretamente as Cortes, mas uma
Assembleia Primária que elegia as Cortes.
 Quanto aos direitos fundamentais, como característico do
Constitucionalismo liberal, garantiram-se fundamental liberdades
negativas (direito à liberdade, à segurança, à propriedade, as “três
liberdades fundamentais” de Locke) de proteção contra a
interferência do Estado, mas também cláusulas de igualdade perante
a lei e no acesso aos cargos públicos e liberdades positivas que
exigiam uma prestação da parte do Estado, como o dever do “ensino
da Mocidade portuguesa de ambos os sexos a ler, escrever e contar”
(artigo 237º).
 Por último, a previsão de uma União Real com o Brasil, que viria a
falhar. Este documento é criticado com um excesso de ingenuidade e
dificuldade de regular a realidade a partir dela (por este
incongruidade entre a constituição e a realidade constitucional,
poder-se-ia, à luz da catergorização de Karl Lowenstein, ser
considerada uma Constituição semântica).
* 1ª Constituição portuguesa formal, decorrendo da ideologia revolucionária liberal
francesa. • apontada como radical e quimérica, quase ingénua. É a 1ª Constituição formal
que estabelece uma união real. No que diz respeito à Forma e Sistema de Governo tem
carácter “para – republicano”. Do ponto de vista de poder atribuído aos órgãos, o poder
monárquico está muito reduzido. Está presente o elemento democrático (previsto aqui talvez
com a maior clareza durante o 1º período Constitucional português).
A Constituição adere a uma ideia de patriotismo e nacionalismo liberais.
A Constituição é elaborada pelas Cortes – assembleia representativa dos cidadãos (carácter
democrático).
O primeiro documento elaborado contém as bases constituintes da que viria a ser a
Constituição.
Estão consagradas no artigo 1º da Constituição as três “liberdades liberais”: liberdade,
segurança e propriedade (John Locke).
O artigo 26º diz respeito à soberania nacional.

Carta Constitucional de 1826*


Para perceber o contexto em que surgiu esta Constituição, deve-se
entender que o conflito entre legitimidade monárquica e legitimidade
democrática do poder constituinte, bem a crítica contra-revolucionária e
tradicionalista que a Constituição de 1822 era demasiado liberal e
desfasada da realidade constitucional.
Tem este nome, pois advém do facto de ter sido outorgada pelo rei D.
Pedro IV, isto é, proveniente da sua vontade única e direta, tratando-se
por isso de um ato constituinte unilateral (corresponde a um “contrato”,
é uma espécie de carta do monarca aos seus súbditos). Verifica-se o
“princípio monárquico”, foi de poder monárquico (e do seu
compromisso entre liberais e absolutistas) que resultou a Constituição.
Está presente o princípio da separação de poderes e juridicidade e
limitação do poder monárquico. No entanto, em comparação com o
documento anterior, esta foi uma constituição muito mais monárquica
(considerada a mais monárquica do seu tempo), concedendo ao Rei o
poder de iniciativa e sanção de leis, nomeação e demissão ministerial e
convocação e dissolução das cortes. Ademais, a previsão, para além do
poder executivo (que era, na Constituição Vintista, o único poder do
monarca), o PODER MODERADOR (ideia desenvolvida pelo teoria
francês Benjamin Constant e que já se encontrava prevista na
Constituição Brasileira de 1824 // é a chave de toda a organização
política, é poder para o REI, vela pelos interesses do Estado, pela sua
harmonia e paz), que concedeu ao Rei os já invocados poderes
extraordinários (nomear as Cortes; convocar as Cortes; sancionar os
decretos aprovados pelas Cortes; nomear e demitir Ministros) e que
tinha como objetivo harmonizar os poderes políticos.
Quanto ao poder legislativo, este possuía uma organização bicamaral,
com uma Câmara dos Deputados (de legitimidade democrática, em
semelhança às Cortes da Constituição de 1822) e uma Câmara dos Pares
(de legitimidade hereditária e aristocrática, os seus membros, vitalícios e
sem número fixo eram nomeados pelo Rei). Daí se afirmar que era a
Constituição mais monárquica do seu tempo (Marcelo Caetano).
* Representou o início da dualidade e separação entre o Chefe de Estado e Chefe de
Governo, com o primeiro Primeiro-Ministro (o Duque de Palmela), a partir de 1834. A
Carta foi a Constituição monárquica que por mais tempo vigorou, foi também alvo de 3
revisões constitucionais, em 1852, 1855, 1896. A revisão de 1852 introduz o sufrágio direto
para a Câmara dos Deputados, não deixando, porém, de ser um sufrágio censitário (e não
universal), pois só podiam votar os homens com um "mínimo de 100 mil reis de renda".
Também lhe foram sendo acrescentados atos adicionais, outra forma de revisão à Carta (em
1892,1895/1896 e 1907), conferindo-lhe carácter progressivamente centralizador, retirando
poderes ao parlamento para dar poder ao governo.

Constituição (setembrista) de 1838 (tenta voltar ao período de 1822,


tentando ser mais realista, a de 1822 era quimérica, nunca chegou a ser
aplicada)
Foi uma Constituição factícia- resultante de um pacto entre a Rainha D.
Maria II e as Cortes (há um pacto entre a Rainha e as Cortes, o que se
encontra desde logo patente no preâmbulo). Segundo Gomes Canotilho
foi uma conciliação feita “através da substituição do modelo de
constituição outorgada por constituição pactuada (pactícia), tratou-se de
um ato constituinte plurilateral.
Apresenta fortes semelhança com a Constituição francesa de 1830
(modelo Orleanista). Desta influência capta o apagamento da figura do
monarca (RETIROU o poder moderador ao Rei, resultando numa
reaproximação à Constituição de 1822. Manteve-se o sistema bicameral,
mas o Câmara Alta (Câmara dos Pares) passou a ser Câmara dos
Senadores e deixou de ser um órgão hereditário e vitalício). Tentou
chegar a um compromisso entre as diferentes fações dentro dos liberais
(radicais e moderados).
Foi a única Constituição liberal a apresentar vigência contínua.
O Constitucionalismo Republicano: A Constituição de 1911
A Constituição de 1911, apesar de diferir na forma de Governo
(República), é bastante próxima e pode ser interpretada como uma
tentativa de recuperação dos valores e da estrutura constitucional de
1822.
Prevê uma forma de Estado unitário e foi a última Constituição liberal
portuguesa, já que ainda não previa direitos económicos e sociais,
contrariamente às de 1933 e 1976.
*Previu um Congresso bicamaral, composto por um Conselho Nacional, eleito por sufrágio
direito (na 1º República houve uma aproximação (acabou-se a discriminação eleitoral na
base censitária), mas não concretização do sufrágio universal, que só se concretizaria com a
Constituição de 1976. As mulheres, por exemplo, ainda não tinham direito ao voto), bem
como um Conselho de Municípios, o Presidente da República seria eleito por 2/3 do voto do
Congresso.

Distribui o poder executivo por: Presidente da República e pelos


Ministros.
Sistema semi-presidencialista- não havia governo enquanto órgão
autónomo (tal apenas se verifica na Constituição de 1933).
Desde 1834 que sempre houve uma dualidade na chefia do Estado e do
Governo. Sempre houve um chefe de Estado e um chefe de executivo.
Durante o último período de vigência da Carta Constitucional de 1826
(1842 a 1910) são efetuados Atos Adicionais à Carta (1895; 1907)-
referência à Bill de Indemnidade.
Características da Constituição Republicana
República unitária: "A Constituição de 1911 consagrou o carácter
unitário da República, mas estabeleceu bases a que havia de obedecer a
organização da vida local" (Gomes Canotilho). A 1ª República era um
Estado Unitário, mas sem a centralização e concentração que se veio a
verificar no Estado Novo.
Garantia de Habeas Corpus: Como meio de defesa da liberdade dos
cidadãos contra o abuso de poder. Influência da Constituição brasileira
de 1891.
Laicidade (e garantia da liberdade de religião e de culto):
Contrariamente às Constituições monárquicas, a C. de 1911, garante
"igualdade política e civil de todos os cultos", prescindindo de ter uma
religião estatal.
Fiscalização da constitucionalidade: Como instrumento de garantia
contra o abuso legislativo e a criação de leis inconstitucionais. (Estes
preceitos estão, ainda hoje, presentes na CRP).
Bill de indemnidade*: tornar indemne/indemnizar/compensar por um
dano que existiu. A carta de indemnidade servia para isentar o Governo,
retirando-lhe a responsabilidade por atos que não teria competência para
praticar (atos que correspondiam ao Parlamento).
*sebenta 2005- isenta o executivo de qualquer responsabilidade das
medidas tomadas enquanto o Parlamento estava dissolvido.
Organização Política
Sistema de governo parlamentar bicamaral (Câmara dos Deputados +
Senado), ambas eleitas por sufrágio direto.
Presidente da República eleito pelas Câmaras (como é característico das
Repúblicas parlamentaristas). O poder presidencial era bastante
limitado, devido ao medo de concentração unipessoal de poderes.
Há exceção do governo de Sidónio Pais (1917-18), continuou a haver
separação entre o Chefe de Estado (PR) e o Chefe de Governo (PM). O
Sidonismo representou uma contracorrente autoritária e tradicionalista
durante a 1ª República, inspirando, subsequentemente o regime do
Estado Novo.
Consequência desta organização política: Extrema instabilidade
governamental (leva ao Golpe de Estado de 28 de maio de 1926) - , um
Parlamento atomizado e pouco coeso, com coligações em constante
mudança e governos de curtíssima duração. Estes fatores foram causa de
uma enorme instabilidade política, que culminou num Golpe de Estado
que visava reestabelecer a autoridade.
A Constituição de 1933
O Constitucionalismo autoritário e corporativista que caracterizou o
Estado Novo, começou materialmente com o Golpe de Estado de 1926
(Braga em 28 de maio de 1926), cujo principal objetivo era o de
concentrar no mesmo órgão do poder legislativo executivo a fim de
combater a instabilidade política relacionada com a 1ª República (só foi
formalizado em 1933 com a aprovação de uma nova constituição
formal).
Os objetivos do Golpe de Estado de 1926 foram, inicialmente, de
concentrar os poderes legislativos e executivos num só órgão, com o
objetivo de combater a instabilidade e atomização política que foi
transversal à 1ª República e uma proposta liberal de saneamento das
consta públicas. Contudo, a ambição dos generais responsáveis pelo
Golpe (Mendes Cabeçada, Gomes da Costa, Carmona e Sinel Cordes),
juntamente com a confluência de ideologias autoritárias, levaram a uma
progressiva concentração do poder (com paralelismos à concentração
observada no período do Consulado Sidonista).
A necessidade de rebalanceamento das finanças públicas, levou à
nomeação de António Oliveira Salazar como Ministro das Finanças,
sucessivamente este tornou-se Chefe Executivo, concentrando
progressivamente mais poderes em si.
Normativamente, o Estado Novo (faz-nos lembrar, em antítese, do
Antigo Regime) iniciou-se com a entrada em vigor, em 11 de abril de
1933, com a CONSTITUIÇÃO DE 1933, que previamente tinha sido
objetiva e aprovada por plebiscito (instrumento de autocracia em que as
abstenções contam a favor). Este regime caracterizava-se por ser
antiliberal, antiparlamentar (fonte de todos os males na 1ª República) e
antidemocrático.
*António Oliveira de Salazar instaura Estado Novo, que surge num período de instabilidade
interna e externa, e em que a nível europeu se vivia uma época conturbada a nível social e
económico. Salazar consegue sanar as contas e apresentar um equilíbrio financeiro que
representa o fim do défice orçamental. Assim, o seu principal objetivo era pôr fim a esta
instabilidade vivida. Salazar procurou criar um Estado que evitasse os malefícios da
República e inspira-se na origem daquilo que era uma sociedade corporativa (corporações
na sociedade medieval/feudal – guildas).

Fontes da Constituição de 1933*: constituições antigas, leis


constitucionais fascistas, Constituição de Weimar (apenas no que diz
respeito a direitos sociais) e costumes da Ditadura Militar.
*começa pela ditadura militar e prolonga-se coma ditadura pessoal de Oliveira Salazar e
com a intervenção final de Marcelo Caetano; há uma restrição de liberdades públicas e uma
concentração de poderes na figura do Chefe de Governo, apesar de na Constituição tal
concentração vir prevista para a figura do Presidente da República; o regime é autoritário,
mas não chega a ser totalitário, já que não absorve totalmente a sociedade no Estado e não
nega as liberdades públicas e privadas. É um regime que se afirma como antiliberal (no
plano económico defende a intervenção e controlo estaduais); antiparlamentar; corporativo
(traduzia-se na institucionalização de organizações corporativas, onde se inseria toda a
sociedade- reação contra o individualismo do liberalismo. Era através das corporações- dos
corpos sociais- e não do sufrágio que se tinha acesso ao poder político). É um regime muito
parecido com regimes que se verificaram na Europa entre as duas Guerras.

Características do Estado Novo*:


 Assumidamente: antiliberal, antiparlamentar e antidemocrático.
 Regime autoritário na prática, já que formalmente: há sempre um
princípio de livre nomeação dos titulares dos cargos políticos
previsto na Constituição; as liberdades são postas em causa, mas
não são destruídas; mantêm-se relações privilegiadas no âmbito
político com a Inglaterra; personalidade de Salazar, jurista, de
formação católica e educação modesta.
Objetivos do Estado Novo:
 Consagração dos direitos sociais (apesar de direitos, liberdades e
garantias poderem ser restringidos sem observância de quaisquer
condições). O artigo 33º da Constituição de 1933 estabelece a
função social dos direitos.
 O regime corporativo – previsto no artigo 5º - é limitado pela
ideia de unidade moral e bons costumes que cabe assegurar ao
Estado.
 Cada cidadão não participa individualmente na organização
política mas antes se verifica uma estrutura piramidal: As
organizações sociais de base vão-se agrupando (família como
célula base- artigo 11, família era a fonte e conservação da raça).
*Art.º 5º (C. 1933) -> Propõe o Estado Novo, uma República Unitária (o que representou o
auge da concentração de poder na metrópole, tendo as colónias passado a ter o estatuto de
províncias. Representou a passagem de uma Forma de Estado composto para unitário) e
corporativa (assente na ideologia do Corporativismo, que defende uma organização política,
social e económica piramidal, com base, não no individuo, mas em estratos/associações sociais
hierarquizadas - como a família e as corporações).
Art.º 6º (amálgama, antes, rejeição dos poderes de uma “ideia liberal portuguesa”) - 3 Tarefas
do Estado:
1. Promover a unidade moral e estabelecer a ordem jurídica da Nação. Fazer respeitar-se o
direitos e garantias resultantes da natureza ou da lei, em favor dos indivíduos, famílias,
autarquias locais e corporações morais e económicas. (Estado moralizante e protetor
dos "bons costumes"; garantia de direitos; hierarquia corporativista com a família na
base da pirâmide);
2. "Cooperar, impulsionar e dirigir as atividades sociais, fazendo prevalecer uma justa
harmonia de interesses, dentro da legítima subordinação dos particulares ao geral"
(Estado com papel ativo e dirigente na sociedade Autoritarismo social; Subordinação
dos interesses particulares ao bem geral  Oposição ao liberalismo individualista das
constituições anteriores);
3. Zelar pela melhoria de condições das classes sociais mais desfavorecidas e garantir um
nível de vivência acima do humanamente digno. (Garantias socioeconómicas;
características de uma fase de Estado social e já não liberal)  Os direitos e garantias
sociais foram uma característica da Constituição de 33 (previstos também no artigo
33º). No entanto, estes eram restringidos pelo legislador ordinário sem qualquer
proteção/limites constitucionais.
Compare-se às "Tarefas fundamentais do Estado" previstas no artigo 9º da CRP. A C. de
1933 foi aprovada em plebiscito (instrumento autárquico)- contrariamente às outras
Constituições, por exemplo a de 1822, foi aprovada por uma Assembleia Constituinte; a de
1826, foi outorgada pelo monarca; a de 1938 pacto entre a rainha e as Cortes; 1911,
aprovada pela Assembleia Constituinte-, no qual as abstenções foram contadas como votos
a favor. Pelo que este instrumento falhou em assegurar legitimidade democrática
constituinte, tendo o poder constituinte sido autoritário.

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA*
O regime, como já referido, era não-democrático e autoritário,
caracterizado pela sua rejeição do liberalismo, do pluralismo político, da
livre expressão e associação política e o não reconhecimento da oposição.
O sistema de governo previsto formalmente na Constituição era diferente
daquele que se verificava na prática. Formalmente, estavam previstos
vários poderes presidenciais que, na prática, estavam concentrados na
figura do Presidente do Conselho (o chefe do Governo), constituindo-se, de
facto, um sistema de governo de base parlamentar (mas anti partidário e
anti pluralista), aproximando-se de um sistema de chanceler.
Continua-se a verificar a dualidade política entre o Chefe de Governo e o
Chefe de Estado. Apesar de os poderes previstos do Chefe de Estado
previstos constitucionalmente terem sido, na realidade, exercidos pelo
Chefe do Governo. Tornando o Presidente da República numa figura
meramente simbólica, estando subordinado ao Presidente do Conselho de
Ministros.
A Constituição de 1933 foi a primeira a prever o Governo como um órgão
autónomo. Pressupunha-se uma União Pessoal entre o líder da União
Nacional (o "partido" único) e o Chefe de Governo (o Presidente do
Conselho de Ministros).
O Parlamento era bicameral, composto pela Câmara Corporativa (de
representação das corporações económicas e sociais) e pela Câmara dos
Representantes/Assembleia Nacional (de representação dos cidadãos).
Dois órgãos eram eleitos por sufrágio direto: o Chefe de Estado (Presidente
da República) e a Câmara dos Representantes/Assembleia Nacional.
Apesar do sufrágio para a Assembleia Nacional ser, em teoria, direto, na
prática tratava-se de nada menos do que uma adesão/ratificação, pois o
sistema era efetivamente unipartidário.
Nota: É discutível se a União Nacional, 1933-1970, e a Ação Nacional Popular, 1970- 1974,
constituíram verdadeiramente partidos. Alguns autores, como Marcelo Rebelo de Sousa,
consideravam que foram partidos únicos. Por outro lado, outros autores defendem que não eram
verdadeiros partidos pois não havia um substrato associativo, o partido era uma manifestação do
Estado [de cima para baixo] e não da liberdade da associação dos cidadãos [de baixo para cima]
e esta organização não tinha permanência para além do ato eletivo).

Já a Câmara Corporativa era eleita por sufrágio orgânico (indireto, através


de um colégio eleitoral restrito), seguindo uma hierarquia organizativa: as
famílias, na base, representadas pelo patriarca (o homem da família)
organizavam-se em freguesias, que elegiam câmaras e essas câmaras
elegiam os representantes da Câmara Corporativa.
*o Sistema de Governo aproximava-se de um sistema parlamentar (contudo anti partidário e
anti pluralista) e de Chanceler. Quer isto dizer que, apesar de formalmente estarem previstos
vários poderes presidenciais, na prática, estes estavam concentrados na figura do Presidente do
Conselho. Continuou a verificar-se a dualidade política entre o Chefe de Governo e o Chefe de
Estado, pois, os poderes constitucionalmente previstos do Chefe de Estado foram, na realidade,
exercidos pelo Chefe do Governo, tornando o Presidente da República numa figura meramente
simbólica, subordinada ao Presidente do Conselho de Ministros (era por definição o chefe do
partido existente).
Tanto a Assembleia Nacional como o Chefe de Estado eram eleitos por sufrágio direto. Porém,
a partir de 1959 o Chefe de Estado passa a ser eleito por sufrágio indireto, com a candidatura de
Humberto Delgado às eleições, ou seja, passou a ser eleito por um colégio eleitoral restrito da
própria assembleia.
Apesar do sufrágio para a Assembleia Nacional ser, em teoria, direto, na prática tratava- se de
nada menos do que uma adesão/ratificação, pois o sistema era efetivamente unipartidário.
//
Corporativismo:
Económico;
Social;
Político: cidadão deve integrar-se numa organização e só tem direito de sufrágio. Sufrágio
orgânico do Presidente da República.
Estruturas corporativas:
Famílias, freguesias, câmaras, Câmara Nacional Corporativa, Presidente da República.
Assembleia Nacional: representativa dos cidadãos; Câmara Corporativa: representativa das
várias corporações.
Presidente da República: eleito por sufrágio direto. Assembleia Nacional – eleições por
adesão/ratificação – não há livre escolha, os cidadãos apenas confirmam uma escolha já
efetuada.

Loewenstein defende que as Constituições podem ser consideradas:


 Normativas: o texto da constituição corresponde à prática, há
um poder efetivo da Constituição de regulação da realidade.
São as que possuem plena eficácia e efetividade na realidade
social.
 Nominais/Nominativas: o grau de vinculação/correspondência
entre a Constituição e a realidade é mais ténue (há desvios,
mas não muito significativos). Possuem validade jurídica e
não efetividade existencial. Via média- Constituição de 1933;
 Semânticas: “são só palavra”, meramente simbólicas, não têm
uma aplicação verdadeira na realidade Constitucional).
Tanto pelo desfasamento entre o sistema de governo formalmente previsto
e o praticado, como pela supressão arbitrária de direitos protegidos
constitucionalmente. A constituição de 1933 pode ser considerada apenas
nominal, ou até meramente semântica.
Revisões da Constituição de 1933*
Esta Constituição sofreu várias revisões, sempre com o mesmo propósito:
retirar poderes à Assembleia e transferi-los para o Governo:
 1935-1938 e 1945: defesa do regime; tinham como objetivo retirar
poderes à Assembleia e atribuí-los ao Governo (nomeadamente ao
Presidente do Conselho) e à Câmara Corporativa;
 1951: começa a colocar-se o problema da eleição presidencial, o que
leva a estabelecer, como garantia do regime, o requisito verificação
de idoneidade política dos candidatos ao cargo;
 1959: mudança no modo de eleição do Presidente (através de
sufrágio indireto e orgânico), o PR passa a ser eleito por via indireta
(resposta à candidatura de Humberto Delgado);
 1971: Primavera Marcelista - abertura a outro tipo de previsão de
direitos, liberdades e garantias e progressiva liberalização e abertura
do regime.
*As posteriores revisões modificam o sistema:
 revisão de 1951 – Conselho de Estado verifica a idoneidade moral dos Candidatos a
Presidente da República.
 revisão de 1959 – eleição do Presidente da República é feita através de sufrágio indireto
e orgânico (colégio eleitoral restrito). Tem como razão a candidatura do General
Humberto Delgado.
Assembleia Nacional – relevo para a ideia de Nação.
Governo – Constituição de 1933 é a 1ª que o consagra como órgão autónomo.
Presidente do Conselho de Ministros é a figura preponderante do regime, apesar de
constitucionalmente ser o Presidente da República, porque:

 razão política – prende-se diretamente com a ideologia do regime.


 razão jurídica – o Presidente do Conselho de Ministros referenda todos os atos do
Presidente da República.
Estado Novo- corresponde a ideia corporativa da sociedade a nível social (organização
piramidal da estrutura da sociedade), económico (via média entre o individualismo libera, e
organização marxista que visa a inserção dos sindicatos como via para a participação política) e
político.
Defende que a luta partidária desgasta o indivíduo, e que portanto se deve acabar com os
partidos Estrutura apartidária  Sufrágio orgânico
Se o objectivo do Estado Novo é a implantação do Corporativismo há autores que dizem que ele
não é claramente concretizado na Constituição e na prática não é alcançado completamente.
Sistema de Governo: parlamentar, de chanceler; concentração de poderes no PRIMEIRO-
MINISTRO, este tem mais poderes que o normal, um deles sendo o “poder de referenda” dos
atos do Presidente da República, isto explica o ascendente que o Presidente do Conselho tem).

Balanço
 O surgimento do Constitucionalismo autoritário português não é
estranho no contexto europeu, apenas sendo de apontar como
surpreendente a longevidade e estabilidade alcançadas pelo regime;
 Os direitos que são mais violentamente restringidos são os que se
relacionam com a liberdade de expressão;
 Quanto ao sistema político, não há um reconhecimento da oposição;
 A Câmara Corporativa acaba por funciona como uma segunda
câmara parlamentar, com extensos poderes.
CONSTITUIÇÃO DE 1976- pós-revolucionária (elaborada em tempo de
rutura entre duas legitimidades diferentes (preâmbulo); compromissória (no
seu conteúdo resulta de um compromisso, de um pacto)
A CRP de 1976 representou, não só mais uma descontinuidade
constitucional, causada pela Revolução de 25 de Abril de 1974, uma
vicissitude expressa, que representou a queda de um sistema autocrático e
substituição desse por um regime democrático, criando-se um novo Direito.
Representou, acima de tudo, a mudança de um Estado baseado no Poder
constituinte autoritário-plebiscitário, para um estado baseado no Poder
constituinte democrático representativo.
Diz-se que a Constituição de 1976 é uma Constituição pós-revolucionária,
não só porque a vicissitude que levou à sua conceção foi uma revolução
(uma rotura com o regime anterior pela vontade popular), mas também pela
existência de um Período Revolucionário e Constituinte (PREC) que durou
entre a data da Revolução e 25 de novembro de 1975, tendo moldado o
desenvolvimento da que viria a ser a Constituição (p. ex., se a Constituição
tivesse sido aprovada antes de 25 de Novembro de 1975, possivelmente ter-
se-ia adotado um diferente modelo de sistema político), este contexto
histórico do momento constituinte encontra-se preservado no Preâmbulo,
apesar de sucessivas Revisões Constitucionais terem progressivamente
vindo a retirar "elementos revolucionários" da CRP.
Cronologia do PREC
 25 de Abril de 1974 – Revolução / Golpe de Estado (*certos autores
consideram que o 25 de Abril começou como um Golpe de Estado
tendo evoluído para uma Revolução ao adquirir apoio popular e
garantir a democratização do regime);
 11 de Março de 1975- dá-se uma tentativa de Golpe de Estado da
direita, por Spínola, que agitou em termos político-partidários o
período revolucionário. *
 13 abril de 1975 – 1ª Plataforma de Acordo Constitucional (resulta
do 11 de Março) MFA/Partidos Políticos (programa não é um mero
texto, tem valor jurídico, o texto invoca a DUDH e autolimita-se- em
12 meses teve de invocar eleições);
 25 Abril de 1975 – eleição da Assembleia Constituinte - era
obrigação do programa do MFA apresentado em abril 1974 com o
objetivo de elaboração da Constituição;
 25 novembro de 1975- dá-se uma outra tentativa de Golpe de Estado,
desta vez encabeçado pelas forças radicais de esquerda, que fracassa.
*
 26 fevereiro 1976 – 2ª Plataforma de Acordo Constitucional
MFA/Partidos Políticos.
 2 abril de 1976 – aprovação da Constituição;
 25 Abril de 1976 – entrada em vigor da Constituição.
*Tentativas de Golpe de Estado
Acordo MFA/Partidos é o que leva ao futuro texto democrático
Nota: Se a Constituição tivesse sido aprovada até 25 de novembro de 1975, ela seria
completamente diferente da que acaba por ser adotada, nomeadamente no que diz respeito ao
modelo de sistema político.

O órgão que vem a assumir a herança do PREC (Processo Revolucionário e


Constituinte) é o Conselho da Revolução, em consonância aliás com o
programa do MFA que não é apenas uma declaração de princípios
políticos, antes tem conteúdo vinculativo: havia nesse programa a previsão,
constante também da Constituição de 1976, de um órgão herdeiro da
revolução.
Durante o PREC, o Programa do MFA (Movimento das Forças Armadas),
serviu de Pré-Constituição Material. Este programa serviu de base e guia
temporário ao que viria ser a futura Constituição democrática.
Uma das necessidades deste Programa, foi a verificação de rotura com o
Regime Corporativista, desde logo pela destituição dos seus titulares dos
órgãos políticos (Lei 47 nº1/74) e a definição da estrutura provisória do
poder (Lei nº3/74), prevendo a criação da Assembleia Constituinte (órgão
responsável pela elaboração e aprovação da nova Constituição, que seria
eleito por sufrágio universal, igual, direto e secreto), bem como da Junta da
Salvação Nacional (posteriormente, o Conselho da Revolução), do
Conselho de Estado e de um Governo Provisório. Estabeleceu-se também
que a Assembleia Legislativa e o Presidente da República fossem eleitos
por sufrágio universal.
A eleição da Assembleia Constituinte garantiria que a titularidade
constitucional pertence ao povo, dando legitimidade democrática.
Atendendo à tradição histórica, a Assembleia Constituinte possuía dois
sistemas à escolha: o Parlamentar – vigente com a Constituição de 1911 e o
Unipessoal – vigente com a Constituição de 1933.
Para evitar os riscos destes dois sistemas (instabilidade política e
autoritarismo, respetivamente), aproxima-se de um governo semi-
presidencial.*
*Não se adotou o sistema parlamentar, que vigorou durante a 1ª República, porque este era
gerador de demasiada instabilidade política e atomização parlamentar, resultando em governos
de curta duração. Por outro lado, a supressão das competências parlamentares a partir de 1933
levaram a que não houvesse uma tradição de debate e centragem do poder no parlamento.
Não se adotou um regime unipessoal (como o Presidencial), de modo a evitar os abusos e o
autoritarismo que surgiram durante o Estado Novo.

Entendia-se também a necessidade de representação pluralista das várias


ideologias políticas através do Parlamento, e que a eleição do mesmo devia
ser feita através de um sistema que garantisse a proporcionalidade entre os
votos e a distribuição de assentos parlamentares. Entendeu-se então que o
Sistema de Governo devia assentar num princípio de separação e
interdependência de poderes, com "freios e contrapesos" que limitavam
abusos de poder por parte dos Órgãos de Soberania e visionavam a
manutenção das instituições democráticas e a harmonização das relações
políticas.
Entendeu-se que um Sistema Semipresidencialista, com um Presidente da
República (representativo da Repúblico Portuguesa) eleito por sufrágio
direto e universal, uma Assembleia da República (parlamento unicameral,
representativo dos cidadãos portugueses) eleito por sufrágio direto,
universal e proporcional e um Governo (emanente da Assembleia da
República, formado por uma maioria parlamentar) e com dupla
responsabilidade perante a AR e o PR.
No entanto, o sistema Semipresidencial e de dupla responsabilidade do
governo só se verificou efetivamente a partir da Revisão Constitucional de
1982. Isto porque, a Constituição de 1976, para além do PR, AR e
Governo, previa outro órgão de soberania: o Conselho da Revolução, as
suas competências eram consultivas em matéria de dissolução da AR e
declaração dos estados de exceção (responsabilidade do PR; ao ser extinto
esta função consultiva passou para o Conselho de Estado), bem como a
competência de fiscalização da constitucionalidade (que com a sua extinção
passou para o Tribunal Constitucional) e a fiscalização jurídica do Governo
(responsabilidade que passou para a AR).
Alguns autores afirmam que até 1989 a nossa constituição foi apenas
nominal ou até semântica, devido à ideia de Organização Económica.
Outros autores defendem que a iniciativa privada e economia de mercado
marcavam costumes "contra legem" ou "contra constituitonem".
*A Constituição de 1976 é:
Formal complementar – Receção formal da DUDH (artigo 16.o, nº 2 da CRP)- recessão
material- Leis 8, 16 e 18/75 – artigos 292.o e 29.o,
CRP (a Constituição empresta valor constitucional) o Nuclear – aprovada a 2 de abril de 1976
Instrumental – Constituição formal + Declaração Universal dos Direitos do Homem + Leis 8, 16
e 18 /75.

REVISÕES DA CONSTITUIÇÃO
Preâmbulo sempre inalterado. Representa a certidão histórica da
Constituição.
A primeira revisão (1982): Incidiu sobretudo sobre o plano da Organização
do Poder Político (Parte III). Foi uma revisão obrigatória e prevista. Entre
os seus principais marcos, estão: 1. "A eliminação de fórmulas linguísticas
típicas de narrativas emancipatórias" e a "atenuação da componente
ideológica" (Gomes Canotilho), reduzindo-se as marcas ideológico-
conjunturais comuns no texto de 1976. 2. A extinção programada do
Conselho de Revolução, que levou à redistribuição das suas tarefas: a
fiscalização política do Governo passou a ser feita pela AR; a fiscalização
da constitucionalidade por um órgão criado para esse efeito, o Tribunal
Constitucional. Foi também criado Conselho de Estado, com o objetivo de
ser o órgão de aconselharia do Presidente da República.
A segunda revisão (1989): Foi essencialmente uma "recentração" da
Organização Económica. Visa a abertura de Portugal para a Economia de
Mercado Comum, suprime a "Irreversibilidade das Nacionalizações",
reconhecendo a possibilidade de reprivatização dos meios de produção e
económicos nacionalizados depois do 25 de Abril. (artigo 293º). Introdução
da figura do referendo nacional (artigo 115º). A terceira revisão (1992):
"Revisão cirúrgica" que contempla a assinatura do Tratado de Maastricht e
a entrada de Portugal na CEE (facto este que viria a modificar
instrumentalmente a Constituição material). Modificaram-se os artigos 7º,
nº6 (prevendo formalmente a coordenação entre estados- membros e a
construção do projeto europeu), o artigo 15º (introduzindo a capacidade
eleitoral ativa e passiva para o Parlamento Europeu dos cidadãos dos
estados-membros residentes em Portugal) e o artigo 105º (que retirou do
Banco de Portugal a exclusividade de emissão de moeda, preparando
Portugal para a adesão à moeda única).
A quarta revisão (1997): Renumera muitos artigos da CRP, não incidiu
sobre um aspeto específico. Alarga o sistema de atos legislativos, introduz
a possibilidade de os cidadãos apresentarem propostas à AR (modificação
ao artigo 167º).
A quinta revisão (2001): Outra "revisão cirúrgica", diretamente relacionada
com a criação do Tribunal Penal Internacional, resolvendo os problemas
suscitados pela sua ratificação. Permitiu que Portugal aderisse ao estatuto
de Roma.
A sexta revisão (2004): Introduziu a autonomia legislativa nacional,
passando Portugal a efetivar-se um Estado soberano unitário parcialmente
regional.
A sétima revisão (2005): Criada de modo a permitir o referendo sobre a
Constituição Europeia, no âmbito da cimeira de Lisboa.
Análise da Constituição
Preâmbulo
Nos últimos 3 parágrafos do preâmbulo encontramos um certificado de
origem da Constituição (1); Condensação do projeto político (2); Formula
de aprovação, historicamente datada (3).
Formal complementar
Receção formal da DUDH (artigo 16.o, nº 2 da CRP)
Recessão material- (Leis 8, 16 e 18/75 – artigos 292 e 29, CRP - a
Constituição empresta valor constitucional).
Norma geral – artigo 29º
Norma especial – concretiza/desenvolve a norma geral – art.º 292
Norma excecional – segue no sentido contrário da norma geral
Corresponde à constituição material do Estado português
Princípios fundamentais (art.º 1 ao art.º 11)
Forma de governo: república (chefe de estado eleito por via de sufrágio
direto e universal). (Artigo 1);
Forma de estado: estado unitário parcialmente regional. (Artigo 6);
Sistema de governo: semipresidencialismo (Artigo 190);
Regime democrático – democracia social, cultural e participativa e que não
seja meramente representativa. Vai além da democracia política. (art.º 9, c)
e d))
Elementos de democracia direta (art.245.o, nº 2- nas freguesias de
população diminuta em vez de se eleger uma assembleia de freguesia,
convoca-se um plenário de cidadãos) e semi-direta (art.º 115.o - ex.
referendos);
Estado de Direito Democrático – proteção da confiança dos cidadãos (não
está diretamente, mas pode tirar-se por interpretação do artigo 2).
Democracia – se tivermos a ideia de que o Estado democrático é de que
todas as preferências são equivalentes e ganham as que tirem mais votos
então, neste sentido, o estado democrático pode colocar em causa o estado
de direito. A consonância entre o princípio de estado democrático e estado
de Direito depende daquilo que temos enquanto conceito de democracia.
Quando olhamos para o estado de direito, não podemos ver como um
estado de mera legalidade. No Estado de Direito importa o conteúdo do
tipo de lei que esta a ser observada (separação de poderes e direitos).
“Devíamos falar em estado democrático limitado pelo direito.” - Manuel
Afonso Soares
Art.º 46, nº 4 proíbe a constituição de associações de ideologia fascista
(decorre do princípio de estado de direito). Expressão da limitação do
estado democrático em relação ao estado de direito;
Art.º 3 - titularidade da soberania (povo). Exercício (órgãos de soberania);
Princípio da constitucionalidade (nº 2, art.º 3);
Estado deve garantir os direitos liberdades e garantias. Estado promover a
efetivação dos direitos (art.º 9).
O Domínio do Estado português nas relações internacionais depende
daquilo que a configuração do estado no ordenamento internacional. Na
ordem externa é um poder independente: o Estado não recebe diretrizes de
outros Estados / há uma coordenação com os restantes Estados. (soberania
do poder político).
O povo exerce o poder político através do sufrágio igual, direto, secreto e
periódico.

Parte III
Art.º 109- a lei deve promover a igualdade. Lei das Quotas;
Art.º110 e 111- órgãos de soberania - Governo, Assembleia da República e
Presidente da República;
Art.º 122- única situação que faz referência a portugueses de origem;
Art.º 127 – 5 anos de mandato, toma posse na assembleia.
PODER CONSTITUINTE E FORMAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO
O poder constituinte consiste na vontade soberana de um povo que se
expressa por meio dos seus representantes. Pode ser: originário ou
derivado.
PODER CONSTITUNTE ORIGINÁRIO
O poder constituinte atua nas situações/pode emergir em caso de:
Momento de criação do Estado- momento típico para o exercício do poder
constituinte. Pode assumir várias formas: normal- órgãos do próprio Estado
elaboram a Constituição; exceções- heteroconstituições (constituições
feitas por órgãos exteriores ao Estado; resultam da descolonização de
territórios da Grã-Bretanha e do desmembramento de uniões reais ou
pessoais; ou podem ainda ser Constituições que decorrem de tratados
internacionais (Albânia, Chipre-1960).
Transformação do Estado- o artigo 146º da Constituição 1949 de Bona,
para a RFA previa que em caso de reunificação esta Constituição deixaria
de vigorar. Sucedeu, no entanto, que após a reunificação ela vigora também
nos territórios da ex-RDA.
Mudança de regime do Estado/da ideia de Direito- constituição portuguesa
de 1976 (adaptação do texto constitucional à constituição material); veja-se
o caso das Revoluções, serão ainda um fenómeno jurídico? Durante muito
tempo foram o símbolo do “não-direito”. Mas hoje é claro que são
porventura a mais jurídica das vicissitudes constitucionais, porque se
pretende substituir uma ideia de Direito por outra.
Transição constitucional- mais gradual que a revolução; revisão TOTAL da
Constituição. Porém, na nossa Constituição é impossível devido aos limites
impostos pelo artigo 288º- “Limites materiais da revisão”. Jorge Miranda
defende que a existência de limites de 1º e 2º grau, o que leva a um duplo
processo de revisão. Por exemplo, imaginemos que através de um primeiro
processo de revisão é eliminada a alínea b) do artigo 288º- “A forma
republicana do governo” -, Portugal iria continuar a não ser uma monarquia
(não deixam de ser limites materiais). Posteriormente, através de um
segundo processo, eliminam-se os limites materiais implícitos noutros
artigos.
LIMITES DO PODER CONSTITUINTE
“O poder constituinte é logicamente anterior e superior aos poderes ditos
constituídos (legislativo, executivo e judicial)”. Todavia, é errado dizer que
o poder constituinte equivalha a um poder soberano absoluto. O poder
constituinte está sujeito a limites.
Encontra assim limites (materiais):
Transcendentes- “provêm de imperativos de Direito natural, de valores
éticos superiores, de uma consciência jurídica coletiva”; decorrem também,
aliás, de um Estado não estar isolado internacionalmente- requisitos de
sociabilidade pelo espaço social em que está inserido na cena internacional,
por exemplo, no caso da DUDH (promove os direitos fundamentais
conexos com a dignidade da pessoa humana, assim, seria ilegítimo decretar
normas constitucionais que gravemente os ofendessem); ideias de direito
que fluem internacionalmente.
Imanentes- resulta da ideia de constituição material; decorrem do poder
constituinte natural, este é o poder de afixar princípios axiológicos
fundamentais da sociedade; “decorrem da noção e do sentido do poder
constituinte formal enquanto poder situado, que se identifica por certa
origem e finalidade e se manifesta em certas circunstâncias”.
Heterónomos- aqueles que resultam na ordem interna (ex.: vontade de ter
um Estado federal) e na ordem externa, de algumas componentes do
ordenamento jurídico internacional; referem-se a princípios, regras ou atos
de Direito Internacional (na ordem externa), donde resultam obrigações
para todos os Estados, ou para um certo Estado e reportam-se a princípios e
regras de Direito interno (na ordem interna), quando o Estado seja
composto ou complexo (são tipicamente os limites recíprocos, em união
federativa, entre poder constituinte federal e poderes constituintes dos
Estados federados).
PODER CONSTITUINTE DERIVADO
É previsto na Constituição e tem como objetivo legitimar a sua alteração
em caso de necessidade. É definido como derivado pois, distintivamente do
poder constituinte originário, não surge com autonomia, mas sim DERIVA
de outro poder.
Este poder tem relevância no plano das vicissitudes (modificações)
constitucionais.
RELEMBRAR: vicissitudes são eventos, acontecimentos, factos políticos, sociais e jurídicos
novos. O conjunto de acontecimentos que afetam a vida das pessoas formam vicissitudes. Logo,
“quaisquer eventos que se projetem sobre a subsistência da Constituição ou de algumas das suas
normas.”

Vicissitudes constitucionais quanto ao modo


Revisão Constitucional (stricto sensu; ou auto-rutura).
Derrogação Constitucional- o artigo 292º é uma
derrogação face ao artigo 29º (norma excecional face ao
artigo 29º). No âmbito da mesma Constituição temos um
princípio geral e uma norma excecional que lhe é
contrário.
Transição constitucional- revisão em que não existem
limites de revisão, não é o caso de Portugal.
Revolução- é um ato de força, mas iminentemente
Expressas

Suspensão (parcial) da Constituição- nos termos do artigo


19º da Constituição podemos ter suspensão de determinados
direitos e sempre autorizada nos termos da Constituição.
Costume constitucional- é uma fonte de direito de uma
norma constitucional- artigo 140º.
Interpretação evolutiva da Constituição- interpretar
significa determinar (ou muda) o sentido da norma. O modo
Tácitas (não como uma norma é interpretada na Constituição vai
mudando ao longo do tempo (ex.: artigo 34º, nº1).
propositadas)
Revisão indireta- só acontecem quando uma Constituição
recebe algo formalmente. Por exemplo, se a ONU modificar
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Constituição da República Portuguesa é modificada de
forma indireta, no que toca ao artigo 16º, nº2, visto que esta
declaração é recebida formalmente pela CPR. Basicamente,
é um parâmetro de interpretação.

Vicissitudes constitucionais quanto ao objeto


 Parciais (modificações constitucionais): todas, exceto a revolução e a
transição constitucional;
 Totais: revolução e transição constitucional.
Nota: parciais (modificações constitucionais) difere de alterações (rutura)

Vicissitudes constitucionais quanto ao alcance


 De alcance geral e abstrato: todas, menos a derrogação
constitucional;
 De alcance individual e concreto ou excecional: derrogação
constitucional.
Vicissitudes constitucionais quanto às consequências na ordem
constitucional
 Na evolução constitucional: todas, menos a revolução e a rutura não
revolucionária;
 Com rutura (alterações constitucionais): revolução e rutura não
revolucionária.
Vicissitudes constitucionais quanto à duração dos efeitos
 De efeitos definitivos: todas, menos a suspensão (parcial) da
Constituição;
 De efeitos temporários: suspensão (parcial) da Constituição.
REVISÃO
É a forma mais frequente de introduzir vicissitudes constitucionais.
“É a modificação da Constituição expressa, parcial, de alcance geral e
abstrato e, por natureza, a que traduz mais imediatamente um princípio de
continuidade institucional”. Tem, como finalidade, a autorregeneração e
autoconservação. Basicamente, trata-se da modificação constitucional- já
que é apenas parcial, mantendo-se o essencial da constituição: introduzem-
se mudanças, mas o essencial, o que caracteriza a Constituição, mantém-se.
NOTA: Poder de revisão é um poder constituinte não originário, derivado ou secundário (poder
de modificar essa constituição), mas, simultaneamente um poder constituído, porque é
estabelecido na Constituição (artigo 284º e 285º).

Formas de revisão
Constituição flexível: o processo legislativo e o processo de revisão
constitucional são idênticos. O modo de introduzir uma modificação
constitucional é semelhante à elaboração de uma lei ordinária. Pode ser
material (Grã-Bretanha) ou formal (Israel e Nova Zelândia).
1. Revisão feita pelo órgão legislativo normal sem exigência de maioria
agravada, mas com exigências especiais de tempo e iniciativa- artigo
286º;
2. Revisão feita pelo órgão legislativo normal, mas com maioria
agravada- Constituição de 1976.
3. O órgão legislativo normal decide fazer uma revisão, mas é
destituído e há eleições para um novo Parlamento que fara a revisão
(Constituições de 1822, 1826, 1838; França em 1791, Norte da
Europa).
4. Paralelismo de formas- a forma de revisão depende daquela que foi a
sua forma de elaboração- ex.: EUA.
5. É o Parlamento (a Assembleia Representativa) que elabora a revisão
e há a possibilidade de consulta pública por referendo- ex.:
Constituição francesa atual.
6. Revisão feita por Assembleia Representativa e obrigatoriedade de
recurso ao referendo.
7. Nos Estados federais a revisão da Constituição é mais complexa do
que num Estado unitário, já que os estados federados têm um papel
ativo na revisão da Constituição:
 consentimento dos Estados federados (EUA).
 não oposição expressa- Constituição alemãs anteriores à atual.
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Divide-se em:
Direitos, liberdades e garantias- artigos 24º a 57º da Constituição;
Direitos Económicos, sociais e culturais- artigos 58º a 79º da Constituição.
Regime comum dos Direitos Fundamentais
Aplica-se a qualquer Direito, uma vez que abrange os Direitos, Liberdades
e Garantias e os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. É o núcleo
comum a todos os Direitos Fundamentais.
Artigo 12º- “Princípio da universalidade”
1. “Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres
consignados na Constituição.” - ideia de que a cidadania é o vínculo
que temos com o Estado. É necessário articular com os artigos 14o e
15o (Princípio da equiparação).
2. “As pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres
compatíveis com a sua natureza” - (ex. O Direito à vida não é
compatível com a natureza de uma pessoa coletiva, mas o direito à
defesa da honra ou à associação podem ser aplicáveis).
Artigo 13º- “Princípio da igualdade”
1. Estabelece o princípio da igualdade perante a lei, não de uma igualde
geral.
2. Enumera as situações que tipicamente/historicamente mais forma
usadas para discriminar grupos ou pessoas na sociedade. Porém,
trata-se de uma lista aberta, não se restringindo somente aos casos
enumerados, mas a todas as situações em que, de forma análoga,
possam originar discriminação injustificada.
Note-se ainda que este preceito não impossibilita a discriminação positiva
por exemplo, pelo artigo 71º, os cidadãos portadores de deficiência
positivamente gozam da garantia de efetivação e realização dos direitos
pelo Estado. A discriminação positiva é, a luz da doutrina, algo não é
permitido como desejável nos casos justificados.
Artigo 16- “Âmbito e sentido dos Direitos Fundamentais”
1. Cláusula de Magnanimidade/Generosidade do Legislador: havendo
Direitos Fundamentais previstos fora da Constituição, em regras e
tratados do Direito Internacional, ou na lei ordinária, estes são
considerados Direitos Fundamentais à luz da Constituição. (limites
Heterónomos)
2. Remissão extra-sistemática e receção formal da Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Os preceitos constitucionais devem
ser interpretados em harmonia com a DUDH.
Instrumento Organização Tribunal Local
DUDH. ONU Tribunal Haia
Declaração (criada em Internacional de
Universal dos 1945) Justiça
Direitos
Humanos- 1948
CEDH: Conselho da Tribunal Estrasburgo
Convenção Europa (criado Europeu de
Europeia dos em 1946) Direitos
Direitos do Humanos
Homem
(Humanos)-
1950
CDFUE: Carta União Tribunal de Luxemburgo
dos Direitos Europeia (nome Justiça da União
Fundamentais da alterado em Europeia)
União Europeia- 1992, começa
2000 por ser
Comunidade
Económica
Europeia-
Tratado de
Roma, 1957)

Artigo 20º- “Acesso ao Direito e a tutela jurisdicional efetiva”


Este artigo é um “artigo-feixe” de direitos, que contém várias garantias ao
acesso ao Direito e à justiça, que contribuem para uma maior segurança
jurídica e justiça. Garantido que o acesso ao Direito, aos tribunais, à
representação por um advogado e à defesa dos seus direitos e interesses
constitucionalmente protegidos, não possa, por insuficiência de meios
económicos ser denegada.
Artigo 21º- “Direito de resistência”
O Direito de resistência constitui uma forma de tutela não-jurisdicional do
cidadão, dando-lhe a capacidade de legitimamente repelir pela força
qualquer agressão ou resistir a uma ordem que viole os seus direitos,
liberdades e garantias. É um mecanismo de defesa dos direitos do cidadão
contra a ação do Estado. O Habeas Corpus (art.31º) é uma medida
constitucionalmente prevista de efetivação da tutela de Direito de
resistência.
O primeiro autor que estuda este direito é São Tomás de Aquino.
Artigo 22º- “Responsabilidade das entidades públicas”
Prevê o princípio da Responsabilidade solidária: quando uma ação ou
omissão por parte de um funcionário do Estado (em exercício das suas
funções) resulte num prejuízo ou violação dos direitos, liberdades e
garantias para outrem, o Estado é civilmente responsável, devendo pagar a
indemnização ao sujeito afetado.
Artigo 23º- “Provedor de Justiça”
Prevê a existência de um Provedor de Justiça, uma figura não ligada aos
tribunais, desprovido de poder vinculativo e decisório (tutela não
jurisdicional). Advém do conceito de Ombudsman (Homem do Povo). A
possibilidade de nos dirigirmos a um Provedor de Justiça constitui um
direito de petição qualificado.
Regime específico dos Direitos, liberdades e garantias (DLG)
O regime específico de Direitos, liberdades e garantias, corresponde às
normas/traços que devemos identificar quando estamos a lidar com esses
mesmos direitos, previstos nos artigos 24º a 57º.
Dentro deste regime específico existem três dimensões:
Orgânico – quem tem competência para regular determinada matéria. Nos
termos do artigo 165º, alínea b), temos a possibilidade de previsão
legislativa através de lei da AR ou Decreto-Lei do Governo com
autorização.
Limites de revisão – Como está previsto no artigo 288.o, alínea d), as leis
de revisão constitucional deverão respeitar os DLG dos cidadãos. São
limites ao poder constituinte derivado e, mesmo que tenhamos uma revisão
da constituição, estes DLG deverão ser sempre respeitados. Por outras
palavras, quando neste artigo se faz referência a limites materiais de
revisão constitucional, procura-se dizer que se pretende que existam DLG,
aliás, estes DLG, com a formulação que já se encontra na nossa
constituição. É claro que estes direitos podem sofrer modificações mínimas
e que estes limites não se aplicam, caso queiramos acrescentar direitos.
Material – O artigo 18º diz-nos respeito a este regime material, referindo-se
às regras específicas dos DLG. No nº 1 temos, desde logo, dois princípios:
Aplicabilidade direta
Ideia de que as normas da constituição que preveem Direitos, liberdades e
garantias não necessitam da intervenção de legislador ordinário para serem
evocadas/aplicadas. Ou seja, eu posso evocá-los diretamente, sem
necessidade de intervenção desta figura.
Vinculação de entidades públicas e privadas
O grau de vinculatividade em relação a DLG, vale para TODAS as
entidades públicas e TODAS as entidades privadas. Contudo, é mais difícil
a garantia/fiscalização em entidades
privadas (os DLG, possuem eficácia vertical em entidades públicas e
horizontal em entidades privadas (em alemão, Drittwirkung).
O nº 2 e 3 dizem respeito ao carácter restritivo das restrições. As restrições,
por sua vez, são formas de resolver as situações de conflito ou colisão.
Nota: Conflito ≠ Colisão → O Conflito corresponde a uma
interface/sobreposição entre dois ou mais direitos (ex. direito à liberdade de
expressão e direito à honra, quando quero expor num jornal a
homossexualidade do meu vizinho). A Colisão refere-se a situações em que
temos de um lado um direito e do outro, um bem da sociedade/ do Estado.
(ex. tenho direito à informação e, com base nisto exijo informações sobre
um possível ataque cibernético – coloca em causa a segurança pública).
As restrições são forma de resolver as situações de conflito ou de colisão.
Durante muito tempo, o direito mais importante cessava perante o outro.
Contudo, esta seleção hierárquica acabou por ser abandonada visto que,
agora, todos os direitos possuem o mesmo valor/importância. Assim,
atualmente, utiliza-se o critério da ponderação casuística (aferir de acordo
com as situações de cada caso) / concordância prática (nenhum direito vai
ser eliminado, ou seja, ambos cedem, minimamente, até determinado
patamar). Estes critérios permitem-nos chegar a soluções diferentes, com os
mesmos direitos, por exemplo: Direito ao descanso e direito à liberdade de
criação artística → Eu toco oboé, todos os dias, durante a noite e incomodo
o meu vizinho. Como resolver a situação?
Pode-se estabelecer que, até à meia-noite prevalece o direito de liberdade
de criação artística e, a partir daí, o direito ao descanso. Nestas situações
surge o princípio da proporcionalidade, que deve ter três critérios
cumpridos: necessidade, adequação da causa ao fim e a proibição de
excesso → artigo 18.o, nº 2 e 3, requisitos:
Exigência de lei formal;
Apenas nos casos expressamente previstos na Constituição. Face a este
requisito surgem Teorias de autores diferentes (Jorge Miranda, Jorge
Novais...) que querem dizer a mesma coisa e que tentam resolver o
problema em termos hermenêuticos (do ponto de vista da interpretação)
antes de se chegar ao artigo 18.o, nº 2. Aos casos expressamente previstos
na constituição temos de juntar estes outros:
Restrições implícitas – diz que todos os direitos fundamentais previstos na
constituição são restrições dos demais.
Limites imanentes - todos os direitos fundamentais previstos na
Constituição são limites imanentes dos demais.
Conversão de Direitos Prima facie (primeira vista) em direitos
definitivos
Quando observamos pela primeira vez um direito na constituição, temos a
ideia de que ele tem um âmbito de amplitude muito grande. Porém, se
depois percebermos que ele tem área de sobreposição com outros, tornamos
esse direito num direito definitivo.
Tatbestand (previsão) alargado – quando olhamos para um direito previsto
na CRP, olhamos para aquela revisão que encontramos no artigo. Se
pensarmos naquela previsão temos a ideia de direito prima facie, mas
depois percebemos que ele tem o tal tatbestand restrito (previsão de direito,
depois de retirado tudo aquilo que conflitua com ele).
Limitar-se ao necessário, ou seja, deve limitar-se ao necessário, ao
adequado e ao não excessivo;
Salvaguarda de outros direitos – conflito;
Salvaguarda de interesses constitucionalmente protegidos – colisão;
Revestir carácter geral e abstrato;
Não podem possuir efeito retroativo:
Não podem diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos
preceitos constitucionais - Teoria do ovo estrelado: as restrições podem
afetar a “clara”, mas o núcleo nunca pode ser afetado. Ex. liberdade de
manifestação (é obrigatório comunicar o trajeto da manifestação → não
afeta o núcleo do direito de manifestação). Outro exemplo: os
manifestantes devem prestar uma caução de 5 000€ para participar na
manifestação (já afeta o núcleo da liberdade de manifestação).
Outras situações de afetação do direito que não são restrição:
Suspensão de direito – artigo 19º
A suspensão difere de restrição visto que, só pode ocorrer no estado de
sítio/emergência nos termos deste artigo, ocorrendo sempre um tempo
determinado. Por outras palavras, a suspensão “congela” o direito durante
algum tempo.
O art.19º, nº 6 é uma borla do legislador. Que sentido faria suspender o
direito à vida? E o direito à integridade física? Ou seja, não se trata de uma
manifestação de hierarquia de direitos. Apenas procura dizer que, não há
qualquer circunstância que justifique esta suspensão.
Perda de direitos
Artigo 269º - No passado, surgiu uma teoria das relações especiais de poder
em que se entendia que, pelo facto de os funcionários públicos terem esta
especial relação de serviço público podiam sofrer restrição de direitos.
Agora, no nosso panorama constitucional não é permitida a perda de
quaisquer direitos civis, profissionais ou políticos de acordo com o artigo
30º, nº 4 e 5.
Renúncia a direitos/ Autolimitação de direitos
Podemos falar da renúncia à titularidade ou da renúncia ao exercício - ideia
de autolimitação.
Ex. o estado só me permite participar em ensaios clínicos aprovados pelas
comissões de ética, mas eu quero participar num não aprovado.
Situação de afetação positiva de direitos:
Acumulação - O sujeito, numa dada situação, encontra-se protegido por
mais do que um direito previsto na Constituição; Ex. Numa manifestação
em frente ao Parlamento, na qual os manifestantes mostram cartazes como
forma de protesto. Esses manifestantes estão, simultaneamente, a expressar
os direitos de Liberdade de Reunião e Manifestação previstos no artigo 48º,
de Expressão (artigo 37º) e de Criação Cultural (artigo 42º), sem que haja
conflito entre esses direitos.
Concorrência inautêntica – Situação de uma norma geral e de uma norma
especial que prevalece sobre a anterior. Por exemplo, o artigo 51o
(Associações e partidos políticos) é uma norma especial que já assume a
norma geral do Artigo 46o (Liberdade de Associações). Desta forma, não
temos um caso de acumulação, pois, numa determinada situação como esta,
a norma especial sobrepõe-se à norma geral.
Regime específico dos Direitos Económicos, Sociais e culturais (DESC)
Os Direitos Económicos, Sociais e Culturais são os designados direitos de
2ª geração, próprios do Estado Social de Direito, do estado que necessita de
acrescentar algo à sua Constituição (por sua vez, os DLG são direitos
próprios de um Estado liberal).
Necessariamente encontramos os DESC associados a determinadas tarefas
do Estado, de acordo com a alínea b) do artigo 9º. Possuem, pura e
simplesmente, origem doutrinal, ou seja, são construídos pela doutrina, pela
jurisprudência do tribunal, não resultando diretamente da constituição.
Assentam em três traços essenciais:
1. Dependência legal – porque os DESC estão associados a tarefas do
Estado há uma certa dependência do seu grau de efetivação.
Dependem da construção que é feita pelo legislador ordinário, de
modo a apreender o seu conteúdo último;
2. Princípio da Reserva do possível– os DESC serão efetivados na
medida do possível (de acordo com a capacidade financeira do
Estado para os efetivar – reserva dos cofres cheios). A garantia
destes direitos estaria dependente destes recursos financeiros, do
financeiramente possível.
3. Não retrocesso (proibição do retrocesso) – a concretização dos
DESC avança progressiva e gradualmente com base naquilo que é
financeiramente possível, sendo que, a partir do momento em que
chegamos a determinado grau de efetivação, não é possível voltar
atrás. Quer isto dizer que, ou há uma maior concretização ou se
mantém igual.
Dogmática unitária dos Direitos Fundamentais
A dogmática unitária de Direitos Fundamentais, desenvolvida por Reis
Novais, Vasco Pereira da Silva e André Salgado de Matos, na FDUL,
corresponde a uma teoria que defende a não existência de regimes
específicos, quer para os DLG, quer para os DESC. Contudo, não nega que
existam duas categorias distintas de direitos com natureza ou história
diferentes. Por outras palavras, esta teoria olha para o regime específico dos
DLG e dos DESC e procura verificar se são normas exclusivas de cada uma
destas categorias de direitos.
Motivos pelos quais o regime específico dos DLG não faz sentido:
 A aplicabilidade direta (artigo 18º, nº 1) só funciona para os DLG?
→ Não é por não termos a intervenção do legislador ordinário que
não temos direitos, apenas é mais complicado de se perceber como
esse direito pode ser exercido.
 A vinculação de entidades públicas ou privadas também não vale
para os DESC?
 Carácter específico das restrições dos DLG → O facto de as
restrições para salvaguarda do núcleo essencial de direitos ser
exclusivamente dos DLG significa que pode haver restrição dos
DESC sem um objetivo, quando isso não sirva para salvaguardar um
outro bem ou interesse constitucionalmente protegido?
 Carácter abstrato e geral das leis restritivas → Se é exclusivo dos
DLG, isto significa que nos DESC se poderia restringir o direito de
um indivíduo sem haver preocupação com a generalidade?
NÃO! – Nada disto é específico dos DLG. É específico aquilo que resulta
de limites materiais de revisão, mas quanto ao regime material específico
dos DLG, o mesmo não se aplica.
Motivos pelos quais o regime específico dos DESC não faz sentido:
 Dependência legal - qualquer direito pode estar a necessitar da
intervenção do legislador, seja ele pertencente aos DESC ou aos
DLG.
 Reserva do possível - É uma falácia pensar que só os DESC têm
custos. Quer a garantia da efetivação destes direitos como a dos DLG
implicam que o Estado possua capacidade financeira. Ademais,
podemos configurar uma reserva do possível que não seja financeira:
no artigo 35.o temos consagrado o direito à proteção de dados
pessoais que se gere de acordo com a reserva do que é
tecnologicamente possível.
 Princípio do não retrocesso – por não estar previsto na CRP e por
não haver formas de o garantir, o Tribunal Constitucional rege-se por
um Princípio de Proteção da Confiança dos Cidadãos, que se retira
por interpretação do artigo 2º (subprincípio do Estado de direito
democrático), correspondente à não afetação das expectativas
razoáveis dos cidadãos.
Em suma, como já mencionado, este conjunto de autores defende que não
existem regimes materiais específicos para os DLG e os DESC, mas sim,
um único regime aplicável, o dos Direitos Fundamentais.
Regime aplicável aos Direitos, Liberdades e Garantias de natureza
análoga
De acordo com o artigo 17º, o regime dos DLG não se aplica
exclusivamente a estes direitos, mas também aos “direitos fundamentais de
natureza análoga” – direitos fundamentais extravagantes ou direitos
fundamentais avulsos:
 Direitos fundamentais extravagantes: a Constituição admite a
existência de direitos fundamentais “extravagantes”, que
correspondem aos direitos revelados fora do catálogo constitucional
e constantes de lei ou tratado (n.o 1 do artigo 16º) como, por
exemplo, as normas do Código Civil.
 Direitos fundamentais análogos: encontram-se previstos na
Constituição, mas fora da Parte I (direitos “fora do catálogo”). Ex.
Artigo 268.o - Direitos e garantias dos administrados.

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