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Na verdade trata-se de uma realidade variável e cessante, pois, como se sabe, nem
sempre existiu na história da humanidade, mas tem-se mantido estável na sua
essência. Significa isto que apesar das modificações sensíveis que tem vindo a
conhecer no decurso das diferentes épocas históricas, bem assim como das
diferentes concepções que o têm acompanhado, a sua natureza mantém-se estável.
Deste modo, constata-se que o Estado de hoje, herdado da idade contemporânea,
é ainda um modo de organização que satisfaz os interesses dos cidadãos, se
comparado com os outros modos de organização que têm surgido, de forma
acelerada.
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➢ a originalidade do poder- implica o reconhecimento de que o Estado
expressa-se em função da qualidade do poder político de que é
detentor, no caso e necessariamente um poder político originário, que
se mostra constitutivo dele mesmo, de tal sorte que é o próprio Estado a
auto-determinar-se e a auto-organizar-se nos seus diversos planos de
organização e de funcionamento, poder esse que é o poder constituinte;
➢ a sedentariedade do exercício do poder- significa que o Estado, na
prossecução dos seus fins, carece de uma localização geográfica-
espacial, uma vez que a sua actividade necessariamente se lança num
território, não havendo, por conseguinte, Estados virtuais, nem Estados
nómadas.
➢ a coersibilidade dos meios - significa que o Estado é depositário
máximo das estruturas de coersão, que podem aplicar a força física para
fazer respeitar o Direito que produz e a ordem político-social que
mantém.
b)-a justiça: a justiça pode ser comutativa e distributiva. A justiça comutativa está
relacionada com o estabelecimento de relações de igualdade, abolição das
situações de privilégio e com critérios uniformes de decisão. A justiça distributiva
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tem o sentido de dar a cada um o que lhe pertence pelo mérito ou pela sua
situação real, numa visão não necessariamente igualitária.
c)-o bem-estar: o bem-estar tem que ver com a situação económica (bem-estar
económico), ou seja, da provisão de bens que o mercado não pode fornecer ou não
pode fornecer satisfatoriamente. Mas, para além do bem-estar económico existe o
bem-estar social que se traduz na prestação de serviços sociais e culturais a cargo
do Estado, normalmente situados fora do mercado.
Assim é que o conceito de Estado acolhe diferentes acepções que dão lugar a
diferentes acções e nele se amparam, designando muitas outras perspectivas da
estruturação do Estado, que incidem sobre os aspectos que se pretende realçar,
concretamente. Veja-se os exemplos que se seguem:
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Estado no Direito Judiciário (Estado-Poder Judiciário) - tem que ver com o
Estado enquanto pessoa colectiva pública que desenvolve a função
jurisdicional através dos órgãos judiciais, por forma a realizar a
administração da justiça;
Estado no Direito Privado- situa-se no domínio do Direito comum e
constitui tudo que não requeira a regulação dada pelos capítulos do Direito
Público.
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Recebe o nome de cidadania, o conjunto de cidadãos de um Estado que adquire o
substantivo colectivo de povo. A consideração de cidadão é um valor acrescido ao
nome povo que decorre do vínculo jurídico- público com o Estado que lhe confere
projecção em relação à actividade do Estado fazendo com que ganhe uma
dimensão própria que evidencia a vertente comunitária em contraponto a outras
estruturas, que possuindo também uma parcela do poder político não ostentam
aquele substracto pessoal.
Para além disso, é preciso ter em conta que a terminologia cidadania representa
um substracto humano que dentro do Estado como pessoa jurídica colectiva não é
apenas visível em muitos domínios, como também, e mais relevante, é em função
da sua essencialidade, que se desenvolvem os objectivos para a satisfação e
protecção sociais resultantes das respectivas actividades estaduais.
a)-na escolha dos governantes (ocorre nos sistema democráticos e é uma escolha
efectuada por pessoas);
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a população-(pessoas residentes ou habitantes no território estadual,
independentemente do vínculo de cidadania, nacional ou estrangeiro);
a nação-(as pessoas que se ligam entre si com base num sentimento comum
que decorre de um processo de inclusão devido a laços socio-psicológicos,
resultante da comunhão da mesma cultura, religião, etnia, língua, tradição
e que por força disso gozam de tratamento igual da parte das autoridades
estaduais, formando uma comunidade com esses traços identitários;
a pátria-(é um lugar. O lugar dos antepassados, o lugar onde viviam os país
que formam uma conjugação de factores territoriais e histórico-culturais);
a nacionalidade -(stricto sensu: é a qualidade atribuída a pessoas colectivas
ou a bens móveis registáveis, como aeronaves ou a navios, que os associa a
determinada ordem jurídica, tornando-a aplicável).
A relação jurídico-pública de cidadania pode ser vista sob um duplo plano: como
estatuto e como direito.
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O elemento funcional do Estado corresponde à soberania e expressa a organização
de meios que se destinam a tornar operacional a actividade estadual com vista a
alcançar os respectivos fins.
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cidadãos e demais residentes definindo áreas de protecção, de direitos, segurança
etc.)
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Os Estados não soberanos apesar do seu condicionalismo são verdadeiros Estados
para o Direito Constitucional e desdobram-se em duas modalidades
estruturalmente diferentes e que constam dos respectivos textos constitucionais.
b)- Os Estados membros das uniões reais: a união real é uma forma de Estado
composto e corresponde ao vínculo existente entre dois ou mais Estados em que se
fundem ou são partilhados órgãos particulares de cada Estado de modo a passarem
a existir um ou mais órgãos comuns (pelo menos o Chefe de Estado é comum).
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inexistente ou, quando existe, é limitada, enquanto que na união pessoal a
capacidade jurídica internacional dos Estados é plena. Por último aponta-se o
facto de na união real existir legislação comum a toda a União (aprovada pelos
órgãos da União), o que não sucede na união pessoal em que existe apenas as
legislações internas de cada Estado. Geralmente as uniões reais são monarquias,
mas nada obsta uma união real em regime republicano. A palavra união real
nada tem que ver com realeza, mas com união de facto.
Htt:pt.wikipedia.org/wiki/Uri%C3%A3o-real.
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-em sede dos órgãos estaduais (é no território que se situa a capital do Estado
que pode ser transferida para qualquer ponto do território nacional);
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No seu território soberano, o Estado organiza a sua competência de acordo com
três características fundamentais:
c)-a exclusividade (o poder do Estado não é partilhável com mais ninguém ao seu
nível de soberania).
(i)- Teoria patrimonial (segundo a qual o direito sobre o território, sendo dominial,
teria as mesmas características do direito de propriedade do Direito Civil);
(iii)- Teoria do direito real institucional (idêntica à primeira, mas mitigada pela
função dos servidores estaduais)
-o espaço terrestre;
-o espaço marítimo;
-o espaço aéreo.
Mas é por vezes possível observar-se zonas com poderes menos intensos que não
são de soberania, mas que expressam importantes vias de exploração ou de
aproveitamento, para lá dos poderes de jurisdição e de fiscalização, por vezes,
numa difícil rede de direitos e deveres. É o caso da zona contígua e da zona
económica exclusiva.
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O entendimento do Estado como comunidade política e como poder político põe
acento tónico no facto do“[…] o Estado ser uma comunidade constituída por um
povo que, a fim de realizar os seus ideias de segurança, justiça e bem-estar,
assenhoreia-se de um território e nele se institui, por autoridade própria, o poder
de dirigir os destinos nacionais e de impor normas necessárias à vida colectiva”,
conforme refere Diogo Freitas do Amaral.
Mas “não há uma ideia de poder sem uma ideia de Direito e a autoridade
dos governantes em concreto tem de ser uma autoridade constituída –
constituída por um conjunto de normas fundamentais, pela Constituição,
como quer que esta se apresente, como refere Jorge Miranda. Para este
autor não pode haver estatuto de poder sem estatuto da comunidade
política a que se reporta, nem limitação da autoridade dos governantes
sem consideração dos governados.
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Da coesão nacional, nacionalismo e Estado constitucional resulta a
manutenção da união do povo do Estado e tem constituído um grande
desafio desde o século XIX. No que a África diz respeito, desde a década
de 60 do século passado, vários foram os processos de formação de novos
Estados pluriétnicos. Quer dizer, Estados cuja composição do povo não
era baseada num único grupo humano homogéneo no que à língua,
cultura história concerne. Uma etnia pode sempre aspirar a constituir-se
como o povo de um Estado. Quando essa aspiração se traduz na prática
de actos políticos que visam formar um novo Estado, ela pode ter lugar
no contexto de várias etnias ou uma etnia que vive num determinado
território. Se existir apenas uma etnia ou apenas uma colectividade
humana, a coesão nacional não será posta em causa. Porém, quando a
formação do Estado tiver como substrato humano várias etnias ou várias
colectividades humanos com línguas e culturas diversas, a coesão
nacional poderá estar em causa.
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como a situação mais frequente do que os Estados com povos com
homogeneidade linguística e cultural.
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de um grupo, formar o seu próprio Estado em contraposição a outra
colectividade ou grupo humano.
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através da submissão dos Estados mais fracos à protecção de outros mais
fortes.
Estado Grego
Estado Romano
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No século III D. C. dá-se a extensão da cidadania a todo o Império; e no
século IV D. C., com o surgimento do cristianismo e a sua ulterior
consagração como religião oficial, dá-se a valorização da pessoa humana e a
contestação do poder absoluto do poder imperial.
Estado Medieval
Alguns autores defendem que na Idade Média não há Estado por que o
feudalismo dissolve a ideia de Estado: o poder privatiza-se e passa do
“imperium” para o “dominium” (concepção patrimonial do poder). As
estruturas urbanas autónomas (comunas, concelhos, mesteres,
universidades) vão-se desenvolvendo à margem de qualquer estrutura
centralizada de poder. A realeza, no topo da hierarquia feudal, não tem
qualquer relação directa com os vassalos, o Rei não tem qualquer relação
com os súbditos2.
Estado Absoluto
-O Rei centraliza o poder e os estamentos desaparecem porque o poder
2 Freitas do Amaral entende que na Idade Média, em Portugal, existia antes um regime senhorial. Neste regime
existia uma forte descentralização política, concepção patrimonial das funções públicas (baseadas na família, na
propriedade e na sucessão hereditária), colocação do príncipe como centro da vida política (monarquia de direito
divino), elaboração das doutrinas da origem popular do poder (São Tomás de Aquino) e surgimento dos primeiros
documentos esboçando a definição de garantias individuais face ao Estado (Magna Carta).
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absoluto pertence ao Rei que tem o poder todo e faz as leis (embora
limitado pelo Direito e sobremaneira pelas Leis Fundamentais. Ex: Luís XIV:
“L’État c’est moi”
Num primeiro momento o Rei afirma-se por “direito divino”; num segundo
momento, o iluminismo introduz o “despotismo iluminado”
-O critério da acção do Estado assenta na conveniência e na defesa do bem
público, e não na justiça ou legalidade
-Mas é importante notar que o Estado Absoluto permitiu a unidade do
Estado, através do papel da lei como fonte de direito, pela formação de
exércitos nacionais e pela intervenção em áreas até aí inéditas, como a
economia ou a assistência.
Estado Moderno
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Soberania é o poder supremo e perpétuo, independente do Estado e da
forma de Governo e que implica uma imediaticidade entre o Estado e o
indivíduo que não acontece, por exemplo, na sociedade feudal.
Estado Constitucional
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de um único modelo de Estado. Todos os Estados actuais têm Constituição,
sem traduzir, no entanto, a mesma forma de encarar a limitação do Poder ou
sequer mesmo a existência dessas limitações.
Estado Patrimonialista
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injusto de apropriação privada da coisa pública institucionalizam uma
prática criminosa.
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2-É cidadão angolano de origem o filho de pai ou mãe de nacionalidade angolana, nascido em Angola ou no
estrangeiro;
3-Presume-se cidadão angolano de origem o recém-nascido achado em território angolano.
4-Nenhum cidadão angolano de origem pode ser privado da nacionalidade originária.
5-A lei estabelece os requisitos de aquisição, perda e reaquisição da nacionalidade angolana. (Remete para a
alínea a) do artigo 164.º da CRA)
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participação dos cidadãos no governo dos mesmos [self-government] (Ver Canotilho
2003: 224). Esta definição teórica encontra-se em perfeita harmonia com a
definição constitucional segundo a qual “Angola é uma República soberana e
independente” (artigo 1.º da CRA), na qual “O Estado respeita e protege a pessoa e
a dignidade humanas” (artigo 31.º/2 da CRA) e a “soberania, una e indivisível,
pertence ao povo que a exerce através do sufrágio universal, livre, igual, directo,
secreto e periódico, do referendo e das demais formas estabelecidas pela
Constituição, nomeadamente para a escolha dos seus representantes” (artigo 3.º/1
da CRA), quer dizer através da democracia representativa, mas também através da
democracia participativa (artigo 2.º/1 da CRA), estando mesmo o Estado obrigado a
“ defender a democracia, assegurar e incentivar a participação democrática dos
cidadãos e da sociedade civil na resolução dos problemas nacionais” (artigo 21.º/l
da CRA).
A República só é soberana quando for autodeterminada e autogovernada. Para
haver um autogoverno republicano impõe-se a observância de três regras: (1) uma
representação territorial; (2) um procedimento justo de selecção dos
representantes; (3) uma deliberação maioritária dos representantes limitada pelo
reconhecimento prévio de direitos e liberdades dos cidadãos, como exposto nos
artigos 1.º, 2.º, 3.º, 4.º, 5.º e 6.º a Constituição da República de Angola.
O elemento espacial da República de Angola refere-se não só ao espaço físico de
Angola, composto por limites, como também à sua organização territorial no qual é
exercido o poder político (artigo 5º da CRA), sendo, ainda de referir os recursos
naturais que o integram (artigo 16º da CRA), porquanto o Estado exerce a sua
soberania sobre a totalidade do território angolano: terrestre, marítimo e aéreo.
A relevância constitucional dada ao território de Angola inclui ainda a afirmação do
princípio da integridade territorial e da inalienabilidade das suas parcelas (artigo
5º, nº6, da CRA).
O conceito de dignidade humana significa o respeito que toda pessoa humana deve
merecer, por parte de todas as entidades privadas ou públicas. Ela é, ainda
segundo o mesmo Autor, uma qualidade intrínseca da pessoa humana.
Ingo Wolfgan define juridicamente a dignidade da pessoa humana como sendo “a
qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da
comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar a sua participação activa e co-
responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos” (Vide Kildare Gonçalves de Carvalho, op., cit., p. 674).
Desta definição jurídica de pessoa humana facilmente se retira a consequência de
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que o princípio da dignidade humana serve de fundamento para todos os direitos,
liberdades e garantias da pessoa humana.
Paulo Otero entende que é possível formular-se “uma densificação conceptual
mínima de inspiração kantiana” do princípio da dignidade humana, segundo a qual
“a dignidade humana é lesada quando um ser humano concreto é degradado em
mero objecto, instrumento ou simples coisa, sendo descaracterizado como sujeito
de direitos ou desconsiderado como pessoa dotada de inteligência e liberdade”
A densificação acima formulada, ainda segundo Paulo Otero, tem origem em quatro
dimensões. (i)-a concepção judaico-cristã para a qual a pessoa humana é criada à
imagem e semelhança de Deus; (ii)- a concepção renascentista de Mirandola para a
qual a pessoa humana é dotada de razão e liberdade, que lhe permite ter a
capacidade de determinar o seu próprio destino, em razão da vontade que se funda
na liberdade e soberania; (iii)- a concepção kantiana da pessoa humana para qual
esta é um fim em si mesma e insusceptível de degradação em meio, coisa ou
objecto e (iv)- a concepção existencialista da pessoa humana para a qual dignidade
humana deve ser particularizada, é a dignidade de cada ser humano vivo e
concreto.
Na ordem constitucional angolana a dignidade da pessoa humana constitui um
dos pilares de uma República que se pretende um Estado democrático de direito.
Antes da aprovação da Constituição definitiva (CRA), a Constituição provisória (Lei
Constitucional de Angola – LCA) consagrava já no artigo 2.º a dignidade da pessoa
humana como um dos fundamentos da República.
O artigo 1.º da CRA reza que a República se baseia na “dignidade da pessoa humana
e na vontade do povo angolano” e que ela “promove e defende os direitos e
liberdades fundamentais do homem, quer como indivíduo quer como membro de
grupos sociais organizados, e assegura o respeito e a garantia da sua efectivação
pelos poderes legislativo, executivo e judicial, seus órgãos e instituições, bem
como por todas as pessoas singulares e colectivas” (artigo 2.º/2 da CRA). A pessoa
humana é um dos fundamentos da República. Esta deve servir a pessoa humana e
não o contrário, jamais a pessoa humana deve tornar-se um meio ao serviço da
República para se atingirem quaisquer que sejam os fins em vista.
Três ideais que informam o conteúdo do princípio da dignidade humana,
segundo Gomes Canotilho
(1) O “indivíduo conformador de si próprio e da sua vida segundo o
seu próprio projecto espiritual”
A pessoa humana tem a liberdade de escolher as escolas nas quais quer
ser educada, a profissão que quer seguir, as pessoas com quem se quer
associar e tem liberdade de expressão quanto à forma da sua aparência
pessoal; entre outras opções mais cujo centro autónomo e final de
decisão deve ser cada indivíduo em concreto e não o Estado, o partido, a
igreja ou outro sujeito ou instituição.
No entanto, a realização da pessoa humana assenta na possibilidade de
esta dispor de oportunidades que potenciam a busca da felicidade por
ela autonomamente definida. Essas oportunidades traduzem-se na
disponibilidade de direitos políticos, civis, económicos, sociais e culturais
que permitem o desenvolvimento da personalidade humana, individual.
Contudo o homem só se realiza em sociedade. Esta é formada por
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indivíduos e estes, tal como Estado, têm o dever de contribuir para a
realização dos projectos uns dos outros, respeitando os direitos,
liberdades e garantias dos seus semelhantes.
O homem é um animal político, que como indivíduo tem a
responsabilidade de ser um contribuinte activo e responsável, em
solidariedade, para a concretização dos direitos dos seus semelhantes.
Da condição de ser social, de ser político, sem prejuízo dos direitos de
que é titular, decorrem para todos os indivíduos em concreto deveres
para com a família, a sociedade, o Estado e outras instituições
legalmente reconhecidas. Cada pessoa em concreto deve “respeitar os
direitos, as liberdades e a propriedade de outrem, a moral, os bons
costumes e o bem comum; respeitar e considerar os seus semelhantes
sem discriminação de espécie alguma e manter com eles relações que
permitem promover, salvaguardar e reforçar o respeito e a tolerância
recíprocos” (artigo 22.º/3 da CRA).
Esses direitos existem no plano escrito, formal, e a esta existência é
preciso juntar um efectivo respeito e garantia dos mesmos pelos órgãos
do Estado, pelas pessoas singulares e pelas demais pessoas colectivas.
(2)-O indivíduo como limite e fundamento do domínio político da
República
Note-se que “A partir das revoluções liberais do séc. XVIII, a relação
política deixou de ser vista a começar do Estado, para ser visualizada da
posição do súbdito. Desta forma, o indivíduo passou a constituir a razão
do Estado. O fundamento ético da democracia, por esta razão, consiste
na autonomia do indivíduo, de todos os indivíduos, sem distinção de
qualquer natureza” (Fernando Jayme, Direitos humanos e a sua
efetivação pela corte interamericana de direitos humanos, Belo
Horizonte: Del Rey, 2005, p. 35). Os actos do Estado (os seus conteúdos)
visam realizar a pessoa humana – fundamento do domínio político – e ao
mesmo tempo o respeito pela pessoa humana deve informar a maneira (o
modo) como esses actos são praticados – limite do domínio político.
O indivíduo constitui o fundamento do domínio político na medida em
que o poder político, materialmente, só se torna legítimo enquanto for
capaz de concretizar os fins do Estado, o bem-estar, a justiça e a
segurança da pessoa humana.
O indivíduo constitui um limite ao domínio político, porque o poder
político deve prosseguir os fins a que está sujeito sem violar os direitos,
liberdades e garantias da pessoa humana.
Os poderes públicos praticam actos ou abstêm-se de os praticar
(omissões) com repercussões na esfera de direitos e liberdades da pessoa
humana. O domínio político significa poder de impor a obediência da
pessoa humana, dos cidadãos e dos estrangeiros, em relação às ordens
dimanadas dos órgãos do Estado (dos seus titulares, agentes e
funcionários). Todavia, conforme prescrito pela CRA (art. 1.º e 2.º) a
dignidade da pessoa humana e os direitos e liberdades desta
constituem limites ao exercício dos poderes públicos, por um lado. Por
outro lado, os actos dos poderes públicos têm como fundamento a
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criação das condições indispensáveis à realização de cada pessoa humana
em concreto, segundo o que a CRA determina através da atribuição de
tarefas ao Estado e através de princípios de organização económica
financeira e fiscal (artigos 1.º e 21.º, 89.º a 104.º da CRA) e sob a forma
de direitos, liberdades e garantias (artigos 22.º a 88.º).
Quanto ao facto de o indivíduo constituir o fundamento do domínio
político, o princípio da dignidade humana significa que o Estado (poder e
comunidade) deve criar as condições mínimas indispensáveis para que
cada pessoa humana concreta possa viver com dignidade, ter uma vida
condizente com o seu estatuto de pessoa humana, desfrutando de um
conjunto de medidas estaduais, legislativas e de execução das leis, que
concorram para esse fim. Essas medidas assumem a forma de políticas
públicas, que se deduzem do conjunto de direitos económicos, sociais e
culturais (arts. 21.º/b/c/d/e/f/g/h/i/j/k/l/m/n/o/p/q, 76.º, 77.º, 79.º
80.º, 81.º, 82.º, 83.º, 84.º, 85.º, 88.º da CRA).
Quanto ao facto de o indivíduo constituir um limite ao domínio
político, note-se que o princípio do Estado de Direito, um princípio
estruturante da República de Angola, tem como corolário a
responsabilidade civil solidária do Estado e outras pessoas colectivas
públicas por acções ou omissões praticadas pelos seus órgãos, respectivos
titulares, agentes e funcionários, no exercício, das funções legislativas,
jurisdicional e administrativa, ou por causa delas, de que resulte violação
de direitos, liberdades e garantias ou prejuízo para o titular destes ou
terceiros (art. 75.º/1 da CRA). E pressupõe igualmente a
responsabilidade criminal e disciplinar dos titulares de cargos
públicos, agentes e funcionários do Estado. Isto é, os autores dessas
acções ou omissões também podem ser criminal e disciplinarmente
responsáveis, nos termos da lei (art. 75.º/2 da CRA).
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comunicações (artigo34.º da CRA); direito de constituir família (artigo 35.º da
CRA); direito à liberdade física e à segurança individual (36.º/1 da CRA); a
proibição de se ser privado da liberdade, excepto nos casos previstos na
Constituição e na lei (art. 36.º/2 da CRA); o direito a não ser sujeito a quaisquer
formas de violência por entidades públicas ou privadas (art. 36/3-a) da CRA); o
direito de não ser torturado nem tratado ou punido de maneira cruel, desumana ou
degradante (art. 36.º/3-b) da CRA); o direito de usufruir plenamente da sua
integridade física e psíquica (art. 36.º/3-c da CRA); o direito à segurança e ao
controlo do seu próprio corpo (art. 36.º/3-d da CRA); o direito de não ser
submetido a experiências médicas ou científicas sem consentimento prévio,
informado e devidamente fundamentado (art. 36.º/3-e da CRA); o direito de ficar
calado e não prestar declarações ou de o fazer apenas na presença de advogado da
sua escolha (art. 63.º/f da CRA) e o direito de não fazer declarações contra si
próprio (art. 63.º/g da CRA).
Na nova Constituição reafirma-se um conjunto de princípios indispensáveis a um
mínimo de dignidade humana: não discriminação da pessoa humana com base na
raça, sexo, etnia, cor, deficiência, língua nascimento, religião, convicções
políticas, ideológicas ou filosóficas, grau de instrução, condição económica ou
social ou profissão (artigo 23.º /2 da CRA).
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liberdade”. Pode-se verificar a perfeita sintonia da nova Constituição em relação a
esta matéria por força dos artigos 3.º/1 (soberania), 4.º /exercício do poder
político), 6.º (supremacia da Constituição e legalidade), 17.º/1 (partidos políticos),
40.º (liberdade de expressão e de informação), 41.º (liberdade de consciência, de
religião e de culto), 43.º (liberdade de criação cultural e científica), 44.º
(liberdade de imprensa), 45.º (direito de antena, de resposta e de réplica política),
46.º (liberdade de residência, circulação e emigração). 47.º (liberdade de reunião e
de manifestação), 48.º (liberdade de associação), 49.º (liberdade de associação
profissional e sindical), 50.º (liberdade sindical), 51.º (direito à greve e proibição
do lock out), 52.º (participação na vida pública), 53.º (acesso a cargos públicos),
55.º (liberdade de constituição de associações políticas e partidos políticos).
A República (vermelha)
A República adopta a ideia de socialidade. Ela respeita a propriedade privada
artigos 14.º e 37.º da CRA) e a liberdade de iniciativa privada (artigo 38.º da CRA).
Todavia, a propriedade tem uma função social (artigo 89.º/1-e da CRA) e o Estado
assume também como programa-tarefa um mecanismo regulativo público mais
orientado para a prossecução do bem comum e para a solução de assimetrias
sociais (artigos 21.º/c/d/e/f/g/m, 89.º/1, 90.º, 91.º, 99.º e 101.º da CRA) no
trabalho (artigos 76.º da CRA) e na família (artigo 35.º da CRA) do que para a
arbitragem dos interesses de grupos. A República aspira a ser uma ordem livre
marcada pela reciprocidade, igualdade e solidariedade, artigo 1.º, 21.º/d/h/k da
CRA.
A República e liberdades (República branca e azul)
A República [de Angola] é uma ordem política assente no respeito e garantia da
efectivação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais (artigo 2.º/2 e 21.º/c
da CRA). As liberdades republicanas consubstanciam-se na liberdade dos antigos e
na liberdade dos modernos, “uma articulação da liberdade-participação política
(artigos 2.º/2 democracia participativa, 21.º/l, 52.º/1, 53.º e 54.º da CRA) com a
liberdade-defesa perante o poder” (artigos 2.º/2 e 29.º da CRA). A liberdade-
participação política constitui uma prática inventada na Grécia Antiga e
basicamente significa o direito de os cidadãos participarem do exercício do poder
político. Na cidade de Antenas, os cidadãos podiam reunir-se em Eclésia
(Assembleia) para discutirem e tomarem decisões acerca dos assuntos mais
importantes para a comunidade política. A liberdade-defesa perante o poder foi
inventada pelos modernos e fundamenta-se na ideia básica de quem exerce o
poder, em razão da sua natureza humana falível, pode exercê-lo contra os
cidadãos, violando os direitos destes. A liberdade-defesa perante o Estado
pressupõe que o poder político esteja organizado de tal maneira que ao abrigo do
princípio da separação de poderes existam os tribunais, com competência para
dirimir conflitos entre os cidadãos e outros órgãos do Estado.
A República (verde)
O homem insere-se na comunidade biótica, mais vasta do que a humana, e nela
tem um papel de suma relevância, dado o facto de dispor da capacidade de
produção de profundas mudanças no meio ambiente e no ecossistema. A
responsabilidade do homem traduz-se no dever de preservar e gerir os recursos
naturais de forma a garantir no presente e no futuro a continuidade de uma certa e
determinada qualidade de vida, assegurando o devir de gerações vindouras.
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O Estado tem, todavia, responsabilidades no sentido de adoptar “as medidas
necessárias à protecção do meio ambiente e das espécies da flora e fauna nacionais
em todo o território nacional e à manutenção do equilíbrio ecológico” (artigo 39.º/
2 da CRA), concretizando por esta via o direito que todos os cidadãos têm de viver
num meio ambiente sadio e não poluído” (artigo 39.º/1 da CRA)
A República (a «res publica» e a «res privata)
Há uma distinção clara e expressa entre a «res publica», coisa pública, e a «res
privata», coisa privada. Os titulares de cargos públicos são investidos de poderes,
constitucionalmente atribuídos e condicionados, para prosseguirem fins prescritos
pela Lei Fundamental. Não devem tirar partido dos poderes de que estão investidos
para confundirem a «res pública» com a «res privada», privatizando o Estado. Isto
é, transformar o Estado num meio ao serviço dos seus companheiros do partido,
amigos, familiares e membros do grupo étnico a que pertencem, violando-se assim
os princípios da igualdade e imparcialidade, a que devem estar sujeitos os poderes
públicos.
Os titulares de cargos públicos podem no exercício das suas funções por actos ou
omissões atentar contra o Estado democrático de direito, contra os direitos e
liberdades dos cidadãos, inclusivamente causando danos na esfera moral e
patrimonial de terceiros.
A Constituição prevê o princípio da prossecução do interesse público no que
concerne à função pública, inelegibilidades, incompatibilidades, responsabilidade
disciplinar, civil e criminal dos titulares de cargos públicos e o princípio da
responsabilidade política, tendo em vista a defesa do Estado como pessoa colectiva
de bem, que se distingue dos titulares de cargos públicos, agentes e funcionários
do Estado.
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exprime a vontade soberana do povo e exerce o poder legislativo do Estado (artigo
141º da CRA).
(1) - A inelegibilidade significa que determinada pessoa, de acordo com os
critérios estabelecidos pela Constituição ou por lei ordinária, não reúne
os requisitos pré-definidos e por esta razão não se pode apresentar aos
eleitores na qualidade de candidato ou candidata a ser eleito ou eleita.
Inelegibilidades destinadas a garantir a isenção e independência dos
cargos públicos: artigo 110.º/2 da CRA (inelegibilidades do PR),
artigo145.º da CRA (inelegibilidades dos deputados).
(2) - A incompatibilidade significa que existem funções que não podem ser
exercidas pela mesma pessoa ao mesmo tempo, cumulativamente.
Incompatibilidades dos deputados, artigos 149.º e 154.º da CRA;
incompatibilidades dos juízes, artigos 179.º/5/ da CRA.
Incompatibilidades dos magistrados do Ministério Público, artigo 187.º/4
da CRA.
(3) - Responsabilidades civil, disciplinar e criminal dos titulares de cargos
públicos, agentes e funcionários (artigo 75.º da CRA). Responsabilidade
disciplinar dos deputados artigos 152.º/2-d e 153.º/1-c da CRA.
Responsabilidade criminal dos deputados, artigo 150.º/2/3 da CRA.
Responsabilidade criminal do PR, artigo 129.º/1/2 da CRA. No que
concerne à responsabilidade civil, Paulo Otero, lembra que ela pode ter
lugar por actos ilícitos ou mesmo por actos lícitos, como por exemplo, o
caso de expropriação por utilidade pública
(4) -A Responsabilidade política pode tomar a forma mais geral de
responsabilidade difusa perante a opinião pública, a que estão sujeitos os
titulares de cargos públicos, agentes e funcionários do Estado; a
responsabilidade política de um órgão político perante outro órgão
também político; e a responsabilidade política intra-orgânica, em que
membros do mesmo órgão são politicamente responsáveis perante o
titular ou chefe desse órgão.
A responsabilidade criminal dos titulares de cargos públicos é acolhida pela ordem
constitucional angolana, que é densificada, desenvolvida pela ordem jurídica
ordinária (artigo 75.º/2 da CRA) – no Código Penal, na Lei das Infracções contra a
Economia – a parte que não foi revogada –, na Lei n.º 13/03 de 10 de Junho (Lei
Derrogatória da Lei n.º 6/99, de 3 de Setembro – Lei das Infracções contra
Economia), na Lei dos Crimes Cometidos por Titulares de Cargos de
Responsabilidade, na Lei da Alta Autoridade contra a Corrupção e na Lei da
Probidade Pública.
A Lei da Alta Autoridade contra a Corrupção institui esta entidade pública como
“um órgão independente que funciona junto da Assembleia Nacional e tem por
objectivo desenvolver acções de prevenção, de averiguação e de participação à
entidade competente para a acção penal ou disciplinar dos actos de corrupção e de
fraude cometidos no exercício de funções administrativas” (art. 2.º). E esta lei
aplica-se “às acções e omissões praticadas contra o Património Público, e as
resultantes do exercício abusivo de funções públicas ou quaisquer outras lesivas dos
interesses públicos ou da moralidade da administração, cometidas pelos agentes da
Administração Pública, das Forças Armadas, da Ordem Interna, das Instituições
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Públicas, das Empresas Públicas, das Concessionárias de Serviços Públicos ou da
exploração de bens do domínio público, incluindo as praticadas pelos titulares dos
órgãos de soberania, com excepção do disposto no n.º 3 do artigo 8.º da presente
lei” (art. 4.º/1). Quer dizer, no caso de suspeita da prática de suborno pelo
Presidente da República, “a iniciativa do processo de averiguação do suborno”
compete a “1/3 dos deputados em efectividade de funções” [alínea b) do n.º 5 do
artigo 129.º da CRA].
Actos de Improbidade Pública segundo a Lei da Probidade Pública (Lei n.º 3/10
de 29 de Março)
Esta Lei no seu artigo 23.º define como “actos de improbidade pública as acções ou
omissões do agente público contrárias à moralidade administrativa e ao respeito
pelo património público”. E categoriza três tipos de actos que atentam contra a
probidade pública: “actos contra os princípios da administração”, “actos que
conduzem ao enriquecimento ilícito” e “actos que causam prejuízo ao património
público”.
Actos contra os princípios da Administração Pública (art. 24.º)
“a) praticar acto com vista a um fim proibido por lei ou regulamento; b) retardar
ou deixar de praticar acto indevidamente; c) revelar facto ou circunstância de que
tenha conhecimento em razão das competências ou tarefas e que deva permanecer
em segredo; d) negar publicidade a actos oficiais; e) frustrar a licitude de concurso
público; f) deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo; g) revelar ou
permitir que chegue ao conhecimento de terceiro, antes da respectiva divulgação
oficial, teor de medida política ou económica capaz de afectar o preço da
mercadoria, de bem ou serviço ou de ter repercussões de carácter político ou
social.”
Actos que conduzem ao enriquecimento ilícito (art. 25.º)
“a) receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer
outra vantagem económica, directa ou indirecta, a título de comissão,
percentagem, gratificação ou de presente de que tenha interesse, directo ou
indirecto, que possa ser atingido ou amparado por acção ou omissão decorrente das
atribuições do agente público; b) obter vantagem económica directa ou indirecta,
para facilitar a aquisição, a permuta ou a locação de bem móvel ou imóvel, ou a
contratação de serviços pela entidade pública por preço superior ao valor do
mercado; c) obter vantagem económica, directa ou indirecta, para facilitar a
alienação, a permuta ou a locação de bem público ou o fornecimento de serviço
pela entidade pública por preço inferior ao valor do mercado; d) utilizar, em obra
ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer
natureza, de propriedade ou à disposição de entidade pública, bem como o
trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por entidade
pública; e) obter vantagem económica de qualquer natureza, directa ou indirecta,
para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de
narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra actividade ilícita ou
aceitar promessa de tal vantagem; f) obter vantagem económica de qualquer
natureza, directa ou indirecta, para fazer declaração falsa sobre medição ou
avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso,
medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer
entidade pública; g) adquirir para si ou para outrem, no exercício de mandato,
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cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja
desproporcional à evolução do património ou à renda do agente público; h) aceitar
emprego ou exercer actividade de consultoria para pessoa física ou jurídica que
tenha interesse susceptível de ser atingido ou amparado por acção ou omissão
decorrentes das atribuições do agente público, durante a actividade; i) obter
vantagem económica de qualquer natureza, directa ou indirecta, para omitir acto
de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado; j) integrar, no seu
património, de forma ilícita, bens, rendas, verbas ou valores pertencentes ao
acervo patrimonial de entidade pública; k) usar, em proveito próprio, bens, rendas,
verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial de entidade pública; l) obter
vantagem económica para intermediar a disponibilização ou a aplicação de verba
pública de qualquer natureza.”
Actos que causam prejuízo ao património público (art. 26.º)
“a) facilitar ou concorrer, por outra forma, para a integração no património
particular de pessoa física ou jurídica, bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial de entidade pública; b) permitir ou concorrer para que
pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial de entidade pública, sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis; c) permitir ou facilitar a aquisição, a permuta
ou alocação de bem ou serviço por preço superior ao do mercado; d) permitir ou
facilitar a alienação, a permuta ou a locação de bem integrante do património de
entidade pública ou, ainda, a prestação de serviço por esta, por preço inferior ao
do mercado; e) realizar operação financeira sem a observância das normas legais
ou regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inadmissível; f) conceder
benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis; g) violar as regras legais sobre concursos em matéria de
contratação pública; h) ordenar ou permitir a realização de despesas não
autorizadas por lei ou regulamento; i) permitir que se utilize, em obra ou serviço
particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer entidade pública; j) permitir que se
recorra, em obra ou serviço particular, ao trabalho de servidor público, empregado
ou terceiro contrato por entidade pública; k) permitir, facilitar ou concorrer para
que terceiro enriqueça ilicitamente; l) disponibilizar verba prática sem a
observância das normas em vigor ou influir, de qualquer forma, para a sua
aplicação indevida ou ilegal.”
A Lei da Probidade Pública define o agente público como “a pessoa que exerce
mandato, cargo, emprego ou função em entidade pública, em virtude de eleição,
de nomeação, de contratação ou de qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, ainda que de modo transitório ou sem remuneração” (art. 15.º/1). E
estabelece que “são agentes públicos, nomeadamente, as seguintes entidades: a)
os membros do Executivo; b) Os Deputados à Assembleia Nacional; c) os
magistrados judiciais e do Ministério Público de todos os tribunais, sem excepção;
d) os membros da Administração Central do Estado; e) os membros dos governos
provinciais, das administrações municipais e comunais; f) os gestores, responsáveis
e funcionários ou trabalhadores da administração pública central e local do Estado;
g) os gestores, responsáveis e funcionários dos tribunais e da Procuradoria-Geral da
República; h) os gestores de património público afectos às Forças Armadas e à
Polícia Nacional, independentemente da sua qualidade; i) os gestores, responsáveis
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e funcionários ou trabalhadores dos institutos públicos, dos fundos ou das
fundações públicas, das empresas públicas e das empresas participadas pelo
Estado; j) os titulares, responsáveis e funcionários ou trabalhadores das autarquias
locais, das associações públicas e das entidades que recebem subvenção de órgão
público; k) os titulares, responsáveis e funcionários ou trabalhadores das
instituições de utilidade pública; l) os gestores, responsáveis e trabalhadores de
empresas privadas investidas de funções públicas mediante concessão, licença,
contrato ou outros vínculos contratuais; m) os funcionários públicos, agentes
administrativos e trabalhadores dos sectores público-administrativo e empresarial,
integrados na administração directa ou indirecta do Estado, bem como na
administração autónoma ou independente.” (art. 15.º/2).
E mais diz a sobredita Lei, que “O exercício de funções públicas está sujeito à
declaração dos direitos, rendimentos, títulos, acções ou de quaisquer outra espécie
de bens e valores, localizados no País ou no estrangeiro, conforme modelo anexo,
que constituem o património privado das seguintes entidades: a) titulares de cargos
políticos providos por eleição ou por nomeação; b) magistrados judiciais e do
Ministério Público, sem excepção; c) gestores e responsáveis da Administração
Central e Local do Estado; d) gestores de património público afecto às Forças
Armadas Angolanas e à Polícia Nacional, independentemente da sua qualidade; e)
gestores e responsáveis dos institutos públicos, dos fundos ou fundações públicas e
das empresas públicas; f) titulares dos órgãos executivos e deliberativos
autárquicos.” (art. 27.º/1).
Pode dizer-se em termos genéricos que são titulares de cargos políticos, “os
sujeitos mandatados para exercer o poder político, qualquer que seja a sua
natureza, dependendo sua permanência em funções e nos respectivos cargos
também de procedimentos políticos ou constitucionalmente conformados”,
integrando o conceito, desde logo, o Presidente da República, os deputados da
Assembleia da República, os membros do Governo”.
Bibliografia
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Almadina,2003
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-Jorge Bacelar Gouveia, Direito Constitucional de Angola, Editor IDILP-Instituto
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-Kildare Gonçalves Carvalho, Direito Constitucional, 15.º edição, Belo
Horizonte, Editora Del Rey, 2009.
-Paulo Otero, Direito Constitucional Português – Volume I. Identidade
Constitucional, Almedina, 2010,p. 114); Instituições Políticas e Constitucionais,
Volume I, Almedina.
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