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12. Pós-II Guerra: Neoconstitucionalismo, constitucionalização do direito e
transconstitucionalismo;
13. Carta das Nações Unidas (1945);
14. Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);
15. Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica -
1969).
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a inconveniência’ dos mesmos em face da natureza razoável e sociável do ser
humano.”
• Sarlet: “para Kant, todos os direitos estão abrangidos pelo direito de liberdade,
direito natural por excelência, que cabe a todo homem em virtude de sua própria
humanidade, encontrando-se limitados apenas pela liberdade coexistente dos
demais homens, concepção que fez escola na tradição filosófica, política e jurídica
ocidental”.
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• Comparato: “Daí decorre, como assinalou o filósofo, que todo homem tem
dignidade e não um preço, como as coisas (...) Pela sua vontade racional, a pessoa,
ao mesmo tempo que se submete às leis da razão prática, é a fonte dessas mesmas
leis, de âmbito universal”
• Comparato: “Tratar a humanidade como um fim em si implica o dever de
favorecer, tanto quanto possível, o fim de outrem. Pois sendo o sujeito um fim em
si mesmo, é preciso que os finas de outrem sejam por mim considerados também
como meus.”
• Assim, o alcance da razão prática, segundo Kant, determina dois aspectos
fundamentais da moralidade: primeiro, é unicamente a razão que torna o homem
incondicionalmente autolegislador; segundo, se a razão é incondicionalmente
legisladora, então, nenhuma concepção da prudência ou do egoísmo generalizado
poderá suplantar o lugar insubstituível da razão. Se a razão é incondicionalmente
legisladora, então, nenhuma regra de decisão da razão instrumental, estratégica ou
prudencial, nenhuma racionalidade “meios-fins”, nenhuma eticidade
convencional do mundo da vida poderá pretender substituir os papéis
absolutamente inalienáveis da razão, que tem sua sede no ser humano. Nós nos
distinguimos de todos os outros seres por meio da capacidade de escolha racional
de nossas ações. Portanto, de acordo com Kant, a condição de base para a ação
moral é a “autonomia” – a capacidade que cada um de nós tem de impor restrições
morais a nós mesmos. O homem racional, dotado de vontade livre e
autolegisladora, confere a si mesmo a norma do agir moral.
• Para Kant, o homem não deve ser escravo de seus desejos, emoções e inclinações,
deve ser livre deles e exercitarem seu raciocínio moral. Só com a liberdade o
homem tem moralidade.
• Paradigma kantiano da razão prática: A moralidade é fundamentada nos
princípios de racionalidade, da razão autônoma, da vontade livre. E já que todos
os homens são livres, para que esta liberdade possa coexistir, ela é limitada pelo
direito, pela ordem legal (jurídica), que estabelece a coexistência externa e pública
das liberdades.
• As leis que vinculam o homem são de duas naturezas: as leis jurídicas, que se
referem às ações externas e sua legalidade, e as leis éticas ou de moralidade/
• Kant: “O direito é, portanto, o conjunto das condições sob as quais o árbitro de
um pode unir-se ao árbitro de outro segundo uma lei universal da liberdade”, a
qual estabelece que “qualquer ação é justa se for capaz de coexistir com a
liberdade de todos de acordo com uma lei universal, ou se na sua máxima a
liberdade de escolha de cada um puder coexistir com a liberdade de todos de
acordo com uma lei universal”
• Assim, Kant entende que há apenas um direito inato, que precederia a legislação
positiva: sua liberdade, que deve coexistir com a liberdade do outro.
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• Kant: “(...) os direitos humanos são aqueles direitos que competem a todo ser
humano como tal, independentemente de circunstâncias pessoais, de constelações
políticas e de condições históricas. Como é juridicamente lícita toda ação que seja
compatível com a liberdade de todos os outros, compete ‘a todo homem, em
virtude da sua humanidade’, aquele grau de liberdade que ‘possa coexistir com a
liberdade de qualquer outro, conforme a uma lei universal’. A liberdade
compatível com a liberdade de todos os demais é o único direito humano; poder-
se-ia dizer também: o único critério de todos os direitos humanos.”
• Kant se opõe ao relativismo, ceticismo e dogmatismo.
• A relação entre moral e direito é atualmente resgatada por nomes como
Habermas, Alexy e Rawls.
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humano a condição de sujeito do direito internacional, e sustenta a existência de
soberanias indígenas.
• Pedro Calafate (professor da Universidade de Lisboa): “Os autores desta
Escola ibérica e hispânica, espanhóis e portugueses, eram todos homens de igreja,
frades e clérigos, dominicanos uns, jesuítas outros, confessores régios, quase
todos catedráticos de Teologia nas Universidades de Coimbra, Évora, Salamanca
e Alcalá de Henares, teólogos reais no Concílio de Trento, abades de mosteiros e
missionários, crentes sinceros a quem repugnava a ideia de que o Deus da paz
deliberasse que os cristãos levassem a desolação e a morte àqueles que O não
adoravam, derramando sangue dos Seus filhos, ocupando territórios alheios,
expropriando os bens das comunidades indígenas e esmagando as suas soberanias,
ainda que embrionárias, em territórios que nunca haviam pertencido aos cristãos,
mediante práticas de crueldade a que se não tinham atrevido ainda os piores
tiranos.”
• Mestres portugueses e espanhóis que lecionavam nas Universidades portuguesas
à época: Martín de Azpilcueta, Martinho de Ledesma, Fernão Pérez, Luis de
Molina, Pedro Simões, António de São Domingos, Fernão Rebelo, e Francisco
Suárez.
• Padre Francisco da Vitória: renascentista espanhol, tinha pensamentos com
base no Jusnaturalismo e afirmava que existiria uma lei natural superior a todo o
Direito Humano, fundada na autoridade divina, baseando-se na concepção tomista
do Direito.
• Entendia também que o fato de alguém cometer pecado (não estar em estado de
graça) ou ser infiel a Deus, não autorizaria necessariamente à perda de
direitos/domínio, pois “Faz Deus sair o sol sobre os bonés e sobre os maus, e
chover para os justos e para os pecadores”, o que não autorizaria o monarca a
retirar as terras e direitos dos indígenas por serem “infiéis e viverem em pecado”.
• Importância de missionários que exerceram seu ofício na América portuguesa e
espanhola: Frei Bartolomé (Bartolomeu) de las Casas, que defendeu posições
contrarias aos interesses dos impérios e do papado, e Antônio Vieira.
• Padre Francisco da Vitória, bem como outros integrantes desta escola de
pensamento, eram contrários à idéia de que os índios não tinham legitimidade de
domínios por não serem humanos, ou seja, não possuírem racionalidade. Não
haveria uma inferioridade civilizacional que justificasse a dominação e
exploração de um indivíduo em benefício do explorador.
• Vitória aponta que os índigenas tem suas próprias cidades, com comércio,
professores e magistrados, e sua própria religião, que necessitariam do exercício
da razão.
• Frei Bartolomeu: Proteção da propriedade privada com base no direito divino.
Entende que o Monarca não tem propriedade do Estado, mas exerce jurisdição e
proteção (limitação do poder estatal) - “Deus criou todas as coisas para serviço
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de todos os homens que vivem sobre a terra. Logo, por concessão divina todos os
homens tiveram direito a apropriar-se das coisas por meio da ocupação, pois, ao
princípio, todas eram comuns (...) Portanto, os reis e imperadores não tem poder
fundado sobre as fazendas dos particulares nem sobre a posse de seus territórios
(...) e não importa que os reis digam que o reino é seu, pois tal deve entender-se
unicamente no que se refere à jurisdição e proteção do reino.”
• Vitória entendia que não poderia ser considerada a América como terra nullius,
podendo ser dominada pelos ibéricos, pois esta terra já possuía dominadores (os
indígenas).
• Alonso de Vera Cruz: “Foi opinião de muitos juristas que o imperador é senhor
de todo o mundo; de modo que todas as nações e províncias e todos os reinos estão
sob o seu império, de facto e de direito. Mas segue-se da nossa análise que o
imperador não goza de justo domínio sobre outras províncias, se não constar que
lhe estão submetidas de direito ou de facto (...) Conclui-se, portanto, que este
Novo Mundo nunca esteve submetido ao Império Romano, nem de facto nem de
direito, segundo consta, nem esses infiéis eram hostis aos cristãos, conclui-se,
digo, que o imperador não pode licitamente, por autoridade própria, subtrair-lhes
as suas terras e pastos e dá-los a outros, contra a vontade dos legítimos donos,
razão porque pecaria o imperador, bem como quem possuísse em virtude de tal
concessão.”
• Martín de Azpilcueta: “Quando os povos não tem a luz e o apoio de um
imperador é mister que sejam para si a sua própria luz, e quem não tem guia e
chefe, é o seu próprio chefe e guia. E assim, embora algum povo não tenha chefe
nem rei mediante providência humana, contudo recebeu da natureza naturante,
que é Deus, o poder de se dirigir, governar e iluminar (...) e se encontrassem
alguns homens associados em comunidade, estes teriam o próprio Deus, de modo
imediato, o poder de se governarem a sim esmos e de fazerem as coisas sem as
quais não poderiam viver em sociedade (...), pois a lei imperial não pode suprimir
as providências naturais. Não vai em sentido contrário o facto de que muitos povos
parecem carecer completamente de jurisdição. Na verdade, não carecem
completamente de jurisdição, mas do seu uso.”
• Fernando Pérez: “É contra o Direito Natural matar inocentes, quer indígenas
quer estrangeiros, ou para comê-los ou para sacrificá-los aos ídolos. Pelo que, se
se objetar que todos estes bárbaros consentem voluntária e livremente naquele
ritual, e não se pratica injustiça contra quem anui, responde-se […] que eles não
têm por si direito para poderem entregar-se a si ou os seus à morte. Em segundo
lugar, responde-se que eles praticam uma gravíssima injustiça, pelo que podem
ser vencidos por nós, que fazemos parte do género humano, na sua condição de
injustíssimos [vº] agressores do género humano.”
• Fernando Pérez: “Podem ser tão claros os indícios da injustiça de uma guerra
que, de acordo com a usança humana, se segue que deve presumir-se a certeza da
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injustiça da guerra, e que no foro exterior os soldados, mesmo os de mais baixa
graduação, não devem ser escusados, como tão-pouco no foro íntimo ou
sacramental, se a ignorância da injustiça, depois de conhecida toda a situação,
tiver sido totalmente grosseira”
• José de Acosta: “Aquilo que se alega, com base em Aristóteles, sobre a guerra
justa contra os bárbaros que se recusam a aceitar o domínio, é algo bem difícil de
entender, e desperta não pequenas suspeitas de que essa tese não resulte de razões
filosóficas mas sim da opinião popular (…). E se Alexandre Magno (como dizem
alguns, atraído pela ambição do poder) quis levar as bandeiras macedónias por
todo o universo, não devemos preocupar-nos demasiado com o que Aristóteles
escreveu mais por motivos de adulação do que de filosofia.”
• Por fim, é importante observar que os autores da Escola Ibérica da Paz, ao seguir
a doutrina de Tomás de Aquino, eram favoráveis ao domínio de um homem livre
por outro homem, desde que se dirija ao próprio bem daquele dominado ou para
o bem comum, não podendo ser exercida pela ambição do poder e do mando,
voltada para a exploração do outro. Assim, nem mesmo que houvesse uma
intenção de evangelizar (jus praedicandi) os “bárbaros”, isto não geraria licença
para cometimento de atrocidades contra os povos ameríndios.
• Em resumo, questionava-se o direito ao império ultramarino.
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• Estabelecimento do Absolutismo.
• Noberto Bobbio: “As grandes monarquias absolutas do início da Idade Moderna
se formam através de um duplo processo de unificação: 1) unificação de todas as
fontes de produção jurídica na lei, como expressão da vontade do soberano (...) 2)
unificação de todos os ordenamentos jurídicos superiores e inferiores ao Estado
no ordenamento jurídico estatal, cuja expressão máxima é a vontade do príncipe.”
• Lages: “O processo histórico que desenvolveu o Antigo Regime, marcado pelo
capitalismo comercial (política mercantilista), sistema colonial e Absolutismo
Monárquico, foi longo e tem suas origens na Idade Média, quando começam a
renascer o comércio, o monetarismo e a busca por centralização política.”
• Perry Anderson: “Essencialmente, o Absolutismo era apenas isto: um aparelho
de dominação feudal recolocado e reforçado, destinado a sujeitar as massas
camponesas à sua posição social tradicional (...). Em outras palavras, o Estado
Absolutista nunca foi um árbitro entre a aristocracia e a burguesia, e menos ainda
instrumento da burguesia nascente contra a aristocracia: ele era a nova carapaça
política de uma nobreza atemorizada.”
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• Para o filósofo, a soberania é o poder absoluto e perpétua de uma República (não
no sentido atual de República, mas no sentido atual de Estado). Este poder viria
de Deus (teoria do direito divino sobrenatural)
• Se pode perceber na obra de Bodin a soberania como elemento essencial do
Estado, virando dogma do Direito Público.
• Para Bodin, a soberania (do Rei) é uma, indivisível, irrevogável, perpétua,
indelegável, um poder supremo que não pode ter oposição (mesmo da Igreja).
• É um poder absoluto. Bodin desenvolve a teoria da soberania absoluta do Rei
– Ele é um dos principais teóricos do absolutismo monárquico (junto com Hobbes,
posteriormente)
• Há quem atribua não a Bodin, mas a Maquiavel, a formulação da primeira
concepção de poder supremo e unificado do Estado, sendo Bodin apenas o seu
popularizador.
• Alguns governos absolutistas: Luís XIV, o Rei Sol (França, Século XVII);
• O governo de Luís XVI durou na França de 1661 a 1715, sendo claro exemplo de
centralização do poder em uma única pessoa (“o Estado sou eu”), com dissolução
do conselho de Estado, mas que finalizou-se com grave crise econômica e uma
sociedade marcada pela distinção social.
3.2. ILUMINISMO
• O Século XVII foi um prólogo ao Iluminismo (a “Época das Luzes”), que surgirá
e se fortalecerá no século XVIII, como reação ao Absolutismo Monárquico.
• Comparato: “Foi realmente, todo ele (o Século XVII), e não apenas a fase de
transição para o século seguinte, um tempo de “crise da consciência europeia”,
uma época de profundo questionamento das certezas tradicionais. No mundo
artístico e literário, eclodiu a “querela dos antigos e dos modernos”. No campo
político, a rebelião dos Levellers e a revolta armada bem-sucedida de Oliver
Cromwell contra a monarquia inglesa fizeram renascer as idéias republicanas e
democráticas. Na ciência, enfim, a conjunção de três gênios de primeira grandeza
– Pascal, Galileu e Newton – provocou uma verdadeira “revolução científica”, no
sentido que a palavra viria a adquirir em 1789.”
• Lages: “O Iluminismo pode ser definido a priori como um Movimento intelectual
que tinha por característica uma confiança absoluta no progresso e,
principalmente ,na razão que desafiou em seu século (e por sua atualidade às vezes
continua desafiando) a autoridade e incentivou o livre pensamento como meio de
alcançar o objetivo principal dos iluministas, a felicidade humana.”
• O Iluminismo defende que a Igualdade, enquanto um direito natural, somente
seria reconhecido por um direito positivo (transição do jusnaturalismo para o
positivismo), “garantindo por um corpo de leis e pela força do Estado. Estas leis
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deveriam ser feitas pelos cidadãos, ou seus representantes, porque só através da
vontade do povo, como fundamento da Nação, poderia conferir legitimidade ao
Poder Político.” (Lages)
• Montesquieu e separação dos poderes.
• Lages: “Os iluministas foram grandes pregadores da Liberdade Individual e
defenderam a propriedade com igual vigor. Eles também pregavam a igualdade,
mas esta, para eles, não era manifesta através de uma igualdade total, inclusive de
bens materiais. Para eles os homens, mesmo os mais pobres, seriam libres e iguais
simplesmente se pudessem escolher para quem trabalhar. Assim, o trabalho seria
equiparado a um bem, como o capitalismo o faz até hoje.”
• Contratualismo de John Locke e liberalismo.
• Contratualismo de Rousseau e democracia, com verdadeira soberania do povo.
• Luisi: “Esse processo adquire consistência a partir do século XVII, por obra de
filósofos como Thomas Hobbes (...), John Locke, Samuel Puffendorf, Charles
Secondat de Montesquieu, Jean Jacques Rousseau, dentre outros. Na concepção
desses pensadores, ditos genericamente como iluministas, embora pesem
diferenciais, o homem deixa de ser súdito, e passa a ser cidadão. É agente ativo
na modelagem de seu espaço social e político.”
• Estabelecimento do princípio da legalidade (nullum crimen, nulla poena sine
lege), fundamentação racional da pena e adoção dos princípios da
proporcionalidade e da humanidade das penas, com maior enfoque na pena
privativa de liberdade.
• Bitencourt: “As correntes iluministas e humanitárias, das quais Voltaire,
Montesquieu e Rousseau foram fiéis representantes, realizam uma severa crítica
dos excessos imperantes na legislação penal, propondo que o fim do
estabelecimento das penas não deve consistir em atormentar a um ser sensível. A
pena deve ser proporcional ao crime, devendo-se levar em consideração, quando
imposta, as circunstâncias pessoais do delinquente, seu grau de malícia e,
sobretudo, produzir a impressão de ser eficaz sobre o espírito dos homens, sendo,
ao mesmo tempo, a menos cruel para o corpo do delinquente”
• Nucci: “A inspiração contratualista voltava-se ao banimento do terrorismo
punitivo, uma vez que cada cidadão teria renunciado a uma porção de liberdade
para delegar ao Estado a tarefa de punir, nos limites da necessária defesa social. A
pena ganha um contorno de utilidade, destinada a prevenir delitos e não
simplesmente castigar.”
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4. CONTRATUALISMO (Séculos XVII e XVIII): DO ESTADO ABSOLUTO AO
ESTADO LIBERAL
• Intimamente ligado ao jusnaturalismo e ao iluminismo.
• O Estado deve servir aos cidadãos, só haveria legitimidade do Estado se este
garantir os direitos básicos.
• Papaterra Limongi: “(...) a tese contratualista implica que a política se funda
sobre uma relação jurídica. Pois, o contrato, que dá início à associação política, é
um ato jurídico (trata-se de uma figura do direito privado romano) pelo qual as
partes estabelecem direitos e deveres recíprocos. Para o contratualismo, a
sociedade política não apenas se funda sobre uma relação jurídica, como se
distingue das outras formas de comunidade precisamente por isso.”
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instrumento de limitação do poder estatal, visando assegurar aos indivíduos um
nível máximo de fruição de sua autonomia e liberdade. Ou seja, eles surgiram
como barreira ou escudo de proteção dos cidadãos contra a intromissão indevida
do Estado em sua vida privada e contra o abuso de poder.”
• “A chave para compreensão do surgimento desta concepção está no pensamento
de Hobbes e Maquiavel, dois grandes filósofos dos séculos XVI/XVII, que
tiveram e ainda tem bastante influência no pensamento político ocidental. (...) a
noção dos direitos fundamentais como normas jurídicas limitadoras do poder
estatal surge justamente como reação ao Estado absoluto, representando o oposto
do pensamento maquiavélico e hobbesiano. Os direitos fundamentais pressupõem
um Estado juridicamente limitado (Estado de direito/separação de poderes) e que
tenha preocupações éticas ligadas ao bem comum (direitos
fundamentais/democracia).”
• Carvalho: “Com o Renascimento e a Reforma Protestante, a crise da Idade Média
deu lugar ao surgimento dos Estados Nacionais absolutistas europeus. A sociedade
estamental medieval foi substituída pela forte centralização do poder na figura do
rei. Paradoxalmente, com a erosão da importância dos estamentos (Igreja e
senhores feudais), surge à igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do
rei. Só que essa igualdade não protegeu os súditos da opressão e violência. O
exemplo maior dessa época de violência e desrespeito aos direitos humanos foi o
extermínio de milhões de indígenas nas Américas, apenas algumas décadas após
a chegada de Colombo na ilha de São Domingo (1492). Não que não houvesse
reação contrária ao massacre. Houve célebre polêmica na metade do século XVI
(1550-1551) na Espanha (então grande senhora dos domínios no Novo Mundo)
entre o Frei Bartolomeu de Las Casas e Juan Ginés de Sepúlveda, então teólogo e
jurista do próprio rei espanhol. Las Casas merece ser citado como um dos notáveis
defensores da dignidade de todos os povos indígenas, contrariando a posição de
Sepúlveda, que os via como inferiores e desprovidos de direitos. Na sua réplica
final nesse debate doutrinário da época, Las Casas condenou duramente o
genocídio indígena afirmando que “Os índios são nossos irmãos, pelos quais
Cristo deu sua vida. Por que os perseguimos sem que tenham merecido tal coisa,
com desumana crueldade? O passado, e o que deixou de ser feito, não tem
remédio; seja atribuído à nossa fraqueza sempre que for feita a restituição dos
bens impiamente arrebatados”
4.1. MAQUIAVEL
• Em sua obra O Princípe, Maquiavel entendia que existiriam dois modos para
manutenção do poder, um com base nas leis e outro com base na força: “o primeiro
é próprio do homem, o segundo dos animais. Não sendo, porém, muitas vezes
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suficiente o primeiro, convém recorrer ao segundo. Por conseguinte, a um príncipe
é importante saber comportar-se como homem e como animal.”
• Maquiavel: “Um príncipe não deve ter outro objetivo ou outro pensamento, nem
cultivar outra arte, a não ser a da guerra, juntamente com as regras e a disciplina
que ela requer.”
• Maquiavel: “Quem num mundo cheio de perversos pretende seguir em tudo os
princípios da bondade, caminha para a própria perdição. Daí se conclui que o
príncipe desejoso de manter-se no poder tem de aprender os meios de não ser bom
e a fazer uso ou não deles, conforme as necessidades.”
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terceiro.
• O homem cria o poder político e constitui uma pessoa artificial (O Leviatã) para
exercê-lo, através de delegação de poder, que teria poder ilimitado contra os
indivíduos, ante o qual os cidadãos não poderiam invocar direitos.
• Há a servidão no Estado: “todos os homens devem renunciar aos direitos do estado
natural”.
• Hobbes: “(...) É como se cada homem dissesse a cada homem: cedo e transfiro
meu direito de governar-me a mim mesmo a esse homem ou a esta assembleia de
homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira
semelhante todas as suas ações.”
• Finalidades do Estado: representar os cidadãos, assegurar a ordem (garantir a
segurança de todos) e ser a única fonte da lei (monopólio da decisão sobre o que
é justo ou injusto, assim, a validade de uma lei não vem de sua justeza, mas da
legitimidade de quem a emanou – o Poder Soberano).
• Direitos como propriedade só surgem após a formação do Estado Civil.
• Quando o leviatã não for capaz de manter a ordem, extingue-se o dever de
obediência, podendo cada indivíduo utilizar meios privados de defesa, voltando-
se ao conflito do Estado de Natureza, havendo uma nova pactuação.
• Hobbes faz uma clara justificativa à manutenção do poder pelo Rei, justificando
o absolutismo, afirmava que um mau governo é melhor que o estado de natureza.
• Carvalho: O Leviatã “é um dos primeiros textos que trata claramente do direito
do ser humano, pleno somente no estado da natureza. Nesse estado, o homem é
livre de quaisquer restrições e não se submete a qualquer poder. Contudo, Hobbes
conduz sua análise para a seguinte conclusão: para sobreviver ao estado da
natureza, no qual todos estão em confronto (o homem seria o
• lobo do próprio homem), o ser humano abdica dessa liberdade inicial e se submete
ao poder do Estado (o Leviatã). A razão para a existência do Estado consiste na
necessidade de se dar segurança ao indivíduo, diante das ameaças de seus
semelhantes. Com base nessa espécie de contrato entre o homem e o Estado,
justifica-se a antítese dos direitos humanos, que é a existência do Estado que tudo
pode. Hobbes admite, ainda, que eventualmente o Soberano (identificado como o
Estado) pode outorgar parcelas de liberdade aos indivíduos, desde que queira. Em
síntese, os indivíduos não possuiriam qualquer proteção contra o poder do Estado.
É claro que essa visão de Hobbes, em que pese a proclamação de um direito pleno
no estado da natureza, o distancia da proteção atual de direitos humanos.”
• Crítica – Montesquieu: “Não é razoável o desejo que Hobbes atribui aos homens
de subjugarem-se mutuamente. A idéia de supremacia e de dominação é tão
complexa e dependente de tantas outras que não seria ela a primeira idéia que o
homem teria.”
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4.3. JOHN LOCKE
• John Locke – 29 de agosto de 1632 a 28 de outubro de 1704 – Autor de O
Segundo Tratado do Governo Civil, Cartas de Tolerância, A racionalidade do
Cristianismo, Ensaios sobre o entendimento humano, dentre outros. Um dos
primeiros teóricos do Estado Liberal e da monarquia constitucional.
• Maluf: “(...) deu Locke o necessário respaldo de humanismo e liberalismo à
doutrina contratualista.”
• Para Locke, o Estado da Natureza é anterior ao estado civil, mas não é pré-social,
pois o homem já está inserido em relações espontâneas em busca do bem-estar,
como a família.
• A regra é a paz, não a guerra (diferente de Hobbes), mas há a amaça da guerra,
impulsionada pelas paixões e pelo dinheiro e pela falta de um poder imparcial que
mediasse os conflitos, que quebra a harmonia homem-natureza, degenerando o
estado de natureza.
• O Contrato Social não é firmado por medo (Hobbes), mas livremente, e não
firmam um pacto de submissão (Hobbes), mas um pacto de consentimento.
• Locke: “Nem a tradição nem a força, mas apenas o consentimento expresso dos
governados é a única fonte do poder político legítimo.”
• O Estado (a lei civil, estado civil) busca superar ou evitar a anarquia (o estado
de natureza real - desequilíbrio) e recuperar o equilíbrio (estado de natureza ideal),
impondo a garantia e o cumprimento das leis naturais (direitos inatos à vida, à
propriedade... incluindo o direito à defesa destes direitos).
• Verifica-se um direito à propriedade já no Estado de natureza, sendo uma
instituição anterior à própria sociedade (e não fruto desta), e se originando do
trabalho do indivíduo (se limitando por sua capacidade de trabalho)
• Com o Contrato Social, cria-se um Estado em que há necessidade de uma lei
positiva, clara; um juiz legitimo, imparcial e competente e um poder para fazer
respeitar a lei.
• Principais fundamentos do Estado Civil, conforme Locke: livre consentimento
para o estabelecimento da sociedade, livre consentimento para a formação do
governo, proteção dos direitos da propriedade pelo governo, controle do executivo
pelo legislativo e controle do governo pela sociedade.
• Diferente de Hobbes, o Estado não almeja restringir as liberdades, mas conservá-
las e desenvolvê-las.
• Diferente de Hobbes, para Locke, o homem não renuncia, ao pactuar o contrato
social (entrando no Estado Civil), a todos os seus direitos, mas cede apenas o
direito de punir ao Estado.
• Papaterra Limongi: “O contrato político não cria, portanto, para Locke, como
para Hobbes, os laços de dever e obrigação. Sua função é outra: a de evitar que
esses laços, existentes no âmbito da natureza, deixem de ser aqueles pelos quais
os homens se pautam em suas relações recíprocas, o que ocorre quando o estado
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de natureza se degenera num estado de guerra, quando as relações entre os homens
deixam de ser relações de direito e dever, pautadas pela Lei Natural, para se
tornarem relações de puro poder. Ao mencionar o estado de guerra e ao dizer que
evita-lo ‘é a grande razão pela qual os homens se unem em sociedade e
abandonam o estado de natureza’ (...), o autor está evidentemente em diálogo com
Hobbes”
• O poder político não se concentra em um indivíduo, mas em uma forma de
governo que obedece a decisão majoritária, ao mesmo tempo em que respeita os
direitos da minoria.
• E se o governo não for capaz, através das leis, de garantir os direitos à vida, à
liberdade e à propriedade? O povo tem discernimento para julgar se os
magistrados são dignos da confiança atribuída, e, consequentemente, possui o
direito de exonerar um príncipe se ele não cumprir sua função de magistrado civil.
• É legítima a resistência ao exercício ilegal do poder.
• Locke rejeita a tirania e a monarquia absoluta como formas de governo civil.
• A tirania é o exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio
e não o bem público comum, atentando contra a propriedade e os direitos naturais.
• Carvalho: “As ideias de Locke reverberaram especialmente no século XVIII,
com a consolidação da burguesia em vários países europeus. O Estado
Absolutista, que havia comandado as grandes navegações e o auge do capitalismo
comercial, era, naquele momento, um entrave para o desenvolvimento futuro do
capitalismo europeu, que ansiava por segurança jurídica e limites à ação
autocrática (e com isso imprevisível) do poder.”
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• Jean-Jacques Rousseau – 28 de junho de 1712 a 2 de julho de 1778 – autor de
Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da desigualdade entre os homens e de
O Contrato Social.
• Encara um Estado de Natureza pre-social e hipotético, como Hobbes.
• Rousseau: “O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado.
O que se crê senhor dos demais, não deixa de ser mais escravo do que eles”
• No Estado de natureza, o homem é livre, dotado de compaixão e inocente,
naturalmente bom (“O bom selvagem”), mas é sucedido por outro, em sociedade,
que perde a liberdade e a bondade por ser transformado pelo processo civilizatório
(formação de grupos sociais), com o surgimento da propriedade e da desigualdade,
seja natural/física, seja moral/política.
• O estado de guerra não é evitado pela criação da sociedade, mas, ao contrário,
surge após esta, passando o homem de um estado de liberdade a um de servidão.
• Na passagem do estado de natureza para a “condição de servidão”, encontra-se
um pacto proposto pelos poderosos – tal pacto, segundo Rousseau, deve ter dado
origem à sociedade e às leis “que deram novos entraves ao fraco e novas forças
ao rico, destruíram irremediavelmente a liberdade natural, fixaram para sempre a
lei da propriedade e da desigualdade, fizeram uma usurpação sagaz um direito
irrevogável e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram todo o gênero
humano ao trabalho, à servidão e à miséria.” (Discurso sobre a desigualdade).
• Tendo sido o homem afastado do estado de natureza, o problema que, então, se
põe é exatamente o de dar à sociedade uma forma tal que este homem recupere
sua liberdade, mesmo vivendo em sociedade.
• Criação do Contrato Social – troca de um pacto ilegítimo por um legítimo,
em que os homens ganhariam liberdade civil em substituição à perdida liberdade
natural.
• Condição de legitimidade do Contrato Social: igualdade dos contratantes.
• A única fonte legítima do poder é a soberania do povo (soberania: Rousseau
entende que da renúncia de cada um à sua vontade particular nasce a vontade
geral).
• Maluf: “O Estado é convencional, afirmou Rousseau. Resulta da vontade geral,
que é uma soma da vontade manifestada pela maioria dos indivíduos. A nação
(povo organizado) é superior ao rei. Não há direito divino da Coroa, mas, sim,
direito legal decorrente da soberania nacional. A soberania nacional é ilimitada,
ilimitável, total e inconstrangível. O governo é instituído para promover o bem
como, e só é suportável enquanto justo. Não correspondendo ele com os anseios
populares que determinaram a sua organização, o povo tem o direito de substituí-
lo, refazendo o contrato... (sustenta, pois, o direito da revolução).”
• Rousseau: “A soberania é indivisível pela mesma razão por que é inalienável,
pois a vontade ou é geral, ou não; ou é do corpo do povo, ou somente de uma
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parte. No primeiro caso, essa vontade declarada é um ato de soberania e faz lei;
no segundo, não passa de uma vontade particular ou de um ato de magistratura,
quando muito, de um decreto.”
• O indivíduo deve se submeter à vontade geral.
• O governo (também chamado de corpo administrativo) também é limitado pela
vontade geral (lei) do povo soberano.
• A vontade geral manifesta-se somente quando presentes as suas duas perspectivas:
▪ a) subjetiva, ou seja, como vontade da maioria dos indivíduos
associados (não é necessário que haja unanimidade) e
▪ b) objetiva, se a temática objeto da vontade expressa é do interesse
de toda a cidadania, ou seja, se configura interesse da coletividade
em geral.
• A deliberação popular resulta na lei, e um Estado regido por leis é uma república.
• Enquanto Locke defende a representação da vontade popular por meio de um
parlamento, Rousseau não defende a democracia participativa, mas a democracia
direta (“o exercício da vontade geral através dos representantes significaria uma
sobreposição de vontades, já que ninguém pode querer pelo outro e quando isto
ocorre, a vontade de quem a delegou não mais existe ou não mais está sendo
levada em consideração”).
• O Governo é instituído para promover o bem comum (decidido assim pela
vontade da maioria), e só é suportável enquanto justo. Não correspondendo ele
com os anseios populares que determinaram a sua organização, o povo tem o
direito de substituí-lo, refazendo o contrato.
• Dallari: “O contratualismo de ROUSSEAU, que exerceu influência direta e
imediata sobre a Revolução Francesa e, depois disso, sobre todos os movimentos
tendentes à afirmação e à defesa dos direitos naturais da pessoa humana, foi, na
verdade, o que teve maior repercussão prática”
• Crítica – Maluf: “O contrato social de Rousseau, embora inspirado em idéias
democráticas, tem muito do absolutismo de Hobbes, diz Jacques Maritain,
acrescentando que essa teoria ‘infundiu nas novas democracias uma noção
antiética de soberania que veio abrir caminho para o Estado totalitário” (...) “O
Prof Ataliba Nogueira entende que a teoria de Rousseau reduziu o homem à
condição de escravo da coletividade, justificando toda espécie de opressão.”
5. LIBERALISMO
• Bobbio (Liberalismo e democracia): “(...) o liberalismo é uma determinada
concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como
tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de
Social.”
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• Economicamente, o liberalismo se baseia (dentre outros) na obra de Adam
Smith (A riqueza das nações), sustentando que cada homem é o melhor juiz de
seus interesses e deve ter a liberdade de promove-los segundo sua livre vontade,
estabelecendo-se a importância da livre iniciativa.
• Marmelstein: “Para Smith, o Estado não deveria intervir na economia, pois o
mercado seria capaz de se autorregular. Disso resultou a chamada doutrina do
laissez-faire, laissez-passer (deixar fazer, deixar passar) em que a função do
Estado seria somente a de proteger a propriedade e garantir a segurança dos
indivíduos, permitindo que as relações sociais e econômicas se desenvolvessem
livremente, sem qualquer interferência estatal. Essas idéias serviram como uma
luva para proteger os interesses da burguesia que estava na iminência de alcançar
o poder político e foram responsáveis por uma profunda transformação acerca do
papel a ser desempenhado pelo Estado.”
• Politicamente, se baseia na obra de Stuart Mill (Da Liberdade), dentre outros.
O livro de Mill preconiza que é necessário que os indivíduos observem certas
regras gerais no seu relacionamento recíproco, a fim de que as pessoas possam
saber o que as espera. Mas, acreditando nas virtudes naturais do homem,
acrescenta que no tocante aos assuntos que respeitam a cada um deve ser
assegurado o livre exercício da espontaneidade individual. O indivíduo é melhor
árbitro de seus interesses do que o Estado, não podendo haver mal maior do que
permitir que outra pessoa julgue o que convém a cada um. Assim, qualquer erro
que alguém cometa, consciente ou inconscientemente, não produz tanto mal
quanto a submissão ao Estado (Dallari).
• Conforme Dallari, Mill apresenta três objeções fundamentais à interferência do
Estado na vida dos particulares:
▪ Ninguém seria mais capaz de realizar qualquer negócio ou de
determinar como ou porque deva ser realizado do que aquele que
tem interesse direto (o indivíduo).
▪ Caso os indivíduos não realizem o negócio tão bem, o que seria
igual à ação dos agentes do Estado, é preferível ainda que ele o
faça, para que aprenda com o erro.
▪ Cada função que se acrescenta às que o governo já exerce, provoca
maior difusão da influência que lhe cabe sobre esperanças e
temores, convertendo, cada vez mais, a parte ativa e ambiciosa do
público em parasitas do poder público, ou de qualquer partido que
aspire ao poder.
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• Streck: “O liberalismo se apresentou como uma teoria antiestado. O aspecto
central de seus interesses era o indivíduo e suas iniciativas. A atividade estatal,
quando se dá, recobre um espectro reduzido e previamente reconhecido. Suas
tarefas circunscrevem-se à manutenção da ordem e segurança, zelando que as
disputas porventura surgidas sejam resolvidas pelo juízo imparcial sem recurso a
força privada, além de proteger as liberdades civis e a liberdade pessoal e
assegurar a liberdade econômica dos indivíduos exercitada no âmbito do mercado
capitalista. O papel do Estado é negativo, no sentido da proteção dos indivíduos.
Toda a intervenção do Estado que extrapole estas tarefas é má, pois enfraquece a
independência e a iniciativa individuais. Há uma dependência entre o crescimento
do Estado e o espaço da(s) liberdade(s) individual(is).”
• Prevalência da autonomia privada.
6. UTILITARISMO
▪ Teoria consagrada por Jeremy Bentham e John Stuart Mill no final do século
XVIII e início do século XIX.
▪ Crítica aos defensores da existência de um contrato social baseado no Direito
Natural (jusnaturalistas contratualistas, como Hobbes e Rousseau).
▪ Visão de que os cidadãos cumprem leis e compromissos com foco nas futuras
vantagens (utilidades) que obterão para si e para a sociedade.
▪ André Ramos: “No campo dos direitos humanos, o utilitarismo clássico sustenta
que a avaliação de uma conduta decorre de suas consequências e não do
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reconhecimento de direitos. Assim, determinado ato é – ou não – reprovável de
acordo com as circunstâncias e consequências. O resultado em prol da felicidade
do maior número possível de pessoas pode justificar determinada ação, uma vez
que a utilidade não é simplesmente a felicidade individual. Para minimizar
eventual defesa de monstruosidades (assassinato de alguns, para beneficiar
muitos, por exemplo), o utilitarismo não aceita que se obtenha a felicidade geral
em prejuízo da felicidade individual. Logo, o utilitarismo não seria uma visão
totalitária de eliminação da autonomia individual para o benefício da sociedade,
mas sim uma visão de maximização das consequências positivas de uma conduta.
A crítica ao utilitarismo em geral recai sobre a impossibilidade de uso dos
indivíduos (e seus direitos) como instrumentos de maximização da felicidade da
maioria. Ademais, há os riscos de se optar por uma ação que beneficie muitos e
viole direitos fundamentais de poucos.”
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• Beccaria defendia a proporcionalidade na aplicação da pena: “Se a geometria
fosse adaptável às infinitas e obscuras combinações das ações humanas, deveria
existir uma escada correspondente de penas em que se graduassem desde a maior
até a menos dura.”
• Luiz Régis Prado, a respeito de Beccaria: “Sem dúvida foi ele, o autor que em
primeiro lugar desenvolveu a ideia da estrita legalidade dos crimes e das penas,
operando uma verdadeira sistematização, dominada por três postulados
fundamentais: legalidade penal, estrita necessidade das incriminações e uma
penologia utilitária. Assim resumidamente: a) a afirmação do princípio
fundamental da legalidade pena dos delitos e das penas: só as leis podem fixar as
penas em relação aos delitos e essa autoridade não pode residir senão no
legislativo; b) a afirmação de que a finalidade da pena é a prevenção geral e a
utilidade: a pena deve ser necessária, aplicada com presteza, determinada, suave
e proporcional ao delito; c) a abolição da tortura e da pena de morte; d) a
infalibilidade na execução das penas; e) a clareza das leis; f) a separação das
funções estatais e; g) a igualdade de todos perante a lei penal”
• Beccaria era contrário às acusações secretas (típicas do modelo inquisitivo de
processo penal), não admitindo tortura durante o processo, afirmando ainda que a
atrocidade das penas se opõe ao bem público.
• Também tinha uma visão socioeconômica para a origem de crimes patrimoniais,
como o roubo.
• Masson: “Inicialmente, as leis devem ser certas, claras e precisas, uma vez que a
incerteza das normas faz crescer a inatividade e a estupidez. Com efeito, o
legislador sábio busca impedir o mal antes de repará-lo com a elaboração de leis,
já que um cidadão de alma sensível constata que, protegido por boas leis, de
simples compreensão, perde a iníqua liberdade de praticar o mal, e os crimes são
prevenidos compensando-se a virtude.”
• Masson: Beccaria “(...) baseia seu pensamento no contrato social de Rousseau,
de forma que o criminoso passa a ser reputado como violador do pacto social,
sendo então considerado adversário da sociedade. A pena perdia seu caráter
religioso, predominando a razão sobre questões espirituais”.
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• Comparato: “A independência das antigas treze colônias britânicas da América
do Norte, em 1776, reunidas primeiro sob a forma de uma confederação e
constituídas em seguida em Estado federal, em 1787, representou o ato inaugural
da democracia moderna, combinando, sob o regime constitucional, a
representação popular com a limitação de poderes governamentais e o respeito
aos direitos humanos.”
• Importante observar que a colonização das treze colônias não foi homogênea, pois
no norte se estabeleceu uma colonização de ocupação humana (principalmente de
puritanos, fugidos da perseguição religiosa), enquanto no sul, uma de exploração,
com escravidão e plantation.
• Para Comparato, três grandes características socioculturais atuaram como fatores
predisponentes para a criação do Estado americano:
▪ A não reprodução, em território americano, da sociedade
estamental europeia (verificando-se, então, um princípio de
igualdade jurídica entre os homens livres);
▪ A defesa das liberdades individuais e
▪ A submissão dos poderes governamentais ao consentimento
popular.
• Historicamente, a revolução americana é fruta do desenrolar de certos fatos:
aumento das despesas da coroa inglesa devido à franco-inglesa pelo controle do
território canadense, resultando no aumento de impostos da colônia, ocorrência
de revoltas em várias cidades e realização de Congressos Continentais, ocorrendo
na primeira (na Filadélfia), a elaboração do Sumary View of the Rights of British
America, com idéias que estariam presentes, posteriormente, na Constituição
americana. Posteriormente, ocorreu a guerra de independência, a formação de
uma confederação e posterior evolução para uma federação.
• Positivação dos direitos tidos como inerentes ao homem, “até ali mais afeiçoados
a reivindicações políticas e filosóficas do que a normas jurídicas obrigatórias,
exigíveis judicialmente” (Branco).
• Inspirada em Locke, Rousseau e Montesquieu, é anterior à Declaração de
Independência dos EUA.
• Preocupação com a formação de um governo democrático, com limitação de
poderes.
• Artigo 1: “Todos os seres humanos são, pela sua natureza, igualmente livres e
independentes, e possuem certos direitos inatos, dos quais, ao entrarem no estado
de sociedade, não podem, por nenhum tipo de pacto, privar ou despojar sua
posteridade; nomeadamente, a fruição da vida e da liberdade, com os meios de
adquirir e possuir a propriedade de bens, bem como de procurar e obter a
felicidade e a segurança.”
• José Afonso: “A Declaração de Virgínia consubstanciava as bases dos direitos do
homem, tais como: (1) todos os homens são por natureza igualmente livres e
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independentes; (2) todo o poder está investido no povo e, portanto, dele deriva, e
os magistrados são seus depositários e servos, e a todo tempo por ele responsáveis;
(3) o governo é, ou deve ser, instituído para o comum benefício, proteção e
segurança do povo, nação ou comunidade; (4) ninguém tem privilégios exclusivos
nem os cargos ou serviços públicos serão hereditários; (5) os Poderes Executivo
e Legislativo do Estado deverão ser separados e distintos do Judiciário e, para
garantia contra a opressão, os membros dos dois primeiros teriam que ter
investidura temporária e as vagas seriam preenchidas por eleições frequentes,
certas e regulares; (6) as eleições dos representantes do povo devem ser livres; (7)
é ilegítimo todo poder de suspensão da lei ou de sua execução, sem o
consentimento dos representantes do povo; (8) assegurado o direito de defesa nos
processos criminais, bem como julgamento rápido por júri imparcial, e que
ninguém seja privado de liberdade, exceto pela lei da terra ou por julgamento de
seus pares; (9) vedadas fianças e multas excessivas e castigos cruéis e
extraordinários; (10) vedada a expedição de mandados gerais de busca ou de
detenção, sem especificação exata e prova do crime; (11) a liberdade de imprensa
é um dos grandes baluartes da liberdade; (12) “que a milícia seja bem regulada,
composta de elementos do povo, com prática de armas, constitui a defesa própria,
natural e segura de um Estado livre; que os exércitos permanentes, em tempo de
paz, devem ser evitados, como perigosos para a liberdade; e que, em todos os
casos, o militar deve ficar sob rigorosa subordinação ao poder civil e por ele
governado”; (13) todos os homens tem igual direito ao livre exercício da religião
com os ditamos da consciência.”
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ocorrer com a Revolução Francesa, em 1789. Até então, a soberania pertencia
legitimamente ao monarca, auxiliado no exercício do reinado pelos estratos
sociais privilegiados.”
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8. REVOLUÇÃO FRANCESA
• A visão original do termo revolução trazia a idéia de uma força para restauração
de uma ordem antiga política (vide a Revolução Gloriosa, na Inglaterra), mas com
a Revolução Francesa, passou a denominar o movimento de renovação completa
das estruturas sociopolíticas de uma nação, induzindo o nascimento de uma nova
nação.
• Crise econômica e social na França.
• Revolução Francesa – queda do antigo regime.
• Barroso: “(...) foi a Revolução Francesa, com seu caráter universal, que incendiou
o mundo e mudou a face do Estado – convertido de absolutista em liberal – e da
sociedade, não mais feudal e aristocrática, mas burguesa.”
• Barroso: “A revolução não foi contra a monarquia, que, de início, manteve-se
inquestionada, mas contra o absolutismo, os privilégios da nobreza, do clero e as
relações feudais no campo. Sob o lema liberdade, igualdade e fraternidade,
promoveu-se um conjunto amplo de reformas anti-aristocráticas, que incluíram:
▪ a) a abolição do sistema feudal;
▪ b) a promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão;
▪ c) a elaboração de uma nova Constituição, concluída em 1791;
▪ d) a denominada constituição civil do clero.”
• Comparato: “Os líderes revolucionários estavam tão convencidos de que
acabavam de inaugurar uma nova era histórica que não hesitaram em abolir o
calendário cristão e substituí-lo por um novo, cujo Ano I iniciou-se em 22 de
setembro de 1792, dia seguinte à data da instalação da Convenção, a nova
Assembleia Constituinte que inaugurou o regime republicano. Ao mesmo tempo,
operaram a imediata substituição dos pesos e medidas, vigorantes havia séculos e
que variavam de região a região e mesmo de cidade a cidade, pelo novíssimo
sistema métrico decimal, fundado no cálculo matemático. Se o novo calendário
deixou de vigorar com o término da Revolução, o sistema métrico acabou sendo
adotado definitivamente em quase todo o mundo.”
• Posteriores fases de radicalismo (Robespierre e a fase do terror).
• Fragilidade do governo e ascensão de Napoleão.
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Integra o chamado bloc de constitucionnalité, em face do qual opera o controle de
constitucionalidade efetuado pelo Conselho Constitucional.”
• Ferreira: “Sua importância, entretanto, não advém disso. Decorre de ter sido por
um século e meio o modelo por excelência das declarações, e ainda hoje merecer
o respeito e a reverência dos que se preocupam com a liberdade e os direitos do
Homem.”
• Escrita na esteira da Revolução Francesa.
• A Declaração teve influência da Constituição americana (que fora traduzida para
o francês) e pelo trabalho de Thomas Jefferson (que chegou a ser embaixador
dos Estados Unidos na França).
• Ferreira Filho: “As declarações americanas influenciaram, sem dúvida, o curso
do acontecimento franceses, pois eram conhecidas dos revolucionários que muito
as apreciavam. Na verdade – como era de se esperar – as declarações americanas
aproximam-se do modelo inglês, preocupando-se menos com o Homem e seus
direitos do que com os direitos tradicionais do cidadão inglês – julgamento pelo
júri, participação política na assembleia, consentimento na tributação. Nisso, aliás,
tem o mérito de armar o indivíduo com instrumentos de garantia de seus direitos,
o que não ocorre na Declaração Francesa. Esta, contudo, teve por si o esplendor
das fórmulas e da língua, a generosidade de seu universalismo. Por isso, foi
preferida e copiada, ainda que frequentemente seus direitos ficassem letra morta.”
• Consultas populares.
• Influência de filósofos (les philosophes) como Montesquieu e Rousseau, que
trabalhavam, respectivamente, com a limitação institucional de poderes dos
governantes e o princípio de que a vontade geral do povo é a única fonte de
legitimidade dos governos.
• José Afonso “A Declaração de Virgínia e a de outras ex-colônias inglesas na
América eram mais concretas, preocupadas mais com a situação particular que
afligia aquelas comunidades, enquanto a Declaração francesa de 1789 é mais
abstrata, mais ‘universalizante’, de onde seus três caracteres fundamentais,
consoante Jacques Robert:
▪ a) intelectualismo, porque a afirmação de direitos imprescritíveis
do homem e a restauração de um poder legítimo, baseado no
consentimento popular, foi uma operação de ordem puramente
intelectual que se desenrolaria no plano unicamente das idéias; é
que, para os homens de 1789, a Declaração de direitos era antes de
tudo um documento filosófico e jurídico que devia anunciar a
chegada de uma sociedade ideal;
▪ b) mundialismo, o sentido de que os princípios enunciados no
texto da Declaração pretendem um valor geral que ultrapassa os
indivíduos do país, para alcançar valor universal;
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▪ c) individualismo, porque só consagra as liberdades dos
indivíduos, não menciona a liberdade de associação nem a
liberdade de reunião, preocupa-se com defender o indivíduo contra
o Estado.”
• Comparato: Tida como o atestado de óbito do Antigo Regime, “a Declaração de
1789 foi, aliás, em si mesma o primeiro elemento constitucional do novo regime
político. Pelo fato de ter sido publicada sem a sanção do rei, houve quem a
interpretasse, de início, como simples declaração de princípios, sem força
normativa. Mas em pouco tempo a assembleia aceitou as ideias expostas por
Sieyès em sua obra famosa e reconheceu que a competência decisória por ela
exercida emanava diretamente da nação, como poder constituinte, e que o rei não
passava de poder constituído, cuja subsistência como tal, de resto, dependia ainda
de uma aprovação explícita da assembleia, no texto constitucional a ser votado.”
• Duquesnoy (sobre a universalidade da declaração): “Uma declaração deve ser de
todos os tempos e de todos os povos; as circunstâncias mudam, mas ela deve ser
invariável em meio às revoluções. É preciso distinguir as leis e os direitos: as leis
são análogas aos costumes, sofrem o influxo do caráter nacional; os direitos são
sempre os mesmos.”
• Comparato: “A Revolução Francesa desencadeou, em curto espaço de tempo, a
supressão das desigualdades entre indivíduos e grupos sociais, como a
humanidade jamais experimentara até então. Na tríade famosa, foi sem dúvida a
igualdade que representou o ponto central do movimento revolucionário. A
liberdade, para os homens de 1789, limitava-se praticamente à supressão de todas
as peias sociais ligadas à existência de estamentos ou corporações de ofícios. E a
fraternidade, como virtude cívica, seria o resultado necessário da abolição de
todos os privilégios.”
• A Revolução e a Declaração eram mais centradas na supressão de desigualdades
estamentais que na consagração das liberdades individuais, o que levou ao rápido
reestabelecimento de um estado absolutista (havia uma demanda de mais Estado
interveniente para este combate a desigualdades), ignorando certos princípios
estabelecidos na Declaração, como a separação de Poderes.
• Não houve o estabelecimento de igualdade entre gêneros. Apresentou-se uma
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, mas foi rejeitada pelos
revolucionários e sua principal defensora, Olympe de Gouges, foi executada.
• Marmelstein: A Declaração “(...) começa seu texto proclamando que ‘os homens
nascem e permanecem livres e iguais em direitos’. Apesar disso, na mesma época,
ficou decidido que o direito de voto seria restrito aos homens que tinham posse
(voto censitário). O sufrágio universal sequer foi mencionado. Com isso, grande
parcela da população ficava à margem do jogo político, inclusive as mulheres. Os
‘homens e cidadãos’, mencionados no texto, eram mesmo pessoas do sexo
masculino e não uma figura de linguagem.”
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• Buscou-se substituir o monarca por outro titular da soberania, desenvolvendo-se
a soberania nacional/popular (vide Sieyès), que necessitaria de representação
democrática.
• Comparato: “A instituição da representação política moderna, muito diversa do
sistema representativo que se praticava na Idade Média, foi obra da Constituição
Americana e da Revolução Francesa. Na representação antiga, representados eram
os estamentos ou grupos sociais, concretamente identificados. Na representação
moderna, diferentemente representada é sempre uma coletividade global, seja ela
a nação ou o povo, considerada como um todo homogêneo, sem divisões internas.
Os representantes são eleitos pelos votos dos indivíduos componentes desta
coletividade, sempre iguais entre si; não por uma assembleia do grupo ou do
estamento representado, onde os votos podem ser de peso diverso. (...)”
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Pública, para educar as crianças abandonadas, ajudar os enfermos pobres e
fornecer trabalho aos pobres válidos que não tenham podido encontra-lo.”
• Traz um protótipo do reconhecimento do controle judicial da constitucionalidade
das leis.
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Constituição (1799), com aprovação por plebiscito (por três milhões de pessoas),
a qual mantinha a França como uma República, dividia o Poder Legislativo em
quatro assembleias, estabelecia três cônsules para o Poder Executivo (nomeados
pelo Senado para mandatos de dez anos), com o primeiro cônsul concentrando a
maior parte dos poderes, propondo e publicando leis e nomeando ministros,
funcionários e juízes.
• Bonaparte era o primeiro cônsul e em 1802 foi nomeado cônsul vitalício, se
autonomeando Imperador em 1804.
• Na era do Império Napoleônico, fora promulgado um conjunto de códigos (entre
1804 e 1810): o Código Civil (considerada por Napoleão sua obra jurídica mais
importante, com forte inspiração no Direito Romano, reunindo idéias liberais e
conservadoras), Código de Processo Civil, Código Comercial, Código Penal,
Código de Processo Penal e Cödigo de Instrução processual.
• Lages: “Código é a compilação sistemática de leis, normas e regulamentos legais
aplicáveis em diversos tipos de atividades. A partir da segunda metade do século
XVIII os códigos passaram a ser exclusivamente legislativos e, com o passar do
tempo, tenderam a ser específicos a um ramo do direito.”
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Youtube: Direito à Cafeína 32
profissional. Como mostrou profeticamente Toqueville alguns anos mais tarde,
esse privatismo exacerbado podia dar ensejo não a um encolhimento do poder
estatal, mas, bem ao contrário, à instauração de um novo autoritarismo político,
combinado com o liberalismo privatista na sociedade Civil. O século XX, de fato,
conheceu inúmeros exemplos, sobretudo na América Latina e na Ásia, de Estados
autoritários que adotaram o liberalismo econômico.”
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Constituição portuguesa, estabelecia a liberdade de culto religioso (arts. 14 e 15),
direito de reunião e associação.”
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solicitações populares, o que vai impor uma mudança de rota no projeto do Estado
Mínimo no sentido da intervenção do poder público estatal em espaços até então
próprios à iniciativa privada.”
• Streck: “No fim do século (XIX), um fator novo foi injetado na filosofia liberal.
Era a justiça social, vista como a necessidade de apoiar os indivíduos de uma ou
outra forma quando sua autoconfiança e iniciativa não podiam mais dar-lhes
proteção, ou quando o mercado não mostrava a flexibilidade ou a sensibilidade
que era suposto demonstrar na satisfação de suas necessidades básicas.”
• No Estado Social, há uma passagem de uma estatalidade mínima para uma
estatalidade positiva, em que o Estado atuaria positivamente (ativamente) para
garantia de direitos sociais, como previdência, transporte, moradia, etc.
• Surgimento e consolidação dos direitos fundamentais de segunda geração,
buscando-se combater o déficit econômico-social das classes hipossuficientes.
• Sem negar os direitos civis e políticos conquistados pelo Estado Liberal, o
Welfare State (Estado Social ou État Providence) se vê compelido a proteger
também os direitos atrelados à igualdade material.
• Deixa-se a visão do Estado como opositor da sociedade para ser compreendido
como esperança de geração de dignidade e igualdade material (tratamento
desigual dos desiguais na medida de suas desigualdades).
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Youtube: Direito à Cafeína 35
• O direito passava, então, por sua fase positivista, sendo a sociedade regida por leis
que não atuavam na concretização dos ditames constitucionais, estes despidos de
eficácia normativa, e que acabavam fechando-se em um sistema estéril
• Após a II Guerra Mundial, surgirá o neoconstitucionalismo
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regulamentação dos salários e das condições de trabalho, bem como no
desenvolvimento das forças produtivas.”
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12. PÓS-II GUERRA
12.1. NEOCONSTITUCIONALISMO, CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO
DIREITO E TRANSCONSTITUCIONALISMO
• Estabelece-se uma fase marcada pela existência de documentos constitucionais
amplos, analíticos e extensos, com o alargamento dos textos constitucionais,
isentando os indivíduos das coações autoritárias em nome da democracia política,
dos direitos econômicos e dos direitos dos trabalhadores.
• Disseminação da idéia de constituição dirigente (constituição programática)
• Ocorre, então, a formação de um novo Estado Constitucional de Direito, em
oposição ao Estado “Legislativo” de Direito, e a observância da influência
material do Direito Constitucional no ordenamento jurídico, sendo o alvorecer de
um neoconstitucionalismo, que se caracterizaria pelo reconhecimento da força
normativa da Lei Suprema,1 pela expansão da jurisdição constitucional e
decorrente criação de Cortes Constitucionais, uma nova interpretação das Cartas
Magnas, utilizando da ponderação entre Direitos e interesses, e pela rejeição da
pura submissão do aplicador do direito às regras positivadas, típica do modelo
positivista/legalista.
• Materializa-se a visão que Konrad Hesse tem da Constituição, que não seria mero
pedaço de papel.
• Para Hesse, embora a Constituição Jurídica, enquanto documento formal, seja
pautada pela histórica, vinda dos fatos e das estruturas de poder, não se limita aos
ditames desta, como preconizava Lassale, mas deve impor a realização de seus
valores.
1
DIMOULIS, Dimitri. Neoconstitucionalismo e moralismo. In: SARMENTO, Daniel (org.) Filosofia e teoria
constitucional contemporânea. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 213.
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• Quanto à atuação dos poderes, destaca-se a redução do campo de
discricionariedade, seja na elaboração de leis pelo legislativo, que passa a ter que
realizar um determinado programa constitucional, seja quanto ao poder executivo,
que deve atuar para promoção deste programa em uma aplicação direta e imediata
da Constituição, independente de determinação legal infraconstitucional, e
também quanto ao judiciário, condicionando-se a interpretação de todas as normas
do sistema (Luis Barroso)
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• José Afonso: “A Declaração Universal dos Direitos do Homem contém trinta
artigos, precedidos de um preâmbulo com sete considerandos, em que reconhece
solenemente: a dignidade da pessoa humana, como base da liberdade, da justiça e
da paz; o ideal democrático com fulcro no progresso econômico, social e cultural;
o direito de resistência à opressão; finalmente, a concepção comum desses
direitos.”
• Dalmo Dallari: A Declaração consagrou três objetivos fundamentais, “a certeza
dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e deveres,
para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; a
segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em
qualquer circunstância, os direitos fundamentais serão respeitados; a possibilidade
dos direitos, exigindo que se preocupe assegurar a todos os indivíduos os meios
necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e
mentiroso da afirmação de igualdade de direitos, onde grande parte do povo vive
em condições subumanas.”
• Art. 1º Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito
de fraternidade.
• A ser melhor delineado em plano de aula específico.
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comunidade internacional se encontra hoje em diante não só do problema de
fornecer garantias válidas parta aqueles direitos, mas também de aperfeiçoar
continuamente o conteúdo da Declaração, articulando-o, especificando-o,
atualizando-o, de modo a não deixá-lo cristalizar-se e enrijecer-se em fórmulas
tanto mais solenes quanto mais vazias Esse problema foi enfrentado pelos
organismos internacionais nos últimos anos, mediante uma série de atos que
mostram quanto é grande, por parte desses organismos, a consciência da
historicidade do documento inicial e da necessidade de mantê-lo vivo fazendo-o
crescer a partir de si mesmo. Trata-se de um verdadeiro desenvolvimento ( ou
talvez, mesmo, de um gradual amadurecimento) da Declaração Universal, que
gerou e está para gerar outros documentos interpretativos, ou mesmo
complementares, do documento inicial.”
• No seu aspecto jurídico-formal, não é um tratado. Foi adotada pela Assembleia
Geral das Nações Unidas sob a forma de resolução, que, por sua vez, não apresenta
força de lei, mas uma recomendação.
Próximo Ponto:
VIII. AS LEIS PORTUGUESAS E AS ORDENAÇÕES DO REINO (afonsinas,
manuelinas e filipinas).
Este material não substitui a doutrina, sendo mero fichamento orientador do conteúdo
ministrado em sala de aula.
O aluno deverá pautar seus estudos pela leitura da doutrina, jurisprudência e legislação.
Referências (literatura obrigatória):
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CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. 3ª edição. Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Júris, 2006.
GILISSEM, Jonh. Introdução histórica ao direito. 7. ed. Lisboa: Caloustre Gulbenkian,
2013.
WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos da história do direito. 8. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2014.
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