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Constitucionalismo

1 – Constitucionalismo

1.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo, em sentido genérico, é caracterizado pelo movimento histórico-


cultural ocidental de limitação do poder político e garantia de direitos do povo que deu origem
ao Estado constitucional moderno.

1.2 – Teoria normativa da política

O constitucionalismo, segundo a teoria normativa da política de Canotilho, é


caracterizado pelo fenômeno da juridicização da atividade política, no sentido de
transformação da decisão política em norma constitucional.

1.3 – André Ramos Tavares

O constitucionalismo, segundo André Ramos Tavares, pode ser caracterizado com base
em quatro aspectos, de maneira que pode ser definido como movimento político-social
historicamente remoto de limitação do poder arbitrário, movimento de imposição das
constituições escritas, propósitos latentes e atuais da Constituição na sociedade, evolução
constitucional de um determinado Estado.

2 – Constitucionalismo na antiguidade clássica

2.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo na antiguidade clássica é caracterizado pelas ideias embrionárias


fundamentais para o desenvolvimento do constitucionalismo moderno, de maneira que
constitui a origem material dos Estados constitucionais modernos.

2.2 – Hierarquia das leis

A ideia de hierarquia das leis surgiu nos Estados teocráticos hebreu e grego, no sentido
de limitação do poder político pela Lei de Deus ou pela lei dos deuses. Nesse sentido, a
hierarquia das leis deu origem ao Graphé Paranomon, precursor do controle de
constitucionalidade, que garantia a qualquer cidadão a acusação de lei ou decreto contrário à
lei divina.
2.3 – Identidade entre governantes e governados

O constitucionalismo grego deu origem à ideia de identidade entre os governantes e os


governados, mediante previsão de mecanismos para exercício da democracia direta e o sorteio
de funções públicas temporárias entre os cidadãos.

2.4 – Separação dos Poderes

A ideia de separação dos poderes surgiu no Estado romano, mediante a distribuição do


poder entre os cônsules, senadores e povo, de maneira que foi definida por Políbio e por
Cícero como constituição mista.

3 – Constitucionalismo inglês

3.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo inglês, ou historicista, é caracterizado pelo ressurgimento do


movimento histórico de limitação do poder político e garantia de direitos do povo, que entrou
em estado de inércia em virtude do absolutismo monárquico na alta idade média, de maneira
que deu origem aos primeiros documentos de limitação do poder real, que resultaram na
distinção entre o poder do rei e o poder do reino.

3.2 – Magna Carta

A Magna Carta, de 1215, foi um pacto de natureza contratual entre o rei João Sem
Terra e os Barões do Reino com a finalidade de renovação da fidelidade dos Barões em
contrapartida ao reconhecimento de direitos dos súditos, inspirada na carta de coração de
Henrique I, e posteriormente repudiada sob a alegação de coação. Os principais direitos
previstos pelo documento foram o direito de ataque ao rei em caso de descumprimento e as
ideias de processo legal, de procedimento de desapropriação e de acesso e celeridade do
Judiciário.

3.3 – Petição de Direitos

A Petição de Direitos, de 1628, foi uma declaração parlamentar de liberdades civis com
fundamento na rejeição à política externa promovida pelo rei Carlos I, que exigia empréstimos
compulsórios, aboletamento de militares nas casas dos súditos e prisão dos opositores. O
documento tinha como principais dispositivos a anuência do parlamento para criação de
tributos, a vedação de aquartelamento de militares nas casas dos súditos e de decretação de
Lei Marcial em tempos de paz, e a vedação de encarceramento sem a demonstração de motivo
real.
3.4 – Habeas Corpus Act

O Habeas Corpus Act, de 1679, foi um ato parlamentar que previu o direito de
verificação da legalidade da prisão ou da acusação de crime, mediante procedimento
específico para a concessão de habeas corpus pelo lorde-chanceler, que deu origem à ordem
judicial executória.

3.5 – Bill of Rights

O Bill of Rights, de 1689, forma estatutária da Declaração de Direitos apresentada pelo


Parlamento ao príncipe Guilherme de Orange como condição para a coroação, foi o
documento que deu origem à constitucionalização da monarquia inglesa, mediante transição
da supremacia real para a supremacia do Parlamento.

4 – Constitucionalismo norte-americano

4.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo norte-americano tem como características principais a soberania


popular, o modelo de estado federal e o sistema de governo presidencialista, e como principais
documentos o Pacto Mayflower de 1620, a Declaração da Virgínia de 1776, a Declaração da
Independência de 1776, a Constituição Federal de 1787, e o Bill of Rights de 1791.

4.2 – Soberania popular

O advento da soberania popular deu origem ao conceito de democracia dualista,


caracterizada pela distinção entre as decisões raras do povo, manifestadas nos momentos
constituinte, e decisões cotidianas dos governantes, de maneira que as decisões do povo
prevalecem sobre as decisões dos governantes. Nesse sentido, os Pais da Constituição
estabeleceram princípios de direitos intangíveis que protegem o povo contra os abusos dos
governantes, e ainda, distingue democracia de assembleísmo, coibindo a tirania da maioria.

4.3 – Judicial review

A prevalência da decisão política fundamental garantida pela democracia dualista deu


origem à ideia de supremacia constitucional e de controle de constitucionalidade. Nesse
sentido, o Judicial review, com fundamento no sistema de freios e contrapesos, visando a
limitação jurídica do Poder Legislativo, é caracterizado pela atribuição ao Poder Judiciário da
competência para exercício do controle difuso de constitucionalidade.
5 – Constitucionalismo francês

5.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo francês, ou individualista, tem como principais características a


teorização do poder constituinte, igualdade jurídica formal e a teorização da separação
orgânica de poderes do Estado, e como principais documentos, a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789 e as Constituições de 1791, 1793 e 1799.

5.2 – Teorização do poder constituinte

A teorização do poder constituinte, proposta por Emmanuel Josef Sieyes, definiu o


poder constituinte como o poder originário de titularidade da Nação para a criação autônoma
de uma constituição escrita, exercido mediante representação extraordinária em uma
Assembleia Nacional Constituinte, distinguindo poder constituinte e poderes constituídos.

5.4 – Separação de poderes

A teoria da separação orgânica dos poderes do Estado, proposta por Charles de


Montesquieu, na obra O Espírito das leis, de 1748, com base na tripartição funcional de
Aristóteles, e precedida pela teoria da bipartição orgânica de John Locke, previu a atribuição
de um órgão para o exercício concreto de cada uma das funções estatais.

6 – Constitucionalismo liberal

6.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo liberal, fundamentado no liberalismo econômico proveniente dos


direitos humanos de primeira geração, é caracterizado pela intervenção estatal mínima nas
relações privadas, e tem como principais referências a Constituição de Cades de 1812, de
Portugal de 1822 e do Brasil de 1824.

6.2 – Constituição formal

O constitucionalismo liberal deu origem às primeiras constituições escritas, que


garantiram publicidade, clareza e segurança às normas jurídicas, e ainda, fundamentou a
definição ideal de constituição, no sentido de documento escrito com a previsão de direitos
civis e políticos e de separação dos poderes.

7 – Constitucionalismo social
7.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo social, fundamentado nos direitos humanos de segunda geração,


é caracterizado pela tutela estatal da dignidade da pessoa humana, e tem como principais
referências a Constituição do México de 1917 e da Alemanha de 1919.

7.2 – Normas programáticas

A tutela da dignidade da pessoa humana no ordenamento jurídico constitucional deu


origem às normas programáticas, de maneira que resultou na ampliação do conteúdo material
constitucional em relação à constituição garantia.

8 – Neoconstitucionalismo

8.1 – Disposições gerais

O neoconstitucionalismo consiste no modelo constitucional pós-positivista


fundamentado na dignidade da pessoa humana, no sentido de superação da ideia de
neutralidade moral das normas jurídicas. Nesse sentido, o neoconstitucionalismo tem como
principais característica a adoção de carga axiológica interpretativa e a concepção jurídica
estrita das normas constitucionais.

8.2 – Carga axiológica interpretativa

A adoção de carga axiológica interpretativa das normas jurídicas pelo modelo


neoconstitucionalista deu origem aos princípios normativos, caracterizados pela aplicabilidade
concreta direta, mediante ponderação de interesses.

8.3 – Concepção jurídica estrita

A adoção da concepção jurídica estrita das normas constitucionais pelo modelo


neoconstitucionalista deu origem à ideia de supremacia constitucional formal, que resultou no
advento do Estado jurisdicional, caracterizado pela submissão das atividades estatais ao
controle jurisdicional, com fundamento na competência de interpretação e guarda da
Constituição.

9 – Constitucionalismo do futuro

9.1 – Disposições gerais


O constitucionalismo do futuro, ou vindouro, segundo José Roberto Dromi, é
caracterizado pela busca do equilíbrio entre os constitucionalismos liberal, social e
contemporâneo, baseado na verdade, participação, solidariedade, continuidade, consenso,
integração e universalização.

9.2 – Valores fundamentais

A verdade, segundo José Roberto Dromi, consiste na vedação de normas utópicas e na


aplicação coercitiva das normas aplicáveis, a participação, na atuação popular ativa e integral
nos processos políticos, a solidariedade, na garantia da igualdade material e na cooperação
entre os povos, a continuidade, na vedação ao retrocesso dos direitos fundamentais, o
consenso, na superação da ideia de maioria mediante a deliberação por grupos e adesão
consensual dos discordantes, a integração, na colaboração entre os povos mediante políticas
supranacionais, a universalização, na generalidade dos direitos humanos positivados.

10 – Constitucionalismo internacionalizado

10.1 – Disposições gerais

O constitucionalismo internacionalizado, ou globalizado, é caracterizado pela


universalização da ideia ocidental de constituição, fundamentada na relativização da soberania
estatal proveniente da globalização econômica e social e na tutela da dignidade humana.

10.2 – Fenômenos constitucionais

O constitucionalismo globalizado resultou nos fenômenos da internacionalização


constitucional, da constitucionalização do direito internacional e do transconstitucionalismo.
Nesse sentido, a internacionalização da Constituição é caracterizada pela ideia de constituição
supranacional, a constitucionalização do direito internacional pela positivação no
ordenamento interno das regras internacionais e o transconstitucionalismo pela possibilidade
de fundamentação de decisões judiciais baseada no entrelaçamento de ordenamentos
distintos.

10.3 – Novo constitucionalismo Latino Americano

O novo constitucionalismo latino americano é caracterizado pela formação de um


estado plurinacional multiétnico, próprio da América Latina, com base na valorização dos
povos pré-colombianos, em contraste com o modelo histórico de matriz europeia dos povos
colonizadores, mediante diálogo intercultural heterogêneo. (Bolívia 2009 e Equador 2008)
10.4 – Constituições privadas

O fenômeno da globalização deu origem à ideia de constituição privada, no sentido de


normas de natureza constitucional desvinculadas do Estado. (internet)

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