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Entrada dos ideais liberais (da Revolução Francesa) em Portugal – finais do século XVIII
• Pelos estrangeirados (elite intelectual que conhecia as obras iluministas vindas da França e Inglaterra)
• Pelos exilados franceses no nosso país (fugidos ao Terror durante a Convenção)
• Pelos exilados portugueses no estrangeiro (intelectuais radicais maçons e liberais que estavam fugidos do
Intendente Geral da Polícia portuguesa. Fundam no estrangeiro jornais e clubes onde se discutia o Estado do
país e se propunham reformas políticas e económicas a serem implantadas no futuro)
• Pela maçonaria (instituição que teve um papel de relevo na divulgação do Liberalismo – em Portugal desde o
século XVIII. Em 1801, Lisboa possuía cinco lojas maçónicas). Maçonaria – sociedade semissecreta que teve
origem nas corporações de pedreiros da Grã-Bretanha, ligada ao cientismo e iluminismo, visando a construção
de uma sociedade humana mais justa e igualitária.
Condicionalismos da Revolução
• No início do século XIX governava em Portugal D. João VI (filho de D. Maria I e D. Pedro III).
• Em Novembro de 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental. Bloqueio Continental – ordem dada por
Napoleão para que os países europeus fechassem os portos à Inglaterra, na altura principal opositora da
França. A Portugal, Napoleão ordenou, ainda, que se confiscasse os barcos ingleses ancorados nos seus portos
e os bens dos ingleses aqui residentes.
• Portugal hesitou em aderir ao bloqueio, uma vez que era aliado de Inglaterra.
• Só em 1807, o Governo português tomou a decisão de aderir. Entretanto já Napoleão mandara Junot invadir
Portugal.
• Logo que teve conhecimento da invasão, a família real, o Governo e cerca de 15000 pessoas embarcaram para
o Brasil levando consigo todas as riquezas possíveis (em 1807).
• Em Portugal ficou uma regência presidida pelo marquês de Abrantes D. Rodrigo Meneses e pelo general
Francisco da Cunha Menezes. Mas chegado à capital, Junot destituiu esta regência.
invasões francesas
1ª invasão – 1807 – general Junot
Cerca de 50 mil soldados franceses invadiram Portugal, espalhando-se por todo o país, roubando, confiscando e
cometendo todo o género de abusos. O património nacional foi lapidado, igrejas, mosteiros e solares. Entretanto as
tropas inglesas comandadas pelo general Arthur Wellesley juntamente com as tropas portuguesas derrotaram os
franceses nas batalhas de Roliça (Leiria) e Vimeiro, obrigando Junot a retirar.
• Os franceses devastaram as regiões por onde passaram, saquearam mosteiros, igrejas, solares, palácios e casas
de gente humilde, levando tudo o que podiam, particularmente objetos preciosos e obras de arte.
• A indústria nacional ficou com muitas unidades destruídas, o comércio ficou atrofiado e a agricultura afetada,
agravando a situação económica portuguesa.
• A ausência da corte e do rei D. João VI também contribuiu para o descontentamento da população.
• A situação económica de Portugal era má e a agitação social crescia – finanças públicas em défice crescente;
aumento das despesas; diminuição das receitas.
• Baixa produtividade da agricultura.
• Fraca competitividade da indústria.
• Em 1808, decretou a abertura dos portos brasileiros a todas as nações amigas – especialmente os ingleses
(prejudicando os interesses da burguesia continental)
• Em 1810 estabeleceu um Tratado de Comércio com a Inglaterra – dava grandes privilégios aos ingleses.
• Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de reino.
o movimento revolucionário
Todo este ambiente fez aumentar o descontentamento em relação ao poder absoluto. Por todo o lado, nos cafés, nas
organizações secretas como a Maçonaria e o Sinédrio começaram a espalhar-se as ideias iluministas da Revolução
Francesa.
Sinédrio – organização secreta fundada no Porto em 1817 por Manuel Fernandes Tomás. Os seus membros eram
maçons e burgueses de vários sectores – exército, comerciantes, industriais, magistrados, profissões liberais...
Em 1817 acontece a primeira tentativa de revolta contra a situação do país, foi levada a cabo pelo general Gomes Freire
de Andrade que tentou instaurar o Liberalismo. Este dirigente da Maçonaria foi denunciado e todos os responsáveis
do movimento foram presos e condenados à morte pelos ingleses, facto que revoltou a população.
Em 1820, os elementos do Sinédrio, aproveitando a ausência de Beresford (que se tinha deslocado ao Brasil a fim de
solicitar a D. João VI plenos poderes e dinheiro para o pagamento de despesas militares) com o apoio do exército
nacional, desencadearam no Porto uma nova revolução a 24 de Agosto de 1820 (o Porto era um importante centro
comercial e a sua burguesia era rica e influente). A revolução pôs-se em marcha com apoio da burguesia e dos militares.
A Revolução triunfou sem derramamento de sangue e proclamou-se a necessidade de criar uma Constituição (a voz
dos revoltosos chegou rapidamente a todo o país).
Objetivos da Revolução:
Os revoltosos nomearam uma nova Junta Governativa ou Junta Provisória em 1821 que convocou de imediato uma
Assembleia Nacional (Cortes).
Nas Cortes (órgão que reunia os representantes das três ordens sociais: clero, nobreza e povo), foram discutidas e
elaboradas algumas leis que visavam acabar com o Antigo Regime (séc. XVI – XVIII), por exemplo:
1 – acabar com a dominação inglesa (expulsando os generais e não autorizando sequer o desembarque de Beresford
aquando do seu regresso do Brasil)
2 – abolição dos forais (carta de lei que concedia privilégios sobre uma localidade ou terra) e outros direitos senhoriais;
3 – nacionalização dos bens da coroa;
4 – notificar o rei D. João VI do ocorrido e exigir o seu regresso imediato ao reino;
5 – abolição do Tribunal do Santo Ofício (Inquisição);
6 – liberdade de imprensa e de ensino;
7 – amnistia dos crimes políticos;
8 – revogar (invalidar) o direito aos navios estrangeiros de aportarem no Brasil e aí fazerem diretamente o comércio;
9 – elaboração e votação da Constituição que seria aprovada em setembro de 1822 (o rei regressa em 1821 e jura
cumprir a mesma).
Esta Regência provisória toma ainda as seguintes medidas antes da Constituição estar pronta (1821-1822):
Princípios fundamentais:
Objetivos:
A Constituição estabelecia:
• a soberania da Nação;
• os direitos e deveres de cada cidadão;
• a separação dos poderes;
Poder executivo, exercido pelo rei (que tinha regressado em 1821 e jurado a Constituição);
Poder legislativo, exclusivo das Cortes;
Poder judicial, entregue aos tribunais e aos juízes.
• consagração da religião Católica como religião oficial do Estado e Nação portuguesa;
• direito ao voto – bastante limitado, apenas os homens maiores de 25 anos e que soubessem ler e escrever
podiam exercer esse direito. Ficavam excluídas as mulheres, os frades e os homens analfabetos que, na época,
constituíam a maioria da população.
• *libertação da pátria dos culpados da sua decadência: o Absolutismo e os ingleses;
• *restaurar a glória e o prestígio de Portugal;
• *convocação de Cortes;
• *manter a lealdade a D. João VI e pedir o seu regresso – respeito pelas instituições tradicionais (monarquia e
Cortes) e também pela Igreja.;
• retorno do Brasil à condição de colónia;
• manter a ordem pública.
A Constituição de 1822 foi considerada progressista e radical pelos setores mais conservadores (nobreza e clero) e uma
grande parte do povo miúdo, preso a uma mentalidade religiosa e tradicionalista.
Os descontentes com a nova ordem social começaram a juntar-se em torno da rainha D. Carlota Joaquina (que se
recusou jurar a Constituição) e de seu filho D. Miguel.
• A desilusão popular: o povo continuava preso a uma mentalidade religiosa e tradicionalista; não se identificou
com a legislação vintista, nem com os ideais liberais
• A falta de adesão ao programa liberal – a união em torno da revolta de 1820 fez-se contra a ausência do rei no
Brasil e contra o domínio inglês
• O favorecimento da burguesia rural – maioritária nas Cortes Constituintes, assegurou os seus direitos; ficaram
por resolver os problemas da burguesia urbana, comercial e industrial
• O descontentamento do Clero e da Nobreza – prejudicados pela abolição dos antigos privilégios
• A independência do Brasil (em 1822) – comprometeu a recuperação financeira do país; impossibilitou o
desenvolvimento industrial e comercial; fez crescer o descontentamento e a oposição ao Vintismo.
Com a permanência da família real, o Brasil desenvolveu-se muito (universidades, bibliotecas, teatros, …),
tendo sido elevado à categoria de reino em 1815. D João VI regressou a Portugal (em 1821), jurou a
Constituição de 1822 mas havia deixado o seu filho mais velho, D. Pedro, como regente do novo reino – o
Brasil. A Constituição de 1822 não reconhecia o Brasil como reino e exigia o regresso de D. Pedro, mas este
desobedece e proclama a independência do Brasil, a 7 de setembro de 1822 (embora esta só seja reconhecida
por Portugal em 1825). D. Pedro tornou-se, então, no primeiro imperador do Brasil.
Até 1826 Portugal será governado num regime de absolutismo moderado. D. Pedro decidiu então redigir uma Carta
Constitucional em 1826 . Esta Carta Constitucional deveria substituir a Constituição de 1822. Era mais moderada e
menos democrática que a de 1822. Procurava assim serenar a vida política portuguesa.
D. Pedro abdicou do trono, delegando-o à sua filha D. Maria da Glória (futura D. Maria II), de apenas 7 anos. D. Maria
devia casar com o tio D. Miguel (não chegou a acontecer) e D. Miguel regressou do exílio para assumir a regência.
De início, D. Miguel concordou com as condições, tendo jurado cumprir a nova Constituição, em 1828. Mas, ao assumir
o poder instaurou novamente o Absolutismo:
Iniciou assim uma guerra civil (1832 – 1834) e uma violenta perseguição aos liberais (muitos fugiram para Inglaterra,
França e Açores).
D. Pedro abdicou do trono brasileiro e juntou-se ao movimento de resistência para defender o trono da sua filha, D.
Maria. Organizou um exército na ilha Terceira, nos Açores, apoiado pelos exilados e revoltosos liberais. Rumou ao
continente, em direção ao Porto, cidade que ocupou. Porém, as forças absolutistas de D. Miguel cercaram a cidade do
Porto durante um ano, impondo um clima de fome e pressão sobre os liberais. A guerra civil espalhou-se por todo o
país (Algarve, Lisboa), para aliviar a pressão dos absolutistas sobre a cidade do Porto. Foi uma viragem a favor dos
liberais.
Depois de várias derrotas, D. Miguel assinou a paz na Convenção de Évora Monte, em 1834 e partiu definitivamente
para o exílio.
A vitória liberal assinalou o assentamento definitivo do Liberalismo em Portugal. Contudo, não pôs fim às dissidências
internas que passaram a opor os liberais vintistas (adeptos da Constituição de 1822) aos liberais cartistas (adeptos da
Carta Constitucional de 1826).
Em 1836, inicia-se o Cartismo. Após a vitória dos liberais na guerra civil, Portugal regressou à ordem jurídica e
institucional da Carta Constitucional de 1826.
Contudo, a transformação do “Portugal velho, feudal” em Portugal novo, liberal, havia começado durante o cerco do
Porto e a guerra civil de 1832-34, com a abundante legislação política, social e económica redigida por Mouzinho da
Silveira – ministro da Fazenda e da Justiça de Pedro IV.
A ação reformadora de Mouzinho da Silveira
• Abolição dos morgadios até 200 mil reis (bens transmitidos ao filho mais velho).
• Abolição das ordens religiosas e o fim dos dízimos à Igreja.
• Abolição das portagens e impostos sobre a circulação de mercadorias.
• Venda em hasta pública dos bens que pertenciam às ordens religiosas.
• Divisão do país em províncias, comarcas e concelhos.
• Liberalização da propriedade agrária e da economia.
• Liberalização da exportação de produtos nacionais, mediante o pagamento de um imposto no valor de 1%.
Os seus objetivos eram modernizar Portugal (colocar o país ao nível de desenvolvimento dos outros países europeus),
acabar com o Portugal velho, promover a riqueza da Nação (ultrapassar a perda do Brasil), promover o bem comum,
consolidar o liberalismo e salvaguardar a institucionalização jurídica da liberdade individual.
o projeto setembrista
A vitória definitiva do Liberalismo, em 1834 (fim da Guerra Civil), não significou a estabilidade por que o país há tanto
ansiava.
Porém, o governo Setembrista teve de enfrentar uma constante oposição, dos cartistas – eram os que defendiam a
Carta Constitucional de 1826.
Conflito entre:
Costa Cabral exerceu uma política ditatorial e repressiva que provocou nova e violenta guerra civil, instalada desta feita,
entre os liberais. Esta guerra civil foi desencadeada por fortes levantamentos populares. O povo reclamava da subida
do preço dos alimentos, da redução dos salários, do aumento dos impostos…
a guerra civil
1ª fase – Revolução da “Maria da Fonte” – abril-maio 1846
A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada,
no Minho, que por isso ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento teve uma
forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta).
2ª fase – Movimento da “Patuleia” ou “Pata ao Léu” – outubro 1846 - julho 1847 (cartistas contra setembristas)
• Movimentos em todo o país que opuseram os populares (apoiados por miguelistas e setembristas) às forças
estatais (Cabralismo).
A guerra terminou com a assinatura da Convenção de Gramido de 1847 com a vitória das forças estatais (cabralismo),
neste sentido Costa Cabral regressa ao poder (junho de 1849).
Setembristas (defendem Constituição de 1822) e cartistas (defendem a Carta de 1826), sob a liderança do Duque de
Saldanha, realizam um novo golpe militar que afastou Costa Cabral (Primavera de 1851) e instalou a Regeneração e
com ela o Liberalismo cartista moderado.