Você está na página 1de 2

346 Outros Materiais · Textos informativos complementares Sequência 2.

Almeida Garrett

Manual · p. 94

O contexto político do Romantismo em Portugal


O nosso movimento romântico surgiu no contexto das lutas liberais que, a partir de 1820,

OEXP11DP © Porto Editora


constituíram o acontecimento que marcou definitivamente a nossa História política e social do
século XIX e o ponto de viragem para a modernidade.
O eco das ideias da Revolução Francesa chegara já aos nossos pré-românticos, deixando
5 marcas na sua poesia, principalmente, na poesia e vivências da Marquesa de Alorna e Bocage.
Posteriormente, na sequência das Invasões Francesas, de 1807-1810, as ideias liberais co-
meçaram a difundir-se e a ganhar adeptos. Com efeito, a família real deslocara-se estrategica-
mente para o Brasil, aí se mantendo, enquanto, com a ajuda dos aliados ingleses, chefiados pelo
Duque de Wellington, os franceses eram derrotados em 3 tentativas de invasão. Expulsos os
10 franceses, o poder passou na prática para a mão dos ingleses. E enquanto a família real conti-
nuava no Brasil, as autoridades inglesas governaram o país despoticamente e fizeram mesmo
executar, em 1817, o General Gomes Freire de Andrade, entusiasta dos ideais liberais e suspeito
de preparar a revolução contra o Antigo Regime absolutista. De resto, a Maçonaria apoiava intei-
ramente as ideias liberais.
15 Em 1820, deu-se uma revolta militar no Porto, revolta de carácter liberal, que levou a elei-
ções para as Cortes no ano seguinte e que faz regressar o rei a Portugal. Em 1822 é jurada em
Lisboa a 1.ª Constituição liberal. Nesse mesmo ano, o herdeiro real, D. Pedro IV, proclama a in-
dependência da colónia brasileira, de que se tornou Imperador com o nome de Pedro I.
Em 1823, eclode a Vilafrancada, movimento militar reacionário, liderado pelo Infante D. Mi-
20 guel, irmão de D. Pedro. D. Miguel, vitorioso do golpe, suspende, então, a Constituição e encerra
as Cortes. Em 1824, o mesmo D. Miguel lidera novo movimento reacionário, destinado a destituir
seu pai, D. João VI (o golpe recebeu a designação de Abrilada). Este movimento não teve êxito,
tendo sido D. Miguel obrigado a exilar-se em Viena.
É a altura de D. Pedro, herdeiro legítimo do trono de Portugal, renunciar ao seu título de Im-
25 perador do Brasil e vir para Portugal, onde promulga a Carta Constitucional1 (bastante menos
avançada do que a anterior Constituição de 1822). Seguidamente, renuncia ao trono português,
abdicando a favor de sua filha, D. Maria da Glória.
Como esta era ainda menor, D. Miguel é designado regente, tendo jurado a Carta Constitucio-
nal, que o seu irmão outorgara. Pouco depois, porém, dissolveu as Cortes e fez-se nomear como
30 rei absoluto; na sequência, novas perseguições aos liberais. Estes organizam no exílio um exér-
cito, apoiado por ingleses, a que se junta, em 1831, na Ilha Terceira, o próprio D. Pedro. Desem-
barcam no Porto, onde sofrem um prolongado cerco, findo o qual avançam para Lisboa.
Inicia-se então uma Guerra Civil, opondo absolutistas, sob comando de D. Miguel e apoiados
pela Igreja, e liberais, liderados por D. Pedro. A guerra prolonga-se por três anos, deixando pro-
35 fundas feridas entre os que a fizeram e a sofreram. Termina com a vitória liberal em 1834, e com
a assinatura da Convenção de Évora Monte. Entre os que fizeram a guerra civil, do lado liberal,
encontramos Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
D. Pedro morre em 1834, subindo ao trono sua filha, com o nome de D. Maria II.
Não foi fácil, porém, o período que se seguiu, nomeadamente com as lutas políticas havidas
40 entre os defensores da Carta Constitucional (os cartistas), que garantia ainda o controlo político
fotocopiável

OEXP11DP_20152300_F22_1P.indd 346 10/02/16 18:18


Sequência 2. Almeida Garrett Outros Materiais · Textos informativos complementares 347

pelo poder real, e os defensores da Constituição, que atribuía poderes diminuídos ao Rei e dava
mais poder às Cortes.
No entanto, era já o final do Antigo Regime e a vitória dos novos tempos, marcados pelo poder
da burguesia liberal vitoriosa. Importantes medidas foram tomadas, como a abolição dos morga-
45 dios e dos direitos senhoriais, o confisco dos bens da Igreja e a extinção das ordens religiosas.
Foram progressivamente dados novos poderes aos municípios e tomadas importantes medidas
económicas, fortalecendo-se paulatinamente a classe dirigente com o apoio de banqueiros e ho-
mens da Finança, durante o período liderado por Costa Cabral (cabralismo). Fez-se igualmente
uma reforma administrativa do país.
50 A partir de 1851, teve lugar um movimento militar anticabralista, liderado pelo Duque de Sal-
danha, e incentivado por algumas grandes personalidades liberais, como Alexandre Herculano,
em cuja casa, de resto, a revolução foi preparada. O movimento ganhou rapidamente adeptos em
todo o país e forçou Costa Cabral à demissão em 1851, data em que se inicia o período designado
da Regeneração. […]
55 Foi justamente no contexto das lutas liberais e pela consolidação da revolução liberal que se
desenvolveu entre nós o Romantismo que […] nasceu em parte no exílio, com a chamada geração
dos Românticos Vintistas; que se consolidou com os Românticos da Regeneração; e que apresen-
tou uma vertente mais revolucionária, social e metafísica com a chamada 3.ª geração, e especial-
mente, Antero de Quental.
OEXP11DP © Porto Editora

PAIS, Amélia Pinto, 2004. História da Literatura em Portugal – Uma perspetiva didática. Vol. 2. Porto: Areal (pp. 21-24)

1. Enquanto uma Constituição é elaborada e aprovada por um parlamento (neste caso, as Cortes), uma Carta Constitucional é
“outorgada”, dada, por um chefe de Estado, não resultando de debate democrático.
fotocopiável

OEXP11DP_20152300_F22_1P.indd 347 10/02/16 18:18

Você também pode gostar