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Guerra Civil Portuguesa, que teve lugar entre 1832 e 1834, esta guerra ficou também
conhecida como Guerras Liberais, ou Guerra dos Dois Irmãos (uma vez que pôs em
confronto dois irmãos, D. Pedro e D. Miguel).

Esta guerra Civil foi travada entre os liberais constitucionalistas e os absolutistas.

Em causa estava a sucessão ao trono português. As partes envolvidas foram o partido


constitucionalista progressista liderado pela rainha D. Maria II de Portugal com o apoio de
seu pai, D. Pedro IV, e o partido absolutista de D. Miguel. O Reino Unido, a França,
a Espanha e a Igreja Católica participaram indiretamente no conflito.

Bandeira Nacional usada pelos Absolutistas. Bandeira Nacional usada pelos Liberais.

Os Antecedentes - A sucessão de D. João VI

A Revolução Francesa teve um grande impacto na Europa, pois os países vizinhos tinham
receio que o seu povo aderisse às novas ideias iluministas (liberdade, igualdade e
fraternidade), que se expandiram a um ritmo acelerado.
No ano de 1807, França e Inglaterra estavam em conflito. Napoleão Bonaparte com a
intenção de isolar Inglaterra declara um Ultimato com o objetivo de acabar com as trocas
comerciais entre Portugal e Inglaterra, este imperador tinha como propósito instalar um
Bloqueio Continental. Situação na qual Portugal sentia-se encurralado, uma vez que, isso
acabaria por enfraquecer a economia do país. Não obedecendo às ordens de Napoleão,
Portugal é invadido pelas tropas francesas. Para invadir o território português, faz um
acordo com Espanha, com a finalidade de atravessar o país para se dirigir a Portugal. Este
contrato consistia em dividir Portugal em três partes, o Norte e o sul (Alentejo e Algarve)
ficavam na posse de Espanha e o centro com França.
A família Real com receio das consequências, refugia-se no Brasil a 29 de novembro de 1807
e a corte portuguesa instala-se no Rio de Janeiro. Enquanto a família Real permanecia no
Brasil, deram-se mais duas invasões, a segunda em 1809 comandada pelo general Soult. A
terceira deu-se em 1810 comandada pelo general Massena. O povo descontente com a
atitude da corte, revolta-se com a liderança de Junot. Com as várias medidas
implementadas e roubos constantes às Igrejas e Palácios, Portugal não saiu beneficiado,
sendo assim, ajudado pela Inglaterra.
Com a decisão da permanência da família Real no Brasil, o povo continuava descontente,
dado que não queriam ser governados pelos ingleses. Surgiram assim grupos
revolucionários que pretendiam expulsar os estrangeiros e obrigar o rei a voltar. Pretendiam
também impor uma nova forma de governo, em que consistia na divisão tripartida dos
poderes e na formação de uma Constituição, a que todos tinham de obedecer. As pessoas
que defendiam estas ideias eram chamadas de Liberais.
O primeiro chefe dos Liberais portugueses foi o General Gomes Freire de Andrade que
preparava uma revolta, quando foi descoberto foi enforcado em 1817 com todos os seus
companheiros.
Apesar da violência com que foram castigados os primeiros liberais, as novas ideias não
morreram. Na reunião das novas cortes, esperava-se uma sábia Constituição que se
defendesse da autoridade Régia e dos direitos dos cidadãos.
Os Liberais não se contentaram a ficar parados enquanto aguardavam o regresso do rei, por
isso, ponderaram a criação de eleições para que o povo pudesse eleger os seus
representantes (deputados). A partir desta ideia, surgiram dúvidas e várias discórdias, como
quem devia ter direito ao voto, a partir de que idade se pode votar.... Finalmente, acabaram
por chegar a um acordo (votariam só os homens com mais de 25 anos, que saibam ler e
escrever, chefe de família...).
O primeiro instrumento a ser abolido foi o Tribunal Religioso e o Tribunal do Santo Ofício ou
Inquisição (salas onde eram torturados).

O Regresso da Família Real a Portugal


A sucessão de D. João VI

A Revolução Liberal de 24 de agosto de 1820, obrigou o regresso de D. João VI a Portugal.


A 26 de abril de 1821, a família Real regressa a Portugal. O filho de D. João, agora rei D. João
VI, regressou com a mulher Dona Carlota Joaquina, deixando o seu filho mais velho,
sucessor da coroa portuguesa, D. Pedro, como Governador do Brasil.
A Constituição de 1822 foi aprovada pelo rei D. João VI que jurou cumpri-la, mas a sua
mulher recusou, por isso, os liberais ficaram descontentes e pensaram expulsá-la do país. Os
artigos nesta carta era o reconhecimento do direito e deveres do cidadão e a abolição de
todos os tipos de tortura. Demasiado revolucionária para o seu tempo, foi consequência da
parte mais radical dos deputados presentes às cortes constituintes, caracterizada por
Vintismo. Este acontecimento revelou-se com várias contradições e objeções visto que,
muitos dos seus defensores apesar de defenderem esse ideal também, por vezes, o
contrariavam, o que acabou por tornar a implementação desta constituição difícil.
D. Miguel filho mais novo de D. João VI, defendia o absolutismo como a sua mãe, enquanto
o seu irmão mais velho D. Pedro defendia o liberalismo. No dia 27 de maio de 1823, D.
Carlota Joaquina executou um plano, que consistia enviar o seu filho mais novo aos
regimentos de Lisboa e concretizar um golpe em Vila Franca, que ficou conhecido por Vila-
Francada. O mesmo vai assumir uma posição de alto cargo, onde dirigiu um manifesto aos
portugueses. Com esta conspiração entre D. Carlota e D. Miguel, muitos revolucionários
liberais saíram do país, outros deixaram a cidade e os restantes decidiram apoiar o Rei. Mais
tarde o país mergulhou numa profunda depressão, sem ordens e sem leis.
D. Miguel insatisfeito com o decorrer dos acontecimentos, revolta-se a 30 de abril de 1824,
revolta que ficou conhecida como Abrilada, esta revolução pretendia cercar o palácio onde
se encontrava o pai, mas apesar dos inúmeros prisioneiros, D. João VI conseguiu sair ileso
do palácio com ajuda de embaixadores estrangeiros. Quando finalmente se encontrava em
segurança, o rei indignou-se com o seu filho, acabou por demiti-lo e expulsá-lo do país e
enviou a mulher para o Palácio de Queluz, onde a mesma planeava um plano para se vingar
do seu marido, por este lhe ter destruído o plano e expulsado o seu filho preferido.

A nova Constituição
No dia 10 de março de 1826, D. João VI acaba por morrer com suspeita de envenenamento,
e muitos suspeitaram que D. Carlota fosse a maior culpada, mas o mistério nunca se
esclareceu...
Antes de morrer, D. João VI deixou escrito a sua maior vontade, entregar o governo á sua
filha Isabel Maria, enquanto o legítimo herdeiro não se manifestasse. Esta última vontade
do rei, acabou por gerar uma grande discórdia, visto que o seu filho mais velho se
encontrava no Brasil a governar, e o seu filho mais novo estava refugiado na Áustria. Mas
havia um documento do ano anterior em que o rei se refere a D. Pedro como seu futuro
sucessor, a solução estaria encontrada. Esta decisão levou a uma grande discórdia dos
absolutistas, dado que o mesmo foi acusado de traição, e sendo assim, foi-lhe retirado
todos os direitos à coroa portuguesa. Por esse motivo, o legítimo herdeiro deveria ser D.
Miguel.
A Regência enviou ao Brasil deputados para esclarecer o assunto da sucessão, dado que, D.
Pedro considerava-se o legítimo herdeiro da coroa portuguesa. Este no dia 29 de abril
outorgou um novo diploma constitucional, mais moderado e conservador, a Carta
Constitucional. Esta mantinha o poder tripartido, mas o rei continuava a ter um grande
poder de decisão. A 2 de maio, acabou por abdicar do seu poder, entregando-o à princesa
D. Maria Da Glória, com apenas 7 anos de idade. Após o regresso de D. Miguel a Portugal,
este faria uma promessa de casamento e juraria cumprimento da Carta Constitucional, e
logo de seguida seria o futuro rei de Portugal.
D. Miguel fez o que estava previsto. Mas aos poucos e poucos foi quebrando a sua promessa
e demonstrando sinais do poder absoluto, tais como, mandou os deputados embora e não
marcou novas eleições, substitui chefes militares, proibiu os jornais liberais e restabeleceu a
censura e reuniu cortes. Os liberalistas com medo das perseguições abandonam o país,
entre eles, os escritores Almeida Garrett e Alexandre Herculano.
Em fevereiro de 1828, D. Miguel regressou a Portugal para jurar a Constituição e exercer a
regência. Imediatamente foi nomeado rei pelos portugueses e os seus seguidores mais
próximos pressionaram-no a voltar a reinar baseado nas cortes, no regionalismo e
no municipalismo. Um mês depois de sua chegada dissolveu a Câmara dos Deputados e a
Câmara dos Pares. Em maio, convocou as cortes tradicionais, com a nobreza, o clero, e os
homens livres, para proclamar o seu acesso ao poder tradicional. As cortes de 1828 cumpriram
a vontade de D. Miguel, coroando-o como Miguel I de Portugal e anulando a Constituição.
A Guerra Civil

Com D. Pedro no Brasil, chegam-lhe as informações das últimas ocorrências em Portugal, o


que faz com que o mesmo tome uma atitude para defender os direitos da filha ao trono
português, D. Pedro sente que têm de optar entre Portugal e o Brasil, decidindo então,
abdicar do trono brasileiro, entregando-o ao seu filho Pedro, que se tornou assim o
imperador Pedro II.
D. Pedro acabou por partir para Inglaterra, para obter o apoio que lhe permitisse organizar
um exército para combater os absolutistas. Mais tarde, conseguiu homens, armas e verbas
para formar uma equipe, para assim, reunir-se com os liberais na ilha Terceira, a fim de
preparar um ataque a Portugal.
A guerra civil iniciou-se em julho de 1832, com o desembarque das tropas liberais de D.
Pedro IV em Matosinhos (atual praia da Memória), às quais se juntaram muitos liberais, que
conspiravam no país e no estrangeiro
No início, os absolutistas tiveram mais destaque do que os liberalistas, o que levou D.
Miguel procurar reconhecimento internacional, mas só o recebeu dos Estados Unidos e do
Vaticano. Na madrugada do dia 9 de julho, os liberais entraram no Porto, mas o plano não
correu como devido. Com a cidade do Porto cercada, viveu-se o episódio mais dramático da
Guerra Civil entre liberais e absolutistas, o Cerco do Porto.
Durante a guerra, os Liberais foram apoiados pelas forças do Império Britânico, pela Bélgica,
França e a partir de 1834 pelo Império Espanhol. Enquanto os Absolutistas foram apoiados
apenas até 1833 pelo Império Espanhol.
A situação começa-se a agravar, no Verão de 1833 pela falta de mantimentos na cidade. A
fome alastrava-se, assim como, uma nova doença, caracterizada por cólera.
A guerra, para D. Pedro, parecia, todavia, perdida. Quem poderia vencer um exército de 80
mil homens com apenas sete mil soldados? De cada vez que saem do Porto, os liberais
regressam derrotados pelas tropas miguelistas. A D. Pedro IV só lhe restava usar a estratégia
se quisesse vencer.

Como D. Miguel I saia da Cidade de Lisboa, D. Pedro tomar as cidades que estão
desprotegidas. Navega então pela costa até chegar ao Algarve, onde não há tropas
miguelistas. Sobe depois devagarinho pelo Sul, apanhando os inimigos desprevenidos. E
chega, por fim, a Lisboa, contando já com a ajuda da esquadra inglesa.

Quando D. Miguel se dá conta, é tarde. O irmão está já dentro da cidade, que lhe é entregue
sem resistência a 24 de julho de 1833.

Ao longo dos dois anos de guerra, os exércitos de D. Pedro tinham erguido fortes e escavado
trincheiras para se defenderem, de modo que os Miguelistas não conseguiam entrar na
cidade. Por outro lado, os exércitos de D, Miguel formaram uma barreira à volta do Porto,
para que os liberais não pudessem sair da cidade. Durante esta guerra, os exércitos de D.
Pedro organizaram uma expedição ao Algarve, destruíram a esquadra absolutista e
reconquistaram Lisboa. Pela falta de apoio dos populares e países estrangeiros, os
absolutistas não encontraram mais forças, acabando por desistir da guerra.
Em fevereiro de 1834, houve uma derrota dos absolutistas, por parte dos liberais, na
batalha de Almoster. Em maio, os Miguelistas voltaram a ser derrotados na batalha de
Asseiceira. D, Miguel deu-se por vencido e aceitou reconhecer a sua derrota.
No dia 26 de maio de 1834, D. Miguel assinou a Convenção de Evoramonte, que pôs fim ao
conflito e que fez com que o mesmo partisse para o exílio em Viena de Áustria, prometendo
nunca mais voltar.
Maria da Glória, que até então esperava na corte de Londres o desfecho da guerra, regressa
a Portugal e, com apenas 15 anos, sobe ao trono a 26 de maio de 1834
Por fim, o liberalismo constitucional instalou-se em Portugal.
Ao desembarcar em Génova, a 20 de junho, D. Miguel reclamou contra a violência da
Quádrupla Aliança, num documento que mais tarde ficou conhecido como o “Protesto e
Declaração de Génova”. Nessa declaração, D. Miguel declarou “como nula e de nenhum
valor” a submissão a que foi obrigado a assinar em Evoramonte.
Apesar de ter sido derrotado militarmente, o mesmo não prescindiu da sua legitimidade
como rei de Portugal.
D. Pedro, vencedor da guerra teve de emancipar a jovem princesa, de 15 anos, jurando por
fim a Carta Constitucional. Por fim, subiu ao torno de Portugal. Por ter libertado Portugal de
D. Miguel, foi aclamado como herói.

FIM
Desembarque no Mindelo - Porto
Cerco do Porto pelos liberais

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