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PRODUÇÕES LITERÁRIAS DEDICADAS À FORMAÇÃO
DE REVOLUCIONÁRIOS MARXISTAS QUE ATUAM NO DOMÍNIO
DO DIREITO, DO ESTADO E DA JUSTIÇA DE CLASSE
INTRODUÇÃO À OBRA
“PEQUENOS ENSAIOS SOBRE MARXISMO E DIREITO, SOCIEDADE E
ESTADO NA REVOLUÇÃO”
O Poder Judiciário no Estado
Burguês
e a Perspectiva dos Tribunais
da Revolução de Outubro
EMIL ASTURIG VON MÜNCHEN
Para Palestras e Cursos sobre o Tema em Destaque
Contatar emilvonmuenchen@web.de
Novembro de 2000
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http://www.scientificsocialism.de/PECapa.htm
I.
INTRODUÇÃO
II.
O PODER JUDICIÁRIO ENQUANTO INSTITUIÇÃO
TIPICAMENTE BURGUESA
II.A. Organização Institucional dos Estados Escravistas da
Antigüidade.
II.B. Fragmentação das Atribuições Públicas dos Estados
Feudais Estamentais
e o Tribunal da Santa Inquisição
II.C. Os Direitos de Soberania dos Estados Monárquico
Absolutistas
II.D. A Divisão dos Poderes no Quadro da Revolução
Burguesa da Inglaterra
II.E. A Tripartição de Poderes no Prelúdio da Revolução
Burguesa de 1789:
O Surgimento do Poder Judiciário
II.F. O Poder Judiciário no Quadro do Fortalecimento da
Burocracia e da Força Militar
dos Estados Burgueses dos séculos XVIII e XIX
II.G. O Poder Judiciário enquanto Guardião da
Constituição dos Estados Burgueses Imperialistas
III.
OS TRIBUNAIS POPULARES ELETIVOS,
I.E. TRIBUNAIS ELETIVOS DOS OPERÁRIOS, SOLDADOS
E CAMPONÊSES DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO :
ALTERNATIVA REVOLUCIONÁRIA
À JUSTIÇA DE CLASSE BURGUESA E ÀS REFORMAS DO
PODER JUDICIÁRIO
III.A. Surgimento e Significado do Estado na Concepção
Marxista
III.B. O Estado em face das Revoluções Proletárias
III.C. O Estado Proletário e os Tribunais Populares
Eletivos, i.e. Tribunais Eletivos
dos Operários, Soldados e Camponeses da Revolução de
Outubro
III.D. A Função Revolucionária dos Tribunais Populares
Eletivos
da Revolução de Outubro
III.E. Os Tribunais Populares Eletivos da Revolução de
Outubro
e a Ascensão do Burocratismo Soviético Stalinista
O PODER JUDICIÁRIO NO ESTADO BURGUÊS
E A PERSPECTIVA DOS TRIBUNAIS DA REVOLUÇÃO DE
OUTUBRO
I.
INTRODUÇÃO
Além dos problemas resultantes dos enfrentamentos entre as
classes sociais que perpassam a existência dos Estados
Burgueses e das demais instituições das sociedades
capitalistas contemporâneas é possível constatarse,
presentemente, a intensificação de um fenômeno peculiar que
desponta, com toda agudez, na América Latina, bem como em
outros países do mundo : nomeadamente os acesos
entrechoques e os diversos conflitos travados entre os poderes
jurídicopúblicos dos Estados Burgueses, associados à sua
crescente corrupção e tráfico de influências.
Tal fenômeno aprofunda a crise dos Estados Burgueses e das
instituições dos regimes democráticos, erigidos sobre a
exploração econômica e o despotismo capitalista em face da
classe trabalhadora e dos demais socialmente oprimidos,
impondo a todos os juristas socialistasrevolucionários a
necessidade de reexame do papel do Poder Judiciário, com
vistas a apontar uma alternativa para a constituição de uma
nova Justiça de Classe, formada pelas massas trabalhadoras e
exploradas.
Exemplos recententes da situação política existente em
diversos países do mundo depõem, precisamente, nesse
sentido :
na França, o escândalo de corrupção envolvendo
diretamente o Presidente do Conselho
Constitucional, Roland Dumas, nomeado em 24 de
feveiro de 1995 por François Mitterrand, e os
subseqüentes protestos públicos de diversos setores
da sociedade francesa, forçaramno a comunicar, no
último 1° de março de 2000, sua demissão do posto
máximo do Poder Judiciário Francês (agora
denominado de Pouvoir Hautain, i.e. o Poder
Presunçoso), abrindo uma profunda crise de
credibilidade no seio do órgão supremo jurisdicional
[1]
desse país;
na Alemanha, o mais renomado Presidente do
Tribunal Constitucional da Alemanha
(Bundesversfassungsgericht) da década de 90 do
século XX, Roman Herzog, diretamente nomeado, a
seguir, pelo antigo chanceler da corrupção e da
unificação imperialista das duas Alemanhas, Helmut
Kohl, para o cargo de Presidente da República
Federal da Alemanha, surgiu, nos últimos anos,
enigmática e surpreendentemente, perante o cenário
público alemão, em virtude de suas estreitas ligações
doutrinárias e profissionais com o recentemente
falecido e mais célebre Professor de Direito
Constitucional da Alemanha do pósguerra, Theodor
Maunz, esse último, após sua morte, identificado
publicamente como fiel colaborador acobertado e
inspirador intelectual enrustido da reogarnização das
forças neonazistas alemãs e européias da atualidade;
[2]
na Itália, as confrontações no interior do Poder
Judiciário e da Procuradoria da República Italiana
demonstram que os juízes e procuradores da
Operazione Mani Pulite Nr. 1(Inchiesta Mani Pulite),
considerados como heróis nacionais na luta contra a
criminalidade organizada e petrificada no aparelho de
Estado Italiano, graças à colossal influência da Cosa
Nostra dos Corleoni, da Camôrra de la Campania, da
‘Ndragheta Calabrêsa, da Banda dei Sardi, da Banda
della Uno Bianca sobre a burocracia estatal italiana,
são os agentes mais suspeitos e corruptos da
[3]
Operazione Mani Pulite Nr.2;
na Venezuela, o governo de Hugo Chavez
embateuse, recentemente, contra o Congresso
Nacional Venezuelano, conduzindo ao fechamento
desse último para dar lugar a uma Assembléia
Nacional Constituinte, impulsionadora de processos
de punição e exoneração de dezenas de juízes
corruptos venezuelanos;
na Colômbia, ministros de governo surgem
acusando a Procuradoria do Estado de infiltração
guerrilheira;
no Equador, processos judicias contra o ex
presidente Mahuad, impulsionaram a insurreição
popular que veio a desencadear a sua derrubada.
No Brasil, reiterados conflitos entre os Poderes da
República apontam para o descrédito do Executivo
Federal Brasileiro, encabeçado por Fernando H.
Cardoso, vencido pelo desemprego galopante e
pelo agravamento da crise social, ao mesmo tempo
em que constantes desentendimentos internos
entre órgãos estatais e instituições públicas
brasileiras corroem e desagregam a base neoliberal
de sustentação política presidencial.
O Poder Judiciário Brasileiro, presidido por Carlos
Velloso, enfrentase agora com uma dramática
dinâmica de enfraquecimento existencial e convive
com o descrédito da Justiça Burguesa Brasileira.
Esse descrédito possui suas raízes na hipertrofia do
poder econômico das grandes empresas capitalistas
instaladas no Brasil, bem como no poder dos
proprietários prediais e latifundiários, todos esses
ostensivos dominadores da atuação funcional do
Judiciário Brasileiro através de múltiplos laços
umbilicais de influência política e econômica.
Nesse contexto, tal descrédito é aprofundado,
presentemente, antes de tudo, pela alarmante
corrupção e pelo tráfico de influência que embasa o
vegonhoso aumento de sôldo dos juízes brasileiros.
Como se isso não bastasse, o Poder Legislativo do
Brasil precipitase em batalhas campais travadas
entre os presidentes de suas duas casas
legislativas.
Nesse contexto de decomposição progressiva das
instituições públicas burguesas brasileiras, Antônio
Carlos Magalhaes surge assumindo posições
inglórias, idênticas ao mais repudiável e ignóbil
coronelismo brasileiro.
Diante desse quadro, pretendemos examinar, no
presente texto, a problemática do Poder Judiciário
no seio do Estado Burguês contemporâneo,
apontando uma alternativa socialistarevolucionária
às inúmeras e deploráveis tentativas de reformálo e
resituálo no quadro do sistema capitalistaburguês.
Para tanto, projetaremos nossa exposição em
momentos distintos, porém essencialmente
interpenetrados e complementares :
o Poder Judiciário enquanto instituição
burguesa ;
os tribunais populares eletivos, i.e.
tribunais eletivos dos operários, soldados e
camponeses da Revolução de Outubro :
alternativa revolucionária à Justiça de Classe
Burguesa e às reformas do Poder Judiciário.
II.
O PODER JUDICIÁRIO
ENQUANTO INSTITUIÇÃO TIPICAMENTE BURGUESA
No quadro dos regimes democráticos erigidos sobre a
exploração assalariada e a dominação política do capitalismo
contemporâneo, a função pública de julgar segundo o Direito
Burguês, i.e. a função políticojurisdicional ou de dicção do
Direito Burguês, é exercida sob a surpreendente e enigmática
forma orgânicoinstitucional de um poder de Estado.
Tal poder de Estado, denominado, correntemente, Poder
Judiciário (em francês : Pouvoir Judiciaire) ou Ramo Judicial
(em inglês : Judicial Branch) ou simplesmente Jurisdição (em
alemão : Rechtsprechung), encontrando sua raison d’être no
exercício organicamente independente dessa função político
jurisdicional, surge consagrado pelos mais diversos diplomas
estatalconstitucionais da atualidade como sendo, por sua
própria natureza, um poder de Estado.
Tal poder de Estado aparece, além disso, supostamente
revestido de imparcialidade no julgamento dos casos a ele
submetidos e, além disso, como categoricamente
independente em face dos demais poderes de Estado
contemporâneos, i.e. diante dos assimdenominados Poderes
Legislativo e Executivo.
Nesse sentido, os arts. 1° e 2° da Constituição Brasileira de
1988, dispõem da seguinte forma :
“Art. 1°. A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constituise em Estado Democrático
de Direito. (...)
Parágrafo Único. Todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos dessa Constituição.
.................................................................................
Art. 2° São Poderes da União, independentes e
harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
[4]
Judiciário.”
Da mesma maneira, a Lei Fundamental da Alemanha, de
1949, dispõe como segue:
“Art. 20 (Princípios Constitucionais; Direito de
Resistência)
(1) A República Federal Alemã é um Estado
Federativo, Democrático e Social.
(2) Todo poder do Estado emana do povo em
eleições. Ele é exercido pelo voto nas eleições,
aprovações e mediante órgãos particulares do Poder
Legislativo, do Poder Executivo e do Poder Judiciário.
(3) O Poder Legislativo é vinculado à ordem
constitucional, os Poderes Executivo e Judiciário à
[5]
lei.”
No mesmo sentido, a atual Constituição da Federação
Russa, de 1993, expressando juridicamente o processo de
dissolução da antiga URSS e de restauração de um Estado
BurguêsCapitalista Russo, estabelece :
“Artigo 1°.
A Federação Russa, i.e. a Rússia, é um Estado de
Direito, Federativo e Democrático, dotado de forma
republicana de governo.
.......................................................................
Artigo 10°
O poder do Estado da Federação Russa é exercido
com fundamento na divisão entre Legislativo, Executivo
e Judiciário.
Os órgãos dos Poderes Legislativo, Executivo e
[6]
Judiciário são independentes.”
O Poder Judiciário, ladeado, dessa maneira, por esses outros
dois poderes de Estado, i.e. o Executivo e o Legislativo, surge,
pois, na atualidade, em um contexto de tripartição jurídico
institucional.
À primeira vista, o poder do Estado Burguês da atualidade
aparenta, dessa forma, estar dividido, sob o aspecto orgânico,
em Poder Legislativo – esse subdividido internamente em duas
casas parlamentares ou congressuais, i.e. Assembléia e
Senado , Poder Executivo – esse outro subdivido
internamente em órgãos de Governo e de Administraçao
Pública – e, finalmente, Poder Judiciário – esse último repartido
em inúmeras instâncias jurisdicionais.
Mesmo sob o aspecto jurídico das funções materiais de
Estado, aparenta o Estado Burguês estar ainda plenamente
distribuido, evitando supostamente a concentração de poder
nas mãos de um único déspota totalitário : a função de
produção de políticas públicas e normas jurídicas estaria
distribuída seja através do Legislativo – produtor de leis, leis
medidas e resoluções parlamentares , do Executivo – autor de
regulamentos e medidas provisórias , como do Judiciário –
produtor de seus próprios regimentos internos e julgador de
dissídios coletivos , ao passo que a função de aplicação
dessas mesmas políticas públicas e normas jurídicas também
resultaria repartida, antes de tudo, entre o Judiciário e o
Executivo, porém presente, em certos casos especiais,
também no Legislativo.
Defendendo as qualidades naturais e eternas da separação e
divisão dos poderes, a doutrina jurídicoideológica burguesa
procura obscurecer, em cada página de sua infindável literatura
doutrinária, a natureza mais autêntica da dominação política do
Estado Burguês.
Em seu mister de assegurar a exploração e a repressão da
classe trabalhadora e dos demais socialmente oprimidos, tal
dominação política burguesa manifestase nos mais diversos
campos das atividades humanas das sociedades capitalistas
contemporâneas, em particular no âmbito ideológico
doutrinário, no domínio jurídicoinstitucional, bem como no
setor das corporaçoes militares e burocráticas do funcionalismo
do Estado.
Sob uma perspectiva dialéticomaterialista, cumpre assinalar,
assim, que a tão conclamada consagração constitucional das
trois puissances ou dos drei Gewalten (i.e. das três
potências ou três poderes) nada mais visa senão repartir a
dominação jurídicoinstitucional burguesa contida no pouvoir
d’Etat ou no Staatsmacht (poder do Estado), entre órgãos
estatais denominados Poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, reponsáveis pela produção e aplicação de políticas
públicas e normas jurídicas.
A dominação militar e burocrática do Estado Burguês, em sua
essência una e indivisível, entendida como o poder estatal
efetivo e soberano par excellence, permanece, em princípio,
intocada e unificada nas mãos da burguesia, sendo colocada a
serviço de seus mais profundos interesses materiais de
exploração econômica do trabalho assalariado.
Sob esse último aspecto, o Estado Burguês, concebido
enquanto máquina estatal da burguesia dedicada à
organização da violência suprema de cunho burocrático e
militar estatal, tendo como objetivo fundamental a garantia da
exploração e da opressão da classe trabalhadora e das
massas oprimidas no quadro das sociedades fundadas nas
economias capitalistas de mercado, não está colocado à
disposição para divisão entre órgãos de poderes distintos e
independentes.
O poder de organização da violência do Estado Burguês, em
essência uno e indivisível, tal como um produto mais autêntico
de toda e qualquer sociedade dividida em antagonismos de
classe inconciliáveis, colocandose aparentemente acima da
sociedade cindida em classes hostis e dela, historicamente,
alienandose sempre mais, surge, nesse caso, com a missão
estratégica de atenuar os enfrentamentos sociais – na medida
em que não os pode jamais suprimir , mantendoos nos limites
da ordem, considerada ideologicamente como eterna e natural,
porém, em verdade, vinculada aos interesses histórico
[7]
materiais da burguesia.
Nesse sentido, o enquadramento dessa força pública militar
especial e dessa burocracia estatal, sob o aspecto jurídico
institucional, no quadro tanto do Governo como da
Administraçao Pública do Poder Executivo, tanto no âmbito do
Poder Judiciário como do Legislativo do Estado Burguês e,
portanto, no interior do “Estado de Direito”, tal como o Direito
Burguês costuma situálas pouco pode alterar o fato de essa
máquina de violência e repressão física das classes
exploradoras e essa burocracia administrativa de Estado ser
colocada, sob o ângulo da dominação burocráticomilitar da
burguesia, a serviço de seus interesses materiais,
posicionandose, na prática, muitas vezes, acima do próprio
“Estado de Direito” e dos três Poderes erigidos no plano
jurídicoinstitucional.
Para a manutenção de sua dominação política de classe, a
burguesia necessita conservar sempre em suas mãos a
unidade e a indivisibilidade do poder do Estado Burguês
relacionado com a organização da violência militar e da
burocracia estatalprofissional, o que se torna clarevidente nas
situações de instauração de regimes ditatorias burgueses.
Nada obstante, em momentos não tão candentes de sua luta
contra o proletariado e os demais oprimidos, opta a burguesia,
preferencialmente, por instaurar regimes democrático
burgueses e divulgar ilusões constitucionais de defesa das
instituições democráticas e dos direitos sociais, bem como do
princípio jurídicoconstitucional da divisão dos poderes, o que,
muitas vezes, faz obscurecer perante os olhos das massas
exploradas o verdadeiro caráter de seu despotismo de classe.
Tais poderes jurídicoinstitucionais de Estado surgem, então,
dinamizados por órgãos estatais distintos, aparentemente
independentes e limitadores dos abusos dos demais.
Na verdade, em tempos de “paz social”, todos os três poderes
de Estado destinamse a assegurar, harmonicamente, a
exploração econômica e a dominação ideológica da classe
trabalhadora e dos demais socialmente oprimidos, apoiando
se, quando necessário, na violência organizada de Estado, na
coerção e na repressão estatal, veiculada pelos seus mais
característicos apêndices oficiais : a polícia, as prisões, os
instituitos penais e de coerção, o exército permanente etc.
Diversamente, em tempos de crise, os três poderes,
entendidos como órgãos da dominaçao jurídicoinstitucional da
burguesia no quadro do seu Estado de classe, i.e. como partes
da dominação política de classe da burguesia, tendem a colidir
na disputa pelo botim resultante do processo de exploração
dos trabalhadores e dos demais oprimidos.
No momento histórico da atualidade, buscando o projeto neo
liberal e a sua contraparte mais autêntica, i.e. o projeto social
democrático, assegurar a rapina desenfreada da classe
trabalhadora, tornase freqüentemente inevitável que os
diversos órgãos do Estado Burguês entrem em conflito para
resguardar seus próprios privilégios.
No contexto dos Estados Burgueses, o princípio da tripartição
dos poderes, enquanto princípio jurídicoestatal e máxima da
doutrina geral do Direito Constitucional Burguês, haveria de
surgir e permanecer, entretanto, revestido de suprema
hierarquia e corrente atualidade para a disciplina jurídica
estatal das sociedades capitalistas.
Entre as inúmeras construções teóricas dedicadas à divisão, à
separação, à distribuição, ao balanceamento, à articulação dos
poderes elaboradas por proeminentes pensadores da
civilização humana de todos os tempos, apenas a concepção
formulada por Charles Louis de Secondat, Baron de la
Brède et de Montesquieu, que dividiu, pela primeira vez, o
domínio jurídicoinstitucional do Estado em Poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário, adquiriu significado
primordial e incontrastável para a disciplina do Estado Burguês
[8]
de nossos dias.
As outras concepções de divisão dos poderes parecem ter sido
superadas pela visão pretendidamente mais coerente e
racional da tripartição de poderes do Barão de Montesquieu,
sendo ela considerada pela doutrina burguesa e social
reformista moderna como a teoria que abarcou a verdadeira
essência da instituição estatal, por dotarse do caráter de única
e definitiva concepção adequada e natural à correta e
ponderada repartição do domínio político no Estado atual.
Investigandose o transcurso histórico das sociedades de
classes, que atravessa a civilização da humanidade desde a
Antigüidade até o presente momento, é possível,
precisamente, constatarse que a institucionalização da função
de julgar ou jurisdicional nas alturas de um Poder Judiciário de
Estado, supostamente imparcial, neutro e independente,
composto por juízes vitalícios, irremovíveis e com sôldos
irredutíveis, apresentase como um produto autêntico e
exclusivo das Revoluções Burguesas que percorreram a
Europa a partir do século XVII.
Os principais mentores de tais revoluções procuraram,
entretanto, de maneira essencialmente formal, adaptar em um
novo contexto eminentemente burguêsrepublicano, porém
também monárquicoconstitucional despido entretanto dos
estamentos da sociedade feudal tardia , a doutrina relegada
pelo Barão de Montesquieu.
Apesar da mais densa e vulgar ideologia jurídicoburguesa que
subjaz à concepção relativa à natureza do Poder Judiciário,
considerado como neutro, imparcial e independente, mesmo
alguns juristas alemães burgueses, dotados de alto potencial
crítico e investigativo, não puderam deixar de suspeitar que tal
função públicojurisdicional, por seu próprio caráter
conteudístico de atividade de interpretação e aplicação do
Direito vigente em dada sociedade, pertenceria,
fundamentalmente, ao domínio da administração público
estatal e não a um setor que se pudesse, por sua própria
natureza, consagrarse como um poder jurídicoinstitucional de
Estado, tido por sua própria natureza e conveniência como
independente e imparcial.
Entre tais juristas, destacouse Georg Jellinek, de orientação
neokantista, que, enquanto Professor de Direito de diversas
universidades da época monárquicoprussiana e monárquico
austríaca, encontrava motivos de sobra para criticar a versão
burguesarepublicana da tripartição de poderes, elaborada a
partir da doutrina do Barão de Montesquieu.
Nesse sentido, escreveu Jellinek, investigando o percurso
histórico da formação dos poderes de Estado :
“Na história, houve épocas em que o Poder Legislativo
foi totalmente desconhecido. Somente em culturas
relativamente avançadas, surgiu o direito legislativo, ao
lado do direito consuetudinário. Porém, também hoje, o
poder legislativo representa uma função
intermediadora.
O Poder Judiciário revelase, igualmente, dotado de
uma tal função.
Em processos incipientes de desenvolvimento social,
pode transcorrer muito tempo sem que exista nenhum
impulso para a instituição de juízes.
Porém, a administração – que contém em si o governo
– há de ser sempre realizada.
Sem ela, o Estado não pode existir nem sequer por um
momento.
Déspostas sem lei e sem juízes são, no mínimo,
imagináveis.
Estado sem administração significaria, entretanto, uma
anarquia.
A administração é, portanto, a função mais abrangente.
Todos os preparativos de legislação são de sua
competência.
A atividade é por ela apoiada, assim como a execução
da sentença de direito é por ela assegurada.
Também, historicamente, a administração surge como
função fundamental.
A legislação advém tão somente posteriormente à
administração, dela se apartando.
A atividade judiciária, limitada de início a uma
dimensão estreita, apenas ganha um espaco mais
[9]
amplo com o crescente desenvolvimento do Estado.”
Em seu As Próximas Tarefas do Poder Soviético, publicado
em 1918, poucos meses após a Revolução de Outubro,
plenamente atento e consciente dessa problemática jurídica
concernente à natureza da função jurisdicional no quadro das
atividades do Estado, Lenin teve a oportunidade de formular a
seguinte análise, no quadro de construção do primeiro Estado
Proletário Internacionalista :
“Na medida em que a principal tarefa do poder do
Estado se torna não a repressão militar, mas sim a
administração, a forma fenomênica típica da repressão
e da coação passa a ser o tribunal, ao invés do
fuzilamento sumário.
Também nesse sentido, as massas revolucionárias
percorreram o caminho certo, depois de 25 de Outubro
de 1917, e comprovaram a vitalidade da revolução,
quando começaram a criar seus próprios tribunais
operários e camponeses, antes mesmo, da
promulgação de qualquer tipo de decreto sobre a
dissolução do aparato judiciário burocráticoburguês.
Porém, nossos tribunais revolucionários e nosso
tribunais populares são demasiada e incrivelmente
débeis.
Sentese que o ponto de vista popular, herdado do
tempo do julgo dos capitalistas e dos proprietários,
acerca do tribunal enquanto algo burocrático e
estranho, ainda não foi definitivamente superado.
Falta o reconhecimento suficiente acerca de que o
tribunal é um órgão para a incorporação, sem exceção,
da população pobre precisamente na administração do
Estado, ( pois a atividade judiciária é uma das funções
da administração do Estado ).
Falta o reconhecimento suficiente acerca do fato de
que o tribunal é uma ferramenta para a educação da
disciplina.
Falta o reconhecimento suficiente do fato simples e
manifesto de que, se a principal desgraça da Rússia é
a fome e o desemprego, esses maus não podem, de
nenhuma forma, ser vencidos por impulsos
momentâneos, mas sim apenas através de uma
disciplina e de uma organização multifacetária e
abrangente, levada adiante por todo o povo, a fim de
aumentar a produção de pão para os homens e de pão
para a indústria (combustível), gerandoo no tempo
devido e repartindoo corretamente.
Falta, pois, o reconhecimento de que pelos sofrimentos
da fome e do desemprego é culpado todo aquele que
viola a disciplina do trabalho em certa fábrica, em
determinada economia, em dada matéria.
Falta o reconhecimento de que é necessário saberse
descobrir aqueles que se fazem culpados por essa
razão e colocálos diante dos tribunais, para que sejam
[10]
impiedosamente punidos.”
Vale destacar que, segundo a concepção de Lenin, a atividade
judiciária haveria de ser considerada, no quadro de um Estado
revolucionário dos trabalhadores, como uma das funções da
Administraçao do Estado, sendo precisamente os tribunais dos
operários, soldados e camponeses ferramentas da disciplina
proletária.
No quadro da luta revolucionária proletária e de construção de
um Estado da classe trabalhadora, tal posicionamento de
Lenin opõese claramente à doutrina que defende a
institucionalização da função de julgar em um Poder Judiciário,
tal como o conhecemos no quadro dos Estados burgueses da
atualidade, supostamente dotado de imparcialidade e
independência.
Adiante, procuraremos elucidar sob que condições
precisamente, no curso do desenvolvimento histórico, o Poder
Judiciário encontrou seu surgimento e fortalecimento no quadro
dos Estados erigidos pelas Revoluções Burguesas, ocorridas
após o século XVII, para então dedicarmonos, a seguir, ao
estudo do exercício da função jurisdicional no contexto do
Estado Proletário Russo, dirigido por Lenin.
II.A.
ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL
DOS ESTADOS ESCRAVISTAS
DA ANTIGÜIDADE
Concepções de divisão jurídicoinstitucional do poder do
Estado, no quadro de sociedades cindidas em antagonismos
inconciliáveis de classes, podem ser encontradas,
originariamente, nas doutrinas acerca dos Estados da
Antigüidade.
A idéia de divisão da dominaçao jurídicoinstitucional, contida
no poder do Estado, em órgãos funcionais distintos é, com
efeito, tão antiga quanto a própria noção de Estado.
Nesse sentido, a análise acerca do princípio jurídicoburguês
da divisão dos poderes possui, em linhas gerais, como objeto
primitivo e prédiluviano de investigação os tantos fenômenos
institucionais de Estado que a história conheceu, i.e. a
grega, a civitas romana, a commonwealth britânica e,
particularmente, o Etat francês, esse último conducente à
versão burguesa de Estado conhecida comumente nos dias de
hoje.
Em situações de exceção e de estado de necessidade,
afirmavase já na Antigüidade ser necessário suspender a
vigência do princípio jurídico de funcionamento de diversos
órgãos públicos e transferir, temporariamente, a
responsabilidade indivisa pelo destino do Estado a um único
órgão de Estado, na maioria dos casos o imperador ou o Chefe
[11]
de Estado, que a haveria de exercer de maneira absoluta.
Afastada tal hipotése excepcional, as sociedades de classe da
Antigüidade, conformadas por regimes monárquicos ou
republicanos escravistas, confrontaramse com a questão de
saber como a concentração ilimitada do poder em um único
órgão jurídicoinstitucional de Estado poderia ser evitada,
permitindose a participação no exercício jurídicoinstitucional
do poder de diferentes instâncias políticas, representativas de
diversas frações da classe dominante.
Diversos teóricos políticos de então partiram da análise dos
órgãos do Estado de sua época histórica correspondente,
procurando descrever as distintas atividades estatais por eles
exercidas.
Através de um método jurídico de crescente abstração teórica,
procuraram elaborar, então, uma doutrina geral a partir das
atividades concretizadas organicamente pelo Estado.
Nesse contexto, a Antigüidade conheceu, inicialmente, a
primeira célebre divisão jurídicoinstitucional do poder do
Estado nas obras do filósofo aristocráticoescravista grego
Platão.
Em sua obra de mocidade, denominada República, Platão,
concebendo o Estado sob o domínio do que deveria ser a idéia
da boa ordem das sociedades escravistas e da prosperidade
do público e do privado, concebeu o poder estatal como sendo
fundado e ordenado pela atuação de três estamentos sociais :
a. o estamento dos homens sábios, que havia de se
ocupar do governo do Estado ;
b. o estamento dos guerreiros, responsável pelas
atividades militares ;
c. o estamento dos homens inclinados à busca da
riqueza, incumbido da prática do comércio e da
[12]
indústria.
Sentindose assaltado pela decadência da democracia grega
posterior à era de Péricles, Platão entendia que o estamento
dos guerreiros representaria aquele estamento do Estado a ser
submetido às mais amplas limitações, não devendo ter acesso
amplo à propriedade privada, bem como a valores de ouro e
prata.
Essas limitações deveriam, segundo Platão, assegurar a
ordem e a justiça do Estado grego escravista contra militares
[13]
aspirantes a uma maior parcela de poder político.
Os guerreiros, não gozando da possibilidade de dispor de
recursos materiais amplos, o que pressupostamente
impossibilitaria a usurpação do poder, permitiriam aos sábios
dirigir o Estado de modo equilibrado e moderado, para o bem
de todos os cidadãos gregos – o que supunha
necessariamente a exclusão participativa do povo, i.e. dos
pequenos mercadores e dos escravos.
Posteriormente, em sua obra da maturidade, Platão,
convencido de que a sabedoria apenas poderia surgir junto a
pouquíssimos dirigentes de Estado, concebeu – não sem
relutância – o Estado das Leis como uma forma relativamente
[14]
melhor de governo.
Em lugar do sábio dominador, deveria surgir, então, a lei,
enquanto norma impessoal e genérica, lamentavelmente
incapaz de reconhecer plenamente a diversidade natural das
qualidades inerentes aos homens.
Mesmo Zippelius teve a oportunidade de observar acerca do
tema :
„Enquanto modelo de Estado das Leis, Platão projeta
um Estado agrário que se autoabastece.
O poder político reside nas maos dos 5.040
proprietários fundiários.
Eles elegem o Conselho que conduz a supervisão
superior dos negócios de Estado.
Os escravos realizam o trabalho do campo, os
pequenos mercadores realizam o comércio e a
indústria.
[15]
Ambos não possuem direitos políticos.”
Fundado em sua concepçao aristocráticoescravista, Platão
identificou, concretamente, na positividade da constituição de
Esparta a causa do fortalecimento de seu domínio.
Analisando a divisão jurídicoinstitucional do poder do Estado
com base na verificação dos órgaos estatais efetivamente
existentes, Platão constatou surgir, ao lado dos dois Reis
espartanos, a Gerúsia, i.e. o Conselho dos Anciãos, misto de
órgão legislativo e consultivo de Estado.
O poder da Gerúsia estaria limitado pela atuação dos Éforos,
i.e. dos cinco magistrados aristocráticos, eleitos anualmente,
que haveriam de contrabalançar a autoridade dos Reis e da
Gerúsia.
O sistema de Platão, fundado antes de tudo na análise dos
órgãos de Estado, pretendeu legitimar duas formas jurídico
institucionais do domínio político dos proprietários latifundiários
: a forma da imposição de sua ordem de classe – representada
pela monarquia – e a forma de sua liberdade social,
[16]
incorporada pela Gerúsia e pela atuação dos Éforos.
Através da atuação desses órgãos estatais no quadro de um
único sistema de dominação política de classe, tornarseia
possível, segundo Platão, promoverse um certo equilíbrio
político que assegurasse a ordem dos proprietários fundiários e
de escravos da Antigüidade.
Esse modelo jurídicoinstitucional de atenuação e de limitação
dos embates entre classes sociais antagônicas permite já
reconhecer os traços originais dos futuros sistemas
constitucionais burgueses, dotados de divisao da dominaçao
jurídicoinstitucional do poder estatal.
O célebre mentor ideológico de Alexandre Magno, Aristóteles
de Estagira foi, por assim dizer, o autor da segunda célebre
concepção de divisao jurídicoinstitucional do poder do Estado.
Em sua teoria das três partes do poder estatal, Aristóteles
descreveu as grandezas fundamentais típicas das
constituições da Antigüidade, conforme à seguinte divisão :
a. o Conselho de Deliberação sobre Matérias
Comuns ;
b. o Principado ou a Magistratura ;
[17]
c. a Justiça.
Aristóteles, diferentemente de Platão, dedicouse ao estudo
da divisão das funções, das atividades, das matérias ou dos
negócios do Estado, partindo da análise das três grandezas
[18]
orgânicas reais e históricas de seu tempo.
Entretanto, a existência dessas três partes jurídico
institucionais divisórias do poder do Estado das sociedades
gregas escravistas não corresponde precisamente, entretanto,
à idéia contemporânea de tripartição do poder do Estado, na
medida em que essa última, tal como veremos, foi concebida
tendo como base órgãos vinculados ao exercício parcial de
funções estatais materiais genéricas, i.e. o Poder Legislativo,
enquanto órgão de exercício parcial da função material
normativa (i.e. responsável pela produção de leis, leismedidas
e resoluções parlamentares – porém não de regulamentos), o
Poder Executivo, enquanto órgão governamental e
administrativo reponsável pelo exercício parcial da função
material normativa (i.e. responsável pela produção de
regulamentos ou, dado o caso, de medidas provisórias ou
decretosleis – porém não de leis), e ainda da função material
administrativa de aplicação das leis – excluindose a atividade
jurisdicional , e, por fim, o Poder Judiciário, enquanto órgão
independente voltado ao exercício da função administrativa de
aplicação de normas jurídicas em casos exclusivos de
jurisdição.
Com efeito, a análise de Aristóteles não conduzia a uma
classificação eminentemente abstrata e essencialmente
internosegmentadora das funções realizadas pelos órgãos
estatais, para daí alcançar sua configuração essencial, mas
sim partia da verificação efetivamente real de tais atividades
estatais formulando, a partir daí, sua doutrina da divisão da
dominação jurídicoinstitucional do poder estatal.
Nesse quadro, afirmou corresponder aos órgãos estatais do
Estado escravista grego certas atribuições funcionais materiais,
exercidas não de maneira essencialmente parcial e
segmentada.
As matérias que competiam ao βουλευομενον περι των
χοινον, i.e. ao Conselho Deliberativo sobre Matérias Comuns,
tais como as decisões soberanas sobre a deflagração de
guerra, graves delitos apenados com morte, exílio ou
confiscação, a escolha de autoridades e juízes etc.
ultrapassavam, claramente, as competências inseridas nas
funções parlamentares ou congressuais do Poder Legislativo
contemporâneo.
Além disso, tratavase, então, de um Estado escravista, porém
marcado pela democracia direta dos cidadãos gregos e dirigido
pelos senhores fundiários e de escravos, em que todos esses
podiam, dada a circunstância, deliberar juridicamente sobre
quaisquer das matérias de Estado.
Além disso, as democracias diretas gregas da Antigüidade
submetiam a freqüentes renovações os mandatos eletivos ou
sorteados das autoridades públicas.
No sentido contemporâneo da ideologia jurídicoburguesa,
podese afirmar que o βουλευομενον legislava, decidia e
julgava matérias de diversas natureza, segundo sua
importância política, e, além disso, exercia consideráveis
funções de governo e de administração, na medida em que
dispunha acerca da política de defesa das cidadesEstado,
mediante normas regulamentoras e medidas jurídicas.
As matérias de sua competência correspondiam apenas ao
círculo das questões atribuídas à parte superior e dominante
do poder das cidadesEstado escravistas da Grécia antiga, i.e.
ao χυριον, ou ainda à Curia.
Tais materias tornavamse, por si mesmo, as mais importantes
do Estado de então.
A seguir, Aristóteles identificou no Principado ou na
Magistratura as atribuições de comando e de decisão,
contemplando nessas últimas a presença da χυρια αρχή, i.e. o
traço característico do poder supremo.
Por fim, o poder de julgar representava o conteúdo
preponderante, porém não exclusivo, das atividades realizadas
pela διχαζον, i.e. a Jurisdição.
Os tribunais deveriam ser, segundo Aristóteles, dividos pela
natureza dos casos a serem julgados, sendo os mandatos dos
cidadãos gregos conduzidos aos órgãos jurisdicionais
estabelecidos por eleições ou sorteio.
Enquanto Demóstenes e Eurípedes empreendiam a defesa
da democracia grega em face dos eminentes ataques militares
do Rei Filipe da Macedônia, tal teoria de divisão jurídico
institucional do poder estatal, formulada por Aristóteles, não o
impediu de permanecer fiel à sua concepção política de que a
monarquia hereditária representaria a melhor forma de
constituição do Estado, quando inspirada pelo espírito
[19]
aristocrático.
Seria, portanto, precipitado concluir que a teoria da divisão
jurídicoinstitucional do poder do Estado de Aristóteles tenha
servido de modelo para a moderna doutrina da tripartição de
poderes, simplesmente pelo fato de que, em sua concepção
original, o Estado grego escravista surgia composto por três
grandezas orgânicas distintas.
A superficial identificação ou mesmo aproximação do
pensamento relativo à divisão da dominação jurídico
institucional estatal de Aristóteles com a teoria dos três
poderes do Barão de Montesquieu, produzida no século XVIII,
no préludio das Revoluções Burguesas da Europa Continental,
pode apenas servir aos intuitos jurídicoideológicos burgueses
de fazer crer às massas populares que, por sua própria
natureza histórica imutável, o poder supremo, eterno e
venerável do Estado há de ser partilhado, em sentido jurídico
institucional, sempre em três partes para que haja lugar um
[20]
sistema de poderes ordenado e democrático.
Nesse sentido, mesmo os juristas burgueses mais analíticos,
como é o caso de Karl Loewenstein, tiveram olhos para
perceber o grande contraste que estrema o conteúdo e o
método de análise da doutrina das três grandezas jurídico
institucionais de Aristóteles da tripartição de poderes do
Barão de la Brède et de Montesquieu :
“Existem teóricos do Estado que pretendem ter
encontrado já na Politeia de Aristóteles o cerne da
moderna separação de poderes ...
Porém, a compreensão mesmo da distinção de
categorias não pode ser comparada com a exigência
atual da separação no seu exercício, a qual se
pretende extrair daquelas categorias.
A partir da exposição que se segue dos locais
mencionados resulta que Aristóteles tentou – e isso já
é em si um trabalho considerável – elaborar uma
análise das atividades do Estado em conformidade
com sua substância objetiva.
Nada em seu trabalho permite concluir – seja a
observação empírica, seja a exigência teórica – que
essas três funções parciais deveriam ser atribuídas a
três órgãos ou pessoas distintas.
Precisamente nisso reside o significado ideológico da
doutrina da separação de poderes no moderno
constitucionalismo liberal.
O constitucionalismo da Antigüidade nao se vinculou
[21]
ao conceito da separação de poderes.”
No que concerne às doutrinas de divisão da dominação
jurídicoinstitucional contida no poder dos Estados da
Antigüidade, cumpre ainda assinalar que o grande jurista
romano Marco Túlio Cícero, através das palavras de Cipião,
contidas em De Re Publica, dános apenas a conhecer que
concebia a existência de três formas políticas de Estado
[22]
distintas, i.e. a democracia, a monarquia, a aristocracia.
Em conformidade com seu método lógicoanalítico
essencialmente eclético, Cícero demonstrava que o Estado
romano escravista deveria dividirse em órgãos que
incorporassem a expressão dessas três formas políticas
estatais, sendo que nenhuma dessas formas, considerada
isoladamente, poderia ser consagrada como a mais adequada.
Para o mais célebre jurista de todos os tempos, o melhor
Estado estaria dotado de uma constituição formada pela
[23]
mescla dessas três formas políticas mencionadas.
II.B.
FRAGMENTAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES PÚBLICAS
NOS ESTADOS FEUDAIS ESTAMENTAIS E O
TRIUBUNAL DA SANTA INQUISIÇÃO
A efetiva fragmentação das forças políticas no curso da Idade
Média projetouse, profundamente, sobre as concepções de
poder do Estado da nobilidade feudal, fundado esse último
na exploração de servos da gleba e escravos.
Príncipes, barões, condes, bispos, abades, senhores feudais e
eclesiásticos em geral exerciam uma quantidade considerável
de funções públicas, denominadas regalias, exercutando,
assim, diversas atividades de índole estatal com base em seu
[24]
próprio poder fundiário.
Em níveis hierárquicos a eles subordinados, surgiam diversos
tipos de órgãos para os ramos específicos das tarefas de
administração.
Tais ramos da administração eram divididos, entretanto, de
maneira puramente aleatória, tendo como critério a própria
conveniência de divisão dos órgãos.
Onde se concentravam diversas matérias em um determinado
ramo administrativo, subdividiase, dado o caso, o próprio
órgão administrativo competente em questão, mediante a
criação de diversos departamentos e instâncias.
Já ao final da Idade Média, começouse a conceber o poder do
Estado através de certa relação estamental havida entre
imperator e populus, esse último fazendose representar
através da votação dos príncipes eleitores.
Precisamente nesse sentido, Marsilius di Padua, Magister
Artium da Universidade Sorbonne, perseguido, a seguir, pela
Santa Inquisição, concebeu, no início do século XIV, a
existência de órgãos legislativo e executivo, em consonância
[25]
com a diferença formulada entre principatus e populus.
Na obra Defensor Pacis, o critério diferenciador dos órgãos de
Estado não repousava, entretanto, em distinção abstrata, mas
sim na própria existência, efetivamente real e histórica, de
diferentes organismos de poder da monarquia e da nobreza.
Uma instituição especial de cunho judiciário, surgida na Idade
de Média, em cujo contexto imperou desbragadamente o
poder ideológico cristãoeclesiástico, irradiado a partir do
Estado da Igreja Romana, foi indubitavelmente o Tribunal da
Santa Inquisição.
Destaquese, retrospectivamente, que, o resultado político final
da intensíssima perseguição dos cristãos em solo europeu
havia sido, em 313, a promulgação do Edito da Tolerância,
pelo Imperador Romano Diocleciano, que reconheceu,
então, oficialmente o cristianismo e concedeu proteção do
[26]
poder do Estado Romano aos seus seguidores.
A partir de então, a Igreja Romana e, em particular seus
bispos, assumiram um papel sempre crescente na política do
Estado e dos imperadores de então.
Já no período dos primeiros quatro Concílios Ecumênicos
(Nícia, em 325, Constantinopla, em 381, Efeso, em 431 e
Calquedão, em 451), i.e., já ao tempo de vida do grande
teólogo do mundo cristãoromano, o Bispo Aurelius
Augustinus, a Igreja Romana surgia como a segunda maior
proprietária de terras no interior do Império Romano em
franco processo de dissolução, sendo que já se tornara, então,
praticamente impossível que o Estado Escravista Romano
dinamizasse qualquer política de natureza pública ou privada
sem contar com o expresso apoio dos bispos cristães
eclesiásticos.
Sua riqueza resultava, sobretudo, das doações e outras formas
de transferências de propriedade, operadas da parte dos
imperadores romanos cristianizados.
Em 391, verificouse um grande triunfo da Igreja Romana,
quando o Imperador Constantino declarou o cristianismo
religião de Estado, tornandoo obrigatório para todos.
Grande parte das polêmicas emergentes até então dentro e
fora da Igreja Romana – como p.ex. a concernente à tentativa
de definição da pessoa do DeusHomem e do mistério da
incarnação – era resolvida no quadro de Concílios
Ecumênicos, concebidos pelos bispos e pelo Papa como uma
forma de equacionamento pacífico das divergências teóricas e
práticas já havidas entre as principais personalidades do
mundo eclesiástico romano, como Aurelius Augustinus,
Salviano de Marselha, os maniqueístas, os arianos –
seguidores do Padre Arius , os pelagianos – defensores das
idéias do Monge Pelagius , os donalistas – adeptos do Bispo
Donatus , os defensores crentes e pagãos da tradição greco
romana etc.
Precisamente nesse sentido, é possível compreenderse o
significado da promulgação do Credo de Nícia.
Destruído o Império Romano do Ocidente, teve início o
processo de cristianização dos povos germânicos invasores,
logo nos primeiros anos da Idade Média Baixa, seja no
[27]
continente europeu, seja sobre o solo britânicoinsular.
Nesse novo quadro, a dinastia merovíngea e, em particular,
Carlos Magnus surgem, ao longo dos séculos VIII a X, como
os maiores expoentes do fenômeno histórico de conversão
violenta, a ferro e fogo, ao cristianismo da grande maioria dos
povos germânicos.
Sob a égide da maioria preponderante das diversas legislações
dos reinos germânicos de então, surge a Igreja Romano
Cristã como religião de Estado e obrigatória para todos os
[28]
habitantes.
Seria necessário, porém, esperarse até o século XIII para que,
no quadro do implacável aguçamento da luta religiosa
ideológica entre valdenses, maniqueístas, albigeneses,
arianos, donalistas, catarenses, pelagianos, franciscanos –
seguidores de Francisco de Assisi , dominicanos – adeptos
de Domingo de Guzman da Espanha e tantas outras ordens
eclesiásticas de base, bem como em meio à crise provocada
pelas conquistas territorias do excomungado Imperador do
SacroImpério RomanoGermânico Frederico II,
representante da dinastia dos Staufer, a Igreja Romana
reagisse procurando recuperar seu poder ideológico abalado,
mediante a instituição de um Tribunal para Erradicação de
[29]
Heresias.
Em 1231, i.e. durante a vida do mais célebre Professor
Eclesiástico, Tomás de Aquino, a Santa Inquisição foi
instituída, mediante Decreto, promulgado pelo Papa Gregório
IX, enquanto instituição permanente da Igreja Cristã Romana,
encarregada de promover a apuração dos crimes religiosos de
[30]
heresia.
Apoiada em sua estrutura centralistaburocrática existente no
século XIII, foi possível aos bispos e aos papistas declararem
ser passíveis de correção éticomoral todos aqueles cujas
crenças e práticas desviassem suficientemente da ortodoxia
romanocristã.
As heresias, i.e. do latim haeresis, as seitas, as correntes
fideístas, haviam de ser perseguidas e condenadas, sendo
que, de início, seus adeptos seriam punidos seja com
repreensões públicas, em casos de arrependimento expresso,
seja com prisão perpétua, em caso de se demonstrarem
renegados, seja ainda com pena de morte, em casos de
contumácia expressa.
De toda sorte, eram as autoridades públicas do Estado Feudal
Estamental as que permaneciam encarregadas de proceder à
execução das sentenças proferidas pelo Tribunal da Santa
Inquisição, a menos que cumprisse aplicar a pena em questão
no interior dos limites da jurisdição exercida pelo Estado da
Igraja Romana.
Além disso, o Papa Gregório IX desencarregara,
expressamente, em seu Decreto de 1231, os bispos e
arcebispos de ocuparemse das funções de inquisidores
judiciários, ao mesmo tempo em que transferiu o exercício de
tal competência para os frades mendicantes, integrantes da
Ordem Dominicana, fundada por Dominigo de Guzman da
Espanha (1170 – 1221).
Entretanto, essa medida não impediu que, posteriormente,
muitos outros eclesiásticos, seja os provindos de outras ordens
religiosas, seja os aderentes do clero secular romanocristão,
viessem a exercer a função de inquisidores.
Já na última década do século XIII, o Tribunal da Santa
Inquisição haviase tornado uma instituição ativa em todos os
países europeus, funcionando diretamente sob as instruções
do Papa, e contando com aparelhos burocráticos especiais no
interior dos Estados Feudais encarregadas de dar
cumprimento as sentenças lavradas pelo Santo Juízo.
O inquisidor que atuava nos autos exercendo, ao mesmo
tempo, a função de juiz, podia processar qualquer pessoa.
Permitiaselhe colher depoimentos de excomungados,
hereges, pagãos, criminosos, pessoas de notória máreputação
[31]
e de todos aqueles que julgasse conveninete.
Alguns frades dominicanos inquisidores interrogavam
populações inteiras.
Por sua vez, o acusado ou, dado o caso, a acusada havia de
testemunhar contra si mesmo, não possuindo o Direito de
avistar ou questionar o seu acusador, consultarse com um
advogado, sendo que mesmo a existência de relação de
parentesco não impedia que alguém depusesse contra o
acusado.
Esse último devia ser interrogado na presença de, no mínimo,
duas testemunhas.
Meios diversos eram empregados, a fim de obterse a
confissão do acusado, a ser produzida em conformidade com o
libelo de acusação, previamente lido em voz alta por ocasião
de uma grande audiência pública inaugural.
A despeito de não existir, positivado no Direito Canônico
Cristão, qualquer previsão jurídica de emprego de torturas
físicas no procedimento de inquérito a ser efetuado, já a partir
de meados do século XIII, essas eram largamente utilizadas.
Em caso de confissão, o penitente havia de arrenpenderse de
joelhos, colocando sua mão direita sobre a Bíblia, segurada
pelo inquisidor.
Das sentenças exaradas pelo Tribunal da Santa Inquisição
não cabia apelação.
As penas variavam amplamente, podendo ir desde a
determinação de freqüência de igrejas, peregrinações forças,
arrastamento da cruz da infâmia por vários locais até mesmo à
prisão perpétua ou de morte – em caso de negativa de
abjuração , mediante queima em fogueira pública, erigida por
autoridades públicas do Estado Feudal Estamental, na
hipótese de ocorrer exterioremente aos limites do Estado da
Igreja Romana.
Muitas das condenações fixavam sentenças de prisão que
eram, porém, comutadas, posteriormente, em penas de
espécies diferentes.
De toda sorte, as condenações judiciáriaseclesiásticas que
cominavam penas de prisão possuiam com conseqüência civil
sempre a confiscação dos bens do acusado, executada em
proveito da Igreja CristãRomana.
Nos casos em que o acusado houvesse morrido antes mesmo
de poderem ser instituídos os autos do Tribunal da Santa
Inquisição, seus restos mortais deveriam ser exumados e, em
caso de condenação, queimados em praça pública.
No entanto, os inúmeros abusos cometidos pelo Tribunal da
Santa Fé conduziram a clamores de reforma do Direito
Canônico Cristão, sendo que, já no século XIV, autoridades
públicas do Estado Feudal Estamental passaram a intervir
comumente nos processos de erradicação de heresias,
integrandose nas atividades de julgamento, exercendo
[32]
atribuições de diversas naturezas.
No fim do século XV, sob a coroa de Fernando e Isabel de
Castilla, a Inquisição Espanhola tornouse essencialmente
independente da orientação da Igreja RomanoCristã,
passando a ocuparse intensamente do julgamento também de
supostas heresias cometidas por muçulmanos, judeus e
intelectuais iluministas, considerados todos como portadores
de “sangre impura”.
Passouse, então, em território espanhol, a empregarse,
massivamente, “la garrucha, la toca y el potro” como
métodos judiciariamente admissível, para a obtenção de
confissões.
Os assim conhecidos como Los Autos de Fe consagraramse
um capítulo especialmente de torturas sangüinolentas na
história dos julgamentos promovidos pelos defensores da
ortodoxia cristã, visando a “salvar las almas de los herejes.”
O primeiro dessa nova versão espanhola dos Autos de Fe
ocorreu em 16 de agosto de 1486, na cidade de Toledo,
quando todos os acusados que possuíam idades entre 13 e 86
anos foram condenados à morte, por meio de fogueira pública.
Sob a Coroa Espanhola, muitas condenações resultavam
também em escravidão, a ser prestada “en los galleys”.
Los Autos de Fe eram concebidos com o objetivo de inspirar
temor e prostração pela Santa Inquisição que se valia de
processos públicos espetaculares, visando a exibir seu poder
sobre as massas populares. Os dias de julgamento eram, em
alguns casos, considerados dias de celebração e veneração
religiosa.
Como forma de servir de meio de resistência e contrareforma
contra os hussitas, luteranos, calvinistas e rosicrucianos, a
Santa Inquisição veio a ser fundamentalmente reestruturada
em 1542 pelo Papa Paulo III, tendo suas competências
fortalecidas e extendidas, visando até mesmo a oporse às
[33]
falsas doutrinas da moderna ciência natural burguesa.
Porém, no norte da Europa, nos países escandinavos, a
Inquisição foi consideravalemente mais branda, sendo que
sobre o solo da Inglaterra jamais veio a ser instituída.
Em 1616, a Santa Inquisição, composta por um grupo
internacional de consultores, especialistas em teologia e
Direito Canônico Cristão, promulgou um parecer normativo
estabelecendo que seria plenamente “estúpido e absurdo em
filosofia”, “formalmente herege e finalmente errôneo, em
sentido fideísta”, a tese de que o sol encontrarseia no
centro do universo, movendo a terra incessantemente à sua
volta ...
Esse parecer normativo fez com que a renomada obra de
Copérnico, intitulado De Revolutionibus Orbium Coelestium
viesse a ser colocado no Índice dos Livros Proibidos, ao
mesmo tempo em que levou Filippo Giordano Bruno à morte
e à abjuração expressa de Galileo Galilei, a despeito de sua
declaração “eppure si muove”...
Apenas nas primeiras décadas do século XIX, tornouse
possível verificar uma mudança de orientação da Igreja
RomanoCristã em relação à sua luta contra o copernicismo e
os heliocentrista.
II.C.
OS DIREITOS DE SOBERANIA
DOS ESTADOS MONÁRQUICOABSOLUTISTAS
A doutrina dos Estados monárquicos absolutistas é
característica de um momento histórico em que as classes
sociais em luta – sobretudo a nobreza feudal e a burguesia
ascendente – possuem forças quase que iguais, sendo que o
poder estatal de então, na qualidade de aparente mediador,
adquire momentaneamente, uma certa autonomia em face de
[34]
ambas essas classes em luta.
Nesse contexto, foram concebidas apenas distinções de
atividades estatais oriundas dos assimdenominados poderes
privativos dos príncipes soberanos ou monarcas.
O célebre jurista francês, Jean Bodin, elaborou, assim, a
teoria dos direitos de soberania ou majestáticos, dividindo
juridicamente o poder do Estado a partir de um ângulo material
concreto de suas inúmeras atividades.
Tais direitos eram contemplados segundo uma série
enumerativa e sistemática, considerada como natural e eterna,
sendo todos exercidos pelo poder de decisão supremo e
centralizado do monarca.
Confirmando o caráter indivisível do novo conceito de
soberania monárquica que então surgia, Bodin, negando a
possibilidade da coexistência de órgãos jurídicoinstitucionais
do Estado distintos e independentes, sustentava que quem
possuisse um imperii socium estaria privado do poder
supremo.
O príncipe soberano seria, então, a imagem de Deus entre os
[35]
homens.
A concepção dos direitos de soberania de Bodin correspondia
às relações políticoestatais francesas do período histórico do
monarquismo absolutista, em um momento em que o monarca
libertavase das prentensões do poder eclesiástico.
Da mesma forma procedeu, o preceptor de Carlos II, Thomas
Hobbes, pretendendo deduzir dos objetivos da ordem estatal
[36]
britânica os direitos essencialmente privativos do soberano.
Fundado em seu parecer antropológico sintetizado na sentença
homo homini lupus, resultante de suas trágicas experiências
relacionadas com a Guerra dos Trinta Anos e as primeiras
turbulências republicanas revolucionárias inglesas, Hobbes
afirmou que o Leviathan, o deus mortal, o bíblico monstro
gigantesco, que representa o Estado dirigido de modo
absolutista pelo dententor do poder supremo, seria o único
meio de proteger os homens contra os ilimitados arbítrios
individuais egoísticos de cada um.
Após enumerar os fundamentos do poder da Commonwealth,
Hobbes empreendeu uma divisão dos direitos e das
[37]
faculdades exercidas exclusivamente pelo poder soberano.
II.D.
A DIVISÃO DOS PODERES
NO QUADRO DA REVOLUÇÃO BURGUESA DA
INGLATERRA
A doutrina da divisão jurídicoinstitucional do poder do Estado
que repartiu as funções estatais segundo a formação de
distintos órgãos políticos emergiu dotada de inigualável
importância com os primeiros albores da classe burguesa
ascendente em face da monarquia, da nobreza e do clero
feudal.
Suas origens alcançam o século XVII.
As experiências que a burguesia inglesa empreendeu, ainda
sob o manto religioso, no contexto conducente à Revolução
Gloriosa, através da consolidação do domínio jurídico
institucional do Parlamento Inglês, estimularam a produção
intelectual e a prática política de distinguir diversos domínios
[38]
jurídicos de atividade do poder estatal.
O Instrument of Government de Oliver Cromwell, positivado
em 1653, surge, por assim dizer, como o paradigma
embrionário de uma tentativa prática de divisão jurídico
institucional de poderes, no contexto das então modernas
Revoluções Burguesas.
O modo de reflexão e os métodos de trabalho das ciências da
natureza, sobretudo a descoberta de novas leis físicas em
contraste com as supertições feudais, tornaramse modelo
para burguesia ascendente no sentido de aquisição de novos
conhecimentos científicos aplicáveis ao processo de produção
capitalista.
Disso resultou a novidadeira compreensãoo da lei, enquanto
norma genérica, abstrata, estabelecida de modo eterno e
imutável pelo parlamento do Estado, em conformidade com a
[39]
ordem da razão universal e natural.
A universalidade e a igualdadade formal contida no espírito e
nos institutos do Direito Burguês em surgimento pressupunha,
por outro lado, a desigualdade econômicomaterial dos
cidadãos, a apropriação privada dos meios sociais de
produção, a legitimação da violação da igualdade na repartição
efetiva dos bens sociais de consumo, i.e. um Direito
simplesmente igual, ao invés de um Direito desigual, de modo
a viabilizar não apenas as diferenças de riqueza, senão ainda a
exploração capitalista do homem pelo homem em um processo
[40]
de acumulação capitalista.
Ainda nesse momento histórico, a Coroa, entendida enquanto
órgão de Estado, apresentavase como indispensável à
garantia da ascensão da classe burguesa ao poder.
Porém, entendiase que apenas a disciplina de suas
atribuições estatais criaria a possibilidade de limitação do
absolutismo monárquico, com vistas à consolidação das
liberdades dos cidadãos burgueses, concebidas essas últimas
no contexto da novidadeira doutrina burguesa britânica do
Direito Natural, elaborada e defendida pela esquerda puritana
quacre.
Essa última portava como principais eixos teóricos a
reconfiguração doutrinária dos conceitos de liberdade,
igualdade e soberania popular, no sentido religiosopuritano e
jurídicoideológico burguês.
A totalidade do povo, entrevisto como um povo composto
eminentemente por cidadãos burgueses, passava agora a ser
concebida como uma associação inteiramente voluntária,
fundada em um contrato social volitivo pactuado supostamente
por indivíduos considerados como originariamente livres e
iguais, i.e. um original agreement voluntariamente celebrado.
O poder supremo do Estado passava a encontrar, assim, seu
fundamento de validade na vontade geral dos cidadãos
burgueses, proprietários livres e juridicamente iguais.
Opondose às teorias do Estado monárquicoabsolutista,
contidas no Leviathan, de Thomas Hobbes of Malmesbury,
no Patriarcha, de Robert Filmer, e no pensamento dos
teólogos protestantes, emergiu a doutrina burguesa britânica
do Direito Natural, ainda mesclada com profundas
concepções teológicas.
Tal doutrina estruturouse, inicialmente, com as formulações
inovadoras de John Lilburn(+1650), com a Lei da Liberdade
de Gerard Winstanley(+1652), e a Oceana de James
Harrington(16111677), com as Conversações de Mesa de
John Selden(15841654), e a Areopagitica de John
Milton(16081674), com as Análises sobre a Direção do
Estado de Algernon Sydney(16221683), e o Esboço da
Direção do Estado da Província da Pennsilvania de William
[41]
Penn(16441718).
Segundo tais doutrinas, a vontade geral da associação
voluntária dos indivíduos burgueses egoístas haveria de ser
reconhecida como o fundamento jurídico do poder do Estado.
[42]
Ela delegaria o exercício do poder a um único ou a muitos
representantes, incumbidos de administrálo em confiança.
Para todos os órgãos de Estado a garantia da liberdade
individual, da igualdade formal, da vida de cada um, entre
outros valores jurídicos, concebidos agora segundo a ótica
burguesa, deveria de ser o princípio máximo de Direito.
No asseguramento dessa garantia residiria os limites naturais e
eternos às atribuiçoes das autoridades de Estado.
Arbítrio e incondicional submissão do indíviduo burguês à
Coroa seriam fenômenos a excluirse de antemão.
Porém, para a conformação jurídicoinstitucional do poder do
Estado, não bastariam apenas periódicas eleições e votações,
expressivas da vontade popular dos novos cidadãos burgueses
: a divisão do poder do Estado em sentido jurídicoinstitucional
deveria surgir enquanto limitação adicional ao exercício das
atribuições do monarca e da nobreza, e decorrer,
necessariamente, da primazia da lei parlamentar, i.e. da
legalidade do Estado.
Pelos representantes dos novos direitos burgueses passouse
a acentuar, então, gradativamente, a superiodade da lei sobre
o poder monárquico, esse último devendo assumir a posição
de um poder encarregado do dever de darlhes cumprimento.
Com o fortalecimento do Parlamento Inglês decorrente da
insurreição dos católicos e puritanos britânicos que, com base
no English Convenant juraram defender sua liberdade política
e religiosa contra o absolutismo de Carlos I, surgia esse órgão
legislativo de Estado já contando com decisiva atuação política
da burguesia, ao lado da nobreza e do clero, no âmbito de um
Estado monárquico.
Os parlamentares britânicos, reunidos de 1640 a 1653,
atacaram, de início, profundamente o absolutismo monárquico
e condenaram o Ministro Starfford e o bispo anglicano Laud
à morte.
Quando os cavaleiros de Carlos I bateramse contra os
Roundheads, o Protetor da República Inglesa, Oliver
Cromwell, à frente dos Costelas de Ferro, venceuos na
batalha de Naseby.
Prêso e vendido ao Parlamento Inglês, Carlos I foi por esse
julgado e conduzido ao patíbulo, acabando decapitado em
[43]
praça pública, em 1648.
A idéia de divisão e de balanceamento de poderes passaria a
representar, desde então, um tema jurídico de primordial
importância para a conformação do constitucionalismo burguês
[44]
britânico.
Rapidamente alcançouse uma clara diferenciaçao entre as
atribuições do protector e do parlament.
Essas atribuições foram, então, positivadas em virtude das
grandiosas transformações constitucionais que não mais se
assentavam na recepção do Direito feudal anterior.
O Instrument of Government de 1653 dispôs, então, da
seguinte forma:
“I.Que a autoridade legislativa suprema na República
da Inglaterra (...) deve estar e residir em uma pessoa, e
nas mãos do povo reunido no Parlamento (...)
II.Que o exercício da principal magistratura e da
administração do governo (...) deve competir ao Lord
[45]
Protetor.”
Com a morte de Oliver Cromwell em 1658, o Parlamento
Inglês, revigorado após sua dissolução no período ditatorial
cromwelliano, restabeleceu a monarquia de Carlos II, dando
criação aos dois grandes partidos britânicos de então : os
tories, i.e. os burgueses conservadores, e os whigs, i.e. os
burgueses liberais, defensores da soberania do Parlamento
Inglês.
Coube aos whigs, descontentes com o reinado de Jaime II,
chamar da Holanda o Stathouder Guilherme de Orange, i.e.
o Chefe da República da Holanda.
Refugiandose Jaime II na França, o Parlamento Inglês deu a
Guilherme de Orange a Coroa, instituindo um regime
monárquicoconstitucional, no quadro de um Estado
AristocráticoBurguês.
Após essa assimdenominada Revolução Gloriosa de 1688,
que derrotou, definitivamente, a dinastia dos Stuarts, a Bill of
Rights foram delimitadas as prerrogativas do Rei,
fortalecendose as do Parlamento Inglês.
Desde então, o governo de Estado passaria a ser exercido por
um Primeiro Ministro, responsável perante o Parlamento,
escolhido, em um primeiro momento, entre os notáveis do
partido dominante.
No ano de 1690, o mundo ocidental conheceu, então, além da
legitimação jurídicoteórica dos propósitos da Revolução
Gloriosa, uma brilhante expressão da nova doutrina
aristocráticoburguesa da divisão jurídicoinstitucional do poder
do Estado, contida na célebre obra de John Locke, intitulada
Two Treatises of Civil Government(Dois Tratados acerca
do Governo Civil).
Baseando nas idéais políticas dos whigs, Locke examinou o
novo Estado Britânico seja desde uma perspectiva relacionada
com seus órgãos estatais, denominandoos Poderes
Legislativo e Executivo (Legislative and Executive Powers),
seja desde um ângulo de suas funções materiais concretas,
contemplando a existência dos assimdenominados Poderes
Federativo e de Prerrogativa (Federative and Prerogative
Power).
O Poder Judiciário, enquanto terceiro poder constituído,
pretendidamente imparcial e independente, foi desconhecido
por Locke.
O terceiro poder de Estado, concebido na perspectiva material
concreta das atividades funcionais do Estado, representava
para Locke um poder para declarar a guerra e a paz, bem
como para tratar das alianças e dos negócios externos,
[46]
denominado por ele Federative Power.
Além disso, Locke atribuiu ao Chefe do Executivo
determinadas atribuiçoes reservadas, incorporadas no Poder
de Prerrogativa – esse último tradicional do Direito
revolucionário britânico aristrocráticoburguês, sendo,
entretanto, tais atribuiçoes submetidas a limitações, não
consideradas como encroachments.
Segundo Locke, devendo os Poderes Legislativo e Executivo
serem exercidos por órgãos estatais distintos – i.e. pelo
Parlamento e pela Coroa , os Poderes Executivo, o Federativo
e o de Prerrogativa haveriam de estar costumeiramente unidos
nas mãos do Chefe do Executivo.
Nesse quadro, os Poderes Federativo e de Prerrogativa –
diferentemente do Poder Executivo – não haveriam de ser
dirigidos, estritamente, por leis positivas, devendo ser
[47]
exercidos segundo o livre arbítrio de seu titular.
Nada obstante, todos esses poderes referidos pelo célebre
pensador de Wrington eram por ele considerados como
Fiduciary Powers, i.e. como poderes fiduciários ou de
confiança.
Em princípio, todos eles estariam subordinados ao Poder
Legislativo, considerado enquanto o órgão de Estado que, em
última instância, representaria, juridicamente, o poder supremo
da Commonwealth.
O povo, eminentemente composto de cidadãos burgueses,
delegaria, por sua vez, em confiança, ao Poder Legislativo
certas atribuições, plenamente revogáveis, na hipótese de o
seu exercício resultar em manifesta decepção popular.
Em seus comentários à Constituição da Inglaterra, Friedrich
Engels, assinalou que o equilíbrio dos poderes da monarquia
constitucional representava, em verdade, o temor da
humanidade diante de si mesmo, e desvendou o significado
efetivo da teoria aristocráticoburguesa da divisão da
dominação jurídicoinstitucional do poder do Estado com as
seguintes palavras:
“O primeiro princípio da monarquia constitucional é
aquele relacionado com o equilíbrio.
Esse princípio é a expressão mais acabada do medo
da humanidade diante de si mesmo.
Não quero discorrer acerca da irracionalidade ridícula,
da total inexecutabilidade desse princípio, quero
apenas investigar se ele é concretizado na
[48]
Constituição da Inglaterra (...)”
Sem dúvida, nessa citação de Engels resulta efetivamente
claro que esse grande pensador revolucionário proletário tinha
perfeito conhecimento das formulações jurídicoideológicas do
constitucionalismo burguês britânico, como também da grande
propaganda política desencadeada por Henry St. John,
Viscount of Bolinbroke, que, em favor de um reinado
conservador e fortalecido contra o domínio parlamentar já
consolidado dos whigs, fazia ecoar aos quatros ventos do
Império Britânico a defesa das virtudes aristocráticoburguesas
do ”equilibrium of powers” : garantia de freios políticos
recíprocos, controles recíprocos, check and balances.
Bolinbroke logrou mesmo elaborar uma teoria de tripartição
jurídicoinstitucional de poderes, em que a Coroa, a Câmara
dos Lors e a Câmara dos Comuns seriam capazes de
[49]
produzir as virtudes de um governo moderado.
Diante de todo esse contexto, escreveu, então, Engels, de
maneira meridianamente precisa, destacando a crescente
consolidação da dominação do poder do Estado nas mãos da
burguesia inglesa :
„O poder da Coroa reduzse, na prática, a zero e se um
fato notório em todo mundo ainda carece de prova,
então já pode servir como prova o fato de que, desde
há mais de cem anos, toda a luta contra a Coroa
deixou de existir, que mesmo os cartistas democrátas
radicais sabem empregar seu tempo em algo melhor
do que nessa luta ...
Se o escárnio que se acumula continuadamente sobre
a Câmara Alta há mais de cem anos tornouse
gradativamente parte integrante da opinião pública, se
esse órgão do Poder Legislativo é considerado, em
geral, como uma casa de inválidos para homens de
Estado desgastados, que o oferecimento de uma pária
é considerada por todo membro ainda não esgotado da
Câmara Baixa como uma ofença, então podese
facilmente entrever em que nível de respeito se
encontra o segundo dos Poderes do Estado
estabelecido pela Constituição.
Na realidade, a atividade dos Lords na Câmara Alta
rebaixouse a uma mera formalidade, sem maior
[50]
importância ...“
II.E.
A TRIPARTIÇÃO DE PODERES
NO PRELÚDIO DA REVOLUÇÃO BURGUESA DE 1789 :
O SURGIMENTO DO PODER JUDICIÁRIO
Apesar de a doutrina de John Locke ter adquirido significativa
importância para a elaboração das teorias burguesas
subseqüentes sobre a divisão jurídicoinstitucional do poder do
Estado – nomeadamente através de sua grande influência
exercida sobre a disciplina constitucional dos EUA cumpre
destacar que seu pensamento doutrinário repartia apenas as
diferentes funções de Estado entre tão somente dois órgãos
[51]
estatais, atuantes de maneira independente.
Assinalese, adicionalmente, que na concepção aristocrático
burguesa do célebre revolucionário de Wrington, a Coroa,
enquanto chefe dos Poderes Executivo, Federativo e de
Prerrogativa, surge, ainda, como o principal órgão de Estado,
apesar de todas as limitações a que estava submetida
mediante lei e, em certos casos, apesar de sua vinculaçao à
lei.
Em um contexto histórico em que a burguesia, lutando
crescentemente contra a realeza e a nobreza, procurava
assegurar sua dominação política, conquistando para si o
poder supremo do Estado, teve surgimento a doutrina
aristocráticoburguesa da tripartição da dominaçao jurídico
institucional do poder do Estado elaborada pelo Barão de la
Brède et de Montesquieu em sua principal obra intitulada De
l’Esprit des Lois(Sobre o Espírito das Leis), surgida em
[52]
1748.
Se a bandeira religiosa havia tremido pela última vez na
Inglaterra, no século XVII, a visão jurídicoburguesa do mundo
totalmente purificada de elementos teológicos haveria de
[53]
emergir na França, menos de cinqüenta depois.
Karl Marx e Friedrich Engels sublinharam, em A Ideologia
Alemã, de maneira eminentemente crítica, as seguintes
considerações acerca de tal concepção relativa à consagração
dos assimdenominados poderes de Estado, enunciada agora
como uma “lei eterna” :
“As concepções da classe dominante são, a cada
momento, as concepções dominantes (...)
As concepções dominantes nada mais são do que a
expressão ideal das relações materiais dominantes, i.e.
das relações materiais concebidas como pensamentos.
(...)
Os indivíduos que constituem a classe dominante
possuem, entre outras coisas, também consciência e,
por isso, pensam.
Na medida em que dominam como classe e
determinam todo o âmbito de uma época histórica, é
evidente que o façam em toda a sua extensão e,
conseqüentemente, entre outras coisas, dominem
também como pensadores, como produtores de
concepções, que regulem a produção e a distribuição
das idéias de seu tempo e que suas idéias sejam, por
isso mesmo, as idéias dominantes da época.
Por exemplo : em uma época e em um país em que o
poder real, a aristocracia e a burguesia lutam pelo
domínio, onde o domínio se encontra pois dividido,
surge como idéia dominante a doutrina da divisão dos
poderes, que agora surge enunciada como uma “lei
[54]
eterna.”
Com efeito, ao longo dos séculos subseqüentes, a teoria da
tripartição de poderes de Charles de Montesquieu tornouse
concepção dominante, mesmo no quadro dos posteriores
Estados Burgueses democráticosrepublicanos, mesmo depois
de abolidos os órgãos de Estado representadores das forças
políticas monárquicas, aristocráticas e clericais.
Embora Montesquieu tivesse desenvolvido seu pensamento
relativo à divisão dos poderes tendo como base a
Constituição da Inglaterra, onde “a liberdade política aí
aparecia como em um espelho”, a Europa Continental não
foi decisivamente influenciada pela doutrina britânica de divisão
jurídicoinstitucional do poder do Estado de John Locke : a “lei
eterna” teria como respaldo teórico incontrastável a formulação
doutrinária original de autoria do Barão de Montesquieu.
Montesquieu viveu, precisamente, no final da época de ouro
do Estado absolutista francês e formulou seus pensamentos a
partir de uma perpectiva aristocráticoburguesa, a seguir
consolidada, no terreno político, através da força política dos
Girondinos.
Para Montesquieu, todo homem seria levado a pretender
conquistar e ampliar seu poder, dele necessariamente
abusando, caso não encontrasse limites para essa sua assim
considerada tendência natural.
Partindo dessa premissa, entendia que era imprescindível que,
pela própria disposição das coisas, o poder freasse o poder.
A concentração ilimitada do poder seria, então, incompatível
com a pretensa liberdade natural, originariamente adquirida
pelos homens.
Em conformidade com suas premissas ideológicas jus
naturalistas, Montesquieu defendeu a divisão da dominação
jurídicoinstitucional do Estado entre diferentes órgãos estatais,
entre si independentes e incumbidos cada qual do exercício de
certa função estatal, entrevista como parcela de determinada
[55]
função material geral, eminentemente distinta das demais.
A função legislativa surgia, aos olhos de Montesquieu, como a
primeira função de Estado : aquela cujo exercício permitiria
fazer as leis por um certo tempo ou para a eternidade,
emendálas ou abrogálas.
Após nomear la puissance exécutrice des choses qui
dépendent du droit de gens(i.e. o poder executivo das
coisas que dependem do Direito Público Internacional),
enumerando enquanto seu conteúdo concreto às atribuições
de deflagrar a guerra e celebrar a paz, Montesquieu –
diferentemente de John Locke – decidiuse simplesmente por
associála à puissance exécutrice des choses qui
dépendent du droit civil(i.e. ao poder executivo das coisas
que dependem do Direito Civil), denominando, então, tanto
uma como outra, sinteticamente, de puissance exécutrice de
l’Etat, i.e. como Poder Executivo do Estado.
Com essa sua formulação inovadora, o Federative Power de
John Locke, enquanto o terceiro poder de Estado, deixava
simplesmente de existir enquanto tal, sendo que o segundo
poder passava a ser, exclusivamente, o Poder Executivo.
Para Montesquieu, todas as funções de governo – quer as
domésticas, quer as internacionais – estariam situadas no
domínio desse novo Poder Executivo.
Uma terceira função foi, então, entrevista, de maneira distinta,
por Montesquieu, a puissance de juger, sendo que a
expressao puissance judiciaire não veio a ser por ele
utilizada.
A função de julgar surgiu, na obra de Montesquieu, como
emanação do poder político executivo interno, dedicado aos
julgamentos dos crimes e disputas judiciais.
Segundo a concepção de Montesquieu, a divisão jurídico
institucional do poder do Estado nas três diferentes funções por
ele concebidas, não garantiria, entretanto, o ideal de liberdade
do indivíduo e não impediria o avanço do Estado na esfera
individual, se o responsável pelo exercício dessas funções
permanecesse sendo um único ou um mesmo órgão de Estado
que as acumulasse.
Para a garantia da liberade política da sociedade françesa
marcada então pela ascensao política da burguesia, seria
necessário, segundo o Barão de Montesquieu, um sistema
jurídicoinstitucional refinado de controles e balanceamentos,
i.e. um sistema de check and balances, em que as três
funções estatais por ele concebidas fossem exercidas por três
distintos órgãos de Estado, independentes entre si, porém não
inteiramente separados.
Na ótica essencialmente aristocráticoburguesa de
Montesquieu, profundamente atenta às efetivas grandezas
políticas de sua época histórica, a Coroa deveria formar o
Poder Executivo.
No âmbito desse poder, ocorreria a adoção de rápidas
decisões, que, na maioria das vezes, tornavam inviável uma
intervenção direta do órgão legislativo do Estado.
Esse Poder Executivo Monárquico seria, além disso,
responsável pela convocação e estipulação do tempo de
funcionamento do Poder Legislativo, o qual, na concepção do
Barão de la Brède et de Montesquieu, deveria ter uma
[56]
atuação permanente e ininterrupta.
O Poder Legislativo seria composto, então, pela nobreza e pelo
clero – reunidos em uma Câmara Alta , e pela burguesia,
atuante em uma Câmara Baixa.
Para Montesquieu, se a nobreza – privilegiada pelo
nascimento, riqueza e honra – viesse a ser confundida com os
cidadãos burgueses e pequenoburgueses, i.e. o povo de seu
tempo histórico, a liberdade geral passaria a significar a sua
servidão.
A nobreza haveria, pois, de formar um órgão estatal legislativo
diferenciado, tal como um Senado, revestido do direito de
[57]
impedir os empreendimentos do órgão legislativo burguês.
Em conformidade com o pensamento de Montesquieu, os
poderes de Estado deveriam permanecer consideravelmente
divorciados, porém não absolutamente atomizados, de modo a
produzirem uma certa situação institucional por ele definida
como de equilíbrio.
O Poder Legislativo nao poderia, assim, exercer funções
executivas, nem impedir o cumprimento dessas funções.
Competialhe, entretanto, la faculté d’examiner a forma e o
modo, segundo os quais o Poder Executivo daria cumprimento
[58]
às leis.
O Chefe do Poder Executivo nao deveria possuir nenhuma
participação preponderante no processo legislativo, porém nele
poderia intervir através da faculté d’empêcher, quando
apusesse seu veto contra determinada lei, jamais porém com a
[59]
faculté de proposer et de statuer.
Montesquieu foi plenamente claro em assinalar que não
subsistiria nenhuma liberdade política se o Poder de Julgar nao
fosse instituído orgânica e independentemente, de maneira
diferenciada dos Poderes Executivo e Legislativo.
Segundo ele, a função jurisdicional deveria ser exercida por
pessoas oriundas das distintas classes sociais, as quais, em
distintos períodos do ano, formariam respectivamente tribunais
ou o corpo dos nobres reunido para julgar seus pares, com
[60]
duração fixada segundo as exigências da necessidade.
Montesquieu propôs, nesse contexto, julgamentos por classes
sociais, a fim de, segundo ele, evitarse julgamentos injustos :
“Os grandes estão sempre expostos à inveja e se eles
fossem julgados pelo povo poderiam estar em perigo e
não gozariam de qualquer privilégio, o qual possui o
menor dos cidadãos em um Estado livre, i.e. o de ser
julgado por seus pares.
É necessário, entao, que os nobres sejam chamados
não diante dos tribunais ordinários da Nação, mas sim
diante dessa parte do corpo legislativo que é composta
[61]
pelos nobres.”
As referência do Barão de Montesquieu ao Poder de Julgar
são, além do que aqui já foi exposto, extremamente escassas.
O Poder de Julgar surge aos olhos de Montesquieu
extremamente debilitado e designado como sendo, de certa
forma, nulo e invisível :
“Dessa forma, o Poder de Julgar, tão terrível entre os
homens, não estando vinculado nem a um certo
estado, nem a uma certa profissão, tornase, por assim
dizer, invisível e nulo.
Nao se possui, continuadamente, nenhum juiz diante
dos olhos e temese a magistratura, porém nao os
[62]
magistrados.”
As palavras multívocas e obscuras de Monstequieu que
afirmavam ser o poder de julgar pour ainsi dire invisible et
nulle, revelam o embaraço desse jurista françês em situar o
Poder Judiciário que entrevia ao lado dos poderes jurídicos
mais claramente atuantes, o Executivo Monárquico e o
Legislativo AristocráticoBurguês.
O célebre jurista burguês Maurice Hauriou também identificou,
ainda que superficialmente, esse surgimento esquálido do
Poder Judiciário, destinado a existir apenas esporadicamente,
estando divido entre nobres e burgueses em julgamentos de
pares, ele mesmo como objeto de disputas entre a aristocracia
e a burguesia :
“Ele (o Poder Judiciário) é “terrível entre os homens”,
i.e. ele é terrível como poder sobre o justiciável, mas é
nulo como eficácia em face dos poderes políticos do
Estado, visto que ele nao possui o poder de impedir
[63]
sua ação.”
Acerca do tema, escreveu ainda o célebre jurista burguês
alemão, de orientação nazista, Ernst Forsthoff :
“Tanta maior desvêlo, porém, Montesquieu dedica à
ordem da relação dos poderes entre si.
Ela é o próprio cerne da teoria tão grosseiramente
designada com a palavra de divisão dos poderes.
De início, ele exclui o Poder Judiciário. Esse último não
se reveste politicamente de pêso e, em certo sentido, é
inexistente.
Por essa razão, ele não carece também de uma
moderação.
Tanto mais, entrentato, disso carecem os outros dois.
Montesquieu voltase, com semelhante penetração,
contra a dominação seja do Poder Legislativo seja do
[64]
Poder Executivo.”
II.F.
O PODER JUDICIÁRIO
NO QUADRO DO FORTALECIMENTO DA BUROCRACIA
E DA FORÇA MILITAR DOS ESTADOS BURGUESES
DOS SÉCULOS XVIII E XIX
A essa altura de nossa exposição, cumpriria indagar, em vias
de conclusão do primeiro ponto de nossa exposição, se, ao
longo dos últimos duzentos anos de exploração e dominação
das instituições capitalistas e de seu Estado burguês, teria o
Poder Judiciário, após seu esquálido surgimento, permanecido
como um poder “invisible et nulle”, tal como concebido por
Montesquieu, ou adquirido uma presença jurídicoinstitucional
mais determinante e ativa, enquanto Justiça Burguesa ?
Teria o Poder Judiciário reduzidose a uma mera formalidade,
convertidose em uma casa de inválidos, tornadose uma pária,
tal como foi o decadente destino da Câmara dos Lords
Britânicos, tal como bem assinalou Engels na citação que
reproduzimos acima ou, pelo contrário, adquirido a posição de
uma burocracia de funcionários exclusivamente burguesa,
composta por juízes de carreira, vitalícios, inamovíveis,
dotados de sôldos irredutíveis, colocandose não mais
intermediariamente entre a dominação jurídicoinstitucional do
Executivo Monárquico e do Legislativo ParlamentarBurguês ?
Teria o Poder Judiciário deixado de ser “invisível e nulo” ou
permanecido apenas como „a boca que pronuncia as
palavras da lei, um ser inanimado que não lhes poderia
moderar nem sua força nem seu rigor”, tal como dizia
[65]
Montesquieu?
A elevação da função jurisdicional à qualidade de um poder de
Estado na obra do Barão de la Brède et de Montesquieu –
i.e. como o terceiro poder na tripartição da dominação jurídico
institucional do poder do Estado , não foi marcada, tal como
visto, por sua altivez em face dos Poderes Legislativo e
Executivo.
Pelo contrário, tal função de julgar surgiu aos olhos de
Montesquieu marcada por sua falta de continuidade
existencial, divida entre nobres e burgueses em julgamentos de
pares, não sendo incorporada concentradamente em uma
única grandeza jurídicoinstitucional.
Nesse seu primeiro momento histórico de vida, o Poder
Judiciário emergiu de modo extremamente debilitado, não
tendo sido projetado juridicamente por Montesquieu para
existir nem seguer de modo permanente.
Esse é o Poder Judiciário anterior à e no quadro da Revolução
Burguesa de 1789.
Isso não impediu que a Grande Revolução Francesa
pretendesse suprimir de todo Estado do mundo civilizado,
existente no contexto histórico da época, sua natureza jurídico
constitucional, caso não assegurasse o princípio da repartição
dos poderes entre diferentes órgãos estatais, ao lado da
[66]
garantia dos Direitos do homem e do cidadão burgueses.
Com efeito, o artigo XVI da Déclaration des Droits de
l’Homme et du Citoyen(Declaração dos Direitos do Homen
e do Cidadão), de agosto de 1789, inspirada na doutrina de
Montesquieu e na força política dirigente dos Girondinos, em
um momento em que governava a grande burguesia francesa
que pretendia conciliar a revolução com as instituiçoes jurídico
institucionais monárquicas e aristocráticas, dispôs
expressamente :
“Artigo XVI. Toda sociedade na qual a garantia dos
direitos não é assegurada nem a separação dos
poderes determinada não possui nenhuma
[67]
Constituição.”
Após a eclosão dessa grande revolução, inspirada,
progressivamente, na obra clássica de JeanJacques
Rousseau, intitulada Du Contrat Social ou Principes de
Droit Politique(Do Contrato Social ou Princípios de Direito
Político), a posição do Poder Judiciário no contexto da
tripartição equacionada por Montesquieu haveria de modificar
se considerável e gradativamente.
Porém, as novas doutrinas jurídicoburguesas de Direito do
Estado, ainda que imprimindo uma nova dimensão jurídico
política à teoria da tripartição de poderes de Montesquieu, não
tiveram como objetivo colocar nenhuma concepção
inteiramente nova em seu lugar.
Entretanto, aquele balance de pouvoirs constituído no
pensamento de Montesquieu através da participação de
diferentes classes sociais na dominação jurídicoinstitucional
veiculada pelo poder do Estado, pareceu aos seus sucessores
intelectuais como crescentemente irrealizável e incompatível
com a prevalência dos ideais burgueses e a abolição radical
dos restos das sociedades feudais.
Já a doutrina da democracia ou como a denominavam os
teóricos do século XVIII – a doutrina da soberania popular, de
Rousseau assentouse, resolutamente, sobre o princípio da
unificaçao de todos os poderes jurídicoinstitucionais nas mãos
do povo, composto majoritariamente por cidadãos burgueses e
pequenosburgueses, criticando amargamente a divisibilidade
do poder soberano do Estado :
“Pela mesma razão que a soberania é inalienável, ela é
indivisível. (...)
Mas, nossos políticos, não podendo dividir a soberania
em seu princípio, dividemna em seu objeto.
Eles a dividem em força e em em vontade; em Poder
Legislativo e Poder Executivo; em Direitos; em Direitos
de impostos, de justiça e de guerra; em administração
interior e em Poder de tratar com o estrangeiro : tanto
mais confundem todas as suas partes, quanto mais as
separam.
Fazem do soberano um ser fantástico e formado de
pedaços relacionados, tal como se eles compusessem
um homem com vários corpos, dos quais um teria os
seus olhos, outro um braço, um outro ainda seus pés e
nada de diferente. (...)
Esse erro decorre de não se ter noções exatas sobre a
autoridade soberana e de tomar por partes dessa
autoridade o que não representa senao suas
[68]
emanações.”
Entretanto, tal convicção não impediu Rousseau de
recomendar distinguirse entre Poder Executivo e Legislativo :
“Aquele que faz a lei sabe melhor do que ninguém
como ela deve ser executada e interpretada.
Parece, entao, que não se poderia ter uma melhor
constituição do que no caso em que o Poder Executivo
estivesse juntado ao Poder Legislativo.
Porém, é isso mesmo que torna esse governo
insuficiente em certos aspectos, visto que as coisas
que devem ser distinguidas não o são e sendo o
príncipe e o soberano a mesma pessoa não formam,
por assim dizer, senão um governo sem governo.
Não é bom que aquele que faz as leis as execute, nem
que o corpo do povo desvie sua atenção das vistas
[69]
gerais para dirigíla aos objetos particulares.”
O aprofundamento da tormenta revolucionária, protagonizada
pelo jurista incorruptible, aboliu, a seguir, resolutamente, os
traços de convívio da burguesia ascendente com os poderes
monárquicos e aristocráticos, jogando por terra o cenário sócio
histórico conhecido pelo Barão de Montesquieu.
Sob a influência de Robespierre, a puissance irrésistible du
torrent révolutionnaire(o poder irresistível da torrente
revolucionária) de fins do século XVIII, haveria de abrir o
caminho da consagração da doutrina da tripartição de poderes
de Montesquieu, entretanto com a relevantíssima modificação
concernente ao caráter eminentemente burguês de todos os
poderes jurídicoinstitucionais imagináveis do Etat français,
cada vez mais centralizado :
“Qual é o objetivo que perseguimos ? O gozo pacífico
da liberdade e da igualdade (...)
Nós queremos substitutir (...) todos as virtudes e os
milagres da República a todos os vícios e a todos os
ridículos da Monarquia.
Domem, pelo terror, os inimigos da liberdade e terão
razão como os fundadores da República.
O governo da Revolução é o despotismo da liberdade
[70]
contra a Tirania.”
A seguir, no quadro de incessantes revoluções burguesas e
restaurações monárquicas, insurreições proletárias e golpes de
Estado ditatoriais, que percorreram toda a Europa durante o
século XIX, o resultado marcante desses movimentos foi, sem
dúvida, o fortalecimento da burocracia e da força militar dos
Estados Burgueses, abrindolhes a via para a sua atual
configuração imperialista.
Em o 18 Brumário de Luís Bonaparte, Marx observa com
precisa clareza o fenômeno de que agora tratamos :
“Esse Poder Executivo, com sua enorme organização
burocrática e militar, com seu mecanismo estatal
complicado e artificial, com um exército de empregados
de meio milhão, ao lado de um outro exército de meio
milhão de soldados, esse corpo parasitário espantoso
que envolve como um invólucro o corpo da sociedade
francesa e lhe obstrui todos os poros, constituiuse no
período da monarquia absoluta, i.e. ao cair do sistema
feudal, cuja queda ajudou a tornar mais rápido esse
processo.
A primeira revolução francesa desenvolveu a
centralização e, ao mesmo tempo, teve de desenvolver
a amplitude, os atributos e os instrumentos do Poder
de Governo.
Napoleão conduziu à perfeição esse mecanismo do
Estado.
A Monaquia Legítima e a Monarquia de Julho nada lhe
acrescentaram, a não ser uma maior divisão do
trabalho (...)
A República Parlamentar, enfim, viuse forçada a
reforçar na sua luta contra a revolução, juntamente
com as medidas de repressão, os instrumentos e a
centralização do poder do Estado.
Todos as reviravoltas políticas não fizeram senão
aperfeiçoar essa máquina, ao invés de despedaçála.
(...)
Os partidos que sucessivamente lutaram pelo poder
consideraram a posse desse enorme edifício do Estado
[71]
com o botim principal do vencedor.”
Nesse curso histórico geral de fortalecimento e aprimoramento
da organização burocrática e militar do Estado Burguês, bem
como no quadro da afirmação cada vez mais intensa dos ideais
burgueses, a situação de convívio político entre Legislativo
DemocráticoBurguês e Executivo Monárquico, verificada ao
longo de quase todo o século XIX na Europa, foi sendo
paulatinamente superada.
No entanto, enquanto se verificou esse dualismo fundamental
entre o componente monárquico e o componente democrático
burguês na partilha dos poderes jurídicoinstitucionais do
Estado da primeira metade do século XIX, o Poder Judiciário
permaneceu como que à parte dessa principal polarização
política.
Nesse quadro, o passo mais significativo, empreendido pela
burguesia européia ascendente contra as forças monárquicas
restauracionistas, foi o de lutar em favor de uma certa
neutralidade do Poder Judiciário, através da consagração da
independência dos juízes, bem como de suas principais
garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de
salários, desvinculandoos de seus laços com o Executivo
Monárquico, mantendoos ausentes de sua principal
confrontação com esse último poder de Estado.
Nesse sentido, escreve o juristahistoriador alemão Karl
Kroeschell :
“Um importante objetivo jurídicopolítico de luta tornou
se, finalmente, no século XIX, também a
independência do Judiciário.
O Código Geral Fundiário Prussiano de 1794 tinha
ainda designado a função jurisdicional dos tribunais
como direito de soberania inalienável do Rei.
Porém, ao seu redator, Svarez, pareceu tal pretensão
de poder do Rei já uma intervenção ilegítima na
administração da Justiça.
A essa posição iluministaliberal ligouse, no início do
novo século, ao novo senso comum científico do
estamento dos juristas.
Também juristas conservadores não estavam mais
dispostos a conceder ao Monarca um direito de
confirmação ou suspensão das sentenças ou mesmo a
[72]
destituição e deslocamento de varas dos juízes.”
A Europa do século XVIII e XIX não possuía, nomeadamente,
para o Poder Judiciário nenhum classe social própria, que
[73]
reinvidicasse especificamente o seu apoderamento.
Nesse contexto, já significava uma certa vitória para a
burguesia em vias de consolidação de seu despotismo de
classe fazer permanecer o Poder Judiciário, praticamente, fora
das missões dominantes de conformação da dominação
política do Estado do início do século XIX.
O juiz do século passado aparentava ser, assim, um autômato
[74]
da subsunção.
O Poder Judiciário independente caracterizavase, antes de
tudo, por seu status negativus, estando timidamente
vinculado à legislação positiva e marcado pelo fato de que
deveria surgir plenamente emudecido em face dos embates
existentes entre os dois poderes jurídicosinstitucionais efetivos
de Estado.
Entretanto, já na segunda metade do século XIX, quando as
forças burguesas francesas pareciam já haver eliminado o
componente jurídicoinstitucional monárquico de Estado, tendo
pela frente agora a necessidade de reprimir com suas
instituições sociais e seu aparelho de Estado as aspirações de
seu novo inimigo de classe, i.e. o proletariado revolucionário
em surgimento, o exercício da função jurisdicional tornouse
politicamente irrenunciável e sua crescente atuação infirmou o
fato de que ele poderia até mesmo sucumbir, em virtude de sua
nulidade e invisibilidade, no sentido doutrinário utilizado por
Montesquieu.
Lenin teve a oportunidade de observar que o fim do século XIX
e o início do século XX consagrou, nos países mais
industrializados, além do fortalecimento generalizado do
aparelho militar e burocrático do Poder Executivo, a
consolidação de um Poder Legislativo Parlamentar, tantos nos
países republicanos, tais como a França, os EUA e a Suiça,
como nos monárquicos, de que eram exemplos a Alemanha e
a Inglaterra e, até certo ponto, a Itália e os países
escandinavos.
Esse período abriria o caminho para uma luta pelo poder dos
diversos partidos burgueses e pequenos burgueses, que
buscavam então repartir entre si o botim dos cargos estatais,
[75]
mantendo ilesas as bases do sistema capitalista.
Não estando subordinado ao Executivo e ao Legislativo,
poderes esses mais expostos à luta de classes travada agora
preponderantemente entre a burguesia e o proletariado,
poderes esses mais sujeitos às transformações e instabilidades
eleitorais marcadas pelo fortalecimento dos partidos
revolucionários da classe trabalhadora, o Poder Judiciário
iniciava o seu processo de consolidação burocráticoburguesa,
[76]
às sombras dos acontecimentos políticos.
Nesse domínio, pôde o Poder Judiciário desenvolver,
gradativamente, novas formas de ligação burocrática com a
burguesia, na medida em que no seio dos Poderes Legislativo
e Executivo se consolidava, gradativa e progressivamente, o
caráter democráticoburguês da representaçção popular.
Assim, o Poder Judiciário adquiriu, crescentemente, o caráter
de poder jurídicoinstitucional de Estado, no sentido mais
próprio e essencial dessa expressão, situandose em uma
posiçao burocráticoconservadora em face dos demais poderes
de Estado Burguês cuja direção política era exposta, agora,
crescente e alargadamente, às disputas dos partidos políticos
de massas.
O fortalecimento dessa burocracia judiciária, fomentada
estimulantemente pela burguesia dominante, ofereceu
pressupostos satisfatórios para que fosse formado e
selecionado, rigorosamente, um corpo elitista de juízes
educados no mais restrito positivismo jurídico, bem como
estruturado um sistema de funcionamento orgânico peculiar,
composto por funcionários estatais disciplinados e atuantes
preponderantemente segundo a própria normatividade
regimental interna desse novo Poder Judiciário colocado
estritamente ao serviço dos mais decisivos interesses do
Direito Burguês do século XX.
II.G.
O PODER JUDICIÁRIO ENQUANTO
GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS
BURGUESES IMPERIALISTAS
No quadro do imperialismo, enquanto fase suprema do
capitalismo, i.e. sobretudo após a I Guerra Mundial, o Poder
Judiciário viria a assumir os contôrnos de uma não apenas
sólida e mas também petrificada formação burocrático
conservadora de juízes de carreira do Estado Burguês, ligada à
necessidade objetiva e aos interesses materias do capitalismo
dominante.
Tais juízes de carreira, vitalícios, inamovíveis, dotados de
irredutibilidade salarial e de noblesse de la robe(nobreza da
toga), surgiriam, então, excluidos de qualquer processo
democráticoburguês eletivo e desprovidos de qualquer
representatividade em face da classe trabalhadora e das
massas oprimidas das sociedades burguesascapitalistas
contemporâneas.
Por sua vez, as garantias jurídicoconstitucionais de suposta
independência, imparcialidade, inamovibilidade no exercício da
função de julgar, irredutibilidade salarial, consagradas
praticamente em todos os Estados Burgueses ao longo do
século XX, adquiriram o preciso objetivo de obscurecer, diante
dos olhos da classe da trabalhadora e demais segmentos
socialmemte explorados pelo despotismo capitalista, o caráter
crescentemente político assumido pelo Poder Judiciário na
interpretação e aplicação da ideologia contida no ordenamento
jurídico burguês da atualidade.
Esse novo contexto, solidificouse no quadro dos Estados
Burgueses Imperialistas da primeira metade do século XX, i.e.
nos EUA e nos Estados Europeus, quando o Poder Judiciário
emergiu, ostensiva e progressivamente, como o Guardião da
Liberdade ou da Constituição, i.e. como o Guardian of
Liberty ou o Hüter der Verfassung, enquanto burocracia
estatal burguesa conservadora e independente, fundada no
exercício da função de julgar as normas e medidas jurídicas
produzidas pelos Poderes Legislativo e Executivo.
Em verdade, tal fenômeno histórico começou, historicamente, a
adquirir forma já com a criação e fortalecimento da Supreme
Court dos EUA que conduziu, rapidamente, já em 1803, sob a
presidência do Chief Justice John Marshall(Presidente da
Corte Suprema dos EUA), à consagração, no caso Marbury
v. Madison, do Direito de controle constitucional das leis e de
aplicação unicamente daquelas leis que fossem consideradas
[77]
como conformes à Constituição dos EUA.
Porém, teria sido apenas nas primeiras décadas do século XX,
com o advento do capitalismo imperialista e de sua agonia
mortal, que se generalizaria a concepção jurídicoburguesa de
que atuações políticas e normativas descontroladas do
Legislativo e do Executivo, dominados pela componente
democráticorepresentativa do Estado, poderia produzir
grandes perigos para os valores essenciais e sagrados da
economia de mercado capitalista.
O respeito dos direitos capitalistas de liberdade e propriedade
permaneceria sem efeito caso não existisse uma instituição de
[78]
controle da vigência dos valores constitucionais burgueses.
Nesse contexto histórico de formação do capitalismo
imperialista, o Poder Judiciário passaria a assumir,
crescentemente, não apenas a atribuição de julgar litígios,
aplicando as leis vigentes aos casos concretos, senão ainda a
de rever juduciariamente a constitucionalidade das próprias
leis, regulamentos e demais atos jurídicos (Judicial Review),
produzidos pelos agora mais debilitados órgãos
representativos da democracia burguesa dos Estados
capitalistas imperialistas.
Esse último e atual estágio alcançado pelo Poder Judiciário
desembocou, em território Europeu, na célebre polêmica dos
anos 20 e 30 do século XX, travada entre Hans Kelsen e Carl
Schmitt, acerca da Poder Judiciário enquanto Guardião da
[79]
Constituição.
Sob a égide da débil e enfraquecida República Imperial de
Weimar, perpassada pelos enfrentamentos havidos entre a
burguesia reacionária e o proletariado alemão, tornouse
bastante característica a importância transcendental adquirida
pelo Poder Judiciário.
A partir de 1925, o Tribunal do Império Alemão
(Reichsgericht) assumiu a função de examinar a
constitucionalidade das normas e medidas jurídicas produzidas
pelos dois outros poderes de Estado, i.e. o Legislativo e o
Executivo.
Além disso, nas decisões desse tribunal formulavamse
proposições jurídicas que vinculavam as cortes judiciárias, os
juizados de primeiro grau – tal como verdadeiras súmulas
vinculantes e, além disso, até mesmo, em certos casos, o
legislador ordinário
Nessa conquista de crescente espaço no quadro da dominação
jurídicoinstitucional, após o fortalecimento das atribuições do
Tribunal do Império Alemão, a Corte do Tribunal do Estado
do Império Alemão (Staatsgerichsthof für das Deutsche
Reich) não se intimidou em pronunciarse acerca dos conflitos
políticos de classe da atribulada vida da República Imperial
de Weimar, atuando como se fosse um verdadeiro
sustentáculo supremo do Direito e da dominação burocrática e
[80]
militar do Estado Burguês Imperialista da Alemanha.
A Corte do Tribunal do Estado para o Império Alemão
assumiu como principal competência a função de pronunciar
se jurisdicionalmente nas disputas de Direito havidas entre o
Império e os Estados federados, bem como naquelas havidas
entre esses últimos.
Aqui, o Poder Judiciário passava a poder reagir, de maneira
clara, contra as debilidades democráticoburguesas dos
Poderes Legislativo e Executivo, adquirindo o status de uma
burocracia burguesaestatal conservadora, capaz de
estabelecer certos limites da ordem política do Estado
Burguês.
Por força da possibilidade aberta de controle judiciário da
constitucionalidade do Direito Burguês, expandiuse, no século
XX, crescentemente, a justicialidade sobre as funções
exercidas pelos Poderes Legislativo e Executivo.
Tal controle de defesa das garantias fundamentais da liberdade
e propriedade capitalista, passou a ser efetivamente
dinamizado durante o período histórico da emergência dos
Estados SocialIntervencionistas Burgueses, subseqüente à
[81]
Grande Depressão Mundial de 1929.
O caráter novidadeiro de notória e crescente politização dessa
nova versão de Poder Judiciário foi observada por diversos
juristas burgueses da primeira metade do século XX e, da
maneira mais clara e polêmica, pelo célebre jurista do nazismo
[82]
e do imperialismo capitalista alemão, Carl Schmitt.
Derrotados os regimes totalitários raciais, o período posterior à
II Guerra Mundial consagraria na doutrina européia a vitória
das teses defendidas por Hans Kelsen – em verdade, agora
uma cópia alemã do pensamento jurídicoconstitucional de
John Marshall da Corte Suprema NorteAmericana dos EUA
sobre a doutrina de Carl Schmitt, essa última de linhagem
pequenoburguesa nazista e mais conforme ao imperialismo
alemão do início e meados do século XX, no sentindo de
consolidarse o Poder Judiciário como o mais autêntico
Guardião da Constituição dos Estados Burgueses
Imperialistas.
Ness período do apósguerra, em face da crescente expansão
dos Estados Soviéticos Burocratizados na Europa do Leste e
na Ásia Continental, o capitalismo imperialista ocidental
procurou dogmatizar e suprahistoricizar a doutrina da divisão
dos poderes de Montesquieu, situandoa agora no âmbito do
ideologia jurídicoburguesa do assimdenominado Estado de
Direito, Social e Democrático, tendo como o paradigma o
sistema republicano congressual dos EUA.
Já não se tratava de uma simples e fiel restauração da velha
fórmula aristocráticoburguesa da separação ou divisão dos
poderes, existente à época do Barão de la Brède et de
Montesquieu, em cujo contexto o Poder Judiciário surgia, por
assim dizer, invisible et nulle.
Em face da nova realidade do capitalismo imperialista,
comandado sobretudo pelas forças materiais do imperialismo
norteamericano, a tripartição de poderes haveria de ser
reconfigurada diversamente, tendo agora como principal reduto
burocrático de defesa jurídicoconstitucional dos direitos de
liberdade e propriedade capitalistas o Poder Judiciário,
Guardião da Constituição.
Nesse novo momento histórico, o Judiciário, reformulado em
sua essência e autoridade jurídicoinstitucional, haveria de
cumprir, no exercício de sua função políticoburguesa de
hermenêutica jurídica, o importante papel de guardião da
ordem constitucional dos Estados Burgueses Imperialistas da
[83]
atualidade.
Dessa mesma forma, certos princípios jurídicoconstitucionais
de grande importância para a dominação jurídicoinstitucional
do poder do Estado Burguês haveriam de ser protegidos
através dessa atividade jurídicohermenêutica de natureza
políticoburguesa, impulsionada pelo Poder Judiciário contra as
[84]
maiorias democráticoburguesas cambiantes.
Nesse quadro, é que, por exemplo, o atual Tribunal
Constitucional da Alemanha pronunciouse sobre a
inconstitucionalidade de certos partidos políticos – como, em
1956, relativamente ao Partido Comunista da Alemanha , o
reenvio de tropas militares alemães em operações imperialistas
externas no curso dos anos 90, a proibição da consigna de
esquerda Tucholsky “Soldatos Alemães são Assassínos”, a
perseguição militar dos agentes do antigo serviço secreto da
antiga Alemanha Oriental, o emprego de violência policial
aberta nos bloqueios e manifestações de rua, as limitações
[85]
constitucionais ao direito de aborto das mulheres etc.
Nesse quadro, é que, por exemplo, a Corte Suprema dos
EUA, ainda sob a presidência do republicanoreaganiano Chief
of Justice William H. Rehnquist que a comanda já a 14
anos ininterruptos , segue restabelecendo seus
posicionamentos mais extremamente reacionários de defesa
da lei e da ordem do capitalismo imperialista norteamericano.
Os posicionamentos da Corte Suprema dos EUA,
comandadas por Rehnquist tratam de reverter,
sistemativamente, as antigas posições mais propriamente
sociaisliberais burguesas da presidência judiciária, de 16
anos, de Earl Warren, da década de 50 e 60, responsável
essa última pelas decisões relacionadas com a luta dos
Direitos Civis dos negros norteamericanos, o fim da
segregação racial nas escolas federais (Brown v. Board of
Education of Topeka, Kansas), o direito de consulência
advocatícia e de proteção do acusado, em casos criminais, em
face de abusos policiais.
III.
OS TRIBUNAIS POPULARES ELETIVOS,
I.E. TRIBUNAIS ELETIVOS DOS OPERÁRIOS, SOLDADOS
E CAMPONESES
DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO : ALTERNATIVA
REVOLUCIONÁRIA
À JUSTIÇA DE CLASSE BURGUESA E ÀS REFORMAS DO
PODER JUDICIÁRIO
O surgimento dos tribunais populares eletivos, i.e. tribunais
eletivos dos operários, soldados e camponeses, no quadro da
Revolução de Outubro, pode ser apenas devidamente
compreendida tendose em conta a perspectiva doutrinária
marxista acerca do Estado.
Sendo assim, dedicamos os primeiros itens da presente parte,
à exposiçao do significado políticoteórico e práticosocial do
Estado, para então, a seguir, voltarmonos, propriamente, à
análise da gênese, composição e funções dos tribunais da
Revolução de Outubro.
II.A.
SURGIMENTO E SIGNIFICADO
DO ESTADO NA CONCEPÇÃO MARXISTA
Em sua obra intitulada A Origem da Família, da Propriedade
Privada e do Estado, Friedrich Engels teve a oportunidade
de precisamente assinalar, desde uma perspectiva histórico
materialista, que o Estado é um produto de certa sociedade
situada já em determinado estágio de desenvolvimento, o qual
a conduz a uma contradição insolúvel, em razão de
antagonismos inconciliáveis de classes inimigas que é incapaz
de eliminar.
Para que esses antagonismos de classe não distruam o
organismo social em uma luta estéril, surge a necessidade de
um poder que se coloque, aparentemente, acima da sociedade
como um todo, dela se distanciando progressivamente, cujo
mister é o de atenuar e manter os conflitos de classe nos
limites da “ordem” : esse poder, segundo Engels, é o Estado.
[86]
Na concepção marxista, o Estado surge, então, como um
poder para a dominação da classe economicamente mais forte,
um instrumento de opressão de uma classe por outra, poder
esse criador de uma ordem legalizadora e consolidadora da
opressão de classe, destinada a moderar, a frear, a atenuar, os
[87]
conflitos entre as classes sociais.
A classe economicamente dominante adquire, assim, um
instrumento que lhe permite se tornar politicamente dominante,
mantendo submetidas e exploradas as classes oprimidas.
Um dos principais sinais distintivos do Estado em formação
passa a ser, então, segundo Engels, a instituição de uma força
pública militar, autônoma e especial, que não coincide mais
diretamente com a população, organizada espontâneamente
enquanto poder armado.
Essa força militar particular, composta por destacamentos
especiais de homens armados, i.e. exército permanente e
polícia, tendo à sua disposição prisões, institutos penais de
coerção e órgãos de burocracia estatal de todos os gêneros,
passa a ser indispensável na medida em que a sociedade já se
encontra divida em classes sociais hostis, cujos interesses
materiais, insuscetíves de serem conciliados, não permitem
mais a existência de uma organização armada de toda a
população.
Além disso, a formação histórica do Estado traz como
característica marcante o recolhimento de impostos e a
consolidação de uma dívida pública, sendo que o
funcionalismo estatal, dotado de garantias jurídicas de
inviolabilidade, tende, cada vez mais, a emergir como um corpo
[88]
orgânico da sociedade situado acima da própria sociedade.
O Estado passa a ser, assim, o representante oficial de toda a
sociedade, sua síntese em um corpo visível, porém o é
enquanto Estado da classe dominante que se apresenta por si
[89]
mesma como representante de toda a sociedade.
Assim surgiu, na Antigüidade, o Estado dos cidadãos patrões
de escravos, na Idade Média, o Estado da nobreza feudal, no
nosso tempo, o Estado da burguesia.
Nesse preciso sentido, segundo Engels, não apenas o Estado
Antigo e o Estado Feudal eram instrumentos de exploração dos
escravos e servos, mas também o moderno Estado
Representativo Burguês constituise em instrumento para a
exploração do trabalho assalariado por parte do capital :
“Na República Democrática” – observa Engels – “a
riqueza exercita o seu poder indiretamente, mas de
maneira tanto mais segura. Em primeiro lugar, através
da corrupção direta dos funcionários (América), em
segundo lugar, com a aliança entre governo e bolsa
[90]
(França e América).”
Em conformidade com sua concepção históricomaterialista do
Estado, Engels assinalou que, tendo havido sociedades
primitivas que não careceram da instituição de um aparelho
estatal, o advento de um novo estágio de desenvolvimento da
produção social deveria fazer com que a existência das classes
sociais não apenas viesse a desaparecer, senão ainda que se
tornasse um autêntico obstáculo à produção comum.
Com o desaparecimento dos antagonismos de classe e o
surgimento de uma associação livre e igual de produtores,
deixaria de existir, inelutavelmente, o Estado, sendo a inteira
máquina estatal relegada ao museo da antigüidade, juntamente
[91]
com a roda de fiar e o machado de bronze.
Tal processo pressupõe, entretanto, o apoderamento do poder
do Estado pelo proletariado, sua transformação em classe
dominante, sua conquista da soberania proletária e, em um
primeiro momento, a conversão dos meios de produção social
em propriedade estatal.
Tal apoderamento significa, precisamente, portanto, o
despedaçamento, a demolição, die Sprengung, i.e. a
explosão, a supressão, a extinção, o fazer saltar pelos ares do
Estado Burguês por obra da revolução proletária, bem como
sua substituição por um Estado Proletário, um Estado das
grandes massas oprimidas, i.e um Estado de novo tipo.
Nesse contexto revolucionário, a substituição do Estado
Burguês despedaçado pelo Estado Proletário não é possível
sem a violência empreendida no sentido do exercício da função
[92]
revolucionária do proletariado.
Tirando a conclusão efetiva dessas premissas, Karl Marx
assinalou, então, em sua Crítica ao Programa de Gotha, que
entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista, existe
um período de transformação revolucionária de uma em outra,
um período de transição, no qual o Estado não poderia ser
[93]
outro senão a Ditadura Revolucionária do Proletariado.
Emergindo do seio do capitalismo, trazendo os vestígios da
velha sociedade de cujo âmbito procede, essa Ditadura pode
conduzir, segundo Marx, à primeira fase, i.e. à fase inferior do
comunismo, ou, como se diz comumente, ao socialismo.
Nessa primeira fase, se o Direito Proletário passa a reger as
relações de propriedade dos meios sociais de produção,
consagrando sua estatização, o Direito Burguês, que
pressupõe a desigualdade material dos homens, segue
existindo como regulador no domínio da repartição dos bens de
consumo e necessários à vida, segundo o seguinte princípio
jurídicoburguês : “para igual quantidade de trabalho, igual
[94]
quantidade de produtos”.
Assim, o socialismo não pode ainda realizar a justiça material e
a igualdade real, na medida em que seguem existindo as
injustas diferenças de riqueza, embora não seja mais possível,
sob seu domínio, perpetrarse a exploração capitalista do
homem pelo homem.
Apenas na fase mais elevada da sociedade comunista ou,
como se diz habitualmente, no quadro do comunismo , quando
resulta eliminada à subordinação do homem à divisão do
trabalho, bem como o contraste entre trabalho físico e trabalho
intelectual, deixando o trabalho de ser um meio de subsistência
para tornarse a primeira necessidade de vida, apenas então o
horizonte do Direito Burguês pode ser totalmente superado no
domínio da repartição dos produtos econômicos, podendo os
homens trabalharem para a sociedade sem qualquer Direito e
sem qualquer norma jurídica, segundo o seguinte princípio
comunista de convivência social : “de cada um segundo sua
[95]
capacidade, a cada um segundo sua necessidade.”
Procedendo dessa forma, o proletariado dá início, entretanto, a
um processo de supressão de si mesmo enquanto classe,
abrindo a perspectiva de abolição de toda diferença e
antagonismo de classe e, por consegüinte, de extinção do
Estado Proletário enquanto tal e, por consegüinte, da
Soberania proletária, enquanto forma política desse Estado,
rumo a uma sociedade comunista.
No curso da consolidação da sociedade comunista, já não
existiriam as forças burguesas e latifundiárias a serem
oprimidas, que tornam indispensáveis uma força repressiva
particular exercida contra elas pelas grandes massas
oprimidas, i.e. um Estado Proletário, e consequentemente
acrescentamos nós , na medida em que desaparecesem
progressivamente as diferenças de riqueza e as desigualdades
materiais, seria possível caminharse rumo à própria extinção
de toda e qualquer forma de Direito ou fenômeno jurídico
normativo.
Nesse quadro, o primeiro ato com o qual o Estado se
apresenta efetivamente como autêntico representante de toda
a sociedade, i.e. através da tomada de posse de todos os
meios de produção em nome da sociedade, já deve
representar, segundo Engels, o seu último ato independente
enquanto Estado.
No lugar do governo sobre as pessoas, tende a surgir a
administração sobre as coisas e a direção consciente dos
[96]
processos produtivos.
Sendo assim, é correto afirmar que o Estado não é abolido –
tal como o afirmam os anarquistas, porém sim que ele se
[97]
extingue.
III.B.
O ESTADO EM FACE DAS REVOLUÇÕES PROLETÁRIAS
Em face dessa concepção históricomaterialista do Estado,
cabe anotar que toda revolução proletária que logre abalar ou
destruir esse poder do Estado Burguês, já permite entrever que
a classe exploradora dominante pretenderá, sempre e
necessariamente, desde que possível, reconstruílo, a fim de
poder melhor servíla em seus propósitos de dominação
política.
Nesse sentido, Karl Marx e Friedriech Engels esforçaramse
por elaborar, ao longo de mais de cinqüenta anos de
investigações revolucionárias, uma concepção clara e precisa
das tarefas do proletariado revolucionário em face do
fenômeno estatal.
Já em sua obra a Miséria da Filosofia, produzida entre
dezembro de 1846 e abril de 1847, Karl Marx afirmou que a
tarefa central da classe trabalhadora seria a de lutar por
estabelecer uma associação livre e igual de produtores que
excluisse as classes sociais e seus antagonismos.
Uma vez estabelecida esse nova situação social, já deixaria de
existir o poder político propriamente dito, já que esse último é a
síntese oficial das contradições de classes na sociedade civil.
[98]
Com a publicação do Manifesto Comunista, escritos por Marx
e Engels em novembro de 1847, resultou nitidamente claro
que a fase geral de desenvolvimento do proletariado,
conduzida no quadro de uma guerra civil mais ou menos
oculta, haveria de explodir em uma revolução aberta que teria
como objetivo a derrubada violenta da burguesia e o
[99]
estabelecimento de seu próprio domínio político proletário.
O primeiro passo da revolução proletária deveria ser, assim, a
elevação do proletariado em classe dominante, conquistando
sua democracia, servindose de sua supremacia política para
arrancar da burguesia, pouco a pouco, todo o capital e
concentrar todos os instrumentos de produção nas mãos do
novo Estado Proletário, i.e. do proletariado mesmo, organizado
enquanto classe dominante, aumentando com a máxima
rapidez possível a massa das forças produtivas.
Nesse sentido, o Estado, para Marx e Engels, no quadro
irrupção da revolução proletária, seria, pois, o próprio
proletariado organizado enquanto classe dominante e
opressora da antiga classe exploradora no poder, i.e. a
burguesia.
Tratarseia, pois, agora de um Estado em via de extinção,
organizado de forma a ser colocado a serviço da repressão da
imensa maioria do povo contra a ínfima minoria dos modernos
escravistas, i.e. os proprietários fundiários e capitalistas, com o
objetivo de introdução de medidas transicionais rumo a uma
[100]
sociedade socialista.
Detalhando ainda mais precisamente sua concepção acerca do
Estado em face da revolução proletária, Karl Marx elaborou,
em sua obra o 18 Brumário de Luís Bonaparte, redigida entre
dezembro de 1851 e março de 1852, o balanço histórico das
primeiras revoluções proletárias européias de 1848 a 1851.
Nessa sede, Marx assinalou que a revolução do proletariado,
trabalhando metódica e progressivamente, teria empurrado,
inicialmente, o Poder Legislativo para poder derrubálo,
seguindo, então, imediatamente, adiante em sua luta contra o
Poder Executivo, a fim de reduzílo a sua expressão mais pura,
isolálo, levantandose diante desse último entrevisto como o
único obstáculo, concentrando contra ele todas as forças de
[101]
destruição da revolução.
A partir daqui, passou a tornarse mais claro o posicionamento
de que as revoluções do proletariado deveriam destruir,
despedaçar, demolir a máquina estatal burguesa, o poder do
Estado Burguês.
Esse ponto decisivo da revolução proletária, Lenin viria a
considerar, posteriormente, como o traço prinicipal e
fundamental da doutrina de Marx sobre o Estado (glavnoe,
ocnovnoe v utchenii marksizma o gosudarstve), traço esse
plenamente desnaturado e esquecido pelos teóricos sociais
[102]
democrátas mais célebres da II Internacional.
Em sua carta de 5 de março de 1852, dirigida a Joseph
Weydemeyer, Marx assinalou, então, que sua contribuição
particular e inovadora para a doutrina da luta de classes foi,
efetivamente, o de esclarecer que, estando as classes sociais
ligadas a determinadas fases de desenvolvimento histórico da
produção econômica, a luta travada entre elas haveria de
conduzir, inevitavelmente, à Ditadura Revolucionária do
Proletariado, entendida essa última tão somente como uma
passagem rumo à supressão de todas as classes e o
[103]
estabelecimento de uma sociedade sem classes.
Tal colocação destacou, claramente, a imprescindibilidade de
edificação de um Estado democrático de novo gênero – i.e. um
Estado para os proletários e não para os proprietários
capitalistas em geral , e, essencialmente, ditatorial de novo
gênero, para o abatimento e a aniquilação completa da
[104]
burguesia.
Na Comuna de Paris, Karl Marx entreviu, a seguir, uma
experiência histórica de incomparável relevância, a primeira
tentativa de revolução proletária voltada à destruição do Estado
Burguês, um passo adiante na revolução proletária mundial,
um passo muito mais significativo do que uma centena de
programas e de formulações teóricas.
A luta revolucionária da Comuna justificou a única grande,
profunda e essencial alteração, empreendida conjuntamente
por Marx e Engels, em sua doutrina dialéticomaterialista
sobre o Estado, tendo como base a experiência revolucionária
dos communards parisiens, a qual foi incorporada, em 24 de
junho de 1872, à nova edição alemã do Manifesto do Partido
[105]
Comunista.
Segundo Marx e Engels, esse manifesto havia resultado
envelhecido no preciso e particular aspecto de que a classe
operária não se poderia limitar a apenas apoderarse, pura e
simplesmente, de uma máquina estatal já pronta e colocála
em movimento para os seus próprios fins : seria indispensável
para o proletariado precisamente despedaçar, i.e. zerbrechen,
a máquina militar e burocrática do Estado, sendo essa a
condição preliminar de toda e qualquer revolução proletária e
[106]
popular.
Entretanto, a experiência da Comuna de Paris concedeu a
Marx e Engels a possibilidade de estudarem abrangentemente
um novo e grandioso processo revolucionário proletário em
curso, conduzindoos a sintetizarem suas conclusões na obra
redigida por Marx em abril e maio de 1871, intitulada a Guerra
[107]
Civil na França.
Nessa sua obra, Marx assinalou que a Comuna de Paris foi a
antítese direta do Estado Imperial Francês, a forma positiva
de uma República que não apenas havia de eliminar a forma
monárquica do domínio da classe burguesa, senão ainda o
[108]
próprio domínio burguês de classe.
A Comuna de Paris substituiu, portanto, a máquina estatal
burguesa que havia despedaçado, com uma democracia
republicana proletária de índole socialistarevolucionária e
internacionalista, com instituições públicas baseadas, portanto,
sobre princípios organizativos inteiramente diversos.
O Estado Burguês foi transformado em qualquer coisa que já
não era propriamente um Estado, i.e. tratavase de um certo
Estado porém do tipo de Comuna, segundo Engels, algo
como um Gemeinwesen, estando dotado agora da tarefa de
reprimir a resistência permanente de uma ínfima minoria de
[109][110]
exploradores burguesescapitalistas.
Segundo Marx, o primeiro decreto da Comuna foi a supressão
do exército permanente e a sua substituição pelo povo armado,
i.e. por uma força geral da maioria do povo – dos operários e
camponeses , e não mais uma força particular colocada a
serviço da classe economicamente exploradora.
A polícia foi despida de suas atribuições políticoburguesas e
transformada em um instrumento da Comuna, sendo o
mandato de seus membros revogáveis a qualquer tempo.
A Comuna foi composta por conselheiros municipais eleitos
por sufrágio universal nos diversos departamentos de Paris,
sendo seus representantes naturalmente operários, dotados de
mandatos revogáveis.
O mesmo afirmou Marx ter sido válido para os funcionários de
todas os demais ramos da administração pública.
Todos os funcionários judiciários foram despidos de sua
sediciosa independência, devendo prestar contas à Comuna
de suas atividades jurisdicionais.
Juízes, procuradores e demais funcionários judiciários
passavam agora a dever ser eleitos, estando seus mandatos
sujeitos à revogação a qualquer tempo.
Nesse quadro de absoluta elegibilidade e revogabilidade a
qualquer momento de todos os funcionários communards,
sem qualquer exceção, todos os cargos do serviço público
haviam de ser prestados na base de salários de operários.
Destruindose, assim, as duas maiores fontes de despesas
estatais burguesas – i.e. as despesas com o funcionalismo
estatal e o exército permanente – a Comuna concretizou,
efetivamente, as frases publicitárias propagandeadas
incansavelmente pela burguesia relativas a um governo barato
[111]
e à redução dos gastos públicos.
Mais do que isso : a Comuna deixou de ser um Parlamento de
Estado e assumiu a forma de um órgão efetivamente de
trabalho, legislativo e executivo ao mesmo tempo, fortalecendo
a unidade nacional e a liberdade municipal local, contra as
[112]
tendências federalistas.
Assim, a Comuna apresentou, concretamente, a via para
suprimir os sistemas de governo parlamentaristas e
presidencialistas, venais e corruptos, demontrando que não se
tratava de destruir as instituições representativas e a
elegibilidade, mas de transformálas em organismos de
trabalho efetivo, i.e. em orgarnismos não de debates acerca de
ilusões políticas e de engôdos populares, mas sim de trabalho
revolucionário proletário, concentrando em suas mãos as
atividades efetivas relacionadas com o exercício de funções
executivas de administração, controle, registro, supervisão,
[113]
contabilidade etc.
Escrevendo sobre a Comuna de Paris, Marx enfatisou :
“O seu verdadeiro segredo foi este: a Comuna foi um
governo da classe operária, o produto da luta da classe
dos produtores contra a classe apropriadora, a forma
política finalmente descoberta, na qual se podia
cumprir com a emancipação econômica do
[114]
trabalho.”
A seguir, no quadro do surgimento dos Estados Burgueses
Imperialistas, Lenin observou que os armamentos estatais de
terra e de mar haviam sido reproduzidos em proporções
inacreditáveis em todos os países do globo, sendo que a I
Guerra Mundial Imperialista travada para a definição do
domínio da Inglaterra ou da Alemanha sobre o mundo e para a
repartilha das colônias entre elas e seus associados, conduziu
à formação de poderes estatais vorazes, que ameaçavam
engolir todas as forças da sociedade.
O imperialismo enquanto época do capital financeiro e dos
grandes monopólios capitalistas, época na qual o capitalismo
monopolista se transforma em capitalismo monopolista de
Estado, determinou a extraodinária consolidação da máquina
de repressão estatal burguesa, bem como o inaudito
crescimento de seu aparelho militar e burocrático para
acentuar a opressão do proletariado em todos os países do
[115]
mundo.
Diante desses fatos, Lenin, em O Estado e a Revolução,
escrito em agosto de 1917, assinalou que, com a deflagração
da I Guerra Mundial Imperialista, a reserva de Marx, contida
no 18 Brumário de Luis Napoleão, concernente a
necessidade de despedaçamento da máquina militar e
burocrática do Estado Burguês apenas no quadro das
revoluções proletárias do continente Europeu, também estava,
essencialmente, envelhecida.
A Inglaterra e os EUA, últimos representantes da liberdade
anglosaxônica consagradora da ausência de um militarismo
e de uma burocracia administrativa já existente nos Estados
Burgueses da Europa Continental , haviam emergido as
mesmas instituições militaristas e burocráticas características
da violenta dominação burguesa.
A partir de então, a condição preliminar de toda e qualquer
revolução proletária nesses dois países passava a ser,
igualmente, a ruptura e destruição de suas máquinas estatais
burguesas engendradas para reprimir as classes subalternas
[116]
violentamente.
Tal contexto, coloca, em escala incomparavelmente mais
ampla, a atual tarefa de concentração de todas as forças da
revolução proletária para a destruição do poder dos Estados
Burgueses Imperialistas da atualidade.
III.C.
O ESTADO PROLETÁRIO
E OS TRIBUNAIS POPULARES ELETIVOS,
I.E. TRIBUNAIS ELETIVOS DOS OPERÁRIOS, SOLDADOS
E CAMPONESES
DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO
No quadro da Revolução de Outubro de 1917, o Partido
Bolchevique, fundandose na concepção de Marx e Engels
acerca do Estado, procurou aplicar, na prática, o programa de
demolição e despedaçamento do Estado BurguêsLatifundiário,
encabeçado por Kerensky, lutando pela edificação de um novo
poder proletário e camponês, revolucionário e internacionalista,
baseado na força militar dos trabalhadores armados e no
[117]
impulsionamento de medidas de transição ao socialismo.
Esse novo poder proletário e camponês encontrou sua forma
de dominação política proletáriaditatorial nos Soviets dos
Deputados dos Operários, Soldados e Camponeses,
constituídos como veículos da ditadura de milhões e milhões
de trabalhadores e explorados, conclamados a participar
voluntariamente nas execuções das tarefas de direção e
administração do Estado.
O novo Estado Soviético, encabeçado por Lenin, pretendeu
organizar a grande indústria e toda a economia nacional russa,
situadas em um estágio de desenvolvimento relativamente
atrasado, partindo daquilo que o capitalismo russo já havia
precedentemente criado, para então, a partir daí, lançar as
bases de uma disciplina proletária rigorosa forjada nas
experiências revolucionárias proletárias havidas
[118]
precedentemente no continente europeu.
Nesse sentido, a Revolução de Outubro inspirouse,
particularmente, nos ensinamentos da Comuna de Paris,
sobretudo no campo de organização do poder soviético,
aspirando, entretanto, ao fortalecimento proletárioditatorial
desse poder, de modo a lograr reprimir completamente a
poderosa resistência burguesa contrarevolucionária,
manifestada militarmente em escala nacional e internacional,
bem como almejando o aniquilamento da exploração do
homem pelo homem e divisão da sociedade em classes hostis.
[119]
Segundo Lenin, teria sido, com efeito, necessário que a
Comuna de Paris houvesse cumprido, com mais rigor, a tarefa
de quebra da resistência burguesa, e por não têlo feito com
suficiente resolução determinou a causa de sua própria
[120]
derrota.
Nas palavras de Trotsky, tratavase de edificar um Estado
[121]
forte, sem Mandarins, um poder armado sem Samurais.
No que concerne à política bolchevique em face do Poder
Judiciário Russo, a orientação de destruição e
desbaratamento da Justiça Burguesa surgia,
conseqüentemente, como parte integrante inseparável do
objetivo estratégico de demolição do Estado Burguês
Latifundiário Russo em seu conjunto.
Acerca do antigo Poder Judiciário Russo, totalmente
destroçado com a Revolução de Outubro, Stutchka teve a
ocasião de escrever em seu célebre artigo Tribunal Velho e
Novo, publicado em 3, 4 e 5 de janeiro de 1918 no Pravda de
Petrogrado :
“Na realidade, o Tribunal constituia, depois do exército
permanente e da polícia burocrática, a mais sólida
defesa do sistema burguêsfundiário.
Sob o ângulo de uma pretensa defesa do Direito e da
justiça, o Poder Judiciário, dito independente do Estado
Burguês, representava, entretanto, o mais sólido órgão
do sistema capitalista e dos interesses das classes
possuidoras.
Não apenas porque os tribunais eram agentes diretos
do Estado e do poder estatal, instrumentos de
assujeitamento das classes oprimidas, mas também
porque eles, por sua situação social, pertenciam à
classe dos opressores.
Eles entendiam o Direito e a justiça, bem como a
liberdade e a igualdade, tal como os declaravam os
[122]
interesses da sua classe.”
A Revolução de Outubro, impulsionada pelos Sovietes de
Trabalhadores, Soldados e Camponeses, sob a direçao
política do Partido Bolchevique, culminou com a supressao, o
despedaçamento, a aniquilaçao violenta do Estado Burguês
Latifundiário Russo, e, por consegüinte, também de seu Poder
Judiciário, com o objetivo de dar início ao processo de
transformaçao dos meios sociais de produçao em propriedade
estatal, dirigido por novas instituiçoes proletárias e
camponesas.
Nesse contexto, Stutchka expressou, da seguinte forma, a
concepçao dos revolucionários bolcheviques de Outubro
acerca do significado da doutrina da divisao dos poderes :
“O princípio da divisao dos poderes tem para nós,
como para a vida real, valor apenas de um princípio de
divisao técnica do trabalho.
O poder, no caso concreto o poder soviético, deve ser
naturalmente um poder unitário que inclua em si
mesmo seja o Poder Legislativo, seja o Poder
Executivo, seja, enfim, o Poder Judiciário.
Estamos em favor de um poder popular e, na nossa
República, esse poder popular concretizase apenas
nos Soviets dos Deputados dos Operários, dos
[123]
Soldados e dos Camponeses.”
Nesse contexto, teve lugar, em 22 de novembro (5 de
dezembro) de 1917, sob o governo de Lenin, a emanação do
primeiro ato normativo do Estado Soviético concernente à
organização judiciária.
Promulgado sob a forma de um decreto acerca dos tribunais,
estabelecido e assinado pelo Conselho dos Comissários do
Povo – integrado à época por Lenin, Schlichter, Trotsky,
Schliapnikov, Stálin, Avilov e Stutchka , esse primeiro ato
normativo passou a ser conhecido, historicamente, como o
[124]
Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal.
A redação de tal decreto contou com um primeiro projeto
redigido por P. I. Stutchka e M. J. Kotslovskii, e era composto
por uma introdução e nove artigos. Sob a influência de Lenin,
o projeto em questão foi, a seguir, modificado algumas partes.
O Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal aboliu integralmente, em
seu Art. 1°, os velhos órgãos judiciários em funcionamento no
quadro dos regimes czarista e burguês de Kerensky,
instituindo novos tribunais populares eletivos, em cujo âmbito
os mandatos dos juízes eleitos nos Soviets eram revogáveis a
qualquer tempo.
Com efeito, o Art. 1° do Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal em
tela dispôs expressamente :
“O Conselho dos Comissários do Povo decreta :
1.) Suprimir as instituições judiciárias em geral,
existentes até o presente momento : os tribunais
regionais, as câmaras judiciárias e o Senado de
Governo com todos os seus departamentos, os
tribunais de guerra e de marinha dotados de todos
os nomes, e também os tribunais comerciais,
substituindo todas essas instituições por tribunais
formados na base de eleições democráticas.
[125]
(...)”
Apresentamos, a seguir, os traços essenciais do novo sistema
judiciário eletivo instituído pela Revolução de Outubro :
I.
A Revolução de Outubro suprimiu, em primeiro lugar, o
Senado de Governo (Provitelstvennyi Senat), órgão
honorário, instituído por Pedro I, em 1711, enquanto suprema
instância judiciária, administrativa e de supervisão do Poder
Judiciário Russo, que, em fins do século XIX, se tornou o
órgão judiciário supremo competente pelo julgamento de
[126]
delitos cometidos contra o Estado.
Os membros desse Senado de Governo eram, anteriormente,
escolhidos pelo Czar entre os altos funcionários do Estado
Absolutista Russo.
A Revolução de Fevereiro de 1917 manteve,
substancialmente, intacto esse supremo órgão supremo
jurisdicional russo.
O Senado de Governo, afirmando situarse acima da política,
não hesitou, entretanto, em declarar a legitimidade do novo
poder de Estado surgido com a Revolução de Fevereiro de
1917, por contar esse último com a investidura do poder
supremo do Czar Nicolau II, e proclamar, a seguir, tratarse a
Revolução de Outubro de 1917 de um infâme delito.
Suprimido o Senado de Governo, os dirigentes da Revolução
de Outubro consideraram altamente desnecessário instituir um
novo órgão central de uniformização da interpretação e de
controle judiciário das normas jurídicas soviéticas.
Segundo bem assinalou Stutchka acerca desse tema :
“Em princípio, consideramos supérflua a existência de
um órgão central de controle e interpretação
uniformizadora das leis e, em última instância, bater
nosemos, com todas as forças, contra a instituição de
um Senado do tipo da Suprema Corte dos EUA,
competente até mesmo para julgar a
[127]
constitucionalidade dos atos legislativos.”
Ao longo do ano de 1918, passouse, então, a cogitarse
acerca da criação provisória de um Tribunal Supremo
(Vysschii Sud) composto por especialistas eleitos nos
Soviets, dotado apenas de limitada competência recursal
máxima, porém jamais revestido da função de realizar o
controle de constitucionalidade das normas jurídicas soviéticas.
[128]
II.
A Revolução de Outubro promoveu, além disso, a supressão
(unichtojenia) também de todos os órgãos e instâncias
judiciárias inferiores, i.e. tribunais e varas judiciárias,
considerandoos como andares subalternos do aparato
judiciário em cujo vértice localizavase o Senado de Governo.
Por consegüinte, todos os juízes do antigo Poder Judiciário
Russo foram afastados, ainda que se reconhecesse existir
entre eles certos especialistas capazes e sinceramente
[129]
dedicados à causa da Revolução de Outubro.
III.
Nesse mesmo sentido, resultaram, igualmente, abolidos os
Tribunais de Paz (Mirovoi Sud), cujos magistrados eram
extraídos de eleição indireta realizada na antiga Duma de
Petrogrado.
Segundo Stutchka, nenhum dos juízes desses tribunais
resolveuse a cumprir com seus deveres após a eclosão da
[130]
Revolução de Outubro.
IV.
No lugar dos tribunais burgueses abolidos, surgiu, então, o
Tribunal Popular Eletivo (Vybornyi Narodnyi Sud), formado
por integrantes das fileiras dos proletários e dos camponeses
revolucionários.
A esse Tribunal competia o exame de relações humanas
[131]
costumeiras e comuns.
Nesse contexto, foram instituidos os Tribunais Locais
(Mestnyie Sudi) enquanto instâncias inferiores, situadas
próximas das necessidades das populações da periferia,
devendo comporse sempre de, no mínimo, três juízes eleitos
diretamente nos Soviets – com possibilidade de ampliação
para nove ou doze juízes, na medida em que as condições
econômicofinanceiras o viessem a permitir em um futuro
próximo.
Desses três juízes eleitos, um deles surgia como um juiz local
permanente (postoiannyi mectnyi sudia), dotado, porém, de
mandato revogável a qualquer tempo, sendo os outros dois
assistentes ordinários (dve otcherednyie zasedatieliei),
propostos em cada sessão judiciária segundo lista especial
[132]
existente nos tribunais ordinários.
Na medida em que se tratavam de juízes eleitos e revestidos
de mandatos revogáveis a qualquer tempo, todos eles estavam
compromissados a, desde que necessário, prestarem contas
de suas atividades e eram responsáveis perante os Soviets.
De início, o valor de alçada dos julgamentos civis efetuados por
esses tribunais locais não podia ultrapassar o valor máximo de
3.000 mil rublos e sua competência permitialhes fixar tão
somente penas de privação da liberdade não superiores a dois
[133]
anos.
Para causas mais complexas e economicamente mais
valiosas, previuse, então, inicialmente, a criação de um
Tribunal Regional Eletivo (Vyibornyi Okrujnyi Syd) e, para
aquelas concernentes a delitos penais mais graves, um
Tribunal de Jurados Populares (Sud Narodnyrr
Zacedatelei), sendo esse último integrado apenas por
operários e camponeses. Tanto o primeiro como o segundo
desses tribunais deveriam representar, ainda, as instâncias
inferiores de uma instância especial de cassação, composta
por juízes escolhidos entre os membros eleitos dos tribunais
regionais, organizada essa última não em nível nacional, mas
[134]
sim em escala regional.
Os Tribunais Locais eram desprovidos de especialistas e
compostos massivamente por operários e soldatos eleitos nos
Sovietes, particularmente porque os juristas burgueses não
pretenderam apresentar suas candidaturas.
De toda sorte, os dirigentes da Revolução de Outubro partiam
do princípio de que se as normas jurídicas fossem
compreendidas apenas por juristas especialistas seriam, em
verdade, lamentáveis e gravemente deficientes, contrastando
notoriamente com a consciência revolucionária do Direito.
[135]
Em causas jurídicas que requeriam uma compreensão
intelectual inacessível aos juízes populares eletivos de
determinado Tribunal Local, previase, entretanto, a
possibilidade de convocação de especialistas técnicos.
Em relação aos Tribunais Locais, a instância superior era
constituida pelo Conselho de Juízes Populares (Soviet
Narodnyirr Sydiei), composto em número não inferior a três
juízes.
Em essência, esse tribunal superior funcionava como um órgão
de cassação, em casos limitados, abrogando sentenças
prolatadas pelos tribunais locais, na medida em que existisse
eventualmente flagrante injustiça em determinado julgamento
ou violações substanciais do Direito da Revolução de
Outubro.
Sendo assim, o Conselho de Juízes Populares não possuia
competência para pronunciar nova sentença nos casos
precedentemente julgados, embora pudesse, em casos penais,
diminuir a pena imposta ou mesmo declarar a absolvição.
Nesse sentido, o Art. 2 do Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal
estabeleceu, de maneira cristalina, que as sentenças e as
decisões prolatadas pelos Tribunais Locais eram definitivas,
não existindo possibilidade de impugnálas através do
mecanismo de apelação (i.e. v apeliatsionnom poriadke) às
[136]
instâncias superiores.
V.
Em conformidade com esse quadro, resultou abolida,
igualmente, a Procuradoria do Estado (Sledstvennaia Vlast),
concebida pelos revolucionários de Outubro enquanto dócil
instituição monopolizadora das atividades inquisitoriais da
fazenda pública, composta por jovens instrutores judiciários
[137]
carreiristas.
Em seu lugar, surgiu, provisoriamente, uma instrutoria
preliminar para questões criminais (predvaritelnoe sledstvie
po ygolovnym delam), situada mais nas proximidades do
povo oprimido e confiada ao exercício dos Tribunais Locais,
considerados esses últimos como muito mais conhecedores da
[138]
vida social de uma circunscrição territorial em específico.
VI.
Destruiuse, igualmente, o velho monopólio burguêsestatal da
Promotoria do Estado (Obvinitelia), única interessada em
impulsionar as acusações criminais no interesse da opressão
das classes exploradoras.
Suas funções foram confiadas a todas instituições públicas e a
todos cidadãos, tornados agora livres para cumprir os papéis
de acusadores e defensores (v roli obvinitelei i
zaschschitinikov) de todas pessoas privadas e funcionários
do novo Estado revolucionário junto aos tribunais populares
[139]
locais, relativamente a qualquer delito imaginável.
VII.
A Revolução de Outubro suprimiu ainda a livre profissão da
Advocacia (Svobodnoia Professia Advokatura), e, nesse
sentido, tanto as ordens da Advocacia Juramentada
(Priciajnoi Advokatur) quanto as associações de Advocacia
Particular (Tchastnoi Advokatur), tendose em conta que o
processo de nivelamento dos grandes e pequenos rendimentos
não poderia deixar intacto o estamento privilegiado dos juristas.
No período posterior à Revolução de Outubro, os
profissionais liberais do Direito revelaramse, quase sem
exceção, como um inimigo de classe do governo dos operários,
soldados e camponeses.
[140][141]
VIII.
Cumpria aos Soviets de Deputados Operários, Soldatos e
Camponeses indicar, adicionalmente, comissários populares
especiais para a Justiça, responsáveis pela custódia de
arquivos elaborados sob sua direção , bem como
encarregados da preservação do patrimônio das instituições
[142]
judiciárias.
IX.
Além disso, a Revolução de Outubro rechaçou,
categoricamente, o conceito jurídicoburguês de delito político,
porém não renunciando a combater, a ferro e fogo, a contra
revolução em todas as suas formas fenomênicas.
Assim, criando especialmente Tribunais Revolucionários dos
Operários e Camponeses (Rabothie i Krestianskie
Revoliutsionnyi Tribunal), os revolucionários de Outubro
afirmaram, precisamente, que não se os estava instituindo para
o apenamento de delitos políticos, mas sim para a organização
da luta contra as forças contrarevolucionárias, mediante
medidas de defesa da revolução e de suas conquistas (dlia
borbi protiv kontrrevolutsionnyirr sil v vidarr priniatia mer
[143]
orhranitchenia ot nirr revolutsionii i eio zavoevanii).
Esses Tribunais Revolucionários eram compostos por um
presidente e seis assistentes ordinários, eleitos nos Soviets
das cidades ou das regiões.
Concebidos enquanto instrumentos de luta contra as forças
contrarevolucionárias, esses tribunais representavam órgãos
de instrução pública, dotados de funções de denúncia e de
punição.
Eles haveriam de conformar uma instituição típica da época de
transição, sendo que a própria contrarevoluçao determinaria o
[144]
grau de severidade da repressão e do terror proletários.
X.
Se o projeto original de Stutchka e Kotslovskii postulava a
proibição de os tribunais inferiores das localidades aplicarem
leis promulgadas pelos governos derrubados, a redação final
do decreto em questão, adotando o posicionamento de Lenin,
consagrou, em seu artigo 5°, o princípio de que essas leis
podiam ser por eles aplicadas desde que não houvessem sido
expressamente abrogadas pelos novos decretos da
Revolução de Outubro e não contradissessem a moral
revolucionária (i.e revoliutsionoe sovest) e a consciência
revolucionária do Direito (i.e. revoliutsionnoe
[145]
pravosoznanie).
Nesse sentido, dispôs expressamente o Art. 5° em destaque :
“5.) Os tribunais locais decidem os casos em nome
da República Russa, aplicando em suas decisões e
sentenças as leis dos governos derrubados tão
somente quando essas não tiverem sido abolidas
pela revolução e não contradigam a moral
revolucionária e a consciência revolucionária do
Direito”.
Por obra direta de Lenin, acrescentouse minuciosamente a
esse Art. 5 em referência uma glosa, na forma de um parágrafo
explicativo, explicitandose da seguinte forma :
“Observação. Como abolidas são consideradas
todas as leis que contradigam os decretos do
Comitê Executivo Central dos Soviets de
Deputados Operários, Soldatos e Camponeses e os
decretos do Governo Operário e Camponês, bem
como o programa mínimo do Partido Social
Democráta da Rússia e do Partido Social
[146]
Revolucionário.”
Esse contexto condizia com o fato de que, no período
imediatamente posterior à Revolução de Outubro, inexistia
um Direito material revolucionário sistematicamente positivado
que pudesse orientar os novos tribunais populares eletivos.
Nesse mesmo sentido, os revolucionários de Outubro
entendiam que seria de toda forma absurdo sonhar com uma
estabilidade da legislação escrita em um momento de tão
grandes abalos políticosociais.
Nesse sentido, Lenin teve a oportunidade de observar, no V.
Congresso dos Sovietes de Deputados Operários,
Soldados e Camponeses de Toda Rússia, de 4 a 10 de
Julho de 1918 :
“Porém, realmente lamentável é o revolucionário que,
no momento da mais dura luta, respeita a
inviolabilidade da lei.
As leis possuem em um período de transição apenas
um significado provisório. E se uma lei entrava o
desenvolvimento da revolução, ela deve ser abolida ou
[147]
aprimorada.”
Dando especial ênfase ao sentido e ao significado da moral
revolucionária e da consciência revolucionária do Direito
no contexto de um período transitório de transformações
revolucionárias, em que o Estado assume a forma de uma
ditadura revolucionária do proletariado, Lenin destacou, em
março de 1919 :
“Quando a Revolução de Outubro derrubou os velhos
burocrátas, pode fazêlo porque ela havia criado os
Soviets.
Ela repudiou os velhos juízes e transformou o tribunal
em um tribunal popular.
Porém, um tribunal podese facilmente criar.
Para tanto não se carece do conhecimento das velhas
leis.
É necessário apenas deixar se levar pelo sentimento
da justiça.
Nos tribunais, o burocratismo foi fácil de ser
[148]
liquidado.”
Permanentemente preocupado em fixar os fundamentos do
novo Direito Proletário Revolucionário, Lenin, dirigindose a
Kurski, Comissário do Povo da Justiça que substitui
Stutchka, demonstrou compreender profundamente a
essência do Direito Burgûes, sabendo apontar, com
perspicácia, uma alternativa concreta capaz de superálo :
“Nós nao reconhecemos nada de “privado”.
Para nós, tudo, no domínio da economia, é de natureza
jurídicopública, e não privada.
Permitimos apenas o capitalismo de Estado.
Conseqüentemente, devemos fazer uso ampliado da
ingerência estatal nas relações “jurídicoprivadas”,
alargando o Direito do Estado de dissolver contratos
“privados”.
No que concerne às “relações de Direito Civil”,
devemos aplicar não o Corpus Iuris Romani, mas sim
nossa consciência revolucionária do Direito,
sistematicamente, insistentemente, rigorosamente,
demonstrando em uma série de processos
paradigmáticos como devese proceder com
[149]
compreensão e energia.”
Stutchka observou que, ao longo dos mêses subseqüentes à
Revolução de Outubro, a fórmula contida no Art. 5 do
Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal passou a ser corrente e até
mesmo os adversários originais da explosão revolucionária de
Outubro vieram a reconhecer que a revolução não condenaria
e não absolveria seus inimigos com base em leis escritas e
[150]
oficialmente aprovadas.
A seguir, legitimando esse novo sistema judiciário eletivo,
introduzido pelo Decreto Nr. 1 sobre o Tribunal, a
Constituição da República Soviética Russa, de 10 de Julho
de 1918, i.e. a Constituição de Lenin, a Constituição da
Guerra Civil, adotada pelo V. Congresso dos Soviets de Toda
Rússia, presidido por J. M. Sverdlov, determinou no âmbito da
Parte III relativa à Estrutura do Governo Soviético, a
competência do Congresso dos Soviets e do Comitê
Executivo Central de Toda a Rússia para estabelecerem a
legislação federal e regularem o sistema judicial proletário
revolucionário, dispondo da seguinte forma :
Art. 24. O Congresso dos Soviets de Toda Rússia é a
autoridade suprema da República Soviética Federativa
Socialista Russa.
..........................................................................
Art. 31. O Comitê Executivo Central de Toda a Rússia é
o órgão supremo legislativo, administrativo e de
supervisão da República Soviética Federativa
Socialista Russa.
..........................................................................
Artigo 49. Sob a jurisdição do Congresso dos Soviets
de Toda a Rússia e do Comitê Executivo Central
encontramse todas as matérias de importância estatal,
tal como :
..........................................................................
n. a legislação federal, o sistema e os procedimentos
[151]
judiciários, a legislação civil e criminal etc.;
Em meio ao aprofundamento do processo revolucionário russo
no interior de todo país, ao longo dos anos de 1918 e 1919,
consagrando o poder dos operários e camponeses pobres e
trabalhadores, Lenin, preocupado em precisar a concepção
classista acerca da formação dos tribunais eletivos da
Revolução de Outubro, bem como o significado e extensão
da consciência revolucionária do Direito, propôs fosse
inserido no primeiro parágrafo do ponto sobre o tribunal do
Projeto do Programa do PC da Rússia(B), as seguintes
considerações :
“No caminho rumo ao comunismo, através da ditadura
do proletariado, o Partido Comunista, desaprovando as
consignas democráticas, elimina inteiramente também
aqueles órgãos da dominação burguesa como os
tribunais da velha estrutura, substituindoos por
tribunais de classe dos operários e camponeses.
Depois de o proletariado ter tomado todo o poder em
suas mãos, ele coloca no lugar da velha fórmula
ambígua “Eleição dos Juízes pelo Povo” a consigna
de classe “Eleição de Juízes dos meios dos
Trabalhadores apenas pelos os Trabalhadores”,
concretizandoa em todo o campo organizativo do
sistema judiciário.
O Partido Comunista, que apenas elege no tribunal os
representantes dos operários e dos camponeses que
não empreguem nenhum trabalho assalariado, não
tirando do trabalho assalariado portanto nenhum lucro,
não estabelece nenhuma distinção relativa às
mulheres.
Ele iguala em todos os direitos ambos os sexos, seja
na eleição[MSOffice1] de juízes seja no exercício das
funções jurisdicionais.
Após ter abolido as leis dos governos derrubados, o
Partido lança aos juízes eleitos pelos eleitores
soviéticos a consigna de conferir validade à vontade do
proletariado mediante a aplicação de seus decretos e,
na hipótese de inexistência de tais decretos ou em
caso de lacunas, de deixaremse dirigir pela
consciência socialista do Direito, sem levar em
[152]
consideração as leis dos governos derrubados.”
III.D.
A FUNÇÃO REVOLUCIONÁRIA
DOS TRIBUNAIS POPULARES ELETIVOS
DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO
No III Congresso dos Sovietes de Deputados Operários,
Soldados e Camponeses de Toda Rússia, realizado entre os
dias 10 e 18 (23 e 31) de Janeiro de 1918, Lenin observou,
enfaticamente, que as mesmas providências adotadas pelo
poder soviético revolucionário em relação ao exército socialista
haviam sido tomadas relativamente a um outro instrumento
ainda mais refinado e complexo da classe dominante russa : o
Tribunal Burguês.
Segundo Lenin, o Poder Judiciário surgindo sob a máscara
de Guardião da Ordem representava, em verdade, um
instrumento cego e refinado para a opressão dos explorados,
um instrumento para a defesa dos interesses do capital.
Por essa razão, a Revolução de Outubro decidiuse por
remeter todos os tribunais burgueses ao ferro velho da história.
A função revolucionária dos novos tribunais populares eletivos
que substituiram o Poder Judiciário Russo passaria a ser de
elevada importância, quer no domínio da destruição da
resistência burguesa contrarevolucionária, quer na seara da
formação educacional e fortalecimento da disciplina proletária,
quer no campo da democratização do poder soviético, quer
ainda no âmbito da NEP e no combate ao burocratismo
soviético.
Nesse sentido, Lenin assinalou precisamente, em diferentes
oportunidades :
“É possível alegarse que nós, ao invés de
reformarmos os velhos tribunais, jogamolos
imediatamente no ferro velho.
Agindo dessa forma, abrimos porém o caminho para
um verdadeiro Tribunal Popular, não o fazendo,
todavia, com tanto emprego de medidas de violência,
mas sim muito mais com o exemplo das massas,
através da autoridade dos trabalhadores.
Sem formalidades, transformamos o tribunal, atuante
enquanto um instrumento de exploração, em um
instrumento de formação educacional, erigido sobre a
sólida base da sociedade socialista.
Não resta a menor dúvida, porém, que uma tal
sociedade não podemos obter em um único golpe. (...)
Não tenho nenhuma ilusão. Sei que ingressamos
apenas no período de transição ao socialismo, que não
alcançamos ainda o socialismo.”
[153]
No VII Congresso do Partido Comunista da Rússia,
realizado entre 6 e 8 de março de 1918, em seu relatório sobre
a revisão do programa e a mudança do nome do partido
bolchevique, Lenin teve a oportunidade de declarar acerca da
forma de constituição pessoal classista dos tribunais da
Revolução de Outubro :
“Nós mesmos devemos nos tornar juízes.
Os cidadãos devem, em seu conjunto, participar do
sistema judiciário e da administração do país.
Para nós o importante é a incorporação de todos os
trabalhadores, sem exceção, na administração do
Estado. (...)
Não se pode historicamente polemizar sobre o fato de
que a Rússia criou a República Soviética.
Nós dizemos : em cada contragolpe, iremos aspirar
(...) ao poder dos sovietes, ao tipo de Estado soviético,
[154]
um Estado do tipo da Comuna de Paris.”
Acentuando suas idéias acerca da aniquilação do sistema
judiciário burguês e de sua substituição pelos tribunais
populares eletivos, i.e. tribunais eletivos compostos por
operários e camponeses, Lenin precisou em seu Esboço das
Próximas Tarefas do Poder Soviético a função
revolucionária desses tribunais na luta pela destruição da
resistência burguesa contrarevolucionária e pelo
fortalecimento da disciplina proletária :
“Na sociedade capitalista, o tribunal era
preponderantemente um aparato da repressão, um
aparato da exploração capitalista.
Por isso, o dever incondicional da revolução proletária
não foi o de reformar as instituições judiciárias (a essa
tarefa limitaramse os cadetes e seus lacaios, os
mencheviques e os sociaisrevolucionários de direita),
mas sim o de completamente aniquilar, integralmente
desbaratar, todo o velho sistema judiciário e seu
aparato.
Essa tarefa indispensável foi cumprida pela Revolução
de Outubro e, em verdade, exitosamente.
No lugar do velho tribunal, ela começou a criar um
novo tribunal, um Tribunal Popular, melhor dito, um
Tribunal Soviético, erigido sobre o princípio da
participação na administração do Estado das classes
operárias e exploradas – e apenas dessas classes.
O novo tribunal é indispensável, antes de tudo, para a
luta contra os exploradores que procuram restabelecer
seu domínio ou defender seus privilégios, ou ainda
para impor, subrepticiamente, essa ou aquela
partezinha de seus privilégios, reconquistandoos
mediante fraude.
Além disso, compete aos tribunais uma outra tarefa,
ainda mais importante, se realmente se organizam
segundo o princípio das instituiçoes soviéticas : essa
tarefa consiste em assegurar o mais rigoroso respeito à
disciplina e à autodisciplina dos trabalhadores. (...)
Sem coação não pode ser realizada, de nenhuma
maneira, uma tal tarefa. Nós necessitamos do Estado,
necessitamos da coação.
O órgão do Estado Proletário que exerce essa coação
há de ser os tribunais soviéticos. A estes compete a
imensa tarefa de educar a população para disciplina do
trabalho. Para esse objetivo, fizemos
incomensuravelmente pouco, praticamente nada.
Precisamos conseguir que tais tribunais sejam
organizados na dimensão mais ampla, expandindo
suas atividades sobre a inteira vida de trabalho do
país.”
E, além disso, destacando a forma de democratização do
poder soviético através do funcionamento dos tribunais
populares eletivos, Lenin salientou, da maneira mais clara e
cristalina, no mesmo texto em destaque :
“Apenas tribunais desse gênero podem cumprir tais
tarefas, pressupondose que as massas mais amplas
da população operária e explorada deles participem em
uma forma democrática, em conformidade com o
princípio do poder soviético, de forma a fazer com que
a disciplina e a autodisciplina não se tornem desejos
vãos.
Apenas tribunais desse gênero saberão propiciar
nossa tomada do poder revolucionário do Estado, o
que todos reconhecemos em palavras quando falamos
da ditadura do proletariado, mas em cujo lugar
entretanto vemos em torno de nós muito
frequentemente algo extremamente flácido como uma
papa.
De toda sorte, seria mais correto não comparar a
situação social em que nos encontramos com uma
papa, senão com a refundição de metal para a
[155]
produção de uma firme ligadura de aço.”
Precisando suas idéias, Lenin destacou em A Revolução
Proletária e o Renegado Kautsky, de fins de 1918, o signado
profundamente revolucionário da elegibilidade dos juízes dos
tribunais da Revolução de Outubro :
“Na Rússia, o aparelho do funcionalismo foi, pelo contrário,
totalmente despedaçado. Dele não se deixou pedra sobre
pedra.
Os velhos juízes foram expulsos, o Parlamento Burguês,
desbaratado.
E, precisamente os trabalhadores e camponeses obtiveram
uma representação muito mais acessível.
Através de seus Soviets, os funcionários foram substituídos, os
seus Soviets foram colocados acima dos funcionários, por seus
Soviets os juízes são eleitos.
Apenas esse fato basta para que todas as classes oprimidas
reconheçam que o poder soviético, i.e. a forma dada à ditadura
do proletariado, é milhões de vezes mais democrática do que a
[156]
república democráticoburguesa.”
No quadro do ressurgimento do burocratismo pós
revolucionário, Lenin demonstrou, claramente, conceber, ainda
em 1921, os tribunais populares eletivos como instrumentos de
luta na “arte da guerra” contra esse tipo de degeneração dos
ideais da Revolução de Outubro.
Em uma de suas cartas a Kurski, então Comissário do Povo
da Justiça, escreveu Lenin, da seguinte forma :
“Repasseilhe através do Diretor do Gabinete do
Conselho dos Comissários do Povo, uma petição do
Professor Graftio que contém documentos incríveis
acerca de casos de burocratismo. (...)
Tenho a impressão de que o Comissariado do Povo da
Justiça trata essa questão de modo puramente formal,
i.e. de maneira fundamentalmente falsa. É necessário :
1. levar essa matéria diante dos tribunais ;
2. lograr fazer com que os culpados sejam
denunciados na imprensa e recebam severas penas ;
3. instruir os juízes através do Comitê Central a
procederem severamente contra o burocratismo ;
4. convocar uma sessão com os juízes populares de
Moscou, membros dos tribunais etc., para elaborar
medidas de lutas efetivas contra o burocratismo.
[157]
(...)”
No mesmo sentido, Lenin entendeu dever ser a função
revolucionária dos tribunais populares eletivos no combate ao
burocratismo soviético crescente, particularmente em relação
ao célebre caso concreto de SchlendrianLomovStiunkel,
[158]
que Bogdanov procurava acobertar.
No contexto do IX Congresso dos Soviets de Toda Rússia,
Lenin ainda teve a oportunidade de assinalar acerca dos
tribunais da Revolução de Outubro, no quadro da NEP :
“Tomemos um negociante qualquer, que prática
relações de comércio sob o controle do Estado e do
Tribunal.
Dispomos de tribunais proletários e nosso tribunais
estão capacitados a supervisionar cada empresário
privado, a fim de que ele não intérprete a lei em seu
benefício, como é o caso nos Estados Burgueses.”
E, na mesma ocasiao, Lenin acrescentou :
“O IX Congresso dos Soviets exige do Comissariado
do Povo da Justiça incomparavelmente maior energia
em dois sentidos :
Em primeiro lugar, os tribunais populares da República
devem acompanhar atentamente a atividade dos
negociantes e empresários privados.
Os tribunais não podem permitir que as atividades
desses últimos seja minimamente limitada, devem,
entretanto e ao mesmo tempo, punir severamente a
sua mínima tentativa de esquivaremse ao estrito
respeito das leis da República.
As mais amplas massas dos trabalhadores e
camponeses devem ser educadas a incorporaremse
rápida, autônoma e energicamente nos tribunais,
quando se tratar de velar pelo respeito da legalidade.
Em segundo lugar, os tribunais populares devem cuidar
mais atentamente para que o burocratismo, o môfo do
funcionalismo e a má organização econômica sejam
punidas judiciariamente.
São necessários processos desse gênero : por um
lado, com vistas a elevar o sentimento de
responsabilidade em face desse mau, que é tao difícil
de combater em nossas condições, por outro, para
direcionar a atenção dos operários e camponeses a
essa questão extremamente importante e alcançar o
objetivo prático de êxitos econômicos maiores.”
[159]
III.E.
OS TRIBUNAIS POPULARES ELETIVOS
DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO E A ASCENSÃO
DO BUROCRATISMO SOVIÉTICO STALINISTA
No VIII Congresso do Partido Comunista da Rússia,
realizado entre 18 e 23 de março de 1919, examinando o
significado dos tribunais populares eletivos da Revolução de
Outubro em face da questão do burocratismo e da
incorporação das amplas massas no trabalho dos Soviets,
Lenin teve a oportunidade de assinalar criticamente :
“Na luta contra o burocratismo fizemos o que nenhum
Estado do mundo logrou ainda fazer. (...)
Tomemos como exemplo o sistema judiciário.
Aqui, a tarefa foi, no entanto, mais simples. Aqui, não
tivemos de criar nenhum novo aparato, pois todo e
qualquer um pode pronunciar o Direito, apoiandose na
consciência revolucionária do Direito das classes
trabalhadoras.
Falta muito ainda para levarmos ao fim essa questão,
porém, em uma série inteira de domínios, fizemos dos
tribunais o que deveria efetivamente ser feito.
Criamos órgãos em que podem se tornar juízes não
apenas homens senão também mulheres, bem como
os elementos mais atrasados e sem movimento. (...)
Combater o burocratismo completamente, até a vitória
total, é apenas possível, entretanto, se a grande
população tomar parte na administração.
Nas repúblicas burguesas, isso não apenas não era
possível : a própria lei impediao. (...)
Nós eliminamos esses obstáculos, porém ainda não
conseguimos que as massas trabalhadoras atuem
conjuntamente na administração, pois, além das leis,
existe ainda o obstáculo do nível cultural, que não se
sujeita à nenhuma lei.
Esse baixo nível cultural faz com que os Soviets, que
segundo seu programa devem ser órgãos da
administração através dos trabalhadores, sejam órgãos
da administração para os trabalhadores, i.e. uma
administração da camada avançada do proletariado,
porém não uma administraçao das próprias massas
[160]
trabalhadoras. (...)”
Percebendo, além disso, os perigos relacionados com o
ressurgimento da advocacia burguesa para o fortalecimento do
burocratismo do novo Estado Proletário Russo, Lenin
observou, claramente, em seu O Radicalismo de Esquerda :
“Nós suprimimos na Rússia a advocacia burguesa e
nisso tivemos total razão.
Porém, agora, sob o manto das “assistências jurídicas”
“soviéticas” ela renasce entre nós. (...)
Enquanto a burguesia não for derrubada e, além disso,
a pequena economia e pequena produção de
mercadorias não desaparecerem completamente, as
condições burguesas, os hábitos burgueses e as
tradições pequenoburguesas prejudicaram o trabalho
proletário seja de fora como de dentro do movimento
dos trabalhadores. (...)
É necessário aprenderse a dominar e manejar todos
os domínios de atividade e de trabalho, bem como
superar todas as dificuldades e todas as práticas
burguesas, tradições e costumes, em todas as partes,
[161]
em todos os lugares.”
Em seu Sobre o Imposto em Natura, obra redigida em 1921
que forneceu fundamento teórico acabado à Nova Política
Econômica (NEP), Lenin veio a observar acerca do
ressurgimento do burocratismo e suas causas econômicas,
defendendo, entretanto, ainda claramente o significado dos
tribunais eletivos da Revolução de Outubro :
“Tomemos a questão do burocratismo e analisemola a
partir do lado econômico.
Em 5 de maio de 1918, o burocratismo não se
encontrava diante de nosso campo de visão.
Meio ano depois da Revolução de Outubro, depois de
termos destroçado o velho aparato burocrático de cima
a baixo, não havíamos sentido ainda esse mau.
Mais um ano se passou.
No VIII Congresso do Partido Comunista da Rússia (de
18 a 23 de março de 1919) foi adotado um novo
programa partidário e nesse programa falamos em
admitir a existência desse mau. Diretamente, sem
mascaramento, falamos do ressurgimento parcial do
burocratismo no interior da ordem soviética, animados
do desejo de revelálo, desmascarálo, estigmatizálo,
despertando a idéia e a vontade, a energia e a ação,
para a luta contra esse mau.
Passaramse mais dois anos.
No início de 1921, depois do VIII Congresso dos
Soviétes, onde foi tratada, em dezembro de 1920, a
questão do burocratismo, bem como depois do X
Congresso do PC da Rússia, de março de 1921, o qual
elaborou o balanço das discussões relacionadas
estreitamente com a análise do burocratismo, vemos
esse mau então mais clara, nitida e perigosamente
diante de nós.
Quais sao as raizes econômicas do burocratismo ?
Essas raizes são principalmente de dois tipos : de um
lado, a burguesia desenvolvida necessita,
principalmente, de um aparato burocrático contra o
movimento revolucionário dos trabalhadores (em parte
também dos camponeses), em primeira linha um
aparato militar, bem como judiciário etc.
Esse aparato não, entretanto, existe junto a nós.
Junto a nós, os tribunais são tribunais de classe contra
a burguesia. Nosso exército é um exército de classe
contra a burguesia.
O burocratismo não está no próprio exército, mas nos
departamentos relacionados com ele.
Junto a nós, a raiz econômica do burocratismo é uma
outra : a isolação, a fragmentação dos pequenos
produtores, sua pobreza e falta de cultura, a ausência
de perspectivas, o analfabetismo, o volume insuficiente
de negócios entre a agricultura e a indústria, a
ausência de uma conexão e intercondicionamento
[162]
entre elas.”
Nesse mesmo quadro de progressivo e ameaçador ascenso do
burocratismo, Lenin iria destacar, enfaticamente, nos primeiros
mêses de 1922, em sua correspondência com A. D. Ziurupa,
Presidente do Pequeno Conselho dos Comissários do
Povo :
“Entre nós, subsiste, aparentemente, uma fundamental
divergência.
O mais importante, em meu modo de ver, é largar de
escrever decretos e ordens ( aqui só estamos indo da
estupidez à idiotice ) e colocar todo o pêso na escolha
de pessoas e no controle da execução. (...)
Junto a nós, estão todos afundados no pântano nojento
e burocrático das “autoridades de Estado”.
Grande autoridade, espírito e habilidade são, pelo
contrário, necessários para a luta diária.
Autoridades de Estado, porém, são porcarias. Decretos
são porcarias.
Procuremos homens, controlemos o trabalho – nisso
reside tudo.”
[163]
Em plena coerência com sua “arte de guerra” contra o
burocratismo ascendente, Lenin não hesitou em acionar a
polícia secreta e todos os meios possíveis e imagináveis, com
vistas a procurar reverter o sufocamento da democracia dos
operários e dos camponeses pobres e trabalhadores que
penetrava, agora, crescentemente a ordem soviética de
conjunto, bem como os tribunais populares, tal como se extrai
de uma de suas últimas cartas à Kurski :
“A antiga Tcheka de Moscou deu início, sob minha
ordem, a um inquérito relativo à negligência criminosa,
môfo e passividade do funcionalismo no Departamento
de Ciência e Técnica, bem como no Comitê de
Sistemas de Descobertas.
Os resultados foram apresentados ao Tribunal
Revolucionário de Moscou, que, ao invés de investigar
efetivamente essa matéria, de avaliar e punir os
culpados (e que nessas instituiçoes existem uma
porção de sábios imprestáveis, parasitas e semelhante
gentalha, já foi freqüentemente divulgado na imprensa
nos artigos do comp. Soznovski e de outros), portouse
de modo extremamente apadrinhador em relação aos
acusados, não surgindo sequer acusadores em juízo,
sendo que, finalmente, a acusação foi declarada como
carente e todos os culpados foram absolvidos.
Agora, informaramme que o Departamento de
Govêrno de Moscou da Administração Policial do
Estado apresentou recurso contra a decisão do
Tribunal Revolucionário de Moscou junto à Divisão de
Controle Judiciário do Comissariado do Povo para a
Justiça.
Peçolhe que se informe pessoalmente sobre o caso,
dedicandolhe a maior atenção (...)
É necessário instaurarse, no Tribunal Revolucionário,
um processo político que deve revirar,
minuciosamente, esse pântano “científico” (para a
impresa convocar o comp. Soznovski).
Nesse caso, eu requeiro uma severa repreensão para
o Tribunal Revolucionário de Moscou por inadmissível
[164]
moderação e comportamento burocrático formal.”
Em uma de suas derradeiras referências acerca dos tribunais
eletivos da Revolução de Outubro, Lenin ainda pôde
observar no XI Congresso do PC da Rússia, de 1922, em
tom de admoestação e percepção da crescente degeneração
das instituições judiciárias soviéticas, de modo a ressaltar o
dever de responsabilidade e prestação de contas das
atividades dos juízes perante os Soviets :
“Em relação ao capitalismo de Estado, é necessário
saberse o que se deve fazer no sentido de consignas
de propaganda, bem como o que deve ser esclarecido,
a fim de que seja ele entendido praticamente.
Isso significa que o nosso capitalismo de Estado não é
o mesmo acerca do qual os alemães escreveram.
Ele é um capitalismo autorizado por nós. (...)
Se nós passamos da Tcheka de Toda Rússia para os
tribunais políticos de Estado, devemos dizer no
Congresso dos Soviets que nós não reconhecemos
tribunais situados acima das classes.
Nós necessitamos de tribunais proletários eletivos e os
tribunais devem saber exatamente do que
necessitamos.
Os membros do tribunal devem saber bem exatamente
[165]
o que é capitalismo de Estado.”
Em seu último pronuncionamento acerca do tema, Lenin
escreveu, em maio de 1922 , à Kurski, relativamente à
reformulação do Direito Penal Proletário, ressaltando o dever
de acolhimento continuado da moral revolucionária e da
consciência revolucionária do Direito pelos tribunais eletivos
para assegurarse a luta pela vitória da Revolução de
Outubro e contra o burocratismo soviético crescente :
“Completando nossa conversação, enviolhe o projeto
de um parágrafo suplementar para o Código Penal. (...)
O Tribunal não deve eliminar o terror – prometer isso
seria um autoengano ou uma fraude , mas sim
fundamentálo, por princípio, claramente, sem falsidade
ou maquilagem, consagrandoo legalmente.
A formulação deve ser tão ampla quanto possível, pois
apenas a consciência revolucionária do Direito e a
moral revolucionária colocam as condições para uma
[166]
aplicação mais ou menos ampla na prática.”
Anos a seguir, produzindo um balanço econômicopolítico
acerca do burocratismo que envolveu e degenerou
acentuadamente o Estado Proletário Soviético, atrasado e
isolado, Léon Trotsky observou, de maneira clara, em sua A
Revolução Traída, redigida em 1936, que a União Soviética,
enquanto elo mais débil da cadeia do capitalismo mundial,
havia validamente, com a Revolução de Outubro, dado os
primeiros passos no sentido de transitar para o estágio inferior
do comunismo, i.e. para a primeira fase da sociedade
[167]
comunista, i.e. para o habitualmente chamado socialismo.
O regime da União Soviética havia logrado instaurar, dessa
forma, não um regime socialista, mas sim um regime
preparatório de transição do capitalismo ao socialismo, dado
que ele não se situava nem sequer em um nível de
desenvolvimento igual ou superior àquele alcançado pelos
países capitalistas ocidentais.
Mais precisamente, Trotsky assinalou que a União Soviética
encontravase ainda longe de atingir mesmo o primeiro estágio
do socialismo, concebido enquanto um sistema equilibrado de
produção e distribuição, de vez que seu desenvolvimento
socioeconômico ocorria não de maneira harmoniosa, porém
[168]
contraditoriamente, segundo sua própria lógica peculiar.
Segundo Trotsky, Lenin, apoiandose em Marx e Engels,
havia admitido, coerentemente, que o proletariado, tendo
destruído o poder de Estado Burguês, devendo o substituir por
um Estado Proletário Revolucionário, daria início a um
processo de supressão de si mesmo enquanto classe
dominante, abrindo a perspectiva de abolição de todas as
diferenças e antagonismos de classe, bem como de extinção
mesmo das instituições desse Estado, pertecente à grande
[169]
maioria de oprimidos enquanto tal.
Tal posicionamento favorável à liquidação de todo o
burocratismo e parasitismo de Estado, plenamente coerente
com a concepção marxista e o regime instaurado pela
Comuna de Paris – elegibilidade e revogabilidade a qualquer
tempo de todos os funcionários do Estado, sôldos de
funcionários não superior aos salários dos operários,
participação das mais amplas massas no exercício das funções
de controle e supervisão das atividades públicas, todos
podendo tornarse “burocrátas” e, portanto, ninguém tornando
se burocráta etc. passou a contrastar, diametralmente, com a
política que passou a ser adotada, sistematicamente, após a
morte de Lenin, por Stálin e pelos idólatras dos Soviets,
inspirados em seu culto de um Estado que não possuia a
miníma intenção de perecer e, pelo contrário, promovia o
sistemático desarmamento da população.
A razão da ascensão do burocratismo soviético situavase,
segundo Trotsky, antes de tudo na subsistência de agudos
antagonismos sociais insuperados que necessitavam ser
atenuados, ajustados, regulados, sempre em favor dos
interesses da casta de privilegiados e intelectuais, da
oficialidade militar e do funcionalismo parasitário, que chegava
até mesmo a sabotar a economia nacional e tornarse cada vez
mais um órgão da burguesia mundial no Estado Proletário
[170]
Soviético.
Tais antagonismos eram produzidos, antes de tudo, pelos
embates de tendências socialistas expressadas na defesa da
propriedade estatizada, condizentes com os princípios
fundamentais do Direito Proletário – contra as tendências
capitalistas manifestadas na subsistência da desigualdade
econômicamentematerial do Direito Burguês subsistente,
relativamente ao processo de distribuição dos bens
econômicos de vida.
Esses embates projetavamse no seio de todas as instituições
do novo Estado Proletário Revolucionário, que continha,
dialeticamente em si mesmo, elementos do Direito Burguês
como também de um Estado Burguês sem burguesia (i.e.
burjuaznoe pravo, no daje i burjuaznoe gosudarstvo – bez
[171]
burjuazii !).
Precisamente nesse sentido, Trotsky escreveu, de maneira
perspicaz, acerca das contradições relacionadas com a
ascensão do burocratismo na União Soviética, apresentando
novas preocupações para os futuros processos revolucionários
proletários :
“”Um Estado Burguês sem burguesia” provou ser
inconsistente com a genuina democracia soviética.
A função dual do Estado não pôde deixar de afetar sua
estrutura.
A experiência revelou o que a teoria foi incapaz de
claramente prever.
Se para a defesa da propriedade socializada contra a
contrarevolução burguesa um “Estado de
trabalhadores armados” foi totalmente adequado, uma
questão bem diferente foi a de regular as
desigualdades na esfera do consumo.
Os desprovidos de propriedade não estão inclinados a
criar e defender essa regulação.
A maioria não pode preocuparse com os privilégios da
minoria.
Para a defesa do “Direito Burguês”, o Estado Proletário
foi forçado a criar um tipo “burguês” de instrumento –
i.e. a mesma velha polícia, embora vestida com um
novo uniforme.”
[172]
Sendo assim, para a defesa desse Direito Burguês, que
subsistia e se afirmava em permanente conflito com o Direito
Proletário emergente no seio do Estado Soviético, haveria de
surgir uma burocracia parasitária, cada vez mais despótica na
defesa dos privilégios de uma minoria e atuando com métodos
de terror, incapaz de garantir uma genuina igualdade.
Referindose às raizes do burocratismo da União Soviética,
Trotsky assinalou, então, de maneira crítica :
“As tendências de burocratismo que estrangulam o
movimento dos trabalhadores nos países capitalistas
haveria de se apresentar, em todos os lugares, mesmo
depois de um revolução proletária.
Porém, é perfeitamente óbvio que quanto mais pobre é
a sociedade que sai da revolução tanto mais severa e
mais nua haveria de ser a expressão dessa “lei”, tanto
mais cruas, as formas assumidas pelo burocratismo,
tanto mais perigosas, para o desenvolvimento do
socialismo.
O Estado Soviético vêse impedido não apenas de
extinguirse, mas até mesmo de libertarse do parasita
burocrático, não em razao dos “resíduos” das antigas
classes dominantes, tal como declara a doutrina
ostensivamente policial de Stálin – pois esses
“resíduos” são impotentes em si mesmos.
Ele está impedido, isso sim, por fatores
incomensuravelmente poderosos, tais como a
escassez material, o atraso cultural e a dominação
resultante do “Direito Burguês” que toca, da maneira
mais imediata e aguda, todo ser humano na atividade
[173]
de assegurar sua existência pessoal.”
Nesse contexto, a problemática teórica equacionada por
Trotsky de maneira criativa e reflexiva acerca do Direito, o
Estado e os tribunais populares eletivos a partir das
experiências da Comuna de Paris e da Revolução de
Outubro, ecoou, severamente, com as seguintes palavras
penetrantes e desafiadoras :
“Baseandose inteiramente na teoria marxista da
ditadura do proletariado, Lenin não conseguiu, tal como
dissemos, nem em sua obra maior, dedicada à questão
(O Estado e a Revolução), nem no programa do
partido, sacar todas as conclusões necessárias
relativas ao caráter do Estado a partir do atraso
econômico e da isolação do país.
Esclarecendo o ressurgimento do burocratismo pela
falta de familiaridade das massas com a administração
e por dificuldades especiais resultantes da guerra, o
programa prescreve meramente medidas políticas para
a superação das “distorções burocráticas” : eleições e
revogação a qualquer tempo de todos os
plenipotenciários, abolição dos privilégios materiais,
controle ativo das massas etc.
Admitiuse que, ao longo desse caminho, o burocrata,
deixando de ser um chefe, passaria a ser um simples
agente técnico e, além disso, temporário, sendo que o
Estado desapareceria gradual e imperceptivelmente de
cena.
A óbvia subestimação das dificuldades pendentes é
esclarecida pelo fato de que o programa foi baseado
completamente sobre a perspectiva internacional : “A
Revolução de Outubro na Rússia realizou a ditadura do
proletariado ... A era da revolução comunista proletária
mundial começou”.
Essas eram as linhas introdutórias do programa.
Seus autores não apenas não colocaram a si mesmos
o objetivo de construção do “socialismo em só país” –
essa idéia não entrava, então, na cabeça de ninguém e
muito menos na de Stálin – como não tocaram a
questão relativa à que caráter o Estado Soviético
assumiria, se forçado a resolver, em isolação, por
durante duas décadas, esses problemas econômicos e
culturais que o capitalismo avançado resolveu há muito
tempo atrás.
A crise revolucionária do pósguerra não conduziu à
vitória do socialismo na Europa. Os sociaisdemocratas
salvaram a burguesia.
Aquele período, que Lenin e seus colegas encaravam
como um “período de respiro”, prolongouse em uma
inteira época histórica.
A estrutura social contraditória da União Soviética e o
caráter ultraburocrático de seu Estado são as
consequências diretas dessa pausa única e
historicamente “imprevisível”, que, ao mesmo tempo,
conduziu os países capitalistas ao fascismo e à reaçao
[174]
préfascista.”
Em face desse contexto analítico, Trotsky levantou, em 1938,
no Programa de Transição, as seguintes consignas, entre
outras, de luta contra o burocratismo stalinista, deformador das
instituições do Estado Proletário, emergente com a Revolução
de Outubro, destacando que apenas o levantamento
revolucionário das massas oprimidas poderia regenerar o
regime soviético e assegurar seu futuro desenvolvimento em
direção ao socialismo :
Derrubada da Burocracia Termidoriana e da
Aristocracia Soviética com sua hierarquia e suas
condecorações ;
Expulsão da Burocracia e da nova Aristocracia
dos Soviets. Nos Soviets só existe lugar para os
representantes dos operários,
camponeses trabalhadores e soldados ;
Luta pelo renascimento e pelo desenvolvimento
da Democracia Soviética ;
Reconstituição dos Soviets enquanto órgãos de
classe e democráticos ;
Fim da ficção do sufrágio universal à maneira de
Hitler e Goebbels;
Maior igualdade no salário, em todas as formas
de trabalho ;
Luta contra a desigualdade social e a opressão
política ;
Revisão de todos os processos políticos forjados
pela Burocracia Termidoriana, com ampla publicidade e
livre exame.
Abaixo a política internacional reacionária da
Burocracia ;
[175]
Viva a política do internacionalismo proletário.
Limitandonos aqui ao exame da ordem dos tribunais
soviéticos, cumpre assinalar, por fim e sem comentários
adicionais, que a Constituição da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, de dezembro de 1936, i.e. a
Constituição do Soviet Supremo de Stálin, a Constituição
de Stálin e Vyshinskii, rompendo totalmente com os
princípios consagrados pela Revolução de Outubro,
estipulou, da seguinte forma, em seu Capítulo IX, relativo aos
Tribunais e à Procuradoria :
“Artigo 30. O órgão supremo da autoridade de Estado
da URSS é o Soviet Supremo da URSS.
...................................................
Artigo 102. Na URSS, a justiça é administrada pelo
Supremo Tribunal da URSS, os Supremos Tribunais
das Repúblicas da União, os Tribunais Regionais e os
Tribunais das Repúblicas e Regiões Autonômas, os
Tribunais de Área e os Tribunais Especiais da URSS
estabelecidos por decisão do Soviet Supremo da
URSS e os Tribunais do Povo.
...................................................
Artigo 105. O Tribunal Supremo da URSS e os
Tribunais Especiais da URSS são eleitos pelo Soviet
Supremo da URSS para um mandato de cinco anos.
Artigo 106. O Tribunal Supremo das Repúblicas da
Uniao são eleitos pelo Soviet Supremo das Repúblicas
da União para um mandato de cinco anos.
Artigo 107. Os Tribunais Supremos das Repúblicas
Autônomas são eleitos pelos Soviets Supremos das
Repúblicas Autônomas para um mandato de cinco
anos.
Artigo 108. Os Tribunais Regionais e Territoriais, os
Tribunais das Regiões Autônomas e os Tribunais de
Áreas são eleitos pelos Soviets Regionais, Territoriais
ou de Área dos Deputados do Povo Trabalhador das
Regiões Autônomas para um mandato de cinco anos.
Artigo 109. Os Tribunais do Povo são eleitos pelos
cidadãos do distrito sobre a base do sufrágio universal,
direto, igual e secreto, para um mandato de três anos.
...................................................
Artigo 112. Os juízes são independentes e sujeitos
apenas à lei.
Artigo 113. O Poder de Supervisão Supremo da estrita
execução das leis pelos Comissariados do Povo e as
instituições a eles subordinadas, como também pelos
funcionários públicos e cidadãos da URSS, é exercido
pelo Procurador da URSS.
Artigo 114. O Procurador da URSS é apontado pelo
Soviet Supremo da URSS para um mandato de sete
anos.
Artigo 115. Procuradores das Repúblicas, Territórios e
Regiões, como também Procuradores das Repúblicas
Autônomas e Regiões Autônomas, são indicados pelo
Procurador da URSS para um mandato de cinco anos.
Artigo 116. Procuradores de Área, Distrito e Cidade são
indicados, para um mandato de cinco anos, pelos
Procuradores das Repúblicas da União, estando
sujeitos à aprovação do Procurador da URSS.
Artigo 117. Os órgãos da Procuradoria executam suas
funções independentemente de quaisquer órgãos
locais, estando subordinados apenas ao Procurador da
[176]
URSS.”
EDITORA DA ESCOLA DE AGITADORES E INSTRUTORES
“UNIVERSIDADE COMUNISTA REVOLUCIONÁRIA J. M. SVERDLOV”
PARA A FORMAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DIREÇÃO MARXISTAREVOLUCIONÁRIA
DO PROLETARIADO E SEUS ALIADOS OPRIMIDOS
MOSCOU SÃO PAULO MUNIQUE – PARIS
[1]
Com efeito, Roland Dumas, antigo Ministro do Exterior da República Francesa, teria recebido cerca de
25 milhões de dólares de comissão, através da funcionária Christine DeviersJoncourt da empresa
oligopolista multinacional ElfAcquitaine, por ocasião da venda de fragatas Thomson ao governo de Taiwan
em 1991. Nomeado por Mitterrand como homem de confiança dos socialistas franceses para o cargo de
Presidente do Conselho Constitucional, o nome Roland Dumas passou a surgir, já desde agosto de 1997,
nos dossiers de operações da ElfAcquitaine e nas principais manchetes dos jornais franceses, provocando
uma progressiva desmoralização do Poder Judiciário Francês. No quadro das apurações do affaire Roland
Dumas, Christine DeviersJoncourt alegou que havia sido contratada propositadamente pela Elf
Acquitaine, com o objetivo de subornar Roland Dumas. Em 30 de abril de 1998, o Poder Judiciário Francês,
em uma tentativa remoralizadora inédita, determinou a reclusão domiciliar do Presidente de seu Conselho
Constitucional, por cumplicidade e malversação abusiva de bens sociais. Em 16 de março de 2000, os
advogados de Dumas alegaram judicialmente que, em razão de seus diversos problemas de saúde e idade
avançada, o antigo Presidente do Judiciário Francês estaria incapacitado de defenderse de suas acusações.
Presentemente, Dumas brada, de maneira alucinada, contra uma suposta campanha de “denegrimento de seu
nome”, “alimentada pelo mundo mediáticojudiciário”, “conducente ao renascimento do fascismo francês”.
Acerca do tema, vide LIBÉRATION, L’Affaire Roland Dumas, Dossier, Paris, 1999.
[2]
O fortalecimento parlamentar do SPD e a subseqüente posse do chanceler socialliberal burguês Gerhard
Schröder confirmou a nomeação de Jutta Limbach, ocorrida em Setembro de 1994, após longos mêses de
lutas partidárias, enquanto Presidente do Supremo Tribunal Federal da Alemanha e juiza de estrita confiaça
da fração burguesa, atualmente governante na Alemanha. Acerca do tema, vide SÜDDEUTSCHE
ZEITUNG, Dossier Theodor Maunz, Munique, 1998.; HERTA DÄUBLERGMELIN, Vita : Detaillierter
Lebenslauf, Berlim, 1998.
[3]
A disputa entre as diferentes frações da Magistratura Italiana, diversas delas associadas à corrupção
impulsionada pelas organizações mafiosas italianas, outras mais ou menos com elas comprometidas,
marcaram a dinâmica dessas instituições públicas no curso dos anos 90. A descoberta de uma vasta rede de
corrupção no quadro da Operazione Mani Pulite Nr. 2 submeteu à crítica cerrada os métodos de trabalho da
Procuradoria de Milão – acusada de também estar ligada com a máfia italiana, no caso autoparc di Milano
, e em particular colocaram em cheque o modo de atuação do Procurador Milanês, Antonio Di Pietro,
protagonista da Operazione Mani Pulite Nr. 1 e, posteriormente, Ministro do Estado dos Trabalhos Públicos,
até 14 de novembro de 1996. Com efeito, o setor de juízes de La Spezia, juízes da Rivoluzione Giudiziaria,
passaram, a partir de então, a atacar Di Pietro por não ter trazido à luz as orquestrações mafiosas de um dos
homens mais poderosos da Itália dos anos 90 : o banqueiro Pacini Battaglia. Esse último, por sua vez,
passou a acusar Di Pietro de têlo saqueado financeiramente, em troca de prometer orientálo, de modo
acorbertado, nos depoimentos da comissão de inquérito sobre as operações da empresa oligopolista italiana
ENI. Acerca do tema, vide ERIK PALENI, La Riforma della Giustizia, in : Rivista Elettronica di Diritto &
Cultura, Nr. 5, Fev. de 2000.; ANTONIO DI PIETRO & ANTONIO CARLUCCI, Grazie Tonino, Milano,
1995, pp. 113 e s.; G. MONCALVO, Di Pietro. Il Giudice Terremoto. L’Uomo della Speranza, Milano,
1996, pp. 11 e s.; OBSERVATIONS GEOPOLITIQUES DES DROGUES, Rapport Annuel : Italie, Paris,
19951996.
[4]
Cf. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, de 5 de Outubro de 1988, Sao
Paulo, 1988, p. 13.
[5]
Cf. GRUNDGESETZ FÜR DIE BUNDESREPUBLIK DEUTSCHLAND, vom 23. Mai 1949 (Lei
Fundamental da República Federal da Alemanha de 23 de maio de 1949), in : Grundgesetz mit Umsetzung
des MaastrichtVertrages (Lei Fundamental com Aplicação do Tratado de Maastricht), Munique, 1992, p. 19.
[6]
Cf. CONSTITUTSIA ROSSIISKOI FEDERATSII, 12 Dekabria 1993 g. (Constituição da Federação
Russa de 12 de Dezembro de 1993), in : Iuriditcheskaia Litieratura (Literatura Jurídica), Moscou, 1993, p. 7.
[7]
Acerca da gênese, do significado histórico e da função social do Estado, vide sobretudo FRIEDRICH
ENGELS, Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staates (A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado) (Maio 1884), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels),
Berlim, 1962, Vol. XXI, pp. 165 e s.; VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie
Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo
sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, pp. 6 et s.
[8]
Tendo em conta o contexto mundial da literatura jurídicoburguesa contemporânea, não predomina sob o
aspecto terminológico qualquer orientação no uso das expressões separação, divisão, distribuição, repartição
de poderes. Alguns pensadores preferem usar a expressão articulação de poderes para exprimir que não se
trataria de separar poderes, mas sim de articular as funções do poder uno e supremo do Estado. Sobre esse
debate terminológico, vide sobretudo WILHELM HASBACH, Gewaltentrennung, Gewaltenteilung und
gemischte Staatsform (Separação de Poderes, Divisão de Poderes e Forma Mista de Estado), in :
Vierteljahresschrift für Sozial und Wirtschaftsgeschichte (Escritos Quadrimestrais de História Econômica e
Social), Vol. XIII, 1916, pp. 562 e s.; A. SAINT GIRONS, Essai sur la Séparation des Pouvoirs, Paris, 1881,
pp. 3 e s.; CHARLES EISENMANN, L’Esprit des Lois et la Séparation des Pouvoirs, in : Mélanges
Raymond Carré de Malberg, Paris, 1933, pp. 165 et s. tb. in : Cahier de Philosophie Politique, Bruxelles,
1985, pp. 35 e s.; IDEM, Le Système Constitutionnel de Montesquieu et le Temps Présent, in : Actes du
Congrès Montesquieu de Bourdeaux, 1956, pp. 241 e s.; HANS PETERS, Die Gewaltentrennung in
moderner Sicht (A Separação de Poderes em uma Visão Moderna), in: Arbeitsgemeinschaft für Forschung
des Landes NordrheinWestfalen (Grupo de Trabalho de Pesquisa do Estado de NordrheinWestfalen),
Caderno 25, Köln, 1954, pp. 5 e s.; MICHEL TROPER, La Séparation des Pouvoirs et l’Histoire
Constitutionnelle Française, Thèse, Paris, 1967, pp. 3 et s.; IDEM, Charles Eisenmann contre le Mythe de la
Séparation des Pouvoirs, in : Cahiers de Philosophie et Politique, 1985, pp. 67 e s.; ERNST VON HIPPEL,
Gewaltenteilung im modernen Staate (Divisão do Poder no Estado Moderno), BerlimMunique, 1949, pp. 7 e
s.; OTTO KÜSTER, Das Gewaltproblem im modernen Staat (O Problema do Poder no Estado Moderno),
in: Archiv des öffentlichen Rechts (Arquivo de Direito Público), Vol. LXXV, pp. 397 e s.; MARTIN
DRATH, Gewaltenteilung im heutigen Deutschen Staatsrecht (Divisão do Poder no Direito Estado Alemao
de Hoje), in: Faktoren der Machtbildung (Fatores de Formação do Poder), Vol. II, 1952, pp. 99 e s.; HANS
BRILL, Gewaltenteilung im modernen Staat (Divisão de Poderes no Estado Moderno), in :
Gewerkschaftliche Monatshefte (Cadernos Mensais Sindicais), Vol. VII, Frankfurt a.M., 1956, pp. 385 e s.;
PETER SCHNEIDER, Zur Problematik der Gewaltenteilung im Rechtsstaat der Gegenwart (Acerca da
Problemática da Divisão de Poderes no Estado de Direito da Atualidade), in : Archiv des öffentlichen Rechts
(Arquivo de Direito Público), Vol. LXXXII, 1957, pp. 21 e s.; WERNER WEBER, Die Teilung der
Gewalten als Gegenwartsproblem (A Divisão de Poderes enquanto Problema da Atualidade), in : Festschrift
für C. Schmitt (Escritos em Homenagem à C. Schmitt), 1959, pp. 255 e s.; WERNER KÄGI, Von der
klassischen Dreiteilung zur umfassenden Gewaltenteilung (Da Tripartição Clássica à Abrangente Divisão de
Poderes), in : Festschrift für H. Huber (Escritos em Homenagem à H. Huber), Bern, 1961, pp. 151 e s. Em
defesa da expressão balanceamento de poderes, vide sobretudo GEORG JELLINEK, Allgemeine
Staatslehre (Doutrina Geral do Estado) (1900), Berlim, 1920, pp. 613 e s.; IDEM, Eine Neue Theorie (Uma
Nova Teoria), in : Grünhuts Zeitschrift (Revista Grünhut), Vol. XXX, 1903, pp. 1 e s.; CARL SCHMITT,
Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), MuniqueLeipzig, 1928, pp. 183 e 184.
[9]
Cf. GEORG JELLINEK, Allgemeine Staatslehre (Doutrina Geral do Estado)(1900), Berlim, 1920,
Capítulo XVIII : As Funções do Estado, p. 612.
[10]
Cf. VLADIMIR I. LENIN, Die nächsten Aufgabe der Sowjetmacht. Die Internationale Lage der
Russischen Sowjetrepublik und die Hauptaufgaben der Sozialistischen Revolution. (A Próxima Tarefa do
Poder Soviético. A Situação Internacional da República Soviética Russa e as Principais Tarefas da Revolução
Socialista.) (Março e Abril de 1918), in : W. I. Lenin Werke (Obras de LENIN), Vol. XXVII, Berlim, 1962,
pp. 256 e 257.
[11]
Vide CARL SCHMITT, Die Diktatur. Von den Anfängen des modernen Souveranitätsgedanken bis
zum proletarischen Klassenkampf (A Ditadura. Dos Inícios do Pensamento Moderno de Soberania até a Luta
de Classes do Proletariado)(1928), Berlim, 1989, pp. 11 e s.
[12]
Acerca do tema, vide PLATON, La République ou l’Etat, in : Oeuvres Complètes, Tome Septième,
Paris, 1912, p. VII e s., ou ainda PLATON, Politeia (O Estado), in : Sämmtliche Werke (Obras Completas),
Vol. III, Hamburg, 1958, pp. 71 e s.
[13]
Sobre a obra de Platão, observou Zippelius : „Em face do povo comum, da classe possuidora mais baixa,
surgem os dois estamentos dirigentes do Estado, tal como o pastor em face do gado, tal como, mais tarde, o
clero em face dos laios. O povo deve trabalhar até o esgotamento. Ele é conduzido. Também mentiras e
engôdos são válidos para esse fim. Parece, diz Platão, „que os governantes tem de empregar muitas mentiras
e engôdos para o bem do governo“, pois tal como remédio essas coisas seriam extremamente necessárias.“
Vide REINHOLD ZIPPELIUS, Geschichte der Staatsideen (História das Idéias do Estado), Munique, 1989,
p. 24.
[14]
A esse respeito, vide PLATON, Les Lois, in : ibidem, Tome Huitième, Paris, 1913, pp. VIII e s. ou
ainda PLATON, Nomoi, in : ibidem, Vol. IV, Hamburg, pp. 11 e s. Sobre o tema em destaque, observa
Jellinek : „No primeiro sistema da filosofia póssocrática que marcou época, na doutrina de Platão, a lei
aparece como uma regra abstrata e, por isso mesmo, enrijecida, que não pode ser justa, em razão de sua
própria generalização uniforme nos preenchimentos dos casos concretos, onde deve encontrar a realidade.
Por isso, no melhor Estado não deve existir nenhuma lei vinculante. A visão filosófica do dominador, criada
a partir da idéia de justiça, é que deve encontrar para cada caso individual a norma que lhe cabe.“ Vide
GEORG JELLINEK, Gesetz und Verordnung (Lei e Regulamento), Freiburg, 1887, p. 36.
[15]
Cf. REINHOLD ZIPPELIUS, ibidem, p. 26.
[16]
Acerca do tema, vide PLATON, Politeia (O Estado), in : Sämmtliche Werke(Obras Completas), Vol. III,
Hamburg, 1958, Cap. 511.
[17]
Vide ARISTOTELES, Πολιτιχον Δ. (Política), in : Aristotelis Opera, ex. Rec. I. Bekkeri, Volumen
Alterum, Berlim, 1960, pp. 1.297 e 1.298. Vide tb. as traduções ARISTOTELES, Politik (Política), Leipzig,
1943, especialmente Cap. 14: Acerca das Três Coisas, cuja Instituição diferencia as Constituições e
condiciona o Bem do Estado : o Poder Consultivo, a Magistratura e a Justiça, pp. 150 e s., ou ainda
ARISTOTELE, La Politique, Tome I, Paris, 1962, especialmente IV14: La Partie Délibérative de l’État, IV
15: Le Pouvoir Exécutif, IV16: Les Magistrats de l’Ordre Judiciaire, p. 315 e s.
[18]
Nesse sentido, escreve Georg Jellinek : „ Tendo em conta as funções que exercem esses três elementos
da organização estatal, Aristóteles elabora uma divisão dos negócios do próprio Estado : aos sujeitos
separados devem corresponder funções separadas. Não se conclui então, indo das funções para os órgãos,
senão muito mais, inversamente, indo dos órgãos para as funções.“ Vide GEORG JELLINEK, Allgemeine
Staatslehre (Teoria Geral do Estado)(1900), 1920, Berlim, p. 596.
[19]
Acerca do tema, vide HANS KELSEN, Die hellenischmakedonische Politik und die „Politik“ des
Aristoteles (A Política HelênicoMacedônia e a „Política“ de Aristóteles), in : Aufsätze zur Ideologiekritik
(Ensaios para uma Crítica da Ideologia), NeuwiedBerlim, 1964, pp. 308 e s.
[20]
Em contraste com esse nosso posicionamento crítico, escreve Pereira Ribeiro em seu artigo :
“Aristoteles não chegou a formular uma teoria acerca da separação das funções do Estado, mas já na Grécia
Antiga, distinguiu que o governo se dividia em três partes : a que delibera acerca dos negócios públicos ; a
segunda, que exerce a magistratura ( uma espécie de função executiva) ; e a terceira é a que administra a
justiça. Estas três partes do governo discriminadas por Aristóteles guardam estreita semelhança com as
modernas funções e ou poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. A importância dada ao funcionamento
destas "três partes do governo" é semelhante ao conferido aos três poderes, modernamente, o seja, de
elemento fundante de uma sociedade politicamente organizada. Diz Aristóteles (p. 233) : "Há em todo
governo três partes nas quais o legislador sábio deve consultar o interesse e a conveniência particulares.
Quando elas são bem constituídas, o governo é forçosamente bom, e as diferenças existentes entre essas
partes constituem os vários governos(...)” Vide LÚCIO R. PEREIRA RIBEIRO, Teoria da Separação dos
Poderes, p. 233.
[21]
Cf. KARL LOEWENSTEIN, Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), Tübingen, 1975, p. 34.
[22]
Vide MARCO T. CICERO, De Re Publica, Liber Primus, in : The Loeb Classical Library, London,
1956, pp. 64 e s.
[23]
Acerca da divisão do poder do Estado na República Romana, vide sobretudo MONTESQUIEU,
Considération sur les Causes de la Grandeur des Romains et de leur Décandence, in : Oeuvres Complètes,
Paris, 1951, Vol. II, Chap. 11.; IDEM, De l’Esprit des Lois, in : ibidem, Seconde Partie, Chap. XII e s.
[24]
Acerca do tema, vide p.ex. KARL KROESCHELL, Deutsche Rechtsgeschichte (História do Direito
Alemão), Darmstadt, 1989, Vol. I : Até 1250, especialmente : Os Príncipes Imperiais e a Senhoria Fundiária,
pp. 283 e s., Vol. II : de 1250 a 1650, especialmente : Príncipes e Império na Alta Idade Média, pp. 192 e s.;
KARL A. ECKHARDT, Die Gesetze des Karolingenreiches (As Leis do Império Carolíngeo), in :
Germanengesetze (Leis Germânicas), Weimar, 1953, pp. 32 e s.
[25]
Vide MARSILIUS DI PADUA, Defensor Pacis (O Defensor da Paz)(1324), Madrid, 1989, pp. 53 e s.
[26]
Acerca do tema, vide p.ex. WILHELM BLUM & MICHAEL RUPP. Politische Philosophen
(Filósofos Políticos), München : Bayerische Landeszentrale für pol. Bildung, 1992, pp. 60 e s.
[27]
No que concerne à legislação positiva anglosaxônica do período da Idade Média Baixa, vide,
particularmente, DOMAS ÞE ÆÐELBIRHT CYNING ASETTE ON AGUSTINUS DÆGE (Leis que o
Rei Aethelbert Promulgou nos Dias de Augustinho) (601 – 604 bzw. 597 – 616), (LXXVIII), in : Leges
AngloSaxonum (601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 34.; DOMAS ĐE HLOÞHÆRE OND
EADRIC, CANTWARA CYNINGAS, ASETTON (Leis que Hlothere e Eadric, Reis de Kent,
Promulgaram) (685686), (VI), in : Leges AngloSaxonum (601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 42.;
Vgl. WIHTRÆDES DOMAS CANTWARA CYNINGES (Leis de Wihtred, Rei de Kent) (695), (XIII), in :
Leges AngloSaxonum (601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 52.; DOMAS ÐE INE CYNCG
GECEAS (Leis Promulgadas pelo Rei Ine) (688695), (XIII), in : Leges AngloSaxonum (601—925), ed. K.
A. Eckhardt (1958), S. 140.; DOMAS ÐE ÆLFRED CYNCG GECEAS (Leis Promulgadas pelo Rei
Alfred) (871900), (X.9), in : Leges AngloSaxonum (601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 60.;
DOMAS ÐE ÆLFRED CYNCG OND GUÐRUM CYNCG GECURON (Leis Promulgadas pelos Reis
Alfred e Guthrum) (921), (VII), in : Leges AngloSaxonum (601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 188.;
EADWERDES GERÆDNESSE (Resoluções de Eadward) (900 925), (B VI), in : Leges AngloSaxonum
(601—925), ed. K. A. Eckhardt (1958), S. 202.
[28]
Acerca do tema, vide PACTVS LEGIS SALICAE. Legvm Sectio I. Legvm Nationvm Germanicarvm,
Tomi IV, Pars I, (481 – 714), in : Monvmenta Germaniae Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed.
Societas Aperiendis Fontibvs Rervm Germanicarvm, Hannover : Impensis Bibliopolii Hahniani, 1957, S. 82.;
LEX RIBVARIA. Legvm Sectio I. Legvm Nationvm Germanicarvm, Tomi III, Pars II, (634764), in :
Monvmenta Germaniae Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed. Societas Aperiendis Fontibvs Rervm
Germanicarvm, Hannover : Impensis Bibliopolii Hahniani, 1956, S. 94.; LEGES ALAMANNORUM.
Legvm Sectio I. Legvm Nationvm Germanicarvm, Tomi V, Pars I, (613 – 623), in : Monvmenta Germaniae
Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed. Societas Aperiendis Fontibvs Rervm Germanicarvm Medii
Aevi, Hannover : Impensis Bibliopolii Hahniani, 1888, S. 22.; LEX FRISIONUM. Legvm Sectio XII.
Fontes Iuris Germanici Antiqui in Usum Scholarum Separatim Editi, (802 – 890) in : Monvmenta Germaniae
Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed. Karl. A. Eckhardt und Albrecht Eckhardt, Hannover :
Hahnsche Buchhandlung, 1982, S. 46.; CONCILIA AEVI KAROLINI. Legvm Sectio III. Concilia, Tomi
II, Pars I, (796 – 829), in : Monvmenta Germaniae Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed. Societas.;
CAPITVLARIA REGVM FRANCORVM. Legvm Sectio II. Capitvlaria Regvm Francorvm, Tomvs I, (803
– 850), in : Monvmenta Germaniae Historica. Leges Nationvm Germanicarum, ed. Societas Aperiendis
Fontibvs Rerum Germanicarvm Medii Aevi, Hannover : Hahnsche Buchhandlung, 1883, S. 122 u. 124.
[29]
Acerca do tema, vide vide p.ex. WILHELM BLUM & MICHAEL RUPP. Politische Philosophen
(Filósofos Políticos), München : Bayerische Landeszentrale für pol. Bildung, 1992, pp. 76 e s.
[30]
A respeito do tema, BERNARD HAMILTON. The Medieval Inquisition (A Inquisição Medieval),
New York: Holmes & Meier, 1981, pp. 3 e s.
[31]
Vide JOHN A. O'BRIEN. The Inquisition (A Inquisição), New York: Macmillan; London: Collier
Macmillan, 1973, pp. 11 e s.
[32]
Vide EDWARD PETERS, Inquisition (A Inquisição), New York: Free Press; London: Collier
Macmillan, 1988, pp. 13 e s.
[33]
Acerca do tema, vide JOHN TEDESCHI, The Prosecution of Heresy: Collected Studies on the
Inquisition in Early Modern Italy (O Processamento da Heresia : Estudos Selectos sobre a Inquisição na
Alvorada da Itália Moderna), Binghamton, NY: Center for Medieval and Early Renaissance Studies, 1991,
pp. 3 e s.
[34]
Vide FRIEDRICH ENGELS, Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staates (A
Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado) (Maio 1884), in : Marx und Engels Werke (Obras de
Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XXI, pp. 167 e s.
[35]
Vide JEAN BODIN ANGEVIN, Les Six Livres de la République(1576), in : Corpus des Oeuvres de
Philosophie en Langue Française, Lyon, 1986, especialmente Chap. X : Des Vrayes de Souveraineté, pp. 295
e s.
[36]
Vide THOMAS HOBBES OF MALMESBURY, Leviathan : or Matter, Form and Power of a
Commonwealth, Ecclesiastical and Civil (Leviathan : ou Matéria, Forma e Poder Eclesiástico e Civil do
Estado)(1651), Vol. III, London, 1966, especialmente Ch. XVIII : Of the Rights of Sovereigns by Institution
(Dos Direitos dos Soberanos por Instituição), pp. 159 e s.
[37]
Vide IDEM, ibidem, pp. 165 e s.
[38]
Acerca do tema, vide CARL SCHMITT, Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), Munique
Leipzig, 1928, pp. 183 e s.; HEINE O. BRAUN, Politische Philosophie (Filosofia Política), Hamburg, 1991,
pp. 130 e s.; REINHOLD ZIPPELIUS, Geschichte der Staatsideen (História das Idéias do Estado),
Munique, 1989, p. 83.
[39]
O conceito de lei surgido com a moderna doutrina burguesa inglesa do Estado continha uma noção mais
rigorosa do que a lei positiva de conteúdo plenamente volitivo, característica dos Estados capitalistas
imperialistas do século XIX e XX. Nesse sentido, vide FRIEDRICH v.d. HEYDTE, Einführung in Vom
Geist der Gesetze (Introdução ao Espírito das Leis), Berlim, 1950, p. 29.
[40]
A esse respeito, vide KARL MARX, Kritik des Gothaer Programms (Crítica do Programa de Gotha), in
: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XXIX, pp. 28 e s.
[41]
Vide E. KLIMOWSKY, Die englische Gewaltenteilungslehre bis Montesquieu (A Doutrina da Divisão
dos Poderes até Montesquieu), BerlimLeipzig, 1927, pp. 7 e s.; FRIEDRICH v.d. HEYDTE, ibidem, pp.
26 e s.
[42]
Nesse sentido, vide KARL MARX, Zur Judenfrage (Acerca da Questão Judía) (184344), in: Marx und
Engels Werke. Gesamtausgabe MEGA (Obras de Marx e Engels: Edição Completa MEGA), Berlim, 1982,
Vol. II, p. 158. Nesse sítio, Karl Marx sublinha : „O Direito do homem de propriedade privada é, portanto, o
Direito de gozar de seu partrimônio e dele dispor, arbitrariamente (à son gré), sem relacionarse com outros
homens, independentemente da sociedade, é o Direito do próprio uso. Tanto aquela liberdade individual
como essa aplicação do uso da mesma constituem os fundamentos da sociedade burguesa. Ela permite a todo
homem encontrar em outro homem não a concretização, porém muito mais o limite de sua liberdade. Ela
proclama, sobretudo, porém o Direito do homem „de jouir et de disposer à son gré de ses biens, de ses
revenus, du fruit de son travail et de son industrie “(de gozar et de dispor a seu grado de seus bens, de seus
rendimentos, do fruto de seu trabalho e de sua indústria).
[43]
Vide JEAN A. MAUROIS, Histoire de l’Angleterre, Paris, Tome V, 1962, pp. 167 e s.
[44]
Vide CARL SCHMITT, Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), MuniqueLeipzig, 1928, pp. 183 e
s.; IDEM, Die Diktatur. Von den Anfängen des modernen Souveranitätsgedanken bis zum proletarischen
Klassenkampf (A Ditadura. Dos Inícios do Pensamento Moderno de Soberania até a Luta de Classes do
Proletariado)(1928), Berlim, 1989, pp. 103 e s.; FRIEDRICH v.d. HEYDTE, ibidem, p. 27. De modo
nitidamente superficial e sem a precisa percepção da essência da problemática do balanceamento de poderes
que perpassou o constitucionalismo burguês britânico do século XVII e XVIII, vide EROS R. GRAU, O
Direito Posto e o Direito Pressuposto, Sao Paulo, 1996, pp. 168 e s.
[45]
Cf. GEORG JELLINEK, Gesetz und Verodnung (Lei e Regulamento), Freiburg, 1887, pp. 48 e s.
[46]
Vide JOHN LOCKE, The Second Treatise of Government. An Essay Concerning the True Original
Extent, and End of Civil Governement (O Segundo Tratado do Governo. Um Ensaio sobre a Verdadeira
Extensão Original e o Fim do Governo Civil) (1690), in : Two Treatises of Government of John Locke,
Cambridge, 1967, §§ 134 e s.
[47]
Vide IDEM, ibidem, §§ 159, 160, 162.
[48]
Cf. FRIEDRICH ENGELS, Die Lage Englands (A Situação da Inglaterra), especialmente II: Die
Englische Konstitution (II: A Constituição Inglesa), in : Marx & Engels Werke (Obras de Marx & Engels),
Vol. I, Berlim, 1961, p. 572.
[49]
Nesse sentido, vide HENRY ST. JOHN, VISCOUNT OF BOLINBROKE, The Idea of a Patriot King
(A Idéia de um Rei Patriótico)(1738), in: FRIEDRICH v.d. HEYDTE, Einführung in Vom Geist der Gesetze
(Introdução ao Espírito das Leis), Berlim, 1950, pp. 15 e s.
[50]
Cf. FRIEDRICH ENGELS, Die Lage Englands (A Situaçao da Inglaterra), especialmente II: Die
Englische Konstitution (II: A Constituiçao Inglesa), in : Marx & Engels Werke (Obras de Marx & Engels),
Vol. I, Berlim, 1961, p. 572 e 573.
[51]
No momento da independência dos EUA, adquirida em 1776, os representantes da burguesia norte
americana inspiraramse no sistema da divisão dos poderes existente na Inglaterra no início do século XVIII,
contido em linhas gerais na Bill of Rigths, baseandose para tanto na leitura dos textos de Locke e de
Montesquieu. Nesse quadro, o Rei Britânico, dirigente dos Poderes Executivo, Federativo e de Pregorrativa,
irresponsável perante o Parlamento, haveria de ser substituído por um Presidente de Estado, eleito
exclusivamente com base no sufrágio universal dos cidadãos da nova República Escravista dos EUA, com
vistas a encabeçar essa nova versão norteamericana de Poder Executivo. Esse Poder Executivo não deteria,
entretanto, a prerrogativa de promover a dissoluçao do Poder Legislativo que o deveria, teoricamente,
contrabalançar. Por outro lado, o Parlamento Inglês, detendo em suas mãos o Poder Legislativo, haveria de
ser substituído por um Congresso Nacional, composto por duas Câmaras, desprovido, entretanto, da
atribuição de promover a destituição do Presidente da República. Nesse contexto, a Declaração dos Direitos
de Vrigínia, de 1776, estabeleceu, em seu § 5°, que os Poderes Legislativo e Executivo de Estado deveriam
ser separados e distintos do Poder Judiciário. A dinâmica da dominação política da burguesia dos EUA
confirmou, a seguir, um gradual fortalecimento do Poder Executivo Presidencial, bem como o crescimento
do aparelho burocráticoadministrativo colocado sob sua representação política, ao mesmo tempo em que
consolidou, rapidamente, a estruturação do Poder Judiciário enquanto burocracia estatal de juízes guardiães
da Constituição, já a partir de 1803. Acerca do tema, vide THE CONSTITUTION OF THE UNITED
STATES OF AMERICA FROM MARCH 4, 1789, Articles I e s., New York, 1969, pp. 97 e s.;
PHILIPPE GEORGES, Organisation Constitutionnelle et Administrative de la France, Paris, 1988, p. 22.;
CARL SCHMITT, Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), MuniqueLeipzig, 1928, pp. 185 et s.;
DAVID P. CURRIE, Die Verfassung der Vereinigten Staaten von Amerika (A Constituiçao dos EUA),
Frankfurt am Main, 1988, pp. 20 e s.
[52]
Vide MONTESQUIEU, De l’Esprit des Lois(1748), in Oeuvres Complètes, Paris, 1951, especialmente
Seconde Partie, Liv. IX, Chap. VI, pp. 396 e s.
[53]
Acerca do tema, vide FRIEDRICH ENGELS & KARL KAUTSKY, Juristensozialismus (O
Socialismo dos Juristas)(1887), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Vol. XXI, Berlim,
1961, p. 492.
[54]
Cf. KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS, Die Deutsche Ideologia (A Ideologia Alemã) (1845
1846), in : ibidem, Vol. III, p. 46.
[55]
Segundo Montesquieu : „ Il y a dans chaque Etat trois sortes de pouvoirs : la puissance législative, la
puissance exécutrice des choses qui dépendent du droit de gens, et la puissance exécutrice de celles qui
dépendent du droit civil. Par la première, le prince ou le magistrat fait des lois pour un temps ou pour
toujours, et corrige ou abroge celles qui sont faites. Par la seconde, il fait la paix ou la guerre, envoie ou
reçoit des ambassades, établit la sûreté, prévient les invasions. Par la troisième, il punit les crimes, ou juge les
différends des particuliers. On appellera cette dernière la puissance de juger, et l’autre simplement la
puissance exécutrice de l’Etat.“ Vide MONTESQUIEU, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, pp. 396
e 397.
[56]
Vide IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, pp. 401 e 402.
[57]
Vide IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, pp. 400 e 401.
[58]
Vide IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 403.
[59]
Vide IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 405.
[60]
Vide IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 398.
[61]
Cf. IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 397.
[62]
Cf. IDEM, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 398.
[63]
Cf. MAURICE HAURIOU, Principes de Droit Public, Paris, 1916, p. 38.
[64]
Cf. ERNST FORSTHOFF, Einführung in Montesquieus Vom Geist der Gesetze (Introdução ao
Espírito das Leis de Montesquieu), Vol. I, Tübingen, 1951, p. XXXI.
[65]
Vide MONTESQUIEU, ibidem, Seconde Partie, Liv. XI, Chap. VI, p. 404.
[66]
Acerca do tema, vide KARL MARX, Zur Judenfrage (Sobre a Questao Judía)(184344), in: Marx und
Engels Werke Gesamtausgabe MEGA (Obras de Marx e Engels. Ediçao Completa MEGA), Berlim, 1982,
Vol. II, pp. 158 e s.
[67]
Apud WERNER WEBER, Die Teilung der Gewalten als Gegenwartsproblem (A Divisão dos Poderes
enquanto Problema da Atualidade), in : Festschrift für C. Schmitt (Escritos de Homenagem à Carl Schmitt),
Berlim, 1959, p. 254.
[68]
Cf. JEANJACQUES ROUSSEAU, Du Contrat Social ou Principes du Droit Politique(1756), Paris,
1946, pp. 69 e 70.
[69]
Cf. IDEM, ibidem, p. 122.
[70]
Cf. MAXIMILIAN ROBESPIERRE, La Terreur et la Vertu, apud : Itinéraire d’un Tyran, in :
L’Histoire. Revue Mensuelle, Nr. 177, Mai 1994, Paris, p. 38.
[71]
Cf. KARL MARX, Der Achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte (O 18 Brumário de Napoleao
Bonaparte), in: Marx und Engels Werke (Obras de Marx & Engels), Berlim, 1961, Vol. VIII, pp. 196 e 197.
[72]
Cf. KARL KROESCHELL, Deutsche Rechtsgeschichte (História do Direito Alemao), Vol. III : Desde
1650, Darmstadt, 1993, especialmente : A Reforma da Administraçao da Justiça, pp. 163.
[73]
Acerca do tema, vide WERNER KÄGI, Zur Entstehung, Wandlung und Problematik des
Gewaltenteilungsprinzips (Acerca do Surgimento, Transformação e Problemática do Princípio da Divisão
dos Poderes), Zürich, 1937, p. 45.; MARTIN DRATH, Die Gewaltenteilung im heutigen Staatsrecht (A
Divisão dos Poderes no Direito do Estado Atual), in: Faktoren der Machtbildung (Fatores da Formaçao do
Poder), Vol. II, 1952, pp. 57 e s.; OTTO KÜSTER, Das Gewaltproblem im heutigen Staatsrecht (O
Problema do Poder no Direito do Estado de Hoje), in : Archiv des öffentlichen Rechts (Arquivo de Direito
Público), Vol. LXXV, p. 406.; CARL SCHMITT, Verfassungslehre (Doutrina Constitucional), Munique
Leipzig, 1928, pp. 185 e s.
[74]
Nesse sentido, ERICH KAUFMANN, Verwaltungsrecht (Direito Administrativo), in : Stengel
Fleischmanns Wörterbuch des Staats und Verwaltunsrechts (Dicionário StengelFleischmann de Direito do
Estado e da Administração), Vol. III, §5°, pp. 692 e s.
[75]
Vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi
Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do
Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. II.2 : O Balanço de uma Revolução,
pp. 27 e s.
[76]
Acerca do tema, vide KARL KROESCHELL, Deutsche Rechtsgeschichte (História do Direito
Alemão), Vol. III : Desde 1650, Darmstadt, 1993, especialmente : A Reforma da Administração da Justiça,
pp. 163 e s.; EMMERICH KERN, Geschichte des Gerichtsverfassungsrechts (História do Direito
Constitucional dos Tribunais), BerlimMunique, 1954, pp. 55 e s.
[77]
Com efeito, John Marshall é considerado o Great Chief Justice de todos os tempos da Supreme Court,
precisamente porque retiroua de uma posição esquálida e anômala no quadro do sistema de dominação
política da burguesia ascendente norteamericana, consolidandoa no exercício de sua função jurisidicional
em face dos Poderes Executivo e Legislativo, comandados então pela orientação política pequenoburguesa
revolucionária de Thomas Jefferson e dos jeffersonianos. Com Marshall surgiu, precocemente, nos EUA a
concepção burguesaburocrática conservadora correspondente aos interesses da grande burguesia norte
americana , de que o Poder Judiciário deve modelar a Constituição do Estado com a inteligência e a
respiração de sua atividade hermenêutica, defendendo a unidade nacional, bem como as garantias de
propriedade privada capitalista e segurança burguesa. Marshall defendeu, pela primeira vez na história, a
legitimidade constitucional da função do Poder Judiciário de controlar leis federais e estaduais, pronunciando
um julgamento final acerca de sua constitucionalidade. Os principais posicionamentos teóricos de Marshall
acerca da nova função de controle de constitucionalidade do Poder Judiciário podem ser encontrados,
sobretudo, nas célebres decisões da Supreme Court denominadas Marbury v. Madison, de 1803, e
McCulloch v. Maryland, de 1818. Por outro lado, o Presidente Thomas Jefferson e os jeffersonianos foram
os grandes antagonistas da Judicial Review e do que denominavam Judicial Despotism, na medida em que
acreditavam violar esse procedimento de controle de constitucionalidade o próprio princípio da divisão dos
poderes, em razão da intromissão ilegitíma do Poder Judiciário no domínio do Legislativo e do Executivo.
Os jeffersonianos propunham, com efeito, que cada um dos Poderes decidisse suas questões constitucionais
por si mesmo, sendo responsável por elas exclusivamente perante os eleitores. Vide acerca do tema
THOMAS JEFFERSON, The Writings of Thomas Jefferson, New York, 19031904, Vols. XIV, p. 303, XV,
p. 212, 277 e 451, XVI, p. 47 e 114.; ROBERT L. CLINTON, Marbury v. Madison and Judicial Review,
New York, 1989, p. 3 e s.; U.S. SUPREME COURT, Members of the Supreme Court of the United States,
New York, 1993, pp. 11 e s.
[78]
Acerca do tema, vide HENRY J. ABRAHAM, The Judicial Process, OxfordCambridge, 1993, pp. 358
e s.; DAVID P. CURRIE, Die Verfassung der Vereinigten Staaten von Amerika (A Constituiçao dos EUA),
Frankfurt am Main, 1988, pp. 20 e s.
[79]
Vide CARL SCHMITT, Das Reichsgericht als Hüter der Verfassung (O Tribunal do Império enquanto
Guardião da Constituição) in : Verfassungsrechtliche Aufsätze aus den Jahren 19241954, Berlim, 1958, pp.
63 e s.; tb. ERNST v. HIPPEL, Das richterliche Prüfungsrecht (O Direito de Prova Judiciário), in :
Handbuch des Staatsrechts (Manual de Direito do Estado), 1932, pp. 546 e s.
[80]
Acerca do tema, vide FRITZ HARTUNG, Deutsche Verfassungsgeschichte vom 15. Jahrhundert bis
zur Gegenwart (História Constitucional Alemã do Século XV até o Presente), Stuttgart, 1950, especialmente
§ 62 : Die Entwicklung der Reichsverfassung von 1919 bis 1933 (O Desenvolvimento da Constituição
Imperial de 1919 a 1933), pp. 329 e s.; ERNST RUDOLF HUBER, Reichsgewalt und Staatsgerichtshof
(Poder Imperial e Corte do Tribunal do Estado), BerlimMunique, 1932, especialmente Dokumentarischer
Bericht über den Prozeß contra Reich vor dem Staatsgerichtshof (Relatório Documentário sobre o Processo
contra o Império diante da Corte do Tribunal do Estado), pp. 5 e s.
[81]
Esse aspecto jurídico deve ser considerado, em primeiro lugar, desde uma perspectiva histórica, tendo
em conta a grande resistência dos juízes norteamericanos da Supreme Court em face das políticas públicas
socialintervencionistas, impulsionadas pelo governo burguês de Franklin D. Roosevelt como forma de
remediar os efeitos catastróficos da Grande Depressão de 1929. A maioria conservadora da Supreme Court,
comandada pelo Chief of Justice Charles Evans Hughes, votava, com efeito, sistematicamente, contra as
políticas contidas no New Deal, opondose até mesmo aos votos bem fundamentados de Harlan Fiske Stone.
Stone, entre 1941 e 1946, emergindo, então, como o sucessor rooseveltniano de Hughes, na qualidade agora
de Chief Justice da Supreme Court, nada mais logrou senão formar uma minoria vigorosa de apoio ao
Estado SocialIntervencionista Burguês, comandado por Roosevelt. Acerca do tema, vide U.S. SUPREME
COURT, Members of the Supreme Court of the United States, New York, 1993, pp. 11 e s.
[82]
Vide CARL SCHMITT, Der Hüter der Verfassung (O Guardião da Constituição), Tübingen, 1931, pp.
114 e s.; IDEM, Der Hüter der Verfassung (O Guardião da Constituição) (1929), in: Archiv des öffentlichen
Rechts (Arquivo de Direito Público), Vol. LV, Caderno 2, pp. 160 e s.; IDEM, Das Reichsgericht als Hüter
der Verfassung (O Tribunal do Império enquanto Guardião da Constituição) (1929), in :
Verfassungsrechtliche Aufsätze aus den Jahren 19241954, Berlim, 1958, pp. 63 e s.
[83]
Nesse sentido, vide indícios dessa temática em ADOLF ARNDT, Das Bild des Richters (A Imagem do
Juiz), Karlsruhe, 1957, pp. 8 e s.
[84]
Escrevendo sobre tema com os óculos da ideologia jurídicoburguesa, vide JUTTA LIMBACH, Das
Bundesverfassungsgericht als politischer Machtfaktor (O Tribunal Constitucional Federal enquanto Fator
Político de Poder), in : Immatrikulationsfeier der HumboldtUniversität zu Berlim (Festa de Matrículas da
Universidade Humbolt de Berlim), Berlim, 1995, pp. 1 e s.; KONRAD HESSE, Verfassungsrechtsprechung
im geschichtlichen Wandel (Jurisprudência Constitucional em Mudança Histórica), in: Juristische Zeitung
(Jornal Jurídico), 1995, pp. 265 e s.; CHRISTOPH GUSY, Das Bundesverfassungsgericht als politischer
Faktor (O Tribunal Constitucional Federal como Fator Político) in : Europäische Gerichtsrechtzeitung (Jornal
do Direito dos Tribunais Europeus), 1982, pp. 93 e s.; PETER HÄBERLE, Verfassungsgerichtsbarkeit
zwischen Politik und Rechtswissenschaft (Justicialidade Constitucional entre Política e Ciência Jurídica),
Königstein, 1980, p. 59.; GERHARDT LEIBHOLZ, Der Status des Bundesverfassungsgerichts (O Status
do Tribunal Constitucional Federal), in : Das Bundesverfassungsgericht 19511971, Karlsruhe, 1971, p. 32.
[85]
Vide HANSJOCHEN VOGEL, Gewaltenvermischung statt Gewaltenteilung (Intromissão de Poderes
ao invés de Divisão dos Poderes), in : Neue Juristische Woche (Nova Revista Jurídica), 1996, pp. 1.505 e s.;
THOMAS ELLWEIN, Der überforderte Staat (O Estado Sobrecarregado), BadenBaden, 1994, p. 135.; LE
MONDE, Le Secret de la Puissance Allemande, 23 de Março de 1995, p. 20.
[86]
Vide FRIEDRICH ENGELS, Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staates (A
Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e
Engels) (Maio 1884), Berlim, 1962, Vol. XXI, pp. 165 e s.
[87]
Nesse sentido, vide particularmente VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie
Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo
sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. I.1 : A
Sociedade de Classes e o Estado – O Estado, Produto do Antagonismo Inconciliável entre as Classes, pp. 5 et
s.
[88]
Vide FRIEDRICH ENGELS, ibidem, pp. 166 e s.
[89]
Vide IDEM, AntiDühring. Herrn Eugen Dühring’s Umwälzung der Wissenschaft (AntiDühring. A
Subversão da Ciência do Sr. Eugênio Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XX, pp. 261 e s.
[90]
Cf. IDEM, Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staates (A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado) (Maio 1884), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels),
Berlim, 1962, Vol. XXI, pp. 165 e s.
ibidem, p. 167.
[91]
Vide IDEM, ibidem, p. 168.
[92]
Nesse sentido, vide precisamente KARL MARX, Brief an L. Kugelmann (Carta à L. Kugelmann) (12
de Abril de 1871), in: ibidem, Vol. XXXIII, p. 205.; FRIEDRICH ENGELS, AntiDühring. Herrn Eugen
Dühring’s Umwälzung der Wissenschaft (AntiDühring. A Subversão da Ciência do Sr. Eugênio Dühring)
(Setembro 1876 – Junho 1878), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol.
XX, p. 171.; VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i
Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas
do Proletariado na Revolução) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. I.4 : A Sociedade de Classes e o
Estado A „Extinção“ do Estado e a Revolução Violenta, pp. 16 e s.
[93]
Vide KARL MARX, Kritik des Gothaer Programms (Crítica do Programa de Gotha), in : ibidem, Vol.
XXIX, pp. 28 e s.; VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap. 5.2 : Os Fundamentos Econômicos
da Extinção do Estado – Transição do Capitalismo ao Comunismo, pp. 87 e s.
[94]
Vide KARL MARX, ibidem, p. 30. Vide ainda VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap.
5.3. : Os Fundamentos Econômicos da Extinção do Estado – A Primeira Fase da Sociedade Comunista. No
mesmo sentido, FRIEDRICH ENGELS, Zur Wohnungsfrage (Acerca da Questão Habitacional), in: ibidem,
Vol. XXVIII, pp. 226 e 227.
[95]
Vide KARL MARX, ibidem, p. 31. Vide ainda VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap.
5.4. : Os Fundamentos Econômicos da Extinção do Estado – A Fase Superior da Sociedade Comunista.
[96]
Vide KARL MARX, Der politische Indifferentismus (O Indiferentismo Político)(Dezembro de 1873),
in: ibidem, Vol. XXXVIII, pp. 299 e s.; FRIEDRICH ENGELS, Von der Autorität (Sobre a Autoridade)
(Dezembro de 1873), in : ibidem, Vol. XXXVIII, pp. 305 e s.
[97]
Vide FRIEDRICH ENGELS, AntiDühring. Herrn Eugen Dühring‘s Umwälzung der Wissenschaft
(AntiDühring. A Subversao da Ciência do Sr. Eugênio Dühring) (Setembro 1876 – Junho 1878), in : Marx
und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XX, p. 171.
[98]
Vide KARL MARX, Das Elend der Philosophie (A Miséria da Filosofia), in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. IV, pp. 63 e s.
[99]
Vide KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS, Manifest der Kommunistischen Partei (Manifesto do
Partido Comunista), in : ibidem, Vol. IV, pp. 473 e s.
[100]
Vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi
Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do
Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. II.I : O Estado e A Revolução. A
Experiência de 18481851 As Vésperas da Revolução, pp. 23 e s.
[101]
Vide KARL MARX, Der Achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte (O 18 Brumário de Luís
Bonaparte, in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. VIII, pp. 196 e s.
[102]
Vide VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap. II.2 : O Estado e A Revolução. A
Experiência de 18481851 O Balanço de uma Revolução, pp. 27 e s.
[103]
Vide KARL MARX, Brief an J. Weydemeyer (Carta à J. Weydemeyer), in : Marx und Engels Werke
(Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XXVIII, pp. 507 e 508.
[104]
Vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi
Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do
Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. II.2 : O Estado e A Revolução. A
Experiência de 18481851 O Balanço de uma Revolução, pp. 35 e s.
[105]
Vide KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS, Vorwort zum Manifest der Kommunistischen Partei
– Deutsche Ausgabe 1872, Leipzig (Prefácio ao Manifesto do Partido Comunista. Edição Alemã de 1872,
Leipzig), in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XVIII, pp. 92 e s.
[106]
Vide KARL MARX, Brief an L. Kugelmann (Carta à L. Kugelmann)(12 de Abril de 1871), in: ibidem,
Vol. XXXIII, p. 205.
[107]
Vide IDEM, Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França), in : ibidem, Vol. XVII, pp. 336
e s.
[108]
Vide IDEM, ibidem, pp. 337.
[109]
Vide KARL MARX & FRIEDRICH ENGELS, Die Partei und die Internationale (O Partido e a
Internacional) (5 de Maio de 1875), in : ibidem, Vol. XIX, pp. 6 e 7.
[110]
Vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi
Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do
Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. III. 2: O Estado e a Revoluçao. A
Experiência da Comuna de Paris(1871). A Análise de Marx – Com o que Substituir a Máquina Estatal
Despedaçada ?, pp. 40 e s.
[111]
Vide KARL MARX, Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França), in : ibidem, Vol.
XVII, pp. 336 e 337.
[112]
Vide IDEM, ibidem, p. 338 e 339. Vide ainda FRIEDRICH ENGELS, Kritik des Erfurter Programms
(Crítica ao Programa de Erfurt)(1891), in: ibidem, Vol. XXII, pp. 225 e s.
[113]
Nesse sentido, vide precisamente VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie
Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolucao. A Doutrina do Marxismo
sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revoluçao) (1917), Moscou, 1989, especialmente Cap. III.3 :
O Estado e a Revolução. A Experiência da Comuna de Paris(1871). A Análise de Marx – A Supressão do
Parlamentarismo, pp. 45 e s.
[114]
Cf. KARL MARX, Der Bürgerkrieg in Frankreich (A Guerra Civil na França), in : ibidem, Vol. XVII,
p. 341.
[115]
Vide VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap. II.2 : O Estado e A Revolução. A
Experiência de 18481851 O Balanço de uma Revolução, pp. 27 e s.
[116]
Vide VLADIMIR I. LENIN, ibidem, especialmente Cap. III.1 : O Estado e a Revolução. A
Experiência da Comuna de Paris(1871). A Análise de Marx – Em que consiste o Heroísmo da Tentativa dos
Communards, pp. 36 e s.
[117]
Acerca do tema, vide as observaçoes de LEON TROTSKY, Predanaia Revoliutsia (A Revolução
Traída) (1936), especialmente Ch. 3.1. Capitalismo e Estado – O Regime de Transição, Moscou, 1991, pp.
39 e s.
[118]
Acerca ao tema, vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o
Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o
Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917), especialmente 5.3. Economitcheskie Osnovy
Otmirania Gosudarstva – Piervaia Faza Komunistitcheskovo Obschchestva (Os Fundamentos Econômicos da
Extinção do Estado – Primeira Fase da Sociedade Comunista), Moscou, 1989, pp. 92 e s.; KARL MARX,
Kritik des Gothaer Programms, in : Marx und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol.
XIX, pp. 31 e s. Sobre o estágio relativamente atrasado do capitalismo russo, vide, p. ex., LÉON
TROTSKY, Permanent Revolution & Results and Prospects (1906/1930), especialmente Ch. I. The
Peculiarities of Russian Historical Development (As Peculiaridades do Desenvolvimento Histórico Russo),
London, 1931, pp. 5 e s.; IDEM, Predanaia Revoliutsia (A Revoluçao Traída) (1936), Ch. 3.4. Capitalismo e
Estado – „Escassez Generalizada e Polícia, pp. 45 e s.
[119]
Vide VLADIMIR I. LENIN, ibidem, Cap. III.3 : O Estado e a Revolução. A Experiência da Comuna
de Paris(1871). A Análise de Marx – A Supressão do Parlamentarismo, pp. 50 e s.
[120]
Vide IDEM, ibidem, Cap. III.2 : O Estado e a Revolução. A Experiência da Comuna de Paris(1871). A
Análise de Marx – Com o que Substituir a Máquina Estatal Despedaçada ?, pp. 42 e 43.
[121]
LEON TROTSKY, Predanaia Revoliutsia (A Revoluçao Traída) (1936), especialmente Ch. 3.2.
Capitalismo e Estado – Programa e Realidade, Moscou, 1991, pp. 41 e s.
[122]
Cf. PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo) (1918), in : 13 Let Borbyi za
RevoliutsionnoMarksistskyiu Teoriu Prava (13 Anos de Luta pela Teoria do Direito Revolucionária
Marxista), Moscou, 1931, Cap. II : Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição
do Direito e do Tribunal Burgueses), p. 7.
[123]
Cf. IDEM, ibidem, pp. 13 e 14.
[124]
Algumas modificações posteriores desse ato normativo, de caráter essencialmente suplementar,
surgiram, então, com o Decreto Nr. 2, de 7 de março de 1919, o Decreto Nr. 3, de 20 de julho de de 1918, e,
a seguir, como o Regulamento do Tribunal Popular da República Soviética da Federação Socialista Russa,
de 30 de novembro de 1918. Acerca do tema, vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal)
(Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917),
in: Piotr Stutchka, 13 Let Borbyi za RevoliutsionnoMarksistskyiu Teoriu Prava – Prilojenia (13 Anos de
Luta pela Teoria do Direito Revolucionária Marxista – Apêndice), Moscou, 1931, pp. 229 e s.
[125]
Cf. ibidem, Stat. 1°, p. 229.
[126]
Acerca do tema, vide PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in :
ibidem, Cap. II : Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição do Direito e do
Tribunal Burgueses), pp. 7 e s.
[127]
Cf. IDEM, ibidem, p. 13.
[128]
Vide IDEM, ibidem, p. 13.
[129]
Vide IDEM, ibidem, p. 8.
[130]
Vide IDEM, ibidem, p. 9. Vide ainda DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no
Nr. 17 da Gazeta do Governo Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem,
Stat. 2, p. 229.
[131]
Vide PIOTR I. STUTCHKA, ibidem, p. 12.
[132]
Vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo
Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem, Stat. 2, p. 229.
[133]
Vide ibidem, Stat. 2, p. 229.
[134]
Vide PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in : ibidem, Cap. II :
Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição do Direito e do Tribunal Burgueses),
p. 13.
[135]
Vide IDEM, ibidem, p. 12. Vide tb. VLADIMIR I. LENIN, Brief an D. I. Kurski (Carta à D. I.
Kurski), in : W. I. Lenin Weke (Obras de V.I. Lenin), Vol. XXXVI (19001923), p. 508.
[136]
Vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo
Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem, Stat. 2, p. 229.
[137]
Vide, ibidem, Stat. 3, p. 229.
[138]
Vide PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in : ibidem, Cap. II :
Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição do Direito e do Tribunal Burgueses),
p. 14.
[139]
Vide IDEM, ibidem, p. 14.
[140]
Vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo
Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem, Stat. 3, p. 229.
[141]
Vide PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in : ibidem, Cap. II :
Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruiçao do Direito e do Tribunal Burgueses),
p. 9.
[142]
Vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo
Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem, Stat. 8, p. 230.
[143]
Vide ibidem, Stat. 4, p. 230.
[144]
Vide PIOTR STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in : ibidem, Cap. II :
Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição do Direito e do Tribunal Burgueses),
pp. 11 e 14. Vide ainda acerca dos Tribunais Revolucionários dos Operários e Camponeses, VLADIMIR I.
LENIN, Zum Dekret über die Revolutionstribunale (Acerca do Decreto dos Tribunais Revolucionários) (30
de Março de 1918), in : W. I. Lenin Weke (Obras de V.I. Lenin), Vol. XXVII (De Fevereiro à Julho de 1918),
p. 209.; IDEM, Entwurf eines Beschlusses des Rats der Volkskomissare (Projeto de Resolução do Conselho
dos Comissários do Povo), (Março de 1918), in : ibidem, p. 210.; IDEM, Brief an D. I. Kurski (Carta à D. I.
Kurski) (8 de Maio de 1918), in ibidem, Vol. XXXV (De Fevereiro de 1912 à Dezembro de 1922), p. 309.
[145]
Vide DEKRET O SUDE (Decreto sobre o Tribunal) (Publicado no Nr. 17 da Gazeta do Governo
Operário e Camponês Provisório de 24 de Novembro de 1917), in: ibidem, Stat. 5. p. 230. Acerca do
significado particular da consciência revolucionária do Direito na obra de Stutchka, vide nossa traduçao de
PIOTR STUTCHKA, O Problema do Direito de Classe e da Justiça de Classe(1922), Sao PauloMunique
Rio de Janeiro, 1999, especialmente : A Revoluçao Proletária e a Lei Burguesa, pp. 23 e s., A Consciência
Revolucionária do Direito, pp. 25 e s. Vide tb. IDEM, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in
: ibidem, Cap. II : Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruiçao do Direito e do
Tribunal Burgueses), p. 11.
[146]
Cf. ibidem, Stat. 5, p. 230. Acerca desse ponto, observou Stutchka precisamente : „ Essa idéia não é
minha, porém consideroa tanto mais correta que cuidarei de defendêla contra todos os seus críticos. Como
já escrevi diversas vezes, essa fórmula pertence a V. I. Lenin. Devese recordar que, nessa época,
participavam do governo também os sociaisrevolucionários de esquerda. Aparentemente, a mais
significativa de todas essas críticas foi a de que entre os programas de ambos esses partidos subsistiam
desacordos, exemplificativamente quanto à questão acerca da nacionalização ou socialização da terra.
Segundo Lenin, „enquanto nós permanecermos no quadro da produção mercantil e do capitalismo, a abolição
da propriedade da terra representa uma nacionalização da terra. A palavra „socialização“ expressa apenas
uma tendência, um desejo, de preparação da transição ao socialismo (Lenin, Out. 1918, Vol XV, p. 519).“ (...)
Para além desse desacordo, existem suficientes pontos de convergência que conferem à codificaçao
(compêndio) do Direito revolucionário suficientes indicações para a aniquilação de volumes inteiros de
antigas leis e a sua substituição por um novo Direito escrito ou apenas interior à consciência. Tomese como
exemplo a abolição dos estamentos, a elegibilidade dos juízes, a separação da Igreja do Estado, a plena
liberdade de consciência, a jornada de trabalho de oito horas, a confiscação das terras dos proprietários
fundiários etc. Essas reinvindicações do programa mínimo possuem ou não significado jurídico determinado
?“ Vide IDEM, ibidem, p. 11.
[147]
Cf. VLADIMIR I. LENIN, V. Gesamtrussischer Kongress der Sowjets der Arbeiter, Bauern,
Soldaten und Rotarmistendeputierten (V. Congresso dos Soviets de Deputados Operários, Soldados,
Camponeses e Combatentes do Exército Vermelho) (De 4 a 10 de Julho de 1918), in : W. I. Lenin Weke
(Obras de V.I. Lenin), Vol. XXVII (De Fevereiro à Julho de 1918), p. 519.
[148]
Cf. IDEM, Bericht über die Aussen und Innenpolitik des Rats der Volkskomissare. Sitzung des
Petrograder Sowjets (Relatório sobre a Política Externa e Interna do Conselho dos Comissários do Povo.
Sessão do Soviet de Petrogado) (12 de Março de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX (De Março à Agosto de
1919), p. 15.
[149]
Vide IDEM, Notiz für D. I. Kurski. (Nota para D. I. Kurski) (20 de Fevereiro de 1922), in : ibidem,
Vol. XXXVI (19001923), p. 550. Acerca do mesmo tema, vide ainda IDEM, Brief an D. I. Kurski (Carta à
D. I. Kurski) (28 de Fevereiro de 1922), in : ibidem, Vol. XXXIII (De Agosto de 1921 à Março de 1923), pp.
186 e 187.
[150]
Vide PIOTR I. STUTCHKA, Staryi i Novyi Sud (Tribunal Velho e Novo)(1918), in : ibidem, Cap. II :
Borba za Razruschenie Burjuaznovo Prava i Suda (Luta pela Destruição do Direito e do Tribunal Burgueses),
p. 10.
[151]
Cf. CONSTITUTION OF THE RUSSIAN SOCIALIST FEDERATED SOVIET REPUBLIC,
Adopted by the Fifth AllRussia Congress of Soviets (Adotada pelo V Congresso dos Soviets de Toda
Rússia), Parte III Estrutura do Governo Soviético, Moscou, 10 de Julho de 1918.
[152]
Cf. VLADIMIR I. LENIN, Erster Absatz des Programmpunkts über das Gericht. Entwurf des
Programms der KPR(B). (Primeiro Parágrafo do Ponto do Programa sobre o Tribunal. Projeto do Programa
do PCR(B)) (1919), in: W. I. Lenin Weke (Obras de V.I. Lenin), Vol. XXIX (De Março à Agosto de 1919), p.
115.
[153]
Cf. IDEM, Bericht über die Tätigkeit des Rats der Volkskomissare 11(24) Januar 1918. (Relatório
acerca das Atividades do Conselho dos Comissários do Povo de 11 (24) de Janeiro de 1918), in : ibidem, Vol.
XXVI (De Setembro de 1917 à Fevereiro de 1918), Berlim, 1961, pp. 464 e s.
[154]
Cf. IDEM, Referat über die Revision des Parteiprogramms und die Änderung des Namens der Partei
vom 8. März 1918. (Relatório sobre a Revisão do Programa do Partido e a Alteração do Nome do Partido, de
8 de Março de 1918), in: ibidem, Vol. XXVII (De Fevereiro à Julho de 1918), p. 122.
[155]
Cf. IDEM, Urprünglicher Entwurf des Artikels „Die nächsten Aufgaben der Sowjetmacht, diktiert am
28. März 1918, (Esboço Original do Artigo „As Próximas Tarefas do Poder Soviético, Ditado em 28 de
Março de 1918), in: ibidem, Vol. XXVII (De Fevereiro à Julho de 1918), pp. 207 e 208.
[156]
Cf. IDEM, Die proletarische Revolution und der Renegat Kautsky (A Revolução Proletária e o
Renegado Kautsky) (OutubroNovembro de 1918), Título : Bürgerliche und Proletarische Demokratie
(Democracia Burguesa e Proletária), in : ibidem, Vol. XXVIII (De Julho de 1918 à Março de 1919), p. 248.
[157]
Cf. IDEM, Brief an D. I. Kurski. (Carta à D. I. Kurski) (3 de Setembro de 1921), in : ibidem, Vol.
XXXV (De Fevereiro de 1912 à Dezembro de 1922), p. 497. No mesmo sentido, IDEM, Brief an D. I.
Kurski (Carta à D. I. Kurski) (17 de Janeiro de 1922), in : ibidem, Vol. XXXV (De Fevereiro de 1912 à
Dezembro de 1922), pp. 511 e 512.; IDEM, Zweiter Politischer Bericht des ZK. XI Parteitag der KPR(B)
(Segundo Relatório Político do Comitê Central. XI Congresso do PC da Rússia(B)) (de 27 de Março à 2 de
Abril de 1922), in : ibidem, Vol. XXXIII (De Agosto de 1921 à Março de 1923), p. 278 e 284.
[158]
Acerca desse tema, vide IDEM, Brief an P. A. Bogdanow (Carta à P. A. Bogdanov) (23 de Dezembro
de 1921), in : ibidem, Vol XXXVI (19001923), p. 545.
[159]
Cf. IDEM, Über die Innen und Aussenpolitik. IX Gesamtrussischer Sowjetkongreß (Acerca da
Política Interna e Externa. IX Congresso dos Soviets de Toda a Rússia) (de 23 a 28 de dezembro de 1921), in
: ibidem, Vol. XXXVIII (De Agosto de 1921 a Março de 1923), p. 155.
[160]
Cf. IDEM, Bericht über das Parteiprogramm. VIII Parteitag der KPR(B) (Relatório sobre o Programa
do Partido. VIII Congresso do PC da Rússia(B)) (De 18 à 23 de Março de 1919), in : ibidem, Vol. XXIX (De
Março à Agosto de 1919), pp. 168 e 169.
[161]
Cf. IDEM, Der „linke Radikalismus“. Die Kinderkrankheit im Kommunismus (O „Radicalismo de
Esquerda“. A Enfermidade Infantil do Comunismo), Título : Falsche Schlüsse aus richtigen Voraussetzungen
(Falsas Conclusões tiradas a partir de Pressupostos Corretos) (Junho de 1920), in : ibidem, Vol. XXXI (De
Abril a Dezembro de 1920), pp. 103 e 104.
[162]
Cf. IDEM, Über die Naturalsteuer. Die Bedeutung der neuen Politik und ihre Bedeutung. (Acerca do
Imposto em Natura. O Significado da Nova Política e seu Significado) (21 de Abril de 1921), in : ibidem,
Vol. XXXII (De Dezembro de 1920 a Agosto de 1921), pp. 364 e 365.
[163]
Cf. IDEM, Brief an A. D. Ziurupa (Carta à A. D. Ziurupa) (21 de Fevereiro de 1922), in : ibidem, Vol.
XXXVI (19001923), p. 551.
[164]
Cf. IDEM, Brief an D. I. Kurski (Carta à D. I. Kurski) (12 de Abril de 1922), in : ibidem, Vol. XXXVI
(19001923), pp. 563 e 564.
[165]
Cf. IDEM, Drittes Schlußwort zum politischen Bericht des ZK. XI Parteitag der KPR(B). (Terceira
Conclusao ao Relatório Político do Comitê Central do PC da Rússia(B). XI Congresso do PC da Rússia(B)
(de 27 de Março à 2 de Abril de 1922), in : ibidem, Vol. XXXIII (De Agosto de 1921 à Março de 1923), p.
299.
[166]
Cf. IDEM, Brief an D. I. Kurski (Carta à D. I. Kurski) (17 de Maio de 1922), in : ibidem, Vol. XXXIII
(De Agosto de 1921 a Março de 1923), pp. 344 e 345.
[167]
Vide LEON TROTSKY, Predanaia Revoliutsia (A Revoluçao Traída) (1936), especialmente Ch. 3.1.
Capitalismo e Estado – O Regime de Transição, Moscou, 1991, pp. 39 e s. Acerca do tema, vide ainda
IDEM, Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV Internatsionala (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da IV
Internacional), especialmente A Situação da URSS e as Tarefas da Época de Transição, Paris, 1938, pp. 14 e
s. Suplementarmente, vide acerca dessa temática KARL MARX, Kritik des Gothaer Programms, in : Marx
und Engels Werke (Obras de Marx e Engels), Berlim, 1962, Vol. XIX, pp. 29 e s.; VLADIMIR I. LENIN,
Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi Proletariata v Revoliutsi (Estado e
Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução) (1917),
especialmente 5.3. Economitcheskie Osnovy Otmirania Gosudarstva – Piervaia Faza Komunistitcheskovo
Obschchestva (Os Fundamentos Econômicos da Extinção do Estado – Primeira Fase da Sociedade
Comunista), Moscou, 1989, pp. 92 e s.
[168]
Vide LEON TROTSKY, Predanaia Revoliutsia (A Revoluçao Traída) (1936), Moscou, 1991,
especialmente Ch. 3.1. Capitalismo e Estado – O Regime de Transição, pp. 39 e s. e, ainda, Ch. 3.3.
Capitalismo e Estado O Duplo Caráter do Estado dos Trabalhadores, pp. 43 e s.
[169]
Vide IDEM, ibidem, especialmente Ch. 3.2. Capitalismo e Estado – Programa e Realidade, p. 42.
[170]
Vide IDEM, ibidem, especialmente Ch. 3.2. Capitalismo e Estado – Programa e Realidade, p. 42. Vide
ainda IDEM, Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV Internatsionala (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da IV
Internacional), especialmente A Situação da URSS e as Tarefas da Época de Transição, Paris, 1938, pp. 14 e
s.
[171]
Vide VLADIMIR I. LENIN, Gosudarstvo i Revolutsia. Utchenie Marksisma o Gosudarstve i Zadatchi
Proletariata v Revoliutsi (Estado e Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do
Proletariado na Revolução) (1917), especialmente 5.4. Economitcheskie Osnovy Otmirania Gosudarstva –
Vysschaia Faza Komunistitcheskovo Obschchestva (Os Fundamentos Econômicos da Extinção do Estado –
Fase Superior da Sociedade Comunista), Moscou, 1989, p. 100.
[172]
Cf. LÉON TROTSKY, Predanaia Revoliutsia (A Revoluçao Traída) (1936), Ch. 3.3. Capitalismo e
Estado O Duplo Caráter do Estado dos Trabalhadores, Moscou, 1991, p. 44.
[173]
Cf. IDEM, ibidem.
[174]
Cf. IDEM, ibidem, especialmente Ch. 3.4. Capitalismo e Estado – „Escassez Generalizada“ e Polícia,
pp. 46.
[175]
Cf. IDEM, Agonia Kapitalizma i Zadatchi IV Internatsionala (A Agonia do Capitalismo e as Tarefas da
IV Internacional), especialmente A Situação da URSS e as Tarefas da Época de Transição, Paris, 1938, pp.
15 e 16.
[176]
Cf. CONSTITUTION OF THE UNION OF SOVIET SOCIALIST REPUBLICS, Adopted
December 1936 (Adotada em Dezembro de 1936), Ch. IX : Os Tribunais e a Procuradoria, Moscou, 1938.
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