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Resenha: O Feudalismo (Paulo Miceli)

Por: Alexandre Raphael Tondo Junior


R.A: 00169487
Data: 07/04/2015

Ao estudarmos o feudalismo podemos nos deparar com diversas obras. O livro de Paulo
Miceli certamente é um dos expoentes sobre o tema e, algo que poucos reconhecem, é
uma obra brasileira. Sua leitura simples e dedicada a todos os leitores nos trás uma visão
acerca da Idade Média e, sobretudo, o feudalismo que vigorou do Séc. X ate meados do
Séc. XIV.

O Autor é graduado em História pela Universidade de São Paulo (USP) em 1975.


Obteve seu título de mestre em 1984 e doutorado, ambos pela Unicamp, em 1992.
Atualmente é professor pela Unicamp, desenvolvendo trabalhos sobre História Cultural.
Seu modelo de escrita, fácil e direto, pode ter raízes no famoso historiador medievalista
Marc Bloch, quando o mesmo escreve o livro Apologia da História, insinuando que o
historiador precisa de uma didática de escrita que tanto um doutor ou um leigo poderiam
compreendê-la sem muitos problemas.

A obra em si, resumida pelo seu modesto tamanho de 57 páginas, é essencial para um
entendimento introdutório de toda a sociedade feudal. Nela, são abordadas as variadas
estruturas e temáticas que envolvem todo o período que compreende desde a queda do
Império Romano do Ocidente em 476 d.C até os períodos finais, com o surgimento do
Renascimento Cultural e a transição Feudalismo-Capitalismo.

O livro foi dividido em cinco capítulos, introduzido com um bate papo com o autor
onde é relatada sua trajetória acadêmica e sua preocupação com uma escrita simples e
humilde. No primeiro capítulo o autor mostra o cenário que o Feudalismo se construiu
durante a Idade Média no ocidente europeu. A relação com a natureza nos faz perceber
e discernir toda a preocupação e a base feudal, entre o homem e a terra. A fome foi algo
presente no cotidiano dos camponeses e escravos, cuja alimentação, quando se
alimentavam, era baseada apenas em legumes e cereais. A prática da caça e a
alimentação na base de carnes era privilégio dos nobres. Nota-se que o autor evidencia
em sua obra a enorme diferença entre um nobre, ou um aristocrata, dos camponeses e
escravos, podendo-se compreender a enorme desigualdade social existente na época.

O capitulo numero dois é problematizado a queda do Império Romano do Ocidente e


toda a articulação dos povos bárbaros, tais como os Visigodos, Hunos, Suevos e
Vandalos para a formação do que seriam os Feudos. O surgimento do Feudalismo,
segundo o autor, teve importante relevância dos povos Hunos que, uma vez
direcionando os povos germânicos ao conflito com o Império Romano e ao seu
posterior enfraquecimento, possibilitou a sedentarização desses povos em comunidades
de subsistência. A velha imagem que nos passam da Idade Média é desconstruída nesse
capítulo. Supostamente, segundo os antigos ‘sábios’, a denominada Idade das Trevas
compreendeu um grande vazio ou um grande apagão durante os 1000 anos, sendo
totalmente desprovida de avanços tecnológicos. Sabemos que essa afirmação é um tanto
quanto questionável, tendo em vista as revoluções industriais ocorridas na época no
ramo bélico, têxtil e a grande revolução nos métodos de construção e engenharia civil
com as belas catedrais Góticas e Românicas. Particularmente acredito que não foi um
vazio total, porem como o próprio autor cita que a igreja ‘ foi se transformando no único
depósito de cultura e conhecimentos’, o título de Idade das Trevas não é totalmente
errôneo.

Partindo para o capítulo três, é mostrada toda a relação em como que a igreja católica,
perseguida pelos romanos, passou a ser a perseguidora opressora. O poderio clérigo é
incontestável, sendo o maior durante o período da Idade Média, que passou a
compreender entre 20 e 35% das terras, enriquecidas também pelo dízimo instituído
pelo Pepino o Breve – pai de Carlos Magno. Chegou até a controlar o tempo, segundo o
autor, uma vez que existiam horários ‘canônicas pelos quais religiosos controlavam o
tempo’. Funcionava como uma espécie de ‘grande relógio: o relógio divino’. Pode-se
perceber que a hegemonia de certo ponto permanece até os dias ate hoje, mesmo com o
desinteresse e desvalorização da cultura religiosa, principalmente pelos mais jovens,
levando pensadores à afirmação, exemplo de Nietzsche, que em seu livro A Gaia
Ciência nos relata: ‘Deus está morto! E nós o matamos!’.

Afinal, o que é o feudalismo? O penúltimo capítulo do livro trás aspectos gerais para
entendermos a base principal do feudalismo. Esclarece a relação suserano-vassalo e é
deixado claro toda a importância desse ritual e o comprometimento do vassalo com seu
suserano. O autor nos trás a importância da guerra para o contexto histórico e alem
disso, nos mostra a falsa impressão de que a imprensa Hollywoodiana nos passa a
respeito de conflitos feudais. A força contrária existente nas cidades foi introduzida
pelos burgueses que tinham como prática econômica o comércio e também o hábito de
fazer empréstimos com juros. A moeda era algo raro e não circulava livremente entre
os feudos ou cidades, apenas em algumas determinadas localidades, facilitando para a
implantação do capitalismo dentre as crises que ocorreriam na baixa Idade Média.

A peste negra, como outras tantas pestes oriundas daquele período, enfraqueceram
muito os nobres, uma vez que com pouca mão de obra, o trabalho braçal era cada vez
mais valorizado. Camponeses começaram a melhorar de vida e escravos deixaram de
serem escravos. O fortalecimento das cidades, assim como o surgimento das religiões
protestantes, fez o feudalismo ver seus dias finais.

Paulo Miceli termina sua obra com uma fábula escrita no Séc. XVII por Al-Kaliubi
intitulada O leão, a raposa e o lobo, fazendo uma analogia sobre os acontecimentos e o
fim da Idade Média. Encerrou a obra de maneira super simples e prática, receptível as
mais diversas mentalidades, tornando a obra por inteira acessível às diversas classes
econômicas, sociais e culturais brasileiras.

CONCLUSÃO:
O livro de Paulo Miceli não tem uma cronologia, é abordada de forma factual podendo
causar um certo desconforto com os historiadores, caso que não acontece nessa leitura.
São deixadas claras as limitações na escrita por não ser uma obra de magnitude muito
densa e complexa, como é o caso da obra intitulada ‘A sociedade feudal’ de Marc
Bloch, contendo 500 páginas. Pode-se notar que a preocupação do autor não é nos dar
os minuciosos detalhes sobre o feudalismo e a Idade Média como um todo e sim
abordar de maneira simples e objetiva, mesmo que superficialmente, aspectos
importantes sobre o período. Recomendo essa obra para qualquer pessoa interessada nos
estudos de História e como futuro historiador, ressalto a importância dos estudos
referentes à Idade Média para a possível compreensão do mundo moderno e
contemporâneo, uma vez que inúmeras marcas do nosso cotidiano tiveram raízes na
época dos grandes feudos, castelos e principalmente na época e que a religião tomava
conta do mundo.

Referência Bibliográfica:

Miceli. Paulo: O Feudalismo. 3ª edição Campinas. Editora da Universidade Estadual de


Campinas. 1988

O aluno Alexandre Raphael Tondo Junior é acadêmico do Curso de História da Universidade


Paranaense - UNIPAR Abril de 2015.

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