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A compressão da política econômica do Marquês de Pombal nos exige
um cuidadoso trabalho de observação das forças em disputa na Europa da
segunda metade do século XVIII, bem como dos contrastes entre o resto do
chamado velho continente e as coroas Ibéricas. Estas últimas, encontradas no
centro da vida econômica do continente europeu, são também identificadas nas
duas biografias de Carvalho e Melo _ ora em estudo. Entendidas como
atrasadas em comparação com as nações europeias mais desenvolvidas, faz-
se necessário identificar as chaves interpretativas desse atraso, _ utilizadas
tanto por Kenneth Maxwell quanto por João Lúcio de Azevedo, _ haja vista que
esses autores apresentam interpretações bastante díspares quanto à obra de
Sebastião José de Carvalho e Melo.
1
“Não era acessível às ideias iluministas e liberais”, ideias com as quais o ministro havia entrado em
contato, nos anos de experiência dos consulados em Inglaterra e Viena.
fortalecimento do estado absolutista; a política mercantilista, comum às
principais coroas europeias; e o processo de modernização tardia da coroa
lusitana – irmanada com a coroa espanhola – como principais elementos para
sua análise.
Para o autor, Pombal se valeu das teorias e práticas em voga e já adotadas por
outras nações para alavancar a economia lusitana, adotando medidas
protecionistas e buscando mecanismo para enfrentar o dilema da economia
mercantil. Economia apresentada como dilema, _ à medida que, na contramão
das demais nações da Europa, Portugal e Espanha precisavam de medidas
que lhes permitissem conter a saída de ouro e prata, ao passo que as outras
nações trabalhavam na perspectiva de atrair os dois metais preciosos.
A questão das minas no Brasil foi o primeiro dos negócios colocados sob
a tutela do ministro, mesmo não fazendo parte das questões que lhe cabiam
como ministro dos negócios estrangeiros e da guerra. Conter a saída de ouro
do Brasil foi, durante a gestão pombalina, uma batalha com várias frentes,
fosse pelo empenho em diminuir a influência e os privilégios de que dispunham
os comerciantes ingleses, fosse pela necessidade de se estancar o
contrabando que contou com a colaboração de muitos dos súditos de sua
majestade portuguesa.
2
O excesso, que em um ano se verificasse sobre o mínimo do ajuste, levava-se em conta,
como garantia de renda do ano seguinte; revertia, porém, á coroa, quando preenchido o limite
pela entrada regular da contribuição. (Azevedo,1922 p.102)
pluralidade de votos nas assembleias municipais _ aprovados pelo ouvidor da
coroa no distrito, e não mais pelos magistrados. Em 1751, os ourives foram
expulsos da capitania de Minas Gerais para dificultar as tentativas de fraude.
3
Para melhor controlar a área das minas o aparato restritivo coibia o transito e permanência de pessoas
sem ocupação constante e conhecida no local, motivo que muito explica por exemplo o fato de o
contrabando contar com o apoio de funcionários da coroa, comerciantes legais e religiosos.
O aparato restritivo incluía, as casa de fundição para onde deveria ser mandado todo o ouro minerado;
a expulsão dos ourives e o confisco de ferramentas, além de uma legislação repressiva com punição
severa contra os transgressores. As restrições no entorno das minas antecederam as medidas
pombalinas, tornaram-se apenas mais rígidas nesse período.
alternativos nos quais a fiscalização não se fazia presente, ou através de
colonos _que facilitavam o contrabando na defesa de interesses particulares.
Tanto _Maxwell quanto Russel-Wood nos apresentam o laço pernicioso
entre agentes legalmente vinculados ao comércio atlântico e a atividade ilícita
que permitia driblar a legislação se valendo das brechas do próprio sistema.
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Para melhor compreensão desse processo ver: LOCKHART, /SCHWARTZ; A América Latina na época
colonial. 2010 Cap. 10 O Brasil na época do ouro e do absolutismo.
ajudado no processo de reequilíbrio das contas de Portugal. Entretanto, é
importante salientar que em um contexto de transição econômica 5, a passagem
do feudalismo ao capitalismo, não dispor de capital se revela um problema
grave, e era o que Portugal estava vivendo.
Isso não quer dizer que houvesse necessariamente um erro no
direcionamento da economia como coloca Azevedo. Ainda que se respeite a
pertinência de algumas das críticas desse autor, a explicação dele para a ruina
do Estado português tende a se distanciar do que mostram estudos mais
recentes, que concordam com a conclusão sobre o período, que de fato a
economia não ia bem, mais que não apontam a condução da política do
ministro como causa dessa ruína.
O Prolongado mal-estar econômico que afligiu Portugal e o
Brasil durante as décadas de 1760 e 1770 constitui uma crise
mais profunda e mais duradoura que a representada pelo
conflito entre o estado e os jesuítas, e os remédios foram muito
mais difíceis de encontrar6. (Aldren, 2004, p. 548)
5
Segundo Falcon, todo o período que identificamos como mercantilista pode ser também identificado
como período de transição feudo-capitalista, seja essa identificação no nível econômico ou ideológico, o
que o autor nos apresenta é que o espaço tempo que se utiliza para pensarmos o mercantilismo tende a
ser dilatado caso pensemos uma época mercantilista. “Os limites históricos da época mercantilista
correspondem grosso modo aos da transição feudo-capitalista, ou seja, da “ crise dos séculos XIV/ XV”
ao final do século XIX... Ficam assim o Mercantilismo e a sua época balizados por duas viragens decisivas
da história do Ocidente: a grande crise da final da Idade Média e as revoluções industriais e liberais, que
constituem a revolução democrático-burguesa no Ocidente.” (Falcon, 1982, p. 24)
6
Alden; Daurio
ministério pombalino. Este cumpriu, como afirma Falcon a função que lhe
cabia.
7
Francisco Salvador era um Judeu comerciante dos diamantes da África e da Ásia com forte influência
no marcado das pedra preciosas, (no Mediterrâneo) que, segundo Carvalho, teria trabalhado para
dificultar o comercio das pedras do Brasil. O tom irônico de Azevedo sugere que as suspeitas do ministro
não passe das manias de perseguição que o autor atribui ao biografado.
mãos de três concessionários monopolistas, um dos quais Brant, acusado de
improbidade na administração do monopólio. Porém, segundo o autor, - todos
teriam alegado os mesmos motivos para abdicarem da concessão: os prejuízos
gerados com os custos de extração e transporte das pedras preciosas.
Terceiro período: 1760 a 71, Daniel Gil de Meester 925.589 3/4 quilates, valor 8.144:165§537.
Deducção Compendiosa, cit.
Essas afirmativas contrastam com o que está colocado em Maxwell,
Lopes e Arruda, na medida em que estes autores destacam o papel que as
companhias tiveram ainda no ministério pombalino, como instrumento
fomentador, e auxiliando a administração com folhas de pagamentos, com
recursos para a construção de fortificações, na defesa de territórios e na defesa
das colônias portuguesas na África, nas ilhas de Cabo Verde e Costa da Guiné,
das quais Portugal também tinha o monopólio de comércio e que se
constituíam em grandes fornecedoras de escravos para o Brasil.
10
Para melhor entendimento e análise dessa questão ver Dauril Alden, In: História da América latina:
América Latina Colonial v. II p. 540 – 592
novos produtos na economia, é também fato que os dividendos desse
desenvolvimento esteve muito mais a serviço de enriquecimentos privados do
que da coroa lusitana. O que explica o fato de o Erário Régio Português
agonizar num quadro no qual alguns setores da economia não pareciam ir tão
mal.
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O Sol e a Sombra
metropolitanas e as adequações que muito se fizeram dessas diretrizes nas
terras coloniais.
O que manteve Pombal no ministério por vinte e sete anos foi para além
da competência e do espirito laborioso, isso não se há de negar, fora a vontade
do monarca D. José I, que contra a vontade de autos quadros da Nobreza, do
Clero e de parcelas significativas dos demais estratos sociais, permitiu que seu
ministro conduzisse o Império português com diretrizes e impulsos que sempre
pareceram muito mais pombalinos que Josefinos.