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DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Disciplina: América Colonial Portuguesa


2022/1

Nome: Vinícius dos Santos Rodrigues Nº: 00311282

Discorrerei sobre o primeiro capítulo do livro O Sol e a Sombra: política e administração na


América portuguesa do século XVIII, da historiadora e professora Laura de Mello e Souza. Ela que
é autora de uma miríade de estudos e que ela também é pioneira em estudos como história sócio-
cultural e político-cultural de grande importância para a historiografia da História Colonial do
Brasil, como por exemplo, o livro O Diabo e a Terra de Santa Cruz.
O primeiro capitulo é intitulado “Política e administração colonial: problemas e perspectivas”,
atualiza um debate que remonta ao final da década de 1970, sobre como ler e interpretar a economia
e a sociedade da América Portuguesa, com origens e repercussões tanto dentro como fora do
marxismo, pois há inúmeros autores que aplicam a teoria marxista em seus estudos, pondo em
xeque a idéia de ‘sentido da colonização’ (Caio Prado Jr.) e o conceito de ‘antigo sistema colonial’
(Fernando Novais)
Como foi suscitado a crítica ao mercantilismo, o absolutismo, ao acumulo primitiva de capital, a
economia mundial e o colonialismo moderno - a relação exploradora entre metrópole e colônias -
perderam o poder de conceitos-chave. Sugere-se outro quadro explicativo, criticando a chamada
teoria da dependência, que por sua vez reconfigura a relação entre o centro e as margens para
entendê-los no contexto das relações imperiais como relações imperiais dentro de cada império
ultramarino como a extensão.
A última virada nesse debate aparece em João Fragoso, Maria de Fátima Silva Gouvêa e Maria
Fernanda Baptista Bicalho em "A Materialidade e as Bases de Governança do Império" (2000).
Tratados, negociações políticas e estratégias de poder tornaram-se cada vez mais essenciais na
leitura e interpretação da história político-administrativa dos impérios.
Ao rever a historiografia dedicada à política e à administração, Laura debruça-se sobre os autores
sobre os quais se construiu nova visão do Imério, desenvolvendo uma relação de, digamos, amor e
não paixão, pois Laura reconhece as constribuiçções de Hespanha, mas tem sobriedade na crítica
por Hespanha. Ela nos salva do anacronismo criminal ao fornecer uma matriz teórica de outra
lógica anacrônica - baseada em conhecidas críticas ao paradigma estatal. A sobriedade dela mostrou
alguns "problemas que a aplicação indiscriminada da análise de Hespanha ao contexto brasileiro
pode trazer".
Laura com sua sobriedade, consegue seperar o joio do trigo, ou seja, ela fica atenta as teorias de
outros autores, ela tem criticidade na aplicação de teorias. ela justifica a visão conservadora de Otto
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Brenner, importante representante da historiografia constitucional alemã, à qual a Hespanha


pertence. Aponta, então, "a superestimação dos textos legais por parte deste último" (p. 55), citando
Caio Prado Jr. ao dizer que “o mundo das colônias não pode ser visto predominantemente pela ótica
da norma, da teoria ou da lei, que muitas vezes permanecia letra morta e outras tantas se
inviabilizava ante a complexidade e a dinâmica das situações específicas” (p. 56). Mas não apenas
o mundo colonial, nem os europeus, porque segundo Alexis de Tocqueville: "Este é todo o antigo
regime e suas características: regras rígidas e práticas fracas". Por último, mas não menos
importante, exige que a escravidão seja central na explicação das condições coloniais. “Direito,
relações de produção, hierarquias sociais, conflitos, exercício do poder, tudo no Brasil deve ser
medido pela escravidão” (p. 56). Eis a contribuição, com todo respeito, capenga de Hespanha. E é
capenga por não dar atenção as peculiaridades, as miudezas da prática do poder num mundo tão
distinto quanto na situação colonial escravagista. Em poucas palavras:
A especificidade da América Portuguesa não residiu na assimilação
pura e simples do mundo do Antigo Regime, mas na sua recriação
perversa, alimentada pelo tráfico, pelo trabalho escravo de negros
africanos, pela introdução, na velha sociedade, de um novo elemento,
estrutural e não institucional: o escravismo (p.67).

Os já citados Maria Fernanda Bicalho, João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa, como
organizadores do livro Antigo regime nos trópicos (2001), enfrentaram duas críticas. Primeiro, há
uma falta de clareza no uso de conceitos como "economia de interesse público" e "economia
política do privilégio", que os autores podem atribuir à própria imprecisão da Hespania em usar o
conceito de "economia da dádiva". , que transformou a análise de Marcel Mauss sobre o mundo
desmonetizado e a lançou em uma época em que o capitalismo estava tomando forma. Em segundo
lugar, o plano do autor é “livrar-se das visões dualistas e contraditórias das relações metrópole-
coloniais” porque, segundo Laura de Mello Souza, “a contradição, enquanto princípio, define-se
como antítese do dualismo. Em situação colonial, onde as contradições são particularmente
exacerbadas, a convergência ou coincidência de práticas e interesses é não raro antes forma que
conteúdo ” (p. 59). Para Laura, “o entendimento da sociedade de Antigo Regime nos trópicos
beneficia-se quando considerada nas suas relações com o antigo sistema colonial” (p.66).
Este é outro elemento inspirado nos escritos de Fernando Novais: "o sentido que as relações entre as
partes do sistema colonial adquirem no plano específico e no geral, e como se transformam e se
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ressignificam " (p.75). O livro que aqui discutimos é o cumprimento desse propósito, Pois reúne as
recentes contribuições de autores portugueses, como por exemplo, Mafalda Soares da Cunha, Nuno
Gonçalo Monteiro e Fernanda Olival, para mostrar que os monarcas são beneficiados, pois são
privilegiados e engajá-los em um diálogo crítico com as tradições intelectuais brasileiras, a exemplo
dos próprios Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr outros autores classicos. O resultado é um
jogo dialético da parte versus o todo, desmantelando o antagonismo mecânico metrópole versus
colônia, transcendendo as relações Brasil-Portugal e, por fim, buscando compreender a totalidade
do sistema.
Concluímos que a autora joga luz sobre as particularidades da América Colonial Portuguesa, como
a autora diz:
O consórcio entre empiria e teoria deve possibilitar o desenvolvimento de uma
história renovada da política e da administração no Império português em geral
e na América portuguesa em particular, e o escopo comparativo pode ser, neste
sentido, um dos mais interessantes: tanto no interior do Império português-
como fez Boxer- quanto externamente a ele, comparando-se impérios diferentes
os ibéricos, mas também o inglês, o holandês, e o francês. (p.74)

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