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Curso Profissional Técnico de Eletrónica, Automação e Computadores

Área de Integração – Módulo 3 – Tema 3 – O papel das Organizações Internacionais

As suas origens, porém, remontam ao século XIX, quando surgiram as primeiras propostas
de criação de um organismo internacional que evitasse as guerras em que as potências
europeias estavam permanentemente envolvidas. O desenvolvimento do direito
internacional e o aumento das preocupações humanitárias e pacifistas foram fatores
importantes que estimularam a ideia de um órgão que promovesse a paz mundial.

A Sociedade das Nações (SDN), estabelecida a 25 de Janeiro de 1919, no rescaldo da I


Guerra Mundial, espelhava a tentativa de evitar outras guerras, através de um novo tipo de
acção diplomática. A ideia, que começou a ser explicitada em 1917, pelo presidente
americano Woodrow Wilson, acabou por ser adoptada pelos Aliados. Procurava-se que as
relações internacionais obedecessem ao mesmo tipo de procedimentos que caracterizavam
as democracias ocidentais: a representação de várias opiniões num órgão democrático e a
convicção de que as diferenças de interesses se podiam resolver de forma pacífica.
Os objectivos da Sociedade das Nações consistiam, assim, em manter a paz e garantir a
independência e integridade territorial dos Estados, assegurar a protecção das minorias
nacionais, promover a cooperação entre as nações e organizar o desarmamento em todos os
países.
O futuro evidenciaria as dificuldades em cumprir este plano, marcado logo à partida por
debilidades insuperáveis – a primeira das quais foi a inclusão do Pacto da SDN no texto do
Tratado de Versalhes, imposto pelas potências aliadas à Alemanha derrotada.
O Pacto surgia, assim, como imposição da força dos vencedores sobre os vencidos,
espelhando os ódios antigos em lugar de abrir as portas a uma nova ordem internacional.
Dominado pelas opiniões isolacionistas, o Senado norte-americano nunca ratificou a adesão
do seu país à Sociedade das Nações pelo que, entre os 42 Estados que se reuniram pela
primeira vez em Genebra, em 10 de Janeiro de 1920, não se contavam os EUA, a Alemanha –
que só pertenceria à SDN entre 1926 e 1933 – ou a Rússia soviética – que seria admitida em
1934 e expulsa em 1939. Portugal, como membro fundador, fez-se representar por Afonso
Costa, tendo ratificado o Pacto da SDN em 2 de Abril desse ano.
Apesar dessas limitações, os anos 20 conheceram sucessos da Sociedade, quer na resolução
de pequenos conflitos, quer, sobretudo, ao nível da ação humanitária.
Na década de 30 terão lugar uma série de invasões e intervenções militares que
evidenciaram a ineficácia da organização em evitar a guerra. Em 1931 o Japão invade a
Manchúria; a partir de 1933, com a chegada de Hitler ao poder, dá-se o rearmamento da
Alemanha; em 1935 a Itália fascista invade a Etiópia; e na Guerra Civil de Espanha (1936-
39) tropas italianas e alemãs combatem ao lado dos franquistas. Em Dezembro de 1039, a
SDN expulsa a URSS por esta ter invadido a Finlândia.
O objectivo de preservar a paz tinha falhado. Mas, no decurso do novo conflito mundial, os
Aliados procuram construir uma alternativa mais eficaz para “assegurar a paz no mundo e
proteger os direitos do Homem no Mundo inteiro” – a qual virá a ser concebida, em 1944,
pelos EUA, Inglaterra, URSS e China, nas conferências de Dumbarton Oaks, em
Washington.
O documento constitutivo da nova Organização das Nações Unidas (ONU) é assinado em
1945 na Conferência de São Francisco pelos 50 países fundadores. O Portugal de Salazar,
“orgulhosamente só”, apenas será admitido dez anos mais tarde. No entanto, existiu desde
o início a preocupação de alargar o número de Estados membros, o qual ascende atualmente
a 191 países, representados na Assembleia Geral.
A constituição da ONU, como resultado da iniciativa dos vencedores da II Guerra Mundial,
ficou bem patente no facto de as tomadas de decisão relativas a ações de manutenção de
paz, imposição de sanções ou uso da força armada caberem a um Conselho de Segurança,
onde pontificam cinco membros permanentes – China, França, Rússia, Reino Unido, Estados
Unidos – sem o acordo dos quais nenhuma resolução é aprovada.
Lutando pelos mesmos objectivos gerais da SDN, as Nações Unidas desenvolvem a
cooperação e a ação humanitária, através de instituições como a FAO, a OMS, ou a
UNICEF, entre outras, ao mesmo tempo que procuram evitar as guerras através de uma
diplomacia ativa, protagonizada, actualmente, pelo secretário-geral – António Gueterres.
A ONU, ao longo dos seus anos de existência, mostrou-se, no entanto, incapaz de evitar os
mais de 250 conflitos que se registaram no Mundo, muitos deles originados pela ‘guerra
fria’ e pela política de blocos. Um dos problemas com que se debate atualmente parece ser
o da própria composição e funcionamento do Conselho de Segurança, o qual, reflectindo a
situação de 1945, não contempla as transformações entretanto registadas no Mundo,
criando de novo condições propícias à imposição da razão da força sobre a força da razão.
A guerra no Iraque espelha bem esta impotência, depois dos EUA terem voltado as costas
à ONU e optado por uma intervenção militar, passando por cima de todos os esforços
diplomáticos e dos vários apelos do Conselho de Segurança. É pois altura de questionar se,
como é expresso no preâmbulo da Carta das Nações Unidas, continuamos “resolvidos a
salvar as gerações futuras do flagelo da guerra”. O presente diz que não.

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