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HISTÓRIA

Tema 5 - O processo de construção europeia e a soberania dos Estados


A conferência mais importante para o reordenamento do mundo do pós-guerra realizou-se em
Ialta, na península da Crimeia (URSS), em fevereiro de 1945, quando a vitória dos Aliados era
já tida como certa. Ialta representou, pois, um passo importante na configuração da nova ordem
internacional. E, de facto, Ialta teria duas consequências fundamentais concretizadas ainda nesse
ano: a criação da ONU e a reunião de Potsdam.
A ONU foi criada em abril de 1945 (Conferência de São Francisco, na Califórnia) e em julho-
agosto, já depois da capitulação da Alemanha, realizou-se uma nova conferência, a Conferência
de Potsdam (perto de Berlim), onde foram ratificadas as decisões de Ialta e tomadas outras
medidas relativas à Alemanha vencida.
– desnazificação*, desmilitarização e desarmamento;
– julgamento dos criminosos de guerra por um tribunal formado pelas quatro potências aliadas;
– pagamento de indemnizações;
– definição do estatuto político da Alemanha durante o período de controlo militar aliado:
demarcação das zonas de ocupação pelas forças armadas americanas, soviéticas, britânicas e
francesas e definição de um estatuto especial para a cidade de Berlim.
As conferências de Ialta e de Potsdam foram assim determinantes na definição do novo mapa
político europeu, bem como do novo ordenamento geopolítico internacional que se manteve até
finais dos anos 89/90 do século XX marcado pela emergência de duas novas grandes potências,
os EUA e a URSS.
Mas a Segunda Guerra Mundial não fez apenas emergir duas potências face a uma Europa
arruinada e remetida a um papel secundário no novo sistema internacional; fez nascer também
duas zonas ou áreas de influência:
– a área de influência norte-americana que compreendia os regimes de democracia liberal e as
economias de mercado, capitalistas, do Ocidente (Europa Ocidental, Grécia e Turquia, Médio
Oriente, Pacífico e Japão);
– a área de influência soviética que integrava as democracias populares do “Leste” (Europa
Central e Oriental).
Os objetivos da ONU estão definidos na sua Carta:
1. Manter a paz e segurança internacionais;
2. Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito dos princípios da
igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos;
3. Promover a cooperação internacional de caráter económico, social, cultural ou humanitário, e
para promover e estimular o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de
todos sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
4. Ser um centro (fórum) destinado a harmonizar os esforços das nações para concretizar estes
objetivos
O clima de tensão entre os Aliados vencedores da guerra é já bem percetível nas negociações
dos diversos tratados de paz. A rutura declara-se abertamente quando em 12 de março de 1947 o
presidente Truman apresentou ao Congresso dos EUA a chamada doutrina Truman. A estratégia
de Truman (containment politics) concretizou-se no Plano Marshall (1947) e na organização de
um sistema de alianças militares liderado pelos EUA.
O Plano da Reconstrução Europeia (European Recovery Program), mais conhecido por Plano
Marshall, constitui basicamente uma resposta ao objetivo de contenção do comunismo
defendido pela doutrina Truman. O que se pretendia era auxiliar a reconstrução das economias
capitalistas europeias devastadas pela guerra e fortalecer os regimes de democracia liberal a
partir de uma importante ajuda financeira dos EUA. Apesar de o Plano não excluir à partida os
países europeus do bloco comunista, as condições requeridas para o acesso à sua ajuda
tornavam-no de muito difícil aceitação por parte destes países. Dezasseis países ocidentais
aceitaram o Plano.
A URSS, que vê neste plano uma manobra dos Estados Unidos para imporem a sua hegemonia,
rejeita-o e impõe aos países do Leste europeu a mesma atitude com o argumento de que a
“marshallização” significa a colonização da Europa pelos Estados Unidos. Como contrapartida,
os delegados dos partidos comunistas de França, Itália, URSS, Bulgária, Checoslováquia,
Roménia, Polónia, Jugoslávia e Hungria à Conferência dos Partidos Comunistas realizada em
setembro de 1947, na Polónia, aprovam o relatório de Jdanov (1896-1948), conhecido por
“doutrina Jdanov”. Neste relatório, afirma-se que o mundo está dividido em dois campos
opostos: – um campo “imperialista”, dirigido pelos EUA; – e um campo “democrático e anti-
imperialista”, liderado pela URSS. A aplicação desta doutrina resultou na criação do
Kominform, um organismo criado no decurso daquela conferência com o objetivo de coordenar
a ação destes partidos comunistas na luta contra o “imperialismo e capitalismo”. A assunção da
rutura política e ideológica pelos dois campos constituiu o ponto de partida do que veio a
denominar-se “Guerra Fria”*. Em março de 1946, Winston Churchill denunciara esta situação
que uma “cortina de ferro” se abatia sobre a Europa e a dividia em dois: à Europa Ocidental,
que se reerguia sob a assistência americana, opunha-se uma outra Europa, a de Leste, submetida
à orientação soviética, estalinista.

A partir de 1947, o campo ocidental organizou-se. No plano económico, realizando uma das
condições previstas no Plano Marshall, foi criada em 1948 a Organização Europeia de
Cooperação Económica (OECE), com sede em Paris, para gerir a importante ajuda financeira
concedida aos países europeus e coordenar as políticas económicas do conjunto dos dezasseis
estados membros. Em 1948, vinte e três países, que controlavam 80% do comércio mundial,
assinaram os acordos do GATT. Igualmente significativo foi o impulso que o Plano deu às
tendências de unidade europeia, concretizadas em 1951 na criação da Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço (CECA) e, alguns anos depois, na Comunidade Económica Europeia (CEE),
fundada pelo Tratado de Roma (1957).
Em 4 de abril de 1949, os países europeus signatários do Pacto de Bruxelas, mais a Islândia, a
Noruega, a Dinamarca, a Itália e Portugal, assinaram com os Estados Unidos e o Canadá, em
Washington, o Tratado do Atlântico, que esteve na origem da criação da OTAN (Organização do
Tratado do Atlântico Norte)(. Os objetivos gerais da OTAN são: – a defesa da paz; – o respeito
pelos princípios da Carta das Nações Unidas.
No seu articulado estabelece o princípio da segurança coletiva, segundo o qual um ataque
dirigido contra um dos seus membros será considerado como um ataque contra todos. Depois do
reforço da interdependência económica pelo Plano Marshall, a OTAN consagra formalmente o
acoplamento geopolítico e militar entre as duas costas do Atlântico, ou seja, o atlantismo.
A partir do início da década de 50 e até meados da década de 70, os “Trinta Anos Gloriosos”, as
economias industriais ocidentais entram num período de acelerado crescimento económico.
Ainda que o ritmo deste crescimento não seja igual em todos os países, pois este depende das
circunstâncias próprias de cada um, a verdade é que globalmente o mundo capitalista conhece
uma época de prosperidade económica excecional.
Com o Plano Marshall, com o sistema de taxas de câmbio de Bretton Woods, com o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e com a política de liberalização do comércio internacional
promovida pelo GATT foi possível aumentar extraordinariamente a produção e o volume do
comércio mundial. Por outro lado, as destruições da guerra e a reconstrução das infraestruturas
permitiram às economias nacionais o rejuvenescimento e modernização dos seus equipamentos
industriais e redes rodoviárias e ferroviárias. As inovações técnicas aplicadas à indústria e à
agricultura e o aumento da concorrência externa permitiram elevar os níveis de produtividade,
quebrar as inércias e gerar um forte impulso da produção e do consumo.
O pleno emprego é assegurado, o poder de compra cresce regularmente e as famílias equipam-
se com frigoríficos, televisores, automóveis, etc. A explosão demográfica do pós-guerra (baby
boom), a expansão do crédito, a publicidade, as novas formas de distribuição estimulam a
procura. É a sociedade da abundância, a sociedade de consumo.
No pós-guerra, a consciência nos países da Europa Ocidental das vantagens comuns em se
associarem, para gerirem a ajuda financeira norte-americana para a reconstrução da Europa
(Plano Marshall), a dependência dos EUA e o receio da ameaça soviética fizeram despertar o
velho sonho da unidade da Europa. Ressaltava aos olhos dos mais lúcidos que o caminho da paz
e do progresso dos povos e estados europeus passava pela construção de uma “Europa unida”,
livre e com identidade própria. A Organização Europeia de Cooperação Económica (OECE),
criada sob influência americana em 1947, constituiu o primeiro passo nessa direção. Nesse
mesmo ano, entre 7 e 10 de maio, reuniu-se o Congresso de Haia, convocado pelo Comité
Internacional de Coordenação dos Movimentos pela Unidade Europeia, integrando uma série de
movimentos pan-europeístas(22). Em Haia foi recomendada a criação urgente de uma
assembleia europeia de caráter deliberativo, formada por deputados democraticamente eleitos
que, entre outras coisas, deveria redigir uma Carta dos Direitos do Homem, acompanhada da
criação de um Tribunal de Justiça para a fazer respeitar, e estabelecer os mecanismos
necessários para a união económica da Europa.
Depois de ultrapassadas as divergências entre unionistas e federalistas (Os unionistas eram
partidários de uma Europa supranacional, com poderes alargados, e de uma integração total e
rápida; os federalistas opunham-se à limitação da soberania dos estados e defendiam uma
integração limitada e lenta). sobre o modelo de construção europeia a seguir, em janeiro de 1949
foi criado o Conselho da Europa. A tarefa do Conselho seria procurar os mecanismos adequados
para a futura união política da Europa. Mas, ao manter intacto a soberania dos estados-
membros, não obteve os resultados desejados e foi necessário procurar outras formas para fazer
avançar a integração europeia. Foi o francês Jean Monnet, reconhecido como o pai da Europa,
que propôs um novo caminho: criar uma infraestrutura económica comum entre os estados
europeus e, a partir daí, progredir passo a passo na direção da união política. Os resultados do
método proposto por Monnet não tardaram. Em 1951, foi criada a Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço (CECA) pelo Tratado de Paris, subscrito pela França, Alemanha, Itália e o
Benelux(24). O seu objetivo era estabelecer um mercado comum para ambos os produtos,
gerido por uma Alta Autoridade, controlada por um Parlamento Europeu, enquanto um Tribunal
de Justiça ficaria com a função de mediar os eventuais conflitos. O êxito da CECA encorajou a
sua extensão a toda a atividade económica. Em 25 de março de 1957 foram assinados os
Tratados de Roma, que criaram a Comunidade da Energia Atómica Europeia (EURATOM) e a
Comunidade Económica Europeia (CEE).
O objetivo da CEE era estabelecer um mercado comum, ou seja, um espaço de livre circulação
de mercadorias, pessoas, capitais e serviços, e a longo prazo “uma união cada vez mais estreita”
dos povos europeus. Paralelamente, em 1960, o Reino Unido constituiu com a Irlanda, Suíça,
Áustria, países nórdicos e Portugal a EFTA (European Free Trade Association). Era uma
resposta alternativa ao projeto da CEE, mas muito menos ambicioso, já que os seus objetivos
económicos estavam limitados à criação de uma área de comércio livre. Por outro lado,
diferentemente da CEE, não tinha quaisquer objetivos de natureza social ou política. O
desenvolvimento da CEE acabaria por fazer desvanecer o papel da EFTA, acabando esta por
desaparecer com a adesão dos seus estados-membros à primeira. O processo de integração
conheceu períodos de aceleração e estagnação, enfrentou resistências e obstáculos de diversos
tipos, mas prosseguiu trilhando duas vias fundamentais: o alargamento e o aprofundamento.
Relativamente à primeira via, em 1973, operou-se o primeiro alargamento com a adesão da Grã-
Bretanha, Irlanda e Dinamarca: a Europa dos Seis passava para a Europa dos Nove. Alguns anos
depois, o segundo alargamento: com a entrada da Grécia, em 1981, a Europa passou a contar
com dez estados-membros. Os sucessivos alargamentos da, então, CEE provocaram um
crescimento significativo do seu peso demográfico e da sua dimensão geográfica, mas as
adesões da Irlanda, da Grécia, de Portugal e de Espanha acentuaram o dualismo económico e
social, caracterizado pela existência de um centro economicamente muito desenvolvido, ladeado
a oeste e a sul por uma periferia com um considerável atraso estrutural. Compreende-se, assim,
que, em 1986, o Ato Único Europeu tenha introduzido um título relativo à “Coesão Económica
e Social”, e que, a partir do Conselho Europeu de Maastricht, em dezembro de 1991, a coesão
económica e social tenha passado a fazer parte dos princípios fundamentais da União.
Paralelamente, o projeto europeu evoluiu também no sentido do aprofundamento da integração:
em 1978, foi criado um Sistema Monetário Europeu (SME) próprio, elegendo o ECU como
unidade monetária de referência. No ano seguinte, realizam-se as primeiras eleições diretas para
o Parlamento Europeu (PE). Os cidadãos europeus eram, assim, chamados a participar
ativamente na construção do seu futuro.

A estrutura institucional da UE A União Europeia, uma criação em contínua construção, escapa


a todas as classificações tradicionais. É uma organização singular e as suas instituições não o
são menos. De facto, tanto a estrutura institucional comunitária como o seu processo de decisão
combinam simultaneamente elementos supranacionais e intergovernamentais. Assim, conforme
a perspetiva de análise, uns relevam a sua tendência federal, outros, pelo contrário, a sua
natureza confederal, enquanto, na realidade, essas duas facetas coexistem, quando não se
confundem, tanto nas suas instituições como no seu processo de decisão.
A partilha de recursos, a gestão aduaneira, as instituições e as políticas comuns, o alcance das
decisões económicas tanto no âmbito interno como externo, não poderiam deixar de conferir
uma dimensão política à União Europeia. Sem desembocar automaticamente na união política,
estes fatores foram construindo progressivamente os seus alicerces, ao mesmo tempo que
criavam hábitos de vivência comum. O Mercado Interno, consagrado pelo Ato Único, acabou
por receber o seu complemento natural, a União Económica e Monetária. Do mesmo modo, a
instauração de um espaço sem fronteiras criou a necessidade de cooperação dos estados-
membros em novos domínios de natureza marcadamente política, como o da Justiça e dos
Assuntos Internos e o da Política Externa e de Segurança Comum (PESC), para fazer face a
problemas comuns e para os quais se exigem ações comuns. O Tratado da União Europeia
(TUE), ao integrar estes dois novos pilares na organização da UE e ao adotar decisões em
matérias de integração comunitária tão relevantes, como as relativas à moeda única e à
cidadania europeia, projetou claramente a Comunidade para lá do limiar da integração política.
No Conselho Europeu de Laeken (2001) foi decidido convocar uma Convenção para delinear
um projeto de Constituição para a Europa, procurando-se, desta forma, dar mais um passo no
caminho da coesão política.

Os Aliados da Segunda Guerra Mundial, chamados de "Nações Unidas" a partir


da declaração de 1 de janeiro de 1942, foram os países que se opuseram às Potências do
Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Os Aliados promoveram a aliança como um meio
de controlar a agressão alemã, japonesa e italiana.
No início da guerra, em 1 de setembro de 1939, os Aliados consistiam
na França, Polônia e no Reino Unido, bem como em seus estados dependentes, como
a Índia britânica

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