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Outros autores são mais céticos quanto à harmonia interna e:as “promessas'
democratizantes da sociedade-civil global. Robert Cox vê a sociedade civil global como
associada ao mercado capitalista e à contestação entre forças hegemônicas e contra-
hegemônicas. 3 Richard Falk e R.BJ. Walker definem a sociedade civil global como uma
expansão da arena de pluralismo e contestação, não apenas como uma fonte de
civilidade, mas também de “incivilidade”. Esses autores, no entanto, fazem uma
distinção entre a sociedade civil e o mercado.6 A sociedade civil global refere-se ao
espaço de atuação e pensamento ocupado por iniciativas de cidadãos, individuais ou
coletivos, de caráter voluntário e sem fins lucrativos.” Assim como esses últimos
autores, buscamos problematizar as condições sob as quais surgiu a sociedade civil
global e seu papel na governança global e também excluímos iniciativas de caráter
lucrativo, tais como as corporações multinacionais.
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promover uma determinada atividade, tal como o Fórum Social Mundial. Como consta
em sua Carta de Princípios, o Fórum Social Mundial foi criado como um “espaço aberto
de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a
formulação de propostas, a troca livre de experiências e a articulação para ações
eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao
neoliberalismo é ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de
imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária
centrada no ser humano”.10
As redes de política global são; redes que incluem setores governa- mentais,
tais como a Comissão Mundial de Represas. Essa comissão foi criada em 1998, como
um fórum para cooperação a respeito do papel das represas sobre o desenvolvimento
econômico, e é formada por representantes governamentais, de OIGs como o Banco
Mundial, ONGIs e do setor privado. Em 2000, lançou um relatório “Represas e
Desenvolvimento: um novo arcabouço para tomada de decisões”, coma presença de
Nelson Mandela, que se tornou referência para a área. As comunidades epistêmicas
são redes compostas por especialistas de vários países, que podem trabalhar em
institutos de pesquisa, universidades ou nos governos. Um exemplo de comunidade
epistêmica seria o grupo de estudos UE-Mercosul organizado pela Cadeira Mercosul
do Instituto de Estudos Políticos de Paris
são organizações internacionais, como definido no Capítulo 1, o que não é o caso das
outras formas de organização da sociedade civil global. Deve-se destacar, no entanto,
que, ao contrário das organizações internacionais intergovernamentais (e das
corporações multinacionais), as ONGIs não pode ser acordada personalidade jurídica
internacional. Elas são registradas como entidades sem fins lucrativos em cada Estado
onde atuam, de acordo com a legislação nacional. Para se configurar como uma ONG
internacional, e não apenas uma rede de ONGs nacionais, as ONGs internacionais
possuem um documento constituinte e um secretariado internacional, localizado em
um Estado específico. A ligação entre o secretariado e as “filiais” é prevista no
documento constituinte e varia quanto à centralização, distribuição de recursos e
responsabilidades.
ELSEVIER Sociedade Civil Global 229
• 1874 — 32
• 1914 — 1.083
• 1990 — 10.292
• 2000 — 13.206
No que se refere à colaboração efetiva entre ONGIs e OIGs, ela pode ocorrer no
âmbito da formulação de normas, da implementação de decisões ou políticas, ou de
monitoramento da aquiescência dos Estados-membro. Assim como no caso da
colaboração com autoridades governamentais dos Estados, visto anteriormente, a
área de implementação costuma ser bastante criticada, e a de: participação na
formulação de normas e de monitoramento, menos controversa.
• Formulação de normas
• Implementação de decisões ou políticas (terceirização de serviços)
• Monitoramento da aquiescência dos Estados e Estados-membro.
A carta da ONU formaliza a colaboração das ONGIs, que podem adquirir status
consultivo no ECOSOC, como previsto no artigo 71 da Carta, anteriormente citado. O
número de ONGs registradas nesse órgão cresceu de 41, em 1946, para 2.531,
atualmente. As decisões sobre a concessão de status consultivo são tomadas pelo
próprio ECOSOC, com base em recomendações de seu Comitê de ONGs, composto por
dezenove Estados. Os critérios atuais para elegibilidade e seleção são determinados
pela Resolução 1996/31. 23 Qualquer ONG, internacional,
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regional, nacional ou subnacional, pode se candidatar, desde que atenda aos critérios
de ter mais de dois anos de existência, uma seu, uma constituição e uma estrutura
democrática. São acordados três tipos de status consultivo: geral, especial e de
listagem (roster). O primeiro tipo é mais abrangente e é concedido a ONGs grandes e
multifacetadas, tais como a Legião da Boa Vontade, que se engajam em diversas áreas.
Essas ONGs podem consultar funcionários do Secretariado da ONU, propor temas para
a agenda através do Comitê de ONGs do ECOSOC, submeter declarações escritas e se
pronunciar oralmente no ECOSOC ou reuniões nas comissões funcionais. O status
especial é concedido a ONGs conhecidas internacionalmente que tenham
conhecimento especializado em uma área particular, tal como a Associação Latino-
Americana de Desenho Industrial Elas têm quase os mesmos direitos das ONGs de
status consultivo geral, exceto propor temas para a agenda. O status de listagem
(roster) é concedido a ONGs menores, tais como a IBASE, que tenham interesses
ocasionais específicos e que tenham os mesmos direitos das de status especial. 24
bal das Pessoas do Milênio (Global Millenium Peoples Assembly), realizada em abril
2000, em Samoa. 27
Assim como-nos órgãos Principais da ONU, as ONGIs também tem acesso aos
órgãos legislativos de grande parte das agências funcionais, tais como a Organização
Mundial da Saúde ou a Organização Internacional do Trabalho, sendo que cada uma
tem autonomia para estabelecer, seus próprios critérios para seleção e mecanismos
de colaboração. 29 As ONGIs também colaboram com as OIGs regionais, tais quais a
União Européia e o Mercosul.
Como, foi visto ao longo desta Seção, a atitude em relação á sociedade civil
global e às ONGIs não é uniforme. Alguns estudiosos e ativistas as vêem
positivamente, como elementos democratizantes da política internacional. Outros as
acusam de serem instrumentos da manutenção da hegemonia cultural Ocidental ou de
perpetuarem as clivagens sociais e econômicas inerentes ao sistema capitalista.
Uma crítica feita às ONGIs, nesse contexto, é até que ponto conseguem se
manter organizações sem fins lucrativos, não se confundindo .com corporações
privadas, Em suas campanhas direcionadas ao público em geral, as ONGIs utilizam
técnicas de marketing do setor privado, como o uso de logomarcas e À divulgação em
objetos de consumo, como camisetas. O Greenpeace, por exemplo, conta com lojas em
centros comerciais em São Paulo e no Rio de Janeiro. A filial do Canadá, onde foi
originalmente criada a organização, perdeu seu status de instituição de caridade em
1989, sob alegação de que suas atividades não trazem benefícios públicos, e que
tinham perfil empresarial. 31
As ONGs também não são sempre bem vistas pelos Estados-membro da OIGs
com quem colaboram. Estados menos democráticos tendem a rejeitar ONGIs atuantes
na área de direitos humanos, Estados
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A Cruz Vermelha
A Cruz Vermelha tem uma história e um papel na política internacional muito
particular. O termo Cruz Vermelha abrange o Comitê Internacional da Cruz Vermelha,
as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é a Federação
Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e
é referido como um movimento global.? A Federação foi criada em 1919 pelas
Sociedades Nacionais existentes. Elas surgiram a partir das propostas levadas aos
líderes mundiais pelo Comitê, cuja origem remete à visão € à determinação de Henry
Dunant, um banqueiro suíço que, por razões pessoais e profissionais, estava na
Lombardia durante as guerras italianas de independência. Dunant se confrontou com
milhares de soldados feridos após uma luta entre italianos e austríacos na cidade de
Solferino e, chocado com a falta de médicos e assistência, permaneceu para ajudá-los.
Em 1862, publicou um livro relatando sua experiência € propondo a criação de
sociedades compostas por voluntários qualificados para assistir os feridos durante as
guerras. O livro foi um sucesso, e Gustave Moynier, advogado em Genebra e membro
da Sociedade para Bem-Estar Público dessa cidade, convidou Dunant para participar
de um comitê que deveria examinar e implementar as propostas do livro. O comitê,
originalmente chamado Comitê Internacional para Ajuda aos Feridos Militares, foi
renomeado Comitê Internacional da Cruz Vermelha em 1880.
ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS
DO MOVIMENTO GLOBAL DA CRUZ VERMELHA:
Além de sua atuação nas áreas de conflito, a Cruz Vermelha também busca
influenciar a formulação de normas, tanto internacionais quanto domésticas, e
garantir sua implementação através do monitoramento dos Estados. Ela ainda provê
assistência aos Estados para cumprirem suas obrigações e assistência jurídica para a
instauração de processos de crime de guerra. 36
O Greenpeace Internacional
O Greenpeace Internacional é uma das maiores ONGIs contemporâneas e
também uma das mais carismáticas e místicas. Dois componentes de sua principal
estratégia — o uso de navios e a testemunha ocular — são atribuídas à influência
Quacker, Um de seus símbolos, o arco-íris, foi adotado por inspiração do romance
“Guerreiros do Arco-Íris” (Warriors of the Rainbow) escrito por William Willoya e
Vinson Brown, que conta-a profecia dos índios Cree, do Canadá, que um dia, quando a
terra estivesse envenenada pôr seres humanos, um grupo de pessoas de todas as
nações iria se unir para defender a natureza. A bandeira da organização foi abençoada
pelo Papa, pelo Karmapa Budista e pelos índios Kuakuitl. Sua história mistura-se com
o desenvolvimento do movi- mento ecológico global, incluindo a criação dos partidos
verdes e do regime internacional de meio ambiente.
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MARCOS INSTITUCIONAIS NO
DESENVOLVIMENTO DO GREENPEACE:
• Comitê “Não faça ondas” contra testes nucleares nos Estados Unidos na ilha de
Amchitka, Alasca (1969).
• Proteja as florestas.
• Salve os mares.
• Pare a guerra.
abusos, mas também representantes de OIGs, tais como a ONU ou a UE. A elaboração
dos relatórios é feita a partir de pesquisas, visitas aos locais onde ocorreram os
abusos e entrevistas com vítimas, testemunhas e acusados.
Um princípio da HRW é ser imparcial em relação aos conflitos nos quais ocorra
o abuso dos direitos humanos. A organização já fez denúncias contra judeus e
palestinos, hutus e tutsies, comunistas e ditadores de direita, cristãos e mulçumanos.
Para garantir sua imparcialidade política, a HRW não aceita contribuições financeiras
de nenhum governo, apenas de indivíduos e fundações.
1. Para uma discussão mais aprofundada sobre o conceito de sociedade civil veja,
por exem- plo, as obras de Norberto Bobbio (Bobbio, 1985, 1997).
5. Veja as obras de Robert Cox (Cox, 1981 e 1983) e a de Alejandro Colás (Colás,
2002),
7. (Falk, 1999, p. 163.) Estes autores expõem suas idéias, entre outros, no contexto
do Pro- jeto de Modelos de Ordem Mundial (World Order Models Project —
WOMP), Para um resumo das propostas e idéias do projeto WOMP veja o artigo
de Simon Dalby (Dalby,
1997) e os artigos dos periódicos Alternatives: Global, Local, Politcs, e Social
Transformation and Humane Governance,
8. John Boli destaca que o Escritório Central de Associações Internacionais foi ativo
na cria- ção da Liga das Nações e do Institutá Internacional de Cooperação
Intelectual (Boli &r Thomas, 1999, p. 20). o
12. O grupo foi criado com o objetivo de discutir, monitorar e fazer Tecomendações
aos nego- ciadores do Acordo Birregional UE-Mercosul desde o início do processo
de negociação, em
13. Sobre o grupo veja o site; http://www sciences-po.fr/. VAGA
14. Para estatísticas sobre o aparecimento de ONGIs Tegionais veja o artigo de John
Boli e M,Thomas (Boli & Thomas, 1999), RA
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