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O Conceito de Sociedade Civil Global

O conceito de sociedade civil global invoca a existência ou o pro- cesso de


desenvolvimento de uma sociedade civil que se estenda por todo o globo, ou seja, que
perpasse as fronteiras dos Estados. Esse conceito tem sido usado tanto descritiva,
quanto normativamente, com viés ora ' positivo, ora negativo. Para sua compreensão,
é necessário entendermos, primeiramente, o conceito de sociedade civil, para depois
vermos como ele tem sido apropriado ao estudo das relações internacionais.
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O conceito de sociedade civil é central na disciplina de ciência política. Segundo
Norberto Bobbio, seu entendimento variou ao longo dos séculos e no pensamento de
autores clássicos tais como Thomas Hobbes, John Locke, Immanuel Kant, Friedrich
Hegel E Karl Marx. Na linguagem política contemporânea, o conceito de sociedade civil
global a seria marcado pela literatura marxista e refere-se a esfera das relações não-
reguladas pelo Estado. Na contraposição sociedade civil/Estado, entende-se por
sociedade civil a esfera das relações entre indivíduos nos entre grupos, entre classes
sociais, que se desenvolveram à margem das relações de poder que caracterizam as
instituições estatais. Ela é representada assim como o terreno dos conflitos
econômicos, ideológicos, sociais e religiosos que o Estado deve resolver, intervindo
como mediador ou suprimindo-os.

Ainda segundo Bobbio, o conceito contemporâneo é o oposto ao utilizado em


sua acepção original, corrente na doutrina política tradicional e, em particular, na
doutrina jusnaturalista. Conforme os modelos jusnaturalistas da origem do Estado,
seja o proposto por Hobbes, Locke ou Kant, a sociedade civil (societas civilis)
contrapõe-se à sociedade natural (societas naturalis), sendo sinônimo de “sociedade
política” e, portanto, de “Estado”. A idéia de sociedade civil, ou o Estado, nasce em
contraste a um estado primitivo da humanidade em que o homem vivia sem outras
leis, senão as naturais. Ela implica uma zona de civilidades na qual impera o estado de
direito, uma comunidade política e uma ordem pacífica baseada no consentimento
explícito ou implícito a indivíduos que dela participam. A sociedade civil nasce,
portanto, com a instituição de um poder comum que só é capaz de garantir aos
indivíduos associados alguns bens fundamentais como a paz, a liberdade, a
propriedade e a segurança, que, no estado natural, são ameaçados seguidamente pela
explosão de conflitos, cuja solução é confiada exclusivamente à autotutela.

Historicamente, o termo sociedade civil global ganhou proeminência nos anos


90, impulsionado pela intensificação da globalização e das relações transnacionais.
Embora ambos fenômenos já fossem verifica-
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dos nas décadas de 1970 e 1980, o final da Guerra Fria impulsionou o * debate
acadêmico sobre o tema.? É questionado até que ponto o sistema internacional não
deve ser caracterizado por uma anarquia, nem uma sociedade de Estados, mas sim
uma sociedade global, composta por indivíduos e grupos cujos interesses e
identidades não são limitados pelas fronteiras dos Estados. Também é debatido até
que ponto os indivíduos e grupos que fazem parte da sociedade civil global podem ser
vistos como novos atores da política internacional. Nesse sentido, o de- bate acerca da
sociedade civil global está diretamente ligado ao debate acerca das transformações do
sistema internacional, da soberania estatal e da governança global.?

A literatura da disciplina de Relações Internacionais reflete a diversidade de


premissas a respeito da sociedade civil. Ronnie Lipschutz define a sociedade civil
global como um tipo de interação política focalizada na construção consciente de
redes de ação e conhecimento por atores locais que transpassam as fronteiras
reificadas do espaço, ou seja, os Estados. Essas redes seriam, em grande medida,
unidas por normas e códigos de comportamento que emergiram em reação às ficções
legais e sociais construídas pelo sistema de Estados.*

Outros autores são mais céticos quanto à harmonia interna e:as “promessas'
democratizantes da sociedade-civil global. Robert Cox vê a sociedade civil global como
associada ao mercado capitalista e à contestação entre forças hegemônicas e contra-
hegemônicas. 3 Richard Falk e R.BJ. Walker definem a sociedade civil global como uma
expansão da arena de pluralismo e contestação, não apenas como uma fonte de
civilidade, mas também de “incivilidade”. Esses autores, no entanto, fazem uma
distinção entre a sociedade civil e o mercado.6 A sociedade civil global refere-se ao
espaço de atuação e pensamento ocupado por iniciativas de cidadãos, individuais ou
coletivos, de caráter voluntário e sem fins lucrativos.” Assim como esses últimos
autores, buscamos problematizar as condições sob as quais surgiu a sociedade civil
global e seu papel na governança global e também excluímos iniciativas de caráter
lucrativo, tais como as corporações multinacionais.
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DEFINIÇÃO DE SOCIEDADE CIVIL GLOBAL:

Espaço de atuação e pensamento ocupado por iniciativas de indivíduos ou grupos, de


caráter voluntário e sem fins lucrativos, que perpassam as fronteiras dos Estados.

Podemos distinguir diversos tipos de ação coletiva ou de organização dos


participantes da sociedade civil. Essas formas de organização da sociedade civil global
podem ser vistas como fóruns em que os indivíduos e grupos colaboram na
formulação de normas, ou como atores, dependendo de seu grau de
institucionalização autonomia. Além das organizações não-governamentais
internacionais (ONGIs), que serão vistas em detalhes a seguir, as principais formas de
organização dos participantes da sociedade civil global são os movimentos sociais
transnacionais, as coalizões ou redes transnacionais, as redes de políticas globais e as
comunidades epistêmicas. Alguns autores também incluem as corporações
multinacionais como atores da sociedade civil global. Aqui, consideramos que, embora
as corporações multinacionais sejam atores não-estatais, elas não fazem parte da
sociedade civil global já que sua lógica de atuação não é política, e sim econômica: seu
objetivo primordial é a maximização de lucros.º

Os movimentos sociais transnacionais são indivíduos e grupos ne se juntam


com o objetivo de transformar o status quo. Eles atuam através de meios não-
violentos, embora possam desrespeitar o estado de direito na promoção da mudança
social. Esses movimentos se desenvolvem ao redor de clivagens sociais, tais como:
classe, religião, região, idioma ou algum objetivo particular como meio ambiente,
direitos humanos, desenvolvimento e imigração. Alguns exemplos seriam o
movimento abolicionista no final do século XIX e o Pentacostalismo Cristão.

As redes ou coalizões transnacionais são ligações entre diversos tipos de


organização da sociedade civil global que, embora se mantenham independentes
organizacionalmente, atuam em conjunto para
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promover uma determinada atividade, tal como o Fórum Social Mundial. Como consta
em sua Carta de Princípios, o Fórum Social Mundial foi criado como um “espaço aberto
de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a
formulação de propostas, a troca livre de experiências e a articulação para ações
eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao
neoliberalismo é ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de
imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária
centrada no ser humano”.10

Um tipo particular de coalizão são as redes de advocacia (advocacy networks),


que compartilham valores e discursos, buscando defender uma causa ou promover
novas ideias no debate político, como a criada em 1993 para promover a Campanha
Internacional para Proibição Total de Minas Terrestres. Essa rede transformou o
discurso internacional a respeito das minas, definindo-as não como uma questão de
controle de armas ou de segurança nacional, mas como uma questão de segurança
humanitária.

As redes de política global são; redes que incluem setores governa- mentais,
tais como a Comissão Mundial de Represas. Essa comissão foi criada em 1998, como
um fórum para cooperação a respeito do papel das represas sobre o desenvolvimento
econômico, e é formada por representantes governamentais, de OIGs como o Banco
Mundial, ONGIs e do setor privado. Em 2000, lançou um relatório “Represas e
Desenvolvimento: um novo arcabouço para tomada de decisões”, coma presença de
Nelson Mandela, que se tornou referência para a área. As comunidades epistêmicas
são redes compostas por especialistas de vários países, que podem trabalhar em
institutos de pesquisa, universidades ou nos governos. Um exemplo de comunidade
epistêmica seria o grupo de estudos UE-Mercosul organizado pela Cadeira Mercosul
do Instituto de Estudos Políticos de Paris

Finalmente, um tipo particular da sociedade civil global são as ONGIs. Ao


contrário dos outros tipos, as ONGIs têm um caráter particular devido a seu maior
grau de formalização e institucionalização. Elas
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PRINCIPAIS TIPOS DE PARTICIPANTES DA SOCIEDADE CIVIL GLOBAL:

• Movimentos sociais transnacionais: Indivíduos e grupos que se juntam com


o objetivo de transformar o status quo.

• Coalizões ou redes transnacionais: Ligações entre diversos tipos de


organização da sociedade civil global, que embora se mantenham
independentes organizacionalmente, atuam em conjunto para promover uma
determinada atividade.

• Redes de advocacia: Tipo particular de rede, onde seus participantes


compartilham valores é discursos, buscando defender uma causa e promover
novas ideias no debate político.

• Redes de políticas globais: Redes que incluem setores governamentais.

• Comunidades epistêmicas: redes compostas por especialistas e vários países,


que podem trabalhar em institutos de. pesquisa, universidades ou nos
governos.

• Organizações não-governamentais: Organizações voluntárias organizadas


por indivíduos e grupos e que contam com um documento constituinte e uma
sede permanente.

são organizações internacionais, como definido no Capítulo 1, o que não é o caso das
outras formas de organização da sociedade civil global. Deve-se destacar, no entanto,
que, ao contrário das organizações internacionais intergovernamentais (e das
corporações multinacionais), as ONGIs não pode ser acordada personalidade jurídica
internacional. Elas são registradas como entidades sem fins lucrativos em cada Estado
onde atuam, de acordo com a legislação nacional. Para se configurar como uma ONG
internacional, e não apenas uma rede de ONGs nacionais, as ONGs internacionais
possuem um documento constituinte e um secretariado internacional, localizado em
um Estado específico. A ligação entre o secretariado e as “filiais” é prevista no
documento constituinte e varia quanto à centralização, distribuição de recursos e
responsabilidades.
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O Greenpeace Internacional, por exemplo, tem uma estrutura federal, com


filiais bastante autônomas. Já a Human Rights Watch tem uma estrutura mais
centralizada. Embora a maioria das ONGIs seja universal, aberta à participação de
indivíduos e grupos de qualquer parte do globo, algumas são regionais tais como a
Federação Europeia de Biotecnologia ou a União Árabe de Advogados. 13

O papel das ONGIs na política global ganhou proeminência após as


demonstrações em Seattle, no final de 1999, durante o encontro ministerial da;
Organização Mundial do Comércio, que tinha na agenda a | abertura de uma nova
rodada de negociações. O movimento foi comparado ao de 1968, contando com
milhares de manifestantes contra a globalização, e foi um sucesso absoluto,
paralisando as negociações e colocando as ONGIs no centro das atenções da mídia
global. A manifestação foi planejada e divulgada principalmente pela Internet. O
impacto da Internet sobre a capacidade de influência das ONGIs é considerável, já que
a grande maioria mantém contato e divulga suas atividades através de listas de e-mail
e sites.

Apesar do destaque recente, as primeiras ONGIs surgiram no século XIX. A


mais antiga registrada na União das Associações Internacionais (Union of International
Association — UIA) correntemente é a Sociedade Anti-Escravista para a Proteção dos
Direitos Humanos, criada em 1839. Outros exemplos de ONGIs antigas são a Cruz
Vermelha e a Associação dos Homens Trabalhadores, criadas na década de 1860. Em
1874, havia apenas 32 ONGIs registradas na UIA; em 1914, 1.083. Houve um
crescimento significativo no número de ONGIs criadas no final do século XIX, cerca de
dez por ano, atingindo um pico de 51 por ano em 1910. Esse ritmo caiu durante a
Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, mas acelerou-se novamente na segunda
metade da década de 1940, com uma média de cerca de 90 ONGIs criadas por ano. O
ritmo se estabilizou até a década de 1960 e 1970, quando começou a acelerar
novamente. Durante a década de 1990, o número de ONGIs registradas na UIA cresceu
de 10.292 para 13.206, e seus membros de 155.000 para 263.000.
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NÚMERO DE ONGIs REGISTRADAS


NA UNIÃO DAS ASSOCIAÇÕES INTERNACIONAIS:

• 1874 — 32
• 1914 — 1.083
• 1990 — 10.292
• 2000 — 13.206

Algumas dessas organizações são grandes, contam com orçamentos consideráveis


e atuam em uma área abrangente, tais como o Greenpeace Internacional (meio
ambiente), a Oxfam Internacional (desenvolvimento) e a Anistia Internacional
(Direitos Humanos). Outras São pequenas e atuam em uma área mais específica, como
sociedades profissionais e organizações de refugiados. Segundo as estatísticas da Li,
atual. mente a maioria da ONGIs atua na área de indústria e comércio, seguida pelas
áreas de medicina e saúde, ciência, matemática e espaço, esportes, comunicações,
finanças e turismo, bem-estar e direitos individuais, política mundial, religião, família
e identidade cultural, profissões e trabalho, educação e estudantes, humanidades,
artes e filosofia e, finalmente, partidos e ideologias políticas.

Em termos das estratégias de atuação das ONGIs, podemos diferenciar entre a


colaboração com outros atores da política internacional, tais como os Estados ou OIGs,
e o confronto com esses atores pelas campanhas diretamente direcionadas à opinião
pública global, chamando a mudança de políticas adotadas ou reformas específicas. A
Estratégia mais frequente é atingir a opinião pública de forma direta pela mídia, de
forma a fazer pressão sobre a reputação do Estado ou OIGs, colocando-os em
situações embaraçosas. Podemos citar os exemplos da campanha contra a
Organização Mundial do Comércio no movimento das ONGIs antiglobalização durante
a Conferência Ministerial em Seattle, a 1999, e o caso do Japão nas campanhas do
Greenpeace contra a caça às baleias.

A colaboração entre ONGIs e autoridades governamentais estatais é fruto do


interesse tanto das ONGIs em influenciar a formulação e a
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implementação de polir às sociais, quanto dos Estados em “terceirizar” serviços, seja


no âmbito local ou no da cooperação internacional. Essa atuação tem sido alvo de
críticas. As ONGIs (assim como as ONGs) são percebidas como substitutos do Estado
que escapam, no entanto, dos mecanismos de controle democráticos. No caso da
cooperação interna- cional, a crítica é ainda mais intensa; as ONGIs operam como
fornece- dores de serviços em um contexto de liberalização imposta por meio de
condicionalidades do Banco Mundial. Bangladesh; por exemplo, um: dos Estados com
a maior população de ONGIs, tem sido apontado como um exemplo de “Estado de
franchise”, um Estado sem cidadãos.” Uma área de colaboração entre ONGIs menos
controversa é a de monitoramento da aquiescência, na qual as ONGs são, em geral,
consideradas eficazes. 18
À relação entre as ONGIs e as OIs intergovernamentais é bastante abrangente.
Além da colaboração, o processo de surgimento das ONGIs e Ols está intrinsecamente
ligado. A criação da própria Liga e da ONU teve forte influência das ONGIs. Grupos
promotores da paz, tais como a Liga para Promoção da Paz e a Sociedade da Liga das
Nações, contribuíram para o desenvolvimento das ideias que levaram à criação da
Liga. Representantes de mais de 1.200 organizações voluntárias estiveram presentes
na Conferência de São Francisco, quando foi assinada a Carta da ONU. Algumas OIGs
foram criadas a partir de ONGIs, como é o caso da Organização Internacional do
Trabalho, da Organização Mundial Metereológica e da Organização Mundial de
Turismo. Criadas original- mente como ONGIs, essas organizações foram cooptadas
pelos Estados, e transformadas em OIGs. A criação de diversas organizações
funcionais e regionais sofreu o mesmo processo.19

De modo inverso, muitas ONGIs foram criadas a partir do incentivo de OIGs. As


conferências internacionais promovidas pela Liga e pela ONU tiveram grande impacto
sobre a criação de novas ONGIs. Além disso, muitas OIGs fazem referência às ONGIs
em seus documentos constituintes, em geral incentivando os Estados-membro a
apoiá-las. O artigo 25 do Pacto da Liga, por exemplo, incita a cooperação de seus
membros com as organizações voluntárias da Cruz Vermelha “que te-
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nham por finalidade a melhoria da saúde, defesa preventiva contra as enfermidades e


o alívio dos sofrimentos no mundo”. À Liga também publicava um boletim quadrienal
sobre as atividades de recomendações políticas das ONGIs e possuía funcionários no
Secretariado encarrega- dos de supervisionar suas relações com as ONGIs. A Carta da
ONU faz referências às ONGIs, em seu artigo 71, no qual é atribuído ao ECOSOC poder
para “entrar nos entendimentos convenientes para a consulta cem organizações não-
governamentais, encarregadas de questões que estive-. rem dentro da sua própria
competência”. O artigo acrescenta que “tais entendimentos poderão ser feitos com
organizações internacionais e, quando for o caso, com organizações nacionais, depois
de efetuadas consultas com os membros das Nações Unidas interessados no caso”.

No que se refere à colaboração efetiva entre ONGIs e OIGs, ela pode ocorrer no
âmbito da formulação de normas, da implementação de decisões ou políticas, ou de
monitoramento da aquiescência dos Estados-membro. Assim como no caso da
colaboração com autoridades governamentais dos Estados, visto anteriormente, a
área de implementação costuma ser bastante criticada, e a de: participação na
formulação de normas e de monitoramento, menos controversa.

PRINCIPAIS FORMAS DE COLABORAÇÃO


DAS ONGIs COM ESTADOS OU OIGs:

• Formulação de normas
• Implementação de decisões ou políticas (terceirização de serviços)
• Monitoramento da aquiescência dos Estados e Estados-membro.

A colaboração no âmbito de formulação de normas ocorre através da participação


nos processos decisórios como observadoras nos órgãos legislativos das OIGs ou
através da participação nas conferências dates nacionais. No que se refere às
conferências, algumas ONGls participam diretamente, prática que já ocorria com a
Liga, como, por exemplo; no caso da Conferência Financeira de 1920, da Conferência
Mundial Econô-
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mica de 1927 e da Conferência de Desarmamento de 1932.2º Mais recentemente, em


especial após a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1972, em
Estocolmo, consolidou-se a prática das ONGIs se reunirem em fóruns paralelos. A
participação de ONGIs nas conferências internacionais cresceu exponencialmente nas
últimas décadas. Na Conferência do Meio Ambiente de Estocolmo em 1972,
participaram cerca de 250 ONGIs, na do Rio de Janeiro em 1992, cerca de 1.400. Na
Conferência sobre a Mulher de Beijing em 1995, foram cerca de 2.100 ONGs. A
participação das ONGIs varia em cada conferência, podendo ter apenas o direito de
fazer declarações finais, ou recomendações legislativas, ou um papel formal na
implementação das decisões acordadas, como foi o caso do documento final da
Conferência do Rio, a Agenda 21. 21

A prática de participação de ONGIs nos processos decisórios como


observadoras também já ocorria na Liga, onde ONGIs podiam ser convidadas para
participar de encontros da Assembleia e do Conselho. Embora essa participação
tivesse um caráter informal, várias propostas ; de ONGIs foram incorporadas nos:
trabalhos desses órgãos, principalmente na área dos direitos de minorias e das
crianças: Eglantyne Jebb, por exemplo, que fundou a Save the Children, em 1919,
colaborou na redação da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela Liga em
1924. A Save the Children e outras ONGs estavam representadas no Comitê do Bem-
Estar da Criança da Liga, assim como nos grupos feministas no Comitê sobre o Tráfico
de Mulheres e Crianças, embora não tivessem direito a voto. Várias ONGs abriram
escritórios em Genebra para facilitar os contatos com a Liga, a ali permanecem até os
dias de hoje.22

A carta da ONU formaliza a colaboração das ONGIs, que podem adquirir status
consultivo no ECOSOC, como previsto no artigo 71 da Carta, anteriormente citado. O
número de ONGs registradas nesse órgão cresceu de 41, em 1946, para 2.531,
atualmente. As decisões sobre a concessão de status consultivo são tomadas pelo
próprio ECOSOC, com base em recomendações de seu Comitê de ONGs, composto por
dezenove Estados. Os critérios atuais para elegibilidade e seleção são determinados
pela Resolução 1996/31. 23 Qualquer ONG, internacional,
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regional, nacional ou subnacional, pode se candidatar, desde que atenda aos critérios
de ter mais de dois anos de existência, uma seu, uma constituição e uma estrutura
democrática. São acordados três tipos de status consultivo: geral, especial e de
listagem (roster). O primeiro tipo é mais abrangente e é concedido a ONGs grandes e
multifacetadas, tais como a Legião da Boa Vontade, que se engajam em diversas áreas.
Essas ONGs podem consultar funcionários do Secretariado da ONU, propor temas para
a agenda através do Comitê de ONGs do ECOSOC, submeter declarações escritas e se
pronunciar oralmente no ECOSOC ou reuniões nas comissões funcionais. O status
especial é concedido a ONGs conhecidas internacionalmente que tenham
conhecimento especializado em uma área particular, tal como a Associação Latino-
Americana de Desenho Industrial Elas têm quase os mesmos direitos das ONGs de
status consultivo geral, exceto propor temas para a agenda. O status de listagem
(roster) é concedido a ONGs menores, tais como a IBASE, que tenham interesses
ocasionais específicos e que tenham os mesmos direitos das de status especial. 24

A participação das ONGIs na Assembléia Geral e no Conselho Segurança não é


tão formalizada como no ECOSOC. Apesar da resistência por parte dos Estados-
membro para uma maior formalização, e mas práticas têm ocorrido. O Comitê
Internacional da Cruz Vermelha, por exemplo, adquiriu status de observador na
Assembléia em 1994 e a Federação Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz
Vermelha e do Crescente Vermelho, em 1996. Algumas ONGs têm participado nas
sessões dos comitês especiais e nas sessões especiais da Assembléia. Em 1997, pela
primeira vez o Conselho de Segurança permitiu que representantes da Oxfam, CARE e
Médicos Sem Fronteiras se pronunciassem nesse órgão, a respeito da crise dos
Grandes Lagos. Desde então, essa prática se repetiu algumas vezes, mas de forma ad
hoc e não formalizada. 26 Além da participação nos órgãos existentes, existem
propostas para a criação de um novo fórum na ONU somente para as ONGs, no
formato de uma Assembléia Consultiva Parlamentar ou um Fórum da Sociedade Civil.
Embora essa idéia seja rejeitada por muitos Estados, 0 projeto tem sido discutido,
entre outros, no âmbito da Assembléia Glo-
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bal das Pessoas do Milênio (Global Millenium Peoples Assembly), realizada em abril
2000, em Samoa. 27

As ONGIs também podem colaborar formalmente com a ONU no âmbito da


disseminação de informações, se associando ao Departamento de Informação Pública
do Secretariado. As ONGIs credenciadas têm acesso livre aos prédios e podem, assim,
assistir a quaisquer debates públicos, ou fazer lobby. com os delegados nos
corredores, uma prática que tem sido reconhecida como cada vez mais importante. 28

Assim como-nos órgãos Principais da ONU, as ONGIs também tem acesso aos
órgãos legislativos de grande parte das agências funcionais, tais como a Organização
Mundial da Saúde ou a Organização Internacional do Trabalho, sendo que cada uma
tem autonomia para estabelecer, seus próprios critérios para seleção e mecanismos
de colaboração. 29 As ONGIs também colaboram com as OIGs regionais, tais quais a
União Européia e o Mercosul.

Como, foi visto ao longo desta Seção, a atitude em relação á sociedade civil
global e às ONGIs não é uniforme. Alguns estudiosos e ativistas as vêem
positivamente, como elementos democratizantes da política internacional. Outros as
acusam de serem instrumentos da manutenção da hegemonia cultural Ocidental ou de
perpetuarem as clivagens sociais e econômicas inerentes ao sistema capitalista.

Uma crítica feita às ONGIs, nesse contexto, é até que ponto conseguem se
manter organizações sem fins lucrativos, não se confundindo .com corporações
privadas, Em suas campanhas direcionadas ao público em geral, as ONGIs utilizam
técnicas de marketing do setor privado, como o uso de logomarcas e À divulgação em
objetos de consumo, como camisetas. O Greenpeace, por exemplo, conta com lojas em
centros comerciais em São Paulo e no Rio de Janeiro. A filial do Canadá, onde foi
originalmente criada a organização, perdeu seu status de instituição de caridade em
1989, sob alegação de que suas atividades não trazem benefícios públicos, e que
tinham perfil empresarial. 31

As ONGs também não são sempre bem vistas pelos Estados-membro da OIGs
com quem colaboram. Estados menos democráticos tendem a rejeitar ONGIs atuantes
na área de direitos humanos, Estados
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mais ricos, as ONGIs antiglobalização. Por insistência da China e de outros Estados


Asiáticos, as ONGIs foram excluídas do comitê que preparava os documentos para à
Conferência sobre Direitos Humanos em Viena em 1993. Ademais, as ONGIs nem
sempre trabalham em harmonia, havendo clivagens recorrentes, tais como entre as
ONGs “do Norte” e as “do Sul”, entre as mais reformistas e as mais radicais. Essas
questões serão levantadas a seguir na análise de alguns exemplos de ONGs: a Cruz
Vermelha, o Greenpeace Internacional e a Human Rights Watch.

A Cruz Vermelha
A Cruz Vermelha tem uma história e um papel na política internacional muito
particular. O termo Cruz Vermelha abrange o Comitê Internacional da Cruz Vermelha,
as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho é a Federação
Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e
é referido como um movimento global.? A Federação foi criada em 1919 pelas
Sociedades Nacionais existentes. Elas surgiram a partir das propostas levadas aos
líderes mundiais pelo Comitê, cuja origem remete à visão € à determinação de Henry
Dunant, um banqueiro suíço que, por razões pessoais e profissionais, estava na
Lombardia durante as guerras italianas de independência. Dunant se confrontou com
milhares de soldados feridos após uma luta entre italianos e austríacos na cidade de
Solferino e, chocado com a falta de médicos e assistência, permaneceu para ajudá-los.
Em 1862, publicou um livro relatando sua experiência € propondo a criação de
sociedades compostas por voluntários qualificados para assistir os feridos durante as
guerras. O livro foi um sucesso, e Gustave Moynier, advogado em Genebra e membro
da Sociedade para Bem-Estar Público dessa cidade, convidou Dunant para participar
de um comitê que deveria examinar e implementar as propostas do livro. O comitê,
originalmente chamado Comitê Internacional para Ajuda aos Feridos Militares, foi
renomeado Comitê Internacional da Cruz Vermelha em 1880.

Um dos consensos do comitê era a necessidade de as Sociedades Nacionais


serem reconhecidas oficialmente pelos governos para evitar a
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ORGANIZAÇÕES NÃO-GOVERNAMENTAIS
DO MOVIMENTO GLOBAL DA CRUZ VERMELHA:

• Comitê Internacional da Cruz Vermelha


• Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho
• Federação Internacional das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho

resistência dos comandantes militares e colocar os voluntários em risco. Os membros


do comitê, especialmente Dunant, se engajaram em uma estratégia de cima para baixo,
entrando em contato diretamente com representantes governamentais das principais
potências européias e convidando-os a participar de uma conferência com o objetivo
de formular um acordo internacional que tratasse das propostas do comitê. Apesar da
importância atribuída ao apoio do público em geral, a estratégia foi
predominantemente direcionada a representantes políticos e legalista. A Conferência
se realizou em 1863 é contou com delegados da Áustria, Baden, Bavária, Grã-
Bretanha, França, Hanover, Hesse; Itália, Holanda, Prússia, Rússia, Saxônia, Espanha,
Suécia e Suíça e-sociedades filantrópicas tais como a Ordem de São João de: Jerusalém
e a Sociedade de Ciências Sociais de Neuchatel.

Apesar de discordâncias entre os participantes, a proposta do Comitê foi


adotada por unanimidade. Os delegados. retornaram a seus países com a tarefa de
organizar sociedades nacionais e persuadir seus governos a assinarem um acordo
internacional reconhecendo a neutralidade dos voluntários e dos feridos. Os
voluntários deveriam portar o emblema distintivo adotado: a cruz vermelha sobre o
fundo branco, cores invertidas da bandeira nacional suíça. O acordo foi assinado em
conferência ocorrida no ano seguinte e, em 1868, praticamente todos os países
europeus e vários não-europeus, como os Estados Unidos e a Turquia, haviam aderido.
A Convenção de Genebra de 1864 foi o primeiro acordo internacional de direito
humanitário, sendo sua principal
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característica o princípio da neutralidade para feridos e voluntários civis


encarregados de assisti-los. Originalmente aplicado somente a guerras interestatais, o
princípio foi expandido para o caso de conflitos domésticos. Da mesma forma, não
apenas soldados, mas qualquer vítima de violência passou a ser objeto de assistência
das normas humanitárias e de proteção da Cruz Vermelha.

O papel determinante da Cruz Vermelha no desenvolvimento das normas


humanitárias internacionais e das Convenções de Gene ao enfatizado por Martha
Finnemore. A autora defende, em um estudo abrangente, que os outros fatores
usualmente atribuídos a seu desenvolvimento, a expectativa de reciprocidade, o
interesse instrumental dos Estados em reaproveitar seus feridos e razões políticas
domésticas, não se sustentam empiricamente (Finnemore, 1996).

A relação da Cruz Vermelha com os Estados difere da maioria das outras


ONGIs. As Convenções de Genebra de 1949 e seus Protocolos de 1977, sucessores da
Primeira Convenção, de 1864, concedem mandato oficial para a organização proteger
e assistir as vítimas de conflitos armados. As Sociedades da maioria dos países
concluíram acordos com suas respectivas autoridades, nos quais à Cruz Vermelha são
privilégios e imunidades normalmente concedidas apenas às organizações
intergovernamentais.

Em 1965, dura a 20º Conferência Internacional da Cruz Vermelha, realizada em


Viena, na Áustria, cinco princípios foram oficialmente proclamados: humanidade,
imparcialidade, neutralidade, independência, serviço voluntário, unidade e
universalidade. 33 Em relação à imparcialidade e à neutralidade, é interessante notar
que nem sempre e foi essa a percepção dos povos não-cristãos. Durante as guerras
nos Balcãs de 1875, quando a Bósnia, Herzogovina e a Bulgária se rebebelaram contra
os turcos, os voluntários da Cruz Vermelha não foram poupados; pelo contrário, foram
explicitamente alvejados pelos turcos muçulmanos. Um resultado desse problema foi
a inclusão do Crescente Vermelho como símbolo alternativo à Cruz Vermelha.
ELSEVIER Sociedade Civil Global 239

Atualmente, a Cruz Vermelha tem Sociedades em 178 países — a Cruz


Vermelha Brasileira foi uma das primeiras a ser criada, em 1907, e seu primeiro
presidente foi Oswaldo Cruz.” As Sociedades contam com mais de 100 milhões de
membros e voluntários. Existem dois tipos de voluntários: delegados e especialistas.
Qualquer homem ou mulher entre 25 e 35 anos pode se tornar um delegado, desde
que tenha disponibilidade para viajar, diploma universitário e fale inglês ou francês,
Os delegados atuam em diversas áreas na organização e implementação dos
programas de assistência. Os especialistas são recrutados de acordo com as
necessidades e, em geral, participam de missões que duram entre seis meses a um
ano. O recrutamento dos voluntários é feito pela Sociedade em seu país, que podem
seguir carreira na organização, tanto no campo quanto nas sedes nacionais ou em
Genebra.

Os membros do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, entre 15 e 25 pessoas,


no entanto, precisam ter a nacionalidade suíça — peculiaridade fundamentada pela
neutralidade da Suíça. Eles se reúnem periodicamente na Assembléia do Comitê para
estabelecer as políticas gerais da organização. O Comitê ainda. possui um Conselho,
composto por cinco membros da Assembléia, e uma diretoria para administrar o dia-
a-dia da organização na sede em Genebra. Apesar de determinar as políticas gerais, o
Comitê não exerce autoridade sobre as Sociedades Nacionais, que são organizações
autônomas em seus países de estabelecimento. As Sociedades criaram uma federação
em 1919, com um secretariado também em Genebra. 35

A relação entre o Comitê, as Sociedades Nacionais e à Federação é atualmente


regulamentada pelo Acordo de Sevilha de 1997 e pelos seus documentos
constituintes. Cada uma dessas organizações pode receber doações de Estados ou
OIGs, e as Sociedades Nacionais repassam parte dos seus recursos para a Federação e
parte para o Comitê. O Movimento da Cruz Vermelha, como são referidos em conjunto,
se reúne a cada dois anos para decidir assuntos de interesse comum, em um fórum
chamado Conselho dos Delegados. Além desse fórum, o movimento parti-
240 Organizações Internacionais ELSEVIER

cipa, juntamente com os Estados signatários aas Convenções de Genebra, a cada


quatro anos de conferências, a última tendo ocorrido em Genebra em 2003.

Em relação à atuação no campo, a participação da Cruz Vermelha ocorre


principalmente durante os conflitos armados, mas também após seu término, na
reconstrução de sistemas de saúde, treinamento de pro- fissionais da saúde e
distribuição de medicamentos. A Cruz Vermelha também atua na prevenção de
conflitos, assistências de vítimas de desastres naturais e refugiados e fiscalização do
tratamento dos prisioneiros de guerra, entre outros.

ATUAÇÃO DA CRUZ VERMELHA:

• Atividades de campo (ajuda humanitária durante conflitos armados e desastres


naturais, assistência aos refugiados, fiscalização do tratamento de prisioneiros
de guerra, entre outros).

• Colaboração com Estados e OIGs na formulação de normas humanitárias, sua


implementação e seu monitoramento.

Além de sua atuação nas áreas de conflito, a Cruz Vermelha também busca
influenciar a formulação de normas, tanto internacionais quanto domésticas, e
garantir sua implementação através do monitoramento dos Estados. Ela ainda provê
assistência aos Estados para cumprirem suas obrigações e assistência jurídica para a
instauração de processos de crime de guerra. 36

Quando observa a violação das normas humanitárias, a Cruz Vermelha


primeiramente entra em contato com as autoridades responsáveis de modo
confidencial. Se os governos não atuarem sob essas recomendações, a Cruz Vermelha
pode chegar a denunciá-los publicamente. Embora essa prática seja rara, esse foi o
caso, por exemplo, das denúncias sobre o tratamento dos prisioneiros na base militar
norte-americana na Baía de Guantanamo, em Cuba, detidos sob suspeita de parti-
ELSEVIER Sociedade Civil Global 241

ciparem da rede Al Qaeda de terrorismo. A Cruz Vermelha foi a primeira entidade a


denunciar as condições em que estavam sendo mantidos e a alertar que a guerra
contra o terrorismo não pode implicar a violação do direito humanitário e dos direitos
humanos.

Finalmente, devemos destacar a colaboração da Cruz Vermelha com as outras


OIs e ONGIs atuando na área de emergências humanitárias e proteção dos direitos
humanos. Como já mencionado; o artigo 25 do Pacto da Liga incitava à cooperação de
seus membros com a Cruz Vermelha. No caso da ONU, além do status de observadora
na Assembléia Geral no ECOSOC, um dos principais eixos de colaboração dá-se através
da participação no Comitê Inter-Agência (Inter-Agency Standing Committee). Esse
comitê foi criado em 1992 como um mecanismo de coordenação sob o subsecretário-
geral da ONU para Assuntos Humanitários e é composto pela Organização Mundial da
Saúde, Organização da ONU para Alimentação e Agricultura, Organização
Internacional de Migrações e a Federação da Cruz Vermelha, além de representantes
de outras ONGls. 37

O Greenpeace Internacional
O Greenpeace Internacional é uma das maiores ONGIs contemporâneas e
também uma das mais carismáticas e místicas. Dois componentes de sua principal
estratégia — o uso de navios e a testemunha ocular — são atribuídas à influência
Quacker, Um de seus símbolos, o arco-íris, foi adotado por inspiração do romance
“Guerreiros do Arco-Íris” (Warriors of the Rainbow) escrito por William Willoya e
Vinson Brown, que conta-a profecia dos índios Cree, do Canadá, que um dia, quando a
terra estivesse envenenada pôr seres humanos, um grupo de pessoas de todas as
nações iria se unir para defender a natureza. A bandeira da organização foi abençoada
pelo Papa, pelo Karmapa Budista e pelos índios Kuakuitl. Sua história mistura-se com
o desenvolvimento do movi- mento ecológico global, incluindo a criação dos partidos
verdes e do regime internacional de meio ambiente.
242 Organizações Internacionais ELSEVIER

A organização foi criada a partir de um movimento de ativistas no final da


década de 1960 em Vancouver, no Canadá, ai a real ação de testes nucleares
realizados pelo governo dos Estados unidos na ilha de Amchitka, no Alasca. O grupo
criou um comitê para pras da campanha chamado “Não façam ondas” (Don't make a
wave Comitee), em referência às ondas potencialmente criadas com as explosões,
especialmente pelo fato de a área ser sujeita a terremotos. A campanha mobilizou a
população local e diversos grupos, desde pacifistas até biólogos (a n era habitada por
várias espécies animais em extinção) e foi considera E sucesso. Como resultado,
posteriormente os Estados Unidos suspenderam testes na região.

O Comitê de ativistas adotou o nome Greenpeace em 1971 e, no ano seguinte,


promoveu uma campanha para protestas contra os testes; nucleares franceses no atol
Mururoa, no Pacífico, marcando o caráter global de sua atuação. Essa campanha
colocou o Greenpeace no centro das atenções da mídia internacional, principalmente,
devido ao con E com o governo francês. O capitão do navio, David McTaggart, navegou
até a zona de testes da bomba nuclear, ancorando a três milhas de Mururoa de forma a
impedir que o navio francês fizesse os testes. Ele, no entanto, abordou o navio do
Greenpeace danificando-o. Com isso, McTaggart acabou tendo de retornar a
Rarotonga, e os testes foram realizados, mas entrou na justiça acusando os franceses
de pirataria e alto mar. 39

O Greenpeace tornou-se uma organização a o Canadá, em 1972 (Greenpeace


Foundation), e sua segunda campanha foi contra a caça de baleias, enfatizando seu
caráter ecológico vis-à-vis o pacifista. A caça das baleias era praticada principalmente
e Japão, ex-União Soviética, Noruega e Islândia. Sob inspiração do cientista neo-
zelandês Paul Spong e seus estudos sobre a inteligência das baleias, o Greenpeace se
engajou nessa campanha. As normas internacionais estabelecidas no âmbito da
Comissão Internacional de Caça à Baleia, que consistiam basicamente em um sistema
de cotas para o número total permitido a cada país, não eram respeitadas. A
estratégia, mais uma vez, foi a de chocar a opinião pública retratando a caça desses
mamíferos como uma carnificina
ELSEVIER Sociedade Civil Global 243

praticada por navios comerciais. As cenas filmadas de uma caça em 1975


contribuíram, segundo Robert Hunter, um dos fundadores da organização, para
mudar a imagem coletiva mundial respeito das baleias. Em vez de grandes monstros
contra pequenos e corajosos homens, como retratado em Moby Dick, o filme mostrou
navios enormes e animais, indefesos, na maioria não-adultos. O objeto da coragem
passou a ser a proteção, e não a caça das baleias. Ademais, a campanha ainda
contribuiu para aumentar a eficácia da Comissão Internacional ide Caça à Baleia, que-
decretou uma moratória à caça comercial em 1982. 40

O sucesso de suas campanhas e a atenção na mídia estimularam a criação de


outros grupos ligados ao Greenpeace em diversos países. A proliferação de grupos
ativistas ampliou as possibilidades de atuação da organização, mas as dificuldades de
coordenação entre os diversos grupos criaram conflitos organizacionais. Para
solucionar esse problema, foi criado, em 1979, o Greenpeace Internacional, uma
organização não-governamental internacional, com sede em Amsterdã, na Holanda.

MARCOS INSTITUCIONAIS NO

DESENVOLVIMENTO DO GREENPEACE:

• Comitê “Não faça ondas” contra testes nucleares nos Estados Unidos na ilha de
Amchitka, Alasca (1969).

• ONG canadense Greenpeace (1971).

• ONGI Greenpeace Internacional (1979).

Respeitando a autonomia que já existia entre os diversos grupos, o Greenpeace


Internacional adotou um formato federalizado. Atualmente existem filiais em 41
países, que são relativamente autônomas. 41As filiais são responsáveis pela captação
de recursos e repassam 18% do total à sede, que pode realocar essa quantia para
outras filiais. O Greenpeace não aceita doações de governos, empresas nem partidos
políticos, buscando assim não comprometer sua independência, financian-
244 Organizações Internacionais ELSEVIER

do-se exclusivamente com a contribuição dos membros. Qualquer indivíduo


interessado pode tornar-se membro do Greenpeace. Atualmente são 2,8 milhões de
pessoas, mas sua participação se limita à contribuição financeira. Para participar dos
órgãos legislativos, os membros precisam atuar nas filiais e seguir uma carreira
profissional na organização.

As orientações gerais das atividades da organização são decididas em seu


principal órgão legislativo: o Conselho Internacional. Esse órgão é composto por
representantes das filiais e se reúne ria vez ao ano no Secretariado, em Amsterdã. Ele
também elege os participantes do Conselho Internacional, órgão que aprova a
estratégia pratica de longo prazo, gerencia o dia-a-dia da organização e elege seu
diretor-executivo.

Além das campanhas contra testes nucleares e caça de baleias, já mencionadas,


as principais campanhas atuais do Greenpeace são: aca- bar a guerra no Iraque,
promover o desenvolvimento sustentável, conter o desflorestamento, a mudança
climática, a poluição dos mares e do ar, e os transgênicos. A partir desses temas, as
filiais promovem campanhas específicas para atender às necessidades de cada país.

CAMPANHAS ATUAIS DO GREENPEACE INTERNACIONAL:

• Pare a mudança climática

• Proteja as florestas.

• Salve os mares.

• Pare a caça das baleias.

• Diga não à engenharia genética.

• Pare a ameaça nuclear.

• Elimine químicos tóxicos

• Pare a guerra.

• Incentive o comércio sustentável.

A campanha contra os transgênicos é uma das mais polêmicas atualmente, pois,


além de envolver a questão ecológica, tornou-se um sím-
ELSEVIER Sociedade Civil Global 243

bolo do movimento antiglobalização. 42 Essa campanha ilustra bem como tem se


tornado cada vez mais difícil classificar as ONGIs de acordo com suas áreas de atuação.
Ecologia e desenvolvimento econômico estão intrinsecamente ligados, como proposto
na formulação do conceito de desenvolvimento sustentável. 43

Transgênicos. são definidos como seres vivos: (animais e plantas) criados em


laboratórios com técnicas-de engenharia genética: Os seres vivos geneticamente
modificados podem ser patenteados; e seu comércio passa a ser controlado pelas
firmas que os criaram. No caso agricultura transgênica, seus defensores alegam que
ela é mais saudável do que a agricultura tradicional, pois usa menos agrotóxicos, e é
mais eficiente, aumentando a produção total e, portanto; contribuindo para o combate
à fome no mundo. Os críticos, como o Greenpeace, apontam que essas alegações não
têm base científica, são mitos disseminados para favorece interesses econômicos de
empresas particulares. No caso da Soja, por exemplo, 90% das sementes transgênicas
são produzidas pela Monsanto e pela Novartis, ambas multinacionais norte-
americanas. Na agricultura transgênica, os código passam a depender totalmente das
empresas fornecedoras, já que as plantas geneticamente modifica- das não geram
sementes que possam ser reaproveitadas. Como essas empresas também produzem
agrotóxicos para as sementes modificadas, passam a:controlar todo o ciclo agrícola.

As estratégias de atuação do Greenpeace variam nas diversas campanhas.


Como visto, uma de suas principais caraterísticas é a busca da atenção do público nas
diversas partes do mundo, através da mídia internacional, em atitude de confronto
com os responsáveis pelo status quo. No entanto, a organização também busca
colaborar com Estados e OIs no âmbito de formulação legislativa e de monitoramento.
No caso da campanha contra transgênicos, o Greenpeace defende a formulação de
regulamentos internacionais, tal como o Protocolo de Biossegurança, e busca
modificar as legislações nacionais dos países onde a produção ou consumo de
transgênicos é autorizada. No Brasil, por exemplo, teve uma atuação marcante na
proibição do plantio e comercialização
246 Organizações Internacionais ELSEVIER

transgênicos em 1999 (ainda que a comercialização tenha sido autorizada


posteriormente), decretada em função de uma sentença judicial do caso aberto pelo
Greenpeace Brasil juntamente como o Instituto de Defesa do Consumidor. O
Greenpeace Brasil também divulga uma tabela com os produtos transgênicos para
cobrir a deficiência do cumprimento da obrigatoriedade de rotulagem e fazendo
pressão para aumentar a aquiescência das empresas à legislação nacional.

O Greenpeace colabora com a ONU através de diversos mecanismos,


principalmente no âmbito do ECOSOC e das conferências internacionais. À
Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento de Estocolmo é considerada um
marco divisor em relação à participação de ONGs nesses eventos. À participação do
Greenpeace na Conferência do Rio de Janeiro em 1992 foi expressiva: juntamente
como outras quero ONGIs participou inclusive das sessões preparatórias da
Conferência (PrepComs). A Organização também colabora no monitoramento e na
implementação da Agenda 21 sob responsabilidade da Comissão de Desenvolvimento
Econômico do ECOSOC. 44

A Human Rights Watch (HRW)

A HRW tem suas origens no estabelecimento em 1978 de um comitê de


ativistas de Direitos Humanos nos Estados Unidos (“Helsinki Watch”), objetivando
apoiar os grupos formados em Moscou e, postei mente, em outros países comunistas,
para monitorar o exmprimento das provisões dos Acordos de Helsinki. Na ocasião, a
ps atenção era aos prisioneiros políticos. Um dos idealizadores e participantes do
grupo, considerado um dos fundadores da HRW, foi Robert Rermenteie, que
trabalhava na ocasião na editora Random House Inc., e havia conhecido dissidentes
russos em viagens anteriores. 46 Na década de 1980, foram sendo criados outros
comitês, tais como o Americas Watch, com o objetivo de denunciar as violações aos
direitos humanos cometidas durante o conflito na América Central, e a Asia Watch,
para monitorar a
ELSEVIER Sociedade Civil Global 247

situação de prisioneiros políticos, principalmente na China. Em 1988, foi então


fundada a Human Rights Watch, uma ONGI que uniu os comitês Watch situados nos
diversos países, em uma estrutura única.

Ao contrário de ONGIs com uma estrutura federal, tais como a “Anistia


Internacional ou o Greenpeace Internacional, as atividades da HRW são mais-
centralizadas na sede, localizada em Nova York. As filiais, atualmente em-Bruxelas,
Bujumbura (Burundi); Free Town (Serra Leoa); Genebra, Hong Kong, Kigali (Ruanda),.
Londres, Los Angeles, Moscou, Santiago do Chile, São Francisco, Tashkent
(Uzbesquistão), Tbisili (Geórgia) e Washington, não lidam apenas com as campanhas
de seus respectivos Países, como é o caso da maioria das ONGIs federalizadas, mas
funcionam como escritórios de apoio-para o acompanhamento da situação dos
direitos humanos nos países designados pela sede, nos planejamentos anuais. A HRW
também tem por prática abrir escritórios temporários em países onde esteja
envolvida mais intensivamente em um determinado momento. Atualmente, a HRW
monitora a situação dos direitos humanos em mais de 70 países. A escolha dos países
é feita na sede, de acordo com o grau de gravidade dos abusos detectados, o número
de pessoas afetadas e a avaliação da possibilidade de impacto da sua atuação.

As atividades e as prioridades da HRW são decididas por seu Conselho de


Diretores, que conta com oito comitês consultivos, cinco regionais — África, Américas,
Ásia, Europa e Ásia Central e Oriente Médio —, e três temáticos — Armas, Direitos da
Criança e Direitos da Mulher. A estrutura administrativa da organização ainda inclui
um corpo executivo em Nova York, composto pelo diretor-executivo, um diretor-asso-
ciado, um assistente-executivo e um assistente-especial.

A principal Estratégia adotada pela HRW é a elaboração de relatórios, que são


apresentados às autoridades relevantes e, principalmente, à mídia internacional. A
idéia é envergonhar os infratores publicamente e exercer pressão para que sejam
punidos. Essas autoridades são os representantes governamentais dos países onde
são cometidos os
248 Organizações Internacionais ELSEVIER

abusos, mas também representantes de OIGs, tais como a ONU ou a UE. A elaboração
dos relatórios é feita a partir de pesquisas, visitas aos locais onde ocorreram os
abusos e entrevistas com vítimas, testemunhas e acusados.

Alguns de seus projetos especiais são sobre os direitos da criança, da mulher,


liberdade acadêmica, responsabilidade corporativa, pena de morte, prisões e
refugiados. Mas a organização denuncia qualquer tipo de discriminação e violação dos
direitos humanos, seja ela cometida por autoridades governamentais, empresas
privadas ou indivíduos, criminais ou não. O escopo de suas atividades é, portanto,
bastante amplo.

Um princípio da HRW é ser imparcial em relação aos conflitos nos quais ocorra
o abuso dos direitos humanos. A organização já fez denúncias contra judeus e
palestinos, hutus e tutsies, comunistas e ditadores de direita, cristãos e mulçumanos.
Para garantir sua imparcialidade política, a HRW não aceita contribuições financeiras
de nenhum governo, apenas de indivíduos e fundações.

Algumas das campanhas atuais são sobre os refugiados chechenos, a violência


doméstica e a vulnerabilidade das mulheres ao risco de contaminação da AIDS em
Uganda, o tráfico de crianças na África Ocidental, os prisioneiros da guerra ao
terrorismo nos Estados Unidos, a discriminação contra os homossexuais no exército
norte-americano, o uso de crianças como soldados em Burma, a negligência dos
orfanatos na Rússia, a discriminação contra as crianças palestinas nas escolas em
Israel. 47 Essas campanhas refletem uma seleção de questões temáticas tratadas pela
HRW nos diversos países onde atua, tais como os direitos das crianças, das mulheres e
dos homossexuais, tratamento de prisioneiros e refugiados, liberdade de expressão e
de religião, entre outros, e que remetem às normas do regime de Direitos Humanos,
visto no Capítulo 4.

A HRW também tem monitorado e denunciado a atuação dos militares norte-


americanos no Iraque. Em 2003, publicou vários relatórios denunciando o fracasso
das forças armadas em conduzir investiga-
ELSEVIER Sociedade Civil Global 249

ções sobre as mortes de civis em Bagdá causadas pelo uso excessivo ou


indiscriminado de força.

Além de suas atividades de pesquisa e denúncia de casos de violação, a HRW


ainda faz pressão sobre os governos para que esses ado- tem legislações favoráveis à
proteção dos Direitos Humanos. Nos Esta- » dos Unidos; onde está sua sede, também:
faz pressão. Para a incorporação de questões a respeito de Direitos Humanos em sua
política externa. Esse nível de atuação tem sido alvo-de críticas; a HRW é acusada de
promover os valores ocidentais dos Direitos Humanos nos outros países do mundo. 49

Um instrumento interessante criado pela HRW para a divulgação das violações


dos Direitos Humanos é o Festival Internacional de Cine-ma promovido desde 1988. A
organização seleciona os filmes a serem incluídos no programa, usando critérios sobre
o conteúdo de Direitos Humanos e o mérito artístico. O Festival é realizado em Nova
York e desde 1996 também em Londres. 50

O processo decisório da HRW é influenciado pela atuação do “Conselho da


HRW”. Embora suas atividades sejam diretamente ligadas a HRW, o Conselho é uma
organização independente, e não um órgão subsidiário. Suas principais funções são
contribuir para a consciência a respeito dos Direitos Humanos, apoiar a HRW, por
meio de arrecadação de fundos, dentre outras formas, e emitir recomendações sobre
diversos aspectos das atividades dessa organização, O Conselho é formado por quatro
comitês regionais: Nova York, Califórnia Norte, Califórnia Sul, Londres e um Comitê
Europeu Geral. Enquanto para tornar-se um membro da HRW a contribuição mínima é
de apenas $50,00 por ano, os membros do Comitê devem contribuir com pelo menos
$5.000,00. Críticos salientam o caráter elitista e etnocêntrico do Conselho, composto
em sua grande maioria por norte-americanos e europeus afluentes, como George
Soros. Em troca de suas atividades de arrecadação de fundos, A esses indivíduos têm
aumentado sua influência na determinação da atuação da HRW. 51
250 Organizações Internacionais ELSEVIER

1. Para uma discussão mais aprofundada sobre o conceito de sociedade civil veja,
por exem- plo, as obras de Norberto Bobbio (Bobbio, 1985, 1997).

2. Mary Kaldor enfatiza a influência dos movimentos de oposição aos regimes


comunistas e dos processos de democratização nessa região e na América Latina
sobre o desenvolvimen- to da sociedade civil global (Kaldor, 2003). !

3. Algumas obras de referência sobre a temática da governança global são o livro de


James Rosenau (Rosenau, 1992) e o relatório da Comissão sobre Governança
Global (Comission on Global Governance, 1995). Veja também o site do Centro de
Estudos sobre Governança Global da London School of Economics, que conta com
a participação de Mary Kaldor e David Held, entre outros, e que possui diversas
publicações sobre governança global e sociedade civil internacional: http://www.
Ise.ac.uk/Depts/global/AboutCsGG.htm.

4, (Lipschutz, 1992, p. 390.) Veja também as contribuições de M,J.Peterson e Martin


Shaw no volume especial do periódico Millennium de 1992.

5. Veja as obras de Robert Cox (Cox, 1981 e 1983) e a de Alejandro Colás (Colás,
2002),

6. Argumento também defendido por Jan Aart Scholte (Scholte, 1999). :

7. (Falk, 1999, p. 163.) Estes autores expõem suas idéias, entre outros, no contexto
do Pro- jeto de Modelos de Ordem Mundial (World Order Models Project —
WOMP), Para um resumo das propostas e idéias do projeto WOMP veja o artigo
de Simon Dalby (Dalby,
1997) e os artigos dos periódicos Alternatives: Global, Local, Politcs, e Social
Transformation and Humane Governance,
8. John Boli destaca que o Escritório Central de Associações Internacionais foi ativo
na cria- ção da Liga das Nações e do Institutá Internacional de Cooperação
Intelectual (Boli &r Thomas, 1999, p. 20). o

9. Não há uma tipologia padrão para classificar os tipos de organização da


sociedade civil global, ela varia de acordo com os interesses específicos de cada
autor, e, em geral, se baseia nas tipologias usadas nas disciplinas de Ciência
Política e Sociologia. A tipólogia que utilizamos segue a de Margeert Kans e Karen
Mingst (Karns & Mingst, 2004), que praticamente coincide com a de Khagram,
Riker e Sikkink (Khagram et al,; 2002). ,
10. O Fórum Social Mundial se reuniu-pela primeira vez em Porto Alegre, em 2001;
com o intuito de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial, que se reúne todos
os anos na cidade de Davos, na Suíça. O número de participantes cresceu de cerca
de 20.000 pessoas no primeiro encontro para 50.000 no segundo e 100,000 no
terceiro, ambos também em Porto Alegre em 2002 e 2003. O terceiro encontro foi
realizado em Mumbai na Índia, em . 2004, e o próximo encontro será novamente
em Porto Alegre, em janeiro de 2005.:Para mais sobre o FSM veja o site
http://www, forumsocialmundial,org. br/home,asp. .

11. Para mais veja o site: http://www dams.org/commission/intro.htm. Para uma


crítica dessa ini- ciativa, veja o artigo de Marina Ottaway (Ottaway, 2001). sa

12. O grupo foi criado com o objetivo de discutir, monitorar e fazer Tecomendações
aos nego- ciadores do Acordo Birregional UE-Mercosul desde o início do processo
de negociação, em
13. Sobre o grupo veja o site; http://www sciences-po.fr/. VAGA

14. Para estatísticas sobre o aparecimento de ONGIs Tegionais veja o artigo de John
Boli e M,Thomas (Boli & Thomas, 1999), RA

“0 ; Em À

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