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Interpretação e análise

textual.
Estudo de gênero:
conto
l S.A.
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Br

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IES

as narrativas orais dos antigos povos nas noi-


tes de luar, das narrativas dos bardos gregos e
romanos, das lendas orientais, das parábolas bíblicas,
das novelas medievais italianas, das fábulas francesas,
chegou-se ao conto.

l S.A.
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A narrativa curta
O conto é uma narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao assunto. No conto tudo
importa: cada palavra é uma pista. Em uma descrição, informações valiosas; cada adjetivo é
insubstituível, cada vírgula, cada ponto, cada espaço – tudo está cheio de significado.
Já se disse que o conto está para o romance assim como a fotografia está para o cinema:
tanto o contista quanto o fotógrafo devem selecionar uma situação e tentar extrair dela o má-
ximo. Escritores, estudiosos e amantes da literatura em geral vêm, há muito tempo, tentando
definir o que é, afinal, o conto – mas esse debate, pelo jeito, está longe de acabar...
Enquanto isso, os contos vão sendo escritos. O Brasil tem uma lista extensa de grandes
contistas: Mário de Andrade, Murilo Rubião, Guimarães Rosa, Rubem Braga, Clarice Lispector,
Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Otto Lara Resende e inúmeros outros.
(FIORUSSI, André. In: Machado, Antônio de Alcântara et al. De Conto em Conto.
São Paulo: Ática, 2003. p. 103.)

O conto fantástico é uma narrativa ficcional curta. O assunto narrado estabelece oposição
entre o real e o fantástico e apresenta acontecimentos estranhos, fora do comum.
Leia este conto de Jaguar:

O dia em que os jacarés invadiram Nova York


Deu no jornal: experiências genéticas
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produziram minúsculos jacarés que foram ven-


didos aos milhares em Nova York como brin-
quedo. Mas eram ferozes como seus ancestrais
e os pais, receosos de que os filhos fossem
mordidos, despejaram os jacarezinhos nos va-
sos sanitários e puxaram a descarga. Foi um
erro fatal: centenas de jacarés sobreviveram e
fizeram dos esgotos da cidade seu habitat. E
lá, durante anos, se reproduziram. E cada ge-
ração – sabe-se lá os insondáveis mistérios da
genética – aumentava de tamanho, acabando de produzir espécies muito maiores
que os crocodilos do Nilo. Quando as autoridades deram pela coisa era tarde. Pe-
las saídas do metrô, pelas galerias de esgotos, pelo Rio Hudson, milhões de jaca-
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rés gigantescos ganharam as ruas num ataque-surpresa e comeram a maior parte da


população. Mais espantoso ainda: os jacarés assimilavam a personalidade daqueles

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que devoravam. De modo que a estrutura da cidade não se alterou muito, só que em
vez de seres humanos eram jacarés que dominavam a cidade: serviços públicos, trans-
portes, comunicações, tudo. A estátua da liberdade foi substituída por um jacaré com
um archote. Nem todos os habitantes foram comidos.
Os jacarés que haviam comido os cientistas especializados em genética começaram
a fazer experiências com suas cobaias humanas. Até que conseguiram produzir, nos labo-
ratórios, homenzinhos de 20 centímetros de altura, que foram vendidos como brinquedos
para os filhotes de jacaré. Mas os minúsculos seres não haviam perdido a ferocidade de
seus ancestrais e começaram a hostilizar seus donos com lanças improvisadas. Os jacarés,
com receio de que seus filhos se machucassem, pegaram os homenzinhos e despejaram nos
vasos sanitários. E puxaram a descarga. Foi um erro fatal para os jacarés.
(JAGUAR. Contos Jovens. In: KATO, Mary; CURI, Samir. Linguagem: criatividade. São Paulo: Saraiva,
1979. p. 188.)

1. Qual o significado dos termos ancestrais e archote?


Solução:

Ancestrais: antepassados, ascendentes remotos; archote: tocha portátil.

2. O conto trabalha em dois planos: o plano real e o plano irreal.


a) Que fato do texto coloca os fatos no plano da realidade?
Solução:

A frase inicial: “Deu no jornal”.


b) Identifique na parte inicial do conto um elemento que pertença ao mundo real; em
seguida, um que pertença ao mundo ficcional.
Solução:

Mundo real: as experiências genéticas; os jacarés atacarem os homens; mundo ficcio-


nal: os jacarés assimilarem a personalidade dos homens.

3. Observe a linguagem do conto lido.


a) Que variedade linguística foi empregada no conto?
Solução:

A variedade padrão da língua.


b) Que tempo verbal predomina?
Solução:

O pretérito perfeito e pretérito imperfeito.


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4. Reescreva o período extraído do texto, substituindo a locução verbal destacada por


um verbo no tempo simples:

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“Mas eram ferozes como seus ancestrais e os pais, receosos de que os filhos fossem
mordidos, despejaram os jacarezinhos nos vasos sanitários...”
Solução:

Mas eram ferozes como seus ancestrais e os pais, receosos de que mordessem os filhos,
despejaram os jacarezinhos nos vasos sanitários...

Faça a leitura do conto de Chico dos Bonecos. Vai inspirar você a refletir sobre os
objetivos na vida:

Andarilhos

Francisco Marques ou “Chico dos Bonecos”


Andava pela estrada, sozinho.
Um sol de rachar e os dois andando sem parar.
E andando, resolvidos, iam os três desenxabidos.
Os quatro não andavam à toa: buscavam uma terra boa.
Com os pés doendo de tanto andar, os cinco pararam para descansar.
E os seis se deitaram, dormiram, sonharam...
No meio da noite, os sete acordaram e se arrepiaram.
Dezesseis olhos arregalados, brilhando, viram o rio iluminado, o chão iluminado.
Cavando a terra, dezoito mãos traziam, com a respiração ofegante, dezenas de pedri-
nhas brilhantes.
Depois de muito cavar, contar e reunir, os dez começaram a discutir.
O centro da discussão era este: onze andarilhos podem suportar tantos brilhos?
Uma dúzia de ideias diferentes, uma ou outra interessante, mas nenhuma ideia
brilhante.
Com as palavras doendo de tanto falar, os treze resolveram si-len-ci-ar.
Deitados, silenciosos, os catorze buscavam uma nova rima, quando olharam para cima...
Boquiabertos, ao som de quinze admirações, descobriram estrelas cadentes, canden-
tes em grandes porções e proporções.
E aquelas dezesseis imaginações tropeçaram nas mesmas conclusões...
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“As pedras são farelos de estrelas”, dezessete vezes pensaram e dezessete vozes
exclamaram.

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E declararam os dezoito andarilhos, acostumados a vagar de déu em déu: “Essa terra
tem parentesco com o céu.”
E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer: “De agora em diante,
aqui vamos morar, aqui vamos viver.”
Vinte vezes festejaram. Quando uma voz desfestejou: “Continuarei caminhando. Adeus.
Já vou.”
E deste que se foi, ligeirinho, posso dizer apenas que ele...
Andava pela estrada, sozinho.

IESDE Brasil S.A.


(Disponível em: <www.editorapeiropolis.com.br/autores/chicobonecos/15.php>. Acesso em: 17 out. 2007.)

Agora, resolva as questões propostas:

1. Um dos mais importantes elementos do enredo é o conflito. O conflito é uma oposi-


ção de interesses que, ao criar uma tensão em torno da qual se organizam os fatos
narrados, prende a atenção do leitor. No conto em estudo, em que momento se inicia
o conflito?

2. Como outros textos narrativos ficcionais, o conto costuma ser narrado em 1.ª ou em
3.ª pessoa gramatical. Em que pessoa gramatical é narrado esse conto?
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3. O texto “Andarilhos” é um conto. Os gêneros narrativos ficcionais apresentam alguns
elementos em comum como fatos, personagens, tempo, espaço, narrador. Nesse conto:
a) Quais são as personagens envolvidas na história?

b) Onde aconteceram os fatos narrados?

c) Que expressões marcam o tempo da narrativa?

4. No conto em estudo, fica clara a ideia de que os caminheiros estão em busca de algo.
O que eles buscam? Comprove a resposta com um trecho do texto.

5. O tempo de duração dessa história se caracteriza por apresentar o engajamento de


mais andarilhos ao grupo. Que recurso linguístico marca essa ideia? Exemplifique com
uma passagem do texto.

6. No decorrer do percurso, os caminheiros começaram a discutir.


a) Por que motivo?

b) Qual a solução encontrada por eles diante dessa situação?


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7. Depois de tempo de caminhada e já em grande número, os andarilhos resolveram
se estabelecer, pois acreditavam que o lugar era o ideal. Podemos afirmar que essa
decisão foi tomada e aceita por todos os caminheiros? Comprove a resposta.

8. Considerando o comportamento dos demais andarilhos, assinale a afirmação verda-


deira:
a) O texto valoriza a ideia de que é preferível estar sozinho que em grupo.
b) O texto valoriza a ideia de que estar em grupo permite conhecer as diferenças e
montar estratégias de convivência.
c) O texto valoriza a ideia de que não devemos estar em grupo, pois não precisamos
uns dos outros.

9. Leia:
I. “E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé e se estabelecer”.
II. E dezenove caminheiros decidiram fincar o pé num galho de árvore.

Observe que as expressões destacadas apresentam diferentes sentidos, pois estão em


diferentes contextos. Indique o sentido da expressão destacada em cada oração.

10. Para você, quem estava certo, os caminheiros que permaneceram ou o que seguiu
sozinho? Justifique a sua resposta.

Para finalizar o estudo do conto neste módulo, leia e resolva as questões de mais
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um conto:

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Brinquedos incendiados
Uma noite houve um incêndio num bazar. E no fogo total

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desapareceram consumidos os seus brinquedos. Nós, crianças,
conhecíamos aqueles brinquedos um por um, de tanto mirá-
los nos mostruários – uns, pendentes de longos barbantes;
outros, apenas entrevistos em suas caixas. Ah! Maravilhosas
bonecas louras, de chapéus de seda! Pianos cujos sons cheira-
vam a metal e verniz! Carneirinhos lanudos, de guizo ao pes-
coço! Piões zumbidores! – E uns bondes com algumas letras
escritas ao contrário, coisa que muito nos seduzia – filhotes
que éramos, então, de Mr. Jourdain, fazendo a nossa poesia concreta antes do tempo.
Às vezes, num aniversário, ou pelo Natal conseguíamos receber de presente algum
bonequinho de celuloide, modestos cavalinhos de lata, bolas de gude, barquinhos sem
possibilidades de navegação... – pois aquelas admiráveis bonecas de seda e filó, aqueles
batalhões completos de soldados de chumbo, aquelas casas de madeira com portas e ja-
nelas, isso não chegávamos a imaginar sequer para onde iria. Amávamos os brinquedos
sem esperança nem inveja, sabendo que jamais chegariam às nossas mãos, possuindo-os
apenas em sonho, como se para isso apenas tivessem sido feitos.
Assim, o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava longo
tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus cifrões e
zeros, sem muita noção de valor – porque nós, crianças, de bolsos vazios, como os namo-
rados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na memória aquelas imagens
e deixar cravados nelas, como setas os nossos olhos.
Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar incendiara. E foi uma espécie de festa
fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo
bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas
e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A elas não
interessavam nada das peças de pano, cetim, cretones, cobertores, que os adultos lamen-
tavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e palhaços, fechados, sufocados em
suas grandes caixas. Brinquedos que jamais teriam possuído, sonho apenas da infância,
amor platônico.
O incêndio, porém, levou tudo. O bazar ficou sendo um fumoso galpão de cinzas.
Felizmente, ninguém tinha morrido – diziam em redor. Como não tinha morrido nin-
guém? – pensavam as crianças. Tinha morrido um mundo, e dentro dele, os olhos amoro-
sos das crianças ali deixados.
E começávamos a pressentir que viriam outros incêndios. Em outras idades. De outros
brinquedos. Até que um dia também desaparecêssemos sem socorro, nós, brinquedos que
somos, talvez de anjos distantes!
(MEIRELES, Cecília. Janela Mágica. São Paulo: Moderna, 1983.)
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11. Já de início, a autora do texto chama a atenção do leitor informando alguns elemen-
tos presentes em uma narrativa. Identifique esses elementos completando o quadro:

Tempo
Lugar
Conflito

12. Leia o trecho:

Assim, o bando que passava, de casa para a escola e da escola para casa, parava
longo tempo a contemplar aqueles brinquedos e lia aqueles nítidos preços, com seus
cifrões e zeros, sem muita noção de valor – porque nós, crianças, de bolsos vazios, como
os namorados antigos, éramos só renúncia e amor. Bastava-nos levar na memória aquelas
imagens e deixar cravados nelas, como setas os nossos olhos.

Baseado na leitura do texto, responda às questões abaixo:


a) É correto afirmar que o mundo dos brinquedos do bazar se encontrava distante do
mundo dos personagens da história? Explique.

b) Assinale a resposta correta:


Ao verem os brinquedos, as crianças do conto se sentiam:
( ) impotentes, pois não podiam fazer nada para adquiri-los.
( ) revoltadas, pois jamais teriam brinquedos assim.
( ) encantadas, pois o que valia para elas era a beleza dos brinquedos.

13. Ao saber das consequências do incêndio, as pessoas ficavam conformadas, afinal


ninguém tinha morrido. Mas as crianças não pensavam assim. Por quê?
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14. Você já foi criança e certamente teve contato com brinquedos.
a) Então, que significado têm os brinquedos para você?

b) Você teria o mesmo sentimento que as crianças do conto?

15. Em que trecho a narrativa começa a criar expectativa no leitor?

16. Leia:

“... porque nós, crianças de bolsos vazios, como os namorados antigos, éramos só
renúncia e amor”.
a) Qual o significado da expressão “de bolsos vazios”?

b) Nesse ponto da narrativa, a autora estabelece um comparação. Qual é? Explique.


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17. Uma forma de aprender o uso e escrita correta das palavras é corrigindo textos. En-
tão, corrija os possíveis erros das frases a seguir:
a) A mulher, ao ouvir a piada, chora muito em vez de rir.

b) O carro de rapou e foi ao encontro do rio.

c) Derepente começou a chover e todos começaram a correr.

d) A criança brigava muito, porisso foi repreendida.

e) O repórter não estava ao par do assunto.

f) Pediu para mim fazer o trabalho por ele.

g) Professora, poço ir no banheiro?

h) A polícia trazia um mandato de busca.

i) Não haverão mais segredos entre vocês.


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18. Em duplas, explorem a fantasia e contem um breve conto à turma. Lembrem-se de que:

– vocês usarão o recurso da oralidade;

– devem iniciar com a expressão: “era uma vez...”;

– por iniciar com a expressão “era uma vez”, deverá ser um conto maravilhoso;

– no conto maravilhoso existem seres encantadores.

O conto fantástico
No conto fantástico, em nenhum momento o leitor perde a noção da realidade. Por não
perdê-la é que causa surpresa o acontecimento ou acontecimentos estranhos, fora do comum
ou aparentemente sobrenaturais que de repente parecem desmentir a solidez do mundo real até
então descrito no conto.
É aquele conto que provoca, no leitor, uma dúvida entre uma explicação natural e uma
explicação sobrenatural.
Agora, é com você.
Leia o início de um conto do escritor brasileiro Murilo Rubião. Depois, dê continuidade à
narrativa, com informações mais precisas: o que era, o que aconteceu, como terminou.
“No terceiro dia em que dormia no pequeno apartamento de um edifício recém-construído,
ouviu os primeiros ruídos. De normal, tinha o sono pesado e, mesmo depois de despertar, levava
tempo para se integrar no novo dia, confundindo restos de sonho com fragmentos da realidade.
Por isso não deu imediata importância à vibração de vidros, atribuindo-a a um pesadelo.
O barulho era intenso. Acendeu a luz...”
(RUBIÃO, Murilo. O Homem do boné Cinzento e Outras histórias. São Paulo: Ática, 1990. p. 9.)
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Interpretação e análise
textual.
Estudo de gênero:
k
Co
mp
let
e.
entrevista
c
to
ms
Co

let
e.

A entrevista é basicamente um gênero oral e pres-


mp

supõe uma interação entre duas pessoas, cada


Co k

uma com um papel determinado: o entrevistador, res-


toc
Coms

ponsável pelas perguntas, e o entrevistado, responsá-


vel pelas respostas.

te.
ple
m
Co
Comstock

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Uma interação entre duas pessoas
Existem diferentes tipos de entrevista, entre os quais: entrevista de emprego, entrevista
médica, entrevista jornalística etc.
Entre os tipos de entrevista, o que costuma despertar maior interesse público é a entre-
vista jornalística, difundida pelos meios de comunicação.

Uma guerreira contra o racismo


Caros Amigos – Qual foi sua primeira experiência direta com o racismo?
Sueli Carneiro – Olha, ser negro, nascer negro, é estar sistematicamente ao longo de
toda a vida sofrendo processos de discriminação. [...] Na escola se dá a primeira situação
franca, concreta: “Negrinha”, “Pelé”, “Cabelo de Bombril”.
Caros Amigos – Dentro do mesmo estrato social em que vocês viviam, ou seja, no meio
operário, havia racismo por parte das famílias brancas?
Sueli Carneiro – Como pobreza uniformiza certas condições, existe um grau de
solidariedade e fraternidade superior ao das classes mais privilegiadas. Porém quando
há uma situação de conflito, é a cor o elemento utilizado para agredir, para distinguir.
Por exemplo, você tem seus vizinhos, vocês festejam juntos, um batiza o filho do outro,
vocês almoçam juntos nos fins de semana, mas, assim que aparece uma situação de
conflito, surgem as informações:
”Só podia ser negro mesmo.[...]”.
Caros Amigos – Você sentia isso em seu bairro?
Sueli Carneiro – Havia mais do que isso. Havia um tipo de atitude. O branco pobre,
apesar de sua pobreza, tem um sentimento de superioridade frente ao negro. Há sentimen-
to de superioridade, em qualquer classe social.
Caros Amigos – Sua família discutia a questão racial?
Sueli Carneiro – Não era exatamente discutida. Meus pais tinham um ideário: “Você não
pode deixar se humilhar porque é negro”; “temos de ser melhores porque somos negros, temos
de ser mais morais, mais generosos, mais éticos, mais perfeitos; não podemos errar, temos de
ser os melhores etc.”. Quer dizer, tínhamos de ser melhores para ser tratados de forma igual.
[...]
Caros Amigos – Muitos dos traços que você mencionou de formação familiar lembram a
de uma família de imigrantes que tenta se estabelecer num país estrangeiro. Você diria que, de
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certa maneira, os negros do Brasil são como estrangeiros com relação à sociedade branca?

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Sueli Carneiro – É muito mais do que isso. Uma das coisas cruéis e perversas que
se faz neste país é comparar a situação do escravo com a do imigrante, como se fosse
possível estabelecer algum parâmetro de comparação. O imigrante quando chega no outro
país não perde a sua humanidade. Já a condição escrava coloca esse limite, o limite da
desumanização de um ser humano. [...] na verdade, só adquirimos condição humana a
partir de 1888, quando deixamos de ser escravos. [...]
(Revista Caros Amigos, fev. 2000.)

1. O que comenta Sueli Carneiro na entrevista concedida?

Solução:

A presença do racismo na sociedade.

2. De acordo com a entrevista, pode-se afirmar que há racismo por parte dos brancos
mesmo quando brancos e negros são igualmente pobres? Em que circunstâncias?

Solução:

Há, em situações de conflito.

3. Segundo Sueli Carneiro, havia um código de conduta na família dela, que podia ser
resumido assim ”temos de ser os melhores porque somos negros”. Com que finalidade
eles tinham de ser melhores em tudo?

Solução:

Para serem tratados com igualdade, sem discriminação.

4. A última pergunta da entrevista compara a situação dos negros à de outros povos


imigrantes. Por que, segundo a entrevistada, a situação dos negros é muito pior?

Solução:

Porque foram escravizados, o que os fez perderem a humanidade e tornarem-se, por


muito tempo, objetos.

Leia a entrevista a seguir, concedida por Patrick Moore ao repórter Bruno Garattoni,
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da revista Superinteressante:

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Visionário ou vendilhão?
Após fundar o Greenpeace, Patrick Moore virou a casaca e passou a defender tudo o
que os ecologistas odeiam. Será que ele ficou doido? Ou enxergou o que ninguém viu?
Bruno Garattoni

A guerra do Vietnã continua firme. Secretamente, EUA e União Soviética aceleram a


corrida armamentista. Estamos em 1971 e o clima é tenso. Mas aí uma turma de pacifistas
se junta para fazer algo nunca visto. Alugam um barco e navegam até o Alasca para pro-
testar contra os testes nucleares americanos.
Incrivelmente, dá certo: pressionado pela opinião pública, o governo interrompe os
testes. Os ativistas ganham a atenção do mundo e formam o que viria a se tornar uma
superpotência ambiental – o Greenpeace, hoje presente em mais de 40 países. Um dos
tripulantes nessa primeira missão era o canadense Patrick Moore: na época, um hippie com
24 anos e cabelos longos.
Três décadas depois, tudo mudou. A Guerra Fria e os hippies estão extintos. As grandes
preocupações são a emissão de poluentes, a comida transgênica e o aquecimento global.
Patrick Moore, agora um senhor, também está diferente. E como: hoje defende tudo o que
os ecologistas clássicos mais detestam. Execrado por seus antigos colegas, ele se tornou o
inimigo número 1 do Greenpeace: talvez porque, além de ter cometido “traição”, defenda
com inteligência suas opiniões. Será que ele tem razão? Ou simplesmente se vendeu?
Recentemente, você escreveu: “Fico triste em ver os ativistas ecológicos se equi-
vocando tanto, com informações e prioridades tão erradas”. De fato, às vezes ONGs
ambientalistas são acusadas de agir politicamente, ignorando a ciência. O que acon-
teceu?
Na década de 1980, o movimento ambiental começou a ficar mais extremista. E exis-
tem dois motivos para isso. Primeiro, naquela época a maioria das pessoas já aceitava
as nossas propostas (dos ecologistas). Então, a única forma de continuar “do contra”,
questionando o establishment, era adotar posições mais e mais extremas – eventualmente
abandonando a ciência e a lógica. O outro motivo foi o fim do comunismo. Muitos ati-
vistas políticos de esquerda migraram para o movimento ambientalista. Eles aprenderam
a usar termos “verdes” para defender seus projetos – que têm muito mais a ver com an-
ticapitalismo do que com ecologia. Em 1985, eu era o único diretor do Greenpeace com
formação científica, um mestrado em ecologia. Os meus colegas não respeitavam isso e
diziam: “somos todos ecologistas”.
Aí você resolveu sair.
Eu estava cansado de ser contra tudo, queria achar soluções para as coisas. Em 1982,
ouvi pela primeira vez o termo desenvolvimento sustentável e percebi que esse era o de-
safio: incorporar ao dia a dia os valores ecológicos. Mas o Greenpeace não estava interes-
sado. Defendi, por exemplo, o cultivo de peixes como alternativa à pesca indiscriminada.
Eles não concordaram. Além disso, na época o Greenpeace queria banir o uso de cloro.
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Eu disse que a água clorada era o maior avanço na história da saúde pública. Eles não se

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importaram e iniciaram uma campanha contra o cloro que dura até hoje. Eu não podia
continuar numa organização assim.
E hoje? Como você vê o Greenpeace?
O Greenpeace influencia muito as políticas públicas. Mas está fazendo mais mal do que
bem. Suas campanhas contra alimentos transgênicos, energia nuclear, cloro, criação de
peixes em cativeiro e exploração florestal são todas baseadas em medo e desinformação.
Eles dizem que querem reduzir o consumo de combustíveis fósseis – mas aí se opõem às
principais alternativas, que são a energia nuclear e a hidrelétrica. Eles falam como se fosse
possível resolver tudo com energia solar e eólica – o que é claramente impossível.
Você costuma ser acusado de trair o movimento ecológico, de se vender ao inimigo
porque hoje dá consultoria a empresas, inclusive na área nuclear. Você virou a casaca?
Eu não mudei de lado, pois sempre acreditei que nós precisamos equilibrar as necessi-
dades das pessoas com a proteção do ambiente. O que há de errado em ajudar a indústria
a vencer desafios ambientais? Afinal é ela, com seus produtos e serviços, que torna a vida
civilizada possível. Al Gore e os líderes do Greenpeace vivem com todos os confortos mo-
dernos, mas querem que nós voltemos a uma espécie de era pré-industrial.
O aquecimento global é o tema ambiental que mais mobiliza a atenção do públi-
co hoje. Na sua opinião, esse é um problema que merece tal importância?
O aquecimento é uma questão importante, merece a nossa atenção. Mas não sou
alarmista e não acho correto usar termos como caos ou catástrofe climática. E também
não acho possível provar, cientificamente, que os seres humanos são a causa do aque-
cimento global. Não é razoável supor que os fatores ambientais que sempre guiaram o
clima, durante toda a história da Terra, deixaram de existir – e nós, agora, somos os
grandes causadores das mudanças. As elites políticas estão tentando assustar o público
para ganhar controle sobre ele. Na minha opinião pessoal, a maior questão ecológica é
a pobreza. Sociedades pobres não conseguem limpar a água que sujam, nem replantar as
árvores que cortam.
Mas e os relatórios divulgados recentemente pela ONU? Um deles afirma que, se
a temperatura subir 1,5ºC, 30% de todas as espécies animais e vegetais correrão
perigo de extinção.
Essa afirmação parece absurda. A Terra já foi muito mais quente. Hoje, a temperatura
média está em 14,5ºC. Por boa parte da história do planeta, chegou a 22ºC – nem existia
gelo nos polos. As espécies que hoje estão vivas sobreviveram a esses períodos quentes.
Eu até acho que seria uma boa ideia reduzir o consumo de combustíveis fósseis, mas pela
qualidade do ar e por questões geopolíticas, como reduzir o conflito no Oriente Médio.
Você defende a energia nuclear. Mas o fato é que ela sofre rejeição maciça da
sociedade.
O movimento ambiental, especialmente o Greenpeace, foi criado sob o temor de uma
guerra nuclear (entre os EUA e a antiga União Soviética). Nós cometemos um erro, que foi
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tratar a energia nuclear da mesma forma que as armas nucleares – como se fossem parte
do mesmo holocausto. Não faz sentido banir uma tecnologia só porque ela pode ser usada

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para o mal. Se fosse assim, os humanos jamais teriam usado o fogo. A energia nuclear não
sofre rejeição maciça – na verdade, ela é cada vez mais aceita em todo o mundo.
Mas e o lixo nuclear, ou a possibilidade de vazamento de radiação?
Atualmente é fácil controlar o lixo nuclear. Ele não vaza, pois não é líquido – é um
material sólido envolvido por camadas de metal e de concreto. Não escapa para o am-
biente, como a poluição produzida pela queima de combustíveis fósseis. Além disso, creio
que o perigo da radioatividade tem sido exagerado, para assustar as pessoas. Todos nós
somos expostos e recebemos radiação todos os dias. Mas só altos níveis de radiação são
perigosos – e só Chernobyl lançou esses níveis no ambiente até hoje. Nunca mais, porém,
existirá um reator tão mal projetado quanto o de Chernobyl.
Você é a favor dos alimentos transgênicos?
Nunca se provou que as plantações geneticamente modificadas façam algum mal à
saúde – ou ao ambiente. Pelo contrário, há muitos efeitos positivos, como menos uso de
pesticidas, menor exposição do lavrador a produtos químicos, menos erosão do solo. Alguns
tipos de transgênicos poderiam acabar com a desnutrição – como o arroz dourado, que
incorpora ferro e vitaminas A e E. E essa tecnologia já existe. Mesmo assim, o Greenpeace
continua a bloquear a utilização. É um crime contra a humanidade que deveria ser julgado
em tribunal internacional. A oposição aos alimentos transgênicos se baseia na ignorância
e medo.
Você disse que, para o ambiente, “os automóveis são a tecnologia mais destrutiva
já inventada pela humanidade”. Como vê o carro a álcool? E o carro a hidrogênio?
O carro a hidrogênio não será viável num futuro próximo, pois há muitos obstáculos
técnicos. Já o álcool é uma boa alternativa, pode ser o biocombustível do futuro.
Num de seus textos, você diz que a humanidade deveria consumir mais madeira
e que isso faria bem ao planeta. Como assim?
A madeira é a maior fonte de energia renovável que existe. E sua exploração leva ao
reflorestamento. O que prejudica as florestas é a agricultura. Quando compramos madeira,
estamos estimulando a plantação de mais árvores para satisfazer à demanda. Os países
que mais consomem madeira são os que têm as florestas mais saudáveis.
Certo, mas isso não acaba reduzindo a biodiversidade? Afinal, geralmente vários
tipos de árvore são derrubados – mas apenas uma espécie é replantada no lugar.
A exploração florestal mexe, sim, com a biodiversidade. Mas, tendo um sistema de
áreas intocadas e reservas ecológicas, é possível preservar ao máximo a biodiversidade – e
ainda assim ter uma boa produção de madeira.
Os ativistas ecológicos tendem a fazer previsões pessimistas para o futuro. Qual
é a sua?
Acho que há motivos para ser otimista. As pessoas estão vivendo mais, e com mais
saúde. As espécies não estão desaparecendo no ritmo que os catastrofistas previam. A
população mundial deve estabilizar em 9 bilhões – e nós vamos conseguir alimentar toda
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essa gente. A tecnologia está ficando mais limpa, mais verde – e as pessoas estão mais
conscientes do que nunca sobre o ambiente.

6
Os outros inimigos do verde

Bjorn Lomborg Roy Spencer


Sentiu a ira verde ao publicar o Meteorologista da NASA, ganhou
livro O Ambientalista Cético, onde mi- fama ao afirmar que o efeito estufa
nimiza os riscos de catástrofes am- não está esquentando o planeta. Mas
bientais. Como resposta, ganhou uma caiu em desgraça ao defender o cria-
edição da revista Scientific American cionismo.
dedicada a desmontar suas ideias.
Richard Lindsen Martin Durkin
Físico do Instituto de Tecnologia de Seu documentário The Great Global
Massachussetts (MIT), ajudou a redigir Warming Swindle insinua que o homem
um relatório sobre o aquecimento para não é responsável pelas mudanças no
a ONU. Depois, virou a casaca: hoje clima. Para ecologistas, o filme está
afirma que a Terra vai esfriar – e não cheio de erros.
esquentar – nos próximos 20 anos.

Patrick Moore
Cresceu numa família envolvida com a exploração madeireira; mesmo assim (ou
talvez por causa disso), se tornou ecologista.
Mora em Cabo Pulmo, vilarejo mexicano famoso por seu recife de coral e pela vida
marinha; não tem telefone em casa.
Acredita que a Floresta Amazônica é “uma das mais preservadas do mundo” e boa
parte dela “vai continuar intocada por séculos”.
Ganha dinheiro dando palestras sobre energia nuclear e com sua consultoria, a
Greenspirit (“Espírito Verde”), que ajuda empresas a perseguir a chamada “susten-
tabilidade ecológica”.

1. As entrevistas publicadas em jornais e revistas têm objetivos diferentes, dependendo


da informação que veiculam e do público que pretendem atingir. Assinale o item que
se refere de forma apropriada ao tipo de pessoa entrevistada e à finalidade dessa
entrevista:
a) Foi entrevistada uma autoridade muito conhecida do público da revista, com a
finalidade de divulgar o ponto de vista da revista sobre um fato em destaque no
momento.
b) Foi entrevistada uma pessoa pública, com a finalidade de promovê-la e levar o
público da revista a conhecê-la melhor.
c) Foi entrevistada uma pessoa especialista em um assunto, com a finalidade de
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proporcionar ao público da revista uma explicação ou descrição relativa a fatos de


conhecimento público.

7
2. Em toda entrevista, uma pessoa faz perguntas e outra responde. Que recurso gráfico
foi utilizado para identificar implicitamente o entrevistador e entrevistado nessa
entrevista?

3. Na entrevista lida:
a) Em que parte do texto aparece o nome do jornalista que a realizou? Qual é o nome
dele?

b) Quem é a pessoa entrevistada?

4. Observe o título da entrevista. Qual o significado dos termos que o compõem?

5. Abaixo do título da entrevista há um subtítulo. A que ele faz referência?

6. Essas entrevistas compõem-se de duas partes: uma introdução e o corpo da entrevis-


ta, formado por perguntas e respostas. Qual a finalidade da introdução?

7. A apresentação das entrevistas varia de publicação para publicação. No final da en-


trevista em estudo, há um quadro sinóptico e quatro legendas.
a) Que informações o quadro traz?
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8
b) Que tipos de dados essas legendas contém?

c) Levante hipóteses: Por que consta nessa legenda a informação de que o entrevis-
tado “ajuda empresas a perseguir a chamada” sustentabilidade ecológica”?

8. Observe o modo como o entrevistador faz as perguntas a Patrick Moore. Há indícios


de que o entrevistador as preparou previamente? Por quê?

9. Na entrevista, Patrick Moore deixa claro alguns pontos de vista; o que ele pensa sobre:

Aquecimento global

Alimentos transgênicos

10. Segundo Patrick Moore, qual é a maior questão ecológica? por quê?

11. Patrick Moore se mostra otimista quanto ao futuro da humanidade. Que argumento
sustenta essa visão?
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9
12. E você, qual a sua previsão para o futuro da humanidade?

Agora, leia esta outra entrevista e resolva o que é proposto:

“Eu vendo esperança”


Andrew Eccles.

O mais popular astro negro da história do cinema diz que entreter a


plateia vale mil vezes mais do que ganhar um Oscar
Isabela Boscov

Cantor de rap milionário aos 18 anos, protagonista de uma


bem-sucedida série de televisão – The Fresh Prince of Bel-Air – aos
22 e ícone do cinema aos 27, quando encabeçou o elenco da ficção científica Inde-
pendence Day: Will Smith, o mais popular astro negro de todos os tempos (e o mais
bem pago, com cachês que rodeiam os 20 milhões de dólares, fora sua participação na
bilheteria), não é de brincar em serviço. Casado com a atriz Jada Pinkett Smith e pai
de dois meninos e uma menina, Smith aplica seus lendários perfeccionismo e ambição
não só ao trabalho, mas também à vida conjugal e familiar. É o que ele explica nesta
entrevista concedida à Veja no Rio de Janeiro, onde esteve para promover seu novo
filme, Hitch – Conselheiro Amoroso, em que interpreta um especialista em ensinar ho-
mens titubeantes a conquistar a mulher de seus sonhos. Hitch é a primeira comédia ro-
mântica da carreira de Smith, mas provou que não é por mera sorte que a estrela dele
brilha tão forte: depois de estrear nos Estados Unidos com um recorde de bilheteria
para o gênero (43 milhões de dólares só no primeiro fim de semana em cartaz), ela já
fez quase 900 000 espectadores no Brasil, onde segue de vento em popa. “A verdade”,
diz Smith, “é que a indústria de cinema só distingue uma cor: o verde dos dólares”.
Veja – Há poucos negros tão bem-sucedidos quanto o senhor nos Estados Unidos.
O senhor acha que virá o dia em que o país não estará cindido entre brancos e não
brancos?
Smith – Um país projetado sobre o trabalho escravo não se reinventa de um dia
para o outro, nem mesmo de um século para o outro. O racismo faz parte da fibra de que a
América é tecida. Não adianta dizer que a partir de determinado momento seremos todos
iguais quando uma parte da população teve seu progresso atrasado em 200 anos. Digamos
que bem agora, no meio desta entrevista, eu lhe dê uma bofetada, sem nenhum motivo
ou razão. Nunca mais poderemos estar juntos no mesmo recinto sem que você tema que
eu lhe dê outra bofetada – e sem que eu tema que você resolva me devolver a agressão.
Por isso nos Estados Unidos os brancos nutrem tamanha desconfiança em relação aos ne-
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gros que eles não conhecem – porque aquele pode ser o negro que virá lhe dar o troco.

10
Veja – Essa tensão entre brancos e negros é, então, insolúvel?
Smith – A natureza sempre é capaz de se refazer. No ano passado, Los Angeles
sofreu com incêndios intensos. Em seguida vieram chuvas igualmente pesadas, e agora
a natureza da região está mais luxuriante do que nunca. Tenho confiança de que os
americanos também vão passar por um processo semelhante de recuperação e conci-
liação – apenas não tão rapidamente quanto gostaríamos. [...]
Veja – O racismo vigora também no ambiente da indústria de cinema?
Smith – A verdade é que Hollywood só enxerga uma cor: o verde dos dólares.
Se você é bom de bilheteria – e eu felizmente sou –, todas as outras distinções de-
saparecem.
Veja – O senhor disse certa vez que prefere mil vezes quebrar um recorde de bi-
lheteria a ganhar um Oscar. Por quê?
Smith – A única coisa de que eu realmente preciso é da sensação de que a pla-
teia se divertiu ou se emocionou com meu trabalho. O ideal, para mim, seria que um
filme combinasse arte e entretenimento. O que eu almejo é algo como Forrest Gump,
Titanic ou Casablanca, um filme que estabeleça uma conexão espiritual com o público
mas que também funcione do ponto de vista comercial. Ali, sobre o boxeador Muham-
mad Ali, foi minha tentativa de chegar lá – ainda que não tenha sido recebido como
eu esperava. No fundo, ainda sou aquele garoto de 12 anos que se fascinou assistindo
a Star Wars, e é nesse espírito que faço minhas escolhas. Talvez, à medida que eu
envelheça e amadureça, passe a procurar outras coisas. Mas o que eu ainda quero é
essa emoção.
Veja – O senhor ganha milhões de dólares por filme e vive cercado de adulação.
Preocupa-o que, nesse ambiente, seus filhos venham a formar uma ideia distorcida do
que é a vida?
Smith – Acredito piamente que a natureza de um indivíduo se sobrepõe quase
sempre à educação. Acho que nascemos com um determinado espírito ou índole, que
trata de se impor. Alguns de nós, porém, têm espírito mais delicado e suscetível à
influência. Meus filhos têm 12, 6 e 4 anos, e já é possível saber quem eles vão ser. O
mais velho e a mais nova têm o espírito inquebrantável: eles saíram do útero sabendo
aonde querem chegar e como. O do meio é mais carente de orientação. Ele é muito
criativo, e por isso tem dificuldade em escolher entre todas as ideias que convivem
em sua cabeça. Para ele, cuido de explicar que vivemos numa casa como a nossa por-
que trabalho desde os 16 anos e tive a sorte de ter sucesso – além de ter exercitado
a abnegação que ele exigiu. Também gosto de ensinar que existe uma coisa chamada
carma: quando se trata bem os outros, essa energia volta para você de alguma forma.
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[...]
(Veja, n. 1806, 16 mar. 2005.)

11
13. Quem é o entrevistado? Qual sua função para que mereça uma entrevista publicada
nas páginas amarelas da revista Veja?

14. Observe a linguagem empregada pelo entrevistador e pelo entrevistado. Que varieda-
de linguística foi empregada por eles?

15. Quando falamos, é comum suspendermos o pensamento, deixando frases incomple-


tas, assim como usarmos expressões que retomem ideias anteriores, como: então, aí,
como eu dizia etc.
a) Na entrevista lida, há marca de oralidade desse tipo?

b) Por que você acredita que isso acontece?

16. Para Will Smith não tem sentido afirmar que seremos todos iguais, que não haverá
diferença entre negros e brancos. Cite dois argumentos do ator que sustentam a
afirmativa.

17. Leia: “Nos Estados Unidos os brancos nutrem tamanha desconfiança em relação aos ne-
gros que eles não conhecem – porque aquele pode ser o negro que virá lhe dar o troco”.
a) No contexto, qual o significado da expressão “dar o troco”?
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12
b) A partir do trecho, pode-se deduzir que a relação entre brancos e negros é tranqui-
la? Justifique.

18. Leia as afirmações e assinale as consideradas verdadeiras de acordo com a entrevista:


a) ( ) O entrevistado defende a arte por ser maravilhosa e por permitir que as pesso-
as sejam verdadeiras.
b) ( ) Will quer entrar na política por achar que a única esperança do povo é uma boa
política.
c) ( ) Para Smith a política está diretamente ligada aos parâmetros da competição,
um dos motivos pelo qual a torna suja.
d) ( ) A política, para o entrevistado, é incapaz de criar a esperança, por isso ele
opta pela arte.
e) ( ) Will Smith toma muito cuidado ao educar os filhos para que não distorçam a
ideia de como é a vida. Todos os seus filhos, segundo ele, sabem o que querem
e como.

19. Leia:

“Eu tenho um sonho... de que um dia os negros viverão numa nação onde eles não
serão julgados pela cor da sua pele, mas pela essência do seu caráter.”
(Rev. Martin Luther King Jr., 1963.)

Will Smith almeja o mesmo que um dia Martin Luther King sonhou? Justifique.

Em sociedade conversamos com colegas íntimos de modo diferente de quando con-


versamos com uma autoridade. Sendo assim, ocorrem dois níveis de linguagem na
língua oral e na escrita: o nível formal (mais cuidadoso quanto ao vocabulário e à
elaboração das frases) e o nível informal (emprego de gírias, maior liberdade quanto
ao vocabulário e à estrutura das frases).
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13
20. Reescreva as frases substituindo as expressões do nível informal por uma expressão
formal:
a) Aquele espetáculo foi da hora.

b) Oh, cara, vê se não embaça.

c) Aquela mina só fala abobrinha.

d) Isto é pra você.

e) Ela não dá atenção pro namorado.

f) É bom você ir ver ele.

g) Eu tô aqui.

h) A gente leu o livro de história.

21. Leia o bilhete:


IESDE Brasil S.A.

Caro colega, por que continua não falando comigo?


Vossa senhoria poderia dizer o porquê de sua atitude. Afinal, qual é a sua, ó meu?
De sua colega.
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14
a) Qual a inadequação quanto à forma de tratamento presente no bilhete?

b) Em que situação de comunicação poder-se-ia empregar a linguagem do 2.º pará-


grafo?

22. Reúna-se com seus colegas, em grupos de até quatro,

IESDE Brasil S.A.


para, juntos, produzirem uma entrevista.

Procurem conversar com um adulto, perguntando-lhe o


que ele, enquanto jovem, fazia para evitar as diferen-
ças sociais? Se já havia na época da sua juventude a
preocupação com a inclusão social?

Realizem os passos a seguir:

ao entrevistarem usem um gravador, para registrar as


marcas da oralidade;

posteriormente, com a gravação em mãos, transcrevam


a entrevista;

escrevam uma introdução, apresentando o entrevistado


e o assunto da entrevista;

após o texto transcrito, apresentem à turma a entre-


vista oral e a transcrita, para juntos analisarem as di-
ferenças de linguagem.
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15
Leia o artigo que segue:

O “olhar branco”
Marcelo Tragtenberg

[...]
Sobre as cotas, é falso dizer que o vestibular fornece oportunidades iguais a todos
os candidatos, como sugeriu Demétrio Magnoli em artigo na Folha (p. A3, 29/03): “o
filho do ministro, juiz ou deputado torna-se um plebeu”. É a fraude da democracia for-
mal – quem frequenta escolas melhores, não precisa trabalhar, tem pais formados em
universidades e não sofre racismo, já sai na frente.
Por outro lado, será que a nota num vestibular deve ser o único critério de entrada na
universidade? No livro The Shape of the River (A Forma do Rio), os reitores das universida-
des Princeton e Harvard analisam o efeito de longo prazo das admissões com critérios ra-
ciais em universidades dos Eua (não existem cotas para negros nessas universidades desde
1978, mas critérios étnicos de pontuação). Eles defendem ardorosamente a manutenção
desses critérios, complementares às notas no exame nacional norte-americano (SAT).
Será que alguém contesta o mérito dessas universidades? Só que as notas no SAT são
pouco para gerar classes com diversidade racial suficiente para que brancos e negros con-
vivam e se prepararem para uma sociedade plural, questionando o “olhar branco”. Onde
foram extintos os critérios raciais de admissão (Califórnia e Texas), a entrada de negros
e hispânicos na universidade baixou dramaticamente. Já no nosso Brasilzão, é notável o
“olhar branco” da academia e dos meios de comunicação, que toleram a falta de diversi-
dade na nossa universidade e não consideram aberrante que apenas 2% dos alunos da USP
sejam negros. São as universidades públicas que formam a maioria dos quadros do poder
na nossa sociedade. Por outro lado, a Universidade de Harvard tem critérios raciais até para
admissão de professores, pois os alunos precisam conviver com professores negros.
Argumenta-se que os profissionais negros das cotas serão discriminados. Isso não tem
nada a ver com cotas. Eles já o são! É preciso intervir no mercado de trabalho, exigindo algo
como nos EUA (que a proporção de empregados corresponda à composição racial local).
É preciso um leque amplo de ações afirmativas para tornar o Brasil mais plural. Deve
haver maior presença de negros na TV, como propõe o senador Paulo Paim. [...]
Uma sugestão, que minimizaria conflitos, seria aumentar imediatamente as vagas e
as verbas nas universidades públicas que façam um esforço pela diversidade, ampliando
o acesso e a permanência de negros, índios e pessoas de baixa renda, com programas de
apoio pedagógico.
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(Folha de S.Paulo, 29 jul. 2003. In: CEREJA, Willian; MAGALHÃES, Thereza. Textos e Interação.
São Paulo: Atual, 2005, p. 131. Adaptado.)

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Escreva um texto respondendo à questão: pode-se afirmar que no Brasil não há racis-
mo, há a inclusão social do negro?
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Interpretação e análise
textual: texto teatral
.
Comstock Complete

N este módulo aprenderemos sobre uma das formas


mais antigas de comunicação, o teatro.
O texto teatral é um dos elementos mais importantes
dessa arte e é através dele que autores e dramaturgos
e.
expressam suas ideias e visões sobre o mundo. Embar-
let
mp que nessa viagem!
Co
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Comsto

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Teatro: o renascimento
do gênero
Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, profissionais de
teatro estrangeiros chegaram ao Brasil, desencadeando grandes mu-
danças em nossa dramaturgia – o gênero menos desenvolvido ao
longo do período modernista.
Nesse “renascimento teatral”, destacam-se alguns autores cuja
produção caracteriza-se pela revolta e pela denúncia social, em seus
mais variados matizes. Entre muitos outros, destaca-se Nelson Rodrigues
(A Mulher Sem pecado, 1939; Vestido de noiva, 1943; Toda nudez
Será castigada, 1969; A serpente, 1978); obras expressionistas e freudianas que concentram seu
foco nos mais profundos abscessos que permeiam os comportamentos sociais institucionalizados).

[...] o teatro, como espetáculo, se universaliza à maneira das outras artes modernas,
e Nelson Rodrigues representava para o palco o que trouxeram Villa-Lobos para a música,
Portinari para a pintura, Niemeyer para a arquitetura e Carlos Drummond de Andrade para
a poesia. O certo é que a estreia de Vestido de noiva fez com que o teatro brasileiro per-
desse o complexo de inferioridade.
O êxito de Vestido de noiva inspirou a Nelson todas as audácias. Se ele fosse um autor aco-
modado, daria por encerrada a contribuição no caminho da pesquisa, escudando-se num gênero
mais facilmente assimilável. O próprio Nelson confessou: “Vestido de noiva teve o tipo de sucesso
que crentiza um autor. Parti para Álbum de família, que é um anti-Vestido de noiva. O teatro é
mesmo dilacerante, um abscesso. Teatro não tem que ser bombom com licor”.
(MAGALDI, Sábato. A peça que a vida prega. In: RODRIGUES, Nelson. Teatro completo.
Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994.)

Em Vestido de noiva, o cenário é dividido em três planos, cada um correspondendo a um


dos espaços nos quais se passa a ação: o plano da realidade, o da alucinação e o da memória.
A peça começa com um acidente de automóvel sofrido por Alaíde. No plano da realidade,
ela é levada ao hospital. Repórteres noticiam o acidente, a operação cirúrgica, a morte e o enterro
da personagem. No plano da alucinação, Alaíde procura e encontra Madame Clessi, uma prostituta
que foi assassinada pelo último amante. Alaíde, antes de se casar, morou na casa que pertenceu
a Clessi, local do assassinato. Instigada por Madame Clessi, Alaíde vai recordando a própria vida,
até descobrir que há um conflito entre ela, a irmã (a mulher de véu) e Pedro, seu marido.

(Trevas. Luz no plano da realidade: Lúcia e Pedro. Lúcia chorando. Coroas. Luz também no
plano irreal.)
Alaíde – Quem terá morrido ali, naquela casa?
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Clessi – Olha! Uma fortuna em flores!


Alaíde – Enterro de gente rica é assim.

2
Clessi – O meu também teve muita gente, não teve?
Alaíde – Pelo menos, o jornal disse.
(No plano da realidade)
Pedro (Em voz baixa) – Lúcia!
Lúcia (Tomando um choque, levantando-se.) – Que é? Que horas são?
Pedro – 3 horas.
Lúcia – Fique longe de mim! Não se aproxime!
Pedro – Mas que é isso?
Lúcia (Com ódio concentrado) – Nunca mais! Nunca mais quero nada com você! Juro!
Pedro – Você enlouqueceu? O que é que eu fiz?
Lúcia (Obstinada) – Jurei diante do corpo de Alaíde!
Pedro (Chocado) – Você fez isso?
Lúcia (Com decisão) – Fiz. Fiz, sim. Quer que eu vá na sala e jure outra vez? (Mergulha
a cabeça entre as mãos) Ontem, antes dela sair para morrer, tivemos uma discussão
horrível!
Pedro (Baixo) – Ela sabia?
Lúcia (Patética) – Sabia. Adivinhou o nosso pensamento. E eu disse.
Pedro – Mas comigo nunca tocou no assunto.
Lúcia – Discutimos quantas vezes! Ameacei-a de escândalo. Mas ontem, foi horrível –
horrível! Sabe o que ela me disse? “Nem que eu morra deixarei você em paz!” (Lúcia fala
com a cabeça entre as mãos. Alaíde responde através do microfone escondido no buquê.
Luz cai em penumbra, durante todo o diálogo evocativo.)
Alaíde (Com voz lenta e sem brilho) – Nem que eu morra, deixarei você em paz!
Lúcia (Falando surdamente) – Pensa que eu tenho medo de alma de outro mundo?
Alaíde (Microfone) – Não brinque, Lúcia! Se eu morrer – não sei se existe vida depois da
morte - mas se existir, você vai ver!
Lúcia (Sardônica) – Ver o que, minha filha?
Alaíde (Microfone) – Você não terá um minuto de paz, se casar com Pedro! Eu não deixo
– você verá!
Lúcia (Irônica) – Está tão certa assim de morrer?
Alaíde (Microfone) – Não sei! Você e Pedro são capazes de tudo! Eu posso acordar morta
e todo mundo pensar que foi suicídio!
Lúcia – Quem sabe? (Noutro tom) Eu mandei você tirar Pedro de mim?
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(RODRIGUES, Nelson. Vestido de Noiva. São Paulo: Abril Educação, 1981. p. 25-27. Literatura comentada.)

3
As peças teatrais compõem uma modalidade textual feita para ser encenada, dramatizada.
Por isso, o autor precisa fazer algumas indicações para os atores: quem fala, como fala, sua
expressão fisionômica, entre outras.
Quando você lê o texto, essas informações são importantes para que você possa imaginar
a cena.
Um texto para teatro emprega o discurso direto, já que re­produz exatamente a fala da
personagem. O narrador não aparece como nos textos narrativos que já lemos.
O texto para teatro conta com a interpretação dos atores, a cenografia e a ilumina­ção,
fatores que interferem, e muito, no entendimento e na interpretação da peça.

Sobre o texto lido anteriormente, responda às questões a seguir:

1. As relações entre as pessoas são tensas e conflitantes. Especifique o tipo de conflito


existente entre as personagens:
a) Alaíde e Lúcia:
Solução:
Alaíde e Lúcia são irmãs e lutam pelo mesmo homem: Pedro.
b) Alaíde e Pedro:
Solução:
Pedro é casado com Alaíde.
c) Lúcia e Pedro:
Solução:
Pedro é amante de Lúcia.
d) Alaíde, Lúcia e Pedro.
Solução:
Alaíde descobre a traição, discute com a irmã e teme ser assassinada pelos dois.

2. Identifique no texto situações que correspondam aos planos da realidade, da memó-


ria e da alucinação.
Solução:
Plano da realidade: a fala entre Lúcia e Pedro num local próximo à sala em que se
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encontra o corpo de Alaíde.

4
Plano da memória: o diálogo entre Lúcia e Alaíde; a descoberta da traição e a possibi-
lidade de assassinato de Alaíde.
Plano da alucinação: diálogo entre Alaíde e Clessi sobre o enterro de alguém muito rico.

3. Vestido de noiva traz uma série de inovações formais.


a) Que elementos do texto permitem afirmar que Vestido de noiva não obedece às
regras de unidade de tempo e espaço preconizadas por Aristóteles para toda peça
dramática?
Solução:
A ação da peça se dá em três planos, o da memória, o da realidade e o da alucinação,
ora sendo focalizado um, ora outro. Os fatos passados e presentes também se alternam
compondo o drama.
b) O tempo passado se apresenta de modo linear? Fundamente sua resposta com ele-
mentos do texto.
Solução:
Não. O diálogo entre Clessi e Alaíde, por exemplo, se dá no plano da alucinação de
Alaíde, ou seja, antes de ela morrer; o diálogo evocativo de Lúcia é anterior à alucinação
de Alaíde; o diálogo entre Lúcia e Pedro se dá depois da morte de Alaíde.
c) De que linguagem é própria a técnica do flashback utilizada por Nelson Rodrigues
para reconstruir o passado de Alaíde?
Solução:
Da linguagem cinematográfica.

Vamos ler um trecho da peça O palácio dos urubus. A história se passa na ilha fictícia
de Babaneiralle, o país delirante das bananas, do sol e do mar. Nessa cena, o rei está
discutindo com o filho algumas questões que considera importantes para a sua nação.

O palácio dos urubus


Cena 1
(Toque de clarins – Voz do arauto anuncia num bom tom, pelos quatro cantos do teatro.)
Arauto – Atenção! Atenção! Moradores de Babaneiralle! Por ordem do Suavíssimo e Hu-
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maníssimo Rei, Sua Majestade Navarro Ramirez Penha Cassarolli, não se pode mais entrar
no Museu Real Histórico comendo pipocas ou mascando chicletes de bola!

5
(Ploc sonoro do estouro da bola do chiclete. A ordem é repetida. Amanhece em Babanei-
ralle – um refletor focaliza um homem amarrado numa cadeira, com uma vistosa melancia
na cabeça. Na outra extremidade, Reston, vestido à Guilherme Tell, estica um bonito arco,
pronto para disparar a flecha. Dispara, a flecha parte e atinge em cheio o coração do ho-
mem, causando uma violenta explosão de sangue.)
Reston – Errei, papai! Mais uma vez errei!
Navarro – Estou cansado de afirmar que esse definitivamente não é seu esporte favorito!
Reston – Acaso o senhor está insinuando que devo jogar futebol?
Navarro – Não. Mas você não tem vocação para ser arqueiro.
Reston – (Inconformado) Só preciso de mais treino, senhor meu pai.
Navarro – (Deliciando-se com um pedacinho da melancia partida) Pratique um esporte
menos violento!
Reston – Violento??? Arco e flecha, violento!!!!!?????
Navarro – Quando não se tem pontaria e o alvo é humano...
Reston – (Protestando – Enérgico – Indignado) O alvo é uma melancia...
Navarro – Que você nunca acerta!!!!!
Reston – O senhor está me desencorajando? Não se esqueça de que faz parte da boa
educação de um herdeiro do trono o esporte, a caça, a competição, a luta!
Navarro – Não esqueço. Como poderia esquecer, se esse é o sexto Primeiro-Mi­nistro que
morre devido à sua mania de ser arqueiro? O país pode en­trar em crise. Os meus súditos
mais chegados andam apavorados com a tênue possibilidade de vir a ser Primeiro-Minis-
tro, o cargo passou a inspirar horror, tal a instabilidade e a insegurança.
Reston – Ninguém precisa ficar sabendo de meus pequenos insucessos. Bote a culpa no
povo!
Navarro – O povo não é mágico. Há 30 anos assumi o poder, há 30 anos o povo não
possui mais nem garfo nem faca para comer, quanto mais arco e flecha.
Reston – Quando o grande Nero incendiou Roma, não precisou justificar se o po­vo tinha
ou não caixa de fósforo ou isqueiro!
Navarro – O seu paralelismo histórico é arejado, é surpreendente! Mas Roma foi Roma,
Babaneiralle é Babaneiralle!
Reston – Senhor meu pai, seus argumentos não vão mudar o meu modo de pensar. Con-
tinuarei a praticar o arco e flecha.
Navarro – Pelo menos, você podia praticar com uma fruta maior. Talvez assim não errasse
o verdadeiro alvo.
Reston – Maior? Comecei com maçã, fruta nobre, passei a contragosto para os realistas
cachos de bananas, estou em melancia; o senhor não está pensando que vou me exerci-
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tar com uma detestável jaca!

6
Navarro – Não precisa mudar a fruta, coloque qualquer fruta na cabeça de um homem
qualquer. Você poderá até voltar a usar maçã; desde que o homem que esteja com ela na
cabeça seja uma pessoa simples, comum... digamos... um homem do povo.
Reston – (Irritado) Papai! Um homem simples não me dará responsabilidade nem mo-
tivação para aprimorar minhas flechadas. Para me dedicar com afinco e entusiasmo é
necessário que a fruta esteja na cabeça de alguma verdadeira personalidade. O que sig-
nifica a morte de um homem qualquer? Nada. Tem tantos! Um a mais ou a menos, que
importância faz? Não, senhor meu pai, já basta a fruta não ser nobre.
Navarro – Seria menos desastroso se nessa fase “inicial” dos seus exercícios vo­cê usasse
o nosso Ministro da Educação.
Reston – Ora, francamente, senhor meu pai! Para que serve um Ministro da Edu­cação em
nosso país?????
(VIEIRA, Ricardo Meirelles. O palácio dos urubus. Brasília: MEC - Departamento
de Documentação e Divulgação, 1978. p. 7-9.)

Glossário
Clarim: instrumento de sopro, hoje apenas usado para sinais militares.
Arauto: aquele que anunciava todas as mensagens na Idade Média.
Guilherme Tell: herói legendário suíço (século XIV) que consegue acertar com uma
flecha uma maçã colocada sobre a cabeça de seu filho.
Paralelismo: comparação, correspondência de ideias e opiniões.
Arejado: esclarecido, avançado.
Surrealista: que despreza aquilo que é lógico, racional, valorizando o sonho, o in-
consciente e o irracional.

1. Qual foi a primeira proibição real anunciada pelo arauto?

2. Como o rei era caracterizado pelo arauto?

3. O que Reston, o filho do rei, fez logo de manhã?


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4. Qual foi a reação do rei diante do feito do filho?

5. Por que o rei considera o arco e flecha um esporte violento?

6. Segundo Reston, quem deveria ser responsabilizado pelos seus assassinatos?

7. O que o pai sugere ao filho, já que não consegue convencê-lo a mudar de esporte?

8. O que retruca o filho diante dessas sugestões?

9. Que ministro é totalmente desacreditado pelo filho?

10. A proibição real de comer pipoca ou mascar chiclete de bola num museu tem grande
importância para um país? Justifique sua resposta.

11. O que demonstra a fala de Reston assim que matou o ministro?


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8
12. Na sua opinião, por que o futebol é desvalorizado pelo príncipe Reston?

13. A situação econômica do povo de Babaneiralle não é das melhores. Transcreva a frase
do rei que comprova essa afirmativa.

14. A admiração de Reston por Nero, imperador romano, traduz-se no emprego de um


adjetivo. Que adjetivo é esse?

15. Esse país fictício – Babaneiralle – poderia bem representar alguns países verdadei­ros.
Dê alguns exemplos.

Você vai ler a seguir um fragmento da peça teatral Lua nua, de Leilah Assunção, uma
peça de grande sucesso de público e de crítica:

Lua nua
Sílvia – É... O que a gente vai fazer?
Lúcio – É um problema mesmo... Só que estou atrasadíssimo, depois você me liga para
dizer como é que resolveu por hoje.
Sílvia – Espera aí, Lúcio. Acho que você não entendeu ainda. A saída da Dulce é um
problema nosso e não apenas meu.
Lúcio – Mas foi você que despediu a moça, você causou o problema, agora resolva
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você, ora.

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Sílvia – Ela extrapolou todos os limites, poderia ter sido com você, é como se ela
tivesse... pedido demissão. É um problema da nossa casa, a ser resolvido, portanto, con-
juntamente.
Lúcio – Só que eu tenho entrevista com os americanos às dez e meia e estou atrasado.
Sílvia – Mas eu também tenho entrevista às dez e meia...
Lúcio – Ah, você não vai querer comparar agora essa sua entrevista com o meu tra-
balho, vai?
Sílvia – Ah! A minha entrevista é uma frescura, apenas. O seu trabalho é muito mais
importante que o meu.
Lúcio – Não é bem isso...
Sílvia – É? Diga. Responde, Lúcio. É mais importante?
Lúcio – É! Pronto. Quis escutar, escutou, Sílvia. É claro que o meu trabalho é muito
mais importante do que o seu.
Sílvia – Poooooooooor quê?
Lúcio – Porque... Ora, não vamos agora começar uma discussão mesquinha. Eu me
nego a ser ridículo.
Sílvia – Pois eu proponho que o sejamos.
Lúcio – Sílvia, eu estou atrasado, não tenho tempo para debates. (Pega a pasta e vai
em direção à porta).
Sílvia – Tem razão... Também estou atrasadíssima e não tenho tempo para debates.
(Pega a sua pasta e também vai em direção à porta.)
Lúcio – Quer parar de brincadeira?
[...]
Sílvia – [...] Por que o seu trabalho é mais importante que o meu, Lúcio?
Lúcio – Não é uma questão de importância, Sílvia. O que você faz no escritório e o
que você faz nesta casa são coisas valiosíssimas, mas veja... você ficou três meses aqui,
só amamentando...
Sílvia – Amamentando o nosso filho. Que agora já está com oito meses... E nosso,
aliás, da sociedade toda!
Lúcio – Não começa! Eu não vou ter paciência, agora, para discurso! Ou faz nhenhe-
nhém ou faz discurso, assim não dá! Vamos parar de lero-lero, tá? O meu trabalho pesa
mais que o seu porque ele é para valer, escutou bem? É o meu, o meu trabalho, e não o seu
que garante a segurança desta família. É com o meu salário, e não com o seu, que você
conta para ter (Aponta para os pacotes de compras.) esse supermercado aí, assistência
médica, seguro de vida, carteirinha do clube e tudo o mais. Tá bom?
Sílvia – Amanhã pode ser o meu, lembra da tua mãe?
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Lúcio – Mas o problema é hoje. É hoje que será resolvido se vamos ou não para os
Estados Unidos.

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Sílvia – Sabe que você nem perguntou, de verdade, se quero mesmo ir? Talvez, para
mim, não seja a melhor época para sair daqui.
Lúcio – Não estou entendendo. O que você está tentando me dizer?
Sílvia – Isso mesmo que você está escutando. Estou muito entusiasmada com a minha
profissão neste momento. Com o caso Teixeira Leite.
Lúcio – “Caso Teixeira Leite”... Ô, Sílvia, eu não queria desqualificar você, mas esse seu
caso é uma bobagem! Indenização por perda de emprego de uma filhinha de papai rico. Nós
dois sabemos que você não passa de uma secretária de luxo no escritório dos seus amigos...
Sílvia – Sou uma advogada! Muitas vezes me esqueço disso, mas eu sou. E esse é o
meu primeiro caso. Sozinha. Está escutando, Lúcio? (pausadamente) É o meu primeiro
caso. Os Teixeira Leite têm influência, é a minha chance. Já faltei na primeira entrevista
porque o Júnior estava com quarenta graus de febre.
[...]
Lúcio – [...] Olha, Sílvia, eu quero te ajudar, eu entendo que é uma barra, mas tenho
de ir andando porque já são mais de nove e meia, é um absurdo o que já me atrasei...
[...]
Sílvia – (gritando) Saaacoooo!
Lúcio – Tudo bem, Sílvia, tudo bem, eu entendi sim, tudo! Mas você não acha perda de
tempo ficarmos os dois aqui? Um dos dois já basta para resolver o problema, não basta?
Sílvia – Pois que seja você a ficar então! Você não tem mais que trabalhar feito um
camelo para sustentar mãe e irmão: eles cresceram! Você tem uma companheira que tam-
bém produz. Que seja você a ficar.
Lúcio – Pooooxa! Eu estou com trinta e cinco anos. Sabe quando vou ter outra chance
dessas? Nuuunnnca! Vou ser um engenheirinho de merda até o fim da vida!
Sílvia – E eu, se perco esta chance, eu vou ser na-da até o fim da vida, Lúcio! Na-da,
a diferença é essa: na-da.
Lúcio – (resolvido) Mas como na-da? Como? Não adianta, não. Não adianta que eu não
entendo mesmo! [...] Você é minha mulher, Sílvia, é a mãe do Júnior!
Sílvia – Sempre de braços dados com alguma referência, “a mulher de”, “a mãe de”, “a
filha-do-dono-do-boteco”. E eu, Sílvia, onde é que estou, o que é que eu sou? Me ajuda,
Lúcio...
Lúcio – (perplexo) Não... não pode ser... Essa daí não é você... O que foi que aconteceu?
Sílvia – Enquanto eu dou um telefonema você vai aí do lado, por favor, e pergunta
para a Dona Mariazinha se ela pode ficar com o Júnior.
Lúcio – Eu?! Vou perguntar para essa vizinha se... Eu nem sei como é que se pergunta
isso!
Sílvia – Ela fica de vez em quando. Já passou da idade, não gosto de abusar, mas é
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uma santa pessoa.

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Lúcio – (perplexo) Você virou feminista. É isso... novela das sete... é isso que dá ficar
vendo novela das sete, virou feminista!
Sílvia – Pode me xingar do que quiser. Se eu não conseguir me impor hoje com você,
neste dia tão importante para minha vida, não vou conseguir nunca mais.
(ASSUNÇÃO, Leilah. Lua Nua. São Paulo: Scipione, 1990. p 35-40.)

16. O texto teatral tem semelhanças com o texto narrativo: apresenta fatos, persona-
gens, tempo e lugar.
a) Quem são as personagens? Qual o grau de parentesco entre elas?

b) Onde ocorre a cena?

c) Qual é, aproximadamente, o tempo de duração dessa cena?

d) Há, no texto, um narrador que conta a história? Por quê?

17. O texto teatral escrito apresenta alguns trechos em letras de tipo diferente e entre
parênteses.

Ex.: “Sílvia – ... Também estou atrasadíssima e não tenho tempo para debates. (Pega
a sua pasta e também vai em direção à porta.) ”

“ Sílvia – (gritando) Saaacoooo!”


Esses trechos são chamados rubricas, eles têm uma função especial. Qual é ela?

18. Observe a linguagem empregada pelas personagens. Que tipo de variedade linguística
predomina:
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( ) padrão formal ( ) padrão informal

Justifique:

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19. Quando um texto teatral é lido, o leitor é o interlocutor da história vivida pelas per-
sonagens.
a) Quando ele é encenado, quem é o interlocutor?

20. O texto apresenta um confronto de interesses entre Lúcio e Sílvia, revelado pela dis-
cussão sobre a vida profissional de cada um.

Releia as falas:
“Lúcio – [...] depois você me liga para dizer como é que resolveu por hoje.”
“Lúcio – [...] Você causou o problema, agora resolva você, ora.”
“Sílvia – [...] A saída da Dulce é um problema nosso e não apenas meu.”
“Sílvia – [...] É um problema da nossa casa, a ser resolvido, portanto, conjuntamente.”
a) Naquele dia surgiu um problema. Como Lúcio se posiciona diante do mesmo?

b) Pela reação de Sílvia, pode-se afirmar que ela concorda com o marido?

c) Lúcio afirma ser o trabalho dele mais importante que o de Sílvia. Que argumento
básico ele utiliza para sustentar este ponto de vista?

d) Qual o sentido do termo “nosso”, destacado no trecho?


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21. Sílvia não quer ser vista apenas como esposa, mãe ou filha de alguém, quer ser vista
como ela é. Lúcio vê diante de si uma nova Sílvia. Como Lúcio reage?

22. Resuma em uma oração a ideia central do texto.

23. Qual a crítica social presente neste texto?

24. Transforme o discurso indireto em discurso direto. Atente para a pontuação e tempo
verbal:
a) A empregada disse que a vida era um dom que merecia tempo e dedicação para
manter seu bem-estar e sua saúde.

b) O técnico do time ordenou que jogassem.


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c) Depois de ver as fotos da casa, ele disse que aquela casa era divina.

d) O professor sugeriu que eles deveriam ler uma obra de Machado de Assis.

25. Transforme o discurso direto em indireto. Atenção ao tempo verbal e outras mudanças:
a) Perguntei a ela:
— Você é irmã de Mariana?

b) Elisabete ponderou:
— É perigoso sairmos sozinhas a esta hora da noite.

26. Imagine a continuação do diálogo entre o Rei Navarro e o filho Reston. Se quiser,
pode seguir o esquema abaixo:

Navarro (Sentando lentamente na banheira)

Reston (Indignado)

Navarro (Enérgico, violento)

Reston (Batendo os braços na banheira)

Navarro

Reston (Um pouco mais calmo)

Navarro

Reston

Navarro (Quase perdendo a realeza)


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Reston (Sentado no chão)

Navarro (Convicto)

15
Pesquisa e relato.

Você lê jornais e revistas?

As reportagens apresentadas em jornais e revistas formam um conjunto de informa-


ções a respeito de um tema, comparando acontecimentos, recolhendo depoimentos
ou comentários de pessoas ligadas ao material apresentado, analisando causas e
consequências sobre esse assunto, enfim, estimulando o leitor ao debate.

Converse com seus professores de Ciências, História, Geografia e Língua Portuguesa


sobre temas da atualidade. Reúna seu grupo de trabalho e, dentre os fatos da atuali-
dade sugeridos pelos professores, escolha um deles para escrever uma reportagem.

Cuidem para que seja um assunto sobre o qual vocês não tenham dificuldades para
encontrar material de pesquisa e pessoas que possam comentar e participar do traba-
lho. Peçam ajuda, se necessário, a seus professores!
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Apresentem a reportagem depois de pronta para a classe.

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Escolham a que vocês mais gostaram e exponham para a escola. Amplie, assim, seus
conhecimentos.

Sugestão de música
GIL, Gilberto. Fora da ordem. Composição de Caetano Veloso.

. O texto teatral é desenvolvido em torno do diálogo. É ele que constitui a base do


texto, pois é o responsável pelo desenvolvimento das ações, pelo conflito que deverá
chamar a atenção do leitor.

A seguir você tem a descrição de um cenário. A partir dele crie uma cena teatral. Para
isso, introduza no cenário personagens, ações, enfim, uma história.

Cenário:

Suntuoso vestíbulo do Grande Hotel. Escadaria ao fundo. Ao levantar o pano, a cena


está cheia de hóspedes de ambos os sexos, com malas nas mãos, e criados e criadas
que vão e vêm. O gerente do hotel anda daqui para ali.
(AZEVEDO, Arthur. A Capital Federal. In: CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Textos e Interação. Rio de Janeiro:
Serviço Nacional do Teatro, 1972. p. 1.)
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ALUNO: TURMA: DATA:

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Estudo de gênero:
poema
“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente.”
th.
João Luiz Ro

(Fernando Pessoa)

“Liberdade – essa palavra


que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!”

(Cecília Meireles)

“Elabora o poema como


a fruta elabora os gomos,
a fruta elabora o suco,
elabora a cor e sobretudo
elabora a semente.”

(Mauro Mota)

E m textos literários, quando pretendemos trans-


mitir nossas ideias, opiniões e emoções, combi-
namos palavras de forma que fiquem claro terem sido
selecionadas para compor imagens, sugerir formas,
cores, odores, sons, permitindo sensações, leituras e
EF2_8A_POR_089 interpretações.
Versos: comunicação
e encantamento
Na arte, um texto pode ser escrito em prosa (linhas contínuas) ou em versos (como um
poema).
Em um poema, podem ser trabalhadas as mais diferentes ideias, sejam elas poéticas ou
não. Muitos autores têm a tendência a falar sobre o amor, a natureza, a pátria, o índio, o es-
cravo, a mulher, a saudade e outros temas convencionais. Há outros que não abordam apenas
temas ligados à emoção, escrevem poemas ricos em críticas ou ironias à situação socioeconô-
mica brasileira.

O que é poema?
Poema é um gênero textual em que a linguagem é carregada de expressividade e emoção.
Por meio dele, o autor exprime sua visão de mundo, por essa razão, dizemos que é subjetivo
(de caráter pessoal). Por meio do poema, o poeta seleciona e combina as palavras muitas vezes
fazendo o agrupamento para obter sonoridade e ritmo, que conferem musicalidade ao texto.
Um poema não apresenta um significado único. É preciso lê-lo mais de uma vez para
descobrir suas significações. Para melhor interpretar um poema, é necessário conhecer alguns
elementos constitutivos desse gênero.

Elementos constitutivos do poema


Verso: é uma sucessão de sílabas ou fonemas que formam uma unidade, cada uma das
linhas que compõem o poema.
Estrofe: é um agrupamento de versos. O número de versos que forma a estrofe varia.
Metro ou métrica: é a medida dos versos, ou seja, o número de sílabas poéticas que
formam cada verso.
Rima: é um dos elementos responsáveis por conferir musicalidade ao poema. É a se-
melhança de sons em determinadas palavras. Não é recurso obrigatório no poema.
Ritmo: é também um recurso responsável por conferir musicalidade ao poema. É a
alternância entre sílabas tônicas e átonas.

As formas de um poema
Há diversos tipos de poemas. As formas podem ser fixas, quando apresentam uma estru-
tura fixa de construção, ou variadas.
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Entre os poemas de formas fixas temos o soneto, o haicai, a balada.

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Os poetas inventam imagens, ao explorar não só o significado das palavras, mas também
a maneira de dispô-las no papel. A preocupação também com a disposição das palavras no
contexto, sugerindo uma ideia, teve início na década de 50 com o movimento conhecido como
Concretismo. Surge, então, o poema figurado: composição poética cujos versos são organiza-
dos de modo a sugerir a forma do elemento que constitui o tema.

Leia o poema a seguir:

Canção mínima

No mistério do Sem Fim,


Equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
E, no jardim, um canteiro;
No canteiro, uma violeta,
E, sobre ela, o dia inteiro,

Entre o planeta e o Sem Fim,


A asa de uma borboleta.

(MEIRELES, Cecília. Viagem: vaga música.


Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982.)

1. Descreva o poema do ponto de vista estrutural, ou seja, o número de versos, de es-


trofes e a forma como se organizam as estrofes.
Solução:

O poema é composto de três estrofes, cada uma com dois, quatro e dois versos, res-
pectivamente.

2. Copie os versos em que ocorra rima.


Solução:
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“No mistério do Sem Fim / E, no planeta, um jardim”, “equilibra-se um planeta./No


canteiro, uma violeta,”.
3
3. O poema descreve um cenário natural. Que palavras expressam a ideia de natureza?
Solução:

As palavras que expressam essa ideia são: planeta, jardim, canteiro, violeta, borboleta.

Leia o poema e resolva as questões:

Rua dos cataventos I

Dorme, ruazinha... É tudo escuro...


E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...

Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...


Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...

O vento está dormindo na calçada,


O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... não há nada ...

Só os meus passos... Mas tão leves são


Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...

(QUINTANA, Mario. Rua dos Cataventos I. v. 6. São Paulo, Ática,


1980. Coleção Para Gostar de Ler.)
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1. Nesse poema, há quatro estrofes, isto é, quatro grupos de versos separados por um
espaço em branco. Cada estrofe apresenta um grupo de versos, ou seja, linhas poéti-
cas. Quantos versos há em cada estrofe?

2. Com auxílio de seu professor responda: que nome damos ao poema com essa estrutura?

3. Ao ler o poema, você provavelmente fez uma pequena pausa no final de cada linha ou
verso. Essa pausa se acentua em razão da rima. Copie três pares de palavras que rimam.

4. A linguagem empregada no poema é figurada, ou seja, é construída a partir de ima-


gens. Nos versos a seguir, indique aquele(s) em que uma ação humana é atribuída a
seres inanimados.
( ) “Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...”
( ) “Nem guardas para acaso persegui-los...”
( ) “As estrelinhas cantam como grilos...”
( ) “Só os meus passos... Mas tão leves são”
( ) “O vento está dormindo na calçada,”

5. Pode-se dizer que esse poema soa como uma espécie de acalanto. Por quê?

6. Do que o poeta fala nesse poema? Copie um verso que comprove a resposta.
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7. Através dos versos é possível saber de que época o poeta está falando. A que época
o poeta se refere? Comprove com um verso, sua resposta.

8. Leia: “O vento enovelou-se como um cão...”. O que significa este verso?

9. Podemos afirmar que neste poema há referência à morte, tema comum aos poemas de
Mario Quintana. Justifique.

10. Escreva um parágrafo descrevendo suas impressões sobre o poema:

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Leia o poema para resolver as questões:

(CAPARELLI, Sérgio; GRUSZYNSKI, Ana Cláudia.


Poesia Visual. São Paulo: Global, 2001)
11. O poema acima é um poema figurado. Justifique a afirmativa.

12. Qual é relação entre o conteúdo e a forma como foi produzido o poema?

13. No poema existem poucas rimas. Transcreva um verso que possua rima.
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14. Alguns trechos se repetem no decorrer do poema. Que efeito causa no poema a repe-
tição?

15. Releia:

“Quando você passa,


O jacarandá florido,
Ali na praça,
se inclina e te abraça”

a) Nesse trecho foi atribuída característica humana a um ser inanimado. Em que verso
fica mais evidente esta característica? Copie-o.

b) Descubra que nome se dá a esse recurso linguístico. Registre-o.

c) No trecho, há duas marcas da linguagem informal. Quais são essas marcas? Justi-
fique-as.
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16. O poema não tem título. Sugira um título para o poema. Justifique sua escolha.

17. No poema, fica clara a ideia de que Carolina não vê o poeta, não percebe os senti-
mentos do mesmo. Que verso comprova a afirmativa?

Um dos recursos para tornar uma frase mais expressiva é o detalhamento, o acréscimo
de novos elementos à frase.

Leia o poema e resolva as atividades propostas:

Esse pequeno mundo

Sei que o mundo é mais que a casa,


mais que a rua, mais que a escola,
mais que mãe e mais que o pai.

Vai além do horizonte,


que eu desenho no caderno,
como linha reta e preta,
que separa azul de verde.

Sei que é muito, sei que é grande,


sei que é cheio, sei que é vasto.
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Me disseram que é uma bola,
que flutua pelo espaço,
atirada pelo chute
de um gigante poderoso;
vai direto para o gol,
que ninguém sabe onde é.

Mas pra mim o que mais conta


é este mundo que conheço
e que cabe direitinho
bem debaixo do meu pé.

(BANDEIRA, Pedro. Cavalgando o Arco-Íris.


São Paulo, Moderna, 1984.)

18. Reescreva os versos, acrescentando novos elementos ao elemento central, fazendo da


enumeração um recurso para tornar a frase mais expressiva:
a) “Vai além do horizonte”.

b) “Que eu desenho no caderno”.

c) “Me disseram que é uma bola”

d) “É este mundo que eu conheço”


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19. Continue acrescentando novos elementos ao elemento central:
a) O mundo pequenino, os homens se amando mutuamente.

b) Sonho com teu sorriso e sinto-me feliz.

c) Logo que abri a janela, o frio trouxe-me recordações antigas.

d) Diminuo a marcha e vejo a casa. Um lugar conhecido traz-me conforto.

20. No poema “Esse pequeno mundo”, de Pedro Bandeira, há marcas da oralidade, da co-
loquialidade. Identifique os versos que fogem da formalidade da língua e reescreva-os
adequando à linguagem formal.

21. No poema a seguir, o autor fez uma espécie de jogo com as palavras, montando-as,
no contexto, de acordo com as ideias que deseja transmitir. Sem dúvida que este
poema ganhou maior expressividade com a utilização dos recursos visuais.

Observe com atenção as ideias e a forma do poema a seguir e interprete-as:


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11
(CAMPOS, Augusto de. Viva Vaia. São Paulo, Brasiliense, 1986.)

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12
Leia os textos a seguir:

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e Falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo
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Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostituta bonita

Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
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(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. In: Poesia Completa e Prosa. Rio de


Janeiro: Aguilar, 1958.)

14
Vou-me embora

Vou-me embora vou-me embora


Vou-me embora pra Belém
Vou colher cravos e rosas
Volto a semana que vem

Vou-me embora paz da terra


Paz da terra repartida
Uns têm muita terra
Outros nem pra uma dormida

Não tenho onde cair morto


Fiz gorar a inteligência

Vou reentrar no meu povo


Reprincipiar minha ciência

Vou-me embora vou-me embora


Volto a semana que vem
Quando eu voltar minha terra
Será dela ou de ninguém.

(ANDRADE, Mário de. O carro da miséria.


In: Poesias Completas. São Paulo: Martins Fontes, 1955.)

Você certamente observou que o segundo texto é a reprodução do texto inicial alte-
rado. Fez-se uma imitação, misturando sátira e humor. Temos aqui uma paródia.

Agora é com você. Leia o poema “Canção de exílio”, um dos textos que mais serviram
de base para outros poetas de nossa literatura. Um poema que expressa saudade e
nostalgia sem as melosidades saudosistas que vigoravam na época.

Faça uma paródia deste texto, considerando a situação do Brasil atual:


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15
Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
Sem que eu desfrute os primores
Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,


Onde canta o Sabiá.
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(Gonçalves Dias, 1843)

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