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RESUMO
Esse texto, com base em um levantamento teórico, tem como objetivo apontar os usos
das mídias comunicacionais dentro do movimento social cineclubista. Parte-se em um
primeiro momento de uma reflexão sobre a teoria dos movimentos sociais aplicada para
compreensão do cineclubismo. Em seguida se faz uma análise das relações midiáticas
no contexto econômico e social desta classe organizada. E por fim apresenta o a
visibilidade mediada para compreensão aplicada no contexto cineclubista como uma
estratégia possível para difusão das suas ações. Esta reflexão se torna relevante diante
do compromisso com a problematização das contradições que envolvem a maneira de
agir e interagir trazidas com as mídias ao qual está submetido o cineclubista.
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Trabalho apresentado para disciplina Estudos Avançados em Mídias e Cotidiano, vinculada ao Programa de Pós-
Graduação em Comunicação e Culturas Midiáticas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
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Rose Kelly Araujo Lima. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Midiáticas da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa CACTO – Comunicação, Afeto, Cultura, Trabalho e Organizações. E-
mail: roseamoralima@gmail.com.br
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Clara Bezerril Câmara. Orientadora ddo trabalho. Professora da disciplina Estudos Avançados em Mídias e
Cotidiano Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Midiáticas da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). Mestre em Comunicação e Culturas Midiáticas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e doutoranda
em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail: clara.knox@gmail.com
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Movimentos sociais populares são articulações da sociedade civil constituídas
por segmentos da população que se reconhecem como portadores de direitos e
se organizam para reivindicá-los, quando, estes não são efetivados na prática.
Aqueles de base popular se organizam na própria dinâmica de ação e tendem a
se institucionalizar como forma de consolidação e legitimação social. Enquanto
forças organizadas, conscientes e dispostas a lutar, são artífices de primeira
ordem no processo de transformação social, embora um conjunto de fatores
(liberdade, consciência, união) e de atores (pessoas, igrejas, representações
políticas, organizações) se soma para que mudanças se concretizem.
(PERUZZO, 2013, p.162-163).
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FederaçãoInternacional de Cineclubes (FICC)4 , o Conselho Nacional de Cineclubes
(CNC) 5 e Federação Pernambucana de Cineclubes (FEPEC) 6 .
O cineclubismo se estabelece como movimento social popular, pois impulsiona
o diálogo em um local de socialização da população. Tomando como base o
entendimento de Peruzzo (2013), diante das várias categorias possíveis para
classificação dos movimentos sociais e considerando a realidade brasileira, poderia
classifica-lo como movimento político-ideológico, pois a rede cineclubista se estabelece
em prol da articulação de lutas por participação política, protestos por antagonismos
políticos, reivindicações por democratização, mudança de regime, entre outros.
Para Maria da Glória Gohn (2004, p-268-271) estes são os movimentos sociais
construídos decorrentes de conjunturas políticas de uma nação, assim como surgidos a
partir de uma ideologia, que geram fluxos e refluxos conforme as conjunturas políticas
de uma nação. Para Peruzzo (2013), esses movimentos sociais não ocorrem apenas em
momento conjuntural extremo de luta, mas podem emergir de manifestações públicas
espontâneas ou decorrer de movimentos sociais já existentes.
No Brasil através das conquistas obtidas pelo movimento cineclubista
organizado e por meio da ANCINE, se firma a Instrução Normativa n. 63, de 2 de
Outubro de 20077 , que define os cineclubes, estabelece normas para seu registro e dá
outras providências para eles. De acordo com o documento, o cineclube torna-se uma
alternativa, um local opcional de contraponto ao cinema comercial estabelecido. É um
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Em 1947, num encontro realizado entre 15 e 19 de setembro, durante o Festival de Cannes, foi constituída a
Federação Internacional de Cineclubes (FICC). A FICC estabeleceu alguns princípios gerais e fundamentais: o
caráter não comercial dos cineclubes, o compromisso com o cinema independente e de experimentação, a disposição
de criar uma rede internacional de circulação de filmes. A federação também se propôs a participar ativamente das
relações internacionais no plano da cultura, através da ONU (Organização das Nações Unidas) e da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), recém criadas, e, de fato, a FICC é um
órgão consultivo da UNESCO até os dias atuais. A Federação Internacional de Cineclubes conta com
aproximadamente 65 instituições representantes de cineclubes nos respectivos países que estão localizados. <
https://infoficc.wordpress.com/ >
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A partir de 1959 passam a ser organizadas as primeiras Jornadas Nacionais de Cineclubes, congressos anuais e
bianuais, conforme a época, que constituem uma das mais importantes conquistas democráticas do movimento
cineclubista brasileiro. Além da expansão pelas capitais e mesmo por cidades menores os cineclubes passam a se
aproximar, se reunir. Surgem as primeiras iniciativas de organização, depois são criadas diversas federações estaduais
- que irão culminar, em 1961, na criação do Conselho Nacional de Cineclubes (CNC). A instituição desde o princípio
prima pela defesa dos cineclubes do território nacional brasileiro, pois estes estimulam o público a discutir o filme,
além de também discutir e refletir suas realidades através da projeção audiovisual. (LIMA, 2016, p.25)
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Em 16 de Julho de 2008 ocorreu a fundação da Federação Pernambucana de Pernambuco (FEPEC). Durante a 4º
Assembleia Geral da FEPEC, realizada, em Recife, no dia 16 de dezembro de 2015, existia um número aproximado
de 104 filiados à entidade. < https://fepec.wordpress.com >
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Acesso em 09 de agosto de 2021: https://antigo.ancine.gov.br/pt-br/legislacao/instrucoes-normativas-consolidadas/
instru-o-normativa-n-63-de-2-de-outubro-de-2007
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local democrático de diálogo, de criação, de experiência do cinéfilo, do expectador, do
público.
É pertinente compreender o cineclubismo como uma potência de articulação
social e contribuição para organização de uma sociedade mais consciente, mais
presente, e mais critica, não apenas sobre o cinema, mas sobre tudo o que essa arte
possa envolver. Pode-se supor que o movimento social cineclubista não se subordinada
à economia, ao Estado e a mass media8 ,, na intenção de sustentar esse espaço de
autonomia política de comunicação e de voz para a população. “O cineclubismo
defende o diálogo político por meio da obra cinematográfica e da luta por novas formas
de criação/ apropriação estética do cinema”. (LIMA, 2016, p.49). As práticas
cineclubistas estão pautadas no exercício de exibir filmes regularmente, em território
previamente definido, para determinado público, com temática específica e curadoria
prévia, e após as exibições, são realizados debates com intuito de incitar a reflexão e o
dialogo entre os participantes da sessão. Estas organizações amparam e batalham por
políticas públicas que possam combater às violações de direitos à cidadania, incluindo o
de comunicar na prática.
Observando que existem objetivos em comum que unem as práticas
cineclubistas e delimitam suas ações, ao mesmo tempo, é possível detectar a relevância
da organização coletiva que impulsionou a criação de organizações políticas e
representativas desses sujeitos sociais.
É pertinente notar que o movimento cineclubista se modifica nos diferentes
momentos de sua trajetória secular com diferentes arranjos políticos, sociais e
econômicos. Vale salientar que as revoluções tecnológicas provocaram fortes guinadas
de direção, momentos de letargia e rearranjos qualitativos nos cineclubes. As fraturas
provocadas por tais impactos redefiniram modelos, posturas e rumos tomados pelo
exercício cineclubista, inclusive no que trata das novas maneiras de agir e interagir com
as mídias, e consequentemente altera as relações de trabalho e de visibilidade deste
coletivo no contexto social.
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Cineclube Super 8, em Recife, e do Cineclube Leila Diniz, em Olinda. Nesses espaços
havia uma formação de lideranças e de fruição de ideais. As pessoas que lutavam e
resistiam àquele momento político vivenciado no país se encontravam nesses ambientes
para lutar, discutir e resistir à ditadura militar.
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circuito comercial. É nesse período que destacamos a retomada do cineclubismo no
Recife, com a criação do “Cineclube Jurando Vingar”, localizado na Fundação Joaquim
Nabuco (FUNDAJ) do bairro do Derby, composto por nomes como Marcelo Gomes,
João Vieira Jr. e Kléber Mendonça Filho. Segundo os depoimentos, o cineclube durou
até o ano de 1992, aproximadamente.
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interação face-a-face é dialógica no sentido de que geralmente implica num fluxo
comunicativo e informativo de duas vias” (THOMPSON, 2008, p. 17). Neste
movimento de apropriação do espaço, pode-se considerar que, ao abrir novas
possibilidades de sociabilidade, de interpretação e interação, os cineclubistas
impulsionam a cidade, fazem com que esta se abra para o futuro por meio de suas
manifestações.
Dito isto, é possível defender que o cineclubismo estimula a profusão critica,
explicitando que “o espaço da recepção é o espaço de acordos e desacordos – espaço de
recriação – revelando as possíveis interpretações e usos de uma obra” (CLAIR, 2008.
p.168 ). Thompson comenta:
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Para entender mais sobre o “direito do público” ver anexo 1 : em 18 de Setembro de 1987, a partir do congresso
realizado em Tabor, na República Tcheca, a FICC aprovou por unanimidade uma Carta de Direitos do Público,
chamada de Carta de Tabor.
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Nesses espaços é possível assistir filmes que dificilmente seriam exibidos, pois
não estão inseridos no circuito de distribuição dos grandes grupos exibidores. O
professor Paulo Cunha registra uma exibição indiscreta acontecida no Recife:
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A mídia pode ser entendida como um campo de interação com
interesses, posições e carreiras profissionais próprios, um campo que se
erigiu separadamente do campo político, mas que está entrelaçado a ele
de diversas maneiras. As organizações mediáticas estão todas elas, cada
uma à sua maneira, preocupadas em exercer um poder simbólico através
do uso das mídias comunicacionais de todo tipo. Enquanto algumas
dessas organizações interferem diretamente no campo político, elas não
coincidem com ele, já que normalmente são regidas por princípios
distintos e são orientadas para fins diversos.
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um dos 12 projetos a serem desenvolvidos terá valor máximo de até R$ 40.000,00
(quarenta mil reais) para sua realização integral.
Cientes desse potencial mobilizador enquanto rede de comunicadores que
produzem e distribui informação em movimento, os cineclubes se oferecem de maneira
explicitamente engajada com os movimentos contra-hegemônicos.
Em 2019 destaca-se o surgimento da rede Movimenta Cineclube 10 .. A iniciativa
em 2020, durante o período da pandemia, por meio do uso da internet e de outras
tecnologias digitais executou o projeto o Movimenta Lab. Com incentivo da Lei Aldir
Blanc (2ª edição) a ação fomentou o desenvolvimento de práticas formativas (via zoom
+ obs) para comunidades desenvolverem seus projetos para o 15º Edital do Funcultura
Audiovisual. Como resultado desta prática, dos onze cineclubes inscritos e vinculados à
rede, cerca de sete cineclubes avançaram da primeira fase de habilitados.
Apontamentos
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Ver anexo 2.
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cineclubistas e de como se articulam considerando a capacidade de transformação social
por meio das vivências em coletivo.
Observamos que o movimento cineclubista se deparou em diferentes momentos
de sua trajetória com novos arranjos políticos, sociais e econômicos. Além de
revoluções tecnológicas que provocaram fortes guinadas de direção. As fraturas
provocadas por tais impactos redefiniram modelos e corrigiram posturas e rumos
tomados pela prática cineclubista.
Neste texto as articulações da base teórica para pensar sobre a visibilidade
mediada e o movimento social cineclubista apontam para as contradições e para a
necessidade de ampliação do debate sobre a profissionalização e a organização
cineclubista.
Por fim, emerge nesse artigo a reflexão e o entendimento de que o
cineclubismo se constrói e se organiza na intenção de sustentar esse espaço de
autonomia política de comunicação e de voz para a população. Percebe-se que as
entidades representantes do movimento cineclubista têm papel decisivo no
desenvolvimento das politicas públicas por serem porta-vozes de indivíduos mediante
práticas de emancipação cultural.
Afirmar a concepção da classe cineclubista enquanto integrante da classe
trabalhadora cinematográfica que atua em prol da democratização dos direitos à
informação e da comunicação audiovisual é fundamental para a criação de uma nova
forma de entendimento de sociedade.
REFERÊNCIAS
ALVES, G.; O cinema como experiência crítica tarefas políticas do novo cineclubismo no
século XXI. In: MACEDO, F. e ALGES; G. (Orgs) Cineclube, Cinema & Educação. Londrina:
Práxis, Bauru: Canal 6, 2010. p. 7-25.
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COLPO, C. D. A Comunicação Organizacional Como Um Sistema Aberto Em
Recursividade Nas Organizações Comunitárias. Artigo publicado em 2013 no Congresso da
ABRAPCORP.
Manna, N., Jácome, P., & Ferreira, T. (2017). Recontextualizações do –ismo: disputas em
torno do jornalismo "em crise". Revista FAMECOS, 24(3), ID26991.
https://doi.org/10.15448/1980-3729.2017.3.26991
_______________ A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Editora Voze, Rj.
1998.
Sites:
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Federação Pernambucana de Cineclubes. Disponível em: <
https://fepec.wordpress.com/apresentacao/ > Acesso em: 10/08/2021.
APÊNDICE
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Anexo 2 - https://www.brasildefatope.com.br/2019/04/26/em-pernambuco-
cineclubes-popularizam-cinema-e-debatem-temas-sociais
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