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e Opinião Pública
Introdução
Os conceitos de espaço público, opinião pública e públicos estão todos relacionados com a
comunicação pública.
A comunicação pública é o tipo de comunicação que circula/tem origem no espaço público (não no
sentido físico do termo, mas sim como espaço comum, por exemplo os media são tão espaço público como a
praça), ou seja, ocorre no âmbito deste espaço e tem como objetivo formar opinião pública (opinião comum
que foi objeto de construção coletiva – o coletivo é uma condição da existência da comunicação pública -
sobre algum assunto de interesse público). Com que é que se constrói a opinião pública? Com a
comunicação pública. Os públicos são a base, é o que está na origem da comunicação pública, dos espaços
públicos e da opinião pública (historicamente a primeiro formaram-se os públicos que deram origem ao
resto; só existe espaço público existindo uma sociedade organizada por públicos). Portanto é uma
“comunicação constituída a nível do espaço público e veiculada pela (ou para a) opinião pública”. Este tipo
de comunicação aparece com as sociedades modernas.
Significado e valor da "Opinião dos Públicos" – sobre o caráter vinculativo (na base
de universos comuns de discurso)
Cada público afirma-se em nome de uma opinião vinculativa. O entendimento que eles constituem é
colectivo e muitas vezes este pode não ser atingido - nesse caso, estabelecem-se compromissos
(entendimento temporário). Tudo isto é possível graças ao processo comunicacional, à troca de opiniões
com um sentido.
Um público atinge a tal excitabilidade quando atinge todos estes patamares até ao último (o do
entendimento) que lhe permitem passar para a acção social. Estão assim criadas as condições para a sua
afirmação enquanto actor social.
Para que os fluxos de opiniões alimentem esta motivação, têm de obedecer a regras, nomeadamente a
regras de agonística e argumentativas. É necessário arranjar uma forma de diminuir as diferenças, através da
argumentação. A comunicação de um público é uma comunicação de diferenças.
Os Públicos e a Individualidade: o estatuto do sujeito no âmbito dos públicos na
condição de interlocutor comunicacional
O público assume sempre um caracter colectivo, o seu traço mais marcante. No entanto, aloja no seu
interior a individualidade própria de cada individuo.
O público reconhece um espaço de afirmação à individualidade própria de cada um dos seus membros
em oposição ao passado em que o elemento colectivo esmagava a impunha-se à individualidade. Público é
uma entidade colectiva que não apaga mas promove a individualidade. Os espaços sociais são
personalizados e abertos às afirmações individuais dos seus membros.
A dimensão da constituição dos públicos dá espaço para a individualidade dos membros, nascendo da
vontade própria do individuo daí a sua importância. Há um constante exercício/aprofundamento dessa
individualidade e incentivo à formação de opinião, critica e tomada de posição pessoal – vida interna do
público.
É necessária a troca de opiniões individuais para a constituição da opinião vinculativa de um
determinado público.
Há um equilíbrio: Os públicos no seu interior contrabalançam a dinâmica colectiva e individual.
Acaba por haver um jogo entre o público e o privado – tensão permanente que permite desenvolver as
sociedades modernas – onde o privado corresponde ao subjetivo (à individualidade) e o público ao coletivo
(os públicos).
Antiguidade Clássica
A ideia de público e privado forma-se na Grécia Antiga, nestas sociedades a diferenciação entre os dois
é antagonista. Para estas sociedades helénicas, a sua organização tem como ideia principal a existência de
um “espaço público” no seu sentido literal. Nas cidades há um espaço físico que ganha esse estatuto, onde os
cidadãos se reúnem para decidir o futuro das suas cidades. Esse espaço é a Ágora, que no quadro da
estrutura destas sociedades se define como um espaço antagónico do oikos, da casa individual. Ambos os
espaços são importantes. Nestes dois espaços estão marcados os dois traços fundamentais destas sociedades:
na Ágora, a política, a discussão da vida coletiva, o homem como cidadão, a [lei da] democracia; em casa/no
oikos, a economia, a subsistência dos indivíduos, o espaço como ciclo da vida, o homem como chefe da casa
(oikos desputas), a [lei da] escravatura. As sociedades modernas olham para esta experiência com algum
interesse; como voltar a fazer valer a distinção entre o público e o privado. Apesar do homem estar presente
nos dois espaços, tem papéis muito diferentes. O seu papel no privado é dominante enquanto que no público
é igual aos outros. Dominação (privado) é diferente de poder (público).
O domínio do espaço público é o domínio da liberdade. O espaço da casa é o espaço da necessidade.
Na Antiguidade Clássica não há qualquer mediação entre Público e Privado, experiências com entidades
próprias completamente antagónicas: política/economia, poder/dominação, liberdade/necessidade.
Sociedades Tradicionais
A distinção entre público e privado desaparece na Idade Média, onde a esfera pública passa a ser do
domínio senhorial (exercício do poder). O espaço público perde o sentido universal e passa a ser
exclusivista, de domínio senhorial (um complemento ao exercício do poder), cumprindo funções de
representação teatral, espaço cerimonial de encenação, do poder da igreja e do poder laico (feudalismo) e
espaço público da corte, representação para o povo. Neste espaço público observamos a sacralização do
monarca. É o que Habermas chama ser um Espaço Público de Representação, que na verdade perde o
sentido público. Há um apagamento do espaço público e um apagamento do privado. As categorias servem o
poder, só os poderosos têm direito a uma afirmação individual. O público e o privado perdem a distinção
entre si.
Face a estas duas realidades, as sociedades modernas vão definir a sua própria matriz. Da Antiguidade
Clássica retira-se o conceito de diferenciação, isto é, é este conceito que passa para a modernidade: volta-se
a diferenciar. Das Sociedades Tradicionais o conceito que passa para a modernidade é o de
complementaridade.
O Público e o Privado voltam a ganhar força – há uma certa articulação entre estes dois domínios da
experiência, estabelecem entre si múltiplas mediações apesar de serem domínios distintos. A própria ideia de
mediação define a originalidade das sociedades modernas: separação dos domínios mas ao mesmo tempo
articulação mútua, um não pode viver sem o outro.
O paradoxo na comunicação de massa tem a ver com os mass media. Há um desenvolvimento efusivo
da comunicação (meados dos séculos XIX e XX), uma extensão das redes comunicacionais,
desenvolvimento dos media no geral, algo que seria potencialmente positivo para o espaço público. Esta
comunicação é a forma que a comunicação pública assume num contexto de mudança estrutural do espaço
público. Nessa perspetiva, enquanto comunicação pública, é inevitável associar-lhe os tais traços
regressivos. A comunicação devia abrir-se aos critérios de abertura e participação, mas tal não se regista na
comunicação de massa, que na verdade inverte estes critérios. O que a comunicação de massa garante é uma
participação reduzida; ao acolher mais indivíduos, há cada vez mais restrições à participação. A
comunicação de massa tende a polarizar-se num determinado número de assuntos que servem determinados
interesses. O mesmo se pode dizer da igualdade; a comunicação de massa é altamente elitista, de poucos
para muitos. Há uma certa erosão da estrutura da comunicação pública, associada à comunicação de massa.
A comunicação de massa é também responsável pela expansão do espaço público. Há uma estrutura
meramente formal no que diz respeito aos fluxos de informação. É aqui que reside o paradoxo: enquanto
existe uma série de elementos que permitem uma intensificação da comunicação pública, é a
performatividade dos mass media que permite ao mesmo tempo uma erosão comunicacional. Uma
comunicação mais intensa e ao mesmo tempo e ao mesmo tempo mais fraca.