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transformação social ∗
Cicilia M.Krohling Peruzzo
Este artículo hace un inventario de los usos concreta e com as necessidades e interesses
sociales de las Relaciones Públicas en los majoritários da população sofrida, impossi-
movimientos populares contemporáneos, bilitada de usufruir dos direitos plenos de ci-
particularmente en Brasil. dadania.
Portanto, as relações públicas populares
Palabras clave: Relaciones Públicas; co- implicam num olhar inconformado do status-
municación popular; movimientos sociales. quo, e ao mesmo tempo, implicam num
"apostar"na transformação social. Ou seja, é
um olhar inconformado no sentido de não se
2 Movimentos Populares e
conformar, não aceitar a realidade de opres-
Relações Públicas são a que está sujeita a maior parte da po-
Há aproximadamente uma década vêm se pulação brasileira. Opressão essa que está
desenvolvendo de forma mais visível, no refletida nas condições de miséria, na ca-
Brasil, novas possibilidades às relações pú- rência de moradia digna, na subnutrição de
blicas. Elas transcendem, com mais vigor, um terço da população brasileira, na falta de
dos mundos empresarial e governamental - saúde, no aumento do número de meninos
embora estes continuem seus campos de atu- e meninas de rua e tantas outras coisas que
ação predominantes, para o mundo das orga- afetam a vida. Um dado que reflete bem essa
nizações e movimentos sociais populares. situação: Segundo pesquisa da ONU - Orga-
Assim, até há mais ou menos dez anos nização das Nações Unidas, o Brasil ocupa
relações públicas eram concebidas teori- a 51a posição mundial em termos de desen-
camente e praticadas majoritariamente en- volvimento humano (considerando a expec-
quanto um instrumental a serviço do capital, tativa de vida, grau de alfabetização e poder
dos governos e da hegemonia das classes do- de compra básica da população), seguido do
minantes. Mas, a sociedade é dinâmica e, Paraguai que está em 52a posição.
acompanhando as mudanças que vêm ocor- Mas, na dinamicidade da sociedade ela vai
rendo no interior da sociedade brasileira, as criando mecanismos de negação, a antítese à
relações públicas também chegou a vez de situação de desigualdade social. No decor-
deixarem-se mudar. Hoje, teórica e prati- rer dos anos, vários expoentes (pessoas, mo-
camente, é possível falar de relações públi- vimentos sociais, organizações não governa-
cas populares, ou comunitárias, orgânicas às mentais, segmentos da Igreja Católica, seg-
classes subalternas. Ou seja, de um traba- mentos universitários, alguns partidos políti-
lho de relações públicas comprometido com cos, alguns órgãos públicos etc.) vão se agre-
os interesses dos segmentos sociais subalter- gando em tomo de lutas em defesa da vida.
nos organizados, ou num sentido mais amplo No bojo desse processo é que se forjam
com o interesse público. os movimentos sociais populares, os quais
Falar de relações públicas populares, vão desenvolvendo ações coletivas em favor
ou comunitárias, significa falar de "no- do interesse público, dos interesses da maior
vas"relações públicas. "Novas"no sentido parte da população.
de estarem comprometidas com a realidade Estes movimentos, em última instância,
lutam pelo acesso a bens de consumo co-
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dade de articulação e assim foram surgindo produção e de gestão coletiva e/ou experi-
as federações, Federação de Associações de ências autogestionárias de unidades produ-
Moradores no nível de município, por exem- tivas. c) Núcleos políticos (associações de
plo. E mais do que isso. Em 1987/88 foi moradores, federações de associações etc.)
constituída a FAMOPES-Federação de As- Neste nível se gestam e se administram pro-
sociações de Moradores e de Movimentos cessos reivindicatórios coletivos. São expe-
Populares do Espírito Santo, formada pelas riências que além de exercitarem uma certa
próprias organizações de base que congre- "administração local"(bairro), também favo-
gam associações e movimentos populares de recem o aprendizado de relacionamento com
todo o Estado do Espírito Santo. o Poder Público, a Prefeitura por exemplo.
Todo este m o v i m e n to tem uma ter- Mas, o que é mais importante, o fazem atra-
ceira fase, bastante candente no início dos vés de suas entidades representativas (e não
anos 90, quando os movimentos procuram mais através de indivíduos isoladamennte) e
adquirir mais competência, se aperfeiçoar’ introduzindo práticas participativas coletivas
em campos de sua atuação. Por exemplo, co- e pluralistas. d) Núcleos culturais (Grupo de
nhecer os mecanismos de elaboração do or- teatro, Movimento Negro etc.). Nesse nível
çamento municipal ou da planilha de custos há todo um movimento de recuperação da
para o transporte coletivo. . história e de identidades, bem como de cri-
Os movimentos populares procuram ad- ação e recriação de valores no campo da cul-
quirir mais competência para poderem par- tura.
ticipar mais efetivamente discutindo proje- Quanto aos "novos"valores: Uma socie-
tos, pressionando e, possivelmente, se pre- dade cerceada em sua liberdade de expres-
parando para passarem a propor projetos, ou são e organização, de repente desenvolve va-
seja buscam adquirir competência para me- lores como a noção de participação direta.
lhor negociar com o Poder Público, para me- A população introduz uma forma direta de
lhor interferir no processo de construção da atuar, sem intermediários, no âmbito das as-
realidade. . sociações, nos bairros e nos municípios. Ad-
Voltamos à questão das "novas"estruturas ministra suas próprias organizações através
sociais que estão sendo gestadas no âmbito de diretorias eleitas democraticamente, com
dos movimentos populares, segundo Pira- mandato temporário e poder delegado pela
gibe Castro Alves (sd). Essas se caracteri- base. Em suas organizações todos podem fa-
zam em: a) Núcleos de socialização (Clu- lar, discutir, propor, voltar, decidir e ajudar
bes de Mães, Grupos de Jovens etc.). É um a executar. Os vereadores, parece, passam
espaço onde as pessoas se encontram. Por a não dar conta de todos os reclamos e ne-
exemplo, a partir daí as mulheres passam a cessidades da população, e ela passa a agir
extrapolar sua ação dentro dos limites do lar. diretamente, passa a se relacionar de forma
Passam a conviver, discutir e procurar solu- direta com o Poder Público.
ções para seus problemas de ordem familiar Um outro valor muito presente diz res-
e comunitária. b) Núcleos econômicos (co- peito à noção de direito. O direito à mora-
operativas, associações de produtores etc.). dia, o direito à saúde, o direito à educação,
Onde se gestam experiências de trabalho, de enquanto direito coletivo e público. A satis-
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fação de certas carências passa da percepção ções mais gerais de vida, como o do meio
enquanto direito individual, à direito cole- ambiente, movimentos mais voltados para a
tivo, da pessoa humana e de todas as pessoas defesa dos direitos da pessoa humana, movi-
que estão naquela situação. mentos em tomo das desigualdades mais ex-
Há ainda valores como o da participação plicitados no tocante à etnia e ao sexo, como
da mulher (que quebra o tabu de sua "voca- o movimento negro e o feminista.
ção"/obrigação restrita ao lar), da rejeição à É este um dos campos no qual as relações
violência contra às mulheres, da autonomia públicas populares podem contribuir para a
(que significa a busca por grande parte dos transformação social.
movimentos em caminhar de forma indepen- Sob o ponto de vista teórico não basta
dente, sem a tutela de órgãos públicos, parti- transpor para o campo popular o instrumen-
dos e de outras instituições), de solidariedade tal das Relações Públicas "tradicionais". Há
e da gratuidade. Apesar do mundo competi- que se fazer adaptações, repensar seus prin-
tivo e individualista onde se inserem, os mo- cípios. Implica sobretudo numa opção polí-
vimentos populares evidenciam que existe tica e numa opção metodológica fundamen-
muita gente que faz muita coisa em beneficio tadas na democracia e na dialogicidade (na
do seu semelhante ou do interesse público, perspectiva de Paulo Freire).
sem ser por dinheiro nem poder. Pelo con-
trário chegam a gastar do próprio bolso pres-
3 Princípios das Relações
tando serviços durante o seu tempo livre.
Estas são alterações emergentes no plano Públicas Populares
dos valores culturais, da sensibilidade e do Relações Públicas populares, ou comuni-
estilo de ação no âmbito da sociedade civil. tárias, são aquelas comprometidas funda-
Não são hegemônicos, como não o são os mentalmente com a transformação da socie-
movimentos populares, mas estão aí lutando dade e com a constituição da igualdade so-
pela participação, liberdade, igualdade e so- cial. Elas têm a ver com uma concepção
lidariedade, em outras palavras, pelo direito de mundo e com uma concepção de homem
à vida. que: a) Acredita no homem, na sua poten-
Todavia, os movimentos populares recen- cialidade de construir uma sociedade justa e
tes no Brasil, apesar de fragmentários e não livre. b) Que enxerga a desigualdade social,
predominantes no conjunto da sociedade, as contradições de classes e quer o bem es-
evidenciam uma luta não só pela democrati- tar, a plenitude dos direitos da cidadania as-
zação política e cultural, a qual aliás vão con- segurados para todos os seres humanos. c)
quistando na prática, mas fundamentalmente Acredita nas possibilidades de mudança. E
pela democratização econômica. Eles co- na sociedade civil como gestora de mudan-
locam muito claramente reivindicações pelo ças e de nova hegemonia. d) Implica na inter-
acesso ao consumo das riquezas socialmente disciplinaridade entre vários campos do co-
produzidas, na forma de acesso a bens de nhecimento e da ação político-educativa. e)
consumo coletivo, como a escola, o posto Que se realizem de modo orgânico ao inte-
médico, o transporte etc. Porém, também resse público e preferencialmente inseridas
existem movimentos mais ligados as condi-
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