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EDUCAÇÃO, BARBÁRIE E DEMOCRACIA: AS MANIFESTAÇÕES DO PÚBLICO E

DO PRIVADO NO CAPITALISMO TARDIO


O objetivo deste projeto é observar a redefinição dos espaços públicos e privados e
sua influência sobre a formação humana e os direitos humanos. Para isto, dividimos o
projeto em três momentos: Primeiro, a esfera pública como lugar de deliberação e
mediação entre a sociedade civil e o Poder Público. Segundo, a redefinição da esfera
privada e suas manifestações e, por último, a educação e os direitos humanos e suas
manifestações no público e no privado. O problema principal questiona: qual é o papel
da educação na redefinição democrática dos espaços públicos e privados? A proposta
se justifica porque a educação, depois do reordenamento das esferas público e
privada, adotou novas formas e manifestações, e neste contexto tem que ser
observado se a educação mantém a política e a ética como eixos. A pesquisa é
bibliográfica e os principais referenciais serão Habermas, com a Mudança estrutural
da esfera pública; Arendt com a Condição humana e, Sennett com O declínio do
homem público: as tiranias da intimidade e Giroux com Pedagogía y política de la
esperanza Teoría, cultura y enseñanza. Os resultados esperados são consolidar no
Departamento de Educação da UEL, e na pós-graduação, os estudos de direitos
humanos e educação como uma das manifestações políticas da educação.

PALAVRAS CHAVE: Espaços Público e privado, educação democrática; educação


crítica, educação e direitos humanos.

O objetivo geral desta pesquisa é observar o papel da educação na redefinição


das esferas pública e privada, com foco no desenvolvimento democrático. Destacamos
os atributos e limites políticos da esfera pública, como lugar de deliberação e
mediação entre a sociedade civil e o Poder Público. Analisamos a redefinição da
esfera privada e seus limites éticos, dentro de uma sociedade democrática. E
ressaltamos o papel da educação na redefinição da esfera pública, privada e social,
para a consolidação da democracia e dos direitos humanos.

Para tanto, observamos as manifestações do público, o coletivo, o corpo


político, que é o lugar de deliberação e mediação entre a sociedade civil e o Poder
Público. E também notamos que as manifestações da esfera privada permitem
vislumbrar o papel da educação entre as relações do público e do privado, e suas
manifestações de liberdade, bem-estar, felicidade, na tentativa de preservar os direitos
humanos.

Observamos que, tentar proteger exclusivamente a liberdade individual e social


não é garantia da felicidade e bem-estar dos indivíduos nem das nações. A liberdade e
o desenvolvimento individual e coletivo frequentemente entram em disputas
antagônicas de espaços, devido à complexidade social que atingiu o Estado
contemporâneo. Estas mudanças aconteceram após a Revolução Industrial, e
mostram que determinados conceitos como paz, justiça e liberdade não podem
realizar-se espontaneamente. O conceito de direitos humanos, que envolve os valores
citados, tem que ser revisto, dado que o bem-estar, a liberdade e a justiça surgiram
por primeira vez dentro de um Estado de Direitos, na sociedade burguesa do século
XVIII. E, atualmente sofreram muitas mudanças porque eles têm vários fatores novos,
entre eles a nova ordem social e econômica, que pode ser denominada capitalismo
recente ou tardio (ADORNO, 1985), as novas formas de comunicação e a redefinição
dos espaços públicos e privados pela tecnologia.

Diante destas novas condições, o papel da educação é a desbarbarizacão da


humanidade e este deve ser “o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu
alcance e suas possibilidades” (ADORNO, 1995). A barbárie esta ligada ao
preconceito, à opressão e à violação da dignidade humana. Para evitar esta situação,
os direitos humanos devem ser respeitados e zelados pelo Estado e por todos os
cidadãos. Inicialmente, os cidadãos se contrapõem ao Estado, mas a sociedade atual
deixa de ter esta oposição, porque surgem as instituições privadas que exercem
tarefas de interesse coletivo (HABERMAS). Com isto, esvazia-se a distinção rígida
entre entidades públicas e privadas. E diante destes novos espaços, o âmbito da
educação e a defesa e o desenvolvimento dos direitos humanos ficam alterados.

Estudar a efetividade da educação e dos direitos humanos sem vincular o


espaço no qual eles se desenvolvem é um dos erros dos estudiosos do tema, porque
observar o âmbito em que se manifestam estes conceitos ajuda a entender seu papel
e importância em cada sociedade. Neste sentido, Richard Sennett argumenta que,
existe uma tendência no mundo ocidental moderno por privilegiar a vida privada em
detrimento do domínio público. Isto, porque os indivíduos na modernidade sentem-se
decepcionados com a esfera pública, que identificam com o mundo exterior, cheio de
corrupção e violência, voltando ansiosos para o mundo interior, protegendo assim sua
intimidade, sobrevalorizando a esfera privada. Estas atitudes terão consequências que
podem ser percebidas no desinteresse pelo debate político, pelos programas políticos
que o grande público assiste e pelo desencanto com a política.

A proposta levanta o problema de quais os limites entre as esferas públicas e


privadas e o papel da educação. Nosso interesse foca no problema da Educação no
reordenamento destas esferas, posto que com os novos cenários, econômico, político
e tecnológico, estas sofreram redefinições. E uma de nossas preocupações é observar
se educação contemporânea influencia este reordenamento entre o público e o
privado, ou ela está definida por esta relação. Neste sentido focalizamos nosso
problema principal perguntando, qual é o papel da educação na redefinição
democrática dos espaços públicos e privados? E surgem problemas complementares
que questionam, se o âmbito privado está entrando no mundo público ou vice-versa. E
em quais destes âmbitos está localizada a educação?

Antes do século XIX, o interesse popular pela esfera pública era intenso. As
pessoas participavam ativamente no teatro, tanto assim que o público intervinha, torcia
ou vaiava os personagens, os cafés e pub eram um local de encontros políticos e de
convivência com estranhos. Inicialmente, os jornais eram a publicação das últimas
discussões políticas na noite no bar, o interesse pela política era grande, esses temas
faziam parte das discussões das tertúlias e entretenimentos. Mas essa forma de
distração foi deixada de lado, e pouco a pouco os entretenimentos foram-se tornando
um elemento de domínio privado, para serem escutadas ou assistidas dentro de casa,
através da radio e a televisão.

Rousseau entende que alguns fenômenos aconteceram com o crescimento das


cidades como, acúmulo de riqueza, superpopulação, mendicância, prostituição,
assaltos e outras manifestações trouxeram mudança nos hábitos da população
moderna. A vida urbana traz suas distinções entre o público e o privado, devido às
mudanças estruturais ocasionadas pelo surgimento do capitalismo. Apresentar um
estudo comparativo entre a concepção e evolução das relações entre estas esferas, e
o papel da educação nos levará a observar nossa situação como educadores dentro
do processo evolutivo que o mundo esta experimentando.

Para Rousseau, a ordem social funda-se em convenções, que surgem pela


necessidade de conservação do homem. A liberdade natural cede lugar à liberdade
civil e dela decorrem a propriedade, a liberdade, a igualdade e a noção de público e
privado, no sentido moderno. A relação entre governante e corpo político é baseada
no interesse público. O público é a pólis, o coletivo, o corpo político. A esfera pública é
o lugar de deliberação e mediação entre a sociedade civil e o Poder Público. O papel
do estado e sua relação com a liberdade, bem-estar e educação serão observadas. No
âmbito público surge primeiro o direito à instrução e depois à educação, suas
manifestações e significados são interessantes para nossa pesquisa. E cabe perguntar
a que educação se referem os direitos humanos quando estabelecem o direito à
educação.

O público tem o sentido daquilo que transcende nossa vida e pode ser visto e
ouvido por todos e tem a maior divulgação possível. O domínio público é organizado e
ordenado através da lei. A ordem do mundo não se garante pela natureza comum de
todos os homens, que o constituem, mas pelo fato de que todos eles estão
interessados no mesmo objeto, a despeito das diferenças de posição e de
perspectivas. Neste sentido, podemos questionar que elemento permitirá essa
comunhão necessária para que seres diferentes possam entrar em diálogo, para poder
desenvolver suas potencialidades, já seja a partir do âmbito privado, mas manifesto
em benefício do público.

O âmbito privado tem o sentido mesmo de privação. Na ausência de outros, o


homem não se dá a conhecer e, portanto, parece que não existe. Como é difícil o
controle do privado, o poder público e as leis sentem-se diminuídas neste âmbito. Com
a intenção de regular e ordenar a sociedade, Rousseau propõe a lei, aparentemente
ela deve controlar e reger todos os âmbitos, e para isto deve existir transparência
completa. Então, observamos as atuais sociedades democráticas cercadas de
tecnologias que rastreiam seus passos e controlam seus movimentos, como o Big
Brother de George Orwell, que termina com a violação da privacidade. É esse o ideal
de uma desenvolvida e transparente sociedade democrática, que desfaz a intimidade
das pessoas? E a confiança e autonomia que persegue a educação ficaram em
desuso com rastreadores e controladores eletrônicos?

A educação levará a esse controle tecnológico. Será que ela cria seres com
domínio de tecnologias capazes de invadir e seguir sem consentimento os
movimentos dos outros e, até invadir a privacidade. A educação é recriada pelas
novas manifestações do privado? Ou a educação deve orientar os comportamentos
nestes âmbitos? Cabe refletir sobre o papel que estes desafios contemporâneos
estabelecem.

A proposta justifica-se porque a Educação teve mudanças evidentes, depois do


reordenamento das esferas público e privada, ocasionadas pelo avanço das
tecnologias da informática e comunicação dentro da nova ordem econômica e política
denominada capitalismo tardio. Nesta situação temos que observar o papel atual da
educação nestas novas condições e, observar qual é sua relação com o político e com
o privado. Esta temática é importante para os acadêmicos que terão um panorama
atual do status da educação na sociedade e para a sociedade civil, para que ela se
situe e possa colaborar com uma educação crítica que ajude na construção da
democracia.

· Considerando os propósitos deste estudo, optamos pela Pesquisa Qualitativa


de caráter bibliográfico. Trata-se de uma pesquisa que se situa na confluência da
Pedagogia, Filosofia. Considerando as contribuições de cada área poderemos ter
resultados mais significativos para observar o papel da educação nos espaços
públicos e privados.
· Assumimos a necessidade de uma abordagem interdisciplinar, que nos
permitirá observar através de uma visão mais ampla e integrada. Sendo assim, há
uma proposta estratégica investigativa que permite aos pesquisadores de diferentes
áreas do conhecimento dialogar entre si, no intuito de buscar articulações entre os
conhecimentos.

· Acreditamos que uma proposta filosófica interdisciplinar não deve unicamente


propor um trabalho de varias disciplinas juntas sobre uma única temática, senão
resgatar o valor de cada uma delas e permitir uma aproximação à complexidade da
realidade. Não pretendemos uma proposta de interdisciplinaridade instrumental, que
faz da ciência um mero instrumento. Este tipo de interdisciplinaridade se insere numa
concepção de ciência que se denominou razão instrumental. Toda ação humana se
reduz a um meio para servir a um fim visado pelo homem (JANTSCH, 1995).

Os principais referenciais serão Jünger Habermas, com a Mudança estrutural da


esfera pública; Hannah Arendt com a Condição humana, Richard Sennett com O
declínio do homem público: as tiranias da intimidade, e Henry Giroux com
Pedagogía y política de la esperanza Teoría, cultura y enseñanza. Estas obras
percorrem as intrincadas relações entre as esferas públicas e as privadas, que têm
relação com a educação, não só com as instituições públicas, senão também com
essas escondidas manifestações culturais que preservamos em nossa intimidade e
fazem parte da educação.
Referências bibliográficas: Listar as principais referências bibliográficas, de acordo
com as normas da ABNT.
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