realização plena da cidadania no governo democrático e, por outro lado, é o exercício da cidadania que sustenta, garante a democracia. Quando o governo é de todos e para todos, democracia e cidadania se complementam. Origem conceitual A origem de ambos os conceitos ou concepções ou ideias está na Grécia antiga, que também é o berço da civilização ocidental, a nossa, da qual o Brasil é herdeiro. Os gregos e filósofos, como Platão e Aristóteles, repudiavam formas ou tipos de governo como a tirania (governo despótico de um só) e também a oligarquia (governo de uns poucos privilegiados). Para eles, só o governo do povo (democracia) poderia ter legitimidade, pois é mais justo e, para usar uma expressão atual, includente. Na Grécia antiga a maioria da população era excluída de participar da democracia, de exercer a cidadania. Eram escravos. Quer dizer, não tinham o privilégio típico do cidadão grego. Ou do cidadão romano, quando estes passaram a dominar o mundo. Os escravos e os estrangeiros não eram considerados dignos de ter cidadania. No movimento da história, de lá para cá, um dos marcos da democracia no Ocidente foi a revolução francesa de 1789, que determinou como tratamento máximo para qualquer pessoa, homem ou mulher, o nome ou apelo de cidadão ou cidadã. Era o inicio da democracia moderna, estatuindo o direito de cidadania como um direito universal. Isto é, pelo menos na teoria. Diferença entre países democráticos e não democráticos A diferença histórica e geográfica entre os países sempre foi bastante acentuada, no que concerne ao nosso tema. Por exemplo, os países da Europa e os Estados Unidos têm “índices de democracia” maiores ou melhores do que os países da América Latina, Ásia e África. Da mesma forma, os direitos de cidadania são potencialmente maiores em países do norte da Europa, como a Suécia, que atinge índice de 9,5 numa escala de 10. Na outra ponta, só para exemplificar, a Coréia do Norte, na Ásia, e a Etiópia, na África, estão entre os piores. Cidadania e democracia no Brasil
Os direitos de cidadania nos países democráticos são conquistados
através da organização e luta políticas. Nada acontece por acaso ou porque os políticos são “bonzinhos”. Tem sido assim ao longo da história e em todas as latitudes. No Brasil não é diferente. Desde o fim da ditadura militar, com os direitos políticos e civis restabelecidos, os brasileiros estão exercendo sua cidadania mais efetivamente, conquistando importantes vitórias. Os deveres da cidadania, num país democrático como o Brasil, são também importantes no sentido de que é necessário para garantir o que foi conquistado. Para resgatar a cidadania dos excluídos. Para aprimorar o governo democrático. Assim como democracia e cidadania são conceitos complementares, da mesma forma não se pode conceber direitos sem a contrapartida dos deveres dos cidadãos e cidadãs. Projetos de iniciativa popular que viraram leis Política, cidadania e democracia
Quando falamos em cidadania , nós a enaltecemos como se fosse uma
dimensão superior à política. Não devemos desmerecer a política, como se fosse pertencente a um campo menos expressivo e inferior à cidadania. Através da política é possível construir a cidadania e a democracia, na definição política do termo: bem comum, igualdade social e dignidade coletiva. E, nesse sentido a cidadania e a democracia se revigoram e se reinventam. Como afirma Boff: "o ser humano é um ser de participação, um ator social, um sujeito histórico e coletivo de construção de relações sociais o mais igualitárias, justas, livres e fraternas possíveis dentro de determinadas condições histórico-sociais".
O conhecimento social e o desenvolvimento político são dois aspectos que cada
vez mais vem se desvendando como instrumentos de emancipação e autonomia do cidadão que deseja entender a sociedade e atuar como autor, construtor e reconstrutor de realidades. A escola como espaço de exercício da cidadania e da democracia Ao pensarmos a democracia unicamente como ideal de igualdade, acabamos por aniquilar a liberdade. Existe um grande perigo em conceber todos os indivíduos como iguais , pois excluiremos o direito democrático da diferença, a possibilidade de pensar de maneira diferente e de ser diferente.
Ao falarmos em democracia na escola, devemos, ao mesmo tempo, reconhecer
a diferença de papéis sociais e buscar aqueles aspectos em que todos os membros da comunidade escolar têm os mesmos direitos. Dentro da Instituição Escola, o respeito à hierarquia, o trato com urbanidade aos colegas , configuram a igualdade de direitos, que por sua vez consideram a cidadania. A educação para a cidadania é componente fundamental da democracia. A Instituição escolar deve contemplar em seu projeto educacional, a vontade, a intenção de ser escola que trabalhe os ideais da cidadania. Portanto, ações isoladas, de uma ou outra área (ou grupo), talvez não tenham força de mobilização para iniciar, realizar e dar autonomia ao projeto de uma escola cidadã.
“É preciso que a cidadania do outro seja preocupação de cada um.
A cidadania é pessoal, intransferível, ninguém terá mais se o outro tiver menos”. (Amarildo Vieira de Souza). Necessitamos , todos nós, ter consciência do que realmente significa o exercício da cidadania. Cidadania é a coragem de compartilhar esforços em instituir uma sociedade livre, justa e solidária como trata a Constituição Federal. Referenciais: Mário Sérgio Cortella e Amélia Hamze Educação e cidadania na escola pública A escola pode e deve contribuir para a formação cidadã no sentido de engajar esse público escolar a desenvolver a cidadania em seu meio social. No entanto, é preciso realmente compreender que a formação cidadã envolve o entendimento dos direitos e deveres de indivíduos em sociedade. A “educação para a cidadania” proporciona às pessoas o saber e as aptidões para desafiar e se envolver socialmente. É fundamental que sociedades democráticas sejam formadas por cidadãos informados, críticos e responsáveis. Isto é, indivíduos que estejam com disposição e sejam capazes de assumir atribuições por si próprios e por sua posição social. No entanto, não é somente importante a prática dos exemplos corretos de cidadania, mas também saber emitir opiniões, questionar e participar ativamente na sociedade. Para isso nos perguntamos, como será que os estudantes reagem aos ensinamentos dos pais e da escola? Eles concordam ou discordam? Como ensinar a manter um convívio saudável e feliz seja dentro ou fora da escola, dentro ou fora de casa? Então, a construção da cidadania no ambiente escolar passa pela busca de uma formação crítica em que as ações provenientes dos campos científico, filosófico e artístico não se sobreponham de forma artificial em relação ao cotidiano desafiador das pessoas. Considerando as contradições de financiamento dos sistemas educacionais que geram dificuldades de estrutura das escolas, de carreira para os(as) trabalhadores(as) e insuficiente quadro de formação continuada, a construção da cidadania passa exatamente pela assunção desses desafios e a busca de sua superação por meio do debate público e da organização política https://revistahegemonia.emnuvens.com.br/