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- A teorização dos mass media vai ao encontro de vários objetivos fundamentais dos
investigadores:
» a explicação do papel dos media em formação dos valores e pontos de vista das
pessoas
- “Sendo ou não a sociedade guiada pelo media, é certamente verdade que a teoria da
comunicação de massas é por eles guiada, tendendo a responder a cada maior viragem da
tecnologia e estrutura dos media” (McQuail, 1994)
- Outra grande linha divide os teóricos que se interessam pela cultura e pelas ideias
(culturista) e os que enfatizam as forças e os fatores materiais (materialista)
- Do cruzamento destas dimensões surgem quatro tipos de perspetivas, que podem ser
ainda vistas de forma mais radical ou mais conservadora:
- Embora passível de críticas, a subdivisão dos tipos de media torna-se útil pela noção
evolutiva e de influência dos vários meios em relação aos outros
- Os media criam uma nova estrutura relacional e interaccional. É nesta nova estrutura
que os indivíduos apoiam cada vez mais ou seus conhecimentos e referências. Este fator leva
a uma nova conceptualização dos vários agentes de socialização como a família, a escola ou
a igreja, que muitas vezes se veem colocados em segundo plano face aos meios de
comunicação de massas. Assim, esta nova estrutura relacional passa por um impacto nas
experiências individuais e também pela reconfiguração das identidades, das relações sociais
e dos sentidos de comunidade
- Primam nas nossas sociedades as relações indiretas e mediadas sobre as diretas e face
a face. É este pensar do individual e do coletivo que leva ao repensar do privado e do
público por ação dos media
- Para Leclerc, existe uma oposição, ou pelo menos uma tensão, entre o individual e o
coletivo dos discursos e das mensagens que circulam em sociedade. Porém, o autor
estabelece uma ligação entre os dois, ao afirmar que todo o enunciado que é materializado
num texto tem, pelo menos uma primeiro análise, uma fonte individual
- Estes espaços não devem ser entendidos exclusivamente como físicos, mas cada vez
mais como simbólicos: “a modernidade ou a pós-modernidade marca assim o nascimento de
um novo espaço público, mais simbólico que material: a igreja e a escola eram locais físicos e
concretos; o novo espaço público deve ser entendido num sentido puramente
sociológico,no sentido em que falamos de opinião pública e de bem público” (Leclerc, 200)
- “A nova configuração das relações entre público e privado deve associar-se também a
uma crise de socialização que deve muito às indústrias dos media e à penetração do
mercado no universo da cultura” (Correira, 1998)
- Uma crítica ao pensamento de Habermas passa pela resistência que havia à entrada
na espera política - pública - de fenómenos como o teatro, a narrativa ou o festival, dada a
sua luta contra o fascismo e a estetização da política nazi. Habermas via o público como um
conjunto de espetadores passivos que apenas testemunhavam os acontecimentos, mas hoje
a rádio e a televisão reestruturaram a publicidade ao transformarem as próprias condições
do estar em público
- Por intermédio dos meios de comunicação de massas, o novo domínio público inclui
certos tipos de pessoas que estão disponíveis para todos. Esta situação perpassa o interesse
teórico pelos mass media, onde, para além de se continuar a explorar a eficácia das
campanhas políticas, sociais e comerciais dos meios de comunicação de massas, se direciona
agora grande parte da pesquisa para o que se considerava privado ou individual e não
público
» o positivismo
» a interpretativa
» a crítica
» a pós-modernista
A) Positivismo
- Abordagem com origem no século XIX, fundada por Comte e desenvolvida por
Durkheim, caracteriza um tipo de pesquisa quantitativa, realizada com base em processos
experimentais, inquéritos e estatísticas
- Não se deverá entender que o positivismo é absolutamente determinista, uma vez que
as leis causais que afirma ou perspetiva descobrir são probabilísticas e não acontecem
necessariamente no mesmo grau para todos os sujeitos
- Por outro lado, para que as leis se fixem, devem ser repetidamente suportadas por
factos, sendo estes obtidos por dados quantitativos. Foi nesse sentido que o pensamento
positivista enformou os primeiros trabalhos sobre a comunicação de massas, baseando
esses mesmo trabalhos em metodologias quantitativas com o objetivo de estabelecer um
quadro de entendimento do funcionamento dos mass media e dos seus efeitos na audiência
B) Interpretativa
- Com origem nos trabalhos de Weber, Mead, Parsons e outros teóricos da Escola de
Chicago
- “Procuram testar as suas teorias à luz dos eventos diários, em situações comuns,
emolduradas pela interação dos seus participantes. Hermenêutica é o método pelo qual os
teóricos procuram descobrir a experiência consciente da comunicação” (Anderson, 1996)
C) Crítica
- Marca uma importante tradição de pesquisa dos media, com origem no pensamento
marxista, que via as massas como vítimas da ideologia dominante. Esta, por sua vez, ditava
as atitudes, os valores e as ideias mais populares na sociedade
D) Pós-modernista
- Esta evolução das várias tendências de pensamento e das metodologias que implicam
podem ser agrupadas em grandes blocos: o das metodologias quantitativas e o das
qualitativas
- Numa crítica genérica a esta sociologia tal como era concebida pelo paradigma
dominante, Gitlin defende que a questão dos efeitos na sociedade era vista de uma forma
reducionista e demasiadamente direta, tal como preconizado pela influência da abordagem
behaviorista. Por isso se abandonou prematuramente a problemática dos efeitos
- Chegou-se à conclusão de que não existe uma grande importância dos conteúdos dos
media na formação de opinião pública
- Embora não tinham sido inventados para um aplicação específica aos mass media, é
possível apontar cinco pressuposto no estudo da influência pessoal, base do paradigma
dominante:
» a teoria dos sistemas, que engloba vários níveis da sociedade que se relacionam
» quando são efeitos a curto prazo, intencionais, trata-se viés ou distorção (bias)
» quando são efeitos a curto prazo, mas não são intencionais, trata-se de viés
involuntário ou inconsciente
- Parte da designada Bullet Theory, teoria da bala mágica ou teoria hipodérmica, que foi
das primeiras conceções sobre os efeitos dos media
- Esta teoria foi desenvolvida com base na preocupação com o aparente poder da
propaganda, que utilizava os media para enviar mensagens que pareciam condicionar as
respostas da audiência
- Como resultado desta conceção de efeitos poderosos dos media foi criado nos EUA o
Instituto para a Análise da Propaganda, como resposta ao medo da propaganda aí
desenvolver uma demagogia do tipo hitleriano e com o objetivo de educar o povo
Americano sobre as temáticas de propaganda
- Para além de estudos sobre filmes de guerra, também estudos sobre as eleições
mostraram que poucas pessoas eram realmente influenciadas pela comunicação de massas
nas campanhas eleitorais. Devido a estas conclusões, a teoria da bala mágica foi quase desde
o início posta em causa
- Os media passam a ser vistos como tendo pouca capacidade de causar efeitos nas
audiências
- Estas pesquisas vieram mostrar que os media produziam mais do que efeitos limitados
e que os efeitos estava assim a ser subvalorizados
- O modelo dos efeitos poderosos não parece ocorrer fácil ou universalmente, mas
apenas com as técnicas de comunicação corretas e nas circunstâncias certas, ao contrário do
que preconizava a denominada bullet theory
- McQuail aponta quatro fases para a evolução da teoria e pesquisa dos efeitos dos
media:
» a segunda fase, dos testes à teoria dos media poderosos, corresponde à fase dos
estudos de Lazarsfeld, Hovland ou Klapper
- McQuail aponta a última fase da pesquisa dos media como base para a emergência de
um novo paradigma de efeitos, com dois pressupostos principais:
» por um lado, que os media constroem formações sociais e a própria história ao
emoldurarem as imagens da realidade de uma forma previsível e padronizada
» por outro lado, que as pessoas nas audiências constroem para si a sua própria
visão da realidade social e o seu lugar nesta, em interação com as construções
simbólicas oferecidas pelos media
Elementos
do processo Meio Efeito
Comunicador Mensagem Recetor
de
comunicação
Tipos de
análise aos Análise aos Análise de
media Estudos de Análise de Análise de
media efeitos
controlo contudo audiências
- Existe na base deste modelo a convicção de que o emissor terá sempre alguma
intenção de influenciar o recetor. Por isso, a comunicação deveria ser sempre tratada como
um processo de persuasão e as mensagens teriam sempre efeitos, o que contribui para
exagerar especialmente s efeitos da comunicação de massas
- A teoria hipodérmica acabou por ser superada pelas abordagens empíricas de tipo
psicológico-experimental e de tipo sociológico e pela abordagem funcional
- Os estudos de Lazarsfeld e da sua equipa vieram mostrar que poucas pessoas eram
influenciadas pelos mass media em campanhas eleitorais. Em vez disso, verificaram, à
medida que as entrevistas decorriam, que as pessoas recebiam informação e influências de
outros. Discussões face a face eram uma fonte mais importante de influência política que os
media. As pessoas estavam a ser realmente influenciadas pelos líderes de opinião, que por
sua vez tinham recebido a sua informação através dos meios
- As campanhas políticas serviam mais para ativar e reforçar predisposições de voto que
propriamente para mudar atitudes
- A tradição nos media que dura até aos dias de hoje nos EUA, embora desde os finais
da década de 1990 com um interesse renovado pela pesquisa qualitativa, tem sido a da
pesquisa quantitativa
- Esta escola, com a sua teoria crítica, preocupava-se mais com os valores e imagens
ideológicas presentes no conteúdo dos media
- A Escola de Frankfurt tem por base uma Sociologia baseada no pensamento marxista
que via os media como agentes de controlo ideológico. Estes agentes criavam uma falsa
consciência de classe nas audiências, afastando os indivíduos da dura realidade da sociedade
capitalista. A ideia central é que, através de manipulação deliberada e de censura, os media
contêm imagens e mensagens que são pouco mais que propaganda
- Avança uma abordagem mais filosófica, ao enfatizar a estrutura social mais alargada
na qual a comunicação se desenrola, para além de se focar no conhecimento de quem
controla o sistema de comunicação
- Foi a partir da teoria crítica que se efetuou uma viragem no sentido de estudos mais
qualitativos aos media - o que só por si atesta a sua importância
» a refutação parcial da teoria dos efeitos limitados dos media, que levou à
passagem da persuasão para a dimensão cognitiva da comunicação de massa
» a insatisfação com a noção e opinião pública, que era fragmentada e que passa a
incorporar uma análise global da comunicação política e dos efeitos cognitivos,
contextualizando-a
- “A audiência não se inteira unicamente dos feitos por meio da sua exposição aos
media, como também conhece a importância dos temas tratados nas notícias segundo o
ênfase dado pelos meios informativos” (McCombs, 1996)
- O efeito mais importante dos media é agora visto como a sua capacidade de
estruturar e organizar o nosso próprio mundo e esta capacidade dos mass media de saber
estruturar os conhecimentos da audiência e de saber mudá-los foi definida como a função
da comunicação de massas que estabelece a agenda-setting
- “A imprensa pode não ser eficaz a maior parte do tempo em dizer às pessoas como
pensar, mas é surpreendentemente eficaz em dizer aos seus leitores sobre o que pensar”
(Cohen, 1996)
- Segundo Wolf, a Agenda-Setting não representa uma teoria, mas antes constitui um
núcleo de temas e de conhecimentos que pode ser organizado e integrado numa teoria
sobre a mediação simbólica e sobre os efeitos da realidade provocados pelos mass media,
numa perspetiva de efeitos a longo prazo
- Nas sociedades atuais há grande parte da realidade que os indivíduos não vivem
diretamente, mas exclusivamente através da mediação simbólica dos media, o que leva a
concluir sobre a crescente dependência cognitiva dos mass media
B) Tematização
- “Um aumento do conhecimento leva a uma maior taxa de aceitação de uma padrão de
comportamento, de uma crença, de um valor ou de um elemento de tecnologia num
sistema social” (Gaziano, 1996)
» um modelo cibernético
- Tem sido aplicada na explicação dos efeitos da violência dos media, nomeadamente
em termos da discussão da imitação da violência, no sentido em que os seres humanos têm
desenvolvido uma capacidade avançada para a aprendizagem por observação que lhes
permite expandir o seu conhecimento e capacidades com base na informação fornecida por
influências modeladoras
- É através dos símbolos que o ser humano processa experiências para depois formar
modelos cognitivos que servem como modelos de juízo e de comportamento ou atuação
- Numa sociedade em que a tecnologia dos meios de comunicação de massas está cada
vez mais desenvolvida, também o conjunto de modelos fornecidos pelos media tem crescido
de forma acelerada, dentro e entre sociedades, o que torna esta modelação simbólica
essencial para o perfeito entendimento dos efeitos da comunicação de massas
- Esta teoria vem questionar a opinião predominante numa primeira fase dos estudos
dos media de que as fontes de informação interpessoal são mais persuasivas que as
mediáticas. Para além disso, defende que o ser humano vai buscar informação que lhe pode
ser útil a diversas fontes, sejam interpessoais ou mediáticas e o seu grau de utilização
depende da sua acessibilidade e da probabilidade de trazerem a informação desejada
- A formulação clássica da perspetiva dos usos e gratificações foi enunciada num estudo
de 1974 de Katz, Blumer e Gurevitch: os usos e gratificações preocupam-se com 1) as
origens psicológicas e sociais de 2)necessidades, que geram 3) expectativas dos 4) mass
media e outras fontes, que conduzem a 5) padrões diferenciais de exposição aos media, que
resultam em 6) necessidades de gratificação e 7) outras consequências, talvez na sua
maioria não intencionais
- Já na década de 1980, houve uma reformulação a esta definição que incorpora várias
assunções importantes e que foi realizada por Palmgreen, Wenner e Rosengren: 1) a
audiência é ativa, assim 2) muito uso dos media pode ser concebido como dirigido a
objetivos e 3) compete com outras fontes de necessidade de gratificação, para que quando 4)
a iniciativa substancial das audiências relaciona as necessidades com a escola dos media, 5)
o consumo dos media pode preencher um vasto leque de gratificações, apesar 6) do
conteúdo dos media sozinho não poder ser usado para predizer padrões de gratificações de
forma precisa porque 7) as características dos media estruturam o grau em que as
necessidades podem ser gratificadas em diferentes tempos, e mais porque 8) as
gratificações obtidas têm as suas origens no conteúdo dos media, exposição em ou de si
e/ou a situação social na qual a exposição tem lugar
- A teoria funcionalista dos mass media estudo as funções e refere-se a outro contexto
comunicativo, que é o da situação mais normal e usual da produção e difusão quotidiana das
mensagens de massa. Representa pois um momento de transição para as hipóteses sobre os
efeitos a longo prazo
- Existe um deslocamento do foco de interesse dos efeitos direitos dos media, para o
uso que a sociedade faz dos media, centrando-se por isso na escola, receção e forma de
resposta de audiência dos media
- A hipótese central desta pesquisa é que ver televisão conduz gradualmente à adoção
de crenças sobre a natureza do mundo social
- A televisão, entre os media modernos, tem adquirido um papel de tal forma central na
vida quotidiana que domina o ambiente simbólico e a sua mensagem distorcida sobre a
realidade substitui a experiência pessoal e outras formas de conhecer o mundo
- Em geral, os estudo sobre enculturação têm-se preocupado principalmente com dois
assuntos:
- Tem-se mostrado que quanto mais consistente e coerente for o apoio do ambiente
social imediato em relação à perspetiva da televisão, maior a influência sobre o indivíduo
- Esta contribui para a passagem dos efeitos entendidos a curto prazo para os efeitos
dos media como consequências a longo prazo. Assim, as principais diferenças passam por:
- Mesmo nos dias de hoje, as ideias provenientes da Psicologia Social têm grande
importância na explicação de fenómenos de influência social dos mass media
- “Usar uma moda impopular ou expressar uma ideia que muitos consideram fora de
moda ou, pior, socialmente inaceitável é arriscar incorrer na ira de outros, uma perspetiva
que a maioria considera muito pouco atrativa para arriscar. Como resultado desta
preocupação, os indivíduos devem constantemente monitorar o ambiente, procurando
pistas relacionadas com sentimentos, ideias, conhecimentos ou modas partilhados por
muitos ou apenas por alguns” ( Salmon, 1996)
- Apesar de alguns estudos indicarem que as pessoas têm realmente tendência a não
expressarem as suas opiniões se perceberem que estão em minoria, existem ainda dúvidas
sobre a frequência da ocorrência das hipotéticas espirais do silêncio
3.7 A teoria da receção como braço de pesquisa sobre as audiências dos Estudos
Culturais
- Os Estudos Culturais surgem na área da comunicação de massas a partir da evolução
dos principais paradigmas de investigação:
- A designada teoria culturológica, desenvolvida nos anos de 1960, é uma das primeiras
manifestações desta corrente
- Nos tempos mais recentes a grande questão para os teóricos culturais tem sido
examinar o ambiente simbólico criado pelos mass media e estudar o papel que estes
mesmos desempenham na cultura e na sociedade
- O novo modelo sugerido seria uma visão ritualista da comunicação, orientada para a
manutenção da sociedade no tempo e para a representação de valores partilhados e não
para a extensão das mensagens no espaço ou para dar a conhecer informação
- Não nos devemos esquecer que existia já uma linha de pesquisa qualitativa dos media
desde o início do século XX, com raízes na Escola de Chicago