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Tatiana Moura
Capítulo I
- Desenvolvimento e cooperação internacional
das zonas de fronteira começa a ser substituída como um dos principais objectivos, consideran-
por uma cultura de cooperação transfronteiriça, do como fundamentais o reforço da cooperação
numa tentativa de reforço do processo de integra- institucional, o apoio à criação e funcionamento
ção europeia. Isto foi possível em grande medida de órgãos ou redes de cooperação transfronteiriça
através da aplicação das Iniciativas Comunitárias, de natureza empresarial e sócio-cultural, e a co-
criadas em 1989 como complemento dos Quadros operação com vista ao ordenamento do território
Comunitários de Apoio (QCA) e como instrumen- (gestão coordenada dos recursos naturais). Por
tos especiais de financiamento da política estru- outro lado, previa a conclusão de infra-estruturas,
tural. No quadro da cooperação entre Portugal sobretudo rodoviárias (grande prioridade da ini-
e Espanha, tem especial importância uma dessas ciativa INTERREG I).
Iniciativas, o INTERREG, que conta já com três fa- Esta 2ª fase foi executada em três vertentes
ses. O seu objectivo geral é o de tentar eliminar distintas: cooperação transfronteiriça (vertente
o precedente das fronteiras nacionais enquanto A), ou seja, o apoio a zonas fronteiriças internas
obstáculo ao desenvolvimento equilibrado (prin- e externas da UE, promovendo a criação e desen-
cipalmente ambiental) e à integração do território volvimento de redes de cooperação de fronteiras
europeu na sua totalidade. internas, e sua articulação com redes comunitá-
O INTERREG I (1991-1993), nomeadamente o rias mais amplas; redes energéticas transnacionais
que se refere a Portugal/Espanha, ofereceu um (vertente B), na tentativa de completar as redes de
enquadramento financeiro e político para os con- energia seleccionadas na iniciativa REGEN (1989-
tactos e experiências de cooperação já existentes 93) e articulá-las com redes de energia mais am-
entre os dois lados da fronteira e incentivou e plas; e cooperação transnacional (vertente C), no-
apoiou o processo de criação de vários organismos meadamente em temas relativos ao ordenamento
que se transformaram em peças fundamentais no do território.
processo de cooperação transfronteiriça - Co- Centrando-nos principalmente nas relações
munidades de Trabalho, Gabinetes de Iniciativas desenvolvidas entre a Região Norte de Portugal
Transfronteiriças e Comunidades Territoriais de e Castela e Leão por um lado e a Região Norte de
Cooperação - essencialmente no que diz respeito Portugal e Galiza por outro, podemos identificar
a áreas ambientais e saneamento básico, constru- alguns indicadores materiais da densificação ter-
ção de estradas, desenvolvimento rural e acções ritorial pretendida pelo INTERREG.
de reabilitação do património natural e constru- No que diz respeito à gestão e utilização de
ído. recursos comuns, a nível regional, foram criadas
Foram abrangidos pelo Programa todos os diversas infraestruturas para a gestão coordenada
distritos portugueses de fronteira: Viana do Cas- de espaços naturais transfronteiriços (principal-
telo, Braga, Vila Real, Bragança, Guarda, Castelo mente nas áreas de actuação dos Parques Natu-
Branco, Portalegre, Évora, Beja e Faro (cerca de rais) e seu aproveitamento turístico-ambiental,
40 mil km² de território português). De um total e foram concebidas estratégias de preservação e
de 276 propostas aprovadas no âmbito do INTER- combate a incêndios. Como exemplos destes es-
REG, 82 acções (cerca de 30%) diziam respeito ao forços de cooperação destacam-se a articulação
ambiente e à defesa do património. Destacam-se entre os Parques da Peneda-Gerês/Xurés, apoiada
entre elas a realização de estudos para promoção no âmbito do Sub-programa Norte de Portugal/
do turismo, projectos de recuperação paisagística, Galiza do INTERREG II, as estruturas de coope-
criação de redes fronteiriças de vigilância da qua- ração ambiental Montesinho/Sanabria/Culebra e
lidade do ar, entre outras, correspondentes a 21% Arribes del Duero/Douro Internacional, que dão
do orçamento aprovado pelo Programa. especial importância à vertente transfronteiriça
Em Junho de 1994, numa tentativa de conti- que decorre da aplicação das directivas comuni-
nuação da iniciativa anterior, a Comissão propôs tárias sobre habitats e espécies protegidas.
orientações para as 13 Iniciativas Comunitárias Finalmente, no que diz respeito à constituição
existentes, e para o período de programação pre- de redes e estruturas de gestão regional e local
visto para 1994-99 (2ª fase). comuns, assistiu-se à generalização das Comuni-
Ao nível da estratégia, o INTERREG II Portugal/ dades de Trabalho (Norte-Galiza, Norte-Castela e
Espanha (1994-1999) contemplou os incentivos
aos mecanismos de cooperação transfronteiriça ) Foi neste contexto que foram realizadas as cimei-
ras ibéricas (em que foi negociada a Convenção internacio-
) Comunicação 94/C 180/13 aos Estados membros nal sobre gestão de recursos hídricos). Além deste domínio
fixando as directrizes para programas operacionais que os fundamental, cabe também destacar a intensificação e siste-
Estados membros são convidados a elaborar no âmbito desta matização da cooperação entre as áreas protegidas Peneda-
iniciativa comunitária relativa ao desenvolvimento transfron- Gerês/Xurês (no âmbito do Programa Norte de Portugal/Galiza)
teiriço, cooperação transfronteiriça e redes de energia selec- e o incremento das estruturas de cooperação ambiental entre
cionadas (INTERREG II). Montesinho/Sanabria/Culebra e Arribes/Douro Internacional.
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cumento Único de Programação do INTERREG III nº1 (prioritários) da Reforma dos Fundos Estrutu-
Portugal-Espanha), seguindo as orientações na- rais (em 1988), auspiciada pelo Acto Único Euro-
cionais do Guião PIC Portugal/Espanha, optou por peu. Tanto o Conselho da Europa como a União
privilegiar o envolvimento em parceria dos agen- Europeia passaram a vincar a urgência da coope-
tes institucionais regionais de ambos os lados da ração transfronteiriça, com o objectivo de estrei-
fronteira, enveredando por uma abordagem as- tar as relações entre os seus membros e atenuar as
cendente, inexistente nas duas fases anteriores do desigualdades económicas que subsistiam.
INTERREG. Entre as estratégias utilizadas para este Também a entrada em vigor da Convenção-
trabalho de preparação e de articulação de projec- Quadro Europeia para a Cooperação Transfrontei-
tos pode referir-se, a título de exemplo, a criação riça entre Comunidades ou Autoridades Territo-
de comissões especializadas para a abordagem de riais15, aprovada em 1980 pelo Conselho da Europa,
problemas sectoriais, que reuniram responsáveis abriu caminho para uma colaboração directa en-
regionais e locais14. tre as Comunidades Autónomas espanholas e as
“correspondentes” regiões portuguesas. Estabele-
1.2. Novos instrumentos de cooperação trans- cia-se assim o terceiro nível de cooperação trans-
fronteiriça fronteiriça, o nível regional, que vem fortalecer
Os novos instrumentos ou mecanismos emer- os níveis transfronteiriço e transnacional já exis-
gentes no cenário da cooperação transfronteiriça tentes, dando-se início a uma transformação do
foram em larga medida fruto do impulso comuni- conceito de fronteira (de linha de separação e tra-
tário, nomeadamente do INTERREG, por um lado, vão ao desenvolvimento para zona formada por
e resultado do aparecimento de um terceiro nível territórios que, embora pertencentes a Estados di-
de análise já referido – o nível regional. A princi- ferentes, têm que resolver problemas comuns). No
pal novidade reside no facto de estas regiões não entanto, e na opinião de Wladimir Brito, “a Con-
obedecerem ao traçado tradicional da fronteira, venção-Quadro não institui nenhum tipo novo de
desenhando um “mapa” de regiões com carac- cooperação, limitando-se a oferecer modelos de
terísticas e problemas comuns que não coincide disciplina jurídica para a prática cooperativa que
propriamente com o mapa institucionalizado. as populações de um e do outro lado da fronteira
Dentro destas regiões, chamadas de macroregiões dos Estados vizinhos vinham desenvolvendo com
ou mesmo euro-regiões por abrangerem uma área bastante sucesso”16. No entanto, e ainda segundo
que não se confina ao território nacional, surgi- a opinião deste autor, a Convenção-Quadro pre-
ram instrumentos ou mecanismos que são por tende “[...] habilitar as colectividades territoriais
si internacionais, por ultrapassarem fronteiras, e a participar na cooperação transfronteiriça e, para
que actuam em conjunto para superar obstáculos o efeito, a celebrar acordos de cooperação com as
e promover o desenvolvimento da região. Estas suas homólogas do outro lado da fronteira, atri-
macroregiões são relativamente recentes no mapa buindo-lhes, através do mecanismo de remissão
administrativo europeu, e têm revelado ser bas- para o direito interno, os competentes poderes
tante eficazes especialmente no que diz respeito para outorga daqueles acordos”17.
à cooperação transfronteiriça (pela maior proxi- Esta Convenção é, então, o direito fundamen-
midade geográfica das administrações regionais tador das relações de cooperação transfronteiriça
relativamente à fronteira, maior grau de conhe- entre as comunidades territoriais, regularizan-
cimento dos problemas e das soluções a levar a do-as e institucionalizando-as18. Nesta Conven-
cabo e maior disponibilidade financeira por com- ção estão expressos os três níveis de cooperação
paração com as autoridades locais). transfronteiriça – o governamental, o regional e
Falamos das Comunidades de Trabalho e das o local.
Comunidades Territoriais de Cooperação, cujo A materialização institucional desta mutação
aparecimento se deve a um conjunto de factores de concepções traduz-se fundamentalmente em
facilitadores que passamos desde já a analisar. dois novos instrumentos internacionais de coope-
No seguimento da entrada de Portugal e Es-
panha na Europa Comunitária, tanto as regiões 15) Convenção-Quadro Europeia sobre a Cooperação
Transfronteiriça entre as Colectividades ou Autoridades Terri-
portuguesas fronteiriças (Norte, Centro, Alentejo toriais, que entrou em vigor em Portugal a 11 de Abril de 1989,
e Algarve) como as Comunidades Autónomas es- depois de ter sido aprovada, para ratificação, por Decreto do
panholas (Galiza, Castela e Leão, Extremadura e Governo nº29/87, de 13 de Agosto.
Andaluzia) foram incluídas na lista dos objectivos 16) Brito, Wladimir (2000), A Convenção-Quadro Eu-
ropeia sobre a Cooperação Transfronteiriça entre as Colectivi-
14) Destacam-se duas linhas de orientação da activi- dades ou Autoridades Territoriais, Universidade de Coimbra
dade destas comissões especializadas: o balanço das experiên- - Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra: Coimbra Editora,
cias de cooperação anteriores e a identificação de acções a p. 10.
desenvolver em conjunto no sentido da sua apresentação ao 17) Idem, p. 295.
INTERREG IIIA. 18) Idem, p. 305.
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DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
ração transfronteiriça entre Portugal e Espanha19: Hanf, Kenneth (2000), "The Domestic Basis of
as Comunidades de Trabalho entre as Comuni- International Environmental Agreements", in Un-
dades Autónomas espanholas e as Comissões de derdal e Hanf (orgs.), International Environmen-
Coordenação das Regiões portuguesas20 e as Co- tal Agreements and Domestic Politics – the Case
munidades Territoriais de Cooperação. De acordo of Acid Rain. Aldershot: Ashgate Publishing Ltd,
com Wladimir Brito, 1-19.
“Os organismos regionais de cooperação Krasner, Stephen (1983), International Regi-
transfronteiriça [...] são associações consti- mes. Ithaca: Cornell University Press.
tuídas voluntariamente por regiões frontei- Krasner, Stephen (2000a), "Compromising
riças de dois ou mais Estados vizinhos com Westphalia", in Held e McGrew (orgs.), Global
base em critérios de homogeneidade espacial, Transformations Reader – an Introduction to the
económico-social, histórico-cultural ou de Globalization Debate. Polity Press, 124 ss.
funcionalidade sócio-económica, que têm por Krasner, Stephen (2000b), “Soberania: con-
objectivo fomentar e garantir a cooperação cepções alternativas e normas contestadas”, Po-
entre os seus membros. Trata-se, portanto, de lítica Internacional, 22, vol.3, 5-46.
organismos que não têm uma natureza na- Newell, Peter (2000), "Environmental NGO's
cional, mas sim internacional, ou se se quiser, and Globalization. The Governance of TNC's", in
transnacional, cujos membros são sempre as Cohen e Rai (orgs.), Global Social Movements.
colectividades territoriais fronteiriças – regi- London: The Athlone Press, 117-133.
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turales: sistemas de gobernación o sistemas de Affairs. Itaca and London: Cornell University
gobierno?", Papeles y Memorias, 113-133. Press.
19) “[...] sujeito da cooperação transfronteiriça e dos
acordos reguladores dessa cooperação é toda e qualquer en- http://inforegio.cec.eu.int/wbdoc/docoffic/
tidade territorial local dos Estados parte na Convenção, a que official/interreg3/index_en.htm
cada Estado, de acordo com o seu direito interno e a sua con-
creta organização administrativa, pela via legislativa, atribui
essa qualidade e autoriza a participar nessa cooperação”, idem,
p. 349.
20) Importa aqui referir que a formação dos organismos
de cooperação da região alpina foi pioneira, sob a forma de
Comunidade de Trabalho.
21) Brito, Wladimir (2000), “A Convenção-Quadro Eu-
ropeia sobre a Cooperação Transfronteiriça entre as Colectivi-
dades ou Autoridades Territoriais”, Universidade de Coimbra
- Boletim da Faculdade de Direito, Coimbra: Coimbra Editora,
p.408.
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1.1 - Do Rio Zêzere à Serra do Açor – Prin- ciadas principalmente pelos chamados Programas
cípios Fundamentais para o desenvolvimento Ocupacionais (GODINHO 1998).
Local22 A estratégia territorialista construiu uma
perspectiva de desenvolvimento endógeno ou
Rui Filipe Neves Ferreira desenvolvimento a partir de baixo. Com efeito, é
através da mobilização das populações e das suas
Resumo: organizações que se encontram as soluções que
O desenvolvimento local é um tema abrangen- deverão originar o processo de desenvolvimento.
te que tem sido alvo de abordagens distintas ao Neste contexto território será um “espaço apro-
longo das últimas décadas, que têm em comum, a priado, organizado e reconhecido de um ponto de
procura da sustentabilidade dos espaços rurais. vista político, social, económico, e ideológico por
A União Europeia tem se constituído como um grupo ou classe social em nome da população
a principal instituição a dinamizar as políticas e que nele habita e trabalha e com ele se identifica”
os programas de desenvolvimento para os espa- (AMARO, 1990).
ços rurais, contribuindo assim, para a melhoria da O Território/Espaço Rural é assim o suporte
qualidade de vida das populações. para o conceito de desenvolvimento rural. Este
As áreas rurais mais afastadas dos centros conceito pode ser definido como “a melhoria das
urbanos constituem-se como uma das principais condições de vida das pessoas residentes nas áreas
preocupações das políticas comunitárias. No futu- e regiões rurais, através de processos sociais que
ro, urge inverter a actual conjuntura, que aponta respeitem e articulem os seguintes princípios: efi-
para o abandono demográfico e descaracteriza- ciência económica, equidade social e territorial,
ção sócio-cultural e ambiental que afecta as re- qualidade patrimonial e ambiental, sustentabili-
giões periféricas. Neste estudo serão analisadas as dade, participação democrática e responsabilida-
características de uma região deprimida geogra- de cívica” (MARTINHO, 1998).
ficamente, situada entre o Rio Zêzere e a Serra O conceito de desenvolvimento rural está as-
do Açor. sim, directamente associado à busca da sustenta-
bilidade. Neste contexto, será fundamental ava-
Palavras-chave: liar as potencialidades das áreas rurais, sobretudo
Rio Zêzere, Serra do Açor, desenvolvimento nos domínios do património natural e cultural,
rural, espaços periféricos, forças, fraquezas, opor- com a convicção de que são uma mais-valia só-
tunidades e ameaças. cio-económica, que poderá constituir-se como
fundamental, para revitalizar "territórios abando-
O conceito de Desenvolvimento Rural nados".
A análise do espaço rural e das suas paisagens
foi ao longo dos tempos uma das preocupações Instrumentos para uma política
dos geógrafos. A escola francesa, no início do sé- de desenvolvimento rural em Portugal
culo XX, dinamizou o estudo das paisagens rurais A adesão de Portugal à Comunidade Económi-
procurando estabelecer uma relação Homem/Na- ca Europeia constituiu um marco importante na
tureza. orientação das políticas nacionais, no âmbito do
A noção de "Mundo Rural" pressupõe um desenvolvimento rural. Ao longo da década de 90,
vasto território contínuo em que vastas gentes as entidades nacionais competentes procuraram
e populações constituam uma cultura autóno- junto das instituições europeias o financiamento
ma com papel relevante nas sociedades em que para projectos distintos, em diferentes áreas. Os
se incorporam. O que existe, com grande diver- programas comunitários constituíram-se assim,
sidade de situações, são "zonas" de cultura rural como um instrumento fundamental para o finan-
de dimensões variadas, em territórios fortemente ciamento de projectos, desde o sector privado, até
despovoados e com débeis e pouco diversificados aos desígnios públicos.
tecidos empresariais, em que se desenvolveram Segundo Carminda Cavaco, a questão do de-
"urbes" sustentadas pelas administrações públi- senvolvimento rural tem vindo a congregar razões
cas centrais e locais e actividades comerciais e de para no seu âmbito ser constituída nova política,
serviços que servem os funcionários públicos, as resultante da reforma da PAC, assim como das ne-
famílias proprietárias e as populações que viram gociações do quadro multilateral da OMC (Orga-
o seu poder de compra aumentado através de nização Mundial do Comércio) e do alargamento
políticas assistencialistas/caritativas, consubstan- da UE, acrescidos ainda da presumível Reforma da
Política Regional Comunitária. Neste contexto, a
22) Este trabalho desenvolveu-se no âmbito das con- autora refere que tal situação revela um atraso
ferências “Territórios e Culturas Ibéricas” do Centro de Estudos significativo, relativamente, aos elementos con-
Ibéricos.
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DESENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO INTERNACIONAL 10
beneficiários ou não do LEADER+, bem como de mas também aqui a formação de políticas, sem
todos os agentes do desenvolvimento rural. conteúdo e processamento específicos, não pode
Segundo Raul Marques a importância confe- asseverar progressos substanciais. A posição assu-
rida à Iniciativa LEADER como núcleo do desen- mida nesta vertente, em publicação da OCDE, me-
volvimento local/rural prende-se com o facto rece realce: "… nas zonas rurais, onde a densidade
de defendermos que assenta numa filosofia de da população é fraca, a criação de um pequeno
participação que tem privilegiado medidas onde número de empregos pode ter um efeito consi-
a inovação socioeconómica e sociocultural sur- derável sobre a economia local"27. Pierre GUERRY
ge como um pivot que conduz os actores locais (1995), em artigo inserido na mesma publicação,
à elaboração de estratégias de desenvolvimento sublinha a potencialidade a nível local dos produ-
integrado, assumindo por isso uma particular im- tos regionais de qualidade, podendo constituir-se
portância na transformação das regiões rurais e como elementos fundamentais para a sustenta-
podendo mesmo contribuir para uma «reconfigu- bilidade.
ração reticular»26 O Programa LIFE,28 , constitui o instrumento
O LEADER+ não é um plano geral de inves- financeiro da União Europeia para o Ambiente.
timentos para toda a Zona de Intervenção. Esse Este Programa é constituído por 3 componentes
não é o seu espírito, nem as verbas previstas o temáticas - LIFE-Ambiente, LIFE-Natureza e LIFE-
permitem. É antes do mais um programa expe- Países Terceiros. Embora estes três domínios par-
rimental, de demonstração, que procura facilitar tilhem objectivos de melhor ambiente, cada um
a emergência de iniciativas piloto, de natureza deles integra prioridades específicas.
exemplar, que devem procurar potenciar e interli- Diversidade paisagística: O trinómio Vale – En-
gar as características endógenas, nomeadamente costa – Cumeada
os produtos locais, como o artesanato, a doçaria, Nas palavras de Orlando Ribeiro “… À sua
os licores e os vinhos, bem como aproveitar o pa- massa e altitude (as montanhas da Cordilheira
trimónio natural, cultural e arquitectónico. Central) devem o poder ligar-se ainda às regiões
O FEOGA Fundo Europeu de Orientação e Ga- Atlânticas, de que formam uma espécie de pro-
rantia Agrícola. Os objectivos centrais a prosseguir montório avançado para Sul. Relevos de xisto,
parecem ser claros: contribuir para o desenvolvi- altos mas sem grandeza, cimos boleados e cris-
mento de uma agricultura europeia multifuncio- tas agudas, pela maior parte despidos de arvo-
nal, sustentável e repartida por todos os espaços redo…”
da União, e para a diversificação económica e so- A área em estudo localiza-se no bloco NW
cial dos territórios rurais europeus. A qualidade de da Cordilheira Central, ocupando uma área que
vida das pessoas residentes nestes territórios e a se estende desde as cumeadas da Serra do Açor
sua participação nos processos de desenvolvimen- (1418m - Pico de Cebola), até às margens do Rio
to constituirão os indicadores chave para avaliar o Zêzere (300m – Dornelas do Zêzere). O grande aci-
sucesso desta estratégia. Do lado da agricultura e dente de Cebola separa a Serra do Açor (NW), do
da política agrícola (PAC), a evolução deverá con- fosso do médio Zêzere (SE).
ter um leque mais amplo de objectivos que con- Luciano Lourenço (1994) distingue duas sub-
temple uma visão mais alargada gestão do espaço unidades na área de estudo. A área situada Noro-
rural. Do lado da diversificação e dinamização este da Falha de Cebola é designada por “Serras
económica e social do território rural haverá que Setentrionais”. Nesta zona encontramos as altitu-
valorizar outras actividades em meio rural e as re- des mais elevadas, localizadas nos picos de Cebola
lações de interdependência com a agricultura. As (1418m) e Gondufo (1243 m). A zona situada a
iniciativas de turismo em espaço rural represen- Sudeste da falha de Cebola é designada por “Fosso
tam, entre muitos outros, um dos campos onde do Médio Zêzere Oriental”. Nesta área, de altitu-
essa interdependência pode e deve ser reforçada. des menores, destacam-se pela sua imponência,
O Fundo Social Europeu (FSE) é o principal as cristas quartzíticas dispostas em escadaria, com
instrumento financeiro que permite à União Eu- uma orientação NW-SE. Os Penedos de Unhais são
ropeia concretizar os objectivos estratégicos da um exemplo destas formas de relevo saliente, que
sua política de emprego. Ainda no que concerne pela sua espectacularidade, se destacam de toda a
ao emprego importa destacar o programa LEDA área envolvente.
(Programa de Acção para o Desenvolvimento do Em região francamente xistenta, a topografia
Emprego Local), fundamental para as oportunida- é marcada por relevos extremamente acidentados,
des de emprego em espaço rural. Criar empregos 27) OCDE - Créer des emplois pour le développement
nas zonas rurais apresenta-se, em várias regiões rural. De nouvelles politiques, Paris, OCDE, 1995, p.23
e sob diversos contextos, com cariz prioritário; 28) Aprovado pelo Regulamento (CE) n.º 1655/2000,
com a alteração que lhe foi dada pelo Regulamento (CE)
26) Organização das regiões rurais em rede. 1682/2004 de 15 de Setembro.
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com declives superiores a 40% e com vales extre- Nas encostas localizadas no extremo ocidental
mamente profundos, onde se instalam inúmeras da área de estudo, o Pinheiro outrora dominante,
linhas de água que drenam todas as águas para o deu lugar aos matos e arbustos, devido à acção do
Rio Zêzere. A rede hidrográfica é bastante densa, grande incêndio de 2001, que afectou quase 40
existindo várias ribeiras que constituem uma rede % da área de estudo. Nestas zonas surgem ago-
de afluentes e subafluentes do Rio Zêzere. ra em associação com os pequenos pinheiros que
A Ribeira Unhais e a Ribeira de Porsim, apre- regeneraram após o flagelo, vegetação secundária
sentam uma orientação NW-SE, constituem os como: o carrasco, o medronheiro, a giesta, a car-
principais afluentes do Rio Zêzere nesta zona. queja e as urzes. Estas espécies arbustivas são de
Estes cursos de água são alimentados por vários resto as espécies que se desenvolvem nas super-
afluentes que na maioria dos casos apresentam fícies culminantes, sobretudo acima da cota dos
uma orientação semelhante. Esta situação sugere 900m. Após o período mais frio do Inverno os tons
uma adaptação nítida do traçado dos cursos de mais escuros dão lugar a retalhos florísticos, colo-
água às principais linhas de fracturação dos xis- ridos de tons alegres, destacando-se os lilases e os
tos. amarelos, dos urzais e carquejais.
No que respeita ao ritmo climático, esta área
apresenta uma grande variação tanto ao nível das Da recessão demográfica
temperaturas, como no que respeita, à precipi- ao envelhecimento da população
tação. Os Invernos são extremamente húmidos e A área de estudo é composta por cinco fre-
nas regiões mais elevadas registam-se frequentes guesias: Sobral de S. Miguel, São Jorge da Beira
quedas de neve. No Verão as temperaturas ultra- e Aldeia de São Francisco (concelho da Covilhã) e
passam, frequentemente os 35ºC e os valores plu- Unhais-o-Velho e Dornelas do Zêzere (concelho da
viométricos apresentam regimes insignificantes. Pampilhosa da Serra). A densidade populacional
Segundo a divisão agro-florestal realizada por de 31,8 hab/Km2 constitui um valor extremamen-
CARY (1985), esta área localiza-se na denominada te reduzido, que evidencia a existência de vastas
“Zona Serrana”.29 áreas completamente despovoadas.
A diversidade paisagística da área está assen-
te no trinómio Vale/Encosta/Cumes. Nas áreas de
Vale destacam-se os cursos de água, que corre
quase de forma imperceptível, devido à densidade
da vegetação ripícola que se estende ao longo das
margens. Paralelamente aos cursos de água, sur-
gem as áreas agrícolas, dominadas essencialmente
pelos muros e socalcos que delimitam as proprie-
dades e “retêm” a terra necessária para o cultivo.
No entanto, o crescente abandono da actividade
agrícola tem provocado a ocupação dos campos
pela vegetação envolvente.
O pinheiro bravo é a espécie dominante ao
longo das encostas, sobretudo nas áreas de menor
altitude. O verde-escuro é o tom imperante nestas
Ilustração 1- Enquadramento geográfico da área de estudo
áreas, quebrado apenas localmente pelo eucalip-
tal, que avança sobretudo, numa zona central da
Sérgio Caramelo (1998) designa esta região
área de estudo. Esporadicamente, surgem outras
como o “Ermamento da Cordilheira Central”, ca-
espécies arbóreas, como o castanheiro, o carvalho
racterizado pela rarefacção demográfica da Cor-
e o sobreiro, que no entanto, apenas se destacam
dilheira Central e da sua vertente Sul. Os condi-
pelo colorido que conferem à paisagem, criando
cionantes físicos implicam uma continuação das
assim alguma descontinuidade no tom dominante
tendências registadas (despovoamento e conse-
nas vertentes. Estas espécies menos preponderan-
quente desvitalização económica), pelo que o seu
tes têm no entanto um elevado valor patrimonial
dinamismo será reduzido, constituindo tendências
e ambiental, visto serem em alguns casos, os vestí-
pesadas que levam à pouca capacidade atracti-
gios de uma vegetação que outrora dominara esta
va de pessoas e funções. A tendência parece ir no
região, como comprovam os topónimos que lhe
sentido de apenas as sedes de concelho, os aglo-
estão associados: Sobral, Cabeça Sobral, Carvalho,
merados com significativa actividade económica,
Carvalhal, Souto Negro…
os aglomerados com boas acessibilidades e os
29) - A Zona Serrana também é designada por Zona da aglomerados valorizados em termos patrimoniais,
Serra da Estrela, incluindo o bloco NW da Cordilheira Central. conseguiram estancar ou inverter o acelerado
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como a principal actividade económica da região. normalmente, sinónimo de falta de espírito ino-
Torna-se assim, necessário fazer uma referência vador e de um baixo nível de instrução que im-
ao passado, na tentativa de reconhecer a impor- pede os proprietários de reconhecer as principais
tância deste sector ao longo das últimas décadas, formas de rentabilizarem os respectivos recursos.
no contexto da economia local. Por último, a falta de capital disponível para in-
A maioria das áreas cultivadas localiza-se no vestir e a dificuldade de rentabilização dos projec-
fundo dos vales, aproveitando assim, os depósi- tos, constituem uma agravante, que condiciona os
tos resultantes da acumulação de sedimentos, por anseios das comunidades locais. Neste contexto o
acção das principais linhas de água. No entanto, proprietário promove a preferência pelas espécies
também podemos observar alguns terrenos culti- de crescimento rápido (como o eucalipto) em de-
vados em encostas, onde os depósitos de vertente trimento de espécies autóctones e susceptíveis de
são aproveitados para a prática agrícola, através salvaguardar os equilíbrios ecológicos e ambien-
da construção de socalcos. Actualmente, os terre- tais (ex. Castanheiro).
nos mais afastados das aldeias, encontram-se ao No que respeita às outras actividades econó-
abandono. micas importa salientar sobretudo a evolução do
À semelhança do que acontece relativamente emprego, relacionado com a exploração mineira.
à agricultura, também em relação à pastorícia, se As Minas da Panasqueira são uma empresa cen-
tem notado uma diminuição significativa da acti- tenária, que conseguiu sobreviver aos períodos de
vidade. Segundo uma estimativa da DRABI a redu- crise, marcados essencialmente por conjunturas
ção de gado caprino, ao logo das últimas décadas, negativas e por grandes oscilações nos mercados
ultrapassa os 70%. internacionais do volfrâmio, à custa de uma forte
Esta referência torna-se pertinente, dada a riqueza daquela área no que respeita aos recursos.
importância que estes animais desempenham na As consecutivas reduções de emprego nas Minas
manutenção dos matos, com um tamanho reduzi- da Panasqueira têm originado a “debandada” de
do. Por outro lado, deixaram-se de roçar os matos muitos antigos mineiros, que se tinham fixado
para as camas dos animais e para estes se alimen- nestas freguesias, nos vários períodos de expan-
tarem. são, da empresa ao longo das últimas décadas. Na
Este progressivo abandono das actividades década de 40, período áureo da actividade minei-
agrícolas, silvícolas e pecuárias, traz-nos como ra, cerca de dez mil pessoas dependiam directa-
consequência, o aumento da carga combustível mente da Mina, actualmente, laboram na empresa
nas florestas e matos da região, cada vez mais pouco mais de duzentos mineiros.
densas e sem qualquer tipo de limpeza, criando O emprego feminino restringe-se essencial-
assim, toda uma situação favorável ao início de mente às poucas fábricas do sector têxtil (confec-
deflagração de um incêndio e consequente pro- ções), que têm resistido à crise do sector, desen-
gressão. A diminuição das actividades pastoris, volvendo a sua actividade nas freguesias próximas
onde elas ainda permanecem, a florestação mais como: Paúl, Unhais da Serra e Tortosendo.
ou menos maciça, mas quase sempre desordena- O sector terciário não tem um grande signi-
da e o estado geral de abandono a que tem sido ficado no contexto económico local. Neste ramo
votado o espaço serrano têm contribuído para o de actividade destacam-se como maiores empre-
elevado número de incêndios e a intensidade que gadores, os lares e centros de dia de apoio aos
nalguns casos assumem. Os incêndios florestais idosos, os correios e pequenas áreas comerciais,
surgem todos os Verões delapidando progressiva e que no entanto não atingem valores de empre-
inexoravelmente um património em muitos casos go significativos. Apesar desta situação, a taxa de
raro e sempre valioso, e pondo em perigo popula- desemprego atinge “apenas” os 3,3%, resultado da
ções, que pelas suas características demográficas forte migração verificada nas classes dos jovens e
(particularmente a avançada idade), sociais, cul- adultos.
turais e económicas, são especialmente vulnerá- O declínio da natalidade está na génese de ou-
veis (CUNHA, 2003). tro problema de ordem social que afecta a área,
No aproveitamento da floresta, podemos veri- o encerramento das escolas. Entre as décadas
ficar que actualmente, também o sector atraves- de 50 e 70, muitas eram as escolas com mais de
sa um período de crise. Para além dos incêndios meia centena de alunos, fica apenas a memória,
que têm causado a delapidação do património e mesmo essa, tende a desvanecer-se na bruma
florestal, a compartimentação das propriedades dos tempos. Hoje fruto das constantes mutações
agro-florestais, impede o desenvolvimento de ac- demográficas a realidade é muito diferente e bas-
tividades consideradas cruciais para o aumento da tante mais dura. As escolas de ensino mediatiza-
produtividade familiar e ou empresarial. Por outro do encerraram, resistindo apenas a esta realidade
lado, o envelhecimento da população residente, é a nova escola localizada na Barroca Grande. Nas
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constituem-se como os principais suportes para o AMARO, Rogério Roque (1990) - “O Puzzle ter-
desenvolvimento de uma política de desenvolvi- ritorial dos anos 90 - uma territorialidade flexível
mento rural integrada e sustentada. e uma nova base para as relações entre nações e
O desenvolvimento rural das áreas mais peri- regiões” in Vértice, p. 41.
féricas está envolvido por um conjunto de amar-
CARAMELO, Sérgio (1998) – “A Observação
ras, que ao longo dos últimos anos têm impedido
Territoralizada das Redes Urbanas e o seu Papel no
que estas regiões se aproximem dos reais padrões
Desenvolvimento Regional”. Beira Interior como
de desenvolvimento humano.
Região de Fronteiras – Actualidade e Perspectivas,
A aproximação e a participação dos cidadãos
UBI, Covilhã, pp. 73-99.
nas diferentes vertentes do desenvolvimento en-
contram-se perspectivadas na Agenda 2000. No CARY, F. C. (1985) – Enquadramento e perfis
entanto, as questões relacionadas com o desen- do investimento agrícola no continente portu-
volvimento rural são maioritariamente tratadas, guês – 1º volume. Estudos 23. Banco de Fomento
fora do âmbito local, impedindo assim, uma par- Nacional.
ticipação directa dos principais intervenientes. Os
CAVACO, Carminda (1998) - Política de Desen-
cidadãos constituem-se assim como um conjunto
volvimento Rural e Políticas Europeias. Centro de
de actores que vão desempenhar um papel numa
Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.
peça, que em alguns casos não se encontra ade-
quada ao cenário, no qual o teatro se vai desen- CUNHA, Lúcio (2003) – “A montanha do cen-
volver. tro português: espaço de refúgio, território mar-
O desconhecimento dos programas comunitá- ginal e recurso para o desenvolvimento local”. In
rios e o desajustamento de alguns desses progra- CAETANO, Lucília (coord.) – Territórios, ambiente e
mas aos espaços mais deprimidos constituem por trajectórias de desenvolvimento. CEGC, Coimbra,
vezes, o segundo obstáculo às políticas de desen- pp.175-191.
volvimento rural para as áreas mais deprimidas.
DIÉGUEZ, Valentín Cabero (2000), Médio Am-
Neste contexto, é fundamental que as instituições
biente y desarrollo rural en Médio Ambiente.
competentes procurem conhecer todos os progra-
Nuevas Tecnologías e Sociedad, Ediciones Univer-
mas previstos para estas regiões, para os diferen-
sidad de Salamanca, pp.90-96.
tes sectores, de modo a aproveitarem a totalidade
dos fundos que lhes advém e que tão necessários GUERRY, Pierre (1995) – Créneaux commer-
são para a inversão da tendência sócio-económica ciaux et développement rural. Compte rendu d'un
que afecta estes espaços. atelier et recommandations pour l'action, OCDE,
A própria política de desenvolvimento rural da Paris, p. 84.
União Europeia, está susceptível à crítica, devido à
LOURENÇO, Luciano (1995) – Serras de xisto
forte restrição financeira que afecta os programas
do Centro de Portugal. Contribuição para o seu
de desenvolvimento rural, dos quais o LEADER+ e
conhecimento geomorfológico e geo-ecológico.
o INTERREG III são apenas alguns exemplos.
Diss. Doutoramento, Coimbra, 756 p.
O desenvolvimento sustentado da área situada
entre o Zêzere e o Açor, constitui-se ainda como MARQUES, Raul Jorge (2000) - Desenvolvi-
uma miragem, apesar de algumas melhorias veri- mento Local em Espaço Rural e Novas Competên-
ficadas pontualmente ao longo das últimas déca- cias – A Participação dos Cidadãos no Concelho de
das. Neste contexto, a formação e a responsabili- Santa Comba Dão, Lisboa, Centro de Estudos Ge-
zação dos cidadãos poderá constituir-se como um ográficos da Universidade de Lisboa, 183 p., ISBN
dos elementos fundamentais para a inversão das 972-636-124-9.
actuais tendências.
MARTINHO, Victor João Pereira (2000) - Re-
A valorização da paisagem e das actividades
flexões sobre o desenvolvimento rural nacional.
nela desenvolvidas, associadas à melhoria das in-
Instituto Politécnico de Viseu.
fra-estruturas, poderão futuramente, converter es-
tas áreas numa alternativa forte, aos destinos turís- RIBEIRO, Orlando, Hermann Lauthensach e Su-
ticos tradicionais, mais procurados pelos cidadãos zanne Daveau (1987), Geografia de Portugal, vo-
que procuram a fuga aos modos de vida urbanos. lumes I e II, Edições João Sá da Costa, Lisboa.
Conferência Europeia sobre o Desenvolvimen-
Referências bibliográficas
to Rural (Irlanda, 7 a 9 de Novembro de 1996) su-
ALBINO, José Carlos (1998), “Agricultura e De-
bordinada ao tema A Europa Rural – Perspectivas
senvolvimento Rural: Casamento ou Divórcio?” in
para o Futuro, in Europe Documents 2012
A Rede para o Desenvolvimento Local – Edição
especial.