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lobbying no Brasil
Sumário
1. Esclarecendo conceitos. 2. A face negati-
va do lobbying. 3. O desenvolvimento do lobbying
no Brasil. 4. Considerações finais.
1. Esclarecendo conceitos
Lobbying é o processo pelo qual os gru-
pos de pressão buscam participar do pro-
cesso estatal de tomada de decisões, contri-
buindo para a elaboração das políticas pú-
blicas de cada país.
Para isso, os grupos de pressão utilizam-
se de uma cadeia multifacetada de ativida-
des que incluem coleta de informações, pro-
postas políticas, estratégias apropriadas
para dar suporte a tais demandas, confec-
ção de pesquisas e a procura por aliados. A
pressão é seu último estágio e geralmente
requer uma presença organizada no centro
de decisões de cada país. (GRAZIANO,
1994).
Em uma sociedade democrática, os to-
madores de decisão são confrontados com
uma complexa rede de interesses e se valem
das idéias e opiniões dos grupos de pressão
para subsidiarem suas decisões. Os grupos
de pressão fornecem informações confiáveis
e comprováveis aos tomadores de decisão e
os mesmos transformam esses grupos em
Andréa Cristina de Jesus Oliveira é Douto-
interlocutores, convidando-os a emitir sua
ra em Ciências Sociais (Unicamp), Mestre em
Sociologia Política (Unesp – Araraquara), Pro- opinião quando necessário.
fessora do Departamento de Ciências Jurídicas Sendo assim, podemos conceber o
da Uninove (Centro Universitário Nove de lobbying como saber especializado e repre-
Julho). sentação técnica, pois, enquanto represen-
Brasília a. 42 n. 168 out./dez. 2005 29
tam interesses especiais, os lobistas são o ganizações que não tinham motivos econô-
sustentáculo da informação de um especia- micos, as quais poderiam ser denominadas
lista técnico-político. (GRAZIANO, 1994). de entidades sociais ou idealísticas, com-
Esse tipo de saber específico ajuda os provando a validade do processo para re-
tomadores de decisão a formular propostas presentar interesses perante os agentes go-
políticas e a perceber as reações da socieda- vernamentais.
de civil perante essas propostas. O lobby se dirige aos centros de decisão,
A palavra lobby significa, em inglês, ante- não sendo nenhuma ação de marketing. Ele
sala, vestíbulo, saguão. Por extensão, o lu- não procura vender um produto ou servi-
gar onde ficavam as pessoas que procura- ços, mas sim influenciar burocratas e/ou
vam influenciar as autoridades e/ou políti- políticos para a tomada de decisões que be-
cos e que acabou por designar a ação de neficiem um grupo social ou empresarial,
profissionais ou grupos que buscavam exer- um programa econômico ou uma linha de
cer pressões, muitas vezes legais, para que atuação de determinado segmento sócio-
fossem aprovados projetos ou medidas em econômico, mediante uma legislação espe-
benefício daqueles que são por eles repre- cífica ou por meio de medidas especiais. For-
sentados. (BORIN, 1988). nece a esses burocratas e políticos informa-
O primeiro cientista político a empregar ções que supostamente eles não detêm e que
o termo lobby como a busca de influenciar são essenciais para a maior clareza sobre o
decisões políticas ou a aprovação ou rejei- tema em questão. (BORIN ,1988).
ção de leis pelo Poder Legislativo foi Arthur Desse modo, os grupos de pressão utili-
F. Bentley em The Process of Government edi- zam o lobbying para esclarecer o legislador
tado em 1908. (LEMOS, 1988). ou a autoridade pública sobre as decisões
Há duas visões sobre a origem do lobby. ou propostas que possam vir a ser encami-
A primeira é a de Freire (1986), que afirma nhadas como um mecanismo operacional
que o lobby tem como origem a prática dos de persuasão. O lobbying deve ser visto como
agricultores do Estado de Virgínia, nos EUA, informação objetiva disponível para, em
que procuravam, ainda no século XIX, in- tempo hábil, instrumentar a melhor decisão.
fluenciar as decisões sobre política agrícola Para Lemos (1988, p. 49), “o lobby preci-
por meio de seus representantes, na ante- sa ser visto como a organização e a opera-
sala do edifício do Parlamento (apud ção de ‘um eficiente canal de informações
BORIN, 1988). de mão dupla’, entre a entidade que o apro-
A segunda visão é a de Graziano (1994), pria e o setor do poder que focaliza”.
que afirma que o lobby emerge no contexto A atividade inclui a coleta de informa-
americano com a política de interesses de- ções, propostas políticas, estratégias apro-
pois das eleições de 1896, bem como em con- priadas para dar suporte a tais demandas,
seqüência da derrota do movimento operá- confecção de pesquisas e a procura por ali-
rio no fim do século, que decidiu a luta de ados. O lobbying proporciona a troca de in-
classes nos EUA. formações e de idéias entre governo e partes
Dessa perspectiva, o lobbying seria um privadas, capazes de infundir nas políticas
produto de uma “homogeneização” políti- públicas conhecimento de causa e realismo
ca, e muitas de suas estratégias e todos os consciente. Seu último estágio é a pressão,
seus procedimentos específicos seriam im- momento em que o lobista deve-se valer de
praticáveis em um mundo marcado por pro- seu poder de comunicação e persuasão.
fundas divisões ideológicas. (GRAZIANO, 1994, 1996).
O lobbying surgiu como processo de diá- Essa atividade requer uma presença or-
logo entre grupos de interesses econômicos ganizada no centro de decisões de cada país.
e o governo, tendo sido apropriado por or- Segundo Graziano (1996, p. 139),