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XIII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas - São Paulo/SP - 06 a 09/05/2019
Nadege Lomando3
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo/RS
Resumo
Este artigo surgiu da necessidade de delimitar e diferenciar alguns termos que os alunos
utilizam em suas pesquisas quando se referem a públicos no ambiente digital. Tem o objetivo
de discutir e apresentar interpretações sobre a utilização de conceitos de públicos no ambiente
digital. Para tanto foram explicitados termos mais frequentemente utilizados na comunicação
digital. São eles: ator-rede, fã organizacional e usuário-mídia. Corroborando neste sentido, o
termo ‘interagente’ do autor Alex Primo (2003) também aparece no texto pois o mesmo possui
aspectos convergentes com os demais termos e auxilia no entendimento do perfil, ou perfis,
do(s) público(s) no ambiente digital. Este artigo não possui metodologia pois não há pesquisa
empírica, mas, de forma humildemente experimental, este artigo discute termos que
transbordam o espaço teórico-prático-metodológico e por isso não possui objeto(s). Tem como
principal resultado a sugestão de utilização dos termos na comunicação digital baseado em suas
características, funções e usabilidades.
Palavras-chave
Introdução
1Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho (GT) Comunicação digital, inovação e tecnologias, atividade integrante do XIII
Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas.
2 Doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professora da Escola
da Indústria Criativa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. E-mail: pmespindola@unisinos.br
3 Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Professora da Escola
da Indústria Criativa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, Professora curadora do curso de Relações
Públicas na modalidade online e professora orientadora da Agexcom – Agência Experimental de Comunicação da UNISINOS.
E-mail: nadege@unisinos.br.
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A posição de Ferrari (2016) corrobora com Baldissera (2009) quando o autor explicita
que, por mais que uma organização pense, reflita e planeje sua comunicação, outros agentes
tem o poder de intervir nas suas ações, pois “... a comunicação organizacional não respeita
espaços físicos delimitados (planejados), bem como não se reduz à fala autorizada pela
organização” (BALDISSERA, 2009, p.158).
O autor justifica essa proposição ressaltando ainda que “... o poder não está localizado;
atualiza-se e exerce-se no acontecer. Isso pode significar que, em diferentes momentos,
diferentes sujeitos materializam mais poder” (BALDISSERA, 2009, p.158).
Esse pensamento de Baldissera (2009, p.159) reforça o poder do sujeito levando as
organizações a tratar esse sujeito “... como parte, construindo o todo e sofrendo suas influências;
o indivíduo construindo o coletivo”.
Outro pesquisador da área que reforça esse protagonismo dos públicos de interesse
frente a comunicação das organizações é Henriques (2004) ao abordar que “... a visão
tradicional de públicos como unidades funcionais pouco dinâmicas vai cedendo lugar a uma
noção de agrupamentos em forma de rede, essencialmente flexíveis, que precisam ser
compreendidos como complexo sistemas de relacionamento” (p.12).
Essas proposições dos autores citados não deixam dúvidas quanto a relação de poder
que existe entre esses dois agentes: organizações e públicos. Assim a tão clássica função política
desenhada por Simões (2001) é extremamente atual e necessária para a discussão dos novos
termos utilizados para remeter à públicos no ambiente digital.
Levando em consideração a conceituação de público associada a ideia de relações de
poder entre organizações e público, Steffen (2008) apresenta a classificação de Matrat ([19--])
conforme a seguir.
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Uma outra classificação trazida pela mesma autora ‘sob o critério de comportamento’
dentro da mesma perspectiva de relação de poder é o de Hirschmann (1970 apud STEFFEN,
2008) que aponta três categorias:
E, após ter apresentado o constructo de poder como sendo o fio condutor da relação
entre público e organização, partiremos para a discussão dos termos recentes que atualizam o
conceito de público.
Sendo o mais antigo dos termos no paradigma da comunicação revisitados neste artigo,
A Teoria Ator-Rede “... pode ser definida como uma "sociologia das associações”, ou uma
“associologia” (...) possível através da identificação das associações de atores, chamados de
actantes” (HOLANDA e LEMOS, 2013, p.02). De acordo com Holanda e Lemos (2013, p.02)
inspirados em Greimas (1974):
Actantes são agentes, humanos ou não, mobilizados para a composição
de redes temporárias engajadas em programas de ação. (...) Os actantes
buscam, com muito esforço, estabilizar essas redes em “caixas-pretas”,
instituições, normas, hábitos, estruturas. Essas “pontualizações” não
podem ser tomadas como categorias de explicação a priori das
associações, mas como consequência temporária de uma rede de
distribuição e de estabilização de agências (grifo do autor).
Neste sentido, conforme Latour (1991 e 1994) abordado em Holanda e Lemos (2013,
p.03), “O ator-rede é transiente e só persiste enquanto mantem-se as associações entre os
diversos actantes mobilizados”. A mediação – ou os rastros – é que devem ser analisados.
“Nesse sentido, existem diversos graus de atuação. Ora um elemento da rede é mero
intermediário, que transmite informação sem modificar a ação, ora é mediador, modificando
substancialmente o resultado da ação” (HOLANDA e LEMOS, 2013, p.04).
Neste sentido discutiremos o ator-rede na perspectiva de algumas das sete contribuições
da TAR, de acordo com Holanda e Lemos (2013). Sendo elas:
1. Contra a pureza dos fatos;
2. As redes atravessam fronteiras;
3. Mediação é sempre deslocamento e transformação;
4. A credibilidade é estabilização temporária da composição;
5. Jamais abandonar o empírico em favor de estruturas;
6. Do paradigma aos cosmogramas;
7. Identificar e abrir caixas-pretas.
No entanto, neste artigo, vamos nos deter na perspectiva das redes atravessarem
fronteiras. Posto que o conceito de rede ainda é utilizado da mesma forma, mantendo sua
ambiguidade entre conexões ‘técnicas’ e/ou associações entre pessoas. “... todas as redes de
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Neste sentido o que está posto nesta caixa preta se estabilizou como verdade absoluta.
Assume-se aqui que independentemente das relações de poder entre públicos e organização,
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neste cabo de guerra a organização tem o poder sempre de vencer pois alguns aspectos são
ocultados do público em geral. Seja por que refuta ou põe em xeque sua verdade absoluta, seja
por que a lógica do ‘sempre foi assim’ prevalece ou um senso comum de que,
independentemente do que seja feito por parte dos públicos, há uma foça maior que impede que
o mesmo possa realmente ganhar nesta relação de poder.
Pode-se refletir nesta perspectiva observando a hashtag #GoldenShower no Twitter, por
exemplo. Tudo se iniciou após post do atual presidente da república do Brasil.
Explorando mais uma vez as relações de poder, observa-se que o tencionamento entre
público(s) e organização(ões) pode sim sofrer alteração de seus objetivos por interferência do(s)
público(s). Vale salientar que não necessariamente este tencionamento necessita ser situado nas
redes sociais.
Exemplo disso vem de outro post trazido neste artigo que aborda a problemática dos
canudinhos plásticos que está gradativamente sendo retirado de circulação. Um dos
motivadores aqui no Brasil foi o vídeo, de 2015, icônico de uma tartaruga com um canudo
plástico sendo retirado de uma das narinas. O mesmo levou a uma discussão ambiental que
culminou em práticas efetivas em nível nacional dois, três anos depois. Vale lembrar que, como
discutimos aqui, isso se deve a questões históricas, sociais, econômicas e políticas. No caso do
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canudinho plástico há uma onda crescente de cuidado com o meio ambiente e discussão de
preservação da fauna e flora.
Neste sentido, o que leva então o público digital a obter efeitos a favor ou contrários a
hashtag, tuitaços e demais manifestações no dito ativismo digital4? Esta pergunta vai ter que
esperar pois é necessário antes discutir outros conceitos de públicos no conceito digital.
Usuário-mídia
É difícil analisar os termos, como propomos neste texto, pois há bastante particularidade
entre eles. No entanto, há uma confusão ainda por parte de quem utiliza-os sem uma definição
aprofundada ou entendimento dos mesmos. Assim, vamos trazer à luz o conceito de usuário-
mídia, também utilizado como sinônimo de público no ambiente organizacional.
Define-se usuário-mídia “... um ente produtor de sentidos, que não funciona fora da
interação” (MAIA e TERRA, 2014, p.270). E este usuário situa-se no contexto da presença da
circulação das mensagens entre o emissor, o receptor e entre os próprios receptores.
Neste sentido Maia e Terra (2014, p.274) discutem que “... é preciso pensar o receptor
como consumidor não somente de produtos tangíveis, mas um consumidor-produtor de
mensagens, de sentidos”.
Assim usuário-mídia aproxima-se do conceito de interagente do Primo (2003, p.08) “...
que emana a ideia de interação, ou seja, a ação (ou relação) que acontece entre os participantes.
Interagente, pois, é aquele que age com outro”.
Até agora o que se pode identificar é que tanto o ator-rede, quanto o interagente ou
usuário-mídia pode ser produtor e/ou receptor de conteúdo. Esta é a essência do público no
ambiente digital.
“... a natureza de um usuário que se torna mídia parece se dar
necessariamente nas relações (relações mediadas pela comunicação)
promovidas por estes usuários com os demais usuários, com as
organizações, com as marcas do universo de consumo. E mais, com os
próprios algoritmos desenvolvidos” (MAIA e TERRA, 2014, p.278).
4
O ativismo nas redes sociais inclui um amplo espectro de ações que, somadas, compõem repertório
diverso, contemplando assinatura de e-petições, postagem e compartilhamento orientado de conteúdo,
participação de discussão online em grupos, entre outros. Entretanto nem sempre há correspondência
dessa performance “ativa” em rede na “vida real”; essa participação virtualizada, por assim dizer, se
tornou conhecida como "clictivism", "slactivism", "ativismo de poltrona", ou "ativismo feelgood"
(VIEIRA, 2012, p.26). Disponível em: http://www.compolitica.org/home/wp-
content/uploads/2013/05/GT-05-Comunicacao-e-Sociedade-Civil-Frederico-Vieira.pdf Acesso em: 26
fev 2019.
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“... conecta outros por meio dos canais e ferramentas on-line e que se
expressa e afeta decisões de compra em função deles. Trata-se de um
usuário que vai além da comunicação tradicional para se informar. Ele
analisa opiniões de outros em sites de mídia social, acompanha
rankings e conteúdos de pessoas desconhecidas e tem expectativas
superiores em relação ao meio on-line. É aquele responsável por curar
informações a respeito de um dado tema e acaba influenciando outros
usuários dada a sua posição social dentro das redes” (MAIA e TERRA,
2014, p.285).
Fãs organizacionais
De acordo com o Parada (2015) “... todos podem ser fãs organizacionais” (p.175). Para
o autor a cultura participativa propiciou trocas simbólicas entre públicos e organização, e entre
públicos e públicos.
Conforme cultura de fãs a assiduidade é um dos motes do fã, no entanto, Parada (2015,
p.157) atualiza este conceito em sua tese ao refletir que o fã organizacional não necessariamente
possui:
“... uma postura permanente, assídua por parte dos públicos, que se
reúnem em espaços colaborativos para a troca de informações, (...).
Uma pessoa, em uma única participação, (...) pode carregar, em sua
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cultura de fãs. No entanto estes fãs também estão apropriados dentro de uma lógica da
inteligência coletiva, colaboração, interação social, reputação, memória, trocas simbólicas,
socialização, engajamento, pertencimento – mas nem sempre, assim como na cultura de fãs este
aspecto está diretamente ligado ao estabelecimento de laços sociais, capital social, visibilidade,
reputação, popularidade e autoridade –, recirculação de conteúdo, convergência, hiperlinks e
economia afetiva.
Considerações
Respeitando a complexidade dos termos e a redução dos mesmos neste artigo, antes de
tudo colocaremos nos holofotes características, funções e/ou usabilidades dos termos fãs
organizacionais, usuário-mídia e ator-rede para entender as similaridades e particularidades dos
termos.
Mediação
Discurso
Agentes humanos ou não (actantes)
Ator-rede Mobilização
(Re)produção de sentido
Rede de referências
Caixa preta
Produção de sentido
Interação
Circulação
Participação
Usuário-mídia Mediação
Produção de conteúdo
Colaboração
Curadoria - recomendação e influência
Reputação
inteligência coletiva
Colaboração
Interação
Reputação
Memória
Intensidade
Trocas simbólicas
Poder
Liderança
Fã organizacional
Convencimento
Socialização
Engajamento
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Pertencimento
Recirculação de conteúdo
Convergência
Hiperlinks
Economia afetiva
Fonte: Elaborado pelas autoras
Estes termos foram retirados de livros, teses e artigos dos autores referenciados aqui e
que trabalham ou cunharam os termos explicitados na tabela 1 e não apenas em referências
bibliográficas deste artigo pois os mesmos não deram conta à complexidade dos temas.
No entanto, na totalidade do que foi aqui exposto, sugere-se que o termo Ator-Rede
seja utilizado na comunicação digital, especificamente no que tange a relação de poder entre
público e organização em Relações Públicas e/ou na Comunicação Organizacional quando o
discurso for mediado entre agentes humanos e não-humanos. Quando a discussão envolver bots,
AI (Inteligência Artificial), georastros5, rastros provenientes da usabilidade do usuário em
ambiente digital, nós (conexões) da rede, algoritmos ou quando actantes (agentes humanos e
não humanos) interferirem ou influenciarem o comportamento um do outro.
Já o termo usuário-mídia sugerimos utilização nos textos e pesquisas quando a questão
da circulação e mediação dos conteúdos for elementos primordiais da pesquisa. Além disso, é
importante salientar que o público, conceituado como usuário-mídia, pressupõe interferência
no planejamento de comunicação e da reputação das organizações. Assim, o público poderá ser
chamado de usuário-mídia quando interferir no planejamento ou reputação organizacional.
Fã organizacional, então, tem sentido mais amplo e não necessariamente é um público
que interfere nas decisões organizacionais ou no seu planejamento, não reduz a fala oficinal da
organização, compreende a complexidade das redes flexíveis dentro da lógica digital e
pressupõe a memória organizacional como sendo fator intrínseco a sua construção de sentido.
Referências
5
“... informação fixada em locais, gerada a partir de sistemas sociais de geolocalização” (OLIVEIRA, 2012).
Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/4501. Acesso em: 08 mar 2019.
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em: 02 fev 2019.
PRIMO, Alex. Quão interativo é o hipertexto?: Da interface potencial à escrita coletiva. Fronteiras:
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http://www.ufrgs.br/limc/PDFs/quao_interativo_hipertexto.pdf. Acesso em: 01 fev 2019.
STEFFEN, Ana Maria Roig. O conceito de público em relações públicas. Porto Alegre: Cidadela,
2008.
SIMÕES, Roberto Porto. Relações Públicas e Micropolítica. São Paulo: Summus, 2001.