Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de cartografia
histÓrica
ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL
Coordenação de Arquivo Permanente
Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso
GOyAZ
Guia de
Cartografia
Histórica
Organização
BRASÍLIA – DF – BRASIL
2018
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL
Rodrigo Rollemberg FICHA TÉCNICA
Governador
COORDENAÇÃO DA PESQUISA
Elias Manoel da Silva
Renato Santana Wilson Vieira Júnior
Vice-Governador
PESQUISA NOS ACERVOS
Elias Manoel da Silva
SECRETARIA DE ESTADO DA CASA CIVIL,
Jader Silva de Oliveira
RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E SOCIAIS José Lourenço de Sant’Anna Filho
Sérgio Sampaio Contreiras de Almeida Letícia Coelho Félix
Secretário Wilson Vieira Júnior
SELEÇÃO CARTOGRÁFICA
ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL Elias Manoel da Silva
Wilson Vieira Júnior
Jomar Nickerson de Almeida
Superintendente DIGITALIZAÇÃO E FOTOGRAFIA
Jader Silva de Oliveira
Marli Guedes da Costa
REVISÃO TEXTUAL
Coordenação de Arquivo Permanente
Carmen Menezes
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Elias Manoel da Silva Carlos Amaral Filho
Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso
IMPRESSÃO
Ace Comunicação e Editora
(61) 99695-5692
ASSESSORIA TÉCNICA
AN – Arquivo Nacional
Jessica de Jesus Cardoso
Minha relação com Brasília começou Mas voltando ao meu relato de vida, foi
cedo. Ainda vivia no Rio Grande do Sul realizando ou orientando trabalhos acadêmi-
quando, estudando arquitetura, despertei cos que o Arquivo se mostrou competente, al-
para a Capital erguida no Planalto Central e tamente respeitável e realmente público. Lá
creditada a Lucio Costa e a Oscar Niemeyer. estão conservadas inesgotáveis fontes para a
Uma cidade, com quase a minha idade, que, história da construção de Brasília (fala-se em
imaginava, nasceu do zero... Morei em vários seis milhões de itens...). Várias histórias po-
lugares. Tornei-me professor universitário. dem ser contadas a partir de tamanho acervo.
Primeiro descobri a sua espetacular coleção
Mas a curiosidade pela Capital era tanta que
de imagens fotográficas. Milhares delas! De-
realizei novo concurso público e, em 2002,
pois foram os fundos documentais, como o do
fui transferido para a Faculdade de Arquite-
Dr. Ernesto Silva (1914-2010) ou o do arqui-
tura e Urbanismo (FAU) da Universidade de
teto Gladson da Rocha (1923-2007) – ambos
Brasília (UnB).
doados pelos familiares ao Arquivo, em uma
Foi na FAU que encontrei Sylvia Ficher, clara demonstração de confiança e espírito
e nela descobri um gosto particular e sofisti- público. Lá também está o material do Brasí-
cado de compreender e questionar. Já cola- lia Palace Hotel, edifício “pioneiro”, de 1957.
De Oscar Niemeyer há muito mais. Cerca de
borando no Programa de Pós-Graduação, e
cem desenhos ou projetos assinados pelo ar-
mais uma vez com Sylvia, comecei a traba-
quiteto. Edifícios construídos ou não, conhe-
lhar com a história de Brasília. Mas, pesqui-
cidos ou não, como o denominado “Rancho
sa exige fontes. Implica sistematizar infor-
Pioneiro JK” ou o projeto de um motel...
mações. Pede o cotejamento de documentos.
Foi assim que, lentamente, descobri outras Se não bastasse a quantidade e qualida-
Brasílias. Mais profundas e mais humanas. de do acervo de documentos primários origi-
Menos monumentais e menos geniais. Uma nais preservados, os servidores do Arquivo
Capital que não nasceu do zero e que veio – eles também repletos de espírito público
a ocupar um território já conquistado. Uma – têm sistematicamente procurado ampliar
Brasília que se fez (e se faz) muito além de e complementar as informações sobre o DF,
um plano, desenho ou desígnio. Uma cidade com a identificação, o resgate ou a repro-
com história... Boa parte dela com suas fon- dução de documentos preservados em ou-
tes, informações e documentos preservados tras localidades ou instituições. Foi o caso
no Arquivo Público do Distrito Federal. Aqui do acervo do médico Altamiro de Moura Pa-
cabe um parêntese: é inacreditável que, com checo (1896-1996), presidente da Comissão
tantos problemas e deficiências, o DF conte de Cooperação para a Mudança da Capital
Federal, entre 1955 e 1958. Ao todo, foram próprio historiador Wilson Vieira Júnior fala
digitalizados 6.154 itens sobre o DF, atual- dos primeiros mapas da Capitania de Goiás
mente pertencentes à Academia Goiana de e da Freguesia de Santa Luzia; a arquiteta
Letras. O mesmo esforço tem sido realiza- Lenora de Castro Barbo viaja pelas estradas
do em relação aos documentos cartográfi- coloniais do Planalto Central; o geógrafo Ro-
cos. Mapas e mais mapas foram localizados drigo Martins dos Santos estuda os índios
e, uma vez reproduzidos com alta resolução na cartografia; e o também historiador Elias
gráfica, incorporados ao acervo do Arquivo Manoel da Silva explora a documentação
Público. Parte do resultado deste exemplar produzida pelas “duas Comissões Cruls”.
garimpo, e do “Projeto Documentos Goyaz”, E não se engane o leitor: a Introdução não
pode ser apreciada na presente publicação: recebeu gratuitamente o título de “ensaio”.
Goyaz – Guia de Cartografia Histórica, orga- Nela, Elias Manoel da Silva, bem ao gosto
nizado por Elias Manoel da Silva e Wilson dos nossos melhores ensaístas, lança uma
Vieira Júnior. série de teses sobre a cartografia, o território
e a nação.
Elias e Wilson representam muito bem
o que pode (e deve) ser uma instituição de Para finalizar, mas de fato iniciar, que-
memória (como é o Arquivo Público do Dis- ro recuperar uma fala da Sylvia Ficher, que
trito Federal). Não satisfeitos em recolher e certamente está no DNA do presente Guia
proteger documentos, sentiram a necessida- de Cartografia Histórica:
de de torná-los públicos. Mais que isso, di-
A história de Brasília continua sendo escrita
daticamente, organizaram uma publicação
no registro do mito, mas não tão fortemen-
cujo principal objetivo é, ao difundir o ma- te como quando reclamei disso, há mais de
terial cartográfico, construir consciência crí- 15 anos. Naquele momento me incomodava
tica sobre a história de determinada porção aquela mágica que fazia com que a cidade
territorial do Brasil antes de Brasília. Para fosse confundida com seu desenho, as pes-
comprovar o que digo, basta verificar como soas falando sobre Brasília e na cabeça delas
o Guia foi estruturado. De um lado temos a representação era o desenho original, a bor-
os mapas propriamente ditos e a indicação boleta de Lucio Costa... Não falavam da cida-
das respectivas instituições de origem (Ma- de real. Essa constatação quanto ao registro
do mito se mantém, porém, cada vez menos
poteca do Itamaraty, Arquivo Histórico Ul-
aguda. Primeiro, era aquela coisa de um disco
tramarino, Arquivo Público Mineiro, Casa da voador que pousou no meio do nada, como se
Ínsua, Arquivo Histórico do Exército, Biblio- ninguém entre os trabalhadores tivesse mor-
teca Nacional, Arquivo Nacional, Instituto rido, e pronto. A epopeia em si da construção
de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil ficava fora do mito, porque se via apenas a
Central, Casa de Cultura de Luziânia, Bi- obra limpa, bem-feita, que saiu da pranche-
blioteca Pública de Évora, Casa Altamiro de ta do arquiteto. Felizmente, hoje se valoriza
Moura Pacheco e Instituto Brasileiro de Geo- mais o processo de construção da cidade...
grafia e Estatística). De outro, mas de modo Essa memória vem sendo recuperada.
intercalado aos mapas, temos uma série de
Andrey Rosenthal Schlee
artigos especialmente elaborados, assinados Diretor do Departamento de Patrimônio Material
por jovens e competentes pesquisadores: o e Fiscalização (IPHAN)
SU M Á RI O
10 Introdução: Ensaio sobre a cartografia dos “Sertões”
Elias Manoel da Silva
ELIAS MANOEL DA SILVA – Bacharel e Licenciado em História pela Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e Mestre em
História Social pela UnB (Universidade de Brasília). Estudou Filosofia na Universidade de Caxias do Sul/RS e Teologia no Instituto
Paulo VI em Londrina/PR. É historiador do Arquivo Público do Distrito Federal desde 2005. Atualmente é Diretor da Diretoria de Pes-
quisa, Difusão e Acesso dessa instituição. Desenvolveu pesquisas para o “Projeto Documentos Goyaz”, inventariando e digitalizando
toda e qualquer documentação que permita conhecer melhor o complexo contexto social, econômico, político e religioso das cidades e
fazendas da região dos municípios de Luziânia, Formosa e Planaltina que cederam território para a formação do novo Distrito Federal
no Planalto Central, a qual redundou neste GUIA. É organizador desta publicação. E-mail: eliasmanoeldasilva@gmail.com
12
cometendo sérios erros de anacronismo. Não pode- cados a pensar a História como “sucessão de fatos”
mos projetar no passado conceitos e compreensão de que nos esquecemos de pensar a história como “mu-
território que só vão existir após longo processo his- dança de compreensão” dos conceitos que usamos
tórico do qual nós somos filhos e, por isso mesmo, quando nos comunicamos. O “tempo histórico”, além
pensamos dessa forma. do óbvio sentido cronológico, é um conceito antropo-
A ação dos atores históricos que se embrenha- lógico. O tempo histórico não é apenas um elemen-
ram pelos “Certoens” da América portuguesa só pode to externo às pessoas, aquilo que nós chamamos de
ser corretamente interpretada dentro dos limites de “fatos no tempo”. É também, e acima de tudo, aquilo
compreensão, das expectativas e dos valores do con- que acontece dentro da cabeça das pessoas, que nós
texto histórico deles. A todo contexto histórico, cabe chamamos de conceitos, ideias, mentalidade, ou seja,
a sua consciência do possível, e é só dentro dela que o horizonte mental das pessoas.
as ações adquirem seu verdadeiro sentido. Dessa forma, a configuração espacial das fron-
A verdade é que nem portugueses nem espanhóis teiras do Brasil que desde criança vemos nos mapas
tinham em mente, desde o início da colonização, al- socializou a falsa ideia de unidade territorial e ideoló-
gum território específico chamado “Brasil” quando gica, de um sentido coletivo de nacionalidade que de
lutavam por alargar ou defender os limites territoriais fato não existia naquele momento histórico. A popula-
de suas colônias. ção da América portuguesa não era o “Brasil”, porque
A compreensão adequada da representação es- não se sentia fazendo parte de uma pátria brasileira.
pacial do “Brasil” nos mapas produzidos desde a O espaço territorial, naquele momento histórico, não
chegada dos portugueses é mais bem delineada se tinha criado ainda um sentido coletivo, de uma socie-
superarmos essa cilada que consiste em transpor dade que respira comunhão comunitária.
para o passado os limites do Brasil atual, como se, No máximo, o que podemos afirmar é que a per-
de antemão, já se soubesse desde o desembarque de cepção da “nacionalidade”, conceito extremamente
Cabral que aquele território se transformaria em um complexo e bem mais próximo de nosso tempo do que
país independente, na nação que hoje conhecemos pensamos – e aqui entendida como uma experiência
por Brasil. de comunhão social – era sentida e percebida regio-
Pode parecer estranho a nós, que aceitamos o nalmente. Há estudos interessantíssimos mostrando
atual desenho do território brasileiro como um fato como os deputados da América portuguesa, quando
consumado, mas o surgimento dessa configuração foram para Lisboa a fim de elaborar a Constituição
espacial não era um destino inescapável do Brasil. para o Reino de Portugal, exigência dos revoltosos da
O problema é a dificuldade em refletir-se historica- Revolução Liberal do Porto (1820), não se identifica-
mente sobre um fato consumado: os limites do atual vam como brasileiros e, sim, como paulistas, minei-
“território – Brasil”. ros, pernambucanos etc.
Na verdade, todos os trabalhos de cartografia Não fosse a chegada à América portuguesa da
feitos para os litígios de fronteira com a Espanha família real lusitana, em 1808, gerando forte centra-
não podem ser considerados como os predecesso- lização política e econômica na cidade do Rio de Ja-
res da história do atual território chamado Brasil, neiro e, com isso, gerando um centro gravitacional de
simplesmente porque não existia isso que chama- poder e, um pouco mais tarde, no processo de inde-
mos de Brasil. Existia, sim, o território da América pendência, a força dos comerciantes de escravos que
portuguesa e esta, por sua vez, não passava de um tinham necessidade de um Estado forte e unificado
conjunto de ilhas-povoamento no imenso território para se contrapor aos interesses ingleses que exigiam
colonial, escassamente habitadas, cujas capitanias o fim do comércio de pessoas humanas, hoje sería-
estavam mais ligadas politicamente com Portugal do mos um conjunto de países independentes, tendo em
que entre si. comum a língua portuguesa, como de fato aconteceu
É claro que, nos mapas, a representação dessas com a área de colonização espanhola da América, que
diversas ilhas-povoamento da América portuguesa se fragmentou em diversos países.
aparecia com o nome genérico de “Brasil”. Contudo, É aqui, seguindo o raciocínio que vimos propon-
essa realidade sociopolítica chamada “Brasil” não era do, que queremos acrescentar mais uma variável que,
compreendida por eles da mesma forma como hoje a acreditamos, contribuiu para que a imensa América
compreendemos, quando falamos da nação brasilei- portuguesa continuasse com sua unidade territorial,
ra, do território brasileiro, do “país” chamado “Bra- após a criação de um Estado a partir de 7 de setem-
sil”. O fato de usarmos hoje a mesma palavra “Brasil” bro de 1822: a socialização, por meio da cartografia,
para o território do período colonial brasileiro pode de uma ideia de território “Brasil”.
dar a falsa ideia de falarmos da mesma coisa. A fal- Como não existia a ideia de uma nacionalidade
sa sensação de uma mesma compreensão, ou seja, brasileira, a cartografia dos limites do território da
uma espécie de solidariedade temporal que, de fato, América portuguesa produzida por Portugal e sociali-
não existe. Por ser histórico, o conteúdo das palavras zada principalmente a partir dos Tratados de Madrid
humanas depende do tempo no qual são usadas, ou (1750) e de Santo Ildefonso (1777) – por sinal, muito
seja, a semântica de um vocábulo diferencia-se de parecidos com os limites do Brasil de hoje – transmi-
acordo com o momento histórico.1 Portanto, é neces- tia certo poder de convencimento ao apresentar um
sário entrar no entendimento que as sociedades têm território que antecipava a existência de uma nacio-
do seu tempo histórico. Infelizmente, fomos tão edu- nalidade, de um povo brasileiro. Os mapas passaram
13
a ideia de um território que antecedeu o povo. O ima- as fronteiras foram geradoras do povo brasileiro e os
ginário de um “território brasileiro” apresentado pela mapas foram importantes elementos para referendar
cartografia gerava a falsa percepção de um coletivo esse processo.
social – de um povo – que só existia no traçado da Dessa forma, a cartografia do território da Amé-
cartografia. O mapa do “território brasileiro” criou rica portuguesa pode ser considerada a certidão de
uma ficção de identidade muito útil após a Indepen- batismo do povo brasileiro. Como toda certidão de
dência (1822). Para o “Estado” Imperial, centralizado batismo - que vem antes de a criança ter consciência
no Rio de Janeiro e consciente da fragilidade da uni- de uma identidade e história pessoal - aqui o mapa
dade política interna, não interessava que nascessem batizou um povo e influenciou seu crescimento, for-
outros “Estados” dentro desse território. Ora, a car- ma identitária e sua territorialidade. Na mesma linha
tografia criada no contexto da colônia endossava essa do uso de metáforas religiosas, os mapas do território
perspectiva ao afirmar um “Brasil-território” como se do “Brasil”, elaborados na dinâmica do período colo-
fosse sinônimo de um “Brasil-povo”, uma nacionali- nial, representavam e apresentavam uma espécie de
dade. De certa forma, a cartografia antecipou a na- vocação. Se, por um lado, aquele enorme território
cionalidade e a fundou. Aquilo que hoje chamamos do mapa não representava um povo, no sentido de
de Brasil nasceu primeiro no mapa para, então, ser uma identidade coletiva nacional, fornecia, por outro
gerado nas pessoas. lado, um forte apelo vocacional enquanto produzia
É possível, portanto, afirmar que a cartografia uma ficção de identidade coletiva, de “um” povo em
colonial, enquanto socializou um imaginário de terri- suas fronteiras. Dessa forma, os mapas do “território
tório, colonizou a mentalidade e naturalizou, no seu brasileiro” se tornavam a representação antecipada
traçado de limites, a presença de uma nacionalidade de um projeto histórico de povo e que, socializados,
que de fato não existia. A representação espacial dos tiveram força de convencimento muito grande nesse
mapas da América portuguesa era apresentada como processo. É possível afirmar que no caso brasileiro, a
a representação de uma comunidade unitária, o que partir de uma leitura da cartografia, o território gerou
enfraquecia as forças centrífugas que vinham de al- o povo e não o contrário.
gumas regiões do território e que almejavam maior As reflexões propostas até aqui bastam para
autonomia política diante do exagerado centralismo problematizar o que chamo de cilada territorial da
no Rio de Janeiro. Todas as revoltas regionais, desde cartografia do “Brasil”. Acredito que pouco se tem
a chegada da Família Real portuguesa, passando pe- estudado sobre o poder da cartografia – produzida
las revoltas do Período Regencial e Imperial, vão con- antes da independência da América portuguesa e no
firmar que o traçado do mapa “do Brasil” não era um período Imperial – no processo de construção de uma
consenso, mas foi útil em seu papel de convencimen- “identidade brasileira”. Já se comentou à exaustão a
to para a criação de um projeto de nação brasileira. O importância dos mapas para as discussões nos trata-
Estado que surgiu a partir de 7 de setembro de 1822 dos de fronteira com a Espanha. Já se estudou bas-
soube usar muito bem a representação do “território tante, e corretamente, diga-se de passagem, a função
brasileiro”. A cartografia, ao socializar uma ideia de do Estado como criador de uma nacionalidade. Mas
território, virou uma arma política. a socialização da ideia de um território - divulgada
Alguém poderia questionar: poderia ser diferen- pelos mapas - como uma força que de certa forma
te? A América portuguesa poderia não ter se tornado fortaleceu e justificou as ações daqueles que queriam
o Brasil? Uma resposta poderia ser: “o território-Bra- uma unidade territorial da América portuguesa, nos
sil está aí e ponto final!” Entretanto se, por um lado, parece que poderia ser também mais estudada.
a perspectiva de que outros caminhos poderiam ter O importante é estarmos conscientes da cila-
sido escolhidos não muda o que está consumado, por da conceitual de um “território brasileiro”. É o mapa
outro, ao menos permite olhar de forma mais crítica confirmando um território e engendrando o imaginá-
para as possibilidades que ficaram latentes na histó- rio de uma identidade nacional chamada “povo”, que
ria dessa colônia portuguesa dos Trópicos. Além dis- de fato não existia e só foi construída após longo e
so, possibilita uma percepção mais complexa sobre complexo processo histórico, do qual nós hoje somos
a produção e os significados dos mapas desse terri- o resultado. Os mapas, principalmente os chamados
tório. O horizonte de expectativa de uma época pode “mapas históricos”, são muito mais do que a simples
ser alcançado pelo conhecimento investigativo do representação espacial de um território. Eles engen-
historiador, mesmo que não tenham sido realizadas dram mentalidades e geram povos.
todas as possibilidades históricas latentes. Portanto, ao refletirmos sobre alguns aspectos
Geralmente, pensamos que um povo, uma na- da história da cartografia, procurando entender me-
cionalidade, cria a sua fronteira. Se na história de lhor a cartografia da região dos “Sertões” - entendi-
muitos países – no esfacelamento dos Impérios após do aqui como o território Centro-Oeste - vamos nos
a 1ª Guerra Mundial, por exemplo – as fronteiras ter- despir de qualquer pré-compreensão de território e,
ritoriais foram, de fato, criadas por um povo e para principalmente, evitar ver na América portuguesa
um povo, no caso do Brasil as fronteiras territoriais, aquilo que só mais tarde poderemos chamar de terri-
representadas nos mapas e construídas pelos inte- tório brasileiro, o “Brasil”. A América portuguesa não
resses do Império português em sua colônia na Amé- é sinônimo de Brasil. Qualquer identificação direta
rica do Sul, nasceram antes da constituição do povo entre essas duas realidades irá gerar erros na inter-
e tornaram-se elementos para fundar um povo. Aqui, pretação dos eventos históricos que nos legaram o
14
que hoje conhecemos por “Brasil” e empobreceria o como colonial, as informações necessárias para o
estudo da cartografia desse território. planejamento, entre outros aspectos, de sistemas
defensivos, bem como para as rotas de penetração
e de ocupação daquele vazio geográfico de então”.4
3. Os mapas como os “olhos do rei” O nível técnico da produção cartográfica, em re-
lação aos outros Estados europeus daquele período,
No período da colonização e, mais tarde, com a chegou a tal ponto que um dos mais importantes ma-
criação do Império brasileiro, “a representação car- pas portugueses, no início do século XVI (1502), fru-
tográfica do espaço foi uma preocupação constante to da chegada no sul do continente americano e do
dos governantes. Os mapas eram considerados uma estudo do grande litoral desse continente, conhecido
espécie de olhos do rei e, cada vez mais, eram vistos como “Planisfério de Cantino”, um enorme pergami-
como instrumentos essenciais para conhecimento dos nho de aproximadamente 2 m × 1 m, foi contraban-
vastos espaços da colônia por parte da administração. deado para a península italiana. (Figura 1)
Por meio dos mapas, o poder régio ampliava suas in- Algumas repúblicas da península itálica tinham
formações sobre o espaço de suas posses, o que auxi- o interesse em conhecer as notícias que circulavam
liava e garantia o processo de civilização e dominação pela Europa a respeito das descobertas feitas pelos
das regiões do império”.2 Como ressalta Bueno, “ma- portugueses no Oceano Atlântico e no Índico. Curio-
pear significa conhecer, domesticar, submeter, con- sidade compreensível, tendo em vista que tais des-
quistar, controlar, contradizer a ordem da natureza”.3 cobertas poderiam ameaçar o equilíbrio político das
Desde muito cedo, Portugal estava consciente belicosas Repúblicas daquela península. “Um embai-
do potencial que a produção de bons mapas repre- xador do Duque de Ferrara, Hércules d’Este, chama-
sentava como meio de informação e poder. Como do Alberto Cantino, passou por Lisboa nos primeiros
prova, podemos indicar: “o périplo africano e a des- anos do século XVI, e terá conseguido comprar os
coberta – ou ‘achamento’ como os portugueses dizem favores de um (ou mais do que um) mestre cartó-
– do Brasil. À medida que o tempo passava, e a im- grafo que lhe fez uma copia do padrão real existente
portância do Brasil crescia para o reino português, na Casa da Índia, com as mais recentes descobertas
tornava-se urgente a produção de informações que geográficas portuguesas”.5
fizessem frente às necessidades da maior colônia de A correspondência trocada entre o embaixador
Portugal. E à medida que o Brasil tornava-se a prin- e o duque, que por sinal permitiu datar esse impor-
cipal fonte de recursos para a metrópole, a premên- tante mapa – 19 de novembro de 1502 –, revela que
cia desse conhecimento crescia, frente às ameaças a cópia do mapa foi comprada com a enorme quantia
externas. As atividades de mapeamento, conduzidas de 12 ducados de ouro. Apenas para narrar os acasos
em sua maioria por técnicos estrangeiros, visavam a que podem acontecer com documentos históricos im-
dar o suporte de conhecimento do território colonial portantes, esse mapa foi descoberto quando o Diretor
brasileiro, bus- da Biblioteca Estense de Módena, Giuseppe Boni, o
Fig. 1 – “Planisfério de Cantino” cando fornecer encontrou sendo usado como cortina em um restau-
Biblioteca Estense – Módena, Itália às adminis- rante daquela cidade. Comprou a “cortina” e, a partir
Domínio público trações, tanto dos dados que estavam escritos, conseguiu rastrear
metropolitana sua origem e importância. Até hoje, não se sabe que
cartógrafo português produziu o mapa. Contudo, a
15
posteridade deu a essa peça cartográfica o sobreno-
me daquele que o adquiriu clandestinamente: Alberto
“CANTINO”. É um mapa que foi “extraído clandesti-
namente de Portugal, de cujos arquivos reais foi co-
piado, o que singularmente lhe aumenta o valor”.6
Neste mapa, temos a primeira representação
cartográfica portuguesa de parte do território do que
futuramente será o “Brasil”, ali identificado como “A
Vera Cruz”. O território é representado por uma faixa
litorânea, sugerindo que, diferentemente da Carta de
Pero Vaz de Caminha que o indicava como uma ilha, o
Mapa de Cantino já indicava que essa porção de terra
era um novo continente. Não é, portanto, o extremo
Oeste da Ásia, como Cristóvão Colombo morreu pen-
sando ser.7 O perímetro do continente africano está
representado com grande exatidão para a época. Fato
compreensível porque os portugueses haviam chega- Fig. 2 – “O Mar Mediterrâneo” – Jehuda Cresques
do à Ásia, contornando aquele litoral. É a primeira Atlas Catalão – Biblioteca Nacional da França
vez que temos referência em mapas do meridiano de Domínio público
Tordesilhas, fruto de um tratado entre Portugal e Es-
panha, assinado em 1494 em uma cidade espanhola
deste mesmo nome. É identificado com os seguintes o capitão-mor denominou Monte Pascoal, já a carto-
dizeres: “Este he o marco dantre Castella e Portugal”. grafia portuguesa tornara-se a mais aperfeiçoada da
Pela primeira vez, em um mapa conhecido sobre esse Europa, pois a necessidade de serem lançadas nos
território, aparece a palavra “brasil”, para indicar o mapas náuticos, indispensáveis à continuada expan-
“Rio de brasil”. Hoje esse rio está batizado com o nome são exigida pelo comércio marítimo lusitano, assim o
de “Rio Buranhém”. Encontramos também os primei- obrigava”.9
ros topônimos dados pelos portugueses, e que perma- Simplificando um pouco a complexidade do pro-
necem até hoje: “Porto Seguro”, “Baía de todos Sanc- cesso, podemos afirmar que o início da moderniza-
tos”, “Rio de São Francisco” e “Cabo de Santa Marta”. ção da produção de mapas em Portugal, a fim de se
chegar à excelência técnica em cartografia, é acom-
panhado por conflitos advindos de dois modelos de
4. Pilotos e cosmógrafos: conflitos no início conhecimentos. De um lado o conhecimento dos pilo-
da moderna cartografia portuguesa... tos que praticavam a “arte de marear”, e de outro os
cosmógrafos, que usavam a Matemática relacionan-
A produção de mapas em Portugal, principal- do com a Astronomia.
mente na dinâmica das aventuras náuticas portu- Os pilotos eram profissionais práticos, ligados
guesas, a partir do século XV, está ligada diretamente principalmente aos Armazéns da Guiné e Índias, de
às necessidades da “arte de marear”, para usar uma onde partiam as embarcações portuguesas. Não pos-
expressão cara ao período. Cartografia e Técnica de suíam maiores conhecimentos teóricos, apesar dos
Navegação deram-se as mãos desde o início. Para evi- profundos conhecimentos pela experiência prática
tar qualquer anacronismo, a palavra cartografia ain- acumulada e transmitida pelos mais experientes.
da não existia. Naquela época, a arte de confecção de Eram os que, na verdade, governavam o navio, sen-
mapas era designada por COSMOGRAFIA e os pro- do encarregados de “seguir os regimentos, traçar as
fissionais desse período que os produziam, os COS- rotas com apoio das cartas náuticas e das observa-
MÓGRAFOS; eram um resumido número de técnicos ções astronômicas e escrever o diário de bordo”.10 Em
que “dirigiam ou aconselhavam a obra da expansão terra, essas anotações podiam ser estudadas pelos
portuguesa através dos mares daqueles tempos”.8 cosmógrafos.11
Foi a preocupação em saber se localizar, ou sim- Os cosmógrafos, por sua vez, elaboravam mapas
plesmente, saber voltar ao porto de origem que mo- usando conhecimentos matemáticos e astronômicos.
tivou a grande revolução cartográfica que os lusos No período em que as viagens tinham como foco o
implementaram. Não iremos descer às discussões Mediterrâneo ou terras próximas, o conhecimento
técnicas do período em relação à cartografia, mas dos profissionais práticos em navegação, guiados es-
apenas narrar pontualmente o processo de passagem sencialmente pela direção oferecida pelas bússolas
de uma cartografia prática, experiencial, para uma e pela proximidade do litoral, permitia a criação de
de caráter mais técnico, e institucionalizada pelo Es- mapas que respondiam às necessidades de marear.
tado português, a fim de entender melhor os mapas Esse tipo de mapa, conhecido por “Carta Portulano”
que serão feitos para representar os Sertões da Amé- (Figura 2), era essencialmente descrição do litoral no
rica portuguesa. qual a bússola indicava um rumo possível em dire-
Na verdade, “quando os mareantes da segun- ção aos portos e as distâncias eram estimadas. Tendo
da armada da Índia avistaram, no dia 22 de abril de em vista a relativamente pequena área de cobertura
1500, um grande monte mui alto e redondo ao qual desses mapas, os erros cometidos na navegação não
16
provocavam maiores consequências. A experiência pela prática dos pilotos, receberam a herança das es-
dos pilotos era mais importante que o emaranhado colas cartográficas e náuticas do Mediterrâneo.
de linhas daqueles mapas. Mas qual era a grande novidade que os cosmó-
No entanto, a partir do momento que as nave- grafos poderiam trazer para a cartografia, principal-
gações portuguesas se dirigiram para o Atlântico ao mente no apoio à sabedoria prática dos pilotos? A
longo do litoral africano, “as distâncias percorridas grande virada dada pelos portugueses foi o aperfei-
no alto-mar, sem avistar terra para retificar a posi- çoamento da navegação por meio dos astros (Astro-
ção, foram sendo cada vez mais extensas. Os erros nomia). A técnica de guiar-se a partir dos astros da
associados à determinação da direção e da distân- abóbada celeste exigia profundos conhecimento de
cia percorrida vão-se acumulando ao longo do tem- Matemática e Astronomia. Tais conhecimentos teóri-
po. Assim, as posições obtidas recorrendo apenas ao cos necessitam de um organismo institucional espe-
rumo e estima eram afetadas por erros tanto maiores cializado para uma formação continuada dos pilotos
quanto maior fosse o intervalo de tempo decorrido bem como para aqueles que fabricavam instrumen-
para retificação da posição”.12 Não havia saída a não tos de auxílio à navegação. O que o estado portu-
ser adaptar novas técnicas astronômicas para serem guês intentava era a criação de um órgão de apoio
usadas dentro dos navios. O problema é que isso exi- científico encarregado de dar formação matemática,
gia conhecimentos de Matemática e Astronomia mui- astronômica e geográfica necessária aos homens do
to acima das condições da maioria dos pilotos portu- mar. Havia muito investimento financeiro do Estado
gueses. e de particulares em jogo nas expedições marítimas
O conflito entre o saber dos pilotos e dos cos- portuguesas, pois equipar navios e compor um gru-
mógrafos contratados pela Corte Portuguesa para po de marinheiros era extremamente caro. Portanto,
resolver esses problemas, pode ser percebido pelas ao preparar melhor os navegadores, intencionava-se
críticas de um desses pilotos práticos: “A náutica é garantir o retorno do financiamento das expedições
uma arte, e baseia-se principalmente na experiên- marítimas do Estado português, profundamente uni-
cia, banindo e repudiando, muitas vezes e com razão, do à burguesia mercantil. Ora, o novo conhecimento
náutico produzido incidirá diretamente no aperfei-
fantasias abstratas. [...] Mas os matemáticos preten-
çoamento da cartografia portuguesa.
dem arrogar-se o reconhecimento da ciência náutica,
Ressalte-se que o problema de localizar o navio
que é exercida principalmente na matéria. E homens
na imensidão do mar, pelo menos para a medição
que nem sequer podem agüentar os mais leves sola-
das Latitudes, foi resolvido ainda durante o século
vancos do mar, prometem explicá-la. São realmen-
XV, “adaptando técnicas astronômicas para o uso a
te temerários, porque desconhecendo a realidade, de
bordo dos navios, técnicas essas que permitiam um
modo algum poderão interpretá-la [...]. Os matemáti-
conhecimento rigoroso da Latitude do navio. As car-
cos [...] que não viram o mar, não andaram embarca-
tas passaram a refletir este avanço que se verificou
dos nem praticaram a arte de navegação, terão mau
em nível da arte de navegar, passando a conter uma
conhecimento dos temas náuticos e podem sustentar
escala apropriada para determinação da Latitude dos
pior interpretação deles [...]. Não metam foice em sea-
diversos lugares nelas registrados”.14 Portanto, o pro-
ra alheia homens que, encerrados em seus gabine- blema eram as Longitudes.
tes como tartarugas entorpecidas, desconhecem por Ademais, como afirmou o importante historiador
completo navegações e viagens”.13 da cartografia portuguesa, Jaime Cortesão – descon-
Nesse contexto conflituoso, o Estado português tando seu entusiasmado lusitanismo – a invenção da
irá intervir. Para tanto, em 1420, por iniciativa do In- navegação astronômica é um dos passos da histó-
fante Dom Henrique, é contratado o mestre cartógrafo ria da ciência náutica e cartográfica quase exclusiva-
Jaime de Maiorca, a fim de ensinar aos portugueses as mente português.15
mais avançadas técnicas cartográficas da época bem Na prática, a institucionalização de um ensino
como construir instrumentos náuticos. Jaime nasceu de caráter formal para a navegação, levando ao aper-
na Ilha de Maiorca e fazia parte de uma família com feiçoamento da produção dos mapas, deu-se com a
tradição na produção de mapas. Some-se também, a criação do cargo de cosmógrafo-Mor em meados de
essas iniciativas do Estado, a difusão de importan- 1500. O primeiro a ser nomeado para a função, não
tes obras de “Cosmografia”, “Astrologia”, “Tratado do por acaso, foi o matemático Pedro Nunes. As atri-
Astrolábio”, “Tratado do Quadrante”, um conjunto buições do cosmógrafo-Mor estavam delineadas nos
de saberes que viria modernizar a prática de navegar “Regimento do cosmógrafo-Mor” de 1559 e 1592. Es-
dos portugueses, principalmente para as exigências ses documentos nos permitem perceber o salto qua-
das navegações oceânicas. Isso mostra que, no início litativo que se produzirá na cartografia portuguesa.
do Quinhentos, os portugueses tornaram-se especia- Segundo o grande estudioso dessa documentação,
listas na navegação astronômica e na cartografia na Teixeira Mota,16 os Regimentos regulam a função e
Europa. Esse conhecimento foi construído a partir da atribuições do cosmógrafo-Mor: competia-lhe fazer
recepção e transformação da herança cultural de sa- exame para todos aqueles que pretendessem fazer
beres que circulavam. Foram as necessidades práti- cartas para navegação e fabricar instrumentos náu-
cas de navegar que forçaram a sintetizar o que já se ticos os quais receberiam uma certidão comprovando
sabia e a construir novos saberes. Como resultado, os a competência; analisar e aprovar mapas, globos e
portugueses, além da própria experiência acumulada outros instrumentos náuticos; dar seu parecer nos
17
conflitos sobre demarcação de terras descobertas e pioneirismo, coube a Portugal inaugurar a navegação
a descobrir; atualizar com as novas informações de astronômica para além das costas da Europa, bem
acidentes geográficos, descrição de costas, as rotas como estabelecer uma série de novos procedimentos
entre os portos, enfim, todas as informações que os que orientavam a formação de quadros técnicos habi-
pilotos e navegadores registravam em suas viagens. litados a descobrir e conquistar novos mares e novos
Além disso, lecionar Matemática para todos os que mundos em nome da Coroa”.18
estavam ligados às atividades náuticas. Mas, na prática, como eram elaborados os ma-
O matemático Pedro Nunes “frente à sabedo- pas lusitanos nesse período? Da seguinte forma: os
ria prática estabeleceu um corpus de conhecimen- navios possuíam pilotos e outros técnicos de nave-
tos, sistematizados em inúmeros tratados redigidos gação que anotavam importantes informações a par-
em língua vernácula, inaugurando uma nova fase tir das técnicas de localização aperfeiçoadas e outras
da ciência náutica, que garantiu a supremacia por- criadas pelos portugueses. Essas informações eram,
tuguesa nos mares até fins do século XVI”,17 e re- então, repassadas para os profissionais da produção
percutiu na qualidade dos mapas confeccionados em de mapas que ficavam em Portugal, os cosmógrafos.
Portugal. Seus sucessores continuaram as mesmas Ali, havia uma espécie de “mapa-guia” que era atuali-
atribuições. zado com as informações recebidas e que servia para
Dessa forma, “essa constante atualização, uni- a confecção dos mapas de uso cotidiano.
formização e correção, numa época de averiguações Em cada viagem ao litoral brasileiro se acumu-
permanentes, fez das cartas portuguesas, manuscri- lavam informações que permitiam aos cosmógrafos
tas e secretas, verdadeiras vedetes no período: dispu- ir aos poucos revisando e delineando mais detalha-
tadas, contrabandeadas e compiladas pelas inúme- damente e com maior correção de localização e de
ras nações que, na sequência de Portugal, iniciaram proporção o imenso território da América que os por-
seu processo de expansão ultramarina. Com notável tugueses queriam colonizar. Exemplo clássico dessa
metodologia foi a expedição colonizado-
ra de Martin Afonso de Sousa. Das infor-
mações repassadas pelos profissionais
dessa expedição nasceu o notável mapa
“Carta Atlântica de Gaspar Viegas” e o
roteiro de viagem Diário de Navegação
de Pêro Lopes de Sousa “que pode ser
considerado como primórdio da rotei-
rística da costa brasileira”.19 Assim, da
chegada dos portugueses à América até
os anos 70 do 1500 “estavam os pilotos
e mareantes na posse de um magnífi-
co roteiro para a navegação ao longo da
costa do Brasil e do restante do territó-
rio hoje uruguaio e argentino”. 20
É importantíssimo ressaltar que
essa cartografia do início das navega-
ções portuguesas tinha como interesse
principal a representação costeira: “era
feita pelos próprios pilotos e revista por
geógrafos [...]. Nem sempre é um docu-
mento estritamente científico e digno
de fé, já que obedece, muitas vezes, a
propósitos políticos, quer escondendo o
conhecimento de territórios cuja sobe-
rania era disputada, quer viciando as
respectivas coordenadas para alarga-
mento desta soberania”.21
Além desses pilotos, outro perso-
nagem deu importante contribuição ao
trabalho dos cosmógrafos: os roteiris-
tas. Considerando que muitos roteiros
de viagens foram feitos por cosmógra-
fos, a historiografia nem sempre deu o
5. MATOS, Luis Jorge Semedo de. Planisfério anônimo de 1502 (dito “de Canti- 31. BUENO, Beatriz Piccolotto. Do borrão às aguadas: os engenheiros militares
no”). Cadeira de História da Marinha Portuguesa. In Navegações Portuguesas. e a representação da Capitania de São Paulo. Anais do Museu Paulista. São
Disponível em: <http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/b11.html> Acesso Paulo N. Ser. V. 17. n. 2. jul.-dez. 2009. p. 150.
em: 2 jul. 2012. 32. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta,
6. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Re- homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na
lações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 201. América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7 , n. 14, 2011. p. 9.
7. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 223-225. 33. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 165.
8. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 298.
34. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 169.
9. GUEDES, Max Justo. Introdução. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro
Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizon- 35. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 175.
te: Editora UFMG, 2007. p. 12. 36. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber carto-
10. DOMINGUES, Francisco Contente. Viagens e viajantes no Atlântico Qui- gráfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In:
nhentista. Lisboa, Colibri, 1996. p. 207. COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América por-
tuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 39.
11. COELHO, Antonio Borges. Os argonautas portugueses e o seu velo de ouro.
In: História de Portugal, São Paulo UNESP, 2000, p. 64. 37. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta,
homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na
12. CANAS, António Costa. Cartografia náutica portuguesa. Cadeira de História América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7, n. 14, 2011. p.14.
da Marinha Portuguesa. In Navegações Portuguesas. Disponível em: <http://
cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a39.html>. Acesso em: 2 jul. 2012. 38. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 106.
13. OLIVEIRA, Fernando. Arte de Guerra do Mar, apud BUENO, Beatriz Picco-
lotto Siqueira. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartogra- 39. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 182.
fia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 40. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 183.
2007. p. 29.
41. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 180.
14. CANAS, António Costa. Cartografia náutica portuguesa. Cadeira de História
da Marinha Portuguesa. In: Navegações Portuguesas. Disponível em: <http:// 42. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Com as mãos sujas de cal e de tinta,
cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/a39.html> Acesso em: 2 jul. 2012. homens de múltiplas habilidades: os engenheiros militares e a Cartografia na
América portuguesa (séc. XVI-XIX). Revista Navigator. V. 7 , n. 14, 2011. p.11.
15. Cf. CORTESÃO, Armando, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols., Lis-
boa, Junta de Investigações do Ultramar, 1969-1970. 43. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das
Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História – Revista do
16. Cf. MOTA, Avelino Teixeira da. Os Regimentos do cosmógrafo-Mor de 1559 Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 78.
e 1592 e as Origens do Ensino Náutico em Portugal, Coimbra, JIU-AECA (Sep.
LI), 1970. 44. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 179.
17. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber carto-
gráfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In: 45. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 179.
COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América por-
46. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 190.
tuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 30.
47. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das
18. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 30.
Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História – Revista do
19. GUEDES, Max Justo. Introdução. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Rotei- Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 83.
ro Prático de Cartografia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Hori-
48. ___ . ___. Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 80.
zonte: Editora UFMG, 2007. p. 12.
49. Alvará de D. João V nomeando os matemáticos padres Diogo Soares e
20. Cf. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 20.
Domingos Capacci para se passarem ao Brasil. Reproduzido por CORTESÃO,
21. RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: Introdução meto- Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/
dológica. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969. p. 283. Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 213.
22. COSTA, Antônio Gilberto. Dos Roteiros de todos os sinais da costa até a 50. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 213.
Carta Geral: um projeto de Cartografia e os mapas da América portuguesa e do
51. Provisão de D. João V aos padres matemáticos, Diogo Soares e Domin-
Brasil Império. In COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartogra-
gos Capacci, com as instruções para seus trabalhos no Brasil. Reproduzido
fia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG,
por CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
2007. p. 87.
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215.
23. ___ . ___. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 87.
52. ALMEIDA, André Ferrand de. Os padres matemáticos e a Cartografia da
24. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Capitania do Rio de Janeiro no século XVIII. In IV Simpósio Lusobrasileiro de
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 291. Cartografia Histórica. Disponível em: <http://eventos.letras.up.pt/ivslbch/resu-
mos/100.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2012.
25. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 291.
53. BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Sertão de estrelas: a delimitação das
26. COSTA, Antônio Gilberto. Dos Roteiros de todos os sinais da costa até a
Latitudes e das fronteiras na América Portuguesa. Varia História. Revista do
Carta Geral: um projeto de Cartografia e os mapas da América portuguesa e do
Departamento de História da UFMG, Belo Horizonte, n. 21, julho de 1999. p. 84.
Brasil Império. In: COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartogra-
fia: da América portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 54. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenhando o Brasil: o saber carto-
2007. p. 84. gráfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império. In:
31
COSTA, Antônio Gilberto (Org.). Roteiro Prático de Cartografia: da América por- 83. DERBY, Orville. O roteiro de uma das primeiras bandeiras paulistas. Revista
tuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. p. 40. do Instituto Histórico de São Paulo, 1889, IV, p. 343. Apud HOLANDA, Sérgio
Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo: Companhia das Letras, 1994,
55. SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. Os relatos de reconhecimento de Qua- p. 25.
resma Delgado. Revista Varia História, Belo Horizonte, vol. 24, n. 40, jul./dez.
2008. p. 691. 84. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo, Compa-
nhia das Letras, 1994. p. 24.
56. Cf. Revista Trimestral do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tomo
XLV, 1ª parte, p. 125-146. Apud CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos ve- 85. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
lhos mapas, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Ja- Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 23.
neiro, 1957, Tomo II, p. 195.
86. SOARES, Gabriel. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Companhia Edito-
57. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das ra Nacional, São Paulo, 1938, cap. CLXVI.
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 195.
87. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo: Compa-
58. Cf___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 210. nhia das Letras, 1994, p. 20.
59. Provisão de D. João V aos padres matemáticos, Diogo Soares e Domin- 88. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
gos Capacci, com as instruções para seus trabalhos no Brasil. Reproduzido Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 27.
por CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das 89. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 28.
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215.
90. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 27.
60. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215.
91. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e Fronteiras, São Paulo, Compa-
61. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 215. nhia das Letras, 1994, p. 24.
62. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de Mato 92. ___ . ___. São Paulo, Companhia das Letras, 1994, p. 23.
Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia Histórica, Lis-
boa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 2. Disponível em: <www.igeo.pt/servicos/ 93. KOK, Glória Porto, O sertão itinerante: expedições da Capitania de São
CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf> Acesso em: 16 jul. 2012. Paulo no século XVIII. São Paulo, Hucitec-Fapesp, 2004. p. 23
63. CORTESÃO, Jaime. Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid. Rio de 94. SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil de 1587. 5. ed. São
Janeiro, Ministério das Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, 1961. p. 492. Paulo-Brasília: Nacional-INL, 1987. p. 350.
64. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das 95. Cf. KOK, Glória Porto, O sertão itinerante: expedições da Capitania de São
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 90- Paulo no século XVIII. São Paulo, Hucitec-Fapesp, 2004. p.25
91. 96. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das
65. Cf. História da Colônia Portuguesa do Brasil, Tomo III, p. 72. Apud COR- Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 396-
TESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das Relações 397.
Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 100. 97. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo I, p. 29.
66. Cf. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das 98. CRULS, Luis. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 92. nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, 173.
67. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 92. 99. Arquivo Histórico Ultramarino – AHU. Projeto Resgate. AHU_ACL_CU_008,
68. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 90. Cx. 12, D. 740.
69. ___ . ___. Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 93. 100. Arquivo Histórico Ultramarino – AHU. Projeto Resgate. AHU_ACL_CU_008,
Cx. 12, D. 740.
70. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 93.
101. ALENCASTRE, José Martins Pereira. Anais da Província de Goiás. Convê-
71. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 89. nio SUDECO/Governo de Goiás, 1979, p. 215-216.
72. CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas, Ministério das 102. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário ao Pará e Maranhão pelas
Relações Exteriores/Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 106. Províncias de Minas Gerais e Goiaz, seguido de huma descripção chorographi-
ca de Goiaz, e dos roteiros desta província as de Mato Grosso e São Paulo. Rio
73. ___ . ___. Rio de Janeiro, 1957, Tomo II, p. 89.
de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vilaleneuve E. C., Tomo
74. Parecer do Conselho Ultramarino sobre uma informação do Padre Diogo I e II, 1836.
Soares, Lisboa, 26-1-1731, pub. In: Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o
103. ___ . ___. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vi-
Tratado de Madrid, parte III, tomo 1, Ministério das Relações Exteriores, Instituto laleneuve E. C., Tomo I e II, 1836.
Rio-Branco, Rio de Janeiro, 1951, doc. LCIII, p. 272.
75. Cf. Carta de Marco Antonio de Azevedo Coutinho para Tomás da Silva Teles,
Lisboa, 8-2-1749, pub. In Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de
Madrid, parte IV, tomo 1, Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio-Bran-
co, Rio de Janeiro, 1953, doc. LXV, p. 262.
76. Cf. ca.1720, B.N.R.J – Cartografia ARC. 030.03.0003.
77. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de Mato
Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia Histórica, Lis-
boa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 2. Disponível em: <www.igeo.pt/servicos/
CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf> Acesso em 16 jul. 2012.
78. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 3-4. Disponível em: <www.
igeo.pt/servicos/CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf>. Acesso em: 16 jul.
2012.
79. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p. 4. Disponível em: <www.igeo.
pt/servicos/CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012.
80. Idea da topografia athe as novas minas de Cujaba, [17..], Biblioteca Nacio-
nal do Rio de Janeiro, Cartografia, ARC.030.03.0003.
81. FERREIRA, Mário Clemente. Cartografar o Sertão: a representação de
Mato Grosso no século XVIII. II Simpósio Luso-brasileiro de Cartografia His-
tórica, Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p.3. Disponível em: <www.igeo.pt/
servicos/CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012.
82. ___ . ___. Lisboa, 25 e 26 de outubro de 2007. p.6. Disponível em: <www.igeo.
pt/servicos/CDI/PDF/022_MarioClementeFerreira.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012.
Wilson
Vieira
PRIMEIROS MAPAS
Júnior DA CAPITANIA DE GOIÁS
33
O acervo cartográfico da história de Goiás é con- que merece estudo, para entender os códigos, signos,
sideravelmente rico como fonte documental. Contu- símbolos. Os mapas antigos são, nos seus devidos pe-
do, nota-se, em vários estudos, a ausência de tais do- ríodos, fontes importantes a serem consideradas como
cumentos. Em uma parcela dos trabalhos, utiliza-se uma expressão otimizada da sua própria época.
de mapas atuais, ou feitos especificamente para re- Conforme proposto por Burke e observado por
sumirem, em imagem, o que foi abordado em texto. O Costa (2007), alguns aspectos devem ser considerados
mapa assume, assim, a função de ilustrar o trabalho. ao se estudarem imagens. O conjunto oferece infor-
Um coadjuvante hierarquicamente subordinado ao mações mais confiáveis que imagens isoladas. Deve-se
texto escrito, causando estranheza para a pesquisa considerar que as imagens acessam visões contempo-
da história, pois tais documentos eram necessários râneas daquele mundo e, portanto, devem ser encai-
como instrumentos de poder, dado aos conhecimen- xadas em contextos próprios para, assim, permitirem
tos que continham, estrategicamente relevantes para análises de suas possibilidades como documentos.
as ações de Estado, conforme destaca o historiador Sendo assim, é mister atentar-se para as entrelinhas,
Peter Burke (2003, p. 122): o “surgimento da carto- para leituras dos detalhes e das ausências.
grafia como instrumento de governo foi importante, Assim, em se tratando de mapas históricos, é im-
fosse o propósito do mapa estabelecer fronteiras, de- portante compreendê-los como reflexo de uma época.
fender o Estado contra seus inimigos ou facilitar o Sua elaboração, naturalmente, é motivada por interes-
planejamento e assim racionalizar a administração”. ses e argumentos próprios do período. Os personagens,
As preocupações acerca do uso da iconografia as- diretamente participantes na construção do documen-
sociada ao texto escrito há algum tempo, são objeto to, estão racionalmente cercados de motivações que os
de análise. Estudos verificam a dificuldade em ler a conduzem a expressar, com uso de técnicas aceitas
imagem, decodificar sua narrativa, sendo forte barreira e conhecidas, em imagem a mensagem destinada aos
para considerar a iconografia como fonte capaz de for- seus pares. Observa Furtado (2010, p. 25) que “todo
necer informações, até porque a não compreensão do mapa é um conjunto de signos, símbolos que só po-
documento impossibilita realizar as perguntas neces- dem ser compreendidos e decodificados com base nos
sárias à pesquisa. Assim, a opção pelo movimento con- elementos da própria cultura na qual foi elaborado”.
trário, ou seja, adaptar ou construir uma imagem ao Hoje, para aproximarmos da condição que per-
argumento do texto escrito é um processo mais seguro. mita realizar essas leituras, é fundamental formular
Os textos visuais, associados com maior frequên- a análise considerando o período, os ambientes físi-
cia ao contexto artístico e social, ficaram relegados cos e sociais em que as informações foram registra-
à condição de ilustração dispensável ou superlativa. das na iconografia, e os procedimentos adotados na
Muitas vezes são deixados de lado, pela ambiguida- confecção dos mapas por meio de normas, técnicas e
de e pelos obstáculos de suas leituras [...] embora métodos de feitura.
habitualmente a linguagem visual seja considerada Em qualquer estudo iconográfico, só por meio do
de transmissão direta, ela acaba tendo uma postura contexto se pode descobrir adequadamente o significa-
parasitária em relação à linguagem verbal. (BIANCO do e a importância do objeto de análise. Tais contextos
e LEITE, 1998, p. 37-49). podem ser definidos como as circunstâncias em que
É importante considerar que a imagem, como, por se fizeram e usaram os mapas (HARLEY, 2005, p. 84).
exemplo, um mapa do século XVIII, pode criar dificul- Vejamos, então, a análise de quatro mapas do
dades ao desenvolvimento do texto escrito, pois o con- século XVIII, as primeiras representações conhecidas
junto de códigos e símbolos reunidos na iconografia da Capitania de Goiás.
possui sentidos muito particulares, destacando o fato
de que a cartografia do período procurava sintetizar o VOU por Letra aos pés de Vossa Excelência; ainda que a minha
que se sabia e o que se imaginava sobre o território e mayor furtu-na, e honra seria fazelo pesoalmente, estribado sem-
pre porem naquele/profundo respeito, e acatamento, que á de tem-
comunicar visualmente, muitas vezes de forma gene-
po taõ antigo traz a origem, que/objectivamente tive, e devo à Sua
ralizada, o que interpretavam da realidade da época. Excelentíssima Pesoa; mas sempre com a Sustada, e duvi-/doza
Os esforços dos autores do século XVIII foram o rezoluçaõ, de que me seja contada por temeridade esta determina-
de legitimar a cartografia como imagem fiel do espaço çaõ; eu/ative quando soube a estimável, agustoza noticia, de dar
representado e, por isso, são essas imagens que hoje a Vossa Excelência o parabéns/por carta, da acertadisima eleiçaõ
podemos recorrer para estudar este período. Em outras que o nosso soberano fizera de nomear/a Vossa Excelência seo Se-
palavras, por mais que seja difícil o estudo dos mapas cretário de Estado, emprego ainda que infeior aos altos mere-/ci-
setecentistas, é este o acervo que iconograficamente mentos de que Vossa Excelência se orna, sempre venturozo para a
melhor representa o período. Portanto, é esse acervo Monarchia, de ter/hum Ministro taõ destinto que a derija.
WILSON VIEIRA JÚNIOR – Graduado em História pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) em 2003. Mestre (2010) e
Doutor (2015) em Teoria e História da Arquitetura pelo Programa de Pós-Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade de Brasília (FAU/UnB). Durante o período de 2011 a 2014 foi Coordenador do Arquivo Histórico do Arquivo Público do
Distrito Federal, onde idealizou e coordenou o “Projeto Documentos Goyaz” e o processo de tratamento documental e digitalização
do acervo permanente da instituição. Atua na área de História, com pesquisas voltadas para o estudo do Distrito Federal e Goiás nos
períodos colonial e imperial, cartografia histórica e paleografia. E-mail: wilsonvieirajr@gmail.com
34
Assim, tem início o ofício que o secretário de go- Ao final do prazo es-
verno da Capitania de Goiás, o português Ângelo dos tabelecido de 20 dias, ha- (2) Cabia à Contado-
Santos Cardoso enviou a Sebastião José de Carvalho via o total de 13 candida- ria Geral de Guerra
e Mello, Secretário de Estado (1750), futuro Conde de tos, alguns com vivências a administração das
Oeiras (1759) e Marquês de Pombal (1769). O docu- profissionais na metrópole finanças despendidas
mento que compõe o acervo documental referente a e nas colônias lusitanas, com as tropas, paga-
Goiás está guardado no Arquivo Histórico Ultramari- com importantes atua- mento aos soldados
no (AHU) e trata-se de um relatório sobre a capitania, ções como secretário, pro- e despesas em geral
escrito em 1755 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 12, D. 740). vedor e ouvidor nas admi- registrados em livros.
O texto apresenta a Carvalho e Mello os aspectos ge- nistrações de São Paulo, Na Contadoria locali-
rais da ocupação e formação territorial, os problemas Maranhão e Pará. Isso era zada na Corte, toma-
existentes e comenta acerca da povoação e da parti- uma grande vantagem, va-se a contabilidade
cipação eclesiástica. considerando toda a sor- do orçamento gasto,
A elaboração de relatório sobre a capitania ca- te de dificuldades enfren- portanto existiam li-
bia ao secretário de governo, funcionário nomeado tadas durante o processo vros de armas des-
pelo rei, obrigatoriamente pessoa letrada, limpo de de ocupação em extenso tinadas aos capitães
sangue (1), homem de segredo e membro das classes território muito ainda por e suas companhias,
sociais mais elevadas, que assessorava diretamente o conhecer, que envolvia a livros dos cavalos en-
governador, sendo responsável pelos trâmites buro- montagem e condução da tregues ao exército, li-
cráticos do governo, guar- estrutura imposta pelo vros de receita e des-
dião de toda a documen- regime, controle sobre a pesas das unidades
tação emitida e recebida mineração e caminhos de militares etc.
(1) No mundo portu- pela autoridade adminis- acesso, combate e domi-
guês, havia normas trativa da capitania. Ca- nação aos grupos indíge-
segregadoras aplica- bia também ao secretário nas, a contínua expansão
das aos novos conver- informar à Coroa a atua- do território conjugada com a constante disputa pela
tidos à fé cristã (mou- ção do governador no de- defesa dos interesses lusos nos limites.
ros, judeus e negros) sempenho das ordens ré- A vivência de Cardoso era no reino, assumindo
e a seus descenden- gias determinadas ao seu funções na contadoria geral de guerra (2), almoxarife
tes. Ao cristão novo governo. Era determinado das casas de Lisboa (3), posto que ocupou durante
não era permitido as- aos governadores comu- nove anos, e em serviços a real fazenda, atribuições
sumir determinadas nicar: (i) as condições po- essas relacionadas à importante tarefa de arrecadar e
funções no Estado, líticas e de negócios, (ii) o administrar os tributos e garantir o patrimônio finan-
muito menos os altos estado militar e (iii) as fi- ceiro da Coroa. Era funcionário de confiança. Com
cargos, que somente nanças e rendas reais. elogiados serviços prestados, seus conhecimentos
eram reservados aos A secretaria de go- acerca do sistema de arrecadação lusitano o quali-
cristãos velhos e suas verno polarizava as infor- ficavam para assumir funções na administração de
tradicionais famílias mações administrativas- arraiais auríferos, o que justificou a escolha de Dom
católicas, portanto -jurídicas-militares sobre João V ao nomeá-lo secretário do governo em 14 de
“limpos de sangue”. a capitania e as repassa- setembro de 1748 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 495).
va à metrópole em listas O novo secretário dirigiu-se à Goiás no ano de
regulares. Em virtude das 1749, acompanhando o governador Dom Marcos de
incumbências do cargo, Noronha (1749-1755), Conde dos Arcos, o primeiro a
os relatos do secretário reuniam um conjunto de da- exercer o cargo na capitania recém criada em 1748 e
dos fundamentais para a administração portuguesa com território independente de São Paulo. A comitiva
(MELO, 2005). do governador chegou à capital Vila Boa no dia 6 de
Cardoso concorreu à seleção organizada pelo novembro, e Ângelo Car-
Conselho Ultramarino e divulgada em editais distri- doso redigiu o termo de
buídos pela corte. Aos interessados, exigiu-se a apre- posse em cerimônia reali-
sentação dos “seus papeis”, ou seja, que demonstras- zada dois dias depois. (3) Oficial régio que,
sem as credenciais e experiências que os qualificavam em certo quadro ter-
ao cargo. Aos 8 dias do mês de No- ritorial, o almoxari-
No século XVIII, para os membros da aristocra- vembro de 1749, nesta vila fado, promove a ar-
cia portuguesa, assumir cargos a serviço da Coroa, Boa de Goiás, nas casas da recadação das rendas
no governo, na administração e no corpo militar, con- câmara dela, na presença do do patrimônio régio
tribuía para sustentar e reafirmar o título de nobreza senado da câmara da mesma e das outras casas
ao indivíduo e por extensão à família perante a socie- vila e povo dela, sendo aí lida reais. Os almoxarifes
a patente real com que S. M. eram juízes dos Direi-
dade e ao Estado.
faz e nomeia governador e tos Reais e Executores
Socialmente, a participação da aristocracia su- capitão-general destas minas
blinhava as virtudes nobres desta classe. Por isso, das suas receitas (CA-
ao Ilm.o Exm.o Sr. D. Mar-
colocava-se como merecedora das nomeações para os PELA, 2005).
cos de Noronha, em virtude
altos cargos (MONTEIRO e CARDIM, 2011, p. 82-83). de que tomou posse do mes-
35
mo governo. De que fiz este termo, em que assinaram o dito Ilm.o
tória a Minas Gerais, e outro ao governador de Ma-
Exm.o Sr. governador e capitão-general e oficiais da câmara. – E
eu Ângelo dos Santos Cardoso, secretário do governo, o escrevi e ranhão-Pará. Em fins de 1746, este determinou ao
assinei. – D. Marcos de Noronha. – Ângelo dos Santos Cardoso. secretário do governo, José Gonçalves da Fonseca,
– Agostinho Luiz Ribeiro. – Manoel da Silva. – Inácio Barbosa da que reduzisse a um mapa a encomenda de Gusmão,
Silva. – João Ferreira Barros. (ALENCASTRE, 1979) ou seja, o desenho e informações do rio da Madeira e
das minas do Mato Grosso, prontamente elaborado e
Ângelo Cardoso, quando escreveu o relatório de enviado ao diplomata.
1755, já se encontrava há seis anos no sertão goiano, Provavelmente, Cardoso foi um dos correspon-
tempo que já o credenciava como relator das condi- dentes de Gusmão, pois deixa evidente na continua-
ções das minas. Havia percorrido parte do território ção do relatório de 1755 ao mencionar o envio de um
acompanhando o governador do Rio de Janeiro Go- mapa ao diplomata em 12 de maio de 1750.
mes Freire de Andrade, que acumulava as funções de
governador interino das Minas Gerais e São Paulo, Concidero, a Vossa Excelência já com algumas luzes naõ pe-/que-
homem poderoso e de plena confiança de Dom João nas, da situaçaõ deste Continente, naõ só porque seria publico hum
V. Estava o governador em Goiás para demarcar as Ma/pa nese Ministerio, que eu remeti a Alexandre de Gusmaõ,
minas de diamantes dos rios Claro e Pilões. Durante que Deus haja,/em 12 de Mayo de 1750, que foy o prim.ro mais
ajustado, que lá apareceo até/aquele tempo, e o menos distante da
a jornada, ambos visitaram o arraial de Paracatu, que
verdade da destrebuiçaõ desta Comarca,/e seos Arrayaes, mostran-
Gomes Freire defendeu alguns anos antes, a posse
do o caminho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal, e daqui
para Minas Gerais quan- ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da Madeira, té o das Amazonas,/que
do pretendia-se incluir no à força de deligência alcancey de hum sugeito capacisimo, na ma-
(4) Condição admi- território de Goiás, e San- teria de/fazer Mapas, que pesoalmente viagou quazi toda a imen-
nistrativa e jurídica ta Luzia, descoberto re- sa extensaõ dos/referidos caminhos, e de propozito lavrou a meos
conferida pelo gover- cente (1746) que naquele rogos o que remetî. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 740, fl. 2).
nador e adotada em ano de 1749 foi elevado à
núcleos de povoa- categoria de Julgado (4). Os conhecimentos sobre a colônia apreendidos
mento nas regiões de Em seu relatório, por Alexandre de Gusmão serviram à justificativa de
conquista em que a menciona Cardoso que possessão portuguesa em território contestado pela
Coroa não havia auto- conheceu um especialista Espanha durante as negociações para a revisão dos
rizado a formação da em cartografia, cujo nome limites na América do Sul, que resultaram na assina-
vila. No julgado não não cita, que teria viajado tura do Tratado de Madrid em 1750.
havia Câmara como pela capitania e elabora-
Prosseguindo em seu relatório, Ângelo Cardo-
nas vilas. Um grupo do a primeira representa-
so menciona a presença na capitania do cartógrafo
de funcionários com- ção cartográfica de Goiás,
e geógrafo Francisco Tosi Colombina. De acordo com
posto por juiz e tabe- com os arraiais e os ca-
o historiador Paulo Bertran (2000), Tosi Colombina
lião, nomeados pelo minhos. Ângelo Cardoso
era um entre tantos outros italianos que trabalharam
governador e estabe- atesta ainda que o mapa
para Portugal com o objetivo de propor mudanças es-
lecidos nos principais foi enviado em 12 de maio
truturais na colônia e que, oportunamente, passa-
arraiais, era subordi- de 1750 ao diplomata Ale-
ram a tentar enriquecer no Brasil. Tal intenção levou
nado ao poder central xandre de Gusmão, pro-
os italianos a percorrerem as capitanias brasileiras e,
da vila. vavelmente com o objetivo
assim, Tosi Colombina chegou em Goiás.
de fornecer informações
A serviço do Conde dos Arcos, o cartógrafo ita-
sobre as ocupações oci-
liano foi encarregado de levantar informações sobre
dentais da colônia, prin-
cipalmente àquelas situadas além do Tratado de Tor- a capitania e as registrar em um mapa, tarefa que
desilhas. realizou e entregou ao governador em 6 de abril de
Alexandre de Gusmão, natural de Santos e com 1751. Portanto, a autodenominada “Primeira carta
ascendente carreira em serviços dedicados à soberania da Capitania de Goiás pelo engenheiro italiano Fran-
de Portugal, era convicto da necessidade de conhecer cisco Tosi Colombina” (Cf. neste GUIA p. 135-136),
a geografia, a história, a etnografia e as riquezas natu- foi elaborada um ano depois do mapa enviado por
rais das regiões de soberania incerta entre a América Ângelo Cardoso. Este, por sua vez, comenta que Tosi
lusa e a espanhola. A ele parecia, acertadamente, que Colombina, sabendo da existência do mapa da Ca-
o domínio português e a formação territorial do Brasil pitania de Goiás, solicitou uma cópia, pedido que foi
não poderiam prescindir do amplo conhecimento da prontamente atendido pelo secretário. Ou seja, foi
geografia e da história, em sua concepção. Sendo as- feito uma reprodução do documento anteriormente
sim, Gusmão tomou a iniciativa de enviar cartas aos enviado a Alexandre de Gusmão.
funcionários reais que tinham, por destino, o servi-
Na mesma conjuntura que eu cheguey a esta Vila/Em companhia
ço no interior da colônia. A eles, solicitava inventário do Senhor General Gomes Freire de Andrada, também veyo hum
acurado do território, observando os aspectos natu- Italiano/Italiano, por nome Francisco Tosi Columbina, na cometi-
rais e sociais dos ambientes por onde transitariam. va do ouvidor/novo Agostinho Luiz Vieira, que Vinha entaõ para
O historiador Jaime Cortesão (2001, v. II, p. esta Comarca; o qual/Columbina dahy a quazi hum anno, foy em
150-153) descobriu dois desses documentos: um de companhia do mesmo Ouvidor correr/a Comarca; e levou ordem
1743, endereçado a servidores em missão demarca- do Senhor Conde dos Arcos General desta Capitania, para hir ob-/
36
servando as alturas dos Arrayaes, e
Brasil Colonial (1500 – 1822)” organizada nos volu-
(5) A autoria de um situações da mesma Comarca; pela/
curiozidade que se lhe descubrio, mes I Texto e II Mapas.
mapa não resume o Na obra, Adonias atribui a autoria do “Mapa da
de ser enfarinhado em Geografia;
saber a um único per- pedio-/me o referido Columbina, a Capitania de Goiás e regiões circunvizinhas mostran-
sonagem. Como en- copia do Mapa, que eu já anteceden- do as comunicações entre as bacias do Prata e do
sina o geógrafo João temente/tinha na maõ, de que havia Amazonas” (Cf. neste GUIA p. 42), a Francisco Tosi
Carlos Garcia (2002, remetido o original para a Corte a Colombina. Na análise da autora, o mapa é conside-
p. 39), a produção de Alexandre/de Gusmaõ, e dele sevales rado uma variante do mapa original, elaborado por
uma carta exigia um para formar outro com pouca dife- Colombina, portanto uma cópia em que, conforme
corpo de profissionais rença, exce-/pto em alguma exacçaõ observa, faltam “as duas legendas do original, a pri-
com conhecimentos das alturas dos graõs, em que fica-
meira contendo uma nota dirigida pelo autor a Dom
em astronomia, to- vaõ os Arraya/es, e algum rio, ou ci-
Marcos de Noronha, e a segunda, uma explicação dos
pografia, desenho, tio que descobrio de novo; este Mapa
que fez o tal/Italiano, seria vezivel a caminhos” (ADONIAS, 1960).
engenharia e arqui- Similar ao mapa de Cardoso, no de Colombina
Vossa Excelência; o que talvez não
tetura. Nos confins escaparia à Sua penetrante prespi- consta os arraiais auríferos e os limites da capitania.
da América Colonial, cacia, se por acazo o conversou, que A diferença está no fato de que Colombina traçou pelo
muitas dessas atribui- Columbina pe-/ca alguma coiza em rio Jangada, e no mapa de Cardoso os limites com o
ções eram exercidas visionário. (AHU_ACL_CU_008, da Capitania do Mato Grosso foram traçados pelo rio
por funcionários ou Cx. 8, D. 740, fl. 2-3) das Mortes seguindo a proposta do Conde dos Arcos.
pessoas contratadas Conforme Alencastre (1979), Dom Marcos de No-
com conhecimentos Imagina-se que, com ronha sempre defendeu os limites com o Mato Grosso
práticos. No século base no mapa de Ângelo “pelo rio das Mortes, confluente do Araguaia, por uma
XVIII, foram poucos Cardoso, Tosi Colombi- linha de suas cabeceiras até o rio Taquari, por ele abai-
engenheiros com for- na se lançou em viagem xo até a barra do Cuxim, e por este acima até Cama-
mação acadêmica que pela Capitania de Goiás, puan até as cabeceiras do rio Pardo” (Figura 1), o que
atuaram na capitania cotejando e coletando in- expôs em carta ao rei Dom João V, em 12 de janeiro de
de Goiás. formações que colheu de 1750 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 429). A diferença
viajantes e sertanistas, entre os dois mapas também é observável em outros
somadas às suas expe- detalhes: a) a referência no mapa de Colombina a um
riências pessoais (BARBO & SCHLEE, 2009). O novo arraial da “Cambayuba”, próximo à Vila Boa, quando
mapa, então elaborado, objetivava reforçar a intenção sabe-se, pelos documentos e pela historiografia, que a
de Tosi Colombina (e sócios) de implementar uma es- Cambaúba não era um arraial, mas uma parte da ma-
trada ligando Santos a Cuiabá, pelo qual solicitaram lha urbana de Vila Boa. Na Cambaúba, estabeleceram
ao rei Dom José I (1750-1777) sesmarias e privilégios os pioneiros ranchos para minerar o rio Vermelho, e
de exploração durante dez anos. (AHU_ACL_CU_008, era o trecho da estrada
Cx. 8, D. 554) que ligava o povoado a ou-
O mapa assinado por Tosi Colombina tem sido tras regiões da colônia. No
considerado pela historiografia como a primeira re- decorrer do século XVIII, (6) O mapa consta das
presentação cartográfica de Goiás. Outros tantos do- ali se instalaram pretos peças trocadas com o
cumentos cartográficos com desenho semelhante ao forros, soldados, casais de governo português
de Colombina, porém sem assinatura, (encontrados pardos, uma camada so- no âmbito do Con-
em acervos documentais como da Biblioteca Nacio- cial mais pobre (COELHO, vênio Luso-Brasileiro
nal, do Ministério das Relações Exteriores e do Ar- 2013, p. 33). É de se estra- de 1867 sobre Carto-
quivo Histórico Ultramarino) são considerados cópias nhar que Colombina, uma grafia Portuguesa. O
posteriores ou de autoria atribuída ao próprio cartó- vez que esteve presente no tratado sugerido pelo
grafo italiano. povoado, tenha confundi- diplomata brasileiro,
As evidências encontradas permitem inferir sobre do uma região da vila com o barão Duarte da
os interesses que motivaram a feitura dos mapas. Car- um arraial separado, em Ponte Ribeiro (1795-
doso, intencionado em atender ao governo português uma época que não mais 1878), teve como
na consolidação da posse do território, e Colombina, se minerava ali e estavam propósito remeter
ao atender o governador, buscava garantir o apoio consolidadas as moradias documentos carto-
para a implementação do empreendimento comercial. no tecido urbano; b) a gra- gráficos referentes ao
Assim quer nos parecer que o relatório de 1755, fia do termo sertão, com Brasil encontrados
elaborado por Ângelo dos Santos Cardoso, sugere a “S” no mapa de Colombi- em Lisboa em troca
necessidade de um reexame das interpretações pro- na e com “C” no mapa de dos correspondentes
duzidas. O documento traz novas possibilidades, pon- Cardoso; c) diferentes re- a Portugal existente
tua novas descobertas e indica novos esclarecimentos. presentações das cabecei- nos arquivos brasilei-
O mapa organizado (5) por Cardoso consta do ras do rio Maranhão e, um ros (Ver: ADONIAS,
acervo da mapoteca do Ministério das Relações Ex- pouco mais abaixo, a pre- 1984, p. 44-48; MANI-
teriores brasileiro (6), cujo fac-símile foi publicado sença do topônimo Sobra- QUE, 1949).
por Isa Adonias em 1960, na coletânea cartográfica dinho (Figura 2) no mapa
intitulada “Mapas e Planos manuscritos relativos ao de Cardoso, que deve ter
37
Figura 1 – Os limites ocidentais da capitania de Goiás pelo rio das Mortes. O mapa de Ângelo dos Santos Cardoso segue
a preferência do governador Dom Marcos de Noronha.
Figura 2 – Pormenores dos mapas de Tosi Colombina e Ângelo dos Santos Cardoso. No quadrado vermelho as diferentes re-
presentações das cabeceiras do rio Maranhão. A seta vermelha aponta as discrepâncias em relação ao topônimo Sobradinho.
conhecido na ocasião da viagem que fez com o gover- O documento está relacionado no acervo do AHU com
nador Gomes Freire, e a ausência no mapa assina- o número 603 (AHU_ACL_CU_008, Cx. 9, D. 603).
do por Tosi Colombina; e d) somente a representação Juntamente ao ofício seguiram dois mapas, sem as-
do cartógrafo italiano menciona o relevo em cadeia, sinatura, que, desmembrados do referido documen-
contudo não apresenta exatidão, parecendo mais refe- to, estão catalogados na cartografia de Goiás como:
rências às serras que compõe o cenário geológico das AHU_CARTm_008, D. 0866 /D.867, neste GUIA p.
chapadas do Centro-Oeste. 57 e 58.
Com tais discrepâncias, tudo indica que os ma- Pelas características das atribuições de secretá-
pas não teriam a mesma autoria. Sendo assim, a his- rio de governo, é de se considerar que o documen-
toriografia tem, ao longo dos anos, equivocadamente to 603 tenha sido redigido por Cardoso e assinado
considerado o mapa de Cardoso como sendo o pri- pelo Conde dos Arcos. Reforça a suspeita, a grafia e o
meiro mapa de Colombina. estilo da redação, semelhante ao do documento que
Em 12 de setembro de 1753, o Conde dos Arcos Cardoso enviou ao Marquês de Pombal. Nos mapas,
encaminhou ao secretário de estado da Marinha e Ul- encontram-se as mesmas características dos ante-
tramar, Diogo de Mendonça Corte Real, uma carta riores, os limites, o Sobradinho, as cabeceiras do rio
em atendimento à ordem de Dom José I, que cobra- Maranhão, a grafia de sertão (cabe a observação que
va o fornecimento de informações claras e precisas em um dos mapas, “sertão” está grafado “Certam”).
sobre os arraiais, os caminhos e distâncias entre as Conde dos Arcos encontrava dificuldades em
minas, os postos fiscais e a arrecadação dos tributos. cumprir suas funções na capitania, o amplo territó-
38
rio e a distância entre os arraiais tornavam a admi- rior, ou se parte importante da cobrança não pudesse
nistração uma tarefa de difícil execução. O controle ser feita, ele amargaria prejuízo (CARRARA, 2011).
sobre as finanças, a arrecadação do ouro e o policia- A instalação de postos tributários distantes dos
mento para evitar o extravio e os impostos aplica- centros do comércio, no curso de estradas ou nas
dos à população e, associado a tudo isso, o comba- fronteiras da capitania, dificultaria o controle sobre
te da corrupção com aplicação das leis, necessitava o extravio do ouro e mercadorias, o que resultaria
de aparato que o governo não possuía. Era fato que em menor arrecadação e o consequente prejuízo do
as informações sobre a capitania careciam de pre- contratador. Reclamavam, também, que os gêneros
cisão. Naturalmente, não era fácil dar conta de 31 das fazendas do sertão não passariam pelos Regis-
povoados, reduções de índios e fazendas interligan- tros instalados fora dos povoados, acarretando a não
do estradas e caminhos e as dificuldades em man- cobrança dos direitos.
ter suas condições de trânsito, a presença da Igreja Por outro lado, os comerciantes do sertão argu-
com o poder dos párocos e do bispado, funcionários mentavam que pagavam direitos outros, mesmo sem
e autoridades do governo que respondiam ao rei ge- passar pelos Registros. Portanto, preferiam entrar
rando conflitos com o poder do governador, o trânsito “para dentro dos Registros”, ou seja, estar submeti-
de mineradores e comerciantes e, para completar, os dos à tributação única dos postos fiscais.
limites de fronteira constantemente contestados por Era nas fazendas lo-
Mato Grosso. calizadas do sertão do Pa-
Os documentos cartográficos ajudariam Dom ranã ao Sertão das Terras
Marcos de Noronha a transmitir o cenário de tama- Novas que os fazendeiros, (7) Registros e Conta-
nhos problemas. A iconografia representa o ambiente além da criação de gado gens eram postos fis-
físico, composta pela legenda e o texto da carta ao rei- vacum e cavalar, produ- cais em que o tributo
no que por sua vez procuram comunicar o ambiente ziam produtos como fari- de importação – En-
social da Capitania de Goiás. nha, carne seca, milho e tradas – era cobrado
bananas, gêneros comer- sobre os gêneros que
porem para de algum modo/dar cumprimento ao que o mesmo cializados nas minas. In- dessem “entrada”,
senhor me determina, ponho na sua/Real presença o mapa desta satisfeitos com o excesso como o nome indica,
capitania que junto com esta [carta] remeto./Naõ o ofereço como
fiscal, os moradores do nas novas minas. E
o mais exacto; mas por ser feito conforme/as melhores, e mais
exactas averiguações que atégora se tem/podido adquirir. Nele se Sertão das Terras Novas onde o ouro em pó
mostra a cituaçaõ dos arrayaes/deste governo; e as distancias que encaminharam requeri- obtido nas transações
medeaõ de huns a outros, as partes/em que presentemente se achaõ mento ao governador de mercantis fosse subs-
estabelecidos os registros do contra/das entradas, advertindo, que São Paulo, Dom Luís Mas- tituído pelas barras já
a cituaçaõ dos arrayaes hé das pro-/prias minas, dos seos respec- carenhas. Reivindicaram quintadas, isto é, ali-
tivos nomes, porque naõ custum/haver arrayal, senaõ donde há a isenção do imposto do viadas em 20% de seu
minas, e com o próprio mapa/tenho dado a melhor informação que quinto, pois entendiam, peso, a título do im-
pude haver. (AHU_ACL_CU_008, Cx. 9, D. 603) e com razão, que era co- posto do Quinto, de
brança indevida, pois propriedade pessoal
Eis que o texto procura informar o rei sobre o deveria ser destinada so- do rei de Portugal,
formato da ocupação e localiza, geograficamente, os mente aos mineradores. pela graça de permi-
povoados como espaços de fixação e de exploração, Já bastava a cobrança de tir aos súditos a lavra
locais onde a vida se organiza na colônia. uma oitava de ouro por em terras minerais do
Continua o texto por abordar a localização dos cabeça de gado que en- Reino (BERTRAN,
Registros (7), cujos contratadores reivindicavam a trava para o comércio nas 2000, p. 82-83).
mudança dos postos fiscais para próximo dos arraiais minas (BERTRAN, 2000,
ou para o seu interior, situação esta que alguns já p. 62-64). Vale mencionar
se encontravam. Os contratadores não queriam que que os fazendeiros paga-
os Registros ficassem distantes dos povoados, locais vam à Igreja o imposto do dízimo, cobrado até o ano
que concentravam a captação do ouro e naturalmen- de 1751. Quando passou para o controle do Estado,
te o comércio vindo dos portos. Portanto, os arraiais a taxa era de 10% sobre produtos agropastoris.
eram os pontos mais rentáveis para o recolhimento Este documento é de 1740. O objeto do questio-
pelos Registros dos impostos das Entradas, que era o namento é o mesmo da discussão que contextualizou
tributo que incidia sobre as mercadorias importadas a carta do Conde dos Arcos e o da elaboração dos
e as de origem local e que circulavam entre os povoa- mapas 13 anos depois. O arrecadamento de tributos
dos. impostos pela Coroa era assunto espinhoso e dema-
A coroa portuguesa considerava mais convenien- siadamente injusto, pois novos tributos eram siste-
te colocar em leilão a cobrança de um determinado maticamente criados, sem considerar a capacidade
tributo por meio de contratos em que se acordavam o de renda e pagamento dos moradores.
tempo de duração e o valor que o contratador deveria Dois campos sinalizados por traços coloridos in-
pagar ao Estado. Se, ao final do período de vigência formam, nos mapas, a localização das áreas onde se
do acordo, o contratador conseguisse cobrar dos con- concentravam as fazendas de gado. As respectivas le-
tribuintes um valor superior ao acordado com a Co- gendas fornecem informações semelhantes, cujo con-
roa, ele teria lucro. Se o valor arrecadado fosse infe- teúdo procura descrever a região. Sinalizam que os
39
Figura 3 – Pormenor do mapa D. 866, onde se vê a delimitação da área que compreende as fazendas de gados.
“dous pequenos circullos, hum azul, e outro em car- são feita por Sebastião José de Carvalho e Mello res-
nado, não são terras mineraez e so nelas se achaõ fa- tituindo o imposto do quinto. Era o início do governo
zendas de gados” (AHU_CARTm_008, D. 0866). Pros- de Dom José I, e os primeiros passos do Marquês de
segue a explicação ao pontuar que o “certaõ de gados Pombal nas profundas reformas que pretendia aplicar
chamado Paranã, ou Itiquira que compreende todo o em Portugal e nas colônias, principalmente no Brasil.
circullo azul”, o “certaõ de gados chamado Duro onde O controle sobre a arrecadação, que passava pela vi-
esta cituada a aldeia do gentio”, este dentro dos limites gilância e punição ao descaminho e a corrupção, era
do anterior, e que a outra área delimitada é conhecida ponto focal na política de Carvalho e Mello.
por “Barra da Palma, ou Terras Novas certaõ de gados As legendas nos mapas comunicam a existência
[...], o qual territorio demarca o circulo em carnado”. de 15 Registros, indicados pela iconografia correspon-
Eis que as fazendas dividem o espaço com poucos ar- dente e observável nos desenhos. Também relaciona-
raiais e uma redução de índios, conforme representa- dos, estão os arraiais e a sede “Villa Boa de Goyaz”,
do no mapa. Entre os dois círculos, azul e carnado, lo- com a iconografia diferente dos demais povoados, e
caliza-se um arraial minerador, Arraias, representado conforme a legenda é a referência para “a qual ser-
em círculo menor e relacionado na legenda (Figura 3). vira de ponto fixo, ou centro para seguir-se aos mais
Havia, como pano de fundo nesse cenário, a refor- arayaes”. A cartografia mostra os povoados, identifica-
ma no método de cobrança dos impostos sobre a arre- dos por símbolos e letras que correspondem à legenda.
cadação do ouro e diamantes. A capitação era o siste- As distâncias são identificadas em números em meio
ma de tributação elaborado e defendido por Alexandre ao trajeto pontilhado, que correspondem à descrição
de Gusmão, como proposta para reduzir a quantidade dos Registros relatados no documento textual.
de tributos pagos e permitir o controle eficaz diante da
facilidade de se esconder e extraviar o ouro e diaman- As Cartas de ornaõ muyto, e se/fazem mais distintas, assinalando/
te nas minas, resultando em prejuízos ao erário real. as povoaçoens com os seus sinaes/de Capital [...] /Estes sinaes se
Este sistema vigorava desde 1735, quando foi extinto costu-/maõ pór nas grimpas dos campana-/rios, que representaõ
pela Lei de 3 de dezembro de 1750, a partir da revi- hua povoa-/çaõ, sendo humas mais avultadas,/ que outras, confor-
40
me a grandeza/dos lugares, e sempre deve avultar/mais que todas
Ao Norte da capitania,
a que for Capital; e/como estas occupaõ mais espaço no/papel, para (8) Cf. Bluteu,
se tomar a sua distancia/a qualquer outra, deve ter no meyo/huma observa-se a Ilha do Gen-
tio Curumaré, cercada pelo “districto” signifi-
cifra, e hum pontinho no/meyo dela para notar a sua justa/posição.
(FORTES, 1722, p. 196) rio Uruguai e a oeste tendo ca espaço de terre-
o rio das Mortes, disputado no dentro de cer-
Em se tratando de mapas portugueses do século divisor natural entre Goiás tos limites.
XVIII, a análise iconográfica deve levar em conta as e Mato Grosso. Complemen-
orientações do “Tratado do modo o mais fácil e exacto ta o cenário da cartografia,
de fazer as cartas geográficas, assim de terra como de outras referências à presen-
mar, e tirar as plantas das praças”, de 1722, trabalho ça indígena em espaços não ocupados pelo coloniza-
de Manoel de Azevedo Fortes, Engenheiro-mor res- dor e, assim, denominados sertão, porém informados
ponsável pela reformulação do ensino cartográfico em como posse portuguesa, uma vez que se encontram
Portugal. Os ensinamentos de Azevedo Fortes foram inseridos nos limites demarcados.
produzidos com base nas experiências profissionais O relevo está representado por símbolos em meio
do autor, e em conhecimentos difundidos por trata- aos arraiais auríferos, ao longo dos caminhos e en-
dos surgidos na Itália, Holanda, França e Inglaterra tre as cabeceiras dos cursos d’água, com exceção do
desde o século XVI. Os padrões de uniformização da mapa de 1750 que não consta nenhuma simbologia
informação cartográfica, utilizando códigos, sinais, deste aspecto. Sem a preocupação com a exatidão,
símbolos e cores, foram aplicados na produção do co- mas parecendo querer informar ao leitor a existência
nhecimento sobre a América Colonial. das formações na região e a relação com a ocorrência
Nos setecentos, a produção cartográfica estava dos achados minerais em meio a elas, nas margens
orientada à precisão científica, elaborada com base dos cursos d’água que correm nos vales. No Nordes-
em técnicas, métodos e instrumentos. Os mapas das te da capitania, está assinalada a Serra dos Geraez,
regiões das minas assumiram, nos séculos XVII e ou Geraes, formação geológica que, naturalmente, foi
XVIII, a condição de importantes documentos para assumida como fronteira.
Portugal, sendo considerados segredos que deveriam Assim, quer nos parecer que Ângelo dos Santos
ser protegidos. Naturalmente a padronização da co- Cardoso, português, secretário do governo de Dom
municação facilitava a assimilação dos mapas (BUE- Marcos de Noronha, em suas atribuições, cumprindo
NO, 2011, p. 300-308). É perceptível, na cartografia o propósito de descrever a Capitania de Goiás, as-
aqui abordada, a articulação dos elementos, símbo- sessorando o governador e Coroa, organizou aquele
los, cores e texto, com o propósito de comunicar o que pode ser o primeiro mapa da Capitania de Goiás
ambiente, atentando-se para a funcionalidade da in- e dois outros, os primeiros a localizar os Registros e
formação. Contagens, e a demonstrar a espacialização territo-
Os limites estão traçados em aquarela nas co- rial sinalizando as áreas de gado e plantio, e as terras
res ocre (1750) e amarelo (1751 e 1753). Os mapas minerais. Seu trabalho (relatórios e mapas) contri-
organizados por Cardoso, 1750, e por Colombina, buiu para a administração do processo de ocupação
1751, localizam a região no território do Brasil ao re- na colônia e serviu de base documental ao governo
presentar ao Norte o Maranhão, a Ilha de Joannes de Portugal nas disputas diplomáticas pelo território.
(atual Ilha de Marajó) e o rio Amazonas, grafado R Tudo indica que Paulo Bertran (2002) concluiu,
das Amazonas (1750), e Rio das Amazonas (1751), e acertadamente, que Ângelo dos Santos Cardoso “foi o
ao Sudeste as povoações da Capitania de São Paulo, primeiro cartógrafo do Brasil Central, o qual forneceu
entre elas Santos e São Paulo. A expressão “Destricto seu mapa pioneiro ao italiano Tosi Colombina, e para
de Goyaz”(8), exposta no mapa de Cardoso, reforça este ficou toda fama depois”.
os limites da capitania e a distribuição junto a outras Sem dúvida, a configuração dos mapas organi-
em um mapa geral do Brasil. zados por Cardoso resultou em um padrão cartográ-
A rede hidrográfica, bem salientada, era utilizada fico observável na cartografia de Goiás até final do
como caminhos fluviais de acesso à capitania já ex- século XVIII. Os mapas confeccionados após o perío-
plorados à época dos mapas por sertanistas e demais do no qual Cardoso desempenhou as funções como
viajantes. Um dos relatos mais antigos é o da viagem secretário tomaram como base o conjunto organiza-
do tropeiro José da Costa Diogo, em 1734-1735, em do por ele, e contribuíram para fundamentar os ar-
busca de ouro pelo rio Tocantins até Belém do Pará gumentos do discurso da possessão portuguesa no
(AHU_ACL_CU_008, Cx. 1, D. 12). Destaque para o território. Na elaboração do historiador Elias Manoel
rio Tocantins, grafado R. Tucantins (1750), e o rio da Silva, exposta na Introdução deste GUIA, criou-se
Grande como os cursos mais caudalosos que a eles o “Padrão Cartográfico”. O contínuo ato de mapear
ligam-se canais secundários como ao primeiro, o R. demonstrou-se como uma estratégia de posse. A pro-
Uraguaya e o R. Maranhaõ (1750 e 1753), Uruguaya dução ininterrupta do conhecimento sobre a região
e Rio Maranhaõ (1751), e ao segundo o R. Parnayba contribuiu para a estruturação do poder do Estado,
(1750), Parnnayba (1751) e R. Parnahiba (1753). No que pode ser constatada na organização das divisões
limite setentrional, no curso do Tocantins está as- administrativas das capitanias, nas medidas adota-
sinalado o Salto da Itaboca (1750 e 1751), Salto da das em relação aos núcleos de povoamento e controle
Taboca (1753), queda d’água que oferecia desafio aos social, finanças, justiça, militar, logística de comércio
navegantes. e abastecimento de gêneros e mão de obra.
41
No intervalo de três anos, de 1750 a 1753, foram Abastecer a Coroa de informações era a exigên-
elaborados quatro mapas da Capitania de Goiás, comu- cia de Pombal como primeiro ministro de Dom José
nicando “visualmente” ao poder central português, a go- I, imposta aos mandatários que assumiam os go-
vernança no território colonial. Conforme Bellotto (1986, vernos das capitanias e, por extensão, a todo corpo
p. 265), na lógica do absolutismo instalado no século burocrático de servidores do Estado. Estes, por sua
XVIII, o tempo administrativo era crucial para o exercí- vez, participavam a favor da nova conjuntura políti-
cio do bom controle das capitanias, ou seja, a adminis- ca, compreendiam que a colônia não poderia ter uma
tração centralizadora localizada em Lisboa preocupava- administração distanciada e sim mais presente. Con-
-se com duração da tramitação das tomadas de decisões siderados homens de confiança do primeiro ministro,
entre as autoridades e os súditos, em consequência das intentavam e se esforçavam em cumprir as instru-
distâncias continentais e no imenso território do Brasil. ções conferidas pelo poder central.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADONIAS, Isa. Mapas e planos manuscritos relativos ao Brasil colonial: 1500- MONTEIRO, Rodrigo Bentes; CARDIM, Pedro. Seleta de uma sociedade: hie-
1822. Rio de Janeiro: MRE, 1960. rarquias sociais nos documentos compilados por Diogo Barbosa Machado. In:
MONTEIRO, Rodrigo Bentes et al. Raízes do privilégio: hierarquias sociais no
ALENCASTRE, José Martins Pereira. Anais da província de Goiás 1863. Brasí- mundo ibérico do Antigo Regime. Rio de Janeiro: Record, 2011.
lia: Gráfica Ipiranga, 1979.
MORAES, Antônio Carlos. Território e história no Brasil. São Paulo: Anna Blu-
ALVES CARRARA, Angelo. A administração dos contratos da Capitania de Mi- me, 2005.
nas: o contratador João Rodrigues de Macedo, 1775-1807. Am. Lat. Hist. Econ,
México, n.35, jun. 2011. Disponível em: <www.scielo.org.mx/scielo.php?scrip- RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das especiarias: o império da pimenta e do
t=sci_arttext&pid=S1405-22532011000100002>. Acesso em: 29 set. 2013. açúcar. São Paulo: Contexto, 2004.
BARBO, Lenora de Castro; SCHLEE, Andrey Rosenthal. A cartografia histórica SALLES, Gilka V. Ferreira de. Economia e escravidão na Capitania de Goiás.
e os caminhos de ocupação do atual Distrito Federal, In: Anais do III Simpósio Goiânia: CEGRAF/UFG, 1992.
Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto – MG, Brasil, 2009. VIEIRA JÚNIOR, Wilson; SCHLEE, Andrey Rosenthal; BARBO, Lenora de Cas-
BERTRAN, Paulo. História da terra e do homem no Planalto Central: eco-histó- tro. Tosi Colombina, autor do primeiro mapa da Capitania de Goiás? In: Congres-
ria do Distrito Federal: do indígena ao colonizador. Brasília: Verano, 2000. so Brasileiro de Cartografia: Cartografia, ferramenta para ordenamento e gestão
territorial, XXIV, 2010, Aracaju. Anais. [S.I.]: Sociedade Brasileira de Cartografia,
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architec- 2010.
tonico... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1712 - 1728. 8 v.
Projeto Resgate Barão do Rio Branco, Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), co-
BUENO, B. P. S. Desenhando o Brasil: o saber cartográfico dos cosmógrafos e tas dos documentos avulsos referentes a Capitania de Goiás citados no texto:
engenheiros militares da colônia e do império. In: Roteiro prático de Cartografia:
da América Portuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: UFMG, 2007. AHU_ACL_CU_008, Cx. 1, D. 12
BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Desenho e Desígnio: o Brasil dos enge- AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 495
nheiros militares (1500-1822). São Paulo: Editora da Universidade de São Pau- AHU_ACL_CU_008, Cx. 6, D. 429
lo; Fapesp, 2011.
AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 554
BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. São Paulo: EDUSC, 2004.
AHU_ACL_CU_008, Cx. 8, D. 554
CAPELA, José Viriato (Coord.). As freguesias do Distrito de Viana do Castelo
nas Memórias Paroquiais de 1758. Casa Museu de Monção, 2005. AHU_ACL_CU_008, Cx. 12, D. 740
COELHO, Gustavo Neiva. Iconografia Vila-Boense. Goiânia: UFG, 2013. AHU_CARTm_008, D. 866 /D.867
CORTESÃO, Jaime. O Tratado de Madri. 2 v. Brasília: Senado Federal, 2001. Documentos cartográficos
COSTA, Antônio Gilberto. Roteiro prático de cartografia: da América portuguesa CARDOSO, Ângelo dos Santos. Mapa da Capitania de Goiaz. O prim.ro mais
ao Brasil império. Belo Horizonte: UFMG, 2007. ajustado, que lá apareceo até aquele tempo, e o menos distante da verdade da
destrebuiçaõ desta Comarca, e seos Arrayaes, mostrando o cam.o, que vem
DANTAS, Bento Ribeiro. Ciência & Navegação: caminhos para o descobrimento da Vila de Santos a esta Capital, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da Ma-
do Brasil. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio, 2007. deira, té o das Amazonas. 1750. Mapa, Escala [ca. 1:4.750.000]. Mapoteca do
FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção Cartográfica e Iconográfica Ma- Itamaraty.
nuscrita do Arquivo Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia COLOMBINA, Francisco Tosi. Mapa geral da Capitania de Goyaz. 1751. Arquivo
e Ciências Afins, 2011. Histórico do Exército.
FELDMAN-BIANCO, Bela; e MOREIRA LEITE, Miriam L. (Orgs.). Desafios da ima- MAPA geral da Capitania de Goiás. 1753. Arquivo Histórico Ultramarino.
gem: fotografia, iconografia e vídeo nas ciências sociais. São Paulo: Papirus, 1998.
FORTES, Manoel de Azevedo. Tratado do modo mais fácil e exato de se fazer
as cartas geográficas, assim de terra como de mar, e tirar as plantas das praças. TRANSCRIÇÃO PALEOGRÁFICA
Lisboa, 1722.
FURTADO, Junia Ferreira. Apresentação. Revista do Arquivo Público Mineiro,
Transcrição dos documentos do Arquivo Histórico Ultra-
Ouro Preto, ano XLVI, n. 2, p. 24-25, julho/dezembro 2010. marino, feita por Wilson Vieira Júnior. Normas orientado-
GARCIA, João Carlos (Org.). A mais dilatada vista do mundo: inventário da co-
ras: César Nardelli Cambraia, Heitor Megale et. al., 2005,
leção cartográfica da Casa da Ínsua. Lisboa: Comissão Nacional para as Come- Normas para Transcrição de Documentos Manuscritos
morações dos Descobrimentos Portugueses, 2002. para a História do Português do Brasil. In: MEGALE, Hei-
HARLEY, J. B. La nueva naturaleza de los mapas: ensayos sobre la historia de tor, e TOLEDO NETO, Sílvio de Almeida Toledo (Orgs.).
la cartografia. México: FCE, 2005. Por Minha Letra e Sinal: documentos do ouro do século
MANIQUE, Luís de Pina. O convênio luso-brasileiro de 1867 sobre cartografia por- XVII. São Paulo: Ateliê Editorial, p. 145-148.
tuguesa. Trabalho apresentado ao IV Congresso de História Nacional, Bahia, 1949.
42
MAPOTECA HISTÓRICA DO ITAMARATY
MAPA DOS LIMITES DA CAPITANIA DE GOIÁS (1)
43
A DERROTA DAS CANOAS DE ARARATIGUABA ATÉ O CUIABÁ (2)
44
CARTA DE TODA A PORÇÃO DA AMÉRICA MERIDIONAL (3)
45
CARTA OU PLANO GEOGRÁFICO DA CAPITANIA DE GOIÁS – “Mapa dos Julgados” (4)
46
MAPA DOS CONFINS DO BRASIL COM AS TERRAS DA COROA DE ESPANHA
NA AMÉRICA MERIDIONAL – “Mapa das Cortes”(5)
47
MAPA DOS CONFINS DO BRASIL COM AS TERRAS DA COROA DE ESPANHA
NA AMÉRICA MERIDIONAL – “Mapa das Cortes”(6)
48
MAPOTECA DO ITAMARATY 23 Barra.
Rio de Janeiro/RJ 24 Anta.
25 Pilloens.
26 Crixá.
MAPA DOS LIMITES DA CAPITANIA 27 Guarinos.
DE GOIÁS (1) 28 Pillar, ou Papoam.
29 Agoa quente.
Primeiro mapa dos limites da Capitania de Goiás elabo- 30 Trayras.
rado a pedido do Secretário da Capitania Ângelo dos Santos 31 S. José.
Cardoso. Abrange também a Capitania de Mato Grosso e 32 S. Rita.
parte da de São Paulo. Assinala os limites de Goiás que, do 33 Moquem.
lado ocidental, estão traçados pelo Rio das Mortes, desde 34 Chapada de S. Gonçalo.
as suas cabeceiras até as proximidades da confluência com 35 Morinhos ou Amaro Leite.
o Araguaia, e pelo divisor de águas até as nascentes do Ita- 36 Corriola.
caiúnas. Essa configuração das fronteiras de “Goyaz” era a 37 Carlos Marinho, ou S. Felix.
proposta de Dom Marcos de Noronha, Conde dos Arcos, pri- 38 Chapada de S. Felix, ou de Carlos Marinho.
meiro governador e Capitão-General da Capitania de Goiás 39 Cavalgante.
(1749–1754), apresentada em ofício encaminhado em 12 de 40 Paranã, ou Itiquira.
janeiro de 1750 ao Governo português. Mostra igualmente 41 Arayas.
as comunicações entre as bacias do Prata e do Amazonas.1 42 Barra da Palma ou [terras novas].
Lista 47 lugares representados no mapa. “Identificou os 43 Duro.
caminhos de Vila Boa para os arraiais, para Cuyabá, notifi- 44 Nativid.e.
cou com pontilhados os acessos entre os sítios, com indica- 45 Pontal.
ção das léguas marcando as distâncias. Assim como todos 46 Descuberto do Carmo.
os caminhos levavam a Roma no império antigo, todos os 47 Missão dos P.P da Comp.a.
caminhos dos sertões partiam do arraial de Vila Boa. Esta
representação reflete o interesse político de um discurso,
que oportunamente, ilustrou o arraial como centro político e Referências:
econômico em detrimento de outros, como Jaraguá e, prin- 1. VIEIRA JÚNIOR, Wilson. SCHLEE, Andrey Rosenthal.
cipalmente, Meia Ponte”.2 BARBO, Lenora de Castro. Tosi Colombina, autor do
Para maiores informações sobre o contexto político, primeiro mapa da Capitania de Goiás? XXIV Congresso
econômico e social da elaboração deste mapa, o primeiro Brasileiro de Cartografia, Aracaju/SE, Brasil, 16 a 20 de
de “Goiaz”, bem como de outras especificidades sobre ele, maio de 2010.
consultar o artigo “Primeiros mapas da Capitania de Goiás”, 2. BOAVENTURA, Deusa Maria Rodrigues. Urbanização
do historiador Wilson Vieira Júnior. (Cf. neste GUIA p. 32) em Goiás no século XVIII. Tese de Doutorado apresentada
na FAU-USP, 2007, p. 84-85.
3. ADONIAS, Isa. Mapas e planos manuscritos relativos
Leitura paleográfica: ao Brasil colonial: 1500–1822, Rio de Janeiro: MRE, 1960.
Referências:
1. COSTA, Antônio Gilberto. Roteiro Prático de
Cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império.
Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2007, p. 131.
2. ADONIAS, Isa. Mapas e Planos Manuscritos relativos
ao Brasil colonial conservados no Ministério das Relações
Exteriores (1500-1822). Ministério das Relações Exteriores,
Serviço de Documentação, Rio de Janeiro, 1960, p. 28-35.
Leitura paleográfica:
Fonte – Arquivo Histórico Ultramarino
Medidas – 39 cm × 30,4 cm em folha 40,3 cm × 32,2 cm O sircullo amarello, reprezenta a sircomferença desta
Data – 1758 Capitania de Goyaz.
Localização – AHU_CARTm_008, D.0868 Esta figura [residência com uma porta, uma janela e
Originalmente anexo ao documento AHU_ACL_CU_008, telhado vermelho] representa Villa Boa de Goyaz, aqual
Cx.15, D.892 – 1758, abril, 30. servirá de ponto fixo, ou Centro p.a seguir-ce aos mais
arayaes, pellos pontinhos pretos, os quaes denotao o
caminho e comunicação q. há dehunz p.a os outros; a
MAPA GERAL DA CAPITANIA sua figura he esta [circulo vermelho com traço vertical na
DE GOIÁS – D-866 (2) parte superior]. Pelo A B C dario se darão os nomes q. eles
tem; juntam.te as legoas que vam de hunz a outroz; como
Os dois mapas – D-866 e D-867 – originalmente estavam nesta coluna se mostra.
anexados ao documento ACU_ACL_CU_008, Cx.9, D. 603, Esta figura [círculo preto pequeno] reprezenta os lugares
de 12 de Setembro de 1753. Estão relacionados ao Ofício onde estão cituadas os rezistos, q. são 15. Os dous
encaminhado em 12 de setembro de 1753 pelo Governador pequenos Circullos, num azul, outro encarnado, não são
de Goiás, Dom Marcos de Noronha, ao secretário de estado terras mineraez e so nestas se achão fazendas de gados.
da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real. O
documento era um relatório da Capitania de Goiás, no qual A – Villa Boa Capital de Goyaz.
o Governador informava a respeito dos arraiais, dos postos B – Arraial da Anta.
fiscais e dos caminhos e distâncias entre as minas, além de C – Piloes.
comentar sobre a arrecadação dos tributos. Anexo a esse D – Quirixá.
Ofício, foram enviados estes dois mapas, sem assinatura e E – Guarinos.
que, mais tarde, foram desmembrados do documento. F – Pillar.
Autoria atribuída a Ângelo dos Santos Cardoso, retifican- G – Agoa quente.
do a autoria dada anteriormente a Francisco Tosi Colombina.1 H – Trahiras.
“Pelas características das atribuições de secretário de I – S. José.
governo, é de se considerar que o Documento 603, onde os L – Sta. Rita.
mapas estavam anexados, tenha sido redigido por Ângelo M – Moquem.
Cardoso, responsável pelo primeiro mapa da Goiás, e assi- N – Chapada de S. Gonçalo.
nado pelo Conde dos Arcos. Reforça a suspeita a grafia e o O – Morrinhos, ou Amaro Leite.
estilo da redação, semelhante ao do documento que Cardo- P – Corriola.
so enviou ao Marquês de Pombal”.1 Neste mapa, podemos Q – Carllos Marinho, ou S. Felix.
perceber as mesmas características do mapa de Ângelo dos R – Chapada do dito asima.
Santos Cardoso: “os limites, o Sobradinho, as cabeceiras S – Cavalgante.
do rio Maranhão, a grafia de sertão (cabe a observação que T – Certão de gado, chamado Paranã.
em um dos mapas, sertão está grafado Certam). São ma- Y – Arrayaz terras mineraes.
pas coloridos, com belas rosas dos ventos cada qual com X – Barra da palma, ou terras novas, Certaõ de gados.
suas cores e desenhos, legendas com textos semelhantes Z – Duro, Certaõ onde esta cituada a Aldeya do gentio,
que referenciam as ilustrações dos arraiais, registros e ca- por ordem de S. Mag.e.
minhos, em pontos vermelhos o caminho de Vila Boa ao a – Nativid.e
Mato Grosso, e as zonas de criação de gado sinalizadas. A b – Pontal.
quantidade de detalhes e semelhanças acaba por atribuir a c – Descoberto do Carmo.
Ângelo dos Santos Cardoso a autoria do ofício e dos mapas d – Ferreiro.
que o acompanha”.1 e – Ouro fino.
A capitania está demarcada na cor amarela. Aquarelada f – Meya ponte.
nas cores amarela, vermelha, verde, cinza, azul, e branco. g – Jaraguá.
Relevo e vegetação representados em forma pictórica. In- h – S.ta Luzia.
69
i – S.ta Cruz. A – Villa Boa Capital de Goyaz.
l – Cocaes, descoberto novo. B – Ferreiro.
Esta figura [circulo contendo outro circulo em vermelho] C – Ouro Fino.
representa os citios. Os pontinhos encarnados q. principia D – Jaraguá.
de V.a Boa caminhando p.a Oeste, he a estrada q. vay p.a E – Meya Ponte.
o Cuyabá. F – São Jozê _ou Tocantinz.
G – Carllos Marinho, ou São Felix.
m – Arayal da Chapa de S. Felix. H – Chapada de S. Felix.
n – Arayal da Chapada de S.ta Anna da Nativid.e I – Arrayal da chapada de S.Felix.
L – Natividade.
Foi mais conveniente afirmarce as Legoas pelos mesmos M – Arrayal de S.ta Anna da Nativid.e
pontinhos pretos q. servem de caminho, com o algarismo, N – Descoberto do Carmo.
pondo-lhe o n.o destas, o q. vay de hum arrayal a outro,
O – Arrayaz aq. fica dentro do circullo pequeno são terras
ficando-lhe a conta em meyo: como se vê.
mineraes.
P – Cavalgante.
Q – Certão de gados chamado Paranã, ou Itiquira q.
Referências:
comprehende todo o circullo azul.
1 – Catálogo de mapas, plantas, desenhos, gravuras e
aguarellas/Castro e Almeida. N. 234/235. R – Certão de gados chamado Duro aonde está Cituada a
2 – FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção Aldeya do gentio.
Cartográfica e Iconográfica Manuscrita do Arquivo S – Corriola.
Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de T – Morrinhos, ou Amaro Leite.
Astronomia e Ciências Afins, 2011, p. 366. Y – Trahiras.
3 – VIEIRA JÚNIOR, Wilson, SCHLEE Andrey Rosenthal, X – Cocaez, descoberto novo.
BARBO, Lenora de Castro. Tosi Colombina, autor do Z – Agoa quente.
primeiro mapa da Capitania de Goiás? Disponível em: a – Pillar.
<http://www.altiplano.com.br/1010tosi.html>. Acesso b – Guarinos.
em: 14 fev. 2011. c – Quirixâ.
d – Arrayal da Anta.
Fonte – Arquivo Histórico Ultramarino e – Piloez.
Medidas – 51,3 cm × 36,4 cm, em folha 51,6 cm × 36,5 cm. f – S.ta Cruz.
Data – 1753 g – S.ta Luzia.
Localização – AHU_CARTm_008, D. 0866 /D.867 h – Chapada de S. Gonçallo.
Originalmente anexo ao documento AHU_ACL_CU_008, i – Moquem.
Cx.9, D. 603 – 1753, Setembro, 12. l – S.ta Rita.
m – Barra do palma, ou terras novas. Certão de gados
aonde se acha fund.a a Aldeya ja asima declarada, oq.l
MAPA GERAL DA CAPITANIA terrantório demarca o sircullo emcarnado.
DE GOIÁS – Cópia D-867 (3) n – Pontal.
Carta Topographica do País dos Rios Claro, e Piloens que Leitura paleográfica:
o Il.mo e Ex.mo S.nr Jozé de Almeida de Vasconsellos
Governador, e Cap.m Gn.al da Cap.ta de Goyas mandou Carta geographica de todo o terreno conhecido que
fazer, depois de mandar averiguar aquelle continente, medeya entre Villa Boa de Goyáz e Villa Bella de Matto
naqual semostra, os lugares ou cadeya das guardas q. Groso, em q. se mostrão todos os rios, ribeiroens; e alguns
demarcão as terras Diamantinas, proibidas de se minerar corgos mais notaveis, con as distancias que a experiencia
nelas. Compriende tambem ajornada que fes Fran.c Soares mais prudencial tem calcullado athe 15 de dezembro 1774.
de Bulhoens em junho de prez.te anno de 1772 buscando
o descuberto de Urbano do Coitto. Notaçoens
1 Villa Bella de Matto Groso.
A Primeira Guarda, B Segunda, C Terceira, D Quarta, 2 Villa do Cuyabá.
E Quinta, F Sesta. 1 Villa Boa, 2 Lagoa dos Pasmados, 3 3 Aldeya de Santa Anna.
Fundão ou lugar do prometido descuberto de Urbano do 4 Arrayal de Amaro Leite.
Coito de donde retrocedeu Fran.co Soares, 4 Morro de 5 Rezisto da Insua.
Santo Antonio, 5 Quartel da Guarda do R.o Claro, 6 Pasaje 6 Fazenda do Rio Grande.
chamada do Cuiabá. 7 Destacam.to do Rio Claro.
8 Villa Boa de Goyás.
Referências:
1 – ADONIAS, Isa. Mapas e Planos Manuscritos Referências:
relativos ao Brasil colonial conservados no Ministério 1 – FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção
das Relações Exteriores (1500-1822). Ministério das Cartográfica e Iconográfica Manuscrita do Arquivo
Relações Exteriores, Serviço de Documentação, Rio de Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de
Janeiro, 1960, p. 662. Astronomia e Ciências Afins, 2011. p. 369.
71
2 – Catálogo de mappas, plantas, desenhos, gravuras e Desenhado a nanquim. Apresenta uma extensa legen-
aguarellas / Castro e Almeida. N. 236. da que indica, por meio de números e letras: chácaras,
edifícios públicos, igrejas, hospício, câmera, palácio da re-
Fonte – Arquivo Histórico Ultramarino sidência do governo, cadeia, ruas, travessas, becos, etc.
Medidas – 24,4 cm × 76,4 cm em folha 27,4 cm × 79,4 cm Escala gráfica de 140 braças [= 6,6cm]. Inclui rosa dos ven-
Data – 1774 tos, decorada em estilo neoclássico. Meridiano de origem:
Localização – AHU_CARTm_008, D. 0873. Ilha do Ferro.
Anexo ao Documento AHU_ACL_CU_008, Cx. 28,
D.1825 – Oficio do Governador da Capitania de Goiás,
José d’Almeida e Vasconcelos – 1775, agosto, 25. Leitura paleográfica:
Referências:
1 – NOGUEIRA, Carlo Eugênio. A conquista do Brasil
Central: fronteiras e frentes pioneiras no século XIX.
Scripta Nova. Revista Electronica de Geografia Y Ciencias
Sociales. Vol. XVI, núm. 418 (9), 1 de noviembro de 2012.
2 – GARCIA, João Carlos (Coord.). A mais dilatada vista
do mundo – Inventário da coleção cartográfica da Casa da
Ínsua. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações
dos Descobrimentos Portugueses, 2002.
3 – Monografia da Casa da Ínsua. Disponível em:
<http://www.casadainsua.pt/content-monografia.
aspx?pid=2&cid=38&id=52>. Acesso em: 27 jun. 2014.
4 – FERREIRA, Mário Clemente. A disputa ibérica pelo
domínio do rio Paraguai na segunda metade do século
XVIII e a sua representação cartográfica. Iº Simpósio
Brasileiro de Cartografia Histórica. Paraty, 2001.
Disponível em:
<https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/
FERREIRA_MARIO_C.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2014.
Lenora de Castro Barbo – Doutora e Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Brasília – FAU/UnB. Possui espe-
cialização em Reabilitação Ambiental, Sustentável, Arquitetônica e Urbanística pelo LaSUS/UnB e graduação em Arquitetura e Ur-
banismo pela PUC-Goiás. Após ter trabalhado na iniciativa privada e no Poder Executivo, ingressou no Poder Legislativo, por meio
de concurso público, para exercer o cargo de Consultor Legislativo da Câmara Legislativa do Distrito Federal, na área de Desenvolvi-
mento Urbano, Rural e Meio Ambiente. Tem experiência docente em Arquitetura e Urbanismo e participa de grupos de pesquisa reco-
nhecidos pelo CNPq. Sua dissertação “Preexistências de Brasília: reconstruir o território para construir a memória” recebeu Menção
Honrosa no Prêmio da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – ANPARQ 2010.
E-mail: lenorabarbo@gmail.com
84
e documentaram suas impressões por meio de diários, no Brasil. Posteriormente, tivemos outras influências,
relatórios, literatura e iconografia. mas nos primórdios de nossa história colonial, a mar-
A redescoberta dos caminhos reais no Planalto ca portuguesa é incontestável (DUARTE, 2008).
Central permitirá uma série de ações voltadas para a A vinda da família real para a América portu-
proteção do seu patrimônio cultural e a reafirmação guesa, em 1808, foi responsável pelo surgimento de
da sua importância histórica. uma cartografia própria, mesmo que sob a influência
das técnicas e do estilo europeu. O governo imperial
adotou medidas, visando organizar-se administra-
1. ESTRADAS COLONIAIS NA CARTOGRAFIA tivamente, e criou o Arquivo Militar, a Academia da
HISTÓRICA Marinha e a Academia de Artilharia e Fortificação.
Coube aos dois últimos a incumbência de preparar
Desde épocas remotas, o ser humano vem uti- os técnicos especialistas que dariam andamento aos
lizando-se da elaboração de mapas como meio de trabalhos de ordem geográfica e cartográfica (idem,
armazenamento de conhecimentos sobre a superfí- 2008).
cie terrestre, tendo como finalidade não só conhecer, Segundo definição do IBGE (2009b), temos:
mas, especialmente, administrar e racionalizar o uso
do espaço geográfico envolvente (DUARTE, 2008). A CARTA:
ideia de fronteiras naturais – entidades geográficas É a representação de uma porção da superfície
prontamente compreendidas, em especial rios e mon- terrestre no plano, geralmente em escala média
tanhas – tornou-se aspecto estabelecido na descrição ou grande, oferecendo-se a diversos usos, como,
geográfica e discussão política, como nos afirma Je- por exemplo, a avaliação precisa de distâncias,
remy Black: direções e localização geográfica dos aspectos
naturais e artificiais, podendo ser subdividida
Desde o início, os mapas históricos incluíam, em geral, caracterís- em folhas, de forma sistemática em consonância
ticas físicas, em grande parte rios e montanhas, a fim de localizar a um plano nacional ou internacional.
os lugares, principalmente cidades, que estavam mapeadas e, em-
bora em menor proporção, porque tais características eram as que
pareciam melhores para preencher mapas e para contribuir para as CARTOGRAFIA:
regiões ou países indicados. Os rios e as montanhas destacavam-se É um conjunto de estudos e operações científi-
fortemente no sentido e na percepção que as pessoas tinham acerca cas, técnicas e artísticas que, tendo como base
do terreno antes da era do motor, e eram características impor- os resultados de observações diretas ou a análise
tantes dos mapas dos itinerários medievais e do início da idade de documentação já existente, visa à elaboração
moderna. (BLACK, 2005, p. 143) de mapas, cartas e outras formas de expressão
gráfica ou representação de objetos, elementos,
Os cartógrafos, conforme registrado nos relatos fenômenos e ambientes físicos e socioeconômi-
dos cronistas, faziam mapas tradicionalmente agre- cos, bem como sua utilização.
gando informações a partir de documentos anteriores
com suas próprias pesquisas de campo. Os mapas MAPA:
produzidos eram, muitas vezes, atos de interpretação. Representação no plano, normalmente em esca-
De toda forma, eles guardam informações geográficas la pequena, dos aspectos geográficos, naturais,
que são fundamentais para a reconstrução de luga- culturais e artificiais de toda a superfície (Planis-
res do passado. Por diversas vezes, detêm informa- fério ou Mapa Múndi), de uma parte (Mapas dos
ções não contidas em qualquer outra fonte escrita, Continentes) ou de uma superfície definida por
tais como nomes de locais, fronteiras e aspectos físi- uma dada divisão político-administrativa (Mapa
cos que podem ter sido modificados ou apagados pelo do Brasil, dos estados, dos municípios) ou por
homem e pelo tempo. Mapas históricos capturam as uma dada divisão operacional ou setorial (bacias
atitudes daqueles que os fizeram e representam as hidrográficas, áreas de proteção ambiental, se-
“visões de mundo” de sua época. É o que nos explica tores censitários).
John Brian Harley:
PLANTA:
Os mapas, junto a qualquer cultura, sempre foram, são e serão for- É um caso particular de carta. A representação
mas de saber socialmente construído; portanto, uma forma mani- se restringe a uma área muito limitada e a es-
pulada do saber. São imagens carregadas de julgamentos de valor.
cala é grande, consequentemente o número de
Não há nada inerte e passivo em seus registros. (HARLEY apud
MARTINELLI, 2008, p. 8) detalhes é bem maior. (Cf. www.ibge.gov.br)
Com o objetivo de mapear o percurso dessas im- região representada, a rede hidrográfica, os cami-
portantes vias de comunicação da América portugue- nhos pontilhados e a nomenclatura são os mesmos
sa que passavam há mais de 250 anos pelo Planalto nos dois mapas.
Central, nos limites do atual DF, procedemos à análi- Ambos mostravam as rotas, tanto terrestres
se de 17 documentos cartográficos (Quadro 1). quanto fluviais, que ligavam a Vila de Santos, em São
Paulo, a Cuiabá e à cidade do Mato Grosso, às mar-
gens do rio Madeira; e a rota terrestre que, subindo
2. CARTOGRAFIA HISTÓRICA DO SÉCU- ao norte, chegava ao Descoberto do Carmo. Da mes-
LO XVIII ma forma, os itinerários que assinalavam, nas proxi-
midades do atual DF, cruzavam apenas o Arraial de
2.1 O primeiro e mais ajustado, que lá apare- Meia Ponte, não passando sequer por Santa Luzia.
ceu até aquele tempo (2) (Figuras 1 e 2)
Como diferença entre os dois, temos que ape-
Novas pesquisas no acervo do Arquivo Histórico nas o primeiro mapa (Quadro 1, Item 1) apresentou
Ultramarino apontam que o documento cartográfico a rota fluvial, que seguia até a confluência do rio Su-
“O prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele midouro com o rio dos Arinos. Nota-se, ainda, neste
tempo, e o menos distante da verdade da destrebui- mapa a omissão das serras, o fato da letra não ser
çaõ desta Comarca,/e seo- de Colombina e a grafia da palavra sertão ter sido
sArrayaes, mostrando o assinalada com a letra “C” e no outro com a letra “S”.
caminho, que vem da Vila Faltam também, neste exemplar, as duas legendas
(2) Nos títulos e nas de Santos a esta Capi-/tal, do mapa do italiano, a primeira contendo uma nota
legendas será ado- e daqui ao Cuyabá, Mato dirigida pelo autor a Dom Marcos de Noronha e a
tada a grafia atuali- Groso, Rio da madeira, té segunda uma explicação dos caminhos. No canto in-
zada para os nomes o das Amazonas” (Qua- ferior esquerdo, ocorre uma lista de 47 lugares, indi-
dos documentos car- dro 1, Item 1) é de autoria cados por números, quando no mapa de Colombina
tográficos. do português Ângelo dos estão listados 49 sítios.
Santos Cardoso (SCHLEE; Continuando na análise comparativa, não en-
VIEIRA JÚNIOR e BARBO, contramos similitude na representação gráfica das
2010), Secretário da Capi- cabeceiras do rio Maranhão em cada um dos docu-
tania de Goiás no Governo de Dom Marcos de Noro- mentos, na região correspondente ao atual Distrito
nha, e foi finalizado em 1750. Federal. Na mesma área, o mapa de Colombina (Qua-
Diversamente, Isa Adonias (1960), no catálogo dro 1, Item 2) não registrou qualquer referência es-
intitulado “Mapas e planos manuscritos relativos crita, mas neste documento (Quadro 1, Item 1), entre
ao Brasil Colonial (1500-1822)”, o descreve como os paralelos 16 e 17, estava grafado o nome Sobradi-
uma variante de outro mapa do italiano Tosi Co- nho, possivelmente o primeiro topônimo dessa região
lombina (Quadro 1, Item 2), pois a configuração da grafado em mapa, que se mantém até os dias de hoje.
89
Pela localização, tudo sugere se tratar do rio São Bar- des da confluência com o Araguaia, e daí pelo divisor
tolomeu, do qual o Sobradinho é afluente. de águas até as nascentes do rio Itacaiunas”. Esta
Quanto aos limites da Capitania de Goiás, assi- representação cartográfica materializava a proposta
nalados a traço grosso, constata Adonias (1960) se- do Conde dos Arcos para a divisão entre as duas ca-
rem os mesmos nos dois documentos, salvo no trecho pitanias, encaminhada ao rei de Portugal, em 1750.
confinante com a Capitania de Mato Grosso. Neste Discrepâncias tão significativas reforçam a hi-
mapa, (Quadro 1, Item 1) os limites seguiam pelo “rio pótese de que os mapas, apesar de semelhantes,
das Mortes, desde suas cabeceiras até as proximida- não sejam de um único autor. Na verdade este mapa
(7) No relato
sobre a viagem que
empreendeu pela
região do atual
Distrito Federal, o
Governador Luís
da Cunha Menezes
registrou:
“... ao Sobradinho
2 – e 2 ½ a São João
das Três Barras,
sítio tão frio que no
mês de junho que
é a maior forma de
inverno chega
a cair neve...”
(BERTRAN, 1996).
ângulo sudoeste do Distrito Federal –, Santo Antonio 2.7 Mapa dos Sertões, que se compreendem
dos Montes Claros (hoje Santo Antonio do Descober- de Mar a Mar
to), Macacos, Corumbá e, depois, Meia Ponte. A es-
trada que vinha da Bahia chegava ao Distrito Federal O “Mappa dos Sertões, que se comprehendem de
pelo extremo nordeste – Couros (hoje Formosa), cor- Mar a Mar entre as Capitanias de S. Paulo, Goyazes,
tava a região da Vila do Mestre d’Armas (atual Planal- Cuyabá, Mato-grosso, e Pará” (Quadro 1, Item 7), ca-
tina), seguia por Sobradinho, passava por São João talogado pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
das Três Barras, pela Chapada da Contagem até sair, não traz a identificação de seu autor, nem a data exa-
a oeste, ao encontro de Meia Ponte. (Figuras 11 e 12) ta, apenas a indicação do século: [17--].
No mesmo ano em que o Mapa dos Julgados foi Quando comparado com o mapa de Tosi Colombi-
concluído, o fidalgo português Luís da Cunha Mene- na, de 1751 (Quadro 1, Item 2), a apresentação gráfica
zes (7), saiu com sua comitiva de Salvador pela “Es- surpreende pela similaridade: o colorido aquarelado, a
trada Salineira da Bahia” e chegou a Vila Boa, capital letra, as bordas desenhadas, o aspecto de um mapa
da Capitania de Goiás, para se tornar, aos 35 anos, o bem acabado. A diferença mais visível se dá pelo carim-
quinto Governador e Capitão-General daquela capi- bo no canto inferior esquerdo, onde, no exemplar dispo-
tania – de 1778 a 1783. nibilizado digitalmente pela Biblioteca Nacional (2008)
Tudo leva a crer que o itinerário que entrava no (Quadro 1, Item 7), consta o nome do mapa e no docu-
atual DF por Couros, registrado no mapa de Tomás mento de Colombina (Quadro 1, Item 2) consta texto do
de Souza, tenha sido o mesmo percorrido por Cunha autor com instruções para leitura do mapa, descrição
Menezes. de itinerários e relação de localidades encontradas.
97
Entretanto, leitura mais acurada permite perce- prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até/aquele
ber que existem diferenças realmente significativas: tempo, e o menos distante da verdade da destrebui-
a grafia da palavra “sertão” foi assinalada em um do- çaõ desta Comarca,/e seosArrayaes, mostrando o ca-
cumento com a letra “C” e no outro com a letra “S”; minho, que vem da Vila de Santos a esta Capi-/tal,
assim como é diferente nos dois documentos a repre- e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madeira, té o
sentação gráfica das cabeceiras do rio Maranhão, nos das Amazonas e no Mapa que mostra a Capitania de
limites do território do atual DF. Goiás e a região ao sul até o rio da Prata” (Quadro 1,
Em uma comparação com os outros mapas, te- Itens 1 e 4, respectivamente).
mos que o nome “Sobradinho” aparece grafado en- Quanto aos caminhos pontilhados, a represen-
tre os paralelos 16 e 17, da mesma forma que no “O tação nos três documentos cartográficos (Quadro 1,
(8) Em 1734,
o tropeiro
José da Costa
Diogo partiu
da Fazenda
do Acary, nas
margens do
Rio São Fran-
cisco, em bus-
ca das minas
dos Goyazes.
seguindo sempre na direção oeste, saíram dos limites O tropeiro nos deixa a certeza de que essa região
do DF pela Colina do Rodeador. Já então, o viajante não era um deserto, mas uma passagem importante
anotava a existência do caminho para os Goyazes: de ligação entre o litoral e as minas de Goiás e Mato
Grosso. Graças ao seu relato, que cita nominalmente
Nos 10 deste chegamos a lagoa Fea; he este lago muito grande, e se os pontos transpostos, podemos reconhecer, hoje, os
curva e verte a agoas para a estrada que vem de São Paulo; desta lagoa sítios por onde andou, visto que muitos ainda con-
pequena distancião as principais cabeceiras do Rio Tocantins, cha-
servam os mesmos topônimos e, também, confirmar
mado lá Maranhão [...] Aquy nestas fazendas acabam as povoações
antigas e principião as novas depois que se abriu o caminho para os que o caminho do ouro de Goiás cruzava o território
Goyazes. (ROCHA JR.; VIEIRA JR.; CARDOSO, 2006, p. 39-41) do atual Distrito Federal.
99
2.8 Mapa da Capitania de São Paulo e seu sertão O documento apresenta a primeira parte do “Ca-
minho de Goyazes”, que se iniciava na Vila de Santos,
O “Mappa da Capitania de S. Paulo e seu ser- no paralelo 24 e, neste mapa, chegava até o paralelo 17.
tão, em que se vem os descobertos, que lhe forão to- Abrangia a região desde a serra do mar até o rio
mados para Minas Geraes, como também o Caminho do Peixe, com destaque para a cidade de São Paulo,
de Goyazes, com todos os seus pouzos, e passagens, vilas, fortalezas, arraiais, rios e trilhas. A rede hidro-
deleniado por Francisco Tosi Colombina. Primeira gráfica foi desenhada ao longo do caminho, e o relevo
Parte” (Quadro 1, Item 8) catalogado pela Biblioteca foi representado de forma pictórica. No carimbo, no
Nacional, na Coleção Morgado de Mateus, de autoria canto superior direito, constava a explicação dos de-
desconhecida, não traz a indicação precisa de sua senhos utilizados para assinalar cidade, vila, fortale-
data, apenas a do século: [17--]. Este mapa reprodu- za, arraial e sítio. (Figura 15)
ziu o percurso do “Caminho dos Goyazes” assinalado
por Tosi Colombina em documentos anteriores.
Figura 17 –
Detalhe do Mapa
da Capitania de
São Paulo e seu
sertão e do Mapa
da Capitania de
Goiás e de todo
o sertão. Estrada
em destaque
vermelho.
Figura 15 – Mapa da
Capitania de São Paulo
e seu sertão. Área de
estudo destacada em
vermelho.
Figura 16 – Mapa da
Capitania de Goiás e
de todo o sertão. Área
de estudo destacada em
vermelho.`
100
2.9 Mapa da Capitania de Goiás e de todo o
sertão (9) O Brigadeiro Raimundo
Jozé da Cunha Mattos foi
O “Mappa da Capitania de Goyazes, e de todo o nomeado pelo Imperador
sertão por onde passa o Rio Maranhão, ou Tucantins Governador das Armas da
[Segunda parte]” (Quadro 1, Item 9) catalogado pela Província de Goiás, tanto
Biblioteca Nacional, na Coleção Morgado de Mateus, as militares quanto as civis,
não traz a identificação de seu autor, nem de sua em 1823. Assumiu o cargo
data, apenas a indicação do século [17--]. de Governador das Armas
Este documento cartográfico amolda-se perfei- da Província de Goiás com
tamente ao documento anterior, que traz, em sua le- a missão de reorganizá-las
genda, a expressão “primeira parte” (Quadro 1, Item e defender o Império contra
8), dando continuidade ao “Caminho de Goyazes”, a os insurgentes portugueses Fonte: Domínio público
partir do paralelo 17 até o paralelo 11. (Figura 16) A contrários à Independên-
representação gráfica é a mesma, permitindo aferir cia. Durante a incumbência das missões militares, per-
que os dois mapas (Quadro 1, Itens 8 e 9) são obras correu um vasto sertão até o extremo norte da Provín-
do mesmo autor. cia de Goiás, reviu posições geográficas e corrigiu-as.
Mais uma vez, a região onde se encontra hoje o Cunha Mattos foi eleito deputado por Goiás nas duas
Distrito Federal corresponde a uma mancha em bran- primeiras legislaturas do Império. Promovido a Gene-
co e o itinerário assinalado nas proximidades cruzou ral e, a seguir, Marechal-de-Campo foi um dos funda-
apenas o Arraial de Meia Ponte, não passando sequer dores e primeiro vice-presidente do Instituto Histórico
por Santa Luzia. (Figura 17) e Geográfico Brasileiro, em 1838 (MATOS, 2004).
3.3 Mapa do Brasil, mostrando a posição do Sem receio de errar, podemos asseverar que, bem pequeno, é o
Distrito Federal demarcado número de brasileiros que a conhecem sob este ponto de vista e,
quanto aos exploradores estrangeiros, bem poucos são aqueles que
a tenham convenientemente explorado. Isto se explica facilmente,
Em 1893, foi confeccionado o “Mappa do Brazil, pois, procurando geralmente, e de preferência, os vales onde cor-
mostrando a posição do Districto Federal demarcado
Figura 27 – Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadastral. Estrada em destaque vermelho.
107
Distrito Federal, para posterior transferência ao do- – também é assinalada em terras da fazenda Bana-
mínio da União (PACHECO, 1975). nal. Vê-se, ainda, a primeira pista de pouso do DF,
As terras que constituem o território do Distrito localizada na fazenda Tamanduá, na confluência do
Federal foram desagregadas dos municípios de Lu- córrego Tamanduá com o córrego Estiva ou Vargem
ziânia, Formosa e Planaltina. Relatório produzido por da Benção.
Pacheco, presidente da Comissão, relacionou os imó- Neste levantamento, imediatamente antes da
veis abrangidos por Município, no todo ou em parte, transferência da Capital, as estradas coloniais, regis-
pelo Distrito Federal. tradas nos mapas dos séculos XVIII e XIX, em es-
Em 1958, o levantamento foi consolidado no pecial pela Comissão Cruls, ainda estão, da mesma
mapa “Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadas- forma, cruzando o território do atual Distrito Federal.
tral” (Quadro 1, Item 16), obtida pelo lançamento das (Figura 27)
divisas de todos os imóveis situados dentro do Dis-
trito Federal sobre folha cartográfica, elaborada pelos
Eng.º Joffre Mozart Parada e Eng.º Janusz Gerulewi- 4.2 Novo Distrito Federal
cz, na escala de 1:100.000.
Os imóveis originários do Município de Luziâ- O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
nia eram em número de 45; os imóveis do Municí- (IBGE), no Atlas do Brasil: geral e regional, de 1960,
pio de Planaltina em número de 38; e os imóveis do traz o mapa do Novo Distrito Federal, na escala de
Município de Formosa em número de 25. Além de 1:125.000 (Quadro 1, Item 17). Tendo como respon-
demarcar todos os imóveis, nos limites do atual DF, sável o Eng.º cartógrafo Clovis de Magalhães, este
o mapa assinalou as casas de fazenda em cada um mapa lançou no território praticamente os mesmos
deles, assim como reproduziu toda a rede hídrica do imóveis fundiários do mapa Novo Distrito Federal –
território. As duas únicas cidades existentes à época Planta Índice Cadastral, de 1958 (Quadro 1, Item 16).
na área destinada à Nova Capital estão registradas O mapa assinalou, além dos imóveis fundiários,
no mapa: Brazlândia e Planaltina. Pela primeira vez, as casas de fazenda em cada um deles; as cidades; as
o projeto de Lucio Costa para o Plano Piloto tem seu
esboço lançado em mapa sobre as terras da fazenda
Bananal, acrescido das penínsulas norte – implanta- Figura 28 – Novo Distrito
da na fazenda Torto – e sul – implantada nas fazen- Federal. Estrada em
das Gama, Papuda e Rasgado. A Lagoa Jaburu – hoje destaque vermelho.
parte da residência do Vice-Presidente da República
108
estradas de ferro e a estação rodoferroviária; as ro- mapa do IBGE. Além das estradas coloniais, já re-
dovias pavimentadas; as estradas de rodagem; os ca- gistradas nos mapas dos séculos XVIII e XIX, estão
minhos; o limite interestadual; os marcos; as curvas pontilhados os caminhos que fazem a comunicação
de nível e a rede hídrica do território, onde se sobres- das fazendas da região entre si. (Figura 28)
sai, pela primeira vez, o Lago Paranoá, emoldurando
o Plano Piloto.
Estão assinaladas: as cidades de Brazlândia e 5. A RECONSTITUIÇÃO DOS CAMINHOS DE
Planaltina, a Vila de Taguatinga, na fazenda Tagua- OCUPAÇÃO NO TERRITÓRIO
tinga e o Núcleo Bandeirante, na fazenda Vicente
Pires. Na fazenda Bananal, está desenhado o Plano Um dos desafios do presente trabalho foi recons-
Piloto e, ainda, o cruzeiro da primeira missa de Bra- tituir do modo mais fidedigno possível o traçado ori-
sília, o Palácio da Alvorada – no mesmo local onde ginal desses caminhos de ocupação por meio do es-
se encontrava a casa-sede desta fazenda, o Hotel de tudo da cartografia histórica, do período entre 1750
Turismo – hoje Brasília Palace Hotel – e a Novacap. e 1896, cujos percursos foram confrontados com as
A Usina Hidrelétrica do Paranoá e a Ermida Dom informações registradas em dois mapas da região
Bosco estão lançadas na fazenda Paranoá e a Pedra produzidos em época imediatamente anterior à inau-
Fundamental na fazenda Sálvia. A fazenda Gama traz guração de Brasília – 1958 e 1960.
marcado o local da Residência Presidencial provisória A reconstituição foi realizada em cinco etapas. A
– Catetinho; o aeroporto comercial no mesmo local primeira consistiu no levantamento e na seleção dos
onde hoje o conhecemos; as Mansões Suburbanas – documentos cartográficos a serem estudados. Depois,
atual Park Way; e parte da península sul, que se es- em uma segunda etapa, os mapas históricos foram
tende também pelas fazendas Papuda e Rasgado. A convertidos em formato digital e georreferenciados. A
península norte se insere na fazenda Torto. digitalização individual em tela das estradas por mapa
É o início da Nova Capital e o território encon- foi a terceira etapa. A quarta etapa consistiu na sobre-
tra-se todo recortado por caminhos, assinalados no posição do percurso das estradas registradas nos ma-
Figura 32 – Esboço
da zona de 14.400
Figura 31 – Mapa do Brasil,
quilômetros
mostrando a posição do
quadrados, demarcada
Distrito Federal demarcado.
no Planalto Central
Mapa georreferenciado.
do Brasil. Mapa
georreferenciado.
Figura 35 – Novo
Figura 36 – Novo
Distrito Federal -
Distrito Federal. Mapa
Planta Índice Cadastral.
georreferenciado.
Mapa georreferenciado.
109
pas históricos a uma imagem do satélite CBERS, para tradas assinaladas cartograficamente. O geoproces-
a reconstituição dos itinerários em bases cartográfi- samento permitiu a comparação entre mapas his-
cas atuais, o que resultou em um novo mapa do DF, tóricos e mapas modernos pela sobreposição das
de 2009. Na quinta e última etapa, este novo mapa foi imagens, mas, é preciso considerar a dificuldade de
transformado num modelo tridimensional do territó- alinhar perfeitamente os dois, o que pode gerar erros
rio do DF, com a utilização das imagens, da tecnologia residuais. Optamos por ilustrar o trabalho tanto com
SIG e dos dados de topografia digital do SRTM. a imagem do mapa original digitalizado, quanto com
a imagem modificada, ou seja, georreferenciada com
os sistemas de coordenadas modernos. (Figuras de
5.1 1ª Etapa: levantamento e seleção de docu- 29 a 36)
mentos cartográficos
Entre os 17 mapas estudados, foram seleciona- 5.3 3ª Etapa: digitalização em tela das estra-
dos oito mapas, em função da reconstituição do per- das históricas
curso principal – a “Estrada da Bahia” – e da não re-
petição de informações. Um mapa é do século XVIII, Este processo envolveu a digitalização por meio
cinco mapas do século XIX e dois são do século XX de escâner do documento original e o uso desta ima-
(Quadro 1, Itens 6, 10, 12, 13, 14, 15, 16 e 17). gem como pano de fundo em programas de trata-
mento de feições vetoriais, como, por exemplo, o Au-
toCAD, um software do tipo CAD (Computer Aided
5.2 2ª Etapa: georreferenciamento individual Design). Nos documentos históricos analisados, as
dos documentos cartográficos antigas estradas eram referenciadas por nomes di-
versos, tais como Estrada Geral do Sertão, Estrada
Os mapas selecionados foram digitalizados para Real dos Goyazes, Estrada dos Currais, Estrada dos
levantamento pormenorizado do percurso das es- Couros, Estrada da Contagem de São João, Estrada
Figura 38 – Mapa tridimensional do Distrito Federal, com destaque dos percursos de cada uma das
oito estradas históricas (BARBO e RIBEIRO, 2010).
ção norte do território e descem rumo a Pirenópolis. 5.5 5ª Etapa: geração de modelo tridimensio-
(Figura 37) nal do território do DF com a sobreposição das
Embora muito próximas umas das outras, as es- estradas históricas
tradas não são exatamente coincidentes. É preciso
considerar que o uso de mapas distintos, em diferen- A criação do modelo tridimensional do território
tes escalas, é um problema para análises espaciais, do Distrito Federal com os dados de topografia digital
pois existem vários níveis de detalhamento, permitin- SRTM - Shuttle Radar Topography Mission (2009),
do que um mesmo objeto sofra abordagens espaciais sobreposto à imagem de satélite CBERS e às oito es-
diversas. Este é um problema a ser considerado nos tradas históricas, permitiu verificar se a topografia
SIGs, pois mapas de um mesmo lugar com projeções exerceu alguma influência no desenho dessas anti-
diferentes podem implicar distorções nas formas dos gas estradas. Com o modelo tridimensional, percebe-
objetos ou na área (LOCH, 2006, p. 82-83). mos melhor as características da paisagem e o gran-
de movimento do relevo, que podem ter influenciado
o direcionamento dos caminhos. Constatamos que
111
a maioria das estradas passava pelas regiões altas, nos documentos cartográficos e nos relatos de cronis-
isto é, pelas chapadas, o que coincide com o relato tas e viajantes, o passo seguinte foi sobrepor e cotejar
dos viajantes. O relevo sugere que, provavelmente, as informações. Para tanto, a aplicação das técnicas
era mais fácil transitar pelas chapadas do que nas de geoprocessamento tornou possível a visualização
partes mais baixas e mais movimentadas ou irregu- georreferenciada da informação histórica e o cruza-
lares. (Figura 38) mento das imagens de satélite, com os mapas colo-
niais e as descrições das estradas pelos cronistas, di-
rimiu dúvidas relativas a trechos do traçado original
6. AS ESTRADAS HISTÓRICAS NOS LIMITES e ajudou no mapeamento das rotas no Planalto Cen-
DO ATUAL DISTRITO FEDERAL tral; além de ter ampliado o entendimento de como se
deu a ocupação do território do atual Distrito Federal
A historiografia regional pode recompor diversos nesse período.
aspectos da vida social, política e econômica de comu- Ao final, comprovou-se incontestavelmente que
nidades com base em pesquisa no acervo de arquivos as estradas históricas cruzavam o território do atual
e instituições culturais, na cartografia histórica e nos Distrito Federal. Além de coincidir com o relato de
relatos de viajantes. De posse dos dados disponíveis cronistas e viajantes, dos séculos XVIII e XIX, que ex-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADONIAS, Isa. Mapas e Planos manuscritos relativos ao Brasil Colonial (1500- CRULS, Luiz. Planalto Central do Brasil. 3. ed. Coleção Documentos Brasilei-
1822). Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Serviço de Docu- ros, 91. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1957.
mentação. 2 v, 1960.
CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyntho
ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Anais da Província de Goiás: 1863. dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schimidt, 1896.
Brasília: Sudeco, Editora Gráfica Ipiranga Ltda.; Governo de Goiás, 1979. DUARTE, Paulo Araújo. Fundamentos de cartografia. 3. ed. Florianópolis: Ed.
ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO (AHU). Projeto Resgate. AHU_ da UFSC, 2008.
CARTm_008, D. 0866. AHU_CARTm_008, D. 0867. AHU_CARTm_008, D. 0877. ENVIRONMENTAL SYSTEMS RESEARCH INSTITUTE (ESRI). GIS software
Disponível em: <http://www.cmd.unb.br/biblioteca.html>. Acesso em: 8 dez. 2009. that gives you the geographic advantage. Disponível em: <http://www.esri.com/
ARQUIVO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL (ArPDF). Documentos da Co- about_esri.html>. Acesso em: 16 ago. 2009.
missão Cruls. Brasília: Arquivo Público do Distrito Federal. FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção Cartográfica e Iconográfica Ma-
BARBO, Lenora de Castro. A aplicação do geoprocessamento na reabilitação das nuscrita do Arquivo Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia
Estradas Coloniais do Planalto Central nos limites do atual Distrito Federal. Mono- e Ciências Afins, 2011.
grafia (Especialização em Reabilitação Ambiental, Sustentável, Arquitetônica e Ur- FARIAS, Darcy Dornelas de. Terras no Distrito Federal – experiências com de-
banística). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2009. sapropriações em Goiás: 1955-1958. Dissertação de Mestrado em História. De-
BARBO, Lenora de Castro. Cartografia Histórica: território, caminhos e povoados partamento de História, Universidade de Brasília, 2006.
em Goiás: 1722-1889. Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo. Faculdade FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Catálogos, Cartografia. Disponível em:
de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2015. <http://catalogos.bn.br/>. Acesso em: 28 jan. 2010.
BARBO, Lenora de Castro. Preexistências de Brasília. Reconstruir o território para GARCIA, João Carlos (Coord.). A mais dilatada vista do mundo: inventário da
construir a memória. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. Facul- coleção cartográfica da Casa da Ínsua. Lisboa: Comissão Nacional para as Co-
dade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, 2010. memorações dos Descobrimentos Portugueses, 2002.
BARBO, Lenora de Castro; RIBEIRO, Rômulo José da Costa. El SIG como estra- GUIMARÃES, Fabio de Macedo Soares. O Pensamento de Fábio Macedo Soa-
tegia para la reconstitución de la carretera histórica. In: IV Congreso CIETA, 2010, res Guimarães: uma seleção de textos. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.
Mérida, España, 2010.
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS – INPE. CBERS – Sa-
BERTRAN, Paulo. História da terra e do homem no Planalto Central: eco-histó- télite sino-brasileiro de recursos terrestres. Disponível em: <http://cbers.inpe.
ria do Distrito Federal: do indígena ao colonizador. Brasília: Verano, 2000. br/?content=recepcao/>. Acesso em 16 ago. 2009.
BERTRAN, Paulo (Org.). Notícia geral da Capitania de Goiás em 1783. Goiânia: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). A Locali-
Universidade Católica de Goiás: Universidade Federal de Goiás; Brasília: Solo zação da Nova Capital da República. Rio de Janeiro: IBGE, 1948.
Editores, 1996. t. 1 e 2.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atlas do
BERTRAN, Paulo; FAQUINI, Rui. Cidade de Goiás: Patrimônio da Humanidade: Brasil: geral e regional. Organizado pela Divisão de Geografia do Conselho Na-
origens. Brasília: Verano; São Paulo: Takano, 2002. cional de Geografia. Segunda Tiragem. Lucas-RJ: IBGE, 1960.
BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Coleção Morgado de Mateus. Disponível em: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cartogra-
<http://www.bn.br/bndigital/pesquisa.htm>. Acesso em: 22 nov. 2008. fia. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartografia/ma-
nual_nocoes/representacao.html>. Acesso em: 26 ago. 2009a.
BLACK, Jeremy. Mapas e história: construindo imagens do passado. Trad. Clei-
de Rapucci. Bauru, SP: Edusc, 2005. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Glossário
cartográfico. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/carto-
BRANDÃO, Antonio José da Costa. Almanach da Província de Goyaz: para o grafia/glossario/glossario_cartografico.shtm>. Acesso em: 26 ago. 2009b.
anno de 1886. Goiânia: Ed. da Universidade Federal de Goiás, 1978.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN);
CÂMARA, Gilberto; DAVIS, Clodoveu; MONTEIRO, Antônio Miguel Vieira FUNDAÇÃO CULTURAL PEDRO LUDOVICO TEIXEIRA (FUNPEL). Dossiê de
(Orgs.). Introdução à Ciência da Geoinformação. Capítulo 7. Disponível em: Goiás. Brasília: IPHAN;Goiânia: FUNPEL, 2000.
<http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd/cap7-mnt.pdf>. Acesso em: 9 set.
2009. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE GOIÁS. Revista do Instituto His-
tórico e Geográfico de Goiás, n. 10. Goiânia: Gráfica Editora Líder, abril, 1982.
COLOMBINA, Tosi. Ilmo. E Exmo. Snh. Conde dos Arcos Dom Marcos de No-
ronha do Conselho de S. Mag. Governador e Capitan General de Goyaz: 1751. LOCH, Ruth E. Nogueira. Cartografia: representação, comunicação e visualiza-
In: ARQUIVO HISTÓRICO ESTADUAL. Revista do Arquivo Histórico Estadual, ção de dados espaciais. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.
n. 3. Goiânia: Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sude- MATOS, Raimundo José da Cunha. Chorographia Histórica da Província de
co); Secretaria da Educação e Cultura do Estado de Goiás, dezembro, 1981.p. Goyaz. Goiânia: Sudeco, Gráfica Editora Líder, 1979.
160-162.
MATOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Ma-
COMPANHIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL DO DISTRITO FEDERAL (CA- ranhão, pelas Províncias de Minas Gerais e Goiás, seguido de uma descrição
ESB). Mapa Hidrográfico do Distrito Federal. Brasília, 2006. 1 mapa, color. Es- corográfica de Goiás, e dos roteiros desta província às do Mato Grosso e São
cala 1:120.000. Paulo. Belo Horizonte: Instituto Cultural Amilcar Martins, 2004.
COSTA, Antonio Gilberto (Org.). Roteiro prático de cartografia: da América Por- MARTINELLI, Marcello. Mapas de geografia e cartografia temática. 4. ed. São
tuguesa ao Brasil Império. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. Paulo: Contexto, 2008.
115
MOREIRA, Maurício Alves. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodo-
logias de aplicação. 3. ed. atual. e ampl. Viçosa: Ed. UFV, 2005.
PACHECO, Altamiro de Moura. Primórdios de Brasília. In: INSTITUTO HISTÓ-
RICO E GEOGRÁFICO DE GOIÁS. Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Goiás, n. 4, ano 1. Goiânia: Gráfica Editora Oriente, dezembro, 1975. p.
83-175.
PIMENTEL, Antonio Martins de Azevedo. A Nova Capital Federal e o Planalto
Central do Brasil. 2. ed. fac-similada. Brasília: Thesaurus, 1985.
PINHEIRO, Antônio César Caldas; COELHO, Gustavo Neiva (Orgs.). O diário
de viagem do Barão de Mossâmedes: 1771-1773. Goiânia: Trilhas Urbanas,
2006.
PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. 2. ed. São Paulo: Contexto,
2006.
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁPHICO BRAZILEIRO. Ro-
teiros das distâncias de Villa Bella ao arraial de Meia Ponte, e d’este até a
cidade da Bahia, cidade do Rio de Janeiro e Villa de Santos. Rio de Janeiro:
KrausReprint, v. 20, segundo trimestre, p. 288-293, 1857. Tomo XX.
ROCHA JÚNIOR, Deusdedith Alves; VIEIRA JÚNIOR, Wilson; CARDOSO, Ra-
fael Carvalho C. Viagem pela Estrada Real dos Goyazes.Brasília: Paralelo 15,
2006.
RUMSEY, David; WILLIAMS, Meredith. Historical Maps in GIS. In: KNOWLES,
Anne Kelly (org.). Past Time, Past Place: GIS for History. California: ESRI, 2002,
p. 1-18.
SALLES, Gilka Vasconcelos Ferreira de. Economia e escravidão na Capitania
de Goiás. Goiânia: CEGRAF/UFG, 1992. (Coleção Documentos Goianos, 24).
SCHLEE, Andrey Rosenthal; VIEIRA JÚNIOR, Wilson; BARBO, Lenora de Cas-
tro. Dois verbetes e um mapa. Questões relacionadas com Goiás do século
XVIII. In: Da Baixa Pombalina a Brasília: Iluminismo e Contemporaneidade em
Países e Espaços de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/FAU/PROARQ,
2010, v.1, p. 381-402.
SHUTTLE RADAR TOPOGRAPHY MISSION (SRTM). Mission Summary. Dis-
ponível em: <http://srtm.usgs.gov>. Acesso em: 16 ago. 2009.
TAUNAY, Visconde de. Goyáz. São Paulo: Editora Comp. Melhoramentos de S.
Paulo, 1931.
TELES, José Mendonça (Coord). Catálogo de verbetes dos manuscritos avul-
sos da Capitania de Goiás existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa –
Portugal. Brasília: Ministério da Cultura; Goiânia: Sociedade Goiana de Cultura:
Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil-Central, 2001.
116
ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO
CARTA DA PROVÍNCIA DE GOIÁS (1)
117
PLANTA DE UMA ESTRADA DE RODAGEM DE GOIÁS AO COXIM (2)
118
CARTA OU PLANO GEOGRÁFICO DA CAPITANIA DE GOIÁS – “Mapa dos Julgados” (3)
119
CARTA DA CAPITANIA DE GOIÁS – “Mapa dos Julgados” (4)
120
CARTA DA CAPITANIA DE GOIÁS – “Mapa dos Julgados” (5)
121
CARTA COROGRÁFICA PLANA DA PROVÍNCIA DE GOIÁS E DOS JULGADOS
DE ARAXÁ E DESEMBOQUE DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (6)
122
MAPA DO ESTADO DE GOIÁS (7)
123
CAPITANIA DE GOIAZES (8)
124
ROTEIRO FIGURADO DA VIAGEM ENTRE O LAGO VERMELHO,
PONTA DO PITEIRA NO RIO TOCANTINS (9)
125
ESQUEMA DAS LINHAS TELEGRÁFICAS DO ESTADO DE GOIÁS (10)
126
PROJETO DA ESTRADA DE FERRO DO RIO PARANAHYBA AO RIO ARAGUAYA,
PASSANDO PELA CAPITAL DA PROVÍNCIA DE GOIÁS (11)
127
MAPA DE TODO O CAMPO GRANDE, CABECEIRAS
DO RIO DE SÃO FRANCISCO E GOIAZES (12)
128
RIOS TOCANTINS E ARAGUAYA (13)
129
MAPA DO RIO TOCANTINS (14)
130
MAPA DA DEMARCAÇÃO DIAMANTINA, ACRESCENTADO ATÉ O RIO PARDO (15)
131
ESTADO DE GOIÁS (16)
132
PLANTA DO RIO TOCANTINS ENTRE A CIDADE DE CAROLINA E
SÃO JOÃO DO ARAGUAYA (17)
133
CARTA DA REGIÃO LIMÍTROFE GOIÁS – MATO GROSSO (18)
134
PLANTA DA CIDADE DE GOIÁS (19)
135
MAPA GERAL DOS LIMITES DA CAPITANIA DE GOIÁS (20)
136
MAPA GERAL DOS LIMITES DA CAPITANIA DE GOIÁS (21)
137
ARQUIVO HISTÓRICO DO EXÉRCITO e observações proprias. Redusida e gravada por C.
Rio de Janeiro/RJ Lomelino de Carvalho. Rio de Janeiro. 1875.
ESTADO DE GOYAZ.
Referências:
1 – SILVA e SOUZA, Pe. Luiz Antonio. Memória sobre o Legenda:
descobrimento da Capitania de Goyaz. [linha na cor vermelha] Linhas em trafego.
[linha pontilhada na cor vermelha] Linhas em trafego
Fonte – Arquivo Histórico do Exército construcção ou contractadas.
Medidas – 40,5 cm × 98 cm [linha na cor vermelha clara] Linhas estudadas ou em
Data – 1773 estudos.
Localização – CO-GO-10.01.2084 [linha de cruzes] Rede bahiana. (contractada)
Escala 1:2500.000
Estradas de Ferro
MAPA DA DEMARCAÇÃO DIAMANTINA,
ACRESCENTADO ATÉ O RIO PARDO (15) 1º Em trafego:
Estrada de Ferro de Goyaz
Colorido, nanquim, com seta norte, escala 1:300.000, Organisada e Desenhada na COMMISSÃO RONDON
papel tecido. com elementos da Carta Geographica do Estado de Matto
Grosso a cargo da mesma Commissão.
Rodrigo Martins dos Santos – Bacharel em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), em 2003. Especialista em Geotecnologias
pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC-SP) em 2007. Mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universida-
de de Brasília (UnB), em 2013, com ênfase em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, com a dissertação: “O Gê dos Gerais
– elementos de cartografia para a etno-história e etnolinguística do Planalto Central: contribuição à antropogeografia do Cerrado” que
teve como objetivo mapear os territórios indígenas do Brasil Central nos séculos XVII, XVIII e XIX. Foi consultor da GIZ (Deitsche
Gesellschaft für Internationale Zusammerarbeit) sobre “Diversidade Humana no Cerrado” no projeto da exposição “Cerrado: uma janela
para o futuro” no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília (2014), em parceria com a UnB. Também foi consultor dos povos
indígenas Guarani-Mbyá e Kariri em projetos de valorização cultural, organização política, desenvolvimento socioeconômico, direitos
fundiários e legislação ambiental, bem como do Instituto das Tradições Indígenas (IDETI). Site: http://popygua.blogspot.com.
154
• Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa, Portu- deteve na elaboração desses primeiros mapas, como
gal; veremos a seguir.
• Mapoteca do Itamaraty, Rio de Janeiro, Brasil; A importância desses mapas históricos para a
• Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Brasil; etnonímia será, portanto, a de indicar o que pensa-
• Arquivo Histórico do Exército Brasileiro, Rio vam os governos em relação aos indígenas e quais
de Janeiro, Brasil; eram os povos que os servidores da Coroa preten-
• Sociedade de Geografia de Lisboa, Lisboa, diam localizar ou omitir em sua cartografia oficial.
Portugal; e
• Mapoteca da Diretoria de Infraestrutura e Enge-
nharia do Exército Português, Lisboa, Portugal. Mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso
(ca. 1749–1755)
Vale ressaltar, como já foi dito, que, por se tra-
tar de documentos elaborados pelos invasores Luso- O padrão Ângelo dos Santos Cardoso refere-se
-Brasileiros, deve ser observado com as devidas pre- aos primeiros mapas oficiais da Capitania de Goiás,
cauções, com “olhar técnico, mas crítico e político do elaborados, pelo menos, entre 1749 e 1755. Inclui-se
pesquisador” (ANJOS, 2013). neste padrão o suposto primeiro mapa de Goiás (Cf.
Os primeiros mapas que avalio neste artigo fo- neste GUIA p. 42) e os mapas da Capitania de Goiás
ram manuscritos no século XVIII. Nesse momento, a elaborados pelo geógrafo Francisco Tosi Colombi-
metrópole portuguesa detinha grande interesse em na, como o “Mapa Geral dos Limites da Capitania de
mapear as ocupações dos sertões e litoral da Colônia Goiás” (Cf. neste GUIA p. 135-136), dentre outros.
na América. Este projeto tomou corpo após a chega- O mapa desse padrão considerado o primeiro por
da, em 1729, de: Vieira Jr., Schlee e Barbo (2010) está arquivado na
Mapoteca do Itamaraty (Cf. artigo de Wilson Carlos
[...] dois padres matemáticos [e astrônomos], os jesuítas Diogo Jardim Vieira Jr. neste GUIA p. 32-41; e o mapa da
Soares [1684-1748] e Domingos Capacci [1694-1736] [...]. Que- p. 42). Segundo os referidos autores, esse mapa foi
riam-se mapas graduados pela latitude e Longitude, assinalando
concluído entre o segundo trimestre de 1749 (chega-
as cidades, vilas, lugares e povoações dos Portugueses e dos Índios,
e as catas de ouro. Os cartógrafos deviam apresentar os limites que da de Ângelo dos Santos Cardoso a Goiás juntamente
tem cada um dos governos entre si, com Bispados ou comarcas dos com uma comitiva do então governador Antônio Go-
Ouvidores Gerais, tomando para isso notícia da gente prática da mes Freire de Andrade) e 12 de maio de 1750 (data
terra [...]. [Apontando] os caminhos e estradas que há pelos ser- em que, supostamente, o mapa tenha sido enviado
tões. (DAVEAU, 1997, p. 32) ao diplomata Alexandre de Gusmão). Esses autores
identificam esse mapa como:
Esses padres matemáticos levaram à Colônia o
que havia de maior avanço na arte e ciência cartográfi- [...] o prim.ro mais ajustado, que lá apareceo até aquele tempo,
ca. Elaboraram diversos mapas do Brasil, em especial e o menos distante da verdade da destrebuição desta Comarca, e
seos Arrayaes, mostrando o caminho, que vem da Vila de Santos,
da região minerária, levantando coordenadas das la-
a esta Capital, e daqui ao Cuyabá, Mato Groso, Rio da madei-
vras e mapeando os caminhos que levavam aos portos. ra, té o das Amazonas que à força de deligência alcancey de hum
Diogo Soares veio a falecer em 1748 quando es- sugeito capacisimo, na materia de fazer Mapas, que pesoalmente
tava a mapear a Capitania de Goiás. Nessa capita- viagou quazi toda a imensa extensaõ dos referidos caminhos, e de
nia, os primeiros mapas oficiais serão elaborados no propozito lavrou a meos rogos o que remetí (relatório de Ângelo
governo de Marcos José de Noronha e Brito (1712– dos Santos Cardoso em 1755, Arquivo Histórico Ultramari-
1768), seu primeiro governador (1749–1755), e são no, D. 740, fl. 2, apud VIEIRA JÚNIOR.; SCHLEE e BARBO,
chamados, aqui, de padrão Ângelo dos Santos Car- 2010, grifo meu).1
doso, devido ao papel central que esse servidor da
Coroa, nomeado Secretário de Governo da capitania, Todos os mapas do padrão Ângelo dos Santos
Cardoso apresentam diversas características simi-
1. Conforme se observa nesse trecho do relatório de Ângelo dos Santos Cardoso de 1755, o próprio secretário afirma que não é o autor do mapa e, sim, “de hum
sugeito capacisimo, na matéria de fazer Mapas, que [...] lavrou a meos rogos o que remetí” (VIEIRA JÚNIOR., SCHLEE e BARBO, op. cit.). Fica evidente que algum
cartógrafo ainda não conhecido elaborou a carta que serviu de pano de fundo para grande parte das cartas sobre a Capitania de Goiás elaboradas no governo de
Marcos José de Noronha Brito (6.º Conde dos Arcos), entre 1749 e 1755. Sendo algumas delas organizadas por Ângelo dos Santos Cardoso e outras por Francisco
Tosi Colombina. Vale anotar que o artigo de Wilson Carlos Jardim Vieira Jr. (Cf. neste GUIA p. 32) faz esta discussão sobre a antiguidade dos primeiros mapas de
Goiás. Incluindo-me nessa discussão, aponto que há indícios de que o “Mapa do Interior do Brasil entre a foz do Amazonas e São Paulo” (Cf. neste GUIA p. 227)
arquivado na Biblioteca Pública de Évora possa ser tão antigo (ou mais) quanto o primeiro mapa citado acima. Daveau (1997) informa que esse Mapa do Interior
do Brasil... está originalmente “desprovido de título, é um simples esboço de trabalho, que foi dobrado para se poder levar para o campo. Conserva nitidamente a
marca de, pelo menos, duas fases de trabalho. O fundo do mapa foi cuidadosamente preparado antes da expedição e, mais tarde, corrigido e completado, talvez à
medida que prosseguia a viagem, e com certeza depois, quando se fez o balanço dos novos conhecimentos adquiridos e das dúvidas que ficavam pendentes.” (p.
34). Sabendo que Colombina recebeu uma cópia do mapa enviado a Gusmão (VIEIRA JÚNIOR.; SCHLEE e BARBO, op. cit.) e provavelmente o utilizou em campo,
eu suspeito de que esse mapa arquivado em Évora seja ou a cópia ou o original elaborado pelo desconhecido cartógrafo, cujo original foi enviado a Alexandre de
Gusmão, e a cópia entregue por Ângelo dos Santos Cardoso à Tosi Colombina, conforme afirmam Vieira Jr., Schlee e Barbo (op. cit.). Caso ele seja o original (hipó-
tese mais provável devido à continuidade do estilo da escrita), as alterações foram cometidas pelo próprio cartógrafo ou pelo suposto organizador Ângelo dos Santos
Cardoso antes de enviá-lo a Gusmão. Caso seja a cópia, deve ter sido utilizada por Colombina como “rascunho” para a elaboração de mapas melhores trabalhados.
Fica a questão para pesquisas futuras: será esse mapa arquivado na Biblioteca Pública de Évora mais antigo que o “primeiro” mapa arquivado na Mapoteca do
Itamaraty? Seria ele o mapa elaborado pelo desconhecido cartógrafo que apresentou as bases para os mapas do padrão Ângelo dos Santos Cardoso? Teria sido
esse o mapa entregue a Tosi Colombina ou o enviado a Alexandre de Gusmão? Mais à frente, apresento outras avaliações que indicam que esse “Mapa do Interior
do Brasil entre a foz do Amazonas e S. Paulo” possa ser o mais antigo desse padrão, com base na análise de sua legenda.
155
Figura 1 – Detalhe do
“primeiro” mapa da Capitania
de Goiás (Cf. neste GUIA p.
42). O número 15 (ao norte)
corresponde ao “Arrayal dos
Bororos governados p.lo Cor.
el An.to Pires de Campos”, e o
número 47 (ao sul), refere-se a
“missão dos P.P. da Comp.ª”.
2. A principal similaridade está no deslocamento do rio Tocantins e de toda a Capitania para o leste: uma forma de incluir as ricas minas para dentro das possessões
lusitanas definidas pelo antigo Tratado de Tordesilhas. Esse “erro” proposital foi orquestrado pela coroa portuguesa, devido às discussões que culminaram na assina-
tura do Tratado de Madrid em 13 de janeiro de 1750, a cargo do diplomata brasileiro Alexandre de Gusmão, que utilizou diversos documentos cartográficos – como
o Mapa das Cortes, de 1749 – que procuravam, de forma induzida, incluir minas e outras riquezas naturais sul-americanas às possessões da coroa portuguesa
definidas em Tordesilhas (CORTESÃO, 1965, p. 267-268; CINTRA, 2009; 2010). Assim, evitava-se o surgimento de uma possível reivindicação espanhola dessas
riquezas. A respeito disso, José Pimentel Cintra (2009; 2010) analisou as distorções induzidas no Mapa das Cortes (1749) – Cf. neste GUIA, p. 46-47 – comparando-
-as com outros mapas da época, porém elaborados em datas anteriores ao Tratado de Madrid, e com mapas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE). A conclusão foi de que as minas de Goiás e Mato Grosso, dentre outros pontos geográficos do país, foram indiscutivelmente incluídas para aquém dos
limites de Tordesilhas, tendo em vista que mapas anteriores ao Tratado de Madrid (1750), encomendados por Portugal, não apresentavam as mesmas distorções.
Pelo contrário, eram mais próximos dos mapas atuais elaborados pelo IBGE. O erro foi incluído justamente no Mapa das Cortes, cujas coroas de Portugal e Espanha
ficaram, cada uma, com uma cópia idêntica. Entretanto, “de fato, a mentira ou a conveniência não poderia durar muito: as expedições demarcatórias iriam apontar as
diferenças, o que levou, junto com outros fatores, à anulação do Tratado [de Madrid em 1761]” (CINTRA, 2009, p. 76). Somente em 1777, com o Tratado de Santo
Ildefonso, voltaria a valer as bases geográficas defendidas por Alexandre de Gusmão em 1750.
156
3. O “Mapa da Derrota das Canoas...” (Cf. neste GUIA p. 43) com certeza utilizou de outro para sua elaboração, provavelmente o “primeiro” (Cf. neste GUIA p. 42), já
que consta no número 23 de ambas as legendas a localidade de “Barra”, única toponímia que não foi incluída na legenda do “Mapa do Interior do Brasil…”(Cf. neste
GUIA p. 227). Justamente por essa ausência neste último levanto a suspeita de que este seja o mais antigo dos mapas desse padrão, pois, se não fosse, porque
deixaria ausente a Barra já que consta em outros produtos enumerados da mesma forma? Será necessário um estudo específico sobre esse mapa para se atestar
outras evidências e verificar qual seria o mais antigo mapa de Goiás, o que não pretendo no presente artigo.
158
Figura 4 – Antigos túmulos
abandonados a 10 km do povoado de
Missão, possível local onde abrigou outro
aldeamento da missão de São Francisco
Xavier na região do Douro. Coordenadas
geográficas: 7º13’3” S e 48º12’26” O.
Foto: Rodrigo Santos, 2012.
4. É possível usar essa informação como forma de datar mapas como o “Mappa dos Sertões, que se compreendem de Mar a Mar entre as Capitanias de S. Paulo,
Goyazes, Cuyabá, Mato-grosso, e Pará” (Cf. neste GUIA p. 200), provavelmente elaborado por Tosi Colombina como apontam Vieira Júnior, Schlee e Barbo (2010).
Este mapa deve ter sido elaborado até o ano de 1751, pois não constam os aldeamentos da região do Douro. Caso contrário, teve como base outro anterior a 1751
e não acrescentou nenhuma informação nova, assim como no “Mapa da Derrota das Canoas...” (Cf. neste GUIA p. 43). Ele também apresenta uma distinção sobre
os outros do mesmo padrão: a ausência de legenda, pois todas as localidades estão rotuladas diretamente na carta.
159
Araguaia. Também, há uma cadeia de montanhas re- Figura 5 – Iconografia de um índio Xavante e outro
presentando a “Serra dos Geraes” (atual Serra Geral), Acorúâ simbolizando um confronto, detalhe do mapa
dentre outros detalhes da paisagem. Capitaniá de Goiás.
Qualquer avaliação sobre esse mapa deve se ini-
ciar pela sua orientação. O norte se encontra à es-
querda do mapa e não no topo como usualmente se senta o Arcebispado da Bahia como responsável pela
consolidou desenhá-los em nossos tempos. Este fato área à leste do rio São Francisco.
corrobora com a tese de que não se trata de um mapa Antes de entrar nos detalhes de localização ét-
de uso sobre mesas ou em campo, mas de um mapa nica, é de se notar a densidade de informações sobre
mural, confeccionado para decorar alguma sala de vilas, arraiais e registros. As ilustrações de cada con-
reuniões ou gabinete de autoridade da Coroa. Uma centração urbana apresentam uma simbologia que
forma de se investigar sua finalidade é se pesquisan- representa a condição de cada lugar. Algumas apre-
do como ele foi parar nos arquivos da Biblioteca Pú- sentam igrejas mais frondosas e outras apenas uma
blica de Évora, e não em Lisboa, Coimbra ou Porto, singela capela. Há desenhos de círculos dourados,
cidades mais ligadas à política colonial lusitana. que provavelmente devem ser referentes à presença
Apesar de estar declarado em sua legenda que de garimpo de ouro ou registro.
foi regulado “debaixo das leis do petipé [escala]”, ele O mapa também evidencia o traçado de diversos
não apresenta coordenadas latitudinais ou longitu- caminhos que ligam a capitania a outras partes da
dinais, uma das principais preocupações dos padres
colônia. Entre eles destaco os caminhos que ligam a:
jesuítas Diogo Soares e Domingos Capacci, conforme
• Cuiabá, ao sudoeste, via Vila Boa de Goiás e
abordei no início deste artigo. Essa suposta “ausên-
Pilões;
cia” pode indicar que o mapa não foi elaborado por
• Minas Gerais, a sudeste, via Santa Luzia e
um cartógrafo ou geógrafo, mas por um desenhista,
Paracatu;
com base em outros produtos cartográficos à sua dis-
posição, como os mapas de Tosi Colombina e outros • Bahia, dois caminhos, um deles pela Serra Ge-
do padrão Ângelo dos Santos Cardoso. ral, via os aldeamentos de Formiga e Duro até
Nesse mapa, observa-se que, sobre o território a Barra Grande do Rio São Francisco e de lá
da Capitania de Goiás, a porção norte – correspon- para leste; o outro caminho para a Bahia era
dendo aproximadamente aos atuais limites do estado via um arraial de nome Itiquira até o rio Uru-
de Tocantins – estava sob a responsabilidade religio- cuya, atingindo o São Francisco e rumando à
sa do Bispado do Pará, enquanto o Bispado do Rio de leste. Este, provavelmente, é o Caminho Geral
Janeiro era responsável pelo sul da Capitania, área do Sertão, Estrada Real ou Picada de Goiás à
que hoje pertence ao atual estado de Goiás. Salvador, citada por Bertran (1999, p. 142).
As áreas adjacentes estavam divididas entre os Não há referências ao caminho que ligava à Ca-
bispados do Maranhão (norte e nordeste), Pernambu- pitania de São Paulo, muito provavelmente porque,
co (leste) e Mariana (sudeste). O mapa, ainda, apre- no momento de sua elaboração, Goiás estava já com-
160
o Chavante possui um cocar em forma de coroa e está
armado com setas. O Acoruá, por sua vez, está com
um tacape (borduna) e possui um tembetá no lábio in-
ferior, além de uma região raspada no topo da cabeça
em forma de coroa, similar a utilizada pelos francisca-
nos. Apolinário (2006), ao interpretar essa figura, in-
dica que a ilustração era uma forma de demonstrar a
brutalidade dos nativos na visão dos reinóis:
Figura 6 – Referência a existência do “gentio de
É como se o autor/remetente [do mapa] quisesse proporcionar ao
Canoa q’fala a lingoa geral e sobe por Tocantins a seu destinatário [leitor] um momento em que esses indígenas es-
Riba”. Uma das raras referências aos “invisíveis” tavam revelando as suas artes da guerra. Sim, pois para época em
índios Avá-Canoeiro em cartografia do século XVIII. destaque eram dois grupos étnicos mais belicosos que procura-
vam, através da guerra negarem a política de “paz” colonizadora
(p. 217-218).
pletamente desvinculada dela, como aponta Capis-
trano de Abreu (1953 [1907]):
Em relação à territorialidade, o mapa localiza o
Goiás não se lembrou muito tempo que, de São Paulo, partira o
movimento que o transformara. A divisória das águas entre o
Tocantins e o S. Francisco abunda em gargantas, seguramente
já trilhadas pelos índios Duro, S. Domingos, Taguatinga, Santa
Maria, Arrependidos etc. Pelas gargantas mais setentrionais, os
goianos se comunicaram com a margem pernambucana (esquer-
da) do São Francisco, de onde, com mais facilidade, tinha de ir o
gado de que precisavam, sob pena de morrerem de fome; pelas mais
meridionais atingiram a margem baiana do S. Francisco, ou terras
de Minas, que apresentavam como termo de viagem os portos da
Bahia e Rio de Janeiro, a todos os respeitos mais vantajosos que
São Paulo ou Santos. O refluxo de Goiás para São Paulo é todo
obra dos nossos dias [início do séc. XX] e precedeu de pouco a
abertura da Mojiana [final do século XIX] (p. 268).
5. Martius (1867b, p. 280, tradução minha) sinaliza que “os Goguês ou Gueguês são remanescentes do antigo Goyá” <Die Goguês oder Gueguês sollen Reste der
ehemaligen Goyaz seyn> e que habitaram a região entre Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia após serem expulsos do sul de Goiás, inclusive das margens do rio
Vermelho, na atual cidade de Goiás/GO, ainda no início da garimpagem na região, durante a primeira metade do século XVIII. Sua língua era próxima à Akroá, com
quem se misturaram para sobreviver na nova área. O referido autor informa que visitou – em meados do século XIX – o aldeamento de São Gonçalo do Amarante
(Piauí), onde encontrou 130 pessoas da etnia Gueguê e falantes da língua.
161
Figura 9 – “Mapa de trecho do médio Tocantins e região adjacente, com as missões do Duro [1], meados do
século XVIII” (ADONIAS & FURRER, 1993, p. 112). No círculo 2 é provável que sejam as mesmas aldeias Akroá
representadas no Mapa dos Bispados, em destaque na Figura 8. (ADONIAS e FURRER, 1993, p. 112).
à leste da capitania; e os Gougués, no sul do Mara- Acoruá no planalto do Jalapão, (Figura 8) uma entre
nhão, apontados por Martius (1867b, p. 280) como os rios Sono e Manoel Alves, outra entre os rios Ma-
remanescentes dos antigos Goyazes5 que viviam na noel Alves e Balsas.
região de Vila Boa de Goyaz. Outro povo referencia- Estas aldeias também constam no “Mapa de tre-
do no Mapa dos Bispados é o “Gentio Branquinho” cho do médio Tocantins e região adjacente, com as
vivendo na margem direita do rio Tocantins, exata- missões do Duro” (Figura 9) catalogado por Adonias
mente no ponto onde recebe o rio Araguaia, chamado e Furrer (1993, p. 112). Este mapa sem data apre-
atualmente de Bico de Papagaio; e os Uárá, pouco senta, além das duas aldeias Akroá no norte da Ca-
mais ao norte deste último, descendo o Tocantins pitania de Goiás, a Missão do Duro, implantada para
pela mesma margem direita. aprisionar esses índios.
Ademais, dos territórios dos “gentios”, essa carta Este mapa evidencia que havia um caminho en-
apresenta, ainda, a localização de algumas aldeias tre a missão e as aldeias dos índios. Estes que foram
indígenas,6 como a de índios Chavante, (Figura 7) no conduzidos para os aldeamentos da missão (erigidos
extremo norte de uma serra que aparentemente deve entre 1750 e 1751 conforme já assinalado no item
ser a Serra do Lajeado. Também localiza duas aldeias anterior), gradativamente, até estourar uma sangren-
6. Aqui, no sentido de alocações originais dos nativos e não como aldeamentos – Cf. box na p. 155.
162
Figura 10 – Aldeia Xikiabá
entre os rios São Francisco,
Urucuya e Corrente, detalhe do
Mapa dos Bispados.
7. O nome completo do autor desse mapa é Tomás de Souza Villa Real (Vieira Júnior, Schlee e Barbo, 2010), um grande expedicionário de Goiás, que realizou diversas
navegações nos rios Araguaia e Tocantins, importante figura na história das comunicações entre as capitais Vila Boa de Goyas e Belém do Grão-Pará (Cf. VILLA REAL,
1848 [1792]). Era pardo, nativo da vila de Natividade (Conforme veremos, à frente, na carta n.º 5 do Guia dos Caminhantes de Anastacio de Sant’Anna, 1816), atual esta-
do do Tocantins. Fundador de diversos destacamentos militares e arraiais, como o de Porto Real (IBGE, 2013c), atual cidade de Porto Nacional no estado de Tocantins.
163
• “Paiz Incognito
habitado de varias na-
ções de Gentios”, en-
tre os rios Araguaya e
Tocantins, ao norte da
capitania;
• “Paÿz onde habi-
tou o Gentio CHACRIA-
BA, reduzido a civilizar-
-se no Anno de 1775”,
Figura 12 – “Paÿz onde habitou o Gentio CHACRIABA, reduzido a civilizar-se no (Figura 12) à nordeste
Anno de 1775” marcado a nordeste da Capitania, nos tabuleiros do alto Parnaíba, da capitania, nos tabu-
atual sul do Maranhão. leiros do alto Parnaíba,
atual sul do Maranhão;
• “Payz onde habitou o
Por Thomas de Souza Sargento Mor do Regimento da Cavalaria,
gentio Acruá, reduzido a civilizar-se em 1774”,
Auciliar da mesma Capitania, sendo quaze toda vista por sua Ex.a a
quem o Autor acompanhou em todo o tempo do seu governo.
(Figura 13) a leste da Serra Geral, onde atual-
mente são os Gerais do Oeste Baiano; e
• “Paiz pouco conhecido habitado pelo Gentio
Há exemplares de mapas desse padrão arquiva- Cayapó”, no sul da capitania.
dos no Arquivo do Exército Brasileiro (Cf. neste GUIA A indicação de que os territórios Akroá e Cha-
p. 118-120), na Diretoria de Infraestrutura do Exército criabá haviam sido despovoados e os índios reduzi-
Português em Lisboa, e na Mapoteca do Itamaraty no dos à “civilização”, pode ter sido uma estratégia utili-
Rio de Janeiro (Cf. neste GUIA p. 45). zada pelos representantes locais da coroa portuguesa
Uma característica marcante nesses mapas é a para confirmar seus feitos perante o monarca. Assim
representação da bacia do rio Tocantins e da Capita-
nia de Goiás sem o deslocamento para o leste, possi-
velmente porque já estava assegurado o território das
minas de Goiás aos domínios da coroa portuguesa,
reconhecida pelo Tratado de Madrid de 1750 e reafir-
mada pelo de Santo Idelfonso, em 1777 (Cf. nota 3).
As aldeias indígenas identificadas nesses mapas
estão principalmente no noroeste da capitania, ao
longo do rio Araguay (Araguaia). São elas, a partir do
norte: Ximbiúá, Semanselhes (que pode ter sido um
povoado luso-brasileiro) e Ximbiuá Grande; Na Ilha Figura 14 – Formiga Habitantes dos Índios, marcado
de S.ta Anna (atual Ilha do Bananal) estão, do lado nas proximidades do Resisto do Douro.
oeste, as aldeias Karajá: Caraiá Lamsay, Caraiá La-
dario, Caraiá Anadia e Caraiá Silva; as aldeias Caraiá
Angeja e Caraiá de S. Pedro situam-se do lado sudes- defende Apolinário (2005):
te da ilha; do lado leste da ilha estão as aldeias Javaé:
Javahé Mello, Javahé Ponte de Lima e Javahé Cunha. [...] as áreas habitadas pelos povos indígenas na Capitania de
Os territórios indígenas grafados são: Goiás, desconhecidas e marginais para a sociedade colonial, eram
ambicionadas para que se tornassem domínios territoriais de gran-
• Gentio Ximbayá, na margem esquerda do rio
de valor com rede de povoações luso-brasileiras embasadas em eco-
Araguaya, próximo ao encontro com o rio To- nomias exportadoras. [...] Era como se fosse necessário apresentar
cantins, a noroeste da capitania; a coroa portuguesa a totalidade dos seus feitos no tocante a “civi-
lização dos índios” considerados mais arredios, apagando-os car-
tograficamente dos espaços que dantes revelavam a sua resistência
à política de “pacificação”. Se um
Figura 13 – “Paiz onde habitou o gentio Acruá, reduzido a civilizar-se em 1774” grupo Akroá estava reduzido no
aldeamento de São José de Mos-
anotado a leste da Serra Geral, onde atualmente são os Gerais do Oeste da Bahia.
sãmedes, não haveria mais inte-
resse em informar que naquelas
fronteiras rumo ao sul do Piauí
se ainda existiam outros grupos
Akroá resistindo, através da
guerra, ao projeto colonizador
(p. 222-223).
Entrementes,
como defende a citada
autora, e eu reafirmo
em minha disserta-
164
Figura 15 – “Plano projectico de hú novo estabelecimento de Índios da Nação Cayapó situ ado namargem do Rio
Fartura edenominado Aldeya Maria 1ª, etendo por oráculo a Sua Igreja N. Snr.ª da Glória como sevê do n.º 1º”,
guardada no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa.
165
ção, (Cf. SANTOS, 2013, p. 241), os mapas do século Mais próximo da capital Vila Boa, os mapas do
XIX, posteriores ao mapa de Tomás de Souza, como o padrão Tomás de Souza trazem grafado “retiro” no lo-
“Mapa Geral de Toda Capitania de Vila Boa de Goias” cal onde apenas um mapa desse padrão pesquisado
(Cf. neste GUIA p. 14) analisado mais à frente, infor- grafa próximo “Mossâmedes”.
mam que esses “países” não estavam tão desabitados O aldeamento de São José de Mossâmedes, por
como pretendiam exprimir, pois sinalizam que esses sua vez, fora erigido entre 1774 e 1778, como presí-
indígenas todavia viviam na região. dio para Akroás e Chacriabás, transferidos dos aldea-
Em relação aos aldeamentos, os mapas do pa- mentos de Duro e Formiga para mais próximo à capi-
drão Tomás de Souza indicam, no extremo nordeste tal Vila Boa (entre cinco e oito léguas ao sul dela) após
da capitania, dois pontos vermelhos, rotulados ape- a rebelião que ocorrera entre 1773 e 1775 naqueles
nas como “Formiga Habitantes dos Índios”. (Figura aldeamentos. Em 1781, Karajás e Javaés passam a
14) São os aldeamentos da missão de São Francisco compor as masmorras de São José advindos do re-
Xavier, já apresentados no item sobre os mapas do cém destruído presídio de Nova Beira (SAINT-HILLAI-
padrão Ângelo dos Santos Cardoso. RE, op. cit., p. 104). Apolinário (2005, p. 135) e Chaim
Próximo à Ilha de Santa’Anna, há a indicação (1983 [1974], p. 123) indicam que Mossâmedes tam-
Nova Beira que segundo CHAIM (1983 [1974], p. 99; bém recebeu Xavantes, Carijós e Naudez.
125-127) foi um aldeamento erigido em 1775 para Finalmente, por motivos econômicos, os Cayapós
aprisionar índios Javaé e Karajá, e que foi destruído de Maria I foram transferidos para S. José, após os
por uma confederação envolvendo estes povos e os Karajás e Javaés terem sido “dispersados” desse al-
Xavante em 1780. deamento como afirma Saint-Hilaire (op. cit., p. 106;
Saint-Hilaire (1937 [1847], p. 250-251) informa 133), que visitou Mossâmedes em 1819, e teceu uma
que, em 1809, grande parte dos índios dos aldeamen- bela descrição da paisagem e edificações, além de
tos do Julgado de Santa Cruz (atual região do Triân- costumes e língua dos índios Cayapó que lá viviam
gulo Mineiro) foi levada para o presídio de Nova Beira na ocasião (ibid., p. 96-125).
e não resistiu. Ele aponta, ainda, que ou-
tros autores indicaram datas distintas para
esse evento: Eschwege declarou que foi em
1796, e Cazal e Pizarro, em 1811.
Próximo a capital de Goiás há a in-
dicação da Fazenda da aldeia citada por
Saint-Hilaire (op. cit., p. 133) como a “Fa-
zenda d’El Rei” situada nas imediações do
aldeamento de Maria I. Este foi um presídio
construído entre 1780 e 1781, às margens
do Rio Fartura, para abrigar cerca de 600
índios Cayapós retirados do sudoeste da
capitania (ibid., p. 106). Uma planta (Figu-
ra 15) datada de 1782 cujo título é “Plano
projectico de hú novo estabelecimento de
Índios da Nação Cayapó situ ado namar-
gem do Rio Fartura edenominado Aldeya
Maria 1ª, etendo por oráculo a Sua Igreja
N. Snr.ª da Glória como sevê do n.º 1º” está
arquivada no Arquivo Histórico Ultramari-
no, em Lisboa.
Saint-Hilaire (op. cit.), que esteve em
Maria I no ano de 1819, diz que, na oca-
sião, os formosos edifícios estavam em es-
tado de abandono e o aldeamento desativa-
do, porém os índios visitavam o local com
frequência (p. 133). Chaim (1983 [1974], p.
128) indica que esse presídio foi desativado
em 1813.
Figura 18 – “Arrayal dos Bororós” e “Missão q. foi dos jezuitas” (grifo meu), no sul da Capitania de Goiás.
167
que não está assinalado nenhum aldeamento nessa
região do antigo “Sertão da Farinha Podre”, identifi-
cado nos “Mapas dos Julgados” como pertencente ao
Julgado de Santa Cruz. (Figura 16) Alguns que apa-
recem tanto em mapas mais antigos, como em outros
mais recentes constam, nesses do padrão Tomás de
Souza, apenas como um ponto vermelho, sem identi-
ficação. Com exceção de Santa Anna (já citado), que
consta como um arraial e “Lanhozo” que também não
indica que se trata de um aldeamento, outros dois
pontos estão sem rótulo: um próximo ao “R. das Pe-
dras” outro ao do “Piçarrão”.
Que os dois pontos sem rótulo correspondem
aos aldeamentos de mesmo nome da hidrografia, não
há dúvidas. Quanto ao Lanhoso, em algumas pran-
chas desse padrão também não consta seu nome.
Sobre estes aldeamentos já apresentei algumas in-
formações no item sobre os mapas do padrão Ângelo
dos Santos Cardoso.
A respeito de S. Anna, vale anotar que Saint-Hi-
laire (op. cit.) citou que, em 1775, esse aldeamento
recebeu “um certo número de Chicriabás, nação que
habitava os desertos do Paranã e se estendera até
às margens do S. Francisco, na parte setentrional de
Minas” (p. 274). Esse foi um dos resultados da cam-
panha de captura indígena promovida na região dos
Gerais (situada ao longo da Serra Geral) entre 1773 e
1775, e que está enaltecida nos mapas do padrão To-
más de Souza, conforme posto no início do presente
item (recorte da Figura 12).
A quantidade de supressões e distorções das in-
formações que tratam da localização de índios na ca-
pitania deve ter sido proposital. Levanto a hipótese
de que José de Almeida Vasconcelos Soveral e Car-
valho [1737-1805], que governou Goiás entre 1772 e
1778, tenha tido como política a desterritorialização
dos índios, e pode ter ordenado que os mapas oficiais
de seu governo apresentassem uma capitania “limpa”
de indígenas. Deixo, como sugestão de pesquisas, a
futuros investigadores.
8. Provavelmente trata-se de Tomás de Souza Vila Real, cujo diário de uma de suas expedições nos rios Tocantins-Araguaia foi publicado pela Rev. do Inst. Hist. e
Geog. Brasileiro (Cf. VILLA REAL, 1846 [1792]).
172
9. João Manoel de Meneses foi governador de Goiás entre 1800 e 1804, portanto é de se estranhar que o mapa só tenha sido concluído em 1820. O local onde
consta o ano no mapa está remendado. Assim, é possível que ele tenha sido elaborado na época de governo do citado capitão general.
10. É possível que existam comunidades remanescentes dessa etnia indígena, ou junto a outras etnias atualmente reconhecidas, como os Xakriabá, os Xerente e
os Krahô, ou confundidos com a comunidade cabocla da região (Cf. SANTOS, 2013, p. 320).
173
Figura 27 –
“Mapa Geral
de Toda
Capitania
de Uilla Boa
de Goyas
Mandado
Tirar pelo
Il.mo Ex.mo
Senhor Dom
João Manoel
de Meneses,
Governador
Cappitão
General da dita
Cappitania
1820 Por
Joaquim
Cardoso
Xavier”. Está
arquivado na
mapoteca da
Sociedade de
Geografia de
Lisboa, sediada
na capital de
Portugal.
174
e anualmente ocorre uma manifestação sacro-profana onde os des-
cendentes dos indígenas que lá moraram “roubam” a imagem de
São José localizada hoje na igreja matriz da cidade. Devido ao fato
de que antes ela ocupava o altar da igreja da Missão. Quando foi
levada pela primeira vez para a matriz da cidade, os índios se re-
voltaram e a trouxeram de volta ao aldeamento. Quando foi levada
novamente à matriz, novo “roubo” ocorreu. Dessa forma, para se
evitar os “roubos” – que na verdade era um resgate – surgiu um
festejo local onde anualmente a imagem volta ao povoado de Mis-
são, encenando esse “pseudo roubo”. No entanto não há consenso
sobre a origem dessa encenação, alguns contam que a imagem não
foi levada à Missão pelos índios, mas sim, que estes tomaram um
paradeiro desconhecido. Porém como antes eles haviam sido redu-
zidos à missão, a encenação leva-a para lá. A organização do feste-
jo é reservada apenas aos descendentes dos antigos moradores de
Missão, que atualmente é um povoado praticamente desabitado,
repleto de casas vazias, ocupadas apenas uma vez ao ano, quando
ocorre a encenação (SANTOS, 2013, p. 206-207).
Este mapa (Cf. neste GUIA p. 245) foi elaborado tamentos e estudos do local de implantação da nova
nos últimos anos do século XIX pelo grupo conheci- capital do Brasil. Ele ilustra o pensamento preconcei-
do como Comissão Cruls,12 responsável pelos levan- tuoso que o país estabeleceu após a Proclamação da
República (1889/1992) em rela-
ção ao índio brasileiro. O início
da República foi marcado pela
“caboclização” de muitos povos
indígenas, estes se utilizaram
da estratégia de se autoidenti-
ficarem como “caboclos” devi-
do à intensificação da violência
e preconceito contra os que se
intitulavam “índios” (ÂNGELO,
2013).
11. Rodrigues e Dourado (1993) demonstraram que os atuais Panarás que vivem na Floresta Amazônica entre o sul do Pará e o norte de Mato Grosso apresentam
língua similar aos Cayapós e Panariás do Sertão da Farinha Podre, registrados por Saint-Hilaire e outros viajantes. Giraldin (2000) apresenta outros elementos que
demonstram a proximidade cultural entre estas etnias, por exemplo que na mitologia dos Panará eles acreditam “que seus ancestrais vieram do leste, de uma área
de campo aberto, para a área de floresta fechada do Rio Peixoto de Azevedo e que os inimigos estão no leste e não no oeste” (p. 175). Ou seja, algumas famílias dos
Cayapó merdionais, conhecidos também como Bilreiros ou Ubirajaras, conseguiram migrar de seu território original, uma região de Cerrado que se expandia desde
o atual Triângulo Mineiro e norte paulista até o sul do Mato Grosso, para a Amazônia. A retirada se deveu após as recorrentes investidas de bandeirantes e colonos
sobre seu território, como o do já citado Antônio Pires de Campos (v. item sobre o padrão Ângelo dos Santos Cardoso).
12. Mais informações sobre essa Comissão poderão ser obtidas no artigo de Elias Manoel da Silva, neste GUIA p. 232.
178
Figura 35 – Os aldeamentos de Maria I, São José de
Mossâmedes e Carretão aparecem como simples
povoações, sem nada que os difira de outras
localidades Luso-Brasileiras na carta.
Figura 36 – Recorte com o “Sertão da Farinha Podre”, Figura 37 – “Região infestada pelos índios” ao norte
atual Triângulo Mineiro. da Chapada dos Viadeiros.
179
Figura 38 – “Região infestada pelos índios”
nas cabeceiras dos rios “Roncador ou das Mortes”
e Araguaya.
Figura 43 – Povos
indígenas que habitavam a
região do Distrito Federal e
entorno por volta do ano de
1700 de acordo com o “Mapa
Etno-linguístico do Planalto
Central e adjacências” de
Santos (2013).
182
Figura 44 – Recorte do “Mapa Etnolinguístico
do Planalto Central e adjacências” na altura do
atual leste do estado do Tocantins, onde estão
representados os povos indígenas que viviam ali por
volta do ano de 1700.
[...] um outro povo, cuja presença a leste do Araguaia foi regis- Em tempos mais longínquos, antes do século
trada no século XVIII, é o povo Krixá, cujo nome ficou fixado no XVI, é possível que os Akwén tenham tido contato
topônimo goiano Crixás. Pois esse é o nome que os dois povos indí- com o litoral do leste do Brasil, de acordo com os es-
genas vizinhos dos atuais Xavánte dão a estes em suas respectivas tudos de Welch (2009, p. 21-22).
línguas: em Karajá Krysa ou Kyrysa e em Tapirapé Kyrytxa. Isso Também é possível observar no detalhe da figura
faz pensar que os atuais Xavánte ou A’wen são descendentes dos 43 a presença dos povos Anicun, Goyá e Ushicrin,
Krixá do século XVIII (p. 71). a oeste da atual capital federal, e que não constam
em nenhum mapa histórico aqui analisado, mas apa-
recem em relatos de sertanistas dos séculos XVII e
No período colonial brasileiro os Akwén “ocupa- XVIII e nos mapas de Nimuendaju (2002 [1944]) e
vam originalmente a bacia do Tocantins, desde o sul Loukotka (1967). O “Mapa Etnolinguístico do Pla-
de Goiás até o Maranhão, estendendo-se do rio São nalto Central e adjacências” também faz referência
Francisco ao Araguaia” (D. RIBEIRO, 2009 [1970], p. a povos Naudez e Assú (Figura 44), na região dos al-
80). Akwén refere-se a todos os povos falantes de uma deamentos de Duro e Formiga, conforme apontam os
mesma língua Jê Central. Atualmente há dois povos históricos do IBGE (2012).
Akwén que mantém seu idioma original, os Xavante e No norte da antiga Capitania de Goiás constam,
os Xerente (SANTOS, 2013, p. 271). Os Xerente foram por volta do ano de 1700, os povos Kenpokatajê, Ma-
registrados por Loukotka (1967) vivendo nas imedia- camecran e Krahô, em local que atualmente pertence
ções do Distrito Federal, pouco ao norte, como pode ao estado de Tocantins. Desses, apenas os Carahô
ser observado na figura 43. (Krahô) serão citados nos mapas do século XIX. Isso,
Os Xakriabá, que também aparecem no “Mapa talvez, tenha ocorrido devido alguma incompatibili-
Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências” dade na grafia do nome étnico entre as diversas fon-
localizados no Distrito Federal, também é um povo tes utilizadas pelos cartógrafos. Mas estes povos, que
Akwén, porém não mais falante do idioma indígena. possivelmente pertencem ao subgrupo Timbira da fa-
Entrementes, iniciaram um intercâmbio cultural com mília Jê Setentrional, podem ter ocupado estas terras
os Xerente para resgatar sua língua nativa (SANTOS, após terem sido expulsos pelos currais que passaram
2013, p. 270). a surgir no sul do Piauí a partir do final do sécu-
183
lo XVII, como já abordado no item que trato sobre o III para Cayapós, Xavantes e outros na região da ca-
“Mapa dos Rios Tocantins e Araguaya”, de 1813. pital Vila Boa de Goyáz; e o Nova Beira e Santa Maria,
Às páginas 186-190, o leitor poderá observar os dentre outros ao longo do Araguaia, construídos para
mapas que apresentam a evolução de deslocamentos aprisionar Karajás e Javaés, mas que recebeu outros
e resistência dos povos indígenas do Planalto Cen- povos, e foram destruídos por uma confederação que
tral, desde o ano de 1700 ao ano de 1900. Apesar de envolveu Karajás e Jês.
alguns povos não constarem mais nos mapas, é pos- Os mapas do século XIX em diante irão, cada vez
sível que remanescentes de suas populações estejam mais, ilustrar estes aldeamentos como simples locali-
vivendo em comunidades rurais isoladas nos sertões dades, apagando a história indígena presente nesses
do Brasil Central (SANTOS, 2013, p. 319-320). presídios que serviram para povoar áreas com uma
população ruralizada a partir da conversão de índios
em agricultores, bem como combater índios “indolen-
Conclusão tes” que “impediam” o avanço da frente de expansão
colonial. Mas que, na verdade, buscavam proteger
Com base nos mapas históricos analisados no seu território ancestral que ano a ano era invadido e
presente artigo observa-se a recorrente referência a usurpado pelos luso-brasileiros.
notáveis tribos na Capitania de Goiás no decorrer do Nos mapas do período inicial da República, o
século XVIII, são elas a Xavante (a noroeste), a Akroá preconceito dos servidores do Estado em face dos
(a nordeste), a Cayapó (a sudoeste) e Curumaré (na poucos índios que resistiram vivendo em território
Ilha do Bananal). Além delas, que aparecem em pra- emancipado do domínio brasileiro se manifestava
ticamente todas as cartas que trazem registro de lo- nas cartas oficiais. O uso de termos como “região in-
calização étnica da região nesse período histórico, há festada pelos índios” se torna regra geral em todos os
outros povos que são mencionados em pelo menos mapas analisados para o início desse período.
uma carta setecentista, como os Canoeiros (ou Avá Por fim, o “Mapa Etnolinguístico do Planalto
Canoeiro), os Javaé, os Karajá e os Chicriabá (Xakria- Central e adjacências”, elaborado recentemente em
bá). E por fim, observando o “Mapa Etnolinguístico minha pesquisa de mestrado, encerra este artigo lo-
do Planalto Central e adjacências”, outras fontes ain- calizando etnias que não constam nos mapas histó-
da fazem menção aos Krixá, Xerente, Anicun, Goyá, ricos, mas que aparecem em outras fontes como re-
Ushicrin, Naudez e Assú. latos de viajantes, etnografias e, principalmente, nos
No século XIX, outras etnias começam a constar históricos do IBGE (2012), ineditamente mapeados.
nos mapas. Ao norte de Goiás, constam os Apinajé, Assim, ficou revelado em cartografia que os po-
Neraquagé, Puxiti, Piecobigê, Ponecategé, Prureca- vos Krixá e Xakriabá viveram no Distrito Federal, e os
mecran, Canacategê, Crurecamecran, Piocamecran, Xerente nas adjacências. Além disso, as etnias Ani-
Aogê, Crangé, Botica, Carahós e Temembos ou Pe- cun, Goyá e Ushicrin, à oeste da atual capital federal;
puxis. Esse “surgimento” em Goiás pode ter ocorrido Naudez e Assú, próximo a Serra Geral; e Kenpokata-
devido às “correrias” que os povos Timbira realizaram jê, Macamecran e Krikati, no norte da antiga Provín-
para oeste ao ver seu território nativo no sul do Piauí cia de Goiás, adicionam informações etnonímicas e
invadido por currais baianos, no século XVIII. de etnolocalização além das encontradas nos mapas
Ao longo do Araguaia, ou a oeste dele, também históricos apresentados neste GUIA.
passam a ser registrados os Xambibuá, Itapirapé, Apesar de não ter sido explorado neste artigo,
Cururu, Mongari, Gradaú, Grapindayé, Guapingayé, uma pesquisa toponímica poderá indicar a morada
Carajaú e Carajavis. Isso deve ter ocorrido devido ao de outras etnias. Por exemplo, a Serra do Caiapó re-
maior conhecimento que os Luso-Brasileiros foram cebeu este nome devido à presença de índios homôni-
adquirindo nessas regiões a partir do último quartel mos. O rio Crixás, Chavante, Caiapó e Tapirapé tam-
do século XVIII, após se concretizar as comunicações bém indicam que nesses locais existem ou existiram
fluviais com Belém do Grão-Pará devido às expedi- as respectivas tribos. Até mesmo o nome de localida-
ções de Tomás de Souza. Pois no período áureo da des como Anicuns, Crixás e Caiapônia, rememora a
mineração (segundo quartel do séc. XVIII) não se ti- presença indígena na região.
nha muito interesse em atingir a região do baixo Ara- Com este artigo, podemos ver que a diversidade
guaia, devido a inexistência de garimpos e abundân- étnica de nosso país era muito maior do que vemos
cia de “tribos hostis”. Os aldeamentos (reduções ou hoje, e que os mapas históricos podem nos ajudar a
presídios) registrados em mapas históricos são mais desvendar quem eram e onde estavam os povos origi-
recorrentes nos mapas setecentistas. Dentre eles nários de nosso país, desde que o pesquisador tenha
destacam-se aqueles construídos por bandeiras na um olhar crítico sobre a obra, pois por se tratar de
primeira metade do século XVIII para Boróros e Pa- mapas, produtos do intelecto humano, estão arraiga-
recís na estrada que ligava com a Vila de São Paulo, dos de ideologia. E, portanto, ao invés de esclarecer,
próximo aos rios Das Pedras e Pissarrão, e o formado podem suscitar outras dúvidas.
por padres jesuítas denominado Sant’Anna, na mes-
ma região do atual Triângulo Mineiro. Também há
referência aos aldeamentos de Duro e Formiga próxi-
mo à Serra Geral, erigido para Akroás e Xakriabás; o
Maria I, São José de Mossâmedes e Carretão de Pedro
184
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
____. Porto Nacional. In: IBGE cidades – histórico. Rio de Janeiro: IBGE, 2013c.
ADONIAS, Isa; FURRER, Bruno. Mapa: Imagens da Formação Territorial Brasi-
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/historicos_cidades/historico_
leira. Rio de Janeiro: Fund. Emílio Odebrecht, 1993.
conteudo.php?codmun=171820>. Acesso em: 5 set. 2013.
ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Anais da Província de Goiás. Goiânia:
LEME, Luiz Gonzaga da Silva. Genealogia Paulistana, vol. 4.º. São Paulo: Du-
Sudeco, 1979 [1869].
prat & Comp., 1904. Disponível em <http://www.alfredo.com.br/arquivos/ge-
ÂNGELO, Francisca Navantino Pinto de. (Chiquinha Paresí) [banca examina- nea04.pdf>. Acesso em: 17 set. 2013.
dora] Curso de mestrado profissional em desenvolvimento sustentável junto a
LOPES DA SILVA, Aracy. Dois séculos e meio de história Xavante. In: CARNEI-
povos e terras indígenas, Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvol-
RO DA CUNHA, Manuela. História dos Índios no Brasil. 2. ed. p. 357-378. São
vimento Sustentável, Universidade de Brasília. Banca examinadora da disserta-
Paulo: Companhia das Letras, 1998 [1992].
ção de mestrado “O gê dos gerais – elementos de cartografia para a etno-his-
tória e etnolinguística do planalto central: contribuição à antropogeografia do LOUKOTKA, Čestmír. Ehtno-Linguistic Distribution of South American Indians.
cerrado”, de Rodrigo Martins dos Santos. Brasília: 8 fev. 2013. In: Annals of The Association of American Geographers, vol. 57, n. 2, jun., map
supplement n. 8. Joseph E. Spencer & Norman J. W. Thrower (editors). 1 mapa,
ANJOS, Rafael Sanzio Araújo dos. [banca examinadora] Curso de mestrado
color, escala 1:8.500.000. Washington-DC: AAG, 1967.
profissional em desenvolvimento sustentável junto a povos e terras indígenas,
Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Uni- LOWIE, Robert H. The Northwestern and Central Ge. In Steward, Julian H. (Org.)
versidade de Brasília. Banca examinadora da dissertação de mestrado “O gê Handbook of South American Indians, vol. 1 – The Marginal Tribes. p. 477-518.
dos gerais – elementos de cartografia para a etno-história e etnolinguística do Washington-DC: US Gov. Printing Office, 1946c. Disponível em: <http://archive.
planalto central: contribuição à antropogeografia do cerrado”, de Rodrigo Mar- org/stream/bulletin14311946smit#page/477/mode/2up>. Acesso em: 7 nov. 2012.
tins dos Santos. Brasília: 8 fev. 2013.
MAGALHÃES, Joaquim Romero; GARCIA, João Carlos; FLORES, Jorge Ma-
____. Quilombos: Geografia Africana – Cartografia Étnica – Territórios Tradicio- nuel (coord.). Lugares e regiões em mapas antigos. Lisboa: Comissão Nacional
nais. Brasília: Mapas Editora & Consultoria, 2009. para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997.
APOLINÁRIO, Juciene Ricarte. Os Akroá e outros povos indígenas nas Frontei- MARTIUS, Carl Friendrich Phillip von. Die Ehemalige Verbreitung und die Mu-
ras do Sertão: As práticas das políticas indígena e indigenista no norte da Ca- thmasslichen Wanderungen der Tupis: Die jetxigen Haupt-Sprachengruppen. 1
pitania de Goiás – século XVIII. Tese de Doutorado em História. Recife: UFPE, mapa, color. Leipzig, 1867a. Disponível em: <http://www.archive.org/download/
2005. Disponível em: <http://www.etnolinguistica.org/local--files/tese:apolina- martius_mapa/Martius.jpg>. Acesso em: 21 fev. 2013.
rio-2005/apolinario_2005_akroa.pdf>. Acesso em: 13 set. 2013.
____. Beiträge zur Ethnographie und Sprachen kunde Amerika’s zumal Brasi-
BERTRAN, Paulo. História da Terra e do Homem do Planalto Central: Eco-His- liens: I. Zur Ethnographie. Leipzig: Friedrich Fleischer, 1867b. Disponível em:
tória do Distrito Federal, do indígena ao colonizador. Brasília: Paidéia, 1999. <http://www.archive.org/download/martius_v1/martius_1867_beitrage_v1.pdf>.
Acesso em: 7 nov. 2012.
CAPISTRANO DE ABREU, João. Capítulos de História Colonial (1500-1800) &
Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil. 5. ed. rev., prefaciada e anotada MELATTI, Julio Cezar. Timbira. In: Instituto Socioambiental. Povos Indígenas no
por José Honório Rodrigues. Brasília: Ed. UnB, 1963 [1907]. Brasil, [s.l.]: ISA, 2012. Disponível em: <http://pib.socioambiental.org/pt/povo/
timbira>. Acesso em: 19 set. 2013.
CASAL, Manuel Aires de. Corografia Brasília ou Relação Histórico-Geográfica
do Reino do Brazil, tomo I. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817. NIMUENDAJU, Curt. The tribes of eastern Brazil. In Steward, Julian H. (Org.)
Handbook of South American Indians, vol. 1 – The Marginal Tribes. p. 382. Wa-
CINTRA, Jorge Pimentel. A cartografia digital como ferramenta para a cartogra-
shington-DC: US Gov. Printing Office, 1946. Disponível em: <http://archive.org/
fia histórica. In: Anais do 3º Simpósio Iberoamericano de História da Cartografia.
stream/bulletin14311946smit#page/n491/mode/2up>. Acesso em: 26 fev. 2013.
Parati-RJ: [s.e], 2010.
____. Mapa Etno-histórico do Brasil e Regiões Adjacentes. In Mapa etno-histó-
____. O Mapa das Cortes: perspectivas cartográficas. In: Anais do Museu Pau-
rico de Curt Nimuendaju. Edição fac-similar, [encarte]. 1 mapa, color, 79 cm ×
lista, v. 17, n. 2, p. 63-77. São Paulo: MP-USP, 2009.
95 cm. Escala 1:5.000.000. Rio de Janeiro: IBGE; Brasília: Min. da Educação,
CHAIM, Marivone Matos. Aldeamentos Indígenas: Goiás 1749-1811. 2. ed. São 2002 [1944]. Edição de 1981 disponível em: <http://biblio.etnolinguistica.org/lo-
Paulo: Nobel; Brasília: INL, 1983 [1974]. cal--files/nimuendaju-1981-mapa/nimuendaju_1981_mapa.jpg>. Acesso em: 21
fev. 2013.
CORTESÃO, Jaime. História do Brasil nos velhos mapas. Tomo I. Rio de Janei-
ro: Instituto Rio Branco/MRE, 1965. OSSAMI DE MOURA, Marlene Castro. Os Tapuios do Carretão: etnogênese de
um grupo indígena do Estado de Goiás. Goiânia: Ed. UCG, 2008.
DAVEAU, Suzanne. Lugares e Regiões em Mapas Antigos. In: MAGALHÃES,
Joaquim Romero; GARCIA, João Carlos; FLORES, Jorge Manuel. Lugares e RATZEL, Friedrich. Antropogeografia. Trad. Fátima Murad. In: Moraes, Antônio
regiões em mapas antigos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações Carlos Robert (Org.). Ratzel: Geografia. p. 32-107. Col. grandes cientistas so-
dos Descobrimentos Portugueses, 1997. ciais, n. 59. Coord. Florestan Fernandes. São Paulo: Ática, 1990 [1891].
FARIA, Maria Dulce de. Catálogo da Coleção Cartográfica e Iconográfica Ma- RAVAGNANI, Oswaldo Martins. A agropecuária e os aldeamentos indígenas
nuscrita do Arquivo Histórico Ultramarino. Rio de Janeiro: Museu de Astronomia goianos. In: Perspectivas, 9/10, p. 119-143. São Paulo: Unesp, 1987. Dispo-
e Ciências Afins, 2011. nível em: <http://seer.fclar.unesp.br/perspectivas/article/download/1866/1533>.
Acesso em: 27 set. 2013.
GIRALDIN, Odair. Renascendo das cinzas: um histórico da presença dos
Cayapó-Panará em Goiás e no Triângulo Mineiro. In: Sociedade e Cultura, v. 3, RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indíge-
n. 1, p. 161-184. Goiânia: UFG, 2000. Disponível em: <http://www.revistas.ufg. nas no Brasil moderno. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009 [1970].
br/index.php/fchf/article/view/462/445>. Acesso em: 19 set. 2013.
RICARDO, Beto; RICARDO, Fany (Ed.). Povos indígenas no Brasil: 2006-2010.
____. Catequese e civilização: os capuchinos “entre” os “selvagens” do Ara- São Paulo: Instituto Socioambiental, 2011.
guaia e Tocantins. In: Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ant. 18(2), 2002. Be-
lém: MPEG, 2002. Disponível em: <http://www.uft.edu.br/neai/file/odair_cate- RODRIGUES, Aryon Dall’Igna; DOURADO, Luciana Gonçalves. Panará: Iden-
quese_civilizacao.pdf>. Acesso em: 13 set. 2013. tificação Linguística dos Kren-Akarore com os Cayapó do Sul. In: Anais da
45ª Reunião Anual da SBPC (Recife, PE), vol. 2, p. 505. Recife: SBPC, 1993.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades: História. Rio de Disponível em: <http://biblio.etnolinguistica.org/local--files/rodrigues-dourado-
Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <http://ibge.gov.br/cidadesat/topwindow. -1993-panara/rodrigues_dourado_1993_panara.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2012.
htm?1>. Acesso em: 21 set. 2012.
SAINT-HILLAIRE, Auguste de. Viagem às nascentes do rio S. Francisco e pela
____. Araguacema. In: IBGE cidades – histórico. Rio de Janeiro: IBGE, 2013a. província de Goyaz. Tomo segundo. Trad. Clado Ribeiro de Lessa. Coleção
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/painel/painel.php?cod- Brasiliana, série 5ª, vol. 78. São Paulo: Nacional, 1937 [1847]. Disponível em:
mun=170190&search=tocantins|araguacema#historico>. Acesso em: 3 set. <http://www.brasiliana.com.br/obras/viagem-as-nascentes-do-rio-sao-francis-
2013. co-e-pela-provincia-de-goias-2-vol>. Acesso em: 13 set. 2013.
____. Dianópolis. In: IBGE cidades – histórico. Rio de Janeiro: IBGE, 2013b. SANTOS, Rodrigo Martins dos. Mapping Indigenous Peoples from Central Brazil
Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&cod- between 1700 and 1900 AD: A Contribution to Nimuendaju’s Ethno-Historical
mun=170700&search=tocantins|dianopolis|infograficos:-historico>. Acesso em: Map using IBGE’s Database, and other sources. In RESENDE, A. C. R. B. &
26 set. 2013. JENEY, J. Symposium on Atlases, Toponymy and the History of Cartography.
185
Proceedings of the ICC 2013 Pre-Conference. Zurich: Institute of Cartography
and Geoinformation, ETH. p. 67-84. Disponível em <https://atlas.icaci.org/wp-
-content/uploads/2017/09/2015_atlases_toponymy_history_proceedings.pdf>,
e em: <http://popygua.blogspot.com.br/2015/09/mapping-indigenous-from-cen-
tral-brazil.html>. Acesso em: 02 mar. 2018.
____. O Gê dos Gerais – elementos de cartografia para a etno-história e et-
nolinguística do Planalto Central: contribuição à antropogeografia do Cerrado.
Dissertação de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável (Centro de Desen-
volvimento Sustentável). Brasília: UnB, 2013. Original disponível em: <http://re-
positorio.unb.br/handle/10482/13288>. Versão atualizada pelo autor disponível
em: <http://popygua.blogspot.com/2013/03/ogedosgerais.html>. Acesso em: 21
jun. 2013.
SANTOS, Rodrigo Martins dos; CURI, Melissa Volpato. Indigenous policy review
in Brazil: ideologies, rights and perspectives. In: Working papers of the Program
on Human Rights. Stanford: Center on Democracy, Development and the Rule
of Law at Stanford University, 2012. Original disponível em: <http://fsi.stanford.
edu/publications/indigenous_policy_review_in_brazil_ideologies_rights_and_
perspectives/>. Versão traduzida para a Língua Portuguesa em: <http://popy-
gua.blogspot.com.br/2013/10/analise-da-politica-indigenista-no.html>. Acesso
em: 3 out. 2013.
SANTOS, Rodrigo Martins dos; ELOY, Ludivine. Etno-história na oralidade
xakriabá: retomando o rio São Francisco em Minas Gerais, Brasil. In: Anais do II
Congresso Ibero-Americano de Arqueologia, Etnologia e Etno-história. Socieda-
des Tradicionais e Patrimônio Cultural em Iberoamérica.Dourados-MS: UFGD,
2012. Disponível em <http://popygua.blogspot.com/2014/03/etno-historia-na-o-
ralidade-xakriaba.html>. Acesso em: 11 fev.2018.
SANTOS, Rodrigo Martins dos; BARBOSA, Santo Caetano. MeMoria Xakriabá:
migrações e mudanças alimentares. In: Ateliê Geográfico, vol. 6, n. 3. Goiânia:
UFG, 2012. Disponível em: <https://doi.org/10.5216/ag.v6i3.20518> e <http://
popygua.blogspot.com/2014/04/memoria-xakriaba-migracoes-e-mudancas.
html>. Acesso em: 20 nov. 2012.
STEWARD, Julian Haynes; MASON, John Alden. Tribal and linguistic distribu-
tion of South America. In. Steward, Julian H. (Org.). Handbook of South Ameri-
can Indians, vol. 6 – Physical anthropology, linguistics and cultural geography
of South American Indians. [encarte], 1 mapa, color, 114 cm x 82 cm. Escala: 1:
7.900.000. Washington-DC: US Gov. Printing Office, 1950.
VIEIRA JÚNIOR, Wilson; SCHLEE, Andrey Rosenthal; BARBO, Lenora de Cas-
tro. Tosi Colombina, Autor do Primeiro Mapa da Capitania de Goiás? In Histó-
ria e-história ISSN 1807-1783. Campinas-SP: Unicamp, 2010. Disponível em:
<http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=artigos&id=128>. Acesso
em: 11 set. 2013.
VILLA REAL. Thomaz de Souza. [Diário da] Viagem de Thomaz de Souza Villa
Real pelos rios Tocantins, Araguaya e Vermelho: Acompanhada de importantes
documentos officiaes relativos á mesma navegação. In: Rev. do Inst. Hist. e
Geog., sér. 2, vol. 4. Rio de Janeiro: IHGB, 1848 [1791]. Disponível em: <http://
books.google.com.br/books?id=rkkDAAAAMAAJ&printsec=frontcover>. Acesso
em: 5 set. 2013.
WELCH, James R. Age and social identity among the Xavante of central Brazil.
Dissertation of Doctor of Philosophy (Department of Anthropology). New Orleans:
Tulane, 2009. Disponível em: <http://search.proquest.com/docview/305009541/
previewPDF>. Acesso em: 19 set. 2013.
186
MAPAS ETNO-LINGUÍSTICO DO PLANALTO
CENTRAL E ADJACÊNCIAS – 1700 A 1900
187
188
189
190
191
BIBLIOTECA NACIONAL
MAPA DA CAPITANIA DE SÃO PAULO E SEU SERTÃO (1)
192
MAPA DA CAPITANIA DE GOIAZES, E DE TODO O SERTÃO POR ONDE PASSA
O RIO MARANHÃO OU TOCANTINS (2)
193
CARTA COROGRÁFICA PLANA DA PROVÍNCIA DE GOIÁS E DOS JULGADOS
DE ARAXÁ E DESEMBOQUE DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (3)
194
GUIA DOS CAMINHANTES – CARTA Nº 4
CAPITANIA DE SÃO PAULO (4)
195
GUIA DOS CAMINHANTES – CARTA Nº 5
CAPITANIA DE MATO GROSSO E CUIABÁ (5)
196
GUIA DOS CAMINHANTES – CARTA Nº 9
CAPITANIA DO RIO DE JANEIRO (6)
197
GUIA DOS CAMINHANTES – CARTA Nº 10
CAPITANIA DE GOIAZES (7)
198
MAPA DO ESTADO DE GOIÁS (8)
199
MAPA DO GIRO QUE DEU O TENENTE JOSÉ ROIZ FREIRE (9)
200
MAPA DOS SERTÕES QUE SE COMPREENDEM DE MAR A MAR (10)
201
PARTE DO GOVERNO DE SÃO PAULO E PARTE DOS DOMÍNIOS
DA COROA DE ESPANHA (11)
202
PARTE DO GOVERNO DE SÃO PAULO E PARTE DOS DOMÍNIOS
DA COROA DE CASTELA (12)
203
MAPA GEOGRÁFICO DA CAPITANIA DE VILA BOA DE GOIÁS (13)
204
BIBLIOTECA NACIONAL com bandeira] Fortaleza. [desenho de círculo vermelho
Rio de Janeiro/RJ com cruz] Arraial. [desenho de um circulo amarelo] Citio.
[asterisco] denóta que o R.o ao pé do qual se acha, se passa
em canoa, porq. os mais ou tém pontes, ou daõ vao. Os
MAPA DA CAPITANIA DE SÃO PAULO pontinhos denotaõ os cam.os, assim como da V.a de S.tos
E SEU SERTÃO (1) até Meya Ponte e desta p.a os mais Arrayaes. Neste mappa
se mostra com individuação, pouco mais, ou menos do q. se
Com a exploração do ouro a partir da década de 1720 nos comprehende nos cam.os, ou o q. nelles alcança a vista, e são
“sertões” de “Goyaz” e Mato Grosso, somado aos problemas Arrayaes, Sitios, Rios, Ribeirões, e alguns Corrigos, Serras, e
de fronteira com a Espanha, Portugal começa a interessar- Matos, deixando os pequenos, que se chamaõ capões.
-se por conhecer melhor a geografia destas regiões, o que, Primeira Parte.
na prática, significa a produção de mapas a partir das melho-
res técnicas daquele momento histórico. Para a realização
dessa tarefa, era fundamental trazer pessoal especializado Referências:
para a América portuguesa, pois os mapas elaborados pelos 1 – FONTANA, Ricardo. Francesco Tosi Colombina:
sertanistas, despreparados para o levantamento astronômi- explorador, geógrafo, cartógrafo e engenheiro militar
co das Latitudes e Longitudes, não respondiam às necessi- italiano no Brasil do séc. XVIII. Brasília, Charbel, 2004.
dades da corte portuguesa, principalmente no embate diplo- 2 – BARBO, Lenora de Castro; SCHLEE, Andrey
mático com a Espanha que estranhava o avanço demasiado Rosenthal. As estradas coloniais na Cartografia
para o Oeste, promovido pelos portugueses na dinâmica de Setecentista da Capitania de Goiás, 1º Simpósio Brasileiro
exploração do ouro e pedras preciosas. de Cartografia Histórica, Parati, 2011. Disponível em:
Nesse contexto, a coroa portuguesa contratou e enviou <https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/
ao Brasil profissionais formados nas modernas técnicas de BARBO_LENORA_C_E_SCHLEE_ANDREY_R.pdf>.
cartografia. Eram “técnicos estrangeiros, em grande parte Acesso em: 27 ago. 2013.
italianos e alemães [...] com recomendações de que deve- 3 – Coleção Morgado de Mateus, p. 429, n. 2477.
riam limitar-se exclusivamente a levantamentos técnicos e
eruditos, evitando que levassem, de volta a seus países, Fonte – Biblioteca Nacional
importantes informações econômicas e comerciais”. (1) Medidas – 65 cm × 45,2 cm em folha de 66,5 cm × 48 cm
Entre esses profissionais, está Francisco Tosi Colombina, Data – Século XVIII
italiano enviado ao Brasil, de 1743 a 1753, como explorador Identificação no site BN – cart1033415
militar, projetista de estradas, geógrafo e cartógrafo. Prestou Localização – Manuscritos 049,05,008 n.03on
serviços a Portugal durante aproximadamente 13 anos. No
território de Goiás, esteve a serviço do primeiro Governa-
dor desta Província, Dom Marcos de Noronha, o Conde dos MAPA DA CAPITANIA DE GOIAZES,
Arcos, entre 1749 e 1755. A partir de 1756, volta a Portugal E DE TODO O SERTÃO POR ONDE PASSA
onde desempenha atividades militares e irá exercer outras O RIO MARANHÃO OU TOCANTINS (2)
missões para o governo português. “Sua vinda ao Brasil te-
ria sido justificada pela exigência de situar e delimitar a zona Este mapa equivale à “segunda parte” do mapa anterior:
de influência portuguesa com relação à espanhola, com vis- “Mapa da Capitania de São Paulo e seu sertão”. (Cf. neste
ta à assinatura do conhecido Tratado de Madrid”. (1) GUIA p. 191) Desenhado a nanquim e aquarelado. Abran-
O presente mapa, delineado por Francisco Tosi Colombi- ge todo o sertão apresentando os afluentes dos rios Mara-
na, “mostra a primeira parte do ‘Caminho de Goyazes’, que nhão e Tocantins destacando a serra Negra, o rio Paraná,
se iniciava na Vila de Santos, no paralelo 24 e, neste mapa, as trilhas e as localidades. Relevo representado em forma
seguia até o paralelo 17. Abrangia a região desde a serra pictórica.
do mar até o rio do Peixe, com destaque para a cidade de
São Paulo, vilas, fortalezas, arraiais, rios e trilhas. A rede
hidrográfica foi desenhada ao longo do caminho, e o relevo Leitura paleográfica:
foi representado de forma simbólica. No carimbo, no canto Mappa da Capitania de Goyazes, e de todo o sertão por
superior direito, constava a explicação dos desenhos utiliza- onde pasa o Rio Maranhão, ou Tucatins.
dos para assinalar cidade, vila, fortaleza, arraial e sítio”. (2)
Referências:
Leitura paleográfica: 1 – FONTANA, Riccardo. Francesco Tosi Colombina:
explorador, geógrafo, cartógrafo e engenheiro militar
Mappa da capitania de S. Paulo, e seu sertaõ, em que se italiano no Brasil do séc. XVIII. Brasília: Charbel, 2004.
vem os descobertos, que lhe foraõ tomados para Minas 2 – BARBO, Lenora de Castro; SCHLEE, Andrey
Geraes, como tambem o caminho de Goyazes, com todos Rosenthal. As estradas coloniais na Cartografia
os seus pouzos, e passagens deleniado por Francisco Tosi Setecentista da Capitania de Goiás, 1º Simpósio Brasileiro
Columbina. de Cartografia Histórica, Parati, 2011. Disponível em:
Explicação. <https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/
[desenho de um templo com torre] Cidade. [desenho de BARBO_LENORA_C_E_SCHLEE_ANDREY_R.pdf.>
uma residência] Villa. [desenho de um circulo vermelho Acesso em 27 ago.2013.
205
Fonte – Biblioteca Nacional dores, Feitores, e Famulos, calcularem suas viagens em ca-
Medidas – 65 cm × 45,2 cm em folha de 66,2 cm × 47,3 cm minhos. Para o Senhor Capitão Pedro Francisco de Castro.
Data – [17--] Deliniada, e illunada por Anastasio de Sta. Anna, o pardo
Localização – Manuscritos 049,05,008 n. 01 Velho Pintor: Bahia, e ano de 1817.”
Como o intuito deste GUIA é abarcar a cartografia de
Goiás apresentamos quatro mapas do “Guia dos Cami-
CARTA COROGRÁFICA PLANA DA nhantes” relacionados a esse tema.
PROVÍNCIA DE GOIÁS E DOS JULGADOS
DE ARAXÁ E DESEMBOQUE DA PROVÍNCIA
Leitura paleográfica:
DE MINAS GERAIS (3)
A “apresentação” e “leitura paleográfica” deste mapa se GUIA DE CAMINHANTES. Carta, 4ª. Capitania de
encontram na parte correspondente à Cartografia do Arqui- S. Paulo; dividida pelo circolo pontedo de preto, e
vo Histórico do Exército. (Cf. neste GUIA p. 140) lavado de carmizim vivo, e grosso. Onde se mostra
Nesta cópia do mapa de Raimundo José da Cunha Ma- seus mais notaveis Rios; Sitios, Povoaçoens; Capitaes;
tos, percebemos intervenções manuscritas para ressaltar Serras; Estradas; Caminhos; Para o Senhor Capitaõ
os “Itinerários”, bem como o delineamento da província em Pedro Francisco de Castro. Deliniada, e Illuminada por
cor vermelha. Anastasio de S.ta Anna. Pintor.
Bahia, e Anno. 1816.
Fonte – Biblioteca Nacional
Medidas – 120 cm × 56 cm
Data – 1836 Referências:
Localização – ARC.017,02,026 Cartografia. Há outros 1 – COSTA, Antônio Gilberto. Roteiro Prático de
exemplares no catálogo antigo em ARC.008,04,044; Cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império.
ARC.001,05,033; ARC.001,03,024; ARC.017,02,007 Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2007.
Leitura paleográfica:
Referências:
Carta do Estado de Goyaz organizada em 1902, pelo 1 – CURADO, Bento A. A. J. Fleury. História da
Agrimensor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Geografia em Goiás. Disponível em: <http://www.
dm.com.br/texto/143960-histaria-da-geografia-em-goias-
Planta da Capital xxxiii>. Acesso em: 26 set. 2013.
2 – MACIEL, Viviane Barros. Da Corte à Província,
Legenda do Império à República, do Colégio Pedro II ao Liceu
A – Palacio do Governo de Goiás: dinâmicas de circulação e apropriação da
B – Matriz matemática escolar no Brasil, 1856-1918. Dissertação
215
de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. Campo Grande, 2012, p. 126. Disponível
em: <http://www.edumat.ufms.br/gestor/titan.
php?target=openFile&fileId=147> . Acesso em: 9 ago.
2013.
WILSON VIEIRA JÚNIOR – Graduado em História pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) em 2003. Mestre (2010) e
Doutor (2015) em Teoria e História da Arquitetura pelo Programa de Pós-Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni-
versidade de Brasília (FAU/UnB). Durante o período de 2011 a 2014 foi Coordenador do Arquivo Histórico do Arquivo Público do
Distrito Federal, onde idealizou e coordenou o “Projeto Documentos Goyaz” e o processo de tratamento documental e digitalização
do acervo permanente da instituição. Atua na área de História, com pesquisas voltadas para o estudo do Distrito Federal e Goiás nos
períodos colonial e imperial, cartografia histórica e paleografia. E-mail: wilsonvieirajr@gmail.com
218
Figura 2 – Mappa
Topographico da Igreja
Parochial, Capelas e
cuja veneração athe hoje continua na Ermida de Santo Casamentos e
Cemiterios de Sancta
Antonio de Padua situada alem do Rio denominado concubinatos
Lusia, [1883-1884],
de Descoberto, huá, dista
Trigant des Genettes.
da Igreja Parochial da S. Padroeira de Goiaz A posse de enor-
Em destaque a cidade
55 legoas mais ou menos, e por Alvará de 21 de Outu- mes quantidades de
Bro de 1759 foi elevada á Freguesia de natureza de Santa Luzia.
terras regia a política Fonte: IPEHBC.
Collativa com a denominação de Igreja da Virgem e a economia regional,
Matriz S. Lusia. mas as fazendas eram
pobres. As terras estavam destinadas ao gado solto
O território de Santa Luzia estendia-se por 480 no pasto e a agricultura era para o abastecimento
km de comprimento e 180 km de largura (AZEVEDO, do fazendeiro, família e agregados. A população dis-
1987, p. 197-198). Hoje, considerando esses limites, tribuída pelas fazendas do município encontrava-se
podemos incluir o Distrito Federal e Brasília ocupan- a grandes distâncias da cidade de Santa Luzia e a
do um pequeno quinhão de 5.800 km² do antigo ter- disponibilidade de sacerdotes era muito pouca para
ritório. (Figura 1) atender a tão vasto território. Tal situação permitia
A representação iconográfica de Santa Luzia, que os moradores rurais desenvolvessem mecanis-
organizada por des Genettes, remete à percepção de mos adaptativos que atendessem às suas condições
amplo território densamente povoado por fazendas de vida. Os casamentos praticamente inexistiam. O
(Figura 2), período no qual, conforme ressalta Aguiar, concubinato era a prática corrente entre as famílias.
(2003, p. 97) as áreas ao sul da província de Goiás Por ser menos dispendioso, não precisava apresentar
se beneficiaram da integração com as regiões cafeei- documentos e evitava o deslocamento até a distante
ras, e dessa forma capitalizaram mais que as áreas igreja na vila. O bispo de Goiás, Dom Cláudio Pon-
ao norte da província. ce de Leão (1881–1890), assim registrou: “no ano de
A descrição dos limites de Santa Luzia por des 1882 mais de quatrocentos casamentos, e no anno
Genettes. de 1883, mais de mil, quase todos de concubinarios”
(SILVA, 2006, p. 292). Por seu lado, a igreja tenta-
Esta Freguesia dividi-se ao leste va dar um destino religioso à união, mas, apesar de
com as Parochias da Villa Formosa da Imperatriz, e condenar tais hábitos, era condescendente diante da
de Sancto Antonio da Cidade do Paracatú, para
realidade do contexto. O padre des Genettes então
oeste com a Freguesia da Senhora da Penha do Corumbá,
ao Norte com as da Villa Formosa, e de Trahiras, se- observou:
guindo as divisas de huá e outra Parochia athe
Consta dos livros respectivos que os Parochos desta
a distancia de vinte e cinco legoas desta cidade, acom-
Freguesia desde 1763 exercerão sempre as funções
panhando as vertentes do Rio Maranhão athe
de Vigarios da Vara, e Juises dos Casamentos, e muitas
confrontar com a Parochia de S. José do Tocantins, e
veses as de Visitadores da respectiva Igreja, em
ao Sul com as Parochias de Catalaõ, Vai-vem, e Santa
attenção as necessidades peculiares da Parochia, que
Cruz, ficando a da cidade do Bomfim ao Sudueste.
sendo populosa, tem grande parte dos seus habitantes
que se achão dissiminados pelos longos, e estremos
da Freguesia, pela sua pobresa, vexames, e obstaculos
219
em procurar a Igreja Matriz, do que resulta perma- era considerada uma morte maldita, indesejada. A
neceu muitos delles em mancebia, quando pelos morte ideal deveria ser a morte assistida e não a
mesmos Parochos, por occasião de correr a Parochia solitária. A leitura da parca documentação e biblio-
naõ saõ feitos de pronto os casamentos com dispensas de grafia, que fazem menção a cemitérios rurais, leva
pregões, em oratorios particulares, para cujo fim taõ bem a inferir que as escolhas de espaços rurais para o
naõ raras vezes saõ necessarios dispensas de impedimentos. sepultamento pareciam ser a solução para uma so-
ciedade apegada a ritos católicos e que os praticava
mais pelas crenças e contingência da presença ecle-
Cemitérios rurais e urbanos sial. Para corroborar tal entendimento, transcreve-
mos uma crônica do escritor e historiador goiano
A distância da vida rural do centro urbano pro- Sylvio do Rosário Curado Fleury (1913–2006) sobre
vocou arranjos para com o local de descanso dos os ritos do enterro rural, em fins do século XIX e
mortos. Os cemitérios sagrados e costumeiramente primeira metade do XX.
colados ao templo, organizados na vila, provavel-
mente em todo século XIX em Goiás, ganharam es-
paço no campo. O mapa de des Genettes traz uma Se alguém nas redondezas morria
relação de cemitérios públicos, com covas pouco ao quarto ia fazer caridos e prestativo;
ajudava o fúnebre preparativo
profundas, sacralizados, sem cercas, ou capelas,
e acompanhava o banguê, a rede mortuária
com apenas uma cruz em campo aberto, dispostos em exaustiva caminhada,
ao longo dos caminhos e próximos às fazendas. Tal- até o cemitério perdido no meio da chapada.
vez em Goiás tenham existido muito mais cemitérios E na noite da Sexta-feira Santa,
rurais que em províncias como a de Minas Gerais,
devido às grandes distâncias que intermediavam os
centros urbanos e estes a vida no campo. Como bem Figura 3 – A posição de dois cemitérios (círculo
observou João José Reis (1997, p. 107) “no Brasil vermelho) em relação à vila de Santa Luzia (triângulo
rural a assistência paroquial era dificultada pelas vermelho). Adaptado de “Mappa Topographico
distâncias, pela própria ausência de padres e so- da Igreja Parochial, Capelas, e Cemiterios de
bretudo pela população a ser assistida”. Morrer de- Sancta Lusia”, [1883-1884], Trigant des Genettes.
sassistido por um padre e fora do espaço sagrado
220
Figura 4 – Adaptado do Mappa Topographico
da Igreja Parochial, Capelas, e Cemiterios de
Sancta Lusia, em destaque as igrejas de Santa
Luzia, Santo Antônio dos Montes Claros,
Corumbazinho, Agoa Fria e Mestre de Armas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Maria do Amparo Albuquerque. Terras de Goiás: estrutura fundiária
(1850–1920). Goiânia: UFG, 2003.
AZEVEDO, Francisco Ferreira dos Santos. Annuario histórico, geographico e
descriptivo do Estado de Goyaz para 1910. Brasília: SPHAN/8ª DR, 1987.
DES GENETTES, François Henry Trigant. Mappa Topographico da Igreja Pa-
rochial, Capellas, Ermidas, e Cemiterios de Santa Luzia, com declaração do
numero, e nomes dos Sacerdotes existentes na Freguesia, contendo diversas
outras informações. [1883-1884]. Acervo do Instituto de Pesquisas e Estudos
Históricos do Brasil Central, Goiânia, Goiás.
FLEURY, Sílvio do Rosário Curado. Os filhos da terra. Brasília: Duo Design,
2009.
NOVAIS, Fernando A. História da vida privada no Brasil: Império. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
O Publicador Goyano, 14 e 21 novembro de 1885. Acervo Coleção de Jornais
da Biblioteca da Câmara dos Deputados.
REIS, Gelmires. Planta do Município de Santa Luzia, 1928. Acervos da Acade-
mia de Letras e Artes do Planalto Central, Luziânia, Goiás; Arquivo Histórico do
Estado de Goiás, Goiânia, Goiás.
SILVA, José Trindade da Fonseca. Lugares e Pessoas: subsídios eclesiásticos
para a história de Goiás. Goiânia: UCG, 2006.
222
IPEHBC – INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS
HISTÓRICOS DO BRASIL CENTRAL
MAPA TOPOGRÁFICO DA IGREJA PAROQUIAL, CAPELAS, ERMIDAS,
E CEMITÉRIOS DE SANTA LUZIA
223
CASA DA CULTURA DE LUZIÂNIA
PLANTA DO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA
224
IPEHBC CASA DA CULTURA DE LUZIÂNIA
Instituto de Pesquisas Luziânia/GO
e Estudos Históricos do
Brasil Central
Goiânia/GO PLANTA DO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA
Leitura paleográfica:
Estrada de Ferro:
E. F. de Goyaz: A última Estação em trafico, (Viannopolis)
fica situado a distancia de 108 km da cidade de Santa
225
Luzia. Traçado do E.F.C do Brasil (Pirapora à Belém do E.F. Goyaz. / Rede de Viação Sul do Estado de Goyaz. /
Pará) passando na cidade de Formosa, ficará a distância Plantas das Fazendas medidas no Municipio / Gelmires
da cidade de Santa Luzia 126 km. Reis, Intendente Municipal em Exercício.
Limites
Começando da Barra do Rio São Bartholomeu, no Rio Nota:
Corumbá, pelo São Bartholomeu acima, até a barra do Informações colhidas, nos Almanachs de Santa Luzia para
Rio Pamplona; por este acima, até a sua cabeceira; desta, os annos de 1920 e 1925 e no Diccionario Geographico do
em rumo à cabeceira do Ribeirão Samambaia; desta Municipio de Santa Luzia, (inedicto) organizados pelo
cabeceira, pelo rincão divisor das águas do Rio São atual Intendente Municipal o Ex.mo Sr. Gelmires Reis.
Bartholomeu e do Rio Jardim, até morrer no mesmo Rio
São Bartholomeu; por este acima, que ahi toma o nome Data Históricas – Santa Luzia foi: fundada pelo
de Rio Paranoá; por este acima, até a barra do Ribeirão Bandeirante paulista Antonio Bueno de Asevedo, em 13
do Gama; por este acima, até a barra do Corrego Fundo; de dezembro de 1746; / Julgado, em 30 de outubro de
por este acima, até a barra do Corrego Vizente Pires; por 1749; / Freguezia de naturesa collativa, em 2 de outubro
este acima, até a sua cabeceira, desta, pela Estrada do de 1756; / Villa, em 1 de abril de 1833; / Cidade, em 5 de
Urbano, em rumo à origem do Ribeirão da Palma; por este outubro de 1867; / Sede de Comarca, em 25 de julho de
abaixo, até sua barra no Rio Maranhão; por este abaixo, 1907.
até a barra do Rio Verde; por este acima, até o logar em
sua cabeceira denominado Bocaina, onde existia uma Propriedade do Município de Santa Luzia – Estado de
cruz; dahi, pelo espigão, em rumo à cabeceira do Ribeirão Goyaz
Macacos; por este abaixo, até sua barra no Ribeirão Areias;
por este abaixo, até sua barra no Rio Corumbá; por este [assinatura] / Engenheiro civil / Santa Luzia – Goyaz –
acima, até confrontar a Chapada das Covas ou Covoados; Agosto 1928.
pela chapada, até o Rio Piracanjuba; por este abaixo, até a
barra do Ribeirão da Extrema; por este acima, até a ponta
da Serra do Gordurinha; dahi, pelo espigão, até apanhar Referências:
os Marcos da Demarcação da Fazenda Mandaguahy; por 1 – REIS, Gelmires. Diccionário Geographico –
estes marcos, até o que fica mais próximo do Ribeirão do município de Santa Luzia, estado de Goyaz.
Mombuca, em rumo ao espigão do outro lado; deste, Estabelecimento Gráphico Carvalho Filho, Araguary.
pelas águas vertentes, até chegar à estradinha que divide Edição do autor, 1929.
a Fazenda Posse da do Japão; dahi, voltando à direita,
pelo espigão do Poção, até o Rio Corumbá; por este acima, Fonte – Casa da Cultura Rui Carneiro – Luziânia/GO
até a barra do Rio São Bartholomeu, onde teve inicio a Medidas – 30 cm × 45 cm
descripção dos limites. Data – 1928
Localização – Emoldurado e afixado na parede de uma
Nota: das salas da Casa da Cultura Rui Carneiro do Município
[desenho de uma estrela com quatro pontas] de Luziânia, dedicada ao historiador daquela cidade,
Indica o loga onde cahiu o notável Holosidero (meteorito) Gelmires Reis.
Santa Luzia, em 1º de junho de 1919 as 18 horas. Foi
remettido ao Museu Nacional do Rio de Janeiro em 1928. Observação – Há um outro exemplar, com medidas
diferentes e bastante danificado, no Arquivo Histórico de
Estradas de automóveis Goiás.
Distancia entre a cidade de Santa Luzia e a Capital
de Goyaz são aproximadamente pelas estradas de
automóveis:
Santa Luzia via Viannopolis, Bella Vista, Campinas,
Inhumas e Itaberahy – 438 km.
Santa Luzia via Viannopolis, Annapolis, Corumbá,
Pyrenopolis, Jaraguá e Itaberahy – 446 km.
Santa Luzia via Viannopolis, Annapolis, Aracahy, São
Francisco das Chagas, Jaraguá e Itaberahy – 385 km.
Santa Luzia via Viannopolis, Annapolis, Inhumas e
Itaberahy – 350 km.
Observação
Esta planta foi organizada por informações de:
Comissão do Dr. Luiz Cruls – 1893 / Mappa do Estado de
Goyaz – por Frei Reginaldo Tournier – 1918. / Traçado do
226
BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA
CAPITANIA DE GOIÁS – “Mapa dos Bispados” (1)
227
MAPA DO INTERIOR DO BRASIL ENTRE A FOZ DO AMAZONAS E SÃO PAULO (2)
228
BIBLIOTECA PÚBLICA DE ÉVORA ca como construção de igrejas, manutenção da atividade
Évora - Portugal pastoral e missionária, salário para padres e bispos deve-
riam ser providenciados pelo Estado português, por outro
lado “no plano jurídico foi perdendo a sua autonomia e
se tornando cada vez mais um instrumento das monar-
CAPITANIA DE GOIÁS (1) quias.”1
“Mapa dos Bispados” Portanto, as responsabilidades delegadas pela Igreja
ao monarca português “faz com que os reis passem a su-
periores religiosos ou a uma espécie de super bispos, de
Diferentemente do mundo no qual vivemos em que, a delegados pontifícios, ou, como viria a dizer Pombal, de
partir de longo processo histórico, consolidou-se a sepa- prelados espirituais de todos os seus domínios no ultramar.
ração entre Estado e Religião, todo o complexo processo Ao papa restava apenas a confirmação dos atos do rei que
de expansão lusitana “vem acompanhado de forte conota- se relacionassem com as coisas da Igreja em suas terras
ção religiosa, pois os portugueses se consideravam com de além-mar.”2 Por causa do sistema do Padroado “a Igreja
o encargo de ampliar as fronteiras da Cristandade para não gozou nunca, no Brasil, de independência e autonomia.
além do reino, através de suas expedições marítimas”.1 Os negócios eclesiásticos da colônia estiveram inteiramen-
Dessa forma, a Igreja Católica no Brasil, desde a chegada te nas mãos da Coroa, que deles se ocupavam através de
dos portugueses até a proclamação da República, estava um departamento de sua administração, a Mesa da Cons-
subordinada ao Estado por meio do sistema do Padroado. ciência e Ordens”.1
Esse sistema foi “o instrumento mais efetivo através do A partir de 1549, com o estabelecimento do Governo
qual a Santa Sé comprometeu os monarcas portugueses Geral em Salvador, Bahia, tendo em vista as dificuldades
em sua missão religiosa [...] sobre as novas terras desco- na administração das capitanias hereditárias, foi criada em
bertas”.1 1551, pelo papa Júlio III, a primeira diocese na América
Não se trata de atitude unilateral em que a coroa portu- portuguesa: o “Bispado da Bahia”. No documento (bula) de
guesa tenha usurpado as atribuições religiosas da Igreja criação deste Bispado, o papa é claro e direto em confirmar
Católica, mas, sim, em uma “forma típica de compromis- os direitos do Padroado ao monarca português: “Declara-
so entre a Santa Sé e o governo português que consistia mos que o direito de padroado existe [...] com todo o vigor,
especificamente do direito de administração dos negócios essência e eficácia em virtude de verdadeiras e totais fun-
eclesiásticos, concedido pelos papas aos soberanos por- dação e dotação reais, [...] e não poderá ela ser derrogada
tugueses”.1 Assim, “a Coroa se comprometia a manter a fé nem mesmo pela Santa Sé, sem primeiro intervir o consen-
católica como religião oficial e a empenhar-se na difusão timento expresso de João, Rei [...], perpétuo administrador
da fé, oferecendo aos ministros eclesiásticos os meios no espiritual e temporal, [...] delegado da Santa Sé.”
econômicos para a realização de sua missão religiosa. É dentro desse contexto, ainda não secularizado e de
A hierarquia eclesiástica, por sua vez, assumia o com- profunda vinculação entre Religião e Estado, que pode-
promisso de colaborar intimamente no fortalecimento do mos entender a confecção do “Mapa dos Bispados”. O
projeto colonial [...] e a religião assumia cunho social sig- Estado português, além de se preocupar com a criação de
nificativo, havendo interpenetração mútua entre fé e cul- mapas com os limites das capitanias com o fim de ajudar
tura lusitanas.”1 Essa profunda relação entre Religião e na administração pública, tinha também, sob sua respon-
Estado criou uma experiência social chamada pelos so- sabilidade, determinar os limites dos Bispados, ou Dioce-
ciólogos de “Cristandade”: uma profunda identificação ses, pois, como vimos, a ele competia a tarefa de evan-
da ordem política com a ordem religiosa, em que a Igreja gelização e catequese, bem como a promoção do culto,
católica procura assegurar sua presença e expandir seu a nomeação e o sustento dos ministros eclesiásticos. O
poder na sociedade civil utilizando, antes de tudo, a me- mapa servia para ajudar nessa complexa responsabilida-
diação do Estado. de ao estabelecer a circunscrição territorial sob a respon-
Essa união entre Estado e Igreja gerava, de fato, a sabilidade de cada um dos Bispos indicados pela coroa
“subordinação efetiva da autoridade eclesiástica à auto- portuguesa.
ridade civil. Na prática, não havia apenas união, mas a Este mapa apresenta o termo de vários Bispados que
realidade subjacente era que a Igreja dependia do Es- compõem ou se situam ao redor da Capitania de Goyaz
tado para a sua subsistência e para sua expansão. [...] criada em 1748, apresentando as diversas Freguesias
O monarca tornava-se assim uma espécie de delegado (Paróquias). São apresentados os seguintes Bispados:
pontifício plenipotenciário para a colônia brasileira [...] Arcebispado da Bahia, criado no ano de 1551; os Bispa-
passando a exercer, ao mesmo tempo, um poder de or- dos do Pernambuco e Rio de Janeiro criados em 1676,
dem civil e eclesiástica, principalmente nas colônias e do- ainda no período da União Ibérica; o Bispado do Ma-
mínios portugueses.”1 Dessa forma, cabia ao Rei a apre- ranhão, criado em 1677; o Bispado do Pará, criado em
sentação dos candidatos aos bispados e às paróquias, o 1720 e o Bispado de Mariana, criado em 1745, no mesmo
direito de promover, transferir ou afastar os clérigos de ano em que também foi criado o Bispado de São Paulo,
seus cargos, o poder de definir o âmbito da jurisdição não referenciado no mapa. O termo “Arcebispado” sur-
desse corpo religioso, a ereção de dioceses e paróquias, ge quando um Bispado é dividido em novos Bispados. A
além da formação do clero e da administração dos bens partir desse momento, o novo limite estabelecido para a
eclesiásticos. primeira Diocese passa a ser indicado como “Arcebispa-
Se, de um lado, a Igreja Católica foi favorecida no do” e as subdivisões como “Bispados”. O mapa apresen-
campo econômico porque toda infraestrutura eclesiásti- ta, por meio de desenho, as sedes de muitas Freguesias
229
(Paróquias), indicando que o desbravamento e conquista Referências:
dos Sertões estiveram, em grande parte, vinculados à ati- 1 – AZZI, Riolando. A Sé Primacial de Salvador – Período
vidade de evangelização. Colonial. Volume I. Petrópolis: Vozes, 2001.
Graficamente, “as divisórias de água são sublinha- 2 – AZEVEDO, Thales de. Igreja e Estado em tensão e
das por fiadas de pequenos montes triangulares azula- crise. São Paulo: Ática, 1978, p. 26.
dos. A organização em Bispados apóia-se quase sempre 3 – Lugares e regiões em mapas antigos – publicada por
naqueles acidentes naturais e ressalta, sobretudo pelos ocasião da Exposição “Lugares e Regiões em Mapas
grandes letreiros a maiúsculas. [...] Aparecem também no Antigos”. Biblioteca Pública de Évora, 11 de julho a
mapa numerosas “Terras de Gentio”, com o nome das di- 11 de agosto de 1997, no âmbito do XVII Congresso
versas tribos índias. São traçados alguns caminhos fun- Internacional de História da Cartografia.
damentais, com a indicação que a Baía se encontrava 4 – RUBERT, Arlindo. História de la Iglesia em Brasil.
a 20 jornadas e Cuiabá a 30 jornadas de Vila Boa de Madrid: Editorial Mapfre, 1992.
Goiás”.3
“A legenda fornece uma preciosa indicação sobre a técni- Fonte – Biblioteca Pública de Évora
ca que se usou para construir os mapas do sertão. Vejamos Medidas – 131 cm × 67 cm
o que se consegue ler, normalizando um pouco a ortografia: Data – [1745-1800]
‘Todas as distâncias da capitania se acham neste mapa ver- Localização – Gaveta IV – n. 24
dadeiramente reguladas debaixo das leis do petipé [escala],
como também as divisões dos Bispados, com a declaração,
porém, que nas respectivas Longitudes [comprimentos] se
incluem na medida do compasso as voltas que fazem os MAPA DO INTERIOR DO BRASIL ENTRE A
caminhos’. Também se declara que, quanto ‘ao rumo e Lon- FOZ DO AMAZONAS E SÃO PAULO (2)
gitude do rio Tocantins’, o desenhador teve de regular-se
pela ‘fantasia dos que o navegam’. É, portanto, um mapa de
itinerários, onde o cartógrafo teve de compensar, na medida Este mapa é uma cópia manuscrita feita a partir do pri-
do possível, as informações distorcidas que lhe forneciam meiro mapa de Goiás – 1750 – elaborado por ordem de
os viajantes”.3 Ângelo dos Santos Cardoso, secretário do Governador de
Como o mapa indica o “Bispado de Mariana” e este foi Goiás, Dom Marcos de Noronha, e também a partir do se-
criado por meio da Bula Papal “Condor lucis aeternae” de gundo mapa da Capitania de Goiás elaborado, em 1751,
6 dezembro de 1745, podemos inferir com certeza que pelo geógrafo, cartógrafo e engenheiro militar, Francisco
esse mapa é posterior a essa data e provavelmente está Tosi Colombina por solicitação do mesmo governador.
ligado às grandes exigências de evangelização com o Isso é possível constatar pelo uso de textos de Tosi
enorme número de novos “fregueses” que invadiram os Colombina e por topônimos que só se encontram no pri-
Sertões em busca do ouro e de pedras preciosas. meiro mapa de Goiás, como: “Sobradinho”, “Corumbá”. Da
Ao mesmo tempo, servia para que a Coroa apresen- lista dos “sítios” no mapa de Goiás de Ângelo dos Santos
tasse seus esforços em prol da evangelização e do em- Cardoso, omite apenas o sítio “Barra” e acrescenta o sítio
prego do dízimo, cujo direito de recolhimento, a Igreja “Ilha Comprida”. Comparando com o de Tosi Colombina,
havia concedido ao Estado português, dentro do sistema acrescenta “Ilha Comprida” e “Missoens ou Aldeias dos
do Padroado. A administração prática desse sistema com P.P da Companhia de Castella proximamente erectas”.
profunda relação entre Igreja e Estado era executada pela Vários rios que estavam só delineados nos dois ma-
Mesa de Consciência e Ordens, espécie de Conselho de pas usados como referências foram nomeados. Mas, não
Estado, que discutia e apresentava ao rei os assuntos de possuem elementos que nos permitam descrever o motivo
caráter eclesiástico. específico pelo qual foi elaborado.
Para maiores informações sobre o contexto político, eco-
nômico e social em que os dois primeiros mapas de Goiás
Leitura paleográfica: foram elaborados, sugerimos que se consulte o mapa n. 1
do acervo do Itamaraty e os mapas n. 20 e 21 do acervo cor-
Todas as distancias da Capitania de Goyás se achaõ respondente ao AHEx – Arquivo Histórico do Exército, bem
neste mappa verdadeyramente reguladas debayxo das como o artigo do historiador Wilson Vieira Júnior, “Primeiros
leis do petipé, como tambem as devizoens dos Bispados mapas da Capitania de Goiás”. (Cf. neste GUIA p. 32)
com a declaraçaõ porem q. nas respectivas Longitudes O autor desta cópia suprimiu o longo texto dirigido a
se imcluem debayxo da medida do compasso as voltas Dom Marcos de Noronha (Conde dos Arcos), Governador
q. fazem os caminhos: e emquanto ao rumo e Longitude da Capitania de Goiás, no qual Tosi Colombina descreve os
da Ryo Tocantins desde o Pontal athé a Villa do Camutá, motivos pelos quais elaborou o mapa, bem como os meios
naõ tem aquelle a esta mais q. fantazia dos q. o navegaraõ, usados. E aproveitou somente o texto que, no original, re-
digo naõ tem aquelle a esta outra regra mais q. a fantasia cebe o título de “EXPLICAÇÃO”, no qual Tosi Colombina
dos q. o navegaraõ e comforme a esta se lhe deu a apresenta uma detalhada instrução de como o mapa deve
distancia, q. se conhecerá usando do mesmo petipé. ser lido: a rota para a Província de Goiás é apresentada
como um caminho que vai da Vila de Santos – Província de
São Paulo até o Centro-Oeste.
No trajeto, o cartógrafo assinala as rotas terrestres e pe-
los rios, individuando Vilas, Povoações, Roças, Sítios e Ser-
230
ras. Em alguns momentos, indica o número de dias aproxi- mas se apontaõ só os que se achaõ neste mappa em
mado de caminhada entre dois pontos da rota. grande distancia do alistado.
Contudo, não transcreveu literalmente a “EXPLICAÇÃO”
elaborada por Tosi Colombina, aproveitando apenas algu-
mas informações e sintetizando outras, o que resultou em 1. Santos
um texto bastante confuso. 2. S. Vicente
Em relação às Latitudes, o autor dessa cópia parece pos- 3. Fortaleza da Barra de Santos
suir melhores informações, pois, ao lado de alguns rios, faz 4. Forte da Betioga
observações a respeito dessas coordenadas. Assim, sobre 5. Conceiçaõ
o Rio Xingu, comenta: “Este rio Xingú supoemse chega athe 6. Jaguapé
12 graos ao Sul e que tem as cabeceyras no caminho do 7. Cananea
Cuiabá para Goiyazes”. Para o Rio Guanapú afirma: “Naõ 8. S. Paolo
há nota de que este rio suba tanto asima”; “estas cabeceiras 9. Paranahiba
que se daõ ao Rio Guanapú 10. Itú
11. Araritaguaba
12. Sorocaba
Leitura paleográfica: 13. Jundiahi
14. Mogi
Os puntinhos vermelhos denotaõ a derotta de Santos, 15. Arrayal dos Bororos gov.do pello Corn.el Ant.o Pirez
S. Paulo, Ithú athé V.a Boa de Goyas; e d’esta athé a 16. S. Cruz
Natividade. Os puntinhos amarelos a/volta, que se fas 17. S. Luzia
para V.a Boa. Os pretos da Villa Boa athe o Cuyabá a 18. Meya Ponte
derotta, e comunicaçaõ destas a villas, e do mato groço 19. Jaraguá
quando se vay por terra./Porque quando se vay em 20. Ouro Fino
canoa, a maõ se deçe o Rio Cuyabá e dos Porrudos, 21. Ferreiro
e se sobe o Paraguay, e o Joru athé onde travessa o 22. Villa Boa de Goayaz
caminho de terra, o que/se segue deixando as canoas... 23. Anta
os puntinhos pretos desde Araraytaguaba athe o 24. Piloens
Cuyabá pellos Rios Tiaté, Pardo, Camapoã, Cuxiim, 25. Quirixas
Taquari, Paraguay/Chunér, Porrudos e Cuyabá, e 26. Guarinos
os quais deçendo pella margem do Porrudos sobem 27. Pilar ou Papoaam
em Paraguay, a Sapituba, denotaõ o caminho que fez 28. Agoa quente
Joaõ de Sousa de Azeve/do quando varou por terra 29. Trahiraz
athe o Rio Somidouro, pello qual decendo, e pello Rio 30. S. José
Tapajós, e Amazonas foi ao gram Pará, donde voltando 31. S.a Rita
subio p.a o dito Amazo/nas, e Madera athe o Mato 32. Moquem
grosso... os puntinhos amarelos da V.a do Cuyabá, 33. Chapada de S. Gonçalo
que sobem pela margem do dito rio, o atraverçam por 34. Morrinhos, ou Amaro Leite
terra athé dar no rio Preto, e no dos Arinos denotam 35. Corriola
a viagem de canoas, q. novam.te descobrisse, e faz 36. Carlos Marinho, ou S. Feliz
communicavel a dita Villa com a cidade do Gram Pará... 37. Chapada de S. Feliz, ou de Carlos Marinho
Os puntinhos pretos no/R. Tocantins, q. principiaõ 38. Cavalgante
onde saõ 2 sinais de sitios, q. começaõ as povoaçoens 39. Paranã ou Itiquira
ou roças do Gram Pará denotaõ a viagem, q a gente da 40. Arraiaz
Nativid.e/embarcandose em canoas no pontal e feitose, 41. Barra da Palma, ou terras novas
a chegando em onze dias as ditas roças e destas athe 42. Duro
os canais [ou?] como chamaõ Guarupés/em 2 dias, 43. Natividade
e por elles 3 dias, q tudo fazem 16 athe o Gram Pará; 44. Pontal
porem a subida impossivel, e a descida se fas em tem/ 45. Descoberta do Carmo
po de chais: mais facil se poem a comunicaçaõ desta 46. Missoens, ou Aldeias dos P.P. da Comp.a de
Villa com a cid.e do Gram Pará embacardo a 2 dias de Castella proxim.te erectas.
viagem/ abaixo do Rio Vermelho, q entra no Rio Grd.e 47. Ilha Comprida
do cam.o de Cuyabá q com o nome de Araguaia entra
no Tocantins/A sombra ou circulo amarello demarca a
Capt.a de Goyas; nos cam.os q vem de S. Paulo a esta Referências:
Villa e desta vaõ a/Nativid.e e voltaõ naõ se encontraõ 1 – VIEIRA JÚNIOR, Wilson; SCHLEE, Andrey Rosenthal;
matos de consideraçaõ, mais q o de Moggi na Comarca BARBO, Lenora de Castro. Tosi Colombina, autor do
de S. Paulo, e o Matto/ grosso da Meia ponte nesta primeiro mapa da Capitania de Goiás? XXIV Congresso
Capt.a que vaõ demarcados com arvoredos: os mais q Brasileiro de Cartografia – Aracaju/SE – Brasil, 16 a 20 de
se chama capoens por serem piquenos,/naõ se apontaõ: maio de 2010.
as terras, q se encontraõ estaõ demarcadas: os citios do 2 – FONTANA, Riccardo. Francesco Tosi Colombina: o
cam.o de S. Paulo a esta Villa naõ estaõ/marquados, cartógrafo do Brasil Central. Brasília: Ed. do Autor, 2009.
231
3 – BARBO, L. C.; SCHLEE, A. R. A cartografia histórica
e os caminhos de ocupação do atual Distrito Federal,
In: Anais do III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia
Histórica. Ouro Preto/MG, 2009.
4 – ALENCASTRE, José Martins Pereira de. Anais da
Província de Goiás. Brasília, Ed. Gráfica Ipiranga Ltda.
1979.
ELIAS MANOEL DA SILVA – Bacharel e Licenciado em História pela Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) e Mestre em
História Social pela UnB (Universidade de Brasília). Estudou Filosofia na Universidade de Caxias do Sul/RS e Teologia no Instituto
Paulo VI em Londrina/PR. É historiador do Arquivo Público do Distrito Federal desde 2005. Atualmente é Diretor da Diretoria de Pes-
quisa, Difusão e Acesso dessa instituição. Desenvolveu pesquisas para o “Projeto Documentos Goyaz”, inventariando e digitalizando
toda e qualquer documentação que permita conhecer melhor o complexo contexto social, econômico, político e religioso das cidades e
fazendas da região dos municípios de Luziânia, Formosa e Planaltina que cederam território para a formação do novo Distrito Federal
no Planalto Central, a qual redundou neste GUIA. É organizador desta publicação. E-mail: eliasmanoeldasilva@gmail.com
234
dos eles com um sabor de “diário de bordo”, optamos, Do Observatório Astronômico, sediado no Morro
então, por elaborar esse artigo dando importância, do Castelo, no Rio de Janeiro, convidou os astrônomos
tanto quanto possível, à citação literal dos Relatórios, Henrique Carlos Morize e Julião de Oliveira Lacaille,
às vezes, com perda para a qualidade estilística do além de dois mecânicos que ficaram encarregados da
texto e para as regras de concordância linguística. manutenção dos instrumentos científicos: Eduardo
As descrições dos trabalhos são tão realistas e cheias Chartier e Francisco Souto. Ressalte-se a presença
de detalhes que comentários nossos apenas empo- desses “mecânicos”, pois a Comissão irá levar vários
breceriam o vigor das experiências desses idealistas instrumentos para leitura astronômica, alguns dos
pesquisadores-desbravadores dos sertões do Brasil, quais exigirão constante manutenção, montagem e
no início da república brasileira. desmontagem: dois círculos meridianos, teodolitos,
sextantes, micrômetro de Lugeol, luneta astronômica,
heliotrópios, cronômetros e relógios, seis barômetros
1. A cartografia da Comissão Exploradora do de mercúrio sistema Fortin, 11 aneroides, bússolas e
Planalto Central do Brasil podômetros. Em uma época em que os conhecimen-
tos em Astronomia eram essenciais à cartografia, “a
Do ponto de vista da cartografia, qual era a tare- utilização de teodolitos, de cronômetros e dos cha-
fa específica dessa Comissão? As “Instruções” do Mi- mados círculos meridianos portáteis (que, por pesa-
nistro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras rem de 30 a 50 Kg, nada tinham de portáteis) eram
Públicas, Antão necessários para a
Gonçalves de Faria, determinação, com
por meio da Porta- grande precisão,
ria 119-A, de 17 de das posições geo-
maio de 1892, esta- gráficas dos vérti-
beleceu: “No desem- ces do quadrilátero
penho de tão impor- por meio de obser-
tante missão deveis vações meridianas
proceder aos estu- de estrelas”.4
dos indispensáveis Entre seus ex-
ao conhecimento -alunos da Escola
exato da posição as- Superior de Guer-
tronômica da área a ra, convidou os en-
demarcar”. 2
genheiros Augusto
Além dessa in- Tasso Fragoso, Ce-
dicação de ordem lestino Alves Bas-
cartográfica, vá- tos, Hastimphilo de
rios outros estudos Moura, Alípio Gama
eram sugeridos: e Antônio Cavalcanti
“proceder aos estu- Albuquerque. Tendo
dos [...] da orografia, em vista algumas
Figura 1 – Membros da Comissão Exploradora do Planalto Central
hidrografia, condi- exigências específi-
do Brasil. Henrique Morize – 1892. Acervo – Arquivo Público do DF.
ções climatológicas cas da “Instrução”,
e higiênicas, nature- convidou alguns es-
za do terreno, quantidade e qualidade das águas, [...] pecialistas: Antônio Martins de Azevedo Pimentel – mé-
materiais de construção, riqueza florestal, etc., da re- dico higienista; Eugênio Hussak – geólogo; Ernesto Ule
gião explorada”. 3
– botânico. É importante ressaltar que, “para os serviços
Do ponto de vista estritamente cartográfico, o gerais, foram recrutados os servidores da região: Feli-
trabalho dessa Comissão era essencialmente de na- císsimo do Espírito Santo, Antônio Jacinto de Araújo
tureza astronômica: determinar os quatro cantos de Costa, João de Azevedo Peres Cuiabá e José Paulo de
um quadrilátero no Planalto Central do Brasil que Melo”.5
compreendesse os 14.400 km2, conforme determina- Um dos primeiros problemas de ordem cartográ-
va o artigo 3º da primeira Constituição da nascente fica a enfrentar dizia respeito à interpretação a ser
república brasileira. dada ao artigo 3º da Constituição (1891) que afirma-
Para executar essa tarefa, Luiz Cruls selecionou va: “Fica pertencente à União, no Planalto Central
profissionais que tinham o perfil adequado, ou seja, da República, uma zona de 14.400 km2, que será
com formação em Astronomia e Geodésia, por sinal, oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se
disciplinas que ele mesmo lecionava na Escola Supe- a futura Capital Federal”. Que interpretação dar ao
rior de Guerra. “Planalto Central da República”, já que se estende
Ao todo, eram 22 homens entre astrônomos, en- por vários estados como Goiás, Minas Gerais, Bahia,
genheiros, professores da Escola Militar, especialis- Maranhão, Piauí, Rio Grande do Sul e Rio de Janei-
tas de diversas áreas e, para a proteção e cuidados do ro? Logo no início do Relatório Final dessa Comissão,
grupo, um contingente de militares, um médico e um publicado em 1894, Luiz Cruls se estende em longa
enfermeiro. (Figura 1) reflexão sobre esse tema.
235
Devido a importância para a cartografia produzi- de Pirenópolis a fim de determinar a altitude exata
da por essa Comissão, bem como pela tradição que os do Pico dos Pireneus – tido como a maior altitude do
trabalhos dessa Comissão deixaram para as outras Planalto Central – e “a respeito da qual reinava grande
Comissões que se debruçaram sobre a transferência discordância entre os geógrafos”.11 A visita àquele pon-
da capital pelos próximos 60 anos, podemos assim to topográfico se revestiu de liturgia científica quando
sintetizar seu raciocínio: apesar de o Planalto Cen- a Comissão “querendo deixar no cume dos Pyreneus
tral se estender por muitos estados, “é evidente que, um padrão da nossa ascensão, ali colocamos um do-
por Planalto Central, se deve entender a parte do pla- cumento, que depois de assinado por todos os que se
nalto brasileiro mais central em relação ao centro do achavam presentes, foi enterrado numa caixa de me-
território, isto é, mais próximo deste”.6 Em seguida, tal convenientemente selada”.12 (Figura 2 e 3)
buscando fundamentar-se na geografia, lembra que é Acreditamos, contudo, que o raciocínio acima ex-
importante examinar “qual a configuração que apre- posto, de natureza mais geográfica, foi também per-
senta o planalto brasileiro, cujas altitudes, segun- meado por outros estudos feitos pela Comissão, prin-
do os geólogos mais autorizados variam entre 300 e cipalmente a partir do livreto, “A Questão da Capital:
1.000 metros ou superior a 1.000 metros”.7 Coerente marítima ou no interior?”,13 do importante historia-
com o raciocínio de um “centro” para o Planalto Cen- dor brasileiro Francisco Adolfo Varnhagen, publicado
tral, Cruls conclui que “a única parte, porém, d’este pela primeira vez em Viena, Áustria, no ano de 1877,
planalto, que nos interessa, é evidentemente a mais quando ali exercia função diplomática, como repre-
elevada, portanto, só trataremos d’aquela cuja altitu- sentante do Império brasileiro. “Por quatro décadas,
de é de 1.000 ou acima de 1.000 metros”.8 O silogismo Varnhagen sustentou a luta mudancista até que, em
geográfico estava concluído: “Deste Planalto, porém, 1876, como ministro plenipotenciário do Brasil no
a única parte à qual cabe a denominação de central é Império Austro-húngaro, pediu licença funcional e,
aquela que se acha nas proximidades dos Pyreneus, às suas expensas, veio para o Planalto Central brasi-
no Estado de Goyaz”.9 E confirmava a correção de seu leiro, o qual percorreu por nove meses e onde balizou
raciocínio ao afirmar que essa região
não era somente “a mais próxima
do centro do Brasil, como também
por se acharem aí as cabeceiras de
alguns do mais caudalosos rios do
sistema hidrográfico brasileiro, isto
é, o Tocantins, o São Francisco e o
Paraná”.10
Portanto, não causa estranhe-
za o fato de que uma das primeiras
tarefas que a Comissão realizou ao
chegar à região foi procurar a cidade
Figura 13 – Blocos
de Itacolomite na
Serra dos Pireneus.
Henrique Morize –
1892. Acervo – Arquivo
Público do DF.
245
(Figura 12)
246
(Figura 14)
“das minhas [Eugênio Hussak] notas diárias sobre como passando por Santa Luzia (atual Luziânia); For-
a constituição geológica e a natureza das rochas da mosa à Chapada dos Veadeiros; Pirenópolis a cidade
região atravessada pela Comissão e escolhida para a de Goiás, capital do estado de Goiás naquele perío-
nova Capital da República”67 em que “procurei, tanto do; cidade de Goiás a Uberaba e Formosa a Catalão.
quanto me permite a falta de cartas, descrever a sua A riqueza desses “mapas” está em oferecer, em um
tectonia, isto é, a construção do planalto no seu todo único olhar, o trajeto de cima - ou, como se dizia na
e as modificações, que este tem sofrido”.68 (Figura 13) cartografia antiga, uma visão do “olho do pássaro”
É interessante observar que Eugenio Hussak, além - com descrição de pousos e fazendas, bem como o
da constituição geológica e da constatação da presen- perfil longitudinal de cada um dos trechos, ou seja, a
ça de materiais úteis para a construção de uma futura altitude de todo o caminho andado.
cidade, apresenta também em seu relatório estudos so- Por último, o “Atlas” apresenta algumas “plan-
bre a ocorrência de minerais valiosos na região explora- tas” urbanas. Além da “planta urbana da cidade de
da, chegando mesmo a afirmar, com veemência, que “a Goiás”, “planta da cidade de Pirenópolis” com “ângu-
sua riqueza aurífera não está esgotada”.69 Tais informa- los medidos com trânsito, e distância com trena e es-
ções, contudo, não são referidas no mapa. Certamente, tadia” e a “planta da cidade de Catalão” levantada no
naquele momento, ninguém queria provocar uma nova método idêntico ao utilizado para a planta da cidade
corrida do ouro para a região onde fora delimitado o de Goiás, “ângulos medidos com bússola prismática,
novo distrito federal. e distâncias com podômetro”, conforme assinaram a
Além desses dois mapas, o “Atlas” apresenta de- confecção o astrônomo e fotógrafo da Comissão, Hen-
zenas de mapas de caminhamento. São extremamen- rique Morize e o engenheiro ajudante Alípio Gama.70
te instrutivos, do ponto de vista da cartografia, pois (Figuras 15, 16, 17)
detalham, pormenorizadamente, por meio de 155 ma-
pas, o itinerário percorrido pela Comissão. (Figura 14)
Apresentam a hidrografia e relevo do caminho Conclusão
feito entre várias cidades: Uberaba a Pirenópolis;
Entre-Rios (atual Ipameri) a Bonfim; Pirenópolis a O Relatório permite afirmar que a Comissão, na
Formosa, seja o trajeto em linha reta para Formosa, preparação para a viagem ao Planalto Central, estu-
247
(Figura 15)
(Figura 17)
(Figura 16)
248
dou a topografia de Goiás a os estudos realizados na ex-
partir de muitos “mapas anti- ploração do rio Araguaia, en-
gos”.71 Não sabemos quais fo- quanto JERÔNIMO de Moraes
ram, contudo. O Relatório faz Jardim apresenta um resumo
referência explícita a apenas histórico das tentativas, em
um mapa elaborado, segundo diferentes épocas, para esta-
eles, por “Jerônymo R. de Mo- belecer-se comunicação entre
raes Jardim”. as províncias de Goiás e do
Quem nos informa é Tas- Pará pelo rio Araguaia e o To-
so Fragoso, chefe da turma en- cantins. Acreditamos que, na
carregada de plantar o marco preparação para a viagem ao
Noroeste: “Antes de terminar Planalto Central, a obra fora
cumpre-me fazer ligeiras ob- pesquisada por Tasso Frago-
servações sobre uma das car- so que, no seu relatório, teria
tas do estado de Goiás, a mais confundido as duas pessoas.
geralmente conhecida e or- O mapa de Joaquim R.
ganizada em 1874 por ordem Moraes Jardim (Cf. neste GUIA
do Ministério da Agricultura, p. 116) não só foi bem estuda-
Comércio e Obras Públicas, do na preparação da viagem
pelo capitão de engenheiros exploradora, como também, se-
Jerônymo R. de Moraes Jar- gundo Tasso Fragoso, foi muito
dim”.72 utilizado durante os trabalhos
Entretanto, ao estudar- de campo da Comissão: “Essa
mos e cotejarmos os mapas carta, [foi] a que mais consul-
indicados como úteis para os tei durante a viagem”.73 (Figura
trabalhos dessa Comissão, 18)
percebemos que Tasso Frago- O constante cotejamento
so cometeu aqui um erro ao (Figura 18) desse mapa com os inúmeros
confundir duas pessoas. Uma levantamentos de Latitudes e
é o major de engenheiros Joaquim Rodrigues de Mo- Longitudes promovidos permitiu que a Comissão re-
raes Jardim, verdadeiro autor do mapa, com o tenen- visasse vários pontos da topografia de Goiás na re-
te coronel Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim que, gião explorada. Acreditamos, por isso, que a parte
em seu relatório, Tasso Fragoso indica erroneamente goiana visitada pela Comissão foi pela primeira vez
como o autor do mapa utilizado por eles. Supomos na história brasileira estudada por métodos científi-
que a confusão deu-se pelo seguinte fato: ambos par- cos de cartografia. O geólogo Eugênio Hussak parece
ticiparam da histórica exploração do rio Araguaia, confirmar essa afirmação ao constatar que as con-
da qual foi publicado “O Rio Araguaya – Relatório de clusões de seu relatório não deixam de ser muito in-
sua exploração”, pela Typografia Nacional, em 1880. completas74 pela falta de uma “representação carto-
Nesta obra, JOAQUIM de Moraes Jardim apresenta gráfica da região a ser estudada”.75 Também, quando
ao se referir à constituição
(Figura 19)
geológica e natureza das
rochas da região estuda-
da pela Comissão, afirma:
“procurarei, tanto quanto
me permite a falta de car-
tas, descrever a tectonia,
isto é, a construção do pla-
nalto no seu todo e as mo-
dificações que este tem so-
frido”.76
Algumas revisões fo-
ram explicitamente citadas
no Relatório:
[...] a turma dispunha de um cronômetro de tempo médio cuja E conclui, referindo-se às duas serras que am-
marcha havia sido previamente estudada no observatório astro- bas estão afastadas “para as bandas do Oeste, e não
nômico. Este cronômetro levava a hora do Rio, e, sem pretender
ao Norte, como figuram em alguns mapas”.154
grande rigor naquelas coordenadas, me contentava com a Longi-
tude que obteria pela comparação d’aquela hora, que levava, com Em relação à finalidade da viagem, ou seja, estu-
a hora local que para isto eu deveria observar ao chegar ao ponto dos visando à ligação do Planalto Central com o litoral,
inicial do deslocamento.145 os estudos dessa turma sugerem que “não deverá ser
feita pela região que atravessei; [...] esta região é em
Informação importante a respeito da cartogra- grande parte muito acidentada”,155 e, assim, “muitos
fia foi dada por Alípio Gama quando, não confiando aterros, cortes grandes, pontes, etc. tornariam a cons-
mais no relógio que trouxe com a referência do Rio trução d’essa estrada por aí muito pouco barata”.156
de Janeiro, devido às “trepidações dos trens”, recor- Os trabalhos da 5ª Turma, chefiada por Luiz
reu à “Comissão Geográfica e Geológica de Minas Ge- Cruls, seguiram um caminho em parte conhecido na
rais”.146 Somos informados de que em Minas – esta- primeira Comissão: Uberaba a Pirenópolis. Contudo,
mos falando do ano de 1895 – já “tinha determinado diferentemente de todas as outras quatro turmas,
por meio da Triangulação feita, as coordenadas de cuja viagem exploratória em direção ao perímetro
alguns triângulos da rede e de um dos quais me uti- do novo distrito federal visava ao estudo de possí-
lizei”.147 Alípio Gama foi informado que esse trabalho veis vias ligando o litoral ao Planalto Central, seguiu
256
(Figura 26)
257
um caminho mais direto de Uberaba a Pirenópolis, Se os trabalhos das cinco turmas não redunda-
passando por Morrinhos. Acreditamos que o motivo ram em mapas no Relatório Parcial, quais trabalhos
de não ter seguido uma rota mais exploratória em da Comissão geraram os quatro mapas que foram
direção ao perímetro do quadrilátero seja pelo fato de publicados?
estar “levando [...] o resto do pessoal e todo o material O primeiro desses trabalhos exploratórios foi o
científico”.157 que resultou diretamente na publicação da “Planta
Do ponto de vista da cartografia, o enorme con- mostrando a posição do distrito federal em re-
junto de determinações de Latitude e Longitude le- lação aos limites dos Estados de Goiás e Minas
vantado pelas cinco turmas não refletiu proporcio- Gerais”. (Figura 26)
nalmente em produção cartográfica, pelo menos se Durante o mês de junho de 1895, Luiz Cruls,
formos levar em conta os quatro mapas publicados Antonio Alves Moraes, capitão dos engenheiros e Au-
pela Comissão no Relatório Parcial publicado em guste François Marie Glaziou, botânico, fizeram le-
1896. Nem por um momento isso significa dizer que vantamento recolhendo “informações [...] com o fim
não houve a intenção de que aqueles dados fossem de reconhecer qual a posição do distrito federal em
utilizados para a confecção de mapas. O próprio Ce- relação aos limites dos estados de Goiás e Minas Ge-
lestino Bastos informa que, ao terminar os trabalhos rais”.159 A viagem exploratória foi motivada porque
de sua turma, ocupou-se “com trabalhos de escri- havia chegado ao Congresso Nacional um projeto de
tório”. E registrou: “Assim desenhei toda a parte de lei que “determinava o deslocamento da área demar-
caminhamento por mim feito, em planta e perfil, e cada para leste até os limites do estado de Goiás com
calculei todas as Latitudes observadas”.158 Portan- o de Minas Gerais”.160
to, informações para a produção de uma cartografia O mapa foi feito por um dos participantes do
mais rica, certamente havia. grupo, o engenheiro Antonio Alves de Moraes. Não
Acreditamos que o término prematuro dos tra- está graduado, mas, curiosamente, tomando como
balhos da Comissão de Estudos da Nova Capital da referência o Meridiano do Rio de Janeiro e iniciando
União relegou ao esquecimento aqueles levantamentos a contagem a partir do “Acampamento”, apresenta a
tão importantes para a cartografia do interior do Brasil. declinação magnética de vários pontos específicos do
Dois outros trabalhos desenvolvidos pela Comis- trajeto percorrido. Das Latitudes, apresenta a corres-
são, após a chegada das cinco turmas no quadrilátero pondente ao limite Sul e Norte do quadrilátero.
do novo distrito federal, motivaram a publicação dos Os estudos levaram à conclusão de que “os li-
quatro mapas do Relatório Parcial. Vamos conhecê-los. mites entre dois estados, afastam-se à cerca de 55
quilômetros do lado oriental do distrito federal, incli-
nando-se em seguida, de modo a passar muito perto
do vértice Sudeste”,161 e que, nessas condições,
Estudos exploratórios que realmente redunda-
ram em mapas [...] parece pouco acertado o deslocamento da área, não só por-
que necessitará uma nova demarcação, que tomará tempo e será
dispendiosa, como também porque ela trará como consequência
Da análise dos trabalhos das cinco turmas, em
perder o retângulo demarcado toda a pitoresca zona vizinha dos
comparação com os mapas que efetivamente encon- Pireneus, como águas ótimas, em troca de uma zona, péssima pelo
tramos no Relatório Parcial da Comissão de Estudos lado da salubridade e banhada por águas salobras.162
da Nova Capital da União, concluímos que os dados
coletados não incidiram na publicação de nenhum
mapa. O segundo desses trabalhos resultou na publi-
Ao mesmo tempo, a constatação por meio da lei- cação de dois mapas: “Estrada de Ferro de Catalão
tura dos relatórios das turmas, de que foi acumula- a Cuyabá – Reconhecimento do trecho de Catalão
do enorme volume de informações para a cartografia, a Entre Rios – 70,5 quilômetros” e “Comissão de
úteis para a precária cartografia do interior do Brasil E. de F. de Catalão a Cuyabá – conjunto traçado
no final do século XIX, nos leva a perguntar se foram de catalão a Goyaz em relação às outras estra-
utilizados na cartografia regional em algum outro das existentes e concedidas”. Esses estudos foram
momento. realizados visando “proceder ao reconhecimento da
É uma pergunta retórica, pois essa questão foge região compreendida entre Catalão, Goiás e Cuiabá
ao escopo desse artigo, mas mereceria uma pesquisa [...] a fim de estudar as suas condições topográficas e
à parte para sabermos se os trabalhos ficaram per- reunir dados que possam servir de base [...]”163 para
didos dentro das gavetas após o término dos estudos a construção da estrada de ferro de Catalão a Cuia-
da Comissão de Estudos da Nova Capital da União bá. Como era atribuição da Comissão de Estudos da
ou, de fato, foram utilizados na cartografia de Minas Nova Capital da União ligar essa futura estrada de
e Goiás, regiões por onde as cinco turmas explora- ferro ao novo distrito federal, e isso só seria possível
ram. O que podemos dizer, com certeza, é que, pelo se a Comissão conhecesse o traçado dessa futura es-
menos no que tange às regiões distantes do quadrilá- trada, Luiz Cruls solicitou que o governo confiasse
tero, visitadas por estas turmas, os dados não foram também à mesma Comissão os estudos dessa futura
utilizados na cartografia produzida por essa Comis- estrada de ferro.164 Era sua convicção de que “a mu-
são, cujo relatório ficou apenas na condição de “Re- dança da capital só poder-se-á tornar uma realidade,
latório Parcial”. depois de construída a parte desta Estrada que une a
258
(Figura 27)
259
cidade de Catalão ao ponto escolhido para a mesma “terreno muito acidentado”; “terreno suave”; “terreno
capital, por meio de um ramal”.165 melhor”; “terreno muitíssimo montanhoso”; “terreno
Era tão estratégica esta estrada que, mesmo montanhoso”. Supomos que todas essas adjetivações
após o Congresso não prever no orçamento os cré- ao relevo serão úteis, juntamente com os “mapas dos
ditos necessários à continuação dos estudos da se- caminhamentos” executados, os quais não constam
gunda Comissão, o Poder Executivo liberou crédi- no relatório, para o projeto da estrada de ferro.
tos extraordinários para que se desse, pelo menos, o Apesar de não apresentar legenda para indicar o
prosseguimento dos “trabalhos de reconhecimento da significado das linhas, interpretamos que a “linha ver-
Estrada de Ferro de Catalão a Cuiabá”,166 atitude que melha” indica o melhor traçado para a estrada de fer-
Cruls reputou como “solução altamente patriótica”.167 ro. De fato, no lado esquerdo, uma “linha vermelha” é
Entretanto, pensando a partir da logística ne- identificada como “E. F. Oeste de Minas”. A linha pon-
cessária à construção da nova capital, Cruls sugeriu tilhada parece indicar duas informações: o caminha-
que “melhores condições, sob o ponto de vista do de- mento feito pela equipe, bem como o traçado da “estra-
senvolvimento, apresentará a Estrada de Catalão a da de rodagem” que, segundo o Relatório, às vezes era
Palmas, cujo traçado atravessa a zona demarcada, aproveitada pela equipe. De fato, no traçado pontilhado
encurtando ainda mais o traçado e tornando até des- mais ao norte consta uma ponte, dando a entender que
necessária a construção de um ramal”168 em direção às vezes caminhavam nessa estrada e às vezes, parale-
ao novo distrito federal. Cruls chega mesmo a res- lo a ela. Entretanto, no final do trecho para Entre-Rios,
saltar que tudo ficaria mais fácil com uma ideia que há tantas linhas pontilhadas que não sabemos mais se
ele já tinha apresentado no Relatório da Comissão refere-se a outras “estradas de rodagem” da região ou
Exploradora do Planalto Central do Brasil: o projeto a caminhos percorridos pela equipe. O mapa não está
de uma estrada de ferro de traçado direto, “perfeita- graduado. O Relatório, contudo, afirma que os “dados
mente realizável, ainda que de execução onerosa”.169 topográficos foram levantados mediante bússolas, po-
Apesar de as “Instruções” indicarem que os es- dômetros, barômetro, Fortin e três aneróides”.175
tudos deveriam proceder de Catalão até Cuiabá, de O segundo mapa que faz referência aos estudos
fato, o trecho estudado compreendeu apenas a região dessa estrada de ferro tem por título “Comissão de
de Catalão à cidade de Goiás, perfazendo uma dis- E. de F. de Catalão a Cuyabá – conjunto traçado
tância de 453,5 quilômetros, ou 68,7 léguas de 6.600 de catalão a Goyaz em relação às outras estra-
metros, cujo traçado final da estrada de ferro, segun- das existentes e concedidas”. (Figura 28)
do suas sugestões, seria no máximo “excedida pelo Privilegiando a representação hidrográfica, apre-
traçado em 8%”.170 Do ponto de vista da cartografia, senta os “Traçados Reconhecidos”, “Traçados a Reco-
as “Instruções a respeito de como deveriam seguir os nhecer”, “E. de F. Mogyana Construídos”, “Traçados
trabalhos de construção da Estrada de Ferro Catalão Locados”, “Estrada de F. O de Minas”, “E. de F. Ubera-
a Cuiabá”, assinada pelo já então eminente escritor ba à Coxim” e “E. de F. Catalão à Palma”. Infelizmente,
brasileiro, Machado de Assis, Diretor Geral da Via- não há indicação de autor, o que dificulta uma análise
ção,171 exigiu “a determinação da Longitude e Latitu- mais direta do contexto de produção. No entanto, como
de dos principais pontos e declinação magnética”.172 os trabalhos de “Reconhecimento” estavam a cargo do
Curiosamente, de todo o trajeto de reconheci- engenheiro James João Mellor, pode-se deduzir, com
mento entre Catalão e Goiás, trabalho executado sob razoável probabilidade, que este mapa também foi pro-
a chefia do engenheiro James João Mellor, auxiliado duzido pela equipe dele. Devido à presença do quadri-
pelos “intrépidos e distintos colegas”173 engenheiros, látero do futuro distrito federal, bem como a indicação
Colin Freitas Broad e José Contreiras Martins, so- de Latitude e Longitude a partir do Meridiano do Rio
mente foi publicado o mapa: “Estrada de Ferro de de Janeiro, acreditamos que o mapa quer apresentar
Catalão a Cuyabá – Reconhecimento do trecho de aos leitores do Relatório Parcial uma visada geral das
Catalão a Entre Rios – 70,5 quilômetros”. (Figura estradas de ferro já construídas e as novas estradas de
27) ferro propostas, mostrando que todas passam próxi-
O Relatório de James João Mellor não indica os mas ao território da futura capital brasileira.
motivos pelos quais o mapa foi feito apenas desse Havia, na época, severas críticas à construção
trecho. Supomos que, como o Relatório era Parcial, de uma capital em um sertão inóspito. O mapa pa-
apenas convinha mostrar exemplos do trabalho que rece responder a essas críticas ao sugerir que a re-
estava sendo executado. De fato, no final do relatório gião escolhida será facilmente ligada com o restante
de seus trabalhos, Jaime João Mellor afirma: “estas do território brasileiro, como o demonstra a caixa na
são ligeiras informações que vos posso prestar pre- lateral superior esquerda ao apresentar as conexões
sentemente, conforme o vosso pedido, aguardando do novo distrito federal com o litoral. A visão mais
momento mais oportuno para enviar-vos juntamente abrangente do quadrilátero do futuro distrito federal
com as plantas e projetos desenhados, um relatório em relação ao território nacional sugere que a cons-
mais detalhado sobre o serviço a nosso cargo”.174 trução da nova capital será elemento que motivará a
Elaborado na escala 1:100.000, apresenta o re- integração do território que compreende a fronteira
levo e a hidrografia da região explorada. Para caracte- Oeste – Bolívia, Paraguai – com o litoral Atlântico.
rizar o relevo, o mapa usa uma enorme lista de qua- Essa perspectiva já foi aventada quando, no início do
lificativos: “terreno ondulado bom”; “terreno regular”; Relatório Parcial, Luiz Cruls afirma: “tenho a mais
“terreno pouco acidentado”; “terreno acidentado”; absoluta convicção de que a mudança da capital [...]
260
(Figura 28)
261
(Figura 29)
262
resultará para o Brasil, sua prosperidade e desen- De qualquer forma, no final de 1895,
volvimento futuro, as mais benéficas consequências,
[...] estando levantada na escala de 1:100.000 a quase totalidade
que atualmente ninguém pode avaliar”.176
da área do distrito federal, estou empregando o pessoal que havia
Por fim, temos o mapa “Planta do Districto Fe-
concluído seus trabalhos de escritório, em estudar minuciosamen-
deral – mostrando o adiantamento dos trabalhos te as regiões que por sua natureza possam melhor prestar-se à fun-
topográficos realizados até fins do ano 1895”. dação da futura capital.184
(Figura 29)
Esse mapa representa a consolidação de exaus- Aqui cabe uma pergunta importante para nos-
tivos estudos de localização e direção do sistema hi- so estudo sobre a cartografia dessa Comissão. Se a
drográfico do quadrilátero bem como topográficos, Triangulação é tão importante para a exata cartogra-
“pois a topografia do distrito está quase totalmente fia a ser produzida, com a função de dar informações
levantada”.177 Diferente da intenção inicial de com- adequadas para a construção da cidade-capital e dos
plementar os dados topográficos com os trabalhos de caminhos em direção a ela, em que pé ficaram exa-
Triangulação, tendo em vista ser a “Triangulação uma tamente os trabalhos de Triangulação da Comissão
necessidade indeclinável para fixar os pontos obriga- de Estudos da Nova Capital da União, já que as ati-
dos do terreno e chegar a um trabalho de conjunto na vidades de campo foram suspensas por falta de or-
altura dos fins da Comissão”,178 o que concretamen- çamento? É Luiz Cruls que, em uma “Observação”
te concluiu Henrique Morize foi que a ausência da no final do Relatório Parcial, nos responde. Em re-
Triangulação privou “o serviço do caráter de precisão lação a todos os trabalhos que envolvem o proces-
que lhe é indispensável”.179 so de Triangulação, foi feita “apenas a parte que diz
Independente do grau de exigência técnica do respeito ao reconhecimento para escolha do terreno
chefe de geodésia, de fato foi possível produzir o mapa apropriado à medição de uma base e à colocação dos
da região do Planalto Central entre as cidades de Pi- primeiros sinais geodésicos”.185 Esse trabalho inicial
renópolis, Formosa e Santa Luzia, até então jamais da Triangulação foi executado por Henrique Morize
elaborado, “com cuja publicação só tivemos em vista que escolheu “um sinal geodésico de 1ª ordem no alto
mostrar o adiantamento dos levantamentos executa- do Acampamento, e em seguida um outro de igual
dos durante o ano de 1895, assim como dar ideia do ordem próximo às cabeceiras do Rodeador, num cha-
sistema hidrográfico da região demarcada”.180 padão de 1.300m de altitude. [...] Foi neste chapadão
Os dados consolidados para delinear essa repre- que escolhi o lugar da futura base que terá cerca de
sentação cartográfica não foi fruto de nenhuma tur- 3 quilômetros de comprimento”.186
ma específica. Foi produzido pela consolidação de di- Por isso, faz importante ressalva, em relação à
versos estudos de reconhecimento da região, levados produção cartográfica: “os levantamentos topográ-
adiante pelos membros da Comissão: ficos, que deram lugar à organização deste mapa
[refere-se à Planta do Districto Federal, mostrando
Uma vez que a verba de que pudemos dispor no corrente ano o adiantamento dos trabalhos topográficos realiza-
[1895] para o serviço, longe de permitir o trabalho de triangulada, dos até fins do ano de 1895] não estão baseados,
[...] coube-me de novo a tarefa de dirigir os trabalhos, o que fiz por enquanto, sobre nenhuma Triangulação”.187 E
distribuindo todo o pessoal em serviço de reconhecimento.181 completa: “somente os futuros trabalhos permitirão
retificar e completar o referido mapa [...] em que vá-
A falta de condições financeiras, até mesmo para rias lacunas ainda subsistem, principalmente na re-
os trabalhos topográficos, estava chegando ao limite, gião Norte da zona, onde o traçado de alguns rios e
“sendo até difícil acudir às despesas necessárias nos respectivos afluentes terá de sofrer ligeiras modifi-
trabalhos de campo, com animais e camaradas em cações”.188 Foi lamentável esse resultado para a car-
número suficiente. Os animais não têm tido o menor tografia, porque, segundo Henrique Morize, se “ou-
descanso e, [...] a necessidade absoluta de prover a tros empecilhos de força maior não perturbarem a
tropa de animais de reforço foi em grande parte uma marcha dos trabalhos, poderemos no final do ano de
das dificuldades financeiras por que passou a Comis- 1896, apresentar todos os dados para a escolha de-
são este ano [de 1895]”.182 finitiva do local da nova capital”.189 Isso não foi pos-
Em todo o Relatório Parcial da Comissão de Es- sível porque os trabalhos de campo terminaram no
tudos da Nova Capital da União, a questão da Trian- final do ano de 1895.
gulação e a falta de financiamento para executá-la foi Como vimos acima, apesar de estar bem adian-
um tema recorrente. É nesse contexto que, apesar de tado o levantamento topográfico do distrito federal
todo o levantamento topográfico realizado até aquele para a produção de um mapa na escala 1:100.000,
momento (1895), Morize lamentava o atraso nos tra- infelizmente a suspensão, ainda que temporária, dos
balhos de Triangulação. Segundo ele, a trabalhos de campo, veio atrasar a completa conclu-
são desse trabalho. Por isso, o mapa publicado no
Relatório Parcial de 1896, “Planta do Districto Fe-
[...] triangulada é uma necessidade indeclinável para fixar os deral - mostrando o adiantamento dos trabalhos
pontos obrigados do terreno e chegar a um trabalho de conjunto
topográficos realizados até fins do ano de 1895”,
na altura dos fins da Comissão, e ainda que nossos trabalhos não
no qual se percebe uma maior importância e deta-
estejam de forma alguma atrasados, pois a topografia do distrito
está quase totalmente levantada, sua ausência priva o serviço do lhamento dado ao rico sistema hidrográfico do novo
caráter de precisão que lhe é indispensável.183 distrito federal, foi produzido na escala de 1:250.000.
263
A elaboração do mapa esteve a cargo de Henri- Saltemos, à frente, 60 anos, a fim de refletir so-
que Morize, coordenador do serviço geodésico e, por- bre essa conclusão de Luiz Cruls.
tanto, o responsável pela Triangulação do perímetro A competência técnica dos resultados da Comis-
do novo distrito federal. O mapa está graduado e são de Estudos da Nova Capital da União, cujos tra-
a Longitude é indicada a contar do Meridiano do balhos de campo, por falta de recursos, findaram em
Rio de Janeiro. Por sinal, todos os mapas das duas dezembro de 1895, foi confirmada mais tarde, quando,
Comissões usam como meridiano de referência o no dia 15 de abril de 1955, outra Comissão, agora no-
Meridiano do Rio Janeiro. Como dissemos anterior- meada Comissão de Localização da Nova Capital Fede-
mente, acreditamos que essa escolha se justifique ral, cuja chefia cabia ao militar José Pessoa e que tam-
pelo fato de não estar ainda consolidado internacio- bém estudava esse mesmo tema, tendo diante de si a
nalmente o uso de um único meridiano de referên- proposta de cinco lugares diferentes para a construção
cia e, além disso, a Comissão tinha levado relógios da nova capital, aprovou a escolha do “Sítio Castanho”
com a hora do Rio de Janeiro,190 medida a partir para a construção da nova capital do Brasil:
do Observatório Nacional. Além da hidrografia, há
a preocupação em situar as fazendas e povoados do “Eram exatamente onze horas. Os membros da Comissão de Loca-
quadrilátero, bem como os caminhos que interligam lização da Nova Capital Federal, de pé e com uma salva de palmas,
aprovam a escolha do chamado SÍTIO CASTANHO, situado a
esses elementos.
Sudeste da cidade de Planaltina, no Estado de Goiás”.192
Do ponto de vista da escolha do lugar para a
nova capital, apesar de o trabalho de campo ter ter-
minado antes do previsto, Luiz Cruls conclui no Re- O “Sítio Castanho” era exatamente “a região
latório Parcial: compreendida entre os rios Gama e Torto”,193 lugar
sugerido pela antiga Comissão, 60 anos antes.
Sob o ponto de vista da qualidade, abundância d’água, natureza No final de 1955 foi eleito para a Presidência da
e topografia do terreno, salubridade e condições climatológicas, é República, Juscelino Kubitschek de Oliveira e a capi-
provável que esta escolha se fixe definitivamente quer na região
tal foi construída e inaugurada... Mas, isso já é outra
compreendida entre os rios Gama e Torto, quer no vale do Rio
Descoberto.191 história.
NOTAS
16. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
1. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exm. Sr. Dr. Antonio Olyntho
nalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 89.
dos Santos Pires, Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12.
17. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão
2. CRULS, Luiz. Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Bra-
Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animató-
sil: relatório Cruls. 2. ed. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1947, p.
grafo, 2010, p. 68.
17-18.
18. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
3. ___ . ___. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1947, p. 17-18. tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
4. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão 19. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
Cruls. In: Missão Cruls, uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animató- nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 73.
grafo, 2010, p. 51.
20. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão
5. ___ . ___. Brasília, Editora Animatógrafo, 2010, p. 65. Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animató-
grafo, 2010, p. 69.
6. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Planal-
to Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 21. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 69.
7. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18.
22. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão
8. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animató-
9. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. grafo, 2010, p. 67.
10. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 18. 23. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 63.
11. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 37.
24. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão
12. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 59. Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Editora Animató-
grafo, 2010, p. 67.
13. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no inte-
rior? Brasília: Thesaurus, 1978. 25. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77.
14. MARQUES, Jarbas Silva. O Movimento Mudancista. In: Missão Cruls uma
trajetória para o futuro, Brasília: Editora Animatógrafo, 2010, p. 69. 26. VERGARA, Moema de Rezende. A Comissão Cruls e o Projeto de Mudança
da Capital Federal na Primeira República. In: SENRA, Nelson de Castro (Org.).
14b. O mapa se encontra na publicação: PIMENTEL, Antonio Martins de Azeve- Veredas de Brasília: as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de
do. A nova capital federal e planalto central do Brasil. Brasília: Thesaurus, 1985. Janeiro, IBGE, 2010, p. 41.
15. VARNHAGEM, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no inte- 27. CRULS, Luiz. Mudança da Capital da União; resposta ao Dr. Domingos Ja-
rior? Brasília: Thesaurus, 1978, p. 7. guaribe. Rio de Janeiro: Typ. Alex Villela, 1896, p. 13.
264
28. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla- 69. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 299.
nalto Central do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77.
70. Cf. VIEIRA JÚNIOR, Wilson. Nos sertões cerrados de Brasília: a cartografia
29. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. como argumento para releitura da história do Distrito Federal. III Simpósio Lu-
so-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto, 2009.
30.___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172.
71. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
31. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 33.
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 69.
32. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172.
72. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173.
33. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154.
73. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173.
34. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
74. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 294.
35. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154.
75. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 294.
36. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
76. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297.
37. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101.
77. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173.
38. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101.
78. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173.
39. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 195. A tabela com o resul-
79. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
tado dessas medições se encontra na p. 225 e 232.
80. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
40. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 158.
81. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
41. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 157.
82. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 173.
42. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101.
83. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 156.
43. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 159.
84. MATTOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário ao Pará e Maranhão pelas
44. CRULS, Luiz. Atlas dos Itinerários, Perfis Longitudinais e da Zona Demarca-
Províncias de Minas Gerais e Goiaz, seguido de huma descripção chorographi-
da. H. Rio de Janeiro: Lombaerts & c., Impressores do Observatório, 1894, p. 7.
ca de Goiaz, e dos roteiros desta província as de Mato Grosso e São Paulo.
45. ___ . ___. Rio de Janeiro: Lombaerts & c., Impressores do Observatório, Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Constitucional de J. Vilaleneuve E. C.
1894, p. 7. Tomo I e II, 1836.
46. Cf. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do 85. Cf. ADONIAS, Isa. Mapas e Planos Manuscritos relativos ao Brasil colonial
Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77. conservados no Ministério das Relações Exteriores (1500-1822). Ministério das
Relações Exteriores, Serviço de Documentação, Rio de Janeiro, 1960, p. 35.
47. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77.
86. TAUNAY, Visconde de. Goyaz. Goiânia: Instituto Centro-Brasileiro de Cul-
48. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. tura, 2004. p. 76.
49. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. 87. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
50. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155. nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 155.
51. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154. 88. MACIEL, Viviane Barros. Da Corte à Província, do Império à República, do
Colégio Pedro II ao Liceu de Goiás: dinâmicas de circulação e apropriação da
52a. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81. matemática escolar no Brasil, 1856-1918. Dissertação de Mestrado. Universi-
52b. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 93. dade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande. 2012. p. 126. Disponível
em: <http://www.edumat.ufms.br/gestor/titan.php?target=openFile&fileId=147>.
53. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 93. Acesso em: 9 ago. 2013.
54. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 171-172. 89. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao exm. Sr. Dr. Antonio Olyntho
dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 7.
55. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 172.
90. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8.
56. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97.
91. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 11.
57. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 81.
92. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7.
58a. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 156.
93. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7.
58b. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97.
94. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4.
59. Hoje, não existe mais. O morro foi retirado numa das reformas urbanas
promovidas no Rio de Janeiro. Esta realizada em 1921, no mandato do Prefeito 95. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 11.
Carlos Sampaio.
96. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
60. MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Cruls e a Astronomia na Missão
Cruls. In: Missão Cruls uma trajetória para o futuro. Brasília: Animatógrafo, 97. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
2010, p. 53. 98. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5.
61. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla- 99. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4.
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 77.
100. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4.
62. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 169.
101. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
63. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 187. nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 97.
64. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 55. 102. Cf. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 154.
65. VERGARA, Moema de Rezende. A Comissão Cruls e o Projeto de Mudança 103. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio
da Capital Federal na Primeira República. In: SENRA, Nelson de Castro (Org.) Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12.
Veredas de Brasília: as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de
Janeiro, IBGE, 2010, p. 41. 104. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5.
66. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no inte-
rior? Thesaurus, Brasília, 1978, p. 7. 105. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio
Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-7.
67. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297. 106. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13.
68. ___ . ___. Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 297. 107. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13.
265
108. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 13. 158. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla-
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5.
109. Cf. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do
Planalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. 101. 159. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 15.
110. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 19. 160. ___ . ___. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr.
Antonio Olyntho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896,
111. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 19. p. 14.
112. CRULS, Luiz. Relatório Cruls: Relatório da Comissão Exploradora do Pla- 161. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 17.
nalto Central do Brasil, Brasília, DF: Senado Federal, 2003, p. B-5.
162. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 14.
113. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8. 163. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 9.
114. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-4. 164. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 18.
115. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 18. 165. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 3.
116. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro, Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 166. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5.
117. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 167. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 5.
118. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-3. 168. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4.
119. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-6. 169. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 4.
120. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-6. 170. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8.
121. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-5. 171. Um departamento da Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas.
Machado de Assis assumiu como Diretor Geral da Viação em 1892.
122. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 10.
172. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
123. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 9.
124. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. 173. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8.
125. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-7. 174. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-8.
126. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-4. 175. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. I-3.
127. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-4. 176. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. III.
128. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-7. 177. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
129. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. C-3. 178. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
130. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 8. 179. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
131. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-3. 180. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
132. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-4. 181. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
133. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 182. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-8.
134. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 183. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
135. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-4. 184. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
136. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. B-5. 185. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
137. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-5. 186. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-9.
138. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 187. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
139. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-15. 188. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 1-9.
140. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 189. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. A-10.
141. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-8. 190. Cf. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17.
142. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-6. 191. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12.
143. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-32. 192. Ata da Comissão de Localização da Nova Capital Federal. Coleção Bra-
sília, Serviço de Documentação da Presidência da República, Rio de Janeiro,
144. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-32. 1960. p. 653.
145. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. 193. CRULS, Luiz. Relatório Parcial apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Antonio Olyn-
146. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17. tho dos Santos Pires. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 12.
147. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17.
148. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17.
149. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-17.
150. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-18.
151. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-22.
152. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-26.
153. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-28.
154. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-29.
155. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-42.
156. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. D-42.
157. ___ . ___. Rio de Janeiro: Typ. Lith. C. Schmidt, 1896, p. 10.
266
CASA ALTAMIRO DE MOURA PACHECO
Academia Goiana de Letras
NOVO DISTRITO FEDERAL – Planta Índice Cadastral
267
CASA ALTAMIRO DE MOURA PACHECO marca de Planaltina/Goiás e se encontram na Coleção “Do-
Academia Goiana de Letras cumentos Goyaz”, à disposição dos pesquisadores.
Posteriormente, os mapas individuais foram consolida-
Goiânia/GO dos por Jofre Mozart Parada no mapa aqui apresentado, em
que enquadra as fazendas no território do Distrito Federal.
Ressalte-se que “Parada só pôde chegar a esta elaboração
NOVO DISTRITO FEDERAL da planta final, após utilizar trabalhos cartográficos já reali-
Planta Índice Cadastral zados pelo DERGO, e com subsídio das fotografias aéreas
providenciadas pela extinta Comissão de Localização da
Este mapa foi elaborado a partir de vários outros mapas nova Capital”.3
individuais de fazendas, no contexto dos trabalhos da Co- Segundo Altamiro de Moura Pacheco, presidente da Co-
missão de Cooperação para Mudança da Capital Federal, missão de Cooperação para Mudança da Capital Federal
presidida por Altamiro de Moura Pacheco e serviu para aju- o mapa foi apresentado pela primeira vez em setembro de
dar no desenvolvimento das atividades fins dessa Comis- 1958: “em 1958, a 30 de setembro, passei às mãos do Sr.
são: as desapropriações. As primeiras e principais desapro- Governador de Goiás um dossiê de cada fazenda do Distri-
priações foram feitas por essa Comissão.1 to Federal, contendo estudos completos da documentação,
A Comissão foi instituída pelo Governador de Goiás, um mapa de suas divisas, além do mapa geral, elabora-
Juca Ludovico, por meio do Decreto n. 1258, de 5 de ou- do pelo engenheiro Joffre Mozart Parada. Depois, viajando
tubro de 1955, por solicitação do Marechal José Pessoa, para o Rio, levei o original do mapa geral e o entreguei ao
presidente da Comissão de Localização da Nova Capital Dr. Israel Pinheiro que, na minha presença, o confiou ao Dr.
Federal. Os membros foram empossados em 8 de outubro Sigismundo de Araújo Melo a fim de ser impresso”.4
de 1955. Como sabemos que a construção da nova capital havia
A instauração da Comissão foi iniciativa de grupos po- iniciado em novembro de 1956, este mapa datado de se-
líticos ligados ao governo de Goiás, a fim de colaborar e tembro de 1958 representa uma espécie de consolidação
controlar a desapropriação de terras em vista da constru- dos trabalhos realizados pela Comissão de Cooperação
ção da capital federal em terras goianas. Por isso, foi tam- para Mudança da Capital Federal cujas atividades findaram
bém conhecida como “Comissão Goiana de Desapropria- em 1958 e, até hoje, é muito usado nos estudos das confu-
ção”. A causa direta de sua instauração foi a recusa do sas questões fundiárias no Distrito Federal.
Presidente da República, Café Filho, que assumira o cargo
após o suicídio de Getúlio Vargas, em declarar a área esco-
lhida pela Comissão de Localização da Nova Capital como Referências:
de utilidade pública para fins de desapropriação, tendo em 1 – SILVA, Elias Manoel da. O primeiro mapa do Distrito
vista a criação do novo Distrito Federal no Planalto Central Federal no Planalto Central do Brasil – Um ilustre
do Brasil. desconhecido. 3º Simpósio Brasileiro de Cartografia
No mapa, consta que é a “sexta edição, completada e Histórica. Belo Horizonte/MG, 2016.
corrigida em setembro de 1958 na base de fotografias aé- 2 – VIEIRA JÚNIOR, Wilson. Nos sertões cerrados de
reas” com o visto do Secretário do Diretório Regional Zo- Brasília: a cartografia como argumento para releitura
roastro Artiaga. A elaboração cartográfica esteve a cargo de da história do Distrito Federal. III Simpósio Luso-
Janusz Gerulewicz e Jofre Mozart Parada. brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro Preto/MG, 2009.
O mapa “Novo Distrito Federal – Planta Índice Cadastral” Disponível em:
detalha os limites das fazendas que estavam em terras do <https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/vieira_
novo Distrito Federal e foi montado a partir de mapas indivi- jr_nos-sertoes-cerrados-de-brasilia-a-cartografia-como-
duais das fazendas, elaborados por Jofre Mozart Parada no argumento.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2013.
período em que exercia a chefia da Sub-Comissão Técnica 3 – FARIAS, Darcy Dornelas de. Terras no Distrito
da Comissão de Cooperação no processo de desapropria- Federal: experiências com desapropriações em Goiás:
ções, bem como a partir de mapas que ficavam nos cartó- 1955-1958. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-
rios de Planaltina, Formosa e Luziânia.1 graduação do Departamento de História, Universidade de
Após o exame jurídico da documentação que permitia Brasília, 2006.
estabelecer o histórico dos imóveis, era necessário verificar 4 – PACHECO, Altamiro de Moura. Primórdios de
os limites, medindo-lhes as respectivas áreas. Para isso, Brasília. Gráfica Editora Líder, Goiânia, s/d.
foram elaborados vários mapas individuais das fazendas. 5 – BARBO, Lenora de Castro. Preexistências de Brasília:
Muitos desses mapas individuais, produzidos pela Comis- reconstruir o território para construir a memória.
são de Cooperação para Mudança da Capital Federal, fo- Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-graduação da
ram elaborados a partir de mapas de fazendas que já se Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de
encontravam em cartórios dos Municípios de Formosa, Pla- Brasília, 2010.
naltina e Luziânia, como também com base nos registros
paroquiais “quando os fazendeiros [eram] convocados a Fonte – Acervo Altamiro de Moura Pacheco
declarar oralmente as terras aos vigários das paróquias de Medidas – 100 cm × 60 cm
Santa Luzia e Formosa, em conformidade com exigências Data – 1958
da Lei de Terras de 1850”.2 Localização – Academia Goiana de Letras – Casa
O Arquivo Público do Distrito Federal já digitalizou os Altamiro de Moura Pacheco
mapas das fazendas que se encontravam no Fórum da Co-
268
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA
NOVO DISTRITO FEDERAL
269
IBGE fazendas preexistentes ao Distrito Federal, a enorme Brejo
INSTITUTO BRASILEIRO DE ou Torto, a margem do córrego do Torto. O mapa de Clóvis
Magalhães é considerado por alguns o “primeiro mapa” do
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA Distrito Federal.1
De rica representação técnica e informacional, discorda-
mos, entretanto, da informação veiculada na publicação do
NOVO DISTRITO FEDERAL IBGE1 de que este seria o “primeiro mapa do Distrito Fe-
deral, tendo em vista que, em 30 de setembro de 1958, o
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança
esteve constantemente presente no processo de estudos da Capital Federal, Altamiro de Moura Pacheco, entregava
da região do Planalto Central onde mais tarde viria a ser ao governador de Goiás, Juca Ludovico, um mapa do novo
construída a nova capital do Brasil. É certo que a pro- Distrito Federal (Cf. neste GUIA p. 266) elaborado por Joffre
posta de mudança da capital vem de antes da criação do Mozart Parada – engenheiro chefe da Subcomissão Técni-
IBGE. Contudo, é fato que, na longa história da mudança ca da referida Comissão. O mapa elaborado por Joffre Mo-
da capital para o Planalto Central, desde 1936 o IBGE, em zart Parada tinha sido elaborado a partir de folhas cartográ-
vários documentos preciosos à história do Brasil, defen- ficas na escala 1:100.000 confeccionadas pela Secção de
deu a mudança, e tão logo a Constituição democrática de Aerofotogrametria do Departamento de Estradas de Roda-
1946 retomou a mudança como preceito constitucional, gem de Goiás (DERGO) e de fotografias aéreas, na esca-
envolveu-se diretamente nos estudos técnicos voltados a la aproximada de 1:25.000, solicitadas à empresa Geofoto
esse fim.1 S.A. do Rio de Janeiro.2 De fato, encontramos referência à
Já em 1947, promoveu duas expedições geográficas no documentação cartográfica empregada no mapa de Clóvis
âmbito do Conselho Nacional de Geografia, um dos órgãos Magalhães em caixa-texto na carta impressa em sete cores
máximos do IBGE, dando conteúdo científico à Comissão no Serviço Gráfico do IBGE, elaborada por encomenda do
dirigida pelo General Djalma Polli Coelho, incumbida da lo- escritório de Goiás no Rio de Janeiro.1 Essas informações
calização de um sítio para a nova capital. Naquela ocasião, não constam no exemplar reproduzido neste GUIA p. 268,
geógrafos notáveis se fizeram presentes: Antonio Teixeira digitalizado a partir do mapa publicado no “Atlas do Brasil –
Guerra, Christovam Leite de Castro, Dora Amarante Roma- Geral e Regional”, organizado pela divisão de geografia do
riz, Eugênia Zambelli Gonçalves, Fábio de Macedo Soares Conselho Nacional de Geografia.
Guimarães, José Veríssimo da Costa Pereira, Lindalvo Be- No mapa impresso no Serviço Gráfico do IBGE, consta a
zerra dos Santos, Lúcio de Castro Soares, Marília Galvão, seguinte informação: “A documentação cartográfica empre-
Ney Strauch, Nilo e Lysia Bernardes, Orlando Valverde, gada na organização da Carta do Novo Distrito Federal foi
Speridião Faissol e Walter Alberto Egler, entre vários ou- obtida em colaboração com [segue o nome de várias insti-
tros. Todos, eles e elas, notáveis profissionais do IBGE que tuições, entre elas]: Comissão de Cooperação da Mudan-
valeram-se da orientação científica de Francis Ruellan e de ça da Capital – mapas, informações, nomenclaturas etc.”.1
Leo Waibel, geógrafos estrangeiros associados ao Conse- Portanto, o mapa de Joffre Mozart Parada antecedeu ao de
lho Nacional de Geografia.1 Clóvis Magalhães, sendo usado como subsídio pelo enge-
Em um terceiro momento, em 1955 e 1956, quando a nheiro do IBGE.
Comissão incumbida de estudar um local para construção Contudo, se de um lado o mapa de Clóvis Magalhães
da nova capital, Comissão esta que continuava os traba- não é anterior ao de Jofre Mozart Parada, é, entretanto, cor-
lhos iniciados pelo General Djalma Polli Coelho, pelo Ge- reto afirmar que o de Clóvis Magalhães foi o primeiro mapa
neral Aguinaldo Caiado de Castro e então era dirigida pelo “impresso” do novo Distrito Federal.3 No livro, “Primórdios
Marechal José Pessoa, o IBGE esteve presente com Fábio de Brasília”, de Altamiro de Moura Pacheco, presidente da
de Macedo Soares Guimarães, então Secretário-Geral do Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital Fede-
Conselho Nacional de Geografia, e com o eminente cientis- ral, o autor manifesta certa mágoa em relação ao descaso
ta Allyrio Hugueney de Mattos. Suas ações foram decisivas, para com o mapa do novo Distrito Federal entregue pela
até pela retomada do realizado no passado recente.1 comissão goiana. Relata que “em 1958, a 30 de setembro,
Finalmente, em 1959, quando já iniciara a construção de passei às mãos do Sr. Governador de Goiás um dossiê de
Brasília, o IBGE fez o censo na futura capital, por meio do cada fazenda do Distrito Federal, contendo estudos com-
qual levantou dados sobre a população, entre vários outros pletos da documentação, um mapa de suas divisas, além
elementos pesquisados. Os resultados dessas pesquisas do mapa geral, elaborado pelo engenheiro Joffre Mozart Pa-
permitem hoje traçar acurado retrato histórico da chegada rada. Depois, viajando para o Rio, levei o original do mapa
dos operários que construíram Brasília, fixando residência geral e o entreguei ao Dr. Israel Pinheiro que, na minha pre-
nos arredores da capital, nas então chamadas “cidades-sa- sença, o confiou ao Dr. Sigismundo de Araújo Melo a fim de
télites”. Foi nesse mesmo contexto que, em 1958, o IBGE ser impresso. A impressão, de fato foi feita, mas, lamenta-
produziu o mapa aqui apresentado: “Novo Distrito Federal” velmente, o Sr. Clóvis Magalhães subtraiu e substituiu, pelo
com o sítio geral e a representação do Plano Piloto. seu, o nome do ilustre autor, retirando as lindes das respec-
O mapa foi executado pelo cartógrafo do Conselho tivas fazendas”.1
Nacional de Geografia Clóvis de Magalhães, nascido em Discussões e mágoas à parte, o certo é que o mapa ela-
Formosa que, ao lado de Planaltina e de Luziânia, cede- borado pelo “engenheiro cartógrafo Clóvis Magalhães”, o
ram terras de seus municípios para a criação do Distrito primeiro mapa “impresso” do novo Distrito Federal e que,
Federal. Clóvis Magalhães provinha de família tradicional portanto, adquiriu grande divulgação, empregou, além das
de meados do século XIX instalada em uma das primitivas informações do mapa de Joffre Mozart Parada, documen-
270
tação cartográfica do Conselho Nacional de Geografia, da
Empresa J. Donald Belcher, Geofoto S.A., da Novacap e
também, como afirmamos acima, da Comissão de Coope-
ração da Mudança da Capital.1 Dessa forma, não conside-
ramos adequada a afirmação de Altamiro de Moura Pache-
co de que “Clóvis Magalhães subtraiu e substituiu, pelo seu,
o nome do ilustre autor”. O “ilustre autor” a que Altamiro de
Moura Pacheco se refere é Jofre Mozart Parada. Na ver-
dade, ambos os mapas usaram algumas mesmas fontes,
e o de Clóvis Magalhães, além delas, contou também com
informações do mapa de Jofre Mozart Parada, confirman-
do que o primeiro mapa elaborado do Distrito Federal foi
de fato o da Comissão de Cooperação para a Mudança da
Capital.3
O mapa foi impresso em sete cores no Serviço Gráfico
do IBGE, por encomenda do escritório de Goiás no Rio, na
escala 1:100 000, e foi entregue solenemente ao Presidente
da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira.1
Referências:
1 – SENRA, Nelson de Castro (Org.). Veredas de Brasília:
as expedições geográficas em busca de um sonho. Rio de
Janeiro: IBGE, Centro de Documentação e Disseminação
de Informações, 2010.
2 – PACHECO, Altamiro de Moura. Primórdios de
Brasília. Gráfica Editora Líder, Goiânia, s/d.
3 – SILVA, Elias Manoel da. O primeiro mapa do
Distrito Federal no Planalto Central do Brasil. Um ilustre
desconhecido. 3º Simpósio Brasileiro de Cartografia
Histórica. Belo Horizonte/MG, 2016.