Você está na página 1de 15

AULA 2

ELABORAÇÃO, GESTÃO E
AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS

Prof. Raphael Hardy Fioravanti


CONVERSA INICIAL

Políticas públicas nunca são feitas de forma isolada ou sem o envolvimento


de diversos perfis. As interações entre diferentes atores na elaboração de políticas
públicas são complexas, interdependentes e com configurações únicas em cada
caso. É claro que alguns dos envolvidos são de fácil identificação, porém no
decorrer do processo, até o atingimento dos objetivos das políticas públicas, ou
da sua avaliação, podemos encontrar novos entrantes no processo e que podem
ter seus próprios objetivos, que são revelados a partir das interações que
constroem com os demais atores.
No cenário político que se configura pelo Estado, por órgãos do governo de
diferentes esferas, é possível identificarmos inúmeros indivíduos, grupos, e/ou
organizações que influenciam as políticas públicas, desde sua construção,
passando pela sua implementação e demais desdobramentos. Tais atores se
inserem neste cenário defendendo interesses próprios ou de grupos que estão
representando, por meio de práticas diversas, que vão desde a pressão pura e
simples, como por meio do lobby (quando o ato de pressão é feito por meio de
forma ética, moral e profissional), por meio de pressões incisivas, como greves,
mobilizações, passeatas etc.
Com esta diversidade e ferramentas de pressão distintas, para a boa
condução de uma política pública faz-se necessário entender quem são os atores,
seus diferentes poderes, interesses, incentivos e arenas em que atuam. Para
tanto é importante termos uma abordagem científica e sistemática. Para tanto,
podemos fazer uso de algumas perguntas que ajudam na análise (Maggiolo e
Perozo Maggiolo, 2007):

a. Quem são os atores principais que participam do processo de formulação


da política pública?
b. Quais são os seus poderes e funções no processo?
c. Quais são os seus desejos, incentivos e competências?
d. Quais são seus horizontes temporais? (Podemos encontrar atores cuja
atuação podem ter restrições de tempo e isto irá determinar o seu
comportamento nas tentativas de maximizar os benefícios políticos,
credibilidade ou fortalecimento de imagem própria ou institucional)
e. Em quais arenas de interação estão presentes e quais são as
características destas arenas?

2
f. Como são as trocas que promovem? Quais são os tipos de apoio
oferecem?

Assim como as políticas públicas, também podemos ter tipologias dos


atores envolvidos nos processos de criação de políticas públicas. Antes de
trabalharmos os principais atores, vamos explorar uma forma prévia de classificá-
los e que pode nos ajudar nas nossas análises ou acompanhamento das políticas
públicas.

Atores formais: São aqueles atores que são definidos com base na
Constituição Federal. Por exemplo, são os partidos políticos, membros do
legislativo, judiciário e os membros mais altos do executivo (Presidente,
governadores e prefeitos). Também podem ser considerados atores formais os
burocratas e as equipes de governo.

Atores informais: São aqueles que não tem a sua participação


determinada pela Constituição ou leis. Podem não receber funções específicas no
processo de elaboração das políticas públicas, contudo podem ter enorme
relevância no processo. Como exemplo podemos citar os sindicatos (empresariais
ou de trabalhadores), movimentos sociais, empresas e os meios de comunicação.

Atores coletivos: São aqueles formados por grupos e organizações que


atuam intencionalmente nas arenas políticas para influenciar os rumos das
políticas públicas. Por exemplos, são os grupos de interesse, partidos políticos,
movimentos sociais etc.

Atores individuais: São aquelas pessoas que agem nas esferas ou arenas
políticas para influenciar os processos das políticas públicas. Temos aqui, por
exemplo, magistrados, jornalistas, artistas etc.

Poderíamos ainda fazer a distinção entre atores públicos e privados, onde


os atores públicos são aqueles que estão ligados diretamente ao Estado e ao
sistema político. Já os atores privados são aqueles que que não possuem
vínculos direto com a administração estatal.

A partir disto, podemos ter melhor entendimento de que os potenciais


rumos que as políticas públicas tomaram. Agora, nesta abordagem, veremos os
principais atores que poderemos encontrar nas ações vinculadas às políticas
públicas, expandindo as tipificações citadas anteriormente.

3
TEMA 1 – OS POLÍTICOS

Fundamentais nos processos das políticas públicas quando estão


legitimados por cargos do Executivo ou Legislativo, podem propor e dar condições
para a realização de políticas públicas que podem promover grandes impactos
sociais.
Eles são os atores que tem a função de serem os representantes de
interesses do coletivo. Possuem a legitimidade para agir, expressar opiniões e
defender interesses em nome daqueles que estão representando.
Outro aspecto relevante dos políticos como atores sociais é que eles são,
em essência símbolos, pois também atuam como porta-vozes, possuem papéis
em cerimônias e fazem a representação de seus territórios, sociedade e estado.
Por serem escolhidos (se estamos trabalhando em regimes democráticos),
são detentores de autoridade institucionalizada. Ou seja, de acordo com as suas
competências oriundas dos cargos que ocupam, possuem o poder de tomada de
decisão. Esta é uma autoridade que é temporária e limitada, por estar
condicionada aos certames dispostos em lei. Dadas as posições que ocupam,
cabe a eles a identificação dos problemas públicos e decidir quais seriam os
melhores meios para resolvê-los.
Para entendermos melhor isto, gosto de propor o exercício mental. Imagine
que a sua comunidade vive a beira-mar e para a sobrevivência da sua comunidade
é necessário buscar cocos que ficam em uma ilha. Como podemos buscar estes
cocos? Podemos ir nadando, de barco, construir uma ponte até a ilha, de
helicóptero, por meio de uma catapulta etc. As possibilidades são muitas e os
recursos para cada forma são diferentes. Burocratas e especialistas podem até
indicar os caminhos mais racionais, de acordo com os recursos disponíveis, mas
cabe aos políticos decidir efetivamente qual será o caminho a ser dotado.
Por serem representantes legítimos de interesses, possuem acesso
privilegiado as esferas de poder estatal. E quais são estes interesses? Eles
defendem vários, começando pelos seus próprios interesses, os interesses de
seus partidos políticos, dos grupos de pressão, que por muitas vezes
possibilitaram a eles o acesso aos cargos legislativos e executivo, aos interesses
de suas bases regionais ou geográficas e aos interesses da coletividade.
Dada as paixões humanas, não é difícil que a ordem de importância para eles siga

4
a ordem citada aqui. Também não é difícil identificarmos conflitos entre estas
diferentes fontes de interesse.
Além das suas representações, interesses, os políticos têm um papel
fundamental no processo educacional e informativo, como formadores de opinião
e na construção de consensos em torno de causas éticas e/ou ideológicas e
orientam e dão luz às políticas públicas.
Precisamos também apontar que os políticos podem ser beneficiados ou
prejudicados eleitoralmente a partir do desempenho das políticas públicas,
mesmo daquelas que eles não advogam em prol. Isto acontece por meio do que
Secchi (2013) chamou de accountability democrática, o que quer dizer que a
sociedade faz o controle, fiscalização e responsabilização dos políticos por meio
do desempenho das políticas públicas em que ele está envolvido, fazendo com
que ele tenha a necessidade de prestar contas sobre o que está acontecendo e o
seu grau de envolvimento em cada ponto.
Por isto é comum que os representantes eleitos tentam organizar as
soluções de forma a trazer o melhor benefício eleitoral para si, postergando ou
adiantando decisões em assuntos que estejam na mais na pauta social naquele
momento, sempre numa corda bamba, tentando equilibrar entre as indicações
políticas e técnicas nos cargas mais altos do executivo, pausando ações públicas
politicamente incertas e sempre procurando desviar a sua responsabilidade
daquilo que está com desempenho abaixo do esperado (chamado blame shifting)
Em relação aos políticos, ainda precisamos fazer uma ressalva com relação
aos seus acessos às esferas de poder. Nós apontamos aqui que em democracia
estabelecidas, os políticos assumem posições de tomadores de decisões quando
eleitos para determinados cargos dos poderes legislativos e executivo. Porém a
outras formas de alcançar posições de decisão sem passar necessariamente pelo
pleito eleitoral. Políticos podem ser eleitos, mas também poder ser designados a
determinadas posições de confiança por parte dos eleitos.
Na legislação brasileira a basicamente dos tipos de designados políticos, o
primeiro é aquele que é investido de funções de confiança, e o segundo aquele
que é investido de cargos comissionados. Geralmente, as funções de confiança
são direcionadas aos servidores públicos de carreira, que por confiança, são
designados a posições de chefia, direção ou assessoramento. Para um burocrata
funciona como uma promoção política temporária e que é compensada por meio
de gratificações salariais.

5
Já os cargos comissionados são acessíveis tanto aos burocratas, quanto a
qualquer outra pessoa externa à administração pública. Há legislações que
determinam os percentuais mínimos de cargos comissionados que devem ser
ocupados com profissionais de carreira, mas isto varia bastante. Exemplos de
cargos comissionados são: ministros, secretários, presidentes de empresas
estatais etc. Os cargos comissionados são de escolha livre dos gestores, que
podem nomear ou exonerar a qualquer tempo e são utilizados como pontes para
que as orientações políticas sejam repassadas para o corpo burocrático.
No dia a dia da gestão pública, os cargos comissionados são grandes
fontes de poder aos políticos e partidos políticos. Por muitas vezes são utilizados
como moedas de troca para a garantia da base política que apoiaram ou apoiarão
a promoção do político e do seu grupo de poder no pleito eleitoral.

TEMA 2 – OS BUROCRATAS

Se citamos anteriormente os burocratas, vamos conversar sobre eles


agora. Mas primeiro, vamos fazer uma breve conceituação de burocracia.
Burocracia é, inicialmente, um procedimento administrativo existente que auxilia
na organização de um grande número de pessoas que precisam trabalhar juntas.
É um modelo administrativo que apresenta com clareza a hierarquia de
autoridade, a divisão dos trabalhos e os regulamentos e procedimentos
(preferencialmente sem a possibilidade de flexibilidade). Mas quando pensamos
em burocracia, temos uma interpretação cultural popular de problema
procedimental, mas também estamos pensando em pessoas, que é o corpo de
funcionários públicos.
Este corpo de funcionários públicos possui características que afetam
diretamente o processo de políticas públicas. Afinal, são eles que mantêm a
administração pública ativa, como também gerenciar os ciclos eleitorais. Ou seja,
são os responsáveis em manter o corpo (Estado), funcionando a partir das
decisões da cabeça (políticos) e que podem sofrer alterações a cada ciclo
eleitoral.
De acordo com o modelo político estatal brasileiro, eles possuem
estabilidade de emprego (para evitar uma completa imobilidade do Estado a partir
do jogo político), sistemas de seleção e promoção baseados na competência
técnica e experiência e mecanismos claros de hierarquização de coordenação.

6
Segundo o modelo burocrático desenhado por Max Weber, é claro que os
colaboradores devem ser pessoas qualificadas tecnicamente e, no caso do
funcionalismo público, devem ser neutras politicamente e voltados para o
benefício do bem coletivo. Também precisam estar focados na eficiência dos
trabalhos realizados, executados de acordo com as normas técnicas desenhadas,
mantendo um alto valor ético a fim de sempre evitar a corrupção, o favoritismo ou
qualquer ação que vá contra aos interesses e bens coletivos.
O problema desta visão weberiana pura é que vai contra, em parte, da nova
visão da administração pública, onde o corpo burocrático deve ser sim detentor
do conhecimento necessário, mas também precisa ser criativo nas proposições e
capaz de evitar que políticas públicas má gerenciais gerem frustações. Cabe a
eles também a busca da eficácia das políticas públicas, justamente por serem
detentores de conhecimento técnico que viabilizaria a boa execução das políticas
públicas.
Podem fazer parte deste os mais diferentes tipos de profissionais, tais como
médicos, policiais, assistentes sociais, professores e qualquer outro profissional
de conhecem os meandros de sua profissão e se faça necessário para a
manutenção da máquina estatal.
O importante é que estes profissionais precisam estar próximos daqueles
que que serão os beneficiários das políticas públicas para entender melhor as
suas necessidades e comportamentos. Como também, servirem de elo de ligação
entre eles e os políticos ou lideranças e, desta forma, superar os desafios práticos
da implementação das políticas públicas.
Há um grupo de servidores que precisamos destacar aqui em nossas
análises. Juízes são servidores públicos que desempenham um papel importante
no processo de implementação de políticas pública. São o grupo do funcionalismo
público que exercem as atividades do poder judiciário com a prerrogativa e
capacidade de julgar, de acordo com a Constituição e suas leis. Ao imitirem
decisões, os juízes tornam-se protagonistas na elaboração das políticas públicas
pois tratam de assuntos que estão ligados diretamente aos interesses sociais,
econômicos e políticos.
No processo de formulação de políticas públicas, eles podem exercer
diferentes papéis, já que comprem funções que atingem diretamente tais políticas:
possuem o poder de veto, árbitro imparcial e representante da sociedade.

7
Talvez, as políticas públicas mais sensíveis às suas decisões sejam as
políticas regulatórias que tratem da liberdade as pessoas e das empresas e as
políticas que versam sobre a redução das desigualdades e paridade entre
diferentes categorias sociais.

TEMA 3 – OS GRUPOS DE INTERESSE

Grupos de interesse é uma categoria bem ampla de atores de políticas


públicas, porém o que há de comum entre estes atores é que eles seriam grupos
de pessoas que se organizam de forma voluntaria para fazer uso de recursos em
defesa de seus interesses e, desta forma, influenciam decisões dos policymakers
e dos envolvidos nas políticas públicas.
É nestas categorias que encontramos os sindicatos, sejam os de
profissionais, sejam os patronais (ou empresariais). Também encontramos aqui
os colegiados profissionais, as associações comerciais, os de movimentos sociais
(sem-terra, sem-teto, de gênero, ambientais). Podem estar constituídos
formalmente ou não. Em geral, conseguem fazer a mobilização de um número
expressivo de pessoas ou organizações (empresas, instituições) em torno das
suas pautas de interesse.
Também podem ser chamados de grupos de pressão, podem fazer uso de
mecanismos de influência que são considerados legítimos e tolerados. São
diferentes dos partidos políticos, pois não almejam o poder político e por
defenderem temas específicos1.
Segundo Secchi (2013), ao analisarmos os grupos de interesse, podemos
observá-los a partir de dois ângulos diferentes, a partir de uma perspectiva
democrática. Por um lado, poderiam ser considerados como uma “patologia do
sistema democrático”, pois conseguem desvirtuar decisões sobre políticas
públicas a seu favor. Aqui poderia estar presente justamente a assimetria de
recursos a que alguns destes grupos teriam acesso, principalmente quando
envolvidos em conflitos entre si. Por exemplo, as disputas entre sindicatos
patronais e de empregados, ou então, de comerciantes e consumidores, assim
por diante. Nesta ótica poderíamos verificar desequilíbrios na capacidade de
influência de seus interesses.

1
Aqui cabe apenas uma distinção. Os grupos de interesse não possuem interesse no poder
público, porém estes grupos de interesses são formados, inicialmente, e estes sim podem ter
interesses políticos e fazem uso de suas ligações e pautas dos grupos de interesse para se
projetarem politicamente.
8
Por outro lado, poderíamos ver estes grupos com maior naturalidade, assim
como a suas atuações e a assimetria de recursos entre os diferentes grupos. Por
esta visão, tomaríamos este desequilíbrio como natural e a prevalência de
interesses de um grupo obre o outro tomados como justo, pois estariam
agregando mais consensos.
Outros exemplos de recursos que grupos de interesse podem utilizar, além
o da mobilização, são os financeiros, os cognitivos e os organizacionais. Os
recursos financeiros são fundamentais para viabilizar as estratégias e ações do
grupo. Os recursos cognitivos dizem respeito às suas capacidades interpretativas
sobre um tema e têm o papel fundamental em áreas de políticas públicas onde
ocorrem embates de conhecimentos técnico específico (por exemplo os que
envolvem questões ambientais e de regulação da segurança no trabalho). Já os
recursos organizacionais envolvem a sua capacidade de planejamento, controle
e articulação de indivíduos em torno de objetivos em comum.
Há também capacidades distintas se estes grupos são grandes ou
pequenos. Grupos grandes possuem maior dificuldade de organizar seus
membros em torno de pautas e sua organização tendem a ter custos bem
elevados. Já grupos menores tem a capacidade de se organizar de forma mais
efetiva. Porém a capacidade de projeção varia bastante entre os grupos grandes
e pequenos.
Resumindo, os grupos de interesse:

a. Influenciam o reconhecimento ou encobrimento de problemas públicos,


fazendo uso de canais privilegiados aos meios de comunicação e
instâncias governamentais;
b. Influenciam a prospecção de soluções por meio da apresentação de
metodologias de controle do problema, de forma a não afetar os seus
interesses;
c. Influenciam a tomada de decisões, pressionando direta ou indiretamente
os policymakers;
d. Influenciam a implementação das políticas públicas, influenciando os
agentes implementadores;
e. Influenciam a avaliação das políticas públicas, demonstrando junto à
opinião pública a eficácia e ineficácia de tais políticas públicas.

Por fim, os grupos de interesse utilizam vários meios para fazer valer os
seus interesses e que sejam respeitados no processo de elaboração de políticas
9
públicas. Podem fazer campanhas publicitárias, financiamento de campanhas
eleitorais, lobby, passeatas, greves e, também, podem sim fazer uso de corrupção
de forma ativa.

TEMA 4 – ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR

Para fim de alinhamento, vamos lembrar que o primeiro setor da sociedade


é o Estado. O segundo setor é formado pelas organizações empresariais (que
possuem fins lucrativos) e o terceiro setor é formado por organizações não
governamentais, fundações privadas e entidades de filantropia.
Nas últimas três décadas vimos surgir diversas novas instituições
preocupadas com problemas que afetam a sociedade de forma ampla. Estas
instituições ou grupos não se encaixavam nas demarcações institucionais a que
a sociedade estava acostumada a classificar. Por muitas vezes acabavam por ser
agrupadas/classificadas a instituições como igrejas, por falta de melhor descrição.
Elas não eram entidades governamentais, mas frequentemente atuavam em
áreas que apenas os serviços públicos nos moldes tradicionais atuavam, mas
também não poderia ser classificada como iniciativas do setor empresarial, pois
substituíam, sem lucratividade, a ausência do poder público em atividades sociais.

“A acelerada modernização econômica e social das últimas décadas


promoveu uma inédita diferenciação sociocultural, multiplicou os
interesses e estimulou a constituição de uma expressiva rede de
organismos e associações. Articulando-se com a crise do regime
autoritário e a dinâmica da transição democrática, esse processo
dinamizou os sindicatos e permitiu o surgimento de numerosos sujeitos
coletivos e de importantes movimentos libertários e de reivindicação.
Nasceu daí uma sociedade civil inegavelmente encorpada, complexa e
com grande potencial político, mas alimentada pela convicção de que se
faria a si mesma na medida em que se diferenciasse e se opusesse,
como um alter, ao Estado”. (Nogueira,1998, 215)

As organizações do terceiro setor (ONGs) articulam suas ações em torno


de demandas prioritariamente coletiva e que atuam para além do grupo. Por
trabalharem justamente com interesses que são considerados coletivos,
costumam a serem envolvidos nos processos de tomada de decisões,
implementações e avaliação de políticas públicas.
A participação em conselhos setoriais ou planejamento governamental
participativo são exemplos de envolvimento de ONGs nos processos de tomada
de decisão e de avaliação de políticas públicas. Elas contribuem nos processos
por meio do compartilhamento de conhecimentos, na construção de percepção de
pontos de relevância e identificação dos obstáculos e quais poderiam ser os
10
melhores caminhos para as políticas públicas. Podem atuar diretamente na
implementação de políticas públicas, transformando os recursos públicos e
privados em serviços e projetos de caráter social.
Em geral estão envolvidas no que podemos chamar de governança pública,
que é uma das tendências da gestão de políticas públicas. A governança pública
tem como prerrogativa a pluralidade, onde diversos atores, governamentais ou
não, para a construção das políticas públicas, efetivando parcerias público-
privado, coordenação compartilhada e utilização de mecanismos participativos de
deliberação e avaliação das políticas públicas. Sua participação, dentro de
governos democráticos, permite o aumento da legitimidade das ações
governamentais e amplia a condição de accountability, permitindo mais harmonia
e menos embates nos processos relacionados às políticas públicas. Como bem
disse Kliksberg:

“Um Estado inteligente na área social não é um Estado mínimo, nem


ausente, nem de ações pontuais de base assistencial, mas um Estado
com uma “política de Estado”, não de partidos, e sim de educação,
saúde, nutrição, cultura, orientado para superar as graves iniquidades,
capaz de impulsionar a harmonia entre o econômico e o social, promotor
da sociedade civil, com um papel sinergizante permanente”. (Kliksberg,
1998, p. 48)

TEMA 5 – OS INFLUENCIADORES DA SOCIEDADE

5.1 Meios de comunicação

A chamada mídia é uma das categorias mais relevantes nas democracias


contemporâneas, dada a sua capacidade de difundir informações, que por sua
vez, é uma das chaves da manutenção da democracia. Também são
responsáveis pela criação da opinião pública sobre os mais diferentes temas. Sua
capacidade de mobilização é importante pois, além de atingir um número grande
de pessoas, é capaz de atrair outros atores.
Também exerce um papel fundamental no controle sobre a esfera pública,
pois meio do jornalismo investigativo, apurando casos de corrupção ou má gestão,
bem como apontando melhores práticas.
Nos últimos 3 anos, porém estamos vendo um novo fenômeno relacionado
aos meus de comunicação. Jornais, revistas e a televisão continuam a ser meios
de comunicação, porém com o surgimento da Internet a possibilidade de produção
de conteúdo informativos se tornou exponencial. As redes sociais, dada as

11
características culturais brasileiras, por ser uma sociedade do tipo relacional,
tornam a difusão de informações numa escala nunca antes vista.
Contudo, se quando os meios de comunicação estavam concentrados em
grupos jornalísticos, com processos de controle editorial e regidos por princípios
éticos da profissão, nas redes sociais qualquer um pode ser um influenciador ao
difundir informações via Internet, porém podem não ter os mesmos cuidados
editorais que vemos nos meios profissionais. Surge aí a expressão das fake news,
que nada mais são de informações falsas, incorretas ou ilegítimas, difundidas de
forma intencional ou não, apresentando conteúdos de forma a trazer credibilidade
ao que não condiz com os preceitos profissionais dos meios de comunicação ou
a realidade dos fatos. A utilização de fake news como arma de defensas de
interesses tem se demonstrado um desafio a toda sociedade, refém de narrativas
que se contrapõem, por vezes com meias verdades, dificultando a formação de
opinião pública consistente.
Por último, e não menos importante, a mídia também é atuante do processo
de construção de políticas públicas governamentais, sendo protagonista daqueles
que são direcionadas para si.

5.2 Think Tanks

Como já comentamos, think tanks são as organizações de pesquisa e


aconselhamento em políticas públicas. Também podem ser identificadas como
institutos de políticas públicas e atuam na produção e disseminação de
conhecimento relevante para a formulação, decisão e avaliação de políticas
públicas.
Estas organizações também podem advogar em prol da formação de
agenda de mídia política e institucional para influenciar a opinião pública com
relação a problemas da sociedade e sobre as alternativas para a sua solução. Já
apresentamos a RAND Corporation nos Estados Unidos, mas existem muitas
outras que pode dar como exemplo: Urban Institute, American Enterprise Institute,
European Policy Centre ou a European Policy Studies.
No Brasil organizações desde tipo raramente se apresentam como think
tanks. Entre ela podemos citar o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), o Instituto de Estudo do
Trabalho e Sociedade (IETS), o Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

12
Vamos deixar claro que as thinks tanks se diferenciam de empresas de
consultoria pois são focadas na criação de novos conhecimentos e não apenas
na aplicação de conhecimentos já existentes na elaboração das políticas públicas.
Segundo Soares (2009), think tanks podem ser:

a. De escopo geral (abrangendo várias áreas de políticas públicas) ou de


escopo restrito;
b. Dependentes de recursos públicos ou dependentes de recursos advindos
da sociedade;
c. Com ou sem viés ideológico (neutras).

5.3 Atores do conhecimento

São pessoas com conhecimento técnico especializado que podem atuar


em todas as fases de uma política pública. Quanto mais setorizada e específica
for a política pública, mais relevante a participação destas pessoas. Também
podem ser aqueles que versam sobre novos temas ou temas que, em geral não
são de domínio da burocracia públicas. Possuem assim, um papel central na
inovação dentro das estruturas públicas.
Também poder ser convidados a participar dos processos de políticas
públicas para o estabelecimento de contraponto para o esgotamento das
discussões dos rumos das políticas pública. Como exemplo, podemos citar a CPI
da Covid em 2021, onde houve verdadeiros embates na busca de atores de
conhecimento para a análise da atuação do governo durante a pandemia da
COVID.

5.4 Policytakers

Não podemos nos esquecer daqueles que são os destinatários das


políticas públicas. São os indivíduos, grupos e organizações para as quais as
políticas públicas estão sendo direcionadas. Em geral considera-se que estes
atores tendem a ser mais passivos no processo, em que mais recebe influências
do que provoca.
Pode haver ocasiões em que os destinatários conseguem formar a opinião
pública e articular os interesses de grupos dispersos. Com a disseminação da
Internet isto ficou mais fácil e prático, por meio do ativismo digital. Então, quando
são mais ativos no processo, sua atuação gira em torno na formação da opinião

13
pública, criando julgamentos coletivo sobre determinados temas e, desta forma,
capazes de influenciar as escolhas políticas.
Pode ver outras situações aonde os destinatários também assumem o
papel de tomadores de decisão, nos casos de políticas constitutivas (onde
policymarkers e policytakers são os mesmos), de políticas públicas de gestão
pública e em todos os casos em que os indivíduos, grupos e organizações são
chamados para participar do processo decisório (planejamento orçamentário
participativo, conselho de gestão etc.)
Se estiverem dispersos geograficamente, sua capacidade de influência fica
prejudicada, pois terão maiores dificuldades de organizar recursos em torno da
defesa de seus interesses.

14
REFERÊNCIAS

DIAS, R.; MATOS, F. Políticas públicas: princípios, propósitos e processos. São


Paulo: Atlas, 2012.

KLIKSBERG, B. Repensando o Estado para o desenvolvimento social:


superando dogmas e convencionalismos. São Paulo: Cortez, 1998.

MAGGIOLO, I. PEROZO MAGGIOLO, J. Políticas públicas: processo de


concertación Estado-sociedad. Revista Venezolana de Gerencia, v.12. n.39, p.
373-392, 2007.

NOGUEIRA, M. As possibilidades da política: ideias para a reforma


democrática do Estado. São Paulo: Paz e Terra, 1998

RODRIGUES, M. Assumpção. Políticas Públicas. São Paulo: Publifolha, 2010.

SECCHI, L. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos.


2 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

SOARES, J. Think tanks: organização sistêmica de conhecimentos relevantes a


política pública no Brasil. Dissertação. Programa de Pós-graduação em
Administração, Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Florianópolis,
2009.

15

Você também pode gostar