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O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Jesse Antonio do Nascimento Filho

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
O Papel do Comentarista
no Esporte Contemporâneo

• Papel mais Relevante;


• Rádio;
• TV;
• Mídias Impressas;
• Participação do Comentarista nos Treinos;

Fonte: Getty Images


• Comentarista Personagem;
• Os Tipos de Comentaristas.

Objetivo
• Compreender o papel do comentarista no esporte contemporâneo.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Contextualização
O comentarista ocupa lugar destacado no esporte contemporâneo. É a partir da
visão de mundo dele que o leitor, o telespectador e o ouvinte obtêm dados mais consis-
tentes para formar uma opinião melhor balizada a respeito da discussão acerca do que
aconteceu em determinada partida de futebol, basquete, vôlei e mesmo uma corridas de
automobilismo. O comentarista tem o dever de elucidar as ações e traçar um panorama
do momento sobre o esporte que está acompanhando.

Esse panorama engloba análises táticas, técnicas e tudo aquilo que envolve determi-
nado fato. Pode entrar na análise o ambiente econômico do esporte, o cenário político
de determinada agremiação, o aspecto social que envolve os jogadores. São “n” fatores
que precisam entrar no pacote da avaliação feita pelo comentarista esportivo.

Há vários estilos de comentaristas, e cada um tem suas virtudes. Evidente que uns se
destacam mais do que os outros. O comentarista precisa gozar de credibilidade e impar-
cialidade para fazer colocações pertinentes a uma agremiação ou atleta, porque o es-
porte, sobretudo o futebol, tem como combustível a paixão do torcedor por determinado
time ou jogador. Quanto mais balizada estiver a opinião do comentarista, mais o torce-
dor tende a concordar com ele, ainda que esta seja uma relação tênue. Qualquer palavra
dita a mais em tempos de redes sociais pode desencadear situações desagradáveis.

Neste mundo moderno da comunicação, também há o comentarista que já foi atleta, e


este é um personagem importante, porque pode trazer no bojo da transmissão, detalhes
de bastidores, que já foram vividos por ele, mas não pelo comentarista que não esteve
dentro de uma arena esportiva como atleta profissional. Isso, no entanto, não significa
que A saiba menos do que B, por não ter sido atleta.

Vamos ver a seguir como funciona e como deve trabalhar o comentarista nas diversas
mídias (Rádio, TV, Impresso e portais de internet).

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Papel mais Relevante
O papel exercido pelo comentarista esportivo hoje é bem mais relevante do que em
outras ocasiões. Na atualidade, este profissional pode ser cobrado a cada instante pelas
redes sociais. Já não é permitido devanear. É necessário estar na vanguarda da ativida-
de. A tecnologia ajuda a ser diferenciado, mas ao mesmo tempo, exige mais profundi-
dade. Não há espaço para o raso na profissão. É necessário ser profundo e ter didática
para tratar de assuntos tão diferentes.

Nos dias atuais, o público também está mais interessado em saber o que pensam os
formadores de opinião da crônica esportiva. Uma opinião bem balizada pode acrescen-
tar na realidade do dia a dia de quem lê, ouve e assiste.

Os debates em alto nível colocam esse profissional com lugar de destaque no mer-
cado, que também é a porta de entrada para ex-atletas. Estes vêm para contribuir na
qualidade das análises.

Comentar é uma Arte


Comentar é uma arte, mas não é a arte de adivinhar, de achar, e sim a arte de tradu-
zir para o seu público, em uma linguagem acessível, uma análise profunda do que pode
acontecer em determinado evento. Evidente que o comentarista não tem bola de cristal
para fazer confirmar uma opinião, mas ele traça um cenário do que é esperado com
base naquilo que ele estudou e que tem acontecido.

Ser comentarista exige sair do lugar comum, da obviedade que todos têm a capaci-
dade de enxergar. Ser comentarista exige vivência no esporte. Ninguém nasce sabendo
fazer uma análise de um jogo, por exemplo, sem antes ter vivido aquele cenário dezenas
de vezes. Não que os cenários se repitam, mas é que as informações se acumulam e vão
preenchendo as lacunas no nosso intelecto, umas se interligando as outras, e isso cada
vez mais. É como se fosse um HD com armazenamento de dados infinito. Dificilmente
uma análise de um jogo irá se repetir em outros, porque o cenário pode ser semelhante,
mas o repertório não o será.

Rádio
Tem a arte de comentar no rádio. Reputo ser a mais difícil delas.

Não é porque tenho minhas origens neste veículo que vou puxar a brasa para a
minha sardinha. O comentário no rádio é uma conversa ao pé do ouvido. O comenta-
rista analisa um fato esportivo para muitos ouvintes, mas na realidade, fala diretamente
para um só. O comentarista do rádio precisa usar uma linguagem didática. Ele não está
proibido de usar figuras de linguagem, mas deve antes de tudo ser um comunicador

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O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

nato, ter intimidade com o microfone, com o assunto, conhecer o público para o qual
está dirigindo a palavra. O comentário no rádio exige domínio do tema sem igual, e em
90% dos casos, é feito de improviso.

Por favor, faça uma pausa na leitura e procure fazer um comentário de dois minutos
a respeito do futebol apresentado pelo seu time na última partida. Não vale pausar ou
recomeçar. Grave no seu celular e depois escute.

Então, o que achou? Foi fácil? Você sentiu que está preparado para avançar na pro-
fissão de comentarista esportivo? Precisa se aprofundar mais? Realmente, não é fácil.

Em meados 2008, fui chamado para ser comentarista esportivo da rádio CBN.
Sabia que o aceite elevaria meu “status quo”, mas, sem pestanejar, recusei a pro-
posta que me fora apresentada pela coordenação de esportes da emissora. Não era
minha praia, apesar de estar a quase uma década na equipe de esportes do Sistema
Globo de Rádio e de, nos anos anteriores, ter aprendido muito de análise tática à
beira do gramado, ouvindo os comentaristas nas transmissões das Rádios Globo e
CBN, em especial Victor Birner, que era um dos companheiros de jornada esportiva
ao lado de Deva Pascovicci.

Na realidade, eu não estava preparado para assumir tamanha responsabilidade. Não


tinha tempo suficiente para me dedicar aos principais campeonatos europeus e mesmo
os nacionais, o que seria para mim desvantagem e me colocaria apenas como mais um.
Ser mais um não combinaria com o propósito de vida que tenho traçado. Na reporta-
gem, na narração, no comentário, na produção, penso que devemos fazer o melhor,
para fazer diferente. Para deixar uma marca e um legado. Para inspirar. Preferi, então,
a reportagem esportiva e não me arrependi, pois a arte de comentar não estava no meu
sangue. Talvez, hoje, a resposta fosse diferente.

No rádio, o comentarista vai ser chamado para analisar jogos, participar de progra-
mas e fazer análises breves em forma de boletins para a programação.

Linguagem no Rádio
O Rádio, por si só, tem uma linguagem diferente dos demais veículos como ressalta-
do acima, e por isso há um manejo diferente na colocação dos comentários. Não que
seja uma linguagem coloquial, mas é bem menos formal do que se observa na TV e nos
meios impressos.

Há comentaristas que usam tom professoral no rádio, o que está fora da realidade do
meio. Este tom deixa o ouvinte entediado e ele tem grandes possibilidades de procurar
algo mais interessante à realidade dele.

Lembre-se, o futebol (modalidade que predomina na cobertura esportiva no rádio)


vai ser discutido nos mais diversos ambientes no dia seguinte. Do boteco da esquina aos
escritórios de advocacia. Afinal, todo mundo torce por uma agremiação e sempre vai
querer tirar “uma casquinha” dos amigos depois da vitória do time.

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TV
Os comentários na televisão têm o suporte de ex-jogadores de futebol e ex-árbitros,
o que confere credibilidade à transmissão, mas é tema de discussão entre os jornalistas
devido à certificação acadêmica. Creio que deve haver meio-termo na discussão referen-
te ao assunto. Tenho a certeza de que o aproveitamento de ex-atletas no meio só vem
a enriquecer a transmissão e colaborar para o crescimento da equipe esportiva de uma
emissora (seja ela de rádio ou de TV).

Feito o adendo, em relação ao aproveitamento de ex-atletas na transmissão, gosta-


ria de dizer que os comentários na TV seguem padrão formal e com aproveitamento
mais superficial do que pode ser feito no rádio e nos meios impressos. Digamos que as
análises nas transmissões pela TV são mais cirúrgicas, direto ao ponto e sem rodeios.
A relação do comentarista com o telespectador é mais fria do que no rádio e a empatia
não é requisito tão primordial quanto na comunicação radiofônica.

O espaço para análises mais detalhadas acontece nos programas de debates, nos
quais são discutidos temas importantes da rodada do futebol e são feitas análises quanto
à disputa dos próximos jogos, da contratação e venda de atletas e até mesmo de denún-
cias que envolvam pessoas ligadas ao mundo do futebol. Nestes programas, é possível
entrar mais a fundo no bastidores dos esportes e procurar mostrar ao telespectador
outra realidade além daquela que existe na superficialidade do que é tratado pela mídia.

Lembro-me que, não muito tempo atrás, o ex-volante do Corinthians, Zé Elias, então
comentarista da Rádio Globo e dos canais ESPN, foi ao centro de treinamentos do
Corinthians e conseguiu fazer da experiência e da influência aliados, e assim colocar um
microfone de lapela em um treino do timão para captar o áudio e as informações que
ocorriam na atividade e, desta forma, levar ao telespectador da ESPN uma maneira de
tratar um assunto que ninguém havia pensado, trazendo a captação de áudio em tempo
real para aproximar o torcedor de uma realidade distante.

Linguagem na TV
Como disse nas linhas acima, a linguagem na TV é formal, mas permite a compreen-
são dos assuntos tratados de forma geral. Uma linguagem rebuscada acaba por afastar o
público alvo. Ter o domínio da língua portuguesa também é primordial para evitar cair
na armadilha da internet e dos “memes”, que têm potencial para viralizar.

É evidente que há diferentes maneiras de abordar um assunto pelos comentaristas.


Há comentaristas mais técnicos, outros mais didáticos e ainda aqueles que estão no meio
termo. Cada um tem as suas peculiaridades e, particularmente, só não tenho afeição pelo
comentarista que se sente na obrigação de ser o professor dos telespectadores. Como
disse, este é um aspecto que torna as transmissões e programas enfadonhos e chatos.

Creio que neste aspecto, quem comanda a transmissão de um jogo ou um programa


de debates/esportes tem o dever de conduzir para evitar que algo comprometa o bom
desempenho do evento transmitido.

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O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Mídias Impressas
Aqui, há algumas frentes que devem ser tratadas de forma separada. Todas, no en-
tanto, exigem conhecimento e aprofundamento no tema, pois de fato, há uma tendência
muito maior de que aquilo que foi escrito forme opinião, exatamente pelo balizamento
que tais análises trazem.

Opiniões em portais de notícias são mais dinâmicas e pontuais do que em


jornais e revistas. Há, no entanto, a possibilidade de casar o comentário com uma
matéria pontual.

Portais de Internet
Nos portais, é possível ter uma análise tão logo um evento esportivo aconteça. O con-
sumo é mais imediato e, portanto, é a opinião com análises que podem ou não ser mais
profundas. Geralmente, os comentários neste tipo de mídia são mais apontados pelos
momentos dos fatos.

Nos portais, é possível fazer quantas análises forem necessárias, uma vez que o
dinamismo do meio colabora para tal. Algo que foge do “script” dos comentaristas é o
posicionamento dos leitores que chega pelas redes sociais. Neste sentido, é preciso ter
muito sangue frio para lidar com situações que podem refletir até na vida pessoal dos
comentaristas. Lidar com “haters” não é tarefa das mais fáceis.

A análise mais acurada, publicada com periodicidade, exige um texto mais profundo
que foge da superficialidade imediata do pós-evento.

Jornais
Nos diários, a opinião pós-jogo tem uma conotação mais dirigida ao(s) time(s), e não
aos aspectos que rodeiam o bastidor do evento. Os articulistas no jornalismo esportivo
diário rarearam com o passar dos anos, mas ainda acho cada vez de maior impor-
tância trazer à tona comentários que possam dar luz ao que os leitores acompanham
diariamente no noticiário cotidiano. Caso tivesse que seguir uma linha para escrever
como articulista esportivo de determinado meio, a tendência é que optasse por ser um
comentarista com linha bastante questionadora e com viés informativo. Ter uma pitada
de informação sobre o bastidor, na minha visão, é crucial para o bom desempenho e
credibilidade do comentarista. Paulo Vinícius Coelho faz isso muito bem.

O comentarista de jornal é notadamente uma pessoa que conquista a credibilidade, e


isso costuma abrir portas para ascensão profissional. Normalmente, ele passa a acumu-
lar cargos em emissoras de TV e rádio. Além de ser convidado para proferir palestras.

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Revistas
Os comentários escritos para as revistas precisam ser atemporais. O comentarista
esportivo, neste caso, tem tempo para pensar e fazer uma análise profunda com
dados e situações, ou mesmo trazer à luz algo que deveria ser debatido pelas publica-
ções diárias, mas passou despercebido. Comentários pautados em dados podem abrir
ampla discussão no meio. O comentarista de revista ainda pode, e deve, segmentar
o assunto.

Participação do Comentarista nos Treinos


Creia que não é utopia, mas os comentaristas e a chefia imediata precisam encontrar
uma maneira eficiente para que os comentaristas também possam acompanhar as ativi-
dades dos jogadores ao longo da semana.

Ir aos treinos e ter um relacionamento um pouco mais próximo dos jogadores e


comissão técnica irá fazer enorme diferença no momento em que ocorrer a transmis-
são. Neste sentido, o comentarista terá a chance de antecipar as jogadas que poderão
ocorrer e comentar com maior propriedade sobre os detalhes percebidos ao longo da
semana, nestas atividades dos clubes.

Mostrar-se presente também é uma maneira de, ao longo do tempo, conquistar ainda
mais credibilidade e respeito junto à opinião pública e aos próprios atletas, comissão-
-técnica e dirigentes.

A ideia é mesmo estreitar o relacionamento, respeitando a ética, para fazer do cami-


nho algo mais profundo e produtivo do que é traduzido pelos comentaristas atualmente.
Creio que este profissional, caso tenha esta oportunidade, estará mais preparado e
qualificado para abordar as questões pertinentes não só aos clubes que for visitar, mas
também ao ambiente do bastidor.

Hoje, a rotina dos comentaristas não permite que isso ocorra. São programas diários,
jogos a todo momento. Os gestores pensam em resultados imediatos, mas a qualificação
e parada para avaliações mais adequadas (estudo, por assim dizer) ficam em segundo
plano para a maioria deles.

Achismo
Estar bem preparado e ter estudado o assunto, significa deixar de lado o achismo,
que torna a transmissão ou a publicação sem sentido. Lembre-se de que antes de qual-
quer coisa, o comentarista é formador de opinião, e que ela será comprada como ideia
por boa parte do público que acompanha tal profissional.

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O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Ter o compromisso em tratar o comentário esportivo como um produto de qualidade


é obrigação. O comentário esportivo não é mais, nem menos importante do que um
comentário econômico ou político. Ele será tão importante quanto os outros dois, caso
agregue algo no dia a dia da pessoa que vai recebê-lo.

Sempre dizia na redação que a notícia esportiva e o comentário bem fundamentado


eram pertinentes em um jornal transmitido pelo rádio, pela TV, ou mesmo publicado
nos portais de notícias e impressos, porque quem é advogado, dentista, médico, político
torce por uma agremiação. Se não torce, tem admiração.

Fazer chicana, como acontece hoje no rádio, e na TV principalmente, compromete


a qualidade do profissional e do canal de comunicação.

Comentarista Personagem
Os meios de comunicação estão abarrotados de profissionais que não têm o mínimo
de condição de falar com propriedade sobre determinados temas do jornalismo espor-
tivo e, desta forma, viram personagens para garantir o espaço que lhes é conferido.
Alguns programas de debates na TV e no rádio estão mais para humorísticos do que
propriamente para jornalísticos esportivos sérios.
Ser simples e didático conquista muito mais o coração do torcedor do
que ser contundente em demasia ou mostrar-se indignado com o an-
damento da peleja. Neste caso, corre-se o risco de virar personagem
de uma ópera bufa. Outras ocasiões proporcionam condições para
se exercitar a propriedade da verdade. Os “donos da verdade” de-
monstram todo o seu saber e conhecimento de forma arrogante, um
dos melhores recursos para derrubar a audiência de qualquer veículo.
(BARBEIRO, RANGEL, 2015, p.80)

Esse modelo de profissional tem a chancela dos chefes de plantão, uma vez que não
há como negar, que na maioria das vezes, são carismáticos e têm grande popularidade,
alavancando a audiência dos programas com a ajuda de mais dois ou três chicaneiros.

Sinceramente, os índices de audiência podem ser notáveis, mas não posso concordar
que tais produções sejam consideradas jornalismo esportivo. Creio que existe espaço
para o humor esportivo nos diversos tipos de mídia, mas com outra roupagem e não sob
a ótica do jornalismo esportivo.

É sempre importante ressaltar que o comentarista pressupõe a opinião de determinado


veículo de comunicação sobre aquele tema. Sendo assim, é necessário pensar, sobretu-
do, quanto ao prisma editorial envolvido nesta relação veículo/comentarista.

É necessário ter em mente que o espaço do comentarista esportivo deve preencher


os requisitos de visão, missão e valores de um veículo de comunicação.

Vamos juntos pensar a respeito do caso. Nós somos investidores de uma grande
companhia de seguros e fomos consultados a respeito da possibilidade de inves-
timento em patrocínio de mídia esportiva em duas TVs segmentadas, que fazem

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a transmissão de jogos e programas de futebol. Recebemos proposta também de
outras duas emissoras de rádio a respeito de investimento na programação de espor-
tes. Assim, analise a tabela e observações que foram passadas pelo nosso Departa-
mento de Marketing.

Tabela 1
Emissora Investimento Característica
Emissora líder no segmento de esportes, com “share” em crescimento, quando
acontecem transmissões esportivas e cujo comentarista chama a atenção pelas
TV – A R$ 47 milhões impropriedades que fala nas análises de jogos e programas. O Programa Esportes
10 é líder de mercado, mas três dos quatro comentaristas são tendenciosos e
comprometem a qualidade do que merece ser analisado com profundidade.
Emissora vice-líder no segmento de esportes, com “share” em estável e audiência
qualificada. Nas transmissões esportivas, possuem analistas focados e com
TV – B R$ 52 milhões
credibilidade para o nosso mercado. O Programa B Esportes tem boa penetração
em todas as camadas e as análises são profundas e de qualidade.
Emissora líder no segmento de esportes, com “share” em crescimento, quando
acontecem transmissões esportivas e cujo comentarista chama a atenção pelas
RÁDIO – A R$ 600 mil impropriedades que fala nas análises de jogos e programas. O Programa Esportes
10 é líder de mercado, mas três dos quatro comentaristas são tendenciosos e
comprometem a qualidade do que merece ser analisado com profundidade.
Emissora vice-líder no segmento de esportes, com “share” estável e audiência
qualificada. Nas transmissões esportivas, possuem analistas focados e com
RÁDIO – B R$ 650 mil
credibilidade para o nosso mercado. O Programa B Esportes tem boa penetração
em todas as camadas e as análises são profundas e de qualidade.
Emissora terceira colocada na transmissão de esportes com “share” em crescimento.
RÁDIO – C R$ 300 mil Nas transmissões, possuem comentaristas focados e chicaneiros e um bom programa
esportivo, quando os comentaristas personagens não estão presentes.

Caso fosse fazer os investimentos, eles seriam aprovados para a emissora de TV B


e a Rádio B. Não correria o risco de colocar uma mensagem patrocinando um evento
que pudesse, em qualquer ocasião, ser associada com valores que não são defendidos
pela nossa empresa.

Portanto, ter comentaristas sóbrios, realistas, analistas profundos, comprometidos


com a ética pode representar o ganho de alguns milhares de reais ao longo do ano.
Fazer jornalismo esportivo sério e com responsabilidade dá retorno à emissora e aos
veículos de internet e impressos.

Pedido de Desculpas
O comentarista esportivo está sujeito, como qualquer outro profissional, a cometer erros.
Talvez ele esteja ainda mais na mira do público, uma vez que o lado perdedor terá pouca
compreensão com respeito às análises, sendo tomado pelo calor dos acontecimentos.

O erro, no entanto, precisa ser reparado sob a pena de ferir a credibilidade do


comentarista e também da emissora. Muitas vezes, os erros recaem sobre dados, e não
nas análises. Quando o erro for alertado pelo público, o comentarista seria simpático
ao fazer menção do nome de quem fez a correção. Não há demérito. O demérito é não
fazer a correção devida. Deixar o dito pelo não dito é total desrespeito ao público.

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O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Críticas
As críticas nos comentários esportivos devem visar o aspecto profissional tão somente.
A crítica pessoal a um atleta, pelo que ele faz fora do trabalho, não diz respeito à mídia
esportiva, a menos que isso venha interferir no rendimento dele como desportista. Mas
tais comentários só devem ser feitos se houver indícios e informações que confirmem
que isto está prejudicando a boa convivência do jogador no elenco, ou o rendimento dele
como atleta.

Se não houver indícios de que estes fatos estejam ocorrendo, os comentários não irão
passar de mera fofoca, e este será um assunto para publicações e programas especiali-
zados no tema.

Tratar de tal tema sem ter o embasamento necessário pode ferir a credibilidade do
comentarista esportivo. Lembro que ninguém deseja associar sua imagem a algo sem
credibilidade e que não tenha respeito pela ética.

Outro ponto a se destacar é que o comentarista torcedor não faz parte do rol de jor-
nalistas esportivos profissionais. O torcedor deve ficar na arquibancada. Abordaremos o
tema com mais profundidade na sequência.

Comentarista Torce
O comentarista esportivo, como qualquer outro profissional do esporte, tem um time
de coração. Dizer que não tem time é desculpa que não cola. Entendo que o time do
jornalista esportivo pode ser externado, e isso não vai significar que ele tomou partido
do time dele por que tem admiração pelo clube de infância.

Eu, mesmo não sendo comentarista, já fui taxado de corintiano, palmeirense, santista
e são-paulino. Sempre torci pelo São Paulo, mas isso não foi em nenhum momento
ponto de influência para defender o Tricolor do Morumbi. Sempre que foi preciso, eu
critiquei, bem como fiz elogios quando estes eram condizentes.

Barbeiro e Rangel (2015, p. 82) dizem que “com transparência, o público pode ficar
mais atento e cobrar isenção”.

Atualização Profissional
Creio que um dos temas mais relevantes para um comentarista esportivo, bem como
profissionais que atuam no meio esportivo, é a atualização profissional. A vida louca e
sem parada destes profissionais precisa ser compreendida pelas chefias imediatas.

Por muito tempo, tentei fazer um curso de atualização quando militava no dia a dia
com o jornalismo esportivo, e nunca pude fazer um curso de especialização ou mesmo
outra graduação por causa de viagens e coberturas, que exigiam praticamente tempo
integral no trabalho. Consegui isso anos mais tarde e percebi o quanto me fez falta para
me manter na vanguarda do que acontecia, principalmente, na área tecnológica.

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Entendo também que o comentarista esportivo pode buscar referências de estilos
em outros países. Não será uma cópia, e sim um modelo. Os cronistas esportivos da
Argentina, Colômbia e Espanha são referências no rádio. Procurar pelas emissoras
como Caracol (Colômbia), Mitre (Argentina) e Marca (Espanha) são boas opções para
abrir o leque de possibilidades.

Os Tipos de Comentaristas
Vejo que há dois tipos básicos de comentaristas esportivos. O primeiro é aquele que
trata do assunto, por si só. É técnico, sabe do que está falando e está atualizado quanto
ao que se passa no cenário esportivo, de forma geral. É o comentarista que entende de
tática e tem a capacidade de, didaticamente, analisar uma partida de futebol ou evento
esportivo com propriedade. É um profissional que está atento a mudanças no ambiente
do esporte. Sabe balizar as críticas com os elogios e vai sempre direto ao ponto.

O segundo é o comentarista que tem acesso a informações de bastidores. Esse pro-


fissional é visto com desconfiança pelos próprios colegas de profissão, uma vez que
consegue transitar bem nos bastidores do esporte. Muitas vezes, pela credibilidade que
goza nos meios em que atua, consegue informações exclusivas e de grande repercussão.
Esse profissional também maneja bem os dados que lhe são passados, conseguindo
assim, mais projeção.

Entendo que o comentarista também deve fazer parte da produção da pauta e ter
participação decisiva no material que será produzido. O trabalho feito em equipe gera
mais resultados, gerando, desta forma, uma relação de interdependência entre os mem-
bros de uma equipe esportiva.

Os outros tipos de comentaristas esportivos são apenas fruto da mente corrompida


de parte dos gestores ávidos por audiência com a produção de material de qualidade
duvidosa. Eles acham que o entretenimento é o caminho para agregar a audiência do
público mais jovem e que este público chancela as chicanas feitas por profissionais que
se submetem a este tipo de situação. Ledo engano.

A Competição
Como disse ao longo da explanação, o comentarista precisa ter estudado e se apro-
fundado a respeito do tema que vai abordar, seja futebol, basquete, natação, vôlei ou
outra modalidade.

Creio também que a leitura é essencial a todos que trabalham com jornalismo, seja ele
esportivo ou não. A leitura dá vocabulário e ajuda o profissional da área a ter improviso.

A concatenação das ideias também é de fundamental importância para o que o


receptor entenda a mensagem.

Já disse que a ida dos comentaristas às atividades dos jogadores, no caso do futebol,
ajuda a compreender melhor as ações dos times na próxima partida.

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UNIDADE
O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

No Rádio, o comentarista ao longo de um dia de transmissão tem uma jornada


recheada de compromissos. Ele participa de programas esportivos, jornalísticos, de
prestação de serviços e também da transmissão. É neste momento que ele necessita
cativar o público com um olhar diferente, uma linguagem simples e direta, com pers-
pectiva daquilo que pode ocorrer. No rádio, ele precisa ser sucinto e inteligente para
não brecar a dinâmica da transmissão. O estilo pode ser contundente ou não. Podem
ocorrer momentos de descontração, o rádio permite isso, mas dentro de um limite que
não extrapole os limites da credibilidade.

Na TV, o comentarista precisa fugir do óbvio. Todo mundo está vendo. Aqui, mais
vale a experiência do que qualquer outra coisa. No dia da transmissão, ele, basicamente,
só participa dela. A TV exige um profissional mais focado e tem pouco espaço para
“brincadeiras”.

Nos portais de internet e nos jornais, funciona basicamente da mesma maneira.


O comentarista, ao longo do evento, monta o texto, pelo menos o corpo do comentário,
e no fim, rapidamente, por causa do “deadline”, altera partes iniciais e finais. Ainda as-
sim, há casos em que ele precisa fazer um novo texto em poucos minutos. Por exemplo,
em uma virada de jogo nos últimos três minutos da partida.

Credibilidade
O comentarista é a opinião do veículo de comunicação para determinado tema.
Se não é, deveria ser. Por isso, ao longo do tempo, com a credibilidade ele faz do nome
uma marca. Nós somos uma marca e ela pode ser explorada dentro dos limites éticos
que pressupõem o exercício da profissão de jornalista.

Você, então, pode me perguntar se acho certo Ronaldo comentar na TV Globo e


manter relação comercial com clubes de futebol e jogadores. Não, eu não acho correto,
mas a TV deve ter os interesses dela na contratação dele como comentarista.

O comentarista pode ser chamado para eventos, para cursos, para outros compro-
missos que não comprometam a credibilidade, e pode aceitar, desde que de comum
acordo com a chefia imediata.

Essa marca precisa ser administrada mesmo na relação com o público. Muitas vezes,
há uma relação de amor e ódio, que nas redes sociais necessita de tato. Evitar debater
com “haters” é um dos bons caminhos para não baixar o nível por lá. Ao mesmo tempo,
acho também que a interação com o público pelas redes ajuda a estabelecer um contato
mais próximo com os fãs, como precisa ser.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Jornalismo Esportivo. Relatos de uma paixão
Jornalismo Esportivo. Relatos de uma paixão – Celso Unzelte – Editora Saraiva.

Manual de redação CBN


Manual de redação CBN – Mariza Tavares – Editora Globo.

Leitura
Entrevista com Sérgio Noronha
http://bit.ly/2UNpVQJ
O comentarista esportivo que você conhecia mudou, e para melhor!
https://bit.ly/2IzNg1W

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UNIDADE
O Papel do Comentarista no Esporte Contemporâneo

Referências
BARBEIRO, H; RANGEL, P. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto,
2006 (E-book).

COELHO, P. V. Jornalismo Esportivo. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2011 (E-book).

TAVARES, Mariza. Manual de Redação CBN. São Paulo: Globo, 2011.

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