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PROPÓSITO
Compreender a formulação e a implementação das políticas públicas, assim como as situações
em que elas devem ser aplicadas a fim de melhor contribuírem para a atuação no setor público.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar o que são políticas públicas, seus atores e processos;
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
Neste tema, abordaremos o campo das políticas públicas. No primeiro módulo, definiremos
alguns conceitos básicos e discutiremos em particular o orçamento público. Levantaremos,
ainda, questionamentos sobre a intervenção do governo na economia.
Pretendemos discutir não apenas os conceitos básicos de políticas públicas, mas também
analisar como elas são construídas e para que servem. Dessa maneira, será possível construir
uma visão crítica sobre as diferentes políticas públicas, suas finalidades e os atores envolvidos.
MÓDULO 1
Nas democracias modernas, as políticas públicas são o meio essencial para que os governos
entrem em ação. Essas políticas também podem partir de iniciativas da sociedade civil e do
mercado.
BUROCRACIA
Os atores estatais são os indivíduos que exercem funções públicas no Estado, como
servidores públicos e representantes eleitos. Já os atores privados estão na sociedade civil,
como sindicalistas, empresários e membros de ONGs e outros setores que não têm vínculo
direto com a estrutura do Estado, mas que levam demandas a ele.
As cinco fases que compõem o ciclo são: definição de agenda, formulação, tomada de
decisão, implementação e avaliação. Veremos a seguir em que consiste cada uma.
Nesta fase, os atores precisam definir quais problemas e assuntos entrarão em uma lista para
que sejam solucionados. Isso ocorre porque o governo tem limitações de recursos e deve,
portanto, definir prioridades.
SAIBA MAIS
“Agenda”, nesse caso, pode ser compreendida como problema ou conjunto de problemas que
ganham destaque em determinado momento, como resultado da ação política dos atores.
Por causa da limitação de recursos, é necessário definir quais questões serão tratadas pelo
governo naquele momento. Para isso, existem vários elementos que determinam o problema a
ser inserido na agenda do governo.
Alguns elementos podem ser usados para verificar se determinado setor precisa sofrer
intervenção ou não. São eles:
Indicadores
Pode ser exemplificado por uma alta taxa de mortalidade infantil em certa localidade.
Eventos simbólicos
Refere-se a um evento que gere grande comoção social, como um crime violento.
Nesta fase, são identificadas as estratégias e possíveis soluções disponíveis. São elaborados
os objetivos e as metas para sanar determinados problemas de interesse público. Além de
escutar os diversos grupos sociais, o governo deverá estar em contato com os técnicos,
inclusive em relação à utilização dos recursos materiais, econômicos, humanos, entre outros.
Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock
Nesse estágio, temos as opções e os instrumentos de políticas públicas. As opções podem ser:
Incrementais
A alternativa incremental é aquela que sugere mudanças pequenas − podemos, por exemplo,
alterar algum protocolo de atendimento em hospitais públicos, como encaminhar pacientes com
sintomas respiratórios para uma unidade separada.
Fundamentais
É comum que gestores de política pública optem pela mudança incremental por duas razões:
mudanças significativas envolvem maiores riscos para a reputação dos políticos e necessitam
de muita informação sobre o possível impacto gerado, o que pode ser difícil de obter.
Têm pouco envolvimento. As ações são feitas mediante mercado, famílias, organizações
religiosas, instituições de caridade, empresas privadas, entre outros tipos de organizações
sociais. Os governos, de forma indireta, podem atuar garantindo o direito de propriedade e o
respeito aos contratos.
Instrumentos públicos
Os instrumentos públicos, por sua vez, são ações mais diretas do governo, como aplicar
tributos e subsídios, criar regulamentações, multar, ou atuar por meio de empresas públicas.
ATENÇÃO
É nessa fase que são definidos os recursos e o prazo da ação política. As escolhas são
expressas por meio de leis, decretos, normas, resoluções, dentre outros instrumentos
administrativos existentes. Define-se, ainda, de que forma se dará o processo de tomada de
decisão e qual procedimento será adotado para iniciá-lo. Por exemplo, cabe aos atores
públicos envolvidos delimitar se a tomada de decisão ocorrerá de forma aberta a uma consulta
ampla ou não, decidindo quem participará do processo.
Dentre os modelos existentes para tomada de decisão, destacamos três: modelo racional,
modelo incremental e modelo lata de lixo.
MODELO RACIONAL
Tem como pressuposto que as consequências de todas as opções de políticas são conhecidas
pelos tomadores de decisão. Ou seja, os custos e benefícios de cada opção seriam
comparados e, assim, seria calculada a probabilidade de sucesso para cada uma delas.
Podemos ilustrar novamente com um exemplo sobre saúde pública: o modelo racional supõe
que os custos e benefícios de diferentes protocolos de atendimento em hospitais públicos
sejam conhecidos. O gestor sabe, por exemplo, o que vai acontecer com as taxas de infecção
por doença respiratória caso os pacientes com esse quadro sejam encaminhados para
unidades separadas.
MODELO INCREMENTAL
É caracterizado por barganha e concessões mútuas e se concentra nas decisões politicamente
viáveis. Analisa a tomada de decisão com restrição de tempo e informação e com conflitos
entre diferentes grupos por meio de um processo de sucessivas comparações a resoluções
anteriores. Isso faz com que as definições sejam apenas marginalmente distintas das
definições vigentes.
Esse modelo apresenta maior viabilidade política, já que as mudanças apresentadas não serão
grandes. Com isso, evita conflitos exagerados e permite a viabilidade burocrática, pois as
mudanças marginais são mais factíveis de serem feitas pela parte operacional. Em
contrapartida, o modelo recebeu críticas por ser pouco focado em resultados, por seu caráter
conservador e por desestimular a busca por novas alternativas.
A busca por uma política acaba quando ela consegue produzir resultados aceitáveis e outras
políticas que podem ter resultados melhores nunca são totalmente exploradas. Voltando ao
exemplo, uma eventual mudança no protocolo de atendimento a pacientes com sintomas
respiratórios só ocorre quando há uma crise no protocolo em vigor. Um caso extremo ocorreu
com a pandemia de Covid-19: se houvesse apenas uma entrada para pacientes “regulares” e
pacientes com sintomas respiratórios, a doença se multiplicaria ainda mais rapidamente.
HORIZONTE DE TEMPO
Os tomadores de decisão podem se deparar com a dificuldade de planejar e de verificar os
impactos da política pública no tempo determinado.
FALTA DE INFORMAÇÃO
Por exemplo, pode haver pouca coleta de dados.
4. IMPLEMENTAÇÃO
Existem dois modelos de implementação de políticas públicas: de cima para baixo (top-down) e
de baixo para cima (bottom-up).
Modelo de baixo para cima
Na fase de implementação, algumas barreiras são comuns. Elas podem ser classificadas em
três categorias:
BARREIRA POLÍTICA
Pode ser causada por discordâncias entre atores envolvidos, pouco apoio político, interesses
conflitantes com a burocracia e falta de articulação com os atores que farão a implementação
da política.
BARREIRA DE COMPETÊNCIA ANALÍTICA
Pode ser causada pela falta de objetivos claros, mudanças de prioridades, falhas na concepção
do programa e falta de conexão entre os responsáveis pela implementação.
Durante a implementação, alguns fatores podem afetar a eficácia das políticas públicas, entre
eles as disputas de poder e a preparação do quadro administrativo. Quanto maior o número de
órgãos envolvidos, maior será o número de comandos e, com isso, mais tempo será
demandado para a execução. A extensão da cadeia de comando mede-se pela quantidade de
decisões que precisam ser adotadas para que o programa funcione.
A avaliação está presente não apenas quando a política pública se encerra, mas ao longo de
todo o seu ciclo. Ela pode fornecer informações capazes de adequar a implementação e
auxiliar o planejamento de novas políticas.
A avaliação é essencial para que os recursos sejam gastos da maneira mais eficiente possível.
BENEFÍCIOS DA AVALIAÇÃO
Com a avaliação, a administração gera informações para futuras políticas públicas, presta
contas em relação ao uso de recursos, justifica as ações tomadas, elabora correções e ajustes
das ações, identifica as barreiras para o sucesso do programa, promove o diálogo entre os
atores e fomenta a cooperação entre eles.
Ela torna possível que haja um processo mais efetivo de regulação e fiscalização por parte de
agências fiscalizadoras, órgãos legislativos e cidadãos. A avaliação é uma ferramenta para o
controle social e a gestão de políticas públicas, o que pode aprimorar o processo democrático
quando diversos atores participam do processo.
Espera-se um efeito de qualquer intervenção realizada pelo governo. Alguns desses efeitos
são diretos e tipicamente são esperados quando a política pública é implementada. Eles
podem desencadear uma série de outros, às vezes difíceis de prever, chamados indiretos. A
avaliação de impacto busca identificar os efeitos de determinada política pública em diferentes
variáveis.
A avaliação pode ocorrer internamente − realizada pelos responsáveis ou por uma equipe
interna encarregada da gestão e execução da política; ou externamente − quando feita por
grupos externos à organização responsável pela política, contratados pela administração. Pode
se dar também de forma mista, combinando as duas anteriores e, de forma participativa,
incorporando os beneficiários e a comunidade no processo. Veja:
AVALIAÇÃO EXTERNA
Conta com avaliador alheio aos quadros do governo, com experiência nessa metodologia e
conhecimento que permite comparar resultados de diferentes avaliações. Como desvantagem,
temos a falta de domínio dos avaliadores sobre as especificidades da área do projeto e, como
vantagem, destaca-se a maior objetividade.
AVALIAÇÃO INTERNA
Pode apresentar menor objetividade entre avaliador e avaliado e choques de interesses.
Apresenta, porém, a vantagem de os avaliadores terem conhecimento substantivo do projeto e
dos beneficiários.
AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA
Nesta forma de avaliação, busca-se a adesão da comunidade afetada ou beneficiada em todas
as fases da formulação da política pública. A participação da comunidade, diferentemente do
que ocorre nas outras formas de avaliação, assume o caráter ativo no processo de avaliação.
No vídeo a seguir, você verá exemplos de efeitos diretos e indiretos que as políticas públicas
podem gerar.
ORÇAMENTO PÚBLICO
Todo governo possui restrições para a implementação de políticas públicas. Nesta seção,
destacaremos a restrição imposta pelo orçamento público, que prevê um montante específico e
limitado de recursos para as políticas públicas.
SAIBA MAIS
Os governos podem participar de muitas formas na economia dos países. Para atender às
necessidades da sociedade, o governo precisa prestar serviços e realizar obras que visem ao
objetivo estatal do bem comum. Essas ações, porém, costumam se dar por meio da sua
atividade orçamentária, já que sua execução exige gastos.
Boa parte das receitas do governo sai de forma direta ou indireta do bolso dos membros de
uma sociedade, chamados de contribuintes. Isso ocorre por meio dos impostos pagos
diretamente, como o imposto de renda, e os pagos de maneira indireta, que são os embutidos
nos preços das mercadorias e nas tarifas de serviços públicos.
Mas como o governo planeja a utilização do dinheiro arrecadado com os tributos para oferecer
serviços públicos adequados?
RESPOSTA
O instrumento que os governos usam para organizar seus recursos financeiros é o orçamento
público. Por meio dessa ferramenta, estimam-se as receitas a serem arrecadadas e se fixam
as despesas a serem realizadas. Falamos em estimativa de receita porque os tributos
arrecadados podem sofrer variações ao longo do tempo.
Esse acompanhamento contribui para fiscalizar a gestão pública. No caso brasileiro, essas
informações estão disponíveis para acesso no endereço eletrônico do Portal da
Transparência.
PORTAL DA TRANSPARÊNCIA
Cada um desses documentos possui suas regras de elaboração e é utilizado por todas as
esferas: municipal, estadual e federal.
O seu início se dá pela elaboração do Plano Plurianual (PPA) e termina com o julgamento que
o Poder Legislativo faz da última prestação de contas do Poder Executivo. Os projetos dessas
três leis (PPA, LDO e LOA) só podem ser elaborados pelo Poder Executivo.
EXEMPLO
No caso dos municípios, cabe à prefeitura (Poder Executivo) elaborar a proposta de orçamento
com a estimativa de arrecadação e das despesas que pretende ter. Essa proposta, então,
precisa ser discutida e aprovada pelos vereadores da Câmara Municipal (Poder Legislativo),
assim como qualquer alteração posterior. Os vereadores não podem apresentar tais projetos,
mas podem alterá-los com emendas quando são enviados para discussão e votação.
Resumidamente, podemos dizer que o orçamento é uma previsão dos gastos que a prefeitura
fica autorizada a fazer.
Por último, é importante saber que o Ministério Público é a instituição chamada a intervir legal e
penalmente quando alguma irregularidade é constatada pelos órgãos de controle interno,
externo ou social. Cabe também à sociedade civil monitorar o orçamento público.
ÁREAS FINALÍSTICAS
Corresponde aos órgãos e às suas entidades vinculadas que geram produtos diretamente
à sociedade.
As despesas para áreas finalísticas somaram aproximadamente 1.202 bilhões de reais no ano
de 2019, sendo que 55,66% foram para previdência social (667 bilhões de reais), 9,5% para a
saúde (114 bilhões de reais) e 7,86% para a educação (94 bilhões de reais).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
C) Modelo racional
A) Assembleia Legislativa
C) Prefeitura
GABARITO
O modelo racional, que tem como pressuposto que as consequências de todas as opções de
políticas são conhecidas pelos tomadores de decisão. Ou seja, os custos e benefícios de cada
opção seriam comparados e, assim, seria calculada a probabilidade de sucesso para cada uma
delas.
2. Quando algum município brasileiro, como Belo Horizonte ou Manaus, pretende criar
uma política pública, a prefeitura precisa apresentar as propostas dentro do orçamento.
Que órgão é responsável por avaliar e aprovar esses orçamentos?
A Câmara dos Vereadores é o Poder Legislativo Municipal e, por isso, é responsável por
avaliar e aprovar os orçamentos elaborados pelo Poder Executivo.
MÓDULO 2
FALHAS DE MERCADO
São diversas as controvérsias em relação ao papel do governo e de suas políticas públicas na
economia: que tipo de serviços ele deve prestar? Por que o governo deveria gastar bilhões de
reais para fornecer um sistema de saúde público? Por que ele é o principal fornecedor de
alguns bens e serviços, como rodovias e educação, enquanto o fornecimento de outros, como
roupas e entretenimento, geralmente é deixado para o setor privado?
Alterar os preços de bens e serviços mediante impostos e subsídios. Exemplos: Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Financiamento em parceria com o setor privado. Exemplo: Programa Universidade para Todos
– Prouni.
SAIBA MAIS
Fonte: NicoElNino/Shutterstock
Os produtos de um mercado eficiente são sempre fornecidos pelo menor preço possível, e
produzidos na quantidade exata que a sociedade precisa. Dizemos que são preços e
quantidades ótimas, ou ainda socialmente ótimas. Os mercados, porém, nem sempre alcançam
resultados eficientes. Eles podem falhar por diversos motivos, mas a maioria dos argumentos
econômicos para justificar a atuação do governo baseia-se na ideia de que o mercado não
pode fornecer bens públicos nem lidar com externalidades – dizemos então que há uma falha
de mercado.
EXTERNALIDADES
Externalidade é um termo bastante comum na literatura econômica. Ela ocorre quando a ação
de um indivíduo impacta diretamente o bem-estar de outro, mas sem nenhum tipo de
compensação.
Quando o impacto prejudica o outro agente econômico
Externalidades podem ser geradas por indivíduos ou empresas (ou ainda por qualquer outro
agente econômico).
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Pelo lado do consumo, a educação é um exemplo de externalidade positiva, uma vez que seus
retornos sociais são superiores aos retornos privados. Uma sociedade mais escolarizada não é
apenas mais produtiva, ela também é mais politizada, mais saudável e menos violenta. Já o
cigarro é prejudicial tanto para o indivíduo que o consome quanto para o indivíduo que está
exposto à fumaça, configurando dessa forma uma externalidade negativa.
É por conta de externalidades positivas que governos financiam pesquisas científicas e
fornecem educação de forma subsidiada ou até gratuita. Da mesma forma, governos ao redor
do mundo buscam ativamente por formas de combate à emissão de gases poluentes e ao
consumo de cigarro.
Uma questão levantada por Ronald Coase − um famoso economista vencedor de um Prêmio
Nobel − é se as externalidades não poderiam ser solucionadas por meio de mecanismos de
mercado. Não existiria uma solução independente do governo?
Fonte: Wikimedia
Foto digitalizada de Ronald Coase dos arquivos da Universidade de Direito de Chicago –
University of Chicago Law School.
1º: É necessário que a transação entre a firma e os pescadores possa ser realizada de forma
simples. Se houver grandes custos para realizá-la – por exemplo, honorários dos advogados
que escreverão o contrato −, talvez não seja possível implementar a solução;
2º: Teríamos o mesmo resultado se a firma fosse dona do rio – nesse caso, os pescadores é
que precisariam pagar à firma para evitar a poluição.
É claro que diferentes alocações de direitos de propriedade têm impacto sobre a distribuição
de recursos na economia (quem é mais rico e quem é mais pobre), mas não sobre a
transação que deve ser realizada: se o ideal for lançar uma pequena quantidade de dejetos no
rio, poderemos alcançar esse resultado com a definição de direitos de propriedade, desde que
não haja grandes custos para realizar essa transação. Não importa se são os pescadores que
pagam à firma para reduzir a poluição ou se é a firma que paga aos pescadores para ter algum
direito de poluir.
Coase (apud GRUBER, 2010) sugere um papel muito particular e limitado para o governo ao
lidar com externalidades: basta estabelecer direitos de propriedade. Todavia, essa não é uma
tarefa simples de ser realizada. Podemos citar quatro motivos que dificultam a
implementação de uma solução da forma proposta por Coase:
MOTIVO 1
MOTIVO 2
MOTIVO 3
MOTIVO 4
Pode não ser possível atribuir de forma exata quem ou o que é a fonte de externalidade e quais
são as partes afetadas. Imagine que o rio seja muito grande e que não seja viável saber a fonte
da poluição. Também podemos pensar em um exemplo mais comum, como o aquecimento
global. Quem são os poluidores e quem são os indivíduos que vão sofrer as consequências?
Um segundo problema surge quando existem muitos agentes econômicos com direitos sobre
uma mesma propriedade. Por exemplo, os vários pescadores que têm direito ao rio não
chegam a um consenso, um deles expressando uma opinião divergente a respeito da
compensação da poluição causada pela fábrica. Nesse caso, o direito de propriedade de
apenas um indivíduo (pescador divergente) exerce poder sobre todos os outros agentes
econômicos e isso pode impedir a negociação.
Outro problema surge quando muitos agentes são afetados pela externalidade. Se apenas um
deles resolver negociar, todos os outros podem ser beneficiados, sem precisar lidar com os
custos. Vamos pensar em uma situação na qual a fábrica possui o direito de propriedade do rio
e, portanto, os pescadores devem pagar para que ela deixe de poluir. Se apenas metade dos
pescadores pagassem à fábrica, ela reduziria a poluição de forma proporcional, mas esse
benefício seria dividido entre todos os pescadores. Esses pescadores que são beneficiados
sem pagar são chamados de “caronas”.
Por último, o problema é que negociar pode ser muito difícil, ainda mais na presença de
diversos indivíduos de ambos os lados da negociação. Na prática, os custos de transação
costumam ser relevantes.
Quando o mercado não consegue chegar por conta própria a uma solução desejável, os
governos possuem três mecanismos para fazê-lo:
IMPOSTOS
Se queremos reduzir a poluição de uma fábrica, colocamos um imposto sobre a emissão de
poluentes.
SUBSÍDIOS
Se queremos incentivar a pesquisa médica, damos um subsídio aos insumos necessários a
essa pesquisa.
REGULAÇÃO DE QUANTIDADES
O governo também pode controlar as quantidades produzidas diretamente, forçando as firmas
a produzirem o nível socialmente ótimo.
O imposto é utilizado para corrigir externalidades negativas, enquanto o subsídio é utilizado
para corrigir externalidades positivas. Dizemos então que são impostos ou subsídios
“pigouvianos” em homenagem ao economista Arthur Pigou, primeiro a propor essa solução.
Note ainda que em um mundo ideal, não haveria diferenças entre controlar preços (através de
impostos e subsídios) ou quantidades (através de regulação direta), mas na prática existem
complicações que fazem com que subsídios e impostos sejam maneiras mais efetivas de lidar
com externalidades.
BENS PÚBLICOS
Outra falha de mercado ocorre na presença de bens públicos. Existe uma definição bastante
específica a respeito deles, que nada tem a ver com aqueles bens e serviços fornecidos pelo
governo. Para chegarmos a esse conceito, levaremos em conta, primeiro, um bem privado:
EXEMPLO
Uma pizzaria funciona muito bem, pois um indivíduo só tem acesso à pizza mediante
pagamento. Além disso, uma vez que ela é consumida, ninguém pode consumi-la novamente.
Bens públicos, por sua vez, possuem duas características opostas aos bens privados: Eles são
não excludentes, ou seja, podem ser acessados indiscriminadamente, pois não é possível
impedir alguém de consumir o bem; e o consumo desse bem por um indivíduo não inviabiliza o
seu consumo por outros, o que chamamos de não rivalidade.
EXEMPLO
A luz de um poste de iluminação pública em uma rua é um exemplo de bem público, pois não
se pode excluir ninguém de seu uso, e a utilização do poste por um transeunte não reduz a
disponibilidade do serviço para outras pessoas. Bens públicos podem ser fornecidos tanto pelo
governo − como iluminação pública e segurança nacional − quanto pelo mercado − como rádio
e TV aberta.
A partir do conceito de rivalidade e excludência, podemos definir outros tipos de bem:
Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
EXEMPLO
Um exemplo é o peixe em um lago: não se pode impedir que alguém o consuma, mas, uma
vez comido, ninguém mais poderá consumi-lo.
EXEMPLO
Tomemos como exemplo a internet: mais de uma pessoa pode usá-la simultaneamente, porém
é necessário pagar por ela.
Esse quadro, na verdade, retrata situações limite, já que tanto o custo de exclusão quanto a
rivalidade podem ter graus diferentes. Ou seja, nem sempre um bem é inteiramente excludente
ou inteiramente rival – há níveis intermediários.
EXEMPLO
Uma estrada de livre acesso e com pouca circulação de veículos, por exemplo, pode ser
considerada como um bem público: Ao dirigir nela, não se impede o tráfego de outros carros. À
medida que o número de veículos circulando aumenta, porém, um congestionamento é gerado.
Cada carro agora ocupa um espaço que impede a passagem de outros. Nesse caso, o uso da
estrada passa a ser rival, de forma que ela deixa de ser um bem público e passa a ser
caracterizada como um recurso comum.
Como as águas do Caribe estão abertas a todos os pescadores e como qualquer peixe
capturado fica obviamente indisponível para a pesca, recursos comuns como os peixes tendem
a ser superexplorados.
Considere um bem público que é oferecido de maneira insuficiente pelo mercado. O governo,
então, decide participar da produção, mas isso pode fazer com que o setor privado reduza
ainda mais sua oferta. Dessa forma, a intervenção do governo amplia a oferta pública, mas
reduz a privada. Esse efeito chama-se crowd out. Em casos extremos, a redução da oferta
privada pode compensar totalmente o aumento da pública, fazendo com que a intervenção do
governo tenha um impacto nulo.
EXEMPLO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Bem privado.
B) Bem público.
C) Recurso comum.
GABARITO
Uma praia com quantidade pequena de pessoas é um bem público, pois é não excludente e
não rival. Se estivesse lotada, com falta de espaço, ela seria um recurso comum, pois seria
rival e não excludente. Isso porque o consumo de um indivíduo em um local lotado reduz a
possibilidade de “consumo do espaço” por outra pessoa.
Os bens públicos normalmente são fornecidos pelo governo devido à existência do consumidor
carona − aquele que quer consumir o produto sem pagar por ele. Com isso, o fornecimento do
bem público sem a intervenção do governo fica menor que a quantidade ótima para a
sociedade.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, introduzimos os principais conceitos de políticas públicas, elaborando reflexões
sobre as principais etapas do seu processo de formulação de políticas públicas e o papel do
governo na economia.
Tratamos também das chamadas falhas de mercado − que estão entre as principais
justificativas para a atuação de governos por meio de políticas públicas − e nos aprofundamos
em conceitos como externalidades e bens públicos.
Com isso, você desenvolveu algumas das habilidades necessárias para entender o ramo das
políticas públicas e será capaz de analisar criticamente políticas da sua cidade, estado ou até
mesmo do país.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
CAPELLA, A. C. N. Formulação de Políticas. Brasília: Enap, 2018.
FISCHER, F.; MILLER, G. J.; SIDNEY, M. S. Handbook of Public Policy Analysis: Theory,
Politics and Methods. London: Routledge, 2006.
GRANDELLE, R. Oswaldo Cruz, o homem que venceu o ‘AEDES’. In: O Globo, Rio de
Janeiro, 5 dez. 2015.
GRUBER, J. Public Finance and Public Policy. 3.ed. New York: Worth Publishers, 2010.
HOWLETT, M.; RAMESH, M. Studying public policy: Policy cycles and subsystems.
Oxford: Oxford University Press, 2003.
MARQUES, E.; FARIA, C.A.P. (Org.). A Política Pública como Campo Multidisciplinar. São
Paulo: Editora Unesp; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2013.
WU, X. et al. Guia de Políticas Públicas: Gerenciando processos. Brasília: Enap, 2014.
EXPLORE+
CONTEUDISTA
Iago de Azevedo Rocha Maia
CURRÍCULO LATTES