Você está na página 1de 4

FICHA DE RESUMO OU CONTEÚDO

Referência:
SECCHI, Leonardo, Políticas Públicas: Conceitos, Esquemas de Análise, Casos Práticos, São Paulo, Cengage
Learning, 2010, p.1-30

Como parte introdutória do livro, o autor apresenta as dimensões que o termo “política” pode adoptar.
A primeira “politics”, que é a actividade humana ligada a obtenção e manutenção dos recursos necessários para
o exercício do poder sobre o homem. (BOBBIO,2002)
A segunda “policy”, que é o sentido mais concreto e tem relação com a orientação para a decisão e acção.
É crucial que seja feita esta distinção pois nos países latinos esses dois termos possuem uma única tradução,
política.
Segundo Secchi, o termo política pública está ligado ao segundo sentido (policy) pois na sua concepção política
pública trata-se do conteúdo concreto e simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e actuação
dessas decisões.
A partir desta distinção, Secchi define política pública como uma diretriz elaborada para enfrentar um problema
público.

Uma política pública tem dois elementos fundamentais:


1. Intencionalidade pública (razão para o estabelecimento de uma política pública);
2. Resposta a um problema público (resolução do problema público).

Na literatura especializada, não há consenso quanto a definição de política pública por conta da disparidade de
respostas á essas perguntas:
 Políticas públicas são elaboradas só por atores estatais? Ou também por não-estatais?
 Políticas públicas também se referem a emissão, ou a negligência?
 Apenas directrizes de nível estratégico são políticas públicas? Ou as operacionais também?
O posionamento teórico desse autor quanto a essas questões é o seguinte:
a. As políticas públicas não são exclusivas de atores estatais. Quando atores estatais são os implentadores
de uma política pública, esta se chama política governamental.
Na literatura especializada de estudos de políticas públicas, alguns autores e pesquisadores defendem a
abordagem estatista, esta que considera os agentes estatais como os que possuem privilégio de estabelecer e
liderar um processo de políticas públicas, admitindo que os atores não estatais tem apenas influência no
processo- enquanto outros defendem a abordagem multicêntrica- considera que os atores não-estatais também
tem tal privilégio, se o problema que se tenta enfrentar é público, a política é pública.
Este livro filia-se a abordagem multicêntrica:
 Por ter um enfoque mais interpretativo e ser menos positivista do que seja uma política pública;
 Evita uma pré-analise de personalidade jurídica de uma organização antes de se enquadrar suas políticas
como sendo públicas;
 Porque essa abordagem tem aplicação em um espectro amplo de fenómenos fazendo que o instrumento
analitico e conceitual da área de política pública possa ser aproveitado por mais organizações e
indivíduos;
 Porque a diferenca entre esfera pública e esfera privada seja mais útil que a diferença entre esfera estatal
e não-estatal. O papel do estado varia e muda constantemente, sendo assim, há tendências a romper as
barreiras entre esferas estatais e não-estatais na solução de problemas colectivos, logo, é uma
pluralidade de atores que protagonizam e enfrentam os problemas públicos.
É importante sublinhar que o estado se destaca em relação a outros actores no estabelecimento de políticas
públicas, isso porque a elaboração de políticas públicas é uma das razões de existência do estado moderno; o
estado detém do uso da forca legítima o estado controla grande parte dos recursos nacionais.
2. Uma política pública está sempre vinculada a uma intenção, isto é, não diz respeito a atos que envolvem
omissão. Se todas as omissões ou negligências de atores governamentais e não governamentais fossem
considerados políticas públicas, então tudo seria política pública e nem visualizaríamos sua implementação, isto
é, a decisão de não agir não pode ser confundida com a orientação dissuasiva. E as políticas públicas são
operacionalizadas com orientações persuasivas e dissuasivas.
3. São políticas públicas as directrizes estruturantes como as directrizes de nível intermediário e
operacional. A política pública pode ser composta por mais políticas públicas que a operacionalizam.
Idependentemente do nível de análise ou do nível de operacionalização, o conceito de política pública está
vinculado a tentativa de enfrentar um problema público.

Segundo Secchi, para uma melhor compreensão do que seria problema público é necessário entender, numa
primeira fase, o que é um problema. Problema é a diferença entre a situação actual e uma situação ideal possível.
(Sjöblom apud Secchi)
Nessa senda, Secchi define problema público como sendo a diferença entre a situação actual e uma situação
ideal possível para uma realidade pública.
Para que um problema seja considerado público deve ter implicações para uma quantidade ou qualidade notável
de pessoas. Um problema só se torna público quando os atores políticos consideram uma situação inadequada
(problema) relevante para o interesse geral (público).

No segundo capítulo da obra, o autor analisa os tipos de política pública segundo vários autores. Primeiramente,
relata a mudança de paradigma de ciência política tradicional ao considerar que a policy determina a politics.
Antes dessa mudança de concepção, a policy era considerada uma fragmentação da politcs, um resultado directo
das disputas políticas.
Com a mudança de foco, a “policies determine politics “, ou seja, as políticas públicas determinam a dinâmica
política pois a política passou a receber uma forte influência das decisões e acções políticas efectuadas
(policies), fazendo com que estas últimas adquirissem uma nova posição na compreensão do fenómeno político.

Para Leonardo Secchi, existem cinco (5) tipologias de conteúdo das políticas públicas.
A primeira tipologia apresentada pelo autor é a de Lowi que baseia-se no critério de impacto esperado na
sociedade. Segundo esse critério há quatro tipos de políticas públicas:
 Políticas regulatórias: responsáveis pelo estabelecimento de padrões de comportameto, serviço ou
produto para atores públicos e privados.
 Políticas distributivas: geram benefícios concentrados para alguns grupos de atores e custos
generalizados para os contribuintes.
 Políticas redistributivas: concedem benefícios concentrados a alguns grupos de atores com um custo
concentrado para um outro grupo específico de atores.
 Políticas constitutivas: são políticas que definem competências, jurisdições, regras da disputa política e
da elaboração de políticas públicas. Caracterizam-se por ser meta-policies, isso porque encontram-se
acima dos outros tipos de políticas.
Ainda nesta tipologia, Secchi afirma que é importante lembrar que as fronteiras entre esses tipos de políticas
públicas não são definitivas, podendo uma política pública se enquadrar em mais de um tipo definido.

A segunda tipologia é a tipologia de James Quinn Wilson e este adoptou o critério da distribuição dos custos e
benefícios da política pública na sociedade. Segundo esse critério existem quatro tipos de políticas públicas:
 Política do tipo clientelista: corresponde a aqueles em que os benefícios são concentrados em certos
grupos e os custos são generalizados na colectividade. Referem-se as políticas distributivas na tipologia
de Lowi.
 Política de grupo de interesses: é onde tanto os custos como benefícios estão concentrados sob certas
categorias. Referem-se as políticas redistributivas da tipologia de Lowi.
 Política empreendedora: importam em benefícios colectivos, e os custos ficam concentrados sobre certas
categorias/grupos. Este tipo de política corrobora com a tipologia de Lowi pois esta política não foi
prevista na tipologia do mesmo.
 Política majoritária: e onde os custos e benefícios são distribuídos pela colectividade. Não há
concentração neste tipo de política.

A terceira tipologia é a de Gormley, cuja base de distinção é o nível de saliência (necessidade de conhecimento
especializado para sua formulação e implementação). Para este autor, existem quatro tipos de políticas públicas:
 Política de audiência: entram as políticas públicas que são de simples elaboração do ponto de vista
estrutural, mas que tendem a abrir grande atenção das pessoas.
 Política de baixo calão (street level policy): são de elaborações simples e não atraem grande atenção
popular.
 Política de sala de reuniões: existe uma baixa capacidade de atrair a atenção da colectividade, e o
conhecimento técnico e necessário para formatar os contornos de política pública.
 Política de sala operatória: são tecnicamente muito densas e tem apelo popular.

A quarta tipologia ilustrada por Secchi é a de Gustafsson que tem como critério de distinção o conhecimento e a
intenção do policymaker. Nesta tipologia, existem quatro tipos de políticas públicas, nomeadamente:
 Políticas reais: são aquelas que incorporam a intenção de resolver um problema público com o
conhecimento para resolvê-lo.
 Políticas simbólicas (symbolic policies): são aquelas em que os fazedores da política possuem condições
de elaborá-la para resolvê-lo.
 Pseudopolíticas: são aquelas que o policymaker tem intenções de ver sua política a funcionar mas não
possui conhecimento suficiente para tal.
 Política sem sentido: é elaborada sem conhecimento específico sobre o problema e sem alternativa de
solução para o problema.

A quinta tipologia é a de Bozeman e Pandley que faz uma distinção entre conteúdo técnico e conteúdo político.
Nesta tipologia, existem dois (2) tipos de políticas públicas:
 Políticas públicas de conteúdo político: são aquelas que apresentam conflitos relevantes no
estabelecimento e ordenamento de objectivos. É possivel identificar seus ganhadores e perdedores antes
da implementação.
 Politicas publicas de conteúdo técnico: são aqueles que apresentam poucos conflitos com relação aos
objectivos e ordenamento dos mesmos.
A dificuldade de tipologia de Bozeman e Pandley é que as políticas públicas podem ser alternadas ao longo do
ciclo de políticas públicas. Bozeman e Pandley reconhecem que todos as políticas têm aspectos técnicos e
políticos.

No que toca a criação de novas tecnologias, Secchi diz que um analista de política pública pode realizar sua
análise utilizando uma das tipologias já consolidadas que é a aplicação dedutiva, ou pode construir sua própria
tipologia (desenvolvimento indutivo).
O desenvolvimento indutivo baseia-se na capacidade do pesquisador em estabelecer um critério diferente para
verificar uma variável ou estabelecer novas categorias analíticas para classificar fenómenos.
O analista constrói, revisa e reelabora suas variáveis até terem poucas categorias analíticas e com variações que
sejam mutuamente exclusivas e colectivamente exaustivas.
A vantagem do desenvolvimento indutivo é a costumização de uma tipologia mais adequada aos objectivos de
análise.

As tipologias simplificam fenómenos aparentemente complexos. Usar as tipologias ajuda o analista a organizar
seu material e a ter clareza sobre os elementos essenciais do que está a ser investigado. As limitações são:
1. Toda a tipologia é reflexo de um reducionismo e, por isso, elas são acusadas de descolar-se da realidade.
2. Tipologias que se baseiam em variáveis qualitativas podem levar o analista a desconsiderar o “meio-
termo”, visto que muitos fenómenos são qualitativamente diferentes mas qualitativamente parecidos.
3. Tipologias raramente conseguem abranger categorias analíticas mutuamente exclusivas e colectivamente
exaustivas, ou seja, um caso não consegue ser classificado por não possuir os requisitos das categorias de
dada tipologia e às vezes pode ser classificado em mais de uma categoria analítica simultaneamente.
Palavras-chave:

Você também pode gostar