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Políticas Públicas Segundo Leonardo Secchi

COMUNICAÇÃO

ROCHA, Leone de Araújo [1]

ROCHA, Leone de Araújo. Políticas Públicas Segundo Leonardo Secchi. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 03, Ed. 12, Vol. 02, pp. 70-74 . Dezembro de
2018. ISSN:2448-0959

Num estilo didático e metódico, lembrando um verdadeiro manual, Leonardo Scchi introduz
os conceitos básicos necessários para a análise e compreensão das políticas públicas. O
presente trabalho trata-se de uma resenha do seu livro que está organizado conforme os
capítulos presentes na obra. Não buscou-se um detalhamento exaustivo, mas sim ressaltar
os aspectos elementares do estudo das políticas públicas presentes na obra de Secchi.

Na introdução do livro, capítulo primeiro, o autor estabelece algumas definições básicas para
o estudo das políticas públicas. A primeira delas é a diferença entre politics e policy. Esta
distinção se faz necessária, pois nos países latinos esses dois termos possuem uma única
tradução: política. Assim, política enquanto politics diz respeito as formas de obtenção e
manutenção do poder sobre os homens; já o termo policy remete a política em um sentido
mais concreto de orientação para decisão e ação. Segundo o autor, o termo política pública
(public policy) se enquadra no segundo sentido da concepção de política, ou seja, é uma
policy. Em suas palavras, “Políticas públicas tratam do conteúdo concreto e do conteúdo
simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas decisões“ (pg.
1).

A partir dessa distinção básica, Secchi define política pública como uma diretriz para a
resulção de um problema público. Ressalta que qualquer definição levantada para a
conceitualização sobre o que é uma política pública é arbitrária, já que alguns pontos como
exclusividade dos atores estatais na elaboração das políticas, referência à omissão ou
negligência, restrição à diretrizes estruturantes ou operacionais, são condicionantes que
influenciam na caracterização do conceito de política pública. O posicionamento teórico do
autor quanto a esses condicionantes é o seguinte: 1) políticas púlicas não são exclusivas de

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atores estatais. Quando atores estatais são os implementadores de uma política pública, esta
se chama política governamental, uma subclasse de política pública; 2) uma política pública
está sempre vinculada a uma intenção, logo não diz respeito a atos que envolvem omissão;
3) Secchi considera políticas públicas tanto as macrodiretrizes estratégicas que respondem
por políticas de Estado e sociedade global, como as diretrizes intermediárias e operacionais,
direcionadas a subregiões como municípios ou políticas administrativas e de organização
governamental local.

Secchi enfatiza na definição de política pública a noção de problema público. Este seria uma
diferença entre o status quo problemático e uma situação ideal possível. Nas palavras do
autor, “Para que um problema seja considerado ‘público‘, este deve ter implicações para
uma quantidade ou qualidade notável de pessoas“ (pg. 7). Ressalta ainda o autor que para
que um problema seja considerado público, os atores políticos devem considerá-lo um
problema relevante de interesse geral.

No segundo capítulo da obra, o autor analisa os tipos de política pública. Primeiramente


relata a mudança de paradigma na ciência política tradicional ao considerar que a policy
determina a politics. Antes dessa mudança de concepção, uma policy era considerada um
desdobramento da politic, um resultado direto das disputas políticas. Com a mudança de
foco, a luta política (politics) passou a ser considerada como recebendo uma forte influência
das decições e ações políticas efetuadas (policies), fazendo com que estas últimas
adquirissem um novo status na compreensão do fenômendo político. Com essa consideração,
a análise de políticas públicas ganhou destaque e, assim, o estudo dos tipos de política
publica floresceu.

A primeira tipologia estudada por Secchi é a de Theodore J. Lowi. Nessa tipologia, há quatro
tipos de políticas públicas segundo o critério do impacto esperado na sociedade: 1) Políticas
regulatórias: Estabelecendo padões de comportamento, serviço ou produto para atores
públicos e privados. 2) Políticas distributivas: Geram benefícios concentrados para alguns
grupos de atores e custos difusos para toda a coletividade/contribuintes. 3) Políticas
redistributivas: Concedem benefícios concentrados a algum grupo de atores com um custo
concetrado para um outro grupo específico de atores. 4) Políticas constitutivas: Definem as
competências, jurisdições, regras da disputa política e da elaboração de políticas públicas.
Secchi afirma que é importante lembrar que as fronteiras entre esses tipos de políticas

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públicas não são definitivas, podendo uma política pública se enquadrar em mais de um tipo
definido.

A segunda tipologia apresentada pelo autor é a de James Quinn Wilson, que adota o critério
da distribuição dos custos e benefícios da política pública na sociedade. Segundo esse
critério, as políticas públicas se dividem em:

CUSTOS
DISTRIBÍDOS CONCENTRADOS
DISTRIBUÍDOS Política Majoritária Política Empreendedora
BENEFÍCIOS
CONCENTRADOS Política Clientelista Política de Grupo de Interesses
Fonte: Secchi (2014)

A terceira tipologia que traz Secchi é a elaborada por Gormley, cuja a base de distinção é o
nível de saliência, que é a “capacidade de afetar e chamar a atenção do público em geral“
(pg. 20), e o nível de complexidade, que é a “necessidade de conhecimento especializado
para sua formulação e implementação“ (pg. 20).

A última tipologia apresentada por Secchi é a de Bozeman e Pandey, que faz uma distinção
entre conteúdo técnico e conteúdo político. Políticas públicas essencialmente políticas são
aquelas as quais “ganhadores e perdedores da política pública são identificáveis antes da
implementação“ (pg. 23, negrito do autor). Por outro lado, o autor afirma que “Políticas
públicas de conteúdo técnico apresentam poucos conflitos com relação aos objetivos e ao
odernamento dos objetivos, embora possam aparecer conflitos com relação aos métodos“
(pg. 23).

Secchi finaliza o capítulo afirmando que existem vários modelos de análise de políticas
públicas, podendo o analista utilizar um desses modelos (aplicação dedutiva), ou elaborar
seu proprio modelo (desenvolvimento indutivo).

No seu capítulo terceiro, Secchi introduz o estudo do cíclo de políticas públicas (policy cicle),
também conhecido por processo de elaboração de políticas públicas (policy-making process).
O autor afirma que “O ciclo de políticas públicas é um esquema de visualização e
interpretação que organiza a vida de uma política pública em fases sequenciais e

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interdependentes“ (pg. 33).

No capítulo quatro do livro em estudo, é abordado o tema Instituições no processo de política


pública, pretendendo evidenciar a dimensão espacial das políticas públicas, ou seja, onde
elas ocorrem. Secchi afirma que:

O analista de políticas públicas pode responder à indagações de tipo espacial


referindo-se à cidade, ao estado ou ao país onde a política pública foi estabelecida.
Ou, ainda, pode preferir distinguir em que esfera de poder a política pública foi
formulada: Executivo, Legislativo, Judiciário, ou não governamental. Mas,
especificamente, a dimensão espacial pode ser visualizada em níveis mais
detalhados, por exemplo, no plenário da Câmara, no plenário do Senado, em
determinada comissão legislativa ou em um fórum legislativo consultivo com a
participação da sociedade civil. (pg. 61, negritos do autor)

Afirma ainda o autor que “Nos estudos de políticas públicas, a dimensão espacial é traduzida
como o contexto institucional. As políticas públicas se desenvolvem em um cenário político e
o conjunto das instituições é esse cenário“ (pg. 61). Para escola institucionalista tradicional,
as instituições são as regras formais que, de alguma maneira, condicionam a atuação dos
indivíduos, e é levando em consideração essas regras – instituições – que as políticas
públicas são forjadas.

O tema Atores no processo de política pública é abordado no capítulo cinco. No campo da


ciência política, segundo Secchi, “atores são todos aqueles indivíduos, grupos ou
organizações que desempenham um papel na arena política“ (pg. 77, negrito do autor). No
processo de política pública, os atores que possuem relevância são aqueles com capacidade
de influenciar direta ou indiretamente os resultados e conteúdos da política pública. Os
atores são responsáveis por a) sensibilizar a opinião pública sobre os problemas relevantes;
b) influenciar a agenda; c) estudar e elaborar propostas e tomar decisões, fazendo com que
as intenções se tornem ações. O analista de políticas públicas deve saber identificar os
atores e avaliar a interação entre eles no processo. Basicamente, existem duas
macrocategorias de atores, os governamentais e os não governamentais.

As relações entre os atores podem ser definidas como a) modelo principal-agente,

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enfatizando uma relação contratual entre dois tipos ideais de atores, o principal, que
“contrata uma pessoa ou organização para que ela faça coisas em seu nome“ (pg. 95), e o
agente, pessoal ou organização que é contrada pelo principal; b) redes de políticas públicas,
que é “uma estrutura de interações, predominantemente informais, entre atores públicos e
privados envolvidos na formulação e implementação de políticas públicas“ (pg. 96); c)
modelos elitistas, afirmando que poucos atores possuem a capacidade de determinar as
políticas públicas; d) modelo pluralista, segundo a qual uma diversidade de atores podem
influenciar o processo de uma política pública; e) triângulos de ferro, ressaltando a relação
entre políticos, grupos de interesse e burocratas.

Por útlimo, o capítulo seis trata dos estilos de políticas públicas, que se constituem em
padrões de procedimentos operacionais para implementar e elaborar políticas públicas. Uma
questão basicamente neste tema é se os atores estão livres para escolher o estilo de política
pública que mais interessa. Se a resposta for sim, então a análise do estilo de implementação
das políticas públicas é relevante para que os atores façam a escolha do melhor método. Se
a resposta for negativa “então a análise se desloca para a tentativa de entender quais são os
determinantes de um estilo de política pública“ (pg. 108).

A importância do estudo dos estilos de políticas pública para o analista está na capacidade
de identificar os principais elementos dos estilos para efetuar estudos de comparação entre
políticas públicas.

REFERÊNCIAS

SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos, 2ª ED.
São Paulo: Cengage Learning, 2014

Especialista em Ciência Política – IBPEX; Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais –


[1]

UNIFAP. Mestrando no PPG em Estudos de Fronteira – UNIFAP.

Enviado: março, 2018

Aprovado: Dezembro, 2018

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