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Artigo Bibliográfico

Políticas Públicas
Marcos Antonio Lemos Fabre

“A única coisa permanente é a mudança”


(Heráclito de Éfeso)

RUA, Maria das Graças. Políticas públicas. Florianópolis :


Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]:
CAPES: UAB, 2009. 130p. :il.

A pluralidade do título não é mero acaso. Representa a complexa rede de intenções


e/ou ações que se apresenta na condução da sociedade. Políticas Públicas é um
dos alicerces da área de concentração de Organização Pública do Programa de
Pós-graduação lato sensu em Administração Pública, focando o planejamento
realizado pelo Estado e o os resultados das ações dos diversos atores na defesa
dos interesses e valores. As Políticas Públicas e os Ciclos das Políticas Públicas são
dois grandes temas tratados de forma objetiva e clara que robustecem os
conhecimentos de forma significativa.

Algumas definições de conceitos geram uma linguagem comum, onde podemos


destacar os de Sociedade, Política Pública e Decisão Política:

Sociedade é um conjunto de indivíduos, dotados de interesses e recursos de poder


diferenciados, que interagem continuamente a fim de satisfazer as suas
necessidades (2009, p. 14).

Política Pública geralmente envolve mais do que uma decisão e requer diversas
ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas (2009.
p. 19).

Decisão Política corresponde a uma escolha dentre um conjunto de possíveis


alternativas, conforme a hierarquia das preferências dos atores envolvidos,
expressando – em maior ou menor grau – certa adequação entre os fins pretendidos
e os meios disponíveis (2009, p. 14).

As Políticas Públicas, como o nome sugere, são públicas. Está afirmativa é reforça
por Rua (2009, p. 20) [Por mais óbvio que possa parecer, as políticas públicas, são
“públicas”. Embora as políticas públicas possam incidir sobre a esfera privada
(família, mercado, religião), elas não são privadas. Mesmo que as entidades
privadas participem de sua formulação ou compartilhem sua implementação, a
possibilidade de o fazerem está amparada em decisões políticas, ou seja, decisões
tomadas por agentes governamentais, com base no poder imperativo do estado.]
Neste contexto devemos alerta que políticas públicas e atividades coletivas são
coisas distintas, Veja as diferenças:

Comparativo Atividade coletiva Políticas Públicas

Formulador Entidades fechadas Autoridade do poder


(clubes, associações, público
condomínios

Abrangência Limitado aos sócios, Toda a sociedade


filiados, participantes, etc

Regulamentação Interna Toda a sociedade

O quadro acima demonstra que as Atividades coletivas atingem um numero limitado


ou grupo de pessoas e são em geral promovidas por entidades fechadas (clubes,
condomínios, associações, sindicatos, etc), ou de alcance limitado e regulamentação
interna. Já as Políticas Públicas são decisões e ações da autoridade do poder
público de caráter imperativo, não importando o tamanho do grupo, de alcance
social e regulamentação geral.

Analisar Políticas Públicas de forma criteriosa e técnica é um dos primeiros passos


para maior eficiência e principalmente eficácia das políticas públicas. Desde o:
levantamento de informações, análise de problemas e resolução de problemas,
planejamento, formas de execução, coordenação e controle; as ações devem ser
pensadas.

Uma definição da Análise de Política considerada é a de Wildavsky (1979, p.17) [...]


o papel da Análise de Política é encontrar problemas onde soluções podem ser
tentadas, ou seja, “o analista deve ser capaz de redefinir problemas de uma forma
que torne possível alguma melhoria”. Portanto, a Análise de Política esta
preocupada tanto com o planejamento como com a política. É uma empreitada
multidisciplinar que visa interpretar as causas e conseqüências da ação do governo.

A preocupação com o estudo das Políticas Públicas é relativamente recente. Ham e


Hill (1993) apontam a década de 60 como o início da Análise de Política com duas
vertentes:
• As dificuldades por que passavam os formuladores de políticas frente à
complexidade cada vez maior dos problemas com que se deparavam fato que
os levou paulatinamente a buscar ajuda para a construção de alternativas e
propostas para soluções; e
• A atenção de pesquisadores acadêmicos em ciências sociais (ciência política,
economia, sociologia), que progressivamente passaram a trabalhar com
questões relacionadas às políticas públicas e procuraram construir e aplicar
conhecimentos à resolução de problemas concretos no setor público.
Ham e Hill (1993) classificaram os estudos de Análise Política em duas grandes
categorias:

• A análise que tem como objetivo produzir conhecimentos sobre o processo de


elaboração política (formulação, implementação e avaliação) em si, revelando
assim uma orientação predominantemente descritiva. Esta categoria
corresponde, na literatura anglo-saxã ao que se conhece como analysis of
policy, referindo-se à atividade acadêmica visando, basicamente ao melhor
entendimento do processo político; e
• A análise destinada a auxiliar os formuladores de política, agregando
conhecimento ao processo de elaboração de políticas, envolvendo
diretamente na tomada de decisões, assumindo um caráter prescritivo ou
propositivo. Corresponde, na literatura anglo-saxã, ao que se conhece como
analysis for policy, referindo-se a atividade aplicada voltada à solução de
problemas sociais.

Existem várias metodologias para formulação de Políticas Públicas, destacando-se:

• O método racional compreensivo, que se relaciona com a macropolítica e


suas grandes análises do cenário político-institucional; e
• O método incrementalista, que se liga à micropolítica e à busca de soluções
para problemas mais imediatos e prementes.

Algumas considerações sobre os métodos foram feitas por Lindblom (1981),


sobressaindo-se:

• Ao método racional-compreensivo – para ele este modelo parte da


perspectiva de que a intervenção de políticas públicas deve basear-se numa
ampla análise de problemas sociais que permita estabelecer metas visando
atender às preferências mais relevantes da sociedade. Assim sendo, a
tomada de decisões políticas e sua implementação visariam a alcançar os
objetivos previamente estabelecidos.
• Ao método incremental – Mais adequado na medida em que as demandas da
sociedade exigem decisões rápidas.

Lindblom (1981) sugere que se trabalhe com a análise de políticas especificas,


buscando soluções setoriais dos problemas. Em resumo, ele propõe a redução e a
limitação do foco das análises, de maneira a identificar problemas específicos e
pontuais.

Segundo Rua (2009, p.36), as políticas públicas ocorrem em um ambiente tenso e


de alta densidade política, marcado por relações de poder, extremamente
problemáticas, entre atores do estado (governamentais) e da sociedade (não-
governamentais), entre agências intersetoriais, entre os poderes do estado, entre o
nível nacional, estadual e municipal, entre comunidade política e burocracia.

Sugere que uma forma de lidar com essa complexidade, sem descartar a dinâmica
sistêmica, é associar o modelo sistêmico com o modelo de ciclo de política, que
aborda as políticas públicas mediante a sua divisão em etapas sequenciais de
acordo com a figura elaborada pela autora.
Formulação de Agenda

Ajuste
Definição do problema

Avaliação Análise do |problema

Ciclo de Políticas Públicas

Monitoramento Formação de alternativas

Implementação Tomada de decisão:


adoção de política

Ciclo de Políticas Públicas


Elaborada por Maria das Graças Rua

Políticas Públicas, de Maria das Graças Rua, inserido no PNAP – Programa


Nacional de Formação em Administração Pública e na Pós-graduação em Gestão
Pública Municipal garante o necessário embasamento dos participantes,
solidificando os conhecimentos para uma melhor análise, formulação e avaliação
das políticas públicas.

Referências bibliográficas

HAM, Christopher; HILL, Michael. The Policy process in the modern capitalist state.
Londres: Harvest Wheatsheaf, 1993.

LINDBLOM, Charles Edward. O Processo de decisão política. Brasília; UnB, 1981.

RUA, Maria das Graças. Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos. In: Rua,
Maria das Graças; VALADÃO, Maria IZABEL. O Estudo da Política: Temas
selecionados. Brasília: Paralelo 15, 1998.

WILDAVSKY, Aaron. Speaking Truth to Power: The Art and Craft of Policy Analysis.
Boston: Little Brown, 1979.

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