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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

RESUMO EXPANDIDO: POLÍTICAS PÚBLICAS

CAMAÇARI-BA

2022
ÉRIC SANTANA SANTOS

RESUMO EXPANDIDO SOBRE O CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Resumo expandido com o tema Políticas Públicas


solicitado pelo professor da Universidade do Estado da
Bahia Campus XIX, José Claudio referente à matéria de
Políticas Públicas do Bem da Pessoa humana.

CAMAÇARI-BA

2022
O CONCEITO POLÍTICAS PÚBLICAS SOB A OPTÍCA DA DOUTRINA
MODERNA NORTE-AMERICANA NO SÉCULO XX

Nas últimas décadas, assistiu-se a um ressurgimento de grande relevância,


advindo do campo do conhecimento, este conhecido como política pública, bem
como das instituições, normas e padrões que regem a decisão, a formulação, a
instauração e sua avaliação. Inúmeras condições contribuíram para a visão mais
ampla desse conhecimento. A primeira é a adoção de ações restritivas de
gastos, que têm dominado a agenda da maioria dos países, especialmente das
nações em desenvolvimento. Com base nessas políticas, tem ocorrido o
desenho e a implementação de políticas públicas socioecoômicas. O segundo
ponto, foram as novas concepções do papel das instituições governamentais que
sucederam as políticas keynesianas do pós-guerra por ações restritivas de
gastos. Assim, perspectiva das políticas públicas, o ajuste orçamentário envolve
a adoção de um orçamento que equilibre receitas, despesas, bem como os
limites à intervenção do Estado na economia e nas ações sociais. Esse programa
começou a dominar corações e mentes na década de 1980, especialmente em
países com trajetórias inflacionárias extensas e repetitivas, como os da América
Latina. Um terceiro ponto, este mais relacionado as nações em desenvolvimento
com democracias recentes ou recentemente democratizadas, é que na maioria
desses países, especialmente na América Latina, ainda não surgiram as grandes
coalizões políticas hábeis de equacionar o mínimo, no que tange a questão de
como “desenhar” estas ações, de modo a serem capazes de propiciar o
desenvolvimento econômico, além de promover a inclusão social de grande
parcela do seu povo. A resposta a esta problemática não é fácil, nem clara, nem
unânime. Eles dependem de muitos fatores externos e internos. No entanto, o
famigerado desenho das políticas públicas e as regras que regem as decisões,
seu desenvolvimento e implementação também afetam no resultado das
contradições intrínsecas às decisões de políticas públicas.

O estudo das políticas públicas se aprofundou no universo acadêmico já


recentemente, com a chegada Segunda Revolução Industrial, surgiu para o
homem moderno repensar os modos de produção de desenvolvimento social,
uma vez que o modelo de aplicação do puro liberalismo já não se mostrava apto
a solucionar algumas problemáticas que mesmo nos países mais inspirados
pelas teorias de Locke, dependiam agora, da intervenção do Estado para surtir
os devidos efeitos, é o caso do Estados Unidos da América, que como podemos
observar, foi palco dos principais pensadores do temo no século XX, sendo
estes: H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton.

O norte-americano Harold Laswell (1936) apresentou a expressão policy


analysis (análise de política pública), por volta dos anos 30, no contexto do pós-
Primeira Guerra Mundial, com o feitio de conciliar a produção conhecimento
técnico científico com as obras empírica das instituições governamentais, e
também de modo a estabelecer a comunicação entre cientistas sociais, grupos
de interesse e o Estado.

Hebert Alexander Simon (1957) abarcou em suas obras a definição de


compreensão limitada dos decisores públicos (policy makers), aduzindo,
contudo, que a restrição da racionalidade poderia ser mitigada pelo
conhecimento puramente racionalista. Na visão de Simon, a racionalidade dos
decisores públicos é inerentemente limitada por questões tais como informações
incompletas ou eivadas de erros, assim como o longo prazo para a tomada de
decisões, o seu auto interesse e entre outros. Contudo, a racionalidade, segundo
Alexander Simon, pode ser expandida até um patamar minimamente satisfatório
através da implementação de estruturas (aglomerado de normas e incentivos)
que enquadre a conduta dos indivíduos atuantes, de como a modelar esses
incentivos, rumo aos objetivos desejados, minimizando, a busca de maximização
de seus próprios interesses.

Charles Edward Lindblom (1959; 1979) indagou a ênfase no racionalismo


proposto por Laswell e Simon e em contraponto sugeriu a inclusão de outras
variantes ao desenvolvimento e à análise de políticas públicas, por exemplo as
relações de poder/dominação e a integração entre as distintas fases do
procedimento decisório, o qual não teria um fim, um princípio. Deste ponto,
percebe-se o motivo destas ações públicas necessitarem incorporar elementos
adversos à sua criação e ao seu estudo, além dos pontos relativos a
racionalidade sem si, tais como a função do sufrágio universal, das burocracias,
dos partidos políticos e das agremiações de interesse.

O canadense, David Easton FRSC (1965) agregou significativamente para a


área ao definir a política pública como uma organização sistemática, como um
todo, ou seja, como uma relação entre criação, apuramento e o ambiente. De
acordo com Easton, políticas públicas ganham inputs dos partidos, da mídia e
das agremiações de interesse, e estes, influenciam diretamente nos seus
resultados e posterior efeitos.

Assim, a política pública pode ser resumida como o domínio do estudo que busca
tanto "colocar o governo para agir" e/ou estudar essa ação, quanto se
necessário, sugerir soluções, mudança de orientação e entre outros. A criação e
implementação das políticas públicas é o processo em que os governos
democráticos traduzem seus objetivos e programas eleitorais em programas e
planos surtirão em mudanças significativos no bem-estar do seu povo.

Se aceitarmos que a política pública se demonstra no espectro holístico, ou seja,


um campo que reúne diferentes unidades dentro de organizações inteiras, então
esta conclusão terá duas implicações. A priori é que, como retromencionado,
essa área se torna o território de muitas disciplinas, teorias e modelos analíticos
diferentes. Assim, apesar de seus próprios modelos, teorias e métodos, as
políticas públicas, embora oficialmente um ramo da ciência política, não se
limitam a ela, sendo também material de estudo e de análise de campos do
conhecimento, incluindo a econometria, que tem sido demasiadamente influente
em uma das subáreas das políticas públicas, o campo da avaliação, também é
influenciado por técnicas quantitativas. Em segundo ponto, é que o caráter
holístico deste campo de estudo não necessariamente diz que ela padeça de
lógica em sua teoria e metodologia, mas sim que esta comporta várias
perspectivas. A posteriori, políticas públicas, após desenhadas e formuladas,
desdobram se em planos, programas, projetos, bases de dados ou sistema de
informação e pesquisas, que aplicadas, providenciarão um maior bem estar
social.
Por conseguinte, quando estas políticas públicas postas em ação, e de fato são
implementadas, ficando daí submetidas a sistemas de acompanhamento e
avaliação, ora, das diversas definições e modelos sobre políticas públicas,
podemos extrair e sintetizar seus elementos principais:

a) A política pública distingue entre o que o governo pretende fazer e o que


realmente faz.

b) As políticas públicas envolvem diferentes atores e níveis de tomadas de


decisão, embora sejam realizadas pelos governos, estas não se limitem
necessariamente aos atores formais, pois os atores não governamentais já que
os informais também são muito importantes.

c) A política pública é abrangente e não limitada por leis e regulamentos.

d) Política pública é ação efetiva e proposital, com claros objetivos a serem


alcançados, em busca de um patamar de wellfare state (bem-estar social).

e) A política pública, embora tenha efeitos de curto prazo, seu objeto primordial
sempre será aquele que se amostram a longo prazo, pois são estas que trazem
alterações reais ao estado real das coisas.

f) A política pública preocupa-se com os processos de acompanhamento após a


sua decisão e proposta, ou seja, inclui também o conhecimento, a
implementação e avaliação.

AS POLÍTICAS PÚBLICAS EM CONSONÂNCIA COM DIGNIDADE DA


PESSOA HUMANA

Aduz Noberto Bobbio que a multiplicação dos direitos humanos se deu por três
motivos: a) o aumento de bens jurídicos tutelados, com a intervenção direta do
Estado para garantir a transição de direitos de liberdade para os políticos e
sociais; b) a ampliação da titularidade de certos direitos, que passam de proteger
apenas ao sujeito singular para proteger também grupos de indivíduos, por
exemplo, os direitos étnicos, e; c) a especificação de categorias de tratamento
do ser humano, quando deixa-se de olhar apenas o homem genérico para a
observação de critérios de singularização, considerando o contexto pessoal do
sujeito de direitos. (BOBBIO, 2004, p. 63)

Esta multiplicação aconteceu, ainda conforme Bobbio, prioritariamente em


relação aos direitos sociais. Este novo patamar de proteção reconhece novos
sujeitos de direitos e esse aumento de sujeitos dá nascimento ao problema do
concreto reconhecimento de direitos, reclamando do Estado uma nova postura
de intervir nos aspectos privativos de seus cidadãos, com o objetivo de proteger
e garantir os novos direitos. (BOBBIO, 2004, p. 64-65)

Por conseguinte, entende-se que esta expansão dos direitos societários está
inerentemente ligada às alterações estruturais sociedade, como um todo e
também ligado às inovações tecnológicas e ao progresso econômico, que
fomentarão surgimento de novas demandas por reconhecimento de direitos. Por
diante, percebe-se que os direitos dos cidadãos estão defasados, em destaque
para os sociais, em relação as leis e aplicação desta. Havendo o dever jurídico
do estado, e as forças políticas empenhar-se, diligentemente, na resolução desta
problemática.

Estes direitos da sociedade necessitam, para a sua concretização, que o


governo proporcione meios para o seu fruto e goza. Urge a necessidade de uma
intervenção estatal para que haja uma maior ampliação e acessibilidade ao
usufruto de destes direitos (destaca-se que estes direitos ascendem como meio
de facilitar o gozo dos direitos e as liberdades individuais). Os Direitos Sociais
atuam, de certo modo, a função de ferramentas para o gozo pleno dos direitos
de primeira geração, tornando-se, assim, direitos-meio que visam criar
condições para que todos os cidadãos gozem de suas liberdades individuais em
total plenitude. Assim, nos dizeres de Bucci: “os direitos sociais, ditos de segunda
geração, que mais precisamente englobam os direitos econômicos, sociais e
culturais, foram formulados para garantir, em sua plenitude, o gozo dos direitos
de primeira geração.” (BUCCI, 2006, p. 3)
Todavia para assegurar, conforme retro mencionado, conclui-se que o usufruto
dos direitos sociais, necessita indissociavelmente da intervenção estatal por
meio do que intitulamos de “políticas públicas”, que não deve ser considerada
como uma ação do governo de “categoria jurídica nova”. Para uma compreensão
mais abrangente, demonstra-se melhor compreender a política pública, não
como nova categoria jurídica, mas como uma ação administrativa, ligada à
discricionariedade e, logo, o controle judicial de tais políticas incidiria sobre leis
e fatos comumente conhecidos.

Por hora, pode-se compreender que a dignidade da pessoa humana deve figurar
entre os princípios das políticas públicas e que estas devem sempre estar em
busca da garantia e proteção constitucional, estando o governo, em sua ação de
prestação de justiça, ligado à adoção de ações objetivando a defesa e promoção
desta mesma dignidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou fomentar para a discussão da disciplina de Direto e


Políticas Públicas, uma análise das literaturas de mais diversos autores, sobre
um âmbito do estudo que busca agregar quatro elementos essenciais: a política
pública em si, a política (politics), a sociedade política (polity) e as instituições
estatais, local onde as políticas públicas são debatidas, desenhadas e
instauradas. Deste ponto, conclui-se que o foco da política pública está
direcionado ao mapeamento do tipo de problema que a política pública procura
resolver, no alcance desta problemática ao sistema político (politics), e a
sociedade política (polity), e nas instituições com suas normas que modelarão a
tomada de decisões e a instauração da(s) política(s) pública(s).

Será então dentro desta ação prestacional, que o governo irá prover as
condições para uma existência digna, além de manter respeitada a dignidade da
pessoa humana, princípio constitucional basilar e condição intrínseca a qualquer
cidadão.

A compreensão dos conceitos e das teorias acima resumidos podem propiciar


ao leitor uma compreensão mais ampla da problemática para a qual a política
pública foi criada e pensada, bem como seus eventuais conflitos, o projeto
seguido e o papel dos agentes, dos grupos de interesse, e por fim, das
instituições que estão envolvidos na tomada decisões e que serão afetados pela
política pública também.

PALAVRAS-CHAVE: Resumo expandido, Políticas Públicas, Dignidade da Pessoa


Humana.
REFERÊNCIAS

BAUGARTNER, Frank e JONES, Bryan. Agendas and Instability in American


Politics. Chicago: University of Chicago Press. 1993.

BUENO, Luciano. “A Aplicação da Advocacy Coalition Framework (ACF) na


Análise da Evolução da Política Pública de Controle de Armas no Brasil”.
Trabalho apresentado no GT Políticas Públicas do XXIX Encontro Anual da
ANPOCS, 25- 29 de outubro, Caxambu: MG. 2005.

CAPELLA, Cláudia Niedhardt. “Formação da Agenda Governamental:


Perspectivas Teóricas”. Trabalho apresentado no GT Políticas Públicas do XXIX
Encontro Anual da ANPOCS, 25-29 de outubro, Caxambu: MG. 2005

CAIDEN, N. e WILDAVISKY, A. Planning and Budgeting in Developing


Countries. New York: John Wiley. 1980.

RINDADE, José Damião de Lima. Anotações sobre a história social dos direitos
Humanos. Disponível em: Acesso em: 22 mar. 2011.

RAMOS, Alan Robson Alexandrino. Do conceito de dignidade da pessoa


humana às políticas públicas aos indígenas. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 19, n. 4134, 26 out. 2014. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/31289. Acesso em: 20 jun. 2022.

SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, n. 16, p.


20–45, dez. 2006.

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