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Índice
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CAPÍTULO 1. POLÍTICA SOCIAL NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
1.1. O que são Políticas Públicas
1.2. Políticas Públicas e o papel do Estado
1.3. Um modelo de descrição sistémica do processo político
1.4. As finalidades da Política Social
1.5. Objectivos e domínios de actuação da Política Social
1.6. Aspectos organizativos da Política Social
1.7. Diversidade de concepções de Política Social
1.8. O estudo da Política Social: algumas opções teóricas
1.9. Análise da Política Social
1.10. Aspectos metodológicos de análise da Política Social
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1.1, constitui uma forma de representação desse processo que nos vai
servir essa finalidade.
Uma política pública traduz-se numa actuação que, a partir de alguma
necessidade diagnosticada, se utilizam melosa que se pode ter acesso,
contando para esse efeito com o conjunto dos apoios necessários para essa
actuação. A esse conjunto de necessidades, meios e apoios, vamos
designar por inputs para essa actuação. Por exemplo, conceber uma política
de habitação significa actuar sobre o mercado de habitação promovendo a
produção de casas para venda e arrendamento, a partir de uma
necessidade diagnosticada e traduzida numa estimativa credível de
carências habitacionais. Para isso pode conceber-se um plano de
construção e reabilitação de casas, envolvendo o apoio financeiro do Estado
a promotores de habitação em zonas urbanas onde estas carências tenham
sido identificadas e às quais se tenha dado prioridade mais elevada de
actuação e onde existem terrenos para construir e casas para reabilitar.
Foram portando identificados meios (financeiros, terrenos, casas, etc.) com
os quais se poderá actuar para realizar esse plano. Mas para que tal plano
se venha a realizar, o governo necessita de vários apoios: das autarquias,
que colaboram nesse plano, realizando projectos de construção e de
reabilitação, dos donos de terrenos que os disponibilizarão para essa
construção, dos proprietários das casas que estarão interessados em
participar no plano de reabilitação. São estes os Inputs desta política.
Mas essa actuação política vai consistir em actuar sobre a realidade,
produzindo alguma alteração nessa realidade. No caso do exemplo em que
temos vindo a trabalhar, essa alteração consiste, em termos imediatos, em
disponibilizar, pela produção de novas casas e pela reabilitação das casas
antigas, mais casas para realojar pessoas que tinham carências de
habitação. Esse constitui o resultado, ou output, dessa política.
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direitos sociais têm uma natureza distinta dos direitos civis e políticos
(FITOUSSI, ROSANVALLON, 1996). Na verdade, enquanto estes últimos
têm a natureza de direitos-liberdade, os direitos sociais têm a natureza de
direitos-crédito, isto é, geram obrigações sociais em termos de
(re)afectação de recursos económicos tendo em vista a sua realização.
Neste sentido, a Política Social, visando a realização de direitos sociais,
obriga a sociedade a um esforço colectivo (cuja repartição, entre os seus
membros, é também ela própria uma decisão colectiva) para a sua
realização.
Um terceiro aspecto, também ele relacionado com a natureza do bem-estar
(consagrado em direitos) que a Política Social pretende garantir, é o facto
de os factores que podem originar a não satisfação de necessidades (no
sentido de necessidades sociais, isto é, de realização desses direitos) terem
natureza social, porque têm que ver com o funcionamento da sociedade:
factores demográficos, o ritmo de crescimento da economia, as alterações
do sistema de emprego, etc.. Sendo de natureza social (no sentido da
origem na sociedade) os factores que estão na causa da não realização dos
direitos, cabe também à sociedade a responsabilidade de encontrar formas
de garantir a realização dos direitos sociais, envolvendo utilização de
recursos, o que implica alguma redistribuição de recursos entre os
membros da sociedade para realizar esse objectivo.
Finalmente, outra dimensão do bem-estar relevante para se compreender a
substância da Política Social é o facto de as avaliações do bem-estar
constituírem percepções colectivas que a sociedade faz desse bem-estar,
em termos de normas sociais (consagrada em direitos) que a sociedade
assume e aceita, social e politicamente, realizar.
Entende-se então a Política Social como a forma de actuação das políticas
públicas com a finalidade de promover e garantir o bem-estar social,
através da consagração de direitos sociais e das condições necessárias à
sua realização na sociedade. É nestes termos que iremos tratar, ao longo
desta obra, o conceito de Política Social, analisando várias áreas e formas
de actuação, os seus fundamentos (económicos e normativos), os seus
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redistribuição
A natureza da Política Social, dirigida à realização de direitos sociais
enquanto direitos-crédito (no sentido que demos acima) apela à natureza
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Por outro lado, a forma como esta definição está formulada chama a
atenção para o facto de a Política Social não se identificar apenas com a
actuação do Estado na produção e distribuição do bem-estar, sendo antes o
resultado da actuação de todas as instituições sociais e grupos na
sociedade. A partir dos anos 1970, a expressão "welfare mix" tem vindo
progressivamente a substituir o conceito de "welfare state" para significar
exactamente a existência de pluralismo na provisão do bem-estar: Estado-
Mercado-"Sociedade Civil" (o chamado "triângulo do bem-estar”), cada uma
destas componentes com diferente importância relativa entre diferentes
sociedades, e com diferentes dinâmicas de evolução correspondendo a
formas e graus distintos de “inovação social”. Além disso, permite encarar a
análise da Política Social não exclusivamente em função dos objectivos
explicitados na política do Estado, mas igualmente em termos dos valores
implícitos na sua actuação.
Finalmente, resulta da definição acima a necessidade de encarar a
avaliação da Política Social em termos de grupos sociais, não só em termos
de "quem beneficia" e "quem contribui” para a provisão do bem-estar, mas
igualmente em termos da estratificação social que a política social tende a
consolidar ou a alterar[10].
Vindo bastante na linha do que foi dito atrás, esta opção enquadra-se no
âmbito das preocupações actuais dos estudos que têm sido efectuados
sobre problemas sociais na Europa, e que muito têm contribuído para a
compreensão dos problemas e sua diversidade no espaço europeu, da
natureza das políticas desenvolvidas ao nível dos vários Estados-membros e
os desafios que se colocam à Política Social, e igualmente sobre o papel da
UE, como instância supranacional, na sua capacidade de influenciar as
políticas sociais nacionais. Atendendo à importância de que se têm
recentemente revestido os estudos de natureza transnacional sobre Política
Social ao nível europeu, é nosso entendimento que esta perspectiva deve
estar presente no estudo da Política Social. Por outro lado, nela deve
igualmente estar presente o estado actual do debate sobre a construção de
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problema que pretende resolver (ou prevenir)? Está a originar (ou irá
originar) os resultados pretendidos, no horizonte temporal fixado? Mesmo
que tenha esses resultados esperados, terá efeitos secundários indesejáveis
para outros objectivos de (outra) política, havendo formas alternativas de
os conseguir alcançar sem esses efeitos indesejáveis? Haverá políticas
alternativas que permitam alcançar os mesmos objectivos com custos
financeiros menores? Todas estas questões são formas de fazer avaliação
da política, outra perspectiva de análise da política, frequentemente
realizada. É no âmbito do trabalho de avaliação que se colocam as questões
(de que as anteriores são exemplo) de eficácia (que envolve a comparação
entre os resultados da política e os objectivos e metas pretendidos com
essa política) e de eficiência (que envolve a comparação entre os resultados
alcançados e os meios utilizados para executar essa política).
Há assim diferentes perspectivas de análise de política. Vimos três, que
correspondem a diferentes abordagens, que se destinam a diferentes
finalidades e que fazem apelo a diferentes métodos: descrição,
compreensão e explicação, avaliação. Em qualquer destas perspectivas de
análise, precisamos de dispor de um quadro conceptual e de
enquadramento dos elementos constitutivos da política pública que
permitam identificar os diversos aspectos relevantes dessa análise, em
qualquer as perspectivas indicadas.
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[1] Veja-se, a respeito desta distinção, Alcock, P.; Glennester, H.; Oakley,
A.; Sinfield , A. (eds) (2001). Welfare and Wellbeing. Richard Titrnuss is
contribution to social policy. The Policy Press. Esta obra reune vários textos