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Políticas Públicas

e Sociais
Material Teórico
Políticas públicas: tipos e abordagens

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Andrea Borelli

Revisão Textual:
Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone
Políticas públicas: tipos e abordagens

• Políticas públicas: tipos e abordagens

··Nesta unidade, vamos tratar do tema “Políticas públicas: tipos


e abordagens”. Discutiremos as várias formas pelas quais é
possível analisar os elementos centrais das políticas públicas.

Bom estudo! Lembro que seu tutor estará à sua inteira disposição e que você pode contatá-
lo a qualquer tempo neste ambiente web-class.

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Unidade: Políticas públicas: tipos e abordagens

Contextualização

Leia a notÍcia divulgada pelo governo federal:

O que é o Bolsa Família?


02/09/2013 20:06

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias extremamente
pobres (com renda mensal de até R$ 70 por pessoa) ou pobres (com renda mensal de R$ 70 a R$
140 por pessoa).
Todos os meses, o governo federal deposita uma quantia para as famílias que fazem parte do
programa. O saque é feito com cartão magnético, emitido preferencialmente em nome da mulher. O
valor depositado depende do tamanho da família, da idade dos seus membros e da sua renda. Há
benefícios específicos para famílias com crianças, jovens, gestantes e mães que amamentam.
Compromissos da família
O Bolsa Família ajuda a garantir o direito à alimentação, à saúde e à educação para a parcela mais
vulnerável da população, graças à combinação entre os recursos que as famílias recebem todo mês
e os compromissos assumidos nas áreas de saúde e educação.
Ao entrar no programa, a família assume compromissos, conhecidos como condicionalidades:
crianças de até 7 anos devem ser vacinadas e ter acompanhamento nutricional; gestantes precisam
fazer o pré-natal; e crianças e jovens de 6 a 17 anos devem frequentar a escola.
Se, por um lado, o dinheiro traz alívio imediato à situação de pobreza, por outro lado os compromissos
assumidos pelas famílias ajudam a romper o ciclo de reprodução da pobreza entre as gerações. Isso
significa que as crianças e jovens passam a ter perspectivas melhores que as de seus pais.
http://bolsafamilia10anos.mds.gov.br/node/149

Que tipo de política pública é essa? Como as políticas públicas podem ser classificadas e
entendidas?
Vamos discutir este tema considerando várias tipologias na interpretação das políticas públicas.

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Políticas públicas: tipos e abordagens

A tipologia é um instrumento classificatório que permite organizar os dados para observar as


relações existentes entre as diversas variáveis de um mesmo fenômeno. A tipologia, portanto,
estabelece certo ordenamento considerando uma das variáveis observáveis.
É possível examinar as políticas públicas a partir de diferentes combinações de variáveis e,
por esse motivo, é possível encontrar diversas tipologias de políticas públicas.
Quando se considera a área de atividade governamental, as políticas públicas podem ser
classificadas em:
Políticas
sociais

Políticas Políticas
de Estado
Estado econômicas

Políticas de
infraestrutura

Observando o gráfico, é possível perceber as diversas áreas de atuação do estado: as políticas


sociais, como educação, saúde, assistência social, etc.; as políticas econômicas, como políticas
monetárias, agrícolas, etc.; as políticas de infraestrutura, como as ações voltadas para a energia,
comunicação, transportes, etc.; e, por fim, as políticas de estado, como as que determinam
ações na área de ciências e tecnologia, direitos humanos, etc.
No âmbito das políticas sociais, encontram-se definidos, na literatura, dois tipos principais de
políticas: as políticas compensatórias e as políticas emancipatórias.

Políticas compensatórias Políticas emancipatórias


são políticas implementadas e são políticas destinadas ao
patrocinadas pelo estado com o empoderamento e autono-
objetivo de resgatar ou minimizar mização d e grupos socialmente
as distorções sociais vulneráveis.

Existem outras formas de analisar a questão das políticas públicas e vamos discutir algumas
delas. Com base em Enaldo Celso Texeira1 e considerando também o trabalho de vários
autores, podemos classificar as políticas levando em conta alguns itens principais:

Quanto à natureza Estruturais: buscam interferir em questões estruturais da sociedade, como a


e ao grau de distribuição de renda.
intervenção Conjunturais: buscam resolver uma situação temporária imediata.
Quanto à Universais: para todos os cidadãos.
abrangência dos Segmentais: para um segmento da população caracterizada por um fator comum.
benefícios possíveis. Fragmentadas: destinada a um grupo social dentro de um segmento

1 TEIXEIRA, E. C. O papel das políticas públicas no desenvolvimento e na transformação da realidade. Revista da AATR. Salvador, 2002. p.3

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Ainda considerando o determinado por Enaldo Celso Texeira, deve-se acrescentar, como
critério, o impacto que pode causar ao beneficiado ou ao seu papel nas relações sociais. Nesse
sentido, alguns modelos explicativos foram desenvolvidos para entender como os governos
agem e por quê. Entre eles, destacam-se:

Modelo do Tipo de Política pública


Theodore J. Lowi desenvolveu uma tipologia baseada na ideia de que cada política pública
vai encontrar diferentes formas de apoio e decisão e que o processo de decisão passa por várias
arenas diferentes.
Para Lowi, a política pública pode assumir quatro formatos distintos.
• Políticas distributivas: decisões que, ao privilegiar um grupo, prejudicam o todo.
• Politcas regulatórias: as mais visiveis, envolvendo a burocracia, políticos e grupos de interesse
• Políticas redistributivas: políticas sociais universais
• Políticas constitutivas: lidam com os procedimentos para determinada ação.

As políticas distributivas alocam bens ou serviços a segmentos específicos da sociedade, como


grupos, localidades, regiões etc., mediante recursos que são provenientes de toda a coletividade.
Enquadram-se, neste tipo de política, a construção de hospitais, escolas, obras de infraestrutura
ou a revitalização de uma determinada área da cidade.
As políticas redistributivas são as que atingem um maior número de pessoas e impõem perdas
concretas a um grupo específico, no curto prazo, e garantem ganhos incertos e futuros a outros grupos.
Enquadram-se, neste caso, a reforma agrária ou a política da quebra das patentes de remédios.
As políticas regulatórias estabelecem obrigatoriedades, interdições e as formas como podem
e devem ser realizadas determinadas atividades ou comportamentos. Essas regulamentações
podem variar desde as mais simples até as mais complexas e abrangentes. Enquadram-se, neste
tipo de política, elementos como o código de trânsito ou o código de defesa do consumidor.
Por fim, as políticas constitutivas são as que estabelecem as normas e procedimentos sob os
quais são formuladas e implementadas todas as outras políticas e um bom exemplo delas são as
determinações constitucionais.

O incrementalismo
A visão de que as políticas públicas visam ao crescimento foi desenvolvida nas obras de
Charles Lindblon, Naomi Caiden e Aron Wildavisky.
Esse grupo propõe que as decisões governamentais para um determinado programa ou
órgão não partem do zero, mas de decisões já tomadas anteriormente e, portanto, a ação do
estado é apenas para incrementar o que já existe. Apesar da visão incrementalista ter perdido
parte de seu poder explicativo com as grandes mudanças estruturais sofridas por vários países,
ainda permanece válida a premissa de que as decisões tomadas no passado constrangem e
limitam as atitudes do governo e limitam a capacidade de adotar novas políticas ou de reverter
o caminho tomado em outros casos.
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O Ciclo das políticas públicas.
Esta tipologia vê as políticas públicas como um ciclo deliberativo, formado por vários estágios,
que se apresenta como um processo dinâmico e de aprendizagem. Segundo esta posição, as
políticas públicas têm o seguinte ciclo:

Definição Identificação Avaliação Seleção Implementação


de agenda de alternativas de opções de opções e avaliação

Esta tipologia dá ênfase à formação da agenda, ou seja, procura determinar por que algumas
demandas são atendidas pelos órgãos responsáveis e por que algumas são ignoradas. Nesse prisma,
as respostas podem focar os agentes envolvidos ou o processo de formulação dessas políticas.

O modelo Garbage Can


O modelo Garbage Can foi desenvolvido por Michael Cohen, James March e Johan Olsen
em um trabalho de 1972. Este grupo propõe que a existência de muitos problemas leva os
responsáveis a procurar saídas preestabelecidas sem analisar, adequadamente, as questões
apresentadas. Os grupos constroem preferências por tipos de intervenções que são utilizadas
em qualquer contexto, sem observar as particularidades de cada contexto.

Modelo da Coalizão Política


Este modelo analítico sobre o tema é fruto do trabalho de Pauli Sabatier e Hank Jenkins
Smith, que, a partir da década de 80, começaram a se preocupar com o que consideraram a
pouca capacidade analítica dos modelos existentes de compreender as mudanças dentro da
esfera política.
Eles propõem que as políticas públicas devem ser concebidas como um conjunto de subsistemas
relativamente estáveis que se articulam com elementos externos e que dão parâmetro para a
criação e implementação as ações políticas.
Neste prisma, cada política implementada representa a coalizão de crenças, valores e ideias
sobre um determinado problema em um dado momento histórico.

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Parâmetros relativamente estáveis


1) atributos básicos da área envolvida
Grau de Consciência
2) distribuição de recursos naturais
necessária para
3) valores sociais e culturais fundamentais mudanças estruturais
4) estrutura social
5) estrutura legal básica

Sistemas Externos (Eventos) Impedimentos e recursos


1) mudanças nas condições socioeconômicas apresentados aos atores
dos subsistemas
2) mudanças na opinião pública
3) mudanças no sistema de coalizão de governo
4) decisões políticas e seu impacto sobre outros
sistemas

Sistema politico

Coalizão A Novos problemas Coalizão B


políticos

Crenças e recursos Crenças e recursos

Estrategias de ação Estrategias de ação

Decisões
Governamentais

Regras institucionais
Recursos
Compromissos

Ações concretas
do governo

Impacto das ações

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Modelo das Arenas Sociais
O modelo das arenas sociais considera as políticas públicas como uma iniciativa dos
chamados empreendedores políticos ou de políticas públicas. Isto acontece porque as pessoas
precisam se convencer de que uma questão se tornou um problema e de que é necessária
alguma intervenção.
Segundo este modelo, existem três mecanismos para atrair a atenção dos formadores de
políticas públicas, os policy makers.

Indicadores do
problema

Eventos ou
Feedback repetição de
Policy problemas
makers

Os empreendedores políticos formam comunidades de especialistas que pressionam


e trabalham para que uma questão seja tomada como problema e para que seja alvo de
intervenção. Este método propõe o estudo das ações concretas para investigar a integração entre
as estruturas presentes e as ações, estratégias, restrições, identidades e valores envolvidos nas
tomadas de decisão. As redes formadas pelos empreendedores criam e recriam suas estratégias
de ação, observando os resultados obtidos nas atividades concretas.
A força deste modelo está na sua capacidade de perceber os padrões de relação entre os
indivíduos e os grupos de pressão.

Modelo do Equilíbrio Interrompido.


Este modelo foi apresentado nos trabalhos de Frank Baumgartner e Bryan D. Jones e muitos
dos seus conceitos derivam da interlocução com a computação e com a biologia.
Este modelo apresenta a ideia de que a política tem grandes períodos de estabilidade que
são rompidos quando uma grande crise gera mudanças drásticas nos rumos do estado. Além
disso, as mudanças profundas na forma de analisar um problema ou agir diante dele somente
são possíveis nesses grandes momentos de crise.
Segundo este modelo, portanto, há momentos em que as ações das políticas públicas visam
à manutenção do status quo e outros em que ocorrem grandes mudanças.

Modelos influenciados pelo “novo gerencialismo público”.


As alterações na forma de administrar os estados, com reduções de gastos e ajustes fiscais,
trouxeram novos formatos para as políticas públicas, todos voltados para a busca da eficiência.
A ênfase na eficiência nasceu da ideia de que as políticas públicas devem ser o
resultado de ações racionais do estado e que devem ser baseadas nos resultados obtidos.

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Unidade: Políticas públicas: tipos e abordagens

Portanto, uma boa política pública não deveria resultar de embates entre grupos, e sim
de uma análise racional por parte dos responsáveis, visto que o interesse público não é
representado, nesse contexto, pela soma das necessidades dos diversos grupos da sociedade.
Considerando os modelos apresentados, segundo Celina Souza2, podemos sintetizar algumas
características:

Distinguir entre
as propostas e a
ação do estado

São políticas de Envolvem níveis


longo prazo, que têm Políticas formais e não-formais
efeitos a curto prazo Públicas de decisão

Envolvem São ações


implementação, abrangentes e
execução e avaliação intencionais

2 SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da Literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45.

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Material Complementar

Olá, seguem algumas sugestões para aprofundar seus estudos.

Textos complementares
• CORTES, Soraya Vargas; LIMA, Luciana Leite. A contribuição da sociologia para a
análise de políticas públicas. Lua Nova, São Paulo, n. 87, 2012. Disponível em http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452012000300003&lng=
en&nrm=iso
• FREY, Klaus. Políticas Públicas: um debate conceitual e reflexões referentes
a prática da análise de políticas públicas no Brasil. Revista Planejamento e
Políticas Públicas. Brasilia:IPEA, No 21, 2000.
• SOUZA, Celina. Governos locais e gestão de políticas sociais universais. São
Paulo Perspec., São Paulo , v. 18, n. 2, June 2004 . Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200004&lng=en&nrm=iso

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Unidade: Políticas públicas: tipos e abordagens

Referências

PARSONS, D. W. Public policy: an introduction to the theory and practice of policy


analysis. Cheltenham, UK; Northampton, MA, USA, 1995.

SECCHI, Leonardo. Políticas Públicas: Conceitos, Esquemas de Análise, Casos


Práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da Literatura. Sociologias, Porto Alegre,
ano 8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45

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Anotações

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www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil
Tel: (55 11) 3385-3000

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