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Nº 48/2018
Dezembro de 2018
3. Anexo I:
Informe – Seminário “Para uma política nacional
de Direitos Humanos e Empresas no Brasil: Prevenção,
Responsabilização e Reparação”
Brasília, 28 e 29 de agosto de 2018, Relatoria: Livia Almendary 30
PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
1. Elementos para uma Política nar a atual assimetria normativa, que beneficia
Brasileira de Direitos Humanos as empresas transnacionais em detrimento dos
e Empresas: o acúmulo do GT direitos humanos.
Corporações1
Melisanda Trentin e Raphaela Lopes O tema vem adquirindo cada vez maior pro-
tagonismo nos debates da sociedade civil e
“Los derechos de las empresas transnacionales nos órgãos e organismos de proteção e defesa
se tutelan por un ordenamiento jurídico global dos direitos humanos em âmbito nacional e
basado en reglas de comercio e inversiones cuyas internacional. Se cabe ao Estado o papel de
características son imperativas, coercitivas y observância dos direitos humanos, é necessá-
ejecutivas, mientras sus obligaciones se remi- rio se adaptar aos tempos atuais de globaliza-
ten a ordenamientos nacionales sometidos a la ção do capital financeiro, nos quais entes mais
lógica neoliberal, a un Derecho Internacional poderosos que os estatais figuram no cenário,
de los Derechos Humanos, manifiestamente atuando também como violadores de direitos
frágil y a una Responsabilidad Social Corpo- humanos. Sobretudo no chamado Sul Global,
rativa voluntaria, unilateral y sin exigibili- as corporações transnacionais e as instituições
dad jurídica” (ZUBIZARRETA, 2012: 42) financeiras detêm, por vezes, mais poder que
os próprios estados nacionais. Além disso,
Introdução muitas vezes, as atividades produtivas de em-
presas transcendem a jurisdição de um país,
Corporações e instituições financeiras transna- o que coloca desafios à regulação tradicional-
cionais são, hoje, os principais atores do pro- mente desempenhada pelos Estados. Por isso
cesso de globalização econômica que se inten- mesmo, desenvolver políticas efetivas e capa-
sificou no mundo a partir da década de 70. É zes de responder às demandas das vítimas de
certo que as empresas se submetem ao orde- violações perpetradas por grupos empresariais
namento jurídico dos países em que operam, é o grande desafio deste campo.
entretanto, esse tipo de responsabilização tem
se mostrado insuficiente no contexto de uma O presente texto pretende propor alguns ele-
economia global e que conta com mecanismos mentos para a construção de uma política
precários para a prevenção, responsabilização brasileira, que seja capaz de enfrentar os desa-
e reparação no caso de violações de direitos fios da atuação das empresas (transnacionais
humanos decorrentes da atuação de empresas e outras empresas), levando em consideração
(transnacionais ou não). Isso não se trata de seu potencial de violar direitos humanos. Tais
uma casualidade, mas da expressão da lógica do elementos serão propostos a partir da siste-
capitalismo financeiro atual, que tem as empre- matização dos acúmulos do GT Corporações,
sas como as principais beneficiárias deste siste- partindo do pressuposto da ausência de um
ma. Trata-se da arquitetura da impunidade, sistema de proteção legal, que estabeleça um
conceito cunhado por acadêmicos para desig- esquema preventivo e reparador à altura da
correlação assimétrica de forças que organiza
1. As elaborações constantes deste artigo são, em grande parte, a relação empresas vs. atingidas e atingidos.
fruto da pesquisa “Direitos Humanos e Empresas: o Estado da
Arte do Direito Brasileiro”, elaborada pelo HOMA. A referida
publicação teve papel fundamental no que concerne ao mapea- O GT Corporações
mento de instrumentos e mecanismos jurídicos e sua aplicação,
a partir da análise de diversos casos em todo território nacional.
A pesquisa, conduzida pelo HOMA contou com a participação O GT Corporações é um espaço heterogêneo,
do GT Corporações e das organizações que o compõe. em que há diversidade de posicionamentos,
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
acúmulos e pontos de partida. O que nos une sas sobre os direitos humanos. É um espaço
é a perspectiva crítica ao capital e à captura de intercâmbio de conhecimentos e práticas,
corporativa. assim como de concertação de estratégias de
incidência, com o objetivo de promover o
O GT Corporações2 é uma rede surgida em acesso à justiça dos afetados pela atuação de
2014, no contexto dos debates nacionais so- empresas no Brasil, particularmente quando
bre a crise política e institucional e a relação acarretam violações de direitos humanos.
entre poder público e empresas. O surgimen-
to do Grupo de Trabalho coincide também Antes ainda da criação do GT Corporações,
com a aprovação da resolução 26/9 no Conse- em 2012, durante a Cúpula dos Povos, evento
lho de Direitos Humanos das Nações Unidas, paralelo à Conferência Internacional Rio+20,
que reposicionou o tema do desenvolvimento no Rio de Janeiro, foi lançada a Campanha
de um instrumento vinculante sobre transna- pelo Desmantelamento do Poder Corporati-
cionais e direitos humanos3. O GT congre- vo e pelo Fim da Impunidade5, uma articula-
ga mais de 20 membros, entre organizações ção de mais de 200 organizações da sociedade
não-governamentais, movimentos, sindicatos civil de todo o mundo, e que reúne uma série
e universidades4, atuantes em questões rela- de organizações brasileiras – ou com atuação
cionadas ao impacto da atuação das empre- no Brasil – inseridas no debate sobre violações
de direitos humanos cometidas por empresas.
2. O relato sobre o histórico e atuação do GT Corporações
foi elaborado a partir da pesquisa “Planos Nacionais de Ação A partir dessa articulação, um conjunto de
sobre Empresas e Direitos Humanos na América Latina”. Con-
ferir em: ROLAND, Manoela C., FARIA JR., Luiz Carlos S., organizações da sociedade civil reforçou os
JÚLIO, Kaliandra Casatti, CASTRO, João Luis Lobo Mon- processos de incidência e de acompanhamen-
teiro de. Planos Nacionais de Ação sobre Empresas e Direitos
Humanos na América Latina: Análises sobre Colômbia, Méxi-
to às movimentações da ONU, tanto em re-
co e Chile. In. Cadernos de Pesquisa Homa, vol. 1, n. 4, 2018. lação às atividades do Grupo de Trabalho da
3. A Resolução 26/9 foi aprovada com os votos dos seguintes ONU sobre Direitos Humanos e Empresas
países: A favor: Argélia, Benin, Burkina Faso, China, Congo,
Costa do Marfim, Cuba, Etiópia, Índia, Indonésia, Cazaquis-
Transnacionais e Outros Negócios6, instituí-
tão, Quênia, Marrocos, Namíbia, Paquistão, Filipinas, Rússia, do para fomentar a implementação dos Prin-
África do Sul, Venezuela e Vietnã; Contra: Áustria, República cípios Orientadores da ONU, elaborados por
Checa, Estônia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Japão, Mon-
tenegro, Coréia do Sul, Romênia, Macedônia, Reino Unido e John Ruggie e aprovados em 2011, quanto
Estados Unidos; Abstenções: Argentina, Botswana, Brasil, Chi- em relação às demandas por um instrumento
le, Costa Rica, Gabão, Kuwait, Maldivas, México, Peru, Arábia
Saudita, Serra Leoa e Emirados Árabes Unidos.
internacional vinculante para regular a ativi-
4. Os integrantes do GT Corporações são: Amigos da Terra
dade das empresas em relação às violações de
Brasil; Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids - ABIA; Direitos Humanos.
Conectas Direitos Humanos; Confederação de Trabalhadores
da Agricultura Familiar - Contraf; Fórum da Amazônia Orien-
tal – FAOR; FASE; HOMA/UFJF; IBASE; INESC; Interna- Em 2014, na histórica votação da Resolução
tional Accountability Project -IAP; Instituto Equit; Instituto 26/9 no Conselho de Direitos Humanos da
Observatório Social - IOS; Instituto Políticas Alternativas para
o Cone Sul - PACs; Internacional de Serviços Públicos - ISP
Brasil; Justiça Global; Movimento de Atingidos por Barragens 5. Site da Campanha para o Desmantelamento do Poder das
- MAB; Movimento pela Soberania Popular na Mineração - Corporações e pelo Fim da Impunidade, disponível em: <ht-
MAM; Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco tps://www.stopcorporateimpunity.org/list-of-signatories/>.
Babaçu – MIQCB; Serviço Interfranciscano de Justiça Paz e Acesso em: 01 jul. 2018.
Ecologia – SINFRAJUPE; Rede Brasileira pela Integração dos 6. Para informações do Grupo de Trabalho, acessar: <https://
Povos - REBRIP; Repórter Brasil; Terra de Direitos; Articula- www.ohchr.org/en/Issues/Business/Pages/WGHRandtransna-
ção Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale; e Vigên- tionalcorporationsandotherbusiness.aspx>. Acesso em: 01 jul.
cia, sob a liderança da FES. 2018.
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
ONU, o Brasil se absteve, justificando ausên- ONU ao Brasil, que esteve presente em
cia de posicionamento sobre a questão. Dessa visita a Mariana - MG, após o rompi-
forma, começou a se articular um grupo de mento da barragem de rejeitos de Fun-
organizações da sociedade civil no Brasil, que dão, Mariana– MG, a Altamira – PA,
posteriormente se consolidou como GT Cor- onde está localizada a hidrelétrica de
porações. De lá para cá, este grupo: Belo Monte, a Brasília, São Paulo e Rio
de Janeiro;
i. Incidiu sobre o governo brasileiro a res-
peito de seu posicionamento nas esferas ix. Debateu e aportou o Homa na constru-
internacionais, especialmente sobre a ção da pesquisa “Direitos Humanos e
implementação dos Princípios Orienta- Empresas: o Estado da Arte do Direito
dores e sobre a negociação de um tratado Brasileiro”, que consolidou um levanta-
vinculante; mento do quadro normativo e institu-
cional no Brasil em matéria de direitos
ii. Acompanhou as movimentações na humanos e empresas;
ONU dos respectivos grupos que tratam
do tema de direitos humanos e empresas x. Aportou na construção do Grupo de
em diferentes perspectivas; Trabalho sobre Empresas e Direitos Hu-
manos da Procuradoria Federal dos Di-
iii. Participou do Fórum da ONU sobre reitos do Cidadão – PFDC / Ministério
Empresas e Direitos Humanos, no qual Público Federal – MPF;
se discute a implementação dos Princí-
pios Orientadores; xi. Organizou, junto com a PFDC, a 1ª Au-
diência Pública sobre Empresas e Direitos
iv. Reuniu-se sistematicamente com repre-
Humanos em 2017, em Vitória, Espírito
sentantes da Secretaria de Direitos Hu-
Santo. O principal objetivo da audiên-
manos, do Ministério das Relações Exte-
cia pública foi efetivar uma instância de
riores e do Ministério da Fazenda;
diálogo e consulta para conhecer infor-
v. Tomou parte das negociações do tratado mações e experiências como subsídio da
vinculante na ONU, em Genebra; atuação do Estado no processo de elabo-
ração de uma política brasileira de direi-
vi. Realizou importantes debates e ofi- tos humanos e empresas. Participaram da
cinas de formação para difundir o tema audiência organizações da sociedade civil,
direitos humanos e empresas; movimentos sociais, comunidades atin-
gidas pela atividade empresarial, sindica-
vii. Dialogou com a Secretaria de Direitos Hu- tos, órgãos governamentais, Defensorias
manos e com a Fundação Getúlio Vargas/ Públicas, Ministério Público de diversos
SP sobre a elaboração de um Plano Na- estados, consultorias empresariais em sus-
cional de Ação sobre Empresas e Direitos tentabilidade e organizações acadêmicas.
Humanos no Brasil, sob a perspectiva de No entanto, não houve o comparecimen-
enfatizar suas limitações e insuficiências; to das empresas.
viii. Pautou a visita do Grupo de Trabalho Esse longo processo de articulação e incidên-
sobre Empresas e Direitos Humanos da cia por parte do GT Corporações, nas esfe-
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ras nacional e internacional, proporcionou a tado, sobre a existência de uma assimetria ju-
consolidação de um diálogo importante para rídica estrutural e de uma correlação de forças
a construção de uma política brasileira de políticas e econômicas desigual entre empresas
direitos humanos e empresas com os atores e populações atingidas por sua atuação. Deste
públicos, de maneira democrática e participa- modo, para garantia dos direitos previstos na
tiva, tendo como base o marco normativo de Constituição Federal de 1988, sobretudo os
direitos humanos, além dos Princípios Orien- direitos humanos econômicos, sociais, cultu-
tadores, em complementaridade à negociação rais e ambientais, DHESCAs, faz-se necessário
de um tratado internacional sobre o tema, avançar em políticas públicas.
que fortaleceria o marco nacional e forneceria
sustentação internacional para a implementa- Algumas iniciativas já foram pensadas e algu-
ção de políticas de proteção de direitos e de mas colocadas em prática para preencher essa
efetiva responsabilização de empresas. lacuna:
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Em seu Eixo 2 - Desenvolvimento e Direitos O Pacto Global10 foi uma iniciativa voluntária
Humanos9, o PNDH 3 traz temas impor- lançada em 2000, pela ONU, para estimular
tantes no debate sobre violações de direitos empresas a adotarem políticas de responsabi-
provocados por empresas: efetivação de um lidade social corporativa e sustentabilidade.
modelo de desenvolvimento sustentável, Essas políticas estão resumidas em dez prin-
com inclusão social e econômica, ambiental- cípios11.
mente equilibrado e tecnologicamente res-
ponsável, cultural e regionalmente diverso, As Diretrizes da OCDE para Empresas Mul-
participativo e não discriminatório; valoriza- tinacionais, a seu turno, são recomendações
ção da pessoa humana como sujeito central dirigidas por governos a empresas, que ope-
do processo de desenvolvimento; promover e ram em um ou mais países, que aderiram a es-
proteger os direitos ambientais como Direi- sas normas. As Diretrizes são um código mul-
tos Humanos, incluindo as gerações futuras tilateralmente aceito e abrangente de conduta
como sujeitos de direitos. Apesar de pouco empresarial responsável, que os governos se
preciso e ainda distante de corresponder à comprometeram a promover.
necessidade de responsabilização de empre-
sas, ao incorporar o tema do desenvolvimen- Uma importante diferença entre o Pacto Glo-
to e direitos humanos como um de seus sete bal e as Diretrizes da OCDE é que há a me-
eixos, o PNDH 3 já posiciona os impactos diação do Estado nesta última; isto é, a adesão
decorrentes da atuação empresarial como às Diretrizes resulta de um compromisso assu-
uma questão de direitos humanos, podendo mido pelo próprio Estado perante a OCDE,
gerar consequências, uma vez que os direitos ao passo que o Pacto Global da ONU é uma
humanos devem receber ampla proteção dos iniciativa à qual as empresas podem optar por
tribunais, da legislação e da sociedade. Tam- aderir, sem a intermediação dos Estados. Por
bém se percebem algumas diretrizes já apon- conta disso, há, nos Estados partes, o Ponto
tadas para se avançar no tema da regulação de Contato Nacional (PCN)12, uma instân-
das empresas. cia que recebe denúncias de descumprimen-
to das Diretrizes por parte das empresas. No
2. Pacto Global da Organização das Brasil, o PCN foi estabelecido após a adesão à
Nações Unidas (ONU) e Diretrizes
para Empresas Transnacionais da 10. Disponível em: <http://pactoglobal.org.br/>. Acesso em:
23 ago. 2018.
Organização para Cooperação e 11. Os dez princípios são: 1) As empresas devem apoiar e res-
Desenvolvimento Econômico (OCDE) peitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacio-
Expressões do paradigma da voluntariedade, nalmente; 2) Assegurar-se de sua não participação em violações
destes direitos; 3) As empresas devem apoiar a liberdade de as-
que se mencionou acima, o Pacto Global da sociação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação
ONU e as Diretrizes para Empresas Transna- coletiva; 4) A eliminação de todas as formas de trabalho forçado
ou compulsório; 5) A abolição efetiva do trabalho infantil; 6)
cionais da OCDE são iniciativas oriundas de Eliminar a discriminação no emprego; 7) As empresas devem
organismos internacionais, que visam encora- apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; 8)
jar as empresas a assumirem alguns compro- Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade
ambiental; 9) Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecno-
missos relacionados ao respeito aos direitos logias ambientalmente amigáveis; 10) As empresas devem com-
humanos em suas operações. bater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão
e propina.
12. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/assuntos/atua-
9. Disponível em: <http://www.pndh3.sdh.gov.br/portal/siste- cao-internacional/ponto-de-contato-nacional#regulamenta-
ma/navegacao-eixo/eixo/2#>. Acesso em: 21 ago. 2018. cao>. Acesso em: 23 ago. 2018.
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ticipação da sociedade civil16, inclusive com buscar meios de implementação dos Princí-
a recente criação do Comitê Empresas e Di- pios Orientadores da ONU referentes às em-
reitos Humanos, que será aprofundado mais presas; propor parâmetros comuns aplicáveis
adiante. Entendemos que esse tipo de inicia- à atuação das empresas privadas, empresas de
tiva desconsidera o acúmulo dos debates até economia mista ou empresas estatais, no que
agora, o diálogo construído entre o estado e a concerne ao respeito aos direitos humanos;
sociedade civil e a sinalização por uma políti- analisar as questões apontadas pela sociedade
ca que possa promover responsabilização efe- civil, pelos centros de pesquisa, pelos órgãos
tiva e romper com a lógica da autorregulação de controle, pelo Ministério Público, pela
de empresas e com participação social. Defensoria Pública e pela Ouvidoria Nacio-
nal de Direitos Humanos, e propor encami-
4. Portarias 28817 e 28918 de 10 de nhamentos; solicitar informações, bem como
agosto de 2018 monitorar ações de empresas pertinentes aos
A Portaria 288 de 10 de agosto de 2018, direitos humanos; estimular que as empresas
que dispõe sobre os procedimentos para a privadas comuniquem e reportem suas ações
assinatura de Termo de Compromisso com estratégicas para o pleno respeito dos direi-
sociedades empresárias no âmbito do Pro- tos humanos e indiquem os impactos de suas
grama de Proteção aos Defensores de Di- atuações; realizar diagnósticos e elaborar es-
reitos Humanos do Ministério dos Direitos tudos sobre a temática; além de fazer propos-
Humanos – PPDDH, autoriza o Programa a tas de atos normativos ou de ações específicas
contatar diretamente e estabelecer tratativas sobre o tema; e articular ações intersetoriais,
com as sociedades empresárias mencionadas interinstitucionais e interfederativas para o
como possíveis ofensoras de direitos huma- fortalecimento do respeito aos direitos huma-
nos. Conforme o texto da portaria, o Termo nos pelas empresas.
de Compromisso, bem como outras formas
de contato direto entre PPDDH e empresas, Uma análise ainda inicial dessas portarias,
teria por objetivo recomendar a cessação de tendo em vista sua recente edição, já nos
atividades danosas aos direitos humanos e aos aponta que o governo brasileiro caminha no
defensores e defensoras. sentido de também reafirmar a voluntarie-
dade da regulação sobre as ações e condutas
A Portaria 289 de 10 de agosto de 2018, por das empresas. Entendemos que a edição das
sua vez, institui, no âmbito do Ministério dos duas portarias, após cinco anos de diálogo e
Direitos Humanos, o Comitê Empresas e Di- construção coletiva entre sociedade civil e Es-
reitos Humanos – CEDH. Conforme o texto tado para avançar em uma política efetiva de
da portaria, tal Comitê seria responsável por direitos humanos no que concerne à atuação
de empresas, desconsidera todo o caminho
16. Conferir Portaria nº. 24/17, do Ministério de Direitos Hu- percorrido até aqui.
manos.
17. Disponível em: <http://portal.imprensanacional.gov.br/ Elementos para uma Política
materia/-/asset_publisher/Kujr w0TZC2Mb/content/
id/36659173/do1-2018-08-14-portaria-n-288-de-10-de-agos-
Nacional de Direitos Humanos e
to-de-2018-36659122>. Acesso em: 22 ago. 2018. Empresas
18. Disponível em: <http://portal.imprensanacional.gov.br/
materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/
id/36659508/do1-2018-08-14-portaria-n-289-de-10-de-agos-
Atualmente, estamos desafiados a contribuir,
to-de-2018-36659404>. Acesso em: 22 ago. 2018. a partir de nossa experiência no acompanha-
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Sob essa perspectiva, entendemos que o de- Mas para além da exclusão histórica a que es-
bate sobre direitos humanos e empresas deve ses sujeitos foram submetidos, são elas e eles
ser orientado sob o ponto de vista das popu- também fundamentais para a transformação
lações mais diretamente atingidas. A noção da realidade desigual em que vivemos. Henri
de Justiça Ambiental19 é, assim, um impor- Acselrad expressa com muita propriedade a
importância desses sujeitos: “pois o que esses
19. Ao contrário, a injustiça ambiental é o processo pelo qual movimentos tentam mostrar é que, enquanto
a implementação de políticas ambientais, ou a omissão de tais os males ambientais puderem ser transferidos
políticas ante a ação seletiva das forças de mercado, cria im-
pactos socialmente desproporcionais, intencionais ou não in-
para os mais pobres, a pressão geral sobre o
tencionais, concentrando os riscos ambientais sobre os mais ambiente não cessará. [Os movimentos] Fa-
pobres e os benefícios para os mais ricos. Estes efeitos desiguais zem assim a ligação entre o discurso genérico
ocorrem através de múltiplos processos privados de decisão, de
programas governamentais e de ações regulatórias de agências sobre o futuro e as condições históricas con-
públicas. Processos não-democráticos de elaboração e aplicação
de políticas sob a forma de normas discriminatórias, priorida- 20. Declaração de Princípios da Rede Brasileira de Justiça
des não discutidas e viéses tecnocráticos, via de regra, produzem Ambiental. Disponível em: <https://redejusticaambiental.wor-
consequências desproporcionais sobre distintos grupos sociais. dpress.com/>. Acesso em: 23 ago. 2018.
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cretas pelas quais, no presente, se está defi- sos judiciais e não judiciais de discussão sobre
nindo o futuro. Aí se dá a junção estratégica reparação de violações de direitos humanos.
entre justiça social e proteção ambiental: pela Aliás, esse reconhecimento é parte integrante
afirmação de que, para barrar a pressão des- do próprio processo de reparação, na medida
trutiva sobre o ambiente de todos, é preciso em que violações de direitos humanos nor-
começar protegendo os mais fracos” 21. malmente compreendem um processo mais
amplo de ataque à própria humanidade da-
Deste modo, considerar as particularidades quele ou daquela que sofreu a violação.
desses sujeitos no momento de elaboração das
políticas públicas, bem como na enunciação Na prática, a aplicação desse princípio signi-
das normas jurídicas e na tarefa judicante, ga- fica, dentre outros desdobramentos, a parti-
rantirá real equidade, bem como contribuirá cipação efetiva dos atingidos e atingidas nos
para a real transformação de nossas relações processos de reparação, bem como a adoção
sociais. efetiva de uma linguagem de direitos huma-
nos na elaboração de normas reguladoras.
2. Princípio da Centralidade do
Sofrimento da Vítima 3. Garantia do Acesso à Justiça
Outro preceito, que deve nortear a criação e o combate à ausência de
de qualquer política de direitos humanos e responsabilização das empresas
empresas concebida no Brasil, é o princípio A demanda por um sistema eficiente de aces-
da Centralidade do Sofrimento da Vítima. so à justiça ganha destaque quando o tema é
Concebido a partir de posicionamentos do direitos humanos e empresas, tendo em vista
eminente jurista Antônio Augusto Cançado a necessidade de que a justiça seja acessada de
Trindade, em suas decisões na Corte Intera- forma mais ampliada e igualitária, que vença
mericana de Direitos Humanos, trata-se de as barreiras impostas pelas desigualdades fi-
importante pressuposto que impõe que o in- nanceira, social e representativa. A garantia
divíduo ou a coletividade, que sofreu com o do acesso à justiça não se limita a aspectos
dano decorrente da violação de direitos hu- procedimentais, faz-se necessária uma pro-
manos, deve figurar como ponto central da funda transformação estrutural que ultrapas-
discussão jurídica a respeito da reparação des- se o âmbito judicial e estabeleça, de fato, for-
se dano. Assim, de acordo com tal enunciado, mas de equilibrar a assimetria imposta pelo
a pessoa ou o grupo atingido deve participar capital, que se direcione por uma cultura de
da elaboração dos mecanismos, judiciais ou efetivação de direitos humanos e não por
não, de compensação e prevenção, de modo a uma cultura numérica liberal, que ignora a
evitar que a violação ocorra novamente. dignidade humana em nome de lucros cada
vez maiores dos atores econômicos. A lógica
A enunciação do Princípio da Centralidade que faz operar o sistema de justiça deve es-
do Sentimento da Vítima parte da compreen- tar de acordo com o princípio fundamental
são do atingido e atingida como sujeito de e central do sofrimento da vítima, conside-
direito, e não como mero objeto de proces- rando as assimetrias de classe, gênero e raça,
pois a dificuldade de arcar com as custas dos
21. ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais: o processos durante todo o desdobramento é
caso do movimento por justiça ambiental. Dossiê de Teorias
Socioambientais. Estudos Avançados. vol. 24, n. 68, São Paulo,
apenas o obstáculo mais evidente de acesso
2010. à justiça.
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Outras normas nacionais que podem ser cita- De acordo com informações disponíveis no
das são: a previsão constitucional de responsa- site do Ministério dos Direitos Humanos,
bilização penal da pessoa jurídica em casos de atualmente, 342 defensores e defensoras de
crimes ambientais; as normas protetivas nas direitos humanos estão incluídos no Progra-
relações de consumo; o diploma legal sobre a ma de Proteção aos Defensores de Direitos
improbidade administrativa; a prescrição so- Humanos (PPDDH) em todo Brasil. Dentre
bre a função social da propriedade; a proteção as diversas áreas de militância, as causas indí-
constitucional dos territórios indígenas; a ex- genas e direito à terra correspondem a maior
propriação de terras em que ocorra a explora- parte dos casos27.
ção de trabalho escravo; a cassação do registro
do ICMS em caso de trabalho análogo à es- Vivemos hoje no Brasil um cenário em que
cravidão; o regime constitucional de direitos defensores e defensoras de direitos humanos
fundamentais; a vedação à prática das portas continuam a ter seus direitos severamente ne-
giratórias; as hipóteses de desconsideração da gados, incluindo o direito a lutar por direitos,
personalidade jurídica, dentre outras. ao mesmo tempo em que a política nacional
de proteção a esses sujeitos vem sendo des-
Todos esses marcos jurídicos, assim como ou- montada a passos largos. De acordo com os
tros que protejam as comunidades e indiví- dados do Comitê Brasileiro de Defensoras e
duos, precisam ser defendidos das tentativas de Defensores, só em 2017 foram assassinadas
retrocesso e reafirmados na política pública de 66 pessoas em todo o território nacional,
direitos humanos e empresas que queremos. por estarem na linha de frente da resistên-
cia nas mais diversas áreas de atuação. Vale
5. Defensoras e Defensores de Direitos ressaltar que os marcos institucionais de pro-
Humanos teção nunca estiveram de acordo com o que
A partir de 1998, com a Declaração das Na-
ções Unidas para Defensores de Direitos Hu- 27. Disponível em: <http://www.mdh.gov.br/navegue-por-te-
mas/programas-de-protecao/ppddh-1/sobre-o-ppddh>. Acesso
manos da ONU e de 2001, com a implantação em: 22 ago. 2018.
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
recomenda a sociedade civil. Ao menos dois porar a variável ecológica em seus negócios,
pontos importantes não foram alcançados pela através de mecanismos de mercado que fa-
política: a proteção às coletividades e a manu- voreceram a apropriação do capital sobre a
tenção do defensor ou defensora em seu terri- natureza por instrumentos financeiros, no
tório de atuação. Dito de outra forma, o Brasil momento em que crescia o debate interna-
foi precursor na formulação e adoção de uma cional sobre o desenvolvimento sustentável.
política de proteção a defensores e defensoras A década de 1980, por sua vez, marcada por
de direitos humanos, porém, essa mesma po- crescentes impactos na natureza e nas po-
lítica nunca conseguiu responder satisfatoria- pulações mais pobres, que passaram a sofrer
mente ao que se propunha na ocasião de sua diretamente os danos das externalidades am-
formulação. Entendemos que a proteção deve bientais e de direitos humanos geradas pelo
compreender, necessariamente, a garantia da capitalismo industrial, consolidou a associa-
integridade física e a presença no território. Só ção entre o debate ambiental e os interesses
assim se mantém viva a mobilização em torno de mercado. Estabeleceu-se, assim, a agenda
das pautas de direitos. Já no caso de coletivida- ecológica nos bancos, a partir da criação de
des, em muitos casos, observa-se a necessidade requisitos formais de sustentabilidade como
de proteger uma comunidade inteira, ainda condição para apoio aos projetos de financia-
mais em casos de comunidades isoladas. mento29. Ainda em 1992, na Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e De-
As práticas criminalizadoras e outras formas senvolvimento (Rio 92), foi estabelecida a re-
de ataques a defensoras e defensores de di- gulação das instituições financeiras através de
reitos humanos também partem das empre- sua responsabilidade solidária no destino dos
sas, visando despolitizar as lutas sociais que financiamentos. Tudo isso, porém, só favore-
denunciam as violações de direitos humanos, ceu a retórica do desenvolvimento sustentá-
especialmente dos direitos econômicos, so- vel, fazendo emergir um mercado da natureza
ciais, culturais e ambientais (DHESCAS)28, que só faz aprofundar os conflitos, agravar
que são efeitos do modelo de desenvolvimen- a pobreza e as desigualdades nos territórios
to fundado no crescimento econômico. onde se instalam as empresas; isto é, o capital
financeiro foi estruturado juridicamente de
Assim, para uma política efetiva de direitos forma a ganhar maior segurança para sua re-
humanos e empresas, é necessário pensar produção, sem garantir direitos.
também na proteção daquelas e daqueles que
se encontram na linha de frente na denúncia Não restam dúvidas sobre a responsabilidade
de violações de direitos humanos. É preciso dos entes financeiros pelas violações ambien-
pensar uma política que proteja esses sujeitos, tais causadas por entes viabilizados por eles. Ao
assim como suas coletividades, considerando final de 2013, quase 75% do crédito de longo
o poder econômico que as empresas detêm. prazo para empresas e 20% de todos os inves-
timentos realizados no Brasil eram concedidos
6. Controle Social sobre as Instituições pelo Banco. Na atual estratégia de desenvolvi-
de Financiamento Público
A partir de 1976, o BNDES passou a incor- 29. BRITO, Jadir Anunciação. A Responsabilidade do BN-
DES pelas Violações de Direitos Humanos. In: PINTO, José
R. L. (org). Ambientalização dos Bancos e Financeirização da
28. JUSTIÇA GLOBAL. Guia de Proteção para Defensoras e Natureza. Rede Brasil Atual, Brasília, 1ª edição, 2006, p. 75-
Defensores de Direitos Humanos, Justiça Global, 2017 93.
16
PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
17
PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
possuem poder econômico e político superior pios Orientadores sobre Empresas e Direitos
ao das próprias instituições estatais2. Humanos5.
Nos termos da Constituição brasileira, as ati- Diversas entidades da sociedade civil brasi-
vidades empresariais devem se reger de acor- leira acompanham e interagem com o tema
do com os princípios gerais da atividade eco- da proteção de direitos humanos em face de
nômica inscritos nos artigos 170, dentre os atividades empresariais e demandaram da
quais se destacam: a valorização do trabalho Procuradoria Federal dos Direitos do Cida-
humano, a livre iniciativa, a função social da dão – PFDC a constituição de um grupo de
propriedade, a defesa do meio ambiente e a trabalho interno para monitorar a atividade
redução das desigualdades regionais e sociais. do Estado na matéria6. Levando em conside-
Esses princípios devem nortear a produção de ração a necessidade de avaliar a demanda para
normas infraconstitucionais e a jurisprudên- o Brasil instituir um Plano de Ação Nacional,
cia nacionais, conformando normativamente bem como a posição do país no processo de
a relação entre as empresas e a sociedade acer- discussão do tratado internacional referido e,
ca do respeito aos direitos humanos. após reflexões do grupo de trabalho interno e
interlocuções com órgãos do governo e a pró-
No plano internacional, o Conselho de Direi- pria sociedade civil, a PFDC emite a presente
tos Humanos das Nações Unidas lidera duas Nota Técnica para externar a sua visão sobre
iniciativas paralelas de reforço dos marcos esses processos. O tema demanda a tomada
normativos sobre direitos humanos e empre- de decisões por parte do Estado e da socieda-
sas. A primeira deu origem à criação do Gru- de brasileiros, à vista dos dois processos inter-
po de Trabalho Empresas e Direitos Huma- nacionais referidos e do histórico de violações
nos (Working Group on Business and Human de direitos humanos por empresas no Brasil,
Rights 3), cujo mandato se refere à dissemina- do qual se podem destacar, dentre muitos, os
ção e implementação dos Princípios Orien- casos: do rompimento da barragem de Fun-
tadores sobre Empresas e Direitos Humanos, dão, operada pela empresa Samarco, em Ma-
elaborados pelo Professor John Ruggie, por riana/MG; da construção da usina hidrelétri-
solicitação do Secretário-Geral das Nações ca de Belo Monte, no rio Xingu, estado do
Unidas, e aprovados pelo Conselho de Direi- Pará; de diversos danos provocados em distin-
tos Humanos, em 2011. A segunda diz res- tos locais do país e do planeta pelas atividades
peito à proposição e discussão de um tratado mineradoras da Vale S/A; de funcionamento
internacional sobre o tema, atualmente em da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do
fase de discussão do primeiro rascunho4. Atlântico – TKCSA, no Rio de Janeiro, sem
licença ambiental; de expansão das frontei-
No contexto das atividades estimuladas pelo ras do agronegócio no cerrado com expulsão
Grupo de Trabalho Direitos Humanos e Em- dos povos tradicionais de sua terra e grave
presas da ONU, um dos temas centrais é a prejuízo ao fornecimento de água às popula-
recomendação aos Estados para que adotem ções urbanas e rurais; dos danos ambientais e
um Plano de Ação Nacional, definido como questões fundiárias relacionados à ampliação
uma estratégia política evolutiva desenvolvi- do Porto de Suape, em Pernambuco; de va-
da por um Estado para a proteção contra os zamento de rejeitos da Hydro Alunorte, em
impactos adversos em direitos humanos por Barcarena, no Pará.
empresas, em conformidade com os Princí-
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
É injustificável que uma mesma corporação reza da atividade vis a vis o impacto socioam-
possa adotar patamares distintos de proteção biental (v.g., negócios de mineração, óleo e
e respeito aos direitos humanos em razão da gás, agricultura, pecuária, papel e celulose e
localização de seu empreendimento. A multi- hidrelétrica afetam o meio ambiente, a mora-
plicidade cultural e os diferentes estágios de dia e as atividades econômicas tradicionais do
desenvolvimento social das sociedades não entorno etc.) e (c) natureza da atividade vis
podem servir de pretexto para a assimetria a vis a destinação e disponibilização de seus
dos padrões de dignidade, principalmente no produtos e serviços (v.g., indústrias bélicas, de
que diz respeito aos direitos humanos defini- serviços de segurança e farmacêutica; serviços
dos no direito internacional. A desqualifica- privados de saúde e educação; os bens pro-
ção e discriminação de determinadas popula- duzidos ou serviços prestados pelas empresas
ções no tocante à intensidade de respeito aos coincidem com, ou tangenciam, os bens ju-
seus direitos fundamentais remete às práticas rídicos protegidos pelo conceito de direitos
da escravidão e do colonialismo. humanos).
Por esse motivo, a PFDC defende o reforço Os Estados, internamente ou entre si, deve-
do sistema normativo, nacional e internacio- riam adotar padrões normativos e mecanis-
nal, sobretudo para que as corporações trans- mos de controle mais fortes diante de tais
nacionais sejam obrigadas a adotar o mesmo atividades, justamente pelo maior risco que
padrão de proteção aos direitos humanos em trazem aos direitos humanos. Não obstante,
todos os países e comunidades em que atuam, o que muitas vezes se nota é, de maneira ine-
direta ou indiretamente. Com isso, se privi- quívoca, o contrário: a flexibilização de obri-
legiará o princípio da máxima proteção (pro gações para atrair esses investimentos, espe-
homine) e da igualdade. Vale dizer, em todas cialmente porque são iniciativas empresariais
as etapas da operação e em todos os países em que alocam vultosos recursos e incrementam
que atuem, deveriam as corporações seguir o as pautas de exportação, o que favorece o dis-
modelo mais elevado de respeito aos direitos curso desenvolvimentista à custa da precau-
humanos, notadamente aqueles consagrados ção e proteção social e ambiental. Ademais,
no direito internacional e permeáveis a distin- não é raro esses investimentos estarem asso-
tos graus de intensidade de implementação7. ciados a interesses de alguns grupos influen-
tes politicamente, o que é determinante no
Outro aspecto relativo aos impactos das ati- desinteresse estatal de impor a prevenção de
vidades empresariais em face dos direitos hu- riscos socioambientais como condição para a
manos é que eles variam em razão dos setores aprovação da implementação do empreendi-
ou ramos da atividade econômica. De fato, mento ou seu constante monitoramento.
algumas áreas ou atividades têm risco mais
elevado de produzirem violações aos direi- Associando-se a tais circunstâncias, a consta-
tos humanos em razão de natural tensão que tação de que a globalização promoveu uma
provocam, tais como nos seguintes casos: (a) expressiva oligopolização no plano interna-
tamanho do empreendimento vis a vis o im- cional do mercado em que atuam as grandes
pacto socioambiental (v.g., a implantação de corporações transnacionais, é possível per-
grandes indústrias, fazendas ou aglomerados ceber a limitada capacidade que os Estados
notoriamente provocam remoção de pessoas possuem, isoladamente, de enfrentar essas
e modificações no meio ambiente), (b) natu- pressões. Esse cenário recomenda, pois, que
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
normas internacionais sejam adotadas para uma vida próspera e de plena realização pessoal,
nivelar minimamente os padrões de respeito e e que o progresso econômico, social e tecnológi-
proteção aos direitos humanos, bem como de co ocorra em harmonia com a natureza (Ob-
capacidade de responsabilização das empresas jetivo 10). De fato, há um reconhecimento
por impactos negativos e violações. do passivo de violação aos direitos humanos
por decorrência do modelo de investimentos
Ou seja, os Estados – inclusive o Brasil – de- adotados pelos países mais desenvolvidos nas
vem adotar, no âmbito doméstico, políticas regiões do sul do planeta e uma convocação
públicas de efetivo reforço da proteção aos para a mudança desse paradigma. A Agenda
direitos humanos diante de atividades em- 2030 se coaduna com a Constituição brasi-
presariais e, concomitantemente, instituir leira e ambos assumem que crescimento eco-
um sistema internacional que reduza, afaste nômico sem promoção dos direitos humanos
ou limite o poder das empresas de impelirem não é desenvolvimento.
os Estados para o caminho da flexibilização
ou relativização dos direitos humanos, sob o Desenvolvimento normativo –
falso argumento da priorização do desenvol- os Princípios Orientadores das
vimento econômico. Nações Unidas e os Planos de
Ação Nacional
Com efeito, o desenvolvimento econômico
desassociado da promoção dos direitos hu- Na última década, o tema de empresas e di-
manos e da redução da desigualdade social reitos humanos ganhou projeção na comuni-
revelou-se uma falácia, pois apropria-se de re- dade internacional. Após algumas iniciativas
cursos naturais e sociais coletivos em favor de anteriores, em 2011, o Conselho de Direitos
pequenos grupos8. Em realidade, o próprio Humanos das Nações Unidas aprovou o rol
desenvolvimento deve ser entendido também de Princípios Orientadores sobre Empresas e
como um direito humano, a ser apropriado Direitos Humanos, elaborado pelo Professor
coletivamente. O conceito de desenvolvi- John Ruggie, por solicitação do Secretário-
mento evidencia a dimensão humana, como -Geral da ONU. Eles podem ser entendidos
destaca a Declaração da ONU sobre o Direi- como um primeiro passo no caminho de afir-
to ao Desenvolvimento (1986), em seu artigo mação de uma normativa cogente.
2º: A pessoa humana é o sujeito central do de-
senvolvimento e deveria ser participante ativo e Entretanto, os Princípios Orientadores não
beneficiário do direito ao desenvolvimento. Sig- possuem força cogente por si só e integram o
nifica compreender que só há desenvolvimen- denominado soft law do direito internacional,
to de fato, quando houver melhora na vida ou seja, “direito brando”, em livre tradução.
de todas as pessoas e coletividades direta ou Assim, os princípios não criam deveres aos
indiretamente afetadas pelo processo. Estados, embora incidam como eixo interpre-
tativo e referencial na aplicação de outras nor-
Aliás, os Estados recentemente se compro- mas imperativas atinentes a direitos humanos
meteram, com a subscrição da Agenda 2030, e empresas.
das Nações Unidas, relativa aos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável, a combater as Nesse sentido, órgãos de tratado da ONU
desigualdades dentro e entre os países e assegurar os adotam como parâmetro na aplicação das
que todos os seres humanos possam desfrutar de convenções sobre direitos humanos. Cite-se,
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
• As empresas devem evitar que suas pró- • Os Estados devem adotar mecanismos
prias atividades gerem impactos negativos judiciais de reparação apropriados e efi-
sobre os direitos humanos, enfrentar as cazes, assim como modos de denúncia
consequências quando essas ocorrerem, extrajudiciais, como parte de um sistema
prevenir ou mitigar os impactos negativos estatal integral de reparação das violações
diretamente relacionados com operações, de direitos humanos relacionadas com
produtos ou serviços de suas relações co- empresas. Também deve facilitar o acesso
merciais. a mecanismos não-estatais de denúncia.
• As empresas devem contar com políticas • As empresas, bem como corporações in-
e procedimentos adequados em razão dustriais e associações de múltiplas partes,
do seu tamanho e circunstâncias, em es- devem estabelecer ou participar de meca-
pecial: compromisso de assumir sua res- nismos de denúncia eficazes.
ponsabilidade; auditoria (due diligence)
para identificar, prevenir, mitigar e pres- • Os mecanismos não-judiciais estatais ou
tar contas de como abordam seu impacto não-estatais são eficazes quando: legíti-
sobre os direitos humanos; e processos de mos, acessíveis, previsíveis, equitativos,
reparação. transparentes, compatíveis com os direi-
tos e fonte de aprendizagem. Esses meca-
• As empresas devem integrar as conclusões nismos devem se basear na participação e
de suas avaliações de riscos e impactos no no diálogo.
marco de suas funções e processos inter-
nos, e acompanhar a eficácia de sua pró- A edição e o conteúdo dos princípios orienta-
pria resposta. dores, embora positivos em uma perspectiva
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
evolutiva, têm sido objeto de diversas críticas ção de políticas voluntárias pelas empresas,
por parte da sociedade civil e da academia, sem reforçar o conceito de que toda violação
sobretudo por terem ficado muito aquém do de direitos humanos deve ser reparada inte-
que se reputa possível e indispensável para gralmente, mediante restituição, compensa-
efetivar a proteção dos direitos humanos em ção, reinserção e garantias de não-repetição,
face de atividades empresariais14. Com efeito, (d) desenvolve o tema com privilégio à visão
e até mesmo por terem sido editados em um e linguagem das empresas, em detrimento da-
instrumento não vinculante, percebe-se que quela das vítimas e dos atingidos, e (e) carece
não se menciona uma proibição de violação de previsões claras da obrigação das empresas
aos direitos humanos, mas sim a adoção de desenvolverem seus empreendimentos, inclu-
uma semântica eufemística de “evitar” viola- sive extrativistas, apenas após consulta prévia,
ções e desenvolver “políticas” para a prevenção livre e informada às populações atingidas.
e a reparação. Nota-se, também, a ausência
de obrigações diretas às empresas de adoção Na sequência da aprovação dos Princípios
de medidas preventivas eficazes, construídas Orientadores, o Conselho de Direitos Hu-
com a participação da população atingida manos da ONU instituiu um Grupo de Tra-
pelo empreendimento. O documento parece balho para difundir a sua implementação. A
admitir uma certa tolerância com a violação principal ferramenta para tanto seria a imple-
de direitos humanos por empresas. Ademais, mentação de Planos de Ação Nacional pelos
segue-se atribuindo aos Estados funções ex- Estados. Até o momento, 21 países editaram
clusivas de proteção, sendo necessário, em planos, dentre eles: Chile, Colômbia, Alema-
determinados casos, avançar para o reconhe- nha, Espanha, Reino Unido, Holanda, Dina-
cimento da corresponsabilidade empresarial marca, Finlândia e Estados Unidos16.
por uma proteção deficiente, especialmente
no caso de corporações transnacionais. No Brasil, o Ministério de Direitos Huma-
nos realiza estudos de base para a elaboração
Reafirmando que interpreta os Princípios do plano e instituiu o Comitê Empresas e
Orientadores como uma bem-vinda etapa na Direitos Humanos, com a finalidade de bus-
construção de normas mais efetivas, a PFDC car meios de implementação dos princípios
também reconhece a insuficiência desse arca- orientadores; propor parâmetros comuns
bouço para lidar com o tema da violação de aplicáveis à atuação das empresas privadas,
direitos humanos por empresas, especialmen- empresas de economia mista ou empresas es-
te porque (a) passa ao largo da necessidade tatais, no que se refere ao respeito aos direitos
de enfrentar o fenômeno da “corrida para o humanos; analisar as questões apontadas pela
fundo do poço”, ou seja, apontar a responsa- sociedade civil, pelos centros de pesquisa, pe-
bilidade direta das empresas pela indução de los órgãos de controle, pelo Ministério Públi-
governos a reduzirem custos sociais e exigên- co, pela Defensoria Pública e pela Ouvidoria
cias protetivas ao meio ambiente e aos demais Nacional de Direitos Humanos, e propor en-
direitos humanos como condição para a alo- caminhamentos; solicitar informações, bem
cação de investimento, (b) não aborda a ne- como monitorar ações de empresas no perti-
cessidade de os Estados adotarem a jurisdição nente aos direitos humanos; estimular que as
universal ou quase- universal15 para apreciar empresas privadas comuniquem e reportem
casos de violações aos direitos humanos por suas ações estratégicas para o pleno respeito
corporações transnacionais, (c) enfatiza a ado- dos direitos humanos e indiquem os impactos
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
de suas atuações; realizar diagnósticos e ela- O eventual Plano deve adotar como pon-
borar estudos sobre a temática; fazer propos- to de partida o “estado da arte” da proteção
tas de atos normativos ou de ações específicas de direitos humanos em face de atividades
sobre o tema; articular ações intersetoriais, in- empresariais no Brasil, tal como se encontra
terinstitucionais e interfederativas para o for- prevista em marcos normativos ou reconheci-
talecimento do respeito dos direitos humanos da em precedentes jurisprudenciais, notada-
pelas empresas; e apresentar relatórios de suas mente porque, em diversas hipóteses, o Brasil
atividades e avanços17. está em patamar superior de proteção àquele
recomendado nos Princípios Orientadores.
A PFDC valora positivamente a proposta e Afinal, não será juridicamente válido, à luz
o esforço do Conselho de Direitos Humanos do princípio da proibição do retrocesso, que
das Nações Unidas de instituição de planos um Plano de Ação Nacional pugne por uma
de ação nacionais, bem como do Ministério situação de proteção, respeito e reparação que
dos Direitos Humanos de criar um Comitê esteja aquém daquela existente no sistema ju-
Empresas e Direitos Humanos. rídico brasileiro.
Todavia, entende que, no caso do Brasil, pre- Em acréscimo, é preciso ressaltar que os pla-
viamente à mobilização de esforços para a ela- nos de ação nacionais são, em regra, editados
boração de um Plano de Ação Nacional, deve- como um conjunto de normas não-vinculan-
-se ponderar se a medida é adequada diante do tes, o que acarreta limitado impacto na rea-
quadro histórico. É preciso ter presente o risco lidade. Com efeito, uma política pública de
de que os défices de representatividade demo- direitos humanos em face de empresas depen-
crática das instituições brasileiras acarretem a de, em diversos aspectos, de lei em sentido
falta de legitimidade do Plano, sobretudo se estrito ou tratados e convenções internacio-
houver desequilíbrio de forças entre os múlti- nais, sobretudo porque o seu cerne perpassa
plos atores que devem tomar parte num pro- necessariamente a definição de obrigações
cesso dessa natureza. Além disso, a definição para agentes privados e regras sobre o exercí-
de políticas de direitos humanos deve adotar cio da jurisdição, temas adstritos ao princípio
como ponto de partida as demandas das víti- da legalidade.
mas e potenciais atingidos e, portanto, estas
devem ter garantias de que o processo lhes A PFDC anota que, em diversos campos, o
oportunizará posição compatível com essa pre- Brasil, através de leis ou jurisprudência, de-
missa. Ou seja, a construção deve ser coletiva, finiu normas importantes e vinculantes para
em um processo de ampla interlocução com a atividade empresarial em face dos direitos
a sociedade civil. Pode-se exemplificar com o humanos. No plano ambiental, cabe destacar
que foi adotado para a elaboração do Terceiro o artigo 225 da Constituição Federal, o qual
Plano Nacional de Direitos Humanos. incorporou ao direito constitucional a exigên-
cia de estudos de impacto ambiental prévios
Ainda, é preciso ter em conta que o Plano à instalação de obra ou atividade potencial-
tem sido recomendado como uma medida de mente causadora de significativa degradação
concretização dos Princípios Orientadores e, do meio ambiente e a previsão de reparação
portanto, devem ser consideradas e superadas integral de danos por parte daquele que pra-
as críticas acima referidas ao conteúdo e à lin- tica condutas lesivas ao ambiente natural ou
guagem adotada em referidos princípios. explora recursos minerais. Com semelhante
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
significação, a ratificação pelo Brasil da Con- Ademais, não se pode negligenciar que, dian-
venção nº 169, da Organização Internacional te do atual momento nacional e internacional
do Trabalho (OIT), que dispõe, entre outros de enfraquecimento de institutos e institui-
direitos fundamentais, sobre a consulta pré- ções de direitos humanos, a reabertura de dis-
via, livre e informada a povos e comunidades cussão sobre patamares já consolidados traz
tradicionais, cuja aplicação tem sido reconhe- riscos concretos de retrocesso.
cida em diversos precedentes judiciais18. Tam-
bém merecem destaque as normas de respon- Assim, a PFDC considera que, embora a
sabilização criminal da pessoa jurídica nos aprovação de um Plano de Ação Nacional
casos de crimes ambientais, as protetivas do possa – se atendidas as indispensáveis condi-
cidadão nas relações de consumo, as relativas ções acima apontadas – constituir uma inicia-
à responsabilização por atos de improbida- tiva relevante, o “estado da arte” da matéria
de administrativa e de corrupção, as normas no Brasil, as contingências políticas nacio-
trabalhistas e a especialização da Justiça do nais e internacionais e o potencial limitado
Trabalho, a qual funciona como garantia da dos princípios de Ruggie requerem cautela na
jurisdição célere e sensível às peculiaridades condução do processo.
da relação do trabalho. Ainda, o artigo 170,
da Constituição Federal, que vincula a ordem No caso do Brasil, pode ser mais recomen-
econômica aos princípios da função social da dável – se e quando houver condições demo-
propriedade, da defesa do meio ambiente, da cráticas favoráveis – investir na formulação de
redução das desigualdades sociais e regionais uma política pública abrangente em direitos
e a busca do pleno emprego e o artigo 243, humanos e empresas, inclusive para estender
que determina a expropriação de terras nas os precedentes normativos positivos consoli-
quais ocorra a exploração de trabalho escravo. dados na legislação e na jurisprudência para
todos os casos de violações aos direitos hu-
Some-se a isso a edição da Lei 12.846 de manos (v.g., responsabilidade criminal das
2013, prevendo sanções a empresas por atos pessoas jurídicas, não restrita às hipóteses
praticados contra o patrimônio público na- atuais; obrigatoriedade de consulta prévia a
cional ou estrangeiro, contra princípios da todas as populações potencialmente afetadas
administração pública ou contra os compro- por empreendimentos; ampliação dos deveres
missos internacionais assumidos pelo Brasil, de reparação; jurisdição universal ou quase-
cuja leitura também deve ser feita a partir da -universal; responsabilidade por atividades de
proteção aos direitos humanos. toda a cadeia produtiva; previsão de parâme-
tros claros de equidade de gênero, comuns a
O “estado da arte”, portanto, não é incipiente empresas estatais e privadas, inclusive no se-
e, em vários temas, ultrapassa os patamares tor da mineração, em que se observam graves
que poderiam ser oferecidos por postulados exemplos de desigualdade; fortalecimento do
de um Plano de Ação Nacional não vinculan- enfoque de gênero nos estudos de impacto
te. É evidente que o cenário de violações aos ambiental de empreendimentos empresa-
direitos humanos por empreendimentos em- riais). Essa política pública seria construída
presariais ainda é obsceno no país, mas, certa- em discussão com os múltiplos atores interes-
mente, não será a exortação a procedimentos sados – e, sobretudo, com as pessoas afetadas
voluntários que terá a capacidade de alterar e atingidas por atividades empresariais – e
substancialmente esse quadro. compreenderia avanços legislativos que esta-
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
rais podem ser responsabilizadas criminal, Em paralelo, a própria PFDC seguirá em in-
civil ou administrativamente. A responsa- terlocução com a sociedade civil e as represen-
bilidade das pessoas jurídicas deve ser in- tações dos atingidos e afetados por violações
dependente daquela das pessoas físicas. A de direitos humanos no país, encaminhando
responsabilidade criminal deve ser aplicá- e articulando o seguimento de denúncias,
vel a mandantes, comparsas e cúmplices. promovendo diálogos com o Estado e os de-
mais atores interessados em favor de uma po-
• Todo acordo futuro de investimento ou lítica nacional para o tema, consistente com
comércio que os Estados partes negociem, as premissas apontadas nesta Nota. Em espe-
seja entre si ou com terceiros, não deve cial, na agenda do mandato da PFDC, será
conter qualquer provisão que conflite com enfatizado o monitoramento da evolução das
a implementação da Convenção e deve ga- discussões sobre a instituição no Brasil de um
rantir o respeito aos direitos humanos. Plano de Ação Nacional, os trabalhos de ela-
boração da Convenção Internacional sobre
Como evidenciado nos itens precedentes Direitos Humanos e Atividades de Corpora-
desta Nota, a PFDC entende que, apesar da ções Transnacionais - com fortalecimento da
eventual adoção de um Plano de Ação Nacio- perspectiva de equidade de gênero e da pro-
nal, o tratamento adequado do tema direitos teção aos direitos das populações em situação
humanos e empresas depende da definição de de vulnerabilidade - , bem como o apoio ao
normas internacionais cogentes, que possam mandato do Grupo de Trabalho das Nações
evitar ou minimizar os deletérios efeitos da Unidas sobre Empresas e Direitos Humanos.
“corrida para o fundo do poço”, da adoção de
múltiplos padrões de respeito aos direitos hu- Brasília, 27 de agosto de 2018
manos pelas empresas e das fragilidades dos
sistemas de reparação e promoção da justiça.
Sem um mínimo de uniformidade no trata-
mento que os Estados dão ao tema, a afirma-
ção dos direitos humanos em face de ativida-
des empresariais, em plano universal, seguirá
sendo uma vaga promessa, refém dos argu-
mentos de priorização do desenvolvimento
nacional a qualquer custo.
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
com diagnósticos e o acúmulo do grupo so- tiplos atores interessados – e sobretudo com
bre o desequilíbrio normativo e institucional as pessoas afetadas e atingidas por atividades
que beneficia as empresas, além de recomen- empresariais – e compreenderia avanços le-
dações preliminares para uma política pública gislativos que estabeleçam um conjunto nor-
para o tema. mativo vinculante e compatível com a pro-
moção do desenvolvimento sustentável”. (A
Esse documento, por sua vez, tomou como proteção e reparação de direitos humanos em
base a pesquisa “Direitos Humanos e Empre- relação a atividades empresariais. Nota téc-
sas: O Estado da Arte do Direito Brasileiro”, nica Nº 7/2018, Ministério Público Federal,
elaborada pelo Centro de Direitos Humanos e PFDC, p.16)
Empresas da Faculdade de Direito da Universi-
dade Federal de Juiz de Fora (HOMA/UFJF), A nota representa a possibilidade de fortale-
a partir da análise de diversos casos no Brasil. cimento do debate em instâncias-chave do
poder público. O GT e a PFDC convergem
Fortalecimento do diálogo com o poder pú- sobre a necessidade de incidência em parla-
blico e parceria com a PFDC – O seminário mentares e atores políticos brasileiros – pro-
também é desdobramento de debates inicia- cesso que deverá ser fortalecido no próximo
dos em 2017 e que contaram com a impor- ano, se houver condições políticas para tal –
tante parceria da Procuradoria Federal dos e, também, sobre a necessidade de participar
Direitos do Cidadão (PFDC). No dia 27 de ativamente em instâncias internacionais, nas
agosto, um dia antes do seminário, a PFDC quais se dão os debates e resoluções na área de
publicou uma nota técnica sobre proteção e direitos humanos e justiça internacional.
reparação de direitos humanos no âmbito de
atividades empresariais. Contexto nacional e internacional
do debate sobre DHs e empresas
A nota, alinhada ao documento base apresen-
tado pelo GT, reafirma a desproporcional e No âmbito nacional, a discussão sobre di-
grave afetação de populações em situação de reitos humanos e empresas vem ganhando
vulnerabilidade por atividades empresariais e protagonismo em debates da sociedade civil
defende o reforço do sistema normativo na- e instâncias ligadas aos direitos humanos, so-
cional e internacional, bem como a constru- bretudo a partir de 2014.
ção de uma política pública de direitos hu-
manos e empresas que seja abrangente e que Pouco antes disso, em 2012, durante a Cú-
estabeleça um conjunto normativo vinculan- pula dos Povos – evento paralelo à Conferên-
te, de forma a promover o desenvolvimento cia Internacional Rio+20, no Rio de Janeiro
sustentável nos termos da agenda 2030 das –, foi lançada a Campanha pelo Desmante-
Nações Unidas: lamento do Poder Corporativo e pelo Fim
da Impunidade, com a participação de 200
“No caso do Brasil, pode ser mais recomen- organizações da sociedade civil inseridas no
dável – se e quando houver condições demo- debate sobre violações de direitos cometidas
cráticas favoráveis – investir na formulação de por empresas em todo o mundo, entre elas,
uma política pública abrangente em direitos várias brasileiras. Essas organizações passaram
humanos e empresas. (...) Essa política públi- a reforçar processos de incidência na ONU e
ca seria construída em discussão com os múl- outras instâncias internacionais.
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PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS E EMPRESAS NO BRASIL
O debate na sociedade civil brasileira acen- comendações acumuladas até aqui pelo GT, e
tua-se em 2014, quando o Brasil – sob a estreitar laços com movimentos sociais na di-
justificativa de não ter posicionamento so- reção de construir uma política pública para
bre a questão – absteve-se durante a votação o tema, com ampla participação de vários se-
da Resolução 26/9 no Conselho de Direitos tores da sociedade.
Humanos das Nações Unidas (ONU), que
reposicionou o tema a partir da proposta de Diante da necessidade política de medidas
desenvolver um instrumento vinculante so- vinculantes e efetivas contra violações por
bre transnacionais e direitos humanos. O epi- empresas e frente aos dispositivos interna-
sódio fomentou a articulação de um grupo da cionais voluntaristas impostos pela Europa,
sociedade civil brasileira, que posteriormente EUA, agências multilaterais (que alimentam
se consolidou no GT Corporações. a arquitetura da impunidade36), por que não
desenvolver uma política própria que regule o
Desde então, o GT realizou uma série de cumprimento dos direitos humanos por em-
ações, como se aproximar do poder púbico presas no Brasil?
para estabelecer diálogos e incidências, pro-
duzir pesquisas sobre o tema, articular visita No âmbito internacional, os debates atuais
do GT de Direitos Humanos e Empresas da concentram-se em duas frentes: a imple-
ONU ao Brasil (em Mariana, pós rompimen- mentação dos princípios orientadores sobre
to da Barragem do Fundão, e na região da empresas e direitos humanos da ONU, por
construção de Belo Monte, no Xingu). Uma meio de planos nacionais de ação (PNAs), e
das organizações integrantes do GT Corpo- o “draft zero”, ou “rascunho zero” do instru-
rações, a Conectas Direitos Humanos, vem mento vinculante para regular, no âmbito da
monitorando os desdobramentos da mencio- legislação internacional de direitos humanos,
nada visita da ONU ao Brasil, depois da qual as atividades das Corporações Transnacionais
foram feitas recomendações para o Estado e outras Empresas (o tratado proposto pela
brasileiro, empresas e sociedade civil relacio- Resolução 26/9 no Conselho de Direitos Hu-
nadas à proteção de direitos. manos das ONU). Essas duas frentes interna-
cionais, contudo, têm propostas e visões dife-
Em 2017, o GT organizou, em parceria com a rentes sobre a questão dos direitos humanos.
PFDC, a 1a Audiência Pública sobre Empresas
e Direitos Humanos, em Vitória, no Espírito Debatidos no âmbito da ONU e aprovados em
Santo. Participaram da audiência, organiza- 2011, os princípios orientadores apresentam
ções da sociedade civil, movimentos sociais, 31 diretrizes sobre direitos humanos e empre-
comunidades atingidas pela atividade em- sas e foram ratificados por mais de 190 países.
presarial, sindicatos, órgãos governamentais, Em 2012, o grupo de trabalho da ONU sobre
Defensorias Públicas, Ministério Público de o tema (grupo de trabalho intergovernamen-
diversos estados, consultorias empresariais em tal de composição aberta sobre corporações
sustentabilidade e organizações acadêmicas. transnacionais e outras empresas em matéria
Não houve o comparecimento das empresas. de direitos humanos) publicou seu primeiro
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parte de duas premissas básicas: I) nenhuma • Abordagem sistêmica: a política não deve
norma/aparato legislativo expressa algo dado: ser compartimentada, considerando de for-
as teses jurídicas são adotadas em função de ma sistêmica aspectos simbólicos e materiais
interesses predominantes e, de forma geral, as (cultura, meio ambiente, forma de vida).
teses jurídicas que defendem os interesses dos
atingidos são desqualificadas; II) o processo le- • Direito de veto a empreendimentos pelas
gislativo, portanto, é vivo e está em permanen- comunidades atingidas: a consulta prévia
te disputa: a luta se dá em fazer valer as teses deve evoluir para a ideia de consentimen-
jurídicas que fortaleçam os direitos humanos. to prévio.
Nesse sentido, foram levantados alguns prin- • Reconhecimento dos protocolos de con-
cípios gerais para a construção de uma políti- sulta/consentimento autogestionados.
ca pública para empresas e direitos humanos:
• Proteção de defensores e defensoras de
• Primazia dos direitos humanos e dos inte- direitos humanos: a política deve garan-
resses das pessoas que sofrem as violações: tir segurança efetiva dos que denunciam e
em primeiro plano devem estar as pessoas e atuam contra as violações de direitos.
não o lucro das empresas. As empresas não
podem ser consideradas parte igual na for- • Direito à memória: a reparação deve
mulação das políticas: elas são a parte que manter viva a memória da violação.
deve cumprir as normas dessa política.
• Incorporação compulsória dos custos de
• Considerar a interseccionalidade na direitos humanos pelas empresas: por
identificação dos atingidos e atingidas: exemplo, toda isenção fiscal deve incor-
a política deve localizar e defender quem porar contrapartida de direitos humanos.
são os atingidos: populações mais vulne-
ráveis em função da intersecção de classe, • Observação e cumprimento do nível
gênero e cor (mulheres, negros, ribeiri- mais alto de proteção aos direitos huma-
nhos, quilombolas, povos indígenas: di- nos: as transnacionais devem ser obriga-
reito a políticas específicas). das a seguir o nível mais alto de proteção
dos direitos humanos nos diferentes terri-
• Política vinculante: a regulação deve le- tórios de atuação.
var em conta a prevenção, responsabili-
zação e reparação em um sistema no qual Prevenção
as violações e os não cumprimentos acar-
retem em punição, interdição de atuação • Fortalecer e reformar as certificações: as
e garantia de não repetição. Não deve ser certificações devem estar no mesmo nível
voluntária/optativa às empresas em ne- ou acima da lei [nunca abaixo das exigên-
nhum aspecto. cias legais]; participação da comunidade
no processo de certificação; participação
• Reparação deve ser integral: deve ser usa- sindical; observância do histórico das em-
do o que está consolidado na ONU (res- presas na violação de direitos trabalhistas
tituição, compensação e garantia de não e urbanos para obter certificação; trans-
repetição) de forma vinculante. parência dos processos de certificação.
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dos diversos órgãos do Estado, com suas des devem decidir que tipo de reparação
respectivas competências. querem e, só então, devem ser decididos
os recursos a serem usados >> os disposi-
• Vetar crédito rural para empresas que tivos devem estar a favor das decisões das
mantenham trabalho escravo. comunidades e não o contrário. As comu-
nidades devem poder definir seus proce-
• Cláusulas sociais vinculantes em contratos dimentos de reparação.
públicos: instrução normativa para criação
de sanções, como retenção de pagamento a • Assessorias técnicas: ferramenta impor-
construtoras que acarretarem em violações. tante para apoiar as comunidades durante
o processo de reparação. Exemplo do caso
• Dupla imputação: responsabilização de da Associação Estadual em Defesa Am-
pessoa física e jurídica. Apesar de o supre- biental e Social (AEDAS) na bacia do Rio
mo dizer que não há obrigatoriedade, o Doce, que tomou as rédeas do processo de
ordenamento jurídico abre possibilidades reparação depois das primeiras reuniões
nesse sentido. com a Samarco.
• Penalização de porta giratória: por exem-
• Reparação deve ser integral e com direito
plo, a legislação espanhola estabelece qua-
à memória: como ir além das reivindica-
rentena (10 anos) para ofertas de empre-
ções, além da moradia, território e traba-
gos a executivos e agentes públicos e há
lho?
um comitê de transparência. Implemen-
tação de multas e penalidades para rein- • Gratuidade do processo de acesso à justiça.
serção do agente no setor público.
• Diferenciação empresa x Estado: no
Reparação processo de reparação, definir qual é a
responsabilidade do Estado e qual é a da
• A construção da reparação deve ser co-
empresa.
letiva e territorializada, sem intervenção
da empresa e com participação garanti- • Garantia de não repetição: deve ser vin-
da: ferramentas de reparação devem ser culante e estar em qualquer processo de
construídas e praticadas de forma cole- reparação.
tiva e territorializada, sem a intervenção
da empresa, com garantia de participação • Romper assimetrias de poder: não reco-
concreta da sociedade civil e atingidos e nhecimento das empresas como ator polí-
atingidas. Só a participação concreta da tico nos processos de negociação (caso do
comunidade pode garantir que a repara- Rio Doce).
ção contemple todas as dimensões do im-
pacto – material, patrimonial, simbólica. • Inversão do ônus da prova: cabe às em-
Processo de reparação como forma de for- presas provarem quem causou o dano –
talecer a organização da comunidade. já que têm acesso a técnicas de análises,
procedimentos jurídicos, laboratório de
• “Nada sobre nós, sem nós”: as comunida- universidades etc.
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• Como concretizar essa política: seria um estrangeiras que lidam com empresas bra-
instrumento normativo? Criação de um sileiras >> disponibilizar e compartilhar
Comitê especial com tribunal e poder pacote legislativo para os outros países sa-
de jurisdição? Autarquia federal? Há su- berem a que leis as empresas estrangeiras
gestão para que seja um comitê com tri- estão submetidas.
bunal, com eleição por processo público,
com uma superintendência e secretaria- • Banco Mundial e IFC: aproximação e
-executiva + conselho da sociedade civil. diálogo/debate.
Observatório dos povos: nomear em- • Contribuição Draft Zero: o GT deve fa-
presas e dados de vários países para cons- cilitar para que conteúdos/recomendações
truir um panorama das violações. que saíram durante o seminário cheguem
aos participantes e às bases >> GT Cor-
Compartilhar informações sobre polí- porações pode fazer um texto sobre a im-
ticas e direitos no Brasil com organizações portância do Brasil participar do Tratado
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Autores Responsável
Friedrich-Ebert-Stiftung (FES)
A Fundação Friedrich Ebert é uma instituição alemã sem fins lucrativos, fundada em 1925. Leva o
nome de Friedrich Ebert, primeiro presidente democraticamente eleito da Alemanha, e está com-
prometida com o ideário da Democracia Social. No Brasil a FES atua desde 1976. Os objetivos de
sua atuação são a consolidação e o aprofundamento da democracia, o fomento de uma economia
ambientalmente e socialmente sustentável, o fortalecimento de políticas orientadas na inclusão e
justiça social e o apoio de políticas de paz e segurança democrática.