Você está na página 1de 2

Rafaela Radaelli Righi

O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NA POLÍTICA DEMOCRÁTICA


KOERNER, A. O papel dos direitos humanos na política democrática: uma análise
preliminar. Rev. bras. Ci. Soc. 18 (53). Out 2003. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0102-69092003000300009>. Acesso em 03 ago. 2018.
RESUMO DO ARTIGO:
O artigo busca explorar as mudanças dos direitos humanos no período de 1990
aos anos 2000 resultante da atuação de instituições e organizações internacionais; e a
crítica relativa ao direito estatal e os direitos constitucionais, sendo esses considerados
suficientes no estatismo, ou seja, capacitando a pirâmide normativa de garantir e validar
esses direitos aos cidadãos de determinado estado.
Os direitos humanos passaram a ser pauta ascendente principalmente após a
assembleia geral da ONU adotar a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, em
1948, após as catástrofes contra a humanidade, na Segunda Guerra Mundial. Desde
então, houveram conferências e discussões mais relevantes ao tema. Foi na década de
1990 que a globalização abriu portas econômicas e políticas sociais de caráter
participativo (não normativo, como os direitos constitucionais de um estado) entre
países, os quais desenvolveram políticas para a manutenção e conservação do bem-
estar e da dignidade social mundial. A conferência de Viena, em 1993, reafirmou o
sujeito como o centro da sociedade, para que o estado trabalhasse em função do
mesmo e não o contrário, vinculando a democracia e o desenvolvimento humano aos
direitos humanos; e também reconheceu a legitimidade da importância internacional na
garantia dos direitos humanos dentro dos diversos estados. Então, foram criados
programas de proteção e promoção aos direitos humanos, com planos de
implementação e suplementação, com o objetivo de auxiliar os estados em suas
funções. O Brasil ratificou essas políticas internacionais, ampliando a institucionalidade
dos direitos humanos no país, aderindo à conceitos e atitudes globalistas,
principalmente na sua maior atuação nas conferências da ONU.
Os direitos humanos, antes classificados entre dois eixos (de ordem política e de
concepção do direito), obtiveram novos quatro tipos empíricos: globalistas, estatistas,
contextualistas e translocalistas. A partir da perspectiva estatista, os direitos humanos
são os mesmos enunciados nos direitos fundamentais da constituição e na pirâmide
normativa do estado, tendo o mesmo como principal atuante e responsável pela garantia
dos direitos, visto que os acordos internacionais e seus adeptos não têm condições de
punir o descumprimento praticado pelos mesmos. Traduz-se que os direitos humanos
resultantes de políticas globais não obteriam um caráter obrigatório, e, portanto, seriam
autônomos em relação aos interesses do estado, ou seja, a implementação dos direitos
cabe exclusivamente ao estado. Assim, os direitos humanos passam a ser ferramentas
para o funcionamento de um estado democrático de direito.
Na discussão perante às ambas perspectivas, globalista e estatalista, tem-se
como críticas que a primeira necessita de um caráter mandatório, por conseguinte a
segunda não é capaz de assegurar direitos de um cidadão, visto que a maioria das
vezes é o próprio estado que viola os mesmos. Há a relação lógica dos direitos
constitucionais e humanos, porém o direito internacional limita a soberania do estado
em relação à sua atuação. O estado, porém, deve adentrar um regime internacional e
aderir a essas relações de livre espontânea vontade. Os direitos humanos são frutos de
lutas e reinvindicações, até que sejam atendidas e reconhecidas por autoridades legais,
o que não compactua com a forma de pirâmide normativa, que restringi os direitos aos
Rafaela Radaelli Righi

constitucionais, inserindo esses direitos no campo estatal e colocando-os em segundo


plano.
A globalização e internacionalização dos direitos humanos traz à tona a
pluralidade e complexidade jurídica, levando em consideração não apenas uma
pirâmide, mas sim uma rede interligada atenta à deliberação proveniente da democracia
exercida. Esse novo modelo a ser discutido, evidencia uma indefinição de
responsabilidade e o dever atribuído a um agente, que tem os direitos humanos como
obrigações a serem cumpridas. Esses agentes responsáveis seriam coletivos, de
âmbito nacional e internacional, todos com o objetivo de criação, validação e proteção
dos direitos resultantes de discussões e resoluções de conflitos e problemas sociais.
Embora os direitos humanos compactuem com os constitucionais, eles têm um
papel maior do que ferramenta política, mas sim das manifestações sociais e
necessidades de uma população, seja das minorias ou maiorias. A violação dos direitos
é controlada, pois os acordos e grupos internacionais interferem no estado, não
existindo assim apenas uma vertente de opinião. O modelo piramidal não deve ser
modelo de interpretação de direitos humanos, mas sim, ferramenta de observação das
mudanças acontecidas, estas graças somente a mobilização e lutas da sociedade.

Você também pode gostar