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Teoria das RI I

Diego

➔ Escola Inglesa

Autores:
● Martin Wight (1913-1972)
● Hedley Bull (1932-1985)
● Adam Watson (1914-2007)
● Andrew Hurrell
Antecedentes:
● Hugo Grocius (importância de instituições)
● Immanuel Kant (causas humanitárias)
Premissas metateóricas:
● Igual ao realismo clássico (interpretativismo)

"O SI moderno reflete os três elementos dos pensamentos hobbesiano (a guerra e a disputa de
poder), kantiano (o conflito e a solidariedade transnacional, superando as fronteiras dos
estados) e grociana (a cooperação e o intercâmbio regulado)"

● Sistema Internacional (interações entre Estados e impactos recíprocos – não presume a


existência de normas, a Guerra pode ser constante) - ordem
● Ordem Internacional (existem objetivos comuns reconhecidos)
● Sociedade Internacional (valores e instituições comuns)
● Sociedade Cosmopolita Mundial (fim do sistema de Estados – paz → possível

utopia) + ordem

Sistemas Internacionais (Watson)


● Independências
○ Cada Estado rege as suas próprias políticas interna e externa.
● Hegemonia
○ Um ou mais Estados determinam a política externa dos demais Estados.
● Domínio
○ Um Estado determina políticas internas de outros, sendo estes independentes.
● Império
○ Um Estado governa outros a partir do centro imperial (metrópole).

Multilateralismo
● Principais Conferências de Paz
○ Vestefália (1648) = fim da Guerra de 30 anos.
○ Viena (1815) = estabelece a diplomacia pós guerras napoleônicas.
○ Versalhes (1919) = fim das cláusulas secretas e Liga das Nações.
○ São Francisco (1945) = cria-se a ONU
● Número de OIs: 266 (dado de 2014)
● Número de OINGs: 8626 (dado de 2014)
● Número de Tratados multilaterais: 560 (em 2021)

Bull: A sociedade Anárquica

➔ O conceito de ordem na política mundial

A ordem na vida social:


◆ Uma estrutura de conduta que leve a um resultado particular, um arranjo da
vida social que promove determinadas metas ou valores:
1. Garantir que a vida seja protegida de alguma forma contra a violência
que leve os indivíduos à morte ou produza danos corporais;
2. Garantir que as promessas feitas sejam cumpridas, e que os acordos
ajustados sejam implementados.
3. Garantir que a posse das coisas seja em certa medida estável, sem estar
sujeita a desafios constantes e ilimitados.
◆ Não se sugere que esses três valores básicos – universais e elementares – de
toda vida social - algumas vezes chamados de vida, verdade e propriedade -

representam uma lista completa das metas comuns a todas as sociedades, ou

que o termo "ordem" só possa ter um conteúdo significativo com relação a

eles. No entanto, esses valores precisam certamente ser incluídos em

qualquer lista dessas metas e, por outro lado, eles ilustram bem a ideia do

que é um objetivo básico → se em certa medida essas metas não forem


alcançadas não poderemos falar na existência de uma sociedade, ou de vida

social;
■ Pode haver desacordo sobre se determinado conjunto de disposições
sociais incorpora uma ordem, e se sistemas políticos e sociais que
conflitam entre si podem todos incorporar uma ordem.
◆ Ordem regras e leis: em princípio a ordem pode existir na vida social sem a
necessidade de regras, sendo melhor considerar estas últimas como um meio
bastante difundido, quase ubíquo, de criar ordem na sociedade humana, e não
como parte da própria definição dessa ordem.
◆ Ordem e leis científicas: existe uma associação estreita entre a ordem social

e a conformidade da conduta com leis científicas que permitem prever o

comportamento futuro → padrões regulares de conduta se tornam

conhecidos; são formulados como leis abrangentes e proporcionam uma

base para as expectativas para o futuro.


■ Os traços recorrentes das guerras, conflitos civis e revoluções
demonstram a possibilidade de encontrar nas condutas sociais marcadas
pela desordem uma conformidade com as leis científicas.

A ordem Internacional:
◆ Por "ordem internacional" refere-se a um padrão de atividade que sustenta os
objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade
internacional.
◆ Para melhor entendimento deve-se conceituar:
● "estados": comunidades politicas independentes, cada uma das quais
possui um governo e afirma a sua soberania com relação a uma parte

da superfície terrestre e a um segmento da população humana →

possuem e exercem soberania interna e externa – tanto no nível


normativo quanto no factual: supremacia interna (sobre todas as demais
autoridades dentro daquele território e com respeito a sua população) e
independência externa (consiste não na supremacia, mas na
independência com respeito às autoridades externas).
○ Deve-se de fato exercer tal soberania para ser considerado
propriamente um Estado.
● "sistema de estados" ou sistema internacional: quando dois ou mais
estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto
recíproco nas suas decisões – o comportamento de um deles passa a ser
um fator necessário nos cálculos dos outros – de tal forma que se
conduzam, pelo menos até certo ponto, como partes de um todo.
○ A interação dos estados pode ser direta (quando são vizinhos,
parceiros ou competem pelo mesmo fim) ou indireta (em
consequência do relacionamento de cada um com um terceiro),
ou simplesmente pelo impacto deles sobre o sistema.
● Martin Wight: o que distingue um "sistema de estados suseranos",
como o chinês, de um "sistema internacional de estados" (onde há
sempre um estado exercendo poder hegemônico) é o fato de que no
primeiro caso a hegemonia é permanente e, em termos práticos,
indisputável, enquanto no segundo a situação de hegemonia passa de
uma potência para outra, sendo objeto de constante disputa.
○ Para Bull, só o que Wight chama de "sistema internacional de
estados" é um sistema de estados, já que este pressupõe a
existência de dois ou mais estados soberanos.
● "sociedade de estados" ou sociedade internacional: um grupo de

estados, conscientes de certos valores e interesses comuns, formam

uma sociedade, no sentido de se considerarem ligados, no seu

relacionamento, por um conjunto comum de regras, e participam de

instituições comuns → respeitar a independência de cada um, honrar

os acordos e limitar o uso recíproco da força.


○ Nesta acepção, uma sociedade internacional pressupõe um
sistema internacional, mas pode haver um sistema internacional
que não seja uma sociedade.
◆ Os objetivos da sociedade internacional:
1. A preservação do próprio sistema e da sociedade de estados. A
sociedade dos estados tem procurado garantir que ela continuará a ser a
forma predominante da organização política mundial, de fato e de
direito.
2. Manter a independência ou a soberania externa dos estados

individuais → o que se almeja, ao participar da sociedade dos estados,

é o reconhecimento da sua independência com relação à autoridade

externa, e especialmente o reconhecimento da jurisdição suprema

que tem sobre o seu território e população. O preço a ser pago por

isso é admitir iguais direitos à independência e à soberania por parte

dos outros estados.


3. A manutenção da paz: que a ausência da guerra entre os estados-
membros da sociedade internacional seja a situação normal do seu
relacionamento, rompida apenas em circunstâncias especiais, segundo
princípios geralmente aceitos.

A ordem Mundial:
◆ Por "ordem mundial" entendemos os padrões ou disposições da atividade
humana que sustentam os objetivos elementares ou primários da vida social na
humanidade considerada em seu conjunto.

➔ Idealismo
É um corpo de ideias para transformar a realidade, não uma teoria
Autores de referência histórica:
○ Marsílio de Pádua (1285-1343)
■ Proposta de governo mundial → não necessariamente composto de

democracias
■ Precisava de um Estado/governo forte
■ União através de uma fé comum católica
○ Immanuel Kant (1724-1804)
■ Proposta de sociedade mundial/ cosmopolita → conjunto de
repúblicas
■ Resolver os conflitos internacionais de forma jurídica em prol da paz
■ Proposta de república → Oposição ao absolutismo → República
diferente de democracia (poder do cidadão).
● Direito das gentes – premissa no I. Romano. Precede a ideia de
Direito Internacional
Premissas metateóricas:
○ Filosóficas= a razão humana é capaz de mudar o mundo.
○ Ahistóricas= ignoram o mapa político, o contexto e as trajetórias históricas.
○ Normativas= procurar colocar uma opinião para melhorar a realidade →

dever-ser.

Primeiro Grande Debate das RI

Idealismo Realismo

Estabelece como padrão ético para Estuda a realidade (história)


tentar mudar a política
Objetividade= descrever o mundo isento de sua
Negação da realidade subjetividade (ideais)

Normatividade utópica Ver o mundo como ele é.

➔ Realismo – tronco realista

Antecedentes teóricos
○ Tucídides (“Guerra do Peloponeso”)
○ Nicolau Maquiavel (“O Príncipe”)
○ Thomas Hobbes (“Leviatã”)
○ Carl Von Clausewitz (“Da Guerra”)
Autores do realismo clássico nas Relações Internacionais:
○ E. Carr.
○ H. Morgenthau

Conceito e lógica do realismo:

Teoria do Equilíbrio de Poder

● O equilíbrio de poder surge quando existe uma paridade ou


estabilidade entre forças competitivas;
● Impedir um único Estado de tornar-se forte o suficiente para
impor a sua vontade sobre os demais Estados;
● Hegemonia → Coalisões anti-hegemônicas.

➔ Neorrealismo (Realismo Estrutural)


● Autores: Waltz e Mearsheimer
● Premissas comuns (atores, sistema, dinâmicas):
○ Os Estados são os únicos atores internacionais e comportam-se como
atores racionais
○ Sistema Internacional anárquico induz ao conflito
○ A estrutura internacional determina o comportamento e as interações
entre os Estados

Neorrealismo de Waltz
Metateoria: níveis de análise
● "Imagens" (K. Waltz)
○ Individual: a premissa metodológica e o foco no nível de

análise individual → a resposta para o comportamento dos

Estados está no comportamento do ser humano.

COMPORTAMENTO INDIVIDUAL

○ Estatal ou societal: o comportamento humano adéqua-se às

condições com qual estes estão submetidos. A guerra é

travada em nome do Estado e, portanto, a resposta para

compreender a guerra está na organização interna dos

Estados → liberais (teoria da paz democrática), marxistas, etc.

COMPORTAMENTO DOS ESTADOS

○ Sistêmica ou estrutural: procura nas características do sistema


internacional a causa para a guerra. O sistema internacional é
anárquico e composto por unidades políticas, que ocupam
diferentes posições em relação ao poder mundial; essas posições
que moldam a estrutura da guerra (neorrealistas; principalmente
poder militar). PODER
■ Alinhamento: há uma negociação com trocas de
interesses.
■ Balanceamento externo: há uma aliança ou coalizão;
Estados se unem para enfrentar a potência.
■ Balanceamento interno: há um investimento interno que
estimule o aumento do poder, como, por exemplo, o
investimento em armamentos.

Distribuição de capacidades
● Hierarquia de poder
○ Poder das potências (em termos relativos não absolutos)
■ Grandes
■ Médias
■ Regionais
■ Menores

Metateoria do Neorrealismo
● Metateoria: ontologia, metodologia e epistemologia
● Epistemologia do Neorrealismo: positivismo behaviorista
○ Behaviorismo: perspectiva que tenta tornar científico o estudo
das RI, enfatiza estudos empíricos e formas quantitativas de
mediação, evita interpretações subjetivas da realidade.

Sobre o Estado "unitário"


● Unitário é uma característica atribuída a um ator que é considerado
coeso, orgânico, considera-se o ator como um todo, em detrimento da
análise das partes que o compõem.
○ Neorrealistas: para explicar o comportamento de Estados e
suas interações, considera-se o Estado como ator unitário
(uma "bola de bilhar"), ignorando atores (líderes políticos,
empresas) e características domésticas (regime de governo,
sistema econômico).
Sobre o Estado "ator racional"
● Racional é a característica atribuída ao comportamento de um ator que
hierarquiza preferências e maximiza sua utilidade (diminui custos,
aumenta ganhos);
● Pressuposto de que um ator age orientado pela razão, não por outras
motivações;
● Neorrealistas: Estado é um ator racional que também maximiza sua
utilidade, mas medida em termos de poder.

Estrutura Internacional – conjunto de incentivos e constrangimentos


● Princípio ordenador – anarquia ou hierarquia → não haverá um ente

superior regulador; quase constante;

● Função das unidades – não diferenciação funcional ou diferenciação

funcional (há a divisão de funções de acordo com as especialidades

dos Estados) → haverá a competição entre os Estados; quase

constante;
● Distribuição das capacidades – sobre a polaridade, a concentração de
poder – quando há uma ou mais superpotências que se destoam das
demais, há a possibilidade de mudança.

Efeitos da Estrutura nos Estados


○ Dinâmicas que moldam o comportamento estatal:
■ Competição
■ Socialização
○ Socialização:
■ Processo de interação sistêmica em que as unidades se
definem e se comportam em função umas das outras.
○ Tal estrutura gera incentivos e constrangimentos estruturais
para que as unidades se comportem de determinada maneira –
para um Estado poderoso a expansão e para um menos poderoso
o receio em iniciar um conflito.
Estratégias de sobrevivência
● Opções estratégicas dos Estados:
○ Obediência (complience),
○ Alinhamento (bandwagoning)
■ Estados de menor poder relativo buscam “bandear-se ao
lado mais forte”
○ Balanceamento (balancing) – participar do equilíbrio de poder,
de esforços para parar uma potência econômica.
■ Balanceamento externo: aliança antihegemônica
(equilíbrio de poder).
■ Balanceamento interno: autoajuda, aumento das
capacidades próprias.

Segundo Grande Debate das RI


● Tradicionalismo (interpretativismo - inclui realismo clássico e escola inglesa)
○ Premissas filosóficas;
○ Método histórico (estudar o contexto histórico de cada época para entender o
comportamento dos Estados e a lógica dos cálculos dos líderes políticos e das
grandes potências);
○ Interpretação histórica (subjetivo – interpretado pelo indivíduo, empático –
coloca-se no lugar do outro);
○ Indutivismo.
● Positivismo ("cientistas")
○ Ciência - criar um conjunto de pretextos básicos, identificando padrões e
variáveis;
○ Método científico;
○ Behaviorismo (quantificação, modelos);
○ Dedutivismo.
Relacionamentos Multilaterais na Unipolaridade – Uma Discussão Teórica
Realista: Eugenio Diniz sobre Mearsheimer

● Realismo ofensivo:
○ A tragédia das grandes potências é quando elas sobre esticam/sobre
estendem seu poder e acabam gastando e exigindo mais de suas
estruturas econômicas e militares do que é possível sustentar – a
proatividade se torna insustentável.
■ As potências têm um comportamento ofensivo e ambicioso,
querendo sempre aumentar seu poder relativo em relação às
outras potências; quer se tornar hegemônica, primeiro no âmbito
regional, e então, impedir que outras potências surjam em outras
regiões;
○ Assim como para os realistas clássicos, para os realistas ofensivos,
segundo Mearsheimer (2001), a estrutura internacional gera incentivos
para obter poder às custas dos demais; potências satisfeitas (status quo
powers) são raras: maximizar seu poder relativo é a maneira ótima de
maximizar sua segurança. A sobrevivência determina o comportamento
agressivo.
○ “A situação ideal é ser o hegêmona do sistema” → mas é muito difícil,

por causa do fator principal: o poder parador da água (stopping power


of water) – dualidade pré-condição/impedimento às pretensões
hegemônicas de um país; a existência de grandes corpos de água a
serem transpostos apresentam um aumento significativo nos custos de
projeção de poder de determinado estado.
■ PODER CONCRETO: poder militar, principalmente forças
terrestres (exércitos), pois a capacidade de ocupar e controlar
efetivamente um território depende destas, as demais forças
apoiam e viabilizam o deslocamento e a projeção das forças
terrestres.
■ PODER POTENCIAL: derivado das dimensões econômica,
territoriais e demográficas de um Estado, ou seja, a capacidade
de sustentar as forças armadas no tempo e no espaço –
possibilita a manutenção do poder concreto.
○ Unipolaridade não significa hegemonia global, mas situação em que
uma só grande potência alcançou o status de hegêmona regional
■ A visão de Mearsheimer se aproxima mais da realidade que a de
Waltz, já que ele considera mais os fatores geográficos e as
potenciais dificuldades do comportamento hegemônico,
analisando primeiro as relações regionais para depois analisar as
mundiais – a ideia de hegemonia mundial é mais difícil de ser
alcançada do que a de regional.

Estrutura internacional

Premissas da estrutura internacional

Comportamento de grande potência


Interesses de grande potência

O que inibe uma ação ofensiva?


● Os custos de uma agressão contra uma potência superam os
benefícios, mesmo em caso de vitória militar?
● É mais sensato e prudente esperar um momento mais propício
para efetuar uma ação ofensiva?
● Estou superestimando a minha própria força ou subestimando a
força do inimigo? Estou certo de que informações confidenciais
não vazaram? (possível erro de cálculo e informação imperfeita)
● Conseguirei abalar a determinação (resolve) do inimigo?
(dificuldade de calcular determinação de potências rivais)

Como aferir o poder parador da água?


■ Grandes custos econômicos;
■ Intenso volume de recursos tecnológicos, logísticos e militares
transferidos das forças terrestres para forças navais –
transferência de recursos de uma força para outra
■ Alto risco de grandes perdas humanas em desembarques;
■ Diminuição da capacidade de defesa do território nacional.
● Estabilidade = menor tensão; ausência de guerra entre grandes potências;
● Balanceamento → interno ou externo;
● Transferir os riscos e custos (buckpassing) – se abster do balanceamento;
transferir a responsabilidade de conter uma potência que pode se tornar
hegemônica para outros Estados.
○ Quando se há mais atores, a probabilidade de se transferir a
responsabilidade é maior.
● Na multipolaridade desequilibrada, a grande potência que está sendo contida
oferece benefícios, premia defectores, para os Estados, evitando que eles se
juntem a uma coalizão.

➔ Realismo Neoclássico
◆ Autores: R. Jervis, G. Rose, W. Wohlforth, F. Zakaria
◆ Premissas (atores, sistema, dinâmicas):
● Os Estados são os únicos atores internacionais;
● Sistema internacional anárquico induz ao conflito;
● A estrutura internacional determina o escopo e a ambição dos Estados e
influencia a política externa (PE) destes – alguns fatores limitam essa
ambição. Ex: geografia, demografia, capacidades materiais, etc.;
● Fatores domésticos (incluindo variáveis cognitivas) determinam a PE.
**Dilema de segurança: toda capacidade material tem uma característica dual
– tudo que serve para defesa também pode servir para o ataque.
Rose:
● Incorpora variáveis externas e internas, atualizando e sistematizando algumas
visões extraídas do pensamento realista clássico;
● O escopo e ambição da política externa de um país é impulsionado por seu
lugar no sistema internacional e, especificamente, por suas capacidades
relativas de poder material, mas o impacto de tais capacidades sobre a política
externa é indireto e complexo – existem diferenças concepções sobre a própria
posição de um Estado na hierarquia;
○ As escolhas de política externa são feitas por líderes políticos reais e
elites e, portanto, são suas percepções de poder relativo que importam –
esses líderes e elites nem sempre têm total liberdade para extrair e
direcionar os recursos nacionais como desejam.
● Portanto, entender os vínculos entre poder e política requer um exame
minucioso da contextos em que as políticas externas são formuladas e
implementadas.

● Variáveis independentes: fatos que explicam o comportamento do Estado;


● Para os realistas neoclássicos acrescentam-se os fatores domésticos (variável
interveniente)

Quatro teorias de Política Externa


● As fontes da PE: política doméstica – innenpolitik: fatores internos,
como ideologia política e econômica, caráter nacional, política
partidária ou estrutura socioeconômica, determinam como países se
comportam em relação ao mundo além de suas fronteiras;
● Fatores domésticos influenciam o modo como os incentivos e os
constrangimentos estruturais são percebidos pelos formuladores da PE.
○ O principal problema: têm dificuldade em explicar por que os
Estados com semelhantes sistemas internos muitas vezes agem
de forma diferente na esfera da política externa e Estados
diferentes em situações semelhantes geralmente agem da
mesma forma.
○ Alguns estudiosos fundamentados no modelo neorrealista
procuraram evitar esse problema aplicando esse modelo ao
comportamento do estado individual, bem como aos resultados
internacionais:

1. Realismo ofensivo
○ Assume que a anarquia internacional é geralmente Hobbesiana
– que além de situações de bipolaridade ou dissuasão nuclear, a
segurança é escassa e os Estados tentam alcançá-la
maximizando suas vantagens relativas;
○ Estados estão inclinados a tomarem ações que levam ao conflito
devido às pressões do sistema internacional, que são mais fortes
que os fatores internos – Estados nervosos disputando uma
posição dentro da estrutura de uma dada configuração de poder
sistêmico;
○ Para entender porque um Estado está se comportando de uma
determinada maneira, deve-se examinar suas capacidades
relativas e seu ambiente externo.

2. Realismo defensivo
○ Assume que a anarquia internacional costuma ser mais benigna,
ou seja, que a segurança costuma ser abundante em vez de
escassa – estados normais podem entender isso ou aprender com
o tempo por experiência;
○ Em caso de ameaça à segurança, os Estados geralmente
respondem em tempo hábil "equilibrando" contra o ameaçador,
o que o dissuade e evita a necessidade de um conflito real.
○ A “conduta natural” agressiva é motivada pela natureza
anárquica do SI, já que, em realidade, esse comportamento é
não natural e só ocorre quando há tecnologia militar ou alguns
outros fatores que fornecem incentivos claros para atacar
primeiro.

➢ As teorias sistêmicas puras (realismo ofensivo e defensivo) enfrentam a


anomalia inversa da Innenpolitik: Estados em posições estruturais
semelhantes nem sempre agem da mesma forma.
➢ O realismo neoclássico desafia elementos importantes de todas essas
três perspectivas:
■ As teorias da Innenpolitik são equivocadas, porque se existe
algum fator único e dominante moldando o amplo padrão de
política internacional das nações é seu relativo poder material
vis-à-vis o resto do sistema internacional.
■ O realismo defensivo é equivocado por uma razão semelhante,
porque sua ênfase nas respostas dos países às ameaças
negligencia o fato de que as percepções de ameaça de alguém
são parcialmente moldadas por seu poder material relativo.

➔ Liberalismo, Funcionalismo e Neofuncionalismo


Vigevani: O papel da integração regional para o Brasil: universalismo, soberania
e percepção das elites
● Parece haver tensão entre necessidades estruturais da integração e atitudes e
posições de importantes atores sociais e governamentais, não apenas da
diplomacia.
○ A origem está nas atitudes de parte das elites e de grupos de interesse
que contribuem para formar a vontade do Estado.
● Há dois conceitos muito importantes na formulação da política externa,
que, enraizados na sociedade e no Estado, confluem para a construção de uma
visão de inserção regional que dificulta o aprofundamento do Mercosul:
○ Autonomia:
■ Sendo a autonomia objetivo de qualquer Estado-nação, ela tem
características que se adaptam ao longo do tempo – admite
diferentes abordagens em função da configuração de um
determinado período histórico, bem como das visões de mundo
da população e das elites.
■ “As expressões do que é autonomia variam histórica e
espacialmente, variam segundo interesses e posições de poder”
(FONSECA Jr.,1998: 361).
○ Universalismo:
■ Na percepção de alguns dos formuladores de política exterior,
está associado às próprias características geográficas, étnicas e
culturais do país.
■ Representaria, segundo Lafer (2004), a pluralidade dos
interesses do Estado e da sociedade, as afinidades históricas e
políticas, simbolizaria a preocupação em diversificar ao
máximo as relações externas do país, pluralizar, ampliar, dilatar
os canais de diálogo com o mundo.
● Em meados dos anos 80, quando a política brasileira
empreendeu o caminho do estreitamento das relações
com a Argentina, a ideia do universalismo não foi
abandonada, mas ganhou novo significado. Houve a
tentativa de entrelaçar interesse nacional com interesse
regional do Cone Sul.
● Há razões objetivas para explicar as dificuldades havidas ao longo de vinte
anos:
○ Uma refere-se ao desafio de integrar países em desenvolvimento, com
significativas assimetrias, com baixo grau de interdependência e com
tradição de instabilidade macroeconômica.

Liberais
● Antecedentes: barão de Montesquieu, Hugo Grotius, Immanuel Kant, Jeremy
Bentham, John Stuart Mill;
Barão de Montesquieu
● Espírito das Leis – uma divisão de poderes, uma estrutura de
governança que viabilize a resolução de controvérsias; auxilia
no entendimento sobre o funcionamento da democracia
moderna.
Hugo Grotius:
● Mare Liberum – livre navegação;
● Direito Internacional Humanitário.
Immanuel Kant:
● Republicanismo;
● Livre-comércio;
● Direito Cosmopolita e paz perpétua.
● Autores: funcionalistas e neofuncionalistas.

➔ Teorias Liberais e Neoliberais


Premissas:
Há guerra, mas também há uma sociedade internacional, organizações
internacionais, interdependência econômica;
Há Estados, mas também outros atores – pluralistas;
Dinâmicas domésticas influenciam o comportamento internacional
dos Estados (organização política, econômica, opinião pública, grupos
políticos);
Há uma relação inerente entre razão e paz – base filosófica em Kant:
não existe uma ordem natural das coisas (guerra de todos contra todos,
etc.), a razão humana é capaz de alterar a realidade social;
● Racionalidade é característica básica da humanidade e permite a
transformação de relações sociais e viabiliza o progresso;
Transformações:
● Aumento de fluxos comerciais;
● A disseminação de democracias;
● A construção de instituições internacionais (direito, arbitragem,
negociação, segurança coletiva).
Meios de controlar o exercício do poder:
● Domesticamente
○ Instituições democráticas.
● Internacionalmente
○ Direito e OIs que limitam o uso do poder dos Estados.
● Afinal…
O que é processo de democratização?
O que é interdependência, por exemplo, econômica?
O que são instituições internacionais?
● Instituições Internacionais
Organizações Internacionais;
Regimes Internacionais;
Fóruns, grupos, coalizões;
● Princípios, tratados e costumes.
● Atores internacionais
Neoliberalismo
“As guerras maiores tornaram-se menos prováveis depois do fim da Guerra
Fria, mas os conflitos regionais e internos persistem e sempre haverá
pressões para que outros estados e instituições internacionais intervenham. Dos
116 conflitos que ocorreram entre o fim da Guerra Fria e o início do novo
século, 89 foram puramente intraestatais (guerras civis) e outros 20 foram
interestatais com intervenção estrangeira. Mais de 80 protagonistas estatais
estiveram envolvidos, assim como duas organizações regionais e mais de 200
partidos não-governamentais.” (NYE, 2009, p. 197)
● Autores: Robert Keohane, Joseph Nye
● Argumento principal: as teorias realistas não explicam mais boa parte da
realidade internacional, porque instituições, a democratização e a
interdependência têm mudado o mundo. O modelo analítico da
interdependência complexa descreve melhor as relações entre boa parte
dos países.
● Não existe hierarquia entre as agendas;
○ A agenda da low politics, dos assuntos ambientais, sociais, etc; deve ser
tratada com a mesma importância do que a agenda da segurança, por
exemplo.
● Interdependência Complexa
○ Tipo ideal antirrealista:
■ Estados não são os únicos atores;
■ Força não é o único instrumento;
■ Segurança não é a meta dominante.
● Interdependência
○ Refere-se a situações nas quais os protagonistas em diferentes partes

de um sistema se afetam reciprocamente e os acontecimentos em

diferentes partes do mundo também → consideram-se outros atores

nos cálculos de um ator;


○ Pode ser bilateral (entre dois países), regional ou global;
■ a globalização é o subconjunto da interdependência que implica
distâncias mundiais (intercontinentais, transoceânicas).
● Interdependência: não é simetria
○ “Simetria refere-se a situações de dependência relativamente
equilibrada versus desequilibrada. Ser menos dependente pode ser uma
fonte de poder (...) Manipular as assimetrias da interdependência pode
ser uma fonte de poder na política internacional” (NYE, 2009, p. 256)
○ Entre dois países, aquele que é menos dependente é mais forte.
○ Menos dependente =
■ Menos sensível
■ Menos vulnerável
● Sensibilidade – impactos sofridos
○ Sensibilidade: suscetibilidade (fragilidade) de um país a mudanças;
○ Baixa sensibilidade à interdependência implica poder a curto prazo;
○ O menos sensível é o que sofreria menos (teria custos menores) com
mudanças;
○ Depende menos de recursos de outros.
● Vulnerabilidade – capacidade de readaptação
○ Vulnerabilidade: (in)capacidade de um país de reagir rapidamente a
mudanças;
○ Baixa vulnerabilidade à interdependência implica poder a longo prazo;
○ O menos vulnerável é o que teria custos menores para adaptar-se e
superar a situação que inicialmente o afetou;
■ Conseguiria substitutos (dentro ou fora do país) aos recursos
dos quais dependia.
● Questões selecionadas:
○ Quais são os principais tipos de globalização? A globalização é um
processo irreversível? Em que a globalização contemporânea é
diferente dos períodos de globalização no passado?
○ O que é interdependência complexa? Ela é um modelo descritivo?
Onde encontramos a interdependência complexa mais desenvolvida
atualmente?
○ O que torna a interdependência econômica uma fonte de poder? Quais
as diferenças entre sensibilidade e vulnerabilidade?
● Neoliberalismo
○ Cooperação não requer harmonia de interesses;
○ Estados são atores racionais movidos pelo autointeresse;
○ Estados buscam ganhos absolutos.
■ “não interessa se um acordo gera ganhos desiguais, o que
importa é que sem o acordo o Estado estaria em situação pior”
○ Conflito, Cooperação e Harmonia
■ Através da negociação o conflito torna-se cooperação, para isso
a harmonia não é necessariamente necessária.
● O que é cooperação?
○ O que é? O ajuste que fazem atores em seu próprio comportamento em
relação às preferências (reais ou previstas) de outros atores.
○ Como ocorre? Por meio de um processo de coordenação política.
○ Por que? Para alcançar objetivos comuns e ganhos recíprocos.
● Harmonia? Idealismo?
○ A cooperação não requer que haja ganhos simétricos, isso depende das
condições em que ocorre a cooperação..
○ Condições em que ocorre cooperação:
■ Negociação: processo explícito de barganha;
■ Imposição: parte mais forte força a mudança em políticas da
mais fraca, mas a parte mais forte também ajusta as suas
próprias políticas.
● Neoliberalismo institucionalista
○ Qual é o efeito das instituições sobre as RI?
○ Diminuem custos de transação;
■ Facilitam a conclusão, o monitoramento e a execução de
acordos;
○ Diminuem a incerteza, ao promoverem a transparência e o
estabelecimento de conexões (linkages) entre diversas questões da
agenda internacional ao longo do tempo;
○ Diminuem o medo da trapaça, ao fazer informações circularem.
■ Ninguém quer ser conhecido como trapaceiro.
● Teoria dos jogos
○ Teoria dos jogos: a cooperação é possível? É racional cooperar?
○ Premissas: atores são racionais e egoístas, e não há um terceiro ator que
garanta o cumprimento de acordos.
○ O comportamento não-cooperativo é a escolha mais racional para um
ator?
■ Ex. Dilema do prisioneiro
● O que favorece a cooperação?
○ A repetição das interações, pois criam a “sombra do futuro”: ações do
presente são influenciadas pela noção de que a interação se repetirá,
Estados com reputação negativa terão dificuldades em serem aceitos
como parceiros.
○ Instituições, pois promovem a repetição e produzem bens públicos
coletivos (bens cujo uso por um ator não diminui o acesso de outro
ator, tais como normas, publicação de informações e mecanismos de
monitoramento e de sanções)
■ Estabelecem regras para a distribuição de ganhos e custos de
ações coletivas.
➔ Debate Neo-Neo
● Neoliberalismo e Neorrealismo compartilham as mesmas metateorias;
● O debate teórico concentra-se em torno de:
○ O comportamento do estado como ator racional;
○ Efeitos da anarquia internacional sobre o comportamento dos estados;
○ A possibilidade da cooperação ocorrer nas interações entre estados.
● Crítica neorrealista
○ O que dificulta a cooperação?
■ Risco de trapaça
● “Acordos foram feitos para serem quebrados”.
■ Risco de traição
● “O amigo de hoje pode virar o inimigo de amanhã”.
■ Risco de menor ganho relativo
● Igualdade jurídica, desigualdade política;
● Acordo entre iguais, ganhos desiguais.
● Agendas e atores
○ Neorrelistas: distinção hierárquica entre “alta política” (high politics,
dinâmicas que envolvem segurança, guerra e paz) e “baixa política”
(low politics). Estados são centrais; OIs não têm autoridade para fazer
cumprir regras normas; são instrumentos das grandes potências e só
exercem funções importantes por isso.
○ Neoliberalismo: agendas estão associadas e geram influências
recíprocas; Não há hierarquia entre a agenda ambiental, a econômica e
a da segurança internacional. Estados não são os únicos atores; as OIs
são importantes e nem sempre expressam interesses de grandes
potências; corporações transnacionais também.
● Efeitos da anarquia
○ Neorrealismo: Cada Estado age de acordo com sua posição na
distribuição de poder no mundo. Reagem ao dilema de segurança e ao
equilíbrio de poder. Adotam a estratégia de obediência, de alinhamento
ou de balanceamento.
○ Neoliberalismo: Na anarquia, também há cooperação em torno de
regimes internacionais e de organizações internacionais. O
aprofundamento da interdependência torna a cooperação ainda mais
necessária e desejável. A integração regional é uma das formas de
superar rivalidades geopolíticas.
● Meio doméstico e meio internacional
○ Neorrealismo: Pressupõem que dinâmicas domésticas não influenciam
dinâmicas internacionais. Apenas mudanças estruturais alteram o efeito
da anarquia internacional sobre o comportamento estatal.
○ Neoliberalismo: Mudanças no nível unitário alteram o efeito da
anarquia internacional sobre o comportamento e a interação de Estados.
Mais pacíficas serão as relações internacionais, se aumentarem as
relações econômicas entre nações, e se mais difundida for a
democracia-liberal.
● Cálculo racional
○ Neorrealismo: O cálculo racional dos Estados é para obter ganho de
poder relativo. A cooperação é improvável, pois depende da
perspectiva de ganho de um Estado superior ao do seu parceiro.
○ Neoliberalismo: O cálculo racional dos Estados é para obter ganhos
absolutos (militares, econômicos, sociais, etc.). Estados cooperarão
sempre que houver perspectiva de ganho absoluto, pois respondem a
pressões domésticas em prol de bem-estar e segurança.
➔ Funcionalismo e Neofuncionalismo
Premissas:
○ Integração em área específica pode transbordar para outras áreas;
○ Essa integração aumenta o apoio a instituições e incentiva a criação de
novas arenas políticas e de novas formas de autoridade – quanto mais

fluxos de pessoas, bens, serviços e capitais transitem de um país para

outro, maior será a integração e a interdependência → gera certas

demandas de protocolos comuns; atores politicamente relevantes

devem negociar tais agendas;


○ A existência de órgãos supranacionais (entidade que toma decisões
além do consenso ou acordo dos Estados – está acima da soberania
destes) eleva o nível da cooperação e da integração, trabalhando a partir
de um interesse comum que fundamenta a construção de uma nova
comunidade política.
Funcionalismo
● Autores: David Mitrany, Karl Deutsch
● Argumento principal: a cooperação em áreas menos sensíveis incentiva a

cooperação em áreas mais sensíveis, o que favorece a construção da paz →


spillover (processo de transbordamentos de cooperação de áreas menos
sensíveis para mais sensíveis);
● Premissas:
Forças políticas domésticas influenciam o comportamento internacional
do Estado;
“a forma segue a função” (a forma da organização adéqua-se à função
específica que exercerá) – cada organização tem uma função específica
e um processo decisório conforme a função que exerce;
● As lealdades políticas estariam relacionadas com a eficiência de determinada
agência, seja ela nacional ou regional.
● Para o objetivo da integração, os atores sociais e econômicos devem participar
ativamente do processo, nele interferindo a partir de determinado ponto após o
take off inicial – pressionar e convencer as elites nacionais a transferirem ou
não parcelas de soberania para a esfera regional.
Essa situação possibilitaria o aprofundamento do processo e facilitaria
sua propagação e manutenção. O incremento da ação dos atores sociais
e econômicos e das elites faria com que aumentassem as demandas
visando o gerenciamento comum de interesses, exatamente o spillover.

A cooperação, inicialmente técnica, em áreas menos sensíveis

(assuntos menos controversos e polêmicos, que não envolvem os

interesses vitais dos Estados) acaba gerando um conjunto de normas,

valores e instituições comuns; quanto mais fortes essas instituições se

tornam, mais propício é para que o processo de spillover ocorra → a

partir disso a construção de um sistema de paz é possível


● Sistema de paz:
○ Transferência de lealdade para além do Estado, dado que
a cooperação internacional promove o bem-estar da
população.
● Comunidade política
○ Surge com a administração técnica, gera aprendizado
coletivo e resulta em cooperação na arena política.
A espiral crescente de intervenção e integração para
regulamentação destes interesses constituiria o motor que
garantiria a continuidade da integração.
● Não significa necessariamente ausência de conflitos e de
dificuldades, mas transmite bem a ideia da continuidade, que
alguns, como dissemos, chamam de teoria da bicicleta.
Uma forma de medir a dinâmica da integração regional reside em
verificar se as questões relativas ao partner se tornam problemas da
própria política interna – analisar normas e regras que orientam sua
escolha.

● Questões:
A cooperação é necessária e desejada para os Estados? Por que?
● Sim,
● O avanço tecnológico e o aumento do fluxo de bens, de pessoas e de
informações geram a necessidade de coordenar diferentes ações do
Estado;
● A cooperação nessas áreas não representa ameaça frontal à
soberania dos Estados, que mantêm sua autonomia para seguir
“interesses nacionais”;
● O compartilhamento de soberanias ocorre em uma instituição,
quando se atribui a esta autoridade – a delegação ou transferência de
uma parte da jurisdição para uma instituição composta por especialistas
e técnicos;
○ Diplomatas defendem um interesse nacional, já
especialistas teriam uma identidade profissional com
colegas de outras nacionalidades, o que aponta para a
superação da lealdade individual ao Estado.

Neofuncionalismo
● Autores: Ernst Haas, Philippe Schmitter, Andrew Moravicsik.
● Críticas ao Funcionalismo:
Necessidade de politizar o debate – o funcionalismo trata os
processos como se fossem naturais, não atribuindo papel tão importante
para as relações de poder e para a negociação, porém, em realidade,
eles são processos políticos e mais complexos – deve-se entender a
política por trás dos acordos e processos de negociação;
● Não há separação entre política e cooperação funcional;
● Nem há distinção entre a esfera técnica e a política → há

sempre interesses envolvidos em questões técnicas.


● Haas reconsiderou alguns pressupostos funcionalistas, condicionando-os aos
impulsos políticos dos centros decisórios.
● A integração regional só ocorre efetivamente quando os interesses das
principais elites são atendidos – esses setores dão sustentação ao processo;
caso isso não ocorra, a tendência é o retrocesso.
Da mesma forma, a implementação de políticas que visem conter as
pressões dos grupos prejudicados pelo processo de integração são
muito importantes, visto que os grupos e as elites prejudicadas têm
grande capacidade de pressão, proporcionalmente maior que o das
beneficiadas.

● A perpectiva neofuncionalista é regionalizada → não veem a

cooperação enquanto um processo mundial; no nível regional, em

certas regiões do mundo há uma maior integração e também um

menor nível de conflito do que no nível global;


● O neofuncionalismo foca nos processos decisórios, nas medidas e
legislações, não apenas nas agências funcionais.

➔ Marxismo
Antecedentes (1840-1940):
● Pierre-Joseph Proudhon, Karl Marx,
● Friedrich Engels, Nikolai Bukharin,
● Vladimir Lênin, Rosa Luxemburgo e
● Antonio Gramsci.
Autores/teorias:
● Marxismo (Marx e Engels)
● Neomarxismo (Lênin, Immanuel Wallerstein,
● Giovanni Arrighi)
● Neogramscianos (Robert Cox)
Premissas metateóricas
● Materialismo filosófico (modo de produção)
● Materialismo histórico (dialética) – entender as relações entre o trabalho e a
produção de bens materiais ao longo da história;
● A base material, a estrutura econômica, que explica a realidade
e influência o Estado, as instituições, nacionalidades, etc.
● Objetividade e normatividade (usar a ciência para mudar a realidade, não
apenas para compreendê-la)
● Agenda: capitalismo; divisão social do trabalho; exploração; luta de classes.
● Atores principais: classes sociais
Capitalismo, socialismo e comunismo
● Capitalismo: sistema econômico movido pelo lucro que se pauta em
relações de exploração dos trabalhadores
● Socialismo: etapa intermediária, fase de transição, entre capitalismo e
comunismo, o momento em que os trabalhadores se revolucionaram,
tomando a infraestrutura, os meios de produção e se auto-organizam

buscando mudanças no sistema econômico → ditadura do

proletariado → a economia é planificada, não há liberdade de preços

e de iniciativa (todos os preços são definidos pelo Estado)


● Comunismo: a superação da necessidade da ditadura do proletariado;
um conjunto de sociedades de trabalhadores trabalhando em conjunto e
com livre comércio; não haveria existência do Estado – o sistema
produtivo e econômico é baseado na própria organização dos
trabalhadores; não há distinções de classe e desigualdades, tampouco
conflitos, logo a superestrutura é desnecessária (e o Estado também).
○ Sociedade sem propriedade ou atividade privada e sem classes.
○ Ninguém exerce uma atividade com exclusividade, mas todos se
realizam na atividade que desejar: caçar de manhã, pescar à
tarde, manejar o gado à noite e fazer crítica literária após o
jantar; isso sem ser caçador, pescador, pecuarista ou intelectual.
Linha de raciocínio para compreender: como os atores internacionais se
comportam e interagem? Para entender o comportamento dos Estados
capitalistas, é preciso entender o funcionamento do capitalismo.

Superestrutura e Infraestrutura
● Superestrutura: instituições (estatais, religiosas, culturais,
econômicas) cujo objetivo é manter a infraestrutura que a sustenta → a

superestrutura organiza aparato ideológico e repressivo.


○ Superestrutura capitalista global: a superestrutura age conforme
a necessidade de acumulação capitalista, e os interesses e
conflitos geo-econômicos. Dessa forma, a burguesia
transnacional comanda os diversos Estados capitalistas.
○ Estado é comitê executivo da burguesia
○ Aparato ideológico
■ “desempregado é vagabundo; lazer e ócio são nocivos;
competir é bom; trabalho traz riqueza, riqueza traz
felicidade”
■ “a propriedade privada é sagrada”
■ “somos todos parte da mesma nação”
○ Quando a ideologia é insuficiente para conter os impulsos
revolucionários usa-se o aparato coercitivo
● Infraestrutura: trabalhadores, burgueses, vida social, relações de

produção, mais-valia, estrutura econômica (base material) da


sociedade, modo de produção, luta de classes → A mais-valia sustenta

a superestrutura.
Modo de produção: forma piramidal
● Produção feudal: Senhor feudal (nobres); clero, cavaleiro, burguesia;
servo (trabalhadores).
● Produção capitalista: Burguesia (capitalistas); pequena burguesia;
proletário (trabalhadores).
Marxismo: Materialismo filosófico
● Como o modo de produção se mantém ao logo do tempo?
● Perspectiva epistemológica que concebe a existência de uma
superestrutura e de uma infraestrutura em qualquer modo de produção.
● A superestrutura cria formas de consciência social para alienar o
proletariado e manter a infraestrutura.
● A infraestrutura é a base econômica que sustenta a superestrutura (esta
depende daquela), e uma revolução na base econômica revoluciona
também a estrutura ideológica.
Marxismo: Materialismo histórico
● Narrativa histórica que explica a evolução da vida social como
dependente do desenvolvimento das forças produtivas e da luta de
classes. Por essa perspectiva, em todo momento histórico, uma pequena
classe dominante controla e explora uma grande classe subordinada no
contexto das relações de produção (infraestrutura) e cria instituições
(superestrutura) que viabilizam e legitimam o modo de dominar e de
explorar.
Marxismo: mercadoria / alienação
● Feudalismo
○ Produção para uso (comunidade/feudo)
○ Trabalhador consciente de todo o processo de produção
○ Jornada de trabalho para garantir o necessário (sobrevivência)
○ Distribuição de parte da mercadoria ao senhor feudal
● Capitalismo
○ Produção para troca (sociedade/mercado)
○ Trabalhador especializado em parte do processo de produção
(ALIENAÇÃO)
○ Jornada de trabalho para garantir mais que o necessário (lucro)
○ Distribuição de salário (trabalhador) e de lucro (capitalista)
Marxismo: mais-valia
● Trabalho socialmente necessário gera o valor suficiente para as
necessidades de sobrevivência do trabalhador e da sua família.
Converte-se em salário.
● Mais-trabalho gera mais-produto, que gera a mais-valia, valor
integralmente apropriado pelo capitalista. Converte-se em lucro.
Miséria dos trabalhadores
● O aumento da produtividade, para gerar a mais-valia, associado à
introdução de novas tecnologias, que acabam gerando um exército de
desempregados (desemprego estrutural) e, consequentemente, a
diminuição dos salários, faz com que os trabalhadores estejam
submetidos a condição cada mais exploratórias e precárias.
● Simultaneamente, tal estrutura, mantida pela superestrutura

(ideologia e coerção → Alienação), é responsável pela geração de

lucro que sustenta a riqueza da burguesia.

Lucro/ burguesia
● Mérito e retribuição por inovação, iniciativa, gestão, responsabilidade
pelo risco do investimento...? Marx discorda. Essa é a ideia
disseminada pela superestrutura do capitalismo.
● Lucro é roubo: apropriação do mais-trabalho. A mercadoria produzida
depende da coletividade (da fábrica e da sociedade).
Contribuições marxistas
● Considerar a dimensão histórica dos fenômenos internacionais
○ O capitalismo, a ideia de nação e o Estado moderno não são
imutáveis.
● Entender a economia política para compreender as relações
internacionais
○ “Estado” e “Anarquia” encobrem conflitos de classe e
exploração entre Estados, é preciso estudar as relações sociais
fundamentais no estágio atual de desenvolvimento das forças
produtivas.
➔ Marxismo-leninismo ou Neo-marxismo – foco estrutural mais sistêmico
Premissas metateóricas:
● Materialismo filosófico (modo de produção).
● Materialismo histórico (dialética).
● Agenda: imperialismo; ciclos de acumulação capitalista; divisão internacional
do trabalho; hegemonia e exploração nas relações internacionais.
● Atores principais: Estados.
Lenin: o Estado
● “Organização da classe exploradora, em cada época, para manter as suas
condições exteriores de produção e principalmente para manter pela força a
classe explorada nas condições de opressão exigidas pelo modo de produção
existente (escravidão, servidão, trabalho assalariado)”
● “Quando o Estado se torna, finalmente, representante efetivo da sociedade
inteira, então torna-se supérfluo.”
● Antagonismos de classes:
○ Explica a existência e o poder do Estado.
○ Sua existência e seu poder são proporcionais aos antagonismos de
classes.
● Poder do Estado: é proporcional…
○ ao antagonismo de classe e
○ ao poder dos Estados contíguos
● Estado: caracteriza-se pela “divisão dos súditos” segundo o território
(diferente de tribos ou clãs).
● “Divisão dos súditos”: parece “natural”, mas representa luta com a antiga
organização patriarcal por clãs ou famílias.
● O Estado institui um poder público que já não corresponde diretamente à
população, e organiza um exército permanente.
● Para manter um poder público separado e acima da sociedade, criam-se
impostos e uma dívida pública, que são meios de manter e exercer o poder dos
bancos e dos trustes.
Lenin: imperialismo
● Imperialismo: etapa superior do capitalismo.
● O capitalismo transformou-se em um sistema universal de subjugação colonial
e de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta
por um punhado de países “avançados”.
● Superlucro: os capitalistas extraem lucro de operários em territórios
dominados, além do lucro extraído dos operários do seu “próprio” país.
● Guerra imperialista:
○ “guerra de conquista, pilhagem, rapina” uma guerra pela partilha do
mundo, pela divisão e redistribuição das colônias, das esferas de
influência, do capital financeiro, etc.”
● As guerras imperialistas são inevitáveis enquanto subsistir a propriedade
privada dos meios de produção.
Lenin: socialismo
● Socialismo – sociedade sem burguesia.
● Tomada do poder, destruição da burguesia e do Estado
● Destruir:
1. exército permanente
2. polícia
3. juízes
4. privilégios/rendas especiais
5. Federalismo
6. Democracia e parlamento
7. Propriedade privada
● Partido operário → uma vanguarda é necessária para a revolução.
● Marxismo e educação → deve-se ensinar os princípios marxistas à

população.

➔ Teoria do Sistema Mundo e Ciclos de Acumulação Capitalista – Immanuel


Wallerstein e Giovanni Arrighi
Premissas metateóricas:
● Materialismo filosófico;
● Análise comparativa;
● Articulação de níveis de análise estrutural, nacional e individual.
Premissas teóricas:
● Agenda: ciclos sistêmicos de acumulação capitalista; hegemonia e exploração
nas relações internacionais;
● Atores principais: Estados e empresas.
● O exercício do poder hegemônico requer a coerção e o consenso, a força e a
legitimação.
Wallerstein
Teoria de Sistemas Mundo
● Impérios mundiais (aplica-se historicamente)
○ Cada império gera e acumula capital (moeda, bens, recursos naturais,
etc.);
→ Cada unidade política tem suas: fronteiras e cultura.
○ Capital extraído via tributo oriunda dos agricultores;
→ Classe intermediária de artesãos – produzem equipamentos e
estruturas;
→ Classe administradora governa – determinam as regras e normas
sociais, determinando o que é justo.
○ Estrutura política central redistribui o capital para dominar e expandir.
● Economia-mundo (encaixa-se na sociedade atual contemporânea)
○ Desterritorialização – os fluxos econômicos entre os Estados são
significativos;
→ A produção e a acumulação do capital não é baseada nos
processos produtivos e nos tributos acumulados dentro de
cada Estado; elas acontecem atravessando as fronteiras estatais,
por meio de fluxo de capitais, via comércio, etc. – depende de
diversos processos transnacionais.
○ Industrialização: o meio urbano se torna o locus principal da produção
do capital;
○ Não há centro político mundial (um governo mundial – anarquia) que
determine as regras e redistribua os ganhos;
→ É o mercado que redistribui o capital acumulado – cada
empresa aloca seu capital conforme a sua racionalidade.
○ Centros de acumulação de capital
→ Desde o século XVI, um Estado lidera cada novo ciclo de
acumulação – o Estado determina as regras, agindo aliado às
empresas.
○ Divisão centro-periferia
→ Existem áreas periféricas, não chegam a ser Estados plenamente
soberanos: o nível de dependência dos Estados em relação à
economia-mundo é tamanho que esses não podem ser
considerados totalmente independentes.
○ Ciclos de financeirização e crise: características da economia-mundo
desde o princípio;
○ Estado capitalista interventor: está no centro daquilo que constituiu a
economia-mundo e os processos econômicos e políticos partem sempre
de sua articulação.

Giovanni Arrighi - Teoria dos Ciclos de Acumulação


Premissas
● Análise comparativa dos sucessivos ciclos sistêmicos de acumulação
capitalistas. Objetivos:
○ “identificar (1) os padrões de recorrência e evolução, que se
reproduzem na atual fase de expansão financeira e reestruturação
sistêmica, e (2) as anomalias da atual fase de expansão financeira, que
podem levar ao rompimento com padrões anteriores de recorrência e
evolução” (Arrighi, 1996, p. 11)
Teoria
● A história do capitalismo remete aos centros urbano-comerciais-financeiros
medievais: existe “uma certa unidade no capitalismo, da Itália do século
XIII até o Ocidente dos dias atuais” (Braudel).
● Características históricas da economia capitalista: longos períodos de crise,
reestruturação e reorganização sobre bases novas e geograficamente mais
amplas.
Características do Capitalismo
● Flexibilidade ilimitada, e capacidade de mudança e de adaptação;
● “O capitalismo só triunfa quando se identifica com o Estado, quando é o
Estado” (Braudel).
Expansão do Capitalismo
● Condições para expansão do capitalismo:
1. “competição interestatal pelo capital circulante” → a busca por

mercado, pelo comércio de matérias-primas, acesso aos recursos

estratégicos, domínio financeiro e de rotas comerciais, etc; e


2. “formação de estruturas políticas dotadas de capacidades
organizacionais cada vez mais amplas e complexas para controlar o
meio social e político em que se realizava a acumulação de capital em

escala mundial” → órgãos capazes de monitorar (Arrighi, 1996, p.

15).
Centro do Capitalismo
● Grandes potências, líderes dos processos de formação do Estado e de
acumulação de capital em cada ciclo:
○ genovês (XV-início XVII)
○ holandês (fim XVI- fim XVIII)
○ britânico (metade XVIII-início XX)
○ norte-americano (fim XIX-)
2 modos de governo e lógicas de poder; 1 sistema capitalista
● “Governantes territorialistas identificam o poder como a extensão e a
densidade populacional de seus domínios, concebendo a riqueza/o capital
como um meio ou um subproduto da busca de expansão territorial” →

domínio político.
● “Os governantes capitalistas, ao contrário, identificam o poder com a extensão
de seu controle sobre os recursos escassos e consideram as aquisições
territoriais um meio e um subproduto da acumulação de capital” →

domínio econômico.
Ciclo de acumulação britânico
● Século XIX (auge em 1914): “dominação imperial numa escala que o mundo
nunca tinha visto até então”;
● “imperialismo de livre comércio”
○ expressão que denota “as bases imperialistas do regime britânico de
governo e acumulação em escala mundial com base no livre comércio”.
→ Domina o capital circulante não necessariamente dominando o
território por onde o capital circula.
Ciclos de acumulação
● Fase de expansão material: D (dinheiro/capital) - M (mercadoria)
○ Aumento da produção – o capital investe na produção aumentando a
quantidade de mercadoria
○ 1850-1870 e 1950-1970
○ Condições para cooperação e renovação da divisão internacional do

trabalho: houve a oportunidade de países menos desenvolvidos de se

industrializar. Ex: Brasil, México, Tigres Asiáticos → áreas periféricas

se tornam semi-periféricas

● Fase de expansão financeira: (M-D e D-D’) → a mercadoria é produzida em

larga escala, mas o capital acumulado proveniente desse processo não é

revestido para a base produtiva, mas sim para o mercado financeiro


○ Intensificação das pressões competitivas pelos mercados – dificulta a
cooperação
○ Retirada maciça do capital do comércio e da produção para as finanças:
financeirização
Particularidades do ciclo atual

➔ Construtivismos
Autores:
● Wendt: foco nas identidades dos atores;
● Onuf: foco na construção de regras, normas, relações sociais e
instituições e como essas moldam as ações dos atores;
● Kratochwil: foco nos processos de comunicação e os significados de

narrativas e conceitos → linguagem (virada linguística);


● Katzenstein: foco na importância da cultura na influência do
comportamento e das interações entre os atores.
Pergunta comum: Quais significados inter-subjetivos afetam as relações
sociais?
Premissas comuns (atores, sistema, dinâmicas):
● Há diversos atores internacionais que definem as regras que, por sua
vez, estabelecem os papéis de cada ator.
● O sistema internacional induz diversas dinâmicas que os atores
constroem, mas só existe uma “estrutura” na medida em que esta é
interpretada e aprendida.
● A intersubjetividade da linguagem e o compartilhamento de discursos,
significados e valores influenciam o comportamento e as interações
entre os Estados.
● A realidade é uma construção social.
Wendt: conceitos básicos
● Estados: interação estruturada dos seus membros.
● Instituição:
○ Conjunto ou “estrutura” estável de identidades e interesses;
○ Tem natureza cognitiva e que, portanto, só existe vinculada às
ideias dos atores sobre como o mundo funciona.
● Identidade:
○ Conjunto estável de concepções e expectativas relacionadas ao
papel de um sujeito;
○ Só existe em relação aos outros (não intrínseca);
○ É adquirida pela participação em significados coletivos (inter-
subjetivos) sobre atores ou situações.
Wendt X Racionalismo
1. Agentes e estrutura são co-construídos;
2. Os interesses dos Estados não são predeterminados (exógenos) pela
estrutura, dependem da sua identidade;
3. A natureza e os efeitos da estrutura sobre os Estados são construídos
socialmente, são dinâmicos.
Construtivismo de Wendt: sistema

Mudanças na política internacional


Condições
1. Interações regulares e intensas
2. Insatisfação com identidades e interações
Dinâmica
● Conflito de identidades
● Transformações sociais
Resultado
● Uma das 3 culturas de anarquia: Hobbesiana, Lockeana ou
Kantiana
Como chegar à paz?
● Construtivismo (Wendt):
○ Referências: Nicholas Onuf e Alexander Wendt;
○ Nível de análise: Internacional (estato-cêntrico);
○ Meio de superar o estado de guerra: mudança na identidade dos
Estados: o mero entendimento coletivo de que o mundo não
obedece a uma lógica hobbesiana geraria cooperação e paz.
● Liberalismo sociológico:
○ Referências: Karl Deutsch, Funcionalismo;
○ Nível de análise: Societal (estato-cêntrico);
○ Meio de superar o estado de guerra: mudança na integração
entre os povos e nas suas identidades: comunidades de
segurança eliminam a possibilidade de guerra entre seus
membros.
Construtivismo: teoria ou epistemologia?
● Apresenta-se como perspectiva tanto teórica quanto epistemológica.
● Wendt: o Construtivismo é uma teoria social da política internacional.
● Onuf: o Construtivismo não é teoria, pois não oferece explicações
generalizáveis, afinal, as relações sociais estão constantemente sendo
re-construídas.
Construtivismo de Onuf
● As pessoas e a sociedade se constituem mutuamente: 'o mundo foi feito
por nós';
● A relação agente-estrutura: interagem mutuamente através de regras
(Onuf) e identidades (Wendt).

Onuf: conceitos básicos


● Agentes lidam com “[…] informações limitadas, imprecisas e
inconsistentes sobre as condições materiais e sociais que afetam a
probabilidade de atingirem os seus objetivos.”.
● Comportamento racional: Agir para alcançar objetivos.
● Seja por acaso ou por planejamento, as regras e as práticas relacionadas
frequentemente formam um padrão estável (mas nunca fixo) que
molda as intenções dos agentes.
● Esses padrões formam:
○ Instituições:
→ Padrões mutáveis formados por regras e práticas
estáveis, seja por acaso ou por planejamento, que
moldam as intenções dos agentes;
→ “Qualquer padrão estável de instituições (incluindo
agentes de toda espécie) é também uma instituição.”.
○ Estrutura:
→ Qualquer padrão estável e visível de regras, instituições
e consequências não-intencionais de uma sociedade.
Institucionalização da estrutura:
→ O estabelecimento de um quadro institucional por
agentes, em decorrência de fenômenos que os afetaram,
ou seja, os agentes “institucionalizam a estrutura,
estabelecendo regras baseadas nas suas situações”.
● Anarquia: contexto em que a regra entre os Estados é a de que nenhum
dos Estados governa os demais; a soberania significa o mesmo, tendo
como referência o Estado.
Debate com racionalistas
● a
Neorrealismo X Construtivismo
● Neorrealismo: a estrutura internacional impõe uma série de incentivos e
constrangimentos estruturais aos Estados, que agem de acordo com a
posição que ocupam no SI.
● Construtivismo: para além da posição ocupada pelos Estados, existem
outros fatores que impactam na ação dos atores, como suas identidades
e as regras e instituições a que estão submetidos.

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