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INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
CUIABÁ-MT
2013
4
CAROLINE SOARES DE SOUZA
CUIABÁ-MT
2013
5
2013 6
7
Dedico este trabalho aos meus familiares, amigos, e, em
especial, a todos os meus professores.
8
Agradeço aos professores Drª Dolores Galindo, Coordenadora do Programa e
Dr. Richard Perassi, examinador externo, pela participação na banca, pela atenção e
apoio que dispensaram a este trabalho e pelas colaborações e orientações essenciais,
que me ajudaram muito nesta jornada, trazendo um pouco de ordem ao caos,
transmitindo confiança e mostrando um caminho.
A minha família: meus pais e irmãos pelo acalanto nos momentos mais difíceis,
por serem o porto seguro em todas as horas, pelos dias divertidos de respiro entre os
estudos, essenciais nessa jornada; Minha irmã Mariana por me acompanhar, me ouvir,
ser paciente nas minhas crises e pelo incentivo nos momentos de desânimo; Minha tia
Sheila por sempre me incentivar entusiasticamente e por acreditar em mim, mesmo
quando eu desacreditava.
Aos colegas do Sesc: equipe de cultura pelo incentivo e carinho; Marcia por
sua compreensão e apoio incondicional; Lucia pelo apoio, pelas dicas, por ajudar em
diversas áreas; Leidiane por compartilhar autores, artistas, obras de arte e textos para
estudo, como também pelos momentos de respiro; Marcia Gitahy, Flavia e Gilberto
pelo interesse e entusiasmo, colegas dos regionais pelo incentivo, Maria Teresa,
Maristela e Afonso pela ajuda no envio do trabalho ao examinador externo. E aos
Diretores, em especial o Nivaldo, pelas liberações do expediente que possibilitaram a
pesquisa e escrita do trabalho.
E finalmente aos amigos, que são a família que a gente escolheu, cada um a
seu modo fez parte da jornada, seja antes, durante ou depois de meu ingresso neste
mestrado: Ivoneides Amaral, pelo apoio incondicional e ajuda com os processos para
apresentação da defesa e entrega da versão final; Lucia Mattos, Leidiane Carvalho,
Clodoaldo Arruda, Juliana Curvo, Maira Jeanyse, Claudiane Almeida, Eveline
Konagesky, Paulo Aurélio Costa, Inara Fonseca, Emyle Daltro, Rodolfo Polzin, Hugo
Vuerzler.
9
É que estamos habituados a pensar como todo mundo. As nossas ideias não
são nossas: são ideias servidas e resservidas por todos. E ideias diferentes
arrepiam e chocam como se fossemos perder subitamente o equilíbrio.
Sylvio Rabello
Não existe obra como um objeto acabado e resolvido, mas alguma coisa sempre
presente, permanente no interior das pessoas.
Lygia Pape
10
RESUMO
ABSTRACT
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................................17
I. AS FRESTAS COMEÇARAM A SE ABRIR.............................................. 20
1.1 Arte moderna da Europa nos séculos XIX e XX e sua influência na arte
brasileira....................................................................................................... 21
1.2 A primeira ideia de uma consciência brasileira na arte.......................... 28
1.2.1 O movimento modernista no Brasil...................................................... 29
1.2.2 A Semana de Arte Moderna................................................................ 32
1.2.3 Os primeiros museus nacionais de Arte Moderna e a Bienal
Internacional de Arte de São Paulo.............................................................. 34
1.3 O grupo Frente era de descobertas........................................................ 43
1.4 No neoconcreto inventamos linguagens novas...................................... 70
II. LYGIA PAPE: UMA SEMENTE PERMANENTEMENTE ABERTA.......... 85
2.1 Um novo olhar o mundo......................................................................... 93
2.2 Sempre gostei de viver na marginalidade, era muito anarquista.......... 108
2.3 Continuar até o fim da vida inventando coisas, ousando..................... 117
III. INVENTAR É CRESCER........................................................................135
3.1 Uma coisa muito generosa: espaço de abertura para o outro...............136
3.2 A pele de todos: o Divisor......................................................................144
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................156
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 164
APÊNDICE..................................................................................................169
I RELAÇÃO DE OBRAS POR LINGUAGEM/CATEGORIA.................... 170
II CRONOLOGIA........................................................................................ 203
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Vista da exposição Max Bill, no Museu de Arte de São Paulo......... 37
Figura 2 - Pavilhão da 1ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo............... 38
Figura 3 - Vista da exposição 1ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo... 39
Figura 4 - Unidade Tripartida............................................................................ 40
Figura 5 - Formas............................................................................................. 42
Figura 6 - Movimento........................................................................................ 44
Figura 7 - Manifesto Ruptura............................................................................ 46
Figura 8 - Pintura em vermelho e preto............................................................ 51
Figura 9 - Relevo em vermelho e azul.............................................................. 53
Figura 10 - Jogos Vetoriais e Jogos Matemáticos............................................ 54
Figura 11 - Tecelares........................................................................................ 55
Figura 12 - Tecelares........................................................................................ 56
Figura 13 - Sem título, da série Tecelares........................................................ 57
Figura 14 - Tecelares........................................................................................ 57
Figura 15 - Poema-luz Em vão......................................................................... 59
Figura 16 - Poema-luz Sendo........................................................................... 59
Figura 17 - Poema-luz Sono............................................................................. 59
Figura 18 - Cubo Vazado.................................................................................. 61
Figura 19 - Cubo Vazado.................................................................................. 61
Figura 20 - Poema-objeto VOID....................................................................... 62
Figura 21 - Poema-objeto VOID....................................................................... 62
Figura 22 - Planos em superfície modulada nº 5.............................................. 63
Figura 23 - Ovo linear, da série Contra relevo.................................................. 64
Figura 24 - Contra-relevo, da série Contra relevo............................................ 64
Figura 25 - Metaesquema I............................................................................... 64
Figura 26 - Metaesquema II.............................................................................. 64
Figura 27 - Pintura Branca................................................................................ 65
Figura 28 - Grupo de Monocromáticos, série Invenções.................................. 65
Figura 29 - White on White............................................................................... 66
Figura 30 - Pintura Branca [Detalhe] ............................................................... 66
13
Figura 31 - Fruta, da série Livro-poema........................................................... 66
Figura 32 - Poema-espacial Onde.................................................................... 67
Figura 33 - Livro da Criação............................................................................. 68
Figura 34 - Livro da Criação............................................................................. 68
Figura 35 - Livro da Criação............................................................................. 69
Figura 36 - Livro da Criação............................................................................. 69
Figura 37 - Manifesto Neoconcreto................................................................... 74
Figura 38 - Manifesto Neoconcreto................................................................... 75
Figura 39 - Manifesto Neoconcreto................................................................... 76
Figura 40 - Ballet Neoconcreto nº 1.................................................................. 78
Figura 41 - Ballet Neoconcreto nº 1.................................................................. 78
Figura 42 - Ballet Neoconcreto nº 2.................................................................. 79
Figura 43 - Ballet Neoconcreto nº 2.................................................................. 79
Figura 44 - Livro da Arquitetura - Lance livre de concreto................................ 80
Figura 45 - Livro da Arquitetura........................................................................ 80
Figura 46 - Livro do tempo................................................................................ 81
Figura 47 - Preto e amarelo - Escultura............................................................ 82
Figura 48 - Branco e preto - Escultura.............................................................. 82
Figura 49 - Cartaz Mandacaru Vermelho.......................................................... 83
Figura 50 - Cartaz Mandacaru Vermelho.......................................................... 84
Figura 51 - Faca de luz..................................................................................... 86
Figura 52 - Fotogramas do filme La nouvelle création...................................... 88
Figura 53 - Fotogramas do filme La nouvelle création...................................... 88
Figura 54 - Fotogramas do filme La nouvelle création...................................... 88
Figura 55 - Fotogramas do filme La nouvelle création...................................... 88
Figura 56 - Espaços imantados........................................................................ 89
Figura 57 - Espaços imantados........................................................................ 89
Figura 58 - Livro dos caminhos......................................................................... 91
Figura 59 - Tteia 1A.......................................................................................... 91
Figura 60 - Divisor............................................................................................. 92
Figura 61 - Embalagens antigas de biscoitos Piraquê...................................... 94
Figura 62 - Lata de biscoito Piraquê................................................................. 94
Figura 63 - Embalagem de biscoito com logotipo e marca Piraquê................. 95
14
Figura 64 - Marca Piraquê................................................................................ 95
Figura 65 - Embalagem Cream Crackers/Piraquê............................................ 96
Figura 66 - Embalagem Roladinho Goiaba/Piraquê......................................... 97
Figura 67 - Embalagem Maizena/Piraquê........................................................ 97
Figura 68 - Embalagem Queijinho/Piraquê....................................................... 98
Figura 69 - Identidade visual de Caminhão/Piraquê......................................... 98
Figura 70 - Embalagem Água e Sal/Piraquê.................................................... 99
Figura 71 - Metaesquema................................................................................. 99
Figura 72 - Embalagem Cream Crackers 200 gramas................................... 101
Figura 73 - Embalagem Cream Crackers 30 gramas..................................... 101
Figura 74 - Embalagem Água e sal/Piraquê................................................... 101
Figura 75 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 76 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 77 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 78 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 79 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 80 - Favela da Maré............................................................................. 105
Figura 81 - Alunos construindo a Casa sapé.................................................. 106
Figura 82 - Alunos construindo a Casa sapé.................................................. 107
Figura 83 - Eat Me: A Gula ou a Luxúria? ..................................................... 110
Figura 84 - Eat Me: A Gula ou a Luxúria? [detalhe] ....................................... 110
Figura 85 - Caixa das Baratas........................................................................ 113
Figura 86 - Caixa das Formigas...................................................................... 113
Figura 87 - Carandiru...................................................................................... 119
Figura 88 - Cena de ritual antropofágico dos índios tupinambás................... 120
Figura 89 – Guará........................................................................................... 122
Figura 90 – Manto Tupinambá........................................................................ 122
Figura 91 - Memória Tupinambá..................................................................... 123
Figura 92 - Manto Tupinambá......................................................................... 123
Figura 93 - Bus Stop....................................................................................... 124
Figura 94 - Ttéia n. 1 C................................................................................... 125
Figura 95 - Ttéia n. 1 C................................................................................... 125
Figura 96 - Ttéia n. 1 B................................................................................... 125
15
Figura 97 - New House................................................................................... 126
Figura 98 - New House................................................................................... 127
Figura 99 - Luar do sertão.............................................................................. 128
Figura 100 - Não pise na grana...................................................................... 129
Figura 101 - Sua vida é doce?........................................................................ 129
Figura 102 - Narizes e línguas........................................................................ 130
Figura 103 - Cortina de maçãs....................................................................... 131
Figura 104 - Caixa Brasil................................................................................ 133
Figura 105 - DNA............................................................................................ 134
Figura 106 - Caixa das Formigas.................................................................... 139
Figura 107 - Passista da mangueira vestindo o Parangolé P1 C1................. 141
Figura 108 - Parangolé P1 C1........................................................................ 141
Figura 109 - Roda dos prazeres..................................................................... 143
Figura 110 - Divisor......................................................................................... 146
Figura 111 - Divisor......................................................................................... 148
Figura 112 - Divisor......................................................................................... 149
Figura 113 - Divisor......................................................................................... 150
Figura 114 - Fotogramas do vídeo em super 8 Divisor................................... 152
Figura 115 - Manto Tupinambá....................................................................... 153
Figura 116 - Divisor......................................................................................... 153
Figura 117 - Divisor......................................................................................... 155
Figura 118 - Dispositivo relacional acoplável.................................................. 160
Figura 119 - Dispositivo relacional acoplável.................................................. 161
Figura 120 - Lygia Pape no Divisor................................................................. 162
16
INTRODUÇÃO
18
Foram realizadas visitas em exposições onde havia trabalhos de Pape: a
29ª Bienal de São Paulo, vista em outubro de 2010, onde era exibido um vídeo
dirigido por Paula Pape em 2010; que mostrava pessoas experimentando o
Divisor no pátio do MAM-RJ; a mostra retrospectiva intitulada Lygia Pape:
espaços imantados, realizada na Estação Pinacoteca de São Paulo, vista em
maio de 2012, onde exibiram um vídeo filmado em super 8, em 1967,
mostrando a primeira experiência de Lygia com um protótipo do Divisor
apresentado para crianças moradoras de uma favela visinha à residência da
artista; Vontade Construtiva na coleção Fadel, exibida no Museu de Arte do
Rio-MAR, vista em março de 2013 que apresentou obras bidimensionais da
década de 1950. Outra importante instituição que colaborou na pesquisa foi a
Associação Cultural Projeto Cultural Lygia Pape, cuja sede está localizada no
bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro e é presidida pela filha mais nova da
artista, Paula Pape. Além destas, a dissertação de mestrado de Vanessa
Machado, Lygia Pape: espaços de ruptura.
Das obras ditas participativas criadas por Lygia pude experimentar a
Roda dos Prazeres (1968/2012), na exposição Lygia Pape: espaços imantados.
Tive a colaboração de duas pessoas que participaram do Divisor (1968/2010),
Leidiane Carvalho e Felipe Abdala, que relatam suas experiências ocorridas
durante a filmagem de um vídeo e pude entrevistar Paula Pape, que comenta
sobre o desafio de dirigir o vídeo filmado durante a experimentação do Divisor,
para ser exibido na 29ª Bienal de São Paulo.
Esta dissertação está exposta em três capítulos. O primeiro apresenta
um breve histórico sobre a transição da arte moderna à arte contemporânea,
com ênfase nos movimentos nacionais de vanguarda, contexto no qual está
inserida a artista Lygia Pape e o Divisor. No segundo capítulo a trajetória de
Lygia Pape e a relação de sua produção com a história e política de seu tempo.
Já no terceiro capítulo o Divisor é descrito em sua estrutura material e
conceitual, apresentando o modo em que essa proposição artística lida com
questões: artista x obra, obra x público, público x artista; também identifica
relações com o espaço urbano e relações com produção artística e intelectual
de Lygia Pape, tornando-se uma síntese de sua trajetória.
19
I. AS FRESTAS COMEÇARAM A SE ABRIR
2
Inaugurado em 1884, a estrutura pré-montada foi encomendada pelo Conde d'Eu, sendo construída
nas oficinas da Sociedade Anônima Saint-Souver Lês Arras, na França. A estrutura é inspirada no Palácio
de Cristal de Londres e no Palácio de Cristal do Porto. A intenção do Conde e da Princesa Isabel era
utilizar o local como espaço para exposições de flores, frutos e pássaros. Em 1938 passou a abrigar o
Museu Histórico de Petrópolis. Abrigou cursos e oficinas de Artes. Em 1957 o palácio foi tombado pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Atualmente é utilizado para exposições e eventos.
3
Não obtivemos referências sobre o professor tcheco a que Lygia Pape refere-se. Ela descreve “o
professor era uma pessoa amável, mas não exercia influencia capaz de definir o destino de alguém”
(PAPE, 1998, p. 10).
20
[...] já tínhamos uma certa vocação ou direção para as formas geométricas‖
(PAPE, 1998, p. 10). Em 1953, a partir desse núcleo inicial, foi criado o Grupo
Frente. Realizam exposições no Rio de Janeiro e em outras cidades
fluminenses. Mattar (2003, p. 27) afirma que ―sem dúvida eles eram
influenciados pelas propostas de Max Bill4 e do Ruptura5‖. A artista viveu e
atuou num período de transição da arte e da história brasileira, na passagem
do moderno ao contemporâneo. Para compreender as transformações
ocorridas em nossa história, que vieram a influenciar Lygia Pape, iniciamos a
partir de 1870, na Europa, o marco do período Moderno, segundo historiadores
adotados nesta pesquisa. É no período pós Revolução Industrial na Europa,
que essas mudanças se espalham por diversas cidades do mundo, chegando
ao Brasil e alterando o modo de vida nas cidades e no campo. Inventos
tecnológicos contribuíram para mudanças no modo de produção, de divisão do
trabalho e das riquezas.
4
Max Bill (1908-1994), artista e arquiteto suíço, aluno da Bauhaus, fundador da Hochschule für
Gestaltung Ulm, Escola Superior da Forma em Ulm, na Alemanha, e principal herdeiro das vanguardas
construtivas. Em 1950 realiza exposição individual no MASP e em 1951 participa da Bienal de São Paulo.
5
Grupo de artistas, formado após a primeira Bienal de Arte de São Paulo, sendo a maioria deles de
origem estrangeira, residentes em São Paulo. Em 1952 realizam a exposição Ruptura, conhecida como
marco da arte concreta no Brasil. O grupo era formado e liderado por Waldemar Cordeiro e os
integrantes eram Geraldo de Barros, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Anatol Wladyslaw, Kazmer Féjer e
Leopoldo Haar.
21
Na área dos transportes o motor de combustão interna, o motor a diesel e a
turbina a vapor colaboraram para criação de veículos mais velozes como o
automóvel, o ônibus motorizado, o trator e o aeroplano. Nesse período a
eletricidade, o óleo e o petróleo começam a ser utilizadas como novas fontes
de energia. A invenção do telefone, da máquina de escrever e do gravador
permitem a ―organização do sistema moderno de escritórios‖ (BULLOCK, 1989,
p. 45 apud RADBURY e McFARLANE, 1989, p. 14). Nessa mesma época
inicia-se a produção química de materiais sintéticos: ―[...] corantes, fibras
artificiais e plásticos; que também colaboraram no surgimento de novos
produtos que influenciaram o modo de vida da população‖ (Idem op.cit.).
A maior velocidade dos navios, trens, ônibus e dos automóveis, com
motor a diesel ou a vapor, permitiu deslocamentos mais rápidos quando
comparados com as carroças e carruagens de tração animal, ou seja, com o
uso desses novos meios de transporte as pessoas podiam locomover-se de um
local para o outro com maior rapidez, o que facilitou, de certo modo, os fluxos
migratórios. Nessa época, segundo Canton (2009, p.15) ―muitas pessoas saem
dos campos e passam a ocupar as cidades, que crescem cada vez mais no
ritmo frenético das linhas de montagens das grandes fábricas‖. De acordo com
Velloso (2010, p. 17) ―o mundo passa a ser assolado pelo acúmulo de
informações, sensações e velocidade‖. Essas mudanças e transformações
continuaram a ocorrer durante os anos, seguintes, compondo novas
organizações, novas formas de fazer e estar no mundo. ―Tal era o perfil da
sociedade europeia e americana do século XX: urbanizada, industrializada,
mecanizada, com toda sua vida moldada pela rotina da fábrica ou escritório‖
(BULLOCK, 1989, p. 45 apud RADBURY e McFARLANE, 1989, p. 14).
As mudanças não se deram somente no âmbito econômico e social, mas
também no campo cultural e consequentemente, artístico, pois a cada época,
de acordo com Velloso (2010, p. 11), ―[...] são criados novos valores, inventos e
denominações‖, que reverberam em outras instâncias. Ao conjunto dessas
mudanças está intrínseco o termo ―moderno‖. O historiador Jacques Le Goff
(1984 apud RIBEIRO, 2007, p. 117) discute as origens do termo moderno,
significando ―[...] o novo em oposição ao antigo, o presente contrapondo ao
passado‖.
22
O conceito foi usado desde a renascença carolíngea, na Idade Média,
apontando a consciência da ruptura com o passado — a Antigüidade
clássica — e o surgimento de uma nova visão de mundo. O moderno
tomou conotações diferentes ao longo da história ocidental. A partir
da Revolução Industrial e do Iluminismo o termo apareceu
relacionado à noção do novo e do progresso, utilizado numa
perspectiva linear da história. Nesse momento articularam-se outros
conceitos baseados na noção de moderno: o modernismo e a
modernidade. (LE GOFF, 1984 apud RIBEIRO, 2007, p. 117)
6
João do Rio, um dos pseudônimos de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto (Rio de Janeiro
5/8/1881 - 23/7/1921), jornalista, cronista, contista, tradutor e teatrólogo, também conhecido como Paulo Barreto.
Aos 16 anos, ingressou na imprensa. Em 1918, estava no jornal Cidade do Rio, ao lado de José do Patrocínio.
Notabilizou-se como o primeiro homem da imprensa brasileira a ter o senso da reportagem moderna. Usou vários
23
escreve uma passagem que ilustra as transformações da cidade a partir da
chegada das modernas tecnologias, neste caso os automóveis:
pseudônimos, além de João do Rio, destacando-se: Claude, Caran D’ache, Joe, José Antônio José. Foi o criador da
crônica social moderna. [Site da Academia Brasileira de Letras]
24
Para Baudelaire7 a modernidade é: ―[...] o transitório, o fugidio, o
contingente, a metade da arte, cuja outra metade é o eterno e o imutável‖
(BENJAMIN, 2006 apud JACQUES, 2012, p. 85). Baudelaire trata do aspecto
passageiro da modernidade, daquilo que desaparece rapidamente, daquilo que
é possível, mas incerto e ao mesmo tempo pode tocar a todos, a arte como
dicotomia: ―[...] uma face transitória e fugidia e a outra perene, constante,
duradoura. Nenhuma obra de arte se torna obsoleta‖ (COCCHIARALE, 2006, p.
50). Mesmo por carregar em si uma aura de seu tempo, na perspectiva de
Benjamin (apud SILVA, 2011, p. 305), ―[...] a obra é um signo que remete ao
tempo histórico em que foi concebida, como testemunho de uma tradição, onde
acumulam-se vestígios da passagem do tempo, que, agregados a elementos
simbólicos lhe conferem valor de culto‖.
7
Charles Baudelaire (Paris, 9/4/1821 – Paris, 31/8/1867), importante poeta francês do séc. XIX. Atuou também
como teórico e crítico de arte. Considerado um dos principais nomes e precursor do simbolismo. Alguns o
consideram pioneiro da linguagem moderna, um antecessor do parnasianismo, ou um romântico exacerbado. Seu
talento e seu intelecto só seriam totalmente reconhecidos no séc. XX, quando tornou-se um ícone, influenciando
direta e indiretamente a moderna poesia ocidental.
8
Tradução nossa.
25
nesse período, segundo Canton (2010, p. 17), ―[...] foi impulsionada de um lado
pela busca do novo, num movimento em que cada criação procura superar a
anterior e, por outro, na busca de desenvolver uma linguagem de autonomia
para a obra de arte‖. O Modernismo, de acordo com Velloso (2010, p. 19), ―[...]
abrigou o conjunto de transformações sofridas no campo das artes entre a
década de 1870 e o início da Segunda Guerra [1939]‖. Refere-se, segundo
Ribeiro (2007, p. 117): ―[...] aos movimentos literários, artísticos [...], propondo o
rompimento com a tradição passada e a construção de uma nova arte
moderna. ―Ao longo do século XIX várias ideias vinham contribuindo para a
eclosão de uma nova ordem‖ (VELLOSO, 2010, p. 20).
26
Também de tendência geométrica, iniciada a partir da observação de
esculturas africanas, o cubismo apresenta, de acordo com Canton (2012, p.
21), ―[...] uma noção de simultaneidade, mostrando numa única imagem vários
tempos vividos por um mesmo objeto‖. O tempo e o movimento são
incorporados pelos futuristas italianos em suas pinturas e esculturas, que
traduzem ―[...] um encantamento com o ritmo urbano das cidades e a crescente
industrialização‖ (CANTON, 2010, p. 21).
27
Jacques (2012, p. 61) faz um comparativo entre João do Rio e
Baudelaire, observando nos dois escritores ―um tipo de crítica moderna à
própria modernização‖. Encontra em ambos a mesma ambiguidade:
28
Lourival Gomes Machado, ―viaja o duplo roteiro dos navios que levam
ao Havre e dos trens que conduzem a Ouro Preto‖, ao fazer
referência às viagens à Europa pelos modernistas e ao
reconhecimento de uma cultura brasileira, a seu retorno do exterior.
(AMARAL, 1998, p. 21)
9
Pape obteve o grau de mestre em Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais, em 1980, sob a orientação da professora Creusa Capalbo.
29
aqui, os tempos da história da arte são outros‖ (MORAIS, 1991, p. 16-7). O
Barroco, no século XVIII, já passava por um período de retração na Europa
quando, no Brasil, ocorria seu apogeu. Durante muito tempo houve um ―gap
temporal‖, como afirma Morais (1991, p. 17), entre nossa arte, a europeia e
norte-americana. ―Essa defasagem vai diminuindo à medida em que nos
aproximamos da atualidade, quando a arte se torna, de fato, internacional‖
(Idem op.cit.). Houve um tempo, porém, em que a arte brasileira era
comparada com a arte internacional, de modo que a relação que se estabelecia
era de uma posição ―absolutamente ancilar ou subsidiária‖ como afirma Morais
(1991, p. 17). De acordo com Campos (2007, p. 109), ―chegou-se mesmo a
desqualificar as produções nacionais que não acompanhavam os caminhos
estilísticos ditados pela Europa‖.
31
1.2.2 A Semana de Arte Moderna
32
dentre elas uma intitulada ―A emoção estética na arte moderna‖, do renomado
escritor Graça Aranha, na noite de abertura. Da exposição participaram
Brecheret, Anita Malfatti, John Graz, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e
outros; a arquitetura é representada por Antônio Garcia Moya e Georg
Przyrembel. Na área musical participaram Ernani Braga, Villa-Lobos e Guiomar
Novais. Entre os conferencistas e poetas, além do já citado Graça Aranha,
participaram Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Menotti Del Picchia,
Oswald de Andrade, Renato de Almeida e Mário de Andrade.
Concebida como ―provocação‖, segundo Galvão (2008, p. 10), a semana
―não agradou, pois a assistência era formada pela burguesia paulista, já que o
festival se passava no espaço mais nobre da cidade de então, o Theatro
Municipal‖. Ao violar os cânones estéticos vigentes, o evento foi considerado
―sinônimo de mau gosto, expressão de loucura e de maus costumes‖ (Idem op.
cit.).
33
1.2.3 Os primeiros museus nacionais de Arte Moderna e a Bienal
Internacional de Arte de São Paulo
34
À frente da criação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro estava
Niomar Moniz Sodré Bittencourt, dona do jornal Correio da Manhã. O museu
tinha como proposta, de acordo com Mattar (2003, p. 22): ―ser um espaço
dinâmico, com cursos de formação artística e aberto a áreas como a música, o
cinema, a dança, o design e o teatro‖.
35
A implantação do abstracionismo entre nós ocorrerá, de forma
surpreendentemente rápida, entre 1947 e 1951, devido a um conjunto
de fatores, dos quais citamos o surgimento de um circuito de arte,
com as galerias Askanazy, no Rio (1945), e Domus (1947), em São
Paulo; o aparecimento de uma nova geração de críticos, entre os
quais se destaca Mário Pedrosa, que voltara do exílio político; e,
principalmente, o intercâmbio proporcionado pela criação dos novos
museus. (MATTAR, 2003, p.24)
36
As possibilidades de dotar de rigor e exatidão o processo criativo
assim como de torná-lo inteligível eram, sem dúvida, seus objetivos.
(GARCIA, 2008, p. 198-199).
Figura 1: Vista da exposição Max Bill, no Museu de Arte de São Paulo – Masp, São
Paulo, 1951. Autoria desconhecida, fotografia, fonte: GARCÍA, 2008, p. 199.
Quando o artista Max Bill chegou ao Brasil, segundo Name (2008, p. 10):
―parece ter se transformado numa espécie de combustível a uma série de
fatores que já contribuíam para o surgimento de uma interpretação nacional
para os preceitos das vanguardas construtivas‖. Isto é, a arte produzida no
Brasil, e na Argentina10, foi influenciada pelas obras de Bill, o que promoveu
profundas transformações nesse campo, e de acordo com García (2008, p.
198): ―se constituindo como um momento definitivo para a inscrição da arte
concreta no panorama regional‖. Além de participar da abertura de sua
10
Buenos Aires também acompanhou esse processo, embora o "desembarque" billiano no âmbito portenho tenha
sido mais modesto: em 1951 aparecia a revista Nueva Visión, dirigida por Tomás Maldonado, que em seu primeiro
número dedicava um tributo ao artista suíço. (GARCÍA, 2008, p. 198)
37
exposição, Max Bill também participou de uma ―série de encontros em São
Paulo e no Rio‖ (NAME, 2008, p. 10).
Como identificamos acima, as obras de Bill provocaram reações em
diversos artistas que passaram a pesquisar, discutir e produzir arte concreta
após o contato com o artista e sua exposição. Segundo Gullar (1999, p. 215):
―o fim da segunda guerra mundial foi um acontecimento marcante para a arte
concreta e a expansão internacional da arte abstrata, em movimentos como
Construtivismo russo, o De Stijl, o Suprematismo e a escola alemã Bauhaus‖.
Meses após a realização da exposição de Max Bill no MASP, foi
inaugurada a primeira Bienal Internacional do Museu de Arte Moderna de São
Paulo, aberta para visitação de 20 de outubro a 23 de dezembro de 1951, na
esplanada do Trianon, local hoje ocupado pelo MASP. ―O espaço, projetado
pelos arquitetos Luís Saia e Eduardo Kneese de Mello, deu lugar a 1.854 obras
de 729 artistas de 25 países, além da representação nacional‖ (Catálogo da 1ª
Bienal, 1951, p. 15).
38
Um dos organizadores do evento, o diretor artístico Lourival Gomes
Machado, comenta sobre a função da Bienal:
39
O crítico Mário Pedrosa traz em seu texto de sua autoria a dimensão do
significado desta mostra:
O público brasileiro tem assim, pela primeira vez, contato com o que
se convencionou chamar de arte moderna. O impacto foi terrível e
direto. Em muitos esse impacto produziu indignação, em outros
perplexidade. Mas ninguém saiu ou sairá dali indiferente [...]. Duas
tendências fundamentais se polarizam [...]. De um lado, a arte
realmente moderna, constituída pelos não-figurativistas [...]. Do outro,
as diversas variantes objetivistas e figurativistas [...]. A Bienal paulista
trouxe assim ao mundo artístico e culto de nosso país uma verdadeira
revisão de valores. [...] A pintura e a escultura ditas modernas no
Brasil retardavam de 30 anos. Pararam nos arredores de 1920. Para
o mundo, um grande certame internacional de arte moderna realiza-
se pela primeira vez fora de Paris ou dos velhos centros artísticos
europeus. (PEDROSA, 1951 apud MATTAR, 2003, p. 25-26)
Figura 4: Unidade Tripartida, Max Bill, 1948-9, aço inoxidável, coleção MAC - USP.
Fotografia, autoria desconhecida, fonte: MAC Virtual/USP, disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_mac_40anos/exp
osicao_mac_40anos_historia.asp> acesso em 22/3/2011.
40
A obra Unidade Tripartida [figura 4], de Max Bill, recebe o prêmio
internacional na categoria escultura. Nessa obra - uma fita de Moebius11, em
aço inoxidável, o artista demonstra formalmente a experiência de um espaço
infinito:
11
Fita de Moebius é um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma fita,
após efetuar meia volta numa delas, ou seja, após uma torção em 180 graus numa das extremidades
com emenda na outra extremidade. As superfícies de dentro e fora do objeto se confundem. O nome foi
dado em homenagem ao matemático alemão August Ferdinando Moebius (1790-1868) que estudou
este objeto.
41
Figura 5: Formas, Ivan Serpa, 1951, óleo sobre tela, 97 x 130,2 cm. Fotografia,
Vicente de Mello. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural artes visuais, disponível em
<http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=arti
stas_obras&cd_verbete=2130&cd_idioma=28555> acesso em 22/3/2011.
42
Em São Paulo, berço da industrialização no Brasil, de acordo com Name
(2008, p. 11) um ano depois da visita de Max Bill ao Brasil surgiria o Instituto de
Arte Contemporânea (IAC), primeira escola de design da América Latina:
12
Outros integrantes do grupo Frente foram Abraham Palatinik, Carlos Val, os irmãos César e Hélio
Oiticica, Elisa Martins da Silveira, Emil Baruch, Franz Weissmann, Rubem Ludolf e Vincent Ibberson.
43
Name (2008, p. 74) um grande incentivador do concretismo em São Paulo. Em
1949 Cordeiro participou da mostra Do Figurativismo ao Abstracionismo, que
inaugurou o MAM-SP (Museu de Arte Moderna). Apresentou duas pinturas em
têmpera sobre tela na 1ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, ambas
produzidas em 1951, intituladas Movimento (dimensões 97 x 92,5 cm) e
Espaço Duplo (60 x 196,2 cm).
Figura 6: Movimento, Waldemar Cordeiro, 1951, têmpera sobre tela, 90,2 x 95 cm.
Acervo MAC/USP. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais, disponível em
<http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=arti
stas_obras&cd_verbete=3529&cd_idioma=28555> acesso em 22/3/2011.
44
linear do movimento, e a cor, a ela subordinada, seria praticamente elementar.
A arte concreta começa a ganhar terreno como uma promessa de nova
visualidade para um novo país (CANTON, 2009, p. 42). Para Mattar (2003, p.
26) a abstração trazia para os artistas uma completa libertação da figura e a
independência do real, sendo de fato uma mudança radical da forma de pensar
a arte.
Waldemar Cordeiro, segundo Name (2008, p. 74): ―foi líder do Grupo
Ruptura, movimento de vanguarda construtiva, formado por Lothar Charoux,
Geraldo de Barros, Luiz Sacilotto, entre outros‖. Em 1952, na ocasião da
primeira exposição do Grupo Ruptura, no MAM-SP, publica o manifesto
homônimo. Outros artistas do grupo eram, de acordo com Canton (2009, p. 43):
―Fejér, Leopoldo Haar e mais tarde associam-se Maurício Nogueira Lima,
Judith Lauand e Hermelindo Fiaminghi‖. O grupo definiu em seu manifesto,
segundo Machado (2010, p. 30): ―uma posição claramente crítica frente ao
figurativismo e ao ―abstracionismo hedonista‖, não vinculado aos princípios
concretistas‖. De acordo com Canton (2009, p. 43): ―o manifesto rompe com a
figuração e o naturalismo, considerando-os ―uma arte antiga para uma
realidade antiga‖.
45
Figura 7: Manifesto Ruptura, 1959. Fac-símile disponível em
<http://www.artbr.com.br/casa/ruptura/manirup.html.> acesso em 22/3/2011.
46
No Manifesto Ruptura os artistas concretos de São Paulo afirmavam que
a história deu um salto qualitativo com a arte nova que agora estavam
produzindo, distinguiram toda produção artística da época em dois grupos: ―os
que criam formas novas de princípios velhos‖ e aqueles que ―criam formas
novas de princípios novos‖. Os artistas do Ruptura se identificavam como
pertencentes ao segundo grupo, de formas novas de princípios novos e que
inteligência era diferente da de Leonardo da Vinci 13, indicando que não havia
mais a continuidade do princípio naturalista científico de representação adotado
na Renascença, que havia vigorado até então. Apontavam que a arte nova que
agora produziam não era baseada nos cânones antigos, mas tendiam ―à
renovação dos valores essenciais da arte visual‖ experiamentando o tempo-
espaço, o movimento e a matéria.
13
Cientista, arquiteto e artista italiano, uma das figuras mais importantes do Renascimento, período da História da
Europa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII, que marca o fim da Idade Média e início
da Idade Moderna. Da Vinci foi discípulo do mestre Verocchio onde iniciou seus estudos artísticos e exercitou seu
traço num aprofundado estudo da anatomia humana. Dentre suas obras mais conhecidas estão a Mona Lisa, a
Última Ceia e o desenho do homem vitruviano. É reverenciado até hoje por sua engenhosidade e curiosidade
insaciável. Seus projetos contribuíram para criação de uma série de inventos modernos como sistemas de dutos e
diques, helicóptero, tanque de guerra e outras armas, calculadora e no uso da energia solar. Além das contribuições
no campo das artes, Leonardo é conhecido por contribuições em diversas áreas como anatomia, astronomia,
engenharia civil, óptica, hidrodinâmica etc.
47
explicitamente em levar adiante o ―sonho suíço‖ de transformar o ambiente
social contemporâneo‖.
48
figurativas, pesadas e com muitos elementos. Queria fazer alguma
coisa diferente, mas naquele momento, o caminho ainda não estava
definido para mim. (PAPE, 1998, p. 10).
14
Instituto Brasil Estados Unidos - IBEU, instituição de ensino de língua inglesa, localizada no bairro de
Copacabana no Rio de Janeiro, realiza exposições desde 1940. Artistas como Tarsila do Amaral, Cândido
Portinari, Iberê Camargo, entre outros expuseram na Galeria. Em 1948 receberam a 1ª Exposição
Individual de Alexander Calder no Brasil; em 1954, realizaram a 1ª Exposição do Grupo Frente.
49
Ainda em 1955, Lygia participou da exposição coletiva do 4º Salão
Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia.
A quarta exposição do Grupo Frente foi realizada no ano de 1956, em
Volta Redonda, uma das maiores cidades fluminenses. Lygia recebeu o prêmio
Leimer – MAM/SP, com o segundo lugar na categoria gravura, nesse mesmo
ano. Em dezembro de 1956, realizou-se em São Paulo a 1ª Exposição
Nacional de Arte Concreta, reunindo, segundo Gullar (2007, p. 23) ―artistas
plásticos e poetas concretos paulistas e cariocas. Em fevereiro do ano seguinte
a exposição ocorreu no Rio de Janeiro e na ocasião vieram à tona as
divergências entre os dois grupos‖.
50
projeto de vanguarda é sempre um esforço para compreender e
evoluir com uma situação. [...] Pode-se dizer que o interesse dos
artistas brasileiros pelas formulações construtivas significava de certo
modo um primeiro contato, mais articulado e inteligente, com as
transformações operadas pela arte moderna no Brasil: não se tinha
compreendido ainda de todo as operações levadas a efeito pelo
cubismo e a partir de Tarsila, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Guignard,
Portinari, são a rigor pintores pré-cubistas, mesmo que alguns deles
tenham incorporado inteligentemente elementos cubistas às suas
produções. Estavam aquém da radical transformação proposta pelo
cubismo, permaneciam presos, independentemente da qualidade e
interesse de seus trabalhos, aos antigos esquemas de representação.
(BRITO, 1999, p. 34)
Figura 8: Pintura em vermelho e preto, Lygia Pape, 1954-6, da série Jogos Vetoriais,
Guache s/ aglomerado, 40 x 40 x 3 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia
Pape, disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=1> aceso em
22/3/2011.
51
Os jogos vetoriais eram composições que, embora possuíssem certo
rigor que lhes conferia um dinamismo controlado, carregavam
também um tipo de espontaneidade, como algo que foi solto na
superfície da tela. O equilíbrio entre essas duas características
resultava em composições de grande leveza. (MACHADO, 2010, p.
32)
No texto Não se falava nada, escrito por Lygia Pape, a artista fala sobre
os jogos vetoriais:
52
Agora, já tinha o Grupo Frente e mais consciência do movimento e
ação.
Heráclito estava presente como organizador do pensamento –
Agora – já tínhamos mistérios e dúvidas resolvidos.
(PAPE, 2012, p. 61)
Entre 1955 e 1956 Pape produz outra série, desta vez relevos,
intitulados de Jogos Matemáticos, de acordo com Mattar (2003, p. 30):
―entendidos à maneira de Max Bill‖.
Figura 9: Relevo em vermelho e azul, Lygia Pape, 1955-56, série Jogos matemáticos,
têmpera sobre madeira, 40 x 40 x 3,5 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia
Pape, disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=3> acesso em
22/3/2011.
53
A racionalidade despontava como princípio de organização dos
elementos, quadrados e retângulos em relevo, colocados numa base
branca. Por outro lado, era recorrente haver um elemento que se
desprendesse dessa ordem, um dado aparentemente fora de lugar,
realçado por outra cor, como se indicasse um ―desvio‖, uma arritmia
naquela linguagem matemática. (MACHADO, 2010, p. 32)
54
Em depoimento escrito por Pape e publicado em 22 de março de 1959
no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, a artista afirma: ―uso a gravura,
dentre os vários meios de expressão artística, enquanto o problema proposto
for a realização de uma ideia através de meios gráficos‖ (PAPE, 2012, p. 85).
Figura 11: Da série Tecelares, Lygia Pape, 1955, xilogravura sobre papel japonês,
43,5 x 31 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=7> acesso em 22/3/2011
55
por sabê-las mais distantes de qualquer alusão ao mundo exterior, e
logicamente mais expressivas por si mesmas.
O problema do acaso não existe na gravura que realizo. Toda ela é
controlada: desde a escolha do material, i.e., a qualidade da madeira
à impressão final. (PAPE, 2012, p. 85)
Figura 12: Da série Tecelares, Lygia Pape, 1956, xilogravura sobre papel japonês, 60
x 35 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=6> acesso em 23/3/2011.
56
Figura 13: Sem título, da série Tecelares, Lygia Pape, 1958, xilogravura sobre papel
japonês, 30 x 54 cm. Fonte: Catálogo da exposição Lygia pape: espaço imantado,
2012, p. 133.
Figura 14: Da série Tecelares, Lygia Pape, 1953, xilogravura sobre papel japonês.
Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://lygiapape.org.br/news/exposicao-reflete-valorizacao-de-lygia-pape/#more-936>
acesso em 13/2/2013.
57
Frederico Morais (apud Mattar, 2003, p. 63) afirma que ―as gravuras de
Lygia são pinturas‖. A artista concorda com a abordagem do crítico e elenca as
razões pelas quais concordou com a afirmação:
58
Pape gostava muito de ler, foi uma das raras artistas a aprofundar os
estudos cursando uma pós-graduação, mestrado, em filosofia. Ela conta que
―tanto escrevia poemas como fazia a parte gráfica. Eu me lembro que fiz um
livro, que tinha os Tecelares e do lado, em cada folha, tinha um poema‖
(MATTAR, 2003, p. 68). A palavra fazia parte de seu universo e partir de 1956,
Lygia produz obras que estabelecem jogos entre palavras e formas
geométricas planas, penduradas com fios invisíveis no espaço iluminado de
modo a criar uma sombra projetada. Os chama de Poemas-luz.
Figura 15: Poema-luz Em vão, Lygia Pape, 1956-7, vidro/acrílico, têmpera, texto, 45 x
30 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=9> acesso em 13/3/2013.
Figura 16: Poema-luz Sendo, Lygia Pape, 1956-7, vidro/acrílico, têmpera, texto, 40 x
70,8 cm. Fonte: Catálogo de exposição Lygia Pape: Espaço Imantado, p.195.
Figura 17: Poema-luz Sono, Lygia Pape, 1956-7, vidro/acrílico, têmpera, texto, 44,1 x
65,2 cm. Fonte: Catálogo de exposição Lygia Pape: Espaço Imantado, p. 194.
59
Nessa mesma época também cria os Poemas-objetos, que exigiam a
participação do espectador no manuseio do objeto feito em papel colorido, que
se desdobrava em cores, formas e palavras na medida em que iam sendo
explorados.
A Unidade Tripartida de Max Bill [figura 4], obra enigmática que marcou
o boom da Arte Concreta no Brasil, explora muito bem esse conceito do vazio
como volume e a memória do vazio participativo. Além de Bill, os artistas
60
concretistas brasileiros também souberam explorar bem essa complementação
física da obra pelo processo da imaginação e memória. Algumas obras de
Franz Weissmann e Amílcar de Castro, de acordo com Scovino (2003, p. 27),
―afirmavam-se como produção de espaço, uma ordem com a qual cabia
dialogar e interagir‖.
Figura 18: Cubo Vazado, Franz Weissmann, 1951, metal s/ madeira. Fotografia,
autoria desconhecida. Disponível em <www.franzweissmann.com.br> acesso em
15/01/2013.
Figura 19: Cubo Vazado, Franz Weissmann, 1951, metal s/ madeira. Fotografia,
autoria desconhecida.Disponível em <www.entretenimento.uol.com.br> acesso em
15/01/2013.
Uma forma só tem sentido por sua estreita ligação com seu espaço
interior (vazio-pleno). A percepção do que chamo vazio-pleno me veio
no momento em que abrindo uma cesta compreendi bruscamente a
relação de totalidade que unia o interior à forma externa. (CLARK,
1960, acessado em 20/12/12, disponível em www.lygiclark.org.br)
61
Outra vertente desse campo de experiências de participação, segundo
Scovino (2003, p. 29) : ―surge depois das primeiras experiências com Op Art no
Brasil, e traz a palavra para esse campo, fazendo com que a participação tome
novos rumos‖.
Figura 20: Poema-objeto VOID, Lygia Pape, 1957, têmpera s/ cartão, 25,5 x 21,4 cm.
Fotograma. Fonte: Catálogo de exposição Lygia Pape: Espaço Imantado, 2012, p.
198.
Figura 21: Poema-objeto VOID Lygia Pape, 1957, têmpera s/ cartão, 25,5 x 21,4 cm.
Fotograma. Fonte: Gávea de Tocaia: Lygia Pape, 2000, p. 98-99.
62
materialidade, com o pensamento, atividade imaterial, aparece na obra de
Lygia Pape antes da ruptura neoconcreta‖:
Figura 22: Planos em superfície modulada nº 5, Lygia Clark, 1957, tinta industrial s/
madeira, 80 x 70 cm. Fonte: MAC Virtual/USP. Disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/frente/clark/o
utras.html> acesso em 15/3/2013.
63
Figura 23: Ovo linear, da série Contra relevo, Lygia Clark, 1958, 30 cm, tinta industrial
s/ madeira. Fonte: MAC Virtual/USP. Disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/frente/clark/o
utras.html> acesso em 15/3/2013.
Figura 24: Contra-relevo, da série Contra relevo, Lygia Clark, 1959, 140 x 140 x 2,5
cm, tinta industrial s/ madeira. Fonte: MAC Virtual/USP. Disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo3/frente/clark/o
utras.html> acesso em 15/3/2013.
Figura 25: Metaesquema I, Hélio Oiticica, 1958, guache s/ cartão, 52 x 64 cm. Fonte:
MAC Virtual/USP. Disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/mirada/img4.asp> acesso em
15/3/2013.
Figura 26: Metaesquema II, Hélio Oiticica, 1958, guache s/ cartão, 55 x 63,9 cm.
Fonte: MAC Virtual/USP. Disponível em
<http://www.mac.usp.br/mac/templates/exposicoes/Ciccillo/HelioOiticica.asp> acesso
em 15/3/2013.
64
Figura 27: Pintura Branca, Hélio Oiticica, 1959, foto de César Oiticica Filho. Fonte:
Catálogo da exposição Hélio Oiticica: museu é o mundo, 2010, p. 16.
Figura 28: Grupo de Monocromáticos, série Invenções, Hélio Oiticica, 1959, fotografia
Mauricio Cyrne. Fonte: Catálogo da exposição Hélio Oiticica: museu é o mundo, 2010,
p. 26.
65
29] do suprematista Malevich15? ―Ser devorada ou devorar é o processo de
incorporação mútua‖, afirma Lygia Clark em Sobre o canibalismo (apud
HERKENHOFF, 2012, p. 22), dando pistas da relação antropofágica que os
artistas do Grupo Frente estabeleciam entre si.
Figura 29: White on White, Kazemir Malevich, 1918, óleo s/ tela, 79,4 x 79,4 cm, fonte
MoMA/Museu de Arte Moderna de Nova Iorque/EUA. Disponível em
<http://www.moma.org/collection/object.php?object_id=80385> acesso em 17/4/2013.
Figura 30: Pintura Branca [Detalhe], Hélio Oiticica, 1959, foto de César Oiticica Filho,
fonte: Catálogo da exposição Hélio Oiticica: museu é o mundo, 2010, p. 16
Figura 31: Fruta, da série Livro-poema Ferreira Gullar, [1959?], papel, dobras, recortes
e texto. Fonte: livro Experiência neoconcreta: momento-limite, 2007, p. 37-8.
15
Kazemir Malevich (Kiev, 1878 - São Petersburgo, 1935).foi um pintor abstrato soviético que fez parte
da Vanguarda Russa. Foi o mentor do Suprematismo. Ao lado de Kandinsky e Mondrian, Malevich é um
dos inventores e teóricos da arte nãofigurativa. Como fundador do Suprematismo, levou o
abstracionismo geométrico à sua forma mais simples. O Quadrado negro sobre fundo branco, pintado
entre1913 e 1915, constituiu uma ruptura radical com a arte existente na época. A obra foi apresentada
pela primeira vez na exposição 0,10 em Petrogrado, com 38 outras obras supremasitas, marcando o
lançamento do manifesto e o início do movimento.
66
Os Poemas de Gullar também convidam o espectador a manuseá-los de
modo que os espaços, cores e palavras vão se transformando em sentidos,
revelados a partir da interatividade do leitor.
A produção dos Livros-poemas e Livros-objetos segundo Gullar (2007, p.
37): ―iria ter consequências muito importantes no desdobramento futuro da arte
neoconcreta‖, cujo marco histórico é a publicação de um manifesto escrito por
Gullar e pelos artistas do Grupo Neoconcreto, em 1959.
Figura 32: Poema-espacial Onde, Ferreira Gullar, [1959?], placa, texto, cubo e
paralelepípedos retângulos, 40 x 40 x 5 cm (placa). Fonte: livro Experiência
neoconcreta: momento-limite, 2007, p. 16-47.
67
Pape relata que após apresentar a Gullar e Reinaldo Jardim seu Livro da
Criação (1959-60), durante um jantar em sua casa, do qual também
participavam Hélio Oiticica, Lygia Clark e Mário Pedrosa:
Figura 33: Parte do Livro da Criação [18 peças] ―O homem descobriu o fogo‖
[fechado], Lygia Pape, 1959-60, guache s/ cartão, 30 x 30 x 0,2 cm [cada]. Fonte:
Associação Cultural Projeto Lygia Pape. Disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=13> acesso em 27/3/2013).
Figura 34: Parte do Livro da Criação [18 peças] ―O homem descobriu o fogo‖ [aberto],
Lygia Pape, 1959-60, guache s/ cartão, 30 x 30 x 0,2 cm [cada]. Fonte: Associação
Cultural Projeto Lygia Pape. Disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=13> acesso em 27/3/2013).
68
Figura 35: Parte do Livro da Criação [18 peças] ―No começo era tudo água‖, Lygia
Pape, 1959-60, guache s/ cartão, 30 x 30 x 0,2 cm [cada]. Fonte: Gávea de Tocaia:
Lygia Pape, 2000, p. 135.
Figura 36: Parte do Livro da Criação [18 peças] ―Depois as águas foram baixando‖,
Lygia Pape, 1959-60, guache s/ cartão, 30 x 30 x 0,2 cm [cada]. Fonte: Gávea de
Tocaia: Lygia Pape, 2000, p. 137.
[...] no começo era tudo água [...] depois as águas foram baixando [...]
o homem começou a marcar o tempo [...] o homem descobriu o fogo
[...] o homem era nômade e caçador [...] na floresta [...] o homem era
gregário e semeou a terra [...] e a terra floresceu [...] o homem
inventou a roda [...] o homem descobriu o sistema planetário [...]
palafita [...] submarino – o vazado é o cheio dentro d‘água [...] luz.
(PAPE, 2000, p. 134-155)
A parte que se refere à água possui cinco partes, sendo uma prancha
quadrada [figura 35] e peças com um corte convexo na vertical de cada
quadrado [figura 36]. Cada corte convexo é calculado para reduzir a altura
proporcionalmente. Como as peças tem diferentes alturas, o espectador pode
69
agrupá-las conferindo o sentido de movimento da água, que vai ―baixando,
baixando, baixando‖ conforme o poema da artista (PAPE, 2000, p. 136). O
Livro da criação de Pape, segundo Gullar (2007, p. 40), ―era a concepção de
uma artista plástica que, em página de grande formato e usando cartolina e
papel japonês colorido, criava metáforas visuais da aurora, da noite etc‖. No
Livro da Criação podemos criar uma narrativa da criação do mundo sem
precisarmos das palavras escritas para criar os sentidos. O interessante é que
cada um pode criar a sua sequencia e estabelecer diferentes relações entre
cada peça. No Livro da criação a palavra escrita é suprimida, diferente dos
Poemas-luz, nos quais a palavra escrita era parte da composição: ―no começo
era tudo água, depois as águas foram baixando... Então o poema já era todo
oral, não havia mais nenhuma palavra dentro do livro, mas ele tinha uma
história‖. (MATTAR, 2003, p. 68)
O Livro da Criação foi criado em 1959, no intervalo correspondente à
criação de cada um do Ballés neoconcretos, sendo o primeiro de 1958 e o
segundo concebido também em1959, que é o ano que marca a passagem de
Pape do Grupo Frente para o Grupo Neoconcreto. Foi nesse período que ficou
evidente a ―cisão‖ dos artistas concretos brasileiros, antes reunidos em dois
grupos: o Frente (sediado no Rio de Janeiro) e o Ruptura (sediado em São
Paulo). Após a ―cisma‖, o Grupo Neoconcreto excluiu alguns dos artistas que
participavam do Grupo Frente, entre o de maior destaque figura Ivan Serpa,
que era conhecido como o ―aglutinador‖ do Grupo Frente.
Lygia Pape quando entrevistada por Divino Sobral, afirma que ela e
outros artistas concretistas ―estávamos fazendo rupturas o tempo todo‖:
70
Quando começamos a fazer uma obra concreta, construtiva,
estávamos negando uma arte figurativa muito esclerosada. Então,
naquele momento, era uma ruptura. Mais adiante, quando sentimos
que a entrada de cabeça no racional e no matemático também havia
se esclerosado, fizemos uma outra ruptura. (SOBRAL, 2004, p.135)
Nesse período eu tive uma discussão com o Ivan, porque ele era
muito lacerdista, quis botar o Grupo Frente apoiando Lacerda.
Brigamos, porque eu tinha horror do Lacerda. Quando surgiu o Grupo
Neoconcreto, o Ivan não foi chamado, por pressão, principalmente,
de Lygia Clark. Os outros ficaram [...] A Lygia tinha uma rivalidade
com ele em relação a Mário Pedrosa. (MATTAR, 2003, p. 64).
71
concreta, ainda que sendo uma negação dela‖ (GULLAR, 2007, p. 41). Surge
então o Manifesto Neoconcreto, escrito por Ferreira Gullar em conjunto com
alguns dos integrantes do novo Grupo: Amilcar de Castro, Lygia Clark, Lygia
Pape, Reynaldo Jardim, Claudio Mello e Souza, Theon Spandius e Franz
Weissmann. O manifesto foi publicado no dia 22 de março de 1959, no
Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro. O texto também
integrava o catálogo da 1ª Exposição Neoconcreta. Deixavam claro no texto
que os participantes da exposição não constituíam um ―grupo‖, pois não
estariam ligados por princípios dogmáticos, mas pela afinidade das pesquisas
que realizavam em vários campos. Ainda, que estariam juntos até quando
durasse a afinidade que os aproximou. Os artistas propunham dar ―prevalência
à obra sobre a teoria‖ e uma ―total integração da arte na vida cotidiana‖
(Catálogo da 1ª Exposição Neoconcreta apud GULLAR, 2007, fac-símile
anexo).
Em síntese, o que afirmei no manifesto foi que o racionalismo rouba à
arte toda a autonomia e substitui as qualidades intransferíveis da obra
de arte por noções da objetividade cientifica: assim os conceitos de
forma, espaço, tempo, estrutura – que na linguagem das artes estão
ligados a uma significação existencial, emotiva, afetiva – são
confundidos com a aplicação técnica que deles faz a ciência. Afirmo
ali que, para os neoconcretos, a obra de arte não é uma máquina,
mas um quasi-corpus, isto é, um ser cuja realidade não se esgota nas
relações exteriores de seus elementos, conforme a visão de Merleau-
Ponty, Susan Langer e Vladímir Weidlé, para os quais a obra de arte
se assemelha não a máquinas, mas a organismos vivos. (GULLAR,
2007, p. 42-3)
72
ditas geométricas perdiam o caráter objetivo da geometria para se fazer veículo
da imaginação, podendo assumir a expressão de realidades humanas
complexas, tal como o provam muitas das obras de Mondrian, Malevitch,
Pevsner, Gabo, Sofia Taueber-Arp etc.
No âmbito da poesia, os poetas concretos racionalistas também
idealizaram em sua arte a imitação da máquina, legando às relações de espaço
e tempo à relações exteriores entre palavras-objetos, fazendo com que a
página fosse reduzida a um espaço gráfico e a palavra, a um elemento desse
espaço. Como na pintura, o visual se reduzia ao ótico e o poema não
ultrapassava a dimensão gráfica. Já a poesia neoconcreta rejeitaria tais
noções, mantendo-se fiel à natureza da linguagem, afirmando o poema como
um ser temporal, pois seria no tempo e não no espaço que a palavra se
desdobraria em sua complexa natureza significativa. Afirmavam que a página
na poesia neoconcreta seria a espacialização do tempo verbal. Nesse aspecto
até mesmo o projeto gráfico do Jornal do Brasil foi afetado pelo pensamento
neoconcreto, pois Reynaldo Jardim pediu que Amílcar de Castro diagramasse
o número do Suplemento Dominical que publicaria o Manifesto Neoconcreto e
a primeira exposição do Grupo. Segundo Gullar (2007, p. 43) ―a primeira
página deste número do suplemento tornou-se um marco de renovação gráfica
da imprensa brasileira‖:
73
O Movimento Neoconcreto foi singular na arte brasileira, embora seu
significado mais profundo estivesse ligado ao processo geral das
vanguardas europeias, da qual teria sido, em termos locais, ―uma
expressão particular e extremada‖. (GULLAR, 1984 apud MACHADO,
2010, 34)
16
Disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/lygia.php> acesso em 30/1/2011.
77
Segundo Lygia Pape (2012, p. 162), ―um balé neoconcreto se distingue,
antes mais nada, pelo seu caráter espaço-temporal‖:
79
polêmica incrustada no circuito de arte brasileiro no final dos anos 50
e início dos anos 60. (BRITO, 199, p. 83)
Brito (1999, p. 102), afirma que Pape ―foi a primeira entre os concretistas
a tratar das questões do corpo, quando em 1958 apresenta seu Ballet
Neoconcreto‖. E mais, o Livro da criação (1959-60), o Livro da arquitetura
(1959-60) e o Livro do tempo (1961), demonstram seu pioneirismo no uso do
livro como obra de artes plásticas. Neles ―o vocabulário de formas e cores
constituiu uma experiência lúdica e poética com a participação ativa do ‗leitor‘.‖
(BRITO, 1999, p. 102). Nas palavras de Pape (1998, p. 31-2): ―ele [o Livro] é ao
mesmo tempo, um poema e um objeto de artes plásticas‖.
Figura 44: Livro da Arquitetura - Lance livre de concreto, Lygia Pape, 1959-60,
têmpera, cartão, 30 x 30 x 0,2 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape,
disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra50.php?i=15> acesso em
15/4/2013.
Figura 45: Livro da Arquitetura [12 partes], Lygia Pape, 1959-60, têmpera,
cartão, 30 x 30 x 0,2 cm cada. Fotografia Paula Pape. Vista da exposição Magnetized
Space [Espaço Imantado], na Serpentine Gallery, em Londres (dez/2012). Fonte:
Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://lygiapape.org.br/news/?s=serpentine> acesso em 15/4/2013.
80
Pape em 1998 (p.33), em entrevista a Lucia Carneiro e Ileana Pradilla,
disse que seus Livros continuavam novos para ela, apesar de terem sido feitos
entre 1959 e 1961. Que sempre que ela os expunha as pessoas ficavam muito
interessadas, que por isso, pareciam algo feito ―hoje‖.
Figura 46: Livro do tempo [365 partes], Lygia Pape, 1961, têmpera s/ madeira,
16 x 16 x 1,6 cm cada. Fotografia: Paula Pape. Vista da exposição Magnetized Space
[Espaço Imantado], na Serpentine Gallery, em Londres (dez/2012). Fonte: Associação
Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://lygiapape.org.br/news/?s=serpentine> acesso em 15/4/2013.
81
O Livro do tempo, executado em 1960/61, é composto de 365
unidades pequenas de madeira (16 x 16 cm), uma para cada dia do
ano. Sua concepção também colocava um problema. Tratava-se de
partir um quadro que eu cortava, seccionava uma das partes, mudava
a cor ou introduzia algum elemento e tornava ao plano. (PAPE, 1998,
p. 32)
Figura 47: Preto e amarelo - Escultura, Lygia Pape, 1965, madeira pintada c/ tinta
automotiva, 100 x 100 x 12 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape,
disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra60.php?i=2> acesso em
15/4/2013.
Figura 48: Branco e preto - Escultura, Lygia Pape, 1965, madeira pintada c/ tinta
automotiva, 50 x 50 x 12 cm. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape,
disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra60.php?i=3> acesso em
15/4/2013.
Figura 49: Cartaz Mandacaru Vermelho, Lygia Pape, 1961 [filme homônimo do diretor
Nelson Pereira dos Santos, 1961]. Fonte: Catálogo da exposição Lygia Pape: Espaço
Imantado, 2012, p.349.
17
O Cinema Novo foi um movimento que, a partir de meados dos anos 1950, em correspondência com o
neorrealismo e a nouvelle vague, trazia às telas as imagens cotidianas e míticas do Brasil, em constante
busca de renovação da linguagem narrativa. Os principais expoentes do movimento foram Cacá Diegues,
Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni, Ruy Guerra, entre
outros. Fonte: CAVALCANTI, Lauro. Lygia pape: em busca do poema, p. 303. In Catálogo da exposição
Lygia Pape: espaço imantado, Pinacoteca de São Paulo, 2012.
83
No arquivo de obras da artista encontramos outra versão do cartaz do
filme Mandacaru Vermelho.
Figura 50: Cartaz Mandacaru Vermelho, Lygia Pape, 1961 [filme homônimo do
diretor Nelson Pereira dos Santos, 1961]. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia
Pape, disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra60.php?i=4> acesso em
15/4/2013.
84
II. LYGIA PAPE: UMA SEMENTE PERMANENTEMENTE ABERTA
Por esse aspecto, de transitar por diversas linguagens, Lygia adentra por
universos distintos, ela explora meios e técnicas diferentes, mas percebe que
85
tudo isso faz parte de seu processo, que ―isso tudo faz parte de um todo e
funciona organicamente‖ (PAPE, 1998, p. 53), e justamente por adentrar
nesses universos a artista acabou se tornando uma espécie de desbravadora
de territórios. Chega pela primeira vez à participação ativa do espectador com
seus Poemas-objetos, em 1957 e à questão do corpo, em 1958, com seu Ballet
neoconcreto, territórios que ainda não haviam sido explorados pelos artistas
brasileiros, seus contemporâneos, até então, como afirmam os críticos Osorio
(2012, p. 100) e Brito (1999, p. 102), respectivamente.
O ineditismo de Lygia foi recorrente em outros momentos, pois a artista
foi uma das primeiras a fazer experimentações com cinema no Brasil e, de
acordo com Machado (2010, p. 43): ―seu interesse pelo cinema teria surgido a
partir de uma gravura toda branca que produziu‖. Em depoimento Pape
comenta sobre a descoberta da luz na gravura e sua transição para o cinema:
―no dia em que fiz uma gravura toda branca, parei. Cheguei à luz. Aí parei e fui
fazer cinema‖ (COCCHIARALE; GEIGER, 1987, p. 160 apud MACHADO, 2010,
p. 43). Outra alusão à descoberta da luz é a instalação Faca de luz (1975), na
qual a artista adentra uma caixa coberta por um plástico preto, e, com uma
faca, abre um buraco na parte superior da caixa, que imediatamente é
preenchido por uma luz projetada que invade o espaço interior da caixa. Com
esse gesto a artista literalmente ―descobre a luz‖.
Figura 51: Faca de luz, Lygia Pape, 1975, madeira, plástico e faca, 1 x 1 x 2 m.
Fotografia em cores. Fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra70.php?i=7> acesso em 20/4/2013.
86
Com a dissolução do grupo neoconcreto em 1963, a artista afirma:
―deixei um pouco de lado as artes plásticas e me voltei para o cinema,
trabalhando com o pessoal do Cinema Novo, fazendo letreiros, cartazes e
muitas experiências visuais‖ (MATTAR, 2003, p. 70). Lygia fez muitos filmes
experimentais durante sua trajetória, sendo a década de 1970 18 a mais
produtiva para a artista no campo do cinema autoral.
Nas experimentações cinematográficas a artista criou diversos filmes,
um deles foi em 1963, a convite de Cosme Alves Neto, curador da Cinemateca
do MAM-RJ, para apresentação da Cinemateca a ser exibida antes dos filmes
no Cine Paissandu. Lygia então criou um filme em preto e branco, filmado em
35mm e depois copiado 16mm, com 20 segundos de duração, sobre ele a
artista comenta:
18
Os dados sobre a produção fílmica de Pape estão descritas em sua Cronologia, item que segue no
Apêndice deste trabalho. Lygia criou os filmes: O asilo e A gula em 1960; Vinheta para cinemateca do
MAM-RJ em 1963; La nouvelle création em 1967; Aterro do flamengo em 1968; Artes plásticas, filme
com obras da artista: ‘Ovo, Divisor, Roda dos Prazeres, O homem e sua bainha’, Opção brasileira e
Alguns amigos em 1970; The Super, O guarda-chuva vermelho e A matemática e o futebol em 1971;
Nossa vida com saúde, Ivan o Terrível e LINGUageM em 1973; Wampirou, Carnival in Rio, Arenas
Calientes, Sedução I e II e Our parents em 1974; Eat me e A mão do povo em 1975; Feira de Campina, de
1976; Mário Pedrosa: PT Saudações e Catiti catiti em 1978; Favela da Maré em 1982; Sedução III e
Maiakovski: a viagem em 1999 e BUT I FLY em 2001 .
87
―La Nouvelle Création19, [A nova criação] premiado em 1967, num
festival de cinema em Montreal, no Canadá, cujo tema foi ―Terra dos homens‖
do livro homônimo de Saint Exupéry‖ (MATTAR, 2003, p. 37). As imagens
usadas foram cedidas pela NASA, era um trecho da filmagem em preto e
branco que mostrava um cosmonauta saindo da nave e flutuando no espaço.
Esse trecho do vídeo teve o tempo dos quadros alterado, editado de modo a
tornar mais lentos os movimentos do cosmonauta, que era ligado à nave
apenas por um ―cordão umbilical‖. ―Toda lentidão dos movimentos do
cosmonauta era abruptamente quebrada pela entrada de uma tela toda
vermelha em sincronia com um som de choro de criança: ‗nascia um novo
homem‘‖ (PUPPO, 2004, p. 134 apud MACHADO, 2008, p. 37).
Figura 52, 53, 54 e 55: Fotogramas do filme La nouvelle création, Lygia Pape, 1967.
Fotogramas. Fonte: catálogo da exposição Lygia Pape: espaço imantado, 2012, p.
350-1.
19
Identificamos disparidade na informação relativa ao tempo de duração do filme. A autora Denise
Mattar no livro Lygia Pape: Intrinsecamente anarquista, colheu depoimento da artista que na página 71,
descreve La Nouvelle Crétion como um filme de 50 segundos de duração. Na cronologia das obras de
Pape, na mesma publicação, a duração do filme é creditada em 50 minutos. No sítio da Associação
Cultural Projeto Lygia Pape não é informado o tempo de duração dos filmes da artista.
88
Na década de 1970, Lygia se debruçou na criação de vários filmes, foi
um período intenso no qual a artista iria desenvolver também, segundo Bentes
(2012, p. 342) ―um de seus conceitos mais singulares [os espaços imantados],
como desdobramentos em diferentes campos‖:
Figura 56: Espaços imantados, Lygia Pape (1982-2011). Fotografia, fonte: Catálogo da
exposição Lygia Pape: espaços imantados, 2012, p. 309.
Figura 57: Espaços imantados, Lygia Pape (1968-2002). Fotografia, fonte: Associação
Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra60.php?i=13> acesso em 16/4/2013.
20
Novamente percebemos disparidade entre informações, a data de criação do filme Favela da Maré,
citada por Bentes é 1972 e no sítio da Associação Cultural Projeto Lygia Pape a data indicada é 1982.
89
Os ―espaços imantados‖ a que se refere Bentes (2012, p. 342), foram
percebidos por Pape a partir de suas andanças de carro pela cidade, quando a
artista descreve imaginar os seus trajetos e de outras pessoas como linhas que
se entrecruzam na cidade, criando uma grande teia:
Também havia para a artista espaços que eram imantados por sua
natureza como a Baixada Fluminense, a Rua da Alfândega, o mercado de
Madureira, a favela da Maré etc.
As relações de Pape com a cidade, os espaços imantados e a ideia da
cidade como teia poderão ser percebidos em outros trabalhos da artista como
Livro dos caminhos (1963/1976), Ttéias (1979/2013), Divisor (1968/2013) e
outras.
90
Figura 58: Livro dos caminhos, Lygia Pape, 1963/1976, madeira, têmpera e óleo, 100 x
100 x 20 cm. Fotografia, fonte: Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra70.php?i=4> acesso em 16/4/2013.
Figura 59: Tteia 1A, Lygia Pape, 1979, fio de cobre, projeto 1. Fotografia, fonte:
Associação Cultural Projeto Lygia Pape, disponível em
<http://www.lygiapape.com.br/pt/obra70.php?i=6> acesso em 16/4/2013.
91
Figura 60: Divisor, Lygia Pape, 1968/2011, tecido branco, 10 x 10 m [?], Museo Reina
Sofia, praça Sánchez Bustillo, Madri, Espanha. Fotografia, fonte: Museo Reina Sofia,
acesso em 16/4/2013, disponível em
<http://www.flickr.com/photos/museoreinasofia/5776854365/in/photostream/>
92
2.1 Um novo olhar o mundo
93
Figura 61: Embalagens antigas de biscoitos Piraquê, [?1950], autor
desconhecido, [195-?]. Fotografia, acessada em 13/1/2013, disponível em
<http://www.marcosabino.com/blog/wp-content/uploads/2008/07/piraque-e-aymore-
padaria-n-sra-da-ajuda-freguesia1.jpg>
Figura 64: Marca Piraquê, Lygia Pape, [196-?]. Fonte: Associação Cultural
Projeto Lygia Pape. Disponível em <http://www.lygiapape.com.br/pt/obra70.php?i=14>
acesso em 15/2/2013.
95
Segundo Name (2009), Lygia ―criou o desenho de embalagens que se
tornaram clássicas, como as dos biscoitos Cream Crackers [figura 65], Maria e
Maisena [figura 67]‖. Lygia escolheu a cor vermelha para compor as
embalagens dos biscoitos citados anteriormente e também dos Queijinhos
[figura 68] e Roladinho Goiaba [figura 66], todos esses ―carros-chefes da
Piraquê‖ (NAME, 2008, p. 35).
97
Figura 68: Embalagem Queijinho/Piraquê, Lygia Pape, (196-?-2008). Fotografia,
disponível em <http://www.hippo.com.br> acesso em 13/1/2013.
Figura 69: Identidade visual de Caminhão/Piraquê, por Lygia Pape, (196-?). Fotografia,
disponível em <jornalbelfordroxo.blogspot.com> acesso em 13/1/2013.
98
composta por vários biscoitos quadrados dispostos num fundo branco, quase
que paralelamente uns aos outros, conferindo a ideia de linhas e colunas,
porém alguns biscoitos são movidos em ângulos, uns mais outros menos
inclinados, o que os fazem parecer losangos. Name (2009) compara o desenho
dessa embalagem com a série de Metaesquemas de Hélio Oiticica [figura 71].
Figura 70: Embalagem Água e Sal/Piraquê, Lygia Pape (196-?). Fotografia, disponível
em <http://daniname.files.wordpress.com> acesso em 13/1/2013.
99
Em mais um gesto antropofágico Lygia Pape deglute os princípios
concretos, pois trabalha com ―valores abstratos e formas concretas, com
materiais reais, que comportavam uma ‗forma necessária‘, segundo suas
especificidades próprias‖ (CANONGIA, 2005, p. 33), mas não concebe a obra
de arte ―nem como ‗máquina‘ nem como ‗objeto‘, mas como um quasi-corpus,
isto é, um ser cuja realidade não se esgota nas relações exteriores de seus
elementos‖, como expressam no Manifesto Neoconcreto (Catálogo Lygia Pape:
espaço imantado, 2012, p. 77-83).
Um caso interessante, sobre esse desejo de aproximar a arte da vida
que se difundiu nos movimentos de vanguarda da arte brasileira, pode ser
expresso na fala de Alexandre Wolner ao comentar sobre sua decisão de
abandonar a pintura e se dedicar somente ao design. Wolner começou sua
trajetória no início dos anos 1950, como pintor, ―afinado com o movimento
concreto paulista e depois se dedica exclusivamente ao design, levando para a
arte gráfica os princípios que orientavam o concretismo‖ (NAME, 2008, p. 9).
Wolner afirma em depoimento publicado em 1998, que deixou a pintura porque
―desejava um diálogo não com dez, mas com mil ou um milhão de pessoas‖
(Idem op. cit.). Lygia conseguiu conciliar seu trabalho artístico, muitas vezes
restrito a um menor público, mas ao mesmo tempo, com seus projetos de
design, se aproximou do grande público, dialogando por meio do desenho de
embalagens e marcas com ―um milhão de pessoas‖ e utilizando-se dos
princípios neoconcretos.
Pape foi uma artista que trouxe muitas inovações, nos seus Livros-
poemas e Ballets, traz questões sobre o corpo, a participação do espectador na
arte e no campo do design revolucionou não apenas o desenho gráfico das
embalagens de biscoito, mas todo o conceito do empacotamento, que
anteriormente era feito em latas padronizadas, independentemente do formato
dos biscoitos. A artista projetou embalagens descartáveis que embrulhavam os
biscoitos empilhados verticalmente, valorizando o formato atribuído a cada
sabor. Os biscoitos Maria, por exemplo, tem seu formato redondo e quando
empilhados formam um cilindro, os pacotes desses biscoitos tornaram-se os
sólidos geométricos gerados por seu empilhamento:
100
A artista desenvolveu [...] um método próprio de cortar e colar o papel
de embalo, de modo que ele passou a envolver os biscoitos sem
gerar sobras dos lados, acima ou abaixo. Os biscoitos passaram a
ser empilhados verticalmente e o papel plástico apenas se
sobrepunha a esta pilha, criando a forma que as embalagens de
Maria, Maizena e Cream Crackers têm até hoje, ou seja, a de sólidos
espaciais (cilindros, nos dois primeiros casos, e paralelepípedo, no
segundo). (NAME, p.34)
Figura 74: Embalagem Água e sal/Piraquê, [logo e embalagem com design atualizado]
(2009). Fotografia, disponível em < http://www.piraque.com.br> acesso em 13/1/2013.
101
Name (2008, p. 34) afirma que ―anos mais tarde, a artista enxergaria nos
dois trabalhos, os Ballets e o design das embalagens de biscoito, a herança de
seu interesse pela escultura‖.
Lygia ―levou seus objetos de arte para o espaço vivido‖, pois ao longo de
quase cinquenta anos (1960-2008), os desenhos criados por ela para as
embalagens dos produtos da Piraquê, e a própria marca da empresa, foram
mantidos sem que houvesse grandes alterações. Portanto, por quase
102
cinquenta anos as embalagens desenhadas pela artista figuraram nas
gôndolas de supermercados das regiões Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil.
Somente a partir de 2009 é que a Piraquê desenvolveu um projeto para
atualização da marca e das embalagens de seus produtos, alterando
significativamente o design de Pape e causando atritos entre artistas,
publicitários, designers e consumidores que acreditavam que o trabalho
desenvolvido por Lygia mantinha-se atual e não deveria ter sido modificado,
contra aqueles que foram favoráveis às mudanças.
Não aprofundarei nessa discussão, pois o objetivo é demonstrar como
Pape foi ―uma semente permanentemente aberta‖, portanto creio que
provavelmente a artista teria apoiado a mudança da marca e das embalagens,
pois, em certa ocasião, assim falou Lygia Pape: ―não sou nostálgica. Nada é
melhor do que o presente. [...] Não estou interessada em fazer um trabalho
para a posteridade‖ (MATTAR, 2003, p. 101).
Mesmo sem a intenção de ter seus trabalhos ainda vigorosos após tanto
tempo, as contribuições da artista alcançam também o campo do ensino, onde
durante um longo período, atuou como professora. Nas palavras de um de
seus alunos21:
Nesses encontros Pape relata que em suas aulas ―não dava só coisas
ligadas à arquitetura, era um projeto de desenvolvimento, de soltar as pessoas
por dentro‖ (MATTAR, 2003, p. 92). Mas apesar de lidar com a subjetividade de
cada um, de acordo com Cavalcanti (2012, p. 298): ―nenhuma intenção
terapêutica permeava as aulas, como o caminho desenvolvido por Lygia Clark.
O trabalho plástico acontecia de modo objetivo e direto‖.
21
Lauro Cavalcanti (1954, Recife) – Arquiteto e crítico de arquitetura. Foi diretor do Paço Imperial,
centro cultural no Rio de Janeiro. (MATTAR, 2003, p. 108)
103
Durante um longo período Lygia se dedicou ao ensino. Deu aula de
arte no curso livre do MAM/RJ entre 1969 e 1971 e de 1976 a 1977
na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 1972 a 1985 de
Semiótica do Espaço e Plástica para os alunos do curso de
Arquitetura da Universidade Santa Úrsula, e ainda lecionou
disciplinas relacionadas ao desenho na Escola de Belas Artes da
Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1982 a 1989, para as
quais acreditando que ―arte não se ensina‖, inventou exercícios que
consistiam em proposições que pudessem desencadear processos
ou ideias criativas nos alunos. (MACHADO, 2008, p. 35)
Figuras 75, 76, 77, 78, 79 e 80: Favela da Maré, Lygia Pape, 1974-1976/2011.
Fotografia em cores, acervo Cultural Associação Projeto Lygia Pape, fonte: catálogo
da exposição Lygia Pape: espaço imantado, 2012, p. 315.
105
Segundo Lauro Cavalcanti a artista questionava cada um dos alunos:
―como é que você podia ser um bom arquiteto se você não conhecia nem o Rio
de Janeiro?‖ (CAVALCANTI, 2012, p. 304).
Além das andanças pela cidade, Pape criava oportunidades para que
seus alunos pudessem conhecer os ―mais elementares métodos construtivos‖
(CAVALCANTI, 2012, p. 298) também na prática. Ensinava-os o ofício dos
pedreiros, incentivando-os a criarem paredes e depois analisarem as relações
do espaço construído:
Figura 81: Alunos construindo a Casa sapé, Lygia Pape, 1979/2011. Fotografia em
preto e branco, acervo Cultural Associação Projeto Lygia Pape, fonte: catálogo da
exposição Lygia Pape: espaço imantado, 2012, p. 312.
106
Figura 82: Alunos construindo a Casa sapé, Lygia Pape, 1979/2011. Fotografia em
preto e branco, acervo Cultural Associação Projeto Lygia Pape, fonte: catálogo da
exposição Lygia Pape: espaço imantado, 2012, p. 312.
107
Essa percepção matemática do espaço, esse espaço topológico, que
permite aproveitar um cilindro de óleo e dar a ele outro significado, é
um momento poético que me emociona. Sinto a mesma emoção
quando, inesperadamente, um aluno anônimo, no cantinho da sala,
faz uma obra maravilhosa. Não sei se ele conseguirá repetir, ou não,
ou mesmo se está consciente do que fez, mas aquele momento
poético é muito gratificante. (PAPE, 1998, p. 20)
[...] você podia comprar esses saquinhos, por Cr$ 1,00 (um cruzeiro),
o que também era uma forma de contestar o mercado de arte. As
pessoas mais diversas compravam essas ―obras de arte‖. Eu
carimbava, beijava, marcando de batom cada um deles, e assinava.
(MATTAR, 2003, p. 84)
22
Os Objetos de Sedução eram vendidos a C$ 1,00 (um cruzeiro), em 1976. Com a correção monetária
até 2013, o valor equivale hoje a R$ 1,85 (um real e oitenta e cinco centavos). Fonte sítio do Banco
Central do Brasil, aplicativo calculadora do cidadão, acessado em 02/06/2013, disponível em
<https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/corrigirPorIndice.do?method=corrigirPorIndice>
109
Figura 83: Eat Me: A Gula ou a Luxúria?, Lygia Pape,1976. Instalação com Luzes
coloridas, tecido;plástico preto, saquinhos brancos Objetos de Sedução, 2m x 2m.
Disponível em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra70.php?i=2> acesso em
18/02/2013.
Figura 84: Eat Me: A Gula ou a Luxúria? [Detalhe], Lygia Pape,1976. Saquinhos
brancos com Objetos de Sedução, 40cm x 40cm. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra70.php?i=2> acesso em 18/02/2013.
110
Durante muitos anos Lygia se recusou estar no mercado de arte:
―eventualmente vendo uma obra, mas não produzo sistematicamente para o
mercado‖ (PAPE, 1998, p. 23) e, somente na década de 1990, passou a ser
representada por galerias, a Marcantonio Villaça em São Paulo e a Thomas
Cohn no Rio. Posteriormente optou em ter seus trabalhos representados
somente pela Marcantonio Villaça: ―[...] optei por ter só um porque não quero
virar uma fábrica de produção [...] faço questão de ter um território livre para
poder expor onde eu quiser‖ (PAPE, 1998, p. 58-9). A artista afirma que passou
a ver a galeria comercial como um espaço interessante e produtivo no sentido
cultural, um lugar com potencial para realizar grandes mostras históricas de
artistas atuantes, além de exposições para exibir a produção mais recente, com
obras inéditas: ―[...] os museus não tem mais verba suficiente para fazer todas
as grandes exposições que gostariam e, desse modo, não conseguem mais
preencher essa função divulgadora‖ (PAPE, 1998, p. 59).
A postura crítica de Pape, na qual sua liberdade de criação era sempre
resguardada, permitindo que a artista produzisse desvios à ordem instituída, é
relacionada por Machado (2008, p. 140) ao conceito de marginal formulado por
Oiticica:
111
Os Tecelares, no fundo, são mesmo pinturas e não gravuras, e para
mim as razões são estas: primeiro, eu não produzia o trabalho para
uma determinada tiragem, e sim trabalhava a madeira, tirava quase
sempre uma única cópia num papel japonês muito grosso e que dava
uma impressão belíssima, realizando assim um espelho da matriz; de
repente eu tinha uma espécie de ser e de não ser, o que também era
considerado um trabalho. (MATTAR, 2003, p. 63)
23
Exposição organizada por um grupo de artistas e críticos de arte, entre eles Hélio Oiticica, apresentou
as diferentes correntes da vanguarda do Brasil, arte concreta, neoconcretismo, nova figuração, em
torno da ideia de nova objetividade, termo cunhado por Oiticica para definir a tendência de superação
dos suportes tradicionais como pintura, gravura, escultura, em favor dos objetos e das estruturas
ambientais.
112
Figura 85: Caixa das Baratas, Lygia Pape,1967. Acrílico, baratas, espelho, 35 x 25 x
10 cm. Disponível em <http://www.lygiapape.org.br/img/obra60_8a.jpg> acesso em
13/01/2013.
Figura 86: Caixa das Formigas, Lygia Pape,1967. Acrílico, formigas, carne, texto, 35 x
25 x 10 cm. Disponível em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra60.php?i=9>
acesso em 13/01/2013.
113
Para Pape, uma leitura possível do trabalho era ―a crítica à arte morta
dos museus, e esta crítica era passada através do asco, da aversão que você
sentia ao ver seu rosto refletido no espelho no meio daquela coleção de
baratas‖ (MATTAR, 2003, p. 71). Esse trabalho foi um dos primeiros de uma
série que Lygia viria produzir, Ovo, Divisor, Roda dos Prazeres, trabalhos em
que a artista dialoga com o espectador através das sensações, do sensorial,
daquilo que é provocado no espectador: ―eu começava a passar as minhas
ideias pela epiderme e não pelo discurso formal.‖ (MATTAR, 2003, p. 71).
Apesar da inovação e pioneirismo de suas obras, da relevância da
artista no cenário nacional e de seu reconhecimento, observamos que Lygia
Pape foi ofuscada pelo destaque dado à produção de Hélio Oiticica e Lygia
Clark. Entre os anos de 1960 a 2000 a produção bibliográfica sobre a artista
era escassa, demonstrando ―o quão pouco ela havia sido estudada, apesar de
seu reconhecimento como ―grande artista brasileira‖ e da grande quantidade de
estudos acadêmicos publicados sobre seus pares, Hélio Oiticica e Lygia Clark‖
(MACHADO, 2010, p. 17).
Segundo Paula Pape24 o reconhecimento do trabalho de Lygia por meio
de exposições individuais, publicações e pesquisas acadêmicas cresceu após
seu falecimento, em 2004, fato que, como cita Paula, ocorre com vários
artistas, ―só são realmente reconhecidos após a morte‖. Outro motivo apontado
por Paula é que Lygia foi uma pessoa que se dedicou muito em cuidar do
trabalho dos outros em detrimento de sua própria produção: ―ela ajudou a
organizar todo acervo de seu amigo Hélio Oiticica, falecido em 1980, e durante
anos atuou na divulgação de seu trabalho, fazendo parte da coordenação do
Projeto Hélio Oiticica‖.
De acordo com Machado (2010, p. 38): ― Pape alcançou maior destaque
quando o crítico Ronaldo Brito25 [...] a posicionou entre os artistas que
24
Fotógrafa carioca, filha caçula da artista Lygia Pape e Diretora da Associação Cultural Projeto Lygia
Pape, responsável pela administração de seu patrimônio cultural, em entrevista concedida para esta
pesquisa no dia 12/12/2012.
25
Brito era um dos editores da Revista Malasartes (1975-76), junto de Cildo Meireles, Waltércio
Caldas,Carlos Vergara, Carlos Zílio, Rubens Gerchman e outros, publica uma série de textos sobre o
movimento neoconcreto e em 1999 o livro Neoeconcretismo Vértice e Rupturas pela editora Cosac
Naify.
114
conseguiram romper com os postulados construtivos e inaugurar outros
caminhos para a arte contemporânea.‖
Pape sempre manteve uma postura crítica diante do aspecto comercial
da arte, se interessava em comercializar seus trabalhos, mas não produzia
sistematicamente para atender ao mercado, dedicava-se na produção de
―novas invenções‖ buscando sua própria satisfação:
[...] houve uma confusão. Foi aqui na minha casa, eu chamei o Mário
[Pedrosa], o Hélio [Oiticica], a Lygia [Clark], o Ferreira Gullar e o
Reinaldo Jardim. Mostrei o livro todo... o Mário, a Lygia e o Hélio
babaram, os outros dois ficaram em pânico. Foi um negócio muito
desagrdável. Um desastre total. Lamentável, triste. Os dois saíram
daqui aborrecidos, principalmente o Reinaldo Jardim; ele se sentiu
roubado, não sei por quê, pois meu livro não tinha nada a ver com as
suas ideias. E o Mário, a Lygia e o Hélio adoraram, adoraram. A partir
dali, fui tendo cada vez menos contato com o Gullar e me afastei dos
dois. (MATTAR, 2003, p. 69).
115
Ferreira Gullar produziu textos críticos sobre o trabalho de Lygia Clark,
Hélio Oiticica e outros artistas neoconcretos. Inclusive a teoria do não-objeto,
escrita em 1959, baseia-se na análise feita sobre os trabalhos de Clark, dos
Contrarelevos aos Bichos. O afastamento de Gullar e Pape, por causa de seu
Livro da Criação, impediu que o crítico apronfudasse sua análise e produção
crítica a cerca da obra de Pape.
Mário Pedrosa que foi amigo pessoal de Lygia Pape também escreveu
muito pouco sobre ela. Hélio Oiticica comenta, em carta endereçada a Pape
em 1969, que Pedrosa produziu poucos textos sobre a artista: ―Pape
permaneceu nos escritos de Pedrosa, ofuscada pelo destaque dado a seus
pares, principalmente a Lygia Clark‖ (MACHADO, 2010, p. 35).
Pedrosa, talvez percebendo quão pouco escreveu sobre a produção de
Pape, escreve um texto intitulado Para Lygia Pape, que publicado em 1983,
pela Funarte, como apresentação no livro Lygia Pape. Nele Pedrosa destaca
como características marcantes a diversidade dos suportes e o
experimentalismo da produção da artista:
116
2.3 Continuar até o fim da vida inventando coisas, ousando
São poucos os artistas que tiveram uma trajetória como a de Pape, que
por mais de cinquenta anos contribuiu para a arte e o design brasileiro,
produzindo obras significativas e de grande importância para o cenário
nacional, além disso, contribuindo com a formação de novos artistas e
arquitetos no período em que lecionou nas Universidades Santa Úrsula e
Federal do Rio de Janeiro.
Em uma de suas últimas exposições individuais no Rio de Janeiro, em
2002, quando Lygia estava com 72 anos, apresentou novas obras e de grande
impacto. A artista não queria produzir uma exposição retrospectiva, dizia que
preferia fazer exposições com peças inéditas: ―Acho um tédio pegar um
trabalho e apresentar uma releitura. Cada trabalho para mim é muito claro
como conceito, então por que eu vou falar duas vezes sobre a mesma coisa?‖
(NAME, 2001, disponível em <http://www.nossacasa.net/recomeco/0017.htm>
acesso em 25/02/2013). Nessa exposição foram apresentadas três instalações:
New House, Carandiru e Jogo de Tênis; haviam também esculturas e objetos.
Carandiru tratava-se de um ambiente escuro com uma parede toda em
vermelho e dela vertia continuamente um líquido também vermelho. Nessa
instalação de grandes dimensões - tinha 5 metros de altura, por 6 de largura e
3 de comprimento, o vermelho envolvia o espectador, o movimento da água em
cascata produzia sons que lembravam um rio correndo. Ao se retirar da sala
vermelha surgiam imagens projetadas lado a lado, imagens de índios, sempre
em preto e branco e dos detentos do Carandiru, sempre em vermelho. Entre as
imagens haviam gravuras que ilustram o livro de Hans Staden26, retratando os
confrontos entre os tupinambás e os portugueses.
26
Viajante alemão que em sua segunda viagem ao Brasil sofre um naufrágio e se refugia num forte
português. Foi aprisionado pelos tupinambás, mas depois de algum tempo consegue fugir e retornar à
Europa, onde publicou, em 1557, o livro conhecido como Duas Viagens contando suas aventuras
117
Lygia Pape associou o massacre dos prisioneiros do presídio
Carandiru27 ao massacre dos Tupinambás28, índios que habitavam a costa
brasileira e que também foram dizimados de forma violenta.
Segundo o crítico Paulo Sérgio Duarte (2002, p. 11), Lygia confere ao
Carandiru uma solução formal que não o subjuga ao tema e tão pouco o
rebaixa a um mero panfleto: ―o referente é a própria razão de ser do trabalho.
[...] A artista não se refugiou na aparente incomunicabilidade permitida por
qualquer investigação poética livre, encarou de frente o problema do conteúdo
na obra de arte‖.
ilustradas por xilogravuras. Além das batalhas as ilustrações reproduzem os rituais antropofágicos dos
tupinambás.
27
Casa de detenção de São Paulo, no bairro Carandiru. Inaugurada na década de 1920, com 9 pavilhões.
Abrigou mais de 8 mil presos. Foi desativada e demolida em 2002. Em 2/10/1992, uma briga de presos
gerou tumulto e rebelião. A intervenção da Polícia Militar durou cerca de 30 minutos, foram disparados
cerca de 3.500 tiros, deixando 540 feridos e 111 mortos. Nenhum dos 68 policiais envolvidos no
massacre foi morto.
28
"Tupinambá" é oriundo do termo tupi tubüb-abá, que significa "descendentes dos primeiros pais",
através da junção dos termos tuba(pai), ypy (primeiro) e abá (homem). Povo indígena brasileiro, que até
o século XVI habitava duas regiões da costa: da margem direita do Rio São Francisco até o Recôncavo
Baiano e do litoral sul do Rio de Janeiro até o litoral norte de São Paulo, onde também eram conhecidos
como Tamoios. Apesar de terem raízes comuns, as diversas tribos que compunham a nação tupinambá
lutavam constantemente entre si, movidas por um intenso desejo de vingança que resultava sempre em
guerras sangrentas em que os prisioneiros eram capturados para serem devorados em rituais
antropofágicos.
118
Figura 87: Carandiru, Lygia Pape, 2002. Fibra de vidro e água corrente, 5 x 6 x 3 m.
Disponível em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=3> acesso em
24/02/2013.
119
Figura 88: Cena de ritual antropofágico dos índios tupinambás. Gravura do livro ―Duas
Viagens‖ de Hans Staden. Disponível em <http://museuhoje.com/app/v1/br/historia/70-
hans-staden> acesso em 24/02/2013.
[...] O Carandiru destrói jovens, porque 65% dos presos no Brasil têm
entre 18 e 25 anos. A vitalidade do preso tem muito a ver com a
vitalidade dos tupinambás, que queriam fazer a devoração espiritual
através da antropofagia. O preso tem o mesmo impulso em relação à
sociedade. Mas quem faz esta devoração acaba destruído. Toda a
120
população tupinambá que vivia na costa do Brasil foi dizimada. Os
colonizadores chegavam ao requinte de espalhar roupas com varíola
nas praias, o índio vestia e contaminava aldeias inteiras. O que o
Carandiru faz? Prepara as pessoas para a morte. Como é que o
Brasil, que está se tornando um país de velhos, dá-se ao luxo de
destruir esta juventude? Não é só uma questão política, é também
uma questão de espírito e de conceito. Não se abre mão da
vitalidade.
121
Figura 89: Guará. Fotografia de Daniel De Granville, 2010. Disponível em
<http://www.terralrj.com/2011/04/mantos-tupinambas.html> acesso em 13/03/2013.
Figura 90: Manto Tupinambá, Lygia Pape, 2003. Tecido vermelho, bolas, penas
vermelhas, membros cenográficos, instalação 10 x 10 m. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=2> acesso em 13/03/2013.
122
Figura 91: Memória Tupinambá, Lygia Pape, 1999. Polipropileno e plumas
vermelhas, 53 cm de diâmetro. Fonte: livro Gávea de Tocaia – Lygia Pape, editora
Cosac & Naif, São Paulo, 2000, p. 278.
Figura 92: Manto Tupinambá, Lygia Pape, 2000. Fog de sinalização sobre a
lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, Brasil. Dimensões variadas. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=2> acesso em 26/05/2013.
123
Figura 93: Bus Stop, Lygia Pape, 1999. Fog de sinalização, Rio de Janeiro,
Brasil. Dimensões variadas. Disponível em <http://materias.atelie397.com/artigo/os-
espacos-imantados-%E2%80%93-a-edicao-brasileira-e-um-possivel-
%E2%80%9Ccorpo-coletivo%E2%80%9D/> acesso em 26/05/2013.
Lygia (PAPE, 1998, p. 53) afirma : ―trabalho de forma circular, [...] é uma
forma de meditação de um trabalho em relação ao outro‖. A artista observa que
havia em sua produção do período neoconcreto uma ―certa identidade e um
conteúdo coerente entre todas as obras, caracterizadas pelas formas
geométricas, as cores limpas‖ (PAPE, 1998, p. 51). Após o período
neoconcreto a artista produz as Ttéias [Figuras 94 e 95]: ―um trabalho que
construí como uma aranha‖ (MATTAR, 2003, p. 94), instalações com
124
fiosdourados ou prateados, tencionados no espaço, agrupados de modo a
formar feixes quadrados ou redondos, que se cruzam e entrecruzam.
Figura 94: Ttéia n. 1 C, Lygia Pape, 2008, Tóquio. Fio dourado em formas quadradas,
Projeto 2 colunas. Dimensões variadas. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=12> acesso em 27/05/2013.
Figura 95: Ttéia n. 1 C, Lygia Pape, 2008, Bienal de Veneza. Fio dourado em formas
quadradas. Dimensões variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=15>
Figura 96: Ttéia n. 1 B, Lygia Pape, 2002, Museu de Serralves. Fio dourado em formas
cilíndricas. Dimensões variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=15>
125
―New House é uma desconstrução, uma nova casa que vem dos
escombros‖ (MATTAR, 2003, p. 95), um ―pequeno pesadelo branco‖ como o
define o crítico Paulo Sérgio Duarte (2002, p. 12).
Figura 97: New House, Lygia Pape, 2000, Centro de Artes Hélio Oiticica, Rio de
Janeiro. Instalação, materiais diversos, dimensões variadas. Acesso em 27/05/2013,
disponível em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=4>
126
Figura 98: New House, Lygia Pape, 2000, Museu do Açude, Rio de Janeiro.
Instalação, materiais diversos, dimensões variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível
em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=4>
127
processo e luz negra. Então eu consigo uma superfície perfumada,
branca pela luz negra e que cria uma situação de memória, porque eu
transfiro para aquela situação ali uma experiência de andar ao léu.
(Lygia Pape em entrevista à Cristina Pape, acesso em 25/05/2013,
disponível em <http://www.cristinapape.com/pape.pdf>)
Figura 99: Luar do sertão, Lygia Pape, 1996. Pipoca, luz negra e textos. Dimensões
variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra90.php?i=5>
Não pise na grana, é a mesma coisa, com uma leve questão política,
em referência aos sem-terra. Na verdade é Não pise na grama, claro,
mas eu troco e digo não pise na grana. Eu quero falar do campo
valendo dinheiro. O campo tem um custo e isso exige um sacrifício. Is
your life sweet? também é uma ironia com a questão da cocaína e ao
mesmo tempo faço essa instalação com açúcar. Ele vai ter dois
significados. (Lygia Pape em entrevista à Cristina Pape, disponível
em <http://www.cristinapape.com/pape.pdf> acesso em 25/05/2013)
128
Figura 100: Não pise na grana, Lygia Pape, 1996. Alface, tijolos e textos. Dimensões
variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra90.php?i=9>
Figura 101: Sua vida é doce?, Lygia Pape, 1996. Açúcar e textos. Dimensões
variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra90.php?i=9>
129
Figura 102: Narizes e línguas, Lygia Pape, 1995. Pães, madeira, arame cheiros,
dimensões variadas. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra90.php?i=11>
131
Em Cortina de maçãs, Lygia afirma que o conceito que a obra evoca
permanecerá, mesmo que esta seja feita de matéria perecível: ―A obra não
precisa ser perene. Ela é eterna em seu conceito‖ (PAPE, 1998, p. 74). A
grande diversidade de linguagens, conceitos e materiais explorados por Lygia e
sua busca constante pela inovação demonstra que a artista, pesquisadora,
designer e professora, ―exercitava experimentalmente sua liberdade‖,
compartilhando com o público suas criãçoes:
[...] há certos artistas que trabalham uma mesma questão a vida toda,
se renovando dentro dela; outros trabalham de modo mais sincopado,
rompem com uma coisa e partem para outra. Os dois temperamentos
são válidos. No nosso caso, trabalhamos não em busca de um novo,
essa coisa tão falada hoje, mas pela constatação das coisas
saturadas, das coisas que já estão definhando. Nessa medida,
procuramos revitalizar essa linguagem, rompemos com certas coisas
e nos voltamos para outras. O Mário fala, de uma forma muito bonita,
que é o ―exercício experimental da liberdade‖, é este exercício que
possibilita inventar novas linguagens. (SOBRAL, 2004, 136)
132
Figura 104: Caixa Brasil, Lygia Pape, 1968. Madeira, veludo, cabelo, textos. 30
x 26 x 5cm. Acesso em 27/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra60.php?i=10>
133
Figura 105: DNA, Lygia Pape, 2003 (Bienal do Mercosul). 60 bacias brancas (ø 70cm),
feijão, arroz, lâmpadas halógenas e pigmento vermelho. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=13> acesso em 27/05/2013
134
III. INVENTAR É CRESCER
Lygia foi descrita por seu amigo Hélio Oiticica como ―uma semente
permanentemente aberta‖ (MATTAR, 2003, p. 39) devido a seu espírito criativo
e aberto a novas iniciativas:
135
[...] eu ando muito, sempre olhando as coisas e me interesso por
muitas delas. Assim, me alimento visualmente. Isto, claro, reflete no
meu trabalho. Já trabalhei muito com o lado arquitetônico, não no
sentido da construção, mas da descoberta de novos espaços
significativos; me interessei pela arquitetura indígena; pela favela,
pelo uso da cor nos subúrbios, etc. Estou sempre fazendo uma
pesquisa que vai se agregando ao meu trabalho. (SOBRAL, 2004,
136)
A artista não somente é aberta ao novo, mas buscava-o. Para ela era
algo natural, mas percebia que para a maioria das pessoas o novo nem sempre
era bem vindo e questionava: ―Por que é tão mal recebido surgimento de algo
novo?‖ (PAPE, 1998, p. 73). Argumentava que as pessoas deviam se habituar
com o surgimento do novo, pois a vida é um ―fluir constante‖ (PAPE, 1998, p.
76), como afirma Heráclito, seu filósofo preferido, e na visão de Heráclito,
compartilhada por Lygia, o novo é benéfico, a renovação de tudo na vida é
constante. Lygia dizia que as pessoas tem medo do que é novo simplesmente
porque estar diante do novo exige outra postura, uma postura de atenção e
abertura: ―Porque [o novo] aponta para um novo olho‖ (PAPE, 1998, p. 73),
porque se torna necessário olhar as coisas com novos olhos. E completava:
―Nunca sou contra coisas novas. [...] prefiro até aceitar excessivamente do que
negar. [...] A arte tem uma vitalidade perene e acho isso a coisa mais
maravilhosa.‖ (PAPE, 1998, p. 74).
136
ocidental até a modernidade a dinâmica da cultura ―parecia oscilar como um
pêndulo entre duas pontas: do clássico ao romântico, e vide-versa‖
(CANONGIA, 2005, p. 7). Havia a ideia de que cada estilo surgia para ―corrigir‖
os excessos dos anteriores: ―O Neoclassicismo, por exemplo, surgiu contra o
excesso de ornamentação e exuberância do Barroco, e o Romantismo, contra
o excesso de rigor formal do Neoclassicismo‖:
137
Desse modo, o pensamento ocidental, acostumado a pensar por
oposições foi contagiado pelas noções modernas da física e da matemática e,
de acordo com Canongia (2005, p. 9): ―incluíram noções de relatividade,
entropia e topologia e no âmbito do pensamento e da arte partiu-se para
conceitos mais elásticos, que assumiam o cruzamento e o contágio das partes
antes antagonistas‖. Os eventos mais importantes das décadas de 1960 e
1970, no Brasil, poderiam ―caber‖ em cinco anos, de 1967 a 1972, de acordo
com Canongia:
[...] foi crucial. Tão crucial quanto houvera sido nos EUA, a passagem
da década de 1950 para a seguinte, pois foram, em cada um desses
países, respectivamente, os momentos em que os postulados
puristas da modernidade perdiam o poder. (CANONGIA, 2005, p. 10)
Lygia Pape retoma seu trabalho nas artes plásticas justamente em 1967,
após um afastamento para trabalhar com design e com cinema. A artista afirma
que quando voltou estava com ―outros olhos‖ e apresentou, na exposição que
marcou seu retorno29, a Caixa das Baratas, que ―deixou todo mundo perplexo‖
(PAPE, 1998, p. 50). Além da Caixa das Baratas, Lygia apresentou a Caixa das
Formigas: no fundo da caixa havia um texto dividido em duas partes, uma
escrita na área superior da caixa e a outra na área inferior, sendo (1) A gula ou
( e 2) a luxúria. Círculos concêntricos desenhados no fundo da caixa remetiam
a um ―tiro ao alvo‖ e no centro desse alvo era colocado um pedaço de carne
crua. Dentro da caixa haviam formigas vivas que iam transitando
aleatoriamente pelo espaço ―delimitado‖ pela artista (a caixa). As formigas iam
consumindo a carne, que se deteriorava com o passar dos dias. Não havia
controle sobre as formigas ou sobre o processo de deteriorização da carne.
29
Exposição Nova objetividade brasileira, realizada em 1967 no MAM-RJ (vide op. cit. nota de rodapé n.
25, p. 101).
138
Figura 106: Caixa das Formigas, Lygia Pape,1967. Acrílico, formigas, carne, texto, 35
x 25 x 10 cm. Disponível em <http://www.lygiapape.org.br/pt/obra60.php?i=9 >
acesso em 13/01/2013.
139
Esses trabalhos de Lygia estão em consonância com a definição de arte
contemporânea de Canongia de abertura a ―um mundo plural e polissêmico,
sem se deixar dominar ou estigmatizar, refutando normas do agir e do fazer, já
bem distante das restrições disciplinares modernas‖, (2005, p. 11).
O contexto político da época de criação desses trabalhos era o regime
autoritário implantado desde o golpe militar de Estado, em 1964 30, a partir do
qual as expressões políticas contrárias ao regime, a imprenssa e as
manifestações artísticas passaram a sofrer censura. De acordo com Mattar:
―Foi um período difícil, mas extremamente criativo, na música, literatura,
cinema, teatro e nas artes plásticas, ampliadas em novas ações como o
happening e a performance‖, (2003, p. 38).
30
Em agosto de 1961 Jânio Quadros, o então Presidente do Brasil, renuncia do cargo por pressões
políticas. O vice-presidente João Goulart, conhecido como Jango, assume a presidência. Em 1° de abril
de 1964, um golpe de estado liderado pelos militares o depõe. As primeiras medidas repressivas foram
tomadas logo depois do golpe, com cassações de mandatos, suspensão de direitos políticos, demissões
de funcionários públicos e expulsão de militares das Forças Armadas. A ditadura militar se estendeu até
1985 e, nesse período, o Brasil foi governado por 5 generais (e, por um breve período, em 1969,
também por uma Junta Militar): Castello Branco entre 1964 a 1967, Costa e Silva de 1967ª 1969, Médici
1969 a 1974, Geisel de 1974 a 1979 e Figueiredo entre 1979 e 1985.
140
restando-lhe ocupar o vão livre no térreo da edificação. (MACHADO,
2010, p. 91)
Figura 107: Passista da mangueira vestindo o Parangolé P1 C1, Hélio Oiticica, 1965
(Exposição Opinião 65, MAM-RJ). Plástico e tecido. 150 x 110 x 20 cm. Disponível em
<http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo4/opiniao/opinia
o.html> acesso em 29/05/2013
Figura 108: Parangolé P1 C1, Hélio Oiticica, 1964. Plástico e tecido. 150 x 110 x 20
cm. Acesso em 29/05/2013, disponível em
<http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=arti
stas_obras&acao=menos&inicio=49&cont_acao=7&cd_verbete=2020>
141
última houve trabalhos censurados por serem ofensivos ao regime‖
(CANONGIA, 2005, p. 50).
A exposição Nova Objetividade Brasileira (1967), de acordo com Mattar:
―[...] fazia um retrospecto das posições de vanguarda assumidas depois do
golpe de 1964‖ e, foi quando Pape retornou às artes plásticas, apresentando
suas caixas: Caixa das Baratas e Caixa das Formigas.
142
Figura 109: Roda dos prazeres, Lygia Pape, 1968. Porcelana, anilinas, sabores, conta-
gotas. Dimensões variadas. Acesso em 30/05/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra60.php?i=7>
144
As experiências de investigação do espaço urbano pelos artistas
errantes apontam para a possibilidade de um ―urbanismo poético‖,
que se insinua através da possibilidade de uma outra forma de
apreensão urbana, o que levaria a uma reinvenção poética, sensorial,
das cidades. Talvez a maior crítica dos artistas errantes aos
urbanistas modernos tenha sido exatamente o que Oiticica resumiu
de forma tão clara no que ele chamou de ―poetizar o urbano‖. Os
urbanistas teriam esquecido, diante de tantas preocupações
funcionais e formais, deste enorme potencial poético urbano e,
principalmente, da relação inevitável entre o corpo físico e o corpo da
cidade que se dá através da errância. (JACQUES, 2006, p. 134)
Figura 110: Divisor, Lygia Pape, 2012. Hong Kong. Fotografia de Stephanie Bailey.
Acesso em 30/05/2013, disponível em <http://hyperallergic.com/71598/intertextual-
healing-lygia-papes-divisor-restaged-for-the-first-time-in-asia/>
146
O Divisor inerte, à espera, também é como um dispositivo, que segundo
Foucault (apud DELEUZE, 1996, p. 1)31 tem como suas primeiras duas
dimensões ―as curvas de visibilidade e as curvas de enunciação‖. Ao ser
apropriado e vivenciado atua como algo que estimula a subjetividade, a
percepção. Deleuze exemplifica esse tipo de dispositivo como máquinas de
fazer ver e de fazer falar, por estimularem o olhar, a imaginação, a fruição: ―É
que os dispositivos são como as máquinas de Raymond Roussel32, máquinas
de fazer ver e de fazer falar‖, (1996, p. 1).
Lygia, ao deixar que o público descobrisse o Divisor, rompia os limites
entre observador e espectador, que por meio de suas experiências com a obra
criava seus próprios significados.
Durante a pesquisa foram colhidos alguns relatos sobre a experiência de
participação no Divisor e no Parangolé33, e a partir deles identificamos que
esses participantes tiveram a consciência do corpo aflorada durante a
experiência e a sensação de coletividade no caso do Divisor, e a sensação de
vivência da cor no caso do Parangolé.
31
Retirado de: DELEUZE, Gilles. O mistério de Ariana. Ed. Vega – Passagens. Lisboa, 1996. Tradução e
prefácio de Edmundo Cordeiro. Disponível em <http://www.ufes.br/ppgpsi/files/textos/Deleuze%20-
%20O%20que%20%C3%A9%20um%20dispositivo.pdf> acesso em 01/06/2013.
32
Raymond Roussel (Paris, 20/1/1877 - Palermo, 14/7/1933) escritor e pintor francês, um dos
precursores do surrealismo, famoso pelo caráter desconcertante e excêntrico de sua obra, que combina
elementos sobrenaturais e jogos linguísticos.
33
Relatos da participação de Leidiane Carvalho e Felipe Abdala no Divisor coletados para esta pesquisa
constam integralmente no Apêndice.
147
Figura 111: Divisor, Lygia Pape, 2012. Hong Kong. Fotografia de autoria não
divulgada. Acesso em 30/05/2013, disponível em <http://g1.globo.com/pop-
arte/fotos/2013/05/mostra-em-hong-kong-recria-nas-ruas-performance-de-
brasileira.html#F807809>
Figura 112: Divisor, Lygia Pape, 1968. Fotografia de autoria não divulgada. Acesso em
01/06/2013, disponível em <http://brmenosmais.blogspot.com.br/2010/08/lygia-pape-
divisor.html>
149
Figura 113: Divisor, Lygia Pape, 1968. Fotografia de autoria não divulgada. Acesso em
01/06/2013, disponível em <http://www.riocomela.com.br/index.php/2011/03/20/bienal-
de-sp-no-rio-e-mais-legal/dividor/>
Haveria espelhos nas duas laterais [do toldo] e um vento frio sopraria
na parte de cima e outro quente na parte de baixo, o que, nas
palavras de Lygia, provocaria uma divisão térmica e física dos
participantes. Nos espelhos das laterais ver-se-iam todas as cabeças
sem corpo (MACHADO, 2010, p. 105-6).
151
Figura 114: Fotogramas do vídeo em super 8 Divisor, Lygia Pape, 1967. Fonte: Lygia
Pape Espaço Imantado [catálogo de exposição], 2012, p. 345.
152
―Já imaginou todas aquelas cabeças sem corpo conversando umas com as
outras naquele branco?‖ (MATTAR, 2003, p. 74). Essa visão da artista, de uma
superfície comportando cabeças que conversam entre si, pode ser observada
de modo similar na sua obra Manto Tupinambá (2003).
Figura 115: Manto Tupinambá, Lygia Pape, 2003. Tecido vermelho, bolas, penas
vermelhas, membros cenográficos, instalação 10 x 10 m. Disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra00.php?i=2> acesso em 13/03/2013.
Figura 116: Divisor, Lygia Pape, 1968/2010. Tecido branco com fendas, 30 x 30 m.
Fotografia Luciana Whitaker. Disponível em
<http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/801704-artistas-consagrados-propoem-
estetica-engajada-na-bienal.shtml> acesso em 30/05/2013
153
dava poderes extraordinários ao Presidente da República e suspendia várias
garantias constitucionais.
154
de tempo, a experiência permanece: ―O caráter efêmero das intervenções
ganha permanência na memória de seu público‖ (ALENCASTRO, 2008, p. 9).
Ao mesmo tempo que trabalha com a ideia de coletivo, o Divisor também
aborda a questão da individualidade, pois a experiência coletiva também é
individual: cada participante realiza seus movimentos dentro do conjunto. O
Divisor separa cada participante em uma fenda, mas ao mesmo tempo une
todo o grupo na ―pele de todos‖, como se referia Lygia (PAPE, 2012, 244).
Guy Brett se refere ao Divisor como uma ―metáfora ambivalente‖ por unir
e individualizar ao mesmo tempo:
Figura 117: Divisor, Lygia Pape, 2012. Hong Kong. Fotografia de autoria não
divulgada. Acesso em 30/05/2013, disponível em <http://lygiapape.org.br/news/o-
divisor-pelo-mundo/>
155
O Divisor foi apresentado pela primeira vez em 1968, no MAM-RJ, e ao
longo dos anos foi reapresentado em diversas exposições e intervenções
urbanas34. Para Lygia ―cada espectador dará seu próprio significado ao enorme
lençol [...]. Numa favela, o grande pano branco foi carregado pelas crianças
[...], em São Paulo, um grupo de motoqueiros passou por baixo do lençol‖
(FIGUEIREDO, 1983 apud MACHADO, 2010, p. 106).
Segundo Paula Pape35, a feitura do Divisor obedece uma lógica
geométrica estabelecida por Lygia: poderá ter tamanhos variados 10 x 10
metros, 20 x 20 metros ou 30 x 30 metros, mas são sempre quadrados, pois a
artista gostava de figuras isométricas, equilibradas. Ainda segundo Paula, a cor
é sempre branca, em tecido opaco, com as fendas simétricas. A preferência
pela cor branca e a diversidade nos tamanhos do Divisor é confirmada por
Lygia em entrevista à sua outra filha, Cristina Pape: ―[...] Divisor, [...] pode ser
feito em várias escalas. Até agora todos são brancos porque acho que é a
melhor cor para apresentá-lo‖ (Acesso em 25/05/2013 e disponível em
<http://www.cristinapape.com/pape.pdf>).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
34
Nem mesmo na Associação Cultural – Projeto Lygia Pape, que detem a administração do patrimônio
cultural da artista, possui informações precisas de onde e quando foi apresentado o Divisor, portanto as
informações citadas são parciais e oriundas de diferentes fontes bibliográficas.
35
Entrevista concedida no dia 12/12/12, para esta pesquisa.
156
eclode com a Semana de Arte Moderna de 1922, quando alguns artistas que
haviam estudado na Europa passam a discutir a produção artística nacional,
ainda apegada ao Academicismo. Esses artistas buscavam uma arte nova,
queriam incluir a modernidade no campo artístico, queriam o novo em
detrimento do antigo e ao mesmo tempo, almejavam uma arte genuinamente
brasileira, livre das convenções europeias.
Após quase 20 anos do início dos movimentos de modernidade na arte
brasileira, marcados pela Semana de Arte Moderna, pela publicação de
manifestos e de diversas exposições, salões e publicações de revistas
literárias, inicia-se um projeto de modernização nacional não só nas artes, mas
na economia e na política. Entre 1947 e na década seguinte são criados
diversos museus e eventos de arte. Assis Chateubriand cria o MASP – Museu
de Arte de São Paulo em 1947, que em 1951 promove uma exposição do
artista suíço, designer e professor da Bauhaus, Max Bill.
A arte concreta de Bill influenciou a produção artística nacional que já
vinha despontando naturalmente às tendências abstratas e concretas. A arte
concreta, na definição de Frederico de Morais: ―[...] tinha o objetivo não de
documentar a crise do homem, mas construir uma nova realidade‖.
Em 1951 o empresário Ciccillo Matarazzo cria o que se tornaria um dos
maiores eventos de Arte da América Latina: a Bienal Internacional de Arte de
São Paulo. Nessa primeira exposição participaram vários artistas brasileiros e
estrangeiros, incluindo dois nomes fundamentais na Arte Concreta brasileira:
Waldemar Cordeiro (SP) e Ivan Serpa (RJ). Em torno de cada um deles
formou-se grupos de artistas interessados em discutir e produzir uma arte
nova, apoiada na matemática e que enfatizava a ideia de estrutura. Os grupos
chamavam-se Ruptura em São Paulo e Frente no Rio de Janeiro.
Lygia Pape integrou o grupo Frente, cuja produção não seguia tão
rigidamente os preceitos matemáticos da arte concreta quanto a produção do
Ruptura. Aos poucos o Frente foi buscando novos caminhos, fazendo novas
descobertas, explorando a subjetividade e incluindo o espectador como
participante na obra. Com essa nova perspectiva o Frente se dilui e alguns de
seus membros se reorganizam como grupo Neoconcreto.
157
No segundo capítulo a obra de Pape é apresentada e junto de sua
trajetória, seu papel nesses movimentos estéticos é evidenciado. A artista
atuou em outras áreas, não se restringindo à produção artística, enverando-se
pelo campo do design, do cinema, da pesquisa acadêmica e do ensino de arte.
No último capítulo faço um recorte da produção mais ―generosa‖ de
Pape, termo que a artista usava para definir suas propostas participativas.
Ressalto sua generosidade porque as proposições como o Ovo, o Divisor e a
Roda dos Prazeres permitem que as pessoas as façam mesmo em casa, sem
necessariamente ir ao museu para usufruir de uma experiência artística.
O Divisor torna-se o ator principal nessa trajetória, por ter uma estrutura
muito simples, mas com intensa potência estética, crítica e política.
Optei em trazer grande quantidade de informações sobre a artista, sua
vida e sua obra, pois não há uma fonte completa e única a respeito desta
artista. As informações estão espalhadas e fragmentadas em diversas
publicações. Mesmo assim, percebo que ainda existem muitas lacunas neste
trabalho, portanto, esta também não é uma obra completa sobre Lygia Pape.
―A obra de Lygia Pape é extensa e ainda há muito o que se pesquisar
sobre ela‖, esta afirmação de Vanessa Machado, pesquisadora e autora da
dissertação de mestrado ―Lygia Pape: espaços de ruptura‖, me serviu como
estímulo na escolha de Pape como parte de minha investigação em Poéticas
Contemporâneas. No decorrer da pesquisa a vida e obra de Lygia tornaram-se
o elemento principal de meus estudos quando percebi o brilhantismo dessa
artista, que esteve por tanto tempo ofuscada por seus contemporâneos Hélio
Oiticica e Lygia Clark.
Não que a artista tenha perdido alguma coisa por não ser tão conhecida
(ainda) quanto outros artistas, ao contrário, nós enquanto público é quem
perdemos. Ficamos por muito tempo sem conhecer o trabalho dessa
―anarquista‖, que não seguia as convenções e que nos presenteou com o os
Espaços Imantados, as T-téias, os Mantos Tupinambás, os Livros, as Caixas e
os Ballets. São tantas obras contundentes, emblemáticas, irônicas, antenadas
com o contexto político e social, trazendo repertórios, críticas e reflexões.
Creio que a obra de Pape pode e merece ser conhecida pelos
brasileiros, pois o mundo já percebeu a potência dessa artista, que nos últimos
158
anos teve seu acervo apresentado em diversas cidades como Hong Kong,
Londres, Nova Iorque, Porto e Madri. No Brasil houve poucas exposições
retrospectivas da obra de Pape, até mesmo porque enquanto viva a artista
―queria sempre mostrar coisas novas‖.
Uma das raras exposições que mostraram obras de vários períodos de
sua trajetória foi Lygia Pape espaços imantados, com curadoria dos espanhóis
Manuel J. Borja-Villel e Tereza Velázquez, apresentada inicialmente em Madri,
no Museu Reina Sofía, depois na Serpentine Gallery em Londres e na
sequência em São Paulo, na Estação Pinacoteca. No Brasil, apenas parte do
acervo que compunha a exposição pode ser mostrado, de 17 de março a 13 de
maio de 2012.
Visitar essa exposição foi essencial na produção deste trabalho, pois foi
quando vivenciei de forma mais abrangente o trabalho de Pape e pude
participar da Roda dos Prazeres. A própria Lygia nos alerta sobre o perigo de
estudar arte apenas pelos livros:
Falo sobre o Divisor com certa frustração por não ter conseguido
experimenta-lo, pois não foi realizado quando a mostra esteve na Pinacoteca
de São Paulo, que foi a única vez em vi reunidas várias das obras de Lygia. As
últimas apresentações do Divisor no Brasil ocorreram na abertura e no
encerramento da 29ª Bienal de Arte de São Paulo, em 2010, não coincidindo
com o período que pude visita-la. Apesar disso, pude assistir ao vídeo que
registra as pessoas usufruindo do Divisor. Pude também ouvir o relato de dois
amigos que estiveram presentes nessas filmagens feitas no início de 2010, no
MAM-RJ, para criação do vídeo que foi exibido no Pavilhão Ciccillo Matarazzo
durante a 29 ª Bienal.
159
Mesmo sabendo que a artista queria que as pessoas experimentassem
em casa, decidi não faze-lo, pois o Divisor deve ser experimentado publica e
coletivamente. Não houve tempo hábil para solicitar à Associação Cultural
Projeto Lygia Pape um memorial descritivo para executação de uma réplica do
Divisor.
O fato de eu não ter experimentado a obra principal dessa dissertação
não me impediu de percebê-la em seus diversos aspectos e também de
relaciona-lo com propostas de artistas contemporâneos como Mayra Vaz
Valente e seus Conectores (2010) e o dispositivo relacional do coletivo
Opavivará! (2012).
Em maio de 2013, na Galeria Gentil Carioca no Rio de Janeiro, o
Opavivara! apresentou uma coleção de dispositivos relacionais acopláveis aos
corpos, que incorporam-se como ―fantasias-coletivas extraídas do cotidiano
doméstico e cosmopolita. Estas fantasias-coletivas funcionam como
engrenagens de sociabilidade feitas a partir de materiais encontrados no
comércio popular do Centro da cidade‖. (ANJOS, 2013, disponível em
<http://www.opavivara.com.br/p/ao-amor-do-publico/ao-amor-do-publico>
acesso em 30/06/2013.
160
Figura 119: Opavivara! (dispositivo relacional acoplável - Rio de Janeiro), 2013.
Materiais diversos. Fotografia de autoria não divulgada. Disponível em
<http://www.opavivara.com.br/p/ao-amor-do-publico/ao-amor-do-publico> acesso em
30/06/2013.
Figura 120: Lygia Pape no Divisor, década de 1980, Rio de Janeiro. Fotografia em
preto e branco. Acervo do Projeto Lygia Pape. Fonte: Catálogo da exposição Lygia
Pape espaços imantados, 2012, p. 272.
162
artes) perdem a função quando Lygia propõem ações na rua; torna-se, desse
modo, evidente sua inquietação por um novo público para arte, por um novo
ambiente para arte.
Lygia não gostava de seguir regras, se dizia ―intrinsecamente
anarquista‖, por isso inventa novas formas de ensinar arte e arquitetura,
levando os alunos para experimentar a cidade; desafiando-os a conhecer os
princípios básicos da construção: tijolo, argamassa, prumo; por isso inventa
novas formas de empacotar biscoitos, revolucionando o design de embalagens
deste segmento da indústria alimentícia.
A transitoriedade dos materiais que Lygia escolhe para várias de suas
instalações - balões, frutas, pães, verduras, tão transitórios quanto o tecido, as
pessoas e rua do Divisor; a tentativa de ―tornar visível o invisível‖: capturar,
apreender ou registrar em imagens o magnetismo de algumas figuras em ação
na rua – o camelô, o mágico, o vendedor ambulante, o jogo de capoeira; ―[...]
não há obra, somente um desdobrar-se em mil rotas‖ (PAPE, 2012, p. 244). No
Divisor como em outras de suas obras há um campo magnético [in]visível,
passageiro, fugaz.
Não há uma classificação única que consiga dar conta dos trabalhos
produzidos por Pape; suas pinturas estão entre a escultura e a instalação,
extravasam do bidimensional, são organizadas no espaço com uma forte
relação entre si e o local; suas gravuras são trabalhadas como pinturas, feitas
com precisão, valorizam a relação figura-fundo e são impressas numa tiragem
extremamente limitada, como as pinturas são únicas, divergindo da prática
usual da gravura em grandes tiragens; suas imagens têm palavras, suas
palavras são imagens, cria jogos de palavras sem palavras. A Roda dos
Prazeres está entre a instalação e a performance, o Divisor está entre a
intervenção urbana e a performance.
Lygia discute o espaço, o corpo, o coletivo não só no Divisor, mas em
outros trabalhos como Ballets Neoconcretos. Quer uma obra sem autor, ―uma
coisa muito generosa‖, propõe o ―estar junto‖, quer que as pessoas tenham
experiências, quer ativar o sensorial ―o mito da existência de cada um como
poética: transformação em realidade‖ (PAPE, 2012, p. 244). Chama o Divisor
de ―a pele de todos‖.
163
As características que perpassam o Divisor como a transitoriedade, a
experimentação coletiva, a forma simples, a potência da ação, a subjetividade,
a inversão de posições, estão também presentes em muitas de suas obras,
nelas percebemos o desejo de fazer sentir, de fazer ver, de fazer pensar. O
Divisor de Lygia Pape se abre como um jogo, não há reagras, basta estar
disposto a jogar.
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MESQUITA, Ivo. Para meu vizinho de sonhos. Lisette Lagnado Org. São
tantas verdades: Leonilson. São Paulo: Galeria de arte do SESI, 1995.
MORAIS, Frederico. Panorama das artes plásticas nos séculos XIX e XX. 2ª
edição. São Paulo: Instituto Itau Cultural, 1991.
NAME, Daniela. ―Eu me lembro”: sedução e memória no design
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Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2008 [Catálogo de exposição].
_______________ O crime da Piraquê. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em
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OITICICA, Hélio. Hélio Oiticica. Organização Cesar Oiticica Filho, Sergio
Cohn, Ingrid Vieira. Apresentação Cesar Oiticica Filho. 2ª edição. Rio de
Janeiro: Beco do Azougue, 2009.
OSORIO, Luiz Camillo. Eu sou apenas um! As experiências de Flavio de
Carvalho. Caderno Videobrasil Performance. Associação Cultural Videobrasil:
São Paulo, 2005.
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[Catálogo de exposição]
PAPE, Lygia. Lygia Pape / entrevista a Lucia Carneiro e Ileana Pradilla. Rio
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PAPE, Lygia. Gávea de Tocaia: Lygia Pape. São Paulo: Cosac & Naify, 2000
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Janeiro, 1994. 415p. Tese (Pós Graduação em Artes visuais, Mestrado em
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Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em
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PORTELLA, Isabel Sanson. Arte Brasileira no Século XIX. Sonia Gomes
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RIBEIRO, Marília Andrés. O modernismo brasileiro: arte e política. In
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<http://bibliobelas.files.wordpress.com/2012/02/marilia-andres-ribeiro.pdf>
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SCOVINO. Felipe. A vontade poética no diálogo com os Bichos: o ponto
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Pós-Graduação em Artes Visuais EBA/UFRJ. ano X, número 10, 2003. p. 106-
115.
SILVA, Mariana Estellita Lins. A arte contemporânea e o museu: desafios da
preservação para além do objeto. 2011. In VII - ENCONTRO DE HISTÓRIA
DA ARTE – UNICAMP, p. 305-9. (Acessado em 10/12/2012). Disponível em
<http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2011/Mariana%20Estellita%20Lins%20
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SOBRAL, Divino. Tudo o homem devora. 1998. Visualidades, revista do
Mestrado em Cultura Visual - FAV / UFGv. 2, n. 1, 2004. P. 128-138. Disponível
em <http://www.revistas.ufg.br/index.php/VISUAL/article/view/17896/10686>
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VELLOSO, Monica Pimenta. História & Modernismo. Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010. (Coleção História &... Reflexões, 14).
169
APÊNDICE
170
I – RELAÇÃO DE OBRAS DE LYGIA PAPE POR LINGUAGEM/CATEGORIA
Livros-Poema
1959
Papel cartão/texto
20cm x 20cm
36
Segundo informação de Paula Pape, presidente da Associação Cultural Projeto Lygia Pape, os
trabalhos de Lygia encontram-se em processo de catalogação e tratamento para disponibilização digital
por meio do sítio <www.lygiapape.org.br>, o qual serviu como referência para esta listagem.
171
Livro da Arquitetura | Lance Livre de
Concreto
1959 – 1960
Têmpera, cartão
30cm x 30cm x 2cm
O Ovo
1967
Madeira pintada com
têmpera, polipropileno
80cm x 80cm x 80cm
172
Divisor
1968
Pano de algodão, fendas
20m x 20m
Ovos do Vento
1979
Sacos de plástico, bolas de borracha e néon
Dimensões variadas
173
Detalhe:
Partes integrantes da instalação Eat Me: A Gula ou a Luxúria?
Saquinhos de Sedução
1976
40cm x 40cm
Detalhe:
Partes integrantes da instalação Eat Me: A Gula ou a Luxúria?
Objeto de Sedução
1976
Darling
40cm x 40cm
Tteia nº7
1991
Pirâmides, luz, pigmento,
plano
Dimensões variadas
174
Luar no Sertão
1995
Pipocas, luz negra
Dimensões variadas
Narizes e Línguas
1995
Pães, madeira, arame,
cheiros
Dimensões variadas
175
Cortina de Maçãs
1996
Maçãs, bananas, cabelos
Dimensões variadas
Alva de Prata
1997
Farinha, sangue, filtros,
faca
Dimensões variadas
176
New House
2000
Materiais diversos
Dimensões
variadas
New House
2000
Materiais diversos
Dimensões variadas
Instalação
permanente no Museu
do Açude – Rio de
Janeiro/RJ
177
Manto Tupinambá
2000
Fog de sinalização sobre a
Lagoa Rodrigo de Freitas,
Rio de Janeiro, Brazil
Dimensões variadas
Jogo de Tênis
2001
Instalação, vídeo
Dimensões variadas
Cilindros
2001
Fibra de vidro, tinta automotiva e
texto
2m x ø 50cm
178
Esferas
2001
Fibra de vidro e tinta automotiva
ø 50cm
Carandirú
2002
Fibra de vidro e água corrente
5m x 6m x 3m
DNA
2003 (Bienal do Mercosul)
60 bacias brancas (ø 70cm),
feijão, arroz, lâmpadas
halógenas e pigmento
vermelho
179
Tteia no 1, C
2008 (Tóquio)
Fio dourado em formas quadradas
Projeto 2 colunas
Tteia nº1, C
2008 (Bienal de Veneza)
Fio dourado em formas quadradas
180
1.3 – PERFORMATIVAS
Balé Neoconcreto #1
1958
8 sólidos geométricos,
madeira e tecido
pintado, 4 cilindros
brancos, 2m, ø75cm
4 paralelepípedos
laranja
2m x 75cm x 60cm
8 bailarinos
181
Trio do embalo maluco
1967
Santateresa, Nildo da
Mangueira e Hélio
Oiticica
Madeira pintada com
têmpera, polipropileno
80cm x 80cm x 80cm
(cada)
Faca de Luz
1975
Madeira, plástico , faca
2 m X 1m X 1m
182
But I Fly
2001
Dvcam
183
Grupo Frente | Relevo em
vermelho e azul
1955 – 1956
Têmpera sobre madeira
40cm x 40cm x 3.5cm
Poemas-Luz | Em vão
1956 – 1957
Vidro/acrílico, têmpera, texto
45cm x 30cm
184
Livro do Tempo
1961
Têmpera sobre madeira
365 unidades
16cm x 16cm x 1.6cm (cada)
185
Olho do Guará | Branco
1984
Néon, tecido, madeira
85cm x 85cm x 3cm
186
Pintura | Dourada e Marrom
1987
Acrilico sobre tela e pó de mármore
110cm x 110cm
Pintura | Vermelha
1987
Acrilico sobre tela e pó de mármore
90cm x 90cm
Amazonino I Serigrafia
1989
Serigrafia colorida com a imagem do
Amazonino Laranja e Preto
70 cm X 50 cm
187
1.5 – GRAVURAS (entre gravura e pintura)
Tecelar
1956
Xilogravura sobre papel japonês
60 X 35 cm
Tecelar
1955
Xilogravura sobre papel
japonês
43.5cm x 31cm
188
Tecelar
1957
Xilogravura sobre papel japonês
50cm x 50cm
1.6 - DESENHOS
Desenhos
1957
Papel japonês
89 X 65 cm
Desenho
1985
Crayon sobre cartão
40cm x 40xm
189
1.7 – ESCULTURAS (entre escultura, objeto, instalação)
Tteia 1A
1979
Fio de cobre
Projeto 1
190
Olho do Guará | nº6
1983
Escultura
Oito caixas de madeira em branco,
uma detalhada em vermelho, se
escondendo em um pequeno cubo
branco
30cm x 30cm x 30cm (cada)
191
Amazonino | Verde/Verde
1989
Ferro, tinta automotiva
1m, ø70cm
50cm, ø70cm
Amazonino | nº1
1989
Ferro, tinta automotiva
1m x 1m x 30cm
Amazonino | Branco
1989
Ferro, tinta automotiva
1m x 1m x 30cm
ø30cm
192
Amazonino I Preto e Vermelho
1989
20 unidades
Ferro, tinta automotiva
50 cm X 50 cm X 50 cm
50 cm X 50cm X 1m (2)
Amazonino I Mangeira
1992
Ferro, tinta automotiva
1m X 1m X 2m (cada)
Escultura KV10
1995
Alumínio com um corte a plasma em sistema
computadorizado
10 unidades
ø50 cm
193
Escultura KV256
1961 – 1998
Ferro cromado
50cm x 50cm x 10cm
Volante 1
1999
Ferro banhado em cobre
44cm x 20cm x 40cm
Verde
1999
Madeira, luz fluorescente
74cm x 60cm x 28cm
194
Tteia nº1, B
2002 (Museu de Serralves)
Fio dourado em formas
cilíndricas
Dimensões variadas
1.8 - OBJETOS
195
Poemas Visuais | Caixa Brasil
1968
Madeira, veludo, cabelos, texto
30cm x 26cm x 5cm
Olho do Guará
1984
Néon, tecido, madeira
1.85m x 2.35m x 5cm
Wanted
1968 – 1974
Vídeo
196
Poema Visual I - Tes - Ouro
1995
Madeira, vidro, texto
19cm X 18,5cm X 13cm
197
Sedução II
(Vem/Vai)
1999
Máquina
eletrônica
2,45m x 1,20m x
60cm
Concerto Tupinambá
2000
02 Cadeiras, penas sintéticas,
guitarra
1m x 1,5m x 50cm
Garrafas Vermelhas
2001
Poliuretano expandido, tinta látex e
garrafas
25cm x 35cm x 14cm
198
Bola com Rodas
2001
Styrofoam, feathers, wood
35cm x 35cm x 35cm
1.9 – FOTOGRAFIAS
Espaços Imantados
1968 – 2002
Espaços da Cidade
Fotografia
199
Casa Volpi
2003
Apropriação - Homenagem a A. Volpi -
tinta PVA e pó xadrez azul e rosa
4m x 3m x 2,5m
1.10 - DESIGN
Logotipo Piraquê
(Fábrica brasileira de biscoitos e massas)
1960/1970
200
Embalagens Piraquê
1960 / 1976
Biscoito Cream Cracker
Dimensões variadas
1.11 – VIDEOS
Vinheta da Cinemateca do
Museu de Arte do Rio de
Janeiro
1965
201
Catiti-Catiti | Filme
1978
A desconstrução do processo antropofágico
de várias culturas
16mm, preto/branco, 20‖
202
A Mão do Povo | Filme
1975
A perda da criatividade do homem
que vem da zona rural para as
grandes cidades
35mm, 16mm, cor, 10‖
Wampirou | FIlme
1974
O vampiro que devora a si mesmo
Super 8
REFERÊNCIA
Fonte: Sitio do Projeto Lygia Pape, acesso em 30/04/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/obra.php>
203
II – CRONOLOGIA
1958
1959
1967
DIVISOR
Realizado numa favela no Rio de Janeiro
1968
OVO [EGG]
Jardins do Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
DIVISOR
Jardins do Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
1971
ESPAÇOS IMANTADOS
Ateliê de Vargem Grande, Rio de Janeiro
LÍNGUA APUNHALADA
Ateliê de Vargem Grande, Rio de Janeiro
1975
204
40 GRAVURAS NEOCONCRETAS
Galeria da Maison de France, Rio de Janeiro
FACAS DE LUZ
Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro
1976
1977
1980
1983
DIVISOR
Jardins do Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
DIVISOR
Parque Ibirapuera, São Paulo
Lançamento do livro "Lygia Pape", coleção ABC Funarte
O OLHO DO GUARÁ
Galeria ARCO – Arte Contemporânea, em São Paulo e no Centro Empresarial
Rio, no Rio de Janeiro
Obra:Objetos e Gravuras Neoconcretas
1984
BALLET NEOCONCRETO
Teatro Villa-Lobos, Rio de Janeiro
205
Remontagem
1985
1988
1990
LYGIA PAPE
Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro
Lançamento do vídeo " Lygia Pape" – RIOARTE
COLAR POEMA
Ateliê da artista, Rio de Janeiro
1991
TTEIA Nº 7
Galeria Ibeu – Copacabana, Rio de Janeiro
1992
LYGIA PAPE
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo
LYGIA PAPE
Galeria de Arte da Universidade Federal Fluminense, Niteroi
1993
INCIZIONE
Galeria L'Originale, Milão, Itália
Obra: "Livro da Criação"
206
1994
NARIZES E LÍNGUAS
Centro Cultural São Paulo – Espaço Caio Graco, São Paulo
1995
LYGIA PAPE
Galeria Camargo Vilaça, São Paulo
1996
LYGIA PAPE
Centro Cultural São Paulo – Espaço Caio Graco, São Paulo
LYGIA PAPE
Galeria Ismael Nery - Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro
DIVISOR
Performance realizada nas ruas do Soho, Nova Iorque
1997
LYGIA PAPE
Galeria Vicente do Rego Monteiro - Fundação Joaquim Nabuco, Recife,
Pernambuco
Obra: "Alva de Prata"
1998
LYGIA PAPE
Museo de Arte Carrillo Gil, Cidade do México
1999
LYGIA PAPE
Galeria Canvas Arte Contemporânea, Porto, Portugal
2001
LYGIA PAPE
Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
2003
LYGIA PAPE
Galeria André Millan, São Paulo
2004
LYGIA PAPE
Galeria Graça Brandão, Porto, Portugal
2008
BUT I FLY
Galeria Graça Brandão, Lisboa, Portugal
2011 – 2012
1951
1952
1953
1954
1955
209
IV SALÃO PAULISTA DE ARTE MODERNA
Galeria Prestes Maia, São Paulo
1956
1957
POEMAS-LUZ
Palácio de Cristal, Petrópolis, Rio de Janeiro
Obra: Xilogravuras, "Poemas-Luz" e "Desenhos"
LIVROS POEMAS
Redação do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro
Obra: "Poemas-Objeto"
1958
1959
I EXPOSIÇÃO NEOCONCRETA
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Obra: 34 Xilogravuras; "Desenho"; "Livros-Poema"
EXPOSIÇÃO NEOCONCRETA
Belvedere da Sé, Salvador, Bahia
Obra: Xilogravuras
1960
KONKRETE KUNST
Helmhaus Zurich, Suíça
II EXPOSIÇÃO NEOCONCRETA
Ministério da Educação, Rio de Janeiro
1961
1967
1968
APOCALIPOPOTESE
Manifestação coletiva nos jardins do Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, parte
do evento "Arte no Aterro: um mês de arte pública", com a participação do
publico em uma integração criativa.
Obra: "Ovo"
1969
ORGRAMURBANA
Manifestação coletiva nos jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Participação com "Trilhas de Fogo" [Fira Pach]: proposta construída com latas
de fogo e com as quais foi escrito o nome MARIO (Pedrosa) numa homenagem
ao crítico
1971
1972
DESENHOS
Galeria Grupo B, Rio de Janeiro
1974
MOSTRA COLETIVA
Galeria Jorge Glusberg, CAYC, Buenos Aires, Argentina
Obra: "Wanted"
212
1977
1978
MITOS VADIOS
Evento realizado em um terreno da Rua Augusta, em São Paulo
GALPÃO
Galpão de Kim Steve, Brooklin, São Paulo
Obra: "Ttéia nº1"
1979
OVOS DO VENTO
Galeria Café das Artes, no Hotel Meridien, Rio de Janeiro
1980
1982
213
1984
1985
RIO NARCISO
Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro
1986
1083ºC
Galeria de Arte da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro
1987
MADEIRA
Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro
215
Obra: Xilogravura
ALGUMAS MULHERES
Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro
PALAVRA IMÁGICA
Museu de Arte Contemporanea da Universidade de São Paulo
Obra: "Caixa Brasil", "Livro-Poema" e "Soft-Poem" (1979)
1988
PAPEL NO ESPAÇO
Galeria Aktuel, Rio de Janeiro
1989
RIO HOJE
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Obra: "Amazoninos nº 7", "8" e "12"
1990
COERÊNCIA – TRANSFORMAÇÃO
Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo
216
EXPOSIÇÃO PRÊMIO BRASÍLIA DE ARTES PLÁSTICAS
Museu de Arte de Brasília
PROJETOS ARQUEOS
Fundição Progresso, Rio de Janeiro
1991
1ª RIO MOSTRA
Galeria e Museu da Caixa Econômica Federal, Rio de Janeiro
1992
A CAMINHO DE NITERÓI
Paço Imperial, Rio de Janeiro
BILDERWELT BRASILIEN
Kunsthaus, Zurich, Suiça
Obra: "Livro do Tempo"
BRASIL CONTEMPORÂNEO
Casa da Imagem, Curitiba
1994
PAPE / APOLLINAIRE
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória
IMPRESSÕES
Galeria da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro
1995
LIBERTINOS, LIBERTÁRIOS
Ministério da Cultura, Rio de Janeiro
Obra: "Artes Visuais"
219
ENTRE O DESENHO E A ESCULTURA
Museu de Arte Moderna de São Paulo
Obra: "Amazoninos"
PAPEL/ ES
Espaço Universitário – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória
1996
TRANSPARÊNCIAS
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Obra: "Eat me" e "Cortina de maçãs"
DESEXP(L)OS(IGN)IÇÃO
Casa das Rosas, São Paulo
EX LIBRIS/HOME PAGE
Paço das Artes, São Paulo
IMPRESSOES ITINERANTES
Palácio das Artes, Belo Horizonte
1997
TRIDIMENSIONALIDADE
Itaú Cultural, São Paulo
Obra: "Amazoninos"
1998
FRONTEIRAS
Itaú Cultural, São Paulo
POÉTICAS DA COR
221
Centro Cultural da Light, Rio de Janeiro
Obra: "Balé Neoconcreto I", "Roda dos Prazeres", "Cortina de Maçãs", "Não
pise na grana", "Ttéia nº 07'"
TRINTA ANOS DE 68
Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro
Obra: "Trio do Embalo Maluco", "Caixa de Baratas", "Caixa de Formigas"
ESPELHO DA BIENAL
Museu de Arte Contemporânea – Niterói, RJ
1999
CAMPO RANDÔMICO
Museu do Telephone – Telemar, Rio de Janeiro
Obra: "Sedução 3"
CIRCA 1968
Museu de Arte Contemporânea Serralves – Porto, Portugal
Obra: "Caixa das Baratas" e "Eat me"
COTIDIANO/ARTE: A Técnica
Itaú Cultural, São Paulo
Obra: "Sedução II"
IMAGENS PARADOXAIS
Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro
Obra: "Maiakovski - A viagem‖
TERRITÓRIO EXPANDIDO II
SESC, São Paulo
Obra: "Língua Apunhalada"
2001
ROTATIVA – Fase 1
Galeria Fortes Vilaça, São Paulo
TRAJETÓRIA DA LUZ NA ARTE BRASILEIRA
Itaú Cultural, São Paulo
2002
"POT"
Liverpool Bienal of Contemporary Art, Inglaterra
Obra: "Água IX"
ATELIER FINEP
Paço Imperial, Rio de Janeiro
Obra: "Ttéia 1,C"
OS 4 ELEMENTOS
Museu da Pedra – Cantanhede, Portugal
Obra: "Verde"
NEFELIBATAS
Museu de Arte Moderna, São Paulo
Obra: "Isto não é uma nuvem"
GEOMETRICOS E CINETICOS
Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo
VIVÊNCIAS: Dialogues between the works of Brazilian artists from the 1960s to
2002
New Art Gallery Walsall, Londres
2003
IV BIENAL DO MERCOSUL
Obra: "DNA"
O SAL DA TERRA.
Museu Vale do Rio Doce, Espírito Santo
Obra: "Livro Luz"
ESCULTORES, ESCULTURAS
Pinacoteca de São Paulo
ORDEM X LIBERDADE
227
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
MULTIPLOS INEDITOS
HAP Galeria, Rio de Janeiro
POEMA PLANAR-ESPACIAL
SESC Nova Friburgo e Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro
2004
TUDO É BRASIL
Paço Imperial, Rio de Janeiro e Itaú Cultural, São Paulo
Obra: "Roda dos Prazeres", "Caixa Brasil" e filme "Eat Me"
30 ARTISTAS
Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro
A ARTE DA GRAVURA
Arte SESC, Rio de Janeiro
PINTURA REENCARNADA
Paço das Artes, São Paulo
Obra: "Tteia n° 7"
MAM-SP
Museu de Arte Moderna, São Paulo
Obra: Acervo do museu e de colecionadores
DIVISOR
Museé Dárt Moderne et Contemporain/ MANCO, Suíça
Obra: "Divisor" e de colecionadores
2005
O LÚDICO NA ARTE
Itaú Cultural, São Paulo
228
Obra: "Narizes e Línguas" e "Jogo de Ténis"
EXPRESSO ABSTRATO
Museu Imperial, Petrópolis
BRASIL EXPERIMENTAL
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Obra: Acervo do museu
HOMO LUDENS
Itaú Cultural, São Paulo
Obra: "Jogo de Tênis" e "Narizes e Línguas"
CORPO
Itaú Cultural, São Paulo
Obra: Vídeo de "O Ovo" em looping
ACCROCHAGE
Galeria Graça Brandão, Portugal
Obra: 02 "Desenhos" (1057)
2006
MAM [NA] OCA: Arte Brasileira do acervo do Museu do Arte Moderna de São
Paulo
Museu de Arte Moderna, São Paulo
Obra: "Tecelares"
2007
METROPOLIS
Espaço Oi Futuro
Obra: "Vinheta da Cinemateca" e cena de Lygia Pape chamando (parte de
filme da exposição "Eat Me", no Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro)
230
NEW PERSPECTIVE OF LATIN AMERICAN ART
MoMA, Nova Iorque
Obra: "Tecelar" (Frank Stella) e "Livro da Criação"
2008
BRASIL MODERNO
Moderna Museet
Obra: "Narizes e Línguas"
2009
NEOCONCRETISMO - 50 ANOS
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Obra: 01 "Cilindro Branco", 01 "Paralelograma Laranja" e DVD dos "Balés" I e II
2010
TÉKHNE
Salão Cultural MAB-FAAP, São Paulo
Obra: "Wanted"
TROPICÁLIA
Veneza
2011
EUROPÁLIA.BRASIL
Centre for Fine Arts, Bruxelas, Bélgica.
Obra: "Tecelares" e "DNA"
233
TRA – EDGE OF BECOMING
Palazzo Fortuny, Veneza
Obra: "Faca de Luz"
1967
1973
EXPO-PROJEÇÃO 73
Espaço Grife, São Paulo
'Wampirou", "Linguagem" e "Ivan o Terrível"
1975
1976
1977
234
1980
1981
CINEMA DE ARTISTA – 16ª Bienal de São Paulo
"Eat Me"
1993
1997
1998
2000
2001
235
ITAÚ CULTURAL SÃO PAULO
'Wampirou" e "Carnival in Rio"
2002
2004
FILMMUSEUM MÜNCHEN
Filmmuseum im Münchner Stadtmuseum, Munique
Homenagem à artista
2007
1960
O ASILO
Documentário poético sobre crianças de um asilo
PB, 16mm, 10 min
A GULA
Filme conceitual – "registro da existência"
PB, 16mm, 10 min
1963
1967
236
LA NOUVELLE CREATION – Ficção
Cor, 16mm/ 35mm, 50 seg
1968
1970
1971
A MATEMÁTICA E O FUTEBOL
PB, 16mm / 35mm, 10 min
THE SUPER - Filme de artista
Cor, 16mm, 10 min
1973
LINGUageM
Cor, 35mm, 10 min
1974
1975
1976
1978
1982
1999
238
2001
1967
ARTE PUBLICA
Curta-metragem de Jorge Sirito e Paulo Martins.
Documentário sobre os artistas de vanguarda no Brasil.
Participação de Lygia Pape com a obra "Trio do Embalo Maluco" e sambistas
da Mangueira
1968
1973
LOUCURA E CULTURA
Filme de Antonio Manuel sobre um debate realizado no MAM sobre cultura e
do qual fizeram parte: Helio Oiticica, Rogério Duarte, Luis Saldanha. Caetano
Veloso e Lygia Pape
1985
VÍDEO
Direção: Sonia Miranda
1990
LYGIA PAPE
Produção: RIOARTE
Direção: Paula Gaitan
1999
239
SOBRE OS ANOS 60
Direção: Jean Claude Bernadet
CURTAS-METRAGENS
1962
1963
1964
1966
1968
7-LONGAS-METRAGENS
1961
1963
1964
1965
1967
241
El Justicero, de Nelson Pereira dos Santos
Cartaz
1957
1961-1970
1960-1980
1966
1967
1970
CASAS DA BANHA
Embalagens de produtos diversos
1972
1980
1989
1996
ALBUM 9 LUAS
Encarte de luxo do álbum do Paralamas do Sucesso
1998
2.8 - PRÊMIOS
1953
Prêmio Sul América no III Salão de Naturezas Mortas organizado pelo SAPS -
Rio deJaneiro
243
1955
Prêmio de Isenção do Juri do IV Salão Nacional de Arte Moderna – Rio de
Janeiro
1956
Prêmio Lainer
2º lugar na categoria gravura – Museu de Arte Moderna de São Paulo
(Dividido com Maria Bonomi)
1957
Prêmio Aquisição Gravura no VI Salão Nacional de Arte Moderna - Rio de
Janeiro
1958
Prêmio de Isenção de Júri no VII Salão Nacional de Arte Moderna – Rio de
Janeiro
1960
Prêmio de Isenção de Júri no IX Salão Nacional de Arte Moderna – Rio de
Janeiro
1961
Menção Honrosa no Prêmio Formiplac
1967
Prêmio de aquisição com o curta La nouvelle creation no Expo67 - Festival de
Montreal, Canadá
1986
Convidada de Honra no I Salão de Artes Plásticas Candido Portinari
1989
2º Prêmio no concurso "Nova Escultura para a Praça Mauá" – Rio de Janeiro
1990
Prêmio Brasília de Artes Plásticas
Museu de Arte de Brasília
1991
244
Prêmio Mário Pedrosa 1991 concedido pela ABCA - AICA (Associação
Internacional de Críticos de Arte – órgão da UNESCO) pela melhor exposição
de 1990 "Amazoninos".
1992
PREMIO IBEU DAS ARTES PLÁSTICAS pela melhor exposição de 1991
(TTÉIAS)
1999
1º Lugar – III Prêmio Johnnie Walker das Artes Plásticas
2002
Prêmio O Globo – Personalidade do Ano
2009
Menção Honrosa "Refazendo Mundos"- 53º Bienal de Veneza
1977-1978
Fundação Nacional de Arte – FUNARTE: "A mulher na iconografia de massa"
1978
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq:
"Espaços Poéticos: uma arquitetura do precário"
1981 -1982
Fundação Guggenheim, New York: "Estudo das estruturas da arquitetura do
índio brasileiro e as casas de favela da várzea e do morro no Rio de Janeiro"
1986
Prêmio/Bolsa Rio Arte, Rio de Janeiro
1988
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq: "O
Ensino de Arquitetura no Rio de Janeiro"
245
1990
Fundação Vitae, São Paulo
1966
Membro do júri do Festival de Cinema do Jornal do Brasil
1977
Curadora do Projeto Construtivo Brasileiro na Arte (1950-1962) Organizada
pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e pela Pinacoteca do Estado de
São Paulo
1979-80
Membro da Assessoria do Instituto Nacional de Artes Plasticas (INAP)
1980
Integrante da Comissão Organizadora para a Competição Internacional de
Projetos de Arquitetura Prêmio Unesco 1981 – XIV Congresso da U.I.A, em
Varsóvia, Polônia Universidade Santa Úrsula – Centro de Arquitetura e Artes
1981 – 1991
Conselheira do Projeto Helio Oiticica – Rio de Janeiro
1982
Curadora do Encontro "Arte, Necessidade Vital" na Semana USU
Universidade Santa Úrsula – Rio de Janeiro
1985
Organizadora, junto com Marcio Doctors, da Homenagem a Mário Pedrosa
Parque Lage – Rio de Janeiro
1986 – 1990
Assessora da Direção da Escola de Belas Artes / UFRJ
1986
Assessora no 9º Salão Nacional de Artes Plásticas para a sala especial sobre
Hélio Oiticica – Rio de Janeiro
246
1987
Integrante da Comissão Julgadora do 11º Salão Carioca de Arte
Estação Carioca de Metrô – Rio de Janeiro
1989
Curadora do Leilão em apoio aos Povos Indígenas de Roraima
Centro Empresarial Rio, Rio de janeiro
1992
Diretora têcnica do Projeto Helio Oiticica
Rio de Janeiro
Galeria Nacional Jeu de Paume, Paris; Witte de With Center for Contemporary
Art, Rotterdam; Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian,
Lisboa; Fundació Antoni Tàpies, Barcelona e Walker Art Center, Minneapolis
1995
Membro do Juri Internacional da sessão de Filmes na XXII Jornada
Internacional de Cinema da Bahia: Por Um Mundo mais Humano
1997
Integrante da Comissão de Arte, participante da Sala Especial "Lygia Clark e
Hélio Oiticica" e homenageada na área de Artes Plásticas no II Colóquio Latino-
Americano de estética: Estética em Questão
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
1998
Participante da comissão de seleção e premiação do XVI Salão Nacional de
Artes Plásticas
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro e Centro de Artes Funarte
247
1980
Primeiro Encontro de Poesia organizado pela Secretaria de Educação e Cultura
Auditório da UERJ, Rio de Janeiro
Mesa Redonda com Lygia Pape, Antonio Sergio Lima Mendonça e Álvaro Sá
1984
XXV Word Congres – Insea 84
Congresso Internacional realizado no Rio de Janeiro
1986
1º Simpósio Nacional de Marketing Cultural – São Paulo
Participação de Lygia Pape como debatedora da Sessão Artes Plásticas /
Galerias de Arte
1989
Palestra: "Visão Panorâmica da Arte: da Pré-História à Era Contemporânea"
Centro de Letras e Artes - UFRJ
1991
Mesa-Redonda: "Mario Pedrosa crítico de arte"
Participantes: Lygia Pape, Araci Amaral, Otilia Arantes e Ferreira Gullar. No
evento "Mario Pedrosa - Arte e Política" organizado pela Secretaria Municipal
de Cultura de São Paulo, por ocasião do décimo aniversário da morte de Mário
Pedrosa
1993
Oficina "O Papel como Linguagem" e participação no debate "O Artista e o
Papel" na Exposição PAPEL NOVAMENTE PAPEL
Museu Vivo da Memória Candanga – Brasília
2001
Palestra "Os Movimentos Cariocas da Arte Contemporânea"
248
Espaço Cultural Conselheiro Paschoal Cittadino – Tribunal de Contas do
Estado do Rio de Janeiro
2002
Palestra "Lygia Pape – Artista Gráfica do Cinema Novo" no ciclo de palestras
"Construtivismos: Revolução Russa 1917-1929; América Latina 1940-1970,
Desenvolvimentismo"
Centro Cultural do Bamco do Brasil, Rio de Janeiro
1968
Crítica de arte interina do DIÁRIO DE NOTÍCIAS substituindo o crítico
Frederico Morais
1970
Texto de apresentação para exposição de Manuel Moreno / Montez Magno /
Paulo Roberto Leal: Materiais Transfigurados
Sala Goeldi – Rio de Janeiro
1971
Texto de apresentação para exposição de Yone Saldanha.
MAM – Rio de Janeiro
1972
Texto-Entrevista "FALA, HELIO"
Separata da Revista de Cultura Vozes – Editora Vozes – RJ
Texto de apresentação para exposição de Ascanio MMM.
Galeria Grupo B
1973
Texto para a mostra "ExpoProjeção 73", São Paulo
Texto de apresentação para exposição de Antonio Manuell no MAM - Rio
1975
"Esculturas Virtuais" - Texto de apresentação para exposição de Roberto
Moriconi na Galeria de Arte Global – São Paulo
249
Texto para a mostra de sua autoria "Eat-Me: A Gula ou a Luxuria?" No MAM-
RJ
Texto para a "Mostra de Arte Experimental"
1976
Texto para a mostra de sua autoria "Eat-Me: A Gula ou a Luxuria?" Na Galeria
ArteGlobal, São Paulo
1977
Texto para o catálogo da mostra "Projeto Construtivo Brasileiro na Arte", MAM-
RJ
1977-81
A MULHER NA ICONOGRAFIA DE MASSA
Análise semiológica dos veículos de massa (out-doors) onde a imagem da
mulher surge como "objeto de sedução".
Editora FUNARTE
1978
Texto-entrevista para a revista "Quasi Cinema", Itália
Texto-entrevista para a mostra "Objeto na Arte: Brasil anos 60"
1980
CATITI CATITI, NA TERRA DOS BRASIS
Dissertação para obter o titulo de Mestre em Estética Filosófica pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Editora Antares
1981
Texto de apresentação do livro de poemas de Ieda Huhne
1983
Textos para o Livro sobre a produção de Artes Plásticas e Cinema de Lygia
Pape até 1983. FUNARTE - COLECAO ABC
Texto do catálogo da própria exposição "O Olho do Guará"
1984
"Jackson Ribeiro: Um Aventureiro Audaz" Texto de apresentação para
exposição de Jackson Ribeiro no Centro Empresarial Rio – Rio de Janeiro
250
1985
Seleção dos textos de Hélio Oiticica que compõem a coletânea Aspiro ao
Grande Labirinto (Ed, Rocco), junto com Waly Salomão e Luciano Figueiredo.
Texto para a exposição de Enéas Valle "BELANOS ver ÃO" no Espaço Petite
Galerie – Rio de Janeiro
1986
"Pequenas Historias" - Texto de apresentação para exposição de Raymundo
Colares no Centro Empresarial Rio – Rio de Janeiro
Texto de apresentação da pintora Yolanda Freire Galeria de Arte IBEU – Rio de
Janeiro
Texto de apresentação para a exposição de Paula Carneiro da Cunha no IBEU
RJ
1989
Texto de apresentação para a exposição de Alex Gama no Centro Cultural
Cândido Mendes – Rio de Janeiro
2.13.1 - LIVROS
PAPE, Lygia. Gávea de Tocaia: Lygia Pape. São Paulo: Cosac & Naify, 2000
PAPE, Lygia. Lygia Pape. Rio de Janeiro: Funarte, 1983. (Arte Brasileira
Contemporânea)
251
ALVAREZ-LIMA, M. Marginália: arte e cultura "na idade da pedrada". Rio de
Janeiro: Salamandra, 1996. p. 101, 103-104, 114.
ARANTES, Otília B. F. Mário Pedrosa: itinerário crítico. São Paulo: Cosac &
Naify, 2004. p. 90, 102.
BRITO, Ronaldo. Neoconcretismo. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. p. 10-11,
57-58, 80-83, 89, 101-102.
CONDURU, Roberto. Willys de Castro. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. p.
40, 42, 57-60, 238.
MEIRA, Béa. Projeto Radix: arte/7ª série. São Paulo: Scipione, 2006. Livro do
professor. p. 96, 99.
2.13.3-LIVROS (ALUSÃO)
MORICON, Roberto. Brasil Vivo. Rio de Janeiro: Renes, 1971. Pg. 182-183.
253
PAPANIKOLAS, Theresa; RAMIREZ, Mari C. Collecting Latin American Art
for the 21st Century. Houston: MFAH, 2002. (International Center for the Arts
of the Americas, v. 1). Capa.
2.13.4 - CATÁLOGOS
LYGIA Pape. Textos de Edith Bolsoni; Maria Camila Duprat F. Martins; Paulo
Venâncio Filho. Exposição da artista no Centro Cultural São Paulo, 08 de
outubro a 10 de novembro de 1996.
PAPE, Lygia. Individual da artista. Cidade do México: Museu de Arte Carrilo Gil,
1998.
1952
1953
1955
1956
255
1957
1959
1960
1967
1973
EXPO-PROJEÇÃO 73, junho de 1973. Texto de Aracy Amaral. Exposição
realizada em São Paulo. Participação da artista Lygia Pape com 'Wampirou' e
'Ivan o Terrível'.
256
1975
MOSTRA DE ARTE EXPERIMENTAL DE FILMES SUPER 8, ÁUDIO VISUAL
E VÍDEO TAPE, 04 a 07 de novembro de 1975. Exposição realizada no Rio de
Janeiro. Participação da artista Lygia Pape com 'Wampirou'.
1977
PROJETO CONSTRUTIVO BRASILEIRO NA ARTE (1950-1962). Rio de
Janeiro, 1977. Exposição realizada no MAM/RJ e Pinacoteca do Estado de São
Paulo. Participação da artista Lygia Pape como curadora da exposição, com
audiovisuais e as obras 'Tecelares' e 'Livro da Criação', e perfil da artista Lygia
Pape. Os catálogos dessa exposição estão formatados em livro e folder.
GALERIA ARTE GLOBAL 77, 01 de junho de 1977. Exposição realizada em
São Paulo. Participação da artista Lygia Pape com a obra 'Objetos de Sedução
- Darling'.
1978
OBJETO NA ARTE BRASIL ANOS '60, 1978. Exposição realizada no Museu
de Arte Brasileira da FAAP/SP. Participação da artista Lygia Pape com 'Ovos'.
1984
CICLO DE EXPOSIÇÕES: Neoconcretismo, 1959-1961, setembro de 1984.
Exposição realizada na Galeria de Arte do Banerj/RJ. Participação da artista
Lygia Pape com as obras 'Livro da Criação' e 'Tecelares'.
1985
1986
257
LYGIA Clark e Hélio. Sala especial do 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, 13
de novembro a 21 de dezembro de 1986. Entrevista com Lygia Pape.
Exposição realizada na Sala Terreiro do Paço/Paço Imperial/ Rio de Janeiro e
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo com curadoria
de Luciano Figueiredo e Glória Ferreira.
1987
1990
1991
1992
1993
258
THE ART OF ULTRAMODERN CONTEMPORARY BRAZIL. Textos de Aracy
A. Amaral; Paulo Herkenhoff; Susan Fisher Sterling. Washington, DC, 1993.
Exposição realizada no The National Museum of Women in the
Arts/Washington, D.C. Participação da artista Lygia Pape com as obras 'Livro
da Criação', 'Livro do Tempo'.
1994
1995
259
ENTRE O DESENHO E A ESCULTURA, 28 de junho a 30 de julho de 1995,
São Paulo. Exposição realizada no Museu de Arte Moderna/SP, com curadoria
de Lisette Lagnado. Participação da artista Lygia Pape com a obra
'Amazoninos'.
1996
ÁLBUM 9 LUAS, 1996, Rio de Janeiro. Participação da artista Lygia Pape com
obra 'sem título' no encarte de luxo do álbum 9 Luas do Paralamas do Sucesso.
1997
260
TRIDIMENSIONALIDADE, São Paulo, 1997. Textos Fernando Cocchiarale,
Paulo Herkenhoff, Marcio Doctors, Mario Pedrosa. Exposição no Itaú
Cultural/SP, 1997. Participação da artista Lygia Pape com a obra 'Amazoninos'.
1998
261
TRINTA ANOS DE 68, 26 de março a 07 de junho de1998, Rio de Janeiro.
Textos de Franklin Pedroso e Pedro Karp Vasquez. Exposição realizada no
CCBB/RJ, com curadoria de Franklin Pedroso e Pedro Karp Vasquez.
Participação da artista Lygia Pape com as obras 'Trio do Embalo Maluco',
'Caixa de Baratas', 'Caixa de Formigas'.
1999
262
curadoria de Rubem Grilo. Participação da artista Lygia Pape com a obra
'Tecelares'.
2000
ARTE e artistas plásticos no Brasil 2000. Texto de Adolfo Montejo. São Paulo,
novembro de 2000. Catálogo editado pela Metalivros/SP. Participação da
artista Lygia Pape com as obras 'Escada' e 'Memória Tupinambá'.
2001
264
A IMAGEM DO SOM DE ANTONIO CARLOS JOBIM, 2001, Rio de Janeiro.
Exposição realizada no Paço Imperial/RJ com curadoria de Felipe Taborda.
Participação da artista Lygia Pape com a obra 'Imagina'.
2002
2003
2004
267
O PREÇO DA SEDUÇÃO: do Espartilho ao Silicone, 18 de março a 30 de maio
de 2004, São Paulo. Texto de Denise Mattar. Exposição realizada no Itaú
Cultural/SP, com curadoria de Denise Mattar. Participação da artista Lygia
Pape com a obra 'Eat me - A gula e a luxúria'.
2005
2006
269
CONCRETA '56: A raiz da forma, 26 de setembro a 10 de dezembro de 2006,
São Paulo. Exposição realizada no MAM/SP, com curadoria de Lorenzo
Mammì. Participação da artista Lygia Pape com as obras 'Tecelares' e
'Desenho'.
MAM [NA] OCA: Arte Brasileira Do Acervo Do Museu De Arte Moderna de SP,
03 de outubro a 28 janeiro 2007.Exposição realizada no MAM/SP, com
curadoria de Tadeu Chiarelli, Felipe Chaimovich e Cauê Alves. Participação da
artista Lygia Pape Lygia Pape com a obra 'Tecelares'
2007
OITICICA IN LONDON, 2007. Ed- por Guy Brett e Luciano Figueiredo. Citações
sobre Lygia Pape.
COLEÇÃO Itaú: moderna arte no Brasil. São Paulo, 2007. Catálogo organizado
pelo Itaú Cultural/SP. Participação da artista Lygia Pape com as obras 'KV 10',
'O Olho do Guará'.
2008
271
Exposição realizada no Instituto de Arte Contemporânea/SP, com curadoria de
Taisa Palhares. Participação da artista Lygia Pape com a obra 'Tecelares'.
2009
2.13.6-PERIÓDICOS
2.13.6.1-O GLOBO
1961
1975
272
MORAIS, Frederico. A gravura como forma de conhecimento. O Globo, Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 21 jul. 1975. Rio Show, Artes Plásticas. A gravura
como forma de conhecimento, entrevista de Frederico Morais com Lygia Pape.
1983
MORAIS, Frederico. Lygia Pape: erotização dos espaços urbanos, a arte à flor
da pele. O Globo, Rio de Janeiro, 19 dez. 1983. Rio Show, Artes Plásticas, p.
20. Matéria sobre a exposição da Lygia no Centro Empresarial Rio.
1986
PESSOA, Isa. Concretismo, 30 anos. O Globo, Rio de Janeiro, 15 dez. 1986.
Segundo Caderno, p.1. Matéria sobre os trintas anos do movimento
Concretismo.
1988
DOCTORS, Marcio. A arte de ver pelas frestas. O Globo, Rio de Janeiro, 7 fev.
1988. Segundo Caderno, p. 3. matéria sobre a exposição que Lygia Pape está
preparando para Galeria Thomas Cohn.
1989
1991
273
KAPLAN, Sheila. A solidez que estava no ar. O Globo, Rio de Janeiro, 7 maio
1991. Segundo Caderno, p. 1. Matéria sobre a exposição no MAM-RJ "Rio de
Janeiro 1959-60 - Experiência Neoconcreta"com participação da Lygia Pape.
1992
UCHÔA, Claudio. Postais de arte dos trópicos. O Globo, Rio de Janeiro, 11 out.
1992. Segundo Caderno, p. 1. Matéria sobre a cooperativa de cartões postais
para museus estrangeiros da qual Lygia Pape participou.
1994
BEAUREPAIRE, Lucila de. Branco sobre branco 'na Avenida Rio Branco'. O
Globo, Rio de Janeiro, 22 jan. 1994. Primeiro Caderno, Rio, p. 16. Matéria
sobre a decoração do carnaval de rua, destaque para participação de Lygia
Pape com publicação da foto do projeto.
1995
1997
274
MILLEN, Mànya. A palavra pintada. O Globo, Rio de Janeiro, 9 set. 1997.
Segundo Caderno, p. 1. A mostra 'Palavreiro' reúne dez artistas em torno da
fronteira entre a escrita e as artes, participação de Lygia Pape.
1999
PIRES, Paulo Roberto. Paisagem útil. O Globo, Rio de Janeiro, 27 jan. 1999.
Segundo Caderno, p. 1. Dez artistas plásticos buscam ângulos inusitados do
Rio para livros de fotografias. Participação da Lygia Pape no projeto.
2000
2001
EXPOSIÇÕES. O Globo, Rio de Janeiro, 14 dez. 2001. Rio Show, p. 34. Dica
de exposição, mostra da Lygia Pape no Centro de Arte Hélio Oiticica.
2002
275
COUTINHO, Wilson. Carga ética e experimentação em quatro obras de uma
dama da arte. O Globo, Rio de Janeiro, 18 jan. 2002. Segundo Caderno,
Artes/Crítica, p. 3. Crítica sobre a exposição de obras inéditas de Lygia Pape
no Centro de Arte Hélio Oiticica.
2003
NAME, Daniela. Silvia Cintra aposta na força do preto e branco. O Globo, Rio
de Janeiro, 24 jun. 2003. Segundo Caderno, p. 8. Mostra na galeria Silvia
Cintra reúne obras, algumas inéditas de artistas, Lygia Pape entre outros.
A LUZ na arte/Fiat Lux. O Globo, Rio de Janeiro, 22 ago. 2003. Rio Show, p.
35. Anúncio. Anúncio da mostra "A luz na arte-Fiat Lux" com participação de
Lygia Pape entre outros
276
NAME, Daniela. Lygia Pape ganha perfil escrito por Denise Mattar. O Globo,
Rio de Janeiro, 17 dez. 2003. Segundo Caderno, p. 3. Matéria sobre o perfil de
Lygia Pape escrito por Denise Mattar.
2004
2007
2008
277
ARTE e design, inseparáveis. O Globo, Rio de Janeiro, 25 mar. 2008. Segundo
Caderno, p. 7. Matéria sobre mostra 'Diálogo concreto - design e construtivismo
no Brasil'.
OSÓRIO, Luiz Camillo. A relação entre arte e design. O Globo, Rio de Janeiro,
17 abr. 2008. Segundo Caderno, Artes/Crítica, p. 2. Crítica de Luiz Camillo
Osório sobre mostra 'Diálogo concreto - design e construtivismo no Brasil'.
VENTURA, Mauro. Fim da divisão entre arte e vida. O Globo, Rio de Janeiro,
18 maio 2008. Segundo Caderno, p. 14. Matéria especial sobre 68 e
vanguarda.
GARES, Débora. Obras para serem vistas com as mãos. O Globo, Rio de
Janeiro, 27 jun. 2008. Rio Show, p. 37. Matéria sobre a exposição 'Poética da
Percepção'.
TEMER, Gabriela. Que venha o calor. O Globo, Rio de Janeiro, 17 jul. 2008.
Zona Sul, p. 22-27. Matéria sobre moda, grife Totem fala sobre estampa da
coleção em homenagem à Lygia Pape.
2009
HÉLIO Oiticica e Lygia Pape batem recordes. O Globo, Rio de Janeiro, 31 maio
2009. Segundo Caderno, p. 3. Matéria sobre valores alcançados por obras de
Hélio Oiticica e Lygia Pape.
1978
278
CARDOSO, Jary. Um mito vadio. Folha de S. Paulo, São Paulo, 5 nov. 1978.
Folhetim, Suplemento, p. 7. Entrevista com Hélio Oiticica, cita as obras
"Happening" e "Mitos vadios" com a participação da Lygia Pape.
1992
PASCOWITCH, Joyce. [Nota sobre exposição]. Folha de S. Paulo, São Paulo,
15 abr. 1992. Ilustrada, Entrelinhas. Nota sobre exposição da Lygia Pape em
novembro na galeria Camargo Vilaça.
PIZA, Daniel. Lygia Pape volta a expor em SP. Folha de S. Paulo, São Paulo,
29 out. 1992. Ilustrada, p. 3. Entrevista com Lygia Pape sobre a exposição na
Galeria de Marcantonio Vilaça.
1994
1995
2000
2001
279
MACHADO, Cassiano Elek. Seleção brasileira 'joga' em NY. Folha de S. Paulo,
São Paulo, 14 mar. 2001. Ilustrada, Mostra, p. E5. Matéria sobre o evento
"Forma: Brazil" organizado pelo instituto Americas Society com a participação
de Lygia Pape e outros.
OS DEZ+. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 jun. 2001. Mais, capa. Indicação
da exposição da Lygia Pape na galeria Camargo Vilaça pela Mais!
SOARES, Caio Caramico. Casa dos artistas. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23
dez. 2001. Mais!, p. 6 e 7. Matéria mostrando ateliês de 15 artistas plásticos
brasileiros.
2002
2003
CYPRIANO, Fabio. Noite e dia de uma carreira. Folha de S. Paulo, São Paulo,
21 out. 2003. Ilustrada, p. E8. Matéria sobre a mostra Noite e Dia da Lygia
Pape e seus 50 anos de carreira na galeria André Millan.
280
2004
2005
TUDO é Brasil. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 jan. 2005. Mais!, Os dez +.
Nota sobre a exposição Tudo é Brasil.
2008
2009
281
GONÇALVES, Marcos Augusto. Carnaval anima Bienal de Veneza. Folha de S.
Paulo, São Paulo, 8 jun. 2009. Ilustrada, p. E3. Matéria sobre a participação de
artistas brasileiros na Bienal de Veneza.
1995
1997
MORAES, Angélica de. Lygia Pape exibe obras neoconcretas em SP. O Estado
de S. Paulo, São Paulo, 5 ago. 1997. Caderno 2, Visuais, p. D12. Lygia Pape
expõe na Galeria Camargo Vilaça - SP, obras dos anos 50 e 60.
1998
COLUNA Visuais: [box] 24ª Bienal de São Paulo. O Estado de S. Paulo, São
Paulo, 13 dez. 1998. Especial Domingo, Guia, p. D8. Box da programação
indicando o encerramento da 24ª Bienal de São Paulo e colocando em
destaque a participação da Lygia Pape no Núcleo Histórico.
1999
2001
2003
2004
SAMPAIO, João Luiz; MORAIS, Rodrigo. Morre no Rio a artista plástica Lygia
Pape. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 maio 2004. Geral, Memória, p. A11.
Matéria registra o falecimento da Lygia Pape.
HIRSZMAN, Maria. Morte de Lygia Pape fecha ciclo de arte nacional: Lygia por
Lygia: depoimento à Denise Mattar. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 5 maio
2004. Caderno 2, Memória, p. D6. Matéria em homenagem e sobre o
falecimento de Lygia Pape.
283
2005
2006
1956
GULLAR, Ferreira; BASTOS, Oliveira. A mulher nas letras e nas artes. Jornal
do Brasil, Rio de Janeiro, 23 dez. 1956. Suplemento Dominical, Artes Plásticas,
[Coluna] Figuras, p. 3. Nota sobre a mulher nas letras e nas artes, cita Lygia
Pape, Lygia Clark, Judith Lanand.
284
GULLAR, Ferreira; BASTOS, Oliveira. A arte mágica e o pensamento atual.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23 dez. 1956. Suplemento Dominical, Artes
Plásticas, [Coluna] Figuras, p. 5. Nota sobre o encerramento da Exposição
Nacional de Arte Concreta no MAM-SP.
1957
1958
285
GULLAR, Ferreira; PEDROSA, Pedrosa. Em torno do debate sobre a gravura.
Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 fev. 1958. Suplemento Dominical, Artes
Plásticas, [Coluna] Figuras, p. 3. Texto de Mário Pedrosa sobre debate em
torno da gravura. Lygia Pape fala do seu gosto musical e outros artistas
também.
GULLAR, Ferreira. VII Salão Nacional de Arte Moderna. Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, 6 jul. 1958. Suplemento Dominical, Artes Plásticas, [Coluna]
Figuras, p. 3. Nota sobre a criação do Ballet Concreto de Lygia Pape e
Reynaldo Jardim.
GULLAR, Ferreira. Ballet Concreto, arte nova. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
31 ago. 1958. Suplemento Dominical, Capa. Matéria de capa sobre a
apresentação do Ballet Concreto no evento Ballet Contemporâneo.
BRAGA Júlio. Âmbito das artes gráficas e suas extensões. Jornal do Brasil, Rio
de Janeiro, 14 dez. 1958. Suplemento Dominical, p. 4-5. Matéria sobre Filosofia
das Artes Gráficas, âmbito das artes gráficas e suas extensões.
1959
PAPE, Lygia Pape. Sete poemas. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 jun.
1959. Suplemento Dominical, p. 6.
287
GULLAR, Ferreira. Depoimento síntese das artes. Arte é semente de
renovação social. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 out. 1959. Suplemento
Dominical, Capa. Depoimento de Mary Vieira sobre a Síntese das Artes.
1960
1961
1971
1975
1984
1985
COMO vai a nossa cultura. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 3 nov. 1985.
Caderno B Especial, p. 8-9. Matéria sobre "Panorama Cultural da Nova
República", opinião de diversas personalidades, Lygia Pape entre outros.
1986
1988
PONTE para XXI. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 abr. 1988. Caderno B,
Capa. Anúncio do Rio Design Center da exposição "Ponte para XXI",
homenagem dos artistas à Hélio Oiticica, participação da Lygia Pape.
1990
1991
290
MARIA, Cleusa. Neoconcretismo ocupa o MAM. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 9 maio 1991. Caderno B, p. 8. Exposição neoconcretista ocupa o
MAM-RJ, Museu de Arte Moderna abriga exposição que recupera o
movimento.
1994
LEÃO, Danuza. Rio meu amor. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15 jan. 1994.
Caderno B, Coluna Danuza, p. 3. Nota sobre a participação de Lygia Pape na
decoração do carnaval de rua da avenida Rio Branco.
REIS, Paulo. Do ateliê para a folia nas avenidas. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 13 fev. 1994. Caderno B, p. 4. Artistas aproveitam o carnaval para
faturar e desenvolver pesquisas, matéria sobre a decoração do carnaval de
rua, projeto da Riotur e contou com a participação da Lygia Pape.
O QUE eles estão lendo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 19 mar. 1994.
Caderno Idéias/Livros, p. 6. Recomendação de Lygia Pape sobre livros para
coluna do caderno Idéias.
1996
GULLAR, Ferreira. Onde ninguém via. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 dez.
1996. Suplemento Especial, JB Cultural, p. 5.Suplemento especial dedicado à
Reynaldo Jardim.
PAPE, Lygia. O olho e o alvo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 dez. 1996.
Suplemento Especial, JB Cultural, p. 4. Suplemento especial dedicado à
Reynaldo Jardim.
1998
1999
291
KLEIN, Cristian. Videoarte em três tempos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 18
maio 1999. Caderno B, p. 8. Videoarte, exposição no Museu do Telephone
reúne gerações de videoartistas, participação da Lygia Pape.
2000
ABREU, Gilberto de. A arte de fazer política. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
16 maio 2000. Caderno B, Capa. Mostra no Rio e Portugal revêem produção
visual criada durante a ditadura militar. Mostra individual de Lygia Pape no
Museu de Arte Contemporânea do Porto.
REIS, Paulo. Portugal descobre o Brasil pela arte. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 19 nov. 2000. Caderno B, p. 10. Matéria sobre artistas brasileiros
expostos em museus e galerias de Portugal, cita a exposição "3 Histórias do
Brasil"com Lygia Pape, Arthur Barrio e Antonio Manuel.
2001
MARIA, Cleusa. 4 perguntas para Lygia Pape. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro,
3 dez. 2001. Caderno B, p. 4. Informe de arte. Entrevista com Lygia Pape,
perguntas sobre arte e informa a inauguração das cincos instalações no Centro
de Arte Hélio Oiticica.
O QUE eles estão lendo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 dez. 2001.
Caderno Idéias, p. 7. Dica literária de Lygia Pape.
2002
2003
MARTINS, Ana Cecília. A arte de fazer arte em P e B'. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 22 jun. 2003. Caderno B, p. B3. Matéria sobre a exposição "Projeto em
preto e branco" na galeria Silvia Cintra, participação de Lygia Pape.
PELTIER, Márcia. Arroz e feijão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 ago. 2003.
Caderno B, Márcia Peltier, p. B3. Nota sobre a participação de Lygia Pape na
4ª Bienal do Mercosul.
2004
LYGIA Pape. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 13 mar. 2004. Caderno Idéias,
Lançamentos, p. 3. Dica de lançamento do livro da coleção Perfis do Rio sobre
Lygia Pape.
ABREU, Gilberto de. Além das fronteiras. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28
abr. 2004. Caderno B, Capa. Lançamento de antologia de Guy Brett, cita Lygia
Pape.
ABREU, Gilberto de. Uma artista a serviço da invenção. Jornal do Brasil, Rio de
Janeiro, 5 maio 2004. Caderno B, p. B3. Matéria em homenagem à Lygia Pape.
MARIA, Cleusa. Uma luz se apaga. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 11 maio
2004. Caderno B, Informe de arte, p. B3. Nota sobre falecimento de Lygia
Pape.
2005
BOECHAT, Ricardo. Lance livre. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 jan. 2005.
Caderno País, p. A6. Nota sobre o lançamento do site Lygia Pape.
BOECHAT, Ricardo. Foi assim. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 26 jun. 2005.
Caderno País, p. A6. Nota sobre o testamento deixado por Lygia Pape.
2006
294
2008
RAMOS, Renata. A história da arte em elementos cotidianos. Jornal do Brasil,
Rio de Janeiro, 24 mar. 2008. Caderno B, p. B2. Matéria sobre mostra 'Diálogo
concreto: design e construtivismo no Brasil'.
2009
2.13.6.5-JORNAIS AVULSOS
1957
1958
1959
1969
1970
295
RÊGO, Norma Pereira. Mangueira e Londres na rota, Hélio propõe uma arte
afetiva. Última Hora, 31 jan. 1970. 2º Caderno, Debate, p. 5. Matéria sobre o
retorno de Hélio Oiticica de sua temporada em Londres.
PIRES, Luiz Antonio. Hélio Oiticica. Jovem: o jornal, p. 4-5, 06 mar. 1970.
Entrevista com Hélio Oiticica.
1975
COM o espaço construído. Jornal Opinião, 01 ago. 1975. Artes Plásticas, p. 21.
Matéria sobre a exposição da Lygia Pape na Galeria Maison de France "Lygia
Pape - 40 gravuras neoconcretas".
1989
1992
1994
1999
SUTER, Fred. [Foto]. Pág. 5. O Dia, 26 abr. 1999. Geral, p. 5. Foto com
legenda com participação da Lygia Pape.
296
MACHADO, Alexandre. Neoconcretíssima trindade. Correio Braziliense, 29 set.
1999. [Caderno] Dois, Capa. Matéria sobre a exposição "LHL-objetos e peças
de Lygia Pape, Hélio Oiticica e Lygia Clark" na Galeria do Conjunto Cultural da
CEF.
2000
BELLET, Harry. Trois hommes pour décrypter 500 ans d'histoire, et plus. Le
Brésil se redécouvre dans le kaléidoscope de l'arte. Une psychanalise sociale
par l'image et les objets. Le Monde, Paris, 07 out. 2000. Culture, p. 16. Matéria
publicada no Le Monde sobre a Exposição Brasil 500 anos e cita a participação
de Lygia Pape com a obra Manto Tupinambá.
2001
2002
PAULA, Ethel de. Lua sem prata. O Povo, 05 maio 2002. Vida e Arte,
Entrevista, p. 5. Entrevista com Lygia Pape sobre sua participação na
exposição "Ceará Redescobre o Brasil".
297
2003
2004
JOHNSON, Ken. Lygia Pape, a Brazilian artist of concrete reality, dies at 77..
New York Times, p. 38, 16 maio 2004 . Matéria sobre o falecimento de Lygia
Pape.
OLIVEIRA, Luísa Soares de. Hoje: Lygia Pape e Ana Vieira. Público, Lisboa, 05
jun. 2004. Artes Plásticas, Exposições, p. 25. Inauguração da semana, dica da
exposição de Lygia Pape e Ana Vieira na Galeria Graça Brandão,
Porto/Portugal. Foto da obra Ttéia.
2005
298
UM ESPAÇO dedicado a Lygia Pape. Diário do Vale, 19 out. 2005. Lazer, Artes
Plásticas, p. 4. Matéria sobre a criação de um espaço de artes na Universidade
de Barra Mansa em homenagem a Lygia Pape.
2006
LUZINA, Sandra. Mehr power als flower. Tagesspiegel, Bonn, 11 jun. 2006.
Kultur, p. 25. Matéria em jornal alemão sobre a exposição "Tropicália" e a
participação de Lygia Pape.
2008
ARCO 2008: ano verde e amarelo. Público, Lisboa, 14 fev. 2008. P2, p. 4-6.
Matéria sobre a participação brasileira na Arco 2008.
LAFONTE, I.; GARCIA, A. 27ª edición de Arco: la feria sellena de puntos rojos.
El País, Mardid, 16 fev. 2008. Vida e Artes, Cultura. Matéria sobre a Arco 2008,
cita a aquisição de uma obra de Lygia Pape pelo Museu Reina Sofía.
2.13.7-REVISTAS
1954
1956
1971
299
PONTUAL, Roberto. O livro, livre. Revista de Cultura Vozes, Petrópolis, ano
65, v. 65, n. 3, p. 193-206, abr. 1971.
1976
1978
PAPE, Lygia. Fala Hélio. Revista de Cultura Vozes, Rio de Janeiro, v. 72, n. 5,
p. 43-50, 1978.
1981
1983
MORAES, Frederico. O corpo é o motor da obra. Arte em Revista, São Paulo,
n. 7, p. 47-52, ago. 1983.
RACZ, Georges. Artes visuais: enigmas da luz. Visão, São Paulo, ano 32, n.
52, p. 64, 26 dez. 1983. Semanal.
1988
BARREIRA, Wagner. Volta para o Futuro. Veja, São Paulo, ano 20, n. 27, p.
124-126, 06 jul. 1988. Semanal.
300
PAPE, Lygia. Morar na Cor. Arquitetura Revista - FAU / UFRJ, Rio de Janeiro,
v. 6, p. 29-32, 1988. Semestral.
1990
BASBAUM, Ricardo. Lygia Pape na Thomas Cohn. Guia das Artes, São Paulo,
ano 5, n. 20, p. 94, 1990.
Invenção com rigor. Veja, São Paulo, ano 23, n. 34, p. 103, 29 ago. 1990.
Semanal.
1993
1994
1995
PAPE, Lygia. O que eu não sei. Item - 1: revista de arte, Rio de Janeiro, n. 1, p.
17-19, jun. 1995.
1996
301
1998
DUARTE, R.; FERREIRA, G.; VENANCIO FILHO, P. Dossiê Lygia Pape. Arte &
Ensaios, Rio de Janeiro, ano 5, n. 5, p. 7-16, 1998.
1999
2000
IBEU - 60 anos de arte. Boletim IBEU, Rio de Janeiro, ano 58, n. 462, p. 8,
abr.-jun. 2000. Trimestral.
MORAES, Angélica. Discreta subversão. Bravo!, São Paulo, ano 4, n. 37, p. 26-
31, out. 2000.
2001
COSTA, Eduardo. Lygia Pape: the Permanently Open Seed. NY Arts, Nova
Iorque, v. 6, n. 5, p. 88, maio 2001.
LOPES, Josiane. Impressão da história. Bravo!, São Paulo, ano 4, n. 44, p. 62,
maio 2001.
VELLOSO, Beatriz. O legado de um marchand. Época, Rio de Janeiro, ano 3,
n. 154, p. 102-103, 30 abr. 2001. Semanal.
2002
BUTCHER, Isabel. Constelação no Paço. Veja Rio, Rio de Janeiro, ano 35, n.
44, p. 20, 4 nov. 2002. Semanal.
MACHADO, Milton; OSORIO, Luiz Camillo. Dois pontos. Item 5: revista de arte,
Rio de Janeiro, p. 6-18, fev. 2002.
MORAES, Angélica. Sob medida. Bravo!, São Paulo, ano 6, p. 32-35, nov.
2002.
302
NAVAS, Adolfo M. Lygia Pape. Lapiz: revista intenacional de arte, Madri, ano
21, n. 183, p. 66, maio 2002.
PAPE, Lygia. A conversation. Review: latin american literature and arts, Nova
Iorque, n. 64, p. 37-45, 2002.
REIS, Paulo. Concretos versus neoconcretos. Rio Artes, Rio de Janeiro, ano
11, n. 30, p. 14-15, abr. 2002.
2003
BUTCHER, Isabel. Mestres em preto e branco. Veja Rio, Rio de Janeiro, ano
36, n. 25, p. 42, 25 jun. 2003. Semanal.
2004
Adiós a Lygia Pape. Lapiz: revista internacional de arte, Madri, ano 23, n. 204,
p. 93, jun. 2004.
FREITAS, Rosana. Dossiê Lygia Pape Homenagem. Arte & Ensaios, Rio de
Janeiro, ano 11, n. 11, p. 107-111, 2004.
2005
BESEN, Ricardo. Tropicália para Exportação. Bien'Art, São Paulo, n. 13, p. 38-
39, nov. 2005. Mensal.
COSAC, Charles. Lygia Pape: gula, luxo e luxúria. Bien'Art, São Paulo, n. 12, p.
18-19, out. 2005. Mensal
303
LOPES, Fernanda. Hélio Oiticica: um barril de pólvora. Bien'Art, São Paulo, n.
11, p. 16-17, set. 2005. Mensal
2006
2007
ROLLO, Fabrizio. Estilo. Casa Vogue, São Paulo, n. 257, p. 36, jan. 2007.
Mensal.
2008
A última teia de Lygia Pape. L+arte, Lisboa, n. 48, p. 83, maio 2008. Mensal.
CAMPO, Cristina. Actual. Artes & Leilões, n. 4, p. 73-76, jan. 2008. Mensal.
FERREIRA, Glória. Arte em Brasil. Las últimas cinco décadas - años 60 y 70:
rearticulaciones transgresivas. Exit Express, Madri, 1, 8-12, fev. 2008.
Suplemento especial ARCO'08/Brasil.
REYNOLDS, Ann. Previews. Artforum, Nova Iorque, ano 46, n. 5, p. 163, jan.
2008.
Rio de Janeiro. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, ano
4, n. 39, p. 12, dez. 2008. Mensal.
304
2009
2.13.8-REVISTAS (ALUSÃO)
Galeria: Revista de Arte, São Paulo, ano 5, p. 40, ago./set. 1990. Anúncio.
Guia das Artes, São Paulo, ano 5, n. 20, p. 103, 1990. Anúncio.
Lapiz: revista internacional de arte, Madri, ano 18, n. 154, jun.-ago. 1999.
Anúncio.
Latinos em evidência. Elle Brasil, São Paulo, ano 22, n. 9, p. 110, set. 2009.
Mensal.
2.13.9-TRABALHOS ACADÊMICOS
305
MARTINS, M. C. A. A volta dos "Fantasmas" ou a obra "Wanted". In:
MEMÓRIA E ESQUECIMENTO NA ARTE, 1995, Rio de Janeiro. Anais do 2º
Encontro do Mestrado em História da Arte, EBA, UFRJ. Rio de Janeiro:
UFRJ, 1995. p. 145-150.
REFERÊNCIA
Fonte: Sitio do Projeto Lygia Pape, acesso em 30/04/2013, disponível em
<http://www.lygiapape.org.br/pt/cronologia.php>
307
III. ENTREVISTAS
C.S.S.: Boa tarde, Paula, sou produtora cultura, trabalho na área de Artes
Visuais na gestão de projetos nacionais e na curadoria de exposições e ações
formativas. Estou realizando pesquisa sobre o trabalho de Lygia Pape como
tema de minha dissertação de mestrado em Estudos de Cultura
Contemporânea, na linha de Poéticas Contemporâneas, em curso na
Universidade Federal de Mato Grosso. Gostaria de fazer algumas perguntas
sobre a trajetória de Lygia e sobre suas obras participativas, em especial o
Divisor. Na pesquisa bibliográfica percebi que há divergência em relação a data
de nascimento de Lygia, alguns citam o ano de 1927 e outros 1929, qual o ano
correto?
P.P.: Ela nasceu em 1927, mas não gostava de revelar a idade.
308
C.S.S.: Sobre o Divisor, o nome dele é DIVISOR ou O DIVISOR? E como Lygia
o classificava?
P.P.: É Divisor, essa obra surgiu num momento muito importante, havia acabo
o Concretismo e 1968 foi muito marcante para esse tipo de trabalho
performático. Ela chamou depois de Performance, mas usava esse nome e
muito mais! Na época não havia esse nome, isso veio depois, assim como as
Instalações. Minha mãe fazia coisas muito diferentes: experimentos,
experimentações, instalações, performances, vídeos.
C.S.S.: Mais uma divergência que encontrei nas fontes que pesquisei foi em
relação ao tamanho do Divisor. Qual o tamanho dele? Há um tamanho único?
P.P.: A confusão deve ser porque ele tem três tamanhos diferentes.
Dependendo da ocasião ela usava um tamanho menor ou maior, mas em geral
havia um tamanho médio, que era mais usado. Todos eles eram quadrados,
ela gostava dessa forma, dizia que era uma forma perfeita, assim como o
círculo, ela gostava de matemática, de física. Não teve um Divisor retangular,
por isso, ela gostava mais da forma quadrada. Eles medem 10 x 10 m, 20 x 20
m e 30 x 30 m.
309
P.P.: Ele é sempre de tecido branco e opaco, nunca transparente. Era feito
com um tipo de algodão bem grosso, parecia um brim. Esse tecido nem existe
mais. Há toda uma fórmula para fazer o Divisor, parece que é simples, mas não
é. As fendas dão muito trabalho porque precisam de acabamento, as bordas
também são costuradas. Ela se preocupava para que o tecido não machucasse
as pessoas. É muito difícil conseguir costureira para fazer o Divisor, a que fazia
para minha mãe também morreu. Eu precisei fazer outro pra usar na Bienal,
porque cada vez que vai apresentar ele tem que fazer um novo, porque não dá
para lavar.
310
espaços imantados, como se fosse um passe de mágica, uma coisa
momentânea
C.S.S.: Me fale um pouco das obras participativas, das propostas que sua mãe
fazia para que as pessoas participassem.
P.P.: O Ovo é uma delas, é uma experiência inesquecível. Você fica em
posição fetal, coberta pela estrutura do Ovo. Faz um esforço para sair, tem que
furar o plástico. Dá uma sensação de renascimento e quando tem uma plateia,
é como se você nascesse para uma série de pessoas. A forma como você
rasga o plástico e se esforça pra sair, tende a fazer você cair e imita um feto no
nascimento. Dá uma sensação boa, de catarse. É para fazer em casa. Faça!
C.S.S.: Como foi sua infância, digo, com uma mãe artista, como era?
P.P.: Eu acompanhava muito minha mãe, ela me estimulava muito. Lembro de
irmos com frequência ao MAM, lá eu fiz aulas de pintura com o Ivan Serpa. Eu
311
fiz, minha mãe não. Ela não foi aluna dele. Saiu isso uma vez num catálogo,
logo no começo da década de 1950, ela ficou muito brava, mas naquela época
não era como agora, não dava pra mandar corrigir porque a exposição já ia
abrir e os processos de impressão eram demorados. Todos os artistas se
encontravam muito no MAM e eu ficava lá com eles; Lygia Clark, Aluísio
Carvão, Volpi, Goeldi, Antonio Manuel, Gerchmann. Lá que minha mãe
renovou suas técnicas artísticas, eles discutiam os trabalhos uns dos outros,
debatiam sobre filosofia e arte. Lembro das conversas deles na cantina, era
onde se juntavam.
C.S.S.: Sobre o trabalho de Lygia como designer, ela fez muitos trabalhos além
dos mais conhecidos que são a Piraquê e o trabalho junto com o pessoal do
Cinema Novo?
P.P.: Sim, ela fez muitas coisas. Era o que sustentava financeiramente.
Também não tem muitos registros de tudo, mas ela estava sempre envolvida
com alguma coisa de design, uma programação visual. Lygia não tinha
pretensão de ser uma grande artista, a arte estava nela. Ela fazia por prazer,
não era primordial se promover. Ela era uma pessoa muito simples e
extraordinária ao mesmo tempo, adorava de passear de fusca pela cidade, por
espaços imantados pouco decifrados como Madureira, o Centro e algumas
favelas
312
3.2 – Entrevistado: Felipe Abdala (assistente de artista e aluno do
Programa de Mestrado em História da Arte na UERJ)
Entrevistador: Caroline S. de Souza
Data: 21 e 23/01/2012
Meio: Telefone e correio eletrônico
C.S.S.: Olá Felipe, trabalho com a Leidiane Carvalho e soube através dela que
vocês dois participaram do Divisor em 2010, no MAM-RJ. Estou realizando
pesquisa sobre o trabalho de Lygia Pape como tema de minha dissertação de
mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea, na linha de Poéticas
Contemporâneas, em curso na Universidade Federal de Mato Grosso. Gostaria
de saber como foi sua experiência com o Divisor.
F.A.: Olá, Carol! Bem, pra começar, em nenhum momento a gente soube que o
trabalho estaria sendo feito pra Bienal de São Paulo. Na verdade, foi uma
grande surpresa quando, na abertura da Bienal, várias pessoas vinham me
cumprimentar pra falar sobre o vídeo e eu nem sabia, (risos).
C.S.S.: Eles estavam filmando tudo para produzir um vídeo que faria parte da
29ª Bienal de São Paulo. Você acha que essa necessidade de registro para
exibição posterior interferiu na fruição da obra pelos participantes?
F.A.: Sinceramente, não tinha a possibilidade de sentir alguma coisa mais
profunda ali, já que estávamos todos morrendo de calor debaixo daquele
imenso lençol, com o sol nos fritando e indo e voltando, pra lá e pra cá,
seguindo as ordens da diretora [do vídeo], que era a Paula, filha da Lygia. Eu
achei que ela fosse deixar as pessoas ficarem mais livres, mais soltas, pra
tentar experimentar mesmo aquela condição. Acho que, de certo ponto, foi
limitador. E aí eu me pergunto: se a Lygia, que concebeu o trabalho, estivesse
ali, como seria?
315
ou livre como gostaríamos. Mas terá naquele dia remoto de 30 anos atrás
[1968], sido ―meridianamente simples, lúdica, livre‖? (Uma pergunta retórica.)
<http://listaamiga.com/performancedivisordelygiapape/592-divisor> acessada
em 04/06/2012.
316