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História do Brasil
Volume 2
Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior
Apresentação..................................................................................................................... 5
E assim nasceu o Brasil: a Emancipação Política......................................................... 7
Os gestos que fundam o Brasil................................................................................. 15
Escritas das histórias: cultura histórica e política nas “rebeliões” sociais
do “período regencial (1831-1840)”............................................................................... 27
Luta, “cidadania” e identidade na “Amazônia revolucionária”: a Cabanagem
reescrita nas tramas da História............................................................................... 32
“Liberdade(s)” e dilemas da escravidão na Sabinada............................................... 36
Debates e embates “da” e “na” historiografia da “Farroupilha”: ressignificando
as escritas históricas nas tramas das memórias...................................................... 39
As “sedições” continuam........................................................................................... 44
Ebulições sociais no Nordeste oitocentista: “dominação” e “subversão”............... 51
Introdução................................................................................................................. 51
Dicionário de Termos Históricos................................................................................ 63
Considerações Finais..................................................................................................... 67
Conheça o Autor.............................................................................................................. 69
Apresentação
Este é o volume 2 do nosso material de História do Brasil, enfatizando um momento
bastante singular de nossa história: a independência e os projetos de nação no século
XIX. O século XIX, particularmente a partir de 1822, tornou-se propício para o Brasil se
construir como nação livre, independente politicamente de Portugal, livre das amarras
da Metrópole, embora continuasse com parte de sua população escrava. Este é um
momento, caro aluno, de você descobrir outras histórias para a nação brasileira, não
apenas mediante este material, mas pesquisando, indo a arquivos de sua cidade, em
bibliotecas e demais espaços de leitura e de pesquisa. Para os alunos que estão em
sala de aula como professores de História do Brasil, é o início de novas descobertas,
uma maneira de utilizar o que aprendeu durante este curso de História do Brasil para
se profissionalizar mais ainda. Utilize as informações como suporte para a sala de aula,
ampliando o conhecimento acerca do nosso passado recente.
Para montarmos esse cenário de histórias do século XIX, além dos textos
complementares, os boxes explicativos, a seção Saiba Mais, lançamos mão de outros
recursos de aprendizagem, a exemplo da elaboração de cordel temático, de blogs,
de redações diversas. Este cenário de aprendizagem, junto às leituras dos textos
principais, são etapas importantes e necessárias para a compreensão da escrita da
história e da memória sobre o Brasil.
É isto, caro estudante. Seja bem vindo, mais uma vez, à leitura e aos espaços de
reflexão deste material!
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Capítulo 4
Objetivos
●● Estudar os significados políticos e culturais da emancipação política do Brasil;
7
historiadores e alunos de História, compreender esse momento
tão importante para a nação brasileira? Para melhor entendimento
desse evento, é melhor voltarmos no tempo, pois uma série de
acontecimentos de ordem política possibilitou que os laços afetivos,
pelo menos do ponto de vista político e econômico, fossem rompidos
com a Metrópole. Mas como foram rompidos esses laços? Como o
Brasil se constituiu em um corpo político livre e autônomo?
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uma sociedade baseada nos ideais de liberdade e de igualdade
dos cidadãos. Em meados de 1798, folhetos clandestinos são
espalhados em Salvador anunciando a “Revolução Baiense”
e conclamando a população a defendê-la. No entanto, os
preparativos da luta armada fracassaram. As autoridades deram
início à devassa: 4 são condenados à morte (Lucas Dantas, Luis
Gonzaga das Virgens, João de Deus e Manuel Faustino - todos
mulatos). Inspirado nos jacobinos da Revolução Francesa, o
movimento desejava a libertação dos escravos. Assim como a
Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana transformou-se em
símbolo de luta pela emancipação política do Brasil.
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leitores, embora predominasse a prática de leitura de obras
devocionais, missais, hagiografias, orações e sermões.
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Uma revolução explode em Portugal, acirrando os ânimos locais
e europeus. Juízes, bacharéis, comerciantes e comandantes
militares se envolveram na Revolução Liberal, também conhecida
como vintismo. A Revolução Liberal do Porto exige a volta do rei
D. João VI a Portugal. A Revolução do Porto, comandada pela
burguesia comercial da cidade do Porto, era um movimento que
tinha características liberais para Portugal, no entanto, para o
Brasil significava uma recolonização. Os rebeldes exigiram a
volta de dom João e a expulsão dos governantes estrangeiros.
1820
Queriam também que o comércio do Brasil voltasse a ser feito
exclusivamente pelos comerciantes portugueses. Cedendo
às pressões de Portugal, dom João voltou em 26 de abril de
1821. Deixou, contudo, seu filho dom Pedro como regente do
Brasil. Assim, agradava aos portugueses e aos brasileiros que
tinham lucrado com a vinda da corte portuguesa para o Brasil,
especialmente com a abertura dos portos. Essa medida, de certa
forma, favoreceu e acelerou o processo da independência do
Brasil.
Notícias de Jornal
Sobre a Revolução do Porto, o jornal Gazeta do Rio de Janeiro noticiou
aos seus leitores, numa edição extraordinária de 9 de novembro de 1820,
as primeiras notícias sobre o movimento constitucional português:
O espírito de inquietação e o desatinado desvario, que têm atacado
o meio-dia da Europa desgraçadamente sopraram sobre uma das
mais belas cidades de Portugal e, corrompendo ânimos ambiciosos e
indiscretamente amigos da novidade, causou tumultos efêmeros, que a
prudência do governo se apressou a talhar e a extinguir.
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pertencimento aos moradores da Colônia. Foram reconstituídos o
Conselho da Fazenda e o Erário Régio, “incorporados em uma só
instituição, que devia fazer a administração dos bens régios e dos
fundos públicos do Estado do Brasil e dos domínios ultramarinos”
(NEVES, 2009, p.105).
Iluminismo
Podemos dizer que o iluminismo foi um movimento de cunho filosófico,
político, social, econômico e cultural, que defendia a razão como o melhor
caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação.
Paris, capital francesa, tornou-se o centro das ideias e pensadores
Iluministas no século XVIII.
Os pensadores iluministas defendiam tanto a criação de escolas quanto a
liberdade religiosa. As ideias dos pensadores iluministas eram divulgadas
através da Enciclopédia (impressa entre 1751 e 1780), uma coletânea
composta por 35 volumes, na qual estava resumida parte do conhecimento
existente até então.
O iluminismo foi, também, um movimento de reação ao absolutismo
europeu, que tinha como características as estruturas feudais, a
influência da Igreja Católica, o monopólio comercial e a censura das
“ideias perigosas”. O Iluminismo combatia o Antigo Regime (Absolutismo
e Mercantilismo), e pregava a liberdade econômica, a liberdade política e
a igualdade jurídica.
Os principais pensadores iluministas foram: Montesquieu, Voltaire,
Diderot, D´Alambert e Rosseau.
Fonte:
ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos - Adorno Vida e Obra
- Conceito de Iluminismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Editora Nova Cultural, 1999.
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em várias capitanias, com um corpo de homens letrados que
desejavam ardentemente a liberdade de comprar, trocar e vender sem
a interferência da metrópole. Homens letrados que se reconheciam
como membros de uma comunidade maior - a “civilização” - animados
pelo ideal do progresso e pelas cores do Iluminismo e da Ilustração. A
crença na civilização era um ideal a ser perseguido, um estágio a ser
alcançado. A “barbárie” necessitava ser transformada pela “civilidade”.
Mas não existia apenas uma ideia de nação, mas vários projetos,
caminhos e possibilidades que circulavam na época da transição da
ordem colonial para uma nova ordem política. Além do historiador
Evaldo Cabral de Melo (2001), outros advogam a tese que uma
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multiplicidade de identidades e concepções políticas existiam e
circulavam na época da Independência, todas “portadoras de
concepções de Estado e nação muito diferentes, constituindo,
portanto, “projetos nacionais” diversos”. Para Maria Elisa Mader, o
“processo de formação do Estado nacional no Brasil envolveu uma
tensa negociação, que conduziu à conciliação de interesses muitas
vezes divergentes, com vistas à criação e à consolidação de um
poder central e nacional” (2005, p.179)
A Geração de 1790
A “geração de 1790” é formada por um grupo de intelectuais que
apresentavam, em suas práticas e discursos, atitudes inconformistas
e contestatárias que contradiziam e conspiravam contra o controle
metropolitano. As características dessa Geração estavam balizadas,
também, na mobilidade, atuação e práticas científicas levadas a cabo
nas diferentes partes do império. Um dos aspectos que marca muito
bem essa “elite do conhecimento” é que, ao contrário dos intelectuais
contemporâneos, em que existe uma especialização do saber científico,
os mesmos detinham uma formação polivalente e podiam, ainda, acumular
o exercício de um cargo administrativo com a execução de funções
científicas. Conforme Ângela Domingues, os letrados que integravam este
grupo, muitos deles jovens brasileiros originários de famílias abastadas
que se queriam promover pela educação dos seus filhos, eram formados
nos mais variados ramos do saber:
“Os que seguiam a carreira da magistratura e da administração podiam
ocupar-se, com alguma competência, de observações e descrições
científicas naturais; quem tinha um grau acadêmico em Filosofia
Natural interessava-se pelo cálculo das coordenadas terrestres ou
pela cartografia; e muitos engenheiros-cartógrafos e matemáticos-
astrônomos estavam familiarizados com as descrições das produções
naturais. Um caso paradigmático desta polivalência, escolhido de entre
muitos outros, pode ser o de Joaquim Veloso de Miranda, secretário
do governador e capitão-general de Mato Grosso e idealizador do
horto botânico de Ouro Preto; ou ainda António Pires da Silva Pontes,
matemático-astrônomo egovernador e capitão-general do Espírito Santo”.
Os trabalhos produzidos nesta área pelas historiografias de Portugal
e Brasil contribuem, então, para a clarificação da relação dinâmica
constituída nos séculos XVIII e XIX entre reinos e colônias.
Referências:
ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do império: questão nacional
e questão colonial na crise do Antigo Regime português. Lisboa:
Afrontamento, 1993.
14
Acessado em 20/dez/2011.
15
estão os homens livres e soldados que saudaram D. Pedro? Onde
estão as contradições que fizeram do 7 de setembro de 1822 um dia
não tão heróico assim?
Jornais e periódicos
A Gazeta do Rio de Janeiro, o Correio Braziliense, A Idade de Ouro
do Brasil, Semanário Cívico de Salvador, Correio do Rio de Janeiro,
Reclamação do Brasil, O Espelho, Regulador Brasileiro, Revérbero
Constitucional Fluminense, Conciliador do Reino Unido, A Malagueta,
dentre outros, contribuíram para criar uma certa imagem de nação livre
da metrópole. Discutiam o separatismo, ampliavam o debate político,
enalteciam a revolução liberal e reivindicavam uma constituição para o
Brasil. Em 1822, o Revérbero Constitucional Fluminense clamou a D.
Pedro para que efetivasse a fundação do Império do Brasil.
Os periódicos agiam como suportes pedagógicos, educando os leitores,
principalmente a elite, sobre o ideário liberal constitucional. No entanto,
16
nem todos os periódicos concordavam entre si, acirrando a disputa por
leitores e por novas ideias.
Consulte:
SOUZA, Iara Lis de. Pátria Coroada. O Brasil como corpo político
(1780-1830). São Paulo: Unesp, 1999.
Autores e Obras
Sobre a Independência do Brasil, vários autores lançaram olhares os mais diversos,
dentre os quais:
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NEVES, Maria L. Cidadania e participação política na época da independência
do Brasil. Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 58, p. 47-64, dezembro/2002. Disponível
em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v22n58/v22n58a04.pdf.
ROCHA POMBO, José Francisco da. História do Brazil (5 vols.). Rio de Janeiro:
W. M. Jackson, 1935.
18
período. Argumenta a autora:
19
Enfim, o 7 de setembro de 1822. Este, o gesto fundador “definitivo”
de um Brasil livre do pacto colonial. Um gesto que funda
internacionalmente a nação brasileira. O Brasil transformava-se no
“filho ingrato” que recusava os benefícios da regeneração política.
Depois das festas e celebrações, de vivas e de procissões, o
despacho do retrato de D. Pedro para várias vilas e cidades do Brasil.
José Bonifácio cuidou de criar os rostos para o Brasil, decretando a
elaboração de símbolos do país independente, tais como a bandeira,
o laço verde-amarelo, os uniformes militares, a flor verde dentro do
ângulo de ouro.
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a impressão de que estava se cumprindo a vontade de Deus e
sacralizando a figura do imperador e do poder monárquico. Foi um
gesto que proclamou, com o anel de selar, o Império do Brasil, um
corpo político autônomo, como afirma Mader.
21
D. Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.
Fonte:
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. Paixão pelo poder. Revista de
História da Biblioteca Nacional. Ano 7, n. 74, novembro de 2011, p.
18-19
Revisão
Neste capítulo, estudamos um dos momentos mais comemorados da História do
Brasil: o 7 de Setembro e o gesto que fundou a nação brasileira: o grito do Ipiranga.
Para tanto, abordamos alguns movimentos sociais e/ou políticos que ocorreram antes
de 1822, como a chegada da Corte, a Revolução de 1817 em Pernambuco, a Revolta
do Porto, o Dia do Fico, dentre outros atos que contribuíram para consolidar entre os
brasileiros a ideia de que era o momento de romper os laços políticos e econômicos
com a metrópole portuguesa. 1822 foi um momento de romper determinadas identidades
coletivas das províncias, herdadas do período colonial, ao mesmo tempo em que deveria
ser elaborada uma identidade nacional, mesmo que para isso tivesse que usar a força
e instrumentos de convencimento. Foi isso que fez D. Pedro, ao impor o unitarismo e a
centralização política, criando o poder Moderador como um meio de manter a qualquer
custo a hierarquia do Imperador.
Atividades
1. Leitura de Imagem
Independência ou Morte, 1888 – Pedro Américo (Paraíba, 1843- 1905) - óleo sobre tela, 7,
60 m x 4, 15 m - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Independence_of_Brazil_1888.jpg
22
gritou, próximo ao rio Ipiranga, “Independência ou Morte!” Portanto, faça uma leitura
dessa imagem retratando:
Com esta atividade, pretendemos ajudar ao aluno interpretar o hino que foi
elaborado à época da Independência, bem como levá-lo a fazer a associação entre
os discursos político e religioso.
23
4. Leia a tirinha abaixo:
a) Por que o Brasil poderia se tornar uma “monarquia cercada de repúblicas por
todos os lados”?
24
Referências
ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos - Adorno Vida e Obra - Conceito de
Iluminismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.
MADER, Maria Elisa N. de Sá. Ordem e civilização. A ideia de nação nos textos do
Visconde do Uruguai. In: SOIHET, Rachel; BICALHO, Fernanda; GOUVEA, Maria
de Fátima (orgs.) Culturas políticas. Ensaios de história cultural, história política e
ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005.
MELO, Evaldo Cabral de. Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São Paulo:
Editora 34, 2001. Domitila de Castro Canto e
Melo
SOUZA, Iara Lis de. A Independência do Brasil. Rio: Zahar, 2000.
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Capítulo 5
Objetivos
●● Abordar os movimentos sociais do período regencial;
27
intensos debates, que observamos a presença do Período Regencial.
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as condições de possibilidade (ou invisibilidade) que conferiram
a estes movimentos o “adjetivo” de “caóticos”, “dispersos” e
“sediciosos”? Esse eixo-problematizador norteará o diálogo nas
páginas que seguem, evidenciando as relações que constituem o
campo “historiográfico” e, por conseguinte, delineiam as matrizes
interpretativas que procuraremos entretecer.
Abordagens teóricas
Várias abordagens teóricas ajudam aos historiadores a lerem e
29
interpretarem a História. Dentre elas, podemos destacar o Positivismo,
uma corrente de interpretação que emergiu no século XIX, criada por
Augusto Comte, cuja filosofia tem por base a exaltação dos fatos, os
dados da experiência como a única verdade da História. Segundo os
positivistas, o saber se afirma numa verdade comprovada através de
fontes documentais, principalmente as fontes oficiais. O positivismo, ao
rejeitar o conhecimento metafísico, limita-se ao conhecimento positivo,
aos dados imediatos da experiência.
Outra corrente de interpretação da História é o Marxismo, célebre pela
leitura dos conceitos advindos de Karl Marx (1818-1883). Marx, ao fundar
a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o pensamento
filosófico e influenciou sobremaneira o conhecimento sobre o social. Seu
pensamento é estudado tanto por historiadores quanto por sociólogos,
antropólogos, cientistas políticos e sociais, dentre outros.
A corrente marxista compreende três aspectos principais: o materialismo
dialético, o materialismo histórico e a economia política. Karl Marx se
inspirou em diversas ideias de Hegel, tais como o conceito de alienação
e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da
realidade. No entanto, substituiu o idealismo hegeliano por um realismo
materialista, abordando que a matéria é o princípio fundamental e a
consciência, produto da matéria. Para Marx, são as relações de produção
que formam a estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual se
ergue a superestrutura jurídica, política, religiosa etc.
Outra corrente de interpretação bastante em voga na atualidade é
a História Cultural. Esta concepção teórica que emergiu nas últimas
décadas do século XX, opera a partir dos conceitos de representação,
imaginário, narrativa, ficção e sensibilidades. A historiadora Sandra
Jatahy Pesavento explica que as representações “construídas sobre
o mundo não só se colocam no lugar deste mundo, como fazem com
que os homens percebam a realidade e pautem a sua existência. São
matrizes geradoras de condutas e práticas sociais, dotadas de força
integradora e coerciva, bem como explicativa do real. Indivíduos e grupos
dão sentido ao mundo por meio das representações que constroem sobre
a realidade” (PESAVENTO, 2005, p. 39). Um dos grandes divulgadores
da História Cultural é o francês Roger Chartier.
Referências:
CHARTIER, Roger. História cultural: entre práticas e representações.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
PESAVENTO, Sandra J. História & história cultural. 2ª Edição.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em
ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 3ª ed. São
Paulo: Atlas, 1992.
30
história, da memória e de sua escrita a compreensão da pluralidade
de perspectivas que guiaram os movimentos em debate e embate.
Portanto, seja bem vindo a esse debate.
Sob esse prisma, o período regencial pode se tornar rico aos nossos
olhos, situando-o como momento profícuo para se compreender
os projetos de nação em meio às pluralidades que aqueceram as
tramas do político e intelectual. Grande “laboratório” da nação, como
pontua Morel (2003), as “sedições” do período regencial comportam
múltiplos projetos nacionais, fato que se acentua na pluralidade de
práticas políticas e sociais que agitaram o período. Inserem-se na
pauta do dia, ou pelo menos são trazidas à tona, discussões que
versam sobre a monarquia constitucional, separatismo, federalismo,
liberalismos em suas variadas vertentes, democracia, militarismo,
catolicismo, islamismo, messianismo, a religião do império e da
igreja, xenofobia, os conflitos do rio da Prata e a afirmação da
nacionalidade, diferentes modalidades de organização do Estado
(centralização, descentralização, posições intermediárias), conflitos
étnicos multifacetados, expressões de identidades regionais, dentre
uma pletora de adjetivações que se constituiriam intermináveis, caso
nos propuséssemos a listá-las em sua totalidade. Uma das fases
mais ricas e singulares em termos de organização, discussão e
participação políticas, o Período Regencial é, também, o mais agitado
e conturbado da história do Brasil. Diz Basile.
31
circunscrevem essas histórias e memórias, evidenciando os aspectos
de resistência, opressão e negociação que configuram a dinâmica
histórica do período estudado.
32
denominado como “Cabanagem” não pode se fazer sem que antes
operemos desconstruções que cercam a perspectiva factual e
cristalizada dessa forma de se escrever a história. Tal premissa
torna-se fulcral para se compreender as dinâmicas sócio-culturais e
políticas que circulavam no território da província do “Grão-Pará” em
fins do século XVIII e meados do XIX.
33
políticas que perpassam os imaginários dos revolucionários cabanos.
De uma representação do movimento como de influência apenas da
elite agrária amazônica, tal como exposto por Domingos Antônio Raiol
passamos a outras matrizes interpretativas que apontam a construção
de visões “revolucionárias” a partir das experiências com os ideários
revolucionários advindos de um mundo em latente ebulição. Antônio
Raiol foi um dos primeiros historiadores a elaborar um panorama
sobre a cabanagem:
34
Dividido, o movimento cabano passou a eleger outros representantes
em consonância linear com os anseios que teriam suscitado a
organização do levante. A prisão de Eduardo Angelim, líder de grande
popularidade entre as massas “sediciosas” e amigo de Francisco
Vinagre suscitaria embates armados, culminando com a morte de
Malcher e a eleição de novos líderes revolucionários, redirecionando
o movimento para a anulação dos inimigos de Vinagre.
35
historiográficas que dão a ler o presente movimento como símbolo de
ação popular de massa e resistência face à exploração e pluralidade
de reivindicações que ainda ecoam na floresta, ressignificada pelos
militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, bem como
por multifacetadas imagens e ecos polifônicos que se deparam com
“novos” problemas, desafios e perspectivas na constituição das
práticas cidadãs que teria enlaçado seus ancestrais.
36
composição das fileiras rebeldes. Quais as relações que pautavam as
experiências desses homens nas “ordens revolucionárias de 1837”?
Como pensar os debates e embates que circunscrevem a diversidade
de projetos sociais em pauta?
37
homogênea denominação do levante.
38
Tal premissa nos permite reavaliar a escrituração do movimento em
debate como homogêneo face aos interesses de homens livres e
escravos, unidos em torno de determinado projeto político. A prática
de recrutamento forçado de homens negros pelo governo rebelde
demonstra que nem todos os “homens de cor” estavam envolvidos
“voluntariamente” no movimento e que este muitas vezes lidou de
maneira violenta com alguns deles.
39
que transversalizam a produção social desses discursos. Poder,
dominação e legitimação estão sempre presentes nas linhas das
histórias configurando contornos diversos às tramas das memórias.
Nessas tramas, Guazelli sintetiza algumas ideias comuns sobre esse
momento histórico do Brasil:
40
com a proclamação da República Rio-Grandense.
De início, muitos dos líderes farroupilhas não
eram nem republicanos nem separatistas, mas a
impossibilidade de negociação com a governança
regencial acabou por conduzir ao desfecho de uma
República (DORNELES, 2010, p.2).
Autores e obras
GRINBERB, Keila; SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009.
41
tentativa de união à República Oriental do Uruguai.
42
então império brasileiro, situando-se como defensor da “democracia”
e do “republicanismo” em contraste com o “atraso” monárquico de
então.
43
debates e embates efusivos face a proposta política centralizada
na figura nacionalista de Vargas. Nesse contexto, projetos políticos
intrinsecamente ligados à cultura histórica nacional transformariam o
campo intelectual numa arena de conflitos mediante a posse da visão
“legítima” dos eventos ocorridos.
As “sedições” continuam...
Memórias em disputa, debates e embates! Assim parece se constituir
as tramas que configuram a “cultura histórica e política” que escrituram
as memórias e histórias das “rebeliões” sociais do período regencial.
44
preponderantes.
Saiba Mais
Memórias sobre a Balaiada
45
os quilombolas tiveram participação decisiva. A Balaiada, assim como outros conflitos
que ocorreram no Maranhão entre 1822 e 1840, em função da disputa pelo poder por
parte de vários grupos da elite local, envolveu muitas pessoas dos segmentos livres
pobres, bem como facilitou as fugas de escravos e a formação de quilombos.
A Balaiada foi um movimento que ocorreu em função da luta entre liberais, conhecidos
como bem-te-vis, e conservadores. Nesse contexto, os liberais encontravam-se
impedidos, pelos conservadores, de participar das decisões políticas. Os bem-te-
vis desencadearam violenta oposição ao Presidente da Província (SANTOS, 1983, p.
74). Para a eclosão da Balaiada, foi decisiva a crescente revolta da população pobre e
escrava contra as arbitrariedades da elite, como os constantes aumentos dos preços da
farinha e da carne. Além disso, a partir de 1838 passou a existir um grande recrutamento
de homens pobres para servir nas tropas do Império em outras províncias, aumentando a
insatisfação dos mesmos (ASSUNÇÃO, 1996, p. 442).
Diversos escravos que fugiram das fazendas fizeram parte de grupos de bem-te-vis.
Contudo, a posição dos rebeldes diante da escravidão era imprecisa. Ao mesmo tempo
em que denunciavam as tiranias sofridas pela população negra, não exigiam liberdade
aos escravos. Durante a primeira fase da Balaiada, os balaios deram pouca importância
aos escravos rebelados. Estes continuaram apenas como suportes para os brancos. No
entanto, com a chegada de Luís Alves de Lima, o futuro duque de Caxias, o conflito entrou
em uma nova etapa. Lima contava com grande tropa e recursos, e conseguiu dissipar os
grandes grupos de bem-te-vis. Os líderes balaios, perseguidos pelos soldados, tiveram
de escolher: ou se rendiam, tirando proveito da anistia concedida pelo governo imperial,
ou continuavam a luta aproximando-se dos escravos insurgidos.
Os escravos sediciosos ficaram sob a mira das tropas de Lima e dos ex-rebeldes, bons
conhecedores do terreno. Conforme Assunção, Cosme Bento das Chagas, vendo seu
grupo ser dizimado, tentou atravessar o rio Itapecuru, fugindo para as matas com os que
restaram. Contudo, foi sitiado em fevereiro de 1841 no Mearim. Cosme assistiu à morte
da maioria dos duzentos escravos que o acompanhavam. Posteriormente, foi preso,
condenado à morte e executado em setembro de 1842. Atualmente, os acontecimentos
da Balaiada compõem a memória coletiva dos quilombolas maranhenses (ASSUNÇÃO,
1988, p. 216).
Fontes consultadas:
Revisão
Neste capítulo, dedicamos especial atenção a como homens e mulheres do Período
Regencial se envolveram em movimentos sociais em prol da liberdade. Para tanto,
estudamos três movimentos clássicos da historiografia brasileira: Cabanagem, Sabinada
e Farroupilha. Como texto complementar, inserimos uma rápida discussão sobre A
46
Balaiada, evento maranhense que teve uma grande participação dos escravos. Quais
as singularidades desses movimentos? Esta foi a pergunta crucial que nos norteou no
estudo e na pesquisa documental, procurando mostrar que, quando homens e mulheres
Hiperlink
desejam mudar, eles usam as armas necessárias para que as mudanças sejam
2
O livro completo
efetivadas. Nem sempre é possível mudar no calor dos acontecimentos, mas as nossas encontra-se disponível
em: http://www.
práticas são sementes que plantamos no solo da História para que outros colham.
ebooksbrasil.org/
adobeebook/balaiada.pdf
Atividades
1) O cordel é um estilo de composição que, usado pedagogicamente, contribui para Hiperlink
a fixação da aprendizagem, para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Magno 3
Disponível em: http://
José Cruz lançou mão da criatividade para escrever a história da Balaiada em www.tjrs.jus.br/export/
poder_judiciario/historia/
cordel2. Assim, use a sua imaginação e elabore um cordel narrando a presença
memorial_do_poder_
feminina na Revolução Farroupilha. Para a elaboração do mesmo, você pode tomar judiciario/memorial_
como referência os seguintes textos disponíveis na web: As mulheres no cotidiano judiciario_gaucho/
do Rio Grande do Sul farroupilha, de Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos3; revista_justica_e_historia/
issn_1677-065x/v6n12/
Estanceiras e Vivandeiras: O Outro Lado Da Mulher na Revolução Farroupilha,
Microsoft_Word_-
de Thalita da Silva Gonçalves4 e o texto de Luciana Machado, A visão da família _A_HISTxRIA_DAS_
e da mulher rio-grandense durante a Revolução Farroupilha (1835-1845)5. Após MULHERES_NO_
a elaboração do seu cordel, poste-o no seu blog pessoal, na plataforma moodle da RSea_Revoluxo_
Farroupilha__2_.pdf
UFRPE para ser lido e apreciado por outros colegas.
47
próprio. Sugiro um fórum de discussão, no qual o tutor irá criar um chat temático
para História do Brasil no qual vocês poderão discutir as seguintes temáticas/
questões:
b) Dentre os três movimentos sociais estudados neste capítulo, com qual você
mais se identificou? Justifique sua escolha.
Referências
BASILE, Marcelo. Revoltas regenciais na Corte: o movimento de 17 de abril de
1832. Anos 90, Porto Alegre, v. 11, n. 19/20, p.259-298, jan./dez. 2004.
48
RICCI, Mada. A cabanagem, a terra, os rios e os homens na Amazônia: o outro
lado de uma revolução (1835-1840). In: MOTTA, M.; ZARTH, P. (orgs.) Formas de
resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história.
Concepções de justiça e resistência nos Brasis. São Paulo: Edunesp, 2008.
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50
Capítulo 6
Ebulições sociais no
Nordeste oitocentista:
“dominação” e
“subversão”
Objetivos
●● Estudar as revoltas populares do Nordeste no século XIX;
Introdução
No capítulo anterior, estudamos algumas “rebeliões” ou movimentos
sociais que emergiram no Brasil no século XIX. Para dar continuidade
ao tema, neste capítulo iremos analisar alguns momentos de
subversão que caracterizam o nordeste brasileiro no oitocentos.
51
estivessem empregados. Lá estavam eles nos
algodoais, nas fazendas e currais, plantando e
colhendo o feijão, o milho e a mandioca, extraindo
da cana-de-açúcar a aguardente e a rapadura nas
engenhocas. Desempenhavam, ainda, as mais
variadas funções domésticas. Trabalhavam como
ferreiros, sapateiros, marceneiros, pedreiros, e
nos demais ofícios artesanais. Sua presença
se faria notar ainda no pequeno comércio,
feito principalmente nas feiras semanais, onde
compravam, vendiam e trocavam os mais diversos
tipos de mercadorias e bens, resultantes de seu
próprio trabalho autônomo, de suas roças ou de
outros expedientes. (MENDONÇA, 2007, p.).
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No dia 1º de janeiro de 1852, homens, mulheres
e meninos armados cercaram a igreja matriz
de Pau D`Alho, sob a liderança de João dos
Remédios. Seria um benzedor? Um homem das
ervas? Nada nos é dito. João dos Remédios teria
comandado, inicialmente, cerca de mil pessoas,
tendo o grupo em Pau D`Alho chegado, no final do
movimento, a quatro mil pessoas. Ao perceberem
que não teriam chance de vitória, as autoridades
locais mandaram aviso ao governo da província
e se retiraram - inclusive um destacamento de 18
praças (OLIVEIRA, 2005, p. 121).
Mas por que a população se revoltou? Tudo isso foi motivado, como
citado anteriormente, por dois decretos lançados em junho de 1851.
O primeiro decreto, o 797, tratava do recenseamento da população,
e o segundo, o decreto 798, tratava do Registro Civil no caso de
nascimento e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora,
passaria à responsabilidade de funcionários do Estado. O decreto
797 deveria entrar em vigor no dia 15 de julho de 1852 e o decreto
798 no dia 13 de janeiro de 1852.
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Somando-se a isto, observam-se as transformações pela qual
passou a sociedade paraibana, principalmente às regiões do agreste
e zona da mata, focos irradiadores desse movimento, ao longo dos
anos 1840, quando do aumento da exportação de algodão para
abastecimento do setor têxtil inglês em plena apoteose da então
“Revolução Industrial”.
Autores e obras
Sobre as revoltas populares no Nordeste do século XIX, consulte:
MELLO, Evaldo Cabral de. A ferida de Narciso, ensaio de história regional. São
Paulo: Editora Senac, 2001,
54
logo se espalhou. Por isso, os registros foram considerados ‘papéis
do cativeiro’”. Ou seja, táticas eram utilizadas pelos escravos em
momentos de embates, quando viam-se atemorizados diante das
ameaças do governo ou dos seus senhores.
55
dos feirantes, que eram fornecidos (vendidos ou alugados) pela
administração municipal. Os revoltosos invadiram os mercados,
coletorias e a Câmara Municipal, destruíram os novos padrões de
pesos e medidas e queimaram os arquivos contábeis do governo
(MEDEIROS, 2004).
56
autoridades. Uma reação diante da conjuntura da
época: para ingressar na via da modernização,
o Brasil estava deixando para trás a tradição em
que o que vale é o reconhecimento direto e o
“apalavrado”. (MEDEIROS, 2004).
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Imagem do quebra quilos. Arquivo: digitalização.fundaj.gov.br
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Dos caminhos e atalhos da(s) “liberdade(s)” na Parahyba
oitocentista: uma abordagem historiográfica da obra “Gente
negra na Parahyba oitocentista”
59
1840 e 1860?”.
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podiam permear a vivência nesta sociedade, ou até mesmo, indícios
de envolvimentos sexuais que possibilitassem aos senhores alforriar
as mães de “seus filhos” por “descarrego de consciência” devido à
fragilidade humana” e “pelos bons serviços da mãe das crianças” (LN
-1841-46, fls. 16-17, IHGP apud ROCHA, 2009, p. 271).
Liberdade esta, que tinha um preço muita caro, tanto em seu sentido
econômico como na sua forma de sociabilidades humanas. Deve-se
ressaltar aqui a extrema dificuldade dos libertos e libertas inserirem-
se em uma organização social caracterizada pelas ideia eugenistas,
reforçadas pelos paradigmas de modernização social/racial.
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Saiba Mais
A Revolta dos Malês
“Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã
do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da
Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a porta para entrarem,
os soldados foram surpreendidos com a repentina saída de cerca de sessenta guerreiros
africanos. Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praça, e em seguida os
rebeldes se dirigiram à Câmara Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona
ainda hoje”.
Mas por que os rebeldes atacaram a Câmara? A resposta dada foi que o ataque foi em
detrimento de que, em seu subsolo, havia uma prisão onde se encontrava preso um
dos líderes malês, o idoso Pacífico Licutan. No entanto, o ataque à prisão não foi bem
sucedido, pois o grupo foi surpreendido no fogo cruzado entre os carcereiros e a guarda
do palácio do governo, localizado na mesma praça. Este grupo de rebeldes saiu pelas
ruas da cidade aos gritos, procurando acordar os escravos da cidade para se unirem a
eles. Sobre isto, diz João José Reis:
Dirigiram-se à Vitória onde havia outro grupo numeroso de malês que eram escravos
dos negociantes estrangeiros ali residentes. Após se unirem nas imediações do Campo
Grande, os rebeldes atravessaram em frente ao Forte de São Pedro sob fogo cerrado
dos soldados, indo dar nas Mercês, de onde retornaram para o centro da cidade. Aqui
atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São Bento, outro na atual Rua Joana
Angélica (imediações do Colégio Central), lutaram também no Terreiro de Jesus e
outras partes da cidade. Em seguida desceram o Pelourinho, seguiram pela Ladeira do
Taboão e foram dar na Cidade Baixa. Daqui tentaram seguir na direção do Cabrito, onde
tinham marcado encontro com escravos de engenho. Mas foram barrados no quartel da
cavalaria em Água de Meninos. Neste local se deu a última batalha do levante, sendo os
malês massacrados.
Muitos rebeldes que tentaram fugir a nado terminaram se afogando. O que comentam
os jornais é que a revolta deixou a cidade tensa durante horas, tendo sido vencida com
a morte de mais de 70 rebeldes e uns dez oponentes. Porém, o medo de que um novo
levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes
livres. Um medo que, aliás, se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil,
principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, onde os jornais publicaram notícias
sobre o acontecido na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma
vigilância cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva.
Fonte:
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em
1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
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REIS, João José. A Revolta dos Malês em 1835. Disponível em: http://www.smec.
salvador.ba.gov.br/documentos/a-revolta-dos-males.pdf.
Revisão
Este capítulo foi dedicado ao estudo de algumas revoltas do interior do Nordeste, com
destaque para o Ronco da Abelha e para o Quebra Quilos, dois movimentos sociais que
contribuíram para mostrar que a população pobre, quando pressionada e lesionada em
seus direitos, usa da força para contestar, reclamar e exigir que as autoridades civis
e eclesiásticas ajam ao seu favor. Esses dois movimentos preocuparam fortemente as
autoridades provinciais porque vilas inteiras do Nordeste aderiram aos movimentos de
rebeldia contra o decreto que impunha a implantação de um novo sistema métrico (no
caso do Quebra Quilos), ou pela insatisfação com os decretos sobre recenseamento
(decreto 797) e o decreto 798, que tratava do Registro Civil no caso de nascimento
e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora, passaria à responsabilidade de
funcionários do Estado.
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como o estudo dos agentes sob o controle social que podem
melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações tanto física quanto mentalmente.
Atividades
1. As histórias em quadrinhos são excelentes ferramentas para criticar, refletir, avaliar
Atenção e rever conhecimentos. Nesta atividade, proponho a você, caro estudante, elaborar
uma HQ (história em quadrinhos) sobre o Ronco da Abelha ou sobre o Quebra-
7
Para ajudá-lo nessa
tarefa, você pode quilos7. Você pode confecionar a HQ em um dos sites gratuitos da internet8.
consultar os seguintes Após a elaboração da mesma, é importante que você poste no ambiente virtual da
sites: http://www.divertudo. EAd-UFRPE.
com.br/quadrinhos/
quadrinhos.html http:// 2. O Seminário é um momento de organizar conhecimento e compartilhar saberes
www.cacapavasite.com.br/ com os demais colegas do curso de História. Na EAD, o seminário pode tornar-se
Espa%E7o%20Galerinha/
criandohq.htm. uma ferramenta muito interessante de sociabilidade entre colegas de turma, bem
Caso você deseje criar como uma oportunidade para apresentarmos as pesquisas e leituras que estamos
quadrinhos on line, desenvolvendo nas disciplinas. Com este objetivo, elabore com os seus colegas
os sites são: http:// de turma um seminário sobre “Os Movimentos Sociais no Nordeste no século XIX”
superherosquad.marvel.
com/comics/Marvel_ para ser apresentado no próximo encontro presencial. Como material de apoio,
Super_Hero_Squad.150. além do capítulo III deste volume, a equipe pode consultar os seguintes textos de
apoio: A centralidade dos movimentos sociais na articulação entre o estado e a
sociedade brasileira nos séculos XIX e XX, de DO BEM, Arim Soares (disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/es/v27n97/a04v2797.pdf);
a) Elaborar o índice;
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d) Apresentar uma rápida conclusão, mostrando de forma sucinta o que
aprendeu. Cada imagem que você colocar no corpo do portfólio deverá
conter um pequeno comentário. Aproveite as discussões do seminário
(atividade 2) e poste-as em seu blogfólio. Além disso, outros temas poderão
ser postados em seu blogfólio.
Referências
BASILE, Marcello. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In:
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-
1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
65
Para navegar
http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/idade-dos-metais.htm;
http://www.brasilescola.com;
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/bibliografia.htm;
http://www.revistadehistoria.com.br/;
http://www.fafich.ufmg.br/varia/entrada.
Para assistir...
O sangrador e o doutor, Rio de Janeiro, 1820.
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Considerações Finais
Chegamos ao fim de mais uma etapa nos estudos da História do
Brasil, de mais um momento importante para refletirmos sobre
o que aprendemos com cada um destes capítulos que narram o
Brasil Imperial (1822-1889). Esta disciplina enriqueceu nossos
conhecimentos, nos desafiou a pesquisar e nos levou a problematizar
o que já sabíamos sobre o Brasil no século XIX.
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dúvidas com os tutores ou professores.
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Conheça o Autor
Iranilson Buriti
Iranilson Buriti possui graduação em História pela Universidade
Federal da Paraíba (1994), mestrado em História pela Universidade
Federal de Pernambuco (1997), doutorado em História pela
Universidade Federal de Pernambuco (2002) e pós-doutorado
em História das Ciências e da Saúde na Casa de Oswaldo Cruz -
Rio de Janeiro. Atualmente é pesquisador do CNPq e membro do
conselho editorial da Revista Mneme (1518-3394) e Revista de
Humanidades da Universidade de Fortaleza. É professor Associado
I da Universidade Federal de Campina Grande. Foi coordenador
do Curso de Mestrado em História da UFCG. Faz parte do quadro
de avaliadores institucionais e de curso do BASIs/INEP/MEC. Autor
de livros didáticos na área de História. Tem experiência na área de
História e de Pedagogia.
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