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Universidade Federal Rural de Pernambuco

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia

História do Brasil

Volume 2

Iranilson Buriti de Oliveira

Recife, 2013
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Reitora: Maria José de Sena
Vice-Reitor: Marcelo Brito Carneiro Leão
Pró-Reitor de Administração: Gabriel Rivas de Melo
Pró-Reitor de Atividades de Extensão: Delson Laranjeira
Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Mônica Maria Lins Santiago
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: José Carlos Batista Dubeux Júnior
Pró-Reitor de Planejamento: Romildo Morant de Holanda
Pró-Reitor de Gestão Estudantil: Severino Mendes de Azevedo Júnior

Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia


Diretor Geral e Acadêmico: Francisco Luiz dos Santos
Coordenadora Geral da UAB: Marizete Silva Santos
Vice-Coordenadora Geral da UAB: Juliana Regueira Basto Diniz
Coordenadora de Cursos de Graduação: Sônia Virgínia Alves França
Coordenador de Produção de Material Didático: Rafael Pereira de Lira
Coordenador Pedagógico: Domingos Sávio Pereira Salazar

Produção Gráfica e Editorial


Capa: Rafael Lira e Igor Leite
Ilustração de Capa: Hayhallyson Barbosa
Projeto de Editoração: Rafael Lira e Italo Amorim
Diagramação: Arlinda Torres
Ilustrações: Mario França
Revisão Textual: Marcelo Melo

Oliveira, Iranilson Buriti de.


História do Brasil / Iranilson Buriti de Oliveira – Recife: Unidade Acadêmica de Educação a Distância
e Tecnologia, UFRPE, 2011. 2ª edição.

1. História do Brasil. 2. Educação a Distância. I. Título.

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, sejam quais forem os meios empregados, sem a permissão, por escrito, da Unidade Acadêmica
de Educação a Distância e Tecnologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos
102, 104, 106 e 107 da Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Sumário

Apresentação..................................................................................................................... 5
E assim nasceu o Brasil: a Emancipação Política......................................................... 7
Os gestos que fundam o Brasil................................................................................. 15
Escritas das histórias: cultura histórica e política nas “rebeliões” sociais
do “período regencial (1831-1840)”............................................................................... 27
Luta, “cidadania” e identidade na “Amazônia revolucionária”: a Cabanagem
reescrita nas tramas da História............................................................................... 32
“Liberdade(s)” e dilemas da escravidão na Sabinada............................................... 36
Debates e embates “da” e “na” historiografia da “Farroupilha”: ressignificando
as escritas históricas nas tramas das memórias...................................................... 39
As “sedições” continuam........................................................................................... 44
Ebulições sociais no Nordeste oitocentista: “dominação” e “subversão”............... 51
Introdução................................................................................................................. 51
Dicionário de Termos Históricos................................................................................ 63
Considerações Finais..................................................................................................... 67
Conheça o Autor.............................................................................................................. 69
Apresentação
Este é o volume 2 do nosso material de História do Brasil, enfatizando um momento
bastante singular de nossa história: a independência e os projetos de nação no século
XIX. O século XIX, particularmente a partir de 1822, tornou-se propício para o Brasil se
construir como nação livre, independente politicamente de Portugal, livre das amarras
da Metrópole, embora continuasse com parte de sua população escrava. Este é um
momento, caro aluno, de você descobrir outras histórias para a nação brasileira, não
apenas mediante este material, mas pesquisando, indo a arquivos de sua cidade, em
bibliotecas e demais espaços de leitura e de pesquisa. Para os alunos que estão em
sala de aula como professores de História do Brasil, é o início de novas descobertas,
uma maneira de utilizar o que aprendeu durante este curso de História do Brasil para
se profissionalizar mais ainda. Utilize as informações como suporte para a sala de aula,
ampliando o conhecimento acerca do nosso passado recente.

No volume 1, tivemos contato com conteúdos do Brasil Colônia, fundamental para


que você consiga fazer a diferenciação entre uma colônia e uma nação independente.
No volume 2, este que ora apresento, estudamos o momento de elaboração da
independência do Brasil, a constituição de D. Pedro I como mito e herói brasileiro, o
período regencial com as suas muitas sedições, bem como alguns movimentos de
revoltas bem particulares do Nordeste: O Ronco da Abelha e o Quebra Quilos.

Para montarmos esse cenário de histórias do século XIX, além dos textos
complementares, os boxes explicativos, a seção Saiba Mais, lançamos mão de outros
recursos de aprendizagem, a exemplo da elaboração de cordel temático, de blogs,
de redações diversas. Este cenário de aprendizagem, junto às leituras dos textos
principais, são etapas importantes e necessárias para a compreensão da escrita da
história e da memória sobre o Brasil.

É isto, caro estudante. Seja bem vindo, mais uma vez, à leitura e aos espaços de
reflexão deste material!

Iranilson Buriti de Oliveira


Professor Autor

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Capítulo 4

E assim nasceu o Brasil: a


Emancipação Política

Objetivos
●● Estudar os significados políticos e culturais da emancipação política do Brasil;

●● Analisar a circulação do mito do herói construído para D. Pedro I;

●● Problematizar o processo de emancipação política brasileira.

1822. Era um dia comum do mês de setembro. Nesse dia, nenhuma


novidade política chegara da Europa, mas uma novidade iria sair
do Brasil para fazer alarde no solo europeu. O Brasil, no dia 7 de
setembro, amanheceu Colônia, mas dormiu Império. Amanheceu
com amarras políticas que o ligavam a Portugal, mas anoiteceu
livre. Amanheceu colônia, mas entardeceu uma nação politicamente
emancipada de sua ex-metrópole. O dia 7 marcaria o calendário do
mês de setembro como o dia em que D. Pedro I gritou, às margens do
riacho do Ipiranga, que o Brasil estava livre das algemas da metrópole
Portugal. O 7 de Setembro de 1822 marca o que podemos denominar
de mito de origem do Brasil, momento de invenção de tradições (como
o quadro Independência ou Morte) e de heróis como D. Pedro I e
José Bonifácio, bem como de celebrações seja na escola ou fora dela.
O quadro Independência ou Morte, do paraibano Pedro Américo
“fixou uma imagem do gesto, do herói, do local e da necessidade de
uma ação decisiva e militarizada que declarasse a independência.
O quadro tornou-se peça-chave do Museu Paulista e reitera, no
presente, o mesmo gesto fundador” (SCHIAVINATTO, 2002, p.81),
celebrizando o 7 de setembro e o seu principal personagem: D. Pedro.

O 7 de Setembro é comemorado com parada


militar, desfile escolar, visitas ao Museu do Ipiranga,
viagem e piquenique familiar, encenações teatrais,
reprises de filmes como Independência ou morte,
de Carlos Coimbra, ou Carlota Joaquina, de Carla
Camurati. De vários modos, este tema permeia o
cotidiano, sem perder sua aura mítica. (SOUZA,
2000, p. 7)

Mas como tudo isso aconteceu? Como podemos, enquanto

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historiadores e alunos de História, compreender esse momento
tão importante para a nação brasileira? Para melhor entendimento
desse evento, é melhor voltarmos no tempo, pois uma série de
acontecimentos de ordem política possibilitou que os laços afetivos,
pelo menos do ponto de vista político e econômico, fossem rompidos
com a Metrópole. Mas como foram rompidos esses laços? Como o
Brasil se constituiu em um corpo político livre e autônomo?

Bem, essa história começou bem antes de 1822. As relações


diplomáticas entre o Brasil e Portugal já vinham se desgastando
desde o século XVIII, quando algumas pessoas começaram a se
organizar para se proclamarem livres do jugo da metrópole. Os
vínculos entre colônia e metrópole estavam sendo repensados em
virtude das insatisfações locais contra o sistema político-econômico
da metrópole.

Para melhor compreensão de 1822, vamos retornar um pouco e


fazermos uma Linha do Tempo sobre os principais momentos de
sedição e/ou de rupturas com o antigo sistema colonial. No entanto,
é bom deixar claro, claro leitor, que embora esses movimentos
não tivessem a mesma composição social, os mesmos ideais e os
mesmos debates sobre liberdade, possuíam semelhanças na medida
em que reclamavam uma autonomia local, criticavam os vínculos
políticos e socioeconômicos com Portugal e sentiam-se insatisfeitos
com a forma que a metrópole agia com a colônia.

Inconfidência Mineira. Este acontecimento histórico ganhou


repercussões em virtude do teor separatista do movimento.
A Inconfidência, ou Conjuração Mineira, objetivava eliminar a
dominação portuguesa das Minas Gerais e estabelecer ali um
país livre. A proposta não era libertar toda a colônia brasileira, pois
naquele momento uma identidade nacional ainda não havia se
formado no território. Para os inconfidentes, a forma de governo
1789
escolhida foi a República, inspirados pelas ideias iluministas da
França e da recente independência norte-americana. Destaque-
se que não havia uma intenção clara de libertar os escravos,
já que muitos dos participantes do movimento eram detentores
dessa mão-de-obra. O movimento foi desmantelado em 1789
e os réus sentenciados pelo crime de “lesa-majestade” nas
Ordenações Filipinas.

Conjuração Baiana. Também conhecida como Revolta dos


Alfaiates, ocorreu em Salvador, em 1798. Este movimento
contestatório é considerado como o mais incisivo na defesa dos
1798 ideais de liberdade e igualdade propagados pela Revolução
Francesa. A manifestação contou com representantes das
camadas populares, incluindo grande número de negros e de
mulatos. Os revoltosos desejavam a independência da Colônia e

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uma sociedade baseada nos ideais de liberdade e de igualdade
dos cidadãos. Em meados de 1798, folhetos clandestinos são
espalhados em Salvador anunciando a “Revolução Baiense”
e conclamando a população a defendê-la. No entanto, os
preparativos da luta armada fracassaram. As autoridades deram
início à devassa: 4 são condenados à morte (Lucas Dantas, Luis
Gonzaga das Virgens, João de Deus e Manuel Faustino - todos
mulatos). Inspirado nos jacobinos da Revolução Francesa, o
movimento desejava a libertação dos escravos. Assim como a
Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana transformou-se em
símbolo de luta pela emancipação política do Brasil.

As inconfidências (Mineira e Bahiana) impunham à metrópole


a necessidade e a urgência de rever as relações com a colônia,
sob o risco de perder parte ou todo o território colonial.

A corte portuguesa de D. João chega ao Brasil fugindo das tropas


de Napoleão Bonaparte, que invadira Portugal. Nesse ano, uma
série de medidas foi tomada por D. João que favoreceram a
emancipação política do Brasil. Ainda em Salvador, Dom João
abriu os portos do Brasil aos países amigos, permitindo que
navios estrangeiros comercializassem livremente nos portos
brasileiros. Politicamente, D. João criou três ministérios: o da
Guerra e Estrangeiros, o da Marinha e o da Fazenda e Interior.
Instalou também os serviços auxiliares e indispensáveis ao
funcionamento do governo, entre os quais o Banco do Brasil, a
Casa da Moeda, a Junta Geral do Comércio e a Casa da Suplicação
(Supremo Tribunal). Do ponto de vista econômico, foram abertas
fábricas, manufaturas de tecidos começaram a surgir, embora
não progredissem em virtude da forte concorrência dos tecidos
ingleses. Porém, a produção de ferro teve bons resultados, com
a criação da Usina de Ipanema nas províncias de São Paulo e
1808 Minas Gerais. Negociantes fluminenses e do eixo Sul-Sudeste se
aproximaram da realeza, financiando obras públicas e praticando
a filantropia. Em contrapartida, D. João retribuía com privilégios,
mercês, terras, títulos e isenções. A troca de favores era uma
moeda corrente entre o soberano e os súditos.

Outras medidas de Dom João estimularam as atividades


econômicas do Brasil como: Construção de estradas; melhoria
dos portos; introdução no país de novas espécies vegetais, como
o chá; estímulo à vinda de colonos europeus. A produção agrícola
voltou a crescer. O açúcar e o algodão passaram a ser primeiro
e segundo lugar nas exportações, no início do século XIX. Nesse
período surgiu o café, novo produto que logo passou do terceiro
lugar para o primeiro lugar na pauta das exportações brasileiras.

Nesse período ainda foram criados: a Academia de Belas-Artes;


a Casa da Moeda; a fábrica de pólvora e o arsenal da Marinha.

À medida que ocorriam os movimentos de sedição e,


ao mesmo tempo, a criação de lugares para as letras e
ciências, havia a penetração de uma literatura ilustrada
nas bibliotecas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro,
Pará e Pernambuco. Aumentava, também, o número de

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leitores, embora predominasse a prática de leitura de obras
devocionais, missais, hagiografias, orações e sermões.

Esses escritos circulavam em meio à literatura ilustrada, de


autoria de Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Adam Smith,
etc. Essa literatura estimulava à reflexão acerca das relações
Brasil-Portugal, defendendo o direito da colônia gozar
de certa autonomia. A entrada e saída desses livros eram
reguladas pela Real Mesa Censória.

D. João promove o Brasil à condição de Reino Unido com


Portugal e Algarves. Com isso, as capitanias passaram a se
denominar províncias. Em 1814, os representantes das nações
europeias reuniram-se no Congresso de Viena para reelaborar o
mapa do continente, profundamente alterado tanto pelas Guerras
Napoleônicas quanto pela Revolução Francesa. A finalidade do
Congresso era manter o equilíbrio europeu, o que seria possível
através do Princípio de Legitimidade. Esta teoria não reconhecia
as novas monarquias ou novos regimes políticos resultantes do
processo revolucionário. Segundo as teses vigentes em Viena, o
Brasil era uma colônia. Portanto, a Dinastia de Bragança, instalada
no Rio de Janeiro, via-se na delicada situação de precisar retomar
a Portugal, para que sua legitimidade fosse reconhecida. Depois
de muito debate, uma solução para essa questão foi encontrada.
1815
A solução foi encontrada por Talleyrand, delegado francês no
Congresso, propondo a elevação do Brasil à categoria de Reino
Unido, legitimando, assim, a permanência da Casa da Bragança
no Brasil. Na verdade, o intuito seria de defender a presença da
Europa e da realeza, quando as porções inglesas e espanholas
já estavam, em grande parte, em mãos republicanas. O próprio
Talleyrand sugeria “que se estreitasse por todos os meios
possíveis o nexo entre Portugal e Brasil, devendo este país, para
lisonjear os seus povos e para destruir a ideia de colônia, que lhes
desagrada, receber o título de Reino”. Assim, o Príncipe­-Regente
assinou, em 16 de dezembro de 1815, uma carta-régia que criava
o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Desapareciam,
assim, oficialmente, os últimos vestígios do Pacto Colonial no
Brasil.

1817 é um ano emblemático para a independência do Brasil.


Insatisfações despontaram tanto no Brasil quanto em Portugal.
Muitas discordâncias com o governo joanino emergiram de
maneira implacável. Um levante envolvendo as províncias de
Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, encabeçado por
fazendeiros, negociantes e letrados, proclamou a independência
e instaurou um governo provisório composto por representantes
1817 da agricultura, do comércio, da magistratura, da tropa e do clero.
O motim alastrou-se pelas ruas, com quebra-quebras e tumultos,
dirigidos especialmente contra os nascidos em Portugal. A
Revolução Pernambucana é sufocada por tropas de D. João VI,
que decretou prisões, pena de morte e ressarcimento financeiro,
obrigando a população a honrar com festa e voto de obediência
o novo governador nomeado. A Revolução de 1817 representa,
portanto, sentimentos autonomistas e ideais republicanos.

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Uma revolução explode em Portugal, acirrando os ânimos locais
e europeus. Juízes, bacharéis, comerciantes e comandantes
militares se envolveram na Revolução Liberal, também conhecida
como vintismo. A Revolução Liberal do Porto exige a volta do rei
D. João VI a Portugal. A Revolução do Porto, comandada pela
burguesia comercial da cidade do Porto, era um movimento que
tinha características liberais para Portugal, no entanto, para o
Brasil significava uma recolonização. Os rebeldes exigiram a
volta de dom João e a expulsão dos governantes estrangeiros.
1820
Queriam também que o comércio do Brasil voltasse a ser feito
exclusivamente pelos comerciantes portugueses. Cedendo
às pressões de Portugal, dom João voltou em 26 de abril de
1821. Deixou, contudo, seu filho dom Pedro como regente do
Brasil. Assim, agradava aos portugueses e aos brasileiros que
tinham lucrado com a vinda da corte portuguesa para o Brasil,
especialmente com a abertura dos portos. Essa medida, de certa
forma, favoreceu e acelerou o processo da independência do
Brasil.

A célebre frase dita por D. Pedro I “Se é para o bem de todos


e felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico”, em 9 de
janeiro de 1822, ficou registrada na História do Brasil como o Dia
do Fico, momento em que a Corte Portuguesa exigia o retorno
1822
de D. Pedro a Portugal. Contrariando as ordens da Metrópole,
o príncipe-regente decidiu permanecer no Brasil. O Dia do Fico
fortaleceu o sentimento pela independência do Brasil e cresceu a
expectativa em relação a esse momento.

Notícias de Jornal
Sobre a Revolução do Porto, o jornal Gazeta do Rio de Janeiro noticiou
aos seus leitores, numa edição extraordinária de 9 de novembro de 1820,
as primeiras notícias sobre o movimento constitucional português:
O espírito de inquietação e o desatinado desvario, que têm atacado
o meio-dia da Europa desgraçadamente sopraram sobre uma das
mais belas cidades de Portugal e, corrompendo ânimos ambiciosos e
indiscretamente amigos da novidade, causou tumultos efêmeros, que a
prudência do governo se apressou a talhar e a extinguir.

Mas o processo de emancipação política não começa nem termina em


1822. O desequilíbrio do espaço colonial é anterior ao século XIX e se
estende por este com as reformas do papel das câmaras, a criação da
Guarda Nacional, o fim das tropas e milícias, “além de tentativas de
várias províncias de proclamar a República e se tornar independentes
do próprio Brasil” (Souza, 2000, p.11). Além disso, outras instituições
do Reino já tinham sido transplantadas para o Brasil, como as Santas
Casas de Misericórdia, o pelourinho, as irmandades, o Tribunal
da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens,
dentre outros que acabavam construindo um certo sentimento de

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pertencimento aos moradores da Colônia. Foram reconstituídos o
Conselho da Fazenda e o Erário Régio, “incorporados em uma só
instituição, que devia fazer a administração dos bens régios e dos
fundos públicos do Estado do Brasil e dos domínios ultramarinos”
(NEVES, 2009, p.105).

O início da emancipação também não se inicia com a abertura dos


portos ou com a vinda da família real. Desde fins do século XVIII,

[...] a condição do Brasil dentro do império


português foi, paulatinamente, alterada.
Repensaram-se o papel e a concepção de colônia,
reviu-se o estatuto colonial e projetou-se mesmo
uma transformação desse império transoceânico,
centrado em Portugal, que se estendia da Ásia à
América Portuguesa, sem falar das possessões na
África. (SOUZA, 2000, p. 12)

Iluminismo
Podemos dizer que o iluminismo foi um movimento de cunho filosófico,
político, social, econômico e cultural, que defendia a razão como o melhor
caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação.
Paris, capital francesa, tornou-se o centro das ideias e pensadores
Iluministas no século XVIII.
Os pensadores iluministas defendiam tanto a criação de escolas quanto a
liberdade religiosa. As ideias dos pensadores iluministas eram divulgadas
através da Enciclopédia (impressa entre 1751 e 1780), uma coletânea
composta por 35 volumes, na qual estava resumida parte do conhecimento
existente até então.
O iluminismo foi, também, um movimento de reação ao absolutismo
europeu, que tinha como características as estruturas feudais, a
influência da Igreja Católica, o monopólio comercial e a censura das
“ideias perigosas”. O Iluminismo combatia o Antigo Regime (Absolutismo
e Mercantilismo), e pregava a liberdade econômica, a liberdade política e
a igualdade jurídica.
Os principais pensadores iluministas foram: Montesquieu, Voltaire,
Diderot, D´Alambert e Rosseau.
Fonte:
ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos - Adorno Vida e Obra
- Conceito de Iluminismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Editora Nova Cultural, 1999.

ROUANET, Sérgio. As Razões do Iluminismo. São Paulo:


Companhia das Letras, 1998.

Aos poucos, o Brasil-colônia ia se tornando Brasil, livre das amarras de


Portugal, com um conjunto de comerciantes e fazendeiros prósperos

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em várias capitanias, com um corpo de homens letrados que
desejavam ardentemente a liberdade de comprar, trocar e vender sem
a interferência da metrópole. Homens letrados que se reconheciam
como membros de uma comunidade maior - a “civilização” - animados
pelo ideal do progresso e pelas cores do Iluminismo e da Ilustração. A
crença na civilização era um ideal a ser perseguido, um estágio a ser
alcançado. A “barbárie” necessitava ser transformada pela “civilidade”.

É importante destacar que, indiretamente, o próprio Portugal “criava”


as condições de emancipação, fundando instituições que reforçavam
o desejo de ser uma nação livre e favoreciam a elaboração de uma
certa identidade autônoma para a Colônia. Ainda no século XVIII foi
criado o Seminário de Olinda; a Academia de Guardas-Marinhas e
Observatório Astronômico, no Rio de Janeiro; a Escola Médico-
cirurgiã, na Bahia e no Rio; cursos de estudos matemáticos, em
Pernambuco; Curso de Economia Política e Imprensa Régia, no
Rio de Janeiro. Essas instituições favoreciam o progresso científico
e a ideia de uma civilidade que chegava aos trópicos, embora não
alterassem a estrutura de poder e a ordem social. Subjetivado pela
Geração de 1790, o sentimento de progresso e de valorização do
Brasil foi cada vez mais visível, alterando-se a relação entre Brasil e
Portugal. Um cotidiano de “liberdade” era esboçado no Brasil.

Com tais instituições, uma nova identidade foi recortada e moldada


por intermédio de projetos de civilidade, elaborados a partir de um
olhar para fora, principalmente para a Europa. Para tanto, esses
homens letrados precisavam ocupar, paulatinamente, os cargos da
administração portuguesa. Conforme Souza:

Ao participar do movimento de autonomização do


Brasil, [essa geração] recuperou o termo império
para um governo instalado no Novo Mundo,
marcando a montagem do estado monárquico
no Brasil. Nesse sentido, forjou-se aqui uma
compreensão generalizada de que o intelectual,
bacharel, letrado, está mais apto a exercer o
governo, decidir pela população e reformar a
sociedade, confinando a mudança ao Estado e
barrando outros desejos e reivindicações sociais e
políticas (2000, p.18).

Mas não existia apenas uma ideia de nação, mas vários projetos,
caminhos e possibilidades que circulavam na época da transição da
ordem colonial para uma nova ordem política. Além do historiador
Evaldo Cabral de Melo (2001), outros advogam a tese que uma

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multiplicidade de identidades e concepções políticas existiam e
circulavam na época da Independência, todas “portadoras de
concepções de Estado e nação muito diferentes, constituindo,
portanto, “projetos nacionais” diversos”. Para Maria Elisa Mader, o
“processo de formação do Estado nacional no Brasil envolveu uma
tensa negociação, que conduziu à conciliação de interesses muitas
vezes divergentes, com vistas à criação e à consolidação de um
poder central e nacional” (2005, p.179)

A Geração de 1790
A “geração de 1790” é formada por um grupo de intelectuais que
apresentavam, em suas práticas e discursos, atitudes inconformistas
e contestatárias que contradiziam e conspiravam contra o controle
metropolitano. As características dessa Geração estavam balizadas,
também, na mobilidade, atuação e práticas científicas levadas a cabo
nas diferentes partes do império. Um dos aspectos que marca muito
bem essa “elite do conhecimento” é que, ao contrário dos intelectuais
contemporâneos, em que existe uma especialização do saber científico,
os mesmos detinham uma formação polivalente e podiam, ainda, acumular
o exercício de um cargo administrativo com a execução de funções
científicas. Conforme Ângela Domingues, os letrados que integravam este
grupo, muitos deles jovens brasileiros originários de famílias abastadas
que se queriam promover pela educação dos seus filhos, eram formados
nos mais variados ramos do saber:
“Os que seguiam a carreira da magistratura e da administração podiam
ocupar-se, com alguma competência, de observações e descrições
científicas naturais; quem tinha um grau acadêmico em Filosofia
Natural interessava-se pelo cálculo das coordenadas terrestres ou
pela cartografia; e muitos engenheiros-cartógrafos e matemáticos-
astrônomos estavam familiarizados com as descrições das produções
naturais. Um caso paradigmático desta polivalência, escolhido de entre
muitos outros, pode ser o de Joaquim Veloso de Miranda, secretário
do governador e capitão-general de Mato Grosso e idealizador do
horto botânico de Ouro Preto; ou ainda António Pires da Silva Pontes,
matemático-astrônomo egovernador e capitão-general do Espírito Santo”.
Os trabalhos produzidos nesta área pelas historiografias de Portugal
e Brasil contribuem, então, para a clarificação da relação dinâmica
constituída nos séculos XVIII e XIX entre reinos e colônias.

Referências:
ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do império: questão nacional
e questão colonial na crise do Antigo Regime português. Lisboa:
Afrontamento, 1993.

DOMINGUES, Ângela. Viagens científicas e “elite do


conhecimento”: polivalência e mobilidade ao serviço do Império
colonial. Disponível em: http://www2.iict.pt/?idc=102&idi=14633.

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Acessado em 20/dez/2011.

MAXWELL, Kenneth. A geração de 1790 e a ideia do império luso-


brasileiro. In: Chocolate, piratas e outros malandros: ensaios
ropicais. São Paulo, Paz & Terra, 1999.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema


colonial (1777-1808). 6. ed. São Paulo: Hucitec, 1995

Os gestos que fundam o Brasil


Para Iara Lis de Souza, a representação mais consagrada e difundida
da Independência emerge no quadro Independência ou Morte,
pintado pelo paraibano Pedro Américo, em 1888 e se transformado
na versão oficial do gesto que funda o Brasil como nação livre de
Portugal. Mas por que esse quadro se tornou tão importante? Porque
retrata um momento a partir do heroísmo, pintando D. Pedro com
espada em punho e ecoando um grito que é “ouvido” em todo o
território brasileiro. Se D. Pedro é o centro desse retrato do Brasil,
o povo passa ao largo da ação, meio bestializado com o que está
acontecendo, sem perceber a magnitude do acontecimento.

Independência ou Morte. Quadro de Pedro Américo.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Independence_of_Brazil_1888.jpg

Olhando e analisando o quadro acima, podemos dizer que o mesmo


atende aos interesses dos republicanos em 1888, sinalizando que a
mudança histórica, no Brasil desse contexto, é construída de cima
para baixo, através de heróis e fatos grandiosos, e não mediante a
ação do povo. Conforme José Murilo de Carvalho, ao se referir aos 15
de novembro quando o povo assistiu bestializado a proclamação da
República. Onde estão os escravos que pegaram em armas? Onde

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estão os homens livres e soldados que saudaram D. Pedro? Onde
estão as contradições que fizeram do 7 de setembro de 1822 um dia
não tão heróico assim?

Que outros interesses norteiam a fabricação dessa imagem por Pedro


Américo? Dentre tantas, podemos ler:

a) O silenciamento da representação de D. João como comilão e


desinteressado nos assuntos de Estado;

b) A heroicização de D. Pedro I e o apagamento da imagem de um


jovem irresponsável, namorador e epiléptico;

c) O apagamento da versão de Carlota Joaquina como fogosa e


amante de vários homens;

d) O silenciamento das revoltas provinciais. Sobre este último


assunto, desde 1817 que as províncias se rebelavam contra o
Estado, que havia movimentações nas praças públicas. Até 1824,
vários movimentos foram abafados pelas forças que comandavam
o Brasil. Em 1888, também não foram representadas pelo pincel
de Pedro Américo. Continuaram no anonimato.
Outro gesto que funda o Brasil é a transferência da corte portuguesa
para o Rio de Janeiro. Ao tornar-se sede da administração e centro
da decisão política e burocrática, sede do poder monárquico, o Rio de
Janeiro desfruta não apenas da presença real, mas de um conjunto
de funcionários, burocratas e comerciantes que consolidam sua
hegemonia interna. Houve uma inversão de papéis entre Brasil e
Portugal. Portugal encontrava-se num estado de decadência, órfão
de seu pai e rei, desorganizado econômica e politicamente. Por outro
lado, o Brasil ganhara novo status e, dizia-se, se tornara a metrópole,
enquanto Portugal era a colônia.

Jornais e periódicos
A Gazeta do Rio de Janeiro, o Correio Braziliense, A Idade de Ouro
do Brasil, Semanário Cívico de Salvador, Correio do Rio de Janeiro,
Reclamação do Brasil, O Espelho, Regulador Brasileiro, Revérbero
Constitucional Fluminense, Conciliador do Reino Unido, A Malagueta,
dentre outros, contribuíram para criar uma certa imagem de nação livre
da metrópole. Discutiam o separatismo, ampliavam o debate político,
enalteciam a revolução liberal e reivindicavam uma constituição para o
Brasil. Em 1822, o Revérbero Constitucional Fluminense clamou a D.
Pedro para que efetivasse a fundação do Império do Brasil.
Os periódicos agiam como suportes pedagógicos, educando os leitores,
principalmente a elite, sobre o ideário liberal constitucional. No entanto,

16
nem todos os periódicos concordavam entre si, acirrando a disputa por
leitores e por novas ideias.
Consulte:

FRAGOSO, João L. Homens de grossa aventura. Rio de Janeiro:


Arquivo Nacional, 1992.

SOUZA, Iara Lis de. Pátria Coroada. O Brasil como corpo político
(1780-1830). São Paulo: Unesp, 1999.

______. A Independência do Brasil. Rio: Zahar, 2000.

No Rio de Janeiro, sede da Coroa, a população diversifica-se com a


presença de ingleses, de funcionários, de aristocratas e comerciantes
lusos, diplomatas e outros senhores de letras e de números que
ocupam diversos cargos na burocracia ou no serviço do Estado.
Argumenta Souza:

A elite local, com escravaria, lavouras em grande


escala, casas de comércio, construções navais
e seguradoras, estava disposta a ocupar a cena
pública e viu na presença do monarca, e na
consequente instalação de um amplo e poderoso
aparelho burocrático e jurídico, uma maneira
de efetivar seus anseios. Descobriu na corte
uma forma de sociabilidade que respondia a sua
vontade de conciliar sua força econômica com sua
atuação política. (2000, p. 27)

Autores e Obras
Sobre a Independência do Brasil, vários autores lançaram olhares os mais diversos,
dentre os quais:

BERBEL, Márcia. A independência do Brasil, 1808-1828. São Paulo: Saraiva,


1999.

BITTENCOURT, Vera Lucia N. De alteza real a imperador: o governo do príncipe


D. Pedro entre abril de 1821 e outubro de 1822. Tese de doutorado. (USP,
2007). Disponível no endereço http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-
10072007-110514/pt-br.php.

GOMES, Laurentino. 1822. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

MALERBA, Jurandir. A corte no Exílio - civilização e poder no Brasil às vésperas


da Independência, 1808 a 1821. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

NIKOLAEVITCH, Gyorgy, Independência ou morte, o adicto. Curitiba: Sagaz,


2000.

17
NEVES, Maria L. Cidadania e participação política na época da independência
do Brasil. Cad. Cedes, Campinas, v. 22, n. 58, p. 47-64, dezembro/2002. Disponível
em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v22n58/v22n58a04.pdf.

ROCHA POMBO, José Francisco da. História do Brazil (5 vols.). Rio de Janeiro:
W. M. Jackson, 1935.

SCHIAVINATTO, Iara Lis. A praça pública e a liturgia política. Cad. CEDES


[online]. 2002, vol.22, n.58, p.. 81-99

VARNHAGEN, Francisco Adolfo (visconde de Porto Seguro). História Geral do


Brasil (8 vols.). São Paulo: Edições Melhoramentos, 1959.

Entre 1820 e 1822, vários periódicos começaram a circular notas e


protestos. Variados panfletos, jornais e noticiários políticos circulavam
no Rio de Janeiro e Salvador mostrando as tensões entre colônia
e corte, bem como trechos dos debates constituintes, ao mesmo
tempo em que buscavam esclarecer ao leitor essa nova cultura
política que estava se instaurando no Brasil. Explicavam conceitos
como deputado, monarquia constitucional, constituição, despotismo,
ilustração, representação, dentre outros que, pouco a pouco, se
tornavam mais claros para os leitores. Reivindicavam, também,
a flexibilização das relações entre colônia e metrópole, exigindo
reciprocidade; solicitavam um sistema de leis específicas para o Brasil
(divisão proporcional dos impostos, permanência do príncipe a fim de
obedecer ao direito dinástico, etc.).

Os periódicos também rivalizavam-se continuamente uns contra os


outros. Entre os que disputavam a palavra, estavam os federalistas,
os absolutistas, os republicanos, os monarquistas, os reformistas, os
portugueses, os brasileiros, dentre outros. “No conjunto, reconheciam
que se vivia um tempo de criação de uma nova ordem política e, em
geral, apostavam na liberdade na estrita observância da lei, contra
o absolutismo” (SOUZA, 2000, p. 41). A disputa entre os periódicos
também eram gestos que iam elaborando e formando o Brasil.

Tais periódicos, ao citarem autores como Burke, Montesquieu,


Benjamim Constant e Raynal, faziam circular pela sociedade brasileira
as matrizes do pensamento político liberal e de outros projetos
políticos que contribuíam para a formação de uma primeira opinião
pública, laica e política no Brasil. Conforme Souza, essa imprensa,
ao ser lida em casa, botecos, tavernas, boticas, livrarias, tipografias,
academias, sociedades secretas, maçonarias e câmaras, alimentava
as conversas de esquina e adensava o vocabulário político do

18
período. Argumenta a autora:

Não à toa, boa parte dos redatores pertencia à


camada letrada, de burocratas, homens de elite e
da igreja, ardorosos defensores de suas posições
que buscavam a simpatia do leitor à sua causa
com uma retórica inflamada. Sob pseudônimo ou
no anonimato, muitas vezes adotavam um tom de
paródia (2000, p. 40).

Outro gesto que fundou o Brasil foi a economia afetiva entre as


províncias e D. Pedro I. E nessa economia afetiva exaltava-se o amor,
a gratidão, a obediência, a fidelidade e a justiça entre o rei-cidadão
e o súdito-cidadão. O dia do Fico, por exemplo, foi visto e dito pelos
jornais como um momento de consagração da figura do príncipe
como o futuro rei do Brasil, o comandante-em-chefe. Isto contribuiu
para que “pequenas independências” ocorressem em várias partes do
Brasil, desvinculando a localidade das Cortes e da metrópole, bem
como estabelecendo o governo de D. Pedro. D. Pedro significava
a possibilidade de representar a unidade nacional, além de, por
direito, pertencer ao poder real. Muitos acreditavam que D. Pedro
governaria como um pai, com rigor e bondade, coroado pelo mando
paternal e abençoado pela graça divina. Daí surgiu “nas vilas diversas
soberanias, as quais foram se plasmando ao corpo do imperador
diante da necessidade de fundar um novo corpo político com uma
única autoridade, capaz de significar o Brasil e aludir a um Estado
centralizado” (SOUZA, 2000, p. 54).

19
Enfim, o 7 de setembro de 1822. Este, o gesto fundador “definitivo”
de um Brasil livre do pacto colonial. Um gesto que funda
internacionalmente a nação brasileira. O Brasil transformava-se no
“filho ingrato” que recusava os benefícios da regeneração política.
Depois das festas e celebrações, de vivas e de procissões, o
despacho do retrato de D. Pedro para várias vilas e cidades do Brasil.
José Bonifácio cuidou de criar os rostos para o Brasil, decretando a
elaboração de símbolos do país independente, tais como a bandeira,
o laço verde-amarelo, os uniformes militares, a flor verde dentro do
ângulo de ouro.

O retrato de D. Pedro, recepcionado em várias províncias, ganhava


um estatuto à parte. Significava a presença-ausência do imperador,
com direito a cortejo, beija-mão, arcos do triunfo, bandas de
músicas, salvas de canhão, poesias, chapéus no ar, comes e bebes,
celebrações. As festas eram uma comunhão simbólica entre o súdito
e o imperador, entre os presentes e o ausente. A festa era, também,
a circunscrição do território do soberano, de seu poder de mandar e
desmandar na nova nação. Moldava o pacto político entre a localidade
e o soberano, entre o povo e a nova realidade brasileira, embora isso
não ocorresse de forma similar em todas as províncias. Em muitas,
D. Pedro I (1798 – 1834)
como é o caso de Pernambuco, Bahia e Pará, houve batalhas
sangrentas contra as facções contrárias à independência do Brasil.
Isso mostra que a independência não foi tão pacífica como muitos
acreditavam ser. Para manter a integridade nacional, era necessário,
com o máximo de urgência:

a) Impor a ordem em todas as províncias, dirimindo os ânimos


exaltados contrários à monarquia de Bragança;

b) Quebrar as identidades coletivas das províncias, herdadas do


período colonial, ao mesmo tempo em que deveria ser elaborada
uma identidade nacional, mesmo que para isso tivesse que usar a
força e instrumentos de convencimento;

c) Impor o unitarismo e a centralização política, criando o poder


Moderador como um meio de manter a qualquer custo a hierarquia
do Imperador.
Porém, com ou sem lutas, D. Pedro foi coroado em 1º de dezembro de
1822, no Rio de Janeiro. Foi o gesto que selou nossa independência,
um recado para o mundo que estávamos livres do pacto colonial.
A coroação foi um gesto que reforçou a união mística entre o povo
e o rei, que selou a criação oficial do império brasileiro, reforçou

20
a impressão de que estava se cumprindo a vontade de Deus e
sacralizando a figura do imperador e do poder monárquico. Foi um
gesto que proclamou, com o anel de selar, o Império do Brasil, um
corpo político autônomo, como afirma Mader.

A emancipação política em 1822 implicou


a construção de um Estado, de um corpo
político autônomo, imaginado como nacional,
demonstrando que aqui ocorreu a típica associação
que o nacionalismo do século XIX criou entre
Estado e nação. Acreditava-se que a cada Estado
deveria corresponder uma nação, entendida como
um conjunto de indivíduos juridicamente livres
(2005, p.183).

Todas essas narrativas e gestos sobre a nação não devem ser


lidos e subjetivados como reproduções verdadeiras da realidade
histórica, mas como discursos construídos por diversos sujeitos que
procuravam dar a ler um conjunto de acontecimentos por eles vividos
ou analisados. Cada discurso é intencional, motivado por distintos
fatores.

Paixão pelo Poder


Poucos protagonistas da história política do Brasil e de Portugal no
século XIX foram tão estudados quanto ele. São inúmeras biografias de
D. Pedro de Alcântara (1789-1834) e vasta a coleção de livros, teses e
artigos que tratam das revoluções liberais em Portugal e do processo
de Independência e fundação de um Império constitucional no Brasil.
De todo o material emerge uma figura controvertida. Ora aparece como
valoroso liberal, lutando pelos princípios constitucionais, ora como
monarca absolutista, incapaz de compreender opiniões e reivindicações
dos súditos. Quais seriam os fundamentos para imagens tão diversas?
Nas biografias, são comuns as referências às paixões, ao espírito
romântico e volúvel, à impulsividade nas atitudes e à falta de educação
refinada. São corriqueiras, também, as menções, não menos românticas,
ao fato de ser um homem partido, dividido entre duas pátrias: a de
nascimento, Portugal, e aquela em que viveu entre 1808 e 1831, o Brasil.
Por duas vezes abdicou do poder em favor de seus filhos – em 1826, para
Maria da Glória se tornar rainha em Portugal, e, em 1831, para Pedro ser
o segundo imperador do Brasil. Na sequência, envolveu-se numa guerra
contra o irmão, Miguel, que pretendia apropriar-se do poder da sobrinha
e mulher, Maria da Glória. Venceu o irmão e também os adversários da
filha e da monarquia constitucional que defendia para Portugal, mas não
pôde usufruir inteiramente essa conquista, pois faleceu de tuberculose,
em 1834, no Palácio de Queluz, nas proximidades de Lisboa, no mesmo
quarto onde nascera, rodeado por pinturas que reproduziam cenas de

21
D. Quixote de la Mancha, do escritor espanhol Miguel de Cervantes.
Fonte:
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. Paixão pelo poder. Revista de
História da Biblioteca Nacional. Ano 7, n. 74, novembro de 2011, p.
18-19

Revisão
Neste capítulo, estudamos um dos momentos mais comemorados da História do
Brasil: o 7 de Setembro e o gesto que fundou a nação brasileira: o grito do Ipiranga.
Para tanto, abordamos alguns movimentos sociais e/ou políticos que ocorreram antes
de 1822, como a chegada da Corte, a Revolução de 1817 em Pernambuco, a Revolta
do Porto, o Dia do Fico, dentre outros atos que contribuíram para consolidar entre os
brasileiros a ideia de que era o momento de romper os laços políticos e econômicos
com a metrópole portuguesa. 1822 foi um momento de romper determinadas identidades
coletivas das províncias, herdadas do período colonial, ao mesmo tempo em que deveria
ser elaborada uma identidade nacional, mesmo que para isso tivesse que usar a força
e instrumentos de convencimento. Foi isso que fez D. Pedro, ao impor o unitarismo e a
centralização política, criando o poder Moderador como um meio de manter a qualquer
custo a hierarquia do Imperador.

Atividades
1. Leitura de Imagem

Independência ou Morte, 1888 – Pedro Américo (Paraíba, 1843- 1905) - óleo sobre tela, 7,
60 m x 4, 15 m - Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Independence_of_Brazil_1888.jpg

Ler uma imagem é um exercício de análise e interpretação. Da mesma forma que


um texto escrito, a imagem é um texto que fornece pistas sobre o momento histórico
em que foi pintado e sobre o período retratado. O quadro acima, do paraibano
Pedro Américo, representa o momento da independência do Brasil, em que Pedro I

22
gritou, próximo ao rio Ipiranga, “Independência ou Morte!” Portanto, faça uma leitura
dessa imagem retratando:

a) O mito do herói construído pelo pintor.

b) O lugar dos homens comuns elaborado por Pedro Américo.

c) As diversas leituras (artistas, historiadores, cantores) que foram elaboradas


sobre a proclamação da independência brasileira.
Depois de elaborar o seu texto, poste-o na plataforma moodle da UFRPE e em seu
blog pessoal na página da UFRPE. O Objetivo desta atividade consiste em aguçar
a sua sensibilidade para ler imagens, pois estas consistem em textos histórico-
sociais que falam de uma época, de um lugar, de um tempo representado por
outras pessoas. Além desse objetivo, a atividade permite que o aluno compreenda
que cada pintor ou artista, assim como cada um dos sujeitos históricos, representa
de forma diferente a realidade.

2. Na época da Independência, muitos textos revestiram-se com formas discursivas


bastante conhecidas por todos. Próprias do passado pelo caráter sacro, filhas do
catolicismo colonial, que, agora, anunciavam um novo ideário político, a exemplo da
Ave Maria Constitucional. Este texto sinaliza a ligação entre o ato sagrado e o ato
político de D. Pedro. Leia a Ave Maria Constitucional e elabore um mini glossário
político-religioso para cada palavra ou expressão grifada.

Ave Maria Constitucional

Ave Maria, cheia de graça e sabedoria


El Rei é contigo, benta tu és entre as Constituições,
Santo é o fruto do teu ventre
Santa Constituição, Mãe dos Portugueses
Vigia por nós agora e na hora de nossa morte civil, ou política.
Amém.

Com esta atividade, pretendemos ajudar ao aluno interpretar o hino que foi
elaborado à época da Independência, bem como levá-lo a fazer a associação entre
os discursos político e religioso.

3. Vários projetos de Independência circularam no Brasil no início do século XIX,


mas o projeto vencedor foi o de José Bonifácio. Assista ao vídeo “José Bonifácio
e o seu projeto vencedor”, do jornalista Laurentino Gomes que está disponível
em http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/1822-laurentino-gomes-fala-sobre-seu-
novo-livro. Após assisti-lo, escreva no seu caderno as principais ideias expostas no
vídeo. Reúna o máximo de informações e produza o seu próprio vídeo, cujo título
pode ser: “Se eu fosse D. Pedro I”. Após a elaboração do vídeo (máximo de 20
minutos), compartilhe com os seus colegas de curso através da plataforma moodle.
O objetivo desta atividade é despertar o aluno para a leitura de vídeos, incluindo
entrevistas e documentários como forma de narrar o passado histórico. Outro
objetivo é despertar a criatividade do aluno da EAD para a produção de curtas-
metragens na área de História.

23
4. Leia a tirinha abaixo:

Analisando o pensamento de D. Pedro I, expresso na tirinha, responda:

a) Por que o Brasil poderia se tornar uma “monarquia cercada de repúblicas por
todos os lados”?

b) Por que, para D. João VI, Pedro I deveria respeitá-lo em detrimento de


“algum desses aventureiros”?

5. Monte sua História


D. João VI
As imagens e comentários desta páginas darão suporte para você escrever uma
história envolvendo os personagens centrais que marcaram o período de 1822.
Depois de escrever sua história, mostre-a ao professor executor e, posteriormente,
poste-a na plataforma moodle com o objetivo de divulgá-la para os demais
colegas. Esta é uma tarefa que possibilita que você, aluno EAD, treine a escrita,
use a criatividade e a imaginação históricas e se envolva na produção de material
didático-pedagógico.

a) Ao abandonar Portugal em fuga das tropas de Napoleão em 1808, D. João


VI promoveu sérias transformações no Brasil, desde a libertação de sua

atividade industrial, abertura de seus portos e elevação do mesmo de colônia


para Reino Unido a Portugal.
D. Pedro I b) Retratado por alguns como um príncipe romântico, aventureiro, sem
vacilações ou defeitos, e por outros como um homem inculto, mulherengo,
boêmio e arbitrário, D. Pedro I é sem dúvida o personagem central de 1822.

c) Estadista que projetou uma nação grandiosa e foi conselheiro de D. Pedro I


durante o processo que resultou na Independência do Brasil. Um homem à
frente de seu tempo, José Bonifácio “defendia o fim do tráfico negreiro e a
abolição da escravatura,...

d) Maria Leopoldina Josefa Carolina de Habsburgo nasceu na Áustria e aos


20 anos casou-se por procuração com o herdeiro da coroa portuguesa, D.
Pedro I.

e) Não há como ignorar o romance da paulista Domitila de Castro Canto


e Melo com D. Pedro I ao tratar dos acontecimentos que resultaram na
Maria Leopoldina Josefa Independência do Brasil.
Carolina de Habsburgo

24
Referências
ADORNO, Theodor W. Textos Escolhidos - Adorno Vida e Obra - Conceito de
Iluminismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999.

MADER, Maria Elisa N. de Sá. Ordem e civilização. A ideia de nação nos textos do
Visconde do Uruguai. In: SOIHET, Rachel; BICALHO, Fernanda; GOUVEA, Maria
de Fátima (orgs.) Culturas políticas. Ensaios de história cultural, história política e
ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005.

MELO, Evaldo Cabral de. Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São Paulo:
Editora 34, 2001. Domitila de Castro Canto e
Melo
SOUZA, Iara Lis de. A Independência do Brasil. Rio: Zahar, 2000.

ROUANET, Sérgio. As Razões do Iluminismo. São Paulo: Companhia das Letras,


1998.

SCHIAVINATTO, Iara Lis. A praça pública e a liturgia política. Cad. CEDES


[online]. 2002, vol.22, n.58, p. 81-99

25
26
Capítulo 5

Escritas das histórias:


cultura histórica e política
nas “rebeliões” sociais do
“período regencial (1831-
1840)”

Objetivos
●● Abordar os movimentos sociais do período regencial;

●● Problematizar a participação popular nos movimentos sociais do período regencial;

●● Estudar a cultura histórica e política no Império (1831-1840).

Câmara dos Deputados - Rio de Janeiro

Abrimos este capítulo com a imagem da Câmara dos Deputados, no


Rio de Janeiro, centro de disputas políticas do período da história do
Brasil conhecido como Regencial. Os agitos políticos do governo de
Dom Pedro I culminaram em sua rápida saída do governo durante os
primeiros meses de 1831, momento em que não suporta as pressões
político-econômicas e sociais e resolve, após 9 anos de governo,
deixar o Brasil e voltar para Portugal. Surpreendidos com a vacância
deixada no poder, os deputados da Assembleia resolveram instituir um
governo provisório até que Dom Pedro II, herdeiro legítimo do trono,
no momento com 5 anos de idade, completasse a sua maioridade
e assumisse o cargo. É nesse contexto de transição política e de

27
intensos debates, que observamos a presença do Período Regencial.

O governo regencial (1831-1840) abriu espaço para diferentes correntes


políticas e interpretativas. Os liberais (organizados entre moderados
e exaltados), tinham posições políticas diversas que iam desde a
manutenção das estruturas monárquicas até a formulação de um novo
governo republicano. De outro lado, os restauradores (funcionários
públicos, militares conservadores e comerciantes portugueses)
acreditavam que a estabilidade deveria ser reavida com o retorno de Dom
Pedro I ao Brasil e ao poder, organizando novamente a nação.
Em meio a tantos debates políticos, a falta de unidade entre os integrantes
da política nacional em nada melhorou o cenário político brasileiro. Era
notório que as divergências sobre a delegação de poderes políticos
continuaram a fazer da política nacional um sinônimo de disputas e
instabilidade. Dessas divergências, emergiram muitos movimentos de
contestação, tais como a Sabinada na Bahia, a Cabanagem, no Para, a
Balaiada no Maranhão e a Revolução Farroupilha na região Sul.
Fontes:

LYRA, Maria de Lourdes Viana. O Império em construção/Primeiro


Reinado e Regências. São Paulo: Atual, 1999.

MOREL, Marco. O período das Regências, 1831-1840. Rio de


Janeiro: Zahar, 2003.

MOTA, Carlos Guilherme. História do Brasil: uma interpretação.


[S.l.]: Senac, 2008.

Mas não iremos abordar o cotidiano do período regencial neste


capítulo. De forma didática, optamos por trabalhar um assunto que
aborda as movimentações de diversos sujeitos no período imperial.
Sujeitos que não aceitaram de bom grado a figura dos regentes, após
a saída de D. Pedro I do centro do poder político. O período regencial
é comumente descrito na historiografia brasileira como um dos
mais “conturbados” e “caóticos” na escrituração da história nacional
em virtude das muitas contestações e revoltas que eclodiram em
todo o território nacional. Tal premissa pode ser apropriada por nós
num breve passeio pelas produções historiográficas que se detêm
a abordar a tessitura dos movimentos sociais que ecoaram nesse
período (Grinberg, 2009).

Na ausência, silêncio, esquecimento ou até mesmo na brevidade


que caracteriza as abordagens do temário, encontramos resquícios
que nos possibilitam adentrar as tramas das escritas históricas e
políticas que constituem a “cultura histórica” que aqui procuramos nos
debruçar.

Faz-se importante, para esse início de conversa, perguntar quais

28
as condições de possibilidade (ou invisibilidade) que conferiram
a estes movimentos o “adjetivo” de “caóticos”, “dispersos” e
“sediciosos”? Esse eixo-problematizador norteará o diálogo nas
páginas que seguem, evidenciando as relações que constituem o
campo “historiográfico” e, por conseguinte, delineiam as matrizes
interpretativas que procuraremos entretecer.

Num primeiro momento, deve-se atentar para as relações das


primeiras memórias desses movimentos em sua interface com
a consolidação do regime monárquico sob a égide de Pedro II.
Passadas as “convulsões sociais” que puseram em cheque a unidade
da nação em gestação, far-se-ia necessário “apagar” essas memórias
“sediciosas”, ou na impossibilidade desse feito, “adequá-las” à nova
cultura política que se pretendia configurar.

Os traços das penas dos intelectuais ligados ao poder monárquico


conferiram aos movimentos em destaque linhas tortuosas que,
ao se fixarem em suas penas, acabaram por cristalizá-los como
“desordenados”, “anárquicos” e “turbulentos”. O estereótipo de
“rebeldes” foi impresso no corpo de cada um dos participantes desses
movimentos sociais. Do Norte ao Sul do país, explodiam revoltas e
contestações ao poderio regencial. Tal premissa, como anteriormente
exposta, se insere na complexa rede das tramas políticas e intelectuais
que marcam e demarcam a nova configuração que se pretendia dar a
estes eventos na consolidação do Estado Nacional brasileiro.

Adentrando outros momentos dessa cultura histórica, observa-


se a ressignificação de tais memórias, sempre em diálogo com as
tramas políticas que apontam os horizontes de espera da nação.
Nesse ínterim, ao longo dos marcos historiográficos apropriados para
análise, tais movimentos serão fabricados em diálogo com as matrizes
interpretativas que configuram a tessitura da escrita da História.

Abordagens positivistas, marxistas ou em consonância com as


“novas propostas” teóricas advindas com a chamada História sócio-
cultural impingirão ao temário determinados contornos interpretativos
que suscitam por parte do/a historiador/a ou do estudante de História
olhares atentos, sob o risco de cair na cristalização, compreendendo
tais movimentos como estáticos e prefigurados apenas pelas tramas
do poder institucional.

Abordagens teóricas
Várias abordagens teóricas ajudam aos historiadores a lerem e

29
interpretarem a História. Dentre elas, podemos destacar o Positivismo,
uma corrente de interpretação que emergiu no século XIX, criada por
Augusto Comte, cuja filosofia tem por base a exaltação dos fatos, os
dados da experiência como a única verdade da História. Segundo os
positivistas, o saber se afirma numa verdade comprovada através de
fontes documentais, principalmente as fontes oficiais. O positivismo, ao
rejeitar o conhecimento metafísico, limita-se ao conhecimento positivo,
aos dados imediatos da experiência.
Outra corrente de interpretação da História é o Marxismo, célebre pela
leitura dos conceitos advindos de Karl Marx (1818-1883). Marx, ao fundar
a doutrina marxista na década de 1840, revolucionou o pensamento
filosófico e influenciou sobremaneira o conhecimento sobre o social. Seu
pensamento é estudado tanto por historiadores quanto por sociólogos,
antropólogos, cientistas políticos e sociais, dentre outros.  
A corrente marxista compreende três aspectos principais: o materialismo
dialético, o materialismo histórico e a economia política. Karl Marx se
inspirou em diversas ideias de Hegel, tais como o conceito de alienação
e de maneira essencial, seu ponto de vista dialético da compreensão da
realidade. No entanto, substituiu o idealismo hegeliano por um realismo
materialista, abordando que a matéria é o princípio fundamental e a
consciência, produto da matéria. Para Marx, são as relações de produção
que formam a estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual se
ergue a superestrutura jurídica, política, religiosa etc.
Outra corrente de interpretação bastante em voga na atualidade é
a História Cultural. Esta concepção teórica que emergiu nas últimas
décadas do século XX, opera a partir dos conceitos de representação,
imaginário, narrativa, ficção e sensibilidades. A historiadora Sandra
Jatahy Pesavento explica que as representações “construídas sobre
o mundo não só se colocam no lugar deste mundo, como fazem com
que os homens percebam a realidade e pautem a sua existência. São
matrizes geradoras de condutas e práticas sociais, dotadas de força
integradora e coerciva, bem como explicativa do real. Indivíduos e grupos
dão sentido ao mundo por meio das representações que constroem sobre
a realidade” (PESAVENTO, 2005, p. 39). Um dos grandes divulgadores
da História Cultural é o francês Roger Chartier.

Referências:
CHARTIER, Roger. História cultural: entre práticas e representações.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.
PESAVENTO, Sandra J. História & história cultural. 2ª Edição.
Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em
ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. 3ª ed. São
Paulo: Atlas, 1992.

O nosso diálogo aponta para um desvio de perspectiva no que


versa a uma abordagem essencialista, procurando nas tramas da

30
história, da memória e de sua escrita a compreensão da pluralidade
de perspectivas que guiaram os movimentos em debate e embate.
Portanto, seja bem vindo a esse debate.

Longe da homogeneidade que vozes uníssonas podem evidenciar,


nosso diálogo se delimita a partir da pluralidade de projetos para
a nação então em fase de consolidação, atentando para a sua
ressignificação ao longo das tramas históricas que inscrevem e (re)
escrevem memórias e trajetórias nas linhas da História.

Sob esse prisma, o período regencial pode se tornar rico aos nossos
olhos, situando-o como momento profícuo para se compreender
os projetos de nação em meio às pluralidades que aqueceram as
tramas do político e intelectual. Grande “laboratório” da nação, como
pontua Morel (2003), as “sedições” do período regencial comportam
múltiplos projetos nacionais, fato que se acentua na pluralidade de
práticas políticas e sociais que agitaram o período. Inserem-se na
pauta do dia, ou pelo menos são trazidas à tona, discussões que
versam sobre a monarquia constitucional, separatismo, federalismo,
liberalismos em suas variadas vertentes, democracia, militarismo,
catolicismo, islamismo, messianismo, a religião do império e da
igreja, xenofobia, os conflitos do rio da Prata e a afirmação da
nacionalidade, diferentes modalidades de organização do Estado
(centralização, descentralização, posições intermediárias), conflitos
étnicos multifacetados, expressões de identidades regionais, dentre
uma pletora de adjetivações que se constituiriam intermináveis, caso
nos propuséssemos a listá-las em sua totalidade. Uma das fases
mais ricas e singulares em termos de organização, discussão e
participação políticas, o Período Regencial é, também, o mais agitado
e conturbado da história do Brasil. Diz Basile.

O único tema a merecer maior número de estudos


- assim mesmo, em sua maioria, factuais e
apologéticos - é o das grandes revoltas provinciais,
Farroupilha, Cabanagem, Balaiada, Sabinada
e Guerra dos Cabanos, mas permanecem
pouco conhecidos diversos outros movimentos
semelhantes que, não obstante suas menores
dimensões foram bem mais numerosos e
disseminados pelo Império, causando, no conjunto,
impacto quase tão profundo quanto o das grandes
revoltas. (BASILE, 2004, p. 2)

Convidamos o presente leitor, estudante do Curso de História,


a passear conosco nas tramas e agitações que inscrevem e

31
circunscrevem essas histórias e memórias, evidenciando os aspectos
de resistência, opressão e negociação que configuram a dinâmica
histórica do período estudado.

Assumindo o risco do reducionismo, procuraremos abordar tais


movimentos mediante a pluralidade de projetos e abordagens que
tecem as suas escriturações, suscitando ao leitor a compreensão do
período regencial como momento de “explosão da palavra pública em
suas múltiplas possibilidades” (Morel, p. 10, 2003).

Assim sendo, os movimentos a serem analisados, (re)interpretados à


luz da cultura histórica e política foram didaticamente sistematizados
em três eixos discursivos que não se excluem, mas se inter-relacionam
nas tramas sociais, políticas e historiográficas que procuramos
perscrutar.

Tempos de “inseguranças”? “Esperanças de liberdade”? “Contestação


à ordem vigente”? “Repressão”? Afinal, o que as “escritas históricas”
nos “reservam” ao longo das páginas que seguem? Ao leitor,
desejamos uma viagem profícua e prazerosa ao longo das (re)
invenções que serão entretecidas.

Luta, “cidadania” e identidade


na “Amazônia revolucionária”: a
Cabanagem reescrita nas tramas da
História

Índios do Norte na Província do Grão-Pará

Adentrar as tramas que circunscrevem o movimento sedicioso

32
denominado como “Cabanagem” não pode se fazer sem que antes
operemos desconstruções que cercam a perspectiva factual e
cristalizada dessa forma de se escrever a história. Tal premissa
torna-se fulcral para se compreender as dinâmicas sócio-culturais e
políticas que circulavam no território da província do “Grão-Pará” em
fins do século XVIII e meados do XIX.

O possível isolamento geográfico e suas respectivas implicações


no imaginário sócio-político amazônico foram durante muito
tempo evidenciados como adjetivações inerentes à “dispersão” e
“fragmentação” que caracterizaria o movimento iniciado na província
do “Grão-Pará”, momento em que os cabanos perseguiram e
mataram a maioria dos portugueses e boa parte dos homens brancos.
Acrescente-se a isso a invasão de igrejas, incêndio de casas, castigo
aos alcoviteiros de “bicudos”. Conforme a historiadora Magda Ricci, a
fúria do lado anticabano não foi menor: “navios de guerra brasileiros e
estrangeiros aportados em frente à cidade de Belém abriram intenso
fogo. O bombardeio da cidade foi memorável. O próprio bispo do Pará
teve a sede do bispado atingida por tiros de canhão” (RICCI, 2008, P.
154).

Esta matriz interpretativa fortemente veiculada pelos historiadores


vinculados às propostas de escrita histórica monárquica, se aportam
no possível isolamento geográfico como instrumento explicativo
da “barbárie” e “selvageria” praticados pelos cabanos quando da
ocupação da capital da província, Belém do Pará. As imagens
elaboradas sobre os cabanos estereotipam e demarcam o lugar
desse sujeito como inferior, atrasado, bárbaro.

Todavia, cabe-nos indagar acerca da aplicabilidade desse pressuposto,


perscrutando a complexa teia de relações que configura a inserção do
movimento por entre a circularidade de discursos que perpassavam
a região do amazonas (RICCI, 2009). O tráfico de ideias mediante o
fluxo de informações e notícias de “sedições” internacionais encontra
nos limites impreciso da floresta território favorável a ressignificação
dos valores aportados via Guianas ou pelos Andes. Os espaços da
floresta constituiriam assim, locais de denso adendo dos ideários
liberais, capitalistas, socialistas através da presença de ex-
revolucionários nos eventos “sediciosos” desencadeados na Europa
e nas Américas.

Essa proposição nos sugere perspectivas diversas às comumente


cristalizadas pela historiografia institucional acerca das significações

33
políticas que perpassam os imaginários dos revolucionários cabanos.
De uma representação do movimento como de influência apenas da
elite agrária amazônica, tal como exposto por Domingos Antônio Raiol
passamos a outras matrizes interpretativas que apontam a construção
de visões “revolucionárias” a partir das experiências com os ideários
revolucionários advindos de um mundo em latente ebulição. Antônio
Raiol foi um dos primeiros historiadores a elaborar um panorama
sobre a cabanagem:

De tudo que já se produziu acerca da Cabanagem,


[a obra] Motins Políticos é a mais antiga e até hoje
a referência historiográfica mais importante sobre
a revolta. Se não houve iniciativa por parte dos
historiadores do Rio de Janeiro, ligados ao então
recém-criado IHGB, e que somente deram algumas
pinceladas gerais neste tema, ao inseri-lo em
seus compêndios gerais de História Pátria, coube
a Domingos Antonio Raiol a tarefa de elaborar a
primeira grande narrativa sobre o movimento (...)
A publicação de sua obra representou uma ruptura
definitiva na produção regional sobre o tema,
que ainda era incipiente, estabelecendo-se como
marco fundador da historiografia cabana (REIS,
2005, p.1).

É certo que não podemos partir de uma visão “ingênua” acreditando na


completa ausência dos interesses elitistas no movimento em debate,
tal como nos sugere a própria inserção social do “revolucionário” Félix
Malcher. Entretanto, não podemos desconsiderar as refigurações
nos contornos impingidos aos “eventos revolucionários” de janeiro de
1835, tendo em vista a dissonância dos objetivos do próprio Malcher
e os ideários cabanos de cidadania e oposição ao centralismo
português que teriam incitado o levante.

A tentativa levada a cabo por Malcher de esvaziar a ocupação da


capital da província pelos revoltosos cabanos delinearia a ruptura
do então governo “revolucionário” com os princípios de justiça e
“cidadania” expressos pelos primeiros levantes. A demissão dos
antigos funcionários provinciais e a nomeação de “gente de sua
confiança”, o recolhimento de todo o armamento que se encontrava
no porto e nas embarcações da Marinha Imperial e a seguridade
oferecida aos comerciantes lusitanos configuram os desajustes
entre o governo de Malcher e as aclamações populares que teriam
sustentando as “sedições” iniciais.

34
Dividido, o movimento cabano passou a eleger outros representantes
em consonância linear com os anseios que teriam suscitado a
organização do levante. A prisão de Eduardo Angelim, líder de grande
popularidade entre as massas “sediciosas” e amigo de Francisco
Vinagre suscitaria embates armados, culminando com a morte de
Malcher e a eleição de novos líderes revolucionários, redirecionando
o movimento para a anulação dos inimigos de Vinagre.

Contudo, a morte de Malcher e o reconhecimento do poder regencial


pelo governo de Vinagre suscitariam novas insatisfações da massa
cabana, culminando com uma nova ocupação de Santa Maria de
Belém do Grão Pará (atual Belém do Pará) pelos “rebeldes”. A Angelim, um dos líderes da
“lição sediciosa” parece ter sido apreendida pelos “revolucionários”, cabanagem.
espalhando-se pelo Amazonas e provocando levantes como, por
exemplo, os protestos contra a carestia e a falta de alimentos.

Nesta altura dos acontecimentos, muitos moradores haviam


abandonado Belém, saqueando armazéns e lojas em direção aos
caminhos e atalhos da floresta. A situação tornar-se-ia insustentável
para os cabanos, principalmente após a descoberta de que
comerciantes e antigos moradores legalistas teriam sido evacuados
sob a anuência dos líderes religiosos e do próprio Angelim.

Dispersa, a massa cabana exportaria líderes “revolucionários” e seus


ideais para outras regiões. Fragmentados nos atalhos da floresta, a
massa cabana sobrevive na historiografia local sendo ressignificada
em diversos momentos. A cultura histórica que circunscreve o
movimento no imaginário social é constantemente ressignificada,
produzindo múltiplas apropriações a matrizes interpretativas. Ao
finalizar o movimento, em 1840, o saldo de mortos era incalculável:

A maioria dos cabanos lutou, e muitos morreram,


em vilas distantes da capital ou, principalmente,
nos rios e nas matas do interior da Amazônia.
Nesses locais faziam emboscadas, roubavam
armamentos ou alimentos das tropas anticabanas
(RICCI, 2008, p. 157).

O financiamento do Instituto Histórico e Geográfico do Pará nos


liames do regime estadonovista pelo interventor Magalhães Barata
na tentativa de uma aproximação com o movimento de 1930, a
sua apropriação na década de 1980 como artefato eletivo pelos
movimentos sociais no contexto pós-regime militar de 1964 apontam
a correlação entre história, memória e cultura histórica nas tramas

35
historiográficas que dão a ler o presente movimento como símbolo de
ação popular de massa e resistência face à exploração e pluralidade
de reivindicações que ainda ecoam na floresta, ressignificada pelos
militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, bem como
por multifacetadas imagens e ecos polifônicos que se deparam com
“novos” problemas, desafios e perspectivas na constituição das
práticas cidadãs que teria enlaçado seus ancestrais.

“Liberdade(s)” e dilemas da escravidão


na Sabinada

No meio das lutas e insatisfações pelo governo regencial, mais


um movimento sedicioso eclode no Brasil, mais precisamente na
Bahia, em novembro de 1837, reunindo as elites militares, médicas
e jornalistas baianas, camadas populares, centralizadas na figura
de Francisco Sabino, médico e jornalista. Dessa maneira, devido
a sua heterogeneidade de sujeitos envolvidos, pensar o movimento
denominado como “Sabinada” em interface com os debates e
embates que perpassavam a sociedade baiana oitocentista requer
uma aproximação com a diversidade étnico-cultural que caracterizava
os códigos de sociabilidade nesta sociedade. Atrelada às oposições
liberais, ao caráter centralista evidenciado pelo governo regencial
e reunido sob a gerência do médico Francisco Sabino Álvares da
Rocha escravos, homens livres e profissionais liberais se aglutinaram
no desligamento ao governo central do Rio de Janeiro (GRINBERG,
2009).

Todavia, nos deteremos aqui na abordagem étnicorracial que


caracteriza as experiências vivenciadas pelos revolucionários nas
tramas complexas que configuram o recrutamento de escravos na

36
composição das fileiras rebeldes. Quais as relações que pautavam as
experiências desses homens nas “ordens revolucionárias de 1837”?
Como pensar os debates e embates que circunscrevem a diversidade
de projetos sociais em pauta?

Compreender a dinâmica social soteropolitana nos oitocentos


constitui um caminho profícuo no adendo dos eventos sediciosos que
configuram o presente levante. Constituída por uma diversidade de
atores sociais que não comportam os limites estanques que a categoria
“senhor” versus “escravos” e, por conseguinte, “brancos” e “pretos”
possam evidenciar a sociedade baiana do período caracteriza-se
pela irradiação de grupos miscigenados que adensavam o caldeirão
cultural constitutivo da nação em gestação.

A participação do major Santa Eufrásia, “crioulo de muito valor”, cuja


trajetória parece ter sido galgada nan esteiras das milícias negras
da Bahia, evidencia os limites tênues que configuram os códigos
étnico-culturais da sociedade baiana nos oitocentos. A senda aberta
pela participação de negros de diferentes origens (africanos, afro-
brasileiros, escravos e forros) ao lado de homens brancos e pardos
livres (aqui representado pelo médico Sabino) parece indicar uma
suposta consonância de projetos entre os “sediciosos” baianos. Assim,
brancos e negros se uniram em prol de um objetivo comum: livrar-
se do governo regencial e constituir-se um espaço independente: a
República Bahiana.

Os sabinos, mesmo manifestando fidelidade


monárquica, proclamaram uma república
provisória. Marcavam seu desejo de separação do
governo central respeitando o rei-menino, como
demonstra seu programa, proclamado quando
tomam Salvador em 7 de novembro de 1837: “A
Bahia fica desde já separada, e independente da
Corte do Rio de Janeiro, e do Governo Central,
a quem desde já desconhece, e protesta não
obedecer nem a outra qualquer autoridade ou
ordens dali emanadas, enquanto durar somente, a
menoridade do sr. dom Pedro II.” (CHIAVENATO,
1984)

A promoção e incorporação pelo governo revolucionário de cativos


nascidos no Brasil na composição do chamado “batalhão Libertos
da Pátria” suscita “visões de liberdade” a tais segmentos étnicos,
suscitando por nós uma aproximação acerca de tal assertiva a fim
de caminhar por entre as diversidades de projetos que denotam a

37
homogênea denominação do levante.

Perscrutando as revisões historiográficas advindas nos últimos anos,


pode-se perceber que o fato dos líderes revolucionários do movimento
em questão não serem “brancos” não confere uma correspondência
acerca da identidade homogênea que garantiria projetos em comum
no ideário sedicioso de 1837.

Tensões étnicas marcam e demarcam as relações sociais que


constituíam a sociedade baiana no século XIX, apontando para
múltiplas possibilidades de aproximação entre homens brancos e
pardos livres e escravos das mais diversas origens étnicas.

A necessidade de somar forças frente aos ataques legalistas


possibilitou a aproximação entre homens livres e escravos ao mesmo
tempo em que os afastou no que tange à concessão de liberdade aos
respectivos militantes da causa “sediciosa”.

A “diminuição moral” que a incorporação de cativos nas fileiras


revolucionárias suscitava entre os dirigentes rebeldes evidencia
múltiplas perspectivas na recepção dessas adesões, tal como
prenuncia o Ministro da Guerra do Governo Revolucionário ao avaliar
de forma negativa a incorporação de escravos no chamado “Batalhão
dos Bravos da Pátria” (GRINBERG, 2009).

Observa-se, assim, que a admissão de escravos nas tropas rebeldes


evidenciava a profunda necessidade encontrada pelos sabinos no
contexto da revolta, eliminando do campo de experiência visões de
supressão das barreiras sociais da escravidão, sem falar nas ameaças
aos olhos legalistas que o “armamento” de escravos significaria em
contextos de ebulição social então vivenciado.

A apropriação e ressignificação do ideário liberal pelos rebeldes


baianos de 1837 possibilitaria a sua acomodação ao contexto
escravista, resultando na proposta de abolição apenas dos escravos
nascidos no Brasil. Tal premissa evidencia a legitimidade e, por
conseguinte, a necessidade que o sistema escravista representava
para os revolucionários.

Destarte, as diversas táticas de resistência entretecidas pelos


escravos em meio ao contexto social de efervescência política
possibilitaram a articulação e, em certa medida, a resistência negra
às inconformidades sociais que caracterizavam a experiência no
cativeiro.

38
Tal premissa nos permite reavaliar a escrituração do movimento em
debate como homogêneo face aos interesses de homens livres e
escravos, unidos em torno de determinado projeto político. A prática
de recrutamento forçado de homens negros pelo governo rebelde
demonstra que nem todos os “homens de cor” estavam envolvidos
“voluntariamente” no movimento e que este muitas vezes lidou de
maneira violenta com alguns deles.

A possibilidade de participar da fundação de um Estado Independente,


por um lado, e a fragmentação social e senhorial, por outro, fizeram
da Sabinada um episódio propício à resistência e “rebeldia” escrava
na Bahia, delimitando, por conseguinte, seus espaços na “revolução”,
mesmo que à revelia das ordens expressas pelo “comando
revolucionário”.

Debates e embates “da” e “na”


historiografia da “Farroupilha”:
ressignificando as escritas históricas
nas tramas das memórias

A “Revolução Farroupilha” constitui um dos eixos-temáticos mais


abordados não apenas pela historiografia rio-grandense, a exemplo
de Sandra Pesavento, mas no âmbito maior que perpassa a sua
escrituração na “cultura histórica” nacional. Dessa forma, faz-se
necessário uma revisão acerca das apropriações e ressignificações
que cercam a escrituração do temário, apontando para a interface
entre a historiografia e a “cultura política” nos diversos momentos de
configuração da história.

A disputa pela memória legítima configura uma constante nas


tramas da escrita historiográfica, desvelando as teias de poder

39
que transversalizam a produção social desses discursos. Poder,
dominação e legitimação estão sempre presentes nas linhas das
histórias configurando contornos diversos às tramas das memórias.
Nessas tramas, Guazelli sintetiza algumas ideias comuns sobre esse
momento histórico do Brasil:

A guerra dos Farrapos foi a mais longa rebelião


do período regencial e, durante quase dez anos
os rebeldes do Rio Grande do Sul buscaram
legitimar seu movimento contra o império do Brasil.
Neste sentido, as ideias liberais, republicanas e
federalistas que haviam se difundido a partir da
Revolução de Maio do Rio da Prata, ganharam
corpo entre algumas lideranças da República Rio-
grandense. Cientes de que a imprensa poderia se
constituir num veículo eficiente de propaganda,
foram sucessivamente editados os periódicos
oficiais do governo insurreto. (GUAZELLI, 2005, p.
55).

Nesse ínterim, situamos a multiplicidade de olhares e memórias


que têm sido reescritas ao longo da historiografia da Farroupilha,
possibilitando, assim, a constituição de diversas matrizes
interpretativas ao longo das tramas políticas. Nessas matrizes de
interpretação, uma delas aborda que esse movimento ocorreu nos
limites do segmento dominante pecuarista, latifundiária e escravocrata.
A sua demonstração de força era dada pela capacidade de resistir aos
comandos do governo regencial, e a justificativa da rebelião passava
pelo endosso seletivo das ideias liberais da época, adaptada aos
interesses locais, como atesta a historiadora Sandra Pesavento, em
Farrapos, liberalismo e ideologia, abordando que um dos objetivos
da Revolução Farroupilha foi a luta pelos princípios liberais contra o
autoritarismo e centralização do governo, que paradoxalmente existia
também na República Rio-grandense (PESAVENTO, 2007). Mas
a Guerra dos Farrapos não eclodiu de imediato. Ela possuiu vários
momentos:

O primeiro momento se caracteriza pela formação


do conflito, encabeçado por homens de destaque
no cenário rio-grandense, como grandes
estancieiros, charqueadores, comerciantes e
representantes da cúpula militar. Primeiramente,
buscou-se uma negociação com o governo
brasileiro. Com a perpetuação da política
centralista da regência imperial, a revolta culminou

40
com a proclamação da República Rio-Grandense.
De início, muitos dos líderes farroupilhas não
eram nem republicanos nem separatistas, mas a
impossibilidade de negociação com a governança
regencial acabou por conduzir ao desfecho de uma
República (DORNELES, 2010, p.2).

Dentre as memórias que constroem certa “História” dos Farrapos, o


texto do então major do exército imperial, João da Cunha Lobo Barreto,
atribui ao evento em destaque caráter “deplorável” face à “exaltação
extraordinária” de ideias e a consequente atuação das “utopias
niveladoras” da “plebe” (PESAVENTO, 2009). Durante o movimento,
mais de um projeto político ganhou notoriedade entre os envolvidos,
destacando-se o da grande “maioria” que, além de interesses pessoais
de suas lideranças, “discutia a abolição da escravatura, desejava a
forma de governo republicana e uma interação latino-americana”.
Outro projeto, o da “minoria”, desejava melhorias pessoais dentro do
próprio sistema, sem grandes preocupações com o modelo político e
econômico (FACHEL, 2002, p. 124).

Autores e obras
GRINBERB, Keila; SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009.

MAUAD, Ana Maria. “Imagem e Auto-Imagem do Segundo Reinado”. In:


ALENCASTRO, L. F. História da Vida Privada no Brasil. São Paulo, Cia das
Letras, 1997, v. II, p. 195.

MOLITERNO, Dylva Araújo. Liberais moderados: porta-vozes dos cafeicultores e


a consolidação da política conservadora no período regencial. [s.n], 1982.

MOREL, Marco, O período das Regências, 1831-1840. Rio de Janeiro: J. Zahar,


2003.

VIANA, Maria de L. O Império em Construção - Primeiro Reinado e Regência.


São Paulo: Atual, 1999.

Situado no contexto de consolidação do Estado nacional e


intrinsecamente ligado à monarquia constitucional de Pedro II, essas
primeiras memórias e histórias apontam o caráter “desastroso” inerente
ao movimento, atribuindo a sua sublevação ao governo central do Rio
de Janeiro mediante a tessitura de intrigas internacionais tecidas pelo
padre José Antônio Caldas, pelo líder da independência cisplatina -
Juan Lavalleja - e o futuro chefe dos farrapos, Bento Gonçalves, na

41
tentativa de união à República Oriental do Uruguai.

Esta configuração teria delineado ao movimento em curso um caráter


mais “desastroso”, caso consideremos as experiências nas demais
províncias, contribuindo para tal a inexperiência do Império no
combate aos levantes “sediciosos”, a proximidade com os “vulcões
revolucionários” representados pelas hispano-americanas e a prática
rio-grandense de fomento de bons soldados aos “desordeiros” e
“modernos utopistas” (PESAVENTO, 2009).

“Ignorância” e “selvageria” são outras adjetivações presentes na


cultura histórica do segundo reinado. Dessa vez, nas linhas de Tristão
de Alencar Araripe, o “exagero” da produção de ideias democráticas
após a abdicação de Pedro I, bem como “demagogismo” prenunciado
pelos partidos do Prata e os representantes das elites locais teriam
“ludibriado” a população “ingênua” e “ignorante” na adesão ao
“incêndio revolucionário”.

Observa-se, assim, a confluência de escritos que diretamente ligados


aos encargos monárquicos de consolidação do Estado nação em
gestação atribuíram aos movimentos dissonantes do projeto em voga
o caráter de “agitadores”, “desordeiros” e “utopistas” influenciados pelo
mandonismo caudilho em proximidade com as Repúblicas do Prata.
Freado o “carro da revolução” não se encontravam linhas dispostas a
ouvir e contar outras memórias e histórias na configuração da “cultura
histórica nacional”.

Adentrando as tramas políticas que inauguram o período republicano


tem-se a ressignificação do discurso em pauta, evidenciado através
da construção de uma memória histórica afeita ao positivismo
demarcado pelo governo de Júlio de Castilhos e os sucessivos
mandatos de Borges de Medeiros como presidente do estado.

A vasta obra de Alfredo Varela constitui marco fulcral na configuração


de novas interpretações acerca do movimento farroupilha.
Ressignificando o discurso em pauta, a cultura política em curso
atribuiria um caráter positivo às influências platinas face ao “atraso”
e “mandonismo” resguardados pelos resquícios monarquistas ainda
preponderantes nas tramas políticas brasileiras.

Constitui-se, assim, uma matriz interpretativa que ganharia contornos


diversos ao passo da sua apropriação pela cultura histórica nacional.
O Rio Grande do Sul teria, em virtude da proximidade física e cultural
com as províncias do Prata, se diferenciado das demais províncias do

42
então império brasileiro, situando-se como defensor da “democracia”
e do “republicanismo” em contraste com o “atraso” monárquico de
então.

Tem-se o delineamento do caráter separatista que tanto embate


causaria anos mais tarde quando da integração da cultura histórica
nacional desempenhada pela política estadonovista. Nesse ínterim,
a epopeia farroupilha constituiria marco delimitador do regionalismo
local nas décadas inicias do regime republicano. Diz Dornelles:

Inicialmente o movimento não possuíra caráter


separatista. Seus líderes desejavam o poder de
eleger o presidente provincial, de ter câmaras de
vereadores, de legislar e de recolher os impostos
que deveriam servir para o desenvolvimento
local. Conseguiram um acordo de paz bastante
razoável, mas não alcançaram a meta de maior
autonomia da Província, sua principal bandeira
inicial. Contudo, mesmo com o enfraquecimento
militar e desentendimento entre os líderes,
a pacificação da Província de São Pedro foi
conseguida através de um ajuste com o Império e
não por meio de aniquilação em campo de batalha.
Consequentemente, a certeza de ter mantido a
honra e não ter simplesmente capitulado foi um
forte legado dos farrapos para a construção da
atual imagem regionalista do “gaúcho” (2010, p.
10).

Todavia, as leituras sobre os lugares e os sujeitos mudam. O


movimento de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder,
consolidando-se através da ditadura do Estado-novo impingiu
reinterpretações discursivas acerca de tais eventos, instituindo, assim,
um caráter de integração da cultura política nacional em consonância
com o centralismo em pauta.

A configuração do “círculo historiográfico” em sua grande maioria


composto por intelectuais ligados ao Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Sul se deteria na atribuição do caráter “não
separatista” do movimento, acentuando a “brasilidade” característica
da cultura política estadonovista, encontrando na figura de Aurélio
Porto um dos principais portadores dessa nova interpretação atribuída
ao movimento farroupilha.

Longe da unidade que tal perspectiva possa evidenciar, a construção


da cultura histórica nacional acerca do temário dar-se-ia mediante

43
debates e embates efusivos face a proposta política centralizada
na figura nacionalista de Vargas. Nesse contexto, projetos políticos
intrinsecamente ligados à cultura histórica nacional transformariam o
campo intelectual numa arena de conflitos mediante a posse da visão
“legítima” dos eventos ocorridos.

Tal disputa atravessa e se ressignifica ao passo das tramas


históricas nacional, adentrando o campo das novas abordagens
que caracterizam o campo de pesquisa em História. Entretanto,
tais matrizes interpretativas têm delineado ao evento em destaque
contornos que ultrapassam a lógica excludente que a adjetivação
“separatista” versus “não separatista poderia impingir ao movimento
(Pesavento, 2009).

Deve-se atentar para o significado que os termos “nação”, “república” e


“federação”adquiriam no cerne das disputas então em voga, situando-
os como datados e, por conseguinte, passíveis de apropriações
diversos pelo ofício do historiador. Imerso nas lutas de consolidação
da nacionalidade brasileira a proclamação de uma República
Independente do Rio Grande do Sul deve ser compreendida em
interface com a circularidade de ideias e discursos que encontravam
nas barreiras tênues da “formação” nacional territórios propícios para
a gestação de ideários políticos separatistas.

Entretanto, a pluralidade de projetos dentro do movimento farroupilha


deve servir de atenção ao estudante, sob o risco de cairmos em
mais uma visão cristalizada e essencialista acerca do evento. Na
confluência dos múltiplos discursos que instituem a “Revolução
Farroupilha” se interceptam diversos projetos: unidade e separatismo
constituem face de uma mesma moeda que denota a “invenção” da
“revolução” na cultura histórica, bem como no campo de disputas de
memórias que instituem a cultura política nacional.

As “sedições” continuam...
Memórias em disputa, debates e embates! Assim parece se constituir
as tramas que configuram a “cultura histórica e política” que escrituram
as memórias e histórias das “rebeliões” sociais do período regencial.

Longe da homogeneidade que durante muito tempo impingiu a


esse momento da história nacional um caráter estático quando não
invisível, acreditamos que este passeio possa ter contribuído para
a desconstrução das categorias de análise historiográfica até então

44
preponderantes.

Adentrar as tramas que inscrevem e circunscrevem a “cultura


histórica” nos múltiplos discursos que tangenciam a cultura política da
nação faz-se exercício profícuo na compreensão das complexidades
que versam o temário exposto.

Tempos de “inseguranças”? “esperanças de liberdade”? “Contestação


à ordem vigente”? “Repressão”? Acreditamos que as tramas aqui
descritas constituam tudo isso, tendo em vista a complexidade
de experiências, projetos e memórias em disputa. Mais que isso,
configura momento profícuo para se compreender o grande
laboratório da nação em suas multifacetadas imagens e projetos de
nacionalidade no século XIX, momento em que a nação estava se
tornando nação.

Monarquia constitucional, separatismo, federalismo, liberalismos


em suas variadas vertentes, democracia, militarismo, catolicismo,
islamismo, messianismo, xenofobia, afirmação da nacionalidade,
diferentes modalidades de organização do Estado (centralização,
descentralização, posições intermediárias), conflitos étnicos
multifacetados, expressões de identidades regionais adensam o
caldeirão de projetos que endossam as memórias e histórias que aqui
procuramos entretecer.

A sedição está instalada! Resta a você, caríssimo estudante, se


apropriar das explanações até aqui tecidas na refiguração de
múltiplas imagens que se interceptam na fabricação do tema exposto.
Cultura histórica e política imbricadas na escrituração das tramas da
história e nas disputas da memória oferecem ao horizonte de esperas
do nosso mètier desafios e perspectivas que configuram a prática
historiográfica na atualidade, reinventando temas e desconstruindo
discursos, passos e espaços de produção de “verdades”.

Para dar continuidade a esse tema, no próximo capítulo falaremos


do Nordeste, um espaço regional brasileiro caracterizado também por
várias sedições, por momentos históricos tensos no século XIX.

Saiba Mais
Memórias sobre a Balaiada

A Balaiada é considerada um dos maiores conflitos ocorridos no Brasil no período


regencial. O conflito foi deflagrado no Maranhão em 1838 e perdurou até 1840, no qual

45
os quilombolas tiveram participação decisiva. A Balaiada, assim como outros conflitos
que ocorreram no Maranhão entre 1822 e 1840, em função da disputa pelo poder por
parte de vários grupos da elite local, envolveu muitas pessoas dos segmentos livres
pobres, bem como facilitou as fugas de escravos e a formação de quilombos.

A Balaiada foi um movimento que ocorreu em função da luta entre liberais, conhecidos
como bem-te-vis, e conservadores. Nesse contexto, os liberais encontravam-se
impedidos, pelos conservadores, de participar das decisões políticas. Os bem-te-
vis desencadearam violenta oposição ao Presidente da Província (SANTOS, 1983, p.
74). Para a eclosão da Balaiada, foi decisiva a crescente revolta da população pobre e
escrava contra as arbitrariedades da elite, como os constantes aumentos dos preços da
farinha e da carne. Além disso, a partir de 1838 passou a existir um grande recrutamento
de homens pobres para servir nas tropas do Império em outras províncias, aumentando a
insatisfação dos mesmos (ASSUNÇÃO, 1996, p. 442).

Diversos escravos que fugiram das fazendas fizeram parte de grupos de bem-te-vis.
Contudo, a posição dos rebeldes diante da escravidão era imprecisa. Ao mesmo tempo
em que denunciavam as tiranias sofridas pela população negra, não exigiam liberdade
aos escravos. Durante a primeira fase da Balaiada, os balaios deram pouca importância
aos escravos rebelados. Estes continuaram apenas como suportes para os brancos. No
entanto, com a chegada de Luís Alves de Lima, o futuro duque de Caxias, o conflito entrou
em uma nova etapa. Lima contava com grande tropa e recursos, e conseguiu dissipar os
grandes grupos de bem-te-vis. Os líderes balaios, perseguidos pelos soldados, tiveram
de escolher: ou se rendiam, tirando proveito da anistia concedida pelo governo imperial,
ou continuavam a luta aproximando-se dos escravos insurgidos.

Os escravos sediciosos ficaram sob a mira das tropas de Lima e dos ex-rebeldes, bons
conhecedores do terreno. Conforme Assunção, Cosme Bento das Chagas, vendo seu
grupo ser dizimado, tentou atravessar o rio Itapecuru, fugindo para as matas com os que
restaram. Contudo, foi sitiado em fevereiro de 1841 no Mearim. Cosme assistiu à morte
da maioria dos duzentos escravos que o acompanhavam. Posteriormente, foi preso,
condenado à morte e executado em setembro de 1842. Atualmente, os acontecimentos
da Balaiada compõem a memória coletiva dos quilombolas maranhenses (ASSUNÇÃO,
1988, p. 216).

Fontes consultadas:

ASSUNÇÃO, Matthias Röhring. A guerra dos bem-te-vis: a Balaiada na memória


oral. São Luís: SIOGE, 1988.

SANTOS, Maria Januária Vilela. A balaiada e a insurreição de escravos no


Maranhão. São Paulo: Ática, 1983.

Revisão
Neste capítulo, dedicamos especial atenção a como homens e mulheres do Período
Regencial se envolveram em movimentos sociais em prol da liberdade. Para tanto,
estudamos três movimentos clássicos da historiografia brasileira: Cabanagem, Sabinada
e Farroupilha. Como texto complementar, inserimos uma rápida discussão sobre A

46
Balaiada, evento maranhense que teve uma grande participação dos escravos. Quais
as singularidades desses movimentos? Esta foi a pergunta crucial que nos norteou no
estudo e na pesquisa documental, procurando mostrar que, quando homens e mulheres
Hiperlink
desejam mudar, eles usam as armas necessárias para que as mudanças sejam
2
O livro completo
efetivadas. Nem sempre é possível mudar no calor dos acontecimentos, mas as nossas encontra-se disponível
em: http://www.
práticas são sementes que plantamos no solo da História para que outros colham.
ebooksbrasil.org/
adobeebook/balaiada.pdf

Atividades
1) O cordel é um estilo de composição que, usado pedagogicamente, contribui para Hiperlink
a fixação da aprendizagem, para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Magno 3
Disponível em: http://
José Cruz lançou mão da criatividade para escrever a história da Balaiada em www.tjrs.jus.br/export/
poder_judiciario/historia/
cordel2. Assim, use a sua imaginação e elabore um cordel narrando a presença
memorial_do_poder_
feminina na Revolução Farroupilha. Para a elaboração do mesmo, você pode tomar judiciario/memorial_
como referência os seguintes textos disponíveis na web: As mulheres no cotidiano judiciario_gaucho/
do Rio Grande do Sul farroupilha, de Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos3; revista_justica_e_historia/
issn_1677-065x/v6n12/
Estanceiras e Vivandeiras: O Outro Lado Da Mulher na Revolução Farroupilha,
Microsoft_Word_-
de Thalita da Silva Gonçalves4 e o texto de Luciana Machado, A visão da família _A_HISTxRIA_DAS_
e da mulher rio-grandense durante a Revolução Farroupilha (1835-1845)5. Após MULHERES_NO_
a elaboração do seu cordel, poste-o no seu blog pessoal, na plataforma moodle da RSea_Revoluxo_
Farroupilha__2_.pdf
UFRPE para ser lido e apreciado por outros colegas.

2) A Revista “Revolução” encomendou um artigo abordando um dos movimentos


sociais mais expressivos do século XIX, particularmente do período regencial. No
referido artigo, é necessário que estejam expressas as principais características
do movimento social, seus líderes e os motivos que levaram os mesmos a se Hiperlink
rebelarem contra o poder regencial. O artigo pode conter: 4
Disponível em: http://
www.cptl.ufms.br/hist/
a) Uma introdução, apresentando a temática do mesmo e mostrando para o ndhist/Anais/Anais%20
leitor o que será abordado; 2009/Artigos/GT01_
genero_identidades/2_
b) A discussão historiográfica, apresentando os principais historiadores que thalita_gonsalves_
discutem o tema; estaceiras_e_vivandeiras.
pdf
c) As considerações finais, mostrando o seu ponto de vista em relação ao
movimento social. Depois de ler o material sobre o tema escolhido, escreva
esse artigo e poste-o em seu blog, bem como no fórum de discussões, na
plataforma moodle da EAD UFRPE, para ser apreciado pelos colegas que
fazem o curso de História. Antes de postá-lo, peça para o professor executor Hiperlink
fazer uma leitura do mesmo. 5
Disponível em: http://
www.cptl.ufms.br/hist/
3) O chat temático (bate papo ou sala de aula virtual) permite uma conversa em tempo- ndhist/Anais/Anais%20
real entre o professor e o aluno ou entre alunos e alunos. Esse tipo de encontro on- 2009/Artigos/GT01_
genero_identidades/2_
line pode caracterizar-se como um momento criativo, construído coletivamente para
thalita_gonsalves_
gerar novas ideias e temas a serem estudados e aprofundados na disciplina de estaceiras_e_vivandeiras.
História do Brasil. Como você, aluno da EAD-UFRPE, possui um ambiente virtual pdf

47
próprio. Sugiro um fórum de discussão, no qual o tutor irá criar um chat temático
para História do Brasil no qual vocês poderão discutir as seguintes temáticas/
questões:

a) Qual a contribuição dos movimentos sociais do período regencial para a


sociedade brasileira do século XIX?

b) Dentre os três movimentos sociais estudados neste capítulo, com qual você
mais se identificou? Justifique sua escolha.

c) Qual a sua opinião acerca da participação de Bento Gonçalves na Revolução


Farroupilha?
4) O Livro A Casa das Sete Mulheres, de Letícia WIERZCHOWSKI (Rio de Janeiro:
BestBolso, 2008), faz uma leitura da família gaúcha no período da Revolução
Farroupilha. Baseado na leitura desse livro elabore uma análise crítica da figura
masculina no ambiente revolucionário, apresentando a maneira como os autores da
minissérie, Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão desenharam e descreveram
o sujeito masculino no Rio Grande do Sul no século XIX. Após a escrita de sua
resenha crítica, poste-a na plataforma moodle da UFRPE para ser lida, comentada
e divulgada para outros colegas do curso de História.

Referências
BASILE, Marcelo. Revoltas regenciais na Corte: o movimento de 17 de abril de
1832. Anos 90, Porto Alegre, v. 11, n. 19/20, p.259-298, jan./dez. 2004.

CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro. São Paulo: Moderna,


1988.

DORNELLES, Laura de Leão. Guerra Farroupilha: considerações acerca das


tensões internas, reivindicações e ganhos reais do decênio revoltoso. Revista
Brasileira de História & Ciências Sociais. Vol. 2 Nº 4, Dezembro de 2010.

FACHEL, José Plínio Guimarães. Revolução Farroupilha. Pelotas: Ed. da UFPEL,


2002.

GRINBERB, Keila; SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2009.

GUAZELLI, Cesar Augusto. Textos e lenços: representações de federalismo na


república rio-grandense. Almanack brasiliense, n. 1, maio 2005.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Farrapos, liberalismo e ideologia. In: DACANAL,


José Hildebrando (org): A Revolução Farroupilha: História e Interpretação. Porto
Alegre, Mercado Aberto, 1997.

REIS, Nathacha Regazzini Bianchi. Motins Políticos, de Domingos Antonio Raiol.


Memória e historiografia. Revista Intellectus. Ano 04 Vol. I - 2005. Disponível em:
www2.uerj.br/~intellectus.

48
RICCI, Mada. A cabanagem, a terra, os rios e os homens na Amazônia: o outro
lado de uma revolução (1835-1840). In: MOTTA, M.; ZARTH, P. (orgs.) Formas de
resistência camponesa: visibilidade e diversidade de conflitos ao longo da história.
Concepções de justiça e resistência nos Brasis. São Paulo: Edunesp, 2008.

SOUZA, Paulo César. A Sabinada: a revolta separatista da Bahia, 1837. São


Paulo: Círculo do Livro, 1987.

VARELA, Alfredo. História da grande revolução. Porto Alegre: IHGRS, 1933.

49
50
Capítulo 6

Ebulições sociais no
Nordeste oitocentista:
“dominação” e
“subversão”

Objetivos
●● Estudar as revoltas populares do Nordeste no século XIX;

●● Analisar criticamente a participação dos populares no Ronco da Abelha e no Quebra


Quilos;

●● Abordar a participação dos negros nos movimentos sociais do século XIX.

Introdução
No capítulo anterior, estudamos algumas “rebeliões” ou movimentos
sociais que emergiram no Brasil no século XIX. Para dar continuidade
ao tema, neste capítulo iremos analisar alguns momentos de
subversão que caracterizam o nordeste brasileiro no oitocentos.

Adentrar as condições sociais que caracterizam a vivência numa


sociedade assentada na grande propriedade (monocultura), nas
relações paternalistas, bem como nas explorações constitutivas da
condição tênue do “ser/estar” pobre, livre ou escravo em meados
dos oitocentos no Nordeste não pode se fazer sem que atentemos
aos diversos lugares sociais constituintes dessa sociedade. Portanto,
prezado estudante de História, o presente capítulo procura enveredar
pelos caminhos e atalhos das “rebeliões” populares travadas
no contexto sócio-político desta sociedade, problematizando os
movimentos do “Ronco da Abelha” e do “Quebra quilos” como
“sedições” protagonizadas por homens/mulheres pobres, livres ou
escravos no seio de uma organização social da qual a sua própria
condição estava pretensamente excluída ou relegada às esferas do
“não-lugar”. Diz Mendonça:

Não houve uma atividade socioeconômica (...)


em que os africanos e seus descendentes não

51
estivessem empregados. Lá estavam eles nos
algodoais, nas fazendas e currais, plantando e
colhendo o feijão, o milho e a mandioca, extraindo
da cana-de-açúcar a aguardente e a rapadura nas
engenhocas. Desempenhavam, ainda, as mais
variadas funções domésticas. Trabalhavam como
ferreiros, sapateiros, marceneiros, pedreiros, e
nos demais ofícios artesanais. Sua presença
se faria notar ainda no pequeno comércio,
feito principalmente nas feiras semanais, onde
compravam, vendiam e trocavam os mais diversos
tipos de mercadorias e bens, resultantes de seu
próprio trabalho autônomo, de suas roças ou de
outros expedientes. (MENDONÇA, 2007, p.).

Falas e gritos de homens e algumas mulheres ecoaram na denúncia


e contestação a uma estrutura político-econômica na qual não
encontravam respaldo, a não ser nos momentos de crise financeira
quando da necessidade de intensificar a já tão degradante exploração
da qual eram “vitimados/as”.

Valendo-se de cacetes, bacamartes e clavinotes (espingardas


estriadas) os clamores desses segmentos sociais passaram a ser
expressos mediante eventos atribuídos como “sediciosos” pelas
autoridades repressoras numa clara demonstração de como, através
do discurso, puderam desautorizar as falas e as reivindicações dessa
“massa atônita e desvalida”.

O Ronco da Abelha (1851-1852), primeiro levante abordado neste


Atenção capítulo, encontra nos autos dos decretos imperiais6 797 e 798
6
Os respectivos decretos indícios que apontam para interpretação, por parte das classes menos
imperiais convocavam favorecidas economicamente, de uma espécie de escravização dos
o recenseamento geral
da população imperial, homens pobres, brancos e “livres”. Inconformados com as medidas
bem como a mudança que foram escritas e postas em prática pelo governo Imperial, o Ronco
das atribuições das
da Abelha envolveu vilas e cidades de cinco províncias do Nordeste:
certidões de registros civil
de nascimentos e óbitos Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe.
que a partir de tal medida
passariam a ser feitos O movimento ganhou mais unidade e participação popular na Paraíba
pelos escrivães dos juízes
e em Pernambuco. Na Paraíba, revoltaram-se as vilas de Ingá,
de paz dos distritos (SÁ,
2005, p. 86) Campina Grande, Fagundes, Areia, Alagoa Grande e Guarabira.
Durante os levantes, engenhos e vilas foram saqueados e os grandes
proprietários, bem como as autoridades locais, tiveram que se
refugiar para não serem linchadas pela multidão. Em Pernambuco, os
registros oficiais assinalam que

52
No dia 1º de janeiro de 1852, homens, mulheres
e meninos armados cercaram a igreja matriz
de Pau D`Alho, sob a liderança de João dos
Remédios. Seria um benzedor? Um homem das
ervas? Nada nos é dito. João dos Remédios teria
comandado, inicialmente, cerca de mil pessoas,
tendo o grupo em Pau D`Alho chegado, no final do
movimento, a quatro mil pessoas. Ao perceberem
que não teriam chance de vitória, as autoridades
locais mandaram aviso ao governo da província
e se retiraram - inclusive um destacamento de 18
praças (OLIVEIRA, 2005, p. 121).

Mas por que a população se revoltou? Tudo isso foi motivado, como
citado anteriormente, por dois decretos lançados em junho de 1851.
O primeiro decreto, o 797, tratava do recenseamento da população,
e o segundo, o decreto 798, tratava do Registro Civil no caso de
nascimento e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora,
passaria à responsabilidade de funcionários do Estado. O decreto
797 deveria entrar em vigor no dia 15 de julho de 1852 e o decreto
798 no dia 13 de janeiro de 1852.

Esse evento teria suscitado a “insurgência” de homens pobres/livres


a rebelarem-se diante das opressões e exclusão sócio-econômica a
qual eram constantemente relegados. O historiador Marc Hoffnagel
desenha o cenário dessa revolta:

Na Vila do Ingá um grupo de mais de 200


populares invadiu a casa do escrivão e “apoderou-
se de todos os papéis e livros que encontrou, com
o fim de obter a lei ou regulamento acerca dos
nascimentos e óbitos, e destruir tudo que existisse
e dissesse respeito a este negócio”. Frustrados
nesta tentativa, os rebeldes invadiram a casa do
delegado e de “outros distintos cidadãos amigos
do governo” onde “estragarão as sua mobílias
e praticavam outros atos de estúpida vingança”.
(HOFFNAGEL, 1990, p. 47).

Todavia, valendo-se da análise conjuntural em que se encontra a


província da Parahyba, bem como as demais províncias nortistas
faz-se necessário compreender esse movimento a partir das
consequências do fim do tráfico negreiro, Lei Eusébio de Queiroz
(1850), e, por conseguinte, ao aumento do tráfico interno de escravos
caracterizado pelo aumento do preço do escravo no “mercado
nacional” (SÁ, 2005).

53
Somando-se a isto, observam-se as transformações pela qual
passou a sociedade paraibana, principalmente às regiões do agreste
e zona da mata, focos irradiadores desse movimento, ao longo dos
anos 1840, quando do aumento da exportação de algodão para
abastecimento do setor têxtil inglês em plena apoteose da então
“Revolução Industrial”.

Assim, o “ser pobre, livre ou escravo” nessa organização social


instituía uma completa submissão, bem como latente cerceamento
das condições de subsistência prenunciadas pela adoção de medidas
sócio-econômicas que prendiam o pequeno proprietário aos laços
patronais da grande propriedade. A violência, física ou simbólica,
fazia parte do cotidiano dos escravos. Assim, os senhores tinham a
sua disposição um grande número de recursos para reprimir seus
escravos. No entanto, “os proprietários não podiam fazer o que bem
entendessem, pois, além das leis oficiais, havia um conjunto de
práticas costumeiras que, caso fossem rompidas unilateralmente,
poderiam ter sérias consequências políticas” (MENDONÇA, 2007, p.).

Autores e obras
Sobre as revoltas populares no Nordeste do século XIX, consulte:

MELLO, Evaldo Cabral de. A ferida de Narciso, ensaio de história regional. São
Paulo: Editora Senac, 2001,

MARSON, Isabel. O Império do progresso. a revolução praieira em Pernambuco


(1842-1855). São Paulo: Brasiliense, 1987.

MOTA, Carlos G. Viagem Incompleta, a experiência brasileira, 1500-2000. São


Paulo: Senac, 2000.

OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira de. O Ronco da Abelha: resistência popular e


conflito na consolidação do Estado nacional, 1851-1852. Alm. braz. [online]. 2005,
n.1, p. 120-127

REZENDE, Antonio P. A Revolução Praieira. São Paulo: Ática, 1995.

Nesse ínterim, as condições sociais que teriam motivado esses


camponeses, na maioria das vezes regidas sob laços de sociabilidade
assentados no respeito secular, a “rebelarem-se” diante da situação de
descaso reside na ameaça protagonizada pelo “risco” expresso pelos
decretos 797 e 798 de 1852. “Como grande parte dos homens livres
pobres havia passado pela experiência da escravidão, o temor de que
o censo e o registro civil abrissem caminho para a reescravização

54
logo se espalhou. Por isso, os registros foram considerados ‘papéis
do cativeiro’”. Ou seja, táticas eram utilizadas pelos escravos em
momentos de embates, quando viam-se atemorizados diante das
ameaças do governo ou dos seus senhores.

Por mais que seus donos tentassem transformá-


los em coisas, eles procuravam preservar sua
dignidade humana impondo limites à exploração
econômica e à opressão social. Para tanto,
utilizaram muitas estratégias, de acordo com os
contextos históricos em que estiveram inseridos
ao longo do tempo. Este processo complexo, feito
de embates, conflitos, alianças e negociações
cotidianas, era gestado no mundo do trabalho e
se estendia a todas as dimensões da vida social.
(MENDONÇA, 2007, p.).

Ao longo desse processo de denúncias e sedições interessa observar


as conotações políticas assumidas por tais fatos diante de um
contexto estatal caracterizado pelas mútuas acusações entre Liberais
e Conservadores, diante do revezamento dos cargos burocráticos
assumidos por ambos ao longo do governo de Pedro II.

A repressão, bem como o silenciamento aos “insurretos” fez-se a


partir de múltiplas estratégias assumidas tanto pelo “embate”, tendo
em vista a “ausência” de evidências de combates entre as forças
governamentais e os “rebeldes” como pela ação da Igreja católica
na tentativa de “abrandar” os “corações” mais “revoltosos”. Como
terceira via, apontamos para a desautorização do referido movimento
a partir do condicionamento de seus quadros à condição de “rebeldes
primitivos” que tal como abelhas e/ou maribondos dispersos
incomodariam a “paz social” assentada na grande propriedade, bem
como no desenvolvimento econômico da monarquia.

Passados pouco mais de vinte anos após os gritos ecoados pelas


“abelhas insurgentes” novas manifestações seriam protagonizadas
por esses homens “marginalizados” diante da perspectiva de
modernização e desenvolvimento econômico que nortearia as
práticas políticas e econômicas da monarquia, agora abalada por
uma crise constituída entre a Igreja e o poder imperial de Pedro II.
Inconformados com as novas medidas teria início uma nova sedição:
o quebra-quilos, um movimento social que envolveu populares. Em
31 de outubro de 1874, em Campina Grande, na Paraíba, centenas
de pessoas invadiram a feira da cidade protestando contra os
novos pesos e medidas. Aos gritos, quebravam os moldes de quilos

55
dos feirantes, que eram fornecidos (vendidos ou alugados) pela
administração municipal. Os revoltosos invadiram os mercados,
coletorias e a Câmara Municipal, destruíram os novos padrões de
pesos e medidas e queimaram os arquivos contábeis do governo
(MEDEIROS, 2004).

Cartaz alusivo ao movimento quebra-quilos

A conjuntura econômico-social pouco mudara face aos acontecimentos


de 1852, apenas abalada por uma crise no sistema capitalista
internacional, bem como das transformações experimentadas
no processo de recrutamento das Forças Armadas. Em meio ao
delineamento desse quadro social, observam-se as exigências no
que tange a modificação do sistema métrico-decimal, respingando,
consequentemente, no aumento da cobrança de impostos sobre
“chão” que passaria a partir de então a assumir a condição de
exigência de comercialização dos mais variados produtos nas
feiras regionais da Paraíba e de outras províncias vizinhas. Para os
populares, essas novas medidas ofendiam os costumes e a tradição
do país. “Além disso, em tempos de crise, o povo esperava por ajuda,
não por cobranças. Como os tributos eram calculados utilizando as
novas medidas (quilos, litros e metros), a obrigatoriedade de utilizá-
las foi a gota d’água para a revolta”. Acrescenta Medeiros:

Aos poucos, a revolta se alastrou para outras


vilas e cidades paraibanas, além dos estados de
Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte. Em
todos esses lugares, a multidão revoltada tinha a
mesma característica: a de buscar nas sedições
uma espécie de legitimação para seus costumes,
que de repente vinham sendo atacados pelas

56
autoridades. Uma reação diante da conjuntura da
época: para ingressar na via da modernização,
o Brasil estava deixando para trás a tradição em
que o que vale é o reconhecimento direto e o
“apalavrado”. (MEDEIROS, 2004).

Insuflados pelas diretrizes liberais, mediante a mútua acusação


inscrita em jornais representantes de ambas as “facções”, novamente
se observaria a “sedição” de pequenos comerciantes e agricultores
acerca da condição de exploração evidenciada pelo ato abusivo de se
cobrarem impostos excedentes e não condizentes com a realidade de
homens pobres, cerceados pela conjuntura econômica. Insatisfeitos,
os populares saíram às ruas para queimar os papéis dos cartórios,
hostilizar autoridades e quebrar pesos e medidas do novo sistema
métrico decimal que havia sido instituído. Luciano Mendonça é
enfático:

Alguns dias depois, um contingente de negros


entrou em cena, só que com objetivos próprios.
Subdivididos em pequenos grupos, liderados pelo
nosso já conhecido Firmino, por um seu irmão
também cativo de nome Manuel do Carmo e pelo
liberto Benedito, eles procuraram negociar com
as autoridades civis e eclesiásticas da cidade,
exigindo - na lei ou na marra - a liberdade.
Agindo dessa forma, deixaram em pânico
senhores e autoridades, que, comandados pelo
coronel Alexandrino Cavalcante de Albuquerque,
conseguiram reprimir, a ferro e fogo, a insurreição
negra em curso. (2007, p.).

A dimensão religiosa representada pelos “Quebra-quilos”


tem encontrado respaldo por parte de algumas abordagens
historiográficas, tendo em vista os constantes ataques dos “revoltosos”
nos autos dos processos aos maçons, o que para alguns estudiosos
da questão, como o historiador Horácio de Almeida, residiria em fortes
indícios identificadores desse movimento com questões de fanatismo
religioso. Esta perspectiva não diverge do discurso assumido pelo
governo provincial, talvez numa eminência de ver desautorizado o seu
“poder” em face às resistências liberais que provavelmente insuflavam
o movimento, alimentando anseios e perspectivas de melhores
condições sociais vislumbradas por esses “pequenos comerciantes,
feirantes e agricultores”.

57
Imagem do quebra quilos. Arquivo: digitalização.fundaj.gov.br

Não se pode negar, entretanto, o envolvimento de alguns segmentos


da Igreja Católica no desenrolar dos acontecimentos. Tal premissa
encontra respaldo através de envolvimentos de párocos no
“movimento sedicioso” como, por exemplo, o Padre Calixto que na
cidade de Campina Grande teria, através de seus sermões, suscitado
às “massas subalternas” a reagirem e desobedecerem às regras
normatizantes e exploratórias instituídas por uma burocracia estatal
que invisibilizava seus anseios e condição social. No entanto, mais
uma vez os revoltosos perderam, sendo massacrados pelas forças do
Império. Tanto o povo revoltado quanto os seus líderes foram punidos.

Esses líderes passaram a ser perseguidos no


começo de 1875, com o crescimento da revolta.
No Rio Grande do Norte, duas pessoas morreram
e cinco se feriram depois de um dia de reação das
forças imperiais. As tropas do governo, armadas
de baionetas e espingardas, chegaram por mar, a
bordo do navio Werneck, vindas do Maranhão para
o Rio Grande do Norte. Os cabeças do movimento
foram processados e, alguns, obrigados a
restabelecer os novos pesos e medidas por eles
destruídos nos mercados e feiras, e obrigaram-se
a indenizar aos particulares o dano causado nos
seus estabelecimentos. (MEDEIROS, 2004).

Destarte, não podemos esquecer a capacidade ativa e criativa desses


segmentos sociais em mobilizarem-se frente à ineficácia de uma
organização político-econômica totalmente ausente em suas práticas
e necessidades cotidianas, possibilitando, assim, sua intervenção,
mesmo que indesejada nos desejos de mudança econômico-social.

58
Dos caminhos e atalhos da(s) “liberdade(s)” na Parahyba
oitocentista: uma abordagem historiográfica da obra “Gente
negra na Parahyba oitocentista”

Valendo-se das análises fragmentárias presentes em Livros


de Registros Cartoriais, Certidões testamentais, dentre outros
documentos capazes de estabelecer um “elo” entre a vivência de
homens e mulheres escravos e livres na Parahyba oitocentista
ROCHA (2009) indaga acerca das condições de possibilidade que
teriam suscitado àqueles/as homens e mulheres escravos a obterem
a condição de “libertos/as” no seio de uma sociedade assentada em
relações paternalistas, bem como no delineamento da conjuntura
sócio-econômica que redefinia as novas formas de estruturação
daquela sociedade escravista.

Partindo dessa premissa, a obra “Gente Negra na Parahyba


oitocentista” (ROCHA, 2009) incita à “obtenção de respostas” que,
como ressalta a autora, não se encontra na esfera do certo e do
errado, apenas suscitam através de indícios e sinais uma melhor
compreensão do lugar social do “ser escravo/a” na sociedade
paraibana ao longo do século XIX.

Dessa forma, torna-se de fundamental importância compreender


o delineamento da conjuntura econômica pós-Lei Eusébio de
Queiroz (1850), quando da “proibição” do tráfico transatlântico de
escravos/as, contribuindo, dessa forma, para o aumento do preço
dessas “mercadorias” e, consequentemente, suscitando um tráfico
interprovincial com vistas ao abastecimento das culturas cafeeiras
do centro-sul que impulsionadas pelo aumento do preço do café no
mercado internacional necessitavam de “braços trabalhadores” para
assegurarem os índices de crescimento econômico.

Tal quadro econômico se relaciona com as condições sociais do “ser”


escravo ao longo da segunda metade do século XIX, na medida em
que provocariam redefinições nas suas formas de relações, de modo
a provocar, por vezes, a abrupta separação entre membros de uma
mesma família ou companheiros de cativeiros que reinventaram nas
terras do “novo mundo” novas formas de sociabilidade e parentesco
familiar e/ou religioso (ROCHA, 2009).

Considerado as proposições supracitadas, a autora nos indaga a partir


de uma pergunta que permeia toda a obra, de forma a possibilitar
“responder” “quem eram as pessoas escravizadas que conseguiam
obter o “titulo de liberdade” na província da Paraíba nas décadas de

59
1840 e 1860?”.

Homens e mulheres que foram capazes de usar de táticas e astúcias


que possibilitassem alcançar a condição pretensamente esperada por
todos e todas que tiveram sua liberdade “podada” pela vigência de
um sistema comercial assentado na exploração “homem x homem”.

Estudos realizados pela autora evidenciam diversas formas de se


conseguir a libertação do cativeiro, tendo em vista a aparente situação
de imobilidade social que caracterizava a referida sociedade, bem
como as próprias ideias modernizantes de “higienização social/racial”
que começavam a ganhar adeptos a partir das reformas urbanas
instituídas nos bulevares europeus.

Todavia, a capacidade de se reinventar, bem como obter a tão


desejada “liberdade” pode ser expressa a partir de duas formas
particulares que, segundo a autora, caracterizavam os processos de
alforria.

Assim, as cartas de alforria “batalhadas” por escravos e escravas


podiam ser obtidas mediante a compra ou através da “concessão” do
senhor/senhora. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que mesmo
nos casos de “concessão” e compra a obtenção dessa liberdade não
se fazia, na maioria das vezes, de forma tão simplificada, tal como
muitas vezes nos é sugerido por estudos historiográficos. Havia, no
seio dessa sociedade, formas de impor ao escravo/escrava, mesmo
que este/a comprasse sua alforria, formas de se estabelecer domínio
através de cláusulas impositivas capazes, muitas vezes, de retardar o
caminho da “liberdade”.

Caminho este, ensejado por homens e mulheres que através da


execução de atividades de ganho nos centros urbanos puderam juntar
alguma renda que possibilitasse a compra de sua alforria.

Mesmo nos casos de “concessão” da “liberdade” ao escravo/escrava


pelo senhor/a deve-se considerar a relativa submissão destes/as
aos trabalhos forçados no meio urbano e/ou rural. Contudo, como
ressalta o texto, a compreensão de exploração “homem x homem”
deve ser problematizada apenas na atual conjuntura social, fazendo-
se, naquele período, algo natural e símbolo de ostentação de poder e/
ou garantia de aumento dos “braços trabalhadores”.

Em meio a esse contexto social observamos, mediante os estudos


trilhados pela autora, a predominância do gênero feminino nas cartas
de alforria numa provável elucidação das relações afetivas que

60
podiam permear a vivência nesta sociedade, ou até mesmo, indícios
de envolvimentos sexuais que possibilitassem aos senhores alforriar
as mães de “seus filhos” por “descarrego de consciência” devido à
fragilidade humana” e “pelos bons serviços da mãe das crianças” (LN
-1841-46, fls. 16-17, IHGP apud ROCHA, 2009, p. 271).

Regidos por um ethos católico capaz de dissimular através do “amor


divino” as dissonâncias de uma sociedade escravista, observamos
através das atribuições discursivas presentes em testamento e
registros de alforria a necessidade de se posicionar a partir da
condição de benevolência e complacência com o “amor” designado
por seus senhores aos escravos.

Como reitera a autora, não se quer negar aqui a existência de laços


afetivos existentes entre senhores/as e escravos/as, mas o que
interessa nesse texto é a compreensão das múltiplas formas de se
obter a “liberdade” no seio de uma sociedade escravista.

Formas que apontam para uma diversidade ou até mesmo para


ocorrência de casos incomuns aos olhos da historiografia tradicional,
como o caso de forros que possuíram escravos/escravas, ou casos
de hipotecas de escravos como garantia da quitação de dívidas
retardando, muitas vezes, os anseios de liberdade.

Liberdade esta, que tinha um preço muita caro, tanto em seu sentido
econômico como na sua forma de sociabilidades humanas. Deve-se
ressaltar aqui a extrema dificuldade dos libertos e libertas inserirem-
se em uma organização social caracterizada pelas ideia eugenistas,
reforçadas pelos paradigmas de modernização social/racial.

Todavia, o que é reiterado pela autora ao longo de sua investigação


consiste na utilização do mecanismo da alforria como forma de
“docilização” e “normatização” da estrutura social que, através do
princípio da alforria/liberdade pode manter sempre vigiados escravos
e escravas nas promessas, muitas das vezes não realizadas, de
obtenção da “liberdade”.

O que a autora enuncia e que podemos perceber através dos


depoimentos citados na obra é que tal artimanha utilizada pelos/as
senhores/as esbarraram nas astúcias dos escravos e escravas que
puderam valer-se desse mecanismo para obter a liberdade ou redefinir
espaços abortados na viagem transatlântica nos navios “tumbeiros”.

61
Saiba Mais
A Revolta dos Malês

O Norte (hoje Nordeste) no período regencial se envolveu diversas vezes em conflitos.


Além dos que estudamos neste capítulo, gostaríamos de chamar atenção para outra
revolta: a dos Malês (muçulmano na língua ioruba), ocorrida em Salvador em 1835.
Sobre esta revolta, o historiador bahiano João José Reis explica que a revolta envolveu
cerca de 600 homens, embora esse número equivalha a 24 mil pessoas nos dias de hoje.

“Os rebeldes tinham planejado o levante para acontecer nas primeiras horas da manhã
do dia 25, mas foram denunciados. Uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da
Praça onde estava reunido um grupo de rebeldes. Ao tentar forçar a porta para entrarem,
os soldados foram surpreendidos com a repentina saída de cerca de sessenta guerreiros
africanos. Uma pequena batalha aconteceu na ladeira da Praça, e em seguida os
rebeldes se dirigiram à Câmara Municipal, que funcionava no mesmo local onde funciona
ainda hoje”.

Mas por que os rebeldes atacaram a Câmara? A resposta dada foi que o ataque foi em
detrimento de que, em seu subsolo, havia uma prisão onde se encontrava preso um
dos líderes malês, o idoso Pacífico Licutan. No entanto, o ataque à prisão não foi bem
sucedido, pois o grupo foi surpreendido no fogo cruzado entre os carcereiros e a guarda
do palácio do governo, localizado na mesma praça. Este grupo de rebeldes saiu pelas
ruas da cidade aos gritos, procurando acordar os escravos da cidade para se unirem a
eles. Sobre isto, diz João José Reis:

Dirigiram-se à Vitória onde havia outro grupo numeroso de malês que eram escravos
dos negociantes estrangeiros ali residentes. Após se unirem nas imediações do Campo
Grande, os rebeldes atravessaram em frente ao Forte de São Pedro sob fogo cerrado
dos soldados, indo dar nas Mercês, de onde retornaram para o centro da cidade. Aqui
atacaram um posto policial ao lado do Mosteiro de São Bento, outro na atual Rua Joana
Angélica (imediações do Colégio Central), lutaram também no Terreiro de Jesus e
outras partes da cidade. Em seguida desceram o Pelourinho, seguiram pela Ladeira do
Taboão e foram dar na Cidade Baixa. Daqui tentaram seguir na direção do Cabrito, onde
tinham marcado encontro com escravos de engenho. Mas foram barrados no quartel da
cavalaria em Água de Meninos. Neste local se deu a última batalha do levante, sendo os
malês massacrados.

Muitos rebeldes que tentaram fugir a nado terminaram se afogando. O que comentam
os jornais é que a revolta deixou a cidade tensa durante horas, tendo sido vencida com
a morte de mais de 70 rebeldes e uns dez oponentes. Porém, o medo de que um novo
levante pudesse acontecer se instalou durante muitos anos entre os seus habitantes
livres. Um medo que, aliás, se difundiu pelas demais províncias do Império do Brasil,
principalmente na capital do país, o Rio de Janeiro, onde os jornais publicaram notícias
sobre o acontecido na Bahia e as autoridades submeteram a população africana a uma
vigilância cuidadosa e muitas vezes a uma repressão abusiva.

Fonte:

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em
1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

62
REIS, João José. A Revolta dos Malês em 1835. Disponível em: http://www.smec.
salvador.ba.gov.br/documentos/a-revolta-dos-males.pdf.

Revisão
Este capítulo foi dedicado ao estudo de algumas revoltas do interior do Nordeste, com
destaque para o Ronco da Abelha e para o Quebra Quilos, dois movimentos sociais que
contribuíram para mostrar que a população pobre, quando pressionada e lesionada em
seus direitos, usa da força para contestar, reclamar e exigir que as autoridades civis
e eclesiásticas ajam ao seu favor. Esses dois movimentos preocuparam fortemente as
autoridades provinciais porque vilas inteiras do Nordeste aderiram aos movimentos de
rebeldia contra o decreto que impunha a implantação de um novo sistema métrico (no
caso do Quebra Quilos), ou pela insatisfação com os decretos sobre recenseamento
(decreto 797) e o decreto 798, que tratava do Registro Civil no caso de nascimento
e óbito, anteriormente feito pela Igreja e que agora, passaria à responsabilidade de
funcionários do Estado.

Dicionário de Termos Históricos


●● Bacamartes: (do francês braquemart) é uma arma de fogo curta,
de cano largo e curto, reforçada na coronha. O bacamarte é uma
das armas mais especializadas em uso nos séculos XVIII e XIX.
Era de grande calibre, pois seu objetivo era espalhar uma carga de
chumbo grosso (de 20 a 40 balins de cerca de 10 mm de diâmetro)
contra massas de tropas. Devido a esta poderosa carga, era uma
arma muito pesada, chegando a pesar cerca de 15 quilos. Por
causa desse peso a arma chamava-se “de amurada”, pois tinha
um espigão central, sobre o qual ela era colocada na amurada
de navios, em furos existentes, pois o seu disparo do ombro do
atirador era impossível.

●● Lei Eusébio de Queiroz: legislação que proibiu definitivamente o


tráfico de escravos para o Brasil, consagrando para a história o
nome de seu autor, o ministro Eusébio de Queirós Coutinho Matoso
Câmara. A Lei Eusébio de Queiroz foi aprovada em 4 de setembro
de 1850, apesar de não ter sido a primeira a proibir o tráfico de
africanos para o país, foi a primeira a surtir impacto relevante sobre
a escravidão.

●● Eugenia: termo elaborado em 1883 por Francis Galton (1822-


1911), significando “bem nascido”. Francis Galton definiu eugenia

63
como o estudo dos agentes sob o controle social que podem
melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras
gerações tanto física quanto mentalmente.

Atividades
1. As histórias em quadrinhos são excelentes ferramentas para criticar, refletir, avaliar
Atenção e rever conhecimentos. Nesta atividade, proponho a você, caro estudante, elaborar
uma HQ (história em quadrinhos) sobre o Ronco da Abelha ou sobre o Quebra-
7
Para ajudá-lo nessa
tarefa, você pode quilos7. Você pode confecionar a HQ em um dos sites gratuitos da internet8.
consultar os seguintes Após a elaboração da mesma, é importante que você poste no ambiente virtual da
sites: http://www.divertudo. EAd-UFRPE.
com.br/quadrinhos/
quadrinhos.html http:// 2. O Seminário é um momento de organizar conhecimento e compartilhar saberes
www.cacapavasite.com.br/ com os demais colegas do curso de História. Na EAD, o seminário pode tornar-se
Espa%E7o%20Galerinha/
criandohq.htm. uma ferramenta muito interessante de sociabilidade entre colegas de turma, bem
Caso você deseje criar como uma oportunidade para apresentarmos as pesquisas e leituras que estamos
quadrinhos on line, desenvolvendo nas disciplinas. Com este objetivo, elabore com os seus colegas
os sites são: http:// de turma um seminário sobre “Os Movimentos Sociais no Nordeste no século XIX”
superherosquad.marvel.
com/comics/Marvel_ para ser apresentado no próximo encontro presencial. Como material de apoio,
Super_Hero_Squad.150. além do capítulo III deste volume, a equipe pode consultar os seguintes textos de
apoio: A centralidade dos movimentos sociais na articulação entre o estado e a
sociedade brasileira nos séculos XIX e XX, de DO BEM, Arim Soares (disponível
em: http://www.scielo.br/pdf/es/v27n97/a04v2797.pdf);

Atenção CORREIA DE ANDRADE, Manuel. Lutas camponesas no Nordeste. São Paulo:


Ática, 1986;
8
No site http://
einteressante.com/5-sites- OLIVEIRA, Iranilson Buriti de. Artes de curar e modos de viver na geografia do
para-criar-quadrinhos- cangaço. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Set 2011, vol.18, no.3, p.745-756;
online-gratis.html você
pode escolher um dentre VENTURA, Roberto. Visões do deserto: selva e sertão em Euclides da Cunha.
5 sites gratuitos para Hist. cienc. saude-Manguinhos, Jul 1998, vol.5, p.133-147;
elaboração de HQs.
CARVALHO, Marcus J. M. de. Os nomes da revolução: lideranças populares na
Insurreição Praieira, Recife, 1848-1849. Rev. Bras. Hist., Jul 2003, vol.23, nº.45,
p.209-238.

3. Elabore um blogfólio (portfólio em forma de blog) na plataforma moodle com textos


e imagens mostrando o que você aprendeu sobre os movimentos sociais no
Nordeste do século XIX. No blogfólio, você deverá:

a) Elaborar o índice;

b) Fazer uma introdução mostrando a importância do conteúdo para a sua


aprendizagem;

c) Elencar os trabalhos que você fez durante a disciplina, especificamente


neste capítulo (resenhas, artigos, trabalhos individuais e/ou em grupos,
comentários do professor, vídeos sobre o assunto, etc.);

64
d) Apresentar uma rápida conclusão, mostrando de forma sucinta o que
aprendeu. Cada imagem que você colocar no corpo do portfólio deverá
conter um pequeno comentário. Aproveite as discussões do seminário
(atividade 2) e poste-as em seu blogfólio. Além disso, outros temas poderão
ser postados em seu blogfólio.

Referências
BASILE, Marcello. O laboratório da nação: a era regencial (1831-1840). In:
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-
1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

GRINBERG, Keila. A sabinada e a politização da cor na década de 1830. In:


GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume II: 1831-
1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

HOFFNAGEL, M. J. . Rumos do Republicanismo Em Pernambuco. In: Leonardo


Dantas Silva. (Org.). A República em Pernambuco. Recife - PE: Massangana,
1990, v., p. 157-179.

MEDEIROS, Paulo Herôncio. Quebrando tradições. Criminalidade e Revolta


Quebra-Quilos em Fins do Século XIX. 2003. Monografia. Curso de História da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

MENDONÇA, Luciano. Os negros do Norte. Revista de História da Biblioteca


Nacional. Setembro de 2007. [Versão on line].

MOREL, Marco. O período das regências (1831-1840). Rio de Janeiro: Jorge


Zahar Ed, 2003.

NEVES, Lúcia M. Bastos. Estado e Política na Independência. In: GRINBERG,


K. e SALLES, Ricardo. O Brasil Imperial, volume 1: 1808, 1831. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009.

OLIVEIRA, Maria Luiza Ferreira de. O Ronco da Abelha: resistência popular e


conflito na consolidação do Estado nacional, 1851-1852. Alm. braz. 2005, n.1, p.
120-127.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma certa revolução Farroupilha. In: O Brasil


Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

RICCI, Magda. Cabanos, patriotismo e identidades: outras histórias de uma


revolução. In: O Brasil Imperial, volume II: 1831-1870. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2009.

ROCHA, Solange Pereira da. Gente Negra na Paraíba oitocentista : população,


família e parentesco espiritual. São Paulo: Editora UNESP, 2009.

SÁ, Ariane Norma de Menezes. Escravos Livres e insurgentes Parahyba (1850-


1888). João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2005.

65
Para navegar
http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/idade-dos-metais.htm;

http://www.brasilescola.com;

http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/bibliografia.htm;

http://www.revistadehistoria.com.br/;

http://www.fafich.ufmg.br/varia/entrada.

Para ler e pesquisar


Revista Aventuras na História

Revista Brasileira de História

Revista Estudos Feministas

Revista Projeto História

Revista Brasileira de História

Para assistir...
O sangrador e o doutor, Rio de Janeiro, 1820.

Série de vídeos da TV Brasil disponível em: http://tvbrasil.org.br/historiasdobrasil/hotsite/


episodio.php?ep=7

Independência ou Morte (Brasil, 1972, 108 min. Direção Carlos Coimbra)

66
Considerações Finais
Chegamos ao fim de mais uma etapa nos estudos da História do
Brasil, de mais um momento importante para refletirmos sobre
o que aprendemos com cada um destes capítulos que narram o
Brasil Imperial (1822-1889). Esta disciplina enriqueceu nossos
conhecimentos, nos desafiou a pesquisar e nos levou a problematizar
o que já sabíamos sobre o Brasil no século XIX.

O fim de uma disciplina ou de um livro como este não significa que o


conhecimento sobre o assunto foi esgotado. Pelo contrário, há muitas
informações a respeito desse conteúdo que não foram abordadas
neste espaço. Ficará o desafio de você, como estudante do curso
de História, mergulhar em outros cenários de pesquisa, em outras
geografias do conhecimento em busca de novos textos sobre D. Pedro
I, D. Pedro II, período regencial, II Império, revoltas e movimentos
sociais, acerca dos movimentos sediciosos em seu Estado, sobre
as tradições culturais brasileiras no século XIX, acerca das fontes e
metodologia da história do Brasil. Para tanto, não fique acomodado
com apenas este livro. Busque paradidáticos, dissertações e teses
sobre o tema, sites postados neste material ou indicados pelos
professores, enfim, existem muitos outros lugares de aprendizagem,
de leitura, de pesquisa que você poderá conhecer e se apaixonar. A
História do período regencial, como você viu, é um lugar temporal
apaixonante, uma fase da nossa história passada que nos atrai cada
vez que lançamos o nosso olhar sobre ela.

Dessa forma, quero desafiá-lo a refletir novamente sobre o que


você aprendeu ao estudar cada capítulo e pesquisar os assuntos
sugeridos, elaborar o seu blogfólio, escrever seus artigos, interagir
com a plataforma moodle. Que novos conhecimentos foram
incorporados aos outros saberes que você já possuía? Que novas
expressões, vocábulos e curiosidades você assimilou ao longo das
leituras? Que novas descobertas foram feitas mediante as atividades
propostas? Assim, utilizo este espaço das considerações finais para
compartilhar com você alguns princípios que são fundamentais para
o nosso desenvolvimento como estudante, como pesquisador, como
aluno do curso História. São eles:

1. O saber é uma busca constante. Por mais que conheçamos sobre


o assunto, devemos diariamente renovar as nossas leituras,
elaborar novas pesquisas, conversar com outras pessoas, tirar

67
dúvidas com os tutores ou professores.

2. O exercício da escrita constitui um momento privilegiado para


todos nós. Quanto mais escrevemos, mais aprendemos a escrever.
Portanto, sinta-se estimulado a desenvolver cada exercício
proposto neste livro. Apesar de estar dando esse “conselho” nas
considerações finais, um lugar não muito apropriado para falar de
escrita, meu objetivo é mostrar para você que escrever deve fazer
parte de sua rotina, de seu habitus cotidiano. Portanto, se você
não fez alguma das atividades propostas, volte ao capítulo, releia
as informações e, depois, responda cada uma das atividades, pois
esta atitude é fundamental para o seu crescimento intelectual.

3. Faça anotações sobre suas dúvidas e, quando necessário,


retorne a este material e reveja cada capítulo, revendo os
boxes e os textos principais. A segunda leitura de um texto nos
permite ver e ler coisas que não enxergamos durante a primeira
leitura. Portanto, reler os capítulos é um exercício fundamental
para compreendermos melhor as ideias e sugestões do autor.
Conforme o educador espanhol Jorge Larossa, quando você ler,
torna-se um autor também!
Espero ter contribuído com o seu crescimento intelectual e
despertando em você o interesse por este assunto tão importante
para a compreensão da História.

Boa sorte para você!

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Conheça o Autor

Iranilson Buriti
Iranilson Buriti possui graduação em História pela Universidade
Federal da Paraíba (1994), mestrado em História pela Universidade
Federal de Pernambuco (1997), doutorado em História pela
Universidade Federal de Pernambuco (2002) e pós-doutorado
em História das Ciências e da Saúde na Casa de Oswaldo Cruz -
Rio de Janeiro. Atualmente é pesquisador do CNPq e membro do
conselho editorial da Revista Mneme (1518-3394) e Revista de
Humanidades da Universidade de Fortaleza. É professor Associado
I da Universidade Federal de Campina Grande. Foi coordenador
do Curso de Mestrado em História da UFCG. Faz parte do quadro
de avaliadores institucionais e de curso do BASIs/INEP/MEC. Autor
de livros didáticos na área de História. Tem experiência na área de
História e de Pedagogia.

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