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Pré-História
Volume 3
Recife, 2011
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Apresentação.................................................................................................................. 4
3º momento – a contemporaneidade............................................................................12
Texto Complementar:.....................................................................................................34
Considerações Finais..................................................................................................... 60
Conheça o Autor........................................................................................................... 61
Apresentação
Este é o volume III do seu material de Pré-História. Até aqui, já vencemos importantes etapas. Estudamos
o volume I, o volume II, vimos textos complementares, respondemos exercícios, fizemos uma série de leituras
importantes e necessárias para a compreensão da escrita da história e da memória na Pré-História. No volume
I fizemos um panorama geral da Pré-História, desde a construção do conceito de Pré-História até os estágios de
desenvolvimento do homem na terra. No volume II, passeamos pelos períodos denominados de Paleolítico,
Neolítico e Idade dos Metais, além de apresentar um importante capítulo acerca da Arqueologia, um campo de
conhecimento muito significativo para o estudo, a pesquisa e a compreensão da Pré-História.
Neste volume, iremos estudar um conteúdo muito expressivo para a Pré-história. Para tanto, organizamos
o referido conteúdo em três capítulos, a saber: A paleoantropologia, a sexualidade na Pré-História e o cotidiano e as
práticas religiosas. No primeiro capítulo, você terá contato com a contribuição da paleoantropologia para o estudo
da Pré-História, no qual mostraremos como a interdisciplinaridade tem contribuído para a ampliação das pesquisas
sobre as origens do homem. Além disso, abordaremos como os fósseis são importantes fontes de pesquisa mediante
as quais os pesquisadores problematizam o comportamento do homem, tanto o antigo quanto o moderno.
No capítulo 2 - Nuances sobre a sexualidade humana na (Pré-) História - apresentamos a você, prezado (a)
estudante, um dos aspectos considerados mais humanos do homem: a sua sexualidade. Dessa maneira, veremos
a importância e significados da sexualidade no desenvolvimento histórico de hominização. Sobre este aspecto,
novamente sublinhamos a profunda peculiaridade de nossa espécie, haja vista que se não somos o único animal
sexuado, somos com certeza o mais sexual de todo o espetáculo da natureza, na medida em que a sexualidade
configura-se como uma das bases da hominização. Assim, objetivamos problematizar a elaboração da sexualidade
humana na Pré-História, relacionando-a com as práticas sexuais que ocorrem na contemporaneidade, bem como
analisar a formação das primeiras famílias e da construção do sentimento de afetividade entre os humanos.
No terceiro capítulo, intitulado “A religião entre morte e vida: o cuidado de si”, mostraremos como o
homem, desde o princípio, elaborou relações com o além, com a eternidade, com o outro lado da vida, construindo,
assim, um cuidado de si, um conhecimento sobre suas relações com a vida e com a morte. Este capítulo é um
momento dedicado para pensarmos nossas sensibilidades “ancestrais”, as maneiras de crer e as artes que
motivaram o surgimento da religião. Afinal, como vimos nos capítulos anteriores, o desenvolvimento da linguagem
foi primordial em relação à maneira de nossos primeiros humanos lidarem com o mundo a sua volta. Tudo passou
a ser ressignificado, visto por outros prismas, por outros olhares. A linguagem mudou a forma de o homem se
relacionar com a natureza, com o eterno, com o próprio homem. Portanto, nossos objetivos neste capítulo são:
a) analisar as práticas religiosas na Pré-História; b) compreender como homens e mulheres da Pré-História davam
significados à morte e problematizar como os rituais funerários contribuíram para o nascimento da religião.
Seja bem vindo à leitura e aos espaços de reflexão deste material!
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Capítulo 1 – A Paleoantropologia: contribuições
para o saber historiográfico
Objetivos:
» Geologia (área do conhecimento que estuda a Terra, sua composição, estrutura, propriedades físicas,
história e os processos que lhe dão forma).
» Genética (área da ciência biológica que estuda a natureza química do material hereditário, ou seja, os
mecanismos de transferência das informações contidas nos genes, compartilhados de geração em geração).
» Lingüística (área do conhecimento que se dedica ao estudo da linguagem verbal humana).
» Anatomia (área da ciência biológica que se preocupa em estudar a estrutura e a organização dos seres
vivos, como os órgãos e os sistemas de funcionamento)
» Biologia (área do conhecimento que estuda os seres vivos)
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Pré-História
Autores e Obras
Para complementar as informações acerca das ciências interdisciplinares, listamos alguns livros
e textos que podem ampliar o seu conhecimento:
ARSUGA, Juan L. O colar de Neandertal: em busca dos primeiros pensadores. São Paulo: globo,
2005.
BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. São Paulo: Brasiliense, 2005.
MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense, 2007.
ORLANDI, Eni P. O que é Linguística. São Paulo: Brasiliense, 2005.
SILVA, Gláucia. O que é Sociobiologia. São Paulo: Brasiliense, 2008.
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Pré-História
Sua primeira parada, em janeiro de 1832, foi na Ilha do Cabo Verde. Enquanto a maioria da
população do navio dedicava-se a explorar a costa, Darwin ficava em terra, coletando material da
flora e da fauna, tão pouco conhecidas pelos europeus daquela época.
Darwin no Brasil
De Cabo Verde, a embarcação veio para Fernando de Noronha e, em fevereiro, aportou em Salvador.
Em abril, chegou ao Rio de Janeiro, onde Darwin permaneceu em terra, enquanto seu navio
retornava para Salvador para rever cálculos cartográficos. Ali realizou uma série de observações.
Em meados de 1835 ancoraram no Chile, em Valparaíso. Darwin fez uma expedição nos Andes,
chegou a mais de 1.000 metros de altitude e encontrou fósseis de conchas. Foi nesse momento que
ele pôde perceber que as adaptações aconteciam de acordo com cada ambiente: selvas brasileiras,
pampas argentinos e os Andes. A essa altura, Darwin já estava questionando a imutabilidade das
espécies, o conceito estático da Terra.
No final do ano de 1835, a expedição chegou às ilhas Galápagos. Após as observações realizadas
durante a preparação para armazenamento dos espécimes coletados, Darwin percebeu que em
cada ilha do arquipélago de Galápagos existiam diferentes árvores, cágados e aves. Mas apenas
quando retornou à Inglaterra, consultando ornitólogos, percebeu que os tentilhões, pássaros que
ele havia coletado nas várias ilhas de Galápagos, eram de espécies diferentes.
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Pré-História
Assim, em 1837, ele passou a escrever suas primeiras notas sobre a origem das espécies. Foi aí que
Darwin passou a relacionar as adaptações ao meio ambiente à origem e evolução das espécies.
Em 1938, Darwin tomou contato com a obra de Thomas Malthus (1766-1834), “Ensaio sobre o
Princípio da População”. Nessa obra, o autor observa aumento numérico de indivíduos de uma
população a cada geração e a manutenção dos recursos alimentares, concluindo que tal fato levaria
a uma competição entre os indivíduos da população.
Considerando a variação de cada indivíduo de uma população, Darwin chegou à conclusão que
alguns estariam mais aptos que outros e assim venceriam essa competição pela sobrevivência.
Os indivíduos mais adaptados ao meio possuiriam variações vantajosas em relação aos outros
indivíduos que não as possuíssem. A esse processo Darwin denominou seleção natural.
Darwin e Wallace
Durante a década de 1840, consciente das implicações de seu trabalho sobre a tese da imutabilidade
das espécies e sobre os preceitos religiosos, Darwin estudou minuciosamente os mecanismos da
evolução, baseando-se na teoria da seleção natural, sem publicar suas ideias.
Em 1856 já estava escrevendo o livro “Natural Selection”, mas continuava resistente em expor suas
ideias para a comunidade científica. Até que em 1858 recebeu uma carta de um jovem naturalista
Alfred Russel Wallace (1823-1913) pedindo a apreciação de Darwin sobre as observações que havia
feito no arquipélago Malaio.
Nessa carta Wallace pede para Darwin enviar para Lyell Charles (1797 -1875) seu trabalho, apenas
se considerasse relevante. Logo esse material foi passado por Darwin para Lyell com o comentário
que Wallace havia resumido, de forma esplendorosa, o trabalho que Darwin vinha se dedicando
há 22 anos. Na carta, Wallace desenvolvera uma teoria de seleção natural idêntica a de Darwin.
Porém, como Darwin possuía muito material para apoiar suas ideias (tinha manuscritos com mais
de 15 anos), indicando quanto ele havia trabalhado sobre elas, Wallace reconheceu que Darwin
deveria ser conhecido como o autor principal da teoria. Sendo assim, publicaram, conjuntamente,
em 1858, a teoria na Sociedade Lineana de Londres.
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Pré-História
Com isso Darwin investiu no seu livro “A Origem das Espécies”, que se baseia na seleção natural
(processo da evolução proposto por Charles Darwin para explicar a adaptação e/ou especialização
dos seres vivos) e foi publicado em 1859. Esse foi o livro mais vendido daquele ano, com uma
tiragem de 1.250 exemplares. Apesar das provas detalhadas apresentadas nessa publicação, que
tornaram o conceito de evolução cientificamente respeitável, as ideias de Darwin encontraram
fortes oponentes, tanto na comunidade científica, quanto na religiosa.
Muitos cientistas acreditavam que a teoria era incapaz de explicar a origem da variação entre as
espécies e indivíduos de uma mesma espécie. As igrejas se sentiam afrontadas, pois as ideias de
Darwin, a princípio, contrariavam a criação divina.
Sua teoria passou a ser totalmente aceita pelo meio científico apenas no século XX, depois das
descobertas de Johann Gregor Mendel (1822 -1884), um monge austríaco que se dedicava à
botânica. Mendel descobriu a transmissão hereditária dos caracteres, a qual só ficou conhecida
no início do século XX quando outros botânicos que faziam pesquisas independentes encontraram
suas publicações na Sociedade de Brünn.
[veja a seção Saiba Mais], na medida em que as correlações feitas entre os fósseis, cada vez
mais evidentes, pareciam corroborar as concepções darwinistas e de seus seguidores.
Saiba Mais
“No principio, criou Deus os céus e a terra...” (Gênesis 1:1). Assim começa o livro de Genesis,
o primeiro da Bíblia, narrando a criação do mundo por Iavé. Em outro trecho, o autor do livro
continua a descrição dos feitos: “Então, formou o senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe
soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente3”. Este último versículo
Atenção
é uma narrativa suficiente para que você compreenda o posicionamento da Teoria Criacionista,
que entende que o homem foi originado da criação sobrenatural de um Ser divino. Essa tese tem
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Gênesis 2:7
como adeptos, sobretudo, a população que apresenta vínculos para com as religiões monoteístas
como o Islã e o Judaísmo, além das que derivam do cristianismo, a exemplo do Catolicismo e do
Protestantismo.
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Pré-História
Quanto à Teoria Evolucionista, o que a mesma significa? Para compreendê-la, vamos voltar
um pouco no tempo e visitarmos o século XIX. Um grande cientista, chamado Charles Darwin,
começou a estudar as transformações das espécies. Em seus estudos, o mesmo concluiu que os
seres vivos são fruto de um longo e demorado processo de evolução, de desenvolvimento. O que
Darwin argumentava? Para ele, os homens e os demais seres vivos se transformaram de formas
mais simples para formas mais bem desenvolvidas. Mas não param por aí. Para esse cientista, as
espécies continuam evoluindo, sofrendo mudanças em sua forma de ser e viver. Como ocorreram
(e ocorrem) várias mudanças no meio ambiente, os seres vivos que conseguiram se adaptar aos
ciclos de transformações, estes sobreviveram e evoluíram, à proporção que iam sumindo da terra
os que não conseguiram se adaptar. Darwin denominou este processo de seleção natural das
espécies. Esta teoria é a mais aceita pela comunidade científica como a melhor explicação para a
adaptação das espécies.
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Pré-História
forte atuação da família Leakey, composta pela naturalista Louis Leakey, sua esposa, a
antropóloga e arqueóloga Mery Leakey, e seu filho, Richard Leakey, futuro paleoantropólogo.
Com esta família em ação, esse campo do conhecimento se desenvolveu e se ampliou
consideravelmente, ao mesmo tempo em que o foco das pesquisas nesta área se deslocou
da Ásia para África, não por acaso, mas sim pelo consenso dos mencionados pesquisadores
sobre a origem africana da humanidade.
Partindo desse pressuposto, nas proximidades de Olduvai e Laetoli (Tanzânia) em
1948, o casal descobriu o Proconsul africanus (ver imagem acima). Já em 1959, encontrou
o Paranthropus boisei, um parente próximo do descoberto por Broon. Na década de 1960,
Mery e Louis Leakey encontraram os primeiros fósseis do Homo habilis (isso em 1962) e
um fóssil do Homo erectus (1965), além de terem realizado a catalogação de ferramentas
e objetos encontrados. O filho do casal, em escavações no Quênia na década de 1970,
encontrou o fóssil do que viria a ser o Homo rudolfensis.
Mas, sem dúvida, o grande acontecimento dessa fase para a paleoantropologia, bem
como para os conhecimentos relativos à pré-história, foi a descoberta de um fóssil de mais
de três milhões de anos pelo antropólogo Donald Johanson e sua equipe, em escavações
realizadas na Etiópia, no ano de 1974. Tratava-se do mais antigo dos ancestrais do homem,
o Australopithecus afarensis, daí a importância da descoberta naquele momento e a fama
que logrou alcançar o seu descobridor.
Denominada Lucy, a fêmea (após milhões de anos em processo de absorção
de minerais, o que permitiu sua conservação fóssil e o seu consequente exame) era um
indivíduo ereto, cujo processo de locomoção não dependia necessariamente da capacidade
cerebral, visto que o Johanson mostrou que ela apresentava um cérebro relativamente
muito pequeno, quase minúsculo, apenas 500 centímetros cúbicos, mais precisamente um
terço de nossa capacidade cerebral que é de 1300 centímetros cúbicos, distante, portanto,
da grande capacidade cerebral do homem moderno, a qual constitui de fato o seu diferencial
em relação aos demais seres vivos.
Com 1,05 m de altura e uma estrutura física que lhe permitia uma ótima sustentação
dos quadris aliada à locomoção ereta sem o auxílio de um cérebro volumoso, Lucy adquiriu
muita importância pelo fato de que, a partir dela e de sua ramificação pelo processo
evolutivo, ter sido aberta a possibilidade de conhecimento sobre os primeiros humanos e,
por conseguinte, acerca de nosso desenvolvimento cerebral.
Segundo o paleoantropólogo americano William Kimbel, Lucy pode não ter sido
necessariamente a primeira a andar de pé, mas por ser a mais antiga evidência conhecida
é considerado o marco. O mesmo pesquisador, em conjunto com Johanson, encontrou,
em 1994, um crânio masculino completo, chamado de o “filho de Lucy” pela diferença
temporal de 200 mil anos. Esse achado, junto com o de Lucy, sem dúvida, ajudou na
compreensão da espécie Afarensis, pois suas características físicas e anatômicas confirmam
seu pertencimento ao mesmo grupo, muito embora não seja tão fácil estudá-los pela
diversidade física e anatômica apresentada por ambos.
Isto porque, de acordo com paleoantropologia, os machos dessa espécie são bem
maiores que as fêmeas: elas com 1 metro e eles com aproximadamente 1,40 metro. Isso
levou ao descrédito sobre a existência da espécie Afarensis, já que esta diferença podia
justificar o argumento de que tais ossos seriam o resultado da mistura com ossadas de outras
espécies. Entretanto, a comprovação veio quando se verificou que a diferença na altura
entre sexos é comum a outras espécies do gênero Australopithecus, dimorfismo sexual
observado, inclusive embora de modo menos acentuado, entre os humanos modernos. A
constatação do zoólogo inglês Bernard Wood de que os machos afarensis apresentam maior
saliência no queixo, também ajudou na classificação do filho de Lucy como um afarensis e
na confirmação da existência desta espécie.
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Pré-História
TREVISAN, Rita. A sexualidade humana: uma visão histórico-social. Disponível em: http://www.
ritatrevisan.com.br/pdf/artigos/a-sexualidade-humana.pdf. Acessado em 27 jun. 2011.
3º momento – a contemporaneidade
Já mostramos nas linhas acima algumas descobertas recentes sendo que todas
foram importantes para a (re) afirmação da paleoantropologia enquanto um campo
do conhecimento fundamental aos estudos na área da pré-história. Dessa forma, seus
pesquisadores têm recebido apoio financeiro, muitas vezes privado e de instituições de
fomento à pesquisa, para viabilizar seus estudos nos mais diferentes lugares.
Hoje, as escavações, além de continuar sendo feitas na Ásia e África, se
estenderam a outros continentes como o americano. Desse incentivo, vasto material tem
sido descoberto e novas conclusões são elaboradas. Com isso, antigas constatações são
revisitadas, ressignificadas e reinterpretadas.
Conforme Thaís Fernandes, em 1980, no Quênia, ocorreu a descoberta do
mais antigo Australopiteco robusto. Na década de 1990, novos fósseis e vestígios foram
encontrados em outras regiões do Oriente Médio e da Geórgia. Entramos no século XXI com
pique total havendo importantes descobertas, ainda em processo de análise. Para você,
prezado (a) aluno (a) de Pré-História, ter uma noção do avanço das pesquisas, na Espanha foi
encontrada, por cientistas daquele país, uma mandíbula de um hominídeo adulto coletada
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Pré-História
Procedimentos metodológicos da
paleoantropologia
Você acabou de ter acesso ao histórico do que vem pesquisando a
paleoantropologia, a “ciência dos ossos”, desde sua “fundação”. Todavia, a nossa discussão
não estaria completa, se não refletíssemos sobre como os paleoantropólogos procedem no
exercício de suas pesquisas, ou, mais objetivamente, no exame e classificação dos ossos e
vestígios por eles encontrados. Na seção abaixo (Saiba Mais), você encontrará referências
bibliográficas acerca dessas pesquisas paleoantropológicas:
Autores e Obras
ARSUAGA, Juan Luis. O Colard de Neandertal – Em busca dos primeiros pensadores. Rio de
Janeiro: Globo, 2005.
BURGIERMAN, Denis Russo. Meio sapiens, meio neandertal. Revista Super Interessante. Edição
144, setembro 1999.
DIAMOND, Jared. Armas, germes e aços. Rio de Janeiro: Record, 1997.
FOLEY, Robert. Apenas mais uma espécie. São Paulo: Edusp, 1993.
LEONARD, William. Alimentos e evolução humana: mudança alimentar foi a força básica para
sofisticação física e social. Revista Cientific American Brasil, edição n. 8, janeiro de 2003.
LOPES, Reinaldo José. Encontros amorosos entre sapiens e neanderthal. Revista Scientific
American Brasil, edição n. 11, abril de 2003.
MIDDLETON Chris. A aurora da humanidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: Abril Livros Ltda, 1993.
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Pré-História
pelos pesquisadores espanhóis após coletarem o citado fóssil em Alpuerca, referido nas
linhas acima.
O método mais utilizado atualmente, conhecido como datação absoluta, consiste
na utilização do carbono 14, usado para datar substâncias orgânicas encontradas na
atmosfera terrestre. O carbono 14, descoberto pelo químico Willard Liby em 1947, é um
isótopo radioativo presente no tecido de todos os seres vivos: logo é uma substancia
orgânica. As pesquisas de Libby revelaram que a quantidade de carbono 14 no organismo
após a morte tende a declinar. Dessa forma, a medição do isótopo radioativo no fóssil
permite se estabelecer uma possível datação da morte.
Esta técnica, entretanto, quando aplicada a fósseis, só consegue ser conclusiva
quando estes possuem, no máximo, 70 mil anos, já que com o passar do tempo a substância
diminui até seu desaparecimento, quando já não é mais possível estabelecer uma datação
confiável por meio do método do carbono 14. Sendo assim, a datação de fósseis por meio
desta técnica é feita com base na quantidade de carbono 14 que, por ocasião da análise,
ainda contém.
Devemos ainda ressaltar que a tecnologia da informática em muito tem auxiliado
nas pesquisas paleoantropológicas, realizando reconstituições dos fósseis encontrados,
possibilitando a elaboração de uma imagem elucidativa dos materiais, tal como foi realizado
com Lucy e com tantos outros fósseis, inclusive com a “brasileira” Luzia, que você conhecerá
a seguir.
Concluímos assim, que o paleoantropólogo, ao descobrir um fóssil, se utiliza
de todos esses conhecimentos e procedimentos em conjunto, com a finalidade de
explicar os materiais fossilizados. Esse diálogo interdisciplinar elucida que o trabalho
paleoantropológico não é nada fácil, sendo definido (como no mais das vezes ocorre como
tantos outros campos do saber interessados no nosso passado pré-histórico) pela ausência
de estudos absolutamente conclusivos em maior frequência.
No capítulo seguinte, iremos continuar nossa jornada na Pré-História, no entanto,
o assunto abordado será ainda mais instigante do que este. Iremos falar da construção da
sexualidade, a descoberta do corpo como um campo de prazer, a vida sexual no cotidiano
pré-histórico, as contribuições do bipedalismo para a emergência de novas formas e artes
de se relacionar sexualmente. Porém, antes de fazer tais leituras, é necessária uma revisão
deste capítulo, seguida de algumas atividades.
Vamos Revisar?
Neste capítulo, você estudou um dos assuntos que muito tem contribuído,
atualmente, para o avanço das pesquisas acerca da Pré-História: a paleoantropologia.
Dessa forma, vimos que a paleoantropologia é um campo de conhecimento que estuda
os fósseis de hominídeos e os vestígios por eles produzidos e deixados, tais como os seus
instrumentos e objetos. Assim, a paleoantropologia busca decifrar ossos e resquícios em
geral que foram deixados pelo homem e que representam sua existência, procurando
analisá-los detalhadamente, distinguir diferenças entre espécies, gêneros, tamanhos e
outras variáveis. Este processo de construção de um conhecimento paleoantropológico da
humanidade começou na segunda metade do século XIX e se estendeu por todo o século
XX, permanecendo na contemporaneidade, em que busca atualizar suas descobertas,
corroborando e/ou contradizendo teorias e concepções anteriormente levantadas.
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Pré-História
Saiba Mais
Para ampliar o seu conhecimento acerca dos nossos ancestrais, elencamos abaixo
as principais características dos Australopithecus:
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Pré-História
Exercício
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Pré-História
Jogo da trilha
Os jogos lúdicos, a exemplo do Jogo da Trilha, constituem um instrumento
significativo no desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. A
disciplina de Pré-História, cujo conteúdo é pouco trabalhado nas escolas de ensino
fundamental e médio, necessita desse tipo de atividade para fixar conhecimento,
além de desenvolver suas competências e habilidades. O Jogo da Trilha, empregado
na disciplina de Pré-História, objetiva tornar mais atrativas as informações sobre
o conteúdo ministrado, contribuindo para a aquisição do conhecimento de forma
divertida e funcional, tornando-se, portanto, um eficiente instrumento para
estimular o interesse dos educandos. Some-se a isso, que você, prezado aluno,
será (ou talvez já seja) em breve professor de História, e necessitará de muitas
ferramentas para o cotidiano escolar.
Orientação geral:
De 2 a 4 participantes, ambos identificados pelo número do pino (em anexo). Todos
os pinos inicialmente ficam onde tem o nome “INÍCIO”, na trilha. Joga-se o dado e
prossegue o número de casas de acordo com o resultado do lançamento do dado.
Todas as vezes que o jogador “cair” na casa amarela tem que ler a legenda que revisa
o assunto e determina como o mesmo jogador tem que proceder (IMPORTANTE:
tem que ler independente do número de vezes que os jogadores ficaram na casa).
E assim sucessivamente, até que um dos jogadores chegue (ou passe) no nome
“FINAL” ganhando o jogo.
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Pré-História
Atenção
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No Crato (Ceará), há um importante museu de paleontologia, enquanto no Recife existe o
Museu do Homem do Nordeste, com importantes aspectos da antropologia. Outros museus que
podem ser visitados são: Museu do Cangaço (Triunfo- PE), Museu Pinacoteca de Igarassu-PE,
Museu do Sertão (Petrolina-PE), dentre outros. Caso não seja possível visitar um museu em sua
estrutura física, pode acessar um museu virtual: Museu Virtual de Paleontologia da Universidade
de Califórnia-EUA (http://www.ucmp.berkeley.edu/index.php); Museu Nacional do Rio de Janeiro
(www.dinosvirtuais.museunacional.ufrj.br); Geopark Araripe – Museu de Paleontologia do Cariri
(http://www.geoparkararipe.org.br)
Para navegar...
http://amigadeestudantes.blogspot.com/2009/01/pre-historia-paleoantropologia-e-pre.
html. Acesso em 9 de março 2011.
(http://alogicadosabino.wordpress.com/2009/12/31/apanhado-do-ano-de-2009/
(http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.archaeologyinfo.com/images/
proconsul.jpg&imgrefurl=http. Acesso em 9 de março 2011.
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Pré-História
http://picasaweb.google.com/maicontri10/MARCASDOPASSADO?feat=blogg
er#5361102212265716034. Acesso em 9 de março 2011.
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/junho/dia-do-paleontologo.php. Acesso em 9
de março 2011.
http://cafehistoria.ning.com/group/arqueologia?xg_source=activity. Acesso em 9 de
março 2011.
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Pré-História
Objetivos
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Pré-História
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Pré-História
Sobre o bipedalismo, você pode aprofundar os seus conhecimentos a partir dos seguintes
materiais.
Livros:
COSTA, Otávio Barduzzi Rodrigues da. Sobre as causas evolutivas da cognição humana. Dissertação
(Mestrado em Filosofia). Universidade Estadual Paulista, 2009. Disponível em: http://www.
dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=166052. Acesso
em: 11 ago. 2011.
Revista viver mente e cérebro. Duetto Editora SP-SP ed. 1 n.4, jan. 2005.
JOHANSON, D. C. & EDEY, M. A. Lucy: os primórdios da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
1981.
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Pré-História
sexualidade humana.
Sendo assim, parece que eles configuram uma área de transição entre a
sexualidade cíclica e reprodutiva dos demais mamíferos e a nossa. Como, além disso, nosso
histórico evolutivo nos relaciona de forma direta aos primatas, vamos então considerá-los
brevemente por meio de uma citação tão sintética quanto esclarecedora:
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Pré-História
sexuais entre os demais seres vivos), ele há de concordar que, mesmo entre os primatas
superiores, qualquer que seja o nível hipotético de ternura que envolva um macho e
uma fêmea durante uma cópula, ele é infinitamente inferior ao que nós, seres humanos,
conseguimos desenvolver em nossas relações sexuais na contemporaneidade. Isto não
significa ser melhor ou pior, mas uma questão de criação/invenção de novos jeitos de amar,
de acariciar, de se relacionar com outro. Quanto a isto, somos responsáveis por novas
concepções nas artes de se relacionar com outro: o afeto, o carinho, a ternura, presente
muito mais nas relações pais-filhotes do que nas sexuais.
Para explicar isto, enfatizo uma transformação em nossas relações sexuais que é
difícil dizer se é mais da ordem da cultura do que da anatomia, porque, para mim, ambos
os fatores tiveram sua parcela de “culpa”. Refiro-me à substituição do coito dorso feminino
- ventre masculino, então predominante, pela possibilidade da relação sexual ventre contra
ventre. Com o desejo de explicar melhor a importância desta transformação para a inserção
do afeto na sexualidade humana, ofereço-lhes o sensível texto escrito por Bourguignon a
este respeito:
Saiba Mais
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Pré-História
Sobre sistema de parentesco, você pode ampliar os seus conhecimentos pesquisando nos
seguintes materiais:
SILVA, Márcio. Linguagem e parentesco. Revista de Antropologia. vol.42 n.1-2 São Paulo,
1999. (A versão eletrônica está disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
77011999000100009&script=sci_arttext)
SILVA, Márcio. Romance de primas e primos: uma etnografia do parentesco waimiri-atroari, tese
Manaus: Edufma, 2009.
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Pré-História
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Pré-História
Autores e Obras
A relação entre pais e filhos, numa perspectiva piagetiana, pode ser melhor estudada mediante
os seguintes materiais de apoio didático-pedagógico:
PIAGET, Jean. Os Procedimentos da Educação Moral. In Lino de Macedo (Org.).
Cinco estudos de educação moral. 2. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
_____ O juízo moral na criança. 2. ed. São Paulo: Summus, 1994.
_____. É possível uma educação para a paz? In: S. PARRAT-DAYAN e A. TRYPHON (Orgs.). Sobre
a pedagogia. C. Berliner (trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo. 1998.
_____. Seis Estudos de Psicologia. Rio de janeiro: Forense-Universitária, 1986.
_____. Para onde vai a educação. 15. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1995.
PUIG, J. M. A construção da personalidade moral. São Paulo: Ática, 1998.
TOGNETTA, L. R. P. A construção da solidariedade: a educação do sentimento na escola.
Campinas: Mercado de Letras/ Fapesp, 2003.
VINHA, T. P. O educador e a moralidade infantil: uma visão construtivista. Campinas, SP: Mercado
de Letras/ Fapesp, 2000.
XYPAS, C. Piaget e a educação. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
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Pré-História
é a da proibição do incesto12. Digo isto apoiado no seguinte: a intensa sexualização dos seres
Atenção humanos acaba por estimular desejos sexuais incestuosos. Além disso, à medida que as
relações sexuais humanas passaram a dialogar com o afeto, mais presente nas relações entre
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União sexual ilícita pais e filhos estas se tornaram cada vez mais erotizadas. Sendo assim, esta sexualização da
entre parentes criação dos filhos passou a configurar um importante problema, na medida em que dava
consanguíneos,
adotivos ou afins. Cf. margem ao estímulo de sentimentos incestuosos entre pais e filhos. Como este tipo de
FERREIRA, Aurélio relação sexual é extremamente danoso à espécie13, as sociedades e culturas humanas se
Buarque de Holanda. viram às voltas com a instituição de normas que interditassem a prática do incesto.
op. cit., p. 380.
Édipo e Fedra: o tema do incesto
A atração natural do filho pela mãe ou da filha pelo pai que, a partir de Sigmund Freud, passou
Atenção
a ser objeto de estudo da psicanálise, antigamente já fomentara a fértil imaginação dos gregos,
dando origem a vários mitos ou histórias fantásticas sobre relacionamentos endógamos. O mais
13
O incesto é
prejudicial porque famoso é o mito de Édipo: Jocasta, a esposa de Laio, rei de Tebas, informada pelo oráculo de Delfos
acaba privando a que o nascituro estava destinado a matar o pai e casar com a mãe, ordenou que um serviçal desse
variabilidade genética, fim ao bebê. Mas o criado ficou com dó, abandonando Édipo (o “dos pés atados”, como se fosse
condição fundamental
um franguinho) no campo. Criado por pastores, o belo jovem, quando ficou sabendo do oráculo,
para a sobrevivência de
qualquer espécie, na achando que era filho de Políbio e Peribeia, se afastou da casa dos pais putativos e, por ironia do
medida em que garante destino, foi parar na cidade de seus pais verdadeiros.
a sua capacidade
adaptativa. Cf.
BOURGUIGNON, André Ao chegar a Tebas, numa encruzilhada, teve uma altercação com um senhor de idade e acabou
op. cit., p. 197. matando o velho sem saber que Laio era o rei, seu pai. Ao entrar na cidade, enfrentou a Esfinge,
um monstro metade mulher e metade leão, que devorava os estrangeiros que não conseguissem
desvendar o enigma: “Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três à
tarde?”. Édipo respondeu: “é o homem”, pois na infância engatinha, depois anda e, quando velho,
28
Pré-História
usa a bengala. Vencido o desafio, o forasteiro é acolhido como herói e, porque acabara de ser
assassinado o rei Laio, lhe é ofertada a bela viúva Jocasta em casamento. Édipo casa com a rainha
de Tebas, sem saber que era sua mãe natural, e com ela tem quatro filhos.
Após longos anos de felicidade conjugal e de sábio governo, o rei tem que enfrentar uma terrível
desgraça: a cidade de Tebas sofre de uma misteriosa epidemia que dizima homens e animais.
Consultado o oráculo de Apolo, a resposta é de que a peste não cessaria enquanto o assassino do
rei Laio ficasse impune. Édipo ordena que se investigue o caso e o adivinho Tirésias esclarece que
o culpado é o próprio rei. Perante tal monstruosa revelação, Jocasta se suicida e Édipo fura seus
olhos e abandona a cidade.
O mito de Édipo foi explorado por escritores e artistas ao longo dos 25 séculos da
cultura ocidental. Mas a melhor representação ainda é a peça do dramaturgo Sófocles,
Édipo Rei, que remonta ao século V a.C. e foi submetida a diversas interpretações pelos
exegetas. Os versos da fala de Jocasta a Édipo: “Não tenha medo da cama de tua mãe:
Quantas vezes em sonho um homem dorme com a mãe!” inspiraram Freud na formulação do
famoso “complexo de Édipo”, onde o médico austríaco explica que o sonho é a realização disfarçada
de um desejo recalcado e que o seio materno é a primeira fonte de prazer do ser humano.
O que caracteriza o mito trágico é a coexistência dos contrários: Édipo é culpado, pois matara o
pai e casara com a mãe, mas, ao mesmo tempo, é inocente, pois não sabia. O motivo do inocente-
culpado tem sua explicação, pois a culpa não é individual, mas atávica: Édipo paga o preço de um
pecado cometido pelo seu progenitor. Narra o mito que Laio, o pai de Édipo, durante umas férias,
raptou, seduziu e abandonou o jovem Crisipo, filho do rei da Frigia, que acabou se suicidando.
O pai do rapaz amaldiçoou o raptor, pedindo aos deuses que ele nunca tivesse um filho; mas, caso
o tivesse, que ele fosse a causa da sua morte.
O mito de Édipo, que explora o tema do incesto, tem o seu equivalente feminino no mito de Electra,
que trata da atração da filha pelo pai, e de Fedra, que aborda relações sexuais entre membros da
mesma família. Electra é filha de Agamenão e Clitemnestra, soberanos de Micenas. Durante a longa
ausência do rei, que fora comandar a frota naval grega na Guerra de Tróia, a rainha se apaixona
pelo cunhado Egisto e juntos maquinam o assassinato de Agamenão, quando do seu regresso.
Electra ajuda o irmão Orestes a vingar a morte do pai, causando a morte da mãe adúltera e do tio
assassino.
29
Pré-História
A psicanálise, assim como apresentada por C. G. Jung, denomina “complexo de Electra” à atração
sexual não sublimada que uma filha possa sentir pelo próprio pai. Depois de uma fase de fixação
afetiva na mãe, quando da amamentação e na primeira infância, a menina pode passar a sentir um
sentimento mórbido pelo pai, em quem constrói a imagem do homem ideal. Electra simboliza a
tendência a um amor incestuoso da filha pelo pai, quando o sentimento de apego não é resolvido
de uma forma adequada, podendo causar neuroses. O mito de Electra, como o de Édipo, inspirou
muitas obras de arte dramática e plástica, através dos tempos.
A figura de Fedra, irmã de Ariadne, está ligada ao mito do pai Minos, rei de Creta, e de Teseu, o
maior herói de Atenas, famoso por inúmeras aventuras de luta e de amor. A façanha mais conhecida
foi sua vitória sobre o Minotauro, na ilha de Creta. Matou a socos a fera, fechada no Labirinto e
de lá conseguiu sair graças à ajuda da esposa Ariadne, que lhe deu um novelo de fio para marcar
o caminho de volta. Mas, ingrato, abandonou a jovem na ilha de Naxos, onde ela morreu de dor.
E pagou por isso, de acordo com a justiça cósmica. Já velho, Teseu casou com a cunhada mais
nova, Fedra, que enquanto o marido participava da expedição dos Argonautas, se apaixonou pelo
jovem enteado Hipólito. O rapaz, que tinha feito voto de castidade a Diana, deusa da caça, não quis
saber da madrasta. Sentindo-se repudiada, ela apela pela vingança: escreve uma carta ao marido,
acusando o jovem de assédio sexual. Hipólito é executado e Fedra se enforca.
O que mais impressiona no mito de Fedra, largamente representado na cultura ocidental, além
do alto grau de violência a que pode levar uma paixão louca não correspondida, é a maldade
possível no coração de uma mulher: ela acusa o rapaz justamente daquilo que ele não quisera fazer,
transformando a vítima num agressor. O mito de Édipo, como outros mitos, enquanto arquétipo de
ações humanas vive se repetindo continuamente ao longo da nossa existência.
Adaptado de:
D´ONOFRIO, Salvatore. Pensar é preciso: reflexões sobre filosofia, religião, literatura, política e
cidadania. Disponível em: http://acervodigital.unesp.br/handle/123456789/38658. Acessado em
3 jul. 2011, p. 10-12.
30
Pré-História
homem moderno), com todas as transformações que suscitou, responde pelo incremento
sociocultural dos mecanismos biológicos de evitação do incesto entre nós. Isto porque a
hominização introduziu mudanças tão impactantes na cultura, na fisiologia, na anatomia
e na sexualidade humanas, que se fossem empregados apenas os mecanismos biológicos,
ou somente as proibições socioculturais, a interdição do incesto talvez não fosse alcançada,
arrematada pelas forças da hominização/sexualização de nossa espécie. Daí a necessidade
de congregar biologia e sociedade, cultura e natureza pelo bem da variabilidade genética da
espécie.
Enfim, a proibição do incesto e a instituição dos complexos e modernos sistemas
de parentesco, tiveram profundas implicações sobre a estruturação das sociedades e
das culturas humanas. Mas não só. Ambos os aspectos também incidiram sobre o nosso
desenvolvimento psíquico e cerebral, atuando até mesmo como eventuais pressões seletivas
para os da nossa espécie, na medida em que os constrangiam para um maior incremento de
sua autonomia, de suas capacidades cognitivas, de suas aptidões cerebrais e, por último,
mas não menos importante, de suas competências psíquicas (JARDIM, s/d).
Uma última questão relevante é a dominação feminina, principalmente no
que ela, historicamente, afetou as relações entre os sexos. A subjugação das mulheres é
outro elemento que distingue nossa espécie das demais. Mesmo que o estudante mais
atento lembre que em outras espécies, sobretudo entre os primatas superiores, também
predomine a dominação do macho sobre a fêmea, ele há de convir que o grau de
subjugação das mulheres nas diversas sociedades humanas atinge níveis jamais observados
na natureza. Nesta, na maioria dos casos, a força física garante a prevalência masculina;
entre nós, à disparidade física soma-se a cultura para garantir a subjugação da mulher ao
homem. Abaixo, as imagens representam duas vivências diferentes: a) a rendição feminina
ao masculino (imagem I); b) a luta das mulheres pela igualdade de gênero (imagem II).
Quando falo em “dominação masculina”, desejo que você, prezado estudante,
atente para o seguinte: a dominação da mulher pelo homem não tem nada de natural ou
biológica; é uma construção de ordem social, histórica e cultural, como analisam autores do
Fique por
porte de Guacira Lopes Louro (1997) e Michel Foucault (1991)14. Além disso, a “dominação
Dentro
masculina” não está inerente apenas ao sexo masculino, mas também ao feminino, como
assevera Pierre Bordieu (1999). 14
Acerca desse
importante teórico da
filosofia da história,
confira: http://
educacao.uol.com.br/
biografias/paul-michel-
foucault.jhtm
31
Pré-História
Minibiografia
Michel Foucault
Michel Foucault – um estudioso que ampliou nosso campo de discussão e nos fez problematizar
os saberes
Nascido em uma família tradicional de médicos, Michel Foucault frustrou as expectativas de seu
pai ao interessar-se por história e filosofia. Apoiado pela mãe, mudou-se para Paris em 1945,
onde foi aluno do filósofo Jean Hyppolite, que lhe apresentou à obra de Hegel.
Em 1946, conseguiu entrar na École Normale. Seu temperamento fechado o fez uma pessoa
solitária, agressiva e irônica. Em 1948, após uma tentativa de suicídio, iniciou um tratamento
psiquiátrico. Em contato com a psicologia, a psiquiatria e a psicanálise, leu Platão, Hegel, Marx,
Nietzsche, Husserl, Heidegger, Freud, Bachelard, Lacan e outros, aprofundando-se em Kant,
embora criticasse a noção do sujeito enquanto mediador e referência de todas as coisas, já que,
para ele, o homem é produto das práticas discursivas.
Dois anos depois, Foucault se licenciou em Filosofia na Universidade de Sorbone e no ano
seguinte formou-se em psicologia. Em 1950 entrou para o Partido Comunista Francês, mas
afastou-se devido a divergências doutrinárias. No ano de 1952 cursou o Instituto de Psychologie
e obteve diploma de Psicologia Patológica. No mesmo ano tornou-se assistente na Universidade
de Lille. Foucault lecionou psicologia e filosofia em diversas universidades, na Alemanha, na
Suécia, na Tunísia, nos Estados Unidos e em outras. Viajou o mundo fazendo conferências.
Em 1955, mudou-se para Suécia, onde conheceu Dumézil. Este contato foi importante para o
desenvolvimento do pensamento de Foucault. Conviveu com intelectuais importantes como
Jean-Paul Sartre, Jean Genet, Canguilhem, Gilles Deleuze, Merlau-Ponty, Henri Ey, Lacan,
Binswanger, etc.
Aos 28 anos publicou “Doença Mental e Psicologia” (1954), mas foi com “História da Loucura”
(1961), sua tese de doutorado na Sorbone, que se firmou como filósofo, embora preferisse ser
chamado de “arqueólogo”, dedicado à reconstituição do que mais profundo existe numa cultura
- arqueólogo do silêncio imposto ao louco, da visão médica (“O Nascimento da Clínica”, 1963),
das ciências humanas (“As Palavras e as Coisas”, 1966), do saber em geral (“A Arqueologia do
Saber”, 1969).
Esteve no Brasil em 1965 para conferência a convite de Gerard Lebrun. Em 1971 assumiu a
cadeira de Jean Hyppolite na disciplina História dos Sistemas de Pensamento. A aula inaugural
foi “a Ordem do discurso”. A obra seguinte, “Vigiar e Punir”, é um amplo estudo sobre a disciplina
na sociedade moderna, para ele, “uma técnica de produção de corpos dóceis”. Foucault analisou
os processos disciplinares empregados nas prisões, considerando-os exemplos da imposição, às
pessoas, e padrões “normais” de condutas estabelecidas pelas ciências sociais. A partir desse
trabalho, explicitou-se a noção de que as formas de pensamento são também relações de poder,
que implicam a coerção e imposição.
Deixou inacabado seu mais ambicioso projeto, “História da Sexualidade”, que pretendia mostrar
como a sociedade ocidental faz do sexo um instrumento de poder, não por meio da repressão,
mas da expressão. O primeiro dos seis volumes anunciados foi publicado em 1976 sob o título
“A Vontade de Saber”. Em 1984, pouco antes de morrer, publicou outros dois volumes: “O Uso
dos Prazeres”, que analisa a sexualidade na Grécia Antiga e “O Cuidado de Si”, que trata da Roma
Antiga. O Japão é também um local de discussão para Foucault. Várias vezes esteve no Brasil,
onde realizou conferências. Foi no Brasil que pronunciou as importantes conferências sobre “A
Verdade e as Formas Jurídicas”, na PUC do Rio de Janeiro.
Os Estados Unidos atraíram Foucault em função do apoio à liberdade intelectual e em função de
São Francisco, cidade onde Foucault pode vivenciar algumas experiências marcantes em sua vida
pessoal no que diz respeito à sua homossexualidade. Berkeley tornou-se um polo de contato
entre Foucault e os Estados Unidos.
Em 25 junho de 1984, em função de complicadores provocados pela AIDS, Foucault morreu aos
57 anos, em plena produção intelectual.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/paul-michel-foucault.jhtm Acessado em
4 jul. 2011. Veja também: ERIBON, Didier. Michel Foucault, uma biografia. São Paulo: Cia. das
Letras, 1990. (Adaptado pelo autor)
32
Pré-História
Costume ou prática segundo a qual uma pessoa, seja ele homem ou mulher, não pode ter mais
que um cônjuge. A monogamia se contrapõe a práticas tais como a poligamia (união conjugal de
um único indivíduo com vários outros simultaneamente) a poliginia (união conjugal de um único
homem com mais de uma mulher simultaneamente) e a poliandria (união conjugal de uma única
mulher com mais de um homem simultaneamente).
Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. op. cit., p. 470, 542, 543 e 542.
33
Pré-História
Texto Complementar:
Nos grupos precedentes à revolução agrícola já havia uma divisão sexual de tarefas: ao homem
cabia a caça e a preparação de todo o equipamento para a atividade, enquanto a mulher era a
coletora e a responsável pela educação dos filhos. Com as mudanças ocorridas com a agricultura,
o homem passa a derrubar os bosques e preparar a terra para a lavoura, enquanto a rotina da
lavoura fica nas mãos das mulheres. São elas que cuidam da casa, das crianças, da comida e da
colheita, submetidas à rotina massacrante dos dias iguais, que tolhem a criatividade e reduzem a
imaginação ao horizonte de suas vidas.
O homem não é o principal produtor. De resto já não o era antes. Vimos que a atividade de coleta
propiciava mais alimentos ao grupo que a caça, na maioria das vezes. O homem mantinha sua
importância pelo significado que a carne tinha, pela sua relativa raridade até. De uma forma ou
de outra, o homem era quem trazia alimentos para casa. Já nas sociedades agrícolas, a mulher era
quem semeava, colhia e preparava os alimentos, ficando os homens fora da produção direta.
Então, como é que eles mantinham sua dominação sobre as mulheres? Através de mitos, ritos e
instituições que institucionalizam seu poder virtualmente ameaçado. Por meio de crenças e cultos
perpetuava uma precedência social que já não corresponde ao papel masculino na nova economia
dos povos agrícolas. Força física para dissuadir e manipulação do sistema ideológico para manter e
reproduzir o poder foram armas do homem nas comunidades agrícolas.
Nas sociedades pastoris a dominação não precisava dessas sofisticações, uma vez que os homens
desempenhavam relevante papel no sistema produtivo. Como resultado, a mulher ficava numa
atitude mais submissa ainda.
A força do homem, que lhe dá condições melhores de guerrear atividade frequente no Neolítico -,
faz com que sua precedência sobre a mulher se amplie. A diferença entre os sexos tem uma origem
biológica, mas vai adquirindo uma explicação histórica. Simone de Beauvoir costumava dizer que
ninguém nasce mulher, mas se transforma em mulher.
Ela não nega, é claro, que alguns seres humanos venham ao mundo com características físicas
diferentes de outros. É evidente que há a mulher objetiva, aquela que é mais fraca que o homem, que
fica menstruada, que engravida que dá à luz, que amamenta. Mas, se nessas características podem
estar plantadas as origens da diferença, esta se materializa na História, isto é, na prática cotidiana e
nos valores cristalizados, nos estereótipos e na manipulação do ideológico. Valorizar a carne sobre
o cereal, a derrubada da mata sobre o cultivo contínuo, resulta em sacerdotes masculinos e deuses
executivos machos assessorados por belas (e necessariamente puras) sacerdotisas.
34
Pré-História
A sociedade neolítica estabelecia divisão de tarefas e não de trabalho, a chefia era um ônus e não
um privilégio, não havia extração de mais-valia. Mas, entre os iguais, os homens eram um pouco
mais iguais que as mulheres.
Saiba Mais
35
Pré-História
Vamos Revisar?
Atividades
1. Imagine-se um historiador convidado a dar uma aula num curso de biologia sobre
o seguinte tema: a especificidade da sexualidade humana vista de uma perspectiva
histórica. Para tanto, o coordenador do curso sugeriu que você preparasse a aula no
portal do professor (www.portaldoprofessor.mec.gov.br). Sendo assim, planeje sua aula
e depois a publique no referido portal. Para tanto, você terá que, antes de editar
sua aula: a) se cadastrar no portal do professor; b) procurar, no referido endereço
eletrônico, o botão “espaço de aula”; c) escolher em seguida o botão “criar aula”;
d) escolher a opção “aula individual”; e) elaborar um título para sua aula. Feito
isso, você deverá seguir os passos e as normas para a construção de sua aula. Tudo
isso se encontra disponível no portal e você pode acessar utilizando as diferentes
opções: conteúdos multimídia, cursos e materiais e links. Qualquer dúvida sobre
a sua aula, você pode entrar em contato comigo, autor deste material, mediante o
email: iran.ch@ufcg.edu.br Sugerimos que este material seja postado em um dos
fóruns do ambiente virtual de aprendizagem. Com isso, você pode compartilhar seu
conhecimento com outros colegas do Curso, bem como possibilitar a socialização
de conhecimentos, estratégias e ferramentas.
2. Imagine-se na seguinte situação: você é um renomado pesquisador na área de
Pré-História e foi convidado a participar de uma mesa-redonda na qual estarão
presentes outros dois especialistas: um biólogo e um jurista. Cada um de vocês
deverá emitir o ponto de vista de seu respectivo saber sobre a interdição social
do incesto. Nesse sentido, faça uma pesquisa sobre o que a biologia e a legislação
brasileira dizem sobre esta questão16. Após isso, elabore um texto no qual estejam
presentes, respectivamente, os pontos de vista histórico, biológico e jurídico sobre
a interdição social do incesto. Sugerimos que este material seja postado em um dos
fóruns do ambiente virtual de aprendizagem. Com isso, você pode compartilhar seu
conhecimento com outros colegas do Curso, bem como possibilitar a socialização
de conhecimentos, estratégias e ferramentas.
3. Imagine-se uma hipotética partidária da causa feminista no Brasil da década de
1930. Elabore um texto, na forma de uma carta aberta, defendendo a igualdade de
36
Pré-História
direitos entre os sexos, por meio de argumentos históricos que demonstrem que a
subjugação feminina não é algo natural. De preferência pesquise outros elementos
que não só os dois aspectos abordados neste capítulo. Além disso, pesquise um
pouco sobre o movimento feminista brasileiro da década de 1930 e sobre as
condições históricas que caracterizavam o nosso país à época, para que seu texto
não se torne anacrônico, ou seja, não condizente com o período histórico estudado.
Sugerimos que este material seja postado em um dos fóruns do ambiente virtual
de aprendizagem. Com isso, você pode compartilhar seu conhecimento com
outros colegas do Curso, bem como possibilitar a socialização de conhecimentos,
estratégias e ferramentas.
4. Na plataforma virtual de aprendizagem, você irá fazer uma pesquisa em grupo
acerca da igualdade de direitos. Para tanto, cada aluno pesquisará na comunidade
em que o curso funciona sobre o assunto e depois postará os resultados no fórum
de discussão. Será um momento muito significativo para ampliar o conhecimento
sobre a temática. Elabore um roteiro de entrevista, escolha pessoas de cor, sexo,
segmento social e grau de instrução diferentes como amostragem. Como sugestão
de roteiro de entrevista, colocamos algumas perguntas:
Nome
Sexo
Cor
Endereço
Escolaridade
1. Você sabe quais são os seus principais direitos como cidadão brasileiro?
2. Já leu a Constituição de 1988 para compreender melhor os direitos do
cidadão?
3. Já se sentiu agredido em algum dos seus direitos? Se a sua resposta for sim,
em quais situações essas agressões ocorreram?
4. Você se considera um cidadão que sabe respeitar os direitos de outras
pessoas?
5. Qual seu posicionamento em relação ao direito de homens e mulheres
casarem com pessoas do mesmo sexo?
Atenção
16
Revistas e sites especializados no assunto: Revista de Biologia (http://www.ib.usp.br/revista/);
Revista de Biologia e Ciências da Terra ( http://eduep.uepb.edu.br/rbct/); Revista Brasileira de
Biologia (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0034-7108); Revista Eletrônica
de Biologia
(http://revistas.pucsp.br/index.php/reb); Revista de Biologia Neotropical
(http://www.revistas.ufg.br/index.php/RBN); SaBios-Revista de Saúde e Biologia
(http://revista.grupointegrado.br/revista/index.php/sabios2/); Revista dos Tribunais (http://
www.rt.com.br); Revista Igualdade (http://www.mp.pr.gov.br).
37
Pré-História
Para navegar...
http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/idade-dos-metais.htm
http://www.ethnologue.com
http://tipografos.net/escrita/antes-das-letras1.html
http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br
http://www.brasilescola.com
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/bibliografia.htm
Para assistir...
“2001, uma odisseia no espaço”. Atentar para a postura bípede que é conquistada
por meio do encontro com uma pedra negra e polida, posicionada verticalmente.
38
Pré-História
Objetivos
18
Fonte: http://www.
Atenção webartigos.com/
articles/41826/1/A-
Importancia-
do-Sentimento-
17
O materialismo histórico é uma tese defendida pelo marxismo, segundo a qual o modo de Religioso-na-Pre-
produção da vida material determina, em última instância, o conjunto da vida social, política e Historia/pagina1.
espiritual. O materialismo é um método de compreensão e análise da história, das lutas e do html#ixzz1PHFgQOfq
desenvolvimento político e econômico. Essa tese foi definida e utilizada pelo filósofo da história
Karl Marx, em obras como O 18 do brumário de Luis Bonaparte e O capital; por Friedrich Engels
na obra Socialismo utópico e socialismo científico, bem como por Rosa Luxemburgo e por Lênin.
39
Pré-História
a nos ensinar. A religiosidade tem essa capacidade de afetar o homem, de motivar debates,
Atenção de criar intrigas e embates, de construir laços... Enfim, de apresentar/revelar em nós (em
parte19) o humano e, ao mesmo tempo em que nos permite compreender, permite também
19
Referência a I explicar situações e percepções quem nem mesmo essa ciência consegue dar conta.
Coríntios 13:12 -
“Porque agora vemos Para que este encontro aconteça, entre o que escrevo e o que você lê, é preciso
por espelho em enigma, que façamos certo exercício de afastamento de nós mesmos, dos nossos valores e crenças,
mas então veremos
do que estamos sendo em nossa trajetória na vida. É preciso que este texto seja lido como
face a face; agora
conheço em parte, algo religioso, onde nos afastando de nós mesmos em certa medida, encontramo-nos
mas então conhecerei com outro si mesmo diferente do anterior, algo que nos trans-de-forma (LARROSA, 2002,
como também sou p.134). Por isso peço-lhe, caríssimo (a) aluno (a) de Pré-História, que quaisquer que sejam
conhecido”
as suas crenças (quer você acredite em vários deuses, em apenas um, ou em nenhum
deus), que pense comigo no que levou nossos antepassados da Pré-história a praticarem a
religiosidade, e em que medida isto nos diz algo sobre o que somos. Esse exercício se torna
fundamental para que você compreenda a premissa do que aqui denominamos da gênese
da religiosidade humana. Assim, juntos, vamos agora tentar fazer uma leitura das primeiras
relações de nossos ancestrais para com o mundo, visto por eles como sobrenatural, ou
melhor, cujas experiências cotidianas os levaram a atribuir certos elementos e características
para além das forças humanas.
Então, nada melhor do que começarmos a indagar sobre o significado do termo
religião. A palavra religião tem uma origem difusa. Entre os filólogos, o debate é constante,
por isso escolho aqui uma possibilidade de leitura mais próxima de nós, ocidentais. Nesta
perspectiva, a palavra religião viria do latim “religione”, se alia ao verbo “religare”, para
dar o sentido de “ação de ligar”. Assim, a religião, nessa possibilidade explicativa, pode ser
Hiperlink definida como o conjunto de ideias e práticas pelas quais o homem se liga ao divino ou
manifesta na sua vida alguma concepção de sagrado20.
20
Fonte: http://www.
mundodosfilosofos.
Ainda quanto ao significado da palavra religião, a mesma possui outras leituras,
com.br/mito.htm como por exemplo: o prefixo re faz alusão à ideia de retorno, a um movimento de volta,
Acessado em 14 de jun desta maneira adianta uma concepção presente em algumas religiões: de que, por algum
de 2011.
motivo, os seres humanos foram divinos e se afastaram deste modo de ser. A religião seria o
nosso esforço em voltarmos a sermos deuses.
Mas para ligar-se ao divino, ou mesmo re-ligar-se a este é preciso que antes algo seja
entendido como divino, que este algo seja assim nomeado. Então, o que chamar de divino?
Como se constituí sua identificação tendo em vista que esta acontece na diferenciação?
Indaga o escritor e historiador romeno Mircea Eliade: O sagrado só é sagrado por ser um
outro do profano? E o fenômeno religioso se limita a este ato de ligar e religar que a palavra
latina dar a ler, dito de outro modo, estaria o divino apenas fora de nós? (ELIADE, 1992,
p.13) Enfim... Para começar, vai ser no exercício de tentar entender alguns elementos que
motivaram essa possibilidade de inventar21 a religiosidade, que este texto se apresentará
daqui por diante, dividindo a vida entre nascimento e morte, ou na religião respondendo a
duas intensas questões: para onde vamos e de onde viemos?
Atenção
21
A Palavra inventar tornou-se nos últimos 20 anos um conceito bastante usado nos estudos
historiográficos. O uso da mesma não remete à noção que comumente usamos de invenção
como algo fantasioso, ele se refere ao fenômeno religioso enquanto uma produção humana.
Para além do que o mundo cientifico chama de natural e de sobrenatural, nós pretendemos
entendê-lo como algo praticado por pessoas, que experimentaram o mundo com as dimensões
que a sua cultura possibilitou.
40
Pré-História
Minibiografia
O medo da morte
“Primeiro, as cores.
Depois, os humanos.
Em geral é assim que vejo as coisas.
Ou, pelo menos, é o que tento.
Eis um pequeno fato.
Você vai morrer.”
(Marcus Susak)
A epígrafe acima é a abertura do livro A Menina que Roubava Livros. Esta é uma fala
da morte que cumpre na obra uma dupla função. Por um lado, é a confissão de um segredo
da personagem morte, para provocar alguma aproximação entre esta e o leitor, a respeito
de como ela, a encarregada de levar as almas, se sente diante dos que permanecem vivos:
41
Pré-História
que é no momento que o outro se torna um diferente de nós - por estar morto, que nos
identificamos como mortais por sermos também iguais a ele; e o da impotência frente à
morte do outro e da nossa própria morte, o quanto somos diminutos diante da natureza e
do tempo que, num minuto nos leva embora.
Então, concordamos com a personagem? Seja qual for a resposta, precisamos
admitir que é uma questão complexa e intensa. Será que é assim mesmo, impotência,
esfacelamento no tempo, e só? Como pensaram os homens pré-históricos a partir da
percepção da finitude e da brevidade da vida?
Vamos imaginar um grupo pequeno de pessoas na Pré-história que podemos
denominar “família”. Pensemos que aquela mulher a qual as crianças identificam como a
mãe, por tê-los cuidado desde pequenos, por ser a senhora que transforma as crianças em
adultos nos rituais de passagem. Numa certa noite, simplesmente não acorda do seu sono.
Por mais barulho que se faça, nada acontece. Elas resolvem dançar em torno dela, como era
de costume, pois, apesar de gostar da dança, não conseguia mais dançar com facilidade,
mas ela não sorri como costumava. Enquanto isso, os adultos haviam percebido o que
acontecera, e se dividiram em alguma parte da mata, junto a uma árvore. As mulheres vivas
pediam a árvore para que cuidasse de sua mãe enquanto retiravam os frutos maduros. Em
outro ponto da mata, os homens arrancavam uma árvore jovem de mangueira.
As crianças, já cansadas de dançar, ficam tristes. Por algum motivo a mãe estava
fria, dura, parecia uma pedra. Teria algum espírito maligno a transformado em pedra?
Os adultos retornam. Reúnem todas as crianças e carregam para a casa onde as deixam
amarradas. Somente após os rituais de passagem para a vida adulta eles saberão o que
acontecerá adiante. O corpo da anciã é levado ao rio e lavado pelas mulheres. Os homens,
em toda vida, nunca sabem o que se passa neste momento. Já de volta, o corpo da anciã
está vestido por uma pele de onça, o homem mais velho do grupo coloca-lhe um colar feito
de dentes do mesmo animal. No lugar da árvore jovem, a senhora é “plantada” na terra e
sobre a mesma a árvore jovem é replantada. Todos se reúnem em alegria e uma grande
festa acontece. As crianças são libertas, todos dançam em volta de uma grande fogueira
e comem as mangas colhidas na mangueira antiga. Caso alguma criança questione o que
aconteceu com a anciã, será dito que ela cansou de ser gente e resolveu ser uma árvore da
floresta, pois assim ela ia poder continuar junto ao grupo os alimentando com seus frutos.
Poderia ser esta ou outra história aqui contada. A questão é: o que acontece ao ser
humano quando ele se dá conta de que as pessoas morrem, de que aqueles com quem ele
viveu, que ele identifica como pais e irmãos morreram e nunca mais estarão conosco? E
então, como nomear esta angústia? Como superá-la?
Para compreender melhor esses questionamentos, a HQ (História em Quadrinhos)
abaixo poderá ajudá-lo (a) nesse sentido, pois mostra que as pessoas, desde o início, não
compartilham com as mesmas concepções sobre o pós-morte:
Dois caminhos se abrem a partir da percepção da finitude. Pouco a pouco, os
homens da Pré-História começam a perceber que a vida continuaria após a morte. Para eles,
os entes queridos viajariam para algum lugar no Céu, no Hades, em outros planetas, em
mundos que coexistiriam no nosso planeta, mas que são inacessíveis aos nossos sentidos.
No entanto, havia quem cresse em outras possibilidades. Dessa forma, o nosso estar-vivo
seria apenas uma fase do nosso ciclo de vivências. Ou, como no caso da história contada
acima, o que ocorre é uma mutação, o que era ser humano passa a ocupar outro lugar
no cosmos, seja de maneira identificável, seja num totem ou numa planta, seja de forma
totalmente impessoal, numa dissolução total no cosmos. O mundo (o mundo conhecido
por eles, pois as noções da Terra como um planeta é um saber do tempo moderno) seria
então um todo vivo. Morrer é, nesse caso, passar a ser outra manifestação da vida que
sempre existe em constante mutação (GAARDEN, 2005, p. 42). Sobre este assunto, Estevão
42
Pré-História
Bittencourt comenta:
Saiba Mais
Um indício desse tipo de relação com a morte e o senso religioso pode ter sua maior
evidência no sepultamento destes. Podemos supor que, assim como os animais, a princípio
os seres humanos quando morriam decompunham-se, naturalmente no lugar onde
morreram. Por volta de aproximadamente 93.000 a.C. (data provável do primeiro túmulo
pré-histórico), os humanos do paleolítico superior passaram a enterrar seus mortos, e por
muito tempo este foi um fato que demarcava o nascimento da religião para a historiografia,
lia-se o fato de enterrar os mortos como evidência da crença na vida após a morte, como
assevera Steven Mither (2002, p. 279). A ideia de cuidar dos mais velhos, devido aos seus
conhecimentos e à memória que tinham da vida, pode ter começado neste contexto. Os
funerais sugerem respeito pelos membros da família ou da comunidade (REGADA, 2007, p.
187)
Em grande medida, esta é a evidência mais contundente que nos resta, diante do
pouco que ficou em decorrência do desgaste do tempo, no que concerne à religiosidade
em tempos pré-históricos. Mas não basta apenas enterrar os mortos: é preciso sepultá-los
para que isto seja lido como um signo religioso, uma prática ligada à religião (MITHER, 2002,
p. 284). O que demarca a diferença entre o enterrar e o sepultar é a existência de ritos de
sepultamento, ocasião em que, culturalmente, são elaborados e estabelecidos lugares para
os mortos – no túmulo, num outro mundo. Para os vivos, são também postos os lugares – os
de dançarinos, de sepultadores, de cultuadores, além do compromisso de, periodicamente,
realizar algum rito para os mortos, momento de dar um lugar aos mortos e a seus corpos.
Um exemplo disso são as sepulturas vikings. Nelas, os guerreiros eram sepultados
com suas armas, ornamentos e comida, pois a crença (nessa sociedade) era de que eles
iriam para o Valhala, um lugar onde os heróis lutam e morrem todos os dias, mas a noite eles
43
Pré-História
sempre ressuscitam (GAARDEN, 2005, p. 26). Com isso, podemos perceber que o mundo do
“além” tem uma relação muito próxima com a vida que se tem: assim, a “pós-vida” dos
guerreiros que gostam de guerrear é a guerra.
Vamos pensar a partir de dois exemplos: o considerado como o mais antigo ritual
de sepultamento de seres humanos modernos é o de Qafzeh, em Israel. Há duas cerimônias
Hiperlink do que se supõe serem uma mãe e uma criança23. A criança foi enterrada junto a um crânio
e aos chifres de um veado (MITHER, 2002, p.284). Outro exemplo podemos ver na descrição
23
http://www.amnh. do achado arqueológico abaixo:
org/exhibitions/
permanent/ Informação social na cultura material: O sepulcro de Sungir
humanorigins/
history/arrival.php. 15
/04/2011 Os sepulcros de Sungir, Rússia, remontam a 28 mil anos. São constituídos pelos túmulos de
um homem de sessenta anos e pelo sepultamento conjunto de dois adolescentes, de sexo
masculino e feminino. Cada um desses indivíduos foi adornado com milhares de contas de marfim
provavelmente anexadas às vestimentas. O arqueólogo Randall White estudou esses túmulos e
fornece as seguintes descrições:
O homem foi adornado com 2.936 contas e fragmentos dispostos em linhas encontradas em todas
as partes de seu corpo. Sua cabeça foi aparentemente coberta por um capelo adornado com conta
e varias dentes de raposa. Seus braços e antebraços foram ambos decorados por uma série (25
ao todo) de braceletes de marfim polido de mamute, alguns exibindo traços de tinta preta... Ao
redor de seu pescoço exibia um pequeno pingente liso de xisto, pintado de vermelho, mas com um
pequeno ponto preto em um dos lados... O que se presume ter sido um menino estava coberto
de contas em linha - 4.903 delas –de aproximadamente 2/3 do tamanho das contas do homem
embora exatamente do mesmo formato. Ao contrario do homem, no entanto, ele tinha em torno
de sua cintura – aparentemente os restos de um cinto decorado – mais de 250 caninos de raposa
polar. Sobre seu peito encontrava se um pingente de marfim escovado na forma de um animal.
Em sua garganta repousava um alfinete de marfim, aparentemente o fecho de algum tipo de capa.
Sob seu ombro esquerdo havia uma grande escultura de um mamute em marfim. À sua esquerda
repousava um segmento médio de fêmur humano muito robusto e extremamente polido cuja
cavidade medular estava preenchida de ocre vermelha. A sua direita... Via-se uma pesada lança
de marfim feita a partir de uma presa lamosa de mamute aprumada... Próximo a ela está um disco
entalhado de marfim disposto verticalmente no solo.
Aquela que presumivelmente era uma menina tinha 5.274 contas e fragmentos (com tamanho de
também aproximadamente 2/3 daquele das contas do homem) cobrindo seu corpo. Ela também
usava um cabelo de contas e trazia igualmente um alfinete de marfim em sua garganta, mas em
seu túmulo não se encontrava nenhum dente de raposa, nem trazia ela pingentes em seu peito.
Todavia, de ambos os seus lados, encontrava-se um número de pequenas “lanças” de marfim mais
apropriadas ao tamanho do seu corpo do que do menino que a acompanhava. Também ao seu lado
estão dois bastões furados feitos de chifre de veado, um dos quais decorados com trilhas de pontos
escovados. Finalmente, estava acompanhada por uma serie de três discos de marfim perfurados no
centro e treliça, semelhante àquela adjacente ao dos restos do presumido menino. (WHITE, apud.
MITHER, 2002, p. 289-92
44
Pré-História
objetos? Podemos supor que aqui estão as primeiras possibilidades de uma crença em uma
vida após morte.
Mas por que carcaças, ossos separados, esculpidos ou peles de animais? Como
nos mostra Mithen, a colocação de partes de animais dentro dos túmulos dos primeiros
humanos modernos implica que algumas associações estavam sendo feitas entre pessoas
e animais, provavelmente refletindo de alguma forma o pensamento totêmico. Mas o que
significa o pensamento totêmico? É uma forma de pensar a experiência humana, ou seja,
cada clã tem uma planta ou um animal como origem, como herói fundador. No totemismo
australiano, homens e não homens são os efeitos dos percursos das criaturas do sonho, - os
ancestrais comuns -, e as sementes dessas criaturas moram nos seres existentes, humanos
e não humanos, criando múltiplos laços transversais. O casamento ou união entre clãs
é o momento de equilíbrio entre esses laços. O pensamento totêmico foi estudado pelo
antropólogo Levi-Strauss e por outros pesquisadores que procuraram compreender como
Atenção
o homem constrói seus significados religiosos e como se relaciona com eles24.
Para entendermos melhor esta questão, basta pensarmos a imponência que os 24
O pensamento
animais tinham há 25 ou 30 mil anos atrás, diante do homem. O homem pequeno e frágil, totêmico pode ser
frente a uma natureza imensa, perigosa, percebe que os animais são muito mais fortes que melhor analisado na
seguinte obra: LÉVI-
ele. Portanto, associar-se a um animal, seria uma maneira de ser forte como ele, e este tipo STRAUSS, Claude. “Na
de ação só poderia acontecer através de rituais. direção do intelecto”.
In: O totemismo hoje.
Se havia uma crença de uma vida após a morte (o que apenas podemos conjeturar Lisboa: Ed.70, 1986.
por meio de hipóteses), ter a força de um animal junto a si, ou mesmo ser este animal em
outra “encarnação”, constituía possibilidades a considerar em um mundo no qual a vida
era conquistada todos os dias, e isto frente aos perigos do ambiente. No caso de Qafzeh, a
criança foi sepultada com o crânio e os chifres de um veado.
Ritos de passagem:
Um rito de passagem é um evento social que marca a mudança de estágio na vida de homens
e mulheres, crianças e adolescentes. É um elemento que fornece reconhecimento social, ou
confirmação pelos membros da comunidade, de que alguém mudou de status social.
Historicamente, quando era muito importante ter bebês e perpetuar a comunidade, o rito de
passagem que mudava uma pessoa de criança para adulto era muito importante. Mais importante
era aquele rito que reconhecesse a mudança de menina para mulher e, portanto, na idade de
casar-se e dar à luz.
Morte é uma importante transição biológica. O funeral é um rito de passagem que marca a transição
de ancião para ancestral, quem será considerado para manter o envolvimento na família, linhagem
e comunidade após a morte. Na teologia cristã, o falecido permanecerá à espera do retorno do
Messias para levantar todos da morte e enviar cada um deles para o céu ou para o inferno. Na
sociedade secular não há teologia aberta, mas uma vaga celebração de despedida ao falecido.
Fontes: BARTLE, Phil. Ritos de Passagem: Reconhecimento Público. Disponível em: http://www.scn.
org/mpfc/modules/mis-ritp.htm Acessado em 11 ago. 2011.
45
Pré-História
46
Pré-História
à relação do homem com a morte. Assim, devemos também pensá-lo na sua relação com
os demais elementos naturais. Por isso segue um pequeno texto complementar para que
possa ajudá-lo na reflexão a esse respeito.
Leitura complementar
47
Pré-História
O Homem começa a criar mitos, pequenos dramas para explicar e humanizar tais
ritos. Os mitos serviram no passado para expor certas verdades de forma que somente os
iniciados poderiam entender. O primeiro mito que o Homem conheceu é o Mito Solar. O
Sol representava o nascimento, a vida, a morte e a ressurreição. Assim, a religião católica
estabeleceu o nascimento de Jesus em 25 de dezembro, no solstício de Inverno (Hemisfério
Norte) quando a constelação da Virgem aparece no horizonte simbolizando que Ele nasce
de uma virgem. Logo, similar ao Sol, a Jesus pesa a todos os perigos que lhe ameaçam na sua
infância e se levanta triunfante para proclamar sua doutrina. O Sol renasce na primavera e
cria uma nova vida na natureza que havia perecido no inverno. O Sol foi o início das religiões.
O sepultamento de cadáveres é outra consequência inequívoca de uma
manifestação religiosa. Começa no início da pré-história quando o Homem ainda não
conhecia a existência da alma. Pensa que o defunto continua vivendo em um lugar
desconhecido, por isso toma medidas que assegurem sua subsistência após a morte; seus
restos são pintados de vermelho relacionando à caça para subsistir simbolicamente com a
cor do sangue dos animais com que se alimentara.
A religião chega ao homem como uma concepção geral que cada povo vai adequando
aos seus costumes e crenças que lhe foram transmitidos pelos seus antepassados.
E o que é Religião? É o conjunto de crenças e dogmas acerca de uma divindade.
Todas as religiões possuem elementos em comum. Estes elementos são:
Animismo: a crença de que nas coisas vivem espíritos.
Magia: Obra por meio de causas naturais para ter efeitos sobrenaturais
Totem: a dependência dos homens com respeito aos animais e seu temor a bestas
de grande tamanho.
Tabu: palavra polinésia que significa “proibido”.
Culto dos antepassados: deve ter iniciado com a aparição dos mortos em sonhos.
Mitos: dramas para humanizar os ritos.
Alma: os gregos pensavam que a alma era um livro onde são escritas todas
as realidades e todas as leis. A Alma fica entre dois mundos, o visível e o oculto como
instrumento supremo do conhecimento.
CARTES, OMAR. A religião na vida do homem. Disponível em: <http://www.
guatimozin.org.br/artigos/relig_homem.htm > Acesso 10 junho 2011. (Adaptado por Iranilson
Buriti)
Saiba Mais
Uma questão dirige-se mais diretamente ao individuo: ora os outros morrem, mas
não seria possível impedir a minha própria morte? E a partir desta questão desenvolveu-se
na história da humanidade uma larga busca que passa pela magia, a pedra filosofal, o santo
graal etc. numa milenar corrida na busca da imortalidade. O filósofo alemão Nietzsche, ao
interpretar o nascimento da filosofia e da ciência, argumenta que ambas nasceram deste
48
Pré-História
Diz uma lenda Hindu, que a rainha Maya Devi (aquela que iria se tornar a deusa
Maya) estava grávida de dez meses. Os astrólogos diziam que este era um sinal de que a
criança que estava por nascer seria extraordinária. Como era comum na tradição, viajou
para a casa da mãe para ter seu bebê. Seu marido queria que fosse acompanhada de
um exército, mas ela não aceitou a proposta e viajou um dia antes do marcado. A lenda
continua, dizendo que Maya chegou ao bosque Lumbini, um dos lugares mais sagrados do
reino, quando a lua estava surgindo. Dizia-se também que veio à floresta não por mero
acidente, mas que o destino a guiou ate lá.
Ela queria visitar o bosque sagrado, porque lá havia uma enorme árvore, como Atenção
um grande pilar erguido para a deusa mãe. A premonição de Maya havia lhe dito que
esse nascimento seria sagrado. Ela agarrou-se ao tronco da grande arvore e deu a luz27 27
Existem muitas
versões desta história.
a seu filho que se chamaria Sidharta Gautama, aquele que mais tarde se tornaria o Buda.
Estamos optando pela
(CHOPRA, 2007, p. 12-13). proposta de Chopra,
que tenta aproximar-se
Esta narrativa oferece alguns elementos importantes para entendermos o
de uma versão humana
surgimento das religiões, de um modo geral, e de seu aparecimento durante a Pré-história, da história de Buda.
mais especificamente. A princípio, em boa parte das mitologias dos heróis das religiões, as Noutras versões, ele
teria sido tirado por
manifestações de deus na terra se dão através do corpo de uma mulher. Essa constatação
Brama do Flanco de sua
nos diz muito sobre a maneira como os homens pré-históricos entendiam a vida, a morte e Mãe, sem dor alguma.
49
Pré-História
a religião. Entre os animais, viam-se as fêmeas dando à luz aos filhotes; entre os humanos,
sabia-se que era por meio das mulheres que as crianças nasciam. Nesse sentido, as
primeiras respostas para a questão de nossa origem não poderiam ser buscadas em outra
“fonte” que não fossem as mulheres. Elas, por muito tempo (no paleolítico pelo menos)
foram entendidas como seres sagrados: ora a conexão com o divino, ora a própria divindade
(MURARO, 2000).
Maya Devi foi a um bosque sagrado, onde havia uma árvore, “um pilar erguido
à grande mãe”. Esta é uma passagem que tem muito a nos dizer e a qual temos muito
a perguntar: por que um bosque sagrado? E o que é um bosque sagrado? Por que uma
árvore? E por que esta seria também um pilar erguido à grande mãe? O que significa um
pilar? E a Grande Mãe, quem seria esta?
Para entendermos isto, vamos pensar um pouco com Mircea Eliade. Em seu livro
“O Sagrado e o Profano” nos mostra que para as religiões “o espaço não é homogêneo: o
espaço apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes de
outras” (1992, p.17). Sendo assim, na perspectiva de Eliade, existem lugares onde o divino
se manifesta: estes são os lugares sagrados. Portanto, o bosque em questão é um destes
lugares sagrados.
A natureza, especialmente entre os homens pré-históricos (embora não
exclusivamente entre eles), foi entendida como divina e, dentro dela, foram “recortados”
(no sentido de selecionados) certos lugares para serem sagrados. O bosque não é um lugar
como os outros dentro do cenário conhecido pelo homem. É visto como um lugar onde
o divino se manifesta através do esplendor das árvores. É um ambiente onde tudo está
encadeado e em movimento. Nele, cada coisa ocupa o seu devido lugar numa organização
magnífica que a ciência chama de ecossistema. Assim, o bosque já seria um lugar propício
para um acontecimento como o que iria se seguir, pois sagrado, sublime e maravilhosamente
ordenado.
No bosque em questão, há uma árvore. E especialmente as árvores são lidas por
diversas culturas como lugares cósmicos, onde o movimento de vida, morte e renascimento
acontece constantemente; onde os seres morrem, os frutos nascem, a vida ocorre. Como
nos mostra o mesmo Eliade:
50
Pré-História
razão e a fé, entre a religião e o saber: nestas sociedades, tudo isso está bastante ligado,
constituindo, por vezes, expressões do sagrado (DURKHEIM, 2000, p. 8).
Mas, nestes casos, a árvore é bem mais que só uma árvore: é um pilar erguido
em reverência à “grande mãe”. Interpretamos isso como a demarcação de um território no
centro do mundo. Em termos de culto ou reverência religiosa, quando um pilar é colocado,
normalmente, serve para possibilitar a comunicação da terra com o céu e para estabelecer
este lugar como ponto de referência. A partir e em torno dele, todo o restante da devoção
pode acontecer (veja o exemplo da Caaba para os mulçumanos, o Muro das Lamentações
para os judeus, o Golgóta para os cristãos, dentre outros28). Atenção
Existem outras características que ligam as mulheres às grandes mães. Elas têm
seus ciclos de vida bem mais definidos que os dos homens. Assim, o próprio ciclo menstrual
feminino, ao convergir com o ciclo da lua, permitia aos homens pré-históricos enxergarem
a possibilidade de que, na natureza, após a morte, o nascimento acontece de novo, através
sempre das mulheres.
Seguindo essa linha de raciocínio, cada fase da lua pode ser associada a uma fase
da vida da mulher: a lua nova representaria sua fase de menina; a lua crescente estaria
vinculada à sua juventude; a lua cheia expressaria sua fase fértil da gravidez; enquanto a
lua minguante a representaria anciã. Como na história que estamos trabalhando, não é por
acaso que, ao chegar ao bosque, a lua estava surgindo.
Assim, embora não esteja definida a fase da lua, a entrada de Maya Devi no bosque
sagrado tem a resposta imediata no céu por meio de um signo divino: a lua. É como se os
céus abençoassem o seu ato, aceitando a sua entrada no campo sagrado. E como se a lua
fosse uma companheira de Maya Devi, assim como de todas as mulheres, as únicas capazes
51
Pré-História
Vamos Revisar?
Atividades
52
Pré-História
Quiz
53
Pré-História
54
Pré-História
Gabarito do QUIZ
1. c
2. c
3. c
4. b
5. b
6. b
7. b
8. b
9. b
10. b
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Pré-História
Referências
BAYARD, Jean-Pierre. Sentido oculto dos Ritos Mortuários: Morrer é Morrer? São
Paulo: Paulus, 1996.
BERGER, Peter. I. Um Rumor de Anjos. Petrópolis, RJ. Vozes, 1969.
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do humano- Compaixão pela terra. Petrópolis,
RJ.1 1ed. Vozes 1999.
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BOURGUIGNON, André. “Hominização e Sexualidade” In: História Natural do
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CHOPRA, Deepak. Buda: a história de um iluminado. Rio de Janeiro: Sextante. 2007.
COLLIN, David García. “El Materialismo Histórico y Dialéctico aplicado al proceso
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D´ONOFRIO, Salvatore. Pensar é preciso: reflexões sobre filosofia, religião,
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DÁVILA, Gabriela Martin. Pré-História do Nordeste do Brasil. 5 ed., Recife: Editora
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DIEGUEZ, Flávio. Australopithecus afarensis: O retrato do passado. SUPER 082,
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Pré-História
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Pré-História
Para navegar...
http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/idade-dos-metais.htm
http://www.ethnologue.com
http://tipografos.net/escrita/antes-das-letras1.html
http://www.arqueologyc.hpg.ig.com.br
http://www.brasilescola.com
http://www.comciencia.br/reportagens/linguagem/bibliografia.htm
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Pré-História
Para assistir...
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Pré-História
Considerações Finais
Chegamos ao fim de mais uma etapa nos estudos da Pré-História, de mais um
momento importante para refletirmos sobre o que aprendemos com cada um destes
capítulos. O fim de um livro como este não significa que o conhecimento sobre esse assunto
foi esgotado. Pelo contrário, há muitas informações a respeito desse conteúdo que não
foram abordadas neste espaço. Ficará o desafio de você, como estudante do Curso de
História, mergulhar em outros cenários de pesquisa, em outras geografias do conhecimento
em busca de novos textos sobre paleoantropologia, acerca das sexualidades na Pré-História
e dos rituais religiosos que cercavam o cotidiano dos homens pré-históricos. Para tanto,
não fique acomodado com apenas este livro. Busque enciclopédias, paradidáticos, sites
postados neste material ou indicados pelos professores, enfim, existem muitos outros
lugares de aprendizagem, de leitura, de pesquisa que você poderá conhecer e se apaixonar.
A Pré-História, como você viu, é um lugar temporal apaixonante, uma fase da nossa história
passada que nos atrai cada vez que lançamos o nosso olhar para ela.
Dessa forma, quero desafiá-lo a refletir novamente sobre que você aprendeu ao
estudar cada capítulo e pesquisar os assuntos sugeridos. Que novos conhecimentos foram
incorporados aos outros saberes que você já possuía? Que novas expressões, vocábulos
e curiosidades você assimilou ao longo das leituras? Que novas descobertas foram
feitas mediante as atividades propostas? Assim, utilizo este espaço das considerações
finais para compartilhar com você alguns princípios que são fundamentais para o nosso
desenvolvimento como estudante, como pesquisador, como aluno do curso História. São
eles:
1. O saber é uma busca constante. Por mais que conheçamos sobre o assunto,
devemos diariamente renovar as nossas leituras, elaborar novas pesquisas,
conversar com outras pessoas, tirar dúvidas com os tutores ou professores.
2. O exercício da escrita constitui um momento privilegiado para todos nós. Quanto
mais escrevemos, mais aprendemos a escrever. Portanto, sinta-se estimulado
a desenvolver cada exercício proposto neste livro. Apesar de estar dando esse
“conselho” nas considerações finais, um lugar não muito apropriado para falar de
escrita, meu objetivo é mostrar para você que escrever deve fazer parte de sua
rotina, de seu habitus cotidiano. Portanto, se você não fez alguma das atividades
propostas, volte ao capítulo, releia as informações e, depois, responda cada uma
das atividades, pois esta atitude é fundamental para o seu crescimento intelectual.
3. No próximo volume, faça anotações sobre suas dúvidas e, quando necessário,
retorne a este material e reveja cada capítulo, revendo os boxes e os textos
principais. A segunda leitura de um texto nos permite ver e ler coisas que não
enxergamos durante a primeira leitura. Portanto, reler os capítulos é um exercício
fundamental para compreendermos melhor as ideias e sugestões do autor.
Conforme o educador espanhol Jorge Larossa, quando você ler, torna-se um autor
também!
Espero ter contribuído com o seu crescimento intelectual e despertando em você o
interesse por este assunto tão importante para a compreensão da História. Encontraremos-
nos no Volume seguinte.
60
Pré-História
Conheça o Autor
Iranilson Buriti
61
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62
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63
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