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HISTÓRIA

1
ENSINO
MÉDIO
HISTÓRIA
Gislane Azevedo
Reinaldo Seriacopi

DAS CAVERNAS ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES


1 Dos primeiros hominídeos ao domínio da agricultura. . . 4
Pré-História: um conceito em debate . . . . . . . . . . . . . . . .5
Em busca de nossas origens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5
Os primeiros hominídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6
O Homo sapiens moderno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7
Saindo da África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Os primeiros cultivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
2 Descobrindo um novo continente . . . . . . . . . . . . . . . 19
Os primeiros ocupantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
3 Povos da Mesopotâmia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
As cidades-Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29
A civilização suméria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30
O Primeiro Império Mesopotâmico . . . . . . . . . . . . . . . . .32
4 A civilização egípcia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Às margens do Nilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38
A vida social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
A crença na imortalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
A serviço dos deuses e do faraó. . . . . . . . . . . . . . . . . .42
O saber egípcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
5 As civilizações asiáticas: China e Índia. . . . . . . . . . . 47
China . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47
As civilizações da Índia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .54
Do Império Mauria ao Império Gupta . . . . . . . . . . . . . . .57
6 Os fenícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Cidades portuárias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60
O alfabeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
7 Os persas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Origens da Pérsia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67
HISTÓRIA
A formação do império . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .69
8 Os hebreus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
O papel da religião. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
A origem dos hebreus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73
Construção do sentimento de identidade . . . . . . . . . . . .73
O reino de Israel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75
2137725 (PR)
MÓDULO
Das cavernas às
primeiras civilizações

Na imagem observamos o Zigurate de Ur, construído


pelos sumérios, na região da Mespotâmia, por volta do
século XXI a.C. As ruínas dessa enorme construção per-
mitem perceber a capacidade e os avanços tecnológicos
das primeiras civilizações da humanidade.
SPC SAMANTHA R. CIARAMITARO/EVERETT/LATINSTOCK
REFLETINDO SOBRE A IMAGEM

Você sabe quando e onde surgiram os primei-


ros seres humanos? Quais eram seus hábitos
e costumes e como se espalharam por todo o
planeta? Quais foram os povos da Antiguidade
e suas heranças para o mundo em que vive-
mos? Você sabia que existem várias áreas do
conhecimento e pesquisadores empenhados
em desvendar o passado da humanidade?
Neste módulo estudaremos as transformações
e as mudanças ocorridas entre o surgimento
dos primeiros hominídeos e a formação das
grandes civilizações da Antiguidade.

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CAPÍTULO

1 Dos primeiros hominídeos ao


domínio da agricultura
Veja, no Guia do Professor, o quadro de competências e habilidades desenvolvidas neste módulo.

Objetivos: Os seres humanos encontram-se sobre a face da Terra há cerca de 200 mil anos. Mas, milhões
de anos antes de seu surgimento, diversos ancestrais da espécie humana já andaram sobre o planeta.
c Conceituar História e
Entre esses ancestrais podemos citar o Australopithecus afarensis, o Homo habilis e o Homo erectus.
Pré-História.
Cada um tem características físicas próprias, mas em comum está o fato de andarem sobre duas
c Conceituar hominídeo, pernas, como os seres humanos.
fóssil e primata. Em 2010, pesquisadores anunciaram a descoberta de uma nova espécie de australopiteco, o
Australopithecus sediba. Os fósseis desse hominídeo foram encontrados em 2008 em uma caverna
c Caracterizar as teorias
nas proximidades de Johannesburgo, na África do Sul. De acordo com os cientistas, o A. sediba viveu
sobre o povoamento da
cerca de 1,977 milhão de anos atrás. Apesar de possuir corpo pequeno – cerca de 1,3 metro de altu-
Terra pelo gênero Homo.
ra – e grandes braços – típico de outros australopitecos que viviam em árvores –, o A. sediba tinha
c Identificar a uma série de traços físicos semelhantes aos dos humanos, como o formato do cérebro, o tamanho
importância do dos dentes e a estrutura da pélvis e do fêmur. Em razão dessas semelhanças, muitos especialistas
domínio da agricultura consideram esse australopiteco um ancestral da espécie humana.
na história da Neste capítulo, estudaremos o que os cientistas já sabem a respeito das origens da humanidade.
humanidade.

THE NATURAL HISTORY MUSEUM/ALAMY/GLOW IMAGES


GLOSSÁRIO

Fóssil:
o termo tem origem no latim,
fossilis, que significa “tirado da terra”.
Os fósseis são vestígios petrificados
ou endurecidos de animais ou vege-
tais, anteriores à época atual, que se
conservaram sem perder suas formas
primitivas, permitindo que se deter-
mine seu período geológico e outras
características importantes para o es-
tudo da evolução das espécies.
GLOSSÁRIO

Hominídeos:
nome pelo qual são conhecidos
os membros da família Hominidae,
composta de mamíferos primatas. A
família Hominidae reúne as três espé-
cies do gênero Homo (Homo sapiens,
Homo erectus e Homo habilis) e as
duas espécies do gênero Australo-
pithecus (Australopithecus robustus e
A. africanus). Assim, tanto o ser huma-
no moderno como seus ancestrais fa-
zem parte do grupo conhecido como
hominídeos.
Crânio de Australopithecus sediba, encontrado na África do Sul, em 2008.

4 Das cavernas às primeiras civilizações


PRÉ-HISTÓRIA: UM CONCEITO EM DEBATE

GLOSSÁRIO
DNA:
Tradicionalmente, segundo os historiadores, as origens da humanidade eram situadas em uma abreviatura, em inglês, de Ácido Deso-
época conhecida como Pré-História. Hoje, entretanto, essa expressão não é mais aceita por muitos xirribonucleico (Desoxyribo-Nucleic-Acid).
estudiosos. Por quê? Os cientistas já sabiam, havia cerca de
A Pré-História costumava ser definida como o período compreendido entre o aparecimento dos 50 anos, que as informações hereditá-
rias contidas nos genes eram constituí-
primeiros hominídeos e a invenção da escrita, ocorrida por volta do quarto milênio antes de Cristo,
das de ácido desoxirribonucleico. Mas
na Mesopotâmia (no atual Oriente Médio), e, logo depois, no Egito. Essa periodização começou a ser foi em abril de 1953 que os pesquisa-
utilizada durante o século XIX, na Europa. Nessa época, acreditava-se que só seria possível resgatar dores James Watson e Francis Crick
o passado de uma sociedade caso existissem registros escritos feitos por ela. elucidaram a estrutura da molécula,
Atualmente, essa visão é encarada com reservas. Outras fontes, como imagens, objetos e relatos comparando-a a uma dupla-hélice ou
uma escada em espiral. Essa descoberta
orais, passaram a ter a mesma importância que a escrita no processo de conhecimento histórico. possibilitou o desenvolvimento da bio-
Além disso, avanços científicos e tecnológicos colaboram na tarefa de resgatar o passado. É o caso logia molecular e vem permitindo que
da análise do DNA, de programas de computador e de métodos científicos que determinam a idade nossa herança genética seja desven-
de fósseis e de restos arqueológicos. dada. Como o DNA é responsável pela
transmissão de informações genéticas
A invenção da escrita como marco inicial da História também pode ser questionada pelo fato
de uma geração para outra, ele contém
de não ter ocorrido ao mesmo tempo em todo o planeta. Muitos povos só entraram em contato um registro da história humana. O DNA
com ela no final do século I a.C., durante a expansão de Roma. Ainda hoje, há grupos indígenas no pode mostrar, por exemplo, a diversi-
Brasil e aborígines na Austrália que não fazem uso de sinais gráficos para representar palavras. ficação do ser humano moderno nos
Se considerássemos o surgimento da escrita como o início da História, conquistas como o do- grupos étnicos que conhecemos hoje,
bem como a evolução dos hominídeos,
mínio do fogo, a invenção da roda e a prática da agricultura ficariam que começaram a caminhar sobre duas
de fora da História da humanidade, pois ocorreram muitos séculos pernas há mais de 4 milhões de anos.
antes da invenção dessa forma de comunicação.
Amparados nessas ressalvas, podemos dizer que o mais
indicado é considerar o período chamado de Pré-História
como uma etapa no processo histórico do ser humano.

GLOSSÁRIO
Do ponto de vista social, podemos entendê-lo como um Primatas:
período em que ainda não haviam surgido socieda- ordem de mamíferos que compreen-
des complexas e sedentárias e no qual as pessoas de cerca de 180 espécies, entre elas o
próprio ser humano, os gorilas e os vá-
se reuniam em pequenos grupos ou agrupamentos rios tipos de macacos. Caracterizam-se
nômades. por apresentar membros alongados,
mãos e pés com cinco dedos providos
de unhas e o polegar em oposição
EM BUSCA DE NOSSAS aos demais dedos, o que lhes permite
maior habilidade manual.
ORIGENS
JOHN READER/SCIENCE PHOTO LIBRARY/LATINSTOCK

Há cerca de 60 milhões de anos, apareceram na


Terra os primeiros primatas. Desse grupo surgiram o
gorila, o chimpanzé, o orangotango e os primeiros ho-
minídeos, que deram origem à espécie humana.
Atualmente, especialistas como paleoantropólo-
gos, geólogos, arqueólogos, biólogos, geneticistas, etnólo-
gos, paleontólogos, entre outros participam de escavações
em busca de vestígios dos nossos ancestrais para descobrir
como eles eram e como viviam. Esses vestígios podem ser
fósseis, ferramentas, esculturas, pinturas em cavernas, utensílios,
restos de fogueiras, entre outros (veja a imagem ao lado).
Entretanto, a ciência ainda não encontrou uma resposta
precisa a respeito de como e quando o ser humano apareceu. O
HISTÓRIA

que os cientistas sabem é que o surgimento da humanidade foi Com mais de 3 milhões de anos, o fóssil
resultado de um longo processo, que se estendeu por milhões do hominídeo da espécie Australopithecus
afarensis encontrado na África, em 1974,
de anos e envolveu não só alterações físicas, mas também cul- recebeu o nome de Lucy porque, além
turais, como o modo de viver e agir desses seres. de ter sido definido como uma fêmea,
seu descobridor escutava durante as
escavações a canção “Lucy in the sky with
diamonds”, dos Beatles.

Das cavernas às primeiras civilizações 5


OS PRIMEIROS HOMINÍDEOS
Os fósseis são uma das principais fontes de estudo para se entender a evolução da espécie hu-
mana. Sua análise indica que os indivíduos com características tipicamente humanas não apareceram
GLOSSÁRIO

Evolução: recentemente nem de uma só vez.


conjunto dos processos pelos quais Um dos hominídeos mais antigos que se conhece é o Ardipiecus kadabba, que habitou a África
as espécies animais e vegetais se
modificam no decorrer do tempo, de há 5,8 milhões de anos.
geração em geração, levando ao apa- Posteriormente, surgiram outros hominídeos do gênero dos australopitecos. Eles teriam habita-
recimento de novas espécies. No sé- do a África entre 4,2 milhões e um milhão de anos atrás e se dividiam em várias espécies, como a dos
culo XIX, a contribuição do naturalista Australopithecus anamensis, a dos Australopithecus afarensis e a dos Australopithecus sediba, sobre a
inglês Charles Darwin (1809-1882) foi
decisiva para o estudo da evolução
qual comentamos na abertura deste capítulo.
dos seres vivos. De modo geral, os australopitecos tinham braços longos, maxilares salientes e cérebros peque-
nos, mas sua principal característica era o fato de andarem eretos.

Portal
SESI
Educação www.sesieducacao.com.br

Acesse o portal e veja o infográfi-


co Cavernas brasileiras.

MICHAEL NICHOLSON/CORBIS/LATINSTOCK
Pensamento Crítico

Acesse o Material Comple-


mentar disponível no Portal e
aprofunde-se no assunto.

Crânio reconstruído do Australopithecus


afarensis, conhecido como Lucy.

EQUINOX GRAPHICS/SPL/LATINSTOCK

Montagem computadorizada de um crânio


de Homo floresiensis (à esquerda) ao lado de
um crânio de Homo sapiens sapiens (à direita).
O Homo floresiensis foi um hominídeo de
pouco mais de um metro de altura e cérebro
muito pequeno. Acredita-se que foi extinto
há 12 mil anos e que coexistiu com os seres
humanos modernos (Homo sapiens). Em
2003, restos desse crânio foram encontrados
na caverna Liang Bua, localizada na ilha de
Flores, Indonésia.

6 Das cavernas às primeiras civilizações


O HOMO SAPIENS MODERNO
Uma das espécies de australopiteco – não se sabe qual – deu origem a um grupo de hominí-
deos, o Homo. Os cientistas ainda não descobriram quando, como e onde isso aconteceu. Acredita-se
que os primeiros seres do gênero Homo apareceram há cerca de 2 milhões de anos e por mais de VEJA O FILME
800 mil anos conviveram com os australopitecos na África. Estes, porém, não conseguiram se adaptar A guerra do fogo, de Jean-Jacques
à crescente competição entre as espécies e foram extintos. Annaud. Canadá, Estados Unidos
Segundo alguns especialistas, a espécie mais antiga de Homo que se conhece é a do Homo e França, 1981. (100 min).
habilis. Com cerca de 1,57 m de altura, pouco mais de 50 kilogramas e um cérebro de até 800 cm³, Tendo como eixo a descoberta
o Homo habilis se desenvolveu graças a sua capacidade de adaptação cultural e social: ele tinha, por do fogo, o filme apresenta gru-
exemplo, o hábito de dividir os alimentos com os integrantes de seu grupo, criando, assim, laços de pos em diferentes estágios da
solidariedade. evolução, misturando ficção e
Pesquisas recentes mostram que o Homo habilis conviveu por centenas de milhares de anos aventura.
com outro hominídeo, o Homo erectus, que apareceu na África por volta de 1,8 milhão de anos atrás.
Para os cientistas, essas duas espécies podem ter tido um ancestral comum, ainda desconhecido.
O Homo erectus chegava a medir até 1,80 m. Seu cérebro tinha um volume médio de 950 cm³, Representação artística de um grupo
mas podia chegar a 1 250 cm³. Seu rosto era largo e sua arcada dentária, saliente. Revelou-se um ser de ancestrais e precursores do Homo
de grande capacidade mental: andava em grupos de vinte a trinta indivíduos, fabricava utensílios, sapiens moderno. Da esquerda para a
direita e da frente para trás: Homo erectus,
construía cabanas, aprendeu a dominar o fogo e a organizar caçadas, dividindo tarefas entre si. Australopithecus africanus, Kenyathropus
O Homo erectus foi o primeiro hominídeo a emigrar da África. Seguindo o curso do rio Nilo, rudolfensis, Australopithecus afarensis,
alcançou a Ásia e depois a Europa. Desapareceu há cerca de 300 mil anos, quando espécies arcaicas Homo habilis, Australopithecus boisei,
de Homo sapiens já andavam pelo planeta. Homo neanderthalensis e Australopithecus
anamensis.

HESS. LANDESMUSEUM/AKG-IMAGES/LATINSTOCK

HISTÓRIA

Das cavernas às primeiras civilizações 7


Tudo indica que essas espécies evoluíram até que, por volta de 195 mil anos atrás, apareceu
VEJA O FILME o Homo sapiens sapiens (ou Homo sapiens moderno), espécie da qual fazemos parte. Por ter uma
A origem do homem, Discovery faringe mais longa e uma língua mais flexível, essa espécie desenvolveu a capacidade da fala, por meio
Channel. Estados Unidos, 2002. da qual passou a expressar seus pensamentos e a desenvolver conceitos abstratos.
(100 min). Durante algum tempo, o ser humano conviveu com indivíduos de outras espécies do gênero
O documentário discute ques- Homo – o Homo neanderthalensis, também conhecido como Homem de Neanderthal –, mas ele
tões como o êxodo humano da desapareceu há cerca de 30 mil anos.
África Oriental para outros luga-
res do mundo. Afinal, como esses
seres povoaram quase toda a ex-
tensão da Terra? Apresenta pes- Somos todos iguais
quisas nos campos da genética e

VITSTUDIO/SHUTTERSTOCK
da antropologia.

Moléculas
de DNA.

Pele negra, branca ou parda; olhos arredondados ou puxados. Cabelos lisos, crespos ou
encaracolados. As variações físicas entre os seres humanos são imensas, porém, a ciência já
comprovou: apesar das diferenças observadas entre os indivíduos, a espécie humana é única.
Isso significa que, ao contrário do que muitos afirmaram no passado, as pessoas não podem
ser separadas em raças.
A comprovação definitiva desse fato aconteceu em 2003, quando cientistas do Projeto
Genoma concluíram o sequenciamento genético de 94% do DNA humano. Ao analisarem
os genes formadores de nossas características físicas, os cientistas observaram que as dife-
renças das sequências genéticas entre dois indivíduos não chegam a 1%.
As variações encontradas – como a cor da pele ou dos olhos, por exemplo – são resul-
tado do processo evolutivo do ser humano diante da necessidade de se adaptar às condições
ambientais em que passou a viver.
Segundo os cientistas, o cabelo crespo, por exemplo, surgiu como uma forma de pro-
teger o couro cabeludo das pessoas que viviam em regiões de clima quente. Esse tipo de
cabelo forma uma camada de ar entre o couro cabeludo e o ambiente, protegendo a cabeça
GLOSSÁRIO

Seleção natural: da grande incidência dos raios solares.


termo cunhado pelo naturalista bri- Ainda de acordo com os cientistas, um dos fatores pelos quais os europeus teriam a
tânico Charles Darwin (1809-1882) pele mais clara do que a dos africanos, por exemplo, se deve ao clima. Durante o processo
para explicar a evolução das espécies de seleção natural verificado ao longo de milhares de anos, prevaleceu na Europa – região
no planeta. Para Darwin, as espécies onde os dias costumam ser mais curtos e frios – indivíduos de pele mais clara, pois estes têm
mais aptas a enfrentar e vencer as difi-
culdades do ambiente em que vivem
capacidade de melhor absorver a luz solar necessária à produção de vitamina D, responsável
são as que sobrevivem, enquanto as pela absorção de cálcio, essencial para o desenvolvimento de ossos e dentes.
menos aptas desaparecem. Ocorre Em estudo publicado em 2007, o antropólogo norte-americano Henry Harpending, baseado
então uma diferenciação evolutiva na análise do DNA de indivíduos de diferentes populações, afirma que “os europeus ficaram mais
que é geneticamente transmitida de claros, mais louros e com olhos mais azuis há apenas cinco mil anos”.
geração em geração. Essa diferencia-
ção favorece mudanças na espécie Fontes: ESCOBAR, Herton. Evolução do Homo sapiens continua, cem vezes mais rápida.
que permitem a ela adaptar-se às O Estado de S. Paulo, 11 dez. 2007; <www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/home.shtml>.
condições existentes e, assim, não só Acesso em: 4 jul. 2014; Superinteressante, n. 50, nov. 2001. Disponível em: <http://super.abril.com.br/
superarquivo/1991/conteudo_112801.shtml>. Acesso em: 4 jul. 2014.
sobreviver, mas evoluir.

8 Das cavernas às primeiras civilizações


PARA CONSTRUIR

1 (UFPE – Adaptada) Alguns historiadores afirmam que a b) Elabore um novo conceito para denominar o período em
História iniciou quando a humanidade inventou a escrita. questão. Tenha em mente as características do período e
Nessa perspectiva, o período anterior à criação da escrita busque um conceito que aborde tais características. Em
é denominado Pré-História. Sobre esse assunto, assinale a seguida, justifique sua escolha.
alternativa correta. c Nessa atividade, o aluno precisa refletir sobre as características
a) A história e a Pré-História só podem se diferenciar pelo dos primeiros hominídeos e elaborar um novo conceito para
critério da escrita. Logo, aqueles historiadores que não denominar esse período. A resposta é pessoal, mas é importante
concordam com esse critério estão presos a uma visão
que a escolha esteja justificada com base naquilo que se
teológica da História.
conhece sobre os primeiros hominídeos, como a inexistência
b) Esta afirmação não encontra qualquer contestação dos
verdadeiros historiadores, pois ela é uma prova irrefutável de sociedades complexas e sedentárias e a organização de
de que todas as culturas evoluem para a escrita. pequenos agrupamentos nômades.
c) Os historiadores que defendem a escrita como único
critério que diferencia a História da Pré-História reafir-
mam uma visão tradicional da História, que ignora a uti-
lização de outras fontes históricas para o conhecimento
do passado.
d) A escrita não pode ser vista como critério para distinguir a
História da Pré-História, pois o aspecto econômico é con-
siderado um critério muito mais importante.
e) Os únicos historiadores que defendem a escrita como cri-
tério são os franceses, em razão da influência da filosofia 3 (Pasusp)
iluminista. Há três milhões de anos, os ancestrais dos seres hu-
manos ainda passavam grande parte de suas vidas nas ár-
2 O conceito de Pré-História representa, tradicionalmente, o vores. Mas, de acordo com um novo estudo, é possível que
período entre o aparecimento da humanidade e a invenção naquela época eles já caminhassem como bípedes. Há mais
da escrita. Porém, atualmente, esse conceito é visto com res- de 30 anos foi descoberto em Laetoli, na Tanzânia, um
salvas. Sobre isso, responda: rastro de pegadas fósseis depositadas há 3,6 milhões de
a) Por que esse conceito não é mais inteiramente aceito pe- anos e preservadas em cinzas vulcânicas. A importância
los historiadores? dessas pegadas para o estudo da evolução humana tem
O conceito deve ser visto com ressalvas porque hoje se sido intensamente debatida desde então. As pegadas, que
entende que outras fontes de informação, além do registro
mostravam clara evidência de bipedalismo – a habilidade
para caminhar na posição vertical –, haviam sido produzi-
escrito, podem ser úteis no processo de conhecimento
das, provavelmente, por indivíduos da única espécie bípe-
histórico. Imagens, objetos e relatos orais, por exemplo. de que vivia naquela área na época: os Australopithecus
Programas tecnológicos também ajudam a resgatar o passado. afarensis. Essa espécie inclui Lucy, um dos fósseis de ho-
minídeos mais antigos encontrados até hoje e cujo esque-
leto é o mais completo já conhecido.
Agência Fapesp, 22 mar. 2010. Disponível em: <www.agencia.fapesp.br/
boletim/22032010>. Acesso em: 1o jul. 2010. Adaptado.
De acordo com o texto: c
a) as pegadas fósseis encontradas na Tanzânia eram de indi-
víduos da espécie Homo sapiens.
b) o homem evoluiu a partir de macacos que viviam em
HISTÓRIA
árvores.
c) os Australopithecus afarensis caminhavam na posição
vertical.
d) Lucy é o mais antigo fóssil da espécie Homo sapiens já
encontrado.
e) Lucy e os da sua espécie não tinham habilidades para
caminhar na posição vertical.

Das cavernas às primeiras civilizações 9


4 (Ceeteps-SP) O texto e a tabela comparativa relacionam, do ponto de vista científico, o Homem de Neardenthal e o Homo sapiens,
segundo dados de uma pesquisa realizada na Universidade de Wyoming, liderada pelo cientista Jason Shogren.
O Homo sapiens – homem atual – surgiu há aproximadamente 150 mil anos, possivelmente na África e, desde então,
vem evoluindo e aumentando seu número.
Por outro lado, o Homem de Neanderthal surgiu há aproximadamente 200 mil anos e tinha certas vantagens na-
turais em relação ao sapiens, pois seu corpo mais atarracado e forte, com ossos mais robustos e caixa torácica mais
larga, tornava-o mais adaptado aos rigores do frio.
No entanto, há aproximadamente 27 mil anos, os Homens de Neanderthal entraram em extinção, menos de 10 mil anos
depois da chegada do Homo sapiens à Europa. A proximidade entre as duas datas faz do sapiens o principal suspeito dessa
extinção.
Veja. São Paulo: Abril, 8 jun. 2005. Adaptado.

Tabela comparativa entre essas duas espécies

Neanderthal Sapiens

Não há indícios de um sistema de troca entre eles. Comércio Trocavam alimentos e artefatos.
Os caçadores mais habilidosos iam atrás dos animais, os demais se dedicavam a outras
Não tinham. Divisão do trabalho
tarefas.
Rudimentar. Linguagem A fala articulada aumentou a capacidade de organização do grupo.
Não entendiam símbolos, por isso não faziam arte. Cultura O pensamento simbólico permitiu a evolução da linguagem e a comunicação.
As ferramentas evoluíram muito pouco. Evolução tecnológica A troca entre diferentes grupos acelerou o desenvolvimento tecnológico.

De acordo com as informações fornecidas no texto e na tabela, assinale a alternativa correta. e


a) Os Homens de Neanderthal morreram de fome e frio, porque utilizavam ferramentas rudimentares, não conheciam o fogo e não
caçavam.
b) Os Homens de Neanderthal eram melhores do que os sapiens, no comércio e na divisão de trabalho.
c) Os sapiens não apresentavam linguagem inteligível, o que impediu a divisão de tarefas e a organização dos grupos.
d) Os Homens de Neanderthal expressavam suas ideias, experiências e sentimentos através de esculturas e hieróglifos nas paredes
das cavernas.
e) Os sapiens, apesar de mais fracos fisicamente, com o passar do tempo ultrapassaram os Homens de Neanderthal na organização
dos grupos e na tecnologia.

5 (UFRGS-RS) Recentemente, no estado americano de Arkansas, a teoria da evolução elaborada por Charles Darwin foi retirada dos
currículos e teve proibida a sua utilização. Não obstante, os estudos paleontológicos, antropológicos e arqueológicos vêm possi-
bilitando avanços na compreensão do período da Pré-História, confirmando a existência de um longo período em que ocorreu o
processo de hominização. Sobre esse processo, analise as afirmações abaixo.
I. As mais antigas formas de vida humana registradas pela Paleontologia denominam-se hominídeos, como comprovam os acha-
dos dos fósseis identificados como Australopithecus, Pithecantropus, Sinantropus, entre outros.
II. Os fósseis demonstram que, no curso evolutivo da Humanidade, mais de um milhão de anos antes de surgir o Homo Sapiens,
existiram várias espécies a caminho da humanização, e as mudanças físicas ocorridas ao longo de centenas de milhares de anos
propiciaram sua adaptação a qualquer ambiente.
III. As evidências arqueológicas indicam que a espécie humana não nasceu pronta nem física, nem culturalmente. Necessitou de
um enorme período de tempo para desenvolver um conjunto de habilidades técnicas e de conhecimentos que lhe permitisse
elaborar instrumentos de trabalho e utensílios.

Quais estão corretas? d


a) Apenas I. c) Apenas III. e) I, II e IIl.
b) Apenas II. d) Apenas II e III.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 Para aprimorar: 1 e 2

10 Das cavernas às primeiras civilizações


SAINDO DA ÁFRICA VEJA O FILME
Entre 1 milhão e 700 mil anos atrás, o Homo erectus saiu da África, onde surgiu, e iniciou o po- A Era do Gelo, de Chris Wedge.
voamento da Ásia e da Europa. Entretanto, foi o Homo sapiens sapiens quem conseguiu ocupar – até Estados Unidos, 2002. (81 min).
por volta de 12000 a.C. – todos os continentes do planeta, com exceção da Antártida. Um tigre-dente-de-sabre, um
Segundo os especialistas, o Homo sapiens sapiens chegou ao Oriente Próximo e à Ásia mamute e uma preguiça, entre
entre 90000 e 45000 a.C. Do continente asiático ele teria – há cerca de 40 mil anos – alcança- outros animais, encontram uma
do a Oceania por meio de embarcações. Enquanto isso, outros grupos ocupavam a Europa e criança perdida e partem para
devolvê-la a sua família em ple-
a Ásia central, onde levavam uma vida nômade, ou seja, deslocavam-se constantemente em
na Era Glacial.
busca de alimentos. Viviam da coleta de frutos e de raízes e caçavam animais, como mamutes
e bisões, hoje extintos.

O povoamento da América
Ainda hoje, a ciência não chegou a uma explicação única a respeito de quando os primeiros huma-

GLOSSÁRIO
nos atingiram o continente americano. A Teoria Clóvis, formulada na primeira metade do século XX, Era Glacial:
afirma que, há cerca de 15 mil anos, grupos de caçadores-coletores teriam saído do nordeste da Ásia, diz-se do período em que as tem-
peraturas do planeta chegaram a ní-
atravessado o estreito de Bering e chegado ao Alasca.
veis extremamente baixos e grandes
Isso só teria sido possível porque, naquela época, o planeta vivia sua última Era Glacial, durante porções da superfície terrestre foram
a qual as águas do mar baixaram drasticamente, deixando descoberto o fundo do estreito de Bering. cobertas por espessas camadas de
Do Alasca, essa população teria alcançado a América do Sul há 11 500 anos. gelo. Acredita-se que a Terra já te-
nha passado por pelo menos quatro
Entretanto, descobertas arqueológicas mais recentes recuam a chegada do ser humano à Amé- grandes períodos glaciais; o primeiro,
rica para muito antes dessa data. Para alguns pesquisadores, existiriam vestígios da presença humana e provavelmente o mais intenso, teria
no continente de até 50 mil anos, o que obrigaria os estudiosos a rever a Teoria Clóvis. As pesquisas ocorrido entre 800 e 600 milhões de
coordenadas pela arqueóloga brasileira Niède Guidon na região de São Raimundo Nonato (Piauí) anos atrás.
contribuíram decisivamente para esse debate.
Outra polêmica recente refere-se à ideia, defendida pelo pesquisador brasileiro Walter Neves,
de que houve mais de uma leva de migração pelo estreito de Bering. Para reforçar essa hipótese,
Neves baseia-se no crânio de uma mulher encontrado em 1975 em Lagoa Santa (MG) e à qual
se deu o nome de Luzia. Ela teria vivido há cerca de 11 500 anos e apresentaria características
morfológicas mais próximas dos aborígenes negroides da Austrália do que dos mongoloides
asiáticos.

Teoria da ocupação da América


FONTE: NEVES, W.; PILÓ, L. O povo de Luzia: em busca
dos primeiros americanos. São Paulo: Globo, 2008.

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Círculo Polar Ártico Estr. de Bering

MARCOS HERMES/
ARQUIVO DA EDITORA
OCEANO
ATLÂNTICO

Trópico de Câncer
OCEANO
PACÍFICO
Equador

HISTÓRIA
OCEANO
OCEANO
ATLÂNTICO
ÍNDICO Reconstituição da cabeça de Luzia
Trópico de feita na Universidade de Manchester,
Capricórnio Inglaterra, com a ajuda de tomografias
Limites atuais computadorizadas. A reconstrução
N
revela uma face de traços africanos,
Grupos humanos não mongólicos
0 2 157 em contraste com a dos indígenas de
Grupos humanos mongólicos características mongoloides encontrados
km
por Cabral em 1500.

Das cavernas às primeiras civilizações 11


GEORGE HOLTON/PHOTO RESEARCHERS, INC./LATINSTOCK
Pintura rupestre em
caverna da Argélia, no
norte da África, datada
de 4500 a.C., alusiva à
criação de gado por
grupos humanos do
período Neolítico.

OS PRIMEIROS CULTIVOS
Com o fim da Era Glacial, o clima tornou-se mais ameno e o solo, mais fértil. Grupos nômades
começaram a construir cabanas junto a rios e lagos, onde pescavam, abasteciam-se de água, caçavam
e coletavam cereais silvestres.
Levados para os acampamentos, onde eram moídos e cozidos, muitos desses grãos de cereais
caíam acidentalmente no solo e é provável que as pessoas tenham percebido que, com o tempo, eles
germinavam. Segundo alguns estudiosos, foi dessa maneira que o ser humano aprendeu a cultivar a terra.
As evidências encontradas indicam que o domínio da agricultura ocorreu de forma indepen-
dente em diferentes lugares do mundo. Os primeiros cultivos parecem ter surgido na região de Jericó,
no Oriente Médio, há cerca de 10 mil anos. Nessa mesma época, na América, grupos humanos já
cultivavam abóboras na atual região do Equador.

Povos sedentários
O domínio da agricultura provocou uma grande transformação na vida dessas populações, a
ponto de ser chamado de Revolução Agrícola. Com a agricultura, as pessoas passaram a controlar
melhor seus estoques de alimentos. A tomada de consciência dessa nova capacidade resultou em
um aprimoramento das técnicas agrícolas e provocou inúmeras mudanças nos grupos humanos.
Com o desenvolvimento da agricultura, os seres humanos passaram a elaborar melhor seus
instrumentos e utensílios de pedra. Essa mudança, à qual se acrescentou mais tarde a utilização dos
metais como matéria-prima, levou os cientistas a dividir a chamada Pré-História em três períodos:
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada: do surgimento dos primeiros seres humanos até 8000 a.C.
Caracterizado por instrumentos rústicos, não polidos.
Neolítico ou Nova Idade da Pedra: de 8000 a.C. a 5000 a.C. Principais características: instrumentos
de pedra polida, agricultura e sedentarização.
Idade dos Metais: de 5000 a.C. à invenção da escrita.
Durante o Neolítico, o maior estoque de alimentos permitiu que algumas comunidades cres-
cessem. Em certos lugares, os homens passaram a derrubar árvores e a preparar o terreno para o
plantio. Para isso, desenvolveram novas ferramentas de pedra, sílex ou madeira, como machados,
foices, enxadas e arados. As mulheres, por sua vez, se ocupavam da colheita.
Quase ao mesmo tempo que o domínio da agricultura, houve a domesticação de animais –
cabras, ovelhas, cães, porcos, cavalos e bois –, que passaram a ser utilizados como meio de transporte,
como fonte de leite, lã e esterco, além de carne para os períodos de fome.

12 Das cavernas às primeiras civilizações


Em muitos lugares, a vida sedentária e o cultivo do solo levaram ao crescimento demográfico e à
formação de aglomerações humanas. Pouco a pouco, algumas dessas aglomerações se transformaram
nas primeiras vilas e cidades (veja o mapa a seguir).

Primeiros núcleos urbanos (séculos X a.C. a III a.C.)

ÁSIA MENOR Mar


Cáspio
Çatal Hüyük
(10000 a.C.)

Ugarit
Chipre (3000 a.C.) MESOPOTÂMIA

Mar
Rio

Rio

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.


Mediterrâneo Eu
fr a
Damasco

Tig
s

r
(5000 a.C.)

te

e
Jericó HEBREUS Nipur (4000 a.C.)
(10000 a.C.) Mar Uruk (4000 a.C.) Lagash (4000 a.C.)
Morto
Mênfis Ur (4000 a.C.) Eridu (4000 a.C.)
(3000 a.C.)
Nilo
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km

Com o crescimento populacional, surgiram novos problemas. Sobreviver nos lugares de clima
árido, por exemplo, exigia um enorme esforço coletivo. A população dessas regiões precisava cons-
truir reservatórios para garantir água nos períodos de seca, erguer diques para controlar as cheias dos
rios e abrir canais para irrigar as plantações.
No entanto, isso só poderia ser feito se o grupo estivesse bem organizado e preparado para
enfrentar os problemas surgidos com a sedentarização, entre os quais doenças contagiosas, como
sarampo, gripe e catapora, resultantes do contato com animais domésticos, ou a disenteria, provo-
cada pelo acúmulo de dejetos.
Além disso, esses agrupamentos humanos sofriam com a ação de ladrões nômades e com as
tempestades de areia e inundações repentinas.
Tudo isso exigia uma melhor divisão de tarefas: enquanto algumas pessoas se responsabilizavam
por obras como a construção de diques e de canais de irrigação, outras cuidavam da agricultura
e da fabricação de ferramentas e de utensílios. O resultado desse esforço foi um gradual avanço
tecnológico, que culminou na invenção da roda, do arado de tração animal, do barco a vela e na
fundição de metais, atividade iniciada por volta de 5000 a.C. Com a metalurgia, tornou-se possível
GLOSSÁRIO

Estratificação social:
criar ferramentas, armas e outros utensílios do tamanho e do formato desejados.
divisão da sociedade em camadas
À medida que algumas atividades e profissões assumiram maior importância, começaram a se (ou estratos) superpostas. Essa divi-
afirmar os primeiros graus hierárquicos (pessoas que mandavam e pessoas que obedeciam) e formas são é estabelecida pelas diferenças
iniciais de estratificação social. existentes entre os grupos sociais,
Graças à autoridade moral, à capacidade de liderança ou à riqueza, alguns indivíduos passaram em termos de riqueza, prestígio ou
a ser consultados em relação a determinadas questões. Outros se destacaram como chefes guerreiros, poder, ou todas as formas combi- HISTÓRIA
nadas. O conceito de estratificação
ou seja, por sua capacidade de conduzir o grupo nos conflitos com grupos rivais. Em vários casos, social tem sido útil para a descrição
essas pessoas (e os grupos sociais a que estavam ligadas) adquiriram privilégios e poder sobre os das diversas sociedades. Entretanto,
demais, tornando-se governantes e reis. alguns pensadores, sobretudo os da
Com o crescimento das comunidades, aumentou a procura por alimentos e utensílios, inten- tradição marxista, preferem utilizar os
conceitos de classe social e de luta de
sificando o comércio com outros grupos. Um dos resultados desse processo foi o surgimento, há classes em suas análises da sociedade
cerca de 10 mil anos, dos primeiros núcleos urbanos, como Çatal Hüyük e Jericó (veja novamente o e da História.
mapa desta página).

Das cavernas às primeiras civilizações 13


PARA CONSTRUIR

6 Para a maioria dos especialistas, nossa espécie se originou na África e, posteriormente, ocupou outros continentes. Descreva de
que modo o gênero Homo povoou o planeta.
De acordo com os pesquisadores, grupos humanos da espécie Homo erectus seguiram o curso do rio Nilo, na África, e alcançaram a Ásia e a
Europa. Essa espécie, porém, desapareceu há cerca de 300 mil anos. A ocupação de todos os continentes (menos a Antártida) só foi concretizada
pelo Homo sapiens sapiens por volta de 12000 a.C.

7 (UTFPR) Tradicionalmente, podemos definir a Pré-História como o período anterior ao aparecimento da escrita. Portanto, esse
período é anterior a 4000 a.C., pois foi por volta desta época que os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Com base
nesse entendimento, qual a alternativa que apresenta características das atividades do homem na fase paleolítica? e
a) Os homens aprenderam a polir a pedra. A partir de então, conseguiram produzir instrumentos (lâminas de corte, machados,
serras com dentes de pedra) mais eficientes e mais bem-acabados.
b) Os homens descobriram uma forma nova de obter alimentos: a agricultura, que os obrigou a conservar e cozinhar os cereais.
c) Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio alimento, os homens não tinham mais por que mudar constantemente
de lugar e tornaram-se sedentários.
d) Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os juros.
e) Os homens ainda não produziam seus alimentos, não plantavam e nem criavam animais. Em verdade, eles coletavam frutos,
grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.

8 (UFPEL-RS) Analisando a linha do tempo, no período que vai do surgimento do homem ao desenvolvimento da agricultura, encon-
tra-se a fase: e

a.C. d.C.
Cerca de Cerca de Cerca de
Cerca de 4 milhões 6 mil anos a.C.
10 mil anos a.C. 4 mil anos a.C.
de anos a.C.

Ano 1 476 1453 1789


Idade Idade Idade Idade
Antiga Média Moderna Contemporânea

Desenvolvimento
da agricultura Invenção Revolução
Surgimento dos da escrita Queda do Francesa
primeiros hominídeos Império
Uso dos Romano do
Ocidente Tomada de
metais Constantinopla
Nascimento de
Cristo
Pré-História História

a) Neolítica. c) dos Metais. e) Paleolítica.


b) da invenção da escrita. d) da Antiguidade.

14 Das cavernas às primeiras civilizações


9 A Teoria Clóvis recebe críticas cada vez maiores por parte dos 10 (UFRGS-RS) A denominação “Revolução Neolítica”, cunhada
pesquisadores. Um dos principais críticos dessa teoria, entre nos anos 1960 pelo arqueólogo Gordon Childe, refere-se a
os pesquisadores brasileiros, é Walter Neves. Sobre isso, leia o uma série de intensas transformações. Entre essas mudanças,
trecho abaixo e responda em seguida: é correto citar: d
A Teoria Clóvis nunca foi uma unanimidade, [...]. Um a) a criação do poder político centralizado associado ao do-
dos críticos da teoria, há mais de 20 anos, é o brasileiro mínio do poder religioso.
Walter Neves, da Universidade de São Paulo. Ele e seus b) o desenvolvimento de conglomerados urbanos baseados
colaboradores defendem a tese de que as Américas foram no trabalho escravo.
colonizadas por duas correntes migratórias diferentes vin- c) a instituição privada das terras, com o cultivo de cereais e
das da Ásia pelo estreito de Bering e que cada uma delas a criação de animais.
seria composta por grupos biológicos diferentes. d) o surgimento da divisão natural do trabalho, com a atri-
Artefatos de 15 mil anos derrubam teoria de ocupação das
Américas. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/ buição de papel produtivo relevante à mulher.
artefatos+de+15+mil+anos+derrubam+teoria+de+ocupacao+das+americas/ e) a transição da economia de subsistência para uma econo-
n1238189025874.html>. Acesso em: 4 jul. 2014. Adaptado. mia industrial.
a) Como a Teoria Clóvis explica o povoamento da América? 11 Atualmente, acostumamo-nos a separar a vida urbana das
E o que diferencia essa teoria das teses de Walter Neves? atividades agrícolas. No entanto, a agricultura teve papel fun-
Segundo a Teoria Clóvis, há cerca de 15 mil anos, grupos de damental na origem das primeiras vilas e cidades. Explique
caçadores-coletores saíram do nordeste da Ásia, atravessaram essa relação.
o estreito de Bering e chegaram ao Alasca. Essa ideia é Durante o Neolítico, o maior estoque de alimentos obtido com a
contestada por Walter Neves, que defende que houve mais agricultura permitiu que algumas comunidades crescessem. A
de uma leva de ondas migratórias pelo estreito de Bering. necessidade de preparar terrenos para o plantio, o cultivo do solo e a
domesticação de animais levou o homem, pouco a pouco, a abandonar
o nomadismo e a se fixar. Esse processo, consequentemente, deu
origem às primeiras vilas e cidades.

b) Por que os pesquisadores não conseguem atingir um


consenso sobre as datas de povoamento da América?
12 Apesar de a passagem do nomadismo para a vida sedentá-
As principais evidências utilizadas para investigar o povoamento
ria ter trazido vantagens para os grupos humanos – como o
da América são os fósseis e os registros arqueológicos encontrados aumento da produção de alimentos, graças à agricultura e à
pelos pesquisadores; por isso, cada nova descoberta promove domesticação de animais –, ela também levou a problemas.
reconsiderações e novas datações. Essas constantes descobertas Identifique essas dificuldades. E hoje, ainda sofremos com
e as dificuldades para datá-las de forma categórica e inquestionável problemas semelhantes?
explicam a existência de inúmeras teorias sobre o povoamento Com a sedentarização, a relação do homem com a natureza passou
da América. a apresentar problemas, muitos dos quais ainda hoje existentes ou
até acentuados. Os principais são: efeito estufa, diminuição da camada
de ozônio, mudanças climáticas, enchentes, doenças epidêmicas e
ameaças de desabastecimento de água em muitas cidades, entre
outros exemplos.

HISTÓRIA

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 2 a 4 Para aprimorar: 3 e 4

Das cavernas às primeiras civilizações 15


Veja, no Guia do Professor, as
respostas da “Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

4 As transformações provocadas pela agricultura e pela for-


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR
mação das primeiras vilas e cidades não afetaram apenas os
hábitos alimentares e as formas de moradia. Elas também
1 (UFPE) Em relação ao momento em que homens e mulheres se
influenciaram a organização política dos grupos humanos
colocaram como seres históricos no mundo, é correto afirmar:
sedentarizados. Com base nessa afirmação, explique como
a) A invenção da escrita, da roda, do fogo é o que caracteriza surgiram os primeiros reis e governantes.
os povos, considerados como História, que se estabelece-
ram às margens do rio Nilo, há milhões de anos. PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
b) A História da humanidade teve início na região conhecida
na Antiguidade por Mesopotâmia, quando se inventou a 1 Um artigo publicado no site de notícias Último Segundo tra-
escrita. zia a seguinte manchete: “Sequenciamento genético revolu-
c) As pesquisas arqueológicas vêm apontando que a Histó- cionou pesquisa em evolução humana”. O texto tratava das
ria humana teve início há um milhão de anos, em várias descobertas recentes a respeito da evolução dos primeiros
regiões do globo terrestre, simultaneamente. hominídeos e como a ciência vem encontrando novas infor-
d) Entre 4 e 6 milhões de anos atrás, surgiram na África os mações para ajudar a entender esse período da história da
primeiros antepassados do ser humano com os quais teve humanidade. Sobre isso, responda:
início a História da humanidade. a) De que maneira o sequenciamento genético pode auxiliar
e) O elemento preponderante no reconhecimento dos ho- no conhecimento da evolução dos primeiros hominídeos?
mens e mulheres como seres históricos é a invenção da b) Junto com os sequenciamentos genéticos, os historiado-
linguagem, há 2 milhões de anos, no continente europeu. res e outros pesquisadores podem usar fontes diversas,
como os fósseis, para conhecer a evolução dos primeiros
2 (Ceeteps-SP) hominídeos. Explique quais são as informações que os
Na Pré-História, o homem já criava animais, cultivava pesquisadores podem obter por meio do estudo dos fós-
o solo e dispunha de objetos de metais, tais como lanças, seis dos primeiros hominídeos.
ferramentas e machados. c) Ao longo do capítulo, vimos alguns exemplos de co-
Disponível em: <www.suapesquisa.com/prehistoria>.
Acesso em: 4 jul. 2014. Adaptado. nhecimentos que foram produzidos por meio da aná-
lise tanto do sequenciamento genético quanto do
Com base nessas informações, foram formuladas algumas estudo dos fósseis. Aponte alguns exemplos desses
hipóteses. Escolha, na relação a seguir, as hipóteses compatí- conhecimentos.
veis com aquela época.
I. Houve domesticação e cultivo de plantas. 2 Veja, a seguir, a representação da evolução humana (1) e
II. Ocorreu melhoria na alimentação e na qualidade de vida a árvore genealógica (2) da espécie humana. Depois de
das pessoas. comparar as representações, responda ao que se pede.

III. Os alimentos eram transportados por navios.

DAVID GIFFORD/SCIENCE PHOTO


LIBRARY/LATINSTOCK
IV. A vida nômade teve início.
1
É correto o que se afirma apenas em:
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

3 A sobrevivência em ambientes de clima árido exigia um es- Representação livre da evolução humana. Habitualmente, essa
evolução é representada como uma “caminhada” de figuras do sexo
forço coletivo das diversas aglomerações humanas que ha- masculino. Aqui, o artista inovou, introduzindo figuras femininas
bitavam essas regiões. Como era organizado esse esforço? como representantes da cadeia evolutiva da humanidade.

16 Das cavernas às primeiras civilizações


2 Homo Homo sapiens
Homo floresiensis neanderthalensis (Homem moderno) PRESENTE

Homo Homo heidelbergensis


cepranensis

Disponível em: <www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=31&id=364>. Acesso em: 3 jul. 2014. Adaptado.


Homo Homo mauritanicus/antecessor 1 MAA
erectus

Homo
Homo habilis Paranthropus
ergaster robustus Paranthropus
boisei 2 MAA
Kenyathropus
rudolfensis
Australopithecus
garhi Paranthropus
Australopithecus
aethiopicus
africanus 3 MAA

Kenyathropus Australopithecus Australopithecus


platyops afarensis bahrelghazali
4 MAA
Australopithecus
anamensis Ardipithecus
ramidus

5 MAA

Ardipithecus
kadabba 6 MAA
Orrorin
tugenensis

Sahelanthropus
tchadensis
7 MILHÕES DE ANOS ATRÁS (MAA)

Árvore genealógica da espécie humana feita com base nos conhecimentos disponíveis em 2007. À direita está registrado, em milhões de
anos, o momento em que cada espécie apareceu.

a) Como a evolução da espécie humana é representada nas imagens?


b) Comparando as duas imagens, por que podemos afirmar que a primeira não representa corretamente nossos conhecimentos
atuais sobre o desenvolvimento da espécie humana?
c) Podemos dizer que a segunda imagem representa a verdade sobre a evolução humana? Justifique sua resposta.

3 (UFPEL-RS)
Texto 1
Em todo o mundo, a leste e a oeste, as populações começaram a trocar a dependência às hordas de grandes animais
“muitas das quais em rápido declínio” pela exploração de animais menores e de plantas. [...] Onde as condições fossem
particularmente adequadas [...], as peças do quebra-cabeça da domesticação se acomodaram e os coletores transformaram-se
em agricultores.
CROSBY, Alfred W. Imperialismo ecológico. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Texto 2
HISTÓRIA
Os historiadores acostumaram-se a separar a coleta e a agricultura como se fossem duas etapas da evolução humana
bastante diferentes e a supor que a passagem de uma à outra tivesse sido uma mudança repentina e revolucionária. Hoje,
contudo, admite-se que essa transição aconteceu de maneira gradual e combinada. Da etapa em que o homem era inteira-
mente um caçador-coletor passou-se para outra em que começava a executar atividades de cultivo de plantas silvestres [...]
e de manipulação dos animais [...]. Mas tudo isso era feito como uma atividade complementar da coleta e da caça.
VICENTINO, Cláudio. História para o Ensino Médio: História geral
e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2005.

Das cavernas às primeiras civilizações 17


Os textos analisam: 4 (UFRN) A prática da agricultura e a criação de rebanhos impli-
a) o final do período Neolítico e se posicionam de forma caram alterações nas sociedades neolíticas. Nesse contexto,
convergente quanto ao papel revolucionário desempe- em diversas comunidades do Oriente Próximo, identifica-se,
nhado pela agricultura e pela domesticação dos animais.
entre outras transformações, o(a):
b) o início do período Neolítico e divergem entre si a respeito
da existência da Revolução Neolítica, pois, enquanto um a) desenvolvimento de impérios caracterizados pelo afas-
indica uma transformação radical, o outro destaca a simul- tamento das tradições mítico-religiosas em favor de um
taneidade da caça, coleta e agricultura. pensamento racional e naturalista.
c) o início do Paleolítico Inferior e são contraditórios entre si b) ampliação das atividades lucrativas, como, por exemplo, o
no que se relaciona aos efeitos da agricultura, dentre eles comércio realizado pelos estrangeiros e seus escravos nos
a sedentarização humana. domínios das diversas cidades.
d) o final do Paleolítico Superior, no momento em que ocor-
c) surgimento de uma prática política descentralizadora, que
reu a Revolução Agrícola, ambos afirmando que a caça e a
coleta foram suprimidas pela agricultura. permitiu o livre desenvolvimento econômico das diferen-
e) a Transição Mesolítica, e concordam que, com o cultivo tes regiões ocupadas.
das plantas e a criação de animais, ocorreu a suspensão d) diferenciação social baseada na riqueza e no poder, com
das atividades de caça e coleta, provocando a Revolução o surgimento do Estado, instrumento de controle e apro-
Neolítica. priação dos recursos naturais.

ANOTAÇÕES

18 Das cavernas às primeiras civilizações


CAPÍTULO

2 Descobrindo um novo
continente

Objetivo: Estudos recentes ampliam ainda mais o debate a respeito de como se deu o processo de
c Caracterizar e povoamento do continente conhecido hoje como América. Pesquisadores encontraram na Co-
identificar as primeiras lômbia 74 crânios humanos com idades que variam de 3 mil a 11 mil anos. O que chamou a
culturas que se atenção dos cientistas é que muitos desses crânios apresentam semelhanças morfológicas com
desenvolveram no o crânio de Luzia.
território que hoje Como vimos anteriormente, Luzia é o fóssil humano mais antigo da América, com 11,5 mil anos.
corresponde ao Brasil. Encontrado em Minas Gerais, seus traços morfológicos são mais semelhantes aos dos aborígines
australianos e africanos atuais do que aos dos indígenas encontrados pelos europeus na América.
A descoberta dos crânios colombianos sugere que esse grupo tenha permanecido na América
por quase 8 mil anos, tendo convivido com as populações de mongoloides que teriam chegado depois.
Essas populações de mongoloides asiáticos são os ancestrais dos atuais povos indígenas bra-
sileiros. Neste capítulo, conheceremos um pouco mais sobre as primeiras culturas indígenas que
floresceram em regiões que integram hoje o território brasileiro.
ELVER LUIZ MAYER/LABORATÓRIO DE ESTUDOS
EVOLUTIVOS DO DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA DO
INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS DA USP, SÃO PAULO

Crânio encontrado no sítio arquelógico


Abrigo del Tequendama I, na
Colômbia. Com cerca de 11 mil ou
10 mil anos, esse fóssil, assim como
outros encontrados na mesma região,
apresenta semelhanças com o crânio
de Luzia, encontrado no Brasil e datado
de 11,5 mil anos atrás (veja a foto e o
texto sobre Luzia na página 11).

OS PRIMEIROS OCUPANTES
Em 1825, o naturalista dinamarquês Peter Lund mudou-se para o Brasil, onde residiu até morrer,
em 1880. Entre 1834 e 1844, ele se estabeleceu na aldeia de Lagoa Santa, em Minas Gerais, e começou
a estudar as cavernas da região. Ali, encontrou mais de 12 mil fragmentos de ossos fossilizados de
VEJA O FILME animais, além de alguns fósseis humanos, conservados durante milhares de anos.
Homens pré-históricos: vivendo Ao analisar o material, Lund descobriu que muitos desses ossos pertenceram a espécies extintas,
entre as feras, Discovery Channel. como o megatério, um bicho-preguiça de até sete metros de comprimento. Constatou ainda que
HISTÓRIA
Estados Unidos, 2002. (100 min). os seres humanos conviveram com esses animais gigantescos e que a presença humana em nosso
Documentário sobre a vida do território era muito mais antiga do que se imaginava na época.
homem pré-histórico entre 12 Um século depois de Lund, os pesquisadores já identificaram cerca de 20 mil diferentes sítios
e 40 mil anos atrás, procurando arqueológicos pré-históricos no Brasil, nos quais foram encontrados objetos de pedra e cerâmica,
sobreviver entre animais como esculturas e restos de alimentos de milhares de anos. Esses vestígios ajudam a reconstituir hábitos e
tigres-dente-de-sabre, mamutes
e ursos gigantes.
costumes dos primeiros ocupantes de nosso território, chamados de paleoindígenas. Uma das mais
importantes fontes desses estudos são as pinturas rupestres.

Das cavernas às primeiras civilizações 19


LH VIVO

Luta gravada na rocha Esses dois arcos não fazem parte da cena da luta.
As inscrições rupestres são um dos mais Os arqueólogos chamam isso de intrusão, pois,
em um mesmo espaço pictórico, outro autor, com
belos e importantes vestígios deixados pelos
características culturais diferentes, alterou uma
paleoindígenas que viveram no que hoje é pintura já existente. Repare que o desenho dos
o território brasileiro. Encontradas em su- arcos tem características diferentes do desenho dos
perfícies rochosas, como paredes de grutas, guerreiros: o traço é mais grosso e a cor, mais escura.
cavernas e lajeados, essas imagens muitas
vezes representam animais, cenas de caça,
de luta ou de dança. Muitos desses registros
são também grafismos (figuras geométricas
ou sinais), cujos significados nos são desco- Esse espaço não pintado pode ser dividido por
nhecidos. uma linha oblíqua imaginária. Ele separa os
adversários em dois grupos e dá ao espectador
Em geral, as inscrições rupestres eram
uma impressão de profundidade. O uso desse
feitas com base em três técnicas: a pintura, procedimento técnico permite supor que quem
caracterizada pela preparação de uma tin- fez o desenho tinha domínio da utilização do
ta líquida composta de pigmentos minerais espaço e das técnicas de composição cenográfica.
(como o óxido de ferro) misturados com
água e gorduras vegetais e animais e aplica-
da sobre a parede com os dedos e com ins-
trumentos finos de madeira ou espinhos; o
desenho, que consistia em aplicar pigmentos
brutos (como carvão, urucum e jenipapo)
diretamente sobre a rocha; e a gravura, ou
Guerreiros atingidos por lanças.
seja, desenhos em baixo-relevo feitos com o
auxílio de ferramentas.
No Brasil, as pinturas rupestres mais an-
tigas são as da Serra da Capivara, no Piauí,
produzidas há cerca de 23 mil anos, segun-
do estudiosos. A foto desta seção, tirada em
um lugar da região conhecido como Toca da
Extrema II, registra desenhos produzidos ao
longo de milhares de anos.
A imagem central mostra uma cena de Lança arremessada em direção
luta em um estilo que os arqueólogos cha- a um inimigo.
mam de Tradição Nordeste. Esse estilo vigo-
rou na região entre 12 mil e 6 mil anos atrás.
Nem todos os desenhos observados na foto,
porém, fazem parte dessa cena ou pertencem
à Tradição, indicando, dessa maneira, que fo-
ram produzidos em diferentes momentos e
por grupos étnicos distintos. Figura antropomórfica, com traços essenciais de
Fontes: Entrevista dos autores com Anne-Marie um ser humano, como cabeça, braços, pernas e
Pessis em 10 dez. 2008; PESSIS, Anne-Marie. pé. Esse desenho não tem relação com a cena
Imagens da Pré-História. Parque Nacional Serra da da luta. Representa certamente um espírito, uma
Capivara: Fumdham/Petrobras, 2003; PROUS,
divindade ou mesmo um animal que assumiu
André; RIBEIRO, Loredana; JORGE, Marcos. Brasil
rupestre: arte pré-histórica brasileira. Curitiba: aparência humana.
Zencrane Livros, 2007.

20 Das cavernas às primeiras civilizações


Muitas vezes, nas cenas de luta,
as armas são desenhadas ao lado
dos guerreiros. Esses atributos
informam que aquela pessoa é um
guerreiro.

Os veados são um dos animais


mais representados nas inscrições
rupestres do Brasil. O cervo
desenhado, contudo, não faz parte
da cena da luta. Provavelmente foi
pintado em outro momento.

Guerreiros adversários em
confronto corpo a corpo.

HISTÓRIA

Grafismos cujo significado é


desconhecido. Não fazem parte da
cena da luta.
NIÈDE GUIDON/ACERVO DA FOTÓGRAFA

Das cavernas às primeiras civilizações 21


Sítios arqueológicos
Serra da Capivara
A maior concentração de sítios arqueológicos no Brasil encontra-se no Parque Nacional da
Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí. Com mais de 700 sítios, o local é considerado
patrimônio cultural da humanidade pela Organização das Nações Unidas (ONU).
De todos os sítios da região, o mais antigo e importante é o Boqueirão da Pedra Furada, onde
foram encontrados vestígios que, segundo alguns pesquisadores, indicam a presença humana no
local há cerca de 50 mil anos.

Portal Principais sítios arqueológicos no Brasil


SESI
Educação www.sesieducacao.com.br
OCEANO
ATLÂNTICO
Acesse no portal o jogo Sítios
Equador Murumuru Flechal
arqueológicos na América Serra I. de
Taperebá
Latina. Moura da Lua Marajó
Pedra
Pintada Pedra do
Letreiro

FONTE: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), 2009.


Mundurucus
Angicos
Serra da
Tapera
Capivara
Paulista
Tracoa
Molim Brejinho
Marcelândia Serra das
Lages
Gerais
Barro Alto
Retiro Acuri
Vale do Peruaçu
Araguainha Unaí
Lagoa
OCEANO Santa
Paraíso Colatina
PACÍFICO
Rio Claro
Ribeirão das Antas Lagoa Salgada
Capricórnio Piraju
Trópico de
Rosatto
Rio Parati

Limites atuais Guatambu


N
Palmito
Sítios arqueológicos
Floriano 0 456
Sambaquis Fonseca
km

Lagoa Santa
A região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, é outro dos principais sítios arqueológicos do país.
Foi encontrado nesse local o crânio de Luzia, além de machados de pedra.
Também é antiga a presença humana no Vale do Peruaçu, no Alto São Francisco (MG). Pesqui-
sas indicam que esse local começou a ser ocupado há aproximadamente 11 mil anos.

As tradições Umbu e Humaitá


Entre 9500 a.C. e 1500 d.C., aproximadamente, os campos da região Sul do país e do estado de
São Paulo foram ocupados por grupos da tradição Umbu. Exímios fabricantes de instrumentos de
pedra, eles difundiram duas grandes inovações tecnológicas: o arco e a flecha e as boleadeiras,
arma de caça ainda hoje utilizada nos pampas gaúchos. Formadas por duas ou três bolas de
pedra amarradas em tiras de couro, elas eram arremessadas contra as pernas do animal caçado,
a fim de imobilizá-lo.
Roteiro de Estudos
Os povos da tradição Humaitá viveram na mesma região. Mais tarde, trocaram os campos pelas
Acesse o Material Comple- matas, preferindo as partes altas ou as encostas. Fabricavam instrumentos de pedra e, além dos pro-
mentar disponível no Portal e dutos da caça e da pesca, alimentavam-se de pinhão, que assavam, cozinhavam ou transformavam
aprofunde-se no assunto.
em farinha para o fabrico de pães e de bolos.

22 Das cavernas às primeiras civilizações


Os sambaquis

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO


Acredita-se que entre 7 mil e 6 mil anos atrás o litoral brasileiro começou a
ser ocupado por povos que viviam principalmente de recursos marinhos. Como
dispunham de comida abundante – proveniente da caça, da pesca e da coleta de
frutas, raízes e moluscos –, não precisavam mudar com frequência de um lugar
para outro e permaneciam por muito tempo em uma mesma região.
Um de seus costumes era guardar as conchas dos moluscos coletados e empi-
lhá-las com restos de comida, ossos de animais e ferramentas. Aos poucos, essas pilhas
se transformaram em elevações, algumas com mais de 20 metros de altura. Eram os
sambaquis (em tupi, “amontoado de mariscos”), também chamados de concheiros.
Nessas elevações, as pessoas construíam suas casas e enterravam seus mortos.
Os sambaquis são encontrados em trechos do litoral brasileiro, do Rio Gran-
de do Sul até a Bahia e do Maranhão até o Pará. O sambaqui mais antigo do Brasil
fica no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo. Nessa região, cientistas encon-
traram, em 2001, a ossada de um homem que viveu há cerca de 9 mil anos. Os
povos dos sambaquis desapareceram por volta de 1500.

Os sambaquis são aglomerados de conchas empilhadas pelos paleoindígenas em


diversos pontos do território brasileiro. Externamente, assemelham-se a pequenos
montes calcários invadidos pela vegetação. Internamente, conservam vestígios
dos antigos habitantes da região, como restos de alimentos, artefatos e até ossos
de pessoas. Sambaqui em Paraty, Rio de Janeiro. Foto de 2007.

Razão secreta
Os estudiosos têm mais dúvidas que certezas quando o assunto são sambaquis. A principal questão é, exatamente, saber
por que razão essa população praieira empenhava tanto tempo e esforço em construí-los. Para responder a ela, há várias hipó-
teses. Em primeiro lugar, é preciso levar em conta que essa forma de ocupação do espaço predominou no litoral brasileiro du-
rante cerca de 5 mil anos. Um mesmo sambaqui, o Jabuticabeira II, de 6 metros de altura, 400 metros de comprimento e
200 metros de largura, em Jaguaruna (SC), esteve ativo durante mil anos. Ou seja, morros desse tamanho não se construíam da
noite para o dia. Eram necessárias gerações e gerações, que iam formando milhares de camadas de sedimentos, em diferentes
períodos históricos.
Durante muito tempo, os arqueólogos imaginaram que os sambaquieiros viviam em cabanas instaladas em cima desses mor-
ros. Conchas, ossos de peixe, lascas, ferramentas, esqueletos e buracos de estaca, todos esses elementos misturados seriam indícios
de que eles não separavam os ambientes destinados a ações como comer, despejar o lixo, enterrar os mortos. Faziam tudo no
mesmo lugar. Recentemente, no entanto, os estudiosos fizeram novas pesquisas, reviram os estudos, mudaram de ideia e apontaram
outros cenários.
De acordo com um deles, os sambaquieiros poderiam viver em uma parte específica dos morros e depositar os restos de
comida (ossos e conchas) em outra. “Ninguém faz lascas para sentar em cima”, acredita Maria Cristina Tenório, arqueóloga
do Museu Nacional. Escavações feitas no sítio do Condomínio do Atalaia, em Arraial do Cabo (RJ), mostraram “uma nítida
divisão entre área de habitação e de descarte, descoberta que nos fez rever a afirmativa de que esses grupos tinham suas
casas sobre o próprio lixo, hipótese defendida por muitos arqueólogos”, escreveu ela, em seu artigo “Os fabricantes de ma-
chados da Ilha Grande”.
Há ainda outro estudo que contesta a tese do multiuso para os sambaquis. As escavações conduzidas por Madu Gaspar
em Jabuticabeira II sugerem que ele fosse usado apenas como cemitério. Calcula-se que estejam ali nada menos que 43 mil
corpos enterrados, equivalentes a uma média de cerca de 1500 sepultamentos por geração. Isso permite supor que, em alguns
casos, haveria uma separação de funções entre os sítios. “A ideia, agora, é desenvolver mais estudos para saber se o Jabutica- HISTÓRIA
beira-II é uma exceção ou se é um modelo para os outros sítios”, diz Madu.
As novas interpretações também afirmam que montanhas de conchas mais altas, despontando na paisagem, funcionariam
para representar status na hierarquia da comunidade. Deviam pertencer, numa hipótese, às famílias mais poderosas. Os ar-
queólogos arriscam imaginar que, em cada morro, a população estabelecida não deveria passar de algumas centenas de ha-
bitantes. Possivelmente de uma mesma família, embora não se possa dizer com certeza.
TORRES, Juan. Castelos de areia, conchas e mortos. Aventuras na História. n. 66. São Paulo: Abril, 1o jan. 2009.

Das cavernas às primeiras civilizações 23


Povos da Amazônia e de Marajó
Pesquisas arqueológicas comprovam
que a região amazônica já era habita-
da por povos caçadores-coletores
há cerca de 12 mil anos. Por volta
de 2000 a.C., alguns desses povos
começaram a praticar a agricultura
e a arte da cerâmica. Entre os anos
1000 a.C. e 1000 d.C., surgiram na
região sociedades mais complexas,
com uma organização social hierár-
quica e um artesanato altamente de-
senvolvido. O centro de uma dessas
sociedades parece ter se estabelecido
nas proximidades da atual cidade de San-
tarém, no Pará, às margens do rio Tapajós. É
a chamada cultura Tapajônica, que se caracterizou
pela produção de objetos de cerâmica, como estatuetas, cachim-
FABIO COLOMBINI/ACER-
VO DO FOTÓGRAFO

bos, vasos e urnas decoradas com representações de animais ou pessoas.


Os pesquisadores acreditam que esses objetos eram utilizados em cultos e ce-
rimoniais religiosos.
Há cerca de 3 500 anos, grupos de agricultores começaram a colonizar
a ilha de Marajó, na foz do rio Amazonas. Ali, por volta do ano 200, surgiu a
Cerâmica da cultura mais notável cultura amazônica do período pré-colonial no Brasil: a civilização
Tapajônica. Foto de 2013. Marajoara.
Para escapar das enchentes, os marajoaras erguiam elevações – os tesos – às margens dos
rios, sobre as quais construíam suas habitações. Além de agricultores, eram também especialistas
na fabricação de objetos de cerâmica.
Um terceiro sítio arqueológico importante no Pará é o de Pe-
dra Pintada, no município de Monte Alegre. Pesquisas recentes
revelaram nesse sítio a presença de grupos humanos há cerca
de 11 200 anos.
FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO

Sul e Sudeste
Por volta de 3500 a.C., desenvolveu-se no Sul e no Su-
deste uma cultura de agricultores e ceramistas conhecida
como povo de Itararé. Esses paleoindígenas se instalaram
em planaltos a mais de 800 metros acima do nível do mar,
em regiões frias. Para se abrigar, eles construíam suas habi-
tações abaixo do solo.
Para isso, escavavam buracos de até 8 metros de pro-
fundidade e 20 metros de diâmetro. Depois, cobriam-nos
com um teto feito provavelmente de madeira, argila e gra-
míneas. As habitações se comunicavam entre si por meio de
túneis, onde também ficavam guardados alimentos e alguns
objetos, como vasos de cerâmica.

Cerâmica marajoara.
Foto de 2013.

24 Das cavernas às primeiras civilizações


RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS/
RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS

Indígenas Kuikuro na aldeia Afukuri


no Parque Indígena do Xingu,
População sedentária do alto Xingu Mato Grosso. Foto de 2012.
Vestígios de antigas populações indígenas encontrados no alto Xingu, no norte de Mato Grosso,
estão derrubando a tese de que no passado os povos indígenas da Amazônia estavam organizados
em aldeias de no máximo cem pessoas e de que seus integrantes se deslocavam de um lugar para
outro sempre que a comida escasseava.
Estudos recentes revelam que, entre 1200 e 1600, a região do alto Xingu foi habitada por
uma sociedade de estrutura mais sofisticada do que se imaginava. Há indícios de que a região
chegou a abrigar 19 aldeias de formato circular, interligadas umas às outras por meio de estradas
retilíneas de terra batida. Essas estradas mediam de 3 a 5 kilometros de extensão e tinham de 10
a 50 metros de largura.
De acordo com os cientistas, a população dessas aldeias variava de 2 500 a 5 mil pessoas. Essa
concentração populacional é, segundo os especialistas, típica de uma sociedade sedentária com
algum grau de divisão social hierárquica.
O sítio arqueológico do alto Xingu ocupa uma área de aproximadamente 400 km2 e está locali-
zado nas proximidades das atuais aldeias dos povos Kuikuro. Os cientistas trabalham com a hipótese
de que os Kuikuro sejam herdeiros culturais desses antigos habitantes do alto Xingu.

A terra preta
A terra preta é um solo de coloração escura, extremamente fértil, que, em certos sítios arqueológicos, aparece misturada a restos
de material, como cerâmicas, carvão e artefatos líticos (ou seja, de pedra). Ela é encontrada na Amazônia, próxima às margens dos rios.
As áreas de terra preta costumam ter de dois a seis hectares, mas há casos em que chegam a até 280 hectares. Em geral, a camada de
terra preta colocada sobre o solo tem de 30 a 60 cm de profundidade. Em alguns lugares, porém, pode chegar a 2 m.
A população que vive às margens dos rios utiliza a terra preta para a agricultura. Uma das razões da alta fertilidade dessa terra é
que ela tem mais fósforo, cálcio, enxofre, carbono, magnésio e nitrogênio do que a maior parte dos solos das florestas tropicais. Esses
elementos são fundamentais para o crescimento das plantas.
Até a década de 1980, acreditava-se que a terra preta teria se formado naturalmente ao longo do tempo. Hoje, cada vez mais os
pesquisadores se convencem de que ela teria surgido como resultado do manejo do solo praticado pelas populações humanas que
viveram na região amazônica cerca de mil anos atrás.
Com esse manejo, os paleoindígenas da região pretendiam melhorar a qualidade da terra para cultivar seus alimentos, uma vez
HISTÓRIA

que o solo amazônico não é suficientemente rico em nutrientes para esse tipo de plantação. Entretanto, embora os cientistas estejam
estudando a terra preta há décadas, até hoje não se sabe como ela era produzida.
Fontes: PIVETA, Marcos. A luz que o homem branco apagou. Disponível em:
<www.revistapesquisa.fapesp.br/novo_site/extras/imprimir.php?id=2281&bid=1>.
Acesso em: 4 jul. 2014; Solos de terra preta podem ser solução para a agricultura na Amazônia.
Disponível em: <www.museu-goeldi.br/destaqueamazonia/tpa.htm>. Acesso em: 4 jul. 2014.

Das cavernas às primeiras civilizações 25


PARA CONSTRUIR

1 (Fuvest-SP) 3 (UFPE) O conhecimento sobre as formas de sobrevivência


Há cerca de 2000 anos, os sítios superficiais e sem humana, na Pré-História brasileira, é um grande quebra-
cerâmica dos caçadores antigos foram substituídos por -cabeça que vem sendo estudado por pré-historiadores e
conjuntos que evidenciam uma forte mudança na tecno- arqueólogos. Sobre a Pré-História brasileira, assinale a alter-
logia e nos hábitos. Ao mesmo tempo que aparecem a ce- nativa correta. c
râmica chamada itararé (no Paraná) ou taquara (no Rio a) Os habitantes dos sambaquis sepultavam os seus mortos,
Grande do Sul) e o consumo de vegetais cultivados, en- colocando os corpos em urnas funerárias e os enterravam
contram-se novas estruturas de habitações. sob suas cabanas.
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros. A Pré-História do nosso país. b) Denomina-se arte rupestre o conjunto de pinturas corpo-
Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 49. Adaptado. rais, em cerâmica e em artefatos de madeira, produzidos
O texto associa o desenvolvimento da agricultura com o da na Pré-História brasileira.
cerâmica entre os habitantes do atual território do Brasil, há c) O estudo da cultura material, incluindo a arte rupestre,
2 000 anos. Isso se deve ao fato de que a agricultura: b pode gerar conhecimento sobre aspectos da vida mate-
a) favoreceu a ampliação das trocas comerciais com povos rial e espiritual dos povos que a produziram.
andinos, que dominavam as técnicas de produção de ce- d) As recentes pesquisas arqueológicas realizadas no Nor-
râmica e as transmitiram aos povos guarani. deste brasileiro comprovam a tese defendida na década
b) possibilitou que os povos que a praticavam se tornassem de sessenta: o homem mais antigo do Brasil teria existido
sedentários e pudessem armazenar alimentos, criando a por volta de doze mil anos atrás.
necessidade de fabricação de recipientes para guardá-los. e) Através de escavações realizadas nos estados de Goiás e
c) proliferou, sobretudo, entre os povos dos sambaquis, que Mato Grosso, foi comprovada a tese de que, nestas regiões,
conciliaram a produção de objetos de cerâmica com a habitavam povos descendentes de incas bolivianos.
utilização de conchas e ossos na elaboração de armas e 4 (Enem – Adaptada)
ferramentas.
d) difundiu-se, originalmente, na ilha de Fernando de No-

GILVAN BARRETO/EDITORA ABRIL


ronha, região de caça e coleta restritas, o que forçava as
populações locais a desenvolver o cultivo de alimentos.
e) era praticada, prioritariamente, por grupos que viviam nas
áreas litorâneas e que estavam, portanto, mais sujeitos a
influências culturais de povos residentes fora da América.

2 Os sítios arqueológicos já encontrados no Brasil demonstram


que os paleoindígenas apresentavam modos de vida e de or-
ganização muito diferentes entre si. Aponte algumas das di-
ferenças que foram encontradas nos povos e grupos sociais
que viveram na região nesse período.
Encontramos diferenças tecnológicas, como a fabricação de arcos e
flechas pelos grupos da tradição Umbu, a utilização de ferramentas
Pintura rupestre da Toca do Pajaú, Piauí.
de pedra na região da Lagoa Santa e a fabricação de cerâmicas
da cultura Tapajônica. Há também diferenças na organização A pintura rupestre acima, que é um patrimônio cultural bra-
sileiro, expressa: c
social, como a maior sedentarização na região dos sambaquis,
a) o conflito entre os povos indígenas e os europeus durante
no litoral brasileiro, ou a prática de agricultura entre os povos da
o processo de colonização do Brasil.
Amazônia e de Marajó e mesmo o surgimento de uma população b) a organização social e política de um povo indígena e a
sedentária, organizada em grandes aldeias, na região do alto Xingu. hierarquia entre seus membros.
c) aspectos da vida cotidiana de grupos que viveram duran-
te a chamada Pré-História do Brasil.
d) os rituais que envolvem sacrifícios de grandes dinossau-
ros atualmente extintos.
e) a constante guerra entre diferentes grupos paleoíndios da
América durante o período colonial.

26 Das cavernas às primeiras civilizações


5 Dos quase 20 mil sítios arqueológicos identificados no Brasil, a) Procure identificar o significado das figuras representadas
apenas seis são tombados como Patrimônio Arqueológico na pedra.
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Professor, nesta atividade, espera-se que o aluno utilize a
(Iphan). imaginação para “desvendar” as imagens da Pedra do Ingá, pois
Um deles localiza-se na cidade de Ingá, na Paraíba, a cerca há poucas informações comprovadas sobre os significados desses
de 100 quilômetros da capital, João Pessoa. Conhecido como desenhos. Algumas figuras se destacam, como representações
Pedra do Ingá, trata-se de um bloco de pedra com 24 metros
de seres humanos e animais (répteis e pássaros).
de comprimento e 4 metros de altura, repleto de gravuras
em baixo-relevo chamadas de itacoatiara. As inscrições foram
feitas pelos paleoindígenas que viveram na região milhares
de anos atrás. Observe algumas das inscrições gravadas na b) Levante hipóteses sobre os motivos que teriam levado os
pedra e faça o que se pede. habitantes da região a inscrever essas figuras na pedra.

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO


As inscrições da Pedra do Ingá ainda não foram decifradas pelos
pesquisadores; por isso, há inúmeras hipóteses sobre suas
origens e finalidades. A mais comum sugere que os desenhos
serviam como registro das atividades cotidianas, como a caça
à água, realizada em períodos de seca. Há pesquisadores ainda
que defendem que os desenhos rupestres tinham finalidades
“artísticas”, como expressar sentimentos ou a intenção de fazer
uma boa caçada ou obter alimentos para sua sobrevivência.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 5 Para aprimorar: 1 e 2

Veja, no Guia do Professor, as


respostas da “Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

d) os sambaquis, vestígios datados de 20 mil anos, compro-


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR vam o desconhecimento da cerâmica entre os indígenas
da região, técnica desenvolvida apenas entre povos andi-
1 (Fuvest-SP – Adaptada) Nos últimos anos, apoiada em téc- nos, maias e astecas.
nicas mais avançadas, a arqueologia tem fornecido pistas e e) os sítios arqueológicos da ilha de Marajó são provas da
indícios sobre a história dos primeiros habitantes do território existência de importantes culturas urbanas com socie-
brasileiro antes da chegada dos europeus. Sobre esse período dades estratificadas que mantinham relações comerciais
da história, é possível afirmar que: com povos das Antilhas e América Central.
a) as práticas agrícolas, até a chegada dos europeus, eram
2 (Enem) Segundo a explicação mais difundida sobre o po-
desconhecidas por todas as populações nativas que, con-
voamento da América, grupos asiáticos teriam chegado a
forme os vestígios encontrados, sobreviviam apenas da esse continente pelo estreito de Bering, há 18 mil anos.
coleta, caça e pesca. A partir dessa região, localizada no extremo noroeste do
b) os vestígios mais antigos de grupos humanos foram en- continente americano, esses grupos e seus descendentes HISTÓRIA
contrados na região do Piauí e as datações sobre suas ori- teriam migrado, pouco a pouco, para outras áreas, chegan-
gens são bastante controvertidas, variando entre 12 mil e do até a porção sul do continente. Entretanto, por meio de
40 mil anos. estudos arqueológicos realizados no Parque Nacional da
c) os restos de sepulturas e pinturas encontrados em caver- Serra da Capivara (Piauí), foram descobertos vestígios da
nas de várias regiões do país indicam que os costumes presença humana que teriam até 50 mil anos de idade.
e hábitos desses primeiros habitantes eram idênticos aos Validadas, as provas materiais encontradas pelos arqueólo-
dos atuais indígenas nas reservas. gos no Piauí:

Das cavernas às primeiras civilizações 27


a) comprovam que grupos de origem africana cruzaram o primeiros povoadores, ainda há muitas controvérsias, não
Oceano Atlântico até o Piauí há 18 mil anos. estando, em rigor, nada definitivamente estabelecido.
b) confirmam que o homem surgiu primeiramente na Amé-
rica do Norte e, depois, povoou os outros continentes. 2 A seguir você encontrará dois documentos. O primeiro é um
c) contestam a teoria de que o homem americano surgiu pri- texto do educador Rubem Alves a respeito da capacidade
meiro na América do Sul e, depois, cruzou o estreito de Bering. criadora dos indivíduos. O outro é uma fotografia que mostra
d) confirmam que grupos de origem asiática cruzaram o es- ferramentas criadas pelos seres humanos no período Neolíti-
treito de Bering há 18 mil anos. co. Após a análise do material, faça o que se pede.
e) contestam a teoria de que o povoamento da América te-
Documento 1 – Texto
ria iniciado há 18 mil anos.
Sem medo de errar
3 Aponte as principais características e a importância dos sítios Há um tipo de inteligência criadora. Ela inventa o
arqueológicos da Serra da Capivara e da região de Lagoa Santa. novo e introduz no mundo algo que não existia. Quem
inventa não pode ter medo de errar, pois vai se meter em
4 Indique as principais características dos povos de tradição
terras desconhecidas, ainda não mapeadas. Há um rom-
Umbu e dos povos de tradição Humaitá.
pimento com velhas rotinas, o abandono de maneiras de
5 Os grupos humanos que, segundo as pesquisas atuais, che- fazer e pensar que a tradição cristaliza. Pense, por exem-
garam ao litoral brasileiro entre 7 mil e 6 mil anos atrás são plo, no milagre do iglu (habitação de gelo do povo inuí-
denominados de “povos dos sambaquis”. O que são os sam- te). Como teria acontecido? Compreender que aquele
baquis e para que serviam? espaço é protegido, que é possível usar o gelo para
preservar o calor... Perceber as vantagens estruturais da-
quela forma de hemisfério. Fazer uso dos materiais dis-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR poníveis. Tudo imensamente simples, inteligente, adap-
tado, eficaz.
1 (UFPI) Nas últimas décadas o Piauí vem figurando como um Encontramos o mesmo tipo de inteligência no artis-
tema obrigatório nas discussões sobre o primitivo povoa- ta que faz uma obra de arte, no cientista que visualiza na
mento do território americano, o que decorre, principal- imaginação uma nova teoria científica, no político-sonha-
mente, dos achados arqueológicos da Serra da Capivara, no dor que pensa mundos utópicos [...]. O criador está con-
município piauiense de São Raimundo Nonato. Sobre esse vencido de que existe algo de fundamentalmente errado
assunto, assinale, nas alternativas a seguir, aquela que está no que existe e que é necessário começar tudo de novo.
INCORRETA: ALVES, Rubem. Monjolos e moinhos. In: Estórias de quem gosta de estudar.
Campinas: Papirus, 2000. p. 150. Adaptado.
a) Os municípios de São Raimundo Nonato, no Piauí, e de
Central, na Bahia, detêm os mais antigos vestígios da pre- Documento 2 – Fotografia
sença humana na região Nordeste.
b) O acervo arqueológico de São Raimundo Nonato é ad-

MUSEU DE LONDRES
ministrado pela Fundação Museu do Homem Americano
(Fumdham).
c) A arqueóloga Niède Guidon, personalidade mais conhe-
cida entre os profissionais que atuam junto ao acervo
arqueológico de São Raimundo Nonato, tem protagoni-
zado, ao longo dos anos, vários conflitos e polêmicas com
o governo do Piauí, com órgãos federais como o Ibama e Exemplares de foices de épocas pré-históricas.
até mesmo com nativos do município de São Raimundo De cima para baixo, a de pedra polida com
Nonato. cabo de madeira adicionado posteriormente,
é do período Neolítico. A segunda, de bronze
d) Os achados arqueológicos de São Raimundo Nonato, no com cabo moderno, e a terceira, de ferro,
Piauí, assim como aqueles encontrados na Bahia, impõem foram produzidas na Idade dos Metais.
uma revisão das teorias sobre o povoamento da América
e não deixam dúvidas quanto à natureza autóctone do a) Você concorda com a frase: “Quem inventa não pode ter
homem americano. medo de errar”? Por quê?
e) Hoje, apesar de ainda ser forte a tese de o povoamento b) De todas as invenções e descobertas do ser humano ao
da América ter-se dado através do estreito de Bering, os longo da História, aponte cinco que você considera as
estudiosos, a partir de acervos arqueológicos como os mais importantes e justifique sua escolha.
do Piauí, consideram seriamente a hipótese de múltiplas c) De que forma o conhecimento do passado pode ajudar a
correntes de povoamento. Quanto à data da chegada dos transformar a realidade em que vivemos? Por quê?

28 Das cavernas às primeiras civilizações


CAPÍTULO

3 Povos da Mesopotâmia

Objetivos: Em 2007, pela primeira vez na história da humanidade, o número de habitantes das cidades
c Situar e caracterizar o igualou-se ao das áreas rurais. Antes, a porcentagem de pessoas que viviam no campo era maior: em
processo de ocupação 1950, apenas 29% da população mundial residia em cidades. Segundo previsões da Organização das
da Mesopotâmia. Nações Unidas (ONU), em 2030 essa proporção chegará a 60%.
Viver em cidades é algo que o ser humano faz há mais de 10 mil anos. As primeiras eram na
c Analisar o processo verdade pequenas aldeias que cresceram pouco a pouco. Foram erguidas na região do Mediterrâ-
que levou ao neo oriental e na Mesopotâmia, no Oriente Médio. Nessa região viveram diversos povos, como os
surgimento da escrita sumérios, os assírios e os hititas.
cuneiforme. Neste capítulo, conheceremos alguns desses povos e o rico legado deixado por eles, entre os
c Apresentar algumas quais a invenção da escrita.
características dos
principais povos que AS CIDADES-ESTADO
se estabeleceram em
A Mesopotâmia fazia parte de uma região onde hoje estão localizados o Iraque, o Kuwait, a Síria
diferentes períodos na
e o sul da Turquia, no Oriente Médio. No passado, ela formava com o Egito um arco semelhante à lua
Mesopotâmia.
em quarto crescente. Por causa disso, e também pela boa qualidade de suas terrras para a agricultura,
esse arco ficou conhecido como Crescente Fértil (veja o mapa abaixo).
Palavra de origem grega, Mesopotâmia significa "entre rios". A região foi assim denominada por se
localizar em um vale entre dois grandes cursos de água: os rios Tigre e Eufrates. Formada basicamente
por uma planície ora desértica, ora pantanosa, com temperaturas que podem chegar a 50 graus à
sombra. Foi nessa região que, há milhares de anos, povos como os sumérios, os acadianos, os hititas, os
babilônios, os assírios e os caldeus se fixaram em aldeias e passaram a viver da agricultura.
Algumas dessas aldeias cresceram ao longo do tempo e, por volta de 4000 a.C., haviam se transforma-
do em cidades autossuficientes e autogovernadas. Em muitas delas, os governantes controlavam, além do
poder político, também o religioso. A autoridade desses soberanos, contudo, ficava quase sempre restrita
a sua cidade. É por isso que os historiadores caracterizam tais centros urbanos como cidades-Estado.

A Mesopotâmia na Antiguidade

Mar
Cáspio
TURQUIA
Nínive
MEDOS
ASSÍRIOS
FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.
Ri

Rio Euf
o Tigr
ra

s
te

SÍRIA Assur
e

Chipre
LÍBANO IRÃ
IRAQUE
VEJA O FILME Mar Mediterrâneo BABILÔNIOS
Nippur PERSAS
ISRAEL Babilônia
HISTÓRIA
Uruk
Mesopotâmia: retorno ao Éden, SUMÉRIOS
CALDEUS
série Civilizações Perdidas, 1997. JORDÂNIA Eridu Ur
EGITO
(48 min). ARÁBIA KUWAIT
Rio Nilo

Golfo
Documentário sobre a cultura SAUDITA Pérsico
e as tradições das antigas civili- N
Ma

Limites atuais
zações da região do Crescente
rV

0 248
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Fértil. Região aproximada da Mesopotâmia


elh

km
o

Das cavernas às primeiras civilizações 29


WORLD RELIGIONS PHOTO LIBRARY/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE

Como as pedras eram escassas na


Mesopotâmia, seus habitantes se
habituaram a utilizar tijolos de barro A CIVILIZAÇÃO SUMÉRIA
nas construções. Mais perecíveis do Os sumérios foram os primeiros povos a se estabelecer na Mesopotâmia. Estudos arqueológi-
que os de pedra, pouco restou dessas
cos e linguísticos indicam que eles teriam vindo da Ásia centro-ocidental e se fixado no extremo sul
construções. Uma das poucas exceções
foi este zigurate, templo construído em da Mesopotâmia por volta de 4000 a.C. Nessa região, a ação dos rios Tigre e Eufrates ao longo dos
2100 a.C. na cidade de Ur. séculos deixara o solo ideal para a agricultura, o que explica que algumas das cidades mais antigas
do mundo tenham sido erguidas ali.
Com o crescimento da população e a diversificação das atividades, surgiram novos ofícios –
como de comerciante, cesteiro, pastor, marceneiro, etc. Essas atividades eram administradas por fun-
cionários a serviço do governante. Esses funcionários cuidavam da contabilidade, ou seja, do controle
das operações comerciais e dos tributos. Eles criaram formas de notação que, por volta de 4000 a.C.,
resultaram na invenção da chamada escrita cuneiforme.
A partir do ano 3000 a.C., diversas cidades foram constituídas no sul da Mesopotâmia, entre elas
Eridu, Ur, Nippur e Uruk (veja no mapa da página anterior). Todas eram pequenos Estados autôno-
mos governados pelo patesi, líder político, religioso e militar, uma espécie de rei.
Além de terem inventado a escrita cuneiforme, os sumérios foram responsáveis por importantes
conquistas da humanidade, como a invenção do arado de cobre, o uso da força animal na agricultura
e a construção de diques e canais para levar água a regiões distantes dos rios.
Eles estabeleceram também a divisão do ano em 12 meses, da hora em 60 minutos e do círculo
em 360 graus; criaram o mais antigo sistema numérico da História, com base em 60 símbolos, e um
calendário formado por meses lunares de 28 dias, que lhes permitia prever com bastante exatidão
o melhor momento de semear e de colher. Atribui-se a eles, ainda, a invenção do vidro e da roda.

Assim nasceu a escrita


A escrita foi inventada várias vezes em diversos lugares e em épocas diferentes. A suméria foi talvez a primeira delas,
embora os chineses já tivessem rudimentos de escrita por volta de 7000 a.C. Na América, os pioneiros foram os olmecas,
cuja escrita data de 900 a.C.
Na sociedade suméria, a escrita começou a surgir durante o quarto milênio a.C. Nessa época, os templos e palácios
eram o centro da vida. Era ali que se armazenava a produção agrícola e se pagavam os tributos. Tudo isso exigia registros,
inventários e controles contábeis. Inicialmente, estes eram feitos em placas de argila úmida, nas quais um funcionário,
utilizando uma haste de bambu, imprimia desenhos representando aquilo que precisava ser registrado: a cabeça de um
boi, porcos, jumentos, etc. Cozidas ao sol, as placas de barro endureciam e podiam ser guardadas.
Cerca de 500 anos depois esse sistema de notação foi substituído por marcas em forma de cunha – daí a expressão
“escrita cuneiforme” – feitas com estilete na argila úmida. Ao mesmo tempo, os desenhos – logogramas, termo que signi-
fica sinais representativos de palavras – tornaram-se cada vez mais abstratos, passando a representar sílabas.
MAN, John. A história do alfabeto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 38-42. Adaptado.

30 Das cavernas às primeiras civilizações


PARA CONSTRUIR

1 Leia o texto a seguir: c) Apesar da urbanização e das novas tecnologias de irri-


gação, mantém-se um Estado de caráter exclusivamente
Iraque reabre museu em Bagdá
político e que não intervém na economia, conservando a
O primeiro-ministro do Iraque, Nouri al Maliki, rea-
ordem social hierarquizada.
briu nesta segunda-feira o Museu do Iraque, que docu- d) A sedentarização do homem, o desenvolvimento de cida-
menta a trajetória do homem das cavernas ao berço da des, a especialização do trabalho e uma sociedade social-
civilização, a Mesopotâmia. Quando os americanos inva- mente desigual levaram à constituição de polos de poder
diram o Iraque, em 2003, cerca de 15 mil objetos foram como o Templo e o Palácio.
roubados do museu, alguns deles incomparáveis e de valor e) Mesmo se legitimando através de conquistas militares ou
incalculável, durante a onda de saques em Bagdá. [...] como mediadores entre o mundo terreno e o mundo di-
Representantes do museu afirmam que cerca de um terço vino, os soberanos separaram a esfera política da religiosa
dos artefatos roubados foi recuperado no país. no intuito de conservar uma sociedade desigual.
Iraque reabre museu em Bagdá, veja vídeo. BBC Brasil. 24 fev. 2009.
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u508669.shtml>. 3 Na Mesopotâmia, a escrita nasceu como resultado da neces-
Acesso em: 4 jul. 2014. sidade de administrar as cidades. Reúna-se com outros co-
Fatos e ocorrências do presente podem interferir no proces- legas e discutam as funções e os usos da escrita em nossa
so de conhecimento do passado. Explique como a Guerra sociedade. Registrem as principais funções e usos discutidos
do Iraque comprometeu informações que tínhamos sobre a no espaço abaixo e, em seguida, representem três deles na
história dos povos da Antiguidade. forma de desenhos e os apresentem à classe. Os outros alu-
nos terão de descobrir o significado de cada um.
Guerra do Iraque: conflito iniciado com a invasão
Resposta pessoal. A atividade pretende ser uma forma lúdica de
do Iraque por uma coalizão militar internacional, liderada
pelos EUA, em março de 2003. Após a invasão, as tropas discutir a importância da escrita no mundo atual, mas, ao mesmo
americanas permaneceram no país até dezembro de 2011. tempo, oferece uma reflexão complementar sobre a “não escrita”.
Aproveite o jogo para reforçar a ideia de que outras formas de
Muitos dos objetos milenares produzidos pelos antigos povos da comunicação, além da escrita, são possíveis, apesar de não serem as
Mesopotâmia encontram-se hoje em museus de diversos países. mais comuns em nossa sociedade. Em contrapartida, mostre que o
No Museu de Bagdá, por exemplo, havia cerca de 170 mil objetos. uso da escrita nas sociedades contemporâneas é praticamente
Com a Guerra do Iraque, em 2003, esse patrimônio cultural sofreu ilimitado e define a forma mais aceita e respeitada de transmissão
perdas irreparáveis. Bagdá, na ocasião, foi intensamente bombardeada, de informações. A escrita é utilizada para registrar conhecimentos,
vivendo dias de completa desordem. Muitos prédios e estabelecimentos formular leis, descrever o funcionamento de aparelhos e mercadorias,
comerciais foram saqueados. Objetos de valor incalculável foram etc.
roubados ou quebrados.
4 (UFPE) Escreva nos parênteses a letra (V) se a afirmativa for ver-
2 (UFSM-RS) dadeira ou (F) se for falsa. Esta questão versa sobre a escrita:
[...] E a situação sempre mais ou menos / Sempre uns ( V ) Na sua fase inicial, 3500 a.C., era um desenho estilizado
com mais e outros com menos / A cidade não para, a cida- de um objeto, hoje denominado de pictograma.
de só cresce / O de cima sobe e o de baixo desce / [...] ( V ) O ser humano, para exprimir graficamente suas ações,
Esse trecho da música do pernambucano Chico Science criou símbolos representativos a que chamamos de ideo-
(1966-1997) e do grupo Nação Zumbi nos remete à vida em gramas, cuja invenção data mais ou menos de 3200 a.C.
cidades, processo que passou a ser significativo na História, ( F ) As sociedades ágrafas encontravam-se na fase da História
a partir do quarto milênio a.C., na Mesopotâmia. Sobre esse Antiga; o conceito de civilização não está relacionado com
processo, é correto afirmar: d as sociedades que apresentam um sistema de escrita.
a) Com o surgimento e crescimento das cidades, houve um ( F ) Antes da invenção da escrita, a humanidade já conhecia
HISTÓRIA
progressivo aumento da especialização do trabalho e da o conceito de propriedade privada, de Estado e de clas-
igualdade social, enfraquecendo o poder político. ses sociais.
b) A diminuição da produção agrícola assegurou excedentes ( V ) Uma das primitivas formas de representação gráfica –
para a manutenção de especialistas, desenvolvendo a ur- a escrita cuneiforme – surgiu entre os sumérios, povos
banização em cidades-Estado socialmente desiguais. que habitavam a Mesopotâmia.
TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

Das cavernas às primeiras civilizações 31


O PRIMEIRO IMPÉRIO MESOPOTÂMICO
GLOSSÁRIO

Semita:
grupo étnico e linguístico originário
Enquanto os sumérios dominavam o sul, a região central da Mesopotâmia era ocupada por
da Ásia ocidental que compreende os povos de origem semita, como assírios e acadianos. A partir de 2350 a.C., o rei da cidade de Acad,
hebreus, os assírios, os aramaicos, os Sargão, unificou sob seu governo não só as cidades do centro, mas também as do sul. Nascia, assim,
fenícios e os árabes. É também usado o Primeiro Império Mesopotâmico. Por volta de 2100 a.C., enfraquecido por revoltas internas, esse
como sinônimo de judeu. Daí a ex-
império foi destruído por povos inimigos.
pressão “antissemita” para designar o
racismo contra os judeus.
Babilônia e seu império
Com o declínio do império fundado por Sargão, destacou-se na Mesopotâmia a cidade da
Babilônia, habitada pelos amoritas, povo originário do deserto da Arábia. A expansão da cidade teve
início por volta de 1800 a.C. Entre 1792 e 1750 a.C., um dos reis babilônicos, Hamurabi, unificou toda
a região. Dessa unificação surgiu o Primeiro Império Babilônico (1800-1600 a.C.), cujos domínios iam
da Assíria, no norte, à Caldeia, no sul.
Hamurabi passou a nomear governadores, unificou a língua e a religião e determinou que os
vários mitos populares fossem fundidos em um único poema – a Epopeia de Marduk –, que passou
/GRUPO KEYSTONE

a ser lido em todas as festas do reino. Além disso, reuniu as diversas leis e sentenças pronunciadas
no império e unificou-as no Código de Hamurabi, um dos mais antigos corpos de leis de todos
os tempos.

Hititas e assírios
A/THE BRIDGEMAN ART LIBRAY

Após a morte de Hamurabi, o Império Babilônico sofreu invasões até se desintegrar por completo,
em 1600 a.C. Nessa época, os hititas, povo originário da Anatólia (na atual Turquia), conquistaram a
supremacia territorial e política da Mesopotâmia.
Entre as inovações introduzidas por esse povo destacam-se a metalurgia do ferro na fabricação
de armas e a utilização de carros de guerra com rodas de aros que tornavam esses veículos mais fáceis
MUSEU DO LOUVRE PARIS FRANÇ

de manobrar. Por volta de 1200 a.C., os hititas foram dominados pelos assírios, povo que vivia no
norte da Mesopotâmia. Começava, assim, o Império Assírio (1200-612 a.C.).
Os assírios foram o primeiro povo a constituir um exército disciplinado. Seu império chegou ao
fim em 612 a.C., quando os babilônicos destruíram Nínive, sua capital.

MUSEU DO LOUVRE PARIS FRANÇA/THE BRIDGEMAN ART LIBRAY/GRUPO KEYSTONE

Estela de basalto na qual está inscrito


o Código de Hamurabi, localizada no
Museu do Louvre, em Paris, França. O
código representa uma das primeiras
tentativas do ser humano de estabelecer
leis escritas válidas e obrigatórias para
todos os integrantes da sociedade. Na
parte superior da pedra, Hamurabi presta
homenagem ao deus-Sol Shamash.

Guerreiros assírios representados em alto-relevo. O modo de agir


dos assírios foi registrado em um texto no qual Assurbanipal, um
de seus reis, descreve uma batalha: “Fiz muitos prisioneiros. De uns
cortei as mãos, de outros, o nariz e as orelhas, e de muitos furei os
olhos” (A Mesopotâmia. Biblioteca de História Universal Life, p. 55.).

32 Das cavernas às primeiras civilizações


O Segundo Império Babilônico
Com o fim do Império Assírio, os babilônicos recuperaram o poder na Mesopotâmia. Esse
período ficou conhecido como Segundo Império Babilônico (612-539 a.C.). Um de seus reis, Na-
bucodonosor (604-562 a.C.), expandiu as fronteiras da Mesopotâmia e conquistou Jerusalém.
Após sua morte, o Império Babilônico entrou em decadência, até que, em 539 a.C., foi conquistado
pelos persas.
ENQUANTO ISSO...

Centros urbanos na América


ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL/REUTERS/LATINSTOCK

Ruínas de um templo de pedra da antiga cidade de Caral, em foto de 2008. Fundada por volta de 2600 a.C., Caral ficava na região hoje conhecida como
Norte Chico, no Peru.

Na época em que os sumérios erguiam cidades como Ur e Uruk na Mesopotâmia, começava a se desenvolver no continente
hoje conhecido como América uma sociedade igualmente complexa. Ela se estabeleceu nos vales de Norte Chico, região do Peru
atual, a cerca de 200 kilometros de Lima, cidade construída 5 500 anos mais tarde e hoje capital peruana.
Nas proximidades de quatro rios existentes na região surgiram pelo menos 25 cidades, algumas no interior do continente,
outras nas proximidades do Oceano Pacífico. A mais antiga delas é Huaricanga, fundada por volta de 3500 a.C. e considerada o
primeiro centro urbano da América. Outras cidades de Norte Chico estão também entre as mais antigas do mundo: Caballete
HISTÓRIA

(fundada por volta de 3100 a.C.), Porvenir e Upaca (2700 a.C.) e Caral (2600 a.C.).
A população de Norte Chico contava com um sistema de irrigação usado para o cultivo de frutas e de legumes. Entre ou-
tros produtos cultivados estava o algodão, usado na fabricação de tecidos e de redes para atividades pesqueiras. Os moradores
de Norte Chico também fizeram grandes construções, como prédios de até 26 metros de altura, praças circulares e pirâmides. A
partir de 1800 a.C., essa civilização entrou em decadência.

Das cavernas às primeiras civilizações 33


PARA CONSTRUIR

5 (UFC-CE) Leia com atenção as afirmativas a seguir sobre as e pátios internos. Finalmente, deve perceber que um dos

condições sociais, políticas e econômicas da Mesopotâmia. edifícios se destaca entre os demais, no centro do desenho.

I. As condições ecológicas explicam por que a agricultura


de irrigação era praticada através de uma organização in-
dividualista.
II. Na economia da Baixa Mesopotâmia, a fome e crises de
subsistência eram frequentes, causadas pela irregularidade b) Em sua opinião, por que foi construído um muro repleto
das cheias e também pelas guerras. de torres cercando toda a cidade? Levante hipóteses so-
III. Na Suméria, os templos e zigurates foram construídos gra- bre isso.
ças à riqueza que os sacerdotes administravam à custa do A existência do muro e das torres tinha finalidades defensivas.
trabalho de grande parte da população. Lembre os alunos de que Khorsabad foi construída em uma
IV. A presença dos rios Tigre e Eufrates possibilitou o desen- época de intensas perturbações políticas e de lutas pela
volvimento da agricultura e da pecuária e também a for-
posse de terras férteis e de rotas de comércio na região.
mação do primeiro reino unificado da História.
Fortificar a cidade que seria a capital do novo império era
Sobre as afirmativas anteriores, é correto afirmar: e
a) I e II são verdadeiras. fundamental para impedir a invasão de exércitos inimigos.
b) III e IV são verdadeiras.
c) I e IV são verdadeiras.
d) I e III são verdadeiras.
e) II e III são verdadeiras.

6 Observe o desenho a seguir. Trata-se de uma representação


moderna da antiga cidade de Khorsabad, hoje situada em ter-
ritório iraquiano. A cidade foi construída por ordem de Sargão II,
rei dos assírios, para ser a capital do império. A corte de Sargão
II mudou-se para lá em 707 a.C., mas dois anos depois, o rei
foi morto em uma batalha e a cidade foi abandonada por seu
filho. Com base na imagem, responda às questões a seguir.
TEMPO & ARTE/ARQUIVO DA EDITORA

c) No centro do desenho destaca-se uma edificação com


dois pátios internos e uma rampa de acesso. Consideran-
do o enunciado da questão e o que você estudou neste
capítulo, levante hipóteses sobre as finalidades dessa edi-
ficação.
O palácio central era a moradia real de Sargão II e deveria
servir para que ele reunisse sua corte. Era nele também que
Representação da cidade assíria
de Khorsabad, cuja construção foi se realizavam as principais atividades religiosas. É importante
concluída em 707 a.C. ressaltar que o palácio estava na região central da cidade porque era

a) Descreva os elementos arquitetônicos que aparecem no justamente o centro do poder em uma sociedade antiga. Indique

desenho. que no canto direito do palácio central se destaca um pequeno

Professor, é importante que o aluno faça uma descrição detalhada edifício, mais alto que os demais, parecido com uma pirâmide
do desenho para que possa perceber as singularidades de uma com vários andares. Esse edifício, conhecido como zigurate,
cidade antiga, levantar hipóteses e chegar a conclusões sobre era um templo comum a diversos povos da Mesopotâmia.
a organização política de uma sociedade antiga. Na descrição, O zigurate era uma edificação dedicada aos deuses, cuja
ele deve perceber a existência de um muro com torres que entrada era permitida exclusivamente aos sacerdotes.
circunda a cidade, a organização geométrica dos edifícios,
todos de grandes dimensões e definidos por áreas exteriores

34 Das cavernas às primeiras civilizações


7 (UFRGS-RS – Adaptada) O mapa a seguir apresenta a região a) Como se organizava a vida social e política na Mesopo-
da Mesopotâmia. tâmia?
A organização política predominante na Mesopotâmia foi a
ia
H ál
Rio Mar cidade-Estado, na qual o monarca, seus altos funcionários
Cáspio
e a classe sacerdotal compunham a aristocracia, enquanto
MESOPOTÂMIA
Mar Rio
comerciantes e artesãos vinculavam-se à camada intermediária
Mediterrâneo E
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dos homens livres. Escravos obtidos por meio de guerra ou

Rio
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re
comércio e, principalmente, servos vínculados às terras estatais
constituíam a base da pirâmide social. O poder despótico do
Go soberano, detentor das terras e senhor dos homens nela
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ico estabelecidos, caráter divino do era frequentemente justificado
EGITO ARÁBIA pelo governo (“teocracia”).
Trópico de C
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FONTE: Maps World.


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Área do crescente fértil
km

A planície do Eufrates e do Tigre não constitui, como o Vale


do Nilo, um longo oásis no meio do deserto. Ela tem fácil co-
municação com outras terras densamente povoadas desde
tempos remotos. Por isso, a história da civilização mesopotâ-
mica está marcada por uma sucessão de invasões violentas e
de migrações pacíficas que deram lugar a um contínuo en-
trecruzamento de povos e culturas. b) Um dos grandes legados da Mesopotâmia foi a criação do
Entre esses povos, destacam-se: d Código de Hamurabi. Qual era a importância desse código?
a) egípcios, caldeus e babilônios. Criado entre 1792 e 1750 a.C. como forma de consolidar o recém-
b) fenícios, assírios e hebreus. -estruturado Império Amorita sediado na cidade da Babilônia, o
c) hititas, sumérios e fenícios. Código de Hamurábi foi importante na medida em que foi um dos
d) sumérios, babilônios e assírios.
primeiros códigos de leis escritos já criado. Seus princípios foram
e) hebreus, egípcios e assírios.
inspirados na Lei do Talião, que determinava que a pena deveria
8 (Vunesp – Adaptada) ser correspondente ao crime (“olho por olho, dente por dente”).
O palácio real constitui naturalmente, na vida da ci-
dade mesopotâmica, um mundo à parte. Todo um grupo
social o habita e dele depende, ligado ao soberano por
laços que não são somente os de parente a chefe de família,
ou de servidor a senhor. [...] Este grupo social é numeroso,
de composição muito variada, abrangendo trabalhadores
de todas as profissões, domésticos, escribas, artesãos, ho-
mens de negócios, agricultores, pastores, guardiões dos
armazéns, etc., colocados sob a direção de um intendente.
É que a existência de um domínio real, dotado de bens
múltiplos e dispersos, faz do palácio uma espécie de vasta
HISTÓRIA

empresa econômica, cujos benefícios contribuem para fun-


damentar solidamente a força material do soberano.
AYMARD, André; AUBOYER, Jeaninne. O Oriente e a Grécia antiga: as
civilizações imperiais. São Paulo: Difel, 1971.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 4 e 5 Para aprimorar: 3 e 4

Das cavernas às primeiras civilizações 35


Veja, no Guia do Professor, as
respostas da “Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

PARAPARA PRATICAR
PRATICAR Se um homem acusou outro de assassinato mas
não puder comprovar, então o acusador será morto.
1 (Ufscar-SP) Entre as transformações havidas na passagem da Se um homem ajudou a apagar o incêndio da
Pré-História para o período propriamente histórico, destaca- casa de outro e aproveitou para pegar um objeto do
-se a formação de cidades em regiões de: dono da casa, este homem será lançado ao fogo.
a) solo fértil, atingido periodicamente pelas cheias dos rios, Se um homem cegou o olho de outro homem, o
permitindo grande produção de alimentos e crescimento seu próprio será cegado. Mas, se foi olho de um escra-
populacional. vo, pagará metade do valor desse escravo.
b) difícil acesso, cuja disposição do relevo levantava barreiras na- Se um escravo bateu na face de um homem livre,
turais às invasões de povos que viviam do saque de riquezas. cortarão a sua orelha.
c) entroncamento de rotas comerciais oriundas de países Se um médico tratou com faca de metal a ferida
e continentes distintos, local de confluência de produtos grave de um homem e lhe causou a morte ou lhe inu-
exóticos. tilizou o olho, as suas mãos serão cortadas. Se a vítima
d) riquezas minerais e de abundância de madeira, condições for um escravo, o médico dará um escravo por escravo.
necessárias para a edificação dos primeiros núcleos urbanos. Se uma mulher tomou aversão a seu marido e não
e) terra firme, distanciada de rios e de cursos d’água, com grau quiser mais dormir com ele, seu caso será examinado
de salubridade compatível com a concentração populacional. em seu distrito. Se ela se guarda e não tem falta e o seu
2 As primeiras cidades da Mesopotâmia formaram-se por volta marido sai com outras mulheres e despreza sua esposa,
de 4000 a.C. Por que os historiadores costumam chamá-las de ela tomará seu dote de volta e irá para a casa do seu pai.
“cidades-Estado”?
Assinale a alternativa correta:
3 (Uece) Os sumérios foram os primeiros habitantes da Meso- a) As leis aplicavam-se somente aos homens livres e que
potâmia. Eles se autodenominavam “as cabeças negras” e a possuíssem propriedades.
região na qual habitavam denominavam de “terra de Sumer”. b) Estabeleceu o princípio que todos eram iguais perante a
Sobre este povo, assinale o correto. lei e por isso um escravo teria os mesmos direitos que um
a) Eram nômades, voltados para a guerra e a conquista de homem livre.
novos territórios. Ao contrário de outros povos, repudia- c) O Código de Hamurabi representava os ideais democráti-
vam o comércio, não possuíam uma cultura definida ou cos do Império Babilônico.
uma religião organizada, com um panteão e seu ritos. d) O código tinha como princípio a “pena de talião” resumida
b) Oriundos de diversos grupos étnicos, vindos do deserto na expressão “olho por olho, dente por dente”.
da Síria, começaram a penetrar aos poucos nos territórios e) O Código considerava a mulher propriedade do homem e
da região mesopotâmica em busca de terras agricultáveis. sem direitos.
Eram conhecidos pela sua habilidade no comércio.
c) Eram sedentários. Agricultores, realizaram obras de irriga- PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
ção e canalização dos rios. Construíram as primeiras cida-
des fortificadas que funcionaram como cidades-Estado.
1 Os rios desempenharam papel fundamental no surgimento das
Utilizavam técnicas de metalurgia e a escrita.
primeiras civilizações. Além de úteis no transporte de pessoas e
d) Eram, sobretudo, comerciantes e artesãos. Sem nenhuma
mercadorias, eles asseguravam a sobrevivência da população ao
aquisição cultural significativa. Fundaram um império uni-
garantir o abastecimento de peixes e água potável. Nas cheias,
tário com um regime político único. Descendentes dos se-
mitas, foram os primeiros a buscar uma religião monoteísta. quando os rios transbordavam, as águas fertilizavam suas mar-
gens, proporcionando assim um solo ideal para agricultura.
4 Que tipo de organização política substituiu as cidades-Esta-
Passados muitos séculos, a água continua sendo elemento essen-
do na região mesopotâmica?
cial para a vida na Terra. Mas é um recurso natural finito. De toda
5 (PUC-PR – Adaptada) O Império Babilônico dominou dife- a água existente no mundo, somente 2,5% são de água doce, os
rentes povos como os sumérios, os acádios e os assírios. Para outros 97,5% são de água salgada, impróprias para o consumo.
governar povos tão diferentes, o rei Hamurabi organizou o Fatores como a poluição, a urbanização e a industrialização
primeiro código de leis escritas, o Código de Hamurabi. A se- descontroladas, o desperdício e a distribuição desigual trans-
guir, leia parte desse documento. formam a água em recurso escasso e não renovável. Reverter

36 Das cavernas às primeiras civilizações


esse processo é um dos grandes desafios de nosso tempo. A III. A paisagem aquática serve para elaborações poéticas, como
Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que cada evidenciam a lenda do dilúvio, na antiga Mesopotâmia, e a
habitante consuma, no máximo, 110 litros de água por dia. poesia de Manoel de Barros, na cultura mato-grossense.
IV. Na região do Pantanal, os fazendeiros se ajustaram às

DAVID TURNLEY/CORBIS/LATINSTOCK
cheias e desenvolveram uma pecuária semiextensiva, se-

DAVID TURNLEY/CORBIS/LATINSTOCK
melhante à da Campanha Gaúcha.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I. d) apenas III e IV.
b) apenas II. e) I, II, III e IV.
c) apenas I, II e III.
4 (UFSC)
Bagdá – O famoso tesouro de Nimrud, desaparecido
há dois meses em Bagdá, foi encontrado em boas condições
em um cofre no Banco Central do Iraque em Bagdá, sub-
merso em água de esgoto, segundo informaram autorida-
des do exército norte-americano. Cerca de 50 itens do
Até 1960, a grande extensão de areia que aparece na foto esteve Museu Nacional do Iraque estavam desaparecidos desde os
coberta pelas águas do mar (ou lago) de Aral, entre as repúblicas do saques que seguiram à invasão de Bagdá pelas forças da
Cazaquistão e do Uzbequistão, que faziam parte da ex-União Soviética. coalizão anglo-americana.
O mar de Aral era, por essa época, alimentado por dois rios que Os tesouros de Nimrud datam de aproximadamente
atravessam a região. A partir de 1960, o governo da ex-União Soviética
900 a.C. e foram descobertos por arqueólogos iraquianos
começou a desviar as águas desses rios para projetos de irrigação.
Passadas algumas décadas, o grande lago perdeu 80% de sua superfície nos anos 1980, em quatro túmulos reais na cidade de
e boa parte dele se transformou em um deserto, como mostra a foto. Nimrud, perto de Mosul, no norte do país. Os objetos de
ouro e pedras preciosas foram encontrados no cofre do
Faça uma pesquisa sobre a média de consumo de água em Banco Central, em Bagdá, dentro de um outro cofre, sub-
sua casa. Traga para a classe a última conta de água recebida e merso pela água da rede de esgoto.
calcule o consumo médio diário de sua família. Compare com Os tesouros, um dos achados arqueológicos mais sig-
o consumo de seus colegas e, juntos, produzam um gráfico nificativos do século 20, não eram expostos ao público des-
com os seguintes dados: média de consumo das famílias; re- de a década de 1990. Uma equipe de pesquisadores do
sidências que estão de acordo com a recomendação da ONU; Museu Britânico chegará na próxima semana a Bagdá para
economia (em porcentagem) que deve ser feita para que as estudar como proteger os objetos.
famílias consumam de acordo com as recomendações. O Estado de S. Paulo. Versão eletrônica.
São Paulo, 7 jun. 2003. Disponível em: <www.estadao.com.br>.
2 Reflita sobre os motivos que levaram as pessoas a viver em Assinale a(s) proposição(ões) correta(s) em relação às socie-
cidades na Antiguidade. Pense também sobre o que leva as dades que se desenvolveram naquela região na Antiguidade.
pessoas a viver em cidades atualmente. Em seu caderno, es- (01) A região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates, onde
creva um texto sobre o assunto e apresente-o à classe. hoje se localizam os territórios do Iraque, do Kweite (Kwait)
e parte da Síria, era conhecida como Mesopotâmia.
3 (UFSM-RS) (02) Na Mesopotâmia viveram diversos povos, entre os quais
Bernardo conversa em rã como quem conversa em Ara- podemos destacar os sumérios, acádios, assírios e babilô-
maico. Pelos insetos que usa ele sabe o nome das chuvas. nios.
O guardador de águas, de Manoel de Barros. (04) A religião teve notável influência na vida dos povos da
Bernardo, a personagem de O guardador de águas, vive num Mesopotâmia. Entre eles surgiu a crença em uma única
território pantanoso (provavelmente no Mato Grosso do Sul), divindade (monoteísmo).
como a região entre os rios Tigre e Eufrates, berço da civiliza- (08) Os babilônios ergueram magníficas construções feitas
ção sumeriana. com blocos de pedra, das quais são exemplos as pirâmi-
Aproximando os dois ambientes naturais, analise as seguintes des de Gizé.
afirmações: (16) Os povos da Mesopotâmia, além da significativa con-
HISTÓRIA
I. Nesse espaço geográfico, as sociedades se organizam a tribuição no campo da Matemática, destacaram-se na
partir do ciclo das águas, e o tempo das cheias marca a Astronomia e entre eles surgiu um dos mais famosos
vida econômica. códigos de leis da Antiguidade, o de Hamurabi.
II. Na antiga Mesopotâmia, o controle das cheias foi funda- (32) Muitos dos povos da Mesopotâmia possuíram governos
mental para o desenvolvimento da agricultura e das cida- autocráticos. Entre os caldeus surgiu o sistema demo-
des-Estado. crático de governo.

Das cavernas às primeiras civilizações 37


CAPÍTULO

4 A civilização egípcia

Objetivos: As pirâmides fazem parte da paisagem do Egito e são um símbolo do país. As mais famosas são
as chamadas pirâmides de Gizé, construídas há mais de 4 mil anos e localizadas nas proximidades
c Abordar aspectos do
da atual capital egípcia, Cairo. Porém, elas não são as únicas. Em todo o Egito são conhecidas mais
processo de formação
de 130 pirâmides e, graças aos avanços tecnológicos, os arqueólogos continuam descobrindo novas.
do Egito antigo.
Usando imagens de satélites com raios infravermelhos, uma equipe de arqueólogos da Univer-
c Identificar o papel do sidade de Alabama, nos Estados Unidos, encontrou em Saqqara, a cerca de 30 kilometros do Cairo,
faraó na sociedade dezessete pirâmides de mais de 3 mil anos soterradas sob areia e lama. A descoberta ocorreu em
egípcia. 2011, e, próximo das pirâmides, os arqueólogos encontraram mais de mil túmulos e cerca de 3 mil
habitações milenares também soterradas. As construções pertenciam à cidade de Tanis, fundada no
c Analisar aspectos da século XII a.C. e abandonada no século VI.
sociedade, da religião, As escavações na região podem trazer muitas informações sobre a antiga civilização egípcia, que
da cultura e do
teve início no norte da África há mais de 5 mil anos, e cujas realizações ainda hoje nos impressionam
conhecimento científico
e surpreendem.
do Egito antigo.

ÀS MARGENS DO NILO
Localizado no norte da África, o Egito tem seu território quase todo ocupado pelo deserto do
Saara. Por isso, a maior parte de sua população encontra-se nas margens e no delta do rio Nilo, que
atravessa o país de norte a sul. Essa ocupação é basicamente a mesma há quase 8 mil anos.
As águas do Nilo transbordam de seu leito todos os anos entre junho e outubro, em razão das
chuvas tropicais na nascente do rio. O húmus trazido pelas enchentes torna o solo da região excelente
para a agricultura. Durante milhares de anos, a população que vivia nessa região aprendeu a drenar terre-
nos, a construir diques e canais e a erguer suas habitações e celeiros em locais elevados, longe das águas.
Com o passar dos séculos, esse trabalho comunitário organizado propiciou excedentes agrícolas e
fez com que os pequenos núcleos populacionais evoluíssem para povoados e vilas com maior estrutu-
ra. Essas aldeias passaram a ser conhecidas como nomos, e o chefe de cada uma delas, como nomarca.
Grande parte da população dos nomos era formada por agricultores – os felás –, que com o linho
faziam roupas e velas de barco e com a cevada produziam cerveja. O rio era o principal sistema de co-
municação e de transporte. Para essas pessoas, somente a ação dos deuses explicava o privilégio de elas
morarem em uma terra de abundância rodeada por áreas de seca e de fome.

A unificação do Egito
Os nomarcas mais eficientes na tarefa de garantir a alimentação de suas comunidades passaram
a personificar os deuses protetores dos nomos. Assim, gradativamente, o poder político e adminis-
trativo dos nomos se fundiu ao poder religioso.
Ao mesmo tempo, os governantes mais destacados começaram a incorporar novos territórios
a seus nomos, transformando a região em uma área de diversos pequenos “reinos”. Por volta de
3500 a.C., os nomos foram unificados em apenas dois reinos: o do delta e o do Vale do Nilo – tam-
bém chamados de Baixo Egito e Alto Egito, respectivamente.
Aproximadamente trezentos anos depois, um rei do Vale do Nilo chamado Menés (também
conhecido como Narmer, Men ou Meni) conquistou a região do delta. Pela primeira vez alguém foi
coroado como faraó do Egito, ou seja, um misto de monarca e chefe religioso. O símbolo de seu
poder era uma coroa dupla nas cores branca e vermelha, que representava a união das duas regiões
em um único e centralizado império.

38 Das cavernas às primeiras civilizações


REINHARD DIRSCHERL/ALAMY/GLOW IMAGES
O Antigo Egito
O EGITO HOJE
EUROPA
Mar Me
ÁSIA
diterrâ
n eo
Cairo
Trópico de Câncer EGITO
Ma
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Rio
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ES

Rio
Eu
o

frat
es OP
ÁFRICA

Tig
Equador
FONTE: World history atlas: mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005. Adaptado.

re
OCEANO Chipre

O
OCEANO ÍNDICO FENÍCIA


ATLÂNTICO
Biblos

M
o
Trópico de Capricórnio

IA
rdã
Sídon

Jo
Tiro

Rio
PALESTINA
(CANAÃ)
Jerusalém
DESERTO Saís Tânis Mar
DA LÍBIA Gaza Morto
Heliópolis Pirâmide escalonada de Saqqara, no Egito. Foto de 2009.
Mênfis
Gizé

ANGUS MCCOMISKEY/ALAMY/GLOW IMAGES


Heracleópolis Monte DESERTO
Sinai
Akhetaton DA ARÁBIA
(El Amarna)
Rio
Nilo

Tínis N

Vale dos Reis


Ma

Tebas 0 198
Vale das Rainhas
r V

km
erm

1ª- catarata
e

Baixo Egito
lho

Trópico de Câncer
Alto Egito
2ª- catarata Terras férteis
Kumma
Região conquistada
no Novo Império
NÚBIA
3ª- catarata Extensão máxima do
Novo Império (1580
a 525 a.C.)
4ª- catarata
Pirâmides

Gigantescas estátuas de pedra


O poder do faraó encontradas em Abu Simbel, no Egito,
representando o faraó Ramsés II. Um
Para os egípcios, o faraó era um deus e símbolo da sabedoria. O que o faraó aprovava era considerado dos governantes egípcios do período
justo; o mal era tudo o que ele condenava. Como líder religioso, era o principal intermediário entre as pes- conhecido como Novo Império (1580-
soas e os deuses. Embora existissem sacerdotes e sacerdotisas, era o faraó quem, preferencialmente, deveria -1085 a.C.), Ramsés II notabilizou-se por
conduzir os rituais e as orações nos templos. Para governar, recebia a ajuda dos nomarcas e dos escribas suas conquistas militares. Foto de 2012.
(funcionários). Assessorado pelos chefes militares, nos períodos de guerra liderava a defesa do império.
Os faraós governaram o Egito por mais de 3 mil anos em uma sucessão de dinastias. Os historia-
dores costumam dividir todos esses anos em três grandes períodos: Antigo Império, Médio Império
e Novo Império.
Foi durante o Antigo Império, momento no qual o Estado egípcio expandiu-se em direção ao
sul, que a prosperidade tomou conta do Egito e possibilitou a criação das obras arquitetônicas mais
características da região, as pirâmides, grandes monumentos funerários, das quais as mais famosas
são as de Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Nesse período, também foram criados governos regionais para facilitar o controle do Egito
pelo faraó. Para supervisionar esses governantes regionais, o faraó contava com a ajuda dos escribas,
funcionários encarregados de cobrar os impostos, controlar o estoque de alimentos e fiscalizar a VEJA O FILME
construção de obras públicas. Para isso eles desenvolveram uma escrita chamada hieroglífica (veja o
HISTÓRIA
Ramsés, o maior faraó do Egi-
boxe “A escrita hieroglífica” na página 40).
to, Discovery Channel. Estados
O poder dos faraós começou a se enfraquecer a partir do século VII a.C., quando os assírios con- Unidos, 2004. (90 min).
quistaram a região, em 662 a.C. Posteriormente, a realeza egípcia retomou o poder, mas em 525 a.C.
Uma equipe de cientistas e ar-
o império caiu sob o domínio dos persas. queólogos desvenda o mistério
A partir de então, o Egito foi sucessivamente invadido por povos de diversas origens, como sobre um dos mais importantes
macedônios e romanos na Antiguidade e árabes na Idade Média. No século XIX, tornou-se colônia faraós do Egito, Ramsés.
do Império Britânico, conquistando a independência apenas em 1922.

Das cavernas às primeiras civilizações 39


A escrita hieroglífica

ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE 


MUSEU DO LOUVRE PARIS FRANÇA/THE BRIDGEMAN
A escrita egípcia teria surgido, segundo os estudiosos, na época da unificação do
território. Chamada de hieroglífica, consistia no uso de símbolos – ideogramas – para
representar palavras: os hieróglifos. Assim, o desenho de um olho significava “olho”. Com
o tempo, os hieróglifos passaram a designar também os sons das palavras, os fonogra-
mas. Por exemplo, para escrever o nome do deus Osíris – Wosiri, em egípcio antigo –,
eles desenhavam um trono, Wos em egípcio, e um olho, que era iri. E para ninguém
pensar que significava o “olho do trono”, em geral desenhavam ao lado uma bandeirola,
emblema que designava um deus.
Quase simultaneamente ao desenvolvimento dos hieróglifos, foi criada também
uma escrita cursiva, mais simples, chamada hierática. Por meio dela, grande parte dos
textos literários, jurídicos e administrativos do Egito chegou até nós. Posteriormente,
a escrita foi simplificada ainda mais, surgindo, assim, a escrita demótica.
FONTES: GOMBRICH, Ernst. A breve história do mundo.
São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 31; ERCOUTTER, Jean. O Egito antigo.
São Paulo: Difel, 1974. p. 27-29. Detalhe do papiro Jumilhac do século I a.C.

PARA CONSTRUIR

1 Tendo em vista o que você já estudou sobre a formação das pri- mero de dias, sendo que permanece baixo o inverno intei-
meiras aglomerações humanas, explique a seguinte afirmação: ro, até um novo verão.
“Com o passar dos séculos, o trabalho comunitário propiciou exce- Alguns gregos apresentam explicações para os fenô-
dentes agrícolas e transformou pequenos núcleos populacionais menos do rio Nilo. Eles afirmam que os ventos do noroes-
em povoados”. Essa frase se aplica também à sociedade egípcia? te provocam a subida do rio, ao impedir que suas águas
corram para o mar. Não obstante, com certa frequência,
No processo de passagem da vida nômade para a sedentária,
esses ventos deixam de soprar, sem que o rio pare de subir
a agricultura foi um fator decisivo na evolução das sociedades da forma habitual. Além disso, se os ventos do noroeste
humanas. Se antes o nomadismo exigia uma luta diária pela produzissem esse efeito, os outros rios que correm na di-
sobrevivência e dificultava a armazenagem de alimentos, ao se fixar, reção contrária aos ventos deveriam apresentar os mesmos
o ser humano assumiu um controle maior sobre as condições que
efeitos que o Nilo, mesmo porque eles todos são peque-
nos, de menor corrente.
ameaçavam seu abastecimento. No decorrer dos séculos, o trabalho
HERÓDOTO. História (trad.). Livro II, 19-23. 2. ed. Chicago:
comunitário e a especialização profissional permitiram aprimorar Encyclopaedia Britannica Inc., 1990. p. 52-53. Adaptado.

as técnicas e os instrumentos agrícolas. Como consequência, Nessa passagem, Heródoto critica a explicação de alguns
gregos para os fenômenos do rio Nilo. De acordo com o tex-
aumentaram as colheitas, gerando-se um excedente que contribuiu
to, julgue as afirmativas a seguir.
para a melhoria da qualidade de vida, o crescimento populacional
I. Para alguns gregos, as cheias do Nilo devem-se ao fato de
e a ampliação das trocas entre comunidades, com implementação que suas águas são impedidas de correr para o mar pela
do comércio. A soma desses fatores fez com que muitos dos força dos ventos do noroeste.
pequenos núcleos populacionais se transformassem em povoados. II. O argumento embasado na influência dos ventos do
noroeste nas cheias do Nilo sustenta-se no fato de que,
2 (Enem) Ao visitar o Egito do seu tempo, o historiador grego quando os ventos param, o rio Nilo não sobe.
Heródoto (484-420/30 a.C.) interessou-se por fenômenos III. A explicação de alguns gregos para as cheias do Nilo basea-
que lhe pareceram incomuns, como as cheias regulares do va-se no fato de que fenômeno igual ocorria com rios de
rio Nilo. A propósito do assunto, escreveu o seguinte: menor porte que seguiam na mesma direção dos ventos.
Eu queria saber por que o Nilo sobe no começo do É correto apenas o que se afirma em: a
verão e subindo continua durante cem dias; por que ele se a) I. c) I e II. e) II e III.
retrai e a sua corrente baixa, assim que termina esse nú- b) II. d) I e III.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 e 2 Para aprimorar: 1

40 Das cavernas às primeiras civilizações


A VIDA SOCIAL
A sociedade egípcia era rigidamente estratificada, ou seja, estava dividida em grupos so-
ciais fortemente separados entre si. No topo da pirâmide social estava o faraó, considerado
filho do deus Amon-Rá, e seus familiares. Em seguida, vinham sucessivamente os sacerdo- Faraó

tes, a nobreza, os escribas (burocratas) e os soldados. Na base estavam os camponeses e


os artesãos – abaixo deles, só os escravos (veja a ilustração ao lado).
Poucas cidades do Egito antigo sobreviveram ao tempo e às cheias do Nilo. Mas Sacerdotes/nobreza
sabe-se que as moradias mais modestas eram de junco ou madeira e, geralmente, Burocratas Militares
tinham pouco mobiliário. Uma pequena peça funcionava como sala de estar e
dava diretamente para a rua. Tinham também banheiro com lavatório separado;
uma sala principal com um pequeno altar, onde eram recebidas as visitas;
quarto; cozinha e uma escada que levava ao telhado, sempre plano, onde
Camponeses/artesãos
à noite os moradores se refugiavam do calor. As pessoas de melhores
condições viviam em casas de tijolo produzido com uma mistura de Escravos
barro, areia e palha.

A CRENÇA NA IMORTALIDADE
A religiosidade foi um dos aspectos mais marcantes da socie-
MUSEU EGÍPCIO DO CAIRO EGITO/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE
dade egípcia. Das diversas divindades, a mais importante era Amon
(ou Amon-Rá), rei dos deuses e criador de todas as coisas, que se
identificava com o Sol.
A crença na imortalidade fez com que os egípcios encarassem
a morte como um grande acontecimento. As tumbas dos faraós
continham pinturas que retratavam passagens de sua vida e de seu
governo, com a intenção de mostrar aos deuses como eles foram
bons para seu povo. Era comum um faraó ser enterrado com fa-
miliares e funcionários, que iriam acompanhá-lo e servi-lo na vida
eterna. No túmulo do faraó Uadji (Antigo Império), foram encon-
trados outros 335 corpos.
Para os egípcios, o conceito de “viver após a morte” implicava
a permanência física do corpo. Por essa razão, eles desenvolveram
e aperfeiçoaram a prática da mumificação.

Cena da vida cotidiana no Egito antigo: casal da


nobreza desfruta de uma sessão de música executada
por um harpista, em mural datado de 1184-1147 a.C.

As múmias
O processo de mumificação desenvolvido pelos egípcios incluía a desidratação do cadáver e a aplicação de betume,
substância destinada a conservar o corpo. Durante a Antiguidade, esse produto também era empregado em outras regiões
no tratamento de cortes e fraturas.
HISTÓRIA
Aliando esse possível poder de cura do betume com os mistérios e magias que envolviam as múmias, a partir da Idade
Média médicos europeus passaram a prescrever o uso de carne mumificada no tratamento de várias doenças. Como conse-
quência, muitas tumbas egípcias foram saqueadas e traficantes passaram a exportar pedaços de múmias secas ou em pó para
o Ocidente. Francisco I (1494-1547), rei da França, por exemplo, tinha sempre consigo um suprimento de carne mumifica-
da para o caso de se ferir nas caçadas.
JOHNSON, Paul. História ilustrada do Egito antigo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 224-7, 360-361. Adaptado.

Das cavernas às primeiras civilizações 41


FRANÇOIS GUÉNET/AKG-IMAGES/LATINSTOCK
Camponeses ceifando trigo. Detalhe de
pintura no mural da tumba de Sennedjem,
em Deir-El-Medina, Egito, cerca de
1290 a.C. Observe que a representação do
corpo dos dois trabalhadores, vistos de
perfil, é mais realista que a do corpo dos
aristocratas da imagem anterior, visto de
frente, enquanto a cabeça, nos dois casos,
é representada de perfil.

A SERVIÇO DOS DEUSES E DO FARAÓ


Impregnada de religiosidade e de sentimento hierárquico, a arte servia aos deuses e aos faraós.
Na arquitetura, as obras mais importantes foram os templos e as pirâmides (túmulos dos faraós).
No que se refere à pintura e à escultura, havia normas rígidas a serem seguidas na representação de
pessoas de elite: as cenas eram retratadas sem perspectiva; as figuras humanas apareciam com a
cabeça, as pernas e os pés de perfil, enquanto um dos olhos e o tronco eram mostrados de frente.
Essa rigidez diminuía na representação de funcionários (os escribas) e de pessoas de classes baixas,
que eram retratadas de modo mais realista.

O SABER EGÍPCIO
Por sua prática na construção de diques e represas, os egípcios alcançaram grande desenvolvimento
em engenharia hidráulica. Seus tecelões eram hábeis na produção de tecidos e linhas. Na área de trans-
porte, construíam embarcações de variados tipos e tamanhos, tanto fluviais como marítimas. Como a
moeda só começou a ser utilizada a partir de 400 a.C., até essa data seu comércio era feito por meio da
troca direta de produtos.
Conhecedores da anatomia humana, os egípcios obtiveram avanços na Medicina, chegando
até mesmo a usar anestesia em cirurgias. Seus astrônomos criaram diferentes calendários, como o
que conferiu ao ano a duração de 365 dias e seis horas. Mais tarde, esse calendário foi adotado, com
modificações, pelo imperador romano Júlio César. Reformado pelo papa Gregório XIII, no século XVI,
constitui a base do calendário que utilizamos até hoje.

Os cuidados com o corpo


Os egípcios eram elegantes e se cuidavam bastante, mas isso se devia não apenas aos
padrões estéticos da época. Trabalhos arqueológicos e pesquisas científicas em diversas
áreas têm mostrado que muito daquilo que se apresenta como vaidade eram, de fato,
cuidados especiais para prevenir os rigores do clima ou sinônimo de vida e alimentação
equilibradas.
Tomografias e autópsias feitas em múmias revelam que, graças ao fato de ingerirem
pouco açúcar, os egípcios praticamente não tinham cáries. Os óleos perfumados com os quais
untavam o corpo evitavam o ressecamento da pele. Já a sombra nos olhos era resultado da
malaquita, pedra verde pulverizada e aplicada nas pálpebras para neutralizar a luz excessiva
do sol e agir como desinfetante contra doenças da vista transmitidas por moscas.

42 Das cavernas às primeiras civilizações


ENQUANTO ISSO...
A medicina chinesa

COLEÇÃO PARTICULAR/J.T.VINTAGE/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE


Por volta de 2700 a.C., enquanto os
egípcios construíam as grandes pirâmides
e seus médicos se especializavam na mumi-
ficação de corpos, na China os sábios afir-
mavam que as doenças tinham como cau-
sa o desequilíbrio do organismo humano.
O tratamento ideal, prescreviam eles, de-
veria ser feito, principalmente, por meio de
ervas e da acupuntura, técnica que consiste
em espetar finíssimas agulhas em pontos
específicos do corpo.

Pontos de acupuntura para controle


de doenças cardíacas e dos órgãos
sexuais. Medicina tradicional chinesa em
aquarela do século XVIII.

PARA CONSTRUIR

3 (Ceeteps-SP) Analise a charge e o texto a seguir. a inundação, nela achamos vantagem. Mas nenhum cam-
po lavrado cria-se por si mesmo”.
De fato, eram muitas e árduas as tarefas que os cam-
poneses tinham de realizar para criar os campos lavrados
e eram os movimentos do Nilo que regulavam suas ativi-
dades durante todo o ano.
AQUINO, Rubin; MOURA, Maria Bernadete; AIETA, Luiza. Fazendo a
História. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993.

Quanto à relação do Nilo com o trabalho dos camponeses, é


válido argumentar que os camponeses: b
a) podiam se ocupar com as atividades de lazer, quando
o rio voltava ao seu leito e, então, o trabalho agrícola
cessava.
b) precisavam construir diques, represas e canais de irriga-
ção, para armazenar e distribuir as águas do rio para dife-
rentes regiões. HISTÓRIA
c) semeavam e colhiam, durante os meses em que ocorriam
Heródoto, historiador grego do século V antes de as inundações, aproveitando-se do solo úmido, fertilizado
Cristo, dizia que o Egito era um presente do rio Nilo. e amolecido.
Durante os meses de cheias, suas águas inundavam as d) eram recrutados pelos faraós para o trabalho artesanal e
terras e as cobriam de adubos naturais. Mas isso não era doméstico nos palácios, durante os períodos de vazante.
o bastante, como dizia um documento provavelmente es- e) constituíam a camada social mais privilegiada, devido à
crito por volta do ano 2000 antes de Cristo: “Desejamos importância atribuída ao seu trabalho.

Das cavernas às primeiras civilizações 43


4 (Enem) O Egito é visitado anualmente por milhões de tu- I. Eram cidadãos do Estado teocrático egípcio e, como tais,
ristas de todos os quadrantes do planeta, desejosos de ver tinham direitos semelhantes aos dos seus reis e patrões.
com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida II. Serviram aos soberanos egípcios e garantiram a sobrevi-
em pedra há milênios: as pirâmides de Gizé, as tumbas do vência dos valores deles por meio de obras artísticas.
Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo III. Eram operários das obras funerárias dos reis e aristocratas
do Nilo. O que hoje se transformou em atração turística era, e tinham seus direitos garantidos por severa legislação do
no passado, interpretado de forma muito diferente, pois: a Código de Hamurabi.
IV. Eram homens e mulheres que entregavam o trabalho e a
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós
vida para que a grandeza do Estado egípcio se perpetuas-
tinham para escravizar grandes contingentes populacio-
se no tempo.
nais que trabalhavam nesses monumentos.
b) representava para as populações do alto Egito a possibili- Está(ão) correta(s): c
dade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos cantei- a) apenas I. d) apenas III e IV.
ros faraônicos. b) apenas I e II.
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma c) apenas II e IV. e) I, II, III e IV.
vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas riquezas, 6 (UFPE) Em relação à arte do Egito antigo, assinale a alternativa
construindo templos. correta. c
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a socie-
a) Visava à valorização individual do artista.
dade, obrigando os desocupados a trabalhar em obras
b) Manifestava as ideias estéticas com representações da na-
públicas que engrandeceram o próprio Egito.
tureza, evitando a representação da figura humana.
e) significava um peso para a população egípcia, que con-
c) Estava destinada à glorificação do faraó e à representação
denava o luxo faraônico e a religião baseada em crenças e
da vida de além-túmulo.
superstições.
d) Aproveitava os hieróglifos como ornamentação.
5 (UFSM-RS) e) Era uma arte abstrata de difícil interpretação.

7 A construção de Mênfis, primeira capital do Egito, foi ordena-


da pelo faraó Menés para celebrar a unificação do império.
Que cidade no Brasil foi construída com a finalidade especí-
fica de ser a capital do país? Você sabe como surgiu a cidade
em que você vive? Faça uma pesquisa e escreva um texto a
esse respeito.
Brasília, inaugurada em 1960, foi construída no Planalto Central com
a finalidade de ser a capital do Brasil. Antes dela, em diferentes
momentos da História a capital estivera sediada nas cidades de
Salvador e do Rio de Janeiro. A ideia de construir Brasília antecedeu
muito sua concretização. Em 1810, já se falava no assunto, tendo
como uma das principais justificativas a necessidade de fixação do
governo no interior – longe dos portos –, de modo que garantisse
maior segurança à capital. Outra justificativa era de que a centralidade
do local asseguraria, pela relativa equidistância, servir igualmente
às diversas regiões do país. O nome “Brasília” havia sido sugerido,
Ilustração da National Geographic. Jun. 2005. p. 50. ainda em 1823, por José Bonifácio. A capital do país é, hoje,

Entre os tesouros encontrados no túmulo de Tutankhamon considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela
(faraó que reinou entre 1332 e 1322 a.C.), acha-se esse baixo- Unesco. Professor, para a segunda parte da atividade, solicite
-relevo em ouro representando uma cena da vida privada da aos alunos que pesquisem em bibliotecas, arquivos de jornal ou
família real: a esposa do faraó esfregando óleo perfumado no
revistas, entrevistem antigos moradores e procurem fotografias
corpo do marido. Dos artesãos e trabalhadores em geral que
antigas a fim de reconstituir a história da cidade em que eles vivem.
produziram o túmulo e suas riquezas, não se acharam vestí-
gios. Sobre essas figuras anônimas, pode-se afirmar:

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 3 Para aprimorar: 2 a 4

44 Das cavernas às primeiras civilizações


Veja, no Guia do Professor, as
respostas da “Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

e) a religião do povo no antigo Egito era bastante distinta da


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR do rei, em razão do caráter supersticioso que as camadas
mais pobres das sociedades antigas tinham, sobretudo
1 (FGV-SP) Um império teocrático, baseado na agricultura, na por não terem acesso à escola e a outros saberes só per-
arregimentação de camponeses para grandes obras e pro- mitidos à família real.
fundamente dependente das águas de um grande rio.
Esta frase se refere aos: PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
a) fenícios e a importância do Tigre.
b) hititas e a importância do Eufrates. 1 (Fuvest-SP) No antigo Egito, assim como nos demais lugares
c) sumérios e a importância do Jordão. onde foi inventada, a escrita esteve vinculada ao poder esta-
d) cretenses e a importância do Egeu. tal. Este, por sua vez, dependeu de um certo tipo de econo-
mia para surgir e se desenvolver. Considerando as afirmações
e) egípcios e a importância do Nilo.
acima, explique as relações entre:
2 (UFC-CE) Aos egípcios devemos uma herança rica em cultura, a) escrita e Estado; b) Estado e economia.
ciência e religiosidade: eram habilidosos cirurgiões e sabiam
relacionar as doenças com as causas naturais; criaram as ope- 2 (Vunesp) Os Estados teocráticos da Mesopotâmia e do Egito
rações aritméticas e inventaram o sistema decimal e o ábaco. evoluíram acumulando características comuns e peculiarida-
des culturais. Os egípcios desenvolveram a prática de embal-
Sobre os egípcios é correto afirmar também que: samar o corpo humano porque:
a) foram conhecidos pelas construções de navios que os
a) se opunham ao politeísmo dominante na época.
levaram a conquistar as rotas comerciais para o Oci-
b) os seus deuses, sempre prontos para castigar os pecado-
dente, devido à sua posição geográfica, perto do mar
res, desencadearam o dilúvio.
Mediterrâneo.
c) depois da morte a alma podia voltar ao corpo mumificado.
b) deixaram, além dos hieróglifos, outros dois sistemas de
d) construíram túmulos, em forma de pirâmides truncadas,
escrita: o hierático, empregado para fins práticos, e o de- erigidos para a eternidade.
mótico, uma forma simplificada e popular do hierático. e) os camponeses constituíam categoria social inferior.
c) praticaram o sacrifício humano como forma de obter chu-
vas e boas colheitas, haja vista o território onde se desen- 3 Leia o texto abaixo:
volveram ser desértico. Tesouros em disputa
d) fizeram uso da escrita cuneiforme, que inicialmente foi Por ter sido dominada por diferentes povos, a cultura
utilizada para designar objetos concretos e depois ga- egípcia foi relegada em benefício da história de outras ci-
nhou maior complexidade. vilizações, como a grega e a romana. Tal descaso chegou
e) usaram as pirâmides para fins práticos, como, por exem- ao ponto de a leitura e aprendizagem da milenar escrita
plo, a observação astronômica. hieroglífica ter-se perdido por muito tempo.
A revalorização da cultura egípcia só foi retomada
3 (UFPE) Em relação à religião no antigo Egito, pode-se afirmar que:
após março de 1798, quando o imperador francês Napo-
a) a religião dominava todos os aspectos da vida pública e leão Bonaparte desembarcou na região com 40 mil solda-
privada do antigo Egito. Cerimônias eram realizadas pelos dos, além de 175 artistas, sábios e cientistas.
sacerdotes a cada ano, para garantir a chegada da inunda-
Os franceses permaneceram no Egito por mais de um
ção e, dessa forma, boas colheitas, que eram agradecidas
ano, mapeando e desenterrando monumentos. Um dos
pelo rei em solenidades às divindades.
objetos encontrados nas escavações foi a Pedra de Rosetta,
b) a religião no antigo Egito, como nos demais povos da An-
tiguidade, não tinha grande influência, já que estes povos,
placa de basalto de 762 quilos contendo um texto gravado
para sobreviverem, tiveram que desenvolver uma enorme em três tipos de escrita: uma em hieróglifos, outra na es-
disciplina no trabalho e viviam em constantes guerras. crita demótica e a terceira em grego. A partir dessa desco-
c) a religião tinha apenas influência na vida da família dos berta, teve início um trabalho de decifração e recuperação
HISTÓRIA

reis, que a usava como forma de manter o povo submeti- da escrita hieroglífica, concluído somente vinte anos mais
do a sua autoridade. tarde pelo arqueólogo francês Jean-François Champollion.
d) o período conhecido como antigo Egito constitui o único Com a decodificação da antiga escrita, a cultura egíp-
em que a religião foi quase inteiramente esquecida, e o rei cia teve uma grande valorização intelectual e comercial.
como também o povo dedicaram-se muito mais a seguir Muito de seu patrimônio artístico foi levado de forma pre-
a tradição dos seus antepassados, considerados os únicos datória para museus e coleções particulares da Europa e
povos ateus da Antiguidade. dos Estados Unidos.

Das cavernas às primeiras civilizações 45


Nos últimos anos, o governo egípcio passou a exigir a 4 (Ufscar-SP) Observe as imagens de atividades e de objetos
devolução desses objetos, entre eles o famoso busto da rainha produzidos pelos antigos egípcios entre 2000 e 1000 a.C.
Nefertiti, mulher do faraó Akhenaton, que se encontra no
Museu Egípcio de Berlim, na Alemanha, e a própria Pedra de
Rosetta, exposta no Museu de Londres, na Inglaterra.
As exigências egípcias começaram a dar algum resul-
tado. Em 2007, o Ministério da Cultura do Egito conseguiu
recuperar duas peças de 3 400 anos que estavam prestes a
serem leiloadas em Nova York.
Entretanto, obter o retorno de objetos egípcios expos-
tos em museus da Europa e dos Estados Unidos parece
mais difícil. Em 2002, diretores de 18 grandes museus eu-
ropeus e norte-americanos divulgaram uma declaração
conjunta defendendo o direito de manter as peças em seus
acervos. Entre os argumentos utilizados estava o de que os
museus são agentes do desenvolvimento cultural e não es-
tão a serviço de uma única nação e sim dos povos de todas
as nações do mundo.
Fontes: BERLITZ, Charles. As línguas do mundo. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1988. p. 128-129; MAN, John. A história do alfabeto.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 50.
ERICH LESSING/ALBUM ART/LATINSTOCK

Pedra de Rosetta, placa de basalto negro com inscrições em hieróglifos (em


cima), na escrita demótica (no meio) e em grego (faixa inferior). As inscrições
são versões de um mesmo texto e foram talhadas na pedra em 196 a.C.

As peças egípcias levadas para museus da Europa e dos Esta- a) Que atividades de trabalho desses povos podem ser iden-
dos Unidos deveriam ser devolvidas ao Egito? Por quê? Escreva tificadas nas imagens e objetos retratados?
um argumento que considere mais relevante para defender b) Identifique e analise duas mudanças e duas permanências
sua opinião. Depois, apresente esse argumento oralmente para entre as atividades e técnicas do antigo Egito e as pratica-
a classe em um debate organizado pelo professor. das no Brasil contemporâneo.

46 Das cavernas às primeiras civilizações


CAPÍTULO

5 As civilizações asiáticas:
China e Índia

Objetivos: Atualmente, a China e a Índia estão entre as maiores economias mundiais e também possuem
as maiores populações do mundo.
c Situar e caracterizar a
formação das dinastias
A China atravessa, ao longo das últimas décadas, um período de grande crescimento econômi-
chinesas. co, responsável por provocar uma rápida expansão industrial. Esse crescimento, aliado ao baixo custo
de produção, facilita a exportação dos produtos chineses para o mundo inteiro. Assim, é provável
c Identificar contribuições que você já tenha reparado na grande quantidade de artigos “made in China” encontrados em lojas
da cultura chinesa e supermercados do Brasil.
para a história da A Índia, por sua vez, com uma população de mais de 1,2 bilhão de pessoas, só perde em número
humanidade.
de habitantes para a China. É um país de grandes contrastes: por um lado, é considerado um dos
c Reconhecer as ideias principais polos tecnológicos do mundo; por outro, cerca de 40% dos pobres do planeta estão em
de Confúcio. seu território.
Neste capítulo, conheceremos um pouco mais desses países, suas culturas e tradições ricas em
c Situar e caracterizar o diversidade e contrastes. Berços de civilizações milenares, estudaremos o legado das tradições chine-
processo de formação sas e indianas para os demais povos da Ásia e para o restante da humanidade.
da Índia antiga.

c Caracterizar o CHINA
funcionamento da
sociedade de castas. A primeira dinastia chinesa
c Reconhecer aspectos Segundo pesquisadores, os primeiros grupos humanos a se fixar no atual território da China
religiosos e culturais da teriam chegado na região há cerca de 30 mil anos. Por volta de 7000 a.C. surgiram as primeiras aldeias
sociedade indiana. à margem dos rios. Nesses povoados, teve início a prática da agricultura, principalmente o plantio
de arroz.
Foi no vale do rio Amarelo, no norte da China, que a agricultura mais se desenvolveu. Isso levou
ao surgimento de muitas comunidades. Aos poucos, esses povoados se transformaram em pequenos
Estados governados por chefes cujo poder era transmitido por meio de laços familiares. Por volta
de 2200 a.C. um dos chefes, Yü, o Grande, unificou esses pequenos Estados e tornou-se rei. Com ele,
teve início a dinastia Xia, a primeira da história da China.
Os governantes Xia construíram muralhas ao redor das cidades e organizaram um exército
THE GRANGER COLLECTION NEW YORK/
THE GRANGER COLLECTION/GLOW IMAGES/

equipado com armas de bronze. Dominando uma área de aproximadamente 1 600 kilometros qua-
drados, os Xia reinaram até o século XVIII a.C., quando foram derrubados pelos Shang, que fundaram
uma nova dinastia.

Expansão durante a dinastia Shang


Sob a nova dinastia, o território chinês passou a ter 100 mil quilômetros quadrados de área.
Os Shang governaram até o final do século XI a.C. Durante esses sete séculos, a China viveu uma
HISTÓRIA
era de florescimento cultural, com a criação de uma escrita primitiva – conhecida como yinxu –
que originou a atual escrita chinesa, feita com ideogramas.
Durante a dinastia Shang, os chineses desenvolveram um calendário com 365 dias, passaram a
utilizar conchas como dinheiro, criaram instrumentos musicais, como tambores e sinos, e descobri-
Inscrições adivinhatórias em casco de ram a técnica da fabricação de tecidos de seda a partir dos casulos do bicho-da-seda. Os chineses
tartaruga de 9 mil anos. Os símbolos
são muito semelhantes à escrita yinxu. da era Shang acreditavam em vários deuses, consultavam oráculos e faziam sacrifícios humanos e de
Dinastia Shang (1766-1122 a.C.). animais em nome dessas divindades.

MÓDULO – Das cavernas às primeiras civilizações 47


Os Shang governaram até 1027 a.C., quando foram derrubados por um rei vizinho que deu início
THE GRANGER COLLECTION NEW YORK/
THE GRANGER COLLECTION/GLOW IMAGES

à dinastia Zhou. Transcorreram, então, duzentos anos de tranquilidade. A partir do século IX a.C., os
grandes proprietários de terra e os pequenos Estados sob seu controle tornam-se mais poderosos,
enfraquecendo cada vez mais o poder real.

Os Reinos Combatentes
A partir do século V a.C. os reinos de Chu, Yan, Qi, Zhao, Han, Wei e Qin passaram a disputar a
hegemonia da China. Teve início, então, um período de lutas que se estendeu de 475 a 221 a.C. Foram
anos de violência que ficaram conhecidos como Período dos Reinos Combatentes.
Essa crise estrutural da sociedade chinesa provocou reflexões a respeito do papel do Estado,
das leis e dos governantes. Também estimulou o nascimento de teorias filosóficas, como o taoísmo
Sob a dinastia Shang, a China conheceu e o confucionismo.
uma fase de esplendor artístico, como
mostra a pequena peça da foto. Trata-se
de um vaso de bronze esculpido no A filosofia de Confúcio
formato de elefante, delicadamente
decorado com altos-relevos. Nascido em 551 a.C., Koung Fou Tseu – conhecido pelos ocidentais como Con-
fúcio – dedicou-se a pensar de que maneira o Estado, os governantes e os indivíduos
poderiam viver em uma sociedade mais harmônica e feliz.
Confúcio argumentava que uma sociedade amparada na ordem e na justiça só
seria possível por meio da capacidade de amar, ser bondoso, praticar o bem, ter res-
peito e interesse para com o próximo. Os conceitos de Confúcio foram mesclados a
diversas religiões e aspectos da vida dos chineses ao longo dos séculos.
Portal
Um dos mais conhecidos textos creditados a Confúcio no Ocidente encontra-se
SESI nos comentários ao I Ching: o livro das mutações, obra também composta de um orá-
Educação www.sesieducacao.com.br culo e um texto decifrativo. Outro aspecto relacionado ao confucionismo bastante
difundido nos dias de hoje é o feng shui, teoria que afirma existirem locais corretos
Acesse o portal e veja o infográfi- para se construírem e ocuparem estabelecimentos comerciais e residenciais, de forma
co animado Muralha da China:
a garantir saúde, harmonia, paz, prosperidade e felicidade a seus moradores.
a maior estrutura militar do
BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997. p. 90-91. Adaptado.
mundo.

Em 221 a.C., depois de muitas batalhas, o reino de Qin anexou os territórios dos reinos adver-
sários e unificou a China. Seu rei, Ying Zheng, pertencente à dinastia Qin, proclamou-se imperador
(Shi Huangdi). Era o começo da fase imperial da história chinesa.

A China imperial
O primeiro imperador
Durante seu governo, Ying Zheng (221-210 a.C.) transformou a China em um império forte-
mente centralizado. Padronizou o sistema de pesos e medidas e os diferentes tipos de escrita, criou
um rígido conjunto de leis e construiu estradas.
Para defender o território chinês de invasões, determinou que as muralhas que protegiam as
VEJA O FILME cidades fossem interligadas. Mais de 1 milhão de trabalhadores foram mobilizados nessa tarefa, que
resultou na construção dos 4 200 kilometros da Grande Muralha, no norte da China.
Herói, de Zhang Yimou. China, Com a morte de Ying Zheng, o império entrou em crise. Em 206 a.C., Liu Bang subjugou seus
2002. (96 min). adversários e assumiu o governo, dando início à dinastia Han.
Trata da história do reino de Qin na
China antiga. O soberano é amea- Sob a dinastia Han
çado por assassinos, contratados Grande parte das medidas adotadas pela dinastia Han inspirava-se nas ideias de Confúcio, o
por seus adversários políticos. que levou a China a um notável desenvolvimento econômico e cultural. A produção agrícola, por
Certo dia, um dos magistrados do
exemplo, teve grande avanço por causa da introdução de arados puxados por bois, da utilização de
reino entra no palácio carregando
as armas dos assassinos, afirman- instrumentos de ferro e da construção de canais de irrigação.
do tê-los derrotado em combate O desenvolvimento agrícola e comercial permitiu que os chineses estabelecessem importantes
com a técnica da espada. laços comerciais com povos vizinhos e até mesmo com o Ocidente, por meio da Rota da Seda, como
mostra o boxe da página 50.

48 Das cavernas às primeiras civilizações


MUSEU BRITÂNICO, LONDRES

VEJA O FILME
Em busca da vida, de Jia Zhang-
-Ke. China, 2006. (108 min).
O minerador Han e a enfermeira
Shen Hong rumam à cidade de
Fengjie, na China. Ele tenta reen-
contrar a esposa e a filha que não
vê há muito tempo. Ela está atrás
do marido desaparecido. Quando
chegam lá, porém, percebem que
a cidade foi inundada para a cons-
trução de uma represa e não existe
mais. Um filme sobre a procura da
identidade e sobre a China con-
temporânea.

Pintura do álbum Gengzhidu


representando uma família
chinesa agradecendo a
boa colheita diante de um
altar familiar. As relações
familiares foram fortalecidas
com sucessivos códigos de
leis estabelecidos a partir da
dinastia Han.

Ao crescimento econômico ocorrido durante a dinastia Han seguiu-se a expansão territorial


do império, com a conquista das regiões da Coreia e do Cantão. Também foi sob essa dinastia que
se consolidou muito do conhecimento científico dos chineses.
Na área da Medicina, fizeram experiências de dissecação de cadáveres e de cirurgias com anes-
tesia. Difundiram também o uso de ervas e a prática da acupuntura para o tratamento de doenças.
Os técnicos e os artesãos chineses criaram um instrumento que detectava a direção dos ventos
e inventaram o sismógrafo, aparelho que mede tremores de terra – um similar europeu seria criado
somente no século XVIII. Utilizando como matéria-prima cascas de árvores e uma mistura de linho,
trapos e redes, os chineses inventaram também uma técnica de fabricação de papel.
Além disso, seus cientistas desenvolveram avançados conceitos matemáticos, como as quatro
operações com números fracionais e o cálculo com números positivos e negativos, além de inven-
HISTÓRIA
tarem a bússola e os relógios de sol e de água.
Após o fim da dinastia Han, no século III d.C., a China viveu períodos de unificação e fragmen-
Portal
tação do poder imperial, sofrendo ataques de outros povos, como os tibetanos e os turcos. No SESI
Educação www.sesieducacao.com.br
século XIII, o território chinês foi ocupado pelo exército de Gengis Khan, líder mongol. Valorizando
seu passado e bastante fechada às influências externas, a China só passou a ter contato mais regular
Acesse o portal e confira o infográ-
com o Ocidente a partir do século XIII, graças principalmente à ação de mercadores ocidentais, como fico animado A cidade proibida.
o veneziano Marco Polo.

Das cavernas às primeiras civilizações 49


A Rota da Seda
Desde sua origem, o território da China sofreu invasões de cavaleiros das estepes. Uma das principais ameaças eram os hunos. No século
II a.C., tentando dialogar com eles, o imperador Wu-Ti, da dinastia Han, enviou um emissário de nome Chang-Ch’ien. Esse agente, entretanto,
foi aprisionado pelos hunos, só conseguindo fugir dez anos depois.
Em sua viagem de retorno, Chang-Ch’ien passou pelo reino de Báctria (atual Afeganistão), onde obteve informações sobre os
costumes das civilizações do Ocidente desconhecidas dos chineses – e sobre as rotas comerciais utilizadas por esses povos.
Entretanto, o que despertou maior interesse no imperador Wu-Ti foi a informação da existência de grandes cavalos na região da
Ásia central. Interessado em usá-los contra os hunos, que dispunham somente de cavalos de pequeno porte, Wu-Ti determinou que,
utilizando as rotas de Chang-Ch’ien, fossem organizadas expedições em busca desses animais.
Não demorou muito e mercadores chineses e ocidentais começaram a se interessar também por essas estradas, pois ao longo
delas podiam comprar, vender ou trocar produtos como madeira, joias, canela, sal, pimenta, gengibre, óleos, etc. Esse trajeto, de
cerca de 7 mil kilometros, era perigoso e poderia levar vários anos para ser percorrido, pois, além da distância, os viajantes tinham
que transpor geleiras e desertos, enfrentar tempestades de areia e os temíveis ladrões e saqueadores das estepes.
Esse conjunto de estradas ficou conhecido como Rota da Seda, uma vez que os mercadores utilizavam-se dele para levar a
seda para o Ocidente, onde o produto era vendido a peso de ouro. A Rota da Seda desempenhou importante papel no intercâmbio
de ideias, costumes e culturas entre civilizações diferentes. A partir do século X, a Rota da Seda entrou em declínio.
Fontes: LLOSA, Mario Vargas. Marco Polo, o mercador de Korcula.
Disponível em:<www.estado.com.br/editorias/2002/08/25/cad045.html>. Acesso em: 4 jul. 2014; BRETÃS, Vilma.
O que foi a Rota da Seda? Superinteressante. set. 2000. p. 46; A rota da seda: uma rota de comércio e de religiões.
Disponível em: <www.terravista.pt/AguaAlto/1018/ROTA_SEDA.html>.
Acesso em: 4 jul. 2014.

A Rota da Seda

EUROPA

FONTE: World history atlas: mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005. Adaptado.
Veneza GRANDE COREIA
MONGÓLIA MURALHA
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MONGÓLIA INTERIOR Rio


Rio

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Golfo de
Bengala
Mar Arábico

OCEANO 0 606
Rotas da seda ÍNDICO
km

50 Das cavernas às primeiras civilizações


China: a potência do século XXI
Hoje, a China está entre as três maiores economias do mundo, atrás

RICHARD BAKER/IN PICTURES/CORBIS/LATINSTOCK


apenas dos Estados Unidos e do Japão. Resultado de reformas econômicas
implementadas ao longo das três últimas décadas, que levaram o país a
crescer a taxas de quase 10% ao ano.
Esse crescimento vertiginoso vem promovendo uma rápida ex-
pansão urbano-industrial cujos reflexos são observados em vários seto-
res da economia chinesa. A China é atualmente o segundo maior consu-
midor mundial de petróleo, absorve um terço de todo o aço produzido
no mundo e utiliza cerca da metade de todo o cimento consumido
mundialmente. Além disso, é uma das principais nações exportadoras.
Vende desde mercadorias de baixo preço até artigos eletrônicos de alta
tecnologia.
Toda essa expansão econômica, porém, não acabou com os gran-
des contrastes observados no país. As diferenças entre a zona rural e Mulher desabrigada em Hong Kong, China. O rápido crescimento
urbana ainda são grandes. Quase 60% da população chinesa vive no econômico do país ainda não conseguiu diminuir seus profundos
contrastes sociais.
campo, onde os benefícios resultantes dessa prosperidade só se fazem
sentir muito lentamente. Enquanto no campo o salário médio dos trabalhadores está por volta de 600 dólares anuais, nas cidades esse valor
chega a mais de 1 900 dólares.
Em busca de uma vida melhor, cerca de 150 milhões de camponeses migraram nas últimas décadas da zona rural para as cidades,
onde acabaram se transformando em mão de obra barata para as indústrias, recebendo salários mensais que variam de 50 a 100 dólares.
Muitos, sem emprego, mendigam pelos grandes centros urbanos.
Se entre 1979 e 2002 o crescimento chinês serviu para retirar 400 milhões de pessoas da pobreza, ainda hoje o número de chineses
que vive com menos de 1 dólar por dia é alto: cerca de 90 milhões de pessoas.
A rápida expansão também vem produzindo grandes impactos ambientais. Das 20 cidades mais poluídas do mundo, 16 estão na
China. Hoje, 300 milhões de chineses bebem água contaminada todos os dias. Anualmente, cerca de 190 milhões são acometidos de
doenças decorrentes dessa contaminação.
Outro problema é a falta de liberdade de expressão. Os jornais têm sua produção controlada pelo governo e os servidores uti-
lizados para navegar na internet são obrigados a instalar filtros que impedem o acesso dos internautas a sites probidos pelo regime
chinês. Além disso, a Justiça chinesa é responsável por mais de 80% das condenações à pena de morte hoje no mundo.
Fontes: TREVISAN, Cláudia. China: o renascimento do império. São Paulo: Planeta, 2006; AQUINO, Ruth;
FREDERIC, Jean. China, a nova superpotência. Época, 23 jun. 2008.
ENQUANTO ISSO...

O Japão

MUSEU NACIONAL DE TÓQUIO


Na mesma época em que a China se transformava em império (século II a.C.), o Japão
vivia seu primeiro grande período de desenvolvimento: a chamada Era Yayoi (300 a.C. a 300
d.C.). Formado por quatro ilhas principais e mais de 4 mil ilhotas, o Japão foi ocupado há
cerca de 30 mil anos por povos caçadores e coletores originários das atuais Sibéria e Coreia.
Por volta de 10000 a.C., essa civilização aprendeu a fazer objetos de barro, utilizados para co-
zinhar e armazenar alimentos. Mas foi somente a partir do período Yayoi que os japoneses,
influenciados pelos chineses, aprenderam a cultivar e irrigar o arroz, a fabricar objetos de
bronze e de ferro, a tecer e a utilizar a escrita ideográfica. HISTÓRIA

Considerado material nobre, o bronze foi um dos


símbolos da cultura Yayoi, no Japão. Entre os objetos
feitos com esse material destacam-se sinos como o da
foto, de 47,5 cm de altura e datado do século II a.C.

Das cavernas às primeiras civilizações 51


PARA CONSTRUIR

1 O atual território chinês começou a ser ocupado há mais de


30 mil anos. Monte uma linha do tempo, destacando os prin- a)
cipais acontecimentos que contribuíram para a formação do
Império Chinês.
A linha do tempo pode destacar acontecimentos variados, entre b)
eles poderia começar destacando que os primeiros grupos humanos
teriam chegado ao território equivalente à China atual há cerca de c)
30 mil anos. Por volta de 7000 a.C., estabeleceram-se nas margens
dos rios as primeiras aldeias, lideradas por mulheres que faziam o
cultivo do arroz. Com o desenvolvimento da agricultura, surgiram
d)
muitas comunidades que foram se transformando em pequenos
Estados, governados por chefes cujo poder era transmitido por e)
laços familiares. Por volta de 2200 a.C., um desses chefes, Yü, o
Grande, unificou os pequenos Estados e tornou-se rei, dando início
3 Observe os três mapas a seguir, com a extensão territorial
à primeira dinastia da história da China: a dinastia Xia. Esta durou até
de três dinastias chinesas da Antiguidade, e responda às
o século XVIII a.C., sendo substituída pela dinastia Shang. No fim do questões.
século XI a.C., outra dinastia, a Zhou, a substituiu. Entre os sécu-
los V a.C. e II a.C., ocorreu o período chamado Reinos Combatentes, Dinastia Shang (1766-1122 a.C.)
acabando com a formação da fase imperial da história chinesa.

ho
a n g- (

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse,


Amarelo)
o
Rio H
Anyang

ang (Azul)
é -ki OCEANO
-ts
a ng PACÍFICO
Y
Rio

2006. Adaptado.
Trópico de Câncer N

0 510
Golfo de
2 (Enem) A linguagem utilizada pelos chineses há milhares de Bengala km

anos é repleta de símbolos, os ideogramas, que revelam parte


da história desse povo. Os ideogramas primitivos são quase Dinastia Zhou (1100-221 a.C.)
um desenho dos objetos representados. Naturalmente, esses

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006. Adaptado.


desenhos alteraram-se com o tempo, como ilustra a evolução

do ideograma , que significa cavalo e em que estão re- ng-ho (A


marelo)
a
Rio Ho

presentados cabeça, cascos e cauda do animal.


Xian
)
zul
g-tsé-kiang (A
an OCEANO
Y
Rio

PACÍFICO

Considerando o processo mencionado anteriormente, esco- Trópico de Câncer N

lha a sequência que poderia representar a evolução do ideo- 0 453


Golfo de
grama chinês para a palavra luta. b Bengala
km

52 Das cavernas às primeiras civilizações


4 Durante séculos, não houve contato entre a China e os povos
Dinastia Zhou (221-206 a.C.)
ocidentais. As longas distâncias, as dificuldades de transporte

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006. Adaptado.


e comunicação e as diferenças linguísticas devem ter contri-
buído para manter esses dois mundos separados. O que foi
ng-ho (A
a Rota da Seda e por que ela foi importante para aproximar a

marelo)
China e o Ocidente?

a
Rio Ho
A Rota da Seda era um conjunto de estradas, que formava cerca de
Xian
7 mil kilometros, em que se podia comprar, vender ou trocar produtos
)
sé n g ( A zul
ng-t -kia como madeira, joias, canela, sal, pimenta, gengibre, óleos, além de
Ya OCEANO
servir para os mercadores orientais levarem seda ao Ocidente, onde
Rio
PACÍFICO

o produto era muito valorizado e vendido a preços altos. A Rota da


Seda significou um espaço de troca de ideias, costumes e valores
Trópico de Câncer N
entre civilizações diferentes.
0 453
Golfo de
Bengala km

a) Faça um exercício comparativo entre os três mapas e iden-


tifique os domínios territoriais em ordem crescente de cada
5 A Muralha da China foi construída para proteger as cidades e
dinastia (do menor domínio territorial para o maior).
todo o território chinês dos ataques e das invasões de povos
O menor território era o da dinastia Shang, depois o da dinastia inimigos. Hoje, as cidades brasileiras são “invadidas” pela vio-
Zhou e, finalmente, o da dinastia Qin. Professor, ressalte que a lência, pela desigualdade social, pelo déficit de moradias, pela
ampliação do território chinês foi um longo e gradativo processo falta de vagas nas escolas e por outros problemas urbanos.
de incorporação de novos povos e de ampliação das fronteiras. Um dos projetos para resolver alguns desses problemas pro-
Embora possa se observar que houve a perda de pequenas põe transformar os centros urbanos em “cidades educadoras”.
porções a Oeste entre as dinastias Shou e Qin, a tendência geral
Segundo essa proposta, os locais públicos das cidades – pra-
ças, ruas, shopping centers, praias, entre outros – seriam trans-
foi de expansão.
formados em espaços educativos para a população.
b) Em comparação com o atual território chinês, os das di- Em grupos, discutam de que maneira os espaços públicos
nastias antigas eram bem menores. Entretanto, podemos podem ser transformados em espaços educativos. Como a
afirmar que aquelas dinastias foram reinos e impérios im- comunidade pode participar no processo de melhoria da
portantes na Antiguidade? Explique por quê. cidade? Vocês conhecem trabalhos semelhantes desenvolvi-
As dinastias antigas, representadas nos três mapas, foram dos em sua cidade?
reinos significativos na Antiguidade porque unificaram povos e Ao final da reflexão, apontem três questões importantes dis-
culturas distintas em torno de um poder centralizado, criando cutidas pelo grupo e preparem uma exposição oral sobre eles.
uma unidade política que se prolongou por mais de um milênio. Uma experiência desenvolvida nos últimos anos, sobretudo na

Se, para os padrões atuais, o território parece pouco expressivo, cidade de Barcelona (Espanha), está ligada ao conceito de “cidade

para os padrões antigos (cujos meios de comunicação e educadora”. Seu princípio é a ampliação das fronteiras da educação

transporte eram infinitamente mais lentos que os nossos), para além da instituição escolar, com base na ação conjunta dos

eram vastos domínios que exigiam um complexo sistema cidadãos para remodelar o uso do espaço público e a vida

administrativo. Pode-se observar ainda que a noção de império comunitária. Leia no Guia do Professor um trecho (adaptado) sobre o

não está relacionada essencialmente à vastidão territorial, mas assunto, retirado do livro A cidade como projeto educativo, organizado

sim ao domínio político sobre outros povos. pelos autores espanhóis Carmen Gómez-Granell e Ignacio Vila HISTÓRIA
(Tradução de Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2003).

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 Para aprimorar: 1

Das cavernas às primeiras civilizações 53


AS CIVILIZAÇÕES DA ÍNDIA
Os dravidianos
Por volta do terceiro milênio a.C., habitantes do noroeste do continente indiano come-
çaram a erguer cidades ao longo do rio Indo (no atual Paquistão). Eram núcleos urbanos bem
estruturados, como Mohenjo-Daro, edificado segundo cuidadoso traçado que privilegiava as
largas avenidas.
Para enfrentar as cheias anuais do Indo, decorrentes do degelo do Himalaia na primavera e no
verão, essas cidades eram construídas sobre plataformas de terra batida e entulho de até doze metros
de altura. Seus habitantes eram os dravidianos, cujas casas de tijolos de barro cozido contavam com
eficientes sistemas de água e esgoto.
Os dravidianos confeccionavam roupas de algodão e comercializavam os produtos com
outros povos. Vendiam também joias, pedras semipreciosas, utensílios domésticos e brinquedos.
Por volta de 1800 a.C., começaram a abandonar as cidades em direção ao vale do rio Ganges e
ao sul da Índia atual.

Origem e expansão da Índia

CAMBOJA

FONTE: World history atlas: mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005. Adaptado.
GANDHARA
H
IM
A
Harapa LA
KURU IA

o MATSYA
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oI PANCHALA
Ri SURASENA MALLA VRIJI
Mohenjo-Daro Rio
Ga n
KOSALA ges
VATSA
Pautaliputra r
d e Cânce
KASI ANGA Trópico
CEDI MAGADHA
AVANTI

ASMAKA

OCEANO Avanço dos povos


ÍNDICO árias (2000 a.C.)
CEDI Antigos reinos
indianos
Território dos povos
dravidianos
Território do Império
VEJA O FILME N Mauria

0 287
Capital do Império
O Mahabharata, de Peter Brook. Mauria
km
França e Inglaterra, 1989. (325 min).
Representação cinematográfica do
épico homônimo de cerca de 120
mil versos, divididos em 19 livros,
A chegada dos arianos
sobre a civilização indiana e credi- As razões desse deslocamento são desconhecidas. Alguns estudiosos apontam como causa a
tado ao sábio Vyasa, personagem invasão do vale do Indo pelos arianos, povo nômade da Ásia central que subjugou os dravidianos e
mítico considerado o autor de passou a dominar a região.
outras escrituras sagradas do hin- Ariano é a forma genérica pela qual são chamadas as pessoas de pele clara, originárias de algu-
duísmo. O roteiro narra a guerra
mas das cerca de 50 tribos nômades que habitavam a região do Cáucaso – área que abrange partes
entre os grupos rivais Pandavas e
Kauravas, fazendo ligações com o das atuais Rússia, Geórgia, Azerbaijão e Armênia. Por volta do segundo milênio a.C., alguns desses
presente. grupos – também conhecidos como indo-europeus – saíram do planalto iraniano e se instalaram
no vale do rio Indo. Com o tempo, avançaram em direção ao vale do Ganges.

54 Das cavernas às primeiras civilizações


Depois da invasão, os árias – como se autodenominavam – passaram a viver como sedentários
e incorporaram muitas palavras das línguas dravidianas a seu idioma, o sânscrito. As crenças religiosas
também se misturaram, dando origem ao hinduísmo, conjunto de doutrinas e práticas religiosas que
passou a reger, praticamente, todos os aspectos da vida cotidiana e da organização social dessa popu-
lação. Muitas dessas crenças persistem até os dias de hoje na Índia.
Os fundamentos do hinduísmo estão registrados no Rig Veda, ou “Livro do conhecimento”,
coletânea de 1 028 hinos que acabaria por dar nome a todo o período em que a Índia antiga esteve
sob o domínio dos árias: época védica.

Uma sociedade de castas


Inicialmente, os árias organizavam-se em tribos subordinadas a um chefe – o rajá – e a um
sacerdote – o purohita. Havia ainda um conselho de anciãos e outro dos chefes de família. Os sacer-
dotes criaram complexos rituais religiosos que originaram uma nova corrente dentro do hinduísmo,
o bramanismo. Afirmando conversar com os deuses, os sacerdotes conquistaram enorme poder
diante da população e do próprio rajá.
Eles criaram diversos preceitos que passaram a ser adotados por grande parte da sociedade
hindu, como a ideia de reencarnações sucessivas e a instauração de um rígido sistema de castas.
Castas são grupos sociais fechados, compostos de pessoas que exercem a mesma profissão.
Nesse sistema, não se pode passar de uma casta para outra. As castas consideradas mais impor-
tantes eram formadas pelos árias. Os sacerdotes encontravam-se no topo da hierarquia social, na
casta dos brâmanes. Em seguida, vinham sucessivamente os xátrias – nobres, guerreiros e admi-
nistradores –, os vaixás – ou comerciantes – e os sudras – artesãos e trabalhadores manuais não
arianos. Os últimos da escala social eram os párias, pessoas excluídas da sociedade, sem direito a
estudar, ouvir os hinos védicos nem viver nas cidades.
Entre os séculos VII e VI a.C., já no fim da Era Védica, governantes, comerciantes e a população
pobre passaram a questionar os privilégios que os sacerdotes desfrutavam. Como resultado desse
movimento surgiram duas correntes reformistas no hinduísmo: o budismo e o jainismo. LEIA O LIVRO
De modo geral, tanto o budismo como o jainismo afirmavam que cabia ao ser humano realizar
Buda: no reino de Kapilavastu,
seu próprio destino, sem necessidade da adoração de deuses, como pregavam os brâmanes. Também de Osamu Tezuka. São Paulo:
condenavam o sistema de castas e os privilégios dos brâmanes. Com suas doutrinas, conquistaram Conrad.
um grande número de seguidores, o que contribuiu para o enfraquecimento dos sacerdotes védicos.
ANN BURY PEERLESS PICTURE LIBRARY/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE

HISTÓRIA

Página ilustrada do Livro dos Vedas


representando o deus Brahma
ouvindo as súplicas de um
devoto da religião hinduísta.

Das cavernas às primeiras civilizações 55


Contradições indianas
A tradição e a modernidade convivem lado a lado na Índia. Ainda hoje, a população encontra-se dividida em mais de 3 mil castas
e 27 mil subcastas. Embora a Constituição indiana proíba a discriminação, as pessoas das castas mais baixas são vítimas de preconceitos.
Além de enfrentar dificuldades para obter bons empregos, são impedidas de se casar com pessoas de castas superiores.
O governo indiano mantém um sistema de cotas assegurando às pessoas das castas mais baixas acesso às universidades e ao serviço
público. Também oferece uma recompensa para as pessoas que se casam com indivíduos de castas inferiores. Apesar disso, as pessoas
das castas mais baixas recebem salários inferiores em comparação com os trabalhadores oriundos de castas mais altas e é muito comum
encontrar nos jornais indianos anúncios matrimoniais nos quais os pretendentes ao casamento informam qual a sua casta e indicam a
casta a que deve pertencer o futuro cônjuge.
Outra antiga tradição que perdura na Índia é o pagamento de um dote por parte da família da noiva ao noivo por ocasião do
casamento. Embora seja proibido por lei desde 1961, o dote continua sendo praticado no país e isso vem acarretando graves problemas.
Existem diversos casos de mulheres assassinadas por maridos insatisfeitos com o valor recebido. Além disso, é alto o índice de assassinato
de bebês do sexo feminino praticado por pais que não querem se ver obrigados a pagar um dote ao futuro genro.
Se essas tradições fazem parte do dia a dia dos indianos, o convívio com a modernidade também não lhes é estranho. Como
resultado de uma série de mudanças econômicas postas em prática no início da década de 1990, a economia indiana cresce a índices
superiores a 8% ao ano e isso produz grandes reflexos na sociedade.
A Índia tem investido fortemente na qualificação de sua mão de obra. Hoje, há no país diversas instituições educacionais de alto nível
(todos os anos, 2,5 milhões de bacharéis se formam nas faculdades indianas) e conta com uma força de trabalho altamente especializada. Por
tudo isso, é apontado por muitos analistas como precursor da tecnologia que impulsionará a próxima fase da economia global.
Apesar desse crescimento, a Índia enfrenta grandes problemas ainda não solucionados. Cerca de 340 milhões de pessoas
(28% da população) vive abaixo da linha de pobreza. De cada 10 indianos, quatro são analfabetos. A grande maioria da popu-
lação (72%) vive no campo, onde os problemas de falta de infraestrutura são grandes: a rede de esgoto – quando existe – é
insuficiente, o fornecimento de energia elétrica é bastante falho e a água potável não chega para todos.
Fontes: KAMDAR, Mira. Planeta Índia: a ascensão turbulenta de uma nova potência. Rio de Janeiro: Agir, 2008; MELLO, Patrícia Campos. Índia: da miséria à
potência. São Paulo: Planeta, 2008; TREVISAN, Cláudia. Sistema de castas poda avanços na Índia. Folha de S.Paulo, 24 set. 2006.
DAVID PEARSON/ALAMY/GLOW IMAGES

ZAKIR HOSSAIN CHOWDHURY ZAKIR/ALAMY/GLOW IMAGES

Jovens indianos trabalham em call center (central de atendimento telefônico), Camponês indiano trabalha em plantação de arroz. Cerca de 72% da
em Mumbai, na Índia. A mão de obra excedente de uma das cidades mais população indiana vive no campo, onde as condições de vida são
superpopulosas do mundo acaba sendo escoada para postos de trabalho ainda muito precárias. Foto de 2014.
precarizados e mal remunerados. Foto de 2012.

56 Das cavernas às primeiras civilizações


DO IMPÉRIO MAURIA AO IMPÉRIO GUPTA VEJA OS FILMES
Ao mesmo tempo que enfrentava mudanças religiosas,
Um casamento à indiana, de
a Índia passava por transformações também na esfera Mira Nair. Índia, 2001. (119
política. Em 521 a.C., tropas do imperador persa Dario min).
conquistaram a região do vale do rio Indo. Em 326 a.C.,
Premiado filme sobre um ca-
a região passou para o poder dos macedônios de Ale-
samento indiano arranjado
xandre, o Grande.
entre Adita e o engenheiro
Em 321 a.C., o guerreiro Chandragupta Maurya, Hermant. O pano de fundo
da casta dos xátrias, após derrotar os macedônios, fun- são os costumes da Índia.
dou o Império Mauria, cujos domínios se estendiam do
vale do rio Indo ao vale do Ganges, abrangendo uma área Quem quer ser um milionário?,
de  Danny Boyle e Loveleen
de mais de 2 milhões de kilometros quadrados.
Tandan. Índia e Estados Uni-
Entretanto, seria com Ashoka, neto de Chandragup-
dos, 2008. (120 min).
ta, que o Império Mauria viveria seu apogeu. Ashoka as-
sumiu o poder em 269 a.C. e se tornou o maior gover- O filme conta a história de Ja-
nante da Índia antiga. Ele mandou construir hospitais, mal Malik Othman, um jovem
clínicas veterinárias e estradas e estabeleceu relações das favelas de Mumbai, que
participa da versão indiana do
comerciais com outras civilizações. A arte e a tecno-
programa Quem quer ser um
logia floresceram, e a Índia entrou em um período de
milionário?

MUSEU ARQUEOLÓGICO DE MATHURA UTTAR PRADESH


ÍNDIA/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE
paz e tranquilidade que perdurou até 232 a.C., ano em
que Ashoka morreu.
A partir disso, o Império Mauria, que compreendia
quase todo o território da Índia atual, fragmentou-se até
entrar em colapso, em 184 a.C. A cultura hindu só voltou
a recuperar seu espaço no século IV, com o Império Gupta
(cerca de 320-550 d.C.), estabelecido no vale do rio Ganges.
Em 711, os árabes conquistaram a região do Sind, no
delta do Indo, e levaram o islamismo para a Índia. Muitos
indianos viram na nova religião uma oportunidade de esca-
par do rígido sistema de castas. No século XVIII, os ingleses
assumiram o controle político do país, que só recuperou
sua independência em 1947.
Figura em terracota do Imprério Mauria, século II a.C.
ENQUANTO ISSO...

A cultura chavín MUSEU DE ARTE DE DALLAS TEXAS


ESTADOS UNIDOS/THE BRIDGEMAN
Enquanto os dravidianos se estabeleciam às margens dos rios Indo e Ganges, na América do ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE

Sul, os chavín começavam a abandonar seus hábitos nômades e a se instalaram na região onde
hoje é o Peru. Um dos primeiros povos a praticar uma agricultura sedentária na América
do Sul, eles desenvolveram uma variada produção artística. Suas esculturas re-
tratam guerreiros com suas vítimas decapitadas, cenas de sacrifícios ou, ainda,
animais ferozes. Seus artesãos também trabalhavam com couro e tecidos e
fabricavam joias e outros objetos de cobre, ouro e prata.
Seu centro religioso, Chavín de Huántar, possuía uma grande
praça e um templo. Entre 700 a.C. e o início da Era Cristã, os chavín
controlaram a costa central do atual Peru e as montanhas adjacentes,
dominando os diversos povos que ali viviam. Apesar de seu colapso,
HISTÓRIA

deixaram muitas marcas nas civilizações andinas que surgiram depois.


A cultura chavín começou a se desenvolver na região dos Andes, na
América do Sul, a partir de 1200 a.C. Seu apogeu ocorreu entre 1000
e 800 a.C. É dessa época a cidade de Chavín de Huántar, onde surgiram
as primeiras formas do Estado teocrático andino. Por volta de 400 a.C.,
teve início seu declínio. Na foto, uma urna funerária chavín.

Das cavernas às primeiras civilizações 57


PARA CONSTRUIR

6 Leia o texto a seguir antes de responder à questão: Ao erguer-se, percebeu o homem que o olhava. Face
a face, os dois ficaram um momento sem falar. O menino
[...] O sistema que compartimenta a sociedade indiana não teve medo algum. Nem tentou fugir.
em quatro níveis principais e milhares de subníveis ultra- — Sabes escrever?
passa os milênios e tem origens nos povos que habitaram a — Não, disse o menino. Por quê? [...]
Índia e também na majoritária fé hinduísta. O hinduísmo é Parando de sorrir, ele disse ao menino:
uma religião politeísta com diversas manifestações locais. — Compus um grande poema. Está todo composto,
Em comum, porém, está a visão de que há uma disposição porém nada foi escrito. Preciso de alguém para escrever o
organizada no universo, que estabelece a natureza e o fun- que sei.
cionamento de todas as coisas, inclusive a posição dos ho- — Como te chamas?
mens na sociedade. Daí, decorre a visão de que há justiça — Vyasa.
no “carma” carregado por cada um, até mesmo daqueles que — De que fala o teu poema?
levam uma vida de terríveis sofrimentos. Um nascimento — Fala de ti. [...]
miserável, por exemplo, é um fato incontornável e justo, O menino admirou-se com o que o velho acabara de
segundo a religião. É o contrário do que pregaram as revo- dizer.
luções no Ocidente a partir do Iluminismo, culminando — Teu poema fala de mim?
com a Revolução Francesa. Para esses ideais, todos são Eis a resposta, incontestável, de Vyasa:
iguais ao nascer e têm o direito de definir seus destinos. — Sim. Ele conta a história da tua raça, como os teus
Uma nação dividida entre as crenças e castas. Veja on-line. Disponível em: antepassados nasceram e cresceram; como se desenrolou
<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/india/sociedade.html>.
Acesso em: 5 jul. 2014. uma guerra muita vasta. É o grande poema do mundo. [...]
A divisão social em castas foi um dos aspectos que nortearam Logo que o velho acabou de pronunciar essas palavras
a formação da Índia. Explique como funciona esse sistema. tão ambiciosas, ouviu-se uma música. O homem e o menino
voltaram-se e viram Ganesha, que se aproximava deles.
No sistema de castas, a divisão social se dava pelo critério da profissão.
Caminhava pesadamente porém com graça. Seu rosto
Assim, as atividades profissionais determinavam a composição de de elefante sorria por trás da tromba. Trazia um grosso li-
cada segmento. O sistema era marcado pela rigidez, que impedia vro sob o braço.
a mudança de uma casta para outra. As castas mais importantes
— Quem é? – perguntou o menino.
— É Ganesha – respondeu Vyasa.
eram formadas pelos árias. Os sacerdotes encontravam-se no
— O próprio Ganesha?
topo da hierarquia social, na casta dos brâmanes. Em seguida, vinham O deus com cabeça de elefante respondeu com uma
sucessivamente os xátrias – nobres, guerreiros e administradores –, voz sincera e doce:
— Em pessoa. Não me reconheces?
os vaixás – comerciantes – e os sudras – artesãos e trabalhadores
Impossível não reconhecê-lo. Era visto em toda parte,
manuais não arianos. Os últimos da escala social eram os párias, em todos os templos, em todos os lugares sagrados. Ganesha,
pessoas excluídas da sociedade, sem direito a estudar, ouvir os hinos criado por seus próprios meios por Parvati, esposa do deus
védicos e viver nas cidades. A importância do sistema de castas para Xiva, era, ao nascer, um soberbo menino. Sua mãe pediu-lhe
para tomar conta da porta de sua casa e não deixar entrar
a sociedade indiana revela-se, nos dias de hoje, pelo fato de ainda
ninguém, pois desejava tomar um banho, então Xiva chegou,
existirem na Índia mais de 3 mil castas e 27 mil subcastas. ignorando a presença do menino. Quis entrar em sua casa.
7 O Mahabharata (que significa “a grande história da humani- Ganesha barrou-lhe a passagem:
— Minha mãe disse para não deixar ninguém entrar,
dade”) é um dos maiores poemas épicos indianos. Suas pri-
ninguém entrará!
meiras histórias foram escritas nos séculos V e IV a.C. A obra
Furioso, Xiva convocou suas ferozes tropas ordenan-
contém mitos, narrativas, lendas e relatos que contam, na
do-lhes que desalojassem aquele menino obstinado. Porém
perspectiva indiana, a origem e os primórdios da humani-
Ganesha resistiu; e repeliu-as, dispersando-as, e as esma-
dade. O trecho a seguir narra o surgimento de um dos mais
gou. Possuía uma força sobrenatural. Mesmo as hordas de
importantes deuses do panteão hindu: Ganesha. Para os se-
demônios não conseguiram forçar a passagem, pois o me-
guidores do hinduísmo, Ganesha é o deus da sabedoria.
nino defendia sua mãe.
Após ler o excerto, responda ao que se pede. Xiva só conseguiu vencê-lo pela astúcia. Arrastou-se
Embora mais de quarenta séculos tenham decorrido por trás e, de repente, cortou-lhe a cabeça, que atirou longe.
desde estes acontecimentos, conta-se também que o ho- Então Parvati, encontrando o filho decapitado, ficou furiosa
mem havia encontrado antes um menino. Esse menino, e ameaçou destruir todas as forças do céu.
que seguia os pássaros na campina, debruçara-se à beira Xiva sabia que a sua cólera era tão grande e tão justa
de um lago para matar a sede. que lhe dava o poder de suprimir os deuses. Rápido, para

58 Das cavernas às primeiras civilizações


acalmá-la, ordenou que se fixasse no menino a cabeça da O Mahabharata pode ser considerado um grande aglu-
primeira criatura encontrada pelo caminho. Era um ele- tinador da cosmologia indiana, uma vez que nele se en-
fante. Assim nasceu o deus dos escritores, dos músicos, contram diversas narrativas sobre as origens dos deuses,
por vezes até dos ladrões. Ganesha, guloso, irônico e terno, da terra e do ser humano. Em sua opinião, esse tipo de
aquele que acalma as contendas. narrativa mitológica pode ser utilizado como fonte histó-
O Mahabharata. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 17-19. rica pelos historiadores?
Resposta pessoal. Com os avanços historiográficos verificados a

LUCA TETTONI/CORBIS/LATINSTOCK
partir do século XX, a narrativa mítica tem sido considerada uma
grande aliada para o conhecimento de vivências, temporalidades
e historicidades múltiplas. Assim, essas narrativas e cosmogonias
são consideradas importantes fontes históricas, pois ajudam a
revelar costumes, ações, crenças e práticas de diversos sujeitos,
períodos ou culturas.

Detalhe de pintura indiana que representa o deus hinduísta Ganesha


com sua cabeça de elefante. Bangalore, Índia, janeiro de 2007.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 2 e 3 Para aprimorar: 2 a 4

Veja, no Guia do Professor, as respostas da


“Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

pequena parcela restante são cristãos, sikhs e budistas. Aí,


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR está a primeira separação. A convivência entre a maioria
hinduísta e a numerosa comunidade muçulmana (cerca de
1 Muitas ideias de Confúcio influenciaram a sociedade chine- 140 milhões de pessoas) tem sido tensa durante parte dos
sa. Para ele, como a sociedade poderia viver em harmonia? mais de dez séculos de coexistência. Tanto assim que, ain-
2 O bramanismo é uma corrente religiosa que se formou no da hoje, de tempos em tempos, há notícias de massacres
interior do hinduísmo há milhares de anos. Elabore um pe- contra muçulmanos em vários pontos da Índia e até em
queno texto sobre a importância dos sacerdotes brâmanes
grandes cidades como Nova Délhi e Bombaim.
Uma nação dividida entre as crenças e castas. Veja on-line. Disponível em:
na sociedade védica. <http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/conheca_pais/india/sociedade.html>.
Acesso em: 18 jul. 2014.
3 Depois de séculos de ocupação do território indiano pelos
Como visto no texto, cerca de 13% dos indianos hoje seguem
persas e pelos macedônios, o guerreiro Chandragupta Maurya
o islamismo. Explique como essa religião se desenvolveu na
restabeleceu, em 321 a.C., um governo de origem védica. Em
sociedade indiana a partir do século VIII.
linhas gerais, defina o que foi o Império Mauria.
3 Como vimos, os dravidianos construíram cidades bem organi-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR zadas que contavam com eficientes sistemas de água e esgo-
to. Hoje, no Brasil, os serviços de água e esgoto encontram-se,
1 Ao longo do capítulo foram feitas referências aos conheci- majoritariamente, a cargo do poder público. Entretanto, 13%
mentos culturais e científicos da civilização chinesa. Escreva dos brasileiros não recebem água tratada e 24% não têm aces-
um texto recuperando as principais heranças deixadas pelos so ao sistema de esgotos. Reflita e compare: do ponto de vista
político e social, como se explica essa situação no Brasil atual?
HISTÓRIA
chineses para a história da humanidade.

2 Leia o texto a seguir: 4 A Índia mantém ainda hoje muitos costumes e tradições que
Crenças e castas dividem a Índia. Para entender isso, permaneceram vivos ao longo dos séculos. Com base nas in-
em primeiro lugar é preciso separar os 1,095 bilhão de formações deste capítulo e no seu conhecimento sobre a Ín-
habitantes por religião: atualmente, cerca de 80% seguem dia, aponte aspectos atuais da vida indiana que representem
o hinduísmo, pouco mais de 13% são muçulmanos e a a coexistência da tradição com a modernidade no país.

Das cavernas às primeiras civilizações 59


CAPÍTULO

6 Os fenícios

Objetivos: O alfabeto você conhece bem: é composto de 26 letras que vão do A ao Z. Cada uma delas é
representada por um sinal próprio e corresponde a um som específico da fala. Assim, fazendo com-
c Situar a região
binações entre esse pequeno número de letras, somos capazes de escrever todas as palavras da língua
dominada pelos
portuguesa. Além disso, essas mesmas letras podem ser adaptadas a qualquer língua, permitindo
fenícios e identificar
escrever as palavras de qualquer outro idioma.
os países que hoje
Esse sistema de escrita, portanto, facilita, e muito, a comunicação escrita entre as pessoas. Não
ocupam esse local.
é à toa que ele é considerado por muitos uma das grandes invenções da humanidade. Mas como
c Caracterizar a ele surgiu? Como vimos, alguns dos primeiros sistemas de escrita – como a dos egípcios e a dos su-
organização política mérios – faziam uso de imagens para registrar suas ideias. Era um sistema muito difícil: havia milhares
e administrativa da de sinais e poucas pessoas o dominavam.
sociedade fenícia. Por volta de 1500 a.C., os fenícios, povo que vivia na região onde hoje é o Líbano, no Oriente
Médio, criaram um sistema de escrita bem mais simples, baseado em apenas 29 sinais, cada um re-
c Conhecer a
presentando um som específico da fala. Esse sistema se popularizou, sofreu algumas mudanças e se
importância da
transformou no alfabeto que conhecemos hoje. Neste capítulo, conheceremos mais sobre os fenícios
urbanização e do
e sobre seu legado à humanidade.
comércio para o
desenvolvimento dessa
sociedade e para a CIDADES PORTUÁRIAS
criação do alfabeto. O Líbano é um país do Oriente Médio situado entre a Síria, Israel e o mar Mediterrâneo. Com
uma área de 10 mil km2 seu território é formado por um pequeno e fértil planalto ao centro, cercado
por duas cadeias de montanhas.
Por volta de 3000 a.C., estabeleceram-se ali povos de origem semita que se autodenominavam
cananeus, uma vez que a região era conhecida pelo nome de Canaã. Os cananeus construíram seus
aldeamentos sobretudo às margens do Mediterrâneo. Com grande atividade comercial, esse povoa-
mento deu origem a diversas cidades portuárias, como Biblos, Ugarit e Tiro.
Embora as cidades tivessem idioma e
HAIDAR HAWILA /REUTERS/LATINSTOCK

hábitos culturais semelhantes, não estavam


unificadas em torno de um único reino.
Eram cidades-Estado. Tinham, portanto,
autonomia política e administrativa. De
modo geral, eram governadas por monar-
cas, em torno dos quais encontravam-se a
aristocracia – composta de comerciantes e
proprietários de terras – e um clero pode-
roso. A grande massa urbana era formada
por marinheiros e trabalhadores especia-
lizados em fabricar joias, vidros, tecidos e
outros produtos.

Pesquisador trabalha nas escavações de um sítio


arqueológico na região da antiga cidade fenícia
de Tiro, no sul do Líbano atual. Os objetos à sua
volta são recipientes de cerâmica modelados por
artesões fenícios.

60 Das cavernas às primeiras civilizações


O comércio pelo mar
A comunicação entre as diferentes cidades-Estado era feita principalmente pelo mar; com o
tempo, os cananeus passaram também a estabelecer relações mercantis com outras populações
mediterrâneas. Por volta de 2500 a.C., algumas cidades cananeias haviam se transformado em ponto
de encontro de caravanas de mercadores vindas das mais diferentes regiões, constituindo-se em
verdadeiros entrepostos comerciais. Esse foi, por exemplo, o caso de Biblos, que se tornou o principal
centro distribuidor do papiro fabricado no Egito.
Os cananeus se destacaram também pela produção de corantes, desenvolvendo uma sofistica-
da técnica de tingir tecidos. Teria sido por esse motivo que os gregos chamavam Canaã de Phoenicia
(púrpura), palavra da qual derivam Fenícia e fenícios.

Expansão pelo mar


Por volta de 1200 a.C., as regiões circunvizinhas da Fenícia foram ocupadas por diversos povos,
entre os quais os arameus, os hebreus e os filisteus. Como os fenícios não eram um povo de natureza
guerreira, para crescer e prosperar, optaram pelo comércio e por se expandir pelo mar Mediterrâneo.
Entre os fatores que permitiram a expansão marítima desse povo destaca-se seu grande
desenvolvimento náutico. Para garantir a segurança de suas embarcações, elas eram escoltadas
por barcos de guerra que levavam na proa um aríete de madeira e bronze utilizado para perfu-
rar os barcos piratas. Os fenícios conheciam também as correntes marítimas, o voo das aves, a
migração de alguns peixes e os ventos de cada região. De posse dessas informações, eles podiam
afastar-se cada vez mais de seu litoral e atingir regiões longínquas (veja mapa a seguir). Segundo
antigos relatos, no século VIII a.C. os fenícios teriam realizado uma proeza que só seria repetida
pelos portugueses mais de 2 mil anos depois: a circum-navegação da África.
Os fenícios obtinham grandes lucros com essas viagens. Nelas, trocavam cedro, armas, linho,
pedras preciosas, artefatos de vidro, objetos de marfim e tecidos coloridos por ouro, cobre, estanho
e ferro. Muitos dos lugares em que paravam para descansar ou se abastecer transformaram-se em
cidades comerciais fenícias – esse foi o caso de Cirene, Léptis, Oea (atual Trípoli), entre outras. A mais
importante de todas, porém, foi Cartago, fundada no século IX a.C., no norte da África.

A expansão fenícia (séculos XII a.C. a VIII a.C.)

FONTE: World history atlas: mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005. Adaptado.
âmbar

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OCEANO
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ATLÂNTICO Rio Loire

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madeira Rio Pó
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chumbo bi o
Mar Negro

prata lã
cobre ouro
Is. Baleares
Alicante Tarros
Cádiz Málaga Ibiza
Sulci Calári cobre
El Argar
Tânger
HISTÓRIA
Lixsus mármore
Palermo Ugarit
Russadir Utica
ouro Cartago Chipre Árados
Territórios fenícios Biblos
Tapso Beritos
Área de comércio dos fenícios Sídon FENÍCIA
Mar Mediterrâneo
Rotas de navegação N
Sabrata Tiro
Oea
Cidades fenícias Lepsis Cirene
0 303
Principais colônias fenícias
km

Das cavernas às primeiras civilizações 61


A partir do século IX a.C., a Fenícia entrou em decadência, sofrendo invasões de vários povos. Primei-
ro, foram os assírios. Entre os séculos VII e IV a.C., babilônicos, persas e gregos dominaram sucessivamente
a região. Em 64 a.C., Roma incorporou as cidades fenícias aos seus domínios, transformando-as em parte
da província da Síria. A civilização fenícia chegava ao fim, mas sua herança se perpetuaria pelos séculos
graças, sobretudo, a uma das maiores invenções da humanidade: o alfabeto.

Cartago, rival de Roma


Fundada por volta do século VIII a.C., Cartago transformou-se, ao longo dos séculos seguintes, em uma das principais potências
comerciais e militares do Mediterrâneo. No final do século V a.C., já controlava uma área que se estendia da costa norte da África até o
sul da península Ibérica. Por essa época, era considerada por gregos e romanos a cidade mais rica do mundo mediterrâneo.
Em seu período de esplendor, Cartago contava com uma população de 400 mil habitantes. Uma muralha de 40 kilometros cer-
cava a cidade, protegendo-a de invasores. Nos seus pontos mais estratégicos, a muralha chegava a ter 12 metros de altura e 9 metros
de espessura.
A cidade reunia edifícios de até seis andares e uma grande quantidade de templos. Seus cultos religiosos incluíam sacrifícios de
crianças do sexo masculino em homenagem aos deuses fenícios Baal-Hamon e Tanit.
Cartago contava também com um so-
fisticado complexo portuário. Construído em

WALTER BIBIKOW/AGE FOTOSTOCK/GRUPO KEYSTONE


forma circular, o porto recebia os navios mer-
cantes em seu lado externo. Já sua parte interna
era destinada ao abrigo da frota militar. Além
de ter capacidade para guardar cerca de 220
navios de guerra – uma das maiores frotas da
época –, o porto contava ainda com uma torre
de controle que, do alto, assegurava uma ampla
visão do Mediterrâneo. Nenhum navio estran-
geiro podia seguir com suas mercadorias para
oeste de Cartago. Embarcações que ameaças-
sem furar o bloqueio eram afundadas. Os na-
vios estrangeiros viam-se, portanto, obrigados
a atracar em Cartago e transferir suas merca-
dorias para as embarcações cartaginenses, que
as revendiam nos portos do Mediterrâneo
ocidental.
Além da frota naval, Cartago contava
com um exército poderoso. Até o século V
a.C., a base desse exército eram os próprios
cartaginenses. A partir de então, suas tropas
passaram a ser formadas basicamente por sol-
dados mercenários recrutados entre as popu-
lações fenícias do norte da África e europeus
oriundos das atuais regiões da Espanha, Itália,
Grécia e França, entre outros lugares.
Apesar de seu poderio, Cartago foi com-
pletamente destruída no século II a.C. após
travar três guerras contra o exército romano.
Com a vitória, Roma consolidou-se como a
principal força econômica e militar do Medi-
terrâneo.
Fonte: WARMINGTON, B.H. O período cartaginês.
In: História geral da África. São Paulo: Ática/Unesco, Ruínas do porto de Cartago, em Tunis, atual Tunísia. Fundada pelos fenícios no norte da África,
1983. p. 449-452. v. II. Cartago seria mais tarde arrasada pelos romanos nas Guerras Púnicas. Foto de 2014.

62 Das cavernas às primeiras civilizações


O ALFABETO
Por dependerem muito do comércio, os fenícios tinham necessidade de controlar por escrito
as transações mercantis. Entretanto, as principais escritas empregadas na época – a hieroglífica e a
cuneiforme – eram acessíveis apenas aos escribas. Para os mercadores fenícios era necessária uma
escrita ágil e de fácil assimilação.
Assim, por volta de 1500 a.C., começou a tomar forma na cidade fenícia de Ugarit um sistema de
escrita mais simples e prático. Em vez das centenas de caracteres pictográficos, esse sistema utilizava
apenas 29 caracteres cuneiformes; a cada um deles era atribuído um valor fonético, ou seja, cada sinal
representava um som específico.

GLOSSÁRIO
Mais tarde, os fenícios reduziram esse alfabeto para 22 símbolos correspondentes às consoantes; Fonemas:
como as vogais não eram escritas, cabia ao leitor completar as palavras de acordo com seu sentido. são sons vocálicos e consonantais
Assim, o nome da cidade de Ugarit era grafado simplesmente com as letras g, r e t. Posteriormente, que estabelecem distinção de sig-
para tornar a escrita ainda mais fácil, os fenícios deixaram de lado as barras de argila e passaram a nificado, mas que não têm significa-
ção própria. As palavras pula e lupa
registrar suas anotações em rolos de papiro. Graças a essas mudanças, saber ler e escrever deixou de apresentam os mesmos fonemas,
ser privilégio de um pequeno círculo, tornando-se uma habilidade ao alcance de um número cada agrupados de modo diferente. Não
vez maior de pessoas. se deve confundir fonema com letra
Além disso, o alfabeto fenício podia ser adaptado a qualquer idioma, já que seus caracteres (o fonema /s /, por exemplo, pode ser
representado pelas letras s, como em
representavam fonemas. No decorrer do século IX a.C., os gregos acrescentaram-lhe vogais. Com sapo; ss, em passo; ç, em paçoca; ou x,
as mudanças introduzidas mais tarde pelos romanos, esse alfabeto greco-fenício daria origem ao em próximo).
alfabeto latino, que sobrevive até hoje no mundo ocidental.

MUSEU DO LOUVRE PARIS FRANÇA/THE BRIDGEMAN ART LIBRAY/GRUPO KEYSTONE

HISTÓRIA

Inscrição em alfabeto fenício encontrada em um sarcófago. Ela conta como o morto, Eshmunazar, e sua mãe, Amashtarte, construíram templos em homenagem aos
deuses da cidade de Sídon, na Fenícia, em data incerta entre 3000 e 1200 a.C. A inscrição, feita em pedra, encontra-se hoje no Museu do Louvre, em Paris, França.

Das cavernas às primeiras civilizações 63


PARA CONSTRUIR

1 (FGV-SP) Das alternativas abaixo, a que melhor caracteriza a sociedade fenícia é: c


a) a existência de um Estado centralizado e o monoteísmo. d) as cidades-Estado e o monoteísmo.
b) o monoteísmo e a agricultura. e) a agricultura e a forma de Estado centralizado.
c) o comércio e o politeísmo.

2 Com apenas 10 400 km2, pouco maior que o dobro do Distrito Federal, o Líbano tem seu contorno atual devido a uma
decisão da França. Depois da Primeira Guerra Mundial, o país europeu tomou posse da Grande Síria, que pertencia ao Império
Turco-Otomano. Em 1920, Paris dividiu-a em dois: de um lado, Beirute, Sidon, Trípoli e o Monte Líbano; do outro, o que passou
a ser chamado de Síria.
Seus menos de 4 milhões de habitantes se dividem em um verdadeiro mosaico. São cristãos maronitas, ortodoxos gre-
gos e armênios, muçulmanos xiitas, sunitas e drusos – além de palestinos refugiados. Essa tensa divisão provocou duas
guerras civis só no século 20.
SOMMA, Isabelle. Líbano: que país é este? In: Aventuras na História. São Paulo: Abril.
Disponível em: <http://historia.abril.com.br/politica/libano-pais-este-434974.shtml>. Acesso em: 20 out. 2009.
Com base na leitura do capítulo, quais são as origens da ocupação humana do território ocupado pelo Líbano atualmente?
Por volta de 3000 a.C., os chamados cananeus, povos de origem semita, estabeleceram-se na região. Eles construíram seus aldeamentos às
margens do Mediterrâneo e assim deram origem a diversas cidades portuárias: Biblos, Ugarit e Tiro.

3 (Osec-SP – Adaptada) Os fenícios dedicavam-se primordialmente ao comércio marítimo porque: c


a) era grande seu excedente agrícola.
b) sua organização militar lhes garantia o domínio dos mares.
c) seu grande desenvolvimento náutico favorecia o desenvolvimento de suas atividades comerciais.
d) sua organização política era fortemente centralizada.
e) sua atividade militar lhes proporcionava numerosos escravos para atuar nas galeras como remadores.

4 A imagem a seguir é uma obra feita em bronze que representa a cidade fenícia de Tiro, destacando inúmeros aspectos dessa so-
ciedade. Observe atentamente a imagem e, em seguida, descreva que elementos da sociedade fenícia podem ser conhecidos a
partir da análise desse documento. Justifique sua resposta.

DE AGOSTINI PICTURE LIBRARY/G. DAGLI ORTI/


THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE/

Professor, a imagem mostra a cidade-Estado de Tiro, seu rei e sua rainha e uma série de embarcações partindo com muitas mercadorias.
A partir da observação da imagem, os alunos podem levantar algumas hipóteses sobre a organização dos fenícios. As embarcações e o
transporte de mercadorias ocupam grande parte da imagem, tanto é que os reis aparecem representados em uma posição de observador
dessas embarcações. A partir disso, é possível destacar o papel do comércio como principal atividade econômica entre os fenícios.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

64 Das cavernas às primeiras civilizações


Veja, no Guia do Professor, as respostas da
“Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

PARAPARA PRATICAR
PRATICAR PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR

1 (UEL-PR) 1 (UFRGS-RS) Em relação aos povos da Antiguidade, é correto


[...] essencialmente mercadores, exportavam pescado, afirmar que:
vinhos, ouro e prata, armas, praticavam a pirataria, e de- a) os assírios foram submetidos por Nabucodonosor, originan-
senvolviam um intenso comércio de escravos no Mediter- do o episódio conhecido como o Cativeiro da Babilônia.
râneo [...]. b) os fenícios foram os criadores do alfabeto, posteriormente
O texto refere-se a características que identificam, na Antigui- aperfeiçoado pelos gregos e latinos.
dade Oriental, os: c) os hebreus criaram um quadro religioso caracterizado
a) fenícios. c) caldeus. e) persas. pelo politeísmo e a mumificação.
b) hebreus. d) egípcios. d) os egípcios estabeleceram, em 300 a.C., o importante Có-
digo de Hamurabi, um dos primeiros códigos jurídicos
2 (UFPI) A respeito da sociedade fenícia podemos afirmar corre- escritos.
tamente que: e) os persas, após derrotarem as tropas de Alexandre, conse-
a) a Fenícia desconhecia a centralização do poder, pois era guiram anexar o território grego ao seu império.
formada por cidades-Estado que tinham ampla autono-
mia política, econômica, religiosa e administrativa. 2 A imagem a seguir representa um barco fenício. Trata-se de
b) a independência política das cidades-Estado fenícias foi pos- uma embarcação denominada “birreme”, pois tinha duas filei-
sível, durante séculos, pelas alianças estabelecidas com os ras de remos. Observe e responda ao que se pede.
romanos, que, por sua vez, faziam frente à expansão persa.
c) os extensos vales situados entre as montanhas e o mediter-
râneo possibilitaram o grande desenvolvimento da agricul-
tura e do pastoreio e, consequentemente, do comércio.
d) de todas as criações fenícias, a mais importante foi a cara-
SCIENCE SOCIETY PICTURE LIBRARY / GETTY

vela, posteriormente aperfeiçoada pelos gregos.


e) a grande e original contribuição dos fenícios para a histó-
ria da civilização foi a introdução das vogais no alfabeto
criado pelos gregos e romanos, o que veio tornar a comu-
nicação mais fácil e rápida.

3 (UFPR) Dentre os povos da Antiguidade Oriental, um se des-


tacou como de exímios navegadores e excelentes comer-
ciantes. Eram os fenícios, cuja principal contribuição legada
às civilizações posteriores foi o(a): a) Os fenícios eram exímios marinheiros e dominaram por
a) alfabeto fonético. muito tempo o comércio no Mediterrâneo. Que aspectos
b) organização estatal centralizada. da figura sugerem que esse navio era capaz de atingir uma
c) formação de um exército e de uma marinha de guerra velocidade alta para um tipo de embarcação que contava
profissionais. com a força do vento e dos braços dos remadores?
d) religião monoteísta. b) O que nos mostra a imagem: uma embarcação com fina-
e) organização política democrática. lidades guerreiras ou comerciais? Justifique sua resposta.

ANOTAÇÕES
HISTÓRIA

Das cavernas às primeiras civilizações 65


CAPÍTULO

7 Os persas

Objetivos: O urânio é um metal encontrado na natureza em diversos minerais. Quando enriquecido, pro-
duz energia nuclear que pode servir tanto para gerar energia elétrica como para a fabricação da
c Situar, identificar e
bomba atômica. Apenas oito nações no mundo dominam a produção da bomba atômica: Estados
caracterizar a história
Unidos, Rússia, Inglaterra, França, China, Índia, Paquistão e Israel.
dos persas.
Em 2006, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que seu país era capaz
c Identificar os fatores que de enriquecer urânio. Com a alegação de que o governo iraniano pretendia fabricar a bomba
explicam como o Império atômica, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que
Persa administrou a essas experiências fossem interrompidas. O governo do Irã, contudo, não acatou a exigência,
diversidade de povos argumentando que seu propósito era utilizar a energia nuclear apenas para fins pacíficos. O
conquistados. impasse continua.
No passado, a região onde hoje se localiza o Irã já foi sede de uma grande potência: o Império Persa,
c Reconhecer aspectos
que chegou a ocupar uma área de 8 milhões de kilometros quadrados – quase o tamanho do Brasil.
religiosos e culturais da
sociedade persa.

JACK MALIPAN TRAVEL PHOTOGRAPHY/ALAMY/GLOW IMAGES

Mulher caminha em rua de Teerã,


capital do Irã. Foto de 2009.

66 Das cavernas às primeiras civilizações


ORIGENS DA PÉRSIA
As origens da antiga Pérsia remontam a 2000 a.C., quando tribos nômades originárias da Ásia
central e da Rússia atual instalaram-se no planalto iraniano. Entre essas tribos estavam os medos e
os persas.
Os medos se estabeleceram no oeste e no noroeste do planalto, nas proximidades da atual
cidade de Teerã, capital do Irã. Já as tribos persas se fixaram no sudoeste do planalto.
Por volta do século VII a.C., os medos foram unificados por Déjoces, que se tornou rei. Coube
a seu neto Ciaxares a tarefa de consolidar o Império Medo. Graças a um exército composto de
soldados disciplinados desde a infância, Ciaxares dominou os persas e outros povos, que passaram
a lhe pagar tributos.

A unificação de medos e persas


Com a morte de Ciaxares, o trono dos medos passou a ser ocupado por seu filho Astíages. Este,
por sua vez, promoveu o casamento de uma de suas filhas com o principal líder persa. Da união
nasceu Kurush (Ciro, em grego). Em 559 a.C., Ciro assumiu o lugar de seu pai e unificou as várias
tribos persas.
Temeroso de perder o poder, em 550 a.C. Astíages lançou seu exército contra Ciro na região
conhecida como Pasárgada, mas foi derrotado. Com a vitória, Ciro incorporou o reino dos medos ao
território persa, dando início à dinastia Aquemênida – nome do clã de seu pai.
CORBIS/STOCK PHOTOS

HISTÓRIA

Gigantescos touros alados de pedra com


cabeças humanas guardam a Porta de
Xerxes, em Persépolis, antiga capital da
Pérsia, no atual Irã. Entre 550 e 331 a.C.,
Persépolis foi residência dos reis da dinastia
Aquemênida, fundada por Ciro, o Grande.

Das cavernas às primeiras civilizações 67


LH VIVO
A fiandeira persa
Retratar mulheres no antigo mundo do Oriente Médio não era algo muito comum. Com exceção das imagens que representavam
deusas, as mulheres – quando apareciam – estavam em segundo plano, geralmente sobrepujadas por uma figura masculina. Por isso,
o relevo aqui apresentado – uma fiandeira em seu ambiente doméstico – é considerado bastante raro. Esculpida em um pedaço de
rocha sedimentar, a peça foi encontrada em Susa, no atual Irã, e é datada do século VIII ou VII a.C. Acredita-se que represente uma
deusa ou uma cortesã do palácio de Susa.

A fiandeira gira o fuso Pessoas comuns


em torno do qual está costumavam
enrolado o fio. comer no chão.

As ranhuras paralelas
sugerem que o leque
é de vime.

MUSEU DO LOUVRE, PARIS/RMN/REUNIÃO DE MUSEUS NACIONAIS


As duas figuras
usam braceletes.

Os pés dos móveis têm


Esta figura representa As duas figuras entalhes no formato de
talvez uma criança ou usam braceletes. garras de leão. Apenas os reis
alguém hierarquicamente tinham móveis com tantos
inferior à fiandeira. ornamentos.

68 Das cavernas às primeiras civilizações


A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO
Grande estrategista militar, Ciro am-
pliou o território persa após a submissão O Império Persa
dos medos e transformou-o em um gran- EUROPA

Ri
Da

o
núbio
de império. Por causa dessas conquistas, Mar ÁSIA
MACEDÔNIA de Aral
Ciro ficou conhecido como “o Grande”. TRÁCIA
Mar Negro

Após a morte de Ciro e algumas Mar


Cáspio Ri
disputas internas, um líder chamado Da- GRÉCIA LÍDIA
o
Am
uD
a ri
rio assumiu o poder em 522 a.C. Além Sardes ÁSIA a

MENOR
de recuperar domínios perdidos, Dario Creta

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expandiu o Império Persa, no qual pas-

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Chipre Ri

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Mar Mediterrâneo Eu

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saram a viver cerca de 10 milhões de pes- Tiro
fra
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Damasco

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soas – de idiomas, costumes e religiões Jerusalém PLANALTO
Susa IRANIANO
diferentes. Mênfis
Babilônia
Persépolis
A existência do Império Persa fez com ÁFRICA EGITO
PÉRSIA
ÍNDIA

FONTE: Grand atlas historique. Paris: Larousse, 2006.


que, pela primeira vez na História, povos PENÍNSULA ARÁBICA

Go
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de origens, histórias e culturas diferentes Pé

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o cer

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convivessem no mesmo território. Nas d e Câ n
Trópico

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campanhas militares, por exemplo, cavalei-
N

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o

ros persas lutavam ao lado de grupos de


Ri

o
hindus, de árabes cavalgando camelos e de
OCEANO
marinheiros fenícios e gregos. ÍNDICO
Para controlar toda essa população,
Dario estabeleceu um sistema unificado N Núcleo inicial da Pérsia (2000 a.C.)
de impostos, um código de leis, um sis- Extensão máxima do Império Persa (500 a.C.)
tema monetário único e uma excelente 0 386
Estrada Real
km
rede de estradas e correios que interliga-
vam as várias regiões do império.
Mas Dario também conheceu derrotas, principalmente a partir de 514 a.C., época em que re-
solveu direcionar suas conquistas para a Europa. Nessa empreitada, os persas foram vencidos pelas
cidades-Estado gregas nas Guerras Médicas, ou Greco-Pérsicas. Com a derrota persa, as cidades
gregas tornaram-se a principal força do Mediterrâneo oriental.
Em 331 a.C., o rei da Macedônia, Alexandre, o Grande, que já dominava a Grécia, derrotou Dario III
e conquistou o Império Persa, pondo fim à dinastia Aquemênida.
Em 642, a Pérsia foi conquistada pelos árabes e quase toda a sua população se converteu ao
islamismo. No século XI, a região foi invadida pelos turcos e, no século XIII, pelos mongóis. Posterior-
mente, voltou a ser governada por dinastias de origem persa. Em 1935, o país passou a se chamar Irã.

A religiosidade dos persas


Os persas deram uma grande contribuição aos diversos povos e religiões posteriores a
eles. As ideias relacionadas ao juízo final, ao paraíso e à oposição entre o bem e o mal encon-
tradas no cristianismo, por exemplo, têm como origem o zoroastrismo, a religião persa. Os
fundamentos dessa doutrina estão registrados no Zend-Avesta, obra escrita por Zoroastro
(628-551 a.C.), também conhecido como Zaratustra.
Oficialmente, apenas o grande deus Ahura-Mazdâ – simbolizado pela luz e pela pureza
HISTÓRIA

do fogo – era adorado. A população, porém, cultuava divindades que personificavam as


forças do bem em permanente luta contra as trevas e os demônios. Acreditava que quem
combatesse as forças do mal alcançaria a felicidade e a vida eterna.
Fontes: GOMBRICH, Ernest H. Breve história do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 54; AYMARD, A.;
AUBOYER J. O Oriente e a Grécia. In: CROUZET, Maurice (Org.). História geral das civilizações. São Paulo: Difel,
1972. p. 208-210. t. 1, v. 1; GUIRAND, F. Mitología general. Barcelona: Labor, 1965. p. 427-449.

Das cavernas às primeiras civilizações 69


ENQUANTO ISSO...

THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/GRUPO KEYSTONE


Os etruscos na península Itálica
Os medos, como vimos, foram unificados no século VII a.C.
por um líder guerreiro chamado Déjoces. Enquanto isso acon-
tecia no planalto iraniano, na península Itálica tinha início uma
fase de grande esplendor para a civilização etrusca: organizados
em cidades-Estado, por essa época os etruscos se lançaram à
conquista de novos territórios na península.
Além de serem agricultores, eles produziam objetos de bronze,
ferro, ouro e prata e faziam peças de marfim, que comercializavam
com outros povos da região. Muitos desses produtos eram vendi- Exemplar da arte funerária da civilização etrusca, o Túmulo dos
dos ao longo do Mediterrâneo, sobretudo a mercadores gregos e Leopardos, construído no século V a.C. em Tarquinia, atual Itália, revela a
fenícios, com os quais os etruscos mantinham intensas relações co- profunda influência grega sobre a arte dessa civilização. Por acreditarem
na vida após a morte, os etruscos construíam túmulos suntuosos para
merciais. Eles tiveram papel preponderante na formação de Roma. seus mortos, com salas, corredores e pinturas nas paredes.

PARA CONSTRUIR

1 (Fatec-SP) Dario I, célebre imperador da Pérsia, tem seu nome capítulos anteriores, identifique pelo menos três povos já es-
ligado à: e tudados que sofreram a dominação do Império Persa.
a) Conquista do Reino da Média e à fundação do Império Entre os povos da Antiguidade já estudados, os persas dominaram
Persa. os babilônicos (em 539 a.C.), os egípcios (em 525 a.C.) e os
b) Elaboração da religião dualista persa, cujos fundamentos
fenícios (no século VI a.C.). Além disso, o Império Persa atingiu
se encontram do livro sagrado Zend-Avesta.
domínios territoriais na Índia, às margens do rio Indo. Vários
c) Vitória sobre os gregos nas Guerras Médicas.
d) Libertação dos hebreus do Cativeiro da Babilônia. outros povos foram dominados pelo Império Persa. O mapa
e) Organização político-administrativa do Império. permite dimensionar a extensão do império em seu apogeu.

2 (Ufam) Os persas foram, na Antiguidade, um dos povos mais 4 (PUC-PR) Os persas eram um povo indo-europeu que se insta-
importantes a ocupar a região da Mesopotâmia. Sobre sua lou no sul do Irã e que, a partir do século VI a.C., iniciou a con-
história e cultura é possível afirmar que: b quista de um dos maiores impérios da Antiguidade. A partir
a) A vitória de Dario I sobre os Gregos marcou o início da dessa premissa, leia as assertivas que se seguem:
ascensão Persa no Mediterrâneo, favorecendo a expansão I. Os reis persas desenvolveram um sistema eficiente de ad-
da escrita cuneiforme e dos cultos monoteístas. ministração, dividido em vinte províncias (satrapias), cada
b) Desenvolveram uma religião própria, o Zoroastrismo, e uma administrada por um sátrapa.
começaram sua expansão territorial após as conquistas II. Os reis persas respeitavam as tradições locais de suas pro-
lideradas por Ciro, o Grande. víncias e, em certa medida, lhes davam uma margem de
c) Famosos por suas obras arquitetônicas, os Persas construí- autonomia, desde que os súditos pagassem tributos.
ram na Babilônia as maiores pirâmides da Mesopotâmia, III. Como elementos unificadores da administração persa
tornando aquela cidade o centro de seu Império. podemos ressaltar a rede de estradas, um sistema postal
d) O declínio do Império Persa foi marcado pela derrota de eficiente e um sistema comum de pesos e medidas.
Xerxes para os Assírios na batalha de Susa. IV. O aparecimento de uma religião monoteísta representou
e) Adotando uma religião que opunha, de forma mani- o grande avanço dos persas.
queísta, o bem e o mal, os Persas dominaram o comércio Assinale a alternativa correta: d
mediterrâneo após conquistar o Egito, a Ásia Menor e a a) Apenas as assertivas I e II são verdadeiras.
Macedônia, sob a liderança de Nabucodonosor. b) Apenas a assertiva I é verdadeira.
c) Apenas a assertiva II é falsa.
3 Observe no mapa da página 69 a legenda sobre a extensão d) Apenas as assertivas I, II e III são verdadeiras.
máxima do Império Persa. Comparando com os mapas dos e) Todas as assertivas são verdadeiras

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 a 3 Para aprimorar: 1 e 2

70 Das cavernas às primeiras civilizações


Veja, no Guia do Professor, as respostas da
“Tarefa para casa”. TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

PARAPARA PRATICAR
PRATICAR 3 (UFRGS-RS) O soberano dividiu o seu império em províncias,
chamadas satrapias, sendo a terra considerada propriedade
real e trabalhada pelas comunidades.
1 Em seu caderno, estabeleça uma linha do tempo com os
principais acontecimentos políticos entre o século VII a.C., Essas características identificam o:
quando os medos dominaram os persas, e 331 a.C., época a) império dos persas durante o reinado de Dario.
em que o rei da Macedônia, Alexandre, o Grande, derrotou b) Império Babilônico durante o governo de Hamurabi.
Dario III. c) antigo Império Egípcio durante a dinastia de Quéops.
d) reino de Israel sob o comando de Davi.
2 O texto que você vai ler a seguir narra as conquistas do rei e) estado espartano durante a vigência das leis de Dracon.
persa Ciro, o Grande (c. 590-530 a.C.). Ele faz parte do livro Ci-
ropédia, escrito pelo grego Xenofonte (c. 430-355 a.C.), um sol-
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
dado e discípulo do filósofo grego Sócrates (c. 470-399 a.C.).
Após a leitura, responda às questões propostas.
1 (UFRGS-RS) Relacione a coluna II, que apresenta afirmações re-
Sabendo que na Ásia havia nações autônomas, Ciro lativas a povos da Antiguidade, com a coluna I, que identifica
pôs-se em marcha com um pequeno exército de persas, esses povos.
dominou os medos e hircanos, que espontaneamente re-
ceberam o jugo, venceu a Síria, a Assíria, a Arábia, a Capa-
Coluna I Coluna II
dócia, ambas as Frígias, a Lídia, a Cária, a Fenícia, a Babi-
lônia e outras regiões. ( ) Os sinais de sua escrita sagrada são conhecidos como
(1) Fenícios
Todas essas nações falavam línguas diferentes entre si, hieróglifos.
e diferentes da do conquistador; e, contudo penetrou Ciro ( ) Buscavam e levavam mercadorias por toda a bacia do
tanto além com suas armas, e com o terror de seu nome, (2) Hebreus
Mediterrâneo.
que a todos encheu de medo, nenhuma ousou sublevar-se.
E de tal maneira soube captar o amor dos povos, que todos (3) Babilônios ( ) Seu império era controlado pelo sistema de satrapias.
queriam viver sujeitos às suas leis. Finalmente, fez depen- (4) Egípcios ( ) Os invasores de seu território provocaram a diáspora.
dentes de seu império tão grande número de reinos, que é
( ) Hamurabi unificou o império, desde a Assíria até a
dificultoso percorrê-los, partindo da capital para qualquer (5) Persas
Caldeia.
dos pontos cardeais, para leste ou para oeste, para o norte
ou para o sul. A sequência numérica correta, de cima para baixo, na colu-
XENOFONTE. Ciropédia, a educação de Ciro.
São Paulo: Edições Cultura, [s.d.]. p. 24. na II, é:
a) 1 – 2 – 5 – 4 – 3. d) 4 – 2 – 5 – 1 – 3.
a) Segundo o relato de Xenofonte, quais foram as principais b) 1 – 4 – 3 – 2 – 5. e) 5 – 1 – 3 – 4 – 2.
ações atribuídas a Ciro? c) 4 – 1 – 5 – 2 – 3.
b) Ainda segundo o texto, quais foram as reações mais co-
muns dos povos submetidos ao domínio de Ciro? 2 A base da religião persa era o zoroastrismo, doutrina fundada
c) Por que podemos afirmar que o relato de Xenofonte é ex- por Zoroastro (628-551 a.C.) Quais eram as principais ideias
tremamente parcial e constrói uma imagem positiva de defendidas por essa doutrina filosófica? Qual foi sua influên-
Ciro? Cite trechos do relato que justifiquem sua resposta. cia sobre o cristianismo?

ANOTAÇÕES
HISTÓRIA

Das cavernas às primeiras civilizações 71


CAPÍTULO

8 Os hebreus

Objetivos: Criado pela ONU em 1948, o Estado de Israel ocupa cerca de 20 mil km2, um território equivalente
ao de Sergipe, o menor estado brasileiro. Apesar de sua pequena dimensão, Israel é considerado a principal
c Conceituar o
potência do Oriente Médio. Em 2008, cerca de 75% de seus 7,3 milhões de habitantes professava o judaís-
monoteísmo e
mo, religião monoteísta nascida por volta de 1200 a.C. e que auxiliou a manter as tradições e a unidade dos
identificar sua
hebreus durante a dispersão pelo mundo a que foram submetidos por quase 2 mil anos. Neste capítulo,
ascensão.
estudaremos a história dos hebreus, dos quais os judeus são descendentes.
c Identificar e
caracterizar as etapas
O PAPEL DA RELIGIÃO
da história do povo
hebreu.
Segundo alguns pensadores, as religiões seriam uma tentativa de encontrar respostas para certas
indagações que a razão humana não conseguia explicar. Assim, os deuses teriam sido criados pela
c Identificar a Bíblia imaginação humana para explicar fenômenos como o nascer do Sol, o aparecimento de uma estrela
como uma das fontes cadente, a queda de um raio, as doenças, o nascimento e a morte, entre outros.
de estudo da história Entre essas divindades, uma teria se destacado entre as outras e passado a ser considerada uma
do povo hebreu. espécie de rei dos deuses, criador de todas as coisas. Esse processo teria levado a humanidade em direção
ao monoteísmo. No Egito, por exemplo, no século XIV a.C., o faraó Amenófis IV tentou implantar o culto
c Caracterizar o processo
a um único deus, Aton, mas fracassou. Após sua morte, os egípcios retornaram ao politeísmo.
de formação da
identidade do povo
Seja como for, a crença em um Deus único e universal só se concretizou de fato entre os hebreus,
hebreu.
povo nômade que, há milhares de anos, disputava com outras tribos do deserto poços de água e
terras de pastagem no Oriente Médio.

GALERIA UFFIZI/FLORENÇA ITÁLIA


GLOSSÁRIO

Monoteísmo:
doutrina ou sistema religioso que ad-
mite a crença em apenas um único
deus. As três grandes religiões mono-
teístas são o cristianismo, o islamismo
e o judaísmo.

Politeísmo:
doutrina ou sistema religioso que ad-
mite a adoração de vários deuses. Es-
ses deuses são, em geral, relacionados
a fenômenos da natureza, a elemen-
tos do Universo e a necessidades da
vida cotidiana de uma sociedade. Os
egípcios e os gregos são exemplos de
civilizações politeístas. Tinham deuses
do Sol, do Amor, da Guerra, entre ou-
tros. É também politeísta o hinduísmo
– nome dado a uma das religiões exis- O sacrifício de Isaac (1601-1602), tela de Caravaggio. A história bíblica diz que Deus ordena a Abraão,
tentes na Índia. com o intuito de provar sua fé, que sacrifique o filho Isaac. No último instante, um anjo é enviado
para impedir o sacrifício.

72 Das cavernas às primeiras civilizações


A ORIGEM DOS HEBREUS
Os hebreus são um grupo que tem sua origem linguística na Mesopotâmia. O hebraico falado
por eles era uma língua semita, assim como as línguas de outros povos mesopotâmicos. Sua história
é narrada sem precisão científica no Velho Testamento, um dos conjuntos de livros que compõem
a Bíblia.
O primeiro registro não bíblico de sua existência foi encontrado no Egito e é datado de cerca
de 1220 a.C. Trata-se de um relato sobre a relação de dominação exercida sobre eles pelo faraó
Mineptah.
Documentos históricos e descobertas arqueológicas comprovam a presença dos hebreus na
Palestina somente a partir de 1230 a.C. Essa data contraria as informações da Bíblia, segundo a qual
eles já estariam estabelecidos em solo palestino dois séculos antes (sobre essa divergência, veja o
boxe “A Bíblia e a historiografia”).

A Bíblia e a historiografia
Uma das principais fontes de estudo do povo hebreu e do monoteísmo religioso no
mundo é o Velho Testamento, um dos livros da Bíblia. Segundo a primeira parte desse texto,
os hebreus descendem de Abraão, patriarca que vivia na cidade de Ur, na Mesopotâmia – e
que teria recebido uma ordem de Deus para conduzir seu povo até a Terra Prometida, tam-
bém chamada de Canaã, ou Palestina, localizada onde hoje se encontra o Estado de Israel.
Mais tarde, no decorrer do século XX a.C., um longo período de seca e fome teria obri-
gado os hebreus a deixar Canaã para se fixarem no Egito, onde acabariam escravizados. Ainda
segundo o relato bíblico, no século XV a.C. eles teriam fugido de lá guiados por Moisés, pro-
feta escolhido por Deus para conduzir o povo hebreu de volta à Terra Prometida. Depois de
quarenta anos de travessia no deserto, os hebreus teriam chegado à Palestina. VEJA O FILME
Apesar das divergências de datas entre a historiografia e o Velho Testamento, a Bíblia Os dez mandamentos, de Cecil B.
pode ser usada como referência nos estudos de História. Juntamente com outras fontes, ela DeMille. Estados Unidos, 1956.
nos permite reconstruir a história dos hebreus e recuperar costumes de civilizações antigas, (220 min).
padrões de comportamento, mitos das regiões, etc. A história de Moisés, que, criado
Fontes: PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2001. p. 108-109; como irmão do faraó, é destina-
MAN, John. A história do alfabeto. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. p. 116-129; do a liderar os hebreus contra a
JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: Imago, 1989. p. 17-25.
dominação egípcia.

CONSTRUÇÃO DO SENTIMENTO DE IDENTIDADE


Quando os hebreus se estabeleceram na Palestina, sua organização social baseava-se em um
sistema comunitário, sem forma definida de governo. Os líderes surgiam apenas em momentos de
maior necessidade, como durante períodos de guerras.
Na falta de uma centralização política e administrativa, cabia a um conselho de anciães, liderado
por um juiz, orientar e aconselhar a população em questões específicas. Os juízes eram chefes mili-
tares com autoridade religiosa. Na tentativa de unificar as tribos hebraicas, eles passaram a difundir
entre a população a ideia de que os hebreus eram um povo único, escolhido por Deus em meio a HISTÓRIA
tantos outros.
Para despertar esse sentimento de identidade, os juízes afirmavam que os hebreus eram descen-
dentes diretos do patriarca Abraão – aquele que, segundo a Bíblia, teria conduzido os hebreus de Ur,
na Mesopotâmia, à Terra Prometida, na Palestina. Eles também exortavam a população a abandonar
seus antigos hábitos politeístas.
Tudo isso contribuiu para o nascimento do judaísmo, religião monoteísta que se tornaria a base
de outras crenças monoteístas surgidas mais tarde, como o cristianismo e o islamismo

Das cavernas às primeiras civilizações 73


PARA CONSTRUIR

1 (UFMS) d) As práticas religiosas caracterizadas pela crença na exis-


Ao contrário dos gregos, os hebreus não especularam tência de um único Deus (monoteísmo) e no messianis-
sobre as origens das coisas e o funcionamento da natureza; mo, pois acreditavam na vinda de um messias libertador
sabiam que Deus era o criador de tudo. Para os hebreus a do povo hebreu.
existência de Deus fundamentava-se na convicção religio- e) As inovações tecnológicas desenvolvidas na agricultura,
sa e não na investigação científica; na revelação e não na possibilitando grande crescimento da produtividade agrí-
razão. Foram os gregos e não os hebreus que criaram o cola na região palestina.
pensamento racional [...]. Os hebreus também não espe- 3 A origem dos hebreus descrita pela Bíblia e as pesquisas his-
cularam sobre a natureza de Deus. Sabiam apenas que Ele tóricas e arqueológicas têm aspectos comuns e informações
era bom e que fazia exigências éticas ao seu povo. Diferen- divergentes. Apesar dessas divergências, é possível resgatar a
temente dos deuses do Oriente. Javé não era atraído pela história dos hebreus e do monoteísmo usando a Bíblia como
luxúria ou impelido para o mal, mas era “clemente e mi- documento histórico. Com base nessa informação, leia o
sericordioso” [...]. Em contraste com os deuses pagãos, que trecho da Bíblia abaixo e, em seguida, aponte que caracte-
eram indiferentes aos seres humanos, Javé estava atento às rísticas da sociedade hebrácia podem ser identificadas nele.
necessidades do homem. Ao afirmar que Deus era uno, Justifique sua resposta.
soberano, transcendente e bom, os hebreus realizaram
uma revolução religiosa que os separou para sempre da Ocupação da Cananeia pelos hebreus
visão de mundo dos outros povos do Oriente Próximo. E aconteceu que, depois da morte de Moisés, servo
PERRY, Marvin. Civilização ocidental: uma história concisa. do Senhor, este falou a Josué, filho de Num, ministro de
São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 97.
Moisés, e lhe disse: Meu servo Moisés, morreu; levanta-
Com base no texto acima e nos seus conhecimentos sobre o -te, e passa esse [rio] Jordão, tu e todo o povo contigo,
assunto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s): (02 e 04) entra na terra que eu darei aos filhos de Israel. Todo o
(01) Hebreus e Gregos distinguiam-se no aspecto religioso lugar que a planta do vosso pé pisar, eu te darei, como
unicamente no que dizia respeito ao fato de serem os disse a Moisés. [...] Ninguém vos poderá resistir em to-
gregos politeístas e os hebreus, não. dos os dias da vossa vida; como fui com Moisés, assim
(02) O monoteísmo tornou-se força central na vida dos he- serei contigo; não te deixarei, nem desampararei. E Josué
breus e representou uma cisão com o pensamento míti- ordenou aos príncipes do povo: Percorrei os acampa-
co do Oriente Próximo. mentos, e dizei ao povo: Fazei provisão de mantimentos,
(04) Diferentemente das demais Civilizações Orientais antigas, porque daqui a três dias haveis de atravessar o Jordão, e
os hebreus cultuavam um único Deus, que para eles estava passareis a possuir a terra, que o Senhor vosso Deus vos
preocupado com os homens, considerados suas criaturas. há de dar.
(08) A religião dos hebreus foi organizada com base na razão PINSKY, Jaime. 100 textos de História antiga.
São Paulo: Contexto, 1991. p. 21-22.
e no conhecimento científico.
(16) Ao contrário das religiões das demais Civilizações Orien- No texto, podemos identificar a ideia de povo eleito por Deus, que
tais antigas, os hebreus organizaram uma religião basea- auxiliou na unificação e na construção de identidade dos hebreus.
da na crença da existência de uma hierarquia entre os Além disso, é possível perceber a existência de uma religião
deuses, sendo Javé o mais poderoso. monoteísta que justifica e orienta as ações dos hebreus.

2 (UFPI) Entre as principais características da civilização hebrai- 4 Grande parte das civilizações estudadas até o momento ti-
ca, merecem destaque especial: d veram seu processo de unificação – formação de um único
a) A religião politeísta em que as figuras mitológicas de Estado – amparado pelo uso da força. No caso dos hebreus,
Abraão, Isaac e Jacó formavam uma tríade divina. diferentemente, a centralização ocorreu com o auxílio do dis-
b) A criação de uma federação de cidades autônomas e in- curso religioso. Explique esse processo.
dependentes (cidades-Estado) controladas por uma elite A centralização dos hebreus foi liderada pelos juízes que, além de
mercantil.
serem chefes militares, detinham autoridade religiosa. Na tentativa
c) A criação de um alfabeto (aramaico) que seria incorpora-
do e aperfeiçoado pelos egípcios, tornando-se conhecido de unificar as tribos hebraicas, eles passaram a difundir entre a
como escrita hieroglífica. população a ideia de que os hebreus eram um povo único, escolhido

4. (cont.) por Deus em meio a tantos outros. Para criar esse sentimento de identidade, os
TAREFA PARA CASA: Para praticar: 1 Para aprimorar: 1
juízes afirmavam que os hebreus eram descendentes diretos do patriarca Abraão – aquele
que, segundo a Bíblia, teria conduzido os hebreus de Ur, na Mesopotâmia, à Terra Prometida, na Palestina. Eles também exortavam a população a abandonar
seus antigos hábitos politeístas, o que contribuiu para o nascimento do judaísmo, base da identidade religiosa dos judeus presente nos dias de hoje.
74 Das cavernas às primeiras civilizações
O REINO DE ISRAEL

RUDY MAREEL/SHUTTERSTOCK
Por volta de 1010 a.C., os hebreus unificaram
suas tribos e formaram o reino de Israel, do qual
o primeiro rei foi Saul. Coube a seu sucessor, Davi
(1006-966 a.C.), a tarefa de expulsar da Palestina
um dos povos rivais: os filisteus. Após escolher
Jerusalém – cidade que já existia – para capital
do reino, Davi dividiu Israel em doze províncias
(ou tribos).
Com Salomão (966-926 a.C.), filho de Davi,
o reino de Israel conheceu sua fase de esplen-
dor e de centralização religiosa. É dessa época
a construção do Templo de Jerusalém. Com a
morte de Salomão, o reino entrou em convul-
são e dividiu-se entre o reino de Israel (reunin-
do as dez tribos do norte) e o reino de Judá,
formado pelas duas tribos do sul (veja o mapa
abaixo).
Nos séculos que se seguiram, o território
dos hebreus foi invadido por diferentes povos, Segundo a tradição, o Muro das
como os assírios, os babilônios, os persas, entre Lamentações, em Jerusalém, é a única
parte que restou do Templo de Salomão,
outros. O reino de Israel existiu até 720 a.C.; já o de Judá durou até 586 a.C. Em 135 d.C., os roma- destruído por tropas do rei babilônico
nos expulsaram os hebreus de Jerusalém, que se dispersaram por outras regiões. Essa dispersão, Nabucodonosor em 587 a.C. A cidade de
conhecida como Diáspora, duraria cerca de 2 mil anos. Jerusalém é considerada sagrada por três
Mesmo vivendo separados uns dos outros, sem governo e sem território próprios até 1948, grandes religiões monoteístas: judaísmo,
cristianismo e islamismo.
quando a ONU criou o Estado de Israel, os judeus mantiveram vivo o sentimento de identidade
nacional e religiosa. Esse sentimento de pertencer a uma única nação só foi possível em razão
de sua forte crença religiosa e do fato de acreditarem que a Palestina estava destinada a eles por
vontade divina.

Ur e a Palestina
Mar Negro
Mar

FONTE: World history atlas: mapping the human journey. London: Dorling Kindersley, 2005.
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Das cavernas às primeiras civilizações 75


ENQUANTO ISSO...
Os faraós negros
Na mesma época em que os hebreus eram dominados

STONE
pelos assírios, o Egito também sofria invasões de vários povos.

ICO/TOPFOTO/KEY
Um deles vinha da Núbia, região rica em ouro situada ao sul
da primeira catarata do rio Nilo, onde atualmente se localiza o
Sudão. Em 750 a.C., um rei do povo kush dessa região invadiu

MUSEU BRITÂN
o Egito e derrubou o faraó. Seu filho Pianky tornou-se faraó,
fundando a 25a dinastia do Egito, que durou de 715 a.C. a 664
a.C. Foi a época dos faraós negros, cujo reinado é conhecido
como dinastia etíope, ou kushita.

Três homens negros provenientes da Núbia transportam


nas mãos e nos ombros objetos de luxo de sua região de
origem para o Egito: uma pele de leopardo, toras de ébano,
caudas de girafa, um babuíno, grandes argolas de ouro. A
cena faz parte de um painel encontrado na tumba de um
alto funcionário do faraó chamado Sebnekhotep. Tebas,
Egito, cerca de 1400 a.C.

PARA CONSTRUIR

5 Durante a dominação romana, os hebreus viveram a chamada a) Os hebreus são antepassados de que povo da atualidade?
Diáspora (a dispersão imposta pelos romanos em 135 d.C.), um Os hebreus são antepassados dos atuais judeus ou israelitas, e, ao
longo processo de dispersão para diversas partes do mundo. final do segundo milênio a.C, viviam perto de Ur, na Mesopotâmia.
Como explicar que, quase dois mil anos depois, os judeus se
b) O que foi o êxodo?
reorganizaram no Estado de Israel, fundado em 1948?
Uma das fontes de estudo desse povo é o Velho Testamento,
O fato de os judeus terem mantido sua identidade nacional e
um dos livros da Bíblia. De acordo com a narrativa, o patriarca
religiosa, mesmo permanecendo dispersos pelo mundo até
Abraão recebe de Deus a incumbência de deslocar seu povo para
1948 – ano da criação, pela ONU, do Estado de Israel –, nos Canaã, a Terra Prometida, depois denominada Palestina. Secas e
remete ao processo de unificação das tribos dos hebreus. Como conflitos com outros povos fazem com que os hebreus migrem
estudado no capítulo, foi naquele momento que se incutiu para o Egito por volta de 1800 a.C. Lá eles acabam escravizados,
nos hebreus o sentimento de pertencer a uma nação única, tendo de pagar pesados impostos. O “êxodo”, assim, representou
do judaísmo como religião e da crença de que a Palestina a fuga dos hebreus da terra dos faraós, em retorno a Canaã,
estava a eles destinada por vontade divina. Esse sentimento sob a liderança de Moisés, entre 1300 e 1250 a.C.

permaneceu vivo ao longo dos séculos, independentemente c) Explique a Diáspora.


dos muitos momentos em que o povo judeu se dispersou. A região da Palestina foi dominada por gregos e romanos.
Estes últimos impuseram-se violentamente contra os hebreus,
6 (UFC-CE) Os hebreus, junto aos egípcios, mesopotâmicos,
persas, fenícios e cretenses, formaram as primeiras civiliza- expulsando-os da Palestina, no episódio conhecido como

ções da Antiguidade, na região do Oriente Médio. Sobre a “Diáspora”, ocorrido por volta de 135 d.C. Com a fundação do
civilização hebraica, faça o que se pede. Estado de Israel em 1948, os judeus retornaram à Palestina.

TAREFA PARA CASA: Para praticar: 2 Para aprimorar: 2

76 Das cavernas às primeiras civilizações


Veja, no Guia do Professor, as respostas
da “Tarefa para casa”.
TAREFA PARA CASA
As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos.

e) Os hebreus se organizaram social e economicamente


PARAPARA PRATICAR
PRATICAR
com base na propriedade da terra, o que deu início à
Diáspora.
1 O texto a seguir é uma passagem da Bíblia que se encontra
no livro Deuteronômio, do Velho Testamento. Trata-se de um
discurso de Moisés ao povo hebreu às vésperas do retorno
PARA
PARA APRIMORAR
PRATICAR
a Canaã, região chamada de Terra Prometida. Moisés refere-
-se aos hebreus como “Israel”, nome da unidade das tribos de
mesma origem. 1 (UFSC – Adaptada) Entre as civilizações da antiguidade,
que tiveram o mar Mediterrâneo como cenário do seu
E agora, ó Israel, ouve as leis e os preceitos que hoje
desenvolvimento, destacaram-se os hebreus (Judeus, Is-
vou ensinar-vos. Ponde em prática para que vivais e entreis
raelitas), por terem sido o primeiro povo conhecido que
na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos
afirmou sua fé em um único Deus. As bases da história,
dá. Não ajuntareis nada a tudo o que vos prescrevo, nem
da filosofia, da religião e das leis hebraicas estão contidas
tirareis nada daí, mas guardareis os mandamentos do Se-
nhor vosso Deus, exatamente como vos prescrevi. [...] na Bíblia, cujos relatos, em parte confirmados por acha-
Observai-as, praticai-as, porque isto vos tornará sá- dos arqueológicos, permitem traçar a evolução histórica
bios e inteligentes aos olhos dos povos, que, ouvindo todas e cultural do povo hebreu e identificar suas influências
essas prescrições, dirão: eis uma grande nação, um povo sobre outras civilizações.
sábio e inteligente. Haverá, com efeito, nação tão grande, Assinale (V) se a afirmativa for verdadeira ou (F) se for falsa, no
cujos deuses estejam tão próximos de si como está de nós que se refere à cultura hebraica.
o Senhor, nosso Deus, cada vez que o invocamos? Qual é
( ) Entre os princípios religiosos contidos na Bíblia está o
a grande nação que tenha mandamentos e preceitos tão
politeísmo, isto é, a crença em muitos deuses.
justos como esta Lei que vos apresento hoje?
Bíblia Sagrada. Deuteronômio, 4. 1-8. São Paulo: ( ) O vínculo visível das influências do judaísmo sobre o cris-
Ave Maria, 1980. p. 219. tianismo está na pessoa de Cristo, considerado “O Mes-
a) Segundo o texto, o que Moisés estaria oferecendo ao sias” pelas duas religiões.
povo hebreu? ( ) Os hebreus destacaram-se em diferentes áreas do co-
b) Que argumentos Moisés utiliza para convencer os he- nhecimento humano e nos legaram os livros do Antigo
breus a seguir “as leis e os preceitos”? Testamento (Torá).
c) Com base na leitura do capítulo e nesse trecho da Bíblia,
por que podemos afirmar que os conselhos de Moisés ti- ( ) O cristianismo e o islamismo, religiões que têm hoje mi-
nham finalidades práticas e políticas? lhões de seguidores, receberam influências do judaísmo.
( ) O Pentateuco, o Talmud e o Alcorão representam o con-
2 (UFPE) Entre os povos do Oriente Médio, os hebreus foram
junto dos escritos que reúnem os preceitos do judaísmo.
os que mais influenciaram a cultura da civilização ocidental,
uma vez que o cristianismo é considerado uma continuação 2 (PUC-SP) O cristianismo, na sua origem, está repleto de
das tradições religiosas hebraicas. heranças (em geral modificadas) da religião judaica; mas
A partir do texto anterior, assinale a alternativa INCORRETA: há, também, elementos que não são partilhados por es-
a) Originários da Arábia, os hebreus constituíram dois reinos: sas duas concepções religiosas. Dentre eles, podemos
o de Judá e o de Israel na Palestina. destacar:
b) As guerras geraram a unidade política dos hebreus. Essa
a) a referência ao Antigo Testamento como escritura sa-
unidade se firmou primeiro em torno de juízes e, depois,
HISTÓRIA

em volta dos reis. grada.


c) Os profetas surgiram na Palestina por volta dos séculos VIII b) o conceito de culpa como elemento estruturante da mo-
e VII a.C., quando ocorreu uma onda de protestos dos tra- ral religiosa.
balhadores contra os comerciantes. c) a fé em um deus único.
d) A religião hebraica passou por diversas fases, evoluindo d) o alcance universal do ideal de salvação.
do politeísmo ao monoteísmo difundido pelos profetas. e) a adoção de uma moral sexual que valoriza a monogamia.

Das cavernas às primeiras civilizações 77


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TAO, Wang. Explorando a China. São Paulo: Ática, 2001.
VERCOUTTER, Jean. O Egito antigo. São Paulo: Difel, 1974.

78 Das cavernas às primeiras civilizações


MAIS ENEM
Ciências Humanas e suas Tecnologias
Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Matemática e suas Tecnologias

1 A imagem abaixo mostra uma inscrição rupestre produzida por muda esse cenário para um amontoado de areia, pedras e
paleoindígenas que viveram no que é hoje o território brasilei- arbustos. O estudo, realizado pela Universidade da Pensilvâ-
ro. Ela se encontra na região conhecida como Toca da Extrema. nia, concluiu que o homem moderno surgiu numa região que
Sobre as inscrições rupestres, podemos dizer que: c hoje se situa na fronteira entre Angola e Namíbia, no sudoes-
a) permitem que pesquisadores te do continente africano. Nessa área vivem os 100 mil inte-

ADRIANO GAMBARINI
compreendam aspectos rele- grantes do povo san, ainda hoje formado por caçadores e
vantes do cotidiano das po- coletores. Nenhum povo africano tem uma variedade genéti-
pulações que a produziram, ca tão grande quanto os sans, e foi justamente isso que levou
porém o mesmo não pode ser os pesquisadores a concluir que seus antepassados deram
dito a respeito das técnicas de origem à humanidade. [...] A pesquisa conclui que os ante-
pintura e de expressão artís- passados dos sans se espalharam pela África. Também calcula
tica. Isso ocorre porque não o ponto exato em que um grupo deles – talvez um bando
observamos nenhum cuidado tribal com não mais que 150 integrantes – teria deixado a
técnico na composição da pin- África, há 50 mil anos, cruzando o mar Vermelho em direção
tura, resultando numa imagem
à Ásia – e daí ganhando o mundo. A descoberta reforça a tese,
rudimentar e pobre do ponto
consolidada nas últimas décadas pelas pesquisas genéticas, de
que a humanidade descende de um pequeno grupo de “Evas”
de vista estético.
b) os pesquisadores sabem que tais pinturas eram produzidas
e “Adãos”. [...] O estudo foi festejado como uma peça-chave
rapidamente e não recebiam intervenções posteriores. Isso para a compreensão da origem da humanidade, das migrações
pode ser afirmado por meio da observação das técnicas de que povoaram o planeta e das adaptações do homem ao meio.
BEGUOCI, Leandro. O berço da humanidade. Veja. São Paulo: Abril, v. 2 112,
pintura utilizadas, já que a pintura inteira dispõe das mesmas ano 42, n. 19, 13 maio 2009. p. 111. Adaptado.
e limitadas técnicas de representação pictórica. a) As descobertas realizadas entre o povo sans reforçam as teses
c) podem apresentar diferentes estilos e técnicas de representa- que apontam para uma profunda diferença genética entre
ção bastante particulares. Além disso, numa mesma inscrição,
os seres humanos de diferentes regiões do planeta. Assim, a
podemos encontrar técnicas diversas, já que não era incomum
teoria mais adequada sobre o surgimento dos seres huma-
o acréscimo de novas pinturas posteriormente à produção de
nos é aquela que aponta para a existência de grupos de ho-
uma dessas pinturas rupestres. Por essa razão, tais imagens
minídeos que apareceram em diferentes partes do globo em
apresentam grande interesse para o estudo da arte e das téc-
épocas distintas.
nicas de representação pictográficas dos paleoindígenas.
b) A pesquisa realizada a partir do povo sans, combinada com os
d) a presença de inúmeros elementos pictórios e intrusões pos-
resultados do mapeamento genético do ser humano, aponta
teriores numa mesma inscrição dificultam aos pesquisadores
a compreensão desse registro. Por essa razão, arqueólogos e definitivamente para a inexistência de diferenças raciais entre
historiadores preferem utilizar outros documentos para o es- os seres humanos.
tudo dos hábitos e dos costumes dos paleoindígenas, como c) Os dados obtidos na pesquisa indicam que a região onde vi-
evidências fósseis ou análise de material genético. vem os sans originou um dos berços da humanidade, porém
e) eram frequentes em apenas poucas regiões do Brasil, como esse não foi o único. Em outras regiões do globo encontra-
os sítios arqueológicos do Piauí. Nesse caso, um dos locais mos evidências de hominídeos que deram também origem
com as inscrições mais importantes era o sítio conhecido à espécie humana.
como a Toca da Extrema. d) O estudo do material genético dos primeiros hominídeos
não ajuda na compreensão das origens da humanidade, pois
2 Leia o texto a seguir e escolha a alternativa adequada: b as espécies animais sofreram tantas mutações genéticas ao
O berço da humanidade longo do tempo que isso impossibilitou o completo mapea-
O nascimento da humanidade em jardins verdejantes mento e a comparação com antepassados tão longínquos.
com árvores frutíferas faz parte da mitologia de muitas reli- e) As evidências indicam que os primeiros hominídeos não sur-
giões. [...]. A maior pesquisa já feita sobre a diversidade gené- giram na África, mas na Ásia e apenas posteriormente migra-
tica da África, berço da espécie humana há 200 mil anos, ram para o continente africano.

79
QUADRO DE IDEIAS Direção editorial: Renata Mascarenhas
Coordenação editorial: Tatiany Renó
Edição: Camila De Pieri Fernandes (coord.), Tatiane
Godoy; Colaboração: Eliete Bevilacqua
Coordenação de produção: Fabiana Manna, Daniela
Carvalho
Primeiros hominídeos Gerência de produção editorial: Ricardo de Gan Braga
Revisão: Hélia de Jesus Gonsaga (ger.), Letícia Pieroni
(coord.), Danielle Modesto, Marília Lima, Marina Saraiva,
Tayra Alfonso, Vanessa Lucena
Edição de Arte: Kleber de Messas
Iconografia: Sílvio Kligin (supervisão), Ellen Colombo
Finta; Colaboração: Fábio Matsuura, Fernanda Siwiec,
Conceito de Pré-História Movimento migratório Os paleoindígenas Fernando Vivaldini
Licenças e autorizações: Patrícia Eiras
O surgimento dos dos hominídeos Ilustrações: Ideario Lab, Ilustra Cartoon
primeiros hominídeos Período Paleolítico Projeto gráfico de miolo: Daniela Amaral, Talita
Conquista da agricultura Guedes
Colaboraram para esta Edição do Material:
Período Neolítico Projeto Sistema SESI de Ensino
Gestão do Projeto: Thiago Brentano
Coordenação do Projeto: Cristiane Queiroz
Coordenação Editorial: Simone Savarego, Rosiane
As primeiras civilicações: Botelho e Valdete Reis
Egito e Mesopotâmia Revisão: Juliana Souza
Diagramação: lab 212
Capa: lab 212
Ilustração de capa: Macrovector/ Sentavio/ Golden
Sikorka/ Shutterstock
Consultores:
Coordenação: Dr. João Filocre
Mesopotâmia Egito História: Msc. Carlos Augusto Mitraud
SESI DN
O surgimento das cidades Unificação do Egito Superintendente: Rafael Esmeraldo Lucchesi
A invenção da escrita cuneiforme O poder do Faraó Ramacciotti
Centralização política e formação A escrita hieroglífica Diretor de Operações: Marcos Tadeu de Siqueira
Gerente Executivo de Educação: Sergio Gotti
do império Diferenças sociais no Egito
Gerente de Educação Básica: Renata Maria Braga
O pensamento dos egpícios dos Santos
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Azevedo, Gislane
Sistema de ensino ser : ensino médio, cadernos de 1
a 12 : história ; professor / Gislane Azevedo, Reinaldo
A civilização chinesa A civilização da Índia Seriacopi. -- 3. ed. -- São Paulo : Ática, 2017.
A formação da China O povoamento da Índia
Centralização e organização do A sociedade de castas 1. História (Ensino médio) I. Seriacopi, Reinaldo.
Império Chinês Os impérios indianos II. Título.

A China contemporânea (Mauria e Gupta)


16-08191 CDD-907

Índice para catálogo sistemático:


Os fenícios, os persas 1. História : Ensino médio 907

e os hebreus 2016
ISBN 978 85 08 18226 8 (AL)
ISBN 978 85 08 18229 9 (PR)
3ª edição
1ª impressão

Impressão e acabamento
Fenícios Persas Hebreus
Conceito de cidade-Estado A formação dos A invenção do monoteísmo
Uma publicação
O comércio fenício persas A identidade dos hebreus
O alfabeto fonético O Império Persa O reino de Israel

80 Das cavernas às primeiras civilizações


HISTÓRIA
GUIA DO PROFESSOR

GISLANE AZEVEDO
Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Professora universitária, pesquisadora e ex-professora
de História do Ensino Fundamental e Médio nas redes pública e
privada. Jabuti 2013 na categoria didáticos.

REINALDO SERIACOPI
Bacharel em Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e em Jornalismo
pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). Editor especia-
lizado na área de História. Jabuti 2013 na categoria didáticos.

HISTÓRIA

MÓDULO
Das cavernas às primeiras civilizações
(18 aulas)

Das cavernas às primeiras civilizações


Objeto específico
Relação ser humano-natureza e a apropriação dos recursos
MÓDULO naturais pela sociedade ao longo do tempo.
Impacto ambiental das atividades econômicas.
Das cavernas
às primeiras civilizações AULA 1 Páginas: 4 e 5

Pré-História: um conceito em debate e a


Plano de aulas sugerido busca de nossas origens
Carga semanal de aulas: 2 Objetivos
Número total de aulas do módulo: 18 Apresentar aos alunos as controvérsias sobre os conceitos de His-
tória e Pré-História.
Promover a compreensão dos conceitos de fóssil e primata.
Competências Habilidades Levar os alunos a refletir sobre a origem da espécie humana.
cc Compreender os elementos cc Associar as manifestações
culturais que constituem as culturais do presente aos seus Estratégias
identidades. processos históricos. Ao iniciar a aula, faça um levantamento do conhecimento prévio
cc Compreender a sociedade cc Comparar pontos de vista dos alunos sobre o assunto. Trace uma tabela na lousa e registre as
e a natureza, reconhecendo expressos em diferentes relações conceituais sobre Pré-História elaboradas pela classe.
suas interações no espaço fontes sobre determinado
É interessante chamar a atenção dos alunos para a noção de tem-
em diferentes contextos aspecto da cultura.
históricos e geográficos. po. Observe que este capítulo abrange um período de tempo da
cc Identificar em fontes diversas
cc Compreender a produção
história da humanidade que é bem maior do que o abordado no
o processo de ocupação dos
e o papel histórico das meios físicos e as relações da restante do módulo. Nele falamos em milhões de anos (e não em
instituições sociais, políticas e vida humana com a paisagem. milhares), ao longo dos quais alguns hominídeos acabaram extintos,
econômicas, associando- cc Interpretar historicamente enquanto outros se preservaram e foram aprendendo a dominar a
-as aos diferentes grupos, e/ou geograficamente fontes natureza.
conflitos e movimentos documentais acerca de Localize, em um mapa ou globo terrestre, a África do Sul e a
sociais. aspectos da cultura. Etiópia, na África, onde foram encontrados, respectivamente, os
cc Compreender as cc Reconhecer a produção da
fósseis do Australopithecus sediba e do hominídeo “bebê Lucy”.
transformações dos espaços memória pelas sociedades
geográficos como produto Proponha a análise das fotos das páginas 4 e 5. Ressalte a im-
humanas.
das relações socioeconômicas portância da Arqueologia como uma ciência que, por meio de
cc Identificar registros de
e culturais de poder. técnicas e métodos próprios, investiga vestígios materiais de so-
práticas de grupos sociais no
tempo e no espaço. ciedades e povos. Esclareça que ela tem revelado novas ideias
cc Reconhecer o papel da
sobre a Pré-História, levando à revisão das concepções sobre a
justiça como instituição na definição desse período.
organização das sociedades. Explique que nossos antepassados descobriram possibilidades
cc Interpretar diferentes de sobrevivência e apresente o trabalho como uma atividade de
representações gráficas e fundamental importância no processo da evolução humana. Faça
cartográficas dos espaços referência aos limites da invenção da escrita como marco inicial da
geográficos. História, levando em conta outros aspectos da organização humana
cc Avaliar criticamente conflitos que a antecederam, como o desenvolvimento de técnicas, a fabri-
culturais, sociais, políticos, cação de ferramentas e o domínio do fogo.
econômicos ou ambientais ao
Para os alunos, o estudo da Pré-História pode despertar grande
longo da história.
interesse, atraindo-os pela curiosidade de conhecer as possíveis
origens da humanidade, além de saber as soluções que nossos an-
cestrais encontraram para superar as condições adversas. A ideia
1. D
 OS PRIMEIROS HOMINÍDEOS de superação, porém, não deve ser pensada do ponto de vista
AO DOMÍNIO DA AGRICULTURA de uma suposta superioridade, tanto do ser humano atual em
relação ao pré-histórico quanto na relação dele com a natureza.
Objeto do conhecimento A Pré-História é a longa história da relação do ser humano com a
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Os domínios natureza enquanto ele não tinha, praticamente, nenhum domínio
naturais e a relação do ser humano com o meio ambiente. sobre ela.

2 GUIA DO PROFESSOR
AULA 2 Páginas: 6 a 8 Etnocentrismo é a atitude de negação, desvalorização e/ou discri-
minação de uma cultura sobre outra, tendo como base a ideia de
Os primeiros hominídeos e o superioridade. Assim fizeram os europeus para justificar a domi-
Homo sapiens moderno nação dos povos nativos da América e da África.
e) Se não existem culturas superiores e inferiores, como a cultura
Objetivos deve ser entendida?
Promover a compreensão do conceito de hominídeo. Toda cultura é uma construção histórica que, antropologicamente,
Explicar as principais características do gênero Homo. não pode ser qualificada como superior ou inferior a outra. As
culturas são apenas diferentes. Como resultam da ação humana,
Estratégias são, portanto, limitadas e apresentam tanto aspectos positivos
Com a participação dos alunos, faça um esquema na lousa e re- quanto negativos.
gistre as designações que constam no texto sobre os hominídeos Ao longo do capítulo, vários hominídeos são citados. Sugerimos,
encontrados ao longo dos anos de pesquisas científicas. Trabalhe a porém, que não seja exigido dos alunos o domínio de todos os nomes
definição apresentando como enfoque a família biológica, da qual (Homo habilis, Homo erectus, Homo neanderthalensis e Homo sapiens são
fazem parte os seres humanos atuais e seus ancestrais. os principais). O importante é que eles percebam que não houve uma su-
Segundo a ciência, os primeiros primatas surgiram há cerca de cessão linear na evolução e que gêneros e espécies distintas coexistiram.
60 milhões de anos. Desse grupo, além do gorila, do chimpanzé e do Ressalte que, na evolução do gênero humano, é possível distinguir
orangotango, teriam se originado também os primeiros hominídeos. três etapas principais. Na primeira, certas espécies de antropoides
O hominídeo mais antigo encontrado até agora é o Ardiphitecus ka- adaptaram-se ao meio; na segunda, o Homo erectus produziu uten-
dabba, que habitou a África há cerca de 5,8 milhões de anos. Entre 4,2 sílios e ferramentas; na terceira, o Homo sapiens, por sua capacidade
milhões e 1 milhão de anos atrás, várias espécies de hominídeos do intelectual, dominou o habitat. Peça aos alunos que elaborem um
gênero Australopithecus coexistiam na África. Há cerca de 2 milhões de texto em que relacionem a evolução humana ao desenvolvimento
anos, uma dessas espécies originou um novo grupo, chamado Homo. anatômico das três espécies. Destaque que o ser humano atual, ape-
As diversas evoluções do gênero Homo teriam levado ao surgimento sar de suas limitações físicas (se comparado ao primitivo hominí-
da nossa espécie, o Homo sapiens sapiens, por volta de 195 mil anos deo), superou as dificuldades e as ameaças impostas pela natureza
atrás. Entretanto, no atual estágio de conhecimento científico há mui- por meio do uso da razão e inventou instrumentos para dominar o
tas dúvidas e suposições sobre a origem da humanidade. Não se sabe ambiente de distintas maneiras e diversificar suas condições de vida.
exatamente quando e por que essas mudanças ocorreram originando Oriente a leitura do texto do boxe “Somos todos iguais” (página 8)
à nossa espécie. Entretanto, sabe-se que foram necessários milhões de e proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
anos para que alterações na constituição física do corpo e nas práticas atividades 1 a 5 do “Para construir” (páginas 9 e 10).
culturais levassem à formação do Homo sapiens moderno.
Trabalhe com a turma as características peculiares da espécie hu- Tarefa para casa
mana e o conceito de cultura. Você pode problematizar esse conceito Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 do “Para
por diferentes perspectivas. Por exemplo, questione: praticar” (página 16) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (páginas 16 e 17).
a) Por que a cultura, ou o comportamento cultural, é algo especifi-
camente humano? AULA 3 Página: 11
Porque outros animais não criam cultura, apenas reproduzem hábi-
tos previstos pelos instintos e por códigos genéticos de sua espécie. Saindo da África
b) Como e por que os seres humanos desenvolveram a cultura?
A cultura é resultado do trabalho do ser humano, que se esforça para Objetivo
dar respostas distintas aos desafios e às necessidades que se apresentam Apresentar aos alunos as teorias sobre o povoamento da Terra pelo
em seu cotidiano. Um significado simples do termo afirma que “cultu- gênero Homo.
ra abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de
um povo. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido Estratégias
pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde Com o auxílio de um mapa e com a classe, ilustre os caminhos do
artefatos e objetos até ideais e crenças. Cultura é todo complexo de co- Homo sapiens sapiens pelos continentes. Ao longo da exposição, proble-
nhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. Além matize as condições de vida desses hominídeos, seus hábitos e costumes.
HISTÓRIA
disso, é também todo comportamento aprendido, de modo indepen- A esse respeito, informe aos alunos que os primeiros hominídeos não
dente da questão biológica.” (SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel dispunham de grandes habilidades físicas em comparação com outras
Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2006.). espécies do reino animal. Se dependessem apenas de sua constituição
c) A cultura é um mero reflexo de nossa inteligência? física e de sua capacidade natural para se adaptar às condições climá-
Não. Ela resulta, sobretudo, de nossa experiência social. ticas, proteger-se dos predadores e obter alimentos, os hominídeos es-
d) O que é etnocentrismo? Com base em episódios e processos his- tariam destinados ao desaparecimento. Foram as conquistas técnicas e
tóricos, dê exemplos de comportamentos etnocêntricos. culturais adquiridas nos primórdios da humanidade que permitiram a

Das cavernas às primeiras civilizações 3


alguns grupos de hominídeos se diferenciar de outras espécies e garan- Promova debates sobre a sobrevivência e a organização social, bem
tir sua sobrevivência. Esses conhecimentos, muitas vezes produzidos de como sobre as mudanças ocorridas no modo de vida humano.
modo ocasional ou aleatório por algum indivíduo, só ganhavam sentido Destaque a importância do trabalho como elemento humano que
quando compartilhados por todos os indivíduos do grupo. A grande conseguiu vencer as barreiras impostas pela natureza e contribuiu para
vantagem dos primeiros agrupamentos humanos era justamente essa o desenvolvimento da humanidade na Terra. Explique aos alunos que
capacidade de compartilhar informações e organizar coletivamente as esse desenvolvimento evolutivo foi processual e que se relaciona com
atividades necessárias à difícil vida cotidiana. A caça de grandes animais as soluções práticas dos problemas da vida cotidiana. Demonstre que o
(mamutes, por exemplo) só era possível se fosse planejada e realizada desenvolvimento dos aspectos culturais humanos resulta do trabalho, seja
coletivamente, com uma divisão de tarefas que permitia encurralar o para resolver necessidades primárias, como se abrigar e se alimentar, seja
animal e abatê-lo. Se achar oportuno, acrescente que a socialização do para satisfazer os anseios artísticos, como a música, a dança, a escultura,
conhecimento continua sendo, atualmente, fundamental para o desen- entre outros.
volvimento da humanidade. As diversas pesquisas sobre as origens da Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
nossa espécie são um ótimo exemplo da importância dessa socialização. atividades 6 a 12 do “Para construir” (páginas 14 e 15).
Para finalizar, organize um debate com a classe, solicitando aos grupos
que exponham suas opiniões e discutam as dos colegas. Tarefa para casa
Ao tratar da saída do ser humano da África e sua chegada a outros Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 2 a 4 do “Para
continentes, o mapa “Teoria da ocupação da América” (página 11) pode praticar” (página 16) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (páginas 17 e 18).
ser de grande valia para localizar o possível percurso realizado da África
para o Oriente Médio e para a América pelo estreito de Bering. Isso pos-
sibilita iniciar a discussão sobre as teorias de ocupação da América (Teoria 2. DESCOBRINDO UM
Clóvis 3 Teoria das diversas levas de migrações, defendida por Walter NOVO CONTINENTE
Neves) e sobre os vestígios encontrados em São Raimundo Nonato
(Piauí), sempre lembrando que esses conhecimentos não são definitivos. Objeto do conhecimento
As hipóteses em torno do fóssil de Luzia, de 11 500 anos, e dos Os domínios naturais e a relação do ser humano com o meio
vestígios de São Raimundo Nonato (Piauí), de 50 000 anos, exempli- ambiente.
ficam o contínuo processo de descobertas e reavaliações relativas ao
Objeto específico
conhecimento histórico (discutido nas aulas anteriores).
Relação ser humano-natureza e a apropriação dos recursos
naturais pela sociedade ao longo do tempo.
AULA 4 Páginas: 12 e 13

Os primeiros cultivos AULA 5 Páginas: 19 a 22

Objetivo Os primeiros ocupantes e os sítios


Explicar a importância do domínio da agricultura na história da arqueológicos
humanidade.
Objetivo
Estratégias Apresentar aos alunos as primeiras culturas que se desenvolveram
Esta aula gira em torno da ocupação do planeta e da organização no território brasileiro.
dos seres humanos decorrente do domínio da agricultura e sua con-
Estratégias
sequente sedentarização. O desenvolvimento das técnicas agrícolas
propiciou menor gasto de tempo e de energia na obtenção dos ali- Proponha uma viagem imaginária no tempo para demonstrar que
mentos, o que tornou possível a existência de sociedades mais com- a história de nosso território não se inicia em 1500 com a chegada
plexas. Pode ser interessante explicar aos alunos que a energia antes dos portugueses. Discuta com os alunos o sentido de “descobrimen-
empregada na busca de alimentos passou a ser utilizada em outras to”, “ocupação” e “invasão”. Leve-os a se posicionar sobre esse fato,
obras: mecânicas, intelectuais, científicas, etc. reconhecendo também a existência da perspectiva dos povos que
Antes de analisar o termo nômades, que se encontra no tópico “Os habitavam o Brasil quando da chegada dos europeus.
primeiros cultivos”, verifique o que os alunos sabem sobre o conceito Fale sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara, explicando que
de nomadismo. Utilize mapas durante a exposição do tema para que sua criação teve como objetivo a pesquisa de nossas raízes e a prote-
todos possam se localizar com mais facilidade. ção de uma área na qual se encontra o mais importante patrimônio
Apresente a divisão da Pré-História em períodos. Retome com os alu- pré-histórico do Brasil até então descoberto. Trata-se de um parque
nos o fato de que o ser humano pré-histórico interagia com a natureza. arqueológico com uma riqueza de vestígios que se conservou durante
Estabeleça uma relação entre o fim do nomadismo e a criação da milênios, devido à existência de um equilíbrio ecológico hoje extrema-
agricultura, instigando os alunos a pensar nas transformações decor- mente alterado.
rentes do domínio dessa atividade. Explique que a arte rupestre é uma das mais importantes fontes
Refira-se à vida sedentária, ao cultivo do solo e ao crescimento históricas da Pré-História. Leia com os alunos o texto “Luta gravada
demográfico como fatores resultantes do domínio da agricultura. na rocha” do “Olho vivo” (páginas 20 e 21) . Além dos comentários a

4 GUIA DO PROFESSOR
respeito das fontes, um trabalho valioso pode ser realizado ao explo- União. Contudo, a criação da lei não foi suficiente para que os sam-
rar essa seção, observando detalhadamente a pintura e identificando baquis deixassem de ser depredados. Relacione a depredação secular
as informações nela contidas. dos sambaquis com o fabrico de cal.
Defina os conceitos de patrimônio cultural e ecossistema, mostran- Discuta com os alunos que, apesar da legislação protetora dos sí-
do que o equilíbrio entre os recursos naturais é um fator condicio- tios arqueológicos, a dilapidação desse patrimônio ainda continua.
nante na conservação dos recursos culturais. Faça referência, entre as causas desse fato, à ausência de uma política
nacional rigorosa e de uma consciência de preservação patrimonial,
De acordo com o Dicionário eletrônico Houaiss da língua por- à falta de verba de incentivo e de material, à insuficiência de mão de
tuguesa, ecossistema pode ser definido como o “sistema que obra qualificada para esse trabalho e às dificuldades de infraestrutura
inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características físico- para locomoção e alojamento.
-químicas e as interrelações entre ambos”. Sobre o conceito de Proponha aos alunos a elaboração de um texto que problematize
patrimônio cultural, leia o Texto 1 da seção Textos Complemen-
a importância do trabalho arqueológico brasileiro. Com argumentos
tares deste Guia.
próprios e auxiliados por você, eles deverão produzir um texto de
opinião que poderá ser encaminhado a um jornal ou a outro meio
Chame a atenção dos alunos para as escavações, sondagens e co-
público de comunicação de sua cidade. Indique o número mínimo e
letas de superfície. Esse tipo de trabalho fornece muitos materiais,
máximo de linhas a ser escritas.
provenientes das atividades de populações que ocuparam a região
há pelo menos 50 mil anos. Atente para a coerência do documento e ressalte que um texto de
O mapa “Principais sítios arqueológicos do Brasil” (página 22) opinião, geralmente publicado em jornais, revistas e sites, discute ques-
contém informações que permitem inferir que a presença huma- tões polêmicas que envolvem um grande número de pessoas. Por essa
na no território brasileiro ocorre desde tempos muito remotos. razão, ele deve ser fundamentado em argumentações consistentes. Ex-
Com relação aos vestígios encontrados nesses sítios, vale ressaltar plique que produzir e divulgar um texto de opinião é uma das formas
os aspectos que caracterizam e diferenciam os diversos grupos, de se assumir como sujeito histórico, o que significa, entre outras coisas,
considerando costumes alimentares, moradias, práticas artesanais, participar das discussões e soluções dos problemas da comunidade.
localização, produção de objetos, entre outros. Utilize o mapa para Comente com os alunos que alguns povos da região amazônica, como
localizar o Sítio Arqueológico de Lagoa Santa, em Minas Gerais. a civilização marajoara que ocupou a ilha de Marajó há cerca de 3 500
Localize as regiões onde viviam os Umbu e os Humaitá. Compare anos, formaram organizações sociais hierarquizadas, dominavam técnicas
as diferenças e/ou semelhanças de costumes entre os dois povos. de artesanato altamente desenvolvidas e praticavam a agricultura. Os
Após a leitura e a discussão sobre o assunto, sistematize com a classe Marajoara também construíram elevações (os tesos) que impediam as
o conceito de sítio arqueológico e registre-o na lousa. Proponha um enchentes e controlavam melhor as cheias dos rios. Pesquisas recentes
debate sobre o ofício do arqueólogo. Aqui, o objetivo é levar os alunos mostram que a região do alto Xingu foi ocupada por uma sociedade de
a perceber a importância desses profissionais na reconstrução da his- estrutura complexa. Os indícios mostram que a região chegou a abrigar
tória da humanidade. Estimule-os a discutir o trabalho de mulheres e
dezenove aldeias de formato circular, protegidas por fossas e paliçadas,
homens que se dedicam à pesquisa em busca de nosso passado.
interligadas entre si por meio de estradas. As maiores aldeias abrigavam
uma população que variava de 2,5 mil a 5 mil habitantes.
AULA 6 Páginas: 23 a 25 É possível ressaltar que o conceito de “sociedade complexa” se
aplica aos agrupamentos humanos cuja organização social, políti-
Sambaquis, povos da Amazônia, do Sul e
ca e econômica conta com níveis acentuados de especialização,
Sudeste e do alto Xingu hierarquização e estratificação social. Em oposição, as chamadas
Objetivo sociedades simples são as que têm baixo nível de diferenciação so-
Apresentar aos alunos as primeiras culturas que se desenvolveram cial. Esses conceitos substituíram as noções antigas de “primitivo”
no território brasileiro. e “civilizado”, difundidas pela ciência eurocêntrica do século XIX.
Se houver tempo, elabore um quadro-síntese dos principais con-
Estratégias ceitos e tópicos estudados com a participação dos alunos, visando
Trabalhe a definição de sambaquis (samba = “concha”; qui = esclarecer eventuais dúvidas.
“monte”), considerando-os “montes de conchas que foram acumu- Proponha aos alunos que se organizem em grupos e criem palavras
ladas por muitos anos, não pela natureza, mas por antigos habitantes cruzadas sobre o conteúdo discutido. Após a conclusão dessa etapa
HISTÓRIA

do local; provavelmente grupos de nômades”. (Disponível em: <www. do trabalho, sugira a troca dos exercícios entre os grupos.
cidadao.sp.gov.br/noticia.php?id=217808>. Acesso em: 16 jul. 2014.) Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
Explique aos alunos que hoje há poucos vestígios de sambaquis no atividades 1 a 5 do “Para construir” (páginas 26 e 27).
Nordeste brasileiro. Eles foram destruídos, principalmente, por repre-
sentarem uma rica fonte de cal, utilizada na construção dos casarios Tarefa para casa
até a década de 1960. Refira-se à Lei Federal no 3.924/61, que proibiu Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 5 do “Para
essa prática, caracterizando-a como crime contra o patrimônio da praticar” (páginas 27 e 28) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 28).

Das cavernas às primeiras civilizações 5


Verifique o conhecimento prévio dos alunos sobre a Guerra do
3. P
 OVOS DA MESOPOTÂMIA Iraque e chame a atenção para a realização da primeira atividade do
“Para construir”. Organize um debate sobre esse conflito e formule
Objeto do conhecimento algumas questões, como a preocupação com a vida na região e a
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Os domínios conservação do patrimônio histórico cultural da humanidade. Anote
naturais e a relação do ser humano com o meio ambiente. na lousa os argumentos dos alunos. Relacione guerra e urbanização,
promovendo uma síntese conjunta sobre o tema. Para isso, os alunos
Objeto específico
devem elaborar um texto argumentativo sobre os fatos que mais lhes
Relação ser humano-natureza e a apropriação dos recursos
chamaram atenção no capítulo.
naturais pela sociedade ao longo do tempo. Impacto ambiental
das atividades econômicas.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 31).

AULA 7 Páginas: 29 e 30
Tarefa para casa
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 a 3 do “Para
As cidades-Estado e a civilização suméria praticar” (página 36) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (páginas 36 e 37).
Sugira a elaboração de um texto dissertativo que relacione o se-
Objetivos dentarismo com a formação dos núcleos urbanos. Outra opção é
Apresentar aspectos do processo de ocupação e formação da Me- solicitar uma pesquisa sobre as cidades-Estado atuais, descrevendo
sopotâmia. suas principais características.
Analisar o processo que levou ao surgimento da escrita cuneiforme
e sua importância. AULA 8 Páginas: 32 e 33
Levar o aluno a identificar as contribuições dos sumérios para a
humanidade. O Primeiro Império Mesopotâmico
Estratégias Objetivos
Localize a região da Mesopotâmia com o auxílio de um mapa e Apresentar aspectos do processo de ocupação da Mesopotâmia.
ressalte que hoje essa região é ocupada pelo Iraque. Conceitue urba- Explicar o que significou o Código de Hamurabi.
nização e fale sobre as primeiras cidades da Mesopotâmia.
Estratégias
Destaque as ideias a seguir:
a) Mesopotâmia é uma palavra de origem grega que significa “terra Ao trabalhar o assunto da aula com a classe, ressalte os pontos a
entre rios”. Essa região estava localizada entre os rios Tigre e Eufra- seguir:
a) A importância dos babilônios na história da Mesopotâmia. Como
tes, no Oriente Médio. É considerada uma das regiões mais antigas
herdeiros dos sumérios, eles modificaram e transformaram sua he-
da história. Os povos da Antiguidade, em geral, buscavam regiões
rança para adequá-la à sua própria cultura, influenciando também
férteis, próximas a rios, para desenvolver suas comunidades.
os territórios vizinhos.
b) Vários povos habitaram a Mesopotâmia: sumérios, acadianos, as-
b) Sobre a metáfora bíblica da Torre de Babel: explique que o nome
sírios, babilônios, entre muitos outros. Cabe ressaltar, porém, que Babilônia, de origem grega, vem de Babel, cujo significado, entre
não houve necessariamente uma sucessão de domínios na região. outros, é “confusão”.
c) Os mesopotâmicos não se caracterizavam pela construção de uma c) O papel histórico do rei Hamurabi, que, com extrema habilidade
unidade política. Embora tenham ocorrido momentos de centra- e a política de alianças, promoveu a unidade territorial e a centra-
lização imperial, a Mesopotâmia era formada por cidades-Estado. lização política na região.
d) Na Mesopotâmia foram construídos complexos sistemas de con- d) A importância histórica do Código de Hamurabi como conjunto
trole da água dos rios, canais de irrigação, barragens e diques. de leis (282 artigos) escritas e seu princípio central fundamentado
e) Os sumérios eram grandes empreendedores comerciais e, por essa em direitos, responsabilidades e punições: “Olho por olho, dente
razão, estabeleceram relações comerciais com vários povos da cos- por dente”.
ta do Mediterrâneo e do Vale do Indo. (Utilize sempre um mapa Discuta com os alunos as principais características dos assírios: a
durante as aulas para que os alunos possam localizar essas regiões.) maneira como dominavam os inimigos por meio do terror; o milita-
Explique aos alunos o sistema cuneiforme de escrita. Comente rismo disciplinado e cruel, tornando-se o primeiro exército organiza-
que, inicialmente, eram representações, símbolos do mundo, que, do do mundo com recrutamento obrigatório.
por razões práticas, evoluíram e tornaram-se mais simples e abstratas. Leia o texto “Centros urbanos na América” do “Enquanto isso...”
Ao ler o boxe “Assim nasceu a escrita”, questione os alunos sobre o (página 33) e pergunte aos alunos: Por que algumas sociedades ten-
fato de, na Mesopotâmia, a escrita ser resultado da necessidade de deram a se organizar em torno de cidades e outras não? Quais foram
organização das cidades. Seria um caso restrito a essa região? Isso não as principais vantagens e desvantagens das sociedades urbanizadas?
ocorreu em outros lugares? Divida a turma em pequenos grupos e O objetivo dessas questões é levar o aluno a fazer uma reflexão
proponha a elaboração de um texto opinativo sobre a importância sobre o papel da cidade na formação das sociedades humanas, ten-
da escrita hoje e seu significado no futuro. do em vista uma comparação com as sociedades não urbanizadas.

6 GUIA DO PROFESSOR
Espera-se que o aluno compreenda que a existência de cidades não Comente com os alunos o significado político dos nomos como
significa necessariamente melhoria na qualidade de vida, nem avanço divisões territoriais independentes entre si, dirigidas por nomarcas
tecnológico em relação a outros grupos humanos. Trata-se de socie- que acumulavam as funções de rei, juiz e chefe militar. Explique que
dades com necessidades distintas e que solucionam seus desafios os nomos evoluíram para a constituição de dois reinos (delta: Baixo
também de modo distinto. Reflita com os alunos sobre os problemas Egito e Vale: Alto Egito), os quais, unidos, transformaram-se em um
urbanos e a desigualdade social tão comum nas grandes cidades bra- Império. Use o mapa “O antigo Egito” (página 39) para mostrar os
sileiras. Você pode também retomar o conteúdo do boxe para lem- dois reinos aos alunos. Caso eles confundam o sentido da corren-
brar os alunos que as cidades mantêm uma relação de interdepen- teza do Nilo, seria interessante explicar-lhes que esse rio corre das
dência com a vida rural, especialmente pela produção de alimentos. cataratas (no Alto Egito) para o delta (Baixo Egito), desaguando no
Reveja os principais conceitos estudados no capítulo e aproveite mar Mediterrâneo. Discuta o aspecto antropomórfico e politeísta da
para verificar se os alunos, de fato, assimilaram as informações. Sugira religião egípcia.
a elaboração de um texto crítico, organizado primeiramente em pe- Com a classe, analise as fotos da página 39 e depois leia o texto “O
quenos grupos, para posterior apresentação e discussão em sala de poder do faraó”. Proponha a elaboração de uma síntese em que os
aula. Você deverá mediar a discussão e anotar na lousa os principais alunos relacionem o poder do faraó com a arte das estátuas gigan-
conceitos discutidos por eles. tescas e as colunas do Templo de Abu Simbel.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Leia o boxe “A escrita hieroglífica”. Problematize a importância da
atividades 5 a 8 do “Para construir” (páginas 34 e 35). escrita egípcia como instrumento cultural, econômico (vinculada ao
comércio e ao controle de impostos) e de poder (visto que apenas
Tarefa para casa uma elite tinha acesso a ela). Destaque e explicite o significado de
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 4 e 5 do “Para hieroglífica (gravação sagrada).
praticar” (página 36) e 3 e 4 do “Para aprimorar” (páginas 36 e 37). Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
atividades 1 e 2 do “Para construir” (página 40).
4. A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA Tarefa para casa
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 e 2 do “Para
Objeto do conhecimento praticar” (página 45) e 1 do “Para aprimorar” (página 45).
Representação espacial. Os domínios naturais e a relação do ser Se houver tempo, proponha a elaboração de um texto com base
humano com o meio ambiente. na seguinte afirmação do historiador grego Heródoto de Halicarnasso:
“Não existe homem no mundo que obtenha o fruto da terra com tão
Objeto específico pouco esforço [...]. O rio cresce espontaneamente, rega os campos e,
Projeções cartográficas, leitura de mapas temáticos, físicos e depois de regar, retira-se outra vez. O Egito é um presente do Nilo”.
políticos. Relação ser humano-natureza e a apropriação dos
recursos naturais pela sociedade ao longo do tempo.
AULA 10 Páginas: 41 a 43
Impacto ambiental das atividades econômicas.
A vida social, a religiosidade e o saber
AULA 9 Páginas: 38 a 40 egípcio
Às margens do Nilo Objetivo
Apresentar aspectos culturais, religiosos e artísticos do Egito antigo.
Objetivos
Apresentar aspectos do processo de formação do Egito antigo. Estratégias
Explicar o papel do faraó na sociedade egípcia. Reproduza na lousa a pirâmide que ilustra a estratificação social
Caracterizar o Antigo, o Médio e o Novo Império. egípcia da página 41. Destaque a rigidez desse tipo de sociedade, di-
vidida entre dominados e dominantes. Problematize a questão dessa
Estratégias rígida estratificação social. Proponha a elaboração de um texto sobre
O Egito antigo é geralmente associado às pirâmides ou às múmias, os aspectos da vida cotidiana egípcia.
como se representassem a principal produção dessa sociedade. Entre- Tratar da religião no Egito antigo significa abranger outros aspectos
tanto, outros aspectos de sua história podem ser destacados: a longa que a ela se relacionam. A crença na vida após a morte, por exemplo,
duração dessa civilização; a rígida organização social; a forte religiosidade remete aos conhecimentos científicos desenvolvidos, à construção
HISTÓRIA

presente tanto na vida política (faraó-deus) quanto na produção artística; das grandes pirâmides, à técnica da mumificação, entre outros. A
os conhecimentos científicos desenvolvidos; entre muitos outros. leitura dos boxes “As múmias” e “Os cuidados com o corpo” podem
Para orientar o desenvolvimento dos conteúdos tratados no ca- contribuir para o desenvolvimento desses temas.
pítulo, verifique o que os alunos sabem previamente sobre o tema Enfatize o fato de que os egípcios tinham profundas crenças reli-
da aula. Com o auxílio de um mapa, localize o Egito e o deserto do giosas, o que foi um fator marcante na formação de sua civilização e
Saara. Destaque as margens e o delta do Nilo como as principais áreas organização social. Eles acreditavam na vida após a morte e por isso
ocupadas pelo ser humano. prestavam culto aos mortos em cerimônias fúnebres.

Das cavernas às primeiras civilizações 7


Discuta o processo de mumificação, comentando a importância d) Os Reinos Combatentes. Comente que esses reinos, ao disputarem
dessa prática na religião egípcia, assim como a mística em torno das a hegemonia da China, levaram a região a uma crise estrutural,
construções egípcias, principalmente as pirâmides, responsáveis por o que provocou reflexões sobre o papel do Estado, as leis e os
inúmeras crenças, rituais e lendas. Explique que o processo de mu- governantes.
mificação foi fundamental para o desenvolvimento dos estudos de e) E ssa crise estrutural provocou a criação de teorias filosóficas,
anatomia e química pelos egípcios. como o taoísmo e o confucionismo, que pretendiam solucionar
Neste capítulo, o texto do “Enquanto isso...” refere-se à medicina chine- as disputas sangrentas e definir um papel mais equilibrado para
sa. Vale destacar que, embora sejam contemporâneas, diferentes socieda- o Estado, a sociedade e os indivíduos. Esse período só chegou
des encontram soluções distintas para os mesmos problemas. ao fim com a vitória do reino de Qin, sob a liderança de Ying
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Zheng, que estabeleceu uma nova dinastia, dando início à fase
atividades 3 a 7 do “Para construir” (páginas 43 e 44). imperial chinesa.

Tarefa para casa


AULA 12 Páginas: 48 a 51
Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 3 do “Para
praticar” (página 45) e 2 a 4 do “Para aprimorar” (páginas 45 e 46). A China imperial
Objetivos
5. A
 S CIVILIZAÇÕES ASIÁTICAS: Identificar algumas das contribuições da cultura chinesa para a his-
CHINA E ÍNDIA tória da humanidade.
Reconhecer a importância do comércio da seda.
Objeto do conhecimento
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Estratégias
Problematize o fato de o império adotar a filosofia de Confúcio
Objeto específico em um contexto de intolerância. Em seguida, com a classe, elabore
Cultura material e imaterial, patrimônio e diversidade cultural.
na lousa um quadro sobre as conquistas e os avanços obtidos no
período da dinastia Han.
AULA 11 Páginas: 47 e 48 Destaque a importância da Rota da Seda como elo entre o Oci-
dente e o Oriente na Antiguidade. Explique que sua relevância não se
China limitou ao fato de ser uma via de comunicações ou de comércio de
seda, pois teve também papel importante no intercâmbio cultural,
Objetivos artístico, científico e religioso.
Explicar a formação da China e das dinastias chinesas. Solicite aos alunos a elaboração de um texto sobre os aspectos da
Apresentar algumas ideias de Confúcio. civilização chinesa que mais lhes chamaram atenção.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
Estratégias
atividades 1 a 5 do “Para construir” (páginas 52 e 53).
Este capítulo trata de uma das mais antigas sociedades do mun-
do – a China, que é hoje uma das maiores potências econômicas
mundiais. São muitos os conhecimentos que assimilamos dos chine- Para subsidiar o trabalho que possa desenvolver em classe
ses, alguns há muito tempo, outros mais recentemente. Essa relação sobre as “cidades educadoras” na atividade 5 do “Para construir”,
presente-passado pode ser o ponto de partida para o estudo do ca- leia o Texto 2 da seção Textos Complementares deste Guia.
pítulo. A formação da China está ligada ao desenvolvimento da agri-
cultura no vale do rio Amarelo, onde se constituíram aldeias e, com Tarefa para casa
o tempo, a população crescente organizou-se em torno de um poder Proponha aos alunos que pesquisem sobre os Guerreiros de Xian
central. Ao longo dos séculos, sucessivas dinastias (Shang, Zhou, Qin e os Tesouros da Cidade Proibida.
e Han) governaram a China, ampliando seu território. Solicite aos alunos que façam em casa as atividades 1 do “Para
Com os alunos, localize a China em um mapa. A seguir, leia os
praticar” (página 59) e 1 do “Para aprimorar” (página 59).
textos da aula com a classe, destacando:
a) As primeiras dinastias chinesas. Comente que o cobre era usado na
fabricação de armas e na construção das muralhas para o sistema AULA 13 Páginas: 54 a 57
de defesa (cite o exemplo da Muralha da China).
b) A relação da dinastia Shang com o nascimento do comércio, o As civilizações da Índia
desenvolvimento da olaria, a invenção do arco e da flecha, o ca- Objetivos
lendário e o aperfeiçoamento da escrita chinesa.
c) A dinastia Zhou como a dinastia de maior duração em toda a Apresentar aspectos do processo de formação da Índia antiga.
história chinesa e a posterior descentralização política que enfra- Explicar como funciona a sociedade de castas.
queceu o poder real. Apresentar aspectos religiosos da sociedade indiana.

8 GUIA DO PROFESSOR
Estratégias fenícia, pode-se observar, no mapa “A expansão fenícia (séculos XII
Essa parte do capítulo trata das origens da complexa sociedade a.C. a VIII a.C.)” (página 61), a localização da região ocupada por eles.
indiana e de sua grande diversidade religiosa e cultural. Conhecer Além disso, deve-se considerar também a pequena extensão de seu
essas origens possibilita compreender alguns aspectos dessa so- território, o relevo montanhoso e os diversos artigos que produziam,
ciedade na atualidade, como a organização em castas. Sobre as como artefatos de vidro, armas, objetos de marfim e tecidos coloridos.
antigas tradições indianas, o boxe “Contradições indianas” traz A prática náutica, associada à atividade comercial, contribuiu
informações que ampliam o estudo dos conteúdos e propiciam para que os fenícios se organizassem em cidades-Estado e se es-
uma rica discussão com os alunos, como a análise de mudanças e tabelecessem fora da Ásia, criando muitas cidades. A principal
permanências na sociedade indiana e de seus contrastes. foi Cartago, no norte da África. A leitura do boxe “Cartago, rival
Com os alunos, localize em um mapa a região citada. de Roma” fornece informações que dão a dimensão dessa cidade
Leia o tópico “Os dravidianos” com a classe e explore o mapa “Ori- na Antiguidade.
gem e expansão da Índia”, destacando os locais mencionados. Inicie a aula com o auxílio de um mapa localizando o atual Líbano,
Ressalte que a Índia é uma das civilizações mais antigas do mundo. região ocupada pelos antigos fenícios e leia os textos da aula com os
Proponha aos alunos que localizem no texto elementos característicos alunos. Explique que o termo semita refere-se aos grupos étnicos
da urbanização entre os drávidas. Retome o conceito de sedentarismo. e linguísticos que consideram “Sem” (um filho de Noé) como seu
Mostre que o hinduísmo surgiu do encontro da religiosidade ariana ancestral comum. Os hebreus, os assírios, os aramaicos, os fenícios
com a pré-ariana (drávidas). e os árabes são povos ligados a essa família linguística. Em alguns
Depois, organize na lousa os fatos apresentados para que os alunos contextos, semita é entendido como sinônimo de judeu.
possam visualizar o sistema de castas com mais facilidade. Sugira a elabo- Retome o conceito de cidade-Estado e proponha uma discussão
ração de um texto de opinião em que os alunos discutam esse sistema. sobre o comércio fenício e sua importância na expansão marítima
desse povo, relacionando-o com a criação do alfabeto (o principal
Apesar de ilegal desde 1950, o sistema de castas ainda faz parte legado fenício para a humanidade) em contraponto à violência e às
da cultura indiana e está arraigado em suas relações sociais. O Tex- guerras dos hititas (vistos na aula 8). Peça aos alunos que elaborem
to 3 da seção Textos Complementares deste Guia aborda certos um texto-síntese do debate.
aspectos da vida dos párias, também chamados de intocáveis. Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 64).
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Tarefa para casa
atividades 6 e 7 do “Para construir” (páginas 58 e 59).
Solicite aos alunos que façam as atividades 1 a 3 do “Para praticar”
Tarefa para casa (página 65) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 65).
Solicite aos alunos que façam as atividades 2 e 3 do “Para praticar”
(página 59) e 2 a 4 do “Para aprimorar” (página 59). 7. OS PERSAS

6. OS FENÍCIOS Objeto do conhecimento


Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade.
Objeto do conhecimento
Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Objeto específico
Cultura material e imaterial, patrimônio e diversidade cultural.
Objeto específico
Cultura material e imaterial, patrimônio e diversidade cultural.
AULA 15 Páginas: 66 a 68

AULA 14 Páginas: 60 a 63 Origens da Pérsia e a unificação de medos


e persas
Cidades portuárias e o alfabeto
Objetivo
Objetivos
Apresentar os principais momentos da história dos persas.
HISTÓRIA
Explicar a organização política e administrativa da sociedade fenícia.
Explicar o processo de desenvolvimento do alfabeto. Estratégias
Estratégias Este capítulo trata de um dos maiores impérios da Antiguidade – o
Império Persa –, que, nos cerca de 8 milhões de km2 de seu território
Os fenícios organizaram-se em torno do comércio marítimo, sendo
(maior extensão), abrigou diversos povos e diferentes culturas. Do
essencial para isso o desenvolvimento de recursos náuticos e de téc-
convívio entre eles resultou a difusão de costumes e experiências, que
nicas de navegação. Para compreender esses aspectos da sociedade
foram assimilados pelos persas.

Das cavernas às primeiras civilizações 9


No início do estudo, alguns questionamentos podem contribuir
para orientar o desenvolvimento dos conteúdos: Como um império
8. OS HEBREUS
tão grande se constituiu na Antiguidade? O que garantiu sua coesão? Objeto do conhecimento
Que povos faziam parte do Império Persa? O que aconteceu com Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Formas de
esse império? O Irã que conhecemos hoje é o que restou dele? organização social, movimentos sociais, pensamento político e
Com os alunos identifique a civilização persa no mapa “O Impé- ação do Estado.
rio Persa” (página 69). Ao abordar o conteúdo desta aula ressalte
que os medos eram uma das tribos de origem ariana que migra- Objeto específico
ram da Ásia central para o planalto Iraniano. Cultura material e imaterial, patrimônio e diversidade cultural.
Analise, com os alunos, a imagem apresentada no “Olho vivo”, que As lutas pela conquista de direitos pelos cidadãos: direitos civis,
promove uma reflexão sobre o papel reservado às mulheres na so- humanos, políticos e sociais.
ciedade persa.
AULA 17 Páginas: 72 e 73
AULA 16 Páginas: 69 e 70
As origens e a construção do sentimento de
A formação do Império identidade do povo hebreu
Objetivos Objetivos
Explicar os elementos constitutivos da dominação e do imperialis-
Explicar a importância histórica e o processo de ascensão do mo-
mo persa.
noteísmo.
Reconhecer aspectos religiosos e culturais da sociedade persa.
Identificar e contextualizar a Bíblia e outros documentos como
Estratégias fontes de estudo da história dos hebreus.
O mapa “O Império Persa” e a atividade 2 do “Para praticar” (página Apresentar o processo de construção de identidade do povo hebreu.
71) constituem um valioso instrumento para conhecer a vastidão do Estratégias
domínio persa e perceber a relação com alguns dos povos estudados
nos capítulos anteriores (como babilônios, egípcios e fenícios). Além Neste capítulo são abordadas as origens do povo hebreu e do
disso, é possível explorar o texto da atividade como documentação monoteísmo, princípio que esteve na base da religião desse povo
histórica, considerando o ponto de vista de seu autor – Xenofonte. – o judaísmo. Como é analisado no texto, o judaísmo foi o principal
Leia os tópicos que se referem à temática que será discutida. Uti- elemento aglutinador no processo de unificação das diversas tribos
lizando o mapa “O Império Persa”, explique que o “Primeiro Império que constituíam o povo hebreu e na formação de um sentimento de
Persa”, o Império Aquemênida (648-330 a.C.), estabelecido por Ciro, identidade entre seus integrantes.
o Grande, teve origem na região chamada Pasárgada, atual província Notícias do mundo atual, que encontramos nas páginas dos
iraniana de Fars. jornais ou em noticiários de TV, podem ser um bom ponto de
Destaque que os persas, em geral, permitiam ao povo conquistado partida para o estudo do capítulo. São frequentes as que tratam
o direito de manter sua língua, seus costumes e sua religião. Essa to- dos conflitos entre israelenses e palestinos. O que os alunos sabem
lerância fez com que o império se tornasse multicultural e que seus sobre esses conflitos e esses povos? O texto de abertura do capítulo
líderes fossem, em geral, respeitados pelos povos dominados. também dá margem a algumas indagações: Qual é a relação entre
Com relação à manutenção do império, é fundamental assinalar a Israel, o país que conhecemos hoje, e os hebreus? Como um povo
estrutura administrativa instituída no governo de Dario, que, centra- que viveu disperso pelo mundo durante quase 2 mil anos conse-
lizando o poder, garantia sua unidade. guiu manter sua unidade?
Chame a atenção dos alunos para o texto do boxe “A religiosidade Leia o boxe “A Bíblia e a historiografia” (página 73). Localize, com
dos persas” (página 69), que possibilita conhecer as influências (como o auxílio de um mapa, o Estado de Israel e destaque a Palestina, re-
o juízo final, o paraíso e a oposição entre o Bem e o Mal) do zoroas- gião situada entre o mar Mediterrâneo, a Síria, o Líbano, o Egito e a
trismo em religiões monoteístas, como o cristianismo. Jordânia, na Ásia.
É importante verificar que o texto do “Enquanto isso...” proporciona Entre outros aspectos significativos dessa civilização, destaque:
um exercício de simultaneidade histórica, com informações sobre o que a) A religião como fator de unificação do povo hebreu.
ocorria na península Itálica, dominada pelos etruscos, no mesmo mo- b) O significado da evolução política e religiosa na construção do
mento em que os medos estavam sendo unificados por Déjoces. monoteísmo judeu.
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as
atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 70). atividades 1 a 4 do “Para construir” (página 74).

Tarefa para casa Tarefa para casa


Solicite aos alunos que façam as atividades 1 a 3 do “Para praticar” Solicite aos alunos que façam as atividades 1 do “Para praticar”
(página 71) e 1 e 2 do “Para aprimorar” (página 71). (página 77) e 1 do “Para aprimorar” (página 77).

10 GUIA DO PROFESSOR
AULA 18 Páginas: 75 e 76 TEXTOS COMPLEMENTARES
O reino de Israel Texto 1
Patrimônio cultural
Objetivos
O Decreto-lei no 25, de 30 de novembro de 1937, que entre
Apresentar algumas etapas da história do povo hebreu. outras medidas institui o instrumento do tombamento, define em
Discutir o significado do elemento religioso na cultura judaica. seu artigo 1o o conceito de Patrimônio Histórico e Artístico Na-
Analisar as disputas por territórios na Antiguidade. cional: Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o
conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja
Estratégias conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a
As etapas iniciais da história dos hebreus podem ser trabalhadas obser- fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
vando, nos mapas da página 75, o percurso realizado por eles desde Ur até valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
a Palestina (Terra Prometida). Utilizando esse recurso, é possível remontar Passados 51 anos, em que o País sofreu intensas e velozes mu-
danças, transformando-se de rural em majoritariamente urbano,
o processo de unificação dos hebreus e de construção de sua identidade.
a Constituição de 1988 relativiza a noção de excepcionalidade,
Uma das fontes de informação para isso é o Velho Testamento. substituída em parte pela de representatividade e reconhece a
Leia os textos da aula com os alunos e destaque a importância da dimensão imaterial. A denominação Patrimônio Histórico e Ar-
figura dos juízes como chefes militares e religiosos escolhidos pelas tístico é substituída por Patrimônio Cultural. O conceito é assim
tribos para liderá-las nas guerras, mantê-las unidas e preservar a cren- ampliado de maneira a incluir as contribuições dos diferentes
ça em um único deus. grupos formadores da sociedade brasileira. Essa mudança incor-
Discuta o conceito de identidade e a sua importância para a for- pora o conceito de referência cultural e significa uma ampliação
mação de uma nação. Destaque o papel de Davi na união das tribos importante dos bens passíveis de reconhecimento.
de Judá e Israel e a escolha de Jerusalém como capital do reino he- O artigo 216 da Constituição Federal assim conceitua patrimô-
breu. Para melhor identificação dos reinos, explore novamente com nio cultural:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de
os alunos os mapas “Ur e a Palestina”.
natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
Apresente o significado de diáspora na história hebreia. Comente conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memó-
sobre a criação do Estado de Israel, em 1948, pela Organização das Na- ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos
ções Unidas (ONU). Relacione esse fato com o movimento sionista no quais se incluem:
contexto da criação de um Estado nacional judeu após o holocausto. I – as formas de expressão;
Analise com os alunos a foto do Muro das Lamentações (pági- II – os modos de criar, fazer e viver;
na 75), debatendo sobre sua importância e simbologia. Explique III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
que o Muro das Lamentações, também chamado de Muro Oci- IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espa-
dental, é uma área sagrada dedicada à oração. A parede construí- ços destinados às manifestações artístico-culturais;
da por Herodes, no primeiro século a.C., é considerada o lugar V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
mais sagrado para os judeus. Comente que há websites especia-
[…].
lizados no envio de mensagens ao Muro. IPHAN. Patrimônio cultural. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/
Oriente os alunos na elaboração de um texto de opinião a ser en- portal/montarPaginaSecao.do?id=20&sigla=PatrimonioCultural&retorno=paginaI
caminhado à coluna “Espaço do leitor” de um jornal de circulação phan>. Acesso em: 16 set. 2014.
local, cujo foco seja o significado das religiões nos conflitos atuais. Texto 2
Ao trabalhar o “Enquanto isso…” (página 76), mostre como o Egito Os desafios da sociedade contemporânea exigem o envolvi-
e seus vizinhos se envolveram em intensas disputas pelas terras de- mento de toda a sociedade e a introdução de modificações em
sérticas do continente africano. Com o auxílio de um mapa, localize nossas cidades que reformulem comportamentos, hábitos e es-
com os alunos as regiões citadas no texto. paços de interação para favorecer a educação integral e cidadã,
Depois, se ainda houver tempo, proponha a criação de atividades para assumindo o importante papel de cidades educadoras [...]. O
conceito de comunidade educativa aparece em nossa sociedade
que os alunos possam retomar o conteúdo deste módulo. Eles deve-
atual como uma necessidade sentida pelas próprias instituições
rão utilizar a criatividade e explorar os recursos apresentados nos textos
escolares, que reconhecem a sua incapacidade para assumir so-
deste módulo e, se possível, em outras fontes. Peça que se organizem zinhas os atuais conceitos de educação integral. Os educadores
em pequenos grupos e elaborem um conjunto de atividades que serão constatam a inutilidade de seus esforços para transmitir alguns
redistribuídas entre os diferentes grupos para serem resolvidas. Sugira, valores e atitudes educativas que, se forem contraditórios com o
entre outras possibilidades, palavras cruzadas, caça-palavras, gincanas de
HISTÓRIA
contexto, nunca chegarão a fazer parte da vida de seus alunos.
perguntas e respostas, questões dissertativas, testes, etc. [...] Assim, não faz sentido manter em nossas salas de aula um
Proponha aos alunos que façam individualmente ou em grupos as discurso bem-intencionado sobre a poluição e a reciclagem de
atividades 5 e 6 do “Para construir” (página 76). matérias-primas enquanto as crianças veem seus vizinhos joga-
rem lixo na rua. Nossa sociedade não pode encomendar dos edu-
Tarefa para casa cadores o trabalho, condenado ao fracasso, de pregar em suas
Solicite aos alunos que façam as atividades 2 do “Para praticar” aulas valores e atitudes que a comunidade não assume como
(página 77) e 2 do “Para aprimorar” (página 77). próprios. A conclusão é evidente: precisamos que nossas comu-

Das cavernas às primeiras civilizações 11


nidades se envolvam na defesa dos valores educativos mais im-
portantes, alguns deles vitais para sua própria manutenção. Não SUGESTÕES DE LEITURA
é possível continuar pensando em algumas cidades nas quais se FAIRBANK, John King; GOLDMAN, Merle. China: uma nova his-
exija de seus administradores que solucionem problemas tão im-
tória. Porto Alegre: L&PM, 2006.
portantes como o do transporte ou o da poluição enquanto os
cidadãos continuam com seus hábitos não solidários, decididos FUNARI, Pedro Paulo; NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do
a prosseguir pensando que tais problemas devem ser soluciona- Brasil. São Paulo: Contexto, 2001.
dos por “outros” para que se siga fazendo o de sempre [...]. JOHANSON, Donald C.; EDEY, Maitland A. Luci: os primórdios da
GÓMEZ-GRANELL, Carmen; VILA, Ignacio (Orgs.). A cidade como projeto humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
educativo. Trad. Daisy Vaz de Moraes. Porto Alegre: Artmed, 2003. Adaptado. LEICK, Gwendolyn. Mesopotâmia: a invenção da cidade. Rio de
Texto 3 Janeiro: Imago, 2003.
Nascer hindu na Índia é entrar para o sistema de castas, uma
MELLO, Patrícia Campos. Índia: da miséria à potência. São Paulo:
das mais antigas formas de estratificação ainda em vigor. Arrai-
Planeta, 2008.
gado na cultura indiana há 1,5 mil anos, o sistema segue um
preceito básico: todos são criados desiguais. A hierarquização da PERLÈS, Catherine. As estratégias alimentares nos tempos pré-
sociedade hindu originou-se de uma lenda na qual os quatro -históricos. In: FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massino (Dir.).
principais grupos, ou varnas, emergem de um ser primordial. Da História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
boca, vêm os brâmanes – sacerdotes e mestres. Dos braços, os PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo: Contexto, 2001.
xátrias – governantes e soldados. Das coxas, os vaixás – merca- PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a Pré-História do
dores e negociantes – e, dos pés, os sudras – trabalhadores bra-
nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
çais. Cada varna, por sua vez, abrange centenas de castas e sub-
castas hereditárias, cada qual com hierarquia própria. SCHEINDLIN, Raymond P. História ilustrada do povo judeu. Rio de
Um quinto grupo consiste nas pessoas que são achuta, ou into- Janeiro: Ediouro, 2003.
cáveis. Não vieram do ser primordial. Eles são os excluídos – pes-
soas demasiado impuras para classificar-se como seres dignos. [...]
Os intocáveis são evitados, insultados, proibidos de frequentar
SUGESTÃO DE SITES
templos e casas de castas superiores, obrigados a comer e beber em
utensílios separados em lugares públicos e, em casos extremos mas Museu de Arqueologia e Etnologia (USP) – Página do museu da
não incomuns, são estuprados, queimados, linchados e baleados. Universidade de São Paulo, que contém um rico e diversificado
O antigo sistema de crença que criou os intocáveis prepondera acervo arqueológico e etnológico. Além de navegar pelo acer-
sobre a lei moderna. [...] Um pai ou uma mãe intocável gera fi-
vo, é possível se informar sobre ações educativas. Disponível em:
lhos intocáveis, marcados como impuros desde o momento em
<www.mae.usp.br/>. Acesso em: 16 jul. 2014.
que começam a respirar. [...]
Os intocáveis executam o “trabalho sujo” da sociedade – atividade Museu do Homem Americano – O site traz informações sobre
que requer contato físico com sangue e excrementos humanos. Os as pesquisas arqueológicas na serra da Capivara. Disponível
intocáveis cremam os mortos, limpam latrinas, cortam cordões um- em: <www.fumdham.org.br>. Acesso em: 16 jul. 2014.
bilicais, removem animais mortos das ruas, curtem couro, varrem Arqueologia Brasileira – Site com diferentes informações sobre
sarjeta. Esses trabalhos, e a condição de intocável, são transmitidos as descobertas arqueológicas no país. Disponível em: <www.
aos descendentes. Mesmo os numerosos intocáveis que exercem ser- itaucultural.org.br/arqueologia>. Acesso em: 16 jul. 2014.
viços “limpos”, principalmente trabalhos agrícolas mal remunerados
Museu do Louvre – Página com fotos dos objetos da Mesopo-
em terras de grandes proprietários, são considerados impuros. [...]
tâmia existentes em seu acervo (site em inglês). Disponível em:
É verdade que, pelo menos na esfera pública, os intocáveis fi-
zeram progresso desde o tempo em que eram espancados se sua <http://tinyurl.com/8k5zmeq>. Acesso em: 17 jul. 2014.
sombra tocasse alguém de casta superior, usavam sinos para aler- Museu Calouste Gulbenkian – Site de Lisboa sobre objetos de
tar de sua aproximação e levavam baldes para que não contami- arte do antigo Egito. Disponível em: <http://museu.gulbenkian.
nassem o chão ao cuspir. Eles não podiam entrar em escolas nem pt/Museu/pt/Colecao/Antiguidade/ArteEgipcia>. Acesso em:
se sentar em nenhum banco perto de alguém de casta superior. 17 jul. 2014.
A constituição de 1950 impõe um sistema de cotas em que são Fundação Oswaldo Cruz – Site com informações sobre diferentes
reservados cargos na legislatura federal em proporção igual à dos tipos de alfabeto. Disponível em: <http://tinyurl.com/7wczdug>.
intocáveis na população: 15%. [...] Lugares reservados aos into-
Acesso em: 17 jul. 2014.
cáveis têm também em legislaturas estaduais, conselhos de aldeia,
no serviço público e nas salas das universidades. [...] Museu Nacional de Nova Délhi – Página com imagens do acervo
Apesar de todas as leis, porém, o cerne do sistema de castas do museu, na Índia, contendo peças da Índia antiga (site em in-
segue inalterado. [...] [Isso porque] o sistema de castas hindu tem glês). Disponível em: <www.googleartproject.com/collection/
seu próprio manual de instruções. As Leis de Manu, coligidas há national-museum-delhi/>. Acesso em: 17 jul. 2014.
pelo menos 2 mil anos por sacerdotes brâmanes, prescrevem para Museu de Israel – Visita virtual pelo museu, em Jerusalém, onde
cada varna o que comer, quem desposar, como ganhar dinheiro, é possível ver várias peças de seu acervo (site em inglês). Dispo-
quando lutar, como manter-se limpo, a quem evitar. nível em: <www.googleartproject.com/collection/the-israel-
O'NEILL, Tom. National Geographic Brasil, jun. 2003, p. 44-51. museum-jerusalem/>. Acesso em: 18 jul. 2014.

12 GUIA DO PROFESSOR
RESPOSTAS

3. O Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, é considerado


CAPÍTULO 1 – DOS PRIMEIROS HOMINÍDEOS patrimônio cultural da humanidade por ser a região de maior con-
AO DOMÍNIO DA AGRICULTURA centração de sítios arqueológicos no Brasil. No mais antigo sítio
da região, o Boqueirão da Pedra Furada, foram achados vestígios da
PARA PRATICAR – página 16 presença humana no local há cerca de 50 mil anos. Já na região
1. d. 2. a. de Lagoa Santa, em Minas Gerais, foi encontrado o crânio de Luzia,
o fóssil humano mais antigo das Américas, com 11 500 anos.
3. Para sobreviver nesses lugares, foi necessário construir obras de bene-
fício comum, como canais de irrigação, reservatórios de água, etc. 4. Os grupos de tradição Umbu fabricavam instrumentos de pedra
com presteza e difundiram duas inovações tecnológicas: o arco
4. A vida sedentária, os obstáculos oferecidos pelo meio e os esforços
pela sobrevivência impuseram a necessidade de dividir tarefas. e a flecha e as boleadeiras. Os povos de tradição Humaitá divi-
Com o tempo, essa divisão implicou o estabelecimento de graus diram durante certo tempo espaços com o grupo Umbu. Mais
hierárquicos, fazendo surgir privilégios e concentração de poder. tarde, porém, deslocaram-se em direção às matas, habitando
partes altas e encostas. Fabricavam instrumentos de pedra e co-
PARA APRIMORAR – páginas 16 a 18 miam, além de peixes e animais, pinhão. Utilizavam esses instru-
mentos para fazer farinha para pães e bolos.
1. a) O sequenciamento genético pode auxiliar na compreensão
das diferenças étnicas entre os primeiros hominídeos, possi- 5. Os sambaquis eram pilhas de conchas de moluscos coletados,
bilitando maior entendimento sobre sua evolução e história. ferramentas, restos de comida e ossos de animais. Nesses locais
Também possibilita o melhor conhecimento da forma como construíam-se casas e enterravam-se os mortos.
esses hominídeos se espalharam pelo globo e se modificaram
ao longo do tempo.
PARA APRIMORAR – página 28
b) Os fósseis permitem a determinação do período geológico 1. d.
das espécies estudadas, a forma dessas espécies, o conheci- 2. a) A resposta é pessoal, mas o texto deve levar em consideração
mento de alguns hábitos e costumes, o encontro de artefatos que a dificuldade em lidar com os próprios erros pode fazer,
e objetos utilizados. No caso dos primeiros hominídeos, os fós- muitas vezes, com que a pessoa desista de procurar soluções
seis permitem o conhecimento de algumas de suas ferramen- para as diversas situações com as quais se depara. As tentativas
tas, além das diferenças étnicas existentes entre os diversos – com seus acertos e erros – são indissociáveis das descobertas,
hominídeos já conhecidos. fundamentais para os avanços pelos quais passa a humanidade.
c) O estudo do sequenciamento genético possibilitou a desco- b) Como se trata de questão opinativa, as escolhas e justifi-
berta de que não há diferenças genéticas significativas entre cativas podem variar. Entre as muitas descobertas a serem
os seres humanos, apesar das diferenças físicas que podem ser citadas, algumas delas são: o avião, as vacinas, os meios de
encontradas (cor da pele, cor dos olhos, etc.). Os registros fósseis comunicação de massa, o computador e o microscópio.
ajudaram a conhecer melhor as ondas migratórias dos primei-
c) Resposta pessoal. Pode-se levar em conta que o estudo do
ros hominídeos, bem como as ferramentas que estes utilizavam.
passado ajuda a compreender os avanços e os conflitos que
2. a) As duas imagens são recorrentes nos estudos sobre a Pré-His- marcaram a humanidade, auxiliando na solução e na refle-
tória. A primeira representa a evolução da espécie com base xão sobre os problemas do presente.
em características físicas visíveis dos indivíduos, como a curva-
tura da coluna. A segunda imagem é uma representação grá- CAPÍTULO 3 – POVOS DA MESOPOTÂMIA
fica em forma de “árvore genealógica” que procura identificar
os diversos ancestrais da espécie humana e seus cruzamentos PARA PRATICAR – página 36
marcados cronologicamente.
b) A primeira imagem pressupõe uma evolução do ancestral
1. a.
“menos evoluído” até o ser humano atual. Essa imagem 2. Cidade-Estado é o nome dado às cidades da Antiguidade que
foi popularizada no início do século XX, quando a ciência tinham autonomia umas em relação às outras. Originaram-se
acreditava que a evolução humana tivesse seguido um de pequenos núcleos humanos que, na Mesopotâmia, por vol-
percurso único. Entretanto, pesquisas identificaram uma ta de 4000 a.C., passaram a ser autossuficientes e autogoverna-
variedade imensa de transformações do gênero Homo. dos, com o soberano exercendo o poder político e religioso.
Nossa espécie, o Homo sapiens, representa apenas uma 3. c.
das possibilidades.
4. Por volta de 2350 a.C. o rei Sargão unificou sob seu governo
c) A segunda imagem não mostra a verdade sobre a evolução várias cidades do centro e do sul da Mesopotâmia. Ainda que
humana, mas representa da melhor maneira possível o resul- essas cidades tivessem relativa autonomia, todas passaram a
tado das descobertas arqueológicas realizadas até hoje. integrar a região sob seu domínio. Portanto, a submissão a esse
3. b. 4. d.
HISTÓRIA
poder e o manto administrativo imposto a essa reunião de ci-
dades fez com que ela fosse denominada império, o Primeiro
CAPÍTULO 2 – DESCOBRINDO UM NOVO Império Mesopotâmico.
CONTINENTE 5. d.

PARA PRATICAR – páginas 27 e 28 PARA APRIMORAR – páginas 36 e 37


1. b. 2. e. 1. A resposta depende da pesquisa realizada.

Das cavernas às primeiras civilizações 13


2. A resposta é pessoal, mas o texto produzido deve levar em consi- vive em muitas regiões do Brasil, apesar da modernização nas
deração que a vida urbana se transformou radicalmente com o técnicas agrícolas; o comércio por meio fluvial através do rio
passar do tempo. Na Antiguidade, as pessoas viviam em cidades Nilo no Antigo Egito é muito comum na Amazônia brasileira.
porque trabalhavam em funções urbanas, ligadas à administração
pública, a atividades artesanais e ao comércio; as cidades também CAPÍTULO 5 – AS CIVILIZAÇÕES ASIÁTICAS:
representavam, em certas situações, proteção contra ataques CHINA E ÍNDIA
estrangeiros, pois eram fortificações defendidas por exércitos
regulares. Também é preciso atentar aos atrativos que a cidade PARA PRATICAR – página 59
exercia sobre as pessoas em geral: uma vida cultural mais inten- 1. Para Confúcio, uma sociedade só poderia viver em harmonia –
sa, a possibilidade de intercâmbio de ideias e experiências com amparada na ordem e na justiça – por meio da capacidade de
uma quantidade e uma diversidade maior de pessoas, atividades amar, ser bondoso, praticar o bem, ter respeito e interesse para
comerciais variadas, etc. Atualmente, a cidade exerce um papel com o próximo.
predominante na vida econômica e social da maioria dos países.
A centralização do poder, da riqueza e da maior parte das oportu- 2. A resposta é pessoal, mas o texto deve levar em consideração
nidades de trabalho atrai milhões de pessoas. Apesar dos proble- que os sacerdotes brâmanes afirmavam conversar com os deu-
mas urbanos (como a poluição e a violência), pode-se dizer que se ses e, com isso, conquistaram enorme poder diante da popula-
vive nas cidades porque as opções de trabalho, lazer e educação ção e do rajá, chefe das tribos arianas. Criaram complexos rituais
são mais numerosas e mais atraentes do que no campo. religiosos e diversos preceitos que passaram a ser adotados por
grande parte da sociedade hindu, como a ideia de reencarna-
3. e.
ções sucessivas e a instauração de um rígido sistema de castas,
4. 01, 02 e 16 grupos sociais fechados e imutáveis.

CAPÍTULO 4 – A CIVILIZAÇÃO EGÍPCIA 3. O Império Mauria se estendia do vale do rio Indo ao vale do Gan-
ges, cobrindo uma área de mais de 2 quilômetros quadrados.
PARA PRATICAR – página 45 Seu apogeu ocorreu com a administração de Ashoka, neto de
Chandragupta, entre 269 a.C. e 232 a.C. Nesse período, foram
1. e. 2. b. 3. a. construídos hospitais, clínicas veterinárias e estradas, além de
terem sido estabelecidas relações comercias com outras civiliza-
PARA APRIMORAR – páginas 45 e 46 ções. A arte e a tecnologia também floresceram.
1. a) A escrita era uma ferramenta importante para o controle e o
exercício do poder dos faraós. Por isso, durante o Antigo Im- PARA APRIMORAR – página 59
pério, o faraó criou a figura do escriba para supervisionar os 1. A resposta é pessoal, mas de acordo com o texto é possível citar
governos regionais que dividiam o território do Egito. Era tam- que entre os principais legados dos chineses para a história da
bém por meio da escrita que o faraó poderia ter maior contro- humanidade estão: a técnica de fabricacão da seda a partir dos
le sobre a cobrança de impostos, fiscalizar as obras públicas e casulos do bicho-da-seda; a filosofia de Confúcio; monumentos
organizar o estoque de alimentos. históricos como o mausoléu de Ying Zheng e a Grande Muralha;
b) O Estado tinha grande controle sobre as atividades econômi- instrumentos de medição da direção dos ventos; o sismógrafo;
cas no Império egípcio. Era o faraó que supervisionava a cria- conceitos matemáticos (como as quatro operações com núme-
ção das grandes obras, fiscalizava a produção de alimentos e ros fracionários e o cálculo com números positivos e negativos);
ordenava a cobrança de impostos. a bússola; os relógios de sol e de água; uma técnica de fabrica-
2. c. ção de papel; experiências médicas de dissecação de cadáveres
3. A resposta é pessoal, mas espera-se que, analisando os fatos, seja e de cirurgias com anestesia; o uso de ervas e a prática da acu-
possível concluir que o processo de transferência de peças egípcias puntura para o tratamento de doenças.
para museus europeus e norte-americanos constitui-se em um ato 2. O islamismo chegou à Índia com a conquista da região do
indevido, sendo considerado por alguns um verdadeiro saque. No Sind, no delta do Indo, pelos árabes, no século VIII. Essa nova
que diz respeito à questão ética, portanto, é completamente justa religião teve grande aceitação por parte dos indianos porque
a reivindicação egípcia da devolução do patrimônio cultural origi- muitos deles viam nela uma oportunidade de escapar do rí-
nário de seu país. Por outro lado, os responsáveis pelos museus que gido sistema de castas.
atualmente detêm a guarda dessas peças advogam, por exemplo,
3. O fato de uma considerável porcentagem de brasileiros não
que elas não encontrariam as condições de conservação ideais se
contar com saneamento básico reflete o problema habitacional
voltassem para o Egito. De qualquer forma, esta é uma problemá-
do país. Hoje, há um grande número de moradias construídas
tica que está longe de se resolver, pois extrapola interesses estri-
em condições precárias, muitas delas em situação irregular e
tamente culturais, envolvendo aspectos políticos e econômicos,
erguidas em áreas impróprias – geralmente invadidas e ocu-
como a detenção de fontes para o conhecimento, a construção
padas em loteamentos clandestinos –, sem aprovação ou con-
e o poder sobre o discurso histórico, a capacidade de atração de
trole do poder público. Essa situação tem raízes no processo
público para os museus, o poder de captação de recursos das insti-
tuições, o potencial turístico, etc. sofrido pela maioria das cidades médias e grandes do país nas
últimas décadas: o intenso fluxo migratório campo-cidade. Alia-
4. a) Podemos identificar as seguintes atividades: agricultura, arte- do a esse fator, mais recentemente observa-se um processo de
sanato e comércio. empobrecimento de parte da população da área urbana, que,
b) Mudanças: na agricultura egípcia, o uso da terra era baseado devido ao desemprego ou à perda de renda, abandona as re-
na servidão coletiva, enquanto no Brasil, em moldes capita- giões mais centrais das cidades, que em geral possuem maior
listas; no antigo Egito, o comércio era baseado nas trocas, infraestrutura, e desloca-se para zonas periféricas, em geral ain-
enquanto no Brasil atual o comércio possui base monetária. da carentes de obras de melhoria urbana. Quanto ao papel do
Permanências: o uso do arado com tração animal ainda sobre- poder público, a falta de planejamento e de políticas eficientes

14 GUIA DO PROFESSOR
que garantam os investimentos necessários constitui o principal Século XI – A região da antiga Pérsia é invadida pelos turcos.
fator que tem adiado a solução do problema. Século XIII – A região da antiga Pérsia é invadida pelos mon-
góis. Tempos depois, volta a ser governada por dinastias de
CAPÍTULO 6 – OS FENÍCIOS origem persa.
PARA PRATICAR – página 65 1935 – O país passa a se chamar Irã.
1. a. 2. a. 3. a. 2. a) De acordo com o texto, Ciro, com um pequeno exército de
persas, dominou diversos povos e venceu a Síria, a Arábia, a
PARA APRIMORAR – página 65 Fenícia, a Babilônia, etc.
1. b. b) Xenofonte relata no texto tanto a submissão pelo terror
como a aceitação pela admiração.
2. a) A existência de duas séries de remos e a amplitude da vela
içada sugerem que a embarcação era capaz de atingir uma ve- c) Podemos dizer que se trata de um relato positivo na medida
locidade bastante elevada para a época. Naturalmente, o uso em que o texto constrói a imagem de um líder bem-suce-
dos remos (da força física humana) não poderia se prolongar dido, que sabe usar tanto a força como a persuasão. Com-
por longos trajetos, mas servia para curtas distâncias. provam os trechos: “dominou os medos e hircanos, que es-
pontaneamente receberam o jugo”; “E de tal maneira soube
b) A preocupação notável com a velocidade, o espaço reduzido captar o amor dos povos, que todos queriam viver sujeitos
para armazenar produtos comerciais e a presença de uma às suas leis”; “fez dependentes de seu império tão grande nú-
saliência pontuda na proa (na frente) do navio sugerem que mero de reinos, que é dificultoso percorrê-los”.
se tratava de um navio com finalidades militares. Entre suas
principais atribuições estava a de defender as embarcações 3. a.
fenícias que transportavam mercadorias para serem comercia- PARA APRIMORAR – página 71
lizadas no mar Mediterrâneo.
1. c.
CAPÍTULO 7 – OS PERSAS 2. A religião persa denominada zoroastrismo tem seus fundamen-
tos registrados no Zend-Avesta, obra escrita por Zoroastro (628-
PARA PRATICAR – página 71 -551 a.C.), também conhecido como Zaratustra. Embora ofi-
1. Com base no estudo do capítulo, pode-se elaborar, entre outras, a cialmente apenas o grande deus Ahura-Mazdâ – simbolizado
seguinte linha do tempo: pela luz e pela pureza do fogo – fosse adorado, a população
cultuava divindades que personificavam as forças do bem em
2000 a.C. – Tribos nômades originárias da região da Ásia central constante luta contra o mal. Acreditava-se que quem comba-
e da Rússia atual instalam-se no planalto iraniano. Entre essas tesse as forças do mal alcançaria a felicidade e a vida eterna. A
tribos estão os medos e os persas. influência do zoroastrismo sobre o cristianismo está presente
nessa ideia de oposição entre o bem e o mal e nas ideias rela-
Século VII a.C. – Os medos são unificados por Déjoces, que se
cionadas ao juízo final e ao paraíso.
torna rei. Seu neto Ciaxares consolida o Império Medo e domi-
na os persas e outros povos.
CAPÍTULO 8 – OS HEBREUS
559 a.C. – Kurush (Ciro, em grego), bisneto de Ciaxares, unifica
as várias tribos persas. PARA PRATICAR – página 77
550 a.C. – Ciro é atacado pelo exército de seu avô, Astíages, 1. a) Segundo o texto, Moisés está oferecendo “as leis e os precei-
na região conhecida como Pasárgada. Ciro vence a batalha e tos” que o povo hebreu deveria seguir.
incorpora o reino dos medos ao território persa, dando início à b) Moisés afirma que esses mandamentos foram enviados por
Deus e que devem ser seguidos para que todos os outros
dinastia dos Aquemênida, nome do clã de seu pai. povos vejam a grandeza do povo hebreu e de seu Deus. As-
522 a.C. – Após a morte de Ciro e algumas disputas internas, sim, ao cumprirem leis tão justas, os hebreus seriam admira-
o líder Dario assume o poder e expande o Império Persa, do dos e respeitados.
qual passam a fazer parte cerca de 10 milhões de pessoas de c) Como visto no capítulo, a unidade do povo hebreu dependia
línguas, costumes e religiões diferentes. da crença em um único Deus e do respeito a um conjunto de
leis que dariam identidade e manteria a paz entre suas várias
514 a.C. – Dario, que já vinha sofrendo derrotas, perde ain- tribos. Além da finalidade religiosa, os textos bíblicos também
da mais força, especialmente quando decide direcionar suas traziam orientações de cunho moral e práticas sobre como
conquistas para a Europa. Nesse período, ocorrem as Guerras proceder nos assuntos cotidianos. Nesse trecho, Moisés argu-
Greco-Pérsicas, que culminaram com a derrota persa. menta que a grandeza e a sobrevivência cultural dos hebreus
dependia do respeito às leis divinas, entregues a ele por Deus.
331 a.C. – Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, que já do-
2. e.
minava a Grécia, derrota Dario III e conquista o Império Persa,
HISTÓRIA
pondo fim à dinastia Aquemênida. PARA APRIMORAR – página 77
642 d.C. – A Pérsia é conquistada pelos árabes e quase toda a 1. F – F – V – V – F
sua população se converte ao islamismo. 2. d.

Das cavernas às primeiras civilizações 15


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