Você está na página 1de 6

Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

As paisagens do meu lugar de vivência

Resumo: Este plano de aula foi desenvolvido a partir de uma atividade frequentemente compartilhada entre professores
pelas redes sociais. Tendo como referência a vista da janela do estudante e a percepção das paisagens cotidianas,
pretende-se construir, por meio de um estudo de caso, os conceitos de paisagem e lugar. Fazendo uso de uma abordagem
que parte do conhecimento empírico, o estudante será instigado a observar e descrever os elementos que compõem a
paisagem que o cerca. A técnica da entrevista e a elaboração de desenhos pretendem exercitar o olhar para o lugar de
vivência e, dessa maneira, instigar o estudante a refletir o seu lugar e sua identidade no mundo.

Aluisiane Kraisch 1A
1 - Discente do Mestrado em Ensino de Geografia - PROFGEO
Instituto Federal Catarinense - IFC
A - contato principal : aluisiane@gmail.com

1. Dados gerais

Nome da Escola: Escola Básica Municipal General Lúcio Esteves


Mantenedora da instituição: Secretaria Municipal de Educação (Blumenau/SC)
Ano letivo: 2022
Período letivo: 1º trimestre (fevereiro – abril)
Ano escolar: 6º ano do Ensino Fundamental
Componente curricular: Geografia
Modalidade: estudo de caso
Tempo da aula: 5 horas/aula

2. Introdução

As redes sociais se tornaram uma ferramenta colaborativa para a troca de ideias


e materiais didáticos entre os professores de diferentes componentes curriculares da
Educação Básica. Sugestões de sequências didáticas, jogos de cunho pedagógico e mapas
mentais são alguns dos exemplos de recursos e materiais pedagógicos disponibilizados ao
professor, seja por meio de colaboração ou venda, para serem incorporados a sua prática.
Esse plano de aula surgiu a partir de uma dessas ideias compartilhadas pelas redes
sociais intitulada “Paisagem da janela”. Dentre os materiais e ideias de sequência didática
que tratam das categorias de análise paisagem e lugar no ensino de Geografia optou-se por
adaptar a referida atividade aos estudantes do 6º ano da Escola Básica Municipal General
Lúcio Esteves. 
Partindo da problemática: “como percebo o lugar em que vivo?”, esse plano de aula
foi pensado enquanto um estudo de caso a partir da percepção das paisagens cotidianas e
tem como objetivo construir os conceitos de paisagem e lugar a partir da vista da janela, de
cada estudante. 
Cada lugar apresenta suas próprias características e traz em si uma identidade fruto
da sua forma e função e que são imprescindíveis na vida da sociedade humana. Desse
modo, “um lugar é sempre cheio de história e expressa/mostra o resultado das relações que
se estabelecem entre as pessoas, os grupos e também das relações entre eles e a natureza.”
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802 168
Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

(Callai, 2005, p. 8) A autora (2005, p. 12) ressalta também que ao “fazer a leitura da paisagem
pode ser uma forma interessante de desvendar a história do espaço considerado, quer dizer,
a história das pessoas que ali vivem.”
Cabe ressaltar que, uma janela pode oferecer a vista para algo, que não será
necessariamente a paisagem. A paisagem para a Geografia vai além de uma composição
puramente estética e visual. Engloba os sons, aromas e sentimentos, ou seja, elementos
não concretos que também fazem parte da paisagem. “O sujeito, pelos conhecimentos
geográficos, observa, assim, a paisagem, e ao fazê-lo, identifica a localização e a distribuição
dos objetos espaciais, percebe o arranjo espacial, que expressa distintos conteúdos”.
(SANTOS,1988 Apud CAVALCANTI, p. 48). 
Ao associar o conceito de paisagem à realidade do estudante, levando em consideração
suas experiências sociais, partiremos de uma abordagem filosófica empirista, que encontra
apoio em Locke (2000, p. 57) ao considerar que “Todo o nosso conhecimento está fundado
na experiência, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento” (grifo nosso).
Já a construção do conhecimento geográfico, se dará na perspectiva histórico-cultural
que, de acordo com Vigotski (1991), o estudante deve ter participação ativa no processo de
construção do seu conhecimento que é realizado com base na cultura e contexto de que ele
faz parte.
A concepção didático-pedagógica está embasada em Freire, quando sugere que, para
mediar a aprendizagem, não se deve “apagar” ou ignorar os conhecimentos preexistentes
elaborados pela leitura de mundo, mas se torna essencial levar em consideração a bagagem
que o estudante já traz consigo. (GADOTTI, 2004 apud FIALHO et al., 2014, p. 212). Embora
a pedagogia de Paulo Freire seja relacionada à educação de adultos, cabe salientar que seus
métodos, que levam em consideração a realidade do sujeito, quando aplicados à Geografia
escolar, permitem que o estudante tenha maior autonomia e consciência de si no processo
de aprendizagem.

3. Objetivos

Ao iniciar o 6º ano do Ensino Fundamental II, o estudante é apresentado a conceitos que


serão importantes instrumentos para auxiliar na análise do espaço geográfico. Dentre os
conceitos geográficos (espaço, lugar, paisagem, região, território e rede) este plano de aula
tem como objetivo construir os conceitos de paisagem e lugar tendo como referência a
janela do estudante. Para desenvolver o referido objetivo de ensino, nos baseamos na BNCC,
conforme o quadro a seguir:

Unidade temá- Objeto de co- Habilidades


tica nhecimento

O sujeito e seu Identidade so- (EF06GE01) Comparar modificações das


lugar no mundo ciocultural paisagens nos lugares de vivência e os
usos desses lugares em diferentes tempos.
 
Com o desenvolvimento dessa atividade espera-se que o estudante consiga:

- Compreender os conceitos de lugar e paisagem;


- Espacializar os elementos naturais e sociais presentes nas paisagens do seu lugar de
vivência;
169
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802
Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

- Reconhecer na paisagem do espaço de vivência a dinâmica da natureza e dos seres humanos


que nela vivem.

4. Sequenciamento das atividades

Após a apresentação prévia dos conceitos de paisagem e lugar aos estudantes sugere-
se que, durante a aplicação da sequência didática as atividades sejam divididas em 5
momentos, sendo:

1º momento: Observação empírica da paisagem. Solicitar aos estudantes, como


tarefa, que escolham uma janela de sua casa (que lhe permitam uma vista relativamente
ampla) e observem atentamente a paisagem a partir dela. As observações da paisagem
visualizada pelo estudante deverão ser registradas no caderno.  Oriente os estudantes que,
durante o exercício de descrição, além do olhar ativo, atentem também para os aspectos não
materiais que compõem a paisagem: ouvir os sons, sentir os aromas, perceber a circulação
das pessoas, ou seja, elementos não concretos que também fazem parte da paisagem.

2° momento: Entrevista. Em sala, o professor deverá orientar os estudantes para que


se sentem em duplas (caso a sala tenha número ímpar, forme um trio). Cada estudante
deverá entrevistar o seu colega a respeito da paisagem visualizada por ele. Para a realização
da entrevista sugere-se como perguntas:

• Qual janela (de qual cômodo da casa) você escolheu?


• A paisagem visualizada a partir de sua janela é predominante natural ou cultural?
• Quais os elementos que você enxerga a partir de sua janela? 
• Como esses elementos estão distribuídos?
• Quais os elementos invisíveis (sons, aromas e sentimentos) da paisagem?

A proposta de tempo para a realização da entrevista é de 5 a 10 minutos para cada


integrante da dupla.

3° momento: Desenho da paisagem descrita pelo colega. Após a realização da


entrevista, os integrantes deverão se separar para então desenhar a paisagem descrita
pelo colega. Solicitar aos estudantes que o desenho seja feito exclusivamente com base na
descrição da paisagem anotada pelo entrevistador. Orientar os estudantes para que não
mostrem o seu desenho para o estudante entrevistado. 
Ao desenhar um lugar a partir de uma descrição, as etapas 2 e 3 objetivam exercitar,
por meio da imaginação, a espacialização dos elementos naturais e culturais do espaço.

4° momento: Desenho da paisagem da janela. Nesse momento, cada estudante


deverá desenhar, com o máximo de elementos descritos por ele anteriormente, a paisagem
da janela escolhida na etapa 1. 

5° momento: Apresentação dos desenhos. As duplas deverão socializar os desenhos


feitos por eles. Para organizar a apresentação, o estudante entrevistador realiza a leitura
das informações obtidas por ele durante a entrevista. Depois, apresenta o desenho, produto
da entrevista. O estudante entrevistado deverá então mostrar o desenho de sua janela para
comparações. 

170
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802
Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

Neste momento, é importante que o professor oriente os estudantes sobre a


espacialidade dos fenômenos observados, O professor também pode instigar os estudantes
a falarem das relações estabelecidas entre sociedade e natureza no espaço que cerca a
paisagem descrita e desenhada por eles.
A aplicação da sequência didática permitirá ao professor conhecer melhor a turma e
os lugares onde os estudantes moram. Além de construir os conceitos de paisagem e lugar,
esse plano de aula poderá servir também como uma avaliação diagnóstica da turma. Por
conta disso, sugere-se que o processo avaliativo se dê de maneira qualitativa e ao longo das
etapas de desenvolvimento da sequência didática.

5. Considerações finais

Nesta etapa de Ensino Fundamental, o enfoque principal para desenvolver as


categorias de análise de “Paisagem” e “Lugar” deve ser o espaço de vivência do estudante.
Nessa perspectiva, as atividades de ensino pensadas pelo professor devem contribuir para: 

[...] a formação do conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva


da paisagem, que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a vivência dos indivíduos e
da coletividade; nas relações com os lugares vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória
social; na identidade cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos
outros e, por isso, convictos das nossas diferenças (BRASIL, 2017, p. 357).

Observar e descrever uma paisagem a partir de sua janela é um exercício que poderá
contribuir para o estudante começar a refletir o seu lugar e sua identidade. Nesse sentido, a
sequência proposta acima vai de encontro a Callai (2005, p. 18) quando diz:

Ao fazer um desenho de um lugar que lhe seja conhecido ou mesmo muito familiar, ela estará
fazendo escolhas e tornando mais rigorosa a sua observação. Poderá, desse modo, dar-se conta
de aspectos que não eram percebidos, poderá levantar novas hipóteses para explicar o que existe,
poderá fazer críticas e até encontrar soluções para as quais lhe parecia impossível contribuir.

Da mesma forma, espera-se que este plano de aula possa contribuir na construção
de uma consciência espacial do lugar de vivência desse estudante. Também é essencial
que outras atividades de ensino deem continuidade e aprofundamento aos conceitos de
paisagem e lugar, de maneira que o estudante possa se apropriar desses conceitos e instigar
seu pensamento espacial. 

6. Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino


fundamental. Cadernos CEDES, v. 25, p. 227–247, ago. 2005.

DE SOUZA CAVALCANTI, LANA. Mirar el paisaje con la mediación del pensamiento


geográfico: aprendizaje potente para el mundo contemporáneo. REIDICS. Revista de
Investigación en Didáctica de las Ciencias Sociales , v. 10, p. 42-58, 2022.

FIALHO, L. M. F.; MACHADO, C. J. DOS S.; SALES, J. Á. M. DE. As correntes do pensamento


geográfico e a Geografia ensinada no ensino fundamental: objetivos, objeto de estudo e a
171
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802
Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

formação dos conceitos geográficos. Educação em Foco, v. 17, n. 23, p. 203–224, 2014.

LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 2000

VIGOTSKI, LEV SEMIONOVICH. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1991.

172
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802
Volume 5 (2022) Revista Metodologias e Aprendizado

173
DOI: 10.21166/metapre.v5i.2802

Você também pode gostar