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EDUCAÇÃO
VOCÊ SABIA?
Que existem dicioná rios de política? O campo de estudo que envolve os
conhecimentos sobre “política” é bastante complexo, ambíguo e multifacetado.
Alé m disso, nem sempre os dicioná rios de uso comum trazem uma definiçã o
específica dos conceitos deste campo de estudos. Dentre os dicioná rios específicos
da á rea, um exemplo é o “Dicioná rio de Política”, escrito pelos sociólogos Norberto
Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino e publicado pela primeira vez em
1983.
Para Secchi (2014, p. 22), existe uma “política pú blica real quando incorpora a intenção de resolver um problema pú blico
com o conhecimento para resolvê-lo”. Por exemplo: a distribuição de preservativos gratuitos em parceria com o Sistema
Ú nico de Saú de (SUS) com o objetivo de controlar a AIDS, enquanto doença que apontava taxas crescentes na sociedade
brasileira.
As políticas pú blicas muitas vezes são criadas para solucionar conflitos ocasionados pelas desigualdades sociais,
econô micas e culturais que interferem diretamente na consolidação dos direitos de parte da população historicamente
excluída do acesso aos bens culturais e materiais. Nesse sentido, os movimentos sociais organizados contribuem para
pressionar o Estado a planejar e operacionalizar políticas pú blicas que atendam às reivindicaçõ es dos povos
subalternizados.
O Movimento Negro no Brasil é um dos bons exemplos de como a sociedade organizada pode lutar para que as políticas
pú blicas estejam em consonância com as demandas de uma população. Não à toa, este movimento teve papel decisivo
para que fosse criada a Lei n. 12.71/12. Também conhecida como Lei das Cotas, ela dispõ e sobre o ingresso nas
universidades federais e nas instituiçõ es federais de ensino técnico de nível médio e prevê, no mínimo, 50% das vagas
disponíveis para alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, provenientes de família de baixa renda (BRASIL, 2012).
Figura 1 - Dentre as conquistas dos movimentos sociais estão aquelas voltadas à igualdade racial.
Fonte: Elenabsl, Shutterstock, 2018.
A Lei 12.711 contribuiu para o enfrentamento das desigualdades raciais e econô micas no Brasil ao prever uma reserva de
vagas para estudantes cotistas. Percebe-se, portanto, a relevância das políticas pú blicas, na medida em que elas se
encontram profundamente ligadas às transformaçõ es pelas quais passam as sociedades.
São exatamente os problemas da sociedade em cada contexto histó rico que, ao provocarem insatisfação e busca por
melhores condiçõ es de vida social, podem se transformar em políticas pú blicas.
Outro caso importante de destaque é o movimento feminista. Se no início do século XX a luta era por direito a voto,
conquistado em 1932, hoje são outras demandas que emergem deste movimento, como a luta por igualdade salarial, o
direito ao aborto seguro e legal, e a luta contra a violência doméstica.
Figura 2 - O movimento feminista e a luta por igualdade de gênero.
Fonte: Shuttershock, 2019.
Assim, pode-se dizer que as políticas pú blicas se constituem em uma espécie de ponte entre uma situação real concreta,
que requer determinadas soluçõ es, a uma situação ideal na qual a problemática apontada esteja satisfatoriamente
resolvida.
Figura 3 - Representação do movimento das políticas pú blicas desde a identificação da problemática social à efetividade
das açõ es.
Fonte: Elaborada pela autora, 2019
Porém, as políticas pú blicas têm finalidades diferentes, de acordo com seu modelo e seu grupo de alcance. Ou seja, são de
tipologias distintas. Também não se pode dizer que elas sigam rigorosamente uma determinada classificação. Muitas
vezes elas são híbridas ou, ainda, se estruturam com as características de mais de um tipo. É importante que tenhamos
conhecimento do que caracteriza cada tipo de política pú blica, além de objetivos e metas a serem, por elas, alcançadas.
Nesse sentido, Lowi (1972), ao considerar dois critérios – o impacto da política na sociedade e o espaço onde os conflitos
sociais são negociados –, fez a seguinte classificação das políticas pú blicas que poderão ser vistas clicando nos botõ es a
seguir:
Distributivas
São aquelas políticas que destinam bens ou serviços para uma determinada
parcela da sociedade, porém com a utilização dos recursos de toda a
sociedade. Este tipo de política pode ser assistencialista, clientelista ou
destinada a assegurar direitos sociais. Exemplos: seguro-desemprego,
criação de creches e escolas, pavimentação de estradas, entre outras.
Redistributivas
São políticas que, assim como as distributivas, são destinadas a parcelas
específicas da sociedade. No entanto, os recursos alocados não são
provenientes da sociedade como um todo, mas, sim, de outros grupos
específicos. Exemplos: programa habitacional para pessoas de baixa renda,
reforma agrária.
Regulató rias
São políticas que regulam comportamentos e condutas sociais. São as mais
fáceis de ser identificadas, posto que as encontramos com bastante
frequência em nossos cotidianos. Elas traçam limites entre o que pode e o
que não pode ser feito e especificam as condiçõ es. Elas se apresentam sob a
forma de decretos, portarias e normatizaçõ es. Exemplos: leis de trânsito,
legislação trabalhista, Có digo Florestal.
Constitutivas
Essas políticas são também chamadas de constitucionais ou estruturadoras,
na medida em que são elas que estipulam as condiçõ es formais para as
demais políticas. São políticas balizadoras dos marcos legais a serem
respeitados por todos os outros tipos de políticas. Exemplo: Constituição
Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Có digo Eleitoral.
Agora que você já sabe o que são políticas pú blicas, seus diferentes tipos e funçõ es, conhecerá a trajetó ria das políticas
desde a formulação do texto legal à consolidação das políticas educacionais.
Política proposta
Se refere à política oficial e envolve não apenas as intencionalidades do governo, mas, também, os setores
interessados no campo da educação no qual a política vai intervir. Aqui, inclui-se assessores, escolas, lobistas,
burocratas, enfim, todos aqueles que estariam encarregados de implementar a política.
•
Política de fato
Conforme Ball e Bowe (1992), a arena constituída pela política de fato é formada pelos textos políticos e
textos legislativos que, na verdade, servem como balizadores políticos para que a política possa ser colocada
em prática. São os textos que apontam o que pode ser feito, em quais condiçõ es e para quais finalidades.
Política em uso
É o termo usado para referir-se aos discursos e às açõ es institucionais que ocorrem no processo em que, de
fato, as políticas serão implementadas, ou seja, colocadas em prática.
Posteriormente, Ball e Bowe (1992) fazem uma reflexão crítica sobre o modelo que haviam proposto como referencial
para análise das políticas educacionais. Dessa forma, identificam que se fazia necessário retirar a fixidez presente no
esquema analítico que haviam proposto, na medida em que essas três arenas – política proposta, política de fato e política
em uso – não apresentavam relaçõ es entre si.
Observe a ilustração a seguir.
Vê-se, portanto, que, neste primeiro momento, as arenas que constituem a trajetó ria das políticas pú blicas educacionais
não se relacionam entre si. Mostram-se estáticas, lineares e se apresentam como se funcionassem em etapas. Isso porque,
para estes autores, os sujeitos que atuam na prática interferem na arena de formulação das políticas. Por consequência,
Ball e Bowe (1992) rejeitam qualquer modelo de análise política que separe as dimensõ es entre o planejamento e a prática
das políticas.
Na leitura de Mainardes (2006, p.50): “Os autores indicam que o foco da análise de políticas deveria incidir sobre a
formação do discurso da política e sobre a interpretação ativa que os profissionais que atuam no contexto da prática fazem
para relacionar os textos da política à prática.” Dito de outra forma, na análise das políticas é preciso considerar as práticas
de resistências, de negociaçõ es, de interpretaçõ es que as pessoas que atuam na prática, no chão das escolas, fazem dos
textos legais que a elas são dirigidos.
Nesse sentido, Ball e Bowe (1992) vão propor um ciclo contínuo formado por três dimensõ es inter-relacionadas: contexto
de influência, contexto da produção de texto e contexto da prática.
Observe a figura a seguir e veja que, quando comparada com a imagem anterior, as análises das políticas pú blicas ganham
outra compreensão. Agora, todos os contextos, ainda que mantenham suas singularidades, possuem zonas de inter-
relaçõ es entre si.
Dessa forma, é possível compreender que as políticas pú blicas para a educação não acontecem de forma verticalizada,
estática e linear. Ao contrário, obedecem a fluxos contínuos que abarcam os contextos da influência nos quais as políticas
são planejadas; o contexto da produção do texto em que as políticas são formalizadas; o contexto da prática no qual as
políticas são recriadas, e não simplesmente implantadas.
Assim, você já está apto para analisar as políticas educacionais que regem o seu cotidiano como estudante, como
professor/a ou como pessoa interessada no campo das políticas educacionais.
Lei n. 4.024/61
Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (BRASIL, 1961).
Lei n. 5.540/1968
Fixa normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média, e dá outras
providências (BRASIL, 1968).
Lei n. 5.692/1971
Fixa diretrizes e bases para o Ensino de 1o e 2o graus, e dá outras providências (BRASIL, 1971).
Decorridos dez anos da promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1961), o
governo do Regime Militar (1964-1985), buscando organizar a educação brasileira em sintonia com a ordem social e
econô mica vigente no período ditatorial, cria uma nova lei com o objetivo de ajustar a LDBEN existente.
Em termos de Ensino Superior, as mudanças foram feitas por meio da Lei n. 5.540/1968, também chamada de Lei da
Reforma Universitária (BRASIL, 1968). E em 1971, para adaptar o então Ensino Primário e o Ensino Médio à nova ordem
econô mica brasileira, a Lei n. 5.692/1971 alterou estes níveis, que passaram a ser denominados de Ensino de 1o e de 1o
Graus, respectivamente. Esta lei determinou um novo quadro organizativo para o ensino nacional, conforme observamos
no quadro a seguir.
Quadro 1 - Síntese da estrutura e organização da educação brasileira na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
segundo a Lei no 5.692/1971.
Fonte: Elaborado pela autora, 2019, baseada em BRASIL, 1971.
A legislação educacional da Ditadura Militar, instaurada no Brasil em 1964, se estendeu até o início da então chamada
transição democrática, ou seja, o período que transitou do fim da ditadura ao início de um regime político democrático.
Importante saber que, de acordo com a literatura educacional, compreende-se, como Ditadura Militar, o período em que o
governo esteve sob o controle do regime militar (1964-1985). Chama-se de período de redemocratização da sociedade
brasileira o período de transição ocorrido entre o fim do regime militar e a instauração do regime democrático, que teve
como marco histó rico e político a aprovação da Constituição Federal de 1988.
VOCÊ QUER VER?
O período histórico marcado pela mudança do regime político que antecedeu a
Ditadura Militar, consolidada como forma de governo durante 21 anos, constitui-se em
um momento social, político e econômico que explicita as transformações ocorridas na
sociedade brasileira em todas as suas dimensões. Nesse sentido, Cabra marcado para
morrer (1984) – importante documentá rio com roteiro e direçã o de Eduardo Coutinho
– possibilita que você acompanhe esses cená rios e suas implicações.
Assim, no período da chamada redemocratização nacional, que teve como marco de consolidação democrática a
Constituição da Repú blica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, cresceu a pressão por parte de
diferentes segmentos sociais que reivindicavam maior participação popular nas tomadas de decisõ es no país. Foi a partir
da necessidade de uma mudança estrutural na educação brasileira, em consonância com as mudanças políticas do país,
que a atual LDB foi promulgada em 20 de dezembro de 1996.
A Lei n. 9.394/1996 é a terceira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e está vigente até os dias de hoje. Com
ela, garantiu-se a educação pú blica gratuita e universal e um percentual mínimo para investimento pú blico em educação
por parte das diferentes esferas administrativas (federal, estadual e municipal). Determinou-se, também, a duração do ano
letivo em 200 dias e 800 horas, além de um currículo mínimo comum para o ensino fundamental. Veremos mais sobre a
LDB a seguir.
Quando o homem sente a necessidade de intervir nesse fenô meno [educação] e erigi-lo em sistema, então ele
explicita sua concepção de educação enunciando os valores que a orientam e as finalidades que preconiza,
sobre cuja base se definem os critérios de ordenação dos elementos que integram o processo educativo. E
surgem as distinçõ es: ensino [como transmissão de conhecimentos e habilidades], escolas [como locais
especialmente preparados para as atividades educativas], articulação vertical e horizontal [graus e ramos] etc.
(SAVIANI, 1999, p. 120).
Saviani (1999) argumenta ainda que, na modernidade, o Estado é quem tem legitimidade para criar leis que estejam a
serviço da sociedade; por efeito, só faria sentido falar em sistema na esfera pú blica. Segundo o autor: “Por isso as escolas
particulares integram o sistema quando fazem parte do sistema pú blico de ensino, subordinando-se, em consequência, às
normas comuns que lhes são pró prias. Assim, é só por analogia que se pode falar em ‘sistema particular de ensino’”.
(SAVIANI, 1999, p. 21, grifos do autor)
Agora que você já compreendeu melhor a noção de sistema, sua provável emergência nas legislaçõ es e suas recorrentes
utilizaçõ es nos discursos educacionais, conhecerá, de forma específica, os sistemas de ensino na estrutura educacional
brasileira ou, concordando com Saviani (1999), as redes de ensino que compõ em o sistema educacional brasileiro.
De acordo com a LDBEN, a educação escolar compreende: educação básica e educação superior. Por sua vez, a educação
básica é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio (BRASIL, 1996). Voltaremos já a este
assunto.
Observe a representação a seguir.
E como ficam as modalidades de ensino? De acordo, com a LDBEN a Educação a Distância, a Educação Especial, Educação
Profissional e a Educação de Jovens e Adultos devem ser trabalhadas de forma transversal aos níveis da Educação Básica,
respeitando suas singularidades (BRASIL, 1996). Ou seja, as modalidades de educação, embora não estejam entre os níveis
de ensino, atravessam toda a educação básica. Sua aplicabilidade dependerá das demandas educacionais.
Observe o exemplo no caso a seguir.
CASO
Mariana, comerciá ria de 35 anos de idade, havia concluído o Ensino Mé dio antes de
casar e ter seus trê s filhos. Por necessidade de melhorar seu desempenho no
trabalho e galgar postos maiores na empresa em que trabalha, pensou em fazer um
curso superior em Ciê ncias Contá beis. Conversou com a família e com os colegas de
trabalho, ficando animada com a possibilidade de progredir nos estudos e qualificar-
se profissionalmente.
Mariana buscou saber quais seriam suas chances de alcançar seu objetivo. Para tanto,
foi à Secretaria Estadual de Educaçã o de sua cidade e pediu orientações aos
profissionais que lá estavam. Perguntou: será que tenho alguma chance de fazer a
graduaçã o que tanto quero? Já possuo o Ensino Mé dio completo, mas aqui nã o há
universidades ou faculdades onde eu possa cursar. E agora? O que devo fazer?
Diante disso, as professoras lhe orientaram informando que existem muitos cursos na
modalidade Educaçã o a Distâ ncia, ofertados por diversas instituições credenciadas
pelo Ministé rio da Educaçã o (MEC), as quais garantem graduações qualificadas.
Agora que você já conhece os sistemas de ensino, vale chamar a atenção para a seguinte assertiva: lembra-se que a LDBEN
preconiza que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem trabalhar seus sistemas de ensino em Regime
de Colaboração? A seguir, você entenderá o que são práticas colaborativas.
Estas dificuldades podem ser pensadas pela tensão existente entre os movimentos de centralização e descentralização e a
forma de colaboração ou relacionamento entre a União e os demais entes federados. Nesse sentido, a Carta Magna de 1988
redesenhou a organização educacional presente na Constituição de 1946, estruturada pelos sistemas federais e estaduais
de ensino, ao atribuir aos municípios a prerrogativa de construírem seus sistemas de ensino sem que haja necessidade,
inclusive, da aprovação dos estados. No entanto, a consolidação desse tripé político-administrativo, na perspectiva da
gestão democrática, passa pela possibilidade de que se efetive de forma plena a colaboração recíproca entre os entes
federados.
Figura 7 - A educação democrática e inclusiva proporciona aos alunos o acesso às novas tecnologias de informação e
comunicação.
Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
Nesta direção, pode-se dizer que o processo de discussão sobre o Regime de Colaboração tem centrado seus esforços na
busca por encontrar formas que garantam sua efetividade, a partir da articulação de práticas colaborativas, materializadas
por relaçõ es de reciprocidade entre as três esferas da administração pú blica, como modo de acelerar a inclusão social de
todos por meio do protagonismo do setor educacional.
Dessa maneira, temos um grande desafio pela frente se quisermos, por um lado, respeitar as diversidades regionais, suas
culturas e tradiçõ es e, por outro, promover uma educação nacional que assegure a igualdade de acesso aos conhecimentos
científicos para todas as regiõ es brasileiras, através de uma educação com qualidade socialmente referendada.
Constituiçã o de 1824
Constituiçã o de 1891
Constituiçã o de 1934
Constituiçã o de 1937
Constituiçã o de 1946
Constituiçã o de 1967
Estas constituiçõ es retratam um percurso histó rico importante do Brasil, pois elas datam de períodos distintos do nosso
país: desde o Império, passando pelo princípio da repú blica, os períodos ditatoriais, chegando até a Constituição vigente,
de 1988.
Vamos acompanhar o percurso da educação como um direito que se vincula ao princípio da dignidade da pessoa humana e
se constitui como fundamento do Estado Brasileiro?
Acesse a galeria de arte interativa e visite os quadros sobre a histó ria das Cartas Magnas do país, de 1824 até a atual, de
1988.
Agora que você visitou a galeria de arte das constituiçõ es, vamos retomar pontos importantes.
Nossa primeira Carta Maior é a Constituição de 1824, que garantiu o ensino primário a todos os cidadãos brasileiros.
Atribuiu que sua realização ocorresse preferencialmente pelas famílias e pela igreja, bem como a criação de colégios e
universidades para o ensino de Ciências, Artes e Letras. De acordo com a análise de Anísio Teixeira (1969), podemos
afirmar que na Constituição de 1824 não havia, enquanto poder constitucional, atribuiçõ es claras das competências sobre
o direito à educação. Por meio de legislação ordinária, a educação foi descentralizada, mas apenas o ensino superior foi
privilegiado em detrimento dos demais níveis de ensino.
VOCÊ O CONHECE?
Anísio Teixeira é um dos principais pensadores brasileiros. Intelectual orgâ nico e
comprometido com as questões sociais e políticas contemporâ neas à sua é poca, Anísio
fez parte de movimentos políticos voltados à consolidaçã o da educaçã o pú blica,
gratuita e obrigatória. Foi també m um dos educadores que mais questionou as formas
pelas quais as redes de escolas se estruturavam e se organizavam em relaçã o ao
ensino. Defensor da necessidade de formar professores articulados com as prá ticas
escolares, Anísio Teixeira deixou-nos um importante legado para o campo da educaçã o
brasileira. Para conhecer sua biografia e sua obra, acesse o endereço:
<https://www.ebiografia.com/anisio_teixeira/>.
A Constituição de 1891 foi a nossa segunda Carta Magna. Nela, o direito à educação encontra-se presente em dois de seus
artigos: 35 e 72. Uma das modificaçõ es que se identifica diz respeito à descentralização das atividades de ensino na União
e nos Estados. A Lei Maior estabelece ser do Congresso a competência do desenvolvimento das letras, artes e ciências.
Estabelecem o ensino laico ministrado em instituiçõ es oficiais.
Identifica-se na Constituição de 1934 avanços significativos para a consolidação de uma educação pú blica com
qualidade, posto que disciplinou a previsão de recursos orçamentários para os estabelecimentos pú blicos de ensino e,
inclusive, para pessoas pertencentes às classes economicamente desfavorecidas e com dificuldades de acesso ao ensino,
incluindo as instituiçõ es pú blicas.
Decorridos três anos, outra Lei Maior é promulgada: Constituição de 1937. Também chamada de Constituição do Estado
Novo (1937-1945), retira o caráter democrático e inclusivo prescrito na Constituição de 1934. Estabelece distinçõ es entre
as escolas para as elites e as escolas para as classes trabalhadoras. Manteve a gratuidade do ensino primário e tornou
obrigató rio a educação física, o ensino cívico e os trabalhos manuais nos currículos escolares. Tornou facultativo o ensino
religioso.
A Constituição de 1946 pode ser entendida como resultado de um cenário nacional e internacional que caracterizou o
fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No Brasil, os anos de 1946 e de 1947 foram marcados por muitos conflitos
sociais resultantes de reivindicaçõ es trabalhistas. Em termos de educação, esta Carta Magna tende a recuperar a gratuidade
do ensino tal como havia sido prescrita na Constituição de 1934. No entanto, a gratuidade no ensino perdeu seu caráter
mais amplo e passou a ser restrita apenas para as pessoas que comprovassem baixa renda.
A quinta foi a Constituição de 1967. Esta Carta Magna contribuiu para disciplinar os princípios da educação e da
legislação de ensino. Conforme o Art. 176, “A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de
liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na escola” (BRASIL, 1967).
Retirou o caráter amplo de gratuidade ao ensino na medida em que propô s meios de substituir a gratuidade do ensino por
distribuição de bolsas de estudos atreladas ao bom desempenho dos estudantes.
A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, que resulta do Estado de Exceção provocado pelo Golpe Militar de
1964, altera de forma severa a Constituição de 1967. Entre as medidas da EC-1, a “liberdade de cátedra” que assegurava a
pluralidade de ideias e de concepçõ es político-pedagó gicas, no exercício do magistério, foi substituída pela “liberdade de
comunicação de conhecimentos”, ou seja, controlou a liberdade de expressão ao campo dos conhecimentos científicos que
compõ em os currículos escolares. O regime político ditatorial vivido pelo país, neste período, ao fazer esta mudança no
texto constitucional, acabou por tornar legal o controle e a censura do que podia ser dito nas salas de aulas. Em outras
palavras, censurou os discursos nas instituiçõ es escolares e acadêmicas.
Figura 8 - A censura da liberdade de expressão foi imposta pela Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969.
Fonte: AR Images, Shutterstock, 2018.
Como você pô de constatar, a trajetó ria do direito à educação nos textos constitucionais apresentados até aqui mostram
com clareza que a educação, por um lado, sempre foi objeto de disciplinamento nas Constituiçõ es Brasileiras. Por outro
lado, no entanto, identifica-se que a educação enquanto direito fundamental sofreu avanços e retrocessos, especialmente
quando analisadas como um direito para todos, independentemente de credos, classes econô micas, etnias, raças e
culturas.
1983-1984 – O movimento da sociedade organizada, que ficou conhecido como “Diretas já”, reivindicava eleiçõ es diretas
para Presidente da Repú blica.
VOCÊ SABIA?
De modo simples, pode-se dizer que o “Diretas Já” foi formado por um conjunto
de comícios realizados nas principais capitais brasileiras. Obteve alcance nacional
e mundial por meio da cobertura da mídia, em especial das redes de TV. Ocorreu
entre 1983 e 1984 e, certamente, foi uma das mais expressivas manifestações
populares de reivindicaçã o pela democracia social e civil.
1985 – Tancredo Neves, apoiador do movimento de redemocratização brasileira, é conduzido ao cargo de Presidente da
Repú blica sem votação popular, sendo eleito pelo Colégio Eleitoral. Ele, que seria o nosso primeiro presidente civil apó s o
período da Ditadura Militar, não chegou a assumir, pois faleceu às vésperas da posse. Assume então seu vice, José Sarney,
que deu prosseguimento ao processo de redemocratização no Brasil.
1986 – São realizadas eleiçõ es diretas para o poder Legislativo, ou seja, Senado e Câmara dos Deputados.
Figura 9 - O processo constituinte, envolvendo diferentes segmentos da sociedade, resultou na promulgação da
Constituição de 1988, que assegurou direitos sociais e civis fundamentais.
Fonte: Bakhtiar Zein, Shutterstock, 2018.
1987 – Os congressistas (deputados e senadores) então eleitos são convocados para formar a Assembleia Nacional
Constituinte com o objetivo de elaborar uma nova Constituição.
1988 – Promulgação da Constituição Cidadã.
Conclusão
Ao concluir este estudo, você conheceu as relaçõ es estabelecidas entre Estado e sociedade e suas principais implicaçõ es
para a educação, de forma geral, e para as políticas educacionais, de forma específica. Compreendeu que a atual legislação
educacional mantém correlaçõ es com as demandas sociais que caracterizam cada período histó rico vivido pela sociedade
brasileira. E, ainda, identificou os principais dispositivos legais que regem a educação nacional e que tem na Constituição
de 1988 a sua Lei Magna.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender o que são políticas públicas e suas funções sociais, políticas
e legais;
• conhecer os tipos de políticas existentes e seus impactos na sociedade;
• entender o percurso das políticas educacionais desde sua formulação até
sua implantação;
• identificar os movimentos que ocorrem no Ciclo de Políticas;
• perceber a estrutura e organização da educação brasileira prescrita pela
Lei de Diretrizes e Bases n. 4.024/1961; na Lei n. 5.692/1971 e na Lei n.
9.394/1996;
• diferenciar sistemas e modalidades de ensino;
• compreender o que é Regime de Colaboração e quais suas principais
funções para a educação brasileira;
• acompanhar, nas Constituições brasileiras, o percurso do direito à
educação por meio dos textos legais.
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