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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

IRIS SILVA DE OLIVEIRA

ARQUITETURA SOCIAL: CONCEITO, EXPERIÊNCIA E PRÁTICA NO


CONJUNTO FREI DAMIÃO, EM ARAPIRACA – AL

ARAPIRACA
2022
IRIS SILVA DE OLIVEIRA

ARQUITETURA SOCIAL: conceito, experiência e prática no Conjunto Frei Damião,


em Arapiraca – AL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – UFAL,
campus Arapiraca, como requisito à obtenção
do grau de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Karloni da Cruz

Coorientadora: Prof.ª Ma. Renata Torres


Sarmento de Castro Cavalcante.

Arapiraca
2022
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
Biblioteca Campus Arapiraca - BCA

O48a Oliveira, Iris Silva de


Arquitetura social: conceito, experiência e prática no Conjunto Frei Damião, em
Arapiraca – AL / Iris Silva de Oliveira. – Arapiraca, 2022.
199 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Karloni da Cruz.


Coorientadora: Prof.ª Ma. Renata Torres Sarmento de Castro Cavalcante
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo.) -
Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Arapiraca, 2022.
Disponível em: Universidade Digital (UD) – UFAL (Campus Arapiraca).
Referências: f. 170-177.
Apêndices: f. 178-199

1. Habitação 2. Inadequação de domicílios 3. Arquitetura social 4. Moradia. 5.


Arquitetura de habitação I. Cruz, Marcelo Karloni da. II. Cavalcante, Renata Torres
Sarmento de Castro III. Título.

CDU 72

Bibliotecário responsável: Gerlane Costa Silva de Farias


CRB - 4 / 1802
IRIS SILVA DE OLIVEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal de Alagoas/Campus
Arapiraca, como parte dos requisitos para
obtenção do Grau de Bacharel em Arquitetura
e Urbanismo.

Data de Aprovação: 09/02/2022.

Banca Examinadora

________________________________________________________
«Titulação_1» «Orientador»
Universidade Federal de Alagoas
Campus Arapiraca
(Orientador)

___________________________________________________________
«Titulação_3» Renata Torres Sarmento de Castro
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Coorientadora)

Prof. Dra. Elisabeth de Albuquerque Cavalcanti Duarte Gonçalves


Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Examinadora)

Prof. Ma. Josiane Nascimento Andrade


Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Examinadora)

Mariana Estevão de Souza Moraes


CEO da ONG Soluções Urbanas
(Examinadora)
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu bom Deus, que me sustentou até aqui, dando paciência,
discernimento e forças para continuar quando pensei em desistir. Ele que é dono de
toda honra e toda glória, e que não desampara os seus, tocou sobre minhas fraquezas
e me guardou até aqui.
A minha família, que sempre esteve ao meu lado. Aos meus pais, João e Irene,
que nunca deixaram nos faltar nada, em especial a minha mãe, que fez de tudo para
dar uma educação de qualidade para mim e meus irmãos. Aos meus irmãos, Igor e
Yasmim, que me inspiram a ser uma pessoa melhor a cada dia. A minha prima-irmã
Simone, a dona dos melhores conselhos, sempre disponível para me ouvir e ajudar.
Ao meu marido Lucas, que me apoiou, acreditou que eu era capaz, foi paciente,
compreensivo, amoroso e esteve ao meu lado em todos os momentos, independente
das circunstâncias. Agradeço muito a Deus por ter me dado você como companheiro
de vida.
Aos meus sogros, Sr. Costa e Dona Rose, por sempre me incentivarem,
torcerem e orarem por mim. São uma grande inspiração.
Aos meus amigos da faculdade Carla, Isabel, Jaíres, Karine e Marcelo, o meu
grupo Coxinha. Obrigada pelas risadas, pelas conversas e por todos os momentos
partilhados juntos. Os dias na UFAL não seriam os mesmos sem vocês. Obrigada por
acreditarem em mim, mais do que eu mesma, sou muito feliz por poder contar com
vocês.
As minhas amigas do IFAL, Camila e Carol, por todo apoio e incentivo, sempre
me lembrando do quão longe posso chegar e me motivando a continuar. Já são longos
anos de amizade, e graças a Deus por isso.
A todos os meus professores, do ensino fundamental, do ensino médio e da
faculdade. Agradeço por todos os ensinamentos, os conselhos e momentos
partilhados. Todos, sem exceção, tiveram uma contribuição para que eu pudesse
chegar até aqui. E aos que um dia torceram por mim, essa conquista também é de
vocês.
Agradeço também ao Professor Edler e à Professora Simone Romão, por terem
dado início à orientação deste trabalho, obrigada pela paciência e disponibilidade.
Agradeço ao meu atual orientador Professor Marcelo Karloni e à minha coorientadora
Professora Renata Torres, por todas as correções, orientações e tempo
disponibilizado para me ajudar a finalizar com êxito este estudo. Sou grata também à
Paula Zacarias, do ONU-Habitat, e ao Allan Oliveira, da RENOVA, por todo tempo e
informações disponibilizadas.
Por último, agradeço à Dona C.M.C, moradora que recebeu o projeto de
melhoria habitacional, e sua família por estarem sempre dispostos a colaborar com o
que fosse preciso, por me receberem bem e aceitarem fazer parte deste trabalho.
“Deus está nos detalhes” (Ludwig Mies van der
Rohe)
RESUMO

Possuir uma moradia digna e adequada é um direito humano, mas ainda é uma
realidade distante para muitos brasileiros. Segundo uma pesquisa realizada pela
Fundação João Pinheiro (FJP), em 2019 o déficit habitacional qualitativo, que
corresponde à quantidade de famílias que vivem em casas que precisam passar por
reformas, foi de 24.894 milhões de moradias. Esse vasto número de habitações
inadequadas deve-se principalmente à produção de moradias a partir da
autoconstrução. O processo autoconstrutivo acontece quando o próprio morador
constrói ou reforma a sua casa, sem as orientações de um arquiteto e/ou engenheiro.
A Lei 11.888/08, ou Lei de assistência técnica para habitação de interesse social
(ATHIS), surge como forma de assessorar a autoconstrução e proporcionar
habitações de melhor qualidade, assim como também existem outras formas de
prestar serviços de arquitetura e urbanismo a pessoas que não podem pagar pelo
serviço. O objetivo geral deste trabalho é prestar assessoria técnica desenvolvendo
um projeto de reforma a nível de estudo preliminar para uma família da Comunidade
Frei Damião, localizada em Arapiraca – AL, que possua uma casa autoconstruída.
Dentro dos procedimentos metodológicos, realizou-se uma pesquisa bibliográfica
sobre projetos de arquitetos e engenheiros que prestassem assistência e assessoria
técnica a famílias de baixa renda, no intuito de compreender suas metodologias.
Depois, selecionou-se uma casa autoconstruída dentro da comunidade de estudo,
estabeleceu-se contato com a família e, assim, foram realizados levantamentos de
dados da casa escolhida, com anotações de todas medidas importantes e registros
fotográficos de todos os espaços, e uma entrevista com a líder da família escolhida, a
fim de obter-se as informações para elaborar um programa de necessidades que
atendesse às necessidades dos moradores de acordo com a realidade estudada. O
resultado obtido foi um projeto de melhorias habitacionais divido em etapas, com
soluções pontuais, possíveis de serem executadas e que venham a proporcionar
qualidade de vida a partir do ambiente construído. Também foram estudadas
estratégias que a família pode vir a adotar futuramente para possibilitar a execução
da obra. Assim, este trabalho espera evidenciar a importância da arquitetura social
para a sociedade e inspirar que estudos voltados ao tema sejam desenvolvidos em
outras comunidades da região. Democratizar o acesso à arquitetura e tornar a moradia
adequada um direito garantido, deve ser uma luta constante entre as classes de
arquitetos e engenheiros.

Palavras-chave: moradia adequada; inadequação de domicílios; autoconstrução;


arquitetura social; assistência técnica em habitação de interesse social; melhoria
habitacional.
ABSTRACT

Having decent and adequate housing is a human right, but it is still a distant reality for
many Brazilians. According to a survey carried out by the João Pinheiro Foundation
(FJP), in 2019 the qualitative housing deficit, which corresponds to the number of
families living in houses that need to be renovated, was 24,894 million homes. This
vast number of inadequate housing is mainly due to the production of housing from
self-construction. The self-construction process happens when the resident himself
builds or renovates his house, without the guidance of an architect and/or engineer.
Law 11,888/08, or the Technical Assistance Law for Social Housing (ATHIS), appears
as a way of advising on self-construction and providing better quality housing, as well
as there are other ways of providing architecture and urban planning services to people
who cannot pay for the service. The general objective of this work is to provide
technical assistance to a family from the Frei Damião Community, located in Arapiraca
- AL, which has a self-built house, developing a renovation project at the preliminary
study level. Within the methodological procedures, architects and engineers who
provided assistance and technical advice to low-income families, in order to
understand their methodologies, carried out a bibliographic research on projects.
Afterwards, a self-built house was selected within the study community, contact was
established with the family and, thus, data surveys were carried out on the chosen
house, with notes of all important measurements and photographic records of all
spaces, and a interview with the leader of the chosen family, in order to obtain the
information to develop a needs program that would meet the needs of the residents
according to the reality studied. The result was a housing improvement project divided
into stages, with punctual solutions, possible to be executed and that will provide
quality of life from the built environment. Strategies that the family may adopt in the
future were also studied to enable the execution of the work. Thus, this work hopes to
highlight the importance of social architecture for society and inspire studies on the
subject to be developed in other communities in the region. Democratizing access to
architecture and making adequate housing a guaranteed right must be a constant
struggle between the classes of architects and engineers.

Keywords: adequate housing; inadequate housing; self-building; social architecture;


technical assistance in social housing; housing improvement.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Passos para categorizar um domicílio particular permanente urbano


inadequado................................................................................................................ 32
Figura 2 - Percentual de pessoas que construíram/ reformaram utilizando ou não de
serviços de arquitetos e/ou engenheiros ................................................................... 35
Figura 3 - Percentual de pessoas que construíram/ reformaram utilizando ou não de
serviços de arquitetos e/ou engenheiros por região do Brasil ................................... 35
Figura 4 - Planta baixa de uma “casa embrião" ........................................................ 36
Figura 5 - Croqui da planta baixa da habitação ‘G’, desenhado pelo morador .......... 37
Figura 6 - Plantas baixas dos pavimentos térreo e superior da habitação ‘G’ depois
de construída............................................................................................................. 38
Figura 7 - Casa autoconstruída pelo morador B e seu sogro (pedreiro) ................... 40
Figura 8 - Quarto de casal da casa ‘E’ ...................................................................... 41
Figura 9 - Parede com infiltração e mofo .................................................................. 46
Figura 10 - Laje com infiltração devido à má impermeabilização .............................. 46
Figura 11 - Casas autoconstruídas em local sem saneamento básico ..................... 46
Figura 12 - Casas com lajes sem guarda-corpo ........................................................ 47
Figura 13 - Linha do tempo dos marcos históricos relacionados à assistência técnica
em habitação de interesse social (ATHIS) ................................................................ 49
Figura 14 - Projeto de Conjunto Habitacional de Interesse Social 2D +1D ............... 66
Figura 15 - Planta de cobertura, planta baixa do pavimento térreo e planta do
segundo pavimento com ampliação do Projeto 2D +1D............................................ 66
Figura 16 - Capa do ‘Manual para Implantação da Assistência Técnica Pública e
Gratuita a Famílias de Baixa Renda para Projeto e Construção de Habitação de
Interesse Social’ ........................................................................................................ 69
Figura 17 - Proposta de funcionamento para um projeto de ATHIS .......................... 70
Figura 18 - Capa da Cartilha “ATHIS - Assistência Técnica de Habitação de
Interesse Social: um direito e muitas possibilidades” ................................................ 71
Figura 19 - Iniciativas de ATHIS no Brasil em 2021 .................................................. 72
Figura 20 -Linha do tempo de experiências relacionadas à ATHIS ........................... 73
Figura 21 - Logo da ONG Soluções Urbanas. ........................................................... 75
Figura 22 - Pilares para a realização de obras .......................................................... 76
Figura 23 - Mural com critérios sugeridos pela comunidade ..................................... 77
Figura 25 - Mapa de riscos de uma casa .................................................................. 79
Figura 26 - Diagnósticos das inadequações e intervenções mais recorrentes .......... 80
Figura 27 - Betoneira comprada em conjunto pela comunidade ............................... 81
Figura 28 - Estratégias de viabilização econômica para obras ................................. 81
Figura 29 - Site para realização de Crowdfunding .................................................... 82
Figura 30 - Imagens das feiras de trocas solidárias e das telhas ecológicas ............ 83
Figura 31 - Obras por empreitada ............................................................................. 83
Figura 32 - Obra realizada em mutirão ...................................................................... 84
Figura 33 - Reforma completa com recursos de subsídio e mão de obra contratada
pela ONG .................................................................................................................. 85
Figura 34 - Reforma de banheiro com recursos da Feira de Troca Solidária com mão
de obra do autoconstrutor ......................................................................................... 85
Figura 35 - Reforma de banheiro com recursos de subsídio e mão de obra por
empreitada ................................................................................................................ 86
Figura 36 - Corte AA’ do projeto de reforma da cada da Jayana .............................. 88
Figura 37 - Equipe de obra em frente à casa da moradora Jayana. ......................... 88
Figura 38 - Antes e depois de reforma de casa completa. ........................................ 89
Figura 39 - Reforma de banheiro. ............................................................................. 89
Figura 40 - Antes de depois da construção do elevador ........................................... 90
Figura 41 - Logo da ONG Construide. ....................................................................... 92
Figura 42 - Requisitos de seleção de famílias da ONG Construide. ......................... 92
Figura 43 - Módulos do projeto da casa padrão ........................................................ 93
Figura 44 - Exemplo de planta de layout da casa padrão opção 1............................ 94
Figura 45 - Modelagem 3D da casa padrão opção 1. ............................................... 94
Figura 46 - Custos gerais das casas padrão opção 1 e 2 (41m²). ............................. 95
Figura 47 - Formas de doação para a ONG Construide. ........................................... 95
Figura 48 - Página da loja Construide Store.............................................................. 95
Figura 49 - Voluntários da ONG Construide ajudando .............................................. 96
Figura 50 - Família do Sr. Nelson em frente a sua antiga casa................................. 97
Figura 51 - Cozinha da casa antiga do Sr. Nelson. ................................................... 97
Figura 52 - Fachada posterior da casa antiga do Sr. Nelson. ................................... 97
Figura 53 - Fachada da casa do Sr. Nelson .............................................................. 99
Figura 54 - Cozinha da casa do Sr. Nelson .............................................................. 99
Figura 55 - Acesso principal a casa do Sr. Nelson .................................................... 99
Figura 56 - Área de serviço da casa do Sr. Nelson ................................................... 99
Figura 57 - Living da casa do Sr. Nelson .................................................................. 99
Figura 58 - Living da casa do Sr. Nelson .................................................................. 99
Figura 59 - Dormitório de casal da casa do Sr. Nelson ........................................... 100
Figura 60 - Dormitório de casal da casa do Sr. Nelson ........................................... 100
Figura 61 - Dormitório das filhas e neta da casa do Sr. Nelson .............................. 100
Figura 62 -Dormitório das filhas e neta da casa do Sr. Nelson ............................... 100
Figura 63 - Logo da CODHAB ................................................................................. 101
Figura 64 - Eixos do Programa Habita Brasília. ...................................................... 101
Figura 65 - Postos de atendimento do Programa Habita Brasília............................ 102
Figura 66 - Etapas do Programa Melhorias Habitacionais ...................................... 104
Figura 67 - Intervenções realizadas pelo Programa Melhorias Habitacionais ......... 105
Figura 68 - Reforma da Dona Luiza e do Senhor Francisco ................................... 106
Figura 69 - Nova casa da Dona Dinalva .................................................................. 107
Figura 70 - Logo do Escritório RENOVA – Soluções em habitação ........................ 108
Figura 71 - Kit banheiro - reforma entregue ............................................................ 110
Figura 72 - Kit Cozinha - antes da reforma ............................................................. 110
Figura 73 - Kit Cozinha - reforma entregue ............................................................. 110
Figura 74 - Kit Lazer - durante a reforma ................................................................ 110
Figura 75 - Kit Lazer - reforma entregue ................................................................. 110
Figura 76 - Logo do Projeto Vida Nova nas Grotas ................................................. 111
Figura 77 - Distribuição das grotas ocupadas em Maceió Fonte: CAU/BR (2021). . 111
Figura 78 - Melhorias habitacionais feitas a partir do Vida Nova nas Grotas .......... 113
Figura 79 - Localização da cidade de Arapiraca dentro do estado de Alagoas ....... 117
Figura 80 - Assentamentos precários de Arapiraca em 2014. ................................ 120
Figura 81 - À esquerda, imagens da favela do caborje, antes da remoção. À direita,
imagens de satélite em 2001 (em vermelho habitações que foram removidas) e
imagens da área em 2020, com a obra já concluída. .............................................. 121
Figura 82 - Bosque das Arapiracas ......................................................................... 122
Figura 83 - Localização das ZEIS dentro da cidade de Arapiraca........................... 130
Figura 84 - Localização do bairro Canafístula em Arapiraca. .................................. 132
Figura 85 - Localização da Comunidade Frei Damião ............................................ 133
Figura 86 - Pavimentação em paralelepípedos sem manutenção........................... 134
Figura 87 - Rua de barro com buracos .................................................................... 134
Figura 88 - Lixo com comida espalhado na rua ....................................................... 134
Figura 89 - Entulhos espalhados pela rua. .............................................................. 134
Figura 90 - Água de esgoto escoando na rua ......................................................... 135
Figura 91 - Água da chuva empoçada .................................................................... 135
Figura 92 - Calçadas com objetos interrompendo a passagem .............................. 135
Figura 93 - Calçada estreita e com desníveis ......................................................... 135
Figura 94 - Localização dos principais problemas de infraestrutura da comunidade
................................................................................................................................ 136
Figura 95 - Serviços comunitários e públicos frequentados pela família da líder
comunitária .............................................................................................................. 137
Figura 96 - Planta de layout da casa da Dona C.M.C. ............................................ 140
Figura 97 - Localização da varanda ........................................................................ 141
Figura 98 - Fachada frontal da casa da Dona C.M.C. ............................................ 141
Figura 99 - Varanda da casa da Dona C.M.C. ........................................................ 141
Figura 100 - Localização da sala de estar ............................................................... 141
Figura 101 - Sala de estar da casa da Dona C.M.C. ............................................... 141
Figura 102 - Sala de estar da casa da Dona C.M.C. ............................................... 141
Figura 103 - Localização da sala de jantar .............................................................. 142
Figura 104 - Sala de jantar da casa da Dona C.M.C. .............................................. 142
Figura 105 - Localização do quarto 1 ...................................................................... 142
Figura 106 - Quarto 1 da casa da Dona C.M.C. ...................................................... 142
Figura 107 - Quarto 1 da casa da Dona C.M.C. ...................................................... 142
Figura 108 - Localização do quarto 2 Fonte: Autora (2021). ................................... 142
Figura 109 - Quarto 2 da casa da Dona C.M.C.- vista 1 ......................................... 142
Figura 110 - Quarto 2 da casa da Dona C.M.C.- vista 2 ......................................... 142
Figura 111 - Localização da cozinha ....................................................................... 143
Figura 112 - Cozinha da casa da Dona C.M.C. ....................................................... 143
Figura 113 - Cozinha da casa da Dona C.M.C. ....................................................... 143
Figura 114 - Localização do banheiro ..................................................................... 143
Figura 115 - Banheiro da casa da Dona C.M.C. ..................................................... 143
Figura 116 - Banheiro da casa da Dona C.M.C....................................................... 143
Figura 117 - Localização da área de serviço ........................................................... 143
Figura 118 - Área de serviço da casa da Dona C.M.C. ........................................... 143
Figura 119 - Corredor lateral da casa da Dona C.M.C. ........................................... 143
Figura 120 - Contrapiso da casa ............................................................................. 144
Figura 121 - Escora na linha da cumeeira ............................................................... 144
Figura 122 - Ponto de luz no centro da casa da Dona C.M.C. ................................ 145
Figura 123 - Ponto de luz entre o quarto 1 e a sala de estar................................... 145
Figura 124 - Planta baixa atual da casa .................................................................. 147
Figura 125 - Planta de coberta atual ....................................................................... 149
Figura 126 - Corte AA' ............................................................................................. 150
Figura 127 - Corte BB' ............................................................................................. 150
Figura 128 - Proposta de layout para a Associação comunitária da Comunidade .. 151
Figura 129 - Planta de demolir/ construir da etapa 2 ............................................... 152
Figura 130 - Cortes AA' e BB'.................................................................................. 153
Figura 131 - Cobogó construído a partir de tijolos espaçados ................................ 153
Figura 132 - Proposta de layout para o banheiro, área de serviço e cozinha ......... 154
Figura 133 - Planta de demolir/ construir da etapa 3 ............................................... 156
Figura 134 - Cortes CC' e DD' ................................................................................. 157
Figura 135 - Proposta para o novo layout ............................................................... 158
Figura 136 - Planta de demolir/ construir da etapa 4 ............................................... 159
Figura 137 - Estudo de incidência de ventilação e iluminação natural .................... 160
Figura 138 - Planta de demolir/ construir final ......................................................... 161
Figura 139 - Planta baixa da proposta geral ........................................................... 162
Figura 140 - Planta humanizada da proposta final ................................................. 163
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Condições a serem consideradas para garantir o direito à moradia


adequada .................................................................................................................. 27
Quadro 2 - Síntese dos Indicadores do Déficit Habitacional no Brasil em 2019 ....... 31
Quadro 3 - Síntese dos indicadores da inadequação domiciliar................................ 31
Quadro 4 - Indicadores de uma moradia insalubre da Organização Mundial de Saúde
(OMS) ........................................................................................................................ 44
Quadro 5 - Estratégias de viabilização selecionadas a partir dos estudos de caso 115
Quadro 6 - Diretrizes propostas pela NBR 15220-3 (Zona 8) e pelas metodologias de
Givoni e Mahoney Nebuloso para Arapiraca ........................................................... 118
Quadro 7 - Conjuntos habitacionais de interesse social de Arapiraca ................... 122
Quadro 8 - Contribuições da Lei 2.220/01 ............................................................... 124
Quadro 9 - Objetivos específicos do plano diretor participativo do município de
Arapiraca ................................................................................................................. 126
Quadro 10 - Objetivos específicos do PLHIS .......................................................... 128
Quadro 11 - Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) ....................................... 129
Quadro 12 - Quadro de esquadrias existentes ........................................................ 148
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução dos investimentos em habitação .............................................. 64


Gráfico 2 - Unidades habitacionais contratadas no PMCMV em 2009 ...................... 64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AT Assistência Técnica
ATHIS Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social
ATME Assistência Técnica à Moradia Econômica
BNH Banco Nacional de Habitação
CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo
CODHAB Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito
Federal
CONCIDADES Conselho das Cidades
CREA/RS Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos
EMAU Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo
FCP Fundação Casa Popular
FECOEP Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza
FEJEA Federação de Empresas Juniores Alagoana
FENEA Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e
Urbanismo do Brasil
FJP Fundação João Pinheiro
FNA Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas
FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

HIS Habitação de Interesse Social


IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organizações Não Governamentais
ONU-Habitat Programa das Nações Unidas para os Assentamentos
Humanos
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PIDESC Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais
PLANHAB Plano Nacional de Habitação
PLHIS Plano Local de Habitação de Interesse Social
PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida
PNDU Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
RRT Registro de Responsabilidade Técnica
SAERGS Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul
SEDES Secretaria de Desenvolvimento Social
SEDUH Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação
SEINFRA Secretaria de Estado da Infraestrutura
SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
SETRAND Secretaria de Estado de Transporte e Desenvolvimento Urbano
SFH Sistema Financeiro da Habitação
SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social
SUS Sistema Único de Saúde
UNIT Centro Universitário Tiradentes
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 20

2 A ARQUITETURA SOCIAL ......................................................................... 25

2.1 O DIREITO À MORADIA ADEQUADA ......................................................... 25

2.2 O PROCESSO AUTOCONSTRUTIVO ........................................................ 30

2.3 ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ........ 48

3 PROJETOS DE ASSESSORIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM


HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ................................................................... 68

3.1.1 Projetos no Brasil ....................................................................................... 74

3.1.1.1 ONG Soluções Urbanas: Projeto Arquiteto de Família ................................. 74

3.1.1.2 ONG Construide ........................................................................................... 91

3.1.1.3 CODHAB: Melhorias Habitacionais ............................................................ 100

3.1.2 Projetos em Alagoas ................................................................................ 107

3.1.2.1 RENOVA – Soluções em habitação ........................................................... 107

3.1.2.2 Vida nova nas grotas .................................................................................. 111

3.1.3 Estratégias de viabilização econômica e de gestão de obra ................ 115

4 A SITUAÇÃO DAS HABITACÕES DE INTERESSE SOCIAL EM


ARAPIRACA ........................................................................................................... 117

4.1 ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS E CONJUNTOS HABITACIONAIS DE


INTERESSE SOCIAL .............................................................................................. 119

4.2 LEGISLAÇÃO VIGENTE NO MUNICÍPIo .................................................. 123

4.2.1 Código de Obras e Edificações do Município de Arapiraca – Lei n.º


2.220/2001 .............................................................................................................. 123

4.2.2 Política Municipal de Habitação de Arapiraca........................................ 125

4.2.3 Plano Diretor Participativo do município de Arapiraca, Lei 2.424/06 ... 126

4.2.4 Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) ......................... 127

4.3 BAIRRO CANAFÍSTULA E A COMUNIDADE FREI DAMIÃO ................... 131


5 METODOLOGIA: A FAMÍLIA, A CASA E AS CONDICIONANTES ........ 138

5.1 A FAMÍLIA DA DONA C.M.C. ................................................................... 138

5.2 LEVANTAMENTO TÉCNICO-FOTOGRÁFICO DA CASA ....................... 139

6 ARRUMANDO A CASA: PROJETO DE MELHORIA HABITACIONAL . 146

6.1 O PROJETO ............................................................................................. 146

6.1.1 Etapa 1 – Conserto do telhado .............................................................. 148

6.1.2 Etapa 2 – Construção da sede temporária da Associação comunitária


da Comunidade Frei Damião ................................................................................ 150

6.1.3 Etapa 3 – Construção do banheiro com caixa d’água e da lavanderia, e


alocação da pia da cozinha .................................................................................. 154

6.1.4 Etapa 4 – Melhorias habitacionais para adequar a casa ao layout


proposto ................................................................................................................. 157

6.1.5 Etapa 5 – Assentamento de revestimento cerâmico no piso de toda a


casa e pintura interna e externa........................................................................... 164

6.2 ESTRATÉGIAS DE VIABILIDADE ECONÔMICA E DE GESTÃO DE


OBRA.......................................................................................................................164

6.2.1 Autoconstrução assistida ...................................................................... 164

6.2.2 Mutirão..................................................................................................... 164

6.2.3 Crowdfunding ......................................................................................... 165

6.2.4 Arrecadação de doação de materiais de construção .......................... 165

6.2.5 Regularização fundiária a partir da parceria do CAU com a Defensoria


Pública 165

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 167

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 170

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ALLAN OLIVEIRA, CEO DA RENOVA ....... 178

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM PAULA ZACARIAS, ANALISTA DE


PROGRAMAS DO ONU-HABITAT E CONSELHEIRA TITULAR DO CAU-AL ..... 184
APÊNDICE C – ENTREVISTA COM DONA C.M.C., MORADORA CONTEMPLADA
COM O PROJETO DE MELHORIA HABITACIONAL E PRESIDENTE DA
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE FREI DAMIÃO ................. 192

APÊNDICE D – PLANTA BAIXA ATUAL, QUADRO DE ESQUADRIAS ATUAL,


PLANTA DE COBERTA ATUAL, CORTE AA' DA ETAPA 1, CORTE BB' DA ETAPA
1, PLANTA DEMOLIR/ CONSTRUIR DA ETAPA 2, CORTE AA' DA ETAPA 2,
CORTE BB' DA ETAPA 2, PLANTA DEMOLIR/ CONSTRUIR DA ETAPA 3, CORTE
CC' DA ETAPA 3, CORTE DD' DA ETAPA 3, PLANTA DEMOLIR/ CONSTRUIR DA
ETAPA 4, PLANTA DE LAYOUT DA PROPOSTA GERAL, PLANTA DEMOLIR/
CONSTRUIR DA PROPOSTA GERAL, PLANTA BAIXA DA PROPOSTA GERAL
.................................................................................................................................199
20

1 INTRODUÇÃO

Viver em uma moradia digna e adequada ainda é uma realidade distante para
muitos brasileiros, mesmo sendo um direito que deve ser assegurado pelo Estado
(PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS - PIDESC, 1966). Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação João
Pinheiro (FJP), em 2019 o déficit habitacional quantitativo brasileiro, quantidade de
famílias que precisam de uma casa nova, foi de 5.877 milhões de moradias. Já o déficit
habitacional qualitativo (inadequação de domicílios), que corresponde à quantidade
de famílias que vivem em casas que precisam passar por reformas, foi de 24.894
milhões de moradias. Analisando tais dados, nota-se que o número de pessoas
precisando de novas casas para morar é preocupante, mas que a quantidade de
famílias que vivem em moradias inadequadas é quatro vezes maior. São habitações
sem energia elétrica, abastecimento de água ou sem um banheiro exclusivo, por
exemplo. Entre as cinco regiões do País, o Nordeste é a que possui maior número de
domicílios inadequados. Filtrando esses dados em relação a Alagoas, são mais de
500 mil famílias morando em habitações com algum tipo de incoerência (FJP, 2021).
O problema das más condições habitacionais existe desde o período pós-
abolição, quando os negros não tinham condições de morar nos centros das cidades
e precisavam ocupar favelas, geralmente em áreas de risco físico ou sem
infraestrutura básica e adequada para se viver (BARRETO, 2021). Com a pandemia
da Covid-19 1 o tema foi resgatado para debate. Em meio a uma crise sanitária e
financeira, muitas pessoas tiveram que sair de onde estavam e ir morar na periferia
da cidade, onde o custo de vida é menor, mas também onde falta saneamento urbano,
água encanada, banheiro dentro de casa e, assim, onde a propagação do vírus ocorre
mais rapidamente (BARBOSA; NEIS, 2020).

1A COVID-19, doença infecciosa causada por um coronavírus recém-descoberto, teve início no Brasil
em fevereiro de 2020. Os principais sintomas são febre, tosse seca, cansaço, dores no corpo, dor de
garganta, diarreia, dor de cabeça e perda de paladar e/ou olfato. A doença afeta diferentes pessoas de
maneiras distintas, podendo ocorrer desde de forma assintomática até levar a óbito. A transmissão
pode ocorrer a partir do contato com gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou
exala. Até o dia 19 de agosto de 2021, foram registrados mais de 20,5 milhões de casos e mais de 572
mil mortes pela doença.
21

Antes do Coronavírus, milhões de pessoas já viviam em condições precárias


de moradia, sem acesso à água potável e saneamento básico. Em 2020, elas
se juntaram a outros milhões que perderam sua renda. Para essas pessoas,
seguir as recomendações da organização Mundial da Saúde – “Fique em
casa”, “Lave bem as mãos”, “Alimente-se bem para reforçar a imunidade” –
não é tão simples quanto parece (HABITAT PARA A HUMANIDADE BRASIL,
2020).

São nas periferias das cidades onde prevalece a falta de infraestrutura urbana
e, geralmente, o adensamento de casas inadequadas. Esse vasto número de
habitações com alguma incoerência deve-se principalmente à produção de moradias
a partir da autoconstrução. O processo autoconstrutivo acontece quando o próprio
morador constrói ou reforma a sua casa, seja sozinho ou com ajuda de pedreiro e
familiares, geralmente levantadas em terrenos ilegais ou sem infraestrutura
(MARICATO, 1979). É a maneira que grande parte da população tem de conseguir
um lugar para morar.

A arquitetura autoconstruída é uma forma de moradia muito presente na


população de baixa renda e já chega a ser o modo predominante de se morar
no Brasil, por isso a qualidade de vida que estas moradias proporcionam à
população é de extrema importância (WATRIN, 2003).

Habitações autoconstruídas sem assistência técnica, ou seja, sem a orientação


de um arquiteto ou engenheiro, estão sujeitas a vários problemas. Além da produção
de casas irregulares, de má qualidade e com soluções arquitetônicas pouco eficazes,
ainda existe o risco de um gasto superior ao esperado. A prática da autoconstrução é
enraizada como tradicional em algumas classes sociais, fazendo com que as pessoas
se acomodem a esse tipo de processo construtivo e não procurem por outras
soluções. Em outros casos, sabe-se da necessidade de um profissional capacitado
que faça o projeto e vistorie a obra, mas não se pode pagar por tal serviço.
A Lei 11.888, ou Lei de assistência técnica para habitação de interesse social
(ATHIS), surge como forma de assessorar a autoconstrução e proporcionar
habitações de melhor qualidade. Criada em 2008, garante assistência técnica pública
e gratuita a famílias de baixa renda2, para o projeto e a construção de habitação de
interesse social. Ela surgiu como resultado de várias lutas lideradas por muitos
profissionais, para que o direito à moradia adequada fosse assegurado às populações

2 Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDES), são caracterizadas como famílias de


baixa renda aquelas que possuem renda familiar total de até três salários mínimos ou que possuem
renda mensal por pessoa de até meio salário mínimo (SEDES, 2021).
22

mais pobres. Ainda é uma lei pouco conhecida por parte da população e dificilmente
implementada pelas prefeituras (CAU/BR, 2017). Mas, mesmo diante da ineficiente
atuação dos órgãos públicos e da falta de repasse de verbas, existem profissionais da
área de Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil que atuam prestando esse tipo de
auxílio.
O ponto principal da discussão é o acesso à habitação de qualidade através da
assistência e assessoria técnica em casas autoconstruídas. Como atuar com
arquitetura social em meio à falta de recursos, em uma comunidade com famílias de
baixa renda, de forma a obter um resultado final possível, viável e satisfatório?
A motivação para a elaboração dessa pesquisa veio através da inquietação da
autora deste trabalho quanto às inúmeras habitações inadequadas que são
construídas sem a assessoria de um arquiteto, juntamente com o seu desejo de
analisar as possíveis formas de se atuar com arquitetura social. Com a disseminação
dessa temática, outros estudantes e/ou profissionais de Arquitetura e Urbanismo
poderão despertar interesse para trabalharem com o tema, ampliando a rede de
atuação em ATHIS e criando a possibilidade de outras comunidades carentes serem
beneficiadas com uma arquitetura acessível.
O objetivo geral deste trabalho é prestar assessoria técnica desenvolvendo um
projeto de reforma a nível de estudo preliminar para uma família da Comunidade Frei
Damião, localizada em Arapiraca – AL, que possua uma casa autoconstruída. Quanto
aos objetivos específicos que se espera alcançar, são:
a) Pesquisar conceitos e marcos históricos relacionados à arquitetura social, mais
precisamente à assessoria e assistência técnica em habitação de interesse
social (ATHIS);
b) Selecionar projetos de referência em atuação em assessoria e assistência
técnica em habitação de interesse social, de acordo com suas metodologias
utilizadas;
c) Relatar a realidade atual da Comunidade Frei Damião;
d) Desenvolver um projeto de reforma de uma casa autoconstruída para uma
família da Comunidade Frei Damião.

Quanto aos procedimentos metodológicos adotados para alcançar os objetivos


propostos, foram: pesquisa bibliográfica; workshop “ATHIS para melhorias
habitacionais”; entrevista com pessoas que atuam com assessoria técnica; escolha
23

do objeto de estudo; levantamento de campo na comunidade; entrevista com a líder


comunitária; levantamento de dados da casa que irá receber o projeto de reforma,
obtendo-se todas as medidas importantes e registros fotográficos de todos os
espaços; e entrevista com a família contemplada com o projeto de melhoria
habitacional.
A pesquisa bibliográfica exploratória qualitativa foi realizada em trabalhos
acadêmicos, periódicos (revistas), livros, páginas de websites, vídeos online (lives e
vídeos do Youtube), webnários e entrevistas. Os assuntos pesquisados foram
relacionados aos conceitos de arquitetura social, moradia adequada, autoconstrução
e assistência técnica em habitação de interesse social. Também foram pesquisadas
experiências práticas de projetos que atuam com assessoria e assistência técnica em
habitação de interesse social, em que a partir da análise das metodologias que essas
utilizavam, foram escolhidas cinco para serem estudadas mais afundo. Houve ainda
a participação no workshop “ATHIS para melhorias habitacionais”, ministrado pela
Arquiteta e Urbanista Mariana estevão, CEO da ONG Soluções Urbanas. Ademais,
também foram realizadas entrevistas com representantes de algumas dessas
experiências: com a Paula Zacarias do Projeto Vida Nova nas Grotas (ver Apêndice
A), e com o Allan Oliveira do escritório RENOVA (ver Apêndice B). Todos os
procedimentos adotados ajudaram a embasar e deixar ainda mais coesa a revisão
bibliográfica deste trabalho.
Após a introdução, o segundo capítulo aborda sobre a moradia adequada como
direito social e sobre como a não garantia desse contribui para o crescimento do déficit
habitacional brasileiro e do processo autoconstrutivo. Discorre também sobre os
marcos históricos e legais da ATHIS. O terceiro expõe experiências de assessoria e
assistência técnica em habitação de interesse social, que possuem sucesso com seu
trabalho, em nível nacional e regional.
O quarto capítulo traz uma contextualização da situação das habitações de
interesse social de Arapiraca, segunda maior cidade do estado de Alagoas. Mostra
quais são seus instrumentos legais relacionados à habitação e como esses estão
sendo implementados, da mesma forma que revela qual o nível de conhecimento da
prefeitura em relação à Lei 11.888/08 e se existem ou existiram ações voltadas à
ATHIS no município. Traz ainda uma apresentação do objeto de estudo: a
Comunidade Frei Damião.
24

O quinto capítulo apresenta a família escolhida para ser selecionada com o


projeto, bem como o motivo dela ter sido selecionada. Expõe os dados do
levantamento da casa, como esse foi realizado, e também o programa de
necessidades da família, criado a partir das informações obtidas na entrevista. Além
disso, traz as condicionantes ambientais, legais e funcionais do local estudado. O
sexto capítulo contém a proposta do projeto de reforma, realizado a nível de estudo
preliminar, em que a partir do entendimento da demanda da família foram sugeridas
mudanças para a casa existente, a fim de criar espaços mais arejados, confortáveis e
com melhor organização de layout.
Por fim, nas considerações finais foram apresentados os pontos positivos e as
dificuldades encontradas durante a execução deste trabalho, assim como possíveis
sugestões para continuação do estudo.
25

2 A ARQUITETURA SOCIAL

Entende-se por Arquitetura Social ou pública como a prática de desenvolver


projetos, planejar espaços e construir moradias para famílias de baixa renda. Nela, o
objetivo principal é tornar a arquitetura acessível para todos, utilizando-se do
conhecimento técnico para promover qualidade de vida a partir da habitação
(UGREEN, 2019).
A importância da criação e manutenção de sistemas de arquitetura e
engenharia públicas parece evidente, diante de um país em que não só as
capitais dos estados, mas praticamente todas as áreas urbanas convivem
com números inaceitáveis em termos de déficit habitacional e com a
urbanização desordenada realizada sem orientação técnica adequada
(BRASIL, 2006).

2.1 O DIREITO À MORADIA ADEQUADA

Antes de adentrar na moradia adequada como direito, é necessário o termo


moradia seja conceituado. Moradia é todo lugar em que o homem possa habitar de
forma contínua, podendo haver discrepâncias na qualidade dela dependendo da
classe social que a família esteja inserida (REIS, 2018). Schweizer e Junior (1997)
citam que, no Brasil, as palavras casa e habitação são usadas como sinônimas da
palavra moradia, representando um local destinado para se abrigar e realizar
atividades.
Alejandro Aravena, arquiteto chileno reconhecido mundialmente pela sua
atuação em habitação social, afirma que a “habitação não é apenas um refúgio para
se proteger do meio ambiente, das intempéries, mas uma ferramenta para superar a
pobreza” (CODHAB, 2018, p. 352). Mariana Estevão também faz a ressalva de que,
“se a gente quer uma sociedade melhor, a gente não pode ignorar a forma como as
pessoas moram, a moradia precária, pois é o berço da família” (CAU/BR, 2021b).
A moradia faz parte dos direitos contidos no artigo 6º da Constituição Federal,
garantidos desde 1988. Sua inserção no artigo citado ocorreu a partir da emenda
constitucional nº 26, de 14 de fevereiro de 2000, conforme a redação em seu Art. 1º:

Art. 1º O art. 6º da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte


redação:
26

"Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o


lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição." (NR)
[...] (BRASIL, 2000).

O direito à habitação também é abordado no Art. 25 da Declaração Universal


dos Direitos Humanos (DUDH), documento de grande importância elaborado por
representantes de diferentes regiões do mundo proclamado pela Assembleia Geral
das Nações Unidas:

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si


e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário,
habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à
segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou
outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (ONU,
1948, p. 13).

Ter um lugar digno onde morar é uma das necessidades básicas de todo ser
humano. O lar é símbolo de sobrevivência, de refúgio, de segurança, de resistência e
estabilidade. É ter onde se proteger das intempéries, onde comer, dormir, ter onde
aprender os primeiros valores e desenvolver suas principais habilidades. Ao possuir
uma moradia, dá-se início ao processo de integração social do indivíduo,
possibilitando-o sentir-se parte da sociedade em que habita.
É natural do homem possuir necessidades para obter qualidade de vida.
Algumas delas são fundamentais e imprescindíveis como a saúde, alimentação,
educação e a habitação também é uma delas. Ter uma casa para morar, com
condições habitáveis e uma infraestrutura básica, é o crucial para o indivíduo ter o
mínimo de dignidade humana. Esta última é um dever que Estado precisa garantir,
conforme o Artigo 1º da Constituição Federal:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
democrático de direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
[...] (BRASIL,1988).

O direito humano à moradia passou ainda a ser reconhecido por tratados e


documentos internacionais, como o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
27

Sociais e Culturais (PIDESC, 1996), o qual foi deliberado pelo Brasil através do
Decreto 591, de 06 de julho de 1992 (FREITAS, 2015). O Art. 11 do PIDESC, tratado
multilateral adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, afirma que também é
direito humano o acesso não só à moradia, mas a uma moradia adequada:

§1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda


pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família,
inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma
melhoria contínua de suas condições de vida. Os Estados-partes tomarão
medida apropriadas para assegurar a consecução desse direito,
reconhecendo, nesse sentido, a importância essencial da cooperação
internacional fundada no livre consentimento (PIDESC, 1966).

Assim sendo, a moradia não deve ser vista apenas como um local para se
abrigar, mas também como um lugar em que a família possa morar adequadamente
com dignidade. Segundo o Comentário nº 4 do Comitê sobre os Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, uma moradia adequada pode ser definida de acordo com as
seguintes características (Quadro 1):

Quadro 1 - Condições a serem consideradas para garantir o direito à moradia adequada

Fonte: OHCHR apud ONU-Habitat (2020).

O acesso à moradia adequada mostra que além de ter um lugar para morar
que atenda às necessidades básicas da família, também é preciso ter condições para
se permanecer dignamente naquele local. Tal direito abrange estratégias para diminuir
o déficit habitacional quantitativo e qualitativo, focando nos grupos mais vulneráveis e
marginalizados, sem discriminação.
28

A garantia desse direito deve partir de várias frentes. “Essas medidas exigem
a intervenção governamental em vários níveis: legislativo, administrativo [...] O
governo torna-se o facilitador das ações de todos os participantes na produção e na
melhoria das habitações” (BRASIL, 2013). O Estado tem o dever e responsabilidade
de desenvolver e colocar em prática políticas públicas habitacionais eficazes, que
atendam às reais necessidades das famílias mais vulneráveis de forma igualitária. Os
municípios, por sua vez, também devem assumir sua parcela de responsabilidade
quanto promover o direito à moradia, assim como o combate à pobreza e à
marginalização. Segundo o Artigo 23º da Constituição Federal, assim como a União,
o Estado e o Distrito Federal, os municípios também precisam estar envolvidos
ativamente nos planos de melhorias habitacionais:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios:
[...] IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das
condições habitacionais e de saneamento básico; X - combater as causas
da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social
dos setores desfavorecidos; [...] (BRASIL, 1988).

Para isso, os Municípios precisam dispor de um Plano Diretor3 e de um Plano


Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS)4, como ferramentas de apoio para sua
atuação. É a legislação local que atende às reais necessidades da população,
garantindo uma melhor qualidade de vida e fazendo com que a propriedade urbana
cumpra sua função social. As propriedades precisam atender ao perfil econômico das
famílias de baixa renda, bem como se adaptar à cultura da comunidade.
Assim, é preciso que haja reivindicação e luta para que o direito à moradia digna
e adequada seja assegurado, como traz CUT BRASIL (2009, p. 4):

O direito não significa teoria, um conjunto de conhecimento que explica


determinado fato, mas é uma força impetuosa que produz luta. E apenas
através dela que se dá vida ao direito. Nenhuma grande conquista, nem
mesmo uma pequena, se concretiza de outra forma.

A população beneficiada precisa estar engajada na busca por seus direitos,


lutando para garantir o que é concedido por lei. É preciso estar à frente das lutas

3 O Plano Diretor é o documento-base de orientação da política de desenvolvimento dos municípios


brasileiros, os quais possuam mais de 20 mil habitantes. Este está previsto segundo a Lei 10.257/01,
conhecida como Estatuto da Cidade (BLUME, 2018).
4 Instrumento para a formulação e implementação de políticas habitacionais locais que garantam o

acesso à moradia digna.


29

sociais, juntar-se a grupos de mesmo interesse e reivindicar por cidades mais dignas,
com menos desigualdades sociais e cujo direito à moradia seja garantido.
Os profissionais da área da construção civil precisam assumir e exercer suas
funções sociais, mas nada impede que profissionais de outras áreas (geógrafos,
assistentes sociais, psicólogos, geólogos, entre outros) também contribuam com essa
luta. Reivindicar pelos direitos dos mais necessitados, buscar metodologias para
colocar em prática a legislação vigente e contribuir com seus conhecimentos
científicos, precisam ser exercícios a serem colocados em execução. Habitar é um
direito e uma necessidade.
Como ressalta o CAU/SC (2018, p. 28), “a moradia é um vetor de inclusão
social. Assim, é importante que a política habitacional dialogue com outras políticas
públicas, como a de saúde e de assistência social”. A saúde é um dos direitos sociais
também garantidos pela Constituição Federal e possui o Sistema Único de Saúde
(SUS) como estrutura para que esse direito seja assegurado. Por que que a moradia,
que revela em que condições de saúde a família está convivendo, não possui uma
política pública sólida para ser um direito social garantido? “Temos redes de saúde,
justiça e educação públicas para a população de baixa renda, mas quando o assunto
é habitação o direito parece não ter, ainda, a mesma lógica” (CUNHA; ARRUDA;
MEDEIROS, 2007, p. 22). Essa ideologia é a absorvida pela sociedade, a qual age
com conformidade diante da negligência do Estado quanto ao cumprimento do direito
à moradia digna. O arquiteto e urbanista Zezéu Ribeiro confirma que, “o acesso a uma
habitação digna vai reduzir os custos da saúde no Brasil. Uma população mais sadia,
com capacidade maior, com produtividade maior (RIBEIRO, 2007, p. 139 - 144).
Mesmo sendo comprovada por lei como imprescindível ao homem, o direito à
moradia é deixado, por vezes, em segunda instância. As políticas públicas estão
direcionadas, em sua maioria, aos interesses da classe dominante, desfavorecendo a
classe dominada. Nesse contexto, é possível enxergar traços da desigualdade social
no Brasil.
Em meio ao esquecimento do Governo diante das famílias que vivem em
situações de vulnerabilidade social, é a sociedade que se movimenta para colocar em
prática sua própria solução alternativa de moradia.
30

2.2 O PROCESSO AUTOCONSTRUTIVO

Segundo a Fundação João Pinheiro (FJP), em 2019, o déficit habitacional


quantitativo brasileiro, famílias que precisam de uma casa nova, foi de 5.876,699
milhões de moradias (Quadro 2). Esse déficit é subdividido em habitações precárias
(domicílios rústicos ou improvisados), coabitação (unidade doméstica convivente ou
cômodos) e ônus excessivo com aluguel urbano, conforme pode ser visto a seguir:

HABITAÇÃO PRECÁRIA é composta por dois tipos de componentes:


• Domicílios improvisados:
Locais construídos sem fins residenciais que servem como moradia.
Exemplos: prédios em construção, viadutos, vagões de trem, carroças,
tendas, barracas, grutas etc. que serviam de moradia na data de referência.
Todos esses domicílios foram considerados particulares improvisados.
• Domicílios rústicos:
Aqueles sem paredes de alvenaria ou madeira aparelhada, o que resulta em
desconforto e risco de contaminação por doenças, em decorrência das suas
condições de insalubridade. Exemplos: taipas sem revestimento e madeira
aproveitada.

COABITAÇÃO é composta por dois componentes


• Unidade doméstica convivente:
Unidade com no mínimo quatro pessoas onde residem conjuntamente mais
de um núcleo doméstico com relação de parentesco, descendente da pessoa
de referência do domicílio (filhos e genros ou noras, filhos e netos etc.) e que
tenham no mínimo duas pessoas. Para esses núcleos, conjuntamente, serem
classificados como déficit habitacional, é preciso que a habitação tenha, no
mínimo, densidade de mais de duas pessoas por cômodos servindo como
dormitório.
• Cômodos:
Quando há famílias que residem em cômodos da mesma habitação. Esses
cômodos podem estar localizados em casas de cômodo, cortiço ou cabeça-
de-porco5.

ÔNUS EXCESSIVO COM ALUGUEL URBANO


Corresponde ao número de famílias urbanas com renda domiciliar de até três
salários mínimos que moram em casa ou apartamento e que despendem
mais de 30% de sua renda com aluguel. O ônus excessivo com aluguel é
selecionado a partir do grupo de domicílios não classificado como rústico,
nem como cômodo, e que atendeu aos critérios definidos de renda e gasto
com aluguel (FJP, 2021).

5 Moradia coletiva e insalubre.


31

Quadro 2 - Síntese dos Indicadores do Déficit Habitacional no Brasil em 2019

Fonte: FJP (2021).

Ainda nessa pesquisa, a FJP observou que o déficit habitacional qualitativo


brasileiro (inadequação de domicílios), famílias que vivem em casas que precisam
passar por reformas para serem readequadas, foi de 24.893,961 milhões de moradias
(Quadro 3). A Figura 1 mostra os indicadores que caracterizam um domicílio como
inadequado.

Quadro 3 - Síntese dos indicadores da inadequação domiciliar

Fonte: FJP (2021).

Nota-se que, segundo os dados do Quadro 2, de todos os domicílios brasileiros


diagnosticados como inadequados em 2019, cerca de 43% foram por não ter
abastecimento de água e 36,15% por não terem armazenamento de água adequado.
32

Figura 1 - Passos para categorizar um domicílio particular permanente urbano inadequado

Fonte: FJP (2021).

Analisando ainda os dados dessa pesquisa, nota-se que o déficit qualitativo


habitacional é quatro vezes maior que o déficit quantitativo habitacional brasileiro, ou
seja, há muito mais famílias precisando serem beneficiadas com melhorias
habitacionais do que famílias a serem contempladas com novas moradias. São quase
25 milhões de famílias vivendo em moradias inadequadas. Um dos motivos para
dados tão altos de habitações precárias, além da ineficiência das políticas públicas, é
produção desordenada de moradias por meio da autoconstrução.
A autoconstrução ocorre quando o próprio morador se responsabiliza pela
construção da sua casa, podendo ter ajuda de parentes, vizinhos ou de algum
profissional remunerado, como pedreiro ou eletricista (MARICATO, 1979). Mendes e
Moretti (2011), confirmam que quando o autoconstrutor não tem conhecimento
suficiente para construir, e/ ou possui verba reservada, contrata algum tipo de mão de
obra especializada em alguma fase da obra.
Para este estudo, o conceito de autoconstrutor abrange aquele que constrói,
tendo ajuda de amigos e familiares; aquele que contrata alguém com mais
conhecimento para realizar alguma etapa específica da obra (como um eletricista),
assim como aquele que contrata um profissional informal para realizar toda
construção. O morador é quem assume as decisões administrativas da obra: compra
33

ou ocupa o terreno, pensa como vai ser a construção, adquire material, contrata e
fiscaliza mão de obra (remunerada e/ ou gratuita) e edifica a casa durante as folgas
do trabalho (BONDUKI, 1994).
No Brasil, a autoconstrução surgiu em meados do século XIX. Com o processo
de industrialização de São Paulo, a densidade populacional dos centros urbanos
começou a crescer descontroladamente, aumentando o valor das terras urbanas.
Além disso, os operários recebiam salários muito baixos, fazendo com que não
tivessem acesso ao financiamento de casas e nem a compra de terrenos perto dos
centros. Com o valor que recebiam, compravam terrenos localizados nas periferias e
começavam a construir as próprias casas aos fins de semana e feriados, após
trabalharem durante toda a semana por doze horas por dia. Com o passar do tempo,
problemas relacionados a aspectos de higiene começaram a preocupar as
autoridades, que criaram normas legais e padrões de higiene estabelecidos para
residências. Porém, mesmo com tal fiscalização, os trabalhadores continuavam
construído suas casas de forma precária e sem atender às normas exigidas (LEMOS,
1976 apud WATRIN, 2003).
A falta de acesso a terras em lotes legalizados interfere diretamente no produto
final da moradia, pois essa poderá ser construída em encostas, com alta inclinação e
risco de deslizamentos, ou em terrenos sem infraestrutura básica. Em zonas
habitacionais declaradas por lei como de interesse social, tais parcelamento precisam
ter no mínimo: I - vias de circulação; II - escoamento das águas pluviais; III - rede para
o abastecimento de água potável; e IV - soluções para o esgotamento sanitário e para
a energia elétrica domiciliar (BRASIL, 1979). De acordo com o Art. 3º da Lei 6766/79,
não é permitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas nas
seguintes situações:

Art. 3º [...]
Parágrafo único - Não será permitido o parcelamento do solo:
I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as
providências para assegurar o escoamento das águas;
Il - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde
pública, sem que sejam previamente saneados;
III - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento),
salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes;
IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;
V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça
condições sanitárias suportáveis, até a sua correção (BRASIL, 1979).
34

Watrin (2003) afirma que, com a valorização da terra nos centros urbanos, a
população menos favorecida passou a adquirir terrenos nas periferias das cidades, os
quais possuíam menos infraestrutura e possibilitavam o pagamento do valor em várias
parcelas. Aliado a isso, o morador usou da autoconstrução para também conseguir
economizar com o pagamento de mão de obra e atender às suas necessidades
financeiras, espaciais e estéticas. Balthazar (2012) ainda salienta que:

A autoconstrução enquadra-se nos modos informais de provisão habitacional,


pois infringe normas urbanísticas e edilícias. O morador não aprova o projeto
junto aos órgãos oficiais, não possui o alvará para realizar a construção e não
obtém, ao final da obra, o “habite-se”, documento que permite o registro oficial
do imóvel (BALTHAZAR, 2012, p. 135).

Segundo dados de um diagnóstico realizado pelo o CAU/BR e o Instituto


Datafolha - onde foram realizadas mais de 2.400 entrevistas em 177 municípios -, 85%
da população que já construiu/reformou imóveis residenciais ou comerciais sem a
assistência técnica de um profissional da construção civil (Figura 2). Verificou-se ainda
que, houve muitas dificuldades durante as obras e que estas se concentraram em três
eixos: falta de planejamento, mão de obra desqualificada e descomprometida e no
desperdício ou falta de material de construção. Das 54% das pessoas que já
construíram ou reformaram, o Nordeste é a região do Brasil que mais constrói sem
utilizar serviços de arquiteto e/ ou engenheiro, mas os dados são altos em todo país
(Figura 3) (CAU/BR, 2015).
35

Figura 2 - Percentual de pessoas que construíram/ reformaram utilizando ou não de serviços de


arquitetos e/ou engenheiros

Fonte: CAU/BR (2015).

Figura 3 - Percentual de pessoas que construíram/ reformaram utilizando ou não de serviços de


arquitetos e/ou engenheiros por região do Brasil

Fonte: CAU/BR (2015).

Ainda sobre os dados qualitativos dessa pesquisa, pôde-se confirmar que dois
dos principais motivos para isso acontecer são: os problemas financeiros e o
desconhecimento de outras alternativas (CAU/BR, 2015). Outro fator que colabora
para o crescimento de casas irregulares e clandestinas são as inconsistências
contidas nos programas governamentais de produção de habitação de interesse
social. Isso ocorre devido a boa parte da população não possuir emprego formal; a
alguns moradores não concordarem com os valores e prazos de financiamento; assim
como, devido às casas concebidas pelo Governo não atenderem a critérios
36

específicos de cada família, como: quantidade de cômodos, dimensões de cada


ambiente, localização e entorno da residência, posição dos cômodos em relação ao
terreno, entre outros (WATRIN, 2003).
As casas autoconstruídas, geralmente, possuem algumas características em
comum. A construção começa a partir de um embrião (Figura 4) com os principais
ambientes desejados, à medida que a família cresce e consegue mais dinheiro para
investir, continua-se a reforma. O objetivo maior é construir rapidamente para morar o
quanto antes, a fim de economizar com aluguel ou sair de barracos insalubres.
Contudo, em meio a inexistência de um planejamento, a moradia acaba sofrendo com
problemas relacionados a conforto e entrando em no ciclo construir-demolir-construir.
As casas são levantadas basicamente em alvenaria de tijolos, com um concreto
armado calculado de forma empírica. Para cobertura, predomina-se a utilização da
telha de fibrocimento pelo seu custo reduzido. Normalmente, os principais ambientes
de uma casa autoconstruída são dois quartos, sala, banheiro e cozinha. (SAMPAIO
et al, 1993 apud WATRIN, 2003).

Figura 4 - Planta baixa de uma “casa embrião"

Fonte: Ewerton Souza Arquitetura (2021).

Em uma pesquisa realizada em 2012 na cidade de Vargem Grande Paulista –


SP, a partir do estudo de caso de dez casas, pôde-se verificar algumas semelhanças
37

entre moradias autoconstruídas (BALTHAZAR, 2012). Começando pela aquisição do


lote, metade dos moradores compraram o terreno com financiamento e possuíam
apenas o contrato de compra e venda. Sobre a legislação do município, sete dos
entrevistados não haviam procurado se informar na prefeitura antes de começar a
construir. O morador ‘I’ aponta alguns motivos para esse tipo de comportamento:

“Não fui porque a gente constrói no aperto. [...] Porque na prefeitura é assim,
quanto mais você vai atrás mais ela te cobra, então é melhor ficar quieto. Se
você vai eles vão cobrar planta de engenheiro, arquiteto. [...] Eu trabalho com
engenheiro, eu sei qual é o procedimento que eles vão ter, então eu não quis
comunicar. A maioria de nós, ninguém comunica” Fala do morador ‘I’
(BALTHAZAR, 2012, p. 125-126).

Quanto à existência de um projeto, Balthazar (2012) mostra que algumas


famílias ainda se informaram sobre a aprovação de projetos, mas desistiram de dar
entrada no processo devido ao custo com contratação de arquiteto e/ou engenheiro.
O morador ‘B’ complementa que, “três mil era só pra fazer a planta, pra fazer a
aprovação ia ficar mais caro ainda, então decidimos não fazer”. Outro deu o seguinte
depoimento: “Foi na mente mesmo. Fui imaginando e marcando, estou acostumado
já”. Metade dos moradores disseram ter projetado diretamente no terreno, a outra
metade declarou ter feito um rascunho de como ficaria a planta, mas apenas uma
família guardou esse registro, que foi o morador G o qual declarou não ter
conhecimento sobre legislação de uso e ocupação do solo e nem procurou informação
na prefeitura sobre (Figura 5). Observando a planta baixa da casa já construída
(Figura 6), nota-se que os ambientes foram dimensionados com tamanhos
satisfatórios, todos com abertura para o corredor lateral, com hall íntimo e boa
circulação entre os espaços. A produção do croqui, provavelmente, ajudou o morador
a ter uma melhor noção da disposição e dimensão dos ambientes.

Figura 5 - Croqui da planta baixa da habitação ‘G’, desenhado pelo morador

Fonte: Balthazar (2012).


38

Figura 6 - Plantas baixas dos pavimentos térreo e superior da habitação ‘G’ depois de construída

Fonte: Balthazar (2012).


39

Balthazar (2012) afirma que, todos os entrevistados afirmaram ter algum


membro da família que já projetou ou construiu a própria casa, confirmando ser a
autoconstrução o meio de provisão habitacional mais conhecido e praticado entre
eles. Dos dez casos analisados, oito tiveram o homem como responsável principal
pelo projeto, em ambientes como a cozinha as mulheres davam sugestões pontuais,
como a preferência por uma cozinha maior. O morador ‘C’, que é pedreiro e construiu
a própria casa, recebeu o seguinte comentário da sua esposa: “Ele tem mais ou menos
noção de como fazer o projeto, e como o engenheiro está sempre com ele, já está
pegando as manhas”. Como também, em oito das dez casas houve a participação de
alguma mão de obra informal da construção civil (pedreiro ou servente), sendo ele o
próprio morador, um parente ou alguém contratado de forma remunerada. Destaca
ainda que, em etapas críticas como a concretagem de uma laje, também houve a
ajuda de familiares e vizinhos através de mutirões.
A respeito da implantação da casa no terreno, a preocupação maior era a do
aproveitamento de todo o lote. O morador ‘D’ deu o seguinte depoimento: “o meu outro
lote, 125 lá de cima, eu aproveitei tudo do começo ao fim, não tem nada de quintal”.
Apenas duas famílias preocuparam-se com a orientação solar, e mesmo assim,
guiando-se apenas por seus conhecimentos empíricos, como pode ser notado na fala
do morador F: “a gente preferiu colocar a cozinha mais próxima da lavanderia. A sala
colocamos pra onde nasce o sol, pra ficar mais clara. O nosso quarto também ficou
ali por causa da posição do sol”. No programa de necessidades, a maioria das famílias
alocou a sala próxima à rua e a cozinha perto do quintal dos fundos. A quantidade de
cômodos se deu pelo número de pessoas na casa e de acordo com as etapas de
construção, e os seus dimensionamentos foram baseados pela orientação do pedreiro
ou pela referência de outra casa (BALTHAZAR, 2012).
Sobre os materiais e os sistemas construtivos utilizados, Balthazar (2012)
observou que as soluções predominantes foram: conjunto de sapatas, pilares e vigas;
vedação em tijolo cerâmico de seis furos e/ou blocos de concreto; esquadrias em
alumínio ou madeira; cobertura em telha de fibrocimento e/ou laje pré-moldada e piso
cerâmico (Figura 7). Os materiais teriam sido comprados por etapas, em depósitos no
mesmo município, uma parte à vista e outra parte parcelada. Nas dez construções,
nenhum dos moradores teria feito um orçamento prévio da obra.
40

Figura 7 - Casa autoconstruída pelo morador B e seu sogro (pedreiro)

Fonte: Balthazar (2012).

Quanto ao resultado final da obra, todos os moradores declararam estar


satisfeitos, mas admitiram ter problemas com vazamentos, falta de privacidade entre
os cômodos, ventilação ineficiente e com acabamentos em geral. A Figura 8 mostra o
quarto de casal da casa ‘E’ com esquadria voltada para a parede da casa vizinha que
encontrasse a uns 50 cm de distância da janela, fazendo com que a ventilação e
iluminação natural não seja eficiente nesse cômodo, além de haver uma dificuldade
de limpeza no espaço entre as casas.
Entre as dificuldades encontradas durante a construção, os moradores citaram:
execução da fundação, da escada, do banheiro, dos acabamentos, do telhado e na
escolha de materiais de construção. Entretanto, ao serem questionados se adotariam
outra forma de provisão habitacional, todos disseram que não. Entre os motivos para
tal consenso estão no fato de verem a autoconstrução como forma mais natural e
barata de construir; por considerarem as casas de iniciativa privada com um custo
muito alto; pelo fato de acharem as casas produzidas pelo poder público muito
pequenas; por terem medo de financiar, devido às várias parcelas e aos juros
altíssimos e por último devido à burocracia bancária para comprovação de renda
(BALTHAZAR, 2012).
41

Figura 8 - Quarto de casal da casa ‘E’

Fonte: Balthazar (2012).

Balthazar (2012) também chegou a questionar se aos moradores haviam


sentido falta da assistência técnica de um arquiteto durante o desenvolvimento do
projeto ou da obra. Muitos alegaram que a presença do profissional teria sido útil em
decisões relacionadas à estética, à disposição dos cômodos, ao quantitativo de
materiais e na solução ou antecipação de problemas. Porém, alguns não souberam
responder quais seriam os benefícios de ter o auxílio técnico desse profissional.
Houve também quem achasse desnecessário, como declarou o morador ‘I’: “Eu não
vou mentir, nunca senti falta. Eu gosto de criar, de fazer do meu jeito”.
Ao se analisar os depoimentos acima é nítido que alguns autoconstrutores
possuem uma visão distorcida sobre a atuação de um arquiteto na construção de uma
casa. Muitos demonstraram não entender a necessidade de se seguir a normas e uso
e ocupação do solo, ou mesmo não sabem que elas existem, nem a importância de
construir uma casa planejada a partir de um projeto elaborado de acordo com as
necessidades da família. Em algumas falas deram a entender que ao contratarem um
arquiteto estariam gastando mais em um serviço que não ficaria do jeito que eles
queriam, como se o profissional fosse projetar a partir do seu gosto e não da vontade
do cliente. Tais pensamentos ocorrem, possivelmente, pelo fato desses moradores
não terem tido a oportunidade de presenciar na prática os benefícios que o projeto de
um arquiteto traz para a execução de uma moradia.
42

Há quem veja a autoconstrução como solução da própria sociedade para


resolver o problema de acesso à moradia, sendo uma forma de gestão urbana mais
democrática, espontânea e descentralizada (BONDUKI, 1998). O arquiteto e urbanista
John Turner, a partir de estudos feitos em assentamentos populares em países da
América Latina, concluiu que a autoconstrução é uma maneira possível e adequada
de resolver a carência por moradias (WATRIN, 2003). Nesse contexto, Turner
elaborou uma ideologia sobre habitação representada por três "leis":

1. Quando os moradores controlam as decisões principais e são livres para


fazer suas próprias contribuições no projeto, construção ou administração de
suas casas, ambos processo e ambiente produzido estimulam o bem-estar
individual e social. Do contrário, quando as pessoas não têm o controle nem
a responsabilidade sobre decisões importantes no processo da habitação às
moradias podem se tomar uma barreira para a auto-realização e uma
sobrecarga para a economia;
2. a coisa mais importante sobre a habitação não é o que ela é, mas o que
ela faz na vida das pessoas, ou seja, que a satisfação do morador não está
necessariamente relacionada com a imposição de padrões;
3. as deficiências e imperfeições das moradias são infinitamente mais
toleráveis se elas são de responsabilidade do morador do que se forem de
responsabilidade de terceiros. (TURNER, 1976 apud WATRIN, 2003, p. 42).

Balthazar (2012) frisa que, a tese de Turner não está focada na execução do
imóvel em si, no construir pelas próprias mãos, mas na importância de o morador
controlar e participar de todas as etapas da obra. Durante todo o processo, os
moradores além de investirem dinheiro, dedicam responsabilidade, iniciativa, energia
muscular, entre outros recursos. A vantagem de todo esse envolvimento é que no final
tudo se transformam em sentimentos de satisfação, bem-estar, orgulho, competência
e tantos outros que se possa citar. A conquista da casa própria por meio da iniciativa
pessoal e da participação do usuário proporciona autonomia para tomada de
decisões, maior sentimento de pertencimento pelo imóvel, possibilidade de ampliação
ao longo dos anos, não endividamento a longo prazo, evita gastos com aluguel, entre
outros ganhos. Maricato (1979) afirma que o envolvimento do usuário é muito
importante para a apropriação do espaço, seja definindo as características da casa,
autoconstruindo, vistoriando a obra ou ocupando com seus mobiliários. Em sua
pesquisa, Balthazar (2012) ainda destaca a fala do morador ‘F’ sobre o processo
participativo, a qual diz: “Eu sempre tive esse espírito de João de Barro, sempre quis
construir minha própria casa, nunca tive a alternativa de financiar ou comprar uma
casa pronta. Eu acho que deixa mais com a minha cara”. Cordeiro (2005)
complementa afirmando que:
43

A apropriação espacial é condição fundamental para o estabelecimento do


fenômeno morar, visto que é a partir desta relação entre espaço e indivíduo
que se desenvolvem as sensações de intimidade, aconchego e identidade,
inerentes à moradia (CORDEIRO, 2005, p. 48).

Aliado a esse sentimento de pertencimento pelo local, a presença da


assistência técnica traria ainda mais benefícios para a construção. Segundo Sá
(2009), autores como Hernando de Soto, Bruce Ferguson e Muhammad Yunus,
também apontam, indiretamente, para a autoconstrução como solução para a
população de baixa renda, além de possuírem pesquisas relacionadas ao microcrédito
habitacional voltado para o financiamento dessas moradias.
Entretanto, há também quem veja a autoconstrução com maus olhos, devido
aos pontos negativos sucedidos de sua efetivação. Balthazar (2012) cita que, os
bairros periféricos são constituídos em sua maioria por casas autoconstruídas e,
geralmente, por obras inacabadas, ampliações mal pensadas, ocupações densas e
com falta de acabamento. Cordeiro (2005) afirma que:

Dependendo do sítio de implantação, a construção improvisada (fundação,


estrutura, cobertura, instalações elétricas e hidro-sanitárias) submete seus
ocupantes a situações de risco extremas, como incêndios e desabamentos
(CORDEIRO, 2005, p. 59).

A qualidade da moradia contribui diretamente para a saúde6 dos moradores,


principalmente para aqueles que passam a maior parte do dia em casa, sejam eles
crianças, idosos ou doentes (PASTERNAK, 2016). Atualmente, com a pandemia de
Covid-19, cuja maior recomendação é que as pessoas fiquem casa para evitar a
proliferação do Coronavírus, ficou ainda mais evidente a importância do habitar em
um lugar saudável e agradável.

Como fazer uma higiene pessoal adequada, se o banheiro da casa é


inacabado ou insalubre?
Como higienizar constantemente as mãos e roupasse o fornecimento de água
é irregular ou de má qualidade?
Como manter um distanciamento social, se muitas vezes os membros de uma
mesma família compartilham o único cômodo da casa?
Como ‘ficar em casa’ se as famílias pobres continuam sendo despejadas,
sem apoio ou solução do poder público? (HABITAT PARA A HUMANIDADE
BRASIL, 2020, p. 4).

6Estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou
enfermidade (OMS,1946).
44

A precariedade habitacional existe há muito tempo, mas, atualmente, tais


insalubridades habitacionais têm sido escancaradas diante na nova realidade da
doença do Coronavírus. Segundo Coelho (2017), a Organização Mundial de Saúde
(OMS) aponta alguns indicadores para classificar uma moradia como insalubre,
conforme pode ser visto no Quadro 4, que interferem diretamente na saúde dos
moradores.

Quadro 4 - Indicadores de uma moradia insalubre da Organização Mundial de Saúde (OMS)

DESORDENS
PRINCIPAL FATOR ENFERMIDADES ENFERMIDADES NÃO
PSICOSOCIAI
DE RISCO TRANSMISSÍVEIS TRANSMISSÍVEIS
S
- Devido a insetos vetores;
- Devido a roedores; - Neurose;
- Geomintíase (verminose); - Violência;
- Induzidas por pó e
Defeitos na - Devido a excreções de - Delinquência
umidade;
construção da animais; e vandalismo;
- Feridas;
moradia - Devido a mordidas de - Abuso de
- Queimaduras.
animais; álcool e
- Relacionadas à drogas.
superiotação.
- Doenças hídricas fecais
Deficiências no orais;
- Doenças cardíacas;
abastecimento de - Doenças não fecais orais;
- Câncer.
água - Doenças relacionadas a
água e insetos vetores.

- Doenças fecais orais;


- Geomintíase (verminoses);
Deficiências na - Teníase;
disposição de - Helmintíases (verminoses) - Câncer de estômago.
desejos sanitários relacionados com a água;
- Devido a insetos vetores;
Devido a roedores.

- Doenças perinatais;
- Doenças cardíacas;
Combustíveis
- Doenças crônicas do
inadequados e - Infecções respiratórias
pulmão;
ventilação agudas.
- Câncer de pulmão;
insuficiente
- Queimaduras devido a
incêndios.
Disposição e coleta
- Devido a insetos vetores; - Feridas;
deficiente de
- Devido a roedores. - Queimaduras.
resíduos sólidos
Preparação
- Doenças relacionadas a
deficiente de
excreções;
alimentos e
- Zoonoses;
armazenamento - Câncer.
- Doenças relacionadas a
inadequado dos
toxinas microbiológicas.
mesmos
45

- Doenças crônicas do - Desordens


Localização - Doenças de contágio pulmão; orgânico-
inadequada aéreo; - Doenças do coração; psiquiátricas
(próximo a zonas - Aumento de risco de - Câncer; devido à
de muito tráfego, doenças respiratórias - Doenças neurológicas químicos
indústrias, etc) infecciosas. e reprodutivas; industriais;
- Feridas. - Neurose.

Fonte: Coelho, adaptado pela autora (2017).

Abiko (1995) reforça que, os problemas recorrentes em edificações construídas


sem assistência técnica estão relacionados principalmente ao conforto térmico,
conforto luminoso, estabilidade estrutural, instalações elétricas e hidrossanitárias.
Mais problemas relacionados a casas autoconstruídas são citados por Ghisleni
(2017):
Os dormitórios voltados para sul não recebem luz necessária para possibilitar
um ambiente salubre. O mofo e bolor corroem as paredes da habitação
principal impregnando os pulmões de umidade e dificultando a respiração. A
pequena janela, encontrada no terreno baldio próximo, não consegue suprir
a necessidade de luz e ventilação no quarto das crianças, quarto este que
agora se tornou insuficiente com a chegada do novo bebê. Os problemas
estruturais encontrados no telhado, ocasionados pelo mal dimensionamento
das vigas e a precária instalação elétrica, feita pelo próprio morador, são
outras dificuldades que tornam a residência em questão uma bomba relógio
(GHISLENI, 2017):

De acordo com Pasternak (2016), a inexistência de ventilação cruzada e o


mofo, aliados a uma má alimentação e falta de higiene, podem influenciar no
desenvolvimento de doenças respiratórias, como bronquite7 e meningite8. Problemas
de infiltração (Figura 9), má impermeabilização da cobertura (Figura 10) ou esquadrias
mal planejadas deixam o ambiente úmido e, consequentemente, cheio de bactérias.
Espaços com iluminação natural abundante são bactericidas e fungicidas, por isso a

7 Bronquite é uma inflamação dos brônquios, canais que conduzem o ar inalado até os alvéolos
pulmonares. Ela se instala quando os minúsculos cílios que revestem o interior dos brônquios param
de eliminar o muco presente nas vias respiratórias. Esse acúmulo de secreção faz com que eles fiquem
permanentemente inflamados e contraídos, provocando, principalmente, tosse. A bronquite pode ser
aguda ou crônica. A bronquite aguda é causada geralmente por vírus, embora, em alguns casos, possa
ser resultado de uma infecção bacteriana. As crises também podem ser desencadeadas pelo contato
com poluentes ambientais e químicos (poeira, inseticidas, tintas, ácaros etc.) (DRAUZIO, s. d.).
8 Meningite é uma infecção que se instala principalmente quando uma bactéria ou vírus, por alguma

razão, consegue vencer as defesas do organismo e ataca as meninges, três membranas que envolvem
e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central (DRAUZIO, s.
d.).
46

importância de ter janelas bem dimensionadas em todos os cômodos, principalmente


nos quartos.

Figura 9 - Parede com infiltração e mofo Figura 10 - Laje com infiltração devido à má
impermeabilização

Fonte: Imperbuild (2020). Fonte: Blok (2021).

Há também as doenças transmissíveis que são relacionadas à contaminação


da água, ao esgoto e à falta de saneamento básico (Figura 11). Daí a importância da
higienização da casa, assim como do seu entorno, sempre que possível. A dengue
pode ser citada como exemplo de doença suscetível em tais ambientes, em que o
mosquito Aedes aegypti aproveita águas sujas e paradas para depositar seus ovos e
proliferar.

Figura 11 - Casas autoconstruídas em local sem saneamento básico

Fonte: Jovem Pan (2020).

Além de doenças físicas, Pasternak (2016) cita que doenças mentais também
podem ser desencadeadas devido a problemas na habitação, como: ambientes sem
privacidade, desconforto estético, espaços apertados para descanso, presença de
47

ruídos, entre outros. Em uma de suas falas em uma live organizada pelo CAU/BR, a
influenciadora Verônica Oliveira que morava em um cortiço, em São Paulo, de um
cômodo (com cozinha, banheiro e lavanderia compartilhados com mais 40 famílias)
pagando R$ 500 reais de aluguel (mais de 50% da sua renda mensal), relata:

O meu corpo decidiu que aquilo não era viável e eu comecei a ficar muito
doente, então eu tinha crises de choro, eu tinha ataques de pânico na rua e
tudo por conta da casa onde eu morava. Então, eu cheguei, em 2016, a tentar
suicídio por conta dessa situação e por que pensava: eu tenho dois filhos e
eles não merecem passar por isso e aí eu achava que a culpa era minha e
que se eu não estivesse mais aqui, eles teriam uma chance melhor. [...].
Todos nós mudamos de pessoas, depois de mudar de casa (CAU/BR,
2021b).

Outro ponto a ser considerado são os acidentes domésticos, geralmente


decorrentes de pequenas falhas na residência. Entre as causas para esses ocorrerem,
pode-se citar: falta de corrimão em escadas, lajes sem guarda-corpo (Figura 12), pisos
escorregadios em ambientes inadequados, pouca iluminação nos cômodos, depósitos
de água sem tampa, casas construídas com materiais inflamáveis, instalação de gás
malfeita, entre outros (PASTERNAK, 2016).

Figura 12 - Casas com lajes sem guarda-corpo

Fonte: Bianca Freire-Medeiros ([20--?]).

Logo, vê-se a importância que um projeto e a assistência técnica de um


profissional qualificado pode trazer para uma construção, em que além de
proporcionar muitos benefícios ainda pode minimizar ou cessar com a propagação de
doenças nos lares. Cordeiro (2005) enfatiza que, havendo a presença de um agente
que viabilize um conhecimento técnico ao autoconstrutor é possível prover edificações
48

arquitetonicamente bem planejadas e de boa qualidade às pessoas de baixa renda.


Outras vantagens podem ainda serem destacadas, como habitações mais
sustentáveis, mais econômicas, com menos desperdícios de materiais e que gerem
menos resíduos para o meio ambiente.

2.3 ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

Entende-se por assistência técnica em habitação de interesse social (ATHIS),


o “serviço técnico nas áreas de Arquitetura, Urbanismo, Engenharia, Assistência
Social, Direito, Geografia e/ou outras áreas relacionadas – junto à população de baixa
renda na elaboração e/ou execução de projetos [...]”(ATHIS, 2021). Porém, esse é um
conceito ainda vem sendo consolidado, assim como o termo assistência muitas vezes
é substituído por assessoria. Atualmente, o termo assistência técnica é mais
associado à prática prestada por Arquitetos e Engenheiros amparada pelos recursos
da Lei 11.888, e o termo assessoria técnica é ligado às ações do terceiro setor e de
escritórios de Arquitetura e/ ou Engenharia que empreendem na área da arquitetura
social. Quanto à habitação de interesse social (HIS), pode ser conceituada como
aquela relacionada à família de baixa renda que “não possui acesso à moradia formal
e nem condições para contratar os serviços de profissionais ligados à construção civil”
(MOREIRA, 2020). Porangaba (2020) ressalta que:

Habitação de Interesse Social não se limita apenas à habitação produzida por


meio de programas habitacionais, pois passa a ser entendida como qualquer
habitação destinada à população com renda mensal de até três salários
mínimos, inclusive as produzidas pela iniciativa privada ou autoconstruídas
por famílias residentes em áreas urbanas ou rurais (PORANGABA, 2020, p.
15).

Como visto na seção 2.2, a prática da autoconstrução está enraizada entre a


população mais carente, há uma visão de que é normal ser o responsável pela
construção da própria residência. São casas construídas na informalidade, no
improviso e que, geralmente, trazem consigo inúmeros problemas. Segundo Cunha,
Arruda e Medeiros (2007), os debates e políticas públicas relacionados à assistência
técnica para habitação social possuem uma longa trajetória (Figura 13), que envolve
engenheiros, políticos, movimentos sociais e, principalmente, arquitetos. A luta é por
moradia digna, e por arquitetura e cidade para todos.
49

Figura 13 - Linha do tempo dos marcos históricos relacionados à assistência técnica em habitação de
interesse social (ATHIS)

1946
• Fundação Casa Popular (FCP)
1964
• Banco Nacional de Habitação (BNH)
1976
• Programa de Assistência Técnica à Moradia Econômica (ATME) no Rio Grande do
Sul (RS)
-
• Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU)
1999
• Lei Complementar Municipal nº 428/RS
2000
• Direito Social à Moradia (Constituição Federal)
• Projeto Moradia
2001
• Estatuto da Cidade
• Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social (PSH)
2002
• Projeto de Lei nº 6223
2003
• Projeto de Lei nº 889
• Ministério das Cidades
2004
• ConCidades
• Política Nacional de Habitação
• Programa Crédito Solidário
2005
• Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social (FNHIS)
• Fórum Social Mundial
• I Seminário Nacional de Assistência Técnica
2006
• Projeto de Lei 6.981
• II Seminário Nacional de Assistência Técnica
-
• Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
2008
• Plano Nacional de Habitação (PlanHab)
• Lei 11.888
2009
• Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)
2020
• Programa Casa Verde e Amarela

Fonte: Autora (2021).


50

No início do século XX, quando a revolução industrial já havia se estruturado


em São Paulo, foi quando começaram a surgir as primeiras vilas operárias. As
indústrias se localizavam longe dos centros das cidades, não havia transportes para
os operários se locomoverem e, consequentemente, esses precisaram se abrigar de
forma amontoada nos arredores das fábricas, começando nesse momento a existir
um déficit habitacional9. Cunha, Arruda e Medeiros (2007) afirmam que:

Com o inchaço das cidades que foram se tornando metrópoles, o problema


foi se agravando. Terrenos ocupados, construções irregulares, loteamentos
clandestinos invadiram as paisagens e não havia lei para gerenciar esse
crescimento, nem mesmo o aluguel tinha qualquer tipo de regularização
(CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007, p. 24).

A Fundação Casa Popular (FCP), criada em 1946 no governo Dutra, foi a


primeira política pública direcionada à habitação social no Brasil. Tinha como objetivo
possibilitar o financiamento da construção de imóveis e a elaboração de padrões
construtivos acessíveis financeiramente (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007).
Durante a ditadura militar, também em 1964, foi aprovada a Lei nº 4.380, de 21
de agosto de 1964, a qual criou o Banco Nacional de Habitação (BNH), o Serviço
Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU) e o sistema financeiro para aquisição
da casa própria, formulando uma política nacional direcionada à habitação de
interesse social, como pode ser visto em seu Art. 1º:

Art. 1° O Governo Federal, através do Ministro de Planejamento, formulará a


política nacional de habitação e de planejamento territorial, coordenando a
ação dos órgãos públicos e orientando a iniciativa privada no sentido de
estimular a construção de habitações de interesse social e o financiamento
da aquisição da casa própria, especialmente pelas classes da população de
menor renda (BRASIL, 1964).

9 Como déficit habitacional entende-se a noção mais imediata e intuitiva da necessidade de construção
de novas moradias para a solução de problemas sociais e específicos de habitação, detectados em
certo momento. [...]O conceito de déficit habitacional utilizado está ligado diretamente às deficiências
do estoque de moradias. Engloba aquelas sem condições de serem habitadas em razão da
precariedade das construções ou do desgaste da estrutura física e que por isso devem ser repostas.
Inclui ainda a necessidade de incremento do estoque, em função da coabitação familiar forçada
(famílias que pretendem constituir um domicilio unifamiliar), dos moradores de baixa renda com
dificuldades de pagar aluguel nas áreas urbanas e dos que vivem em casas e apartamentos alugados
com grande densidade. Inclui-se ainda nessa rubrica a moradia em imóveis e locais com fins não
residenciais (FJP, 2018, p. 18-20). Pode ser classificado como quantitativo, como citado, ou qualitativo,
quando se trata de moradias com algum tipo de inadequação.
51

Uma das finalidades no BNH era regularizar o sistema financeiro da habitação


(SFH), o qual deveria assegurar a construção e a aquisição de moradia,
principalmente para a população de baixa renda, a partir de várias entidades em que
era integrado, como pode ser visto no Art. 8:

Art. 8° O sistema financeiro da habitação, destinado a facilitar e promover a


construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas
classes de menor renda da população, será integrado. (Redação dada pela
Lei nº 8.245, de 18.10.1991)
I - pelo Banco Nacional da Habitação;
II - pelos órgãos federais, estaduais e municipais, inclusive sociedades de
economia mista em que haja participação majoritária do Poder Público, que
operem, de acordo com o disposto nesta lei, no financiamento ... (Vetado) ...
de habitações e obras conexas;
III - pelas sociedades de crédito imobiliário;
IV - pelas fundações, cooperativas, mútuas e outras formas associativas para
construção ou aquisição da casa própria, sem finalidade de lucro, que se
constituirão de acordo com as diretrizes desta lei, as normas que forem
baixadas pelo Conselho de Administração do Banco Nacional da Habitação
e serão registradas, autorizadas a funcionar e fiscalizadas pelo Banco
Nacional da Habitação (BRASIL, 1964).

Entretanto, as casas geradas a partir do SFH eram padronizadas e sem


qualidade arquitetônica, conforme as palavras de Cunha, Arruda e Medeiros (2007):

Essas características foram criando uma diferenciação entre as habitações


orientadas por profissionais da área e as padronizadas. Sendo assim, quem
tem poder aquisitivo contrata profissionais, planeja sua moradia, dá a medida
do seu sonho de morar. E aquele sem renda para pagar um projeto
arquitetônico e de execução de sua casa recebe uma moradia financiada,
executada sem entrar em contato com profissionais. Nesses moldes, a
habitação social e a assistência técnica se transformaram em sinônimos de
financiamento (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007, p. 25).

Em 1976, o Sindicato dos Arquitetos do Rio Grande do Sul (SAERGS) em


parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA/RS), criaram
o Programa de Assistência Técnica à Moradia Econômica (ATME), um marco da
assistência técnica habitacional, que tinha como objetivo oferecer o auxílio de
profissionais a famílias de baixa renda que estivessem construindo. Era “coordenado
pelos arquitetos Clovis Ilgenfritz da Silva, Newton Burmeister, Carlos Maximiliano
Fayet e Claudio Casaccia e os Advogados Manuel André da Rocha e Madalena
Borges” (IAB, 2010).
Em São Paulo, nos anos 80, existiram algumas experiências voltadas à
assistência técnica coletiva, em que conjuntos habitacionais eram construídos por
meio da autogestão, com a ajuda de movimentos sociais e do assessoramento de
52

equipes técnicas. Essa iniciativa fez com que outros estados também se motivassem
pela causa e conseguissem prestar assistência técnica já com financiamento público
(IAB, 2010). Aos poucos foram surgindo outras leis municipais voltadas à assistência
técnica para projeto e execução de moradias, como a Lei Orgânica do município de
Porto Alegre que em seu Art. 233 diz que “a execução de programas habitacionais
será de responsabilidade do Município, que: [...]; IV - instituíra programa de
assistência técnica gratuita no projeto e construção de moradias para famílias de baixa
renda” (PORTO ALEGRE, 1990).
Sem tardar, também foi o momento das universidades se expressarem
referente ao tema, dando início a projetos de extensão e incluindo nas grades
curriculares – ainda de forma bem simplória - matérias voltadas ao direito à habitação
e à cidade. No fim dos anos 90, a Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura
e Urbanismo do Brasil (FENEA) criou o Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo
(EMAU), a fim de que a universidade pudesse se estender às comunidades mais
carentes (IAB, 2010). Segundo Cunha, Arruda e Medeiros (2007, p.27), nos escritórios
modelos “os acadêmicos do último ano de arquitetura têm a oportunidade de
desenvolver projetos arquitetônicos, orientados por profissionais, para a população de
baixa renda, como um arquiteto-residente”.
Em 1999, o arquiteto Clóvis Ilgenfritz – enquanto vereador da cidade de Porto
Alegre - aprova a Lei Complementar Municipal nº 428, que regulamenta o Art. 233,
inciso IV, da lei orgânica do município, “instituindo o programa de assistência técnica
ao projeto e construção de moradia econômica a pessoas de baixa renda, e dá outras
providências” (PORTO ALEGRE, 1999). Para Cunha, Arruda e Medeiros (2007):

Essa experiência, juntamente com o aumento das necessidades sociais


nessa área, foi criando um movimento que se tornou nacional. Da mesma
forma, outras ações Brasil afora foram incentivadas pelos Conselhos
Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia e prefeituras como as de
Campo Grande (MS), São Paulo (SP), Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG) que
criaram programas e leis para a habitação de interesse social oferecendo,
gratuitamente ou por valores simbólicos, plantas e engenheiros e arquitetos
para projetar as moradias e auxiliar nas regularizações fundiárias (CUNHA;
ARRUDA; MEDEIROS, 2007, p. 26).

Em 2000, como visto na seção 2.1, a moradia passou a ser considerada pela
Constituição Federal da República como um direito social, assim como saúde,
educação e outros já declarados. Ainda nesse ano, foi originado o Projeto Moradia
através do Instituto Cidadania, o qual tinha Luiz Inácio Lula da Silva como conselheiro.
53

O projeto apresentou soluções para o problema do déficit habitacional no Brasil,


abordando a moradia digna como “aquela localizada em terra urbanizada, com acesso
a todos os serviços públicos essenciais por parte da população que deve estar
abrangida em programas geradores de trabalho e renda” (INSTITUTO CIDADANIA,
2000, p. 9). Ademais, o Projeto Moradia também incentivou a criação do Ministério
das Cidades e do Conselho das Cidades.
No ano de 2001, foi aprovada a Lei 10.257, nomeada como Estatuto da Cidade.
Ela “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos
cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (BRASIL, 2001). Através de regras
gerais, cria uma política de desenvolvimento urbano, a qual pretende regulamentar o
processo de uso e ocupação do solo urbano.

Além disso, a lei cita instrumentos jurídicos e políticos previstos na legislação


civil, tais como a desapropriação, a usucapião especial de imóvel urbano,
parcelamento, edificações, tombamento e a regularização fundiária. Também
estão presentes alguns institutos financeiros e tributários, como o IPTU,
contribuições de melhoria e incentivos fiscais (AGUILAR, 2020).

Entre os instrumentos da política urbana abordados na Lei 10.257 está o Plano


Diretor, o qual deve ser elaborado de modo a atender a realidade de cada município,
mas tendo como base as diretrizes e instrumentos de cumprimento presentes no
Estatuto (AGUILAR, 2020). Tal Lei também afirma que um dos instrumentos jurídicos
e políticos é “a assistência técnica e jurídica gratuita para comunidades e grupos
sociais menos favorecidos” (BRASIL, 2001).
Ainda em 2001, foi criado o Programa de Subsídio à Habitação de Interesse
Social (PSH), com o objetivo de tornar acessível o acesso à moradia digna a famílias
de baixa renda, através de financiamentos habitacionais (BRASIL, 2010).
Em 2002, o deputado federal Clóvis Ilgenfritz apresenta o Projeto de Lei nº.
6223/02 com o propósito de ampliar o programa ATME para todo Brasil. Porém, como
a lei não foi sancionada até o término do seu mandato, Clóvis passou a sua proposta
para que o Deputado Federal Zezéu Ribeiro pudesse continuar com essa luta
(CAU/SC, 2018).
Em 2003, o Deputado Zezéu Ribeiro apresenta o Projeto de Lei Nº 889, dando
continuidade à proposta apresentada por Clóvis Ilgenfritz, que tem como objetivo
ampliar o programa de Assistência Técnica à Moradia Econômica para todo o Brasil.
54

Também nesse ano, foi criado o Ministério das Cidades pelo governo Lula, que
unificou as diferentes frentes políticas que tratavam de desenvolvimento urbano. Com
a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, houve um aumento da
produção habitacional para a classe média e do crédito disponibilizado; uma melhoria
na renda populacional e uma maior participação do terceiro setor no processo de
produção de moradias (BRASIL, 2010).
No ano de 2004, criou-se o Conselho das Cidades (ConCidades), órgão
constituinte do Ministério das Cidades o qual tinha por objetivo regulamentar a Política
Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) e fomentar debates relacionados à
política urbana. Também foi criada a nova Política Nacional de Habitação, com o
objetivo de “retomar o processo de planejamento do setor habitacional e garantir
novas condições institucionais para promover o acesso à moradia digna a todos os
segmentos da população” (BRASIL, 2004).
Ainda em 2004, surgiu o Programa Crédito Solidário. Foi criado para possibilitar
o financiamento habitacional para construção ou reforma, a famílias com renda bruta
mensal entre R$ 1.125,01 e R$ 1.900,00, que estivessem vinculadas a associações,
cooperativas, sindicatos ou entidade privada sem fins lucrativos, utilizando o Fundo
de Desenvolvimento Social (FDS) (BRASIL, 2010).
Em junho de 2005, é aprovada a Lei n° 11.124 que “dispõe sobre o Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS”
(BRASIL, 2005), garantindo recursos à habitação e assistência técnica. O SNHIS
unificou todos os programas voltados à habitação de interesse social, tendo também
outros objetivos, conforme o Art. 2º da lei citada:

I - viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada e


à habitação digna e sustentável;
II - implementar políticas e programas de investimentos e subsídios,
promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de
menor renda; e
III - articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições
e órgãos que desempenham funções no setor da habitação (BRASIL, 2005).

O SNHIS propõe um modelo de gestão democrático, descentralizado e


participativo, buscando compatibilizar as políticas habitacionais em ordem federal,
estadual, do Distrito Federal e municipal. Ao ser adepto ao SNHIS, é necessário
concordar com alguns critérios para ter acesso ao FNHIS, tais parâmetros são:
55

constituir um Fundo Local de Habitação de Interesse Social - com um Conselho Gestor


- e elaborar um Plano Local Habitacional de Interesse Social (PLHIS) (BRASIL, 2010).
Já o FNHIS, tem por objetivo “centralizar e gerenciar recursos orçamentários
para os programas estruturados no âmbito do SNHIS, destinados a implementar
políticas habitacionais direcionadas à população de menor renda” (BRASIL, 2005).
Segundo o Art. 8º, ele é constituído por:

I - recursos do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social – FAS, de que


trata a Lei no 6.168, de 9 de dezembro de 1974;
II - outros fundos ou programas que vierem a ser incorporados ao FNHIS;
III - dotações do Orçamento Geral da União, classificadas na função de
habitação;
IV - recursos provenientes de empréstimos externos e internos para
programas de habitação;
V - contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídicas, entidades e
organismos de cooperação nacionais ou internacionais;
VI - receitas operacionais e patrimoniais de operações realizadas com
recursos do FNHIS; e
VII - outros recursos que lhe vierem a ser destinados (BRASIL, 2005).

Em suma, a lei trata de regulamentar os investimentos financeiros voltados às


políticas de habitação de interesse social, de forma democrática e com equidade,
estabelecendo uma responsabilidade pública de garantir o direito à moradia digna.
No ano de 2005, uma rede de pessoas e instituições foi responsável por
organizar vários eventos pelo Brasil, visando constituir uma articulação nacional
voltada à consolidação dos artigos e atribuições do Projeto de Lei da Assistência
Técnica (AT), que já vinha sendo elaborado por Clóvis Ilgenfritz e Zezéu Ribeiro.
A priori, aconteceu o Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre - RS, com
a participação da Ministra Adjunta das Cidades, do deputado federal e arquiteto Zezéu
Ribeiro, dos presidentes do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), da Federação
Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA), da Associação Brasileira de Engenharia
e Arquitetura, da Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura (FENEA), do
Conselheiro Nacional das Cidades, e de representantes de Conselhos Regionais de
Agronomia, Engenharia e Arquitetura e de movimentos sociais. Em decorrência do
fórum, ocorreram outros 15 seminários sobre o tema pelo Brasil, onde cada estado
ficou incumbido de elaborar planos de ação para serem apresentados em um
seminário nacional voltado à Assistência Técnica (AT) (CUNHA; ARRUDA;
MEDEIROS, 2007).
56

Nos dias 3 a 5 de outubro de 2005, em Campo Grande – MS, aconteceu o


Seminário Assistência Técnica, um direito de todos: construindo uma política nacional,
o qual “contou com a presença de mais de 300 pessoas de todo o país e trouxe para
o debate jovens estudantes, profissionais e protagonistas dessa discussão desde a
década de 1970” (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007, p. 34). Os principais eixos
do Seminário Nacional foram: financiamento público, organização institucional,
participação popular e metodologias interdisciplinares.
Dentre as questões relacionadas à AT discutidas no Seminário pode-se citar:
os papéis das universidades, das instituições, das entidades profissionais, do terceiro
setor e do cidadão; a criação de uma comissão representativa e democrática; a origem
dos recursos a serem destinados à AT; a formação dos profissionais para trabalharem
com ATHIS; sobre regularização fundiária; financiamentos adequados à realidade das
famílias; a formação de parcerias com empresas de construção civil; a difusão da
importância e necessidade do trabalho profissional do arquiteto e engenheiro na
habitação; a necessidade de informar a população dos seus direitos e sobre
importância da participação popular.
Sobre a importância da participação popular nas lutas por direitos sociais,
Cunha, Arruda e Medeiros (2007) trazem que:

A trajetória das questões urbanas no Brasil tem a característica de uma


participação popular contínua. "Quando entregamos no Congresso Nacional
mais de duzentas mil assinaturas no sentido de criar o capítulo da reforma
urbana na Constituição Brasileira, que hoje existe e originou o Estatuto da
Cidade; mais tarde, em 1990, quando entregamos mais de um milhão de
assinaturas para criar o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social,
sabíamos que era importante existir outros instrumentos, outras ferramentas,
para que pudéssemos, de fato, implementar uma política de reforma urbana,
e uma delas é a assistência técnica."(CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007,
p. 35-36).

O Seminário reuniu 80 experiências em ATHIS, distribuídas em 17 estados e o


Distrito Federal, as quais foram apresentadas a fim de expor as práticas que deram
certo e as dificuldades encontradas durante o processo. Todas as discussões, trocas
e experiências apresentadas durante o evento serviram como subsídio para entender
melhor as principais necessidades dos projetos de ATHIS, assim como pontos cruciais
a serem aperfeiçoados no Projeto de Lei 6.981/06 (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS,
2007).
57

A proposta do Projeto de Lei 6.981/06, que começou a ser elaborada pelo


arquiteto e urbanista Clóvis Ilgenfritz e agora é organizada pelo deputado federal
Zezéu Ribeiro, trouxe como diferencial a participação popular em nível nacional
através das emendas e sugestões apresentadas durante os seminários citados
anteriormente. O objetivo deste projeto de lei é assegurar às famílias de baixa renda
a assistência técnica gratuita para o projeto e a construção de sua habitação, como
pode ser visto em seus primeiros artigos:

Art. 1º Esta Lei assegura o direito das famílias de baixa renda à assistência
técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de
interesse social, como parte integrante do direito social à moradia previsto
pelo art. 6º da Constituição Federal, e consoante o especificado pelo art. 4º,
inciso V, alínea “r”, da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, que “regulamenta
os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da
política urbana e dá outras providências”.
Art. 2º As famílias com renda mensal de até 3 (três) salários mínimos,
residentes em áreas urbanas ou rurais, têm o direito à assistência técnica
pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse
social para sua própria moradia.
§ 1º O direito à assistência técnica previsto no caput abrange todos os
trabalhos de projeto, acompanhamento e execução da obra a cargo dos
profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia necessários
para a edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da
habitação.
[...] (RIBEIRO, 2006).

O projeto foi apresentado em 03 de julho e, por possuir uma ótima


fundamentação democrática e participativa, foi aprovado em primeira instância no dia
14 de julho de 2006, pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, depois foi
encaminhado para a plenária da Câmara dos Deputados.
Zezéu Ribeiro evidencia que “a assistência técnica é para racionalizar a
construção e, consequentemente, barateá-la” (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007,
p. 135). Segundo ele “há uma deformação de que o projeto é encarecedor, que é para
embelezar” (CUNHA; ARRUDA; MEDEIROS, 2007, p. 143). Defende ainda que, o
projeto aliado à AT proporciona, além da economia, o direito a uma moradia digna e
de qualidade, alinhado às condicionantes ambientais, regionais, à cultura daquela
família e às suas necessidades particulares.
Ainda em 2006, aconteceu o II Seminário Nacional para discutir a assistência
técnica em habitação de interesse social, em Goiânia – GO. Nele, foi discutido sobre
a importância dos programas federais para ATHIS e apresentou-se a estratégias para
acelerar a aprovação do Projeto de Lei 6.981/06.
58

Entre 2007 e 2008, em busca da expansão do direito à moradia digna, o


Governo Federal lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Quanto
ao seu objetivo, pode ser descrito como:

O PAC é um programa que tem como propósito o crescimento econômico, o


aumento dos postos de emprego e a melhoria das condições de vida da
população brasileira, alcançados por meio de um conjunto de medidas
destinadas a incentivar o investimento privado, aumentar o investimento
público em infraestrutura e remover obstáculos burocráticos, administrativos,
normativos, jurídicos e legislativos ao crescimento (BRASIL, 2010).

Um dos eixos de atuação do PAC é direcionado à urbanização de favelas,


proporcionando infraestrutura urbana, equipamentos urbanos, transporte público e,
consequentemente, o direito à cidade. Entre 2007 e 2010, o Governo investiu através
desse programa um montante de R$ 17 bilhões aos programas habitacionais
(BRASIL, 2010).
Em 2008, previsto na Lei 11.124/05, foi criado o Plano Nacional de Habitação
(PlanHab) com uma política de subsídios a famílias de baixa renda, organizando as
políticas públicas voltadas à habitação, e estruturando “desde o planejamento urbano
até a viabilização da demanda, identificando os gargalos apresentados em cada etapa
e propondo alternativas para seu enfrentamento, ou seja, desde medidas de estímulo
à produção como à demanda” (BRASIL, 2010, p. 25).
Como resultado dos anos de luta em prol da propagação do direito à assistência
técnica, no dia 24 de dezembro de 2008, foi sancionada a Lei nº 11.888 – a Lei Federal
de Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social (ATHIS). Ela garante às
famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a
construção de habitação de interesse social, integrando o direito social à moradia
contido no art. 6º da Constituição Federal.
A Lei nº 11.888 foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e é
consequência do Projeto de Lei nº. 6223/2002 - apresentado pelo arquiteto e urbanista
Clóvis Ilgenfritz – e do Projeto de Lei 6.981/06 – apresentado pelo arquiteto e urbanista
Zezéu Ribeiro -, conforme cita Clóvis em uma entrevista cedida à revista Projeto, em
uma edição especial editada em parceria com o CAU/BR:

[...] quando fui deputado federal, [...] junto com alguns colegas, formulamos e
registramos um projeto nesse sentido na Câmara Federal. Quando o colega
reassumiu o mandato, para sorte nossa – e isso eu faço questão de frisar -,
o arquiteto Zezéu Ribeiro, eleito pela Bahia, assumiu o nosso projeto. Durante
59

dois mandatos, ele conseguiu manter a proposta mais ou menos íntegra. Em


2008, no dia 24 de dezembro, o Lula telefonou para mim e falou: “Olha,
estamos aí com um presente de Natal para vocês, arquitetos. Acabei de
assinar o projeto”. E foi algo emocionante, porque o presidente e suas
assessorias entenderam a necessidade da assistência técnica (SILVA, 2018).

A Lei assegura o direito à AT gratuita a famílias com renda mensal de até três
salários mínimos, abrangendo “projeto, acompanhamento e execução da obra a cargo
dos profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia necessários para
a edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação” (BRASIL,
2008), conforme seu Art. 2º. Assim, busca atender desde aqueles que não possuem
um domicílio particular permanente 10 , até aos que possuam uma residência em
situação de vulnerabilidade e que precise de melhorias habitacionais, “visando reduzir
o déficit quantitativo (especialmente à coabitação) e o déficit qualitativo (adensamento
excessivo habitacional, condições de precariedade sanitária, ambiental etc.)” (IAB,
2010).
Outro ponto a ser destacado na Lei é que, conforme citado acima, a AT antes
mesmo de abranger o projeto ou a construção da obra, pode abranger a regularização
fundiária 11. Assim, efetiva o direito à moradia através da legalização da posse do
imóvel. A Lei de ATHIS é uma porta para tornar a arquitetura acessível a todos.

O princípio fundamental dos programas de assistência técnica é a


universalização do acesso aos serviços de Arquitetura e urbanismo, com foco
na promoção de serviços para quem precisa e não pode contratar, tornar a
arquitetura promotora de qualidade de vida, enfrentar o preconceito da
categoria por parte das comunidades, entre outros (CAU/GO, 2018).

É claro que, há todo um processo cultural que precisa ser reestabelecido tanto
por parte da população – que precisa reconhecer a importância do trabalho do
arquiteto – como por parte do próprio profissional – que geralmente não foi preparado
durante a faculdade para lidar com o contexto de famílias de baixa renda. Na

10 Domicilio Particular Permanente: é um espaço próprio para servir de moradia. São domicílios
compostos por pelo menos um cômodo que constituem moradias permanentes ou duradouras. O local
em si não é uma adaptação de moradia, embora possa ter adaptações internas ou demonstrar
precariedade. Ou seja, também pode expressar vulnerabilidade, porém usualmente menor que no caso
do domicílio improvisado. Normalmente, tem acesso a serviços básicos de abastecimento de água,
energia elétrica, saneamento ou coleta de lixo (BRASIL, 2011).
11 Regularização fundiária é o processo de intervenção pública, sob os aspectos jurídico, físico e social,

que objetiva legalizar a permanência de populações moradoras de áreas urbanas ocupadas em


desconformidade com a lei para fins de habitação, implicando acessoriamente melhorias no ambiente
urbano do assentamento, no resgate da cidadania e da qualidade de vida da população beneficiária
(ALFOSIN, 1997).
60

Universidade Federal de Alagoas (UFAL) - campus Arapiraca, até o ano de 2018, os


trabalhos relacionados à HIS aconteciam apenas através de projetos de extensão
voluntária. A partir da nova ementa do curso de Arquitetura e Urbanismo, as práticas
voltadas à HIS passaram a fazer parte da grade obrigatória, através das Atividades
Curriculares de Extensão (ACE).
Além de garantir moradia digna e AT à população, a Lei 11.888 também traz
outros objetivos importantes, como a ação preventiva em evitar a ocupação de áreas
de risco, e outros citados em seu Art. 2º:

Art. 2º [...]
§ 2o Além de assegurar o direito à moradia, a assistência técnica de que trata
este artigo objetiva:
I - otimizar e qualificar o uso e o aproveitamento racional do espaço edificado
e de seu entorno, bem como dos recursos humanos, técnicos e econômicos
empregados no projeto e na construção da habitação;
II - formalizar o processo de edificação, reforma ou ampliação da habitação
perante o poder público municipal e outros órgãos públicos;
III - evitar a ocupação de áreas de risco e de interesse ambiental;
IV - propiciar e qualificar a ocupação do sítio urbano em consonância com a
legislação urbanística e ambiental (BRASIL, 2008).

Assim como a moradia digna é um direito assegurado às famílias de baixa


renda, inserido na Constituição Federal, a ATHIS também é um direito a ser garantido
pelo Estado (União, estados e municípios) através de suas políticas públicas
(CAU/SC, 2018).
Para o cumprimento dos direitos contidos no Art. 2º da Lei, é necessário que
haja o repasse de recursos por parte da União aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, de acordo com o Art. 3º da Lei. Segundo o CAU/BR (2021a), as prefeituras
devem criar políticas públicas para aplicação da Lei; selecionar as famílias a serem
beneficiadas; criar parcerias com Organizações não Governamentais (ONGs) e
associações; fazer um cadastro para os profissionais interessados e remunerá-los; e
direcionar as verbas recebidas da União para que a Lei seja cumprida. Segundo IAB
(2010, p. 34), “Os municípios são responsáveis pelo envio de propostas à União para
fins de seleção e consequente repasse de recursos para a prestação dos serviços de
assistência técnica, assim como a prestação de contas ao final do processo”. Afirma
ainda que, os municípios têm o dever de elaborar seus PLHIS para que sirvam de
regulamentação para a implementação da AT.
O Art. 3º da Lei 11.888 ainda conceitua sobre as formas e prioridades de
prestação da AT, afirmando que:
61

Art. 3º [...]
§ 1º A assistência técnica pode ser oferecida diretamente às famílias ou a
cooperativas, associações de moradores ou outros grupos organizados que
as representem.
§ 2º Os serviços de assistência técnica devem priorizar as iniciativas a serem
implantadas:
I - sob regime de mutirão;
II - em zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse social
(BRASIL, 2008).

Quanto à prestação de serviços de AT, o Art. 6º da Lei alega que os


profissionais envolvidos devem ser remunerados e o pagamento deve ser custeado
com recursos destinados à HIS, não sendo caracterizado como um trabalho
voluntário. Segundo o Art. 4º, os profissionais que podem prestar esse tipo de trabalho
são:

Art. 4º Os serviços de assistência técnica objeto de convênio ou termo de


parceria com União, Estado, Distrito Federal ou Município devem ser
prestados por profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia
que atuem como:
I - servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios;
II - integrantes de equipes de organizações não governamentais sem fins
lucrativos;
III - profissionais inscritos em programas de residência acadêmica em
arquitetura, urbanismo ou engenharia ou em programas de extensão
universitária, por meio de escritórios-modelos ou escritórios públicos com
atuação na área;
IV - profissionais autônomos ou integrantes de equipes de pessoas jurídicas,
previamente credenciados, selecionados e contratados pela União, Estado,
Distrito Federal ou Município.
§ 1º Na seleção e contratação dos profissionais na forma do inciso IV do caput
deste artigo, deve ser garantida a participação das entidades profissionais de
arquitetos e engenheiros, mediante convênio ou termo de parceria com o ente
público responsável.
§ 2º Em qualquer das modalidades de atuação previstas no caput deste artigo
deve ser assegurada a devida anotação de responsabilidade técnica
(BRASIL, 2008).

Logo, a prática da assistência técnica apresenta-se como uns dos meios mais
eficazes para o arquiteto e urbanista exercer sua função social. Com ela é possível
trabalhar por cidades mais justas e igualitárias, que atendam às reais necessidades
de seus habitantes. Mostra-se, assim, como uma excelente oportunidade de atuação
profissional, a qual possibilita uma aproximação maior entre o arquiteto e a população
carente. O mercado de AT é promissor, basta que a população seja conscientizada
dos seus direitos para que lute por eles, que os municípios tenham diligência para
cumprir com suas obrigações e que os recursos sejam devidamente repassados. O
IAB (2010) salienta que é um trabalho interdisciplinar que além de envolver arquitetos,
62

urbanistas e engenheiros também pode haver a presença de geólogos, assistentes


sociais, psicólogos e, principalmente, da família e comunidade atendida.
Dos profissionais que se interessam em trabalhar com famílias de baixa renda,
são poucos os que tiveram acesso à formação em ATHIS durante a graduação ou
possuíram algum tipo de experiência na área. Como visto na seção 2.2, a comunidade
e os próprios moradores de baixa renda são frentes ativas durante as obras, e essa
participação é se suma importância para o resultado final na construção. Logo, a Lei
traz um respaldo para capacitar profissionais e a comunidade a prestação dos serviços
de AT em seu Art. 5º:

Art. 5º Com o objetivo de capacitar os profissionais e a comunidade usuária


para a prestação dos serviços de assistência técnica previstos por esta Lei,
podem ser firmados convênios ou termos de parceria entre o ente público
responsável e as entidades promotoras de programas de capacitação
profissional, residência ou extensão universitária nas áreas de arquitetura,
urbanismo ou engenharia.
Parágrafo único. Os convênios ou termos de parceria previstos no caput
deste artigo devem prever a busca de inovação tecnológica, a formulação de
metodologias de caráter participativo e a democratização do conhecimento
(BRASIL, 2008).

O IAB (2010) ainda enfatiza que, “ao promover uma relação direta entre o
profissional e o usuário final, tende a criar condições muito mais férteis para que sejam
atendidas as necessidades reais e suas intenções estéticas em relação à sua
moradia”. O processo participativo do morador durante a construção da sua casa
possibilita que o programa de necessidades seja criado com mais assertividade, assim
como a família irá possuir um maior sentimento de pertencimento pelo lar.
Ao ser aprovada, a Lei 11.888 alterou o Art. 11 da Lei no 11.124 – a qual
direcionou os recursos do FNHIS - acrescentando o seguinte parágrafo:

“Art. 11 (...)
§ 3º Na forma definida pelo Conselho Gestor, será assegurado que os
programas de habitação de interesse social beneficiados com recursos do
FNHIS envolvam a assistência técnica gratuita nas áreas de arquitetura,
urbanismo e engenharia, respeitadas as disponibilidades orçamentárias e
financeiras do FNHIS fixadas em cada exercício financeiro para a finalidade
a que se refere este parágrafo.” (BRASIL, 2008).

Cabe destacar que é dever do Governo Federal repassar os recursos capitados


pelo FNHIS, mas cabe ao município e a outros órgãos públicos criar os programas
voltados à ATHIS e prestar todo o serviço previsto pela Lei.
63

Por fim, a Lei foi sancionada em dezembro de 2008 e passou a vigorar em


meados de 2009, conforme o Art. 8º da Lei: “esta Lei entra em vigor após decorridos
180 (cento e oitenta) dias de sua publicação” (BRASIL, 2008).
A Lei 11.888/08 é um marco para a história da ATHIS, desde que cria
oportunidades para mudar o cenário de déficit habitacional, assim como proporcionar
qualidade de vida à população mais vulnerável. É a oportunidade de construir cidades
mais salubres e justas, tendo profissionais competentes a serviço das famílias de
baixa renda para elaborar projetos, executar obras de melhorias e construção de
novas unidades habitacionais. Entretanto, as ações voltadas à aplicabilidade da Lei
de ATHIS foram pouco significativas, principalmente por parte dos municípios.
Segundo Clóvis Ilgenfritz, “Havia recursos para esse tipo de habitação, mas não se
fazia porque não se queria” (CAU/BR, 2019a).
Em 2009, o Governo Federal criou, a partir da Lei 11.977/09, o Programa Minha
Casa Minha Vida (PMCMV). O propósito era de aumentar o acesso ao financiamento
habitacional com melhores taxas de juros às famílias de baixa renda, criar mais
oportunidades de emprego, estimular o desenvolvimento do mercado formal de
habitação com subsídios governamentais, movimentar a economia e, assim, livrar o
País da crise financeira internacional. Com sua criação, o FNHIS foi direcionado para
o seu financiamento, tirando a visibilidade da Lei 11.888/08.
A fim de beneficiar famílias de até dez salários mínimos, o programa tinha
estratégias diferentes para cada faixa de renda. Em sua primeira versão, a Faixa 1 do
programa abrangeu as famílias de baixa renda, com até três salários mínimos (R$
1.395,00 mensais ou R$ 20 mil anuais – para zona rural, valores referentes à 2009).
Para essas famílias, as casas eram financiadas com 90% de subsídio, prestações
correspondentes a 10% da renda familiar (de no máximo R$ 50,00) e prazo de 120
meses (BRASIL, 2010). Entre as diretrizes que deveriam ser seguidas pelo PMCMV,
estavam:

[...] articulação com estados e municípios, aspecto fundamental para garantir


a adequada implantação dos empreendimentos de interesse social, em
termos de integração urbana, conexão com a malha viária existente, boas
condições de acessibilidade e mobilidade, oferta de equipamentos, serviços
e infraestrutura urbana. A inserção urbana adequada inclui ligação física e
contiguidade com a malha viária existente, além de viabilizar abastecimento
de água, coleta de esgoto, fornecimento de energia elétrica, coleta de lixo,
boas condições de acessibilidade e mobilidade por meio de diferentes tipos
de transporte público. Envolve, também, a proximidade com equipamentos
64

básicos de educação, saúde, segurança pública e de lazer (BRASIL, 2010,


p.57).

Os planos do Governo Lula eram de fazer com que o Brasil se desenvolvesse


economicamente, distribuindo renda e viabilizando inclusão social. Entre 2003 e 2009,
houve um crescente investimento no setor de habitação (Gráfico 1), com um montante
de R$ 141,1 e beneficiando a cerca de 4,6 milhões de famílias. Só em 2009, os
investimentos chegaram a atingir aproximadamente R$ 56 bilhões e um total de
275.528 unidades habitacionais com contratos firmados (Gráfico 2) (BRASIL, 2010).

Gráfico 1 - Evolução dos investimentos em habitação

Fonte: BRASIL (2010).

Gráfico 2 - Unidades habitacionais contratadas no PMCMV em 2009

Fonte: BRASIL (2010).

Brasil (2010) ainda complementa que o PMCMV também teve uma vertente
chamada de PMCMV Entidades, a qual era responsável pelos financiamentos a
famílias de baixa renda organizadas em cooperativas habitacionais, associações e
demais entidades privadas sem fins lucrativos. Nessa modalidade, que representou
0,5% do recurso total do PMCMV, ainda não ocorria a produção de melhorias
habitacionais, mas as construções das moradias já eram mais humanizadas.
Segundo Antunes (2019 apud PORANGABA, 2020), o PMCMV permaneceu
produzindo habitações de forma crescente até o ano de 2013, a partir daí a produção
65

passou a declinar, principalmente para a população de baixa renda. Em 2020, o


programa PMCMV foi substituído pelo Programa Casa Verde e Amarela, criado
quando o “presidente Jair Messias Bolsonaro, o ministro da Economia Paulo Guedes
e o ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Simonetti Marinho assinaram a
Medida Provisória nº 996” (PORANGABA, 2020).
Apesar do alto número de casas produzidas a partir do PMCMV, do grande
investimento no setor habitacional e da boa iniciativa do Presidente Lula ao criar o
programa, os resultados obtidos foram mais satisfatórios para o setor imobiliário do
que para a população.
Na expectativa de revolver o déficit habitacional em larga escala, as casas eram
produzidas dentro de conjuntos habitacionais padronizados, em que as soluções
arquitetônicas eram replicadas por diversos lugares e estados – independente do
clima ou da localidade do terreno. A qualidade das habitações deixava a desejar,
desde que dependia de qual empresa ganharia a licitação para construir, e assim, dos
materiais que seriam utilizados e da mão de obra que seria empregada. O programa
de necessidades geralmente era padrão para todas as famílias (sala, dois ou três
quartos, cozinha e banheiro), às vezes com possibilidade de ampliação.
Ademais, para que a família fosse beneficiada com a casa, precisava deixar o
local que residia inicialmente, e ir morar em um conjunto habitacional o qual fosse
alocada. Tais conjuntos normalmente eram construídos nas periferias das cidades,
longe de escola, posto de saúde, locais de trabalho e outros serviços públicos
importantes para a população. Logo, além de serem removidas do seu meio social,
perdem também o direito à cidade.
O IAB (2010) reforça que, “investir em novos conjuntos conforme a lógica, por
exemplo, do Minha Casa, Minha Vida, é importante e tem grandes objetivos a
alcançar. Porém, esta não pode ser a única maneira de produção de moradia”.
Exemplos bem-sucedidos, voltados ao desenvolvimento de projetos de conjuntos de
HIS, são os editais de concurso público para projetos de arquitetura. Em 2017, a
Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB/DF)
lançou o Concurso Público Nacional de Projetos de Arquitetura para Habitação de
Interesse Social, para o no setor habitacional QNR 06, em Ceilândia. Dentre os 88
projetos enviados de todo Brasil, foram escolhidos três ganhadores para cada
categoria (SOUZA, 2017).
66

Um dos projetos selecionados em 1º lugar foi o 2D +1D (Figura 14), cuja


categoria era de dois quartos com expansão para mais um. Desenvolvido em sistema
de módulos, em alvenaria estrutural com blocos de concreto com acabamento em
resina incolor, blocos térreos e de primeiro andar, com plantas baixas (Figura 15) bem
distribuídas. Foi desenvolvido por uma equipe de arquitetos do Rio Grande do Sul
(RS) (ABBAD, et al., 2017).

Figura 14 - Projeto de Conjunto Habitacional de Interesse Social 2D +1D

Fonte: ABBAD, et al. (2017).

Figura 15 - Planta de cobertura, planta baixa do pavimento térreo e planta do segundo pavimento
com ampliação do Projeto 2D +1D

Fonte: ABBAD, et al. (2017).


67

Vê-se assim, que é possível produzir habitações de qualidade e de custo


reduzido a partir de um bom projeto e da assistência técnica de um profissional
qualificado. No próximo capítulo, serão apresentadas algumas experiências de
assessoria e assistência técnica em habitação de interesse social que obtiveram
sucesso em suas metodologias.
68

3 PROJETOS DE ASSESSORIA E ASSISTÊNCIA TÉCNICA EM HABITAÇÃO


DE INTERESSE SOCIAL

A Lei 11.888/08 foi criada para democratizar o acesso à arquitetura, assim


como corrigir a metodologia da produção em larga escala, atendendo às famílias de
forma individual com assistência técnica gratuita e proporcionando melhoria
habitacional no local em que elas já residem. Visto sua importância no âmbito
habitacional e social, a luta para que ela se torne uma política pública de Estado deve
ser contínua, devendo haver a união de toda a Estrutura Federativa com os
profissionais e a comunidade para isso (IAB, 2010).
Garantir o cumprimento da Lei é um dever do Poder Judiciário. Porém, as
famílias também podem recorrer aos vereadores da cidade, a associações, a ONGS,
ao Ministério Público ou à Defensoria Pública local para reivindicar por este direito. A
Defensoria Pública irá avaliar a situação da comunidade e intimidará o Município a se
posicionar quanto ao cumprimento da Lei (CAU/BR, 2021a). Para que a ATHIS se
torne um direito permanente no Estado é necessária uma luta contínua dos
profissionais de diversas áreas, pela disseminação do conhecimento da Lei para toda
a sociedade, assim como provar a importância e necessidade de um profissional
qualificado durante a construção de uma moradia. A população precisa reconhecer o
valor da assessoria pública de um arquiteto, da mesma forma que admite a
importância de uma consulta médica pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em 2010, como forma de apoio à Lei 11.888/08 e a fim de fortalecer o processo
de implantação de ATHIS, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), juntamente com a
ajuda de sindicatos e associações, criou o ‘Manual para Implantação da Assistência
Técnica Pública e Gratuita a Famílias de Baixa Renda para Projeto e Construção de
Habitação de Interesse Social’ (Figura 16).
69

Figura 16 - Capa do ‘Manual para Implantação da Assistência Técnica Pública e Gratuita a Famílias
de Baixa Renda para Projeto e Construção de Habitação de Interesse Social’

Fonte: IAB (2010).

O manual propõe diretrizes para que a Lei 11.888/08 seja posta em prática,
assim como apresenta uma proposta de funcionamento (Figura 17) para a estrutura
de um projeto de ATHIS, contendo a relação entre todos os agentes responsáveis,
conforme pode ser visto abaixo:

PROPOSTA DE FUNCIONAMENTO
1º passo
A. O Município – Prefeitura Municipal – encaminha proposta ao Ministério das
Cidades e estabelece com esse um convênio ou termo de parceria para o
repasse de recursos federais para a Assistência Técnica (art. 3º). O agente
financeiro opera os recursos diretamente com o município e os usuários.
B. O Município, através de seus órgãos colegiados, como o Conselho
Municipal de Habitação, elabora um cadastro das famílias (com renda de até
3 SM) aptas a acederem à Assistência Técnica (art. 3º).
2º passo
C. As entidades profissionais firmam convênio ou termo de parceria com o
Município e com o agente financeiro para atuarem na seleção e contratação
de profissionais e para receberem recursos para a gestão da Assistência
Técnica. (art. 4º)
D. A entidade elabora cadastro de profissionais interessados em realizar os
serviços de Assistência Técnica previstos na Lei (art. 4º).
3º passo
E. A família selecionada vai até a entidade profissional e solicita um
profissional.
F. A entidade indica um profissional cadastrado.
G. O contrato é firmado entre as partes – família e profissional – e comunicado
aos demais agentes.
H. O profissional presta a primeira parte da assistência técnica: elabora o
projeto.
I. O conselho profissional – CREA ou CAU – fiscaliza o exercício profissional.
4º passo
70

J. A família obtém recursos para a execução da obra junto às linhas de


financiamento do agente financeiro ou de outros programas de HIS, ou com
recursos próprios.
K. O profissional presta a segunda parte da assistência técnica: acompanha
a execução.
L. A cada etapa concluída o profissional recebe a remuneração.
M. Os agentes envolvidos realizam relatórios e avaliação do processo
concluído (IAB, 2010).

Figura 17 - Proposta de funcionamento para um projeto de ATHIS

Fonte: IAB (2010).

O esforço nacional dos arquitetos e urbanistas em divulgar o direito à ATHIS foi


reforçado em 2016, quando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil
(CAU/BR) definiu como diretriz do plano de ação dos CAU/UF a destinação mínima
de 2% do orçamento anual para o apoio de ações, com participação de profissionais
da área, voltadas para a promoção da assistência técnica pública e gratuita para as
famílias de baixa renda, a fim de ser reconhecido como referência na luta pelo
cumprimento da Lei Nº 11.888/2008.
Em 2018, foi criada uma cartilha voltada a divulgar a existência da Lei 11.888/08
e os principais conceitos relacionados à ATHIS, produzida pelo Conselho de
Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU/SC) com conteúdo do escritório AH!
Arquitetura Humana. A Cartilha “ATHIS - Assistência Técnica de Habitação de
Interesse Social: Um direito e muitas possibilidades” (Figura 18) traz conceitos
importantes relacionados à ATHIS e à Lei 11.888/08. Seu objetivo principal é o de
incentivar profissionais de diferentes áreas, governantes, movimentos sociais e a
71

própria sociedade a continuarem lutando pelo direito à ATHIS, para que se torne uma
Política de Estado permanente (CAU/SC, 2018).

Figura 18 - Capa da Cartilha “ATHIS - Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social: um


direito e muitas possibilidades”

Fonte: CAU/SC (2018).

Outra iniciativa relevante voltada ao tema, foi a criação do o Registro de


Responsabilidade Técnica (RRT) Social, que visa facilitar e diminuir o custo do RRT
vinculado à Habitação de Interesse Social. Com ele, é permitido que seja registrado
em um único RRT, por até seis meses “mais de uma atividade de Projeto, Execução
e Atividades Especiais desde que vinculadas até 100 endereços de edificações
residenciais unifamiliares ou a um único endereço de conjunto habitacional ou
edificação residencial multifamiliar” (CAU/BR, 2019b).
O CAU/BR criou ainda o Site Moradia Digna do CAU BRASIL, onde além de
orientar a todos sobre o direito à moradia digna e à Lei 11.888/08, disponibiliza
documentos para auxiliar na implementação da Lei de ATHIS por parte de gestores
das políticas de habitação. O site ainda mostra quais são as cidades do Brasil que têm
a Lei de ATHIS sendo implementada, dados levantados em 2021 (Figura 19)
(CAU/BR, 2021a).
72

Figura 19 - Iniciativas de ATHIS no Brasil em 2021

Fonte: CAU/BR (2021a).

Ao analisar a Figura 19, nota-se que entre os 26 estados brasileiros, apenas 12


e o Distrito Federal estão com a Lei 11.888/08 sendo implementada, contabilizando
24 cidades beneficiadas com tal direito. Em 12 anos de existência da Lei, tais números
só confirmam que a luta pela sua aplicação deve continuar, mas também que as
experiências em ATHIS, infelizmente, precisam buscar também outros recursos para
poderem ser colocadas em prática.
Dessa forma, o terceiro setor - formado por organizações sem fins lucrativos e
não governamentais (ONGs) – e arquitetos, urbanistas e engenheiros, unidos a
profissionais de diversas áreas técnicas (geógrafos, geólogos, assistentes sociais,
psicólogos, entre outros), começaram a buscar meios de levar o conhecimento técnico
às famílias de baixa renda. A falta de recursos públicos não impossibilitou que
continuassem lutando pelo direito à moradia digna, desde que reconheciam a
arquitetura como ferramenta de transformação da realidade social. As iniciativas de
arquitetura social buscaram recursos privados, editais de concurso público e até
parcerias com universidades. Notini (2020), catalogou diversas experiências
relacionadas à assessoria e assistência técnica, realizadas com recursos públicos e
privados, em uma linha do tempo (Figura 20) que começa desde os anos 90 até 2020.
73

Figura 20 - Linha do tempo de experiências relacionadas à ATHIS

Fonte: NOTINI (2020).


74

Dentre os projetos existentes no Brasil, que buscam levar assessoria e


assistência técnica para construção e/ou reforma de moradias de famílias baixa renda,
funcionando com recursos públicos ou privados, alguns foram escolhidos e serão
apresentados a seguir.

3.1.1 Projetos no Brasil

3.1.1.1 ONG Soluções Urbanas: Projeto Arquiteto de Família

O projeto Arquiteto de Família foi idealizado em 2001, pela Arquiteta e


Urbanista Mariana Estevão, inspirado no programa médicos da família, com o objetivo
de prestar assessoria técnica em melhorias habitacionais para famílias de baixa
renda, de preferência em casas autoconstruídas. O projeto busca transformar casas
precárias em moradias saudáveis – eliminando as patologias construtivas que
comprometem a saúde - e seguranças – fazendo intervenções pontuais na estrutura
e entorno da residência. Com foco no déficit qualitativo existente nas favelas, procura
proporcionar qualidade de vida para as famílias, a partir das melhorias no espaço
habitado e da qualificação do processo de autoconstrução.
Em 2002, Mariana ajudou a fundar a ONG Soluções Urbanas12 (Figura 21), a
fim de captar recursos para a viabilização do Arquiteto de Família. Em 2011, a ONG
Soluções Urbanas “foi indicada ao Prêmio de Melhores Práticas em Gestão pela Caixa
Econômica Federal [...] . Em 2013 a ONG ficou em 2º lugar no Prêmio Generosidade
promovido pelas Organizações Globo” (Página da ONG Soluções Urbanas no
Facebook13).

12 Soluções Urbanas é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, composta por uma
equipe interdisciplinar (arquitetos, engenheiros, assistentes sociais, psicólogos, entre outros).
13 Disponível em: < https://www.facebook.com/solucoesurbanas>. Acesso em: 04 de julho de 2021.
75

Figura 21 - Logo da ONG Soluções Urbanas.

Fonte: Soluções Urbanas (2012).

A metodologia do Projeto Arquiteto de Família se desenvolve paralelamente a


sua aplicação, havendo sempre o diálogo entre os profissionais e as famílias
atendidas. Essa comunicação é importante para troca de saberes, assim como para
medir a satisfação dos moradores. Um dos ensinamentos aprendido durante a
vivência, idealmente, é que o produto final de uma assessoria ou assistência técnica
deve ser a entrega da obra, e não apenas do projeto (informação verbal)14. Mariana
afirma em suas falas que, apenas a entrega do projeto causa pouco impacto social,
pois a renda mensal das famílias atendidas geralmente não favorece à realização de
obras, tornando-se assim necessário existência de uma orientação financeira e
técnica para que isso venha a concretizar-se. Além de que, durante o desenvolvimento
do projeto os problemas existentes na casa tornam-se ainda mais evidentes para os
moradores e a possibilidade de não conseguir mudar aquela situação devido à falta
de recursos, pode causar uma frustação enorme à família (CAU/BR, 2021b).
Assim, para a realização das obras o projeto se firma em três pilares principais:
prestação de assessoria técnica (no projeto e na obra), aprimoramento dos processos
já utilizados e estudo de viabilização econômica da obra (Figura 22).

14
Fala de Mariana Estevão no Minicurso Virtual de ATHIS para Melhorias Habitacionais em favelas:
melhorias habitacionais na prática, Soluções Urbanas, 2020.
76

Figura 22 - Pilares para a realização de obras

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Sobre a prática de aprimoramento de processos, pode-se citar a utilização de


concreto celular (concreto aerado) em lajes com caimento inadequado, possibilitando
que a água pluvial escoe corretamente sem sobrecarregar a estrutura.
Após entrar no território, a abordagem e diálogo com a família é realizado a
partir das seguintes etapas: estudo socioeconômico, triagem dos beneficiários e as
visitas domiciliares (ROCHA, 2019). O estudo socioeconômico tratava-se de um
diagnóstico social da família e físico da moradia. Nele, foram realizadas entrevistas
com as famílias para se obter uma caracterização do perfil da comunidade e da
relação dos moradores com o espaço construído.
Feito isso, o próximo passo é o da triagem dos beneficiários, selecionando
quais as famílias a serem beneficiadas. Os critérios de escolha são estabelecidos pela
equipe com a ajuda dos agentes já atuantes no território. Destaca-se aqui, a
importância do diálogo com as instituições existentes no local - CRAS, Unidades de
Saúde, Igrejas e Associações comunitárias-, pois seus integrantes já conhecem a
dinâmica da comunidade e possibilitam o acesso seguro e com confiança. Nessa
etapa, também ocorre a participação das famílias (Figura 23), de grande importância
para o processo. Mariana também destaca em suas falas que, na atuação com
assessoria e assistência técnica em habitação de interesse social é de suma
importância o diálogo com os moradores, de forma que eles sejam informados do que
77

se pretende fazer e possam opinar sobre os assuntos expostos, a fim de que haja
uma troca de saberes mútua (informação verbal)15.

Figura 23 - Mural com critérios sugeridos pela comunidade

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Entre os critérios estabelecidos, encontram-se artigos da Lei 11.888 (como o


de a família ter renda de até três salários mínimos) e situações familiares mais
agravantes, como casas com idosos sem cuidadores e com mães solteiras.
Selecionadas as famílias, o próximo passo é o da visita domiciliar.
As visitas domiciliares tinham por objetivo principal compreender as reais
necessidades das famílias, identificando o perfil social e os problemas construtivos
existentes. As visitas eram realizadas por uma equipe técnica/ social - geralmente, um
arquiteto e/ou engenheiro e um assistente social.
Após a seleção das famílias e o conhecimento da situação familiar de cada
uma, chega-se na fase de elaboração do projeto, em que existe todo um processo de
planejamento para se obter um resultado final satisfatório (Figura 24).

15
Fala de Mariana Estevão no Minicurso Virtual de ATHIS para Melhorias Habitacionais em favelas:
melhorias habitacionais na prática, Soluções Urbanas, 2020.
78

Figura - Processo de elaboração de projeto para melhorias habitacionais

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Nas primeiras experiências do Arquiteto de Família, era-se feito o projeto


completo da casa, eram contabilizados todos os problemas existentes em todos os
cômodos e fazia-se um orçamento geral. Com a vivência, a equipe percebeu que, se
tratando de famílias de baixa renda o mais viável é fragmentar o projeto em
intervenções pontuais e independentes umas das outras. Isso ocorre pois, ao se fazer
uma reforma completa torna-se necessário que a família desocupe a casa e passe o
período da obra em outro local, podendo gerar vários desconfortos como: a família ter
gastos com aluguel, precisar ficar na casa de um parente, o prazo da obra se estender
e os moradores começarem a ficar insatisfeitos com a situação, entre outros. Mariana
reforça que, há mais vantagens em se reformar com pessoas em casa, pois ocorre
uma maior participação dos moradores durante o processo, ajudando na tomada de
decisões, acompanhando os problemas que surgem durante a obra, verificando o
andamento dos serviços e obtendo maior sentimento de pertencimento por estar
colaborando com a reforma (informação verbal)16.
Para identificar quais seriam as prioridades entre as intervenções era realizada
a construção do mapa de riscos (Figura 25), onde os membros da família juntamente
com a equipe marcam em um croqui da casa onde existem problemas a serem
resolvidos e quais são os níveis de prioridade de cada espaço a ser reformado. Tal

16
Fala de Mariana Estevão no Minicurso Virtual de ATHIS para Melhorias Habitacionais em favelas:
melhorias habitacionais na prática, Soluções Urbanas, 2020.
79

etapa possibilita a interação da família, assim como a identificação da primeira


intervenção que deve ser feita na habitação.

Figura 24 - Mapa de riscos de uma casa

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Por mais que demore muito mais tempo para executar as intervenções de forma
separada, são muitos benefícios envolvidos. Como também, o perfil social das famílias
em vulnerabilidade social é muito volátil, um projeto feito hoje pode não servir da
mesma maneira daqui a uns anos. Assim, dividindo o projeto em etapas (intervenções
pontuais), só após acabar a construção e concluir o pagamento de todo o orçamento
de uma delas é que se pode avançar para começar outra. Contudo, caso necessário,
os projetos das intervenções podem ser reajustados ao longo do tempo. Uma janela
a ser colocada para circulação do ar, um revestimento no banheiro, uma
impermeabilização na parede para diminuir o mofo, são exemplos de pequenas
mudanças bastante significativas para o bem-estar da família. Aqui, vale destacar que
as alterações propostas pelas ações de ATHIS dão prioridade maior à funcionalidade
do que à estética.
Ao longo dos anos de experiência, catalogou-se as intervenções mais
recorrentes a fim de identificar mais rapidamente quais seriam as melhorias que
podiam ser realizadas para resolver ou amenizar o problema (Figura 26). Esse
80

processo contribuiu para a redução de tempo de prestação de serviço e,


consequentemente, de custo também.

Figura 25 - Diagnósticos das inadequações e intervenções mais recorrentes

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Mariana afirma que, para um arquiteto atuar com assessoria e assistência


técnica é necessário que este simplifique o processo de elaboração de projeto, de
forma que reduza o tempo para desenvolvimento sem perder a qualidade do produto
final. Em suas experiências, constatou que se a equipe demora mais de duas semanas
entre o levantamento de dados e a próxima visita, ela já se sente abandonada.
Projetos executivos muito detalhados não atendiam à realidade, desde que levavam
muito tempo para serem feitos e eram muito complexos para a família e pedreiros
compreenderem. Existe a necessidade de se criar materiais mais didáticos para
facilitar a leitura dos autoconstrutores. Mariana também ressalta a importância de se
pensar em estratégias de diminuição de tempo e custo de obra (informação verbal) 17.
A exemplo de aplicação desse tipo de abordagem, o Projeto adotou a utilização
de uma betoneira, comprada com a ajuda de todas as famílias a serem atendidas, o
equipamento possibilitou que o concreto fosse feito com muito mais qualidade e
agilidade, além de reduzir os desperdícios com materiais e viabilizar a utilização de
aditivos ao produto (Figura 27).

17
Fala de Mariana Estevão no Minicurso Virtual de ATHIS para Melhorias Habitacionais em favelas:
melhorias habitacionais na prática, Soluções Urbanas, 2020.
81

Figura 26 - Betoneira comprada em conjunto pela comunidade

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Após o processo de elaboração do projeto, torna-se necessário auxiliar à


família quanto ao planejamento da obra. Dentro de uma comunidade de baixa renda,
existem várias situações econômicas distintas. Visto essa realidade, o Projeto
elaborou diferentes estratégias de vibilização econômica (Figura 28) para a realização
das obras, que podem ser combinadas e assim atender a vários perfis sociais. Tais
estratégias são divididas em dois eixos: recursos financeiros e mão de obra.

Figura 27 - Estratégias de viabilização econômica para obras

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Quanto às estratégias de acesso aos recursos:

a) Subsídios: era o valor (parcial ou integral) doado para a realização da obra.


Essa estratégia só era válida em situações extremas cujo perfil social não
indicava outra estratégia de acesso a recursos. Quando possível, era pedido
que algum membro da família contribuísse com mão de obra como
contrapartida. Para fornecer este tipo de recursos as famílias, é utilizado o
conceito de Crowdfunding, que é um financiamento coletivo onde através de
82

sites ou redes sociais faz-se a campanha de arrecadação de doações em prol


de uma realidade específica (Figura 29);

Figura 28 - Site para realização de Crowdfunding

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

b) Microcrédito: era um valor emprestado ao morador, que retornava pelo


pagamento divido entre quatro a seis parcelas a juros baixos e depois ficava à
disposição de outras famílias;
c) Economia Solidária: acontecia através das feiras de troca, em que o morador
levava embalagens longa vida para trocar por uma moeda social local, do
sistema de Ecobanco desenvolvido pelo Arquiteto de Família (Figura 30). Com
a moeda, ele podia adquirir materiais de construção excedentes de obras ou
doados por lojas (que já não serviam para comercialização, mas ainda estavam
em condições de uso). O projeto possuía uma parceria com a TetraPak para
trocar o material reciclável arrecadado por telhas ecológicas fabricadas com
esse material. As feiras de troca eram realizadas a cada dois meses. A parceria
com casas de construção do bairro também se torna uma estratégia de
economia, desde que possibilita o financiamento da compra e o
armazenamento dos materiais por período determinado, caso seja necessário;
83

Figura 29 - Imagens das feiras de trocas solidárias e das telhas ecológicas

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Quanto às estratégias de gestão das obras:

a) Empreitadas: são caracterizadas pela contratação de mão de obra informal


(pedreiros e serventes) para a execução das intervenções (Figura 31). Por ser
intervenções maiores, às vezes faz-se necessário que a família saísse da casa
durante a obra;

Figura 30 - Obras por empreitada

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

b) Autoconstrução: ocorre quando a obra é realizada pelo próprio morador (ver


seção 2.2), assistido pelos profissionais da equipe. Antes de começarem a
executar a obra, os autoconstrutores recebem capacitação com conhecimentos
básicos acerca de alguns aspectos construtivos principais;
84

c) Mutirões: ocorrem quando vários moradores se mobilizam para ajudar na obra


de outro morador, geralmente aos fins de semana (Figura 32). Utilizados em
intervenções específicas (como a concretagem de lajes) e pressupõe o auxílio
de pelo menos um pedreiro. As pessoas que participam normalmente são
familiares ou vizinhos que receberão a mesma ajuda em outra data. Segundo
a ONG, “do ponto de vista social esse sistema tem um maior potencial de
transformação, seja pelo estímulo à colaboração, seja pela qualificação dos
autoconstrutores” (Página da ONG Soluções Urbanas no Facebook18, 2013).

Figura 31 - Obra realizada em mutirão

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Utilizando as estratégias citadas, há como combiná-las de forma a atender a


diferentes situações familiares, por exemplo: reforma completa com recursos
subsidiados e mão de obra contratada pela ONG (Figura 33), reforma de banheiro
com recursos da Feira de Troca Solidária com mão de obra do autoconstrutor (Figura
34), reforma de banheiro com recursos de subsídio e mão de obra por empreitada
(Figura 35), entre outros.

18 Disponível em: <


https://www.facebook.com/media/set/?vanity=solucoesurbanas&set=a.554443117943561>. Acesso
em: 04 de julho de 2021.
85

Figura 32 - Reforma completa com recursos de subsídio e mão de obra contratada pela ONG

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Figura 33 - Reforma de banheiro com recursos da Feira de Troca Solidária com mão de obra do
autoconstrutor

Fonte: Soluções Urbanas (2020).


86

Figura 34 - Reforma de banheiro com recursos de subsídio e mão de obra por empreitada

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Como falado anteriormente, tal metodologia foi sendo desenvolvida e


aperfeiçoada conforme sua aplicação, como poderá ser visto nas experiências relatas
a seguir. Em 2008, a ONG Soluções Urbanas firmou parceria com o Instituto Vital
Brazil para que o Projeto Arquiteto de Família começasse a ser executado no Morro
Vital Brazil, localizado em Niterói/RJ. A terras do Morro haviam sido doadas pelo
Instituto para alguns de seus funcionários, a fim de que construíssem suas casas em
seus arredores.
Para essa atuação, a equipe foi formada por 18 profissionais e 2 estagiários,
arquitetos, engenheiros, assistentes sociais e profissionais das áreas de economia,
marketing e gestão de projetos. Das 351 moradias cadastradas no morro, foram
escolhidas 100, a partir de critérios físicos e sociais relacionados à situação de
vulnerabilidade social. Nesse período, os projetos foram financiados pelo FNHIS,
conseguindo cobrir os custos de 100 projetos de melhoria habitacional, cada um feito
de acordo com as especificidades de cada família. Porém, em 2009, os recursos do
FNHIS foram redirecionados para o PMCV e não havia mais subsídio público para
ATHIS e nem para prosseguir com o trabalho no morro.
Após entregue os projetos executivos para cada família, a equipe percebeu que
muitas delas não estavam dispostas a correr atrás de recursos para a realização da
obra ou nem tinham ideia de como consegui-los. Como a Caixa Federal, que
87

repassava os recursos, exigia que os projetos fossem elaborados completos, isso


levou a orçamentos muito altos, visto a realidade financeira das famílias atendidas e,
consequentemente, seria muito difícil tais reformas serem colocadas em prática
integralmente. Percebeu-se que o critério de seleção por famílias mais vulneráveis
não tinha sido viável, desde que não havia sido previsto a falta de recursos para a
realização da obra.
Com isso, após essa primeira atuação no morro, as famílias foram atendidas
por livre demanda (os moradores é que procuravam a ONG, geralmente após ver
alguma obra já realizada ou receber indicação de algum vizinho), e os projetos
passaram a ser divididos em intervenções pontuais, escolhidas a partir dos principais
problemas existentes. Para dar continuidade ao trabalho no Morro, a Soluções
Urbanas elaborou estratégias para viabilização das obras e auxiliou no planejamento
financeiro das famílias, a fim de que elas tivessem possibilidades de colocar o projeto
em prática.
Jayana foi uma das moradoras beneficiadas da comunidade Vital Brazil. O
projeto foi divido em duas etapas e foi orçado em R$ 7.500, com construção de uma
mureta para contenção da terra, uma canaleta para drenagem da água pluvial e uma
escada para acesso seguro à casa. A primeira etapa previa toda a estrutura e
alvenaria para a construção da mureta e da escada, com custo de R$ 3 mil. A segunda
etapa previa o corte do talude, impermeabilização, canaleta e cobertura vegetal,
orçando em R$ 4.500 (BRAGA; FRAGA, 2018).
No corte do projeto (Figura 36), pode ser visualizado o volume de talude a ser
removido da encosta, possibilitando a construção da mureta de contenção e da
canaleta para escoamento da água pluvial. Além disso, mostra-se o aterro que teria
que ser feito em frente à casa, onde seria construído uma varanda e escada se acesso
à casa. Na figura 37, vê-se a equipe envolvida na obra em frente à casa da Janayna,
antes de ser reformada, podendo-se notar o tamanho da erosão em frente à sua
residência.
88

Figura 35 - Corte AA’ do projeto de reforma da cada da Jayana

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Figura 36 - Equipe de obra em frente à casa da moradora Jayana.

Fonte: Página da ONG Soluções Urbanas no Facebook 19 (2017).

Apesar de serem pontuais, as melhorias habitacionais realizadas para as


famílias causam um impacto muito positivo, pois proporcionam dignidade e qualidade
de vida aos moradores. Em uma das reformas completas feitas no morro, Mariana
Estevão enfatiza que foi possível diminuir a temperatura interna da casa em até 8º C,

19Disponível em: < https://www.facebook.com/solucoesurbanas/photos/1205210806200119>. Acesso


em: 04 de julho de 2021.
89

comparada com a externa. Nessa obra (Figura 38), elevou-se o pé direito para fazer
um ático ventilado, fez-se um novo telhado com telha termoeficiente, alocou-se novas
janelas para ventilação cruzada, criou-se mais um quarto e assentou-se revestimentos
onde necessário (SOLUÇÕES URBANAS, 2020).

Figura 37 - Antes e depois de reforma de casa completa.

Fonte: Soluções Urbanas (2020).

Em reformas como essa, que engloba toda a casa, o custo médio das obras é
de R$ 35 mil reais (fora os custos com ATHIS). Já em intervenções pontuais, como o
banheiro da Figura 39, o custo médio das obras é entre R$ 5 mil a R$ 10 mil reais
(fora os custos com a assessoria técnica). Na obra do banheiro abaixo, houve a
mudança do layout do ambiente, dos revestimentos, dos equipamentos sanitárias e a
inclusão de uma porta (substituído a cortina que fechava o banheiro e proporcionando
mais privacidade à família).

Figura 38 - Reforma de banheiro.

Fonte: Soluções Urbanas (2020).


90

Atualmente, a ONG Soluções Urbanas está em São Paulo e o Projeto Arquiteto


de Família continua atuando e formando parcerias, uma delas foi com a ONG Habitat
para a Humanidade. Entre as obras já realizadas em SP, vale destacar a reforma da
dona Aparecida, a qual é cadeirante e tinha que ser empurrada por uma rampa até
chegar na sua casa, com nível de 2,5m da rua (Figura 40). O ponto principal da
reforma foi tornar a casa acessível com a construção de um elevador, que fosse de
baixo custo e fácil manuseio e manutenção.

Figura 39 - Antes de depois da construção do elevador

Fonte: Soluções Urbanas (2019).

A reforma da casa da Dona Aparecida demonstra o quão é importante ter a


presença de Arquitetos e engenheiros presentes na realização de uma obra. Porém,
são poucas as famílias que possuem esse entendimento, como Mariana confirma em
sua fala:

Se a gente for analisar bem, hoje, o nosso principal concorrente nos territórios
de favela é o pedreiro, né? Então, é o pedreiro que vai dar a palavra final, em
geral, [...]. Porque o pedreiro, certamente na ideia que a família traz, dá a
informação mais prática e barata, aquela que realmente vai servir para aquela
família. O quê que em geral as famílias entendem de um trabalho de um
arquiteto? Em geral, é que o trabalho de um arquiteto é direcionado às
classes mais ricas, que ele tem como foco a estética e então, a família
entende que o que o arquiteto tem a oferecer é muito pouco ou quase nada”
(informação verbal)20.

20
Fala de Mariana Estevão no Minicurso Virtual de ATHIS para Melhorias Habitacionais em favelas:
melhorias habitacionais na prática, Soluções Urbanas, 2020.
91

Infelizmente, a maior responsabilidade pela existência desse estigma é da


própria classe de Arquitetos e Urbanista que, na maioria das vezes, não sabe se
posicionar corretamente na atuação com famílias de baixa renda. Isso pode ocorrer
tanto devido à falta de experiência durante a graduação, quanto por não buscarem se
aperfeiçoar na área. A fim de ajudar a reverter essa situação e disseminar os
conhecimentos obtidos ao longo dos anos com o Projeto Arquiteto de Família, Mariana
desenvolve Minicursos voltados à prática de assessoria técnica. Mariana Estevão, em
uma fala sobre sua atuação na área da arquitetura social, diz que “se eu achasse que
era utópico eu já tinha parado, se eu não parei nos últimos 20 anos eu não vou parar
agora” (CAU/BR, 2021b).
Vale ressaltar que, a quantidade de informações expostas sobre o Projeto
Arquiteto de Família e suas metodologias é extensa pelo fato que a autora deste
trabalho participou de um Whorkshop de assistência técnica para melhorias
habitacionais com a Mariana Estevão.

3.1.1.2 ONG Construide

Em 2017, numa viagem missionária para o sertão do Piauí, o Arquiteto e


Urbanista Bruno Bordón conheceu várias famílias, mas uma delas prendeu sua
atenção. A família do Sr. Rodrigo era composta por ele, sua esposa e mais 8 filhos,
que vivam em situação de vunerabilidade social numa casa totalmente insalubre.
Comovido com aquela realidade e motivado a mudá-la, Bruno postou em suas redes
sociais sobre a situação da família e no mesmo dia começou a receber várias doações
de todo o país para ajudar na causa. Assim nasceu a ONG Construíde (Figura 41),
com o propósito de tranformar a vida de várias famílias, que moram em casas
inadequadas e não propícias a reforma, através da construção de habitações sociais.
Por meio da arrecadação de recursos por doação e de multirões com mão de obra de
voluntários e profissionais informais locais (supervisionados por arquitetos e
engenheiros), a Construide tem a missão de utilizar da construção civil para garantir
o direito à moradia digna a famílias de baixa renda, trabalhando com empatia,
excelência e amor (CONSTRUIDE, 2021).
92

Figura 40 - Logo da ONG Construide.

Fonte: Construide (2020).

Atualmente, a sede da ONG funciona em Osasco – SP, mas também possui


filiais em Sergipe, Goiás e no Paraná. Desde 2017, já foram arrecadados 2,2 milhões
de reais, 2349 de voluntários já se inscreveram para participar dos mutirões e 42 obras
foram entregues, fora as que estão em desenvolvimento, beneficiando a 7184
pessoas com moradia de qualidade. A Construide possui um selo de impacto social
reconhecido pela Innovation Latam e Fundação Dom Cabral, pelo comprometido e
impacto de atuação (CONSTRUIDE, 2021).
Para ser selecionada, a família precisa se enquadrar em 8 requisitos (Figura
42), como ter renda familiar de até R$2.008,00 reais e se responsabilizar em pagar
10% do valor total da obra (valor que será parcelado e poderá ser pago por terceiros,
em caso de indicação da história da família).

Figura 41 - Requisitos de seleção de famílias da ONG Construide.

Fonte: Construide (2021).


93

Desde o final de 2020, que os projetos da ONG foram padronizados,


desenvolvidos por arquitetos e engenheiros a fim de trazer os seguintes benefícios:
escalabilidade de impacto, economia de materiais, economia de tempo, melhor
aproveitamento do terreno, design padronizado e orçamento único (CONSTRUIDE,
2021). As casas são constituídas com alvenaria estrutural, esquadrias de alumínio,
instalações elétricas aparentes, instalações hidráulicas alocadas em uma só parede
para distruibuir a todas as áreas molhadas e laje apenas no banheiro. O uso de blocos
de concreto proporciona isolamento acústico, facilidade para aplicação de
revestimentos, além da variedade de suas medidas que contribui para a passagem de
canos. Constituída por módulos – dormitório casal, dormitório filhos, living (sala
integrada com a cozinha), área molhada (banheiro, cozinha e área de serviço) e área
comum (corredor lateral) (Figura 43). Com a combinação desses é possível adaptar o
projeto a diferentes terrenos, com dimensões mínimas exigidas entre os 8 critérios
citados acima, podendo estar localizados em qualquer estado do Brasil. O projeto
buscou criar uma moradia digna, com conforto e privacidade, proporcionando bem-
estar à familia atendida.

Figura 42 - Módulos do projeto da casa padrão

Fonte: Construide (2021).

A equipe elaborou quatro opções de casa padrão para atender a vários perfis
sociais e socioeconômicos, se adequando a cada história familiar. A casa padrão
opção 1 (Figuras 44 e 45) possui 41m², pode abrigar até 8 pessoas e custa quase R$
48 mil reais (Figura 46). A casa padrão opção 2 também possui essas mesmas
características, a diferença está no layout da planta. A casa padrão opção 3 possui
31,8m², pode abrigar até 6 pessoas e custa quase R$ 43 mil reais. Já a casa padrão
94

opção 4 possui 23m² com apenas um dormitório, podendo abrigar até 4 pessoas e
custa quase R$ 36 mil reais.

Figura 43 - Exemplo de planta de layout da casa padrão opção 1.

Fonte: Construide (2021).

Figura 44 - Modelagem 3D da casa padrão opção 1.

Fonte: Construide (2021).


95

Figura 45 - Custos gerais das casas padrão opção 1 e 2 (41m²).

Fonte: Construide (2021).

Para a viabilização do processo de ATHIS e das construções das obras, a ONG


Construide capta recursos através do seu site, possibilitando que pessoas físicas e
jurícas doem em valor ou com materiais (Figura 47).

Figura 46 - Formas de doação para a ONG Construide.

Fonte: Construide (2021).


Outra forma de arrecadação de recursos é através da loja Construide Store
(Figura 48), onde todo valor obtido com a vendas dos produtos – camisas, pochetes,
bolsas, entre outros -, é revertido em obras.

Figura 47 - Página da loja Construide Store.

Fonte: Construide (2021).


96

Como viabilização construtiva a ONG conta com ajuda de voluntários (Figura


49), pessoas de qualquer formação profissional, para participarem das obras aos
sábados, dia em que acontece os mutirões, sendo supervisionados por um arquiteto
ou engenheiro. Além de poderem participar das obras, os voluntários também podem
se inscrever para trabalhar internamente e exercer “sua profissão ou habilidade em
determinada área de acordo com a demanda administrativa da Organização”
(CONSTRUIDE, 2021).

Figura 48 - Voluntários da ONG Construide ajudando

Fonte: Construide (2021).

A primeira obra executada no Nordeste foi a da família do Sr. Nilson (Figura


50), em Sergipe. Ele e Dona Josinete moravam com duas filhas e uma neta em uma
casa feita de barro batido e sofriam com a entrada de insetos peçonhentos (Figuras
51 e 52), infiltrações nos dias de chuva e com a instabilidade do telhado já deteriorado.
São um casal de pescadores e catadores de latinha, porém com a renda familiar
comprometida desde que sua esposa sofreu um acidente e passou a utilizar de
medicamentos e trabalhar com menos constância (CONSTRUIDE, 2021).
97

Figura 49 - Família do Sr. Nelson em frente a sua antiga casa.

Fonte: Construide (2020).

Figura 50 - Cozinha da casa antiga do Sr. Figura 51 - Fachada posterior da casa antiga do
Nelson. Sr. Nelson.

Fonte: Construide (2020).


Fonte: Construide (2020).

Ela foi construída com módulos da casa padrão opção 1, adaptada ao terreno
e às condições climáticas, com uma fachada simples (Figura 53), corredor lateral
(Figura 54), cozinha (Figura 55), banheiro, área de serviço (Figura 56), living (Figuras
57 e 58), dormitório do casal (Figuras 59 e 60) e dormitório das filhas e neta (Figura
61 e 62).
98
99

Figura 52 - Fachada da casa do Sr. Nelson Figura 54 - Acesso principal a casa do Sr. Nelson

Fonte: Construide (2020). Fonte: Construide (2020).

Figura 53 - Cozinha da casa do Sr. Nelson Figura 55 - Área de serviço da casa do Sr. Nelson

Fonte: Construide (2020). Fonte: Construide (2020).

Figura 56 - Living da casa do Sr. Nelson Figura 57 - Living da casa do Sr. Nelson

Fonte: Construide (2020). Fonte: Construide (2020).


100

Figura 58 - Dormitório de casal da casa do Sr. Figura 59 - Dormitório de casal da casa do Sr.
Nelson Nelson

Fonte: Construide (2020). Fonte: Construide (2020).

Figura 60 - Dormitório das filhas e neta da casa Figura 61 -Dormitório das filhas e neta da casa do
do Sr. Nelson Sr. Nelson

Fonte: Construide (2020). Fonte: Construide (2020).

Bruno Bordón e sua equipe, através da ONG Construide, vêm transformando a


realidade de inúmeras famílias, ajudando a diminuir o déficit habiacional quantitativo
e fazendo pessoas se sentirem dignas de uma casa de qualidade.

3.1.1.3 CODHAB: Melhorias Habitacionais

A Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal


(CODHAB/DF) foi criada pela Lei n° 4.020, de 26 de setembro de 2007 (Figura 63). É
uma empresa pública integrante da Administração Indireta do Governo do Distrito
101

Federal, que tem como finalidade executar a Política de Desenvolvimento


Habitacional. Sua atuação é articulada com políticas e programas que visem o
desenvolvimento das funções econômicas e sociais da população, preferencialmente
de baixa renda, com o intuito de garantir a melhoria da qualidade de vida das pessoas
e a preservação do meio ambiente (SEDUH, 2017). A CODHAB busca trabalhar com
três frentes: produção de concursos para projetos de arquitetura e habitação de
interesse social; prestação ATHIS e facilitação do processo de regularização fundiária.

Figura 62 - Logo da CODHAB

Fonte: CODHAB (2020).

Entre os programas desenvolvidos pela Companhia está o Habita Brasília. Foi


criado pelo Governador Rodrigo Rollemberg, com o objetivo de alinhar as políticas
públicas do DF às reais necessidades da população, assim como ajudar a diminuir o
déficit habitacional (CODHAB, 2016). O Habita Brasília é composto por cinco eixos
(Figura 64), sendo uma pelas o Projeto na Medida.

Figura 63 - Eixos do Programa Habita Brasília.

Fonte: MARINHO (2018).


102

Para ter acesso aos serviços, é necessário que as pessoas procurem os Postos
de Atendimento, distribuídos pelo Distrito. Até 2018, existiam 12 Postos conforme
pode ser visto na Figura 65.

Figura 64 - Postos de atendimento do Programa Habita Brasília

Fonte: MARINHO (2018).

O Projeto na Medida é responsável por ofertar ATHIS gratuita para famílias de


baixa renda, atuando segundo a Lei 11.888/08. A CODHAB é pioneira nessa causa e,
conforme visto anteriormente, é uma das poucas linhas de frente assegurando o
direito à Lei. Além de garantir à assistência técnica, também fornece os recursos para
a execução das obras. Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano
e Habitação (2019):

A Assistência Técnica da CODHAB trabalha com ações vinculadas à


promoção de melhorias habitacionais, relacionadas às questões de
habitabilidade, como o padrão mínimo de edificação, saneamento básico,
qualidade de iluminação e ventilação, bem como ações para a requalificação
do espaço público, projetos arquitetônicos, além dos projetos desenvolvidos
para o próprio governo (SEDUH, 2019).

O Projeto na Medida é constituído pelo programa Melhorias Habitacionais, o


qual é direcionado para atuar nos projetos de melhorias habitacionais (MARINHO,
2018). Os atendimentos são realizados com a participação de assistentes sociais e o
objetivo principal do programa “é levar profissionais para perto das famílias com casas
103

autoconstruídas, que acabam tendo problemas de insegurança e insalubridade por


fatores técnicos não considerados na construção” (CODHAB, 2021). Sandra Marinho,
gerente de Assistência Técnica da Codhab, afirma que “temos muitas casas para as
quais é muito mais barato reformar do que erguer outra longe dos vínculos sociais e
afetivos” (CODHAB, 2021).
Entre os requisitos para a família se cadastrar no Programa estão: ter renda
mensal de até 3 salários mínimos, morar no DF por pelo menos 5 anos; habitar em
área de interesse social regularizada ou passível de regularização; ser responsável
pela residência; não possuir outro imóvel no DF e apresentar problemas de
salubridade ou segurança na casa (MARINHO, 2018). A Agência Brasília (2020)
explica que:

São considerados aspectos de insegurança: falta de instalações elétricas


adequadas, instabilidade ou ausência estrutural, falta de elementos de
proteção e cobertura inadequada.
Já as características de insalubridade da construção são definidas como:
espaços internos insuficientes e/ou inadequados para a habitação da família,
ausência ou inadequação de ventilação e iluminação dos cômodos, ausência
ou inadequação das áreas molhadas, infiltrações e mofo (AGÊNCIA
BRASÍLIA, 2020).

A Figura 66 mostra todas as etapas do que abordam o Programa, desde


conhecer à família até a entrega da obra.
104

Figura 65 - Etapas do Programa Melhorias Habitacionais

Fonte: MARINHO (2018).

As intervenções pelo programa podem ser realizadas na cozinha/área de


serviço; no banheiro; no telhado; nas paredes e piso; reforçando a estrutura;
ampliando cômodos e auxiliando na ventilação e iluminação dos ambientes, como
está detalhado na Figura 67. O valor máximo de subsídio para cada reforma de
melhoria habitacional é de R$ 25 mil. Os projetos e execução das obras são realizados
por licitações, com diferentes empresas.
105

Figura 66 - Intervenções realizadas pelo Programa Melhorias Habitacionais

Fonte: MARINHO (2018).


106

Entre as famílias beneficiadas com essa modalidade do Projeto estão a da


Dona Luiza, em que uma das intervenções foi no banheiro insalubre, e do Senhor
Francisco, em que um dos quartos não possuía janela (Figura 68).

Figura 67 - Reforma da Dona Luiza e do Senhor Francisco

Fonte: MARINHO (2018).

Em 2020, o Programa Melhorias Habitacionais foi implementado com o Eixo


Reconstrução, com o objetivo de fornecer moradia digna às famílias com casas
totalmente insalubres sem tirá-las do seu lugar. O Reconstrução fornece-se recursos
para construção de R$ 50 mil reais, atendendo a situações específicas e analisadas
por uma comissão.
Dona Dinalva foi uma das beneficiadas com esse novo eixo. Ela morava com o
filho de 8 anos em uma casa com rede elétrica inadequada, telhado com infiltrações
(a ponto de alagar os cômodos), ambientes com umidade e banheiro alocado no lado
de fora. Em depoimento de como era sua antiga casa, Dona Dinalva diz “eu convivia
com muitos insetos e ratos, chegava em casa e minhas coisas estavam embaixo
d’água. Agora estou muito feliz e quero aproveitar minha nova casa. É um sentimento
único” (AGÊNCIA BRASÍLIA, 2021). A nova casa da família da Dona Dinalva (Figura
69) proporcionou bem-estar e qualidade de vida para seus moradores.
107

Figura 68 - Nova casa da Dona Dinalva

Fonte: AGÊNCIA BRASÍLIA (2021).

3.1.2 Projetos em Alagoas

3.1.2.1 RENOVA – Soluções em habitação

O Escritório de Arquitetura RENOVA – Soluções em habitação (Figura 70) atua


na cidade de Arapiraca-AL desde 2019, criado pelo Arquiteto e Urbanista Allan
Oliveira, formado na UFAL – campus Arapiraca. Inicialmente, trabalhavam com
consultorias, projetos de construção, de reforma e de interiores, residenciais ou
comerciais. Porém, desde 2021, passaram a focar em projetos de melhorias
habitacionais para famílias das classes C, D e E, com o anseio de mostrar que é
possível reformar um ambiente a partir de um orçamento reduzido e de um bom
planejamento. Além do projeto e assessoria técnica, a RENOVA financia a mão de
obra, os materiais de construção e o gerenciamento de todo o processo até a entrega
concluída, tudo isso em parcelas de até 30 vezes no boleto. Para que os clientes
consigam o financiamento é necessário apenas que possuam renda familiar mínima
de um salário mínimo. O valor máximo que pode ser concedido para cada cliente é de
até 11 mil reais por reforma e as parcelas não podem comprometer mais que 30% da
renda familiar.
108

Figura 69 - Logo do Escritório RENOVA – Soluções em habitação

Fonte: RENOVA (2020).

O serviço de financiamento foi incrementado a partir de uma parceria da


RENOVA com o Instituto Nova Vivenda, que “é uma plataforma de conexões geradora
de soluções para que todos, sem exceção, tenham acesso a moradias dignas,
seguras e confortáveis” (RENOVA, 2021) 21 . Essa estrutura de crédito é possível
devido a um fundo de investimento de grandes empresas que apoiam causas
habitacionais.
Dentro da Plataforma Nova Vivenda, a RENOVA pôde ter acesso a novas
ferramentas de gestão de financeira, de obra e de negócio, tendo um
acompanhamento exclusivo da equipe para cada reforma executada. Para conseguir
ser um negócio dessa causa, o Escritório precisou ter um CNPJ ativo, comprovar que
trabalhava com melhorias habitacionais e passar por treinamento prévio. Essa
parceria possibilitou à RENOVA atuar de maneira mais eficiente, em maior escala e
gerando um resultado final mais significativo a partir da entrega da obra concluída. Em
entrevista, Allan afirmou que “o impacto é muito diferente, quando se entrega a obra
pronta você não está vendendo o projeto, mas sim a obra” (OLIVEIRA, 2021).
As reformas realizadas são por ambientes, ou melhor, por kits, que são: Kit
Banheiro, que fornece impermeabilização, conserto de vazamentos, abertura de vãos
e troca/inserção de revestimentos, louças e acessórios; Kit Cozinha, engloba a
troca/inserção de revestimentos, bancada, forro e acessórios; Kit Serviço: inclui
impermeabilização, troca/inserção de revestimentos, pinturas e organização do
espaço; Kit Quarto, envolve a eliminação de mofo e umidade, troca/inserção de
revestimentos e forro, pintura e abertura de vãos; Kit Lazer composto por criação de
área gourmet, drenagem de terreno e paisagismo; Kit sala: integra abertura e

21 Disponível em < https://www.facebook.com/novavivenda/?ref=page_internal>. Acesso em: 13 de


julho de 2021.
109

realocação de vãos, pontos de tomadas e luz, troca/inserção de revestimentos e


acabamentos em geral; Kit pintura: oferece a pintura de um ou mais ambientes da
casa, incluindo o projeto com visualização das paredes que sofrerão intervenção
(RENOVA, 2021).
Com relação às etapas de projeto, primeiro a equipe realiza uma visita à casa
para entender as necessidades da família e para fazer o levantamento de dados do
espaço a ser reformado. Logo após, é desenvolvido um estudo preliminar com a planta
de layout e imagens da maquete em 3D, para que os moradores avaliem se a proposta
está de acordo com o que desejam e possam opinar em possíveis mudanças. Depois
de o estudo preliminar ser aprovado, é realizado o orçamento e enviado para o cliente,
para compatibilização com sua realidade financeira. Após acertados o estudo
preliminar e orçamento, é desenvolvido o projeto executivo que irá guiar a obra. Há
ainda a etapa de escolha de materiais, em que os clientes vão à loja juntamente com
a equipe RENOVA para selecionar revestimentos, equipamentos sanitários, tintas e
outros acessórios importantes. Ao partir para a obra, o pessoal da RENOVA fica
responsável por todo gerenciamento, seja na compra dos materiais ou no
assessoramento da mão de obra, até a entrega final. Entre as obras realizadas pela
RENOVA e já finalizadas, pode-se observar o antes e depois de três Kits: Kit Banheiro
(Figura 71), Kit Cozinha (Figuras 72 e 73) e Kit Lazer (Figuras 74 e 75). Vale ressaltar
que não foi possível achar foto do antes do Kit Banheiro e que na reforma do Kit
Cozinha, quando a equipe começou o projeto já havia cobertura e contrapiso na
cozinha.
110

Figura 70 - Kit banheiro - reforma entregue

Fonte: RENOVA (2021).

Figura 71 - Kit Cozinha - antes da reforma Figura 72 - Kit Cozinha - reforma entregue

Fonte: RENOVA (2021). Fonte: RENOVA (2021).

Figura 73 - Kit Lazer - durante a reforma Figura 74 - Kit Lazer - reforma entregue

Fonte: RENOVA (2021). Fonte: RENOVA (2021).


111

A RENOVA segue trabalhando em suas redes sociais acerca da valorização do


trabalho de um arquiteto e da importância de se ter um projeto para embasar a
execução de uma obra. Segundo Oliveira, a RENOVA tem a missão de “melhorar a
qualidade de vida, tirando as pessoas de situações insalubres e democratizando o
acesso à arquitetura” (OLIVEIRA, 2021).

3.1.2.2 Vida nova nas grotas

O Programa Vida Nova nas Grotas (Figura 76) foi criado pelo Governo de
Alagoas em 2016, para atender a famílias que moram em assentamentos precários
nas grotas de Maceió (Figura 77). As grotas são fundos de vales “ocupados pela
população de baixa renda que vive em precárias condições de habitabilidade, com
acesso insuficiente ou inexistente ao saneamento básico e suscetível aos riscos de
deslizamentos e inundações” (CAU/BR, 2021c).

Figura 75 - Logo do Projeto Vida Nova nas Grotas

Fonte: SETRAND (2017).

Figura 76 - Distribuição das grotas ocupadas em Maceió

Fonte: CAU/BR (2021).

Logo quando foi criado o projeto tinha o nome de “Pequenas obras, grandes
mudanças”. Atualmente, conta com participação do CAU/AL e do Programa das
112

Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat)22 e tem por objetivo


diminuir as desigualdades socioespaciais, através de obras de acessibilidade e
mobilidade urbana, e reduzir as inadequações de moradias por meio de projetos de
melhorias habitacionais, assegurando condições básicas de saúde.
O projeto Vida Nova nas Grotas funciona com recursos do Tesouro Estadual e
do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (FECOEP) e as secretarias
responsáveis por sua execução são a Secretaria de Estado de Transporte e
Desenvolvimento Urbano (SETRAND), que cuida das obras de urbanismo (construção
de escadarias, corrimões, pontes, etc), e a Secretaria de Estado da Infraestrutura
(SEINFRA), responsável pelas melhorias habitacionais. O ONU-Habitat, que tem
parceria com o Governo desde 2017, apoia o projeto produzindo dados e informações
a partir do mapeamento das condições urbanas de todas as grotas e do levantamento
do perfil socioeconômico dos moradores. Já o CAU/AL, que atua em parceria com o
Governo e o ONU-Habitat desde 2018, contribui destinando 6% do seu orçamento
para contratar arquitetos por meio de editais anuais para participarem do eixo voltado
às melhorias habitacionais, realizando o levantamento técnico e o desenvolvimento
dos projetos básicos. Devido ao orçamento reduzido do Conselho, em média, são
contratados 4 arquitetos por edital. Assim, a demanda de projetos que não consegue
ser atendida pelos profissionais do CAU-AL é executada por arquitetos da SEINFRA.
A Secretaria contém também engenheiros, técnicos de edificações, estagiários da
área da construção civil e assistentes sociais (ZACARIAS, 2021).
Segundo CAU/BR (2021a), já “foram realizados 132 projetos de reforma em
oito grotas, beneficiando famílias com renda de até dois salários mínimos, que moram
em habitações de alvenaria, sem problemas estruturais e que não sejam alugadas”.
Outro critério é que a casa possua pelo menos um serviço prioritário a ser feito, e/ou
que tenha morador com mobilidade reduzida, idoso ou portador de deficiência. Os
serviços prioritários são problemas nas cobertas, nas cozinhas, nos banheiros, nas
fachadas ou nos revestimentos, já os serviços complementares são reposição de
tubulações e fiações, reparos na pintura, reboco, etc.

22Agência da ONU que trabalha com todos os temas relacionados à vida na cidade e ao
desenvolvimento urbano sustentável. É uma agência de cooperação técnica, trabalha na produção de
dados e informações e busca apoiar o Governo do Estado em suas políticas públicas (ZACARIAS,
2021).
113

De acordo com os levantamentos técnicos já realizados, esses critérios fazem


com que, em média, 30% das habitações de cada grota sejam selecionadas
para atendimento das melhorias habitacionais. A metodologia de trabalho
para execução das melhorias consiste em três etapas: (1) trabalho de campo
com os levantamentos socioeconômicos e físicos; (2) trabalho de escritório
com a elaboração do projeto básico, relatório técnico-fotográfico e
planilha orçamentária; e (3) execução e acompanhamento da obra
(ONU-Habitat, 2020).

O valor disponibilizado para cada reforma é de, em média, R$ 6.500,00 reais e


durante o desenvolvimento do projeto a família tem abertura para opinar e ajudar em
algumas decisões, mas dentro das limitações da metodologia e dos recursos do
programa. A Figura 78 mostra duas melhorias habitacionais feitas a partir do Vida
Nova nas Grotas, uma em uma cozinha e outra em um banheiro.

Figura 77 - Melhorias habitacionais feitas a partir do Vida Nova nas Grotas

Fonte: Ascom/ Seinfra (2018).

A mão de obra que executa as obras é de construtoras, as quais recrutam 30%,


do total de trabalhadores, de pessoas da comunidade, sejam pedreiros, serventes,
eletricistas, pintores. O acompanhamento e fiscalização da execução é feito pela
Seinfra. Umas das dificuldades enfrentadas dentro do Projeto é a do tempo total de
realização das ações (levantamentos técnicos > projetos > licitação > obras), pois
devido ao fato de que a parte de execução precisar ser feita por licitação, o prazo de
finalização de uma obra pode ser de até um ano, isso faz com que algumas famílias
usem de outras estratégias para conseguir contornar o problema de sua moradia
(ZACARIAS, 2021). O roteiro completo para implementação das ações de melhoria
habitacional compreende:
114

Demarcação e zoneamento da poligonal referente à grota selecionada;


Validação da poligonal da grota, identificação e numeração das unidades
habitacionais a serem atendidas;
Levantamento e tabulação dos dados socioeconômicos dos moradores;
Seleção das unidades habitacionais a serem atendidas;
Levantamento técnico das unidades habitacionais;
Elaboração dos projetos básicos de Arquitetura e Engenharia, relatórios
técnico-fotográficos e planilhas orçamentárias;
Abertura do processo licitatório pela Seinfra;
Análise e condução do processo licitatório pela Comissão Permanente de
Licitações para obras e serviços de engenharia do estado de Alagoas
(CPL/AL) e análise e aprovação jurídica pela Procuradoria Geral do Estado
(PGE/AL) (Da abertura do processo de licitação até o início das obras leva
cerca de seis meses a um ano para todos os trâmites necessários);
Início das obras de melhorias habitacionais pela empresa vencedora do
processo licitatório. (As empresas vencedoras selecionadas até o momento
são de médio e grande porte);
Acompanhamento e fiscalização da execução das obras pela equipe de
Engenharia da Seinfra;
Acompanhamento da execução das obras pela equipe de Assistentes
Sociais da Seinfra para realização do trabalho técnico social e mediações
com os moradores, quando necessário;
Finalização das obras de melhorias habitacionais com evento de entrega
oficial pela Seinfra e pelo Governador do Estado de Alagoas, quando
compatível com a sua agenda (ONU-Habitat, 2020).

Paula Zacarias, representante do ONU-Habitat e do CAU/AL, ao ser


questionada pela autora deste trabalho sobre sua opinião sobre a prática da
autoconstrução assistida, afirma que vê como algo possível desde que a
autoconstrução é algo que vai continuar existindo, os dados de construções realizadas
sem a presença de um profissional qualificado são muito altos e que é uma
oportunidade de os arquitetos exercerem a sua função social. Logo, se houver
planejamento, projeto e acompanhamento técnico, a ATHIS vinculada ao processo
autoconstrutivo é uma alternativa interessante para diminuir o déficit habitacional,
auxiliando o morador a construir a sua moradia da melhor forma possível (ZACARIAS,
2021).
Entre as aspirações para planos futuros do Vida Nova nas Grotas, estão: definir
melhor a demanda a ser atendida, a partir de um diagnóstico social, urbano e
ambiental; criar um Escritório Público de Planejamento Urbano, que atue com ATHIS
no pré-projeto, na projeto e avaliação pós-ocupação (que ainda não é desenvolvida);
reduzir o roteiro de implementação das ações do Projeto; apoiar ações transversais
relacionadas às melhorias habitacionais; e criar um programa estadual de ATHIS
(ONU-Habitat, 2020).
115

3.1.3 Estratégias de viabilização econômica e de gestão de obra

Após analisar as experiências de atuação em assessoria e assistência técnica


citadas acima, pôde-se observar que todas elas utilizavam de uma ou mais estratégia
de viabilização econômica e/ou de gestão de obra para conseguir à família não só o
projeto arquitetônico, mas também a obra construída. Assim, dentre essas estratégias
selecionou-se algumas as quais poderão embasar o Projeto deste estudo, conforme
pode ser visto no Quadro 5.

Quadro 5 - Estratégias de viabilização selecionadas a partir dos estudos de caso

Fonte: Autora (2021).

Como pôde-se analisar a partir desse capítulo, é importante que haja a


motivação por construção de novas moradias, em casos onde a família mora em
extrema vulnerabilidade e sem condições de habitabilidade, mas que na maioria das
vezes o problema pode ser resolvido com melhorias habitacionais, com menor tempo/
custo de obra e maior impacto social. Notou-se também que é possível sim trabalhar
com assessoria e assistência técnica em habitações de interesse social, seja em
construções ou reformas, com recursos públicos ou privados. É possível, mas não é
fácil. A luta para diminuir o déficit habitacional qualitativo, para promover o direito à
moradia digna e para divulgar a Lei 11.888/08 é árdua e demanda de muito esforço,
principalmente dos profissionais de Arquitetura, Urbanismo e Engenharia Civil.
Há quem afirme que a Lei de ATHIS é o ‘SUS da Arquitetura’, como é o caso
da Arquiteta e Urbanista Vania Burigo, presidente do IAB/SC, ao afirmar que se a Lei
for aplicada irá “levar a arquitetura a toda sociedade, o que servirá de instrumento de
116

divulgação dos benefícios que a arquitetura pode trazer à qualidade de vida das
pessoas e à organização das cidades” (BURIGO, 2015). Porém, Mariana Estevão
enfatiza que apenas garantir o direito à assistência técnica de profissionais não é o
bastante, como pode ser visto em uma de suas falas em uma live organizada pelo
CAU/BR sobre o tema Moradia Digna:

O SUS da Habitação não é só a Lei de Assistência Técnica, a Lei é só uma


das ferramentas. A gente precisa reivindicar mais coisas, como o acesso aos
materiais de construção (ou subsidiado ou pelo crédito), não dá pra gente
pensar só na presença do arquiteto porque o SUS não se faz só de
profissionais de forma gratuita, tem toda uma estrutura de acesso à saúde
pública (CAU/BR, 2021b).

De modo geral, a revisão bibliográfica abordada neste capítulo fundamentou o


desenvolvimento do objetivo geral deste estudo.
117

4 A SITUAÇÃO DAS HABITACÕES DE INTERESSE SOCIAL EM ARAPIRACA

A cidade de Arapiraca, localizada no centro do estado de Alagoas (Figura 79),


foi fundada por Manoel André Correia dos Santos e seu nome foi inspirado em uma
árvore típica da região, chamada arapiraca, uma espécie de angico branco (IBGE,
2017). Segundo dados atuais do IBGE, a cidade possui área territorial de 345,655
km², estimativa populacional de 234.309 pessoas, densidade demográfica de 600,83
hab/km², índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) de 0,649, mortalidade
infantil de 14,88 óbitos por mil nascidos vivos e PIB per capita de R$ 19.389,15 (IBGE,
2021). Ao se evidenciar a incidência de pobreza na localidade obtêm-se um resultado
de 60,44% (IBGE, 2003).

Figura 78 - Localização da cidade de Arapiraca dentro do estado de Alagoas

Fonte: PLHIS (2014).

Quanto às coordenadas geográficas, Arapiraca possui latitude 9° 45' 6'' Sul e


longitude 36° 39' 37'' Oeste. O relevo é formado por poucas elevações, com altitudes
que variam principalmente entre 200 e 300 metros, e o clima é semiárido (SILVA,
2019).
Silva (2019), em sua pesquisa de mestrado, analisou dados climáticos de
Arapiraca de 2009 até 2018, obtidos em Estações Climáticas do Instituto Nacional de
Metereologia (INMET), a fim de contribuir para a adequação de projetos arquitetônicos
ao clima da cidade, a partir da obtenção de conforto térmico e de eficiência energética
para o espaço projetado. Sobre a temperatura média do ar, a autora observou que os
meses de abril a setembro apresentaram as menores temperaturas, já os meses de
outubro a março apresentaram as maiores. A temperatura máxima chegou a 33,2ºC
em dezembro e a temperatura mínima foi de 18,6ºC em agosto. Quanto à umidade
relativa média do ar, os dados foram inversamente proporcionais aos da temperatura
118

do ar ao longo do ano. Os dados de precipitação são irregulares ao longo dos anos,


mesmo assim a maior incidência de chuva ocorre entre os meses de abril a outubro.
A autora verificou que as chuvas que caem em Arapiraca vêm principalmente do
sudeste, com menores incidência do leste e do sul. Analisou também que a ventilação
da cidade vem principalmente do leste, no período seco, e secundariamente do
sudeste, no período úmido.
A partir de tais dados climáticos, Silva (2019) também traz estratégias
bioclimáticas recomendadas, para serem aplicadas em Arapiraca, pelos seguintes
documentos: a NBR 15220-3, norma de desempenho térmico de edificações; a carta
de Givoni, que possui relatórios gerados pelo programa Analysis BIO; e pelo Método
de Mahoney Nebuloso. Comparando as informações, a autora traz um Quadro com
recomendações construtivas (Quadro 6), em que evidencia a importância do uso do
sombreamento, da ventilação cruzada, do uso de esquadrias com tamanhos e
posições adequadas, do resfriamento evaporativo, entre outras.

Quadro 6 - Diretrizes propostas pela NBR 15220-3 (Zona 8) e pelas metodologias de Givoni e
Mahoney Nebuloso para Arapiraca

Fonte: Silva (2019).


119

Assim, as principais estratégias bioclimáticas recomendadas para a cidade de


Arapiraca são a ventilação natural e cruzada, o sombreamento e o resfriamento
evaporativo, que serão abordadas no trabalho.
Arapiraca é a segunda maior cidade alagoana e possui uma localização
geográfica privilegiada, servindo como polo industrial, comercial e de serviços entre
as cidades do agreste, o que além de desencadear um crescente desenvolvimento
econômico também impacta no aumento urbano (ARAPIRACA, 2014). Com a
expansão desordenada surgem novas demandas, a cidade “acaba atraindo uma
população maior do que sua capacidade de suporte, comprometendo a qualidade de
vida e as condições de habitabilidade, sobretudo, daqueles segmentos menos
favorecidos da população” (ARAPIRACA, 2014, p. 31). Uma das consequências da
especulação imobiliária foi a exclusão e afastamento das famílias de baixa renda para
as regiões periféricas (ARAPIRACA, 2004).

A forte dinâmica imobiliária e seus impactos negativos decorrentes da


implantação de grandes equipamentos e intervenções urbanas,
especialmente a valorização da terra, criam uma nova lógica perversa de
segregação socioespacial que atinge, sobretudo, os segmentos mais pobres
da população, refletindo diretamente no seu modo de vida, tendo como
resultado mais evidente a precarização da habitação em todo o município
(ARAPIRACA, 2014, p. 29).

4.1 ASSENTAMENTOS PRECÁRIOS E CONJUNTOS HABITACIONAIS DE


INTERESSE SOCIAL

Como Arapiraca já não possuía uma política habitacional eficiente e nem


infraestrutura urbana adequada para toda a cidade, seu crescimento populacional
desencadeou ainda mais os problemas habitacionais, “causando o inchaço da área e
a intensificação das habitações precárias e ilegais em áreas inadequadas” (SANTOS,
2017). De acordo com dados da FJP (2007), o déficit habitacional qualitativo em
Alagoas e Arapiraca, evidenciando as inadequações habitacionais, pode ser
observado nas Tabelas 1 e 2.
120

Tabela 1 - Domicílios inadequados segundo a situação fundiária, adensamento excessivo em


domicílios próprios, cobertura inadequada, ausência de banheiro de uso exclusivo e carência de
infraestrutura, em Alagoas e Arapiraca - 2007

Fonte: FJP (2007) apud ARAPIRACA (2014).

Tabela 2 - Domicílios urbanos duráveis por número de serviços de infraestrutura inadequados em


Alagoas e Arapiraca - 2007

Fonte: FJP (2007) apud ARAPIRACA (2014).

A maior parte dessas habitações inadequadas se encontram em


assentamentos precários, locais que “as moradias, em geral, são implantadas em
pequenos lotes com taxas de ocupação bastante elevadas, conjugadas e construídas
com materiais e técnicas inadequadas” (ARAPIRACA, 2014). Na Figura 80, pode-se
observar os assentamentos precários existentes em Arapiraca, até 2014.

Figura 79 - Assentamentos precários de Arapiraca em 2014.

Fonte: ARAPIRACA (2014).


121

Atualmente, a população que morava no assentamento Caborje (Figura 81),


mais conhecido como favela do Caborje, que ocupava o leito do riacho Seco no bairro
Capiatã, foi removida e realocada para o residencial Jardim das Paineiras, conjunto
habitacional de interesse social, inaugurado em 2006, localizado no bairro Nilo
Coelho. No lugar da remoção, foi construído o Bosque das Arapiracas (Figura 82),
uma área verde bem arborizada com espaços para lazer em geral, cercado por duas
avenidas que cercam as margens do Riacho Seco. “O projeto foi uma das etapas do
projeto viário da Marginal do Piauí, planejada para ser a maior obra viária da cidade”
(OLIVEIRA, 2020).

[...] é importante mencionar que a remoção da Favela do Caboje e a


periferização da comunidade acentuou o cenário de desigualdade social. Ao
afastar para área periférica da cidade a população que vivia na área central,
aumentou-se a dependência automotiva dos mesmos, que ficaram
submetidos ao transporte público — praticamente inexistente — sendo assim,
começaram a buscar na moto e no automóvel a sua autonomia (OLIVEIRA,
2020, p. 121).

Figura 80 - À esquerda, imagens da favela do caborje, antes da remoção. À direita, imagens de


satélite em 2001 (em vermelho habitações que foram removidas) e imagens da área em 2020, com a
obra já concluída.

Fonte: Oliveira (2020), adaptado de Arapiraca (2006) e Google Earth (2020).


122

Figura 81 - Bosque das Arapiracas

Fonte: Prefeitura de Arapiraca (2021).

Arapiraca possui sete conjuntos habitacionais de interesse social (Quadro 7),


construídos em áreas periféricas da cidade, com recursos do programa Minha Casa
Minha Vida. Em 2012, a fim de beneficiar famílias de baixa renda foi sancionada a Lei
2.874/12 a qual “dispõe sobre as normas relativas a Concessão de Direito Real de
Uso em áreas de propriedade do Município de Arapiraca, destinadas a conjuntos
habitacionais de interesse social [...]” (ARAPIRACA, 2012).

A dinâmica consistia na viabilização de loteamentos em áreas com valor de


solo mais barato, como essas áreas eram sempre em regiões afastadas da
cidade, após a inauguração a prefeitura fornecia linhas de transporte público
para o deslocamento da população, contudo, essas linhas eram entradas
apenas no deslocamento periferia-centro e se demonstraram incapazes de
satisfazer a população (OLIVEIRA, 2020, p. 121).

Quadro 7 - Conjuntos habitacionais de interesse social de Arapiraca

Fonte: Oliveira (2020), adaptado de GeoArapiraca (2018).


123

Porém, segundo Santos (2017) “os investimentos em habitações por parte do


município não foi o suficiente para suprir as necessidades dos Assentamentos
precários existentes. Há uma grande deficiência e carência nestas localidades ainda
[...]”.

4.2 LEGISLAÇÃO VIGENTE NO MUNICÍPIO

A cidade de Arapiraca possui alguns instrumentos legais que auxiliam na


questão habitacional do município. Abaixo, estão alguns desses com suas principais
contribuições, principalmente referente aos quesitos relacionados à habitação de
interesse social.

4.2.1 Código de Obras e Edificações do Município de Arapiraca – Lei n.º


2.220/2001

Tal documento traz orientações que devem ser seguidas por todos os projetos
de obras e instalações. Entre os conceitos que a Lei aborda, está o de construção,
que é definido como uma “obra de edificação nova, autônoma, sem vínculo funcional
com outras edificações porventura existentes no lote” (ARAPIRACA, 2011). Em
relação à construção de habitações de interesse social, seus artigos 4º e 5º falam que:

Art. 4º As construções de moradia econômica poderão gozar de fornecimento


gratuito, pela prefeitura, de projeto de arquitetura e executivo conforme
tipologia disponível no Município.
Parágrafo único – define-se como moradia econômica a que tem área de
construção inferior a 50m2, ser edificada em lote com área inferior a 150m2,
ter elementos construtivos de linha popular e, concomitantemente, atender
aos requisitos definidos no § 1º do artigo 5º desta Lei.
Art. 5º - As obras definidas nos artigos 3º e 4º desta Lei, de iniciativa pública
ou privada, somente poderão ser executadas após concessão de licença pelo
órgão competente do Município, de acordo com as exigências contidas neste
Código e mediante a assunção de responsabilidade por profissional
legalmente habilitado.
§ 1º - Estarão isentas da exigência de responsabilidade técnica as
construções de moradia econômica, com até 50,00m², construídas sob
regime de mutirão ou auto-contrução e não pertencentes a nenhum programa
habitacional, desde que faça uso de projeto de arquitetura e executivo
fornecido gratuitamente pela prefeitura (ARAPIRACA, 2011).

Como base para a elaboração do projeto de melhoria habitacional, foi realizada


a leitura completa do Código e foram selecionados os principais artigos que
contribuirão para esse trabalho, os quais estão citados no Quadro 8. Porém, para
124

complementar esse embasamento técnico também foi lida a Norma de Desempenho


de Edificações Habitacionais (NBR 15.575), a qual traz requisitos que toda edificação
habitacional deve cumprir, sejam eles: gerais, para sistemas estruturais, para
vedações verticais internas e externas, para sistemas de piso, para sistemas de
cobertura e para sistemas hidrossanitários. Todos esses requisitos buscam garantir
que a edificação seja segura, habitável e sustentável.

Quadro 8 - Contribuições da Lei 2.220/01

CÓDIGO DE OBRAS E EDIFICAÇÕES DO MUNICÍPIO DE ARAPIRACA –


LEI N.º 2.220/2001

Art. 50 – O uso misto residencial/ comercial ou residencial/ serviços será permitido somente
quando a natureza das atividades comerciais ou de serviços não venha a prejudicar a
segurança, o conforto e o bem-estar dos moradores. Os acessos necessitam ser
independentes e a partir do logradouro público.

Art. 52 – Os projetos de construção e reforma de edificações deverão atender aos padrões


mínimos de segurança, conforto e salubridade de que trata o presente Código e aplicar os
seguintes conceitos básicos que visam racionalizar o uso de energia elétrica nas
construções:

I. Escolha de materiais construtivos adequados às condicionantes externas;


II. Uso das propriedades de reflexão e absorção das cores empregadas;
III. Emprego de equipamentos eficientes;
IV. Correta orientação da construção e de seus vãos de iluminação e ventilação em
função das condicionantes locais;
V. Adoção de iluminação e ventilação natural, sempre que possível;
VI. Dimensionamento dos circuitos elétricos de modo a evitar o desperdício de
energia em sua operação.

Art. 66 – Os compartimentos de permanência prolongada e transitória deverão ter pé-direito


mínimo, conforme estabelecido em regulamento (Anexo I – 2,5 m²)

Art. 67 – Os compartimentos de permanência prolongada, exceto cozinhas, e os de


permanência transitória, deverão ter área útil mínima, conforme estabelecido em
regulamento (Anexo I – 5 m²)

Art. 77 – Deve ser assegurado nível de iluminação e qualidade acústica suficientes, nos
compartimentos.
125

Art 78 – Sempre que possível, a renovação de ar deverá ser garantida através do “efeito
chaminé” ou através da adoção da ventilação cruzada nos compartimentos, a fim de se
evitar zonas mortas de ar confinado (Anexo IV – Figura 2).

Art. 81 – Todos os compartimentos de permanência prolongada e banheiros deverão dispor


de vãos para iluminação e ventilação abrindo para o exterior da construção.

Art. 83 – Não poderá haver aberturas para iluminação e ventilação em paredes levantadas
sobre a divisa do terreno ou a menos de 1,50m de distância da mesma, salvo no caso de
testada de lote.

Art. 115 – As instalações hidro-sanitárias deverão obedecer aos seguintes dispositivos


específicos, além das disposições previstas em regulamento, e pela prestadora do serviço.

I. Toda edificação deverá dispor de instalações sanitárias que atendam ao número


de usuários e à função à qual se destina;
VI. Toda edificação deverá dispor de reservatório elevado de água potável, com
tampa e bóia, em local de fácil acesso e que permita visita;

Fonte: Arapiraca (2001), adaptado pela autora (2021).

4.2.2 Política Municipal de Habitação de Arapiraca

Esse documento tem por finalidade auxiliar o Poder Público Municipal no


planejamento e execução das ações voltadas ao âmbito habitacional, de maneira a
assegurar às famílias, pincipalmente de baixa renda, o acesso à moradia. O principal
objetivo da Política municipal de habitação é “definir diretrizes para o pleno
funcionamento das funções sociais da cidade garantindo o bem-estar de seus
habitantes priorizando o atendimento à população de baixa renda” (ARAPIRACA,
2004, p. 32). Quanto aos objetivos específicos da política municipal de habitação de
Arapiraca, são esses:

I – a produção de lotes urbanizados e de novas habitações com vistas à


redução progressiva do déficit habitacional e ao atendimento da demanda
gerada pela constituição de novas famílias;
II – a melhoria das condições de habitabilidade das habitações existentes de
modo a corrigir suas inadequações, inclusive em relação à infraestrutura e
aos acessos serviços urbanos essenciais e aos locais de trabalho e lazer;
[...]
V – a diversificação das formas de acesso à habitação para possibilitar a
inclusão, entre os beneficiários dos projetos habitacionais, das famílias
impossibilitadas de pagar os custos de mercado dos serviços de moradia;
126

VI – a melhoria dos níveis de qualificação da mão-de-obra utilizada na


produção de habitações e na construção civil em geral, atendendo, de forma
direta, a população mais carente, associando processos de desenvolvimento
e de geração de renda;
VII – a urbanização das áreas com assentamentos precários, inserindo-as no
contexto da cidade;
VIII – o reassentamento dos moradores de áreas impróprias ao uso
habitacional e em situação de risco, recuperando o ambiente degradado;
IX – a promoção e a viabilização da regularização fundiária e urbanística de
assentamentos precários e de parcelamentos clandestinos e irregulares,
atendendo a padrões simplificados e adequados a preservação ambiental e
a qualidade urbana;
[...] (ARAPIRACA, 2004, p. 32 - 33).

4.2.3 Plano Diretor Participativo do município de Arapiraca, Lei 2.424/06

Tal documento estabelece, principalmente, as diretrizes gerais da política de


desenvolvimento urbano para a cidade. Em seu Art. 8º do capítulo III, que aborda
sobre a política urbana do município, traz os seguintes objetivos específicos (Quadro
9):

Quadro 9 - Objetivos específicos do plano diretor participativo do município de Arapiraca

Objetivos específicos do Plano Diretor Participativo do município de Arapiraca


I – distribuir igualmente os benefícios e ônus dos investimentos públicos, reduzindo as
desigualdades socioespaciais, de forma a recuperar, para a coletividade, a valorização
imobiliária decorrente dos investimentos públicos;
II – democratizar o acesso à terra, à moradia e aos serviços públicos de boa qualidade;
III – conter a retenção especulativa de imóveis urbanos que resultem na sua subutilização
ou não utilização;
IV – incorporar a componente ambiental na definição dos critérios e parâmetros de uso e
ocupação do solo;
V – proteger, preservar e recuperar os ambientes natural e construído, utilizando-os como
meio de desenvolvimento sustentável;
VI – promover o desenvolvimento econômico, de forma social e ambientalmente
sustentável;
VII – adequar o adensamento populacional à capacidade de suporte do meio físico,
potencializando a utilização das áreas providas de infraestrutura;
VIII – ampliar a oferta de equipamentos comunitários, de espaços verdes e de lazer;
IX – buscar a universalização da mobilidade e acessibilidade;
X – manter, através das políticas públicas a serem implementadas, o parcelamento do
solo rural como forma de garantir a distribuição de renda e promover o aumento da
eficiência econômica do município;
XI – fortalecer o setor público, valorizando as funções de planejamento, articulação e
controle, inclusive mediante o aperfeiçoamento administrativo;
XII – incrementar a eficiência econômica da Arapiraca, através da plena utilização da
infraestrutura, equipamentos urbanos e serviços públicos comunitários existentes,
evitando a sobrecarga e ociosidade, reduzindo custos de investimentos operacionais dos
setores públicos e privados e, consequentemente, ampliando os benefícios sociais;
127

XIII – promover a regularização fundiária nas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS)
e urbanização das áreas ocupadas por população de baixa renda, considerando aspectos
ambientais;
XIV – estabelecer diretrizes para políticas setoriais em:

a) Meio ambiente;
b) Regularização fundiária;
c) Habitação;
d) Saneamento básico;
e) Mobilidade e acessibilidade;
f) Desenvolvimento rural;
g) Desenvolvimento regional.

XV – elevar o padrão de vida da população urbana, particularmente no que se refere ao


combate à miséria e a promoção de ações de lazer, habitação e aos serviços públicos, de
forma a reduzir as desigualdades sociais;

XVI – racionalizar custos operacionais com transporte, energia e tempo de deslocamento


na cidade, aproximando as pessoas dos locais de trabalho, serviços, comércio, escolas e
centros de lazer, através da melhoria das condições de acessibilidade e de uma política
de distribuição espacial conveniente, das diversas atividades;

XVII – garantir assistência técnica gratuita nas áreas de arquitetura, engenharia e


agronomia para a população de baixa renda;

XVIII – integrar o planejamento local às questões regionais, através da articulação com


os demais municípios;

Fonte: ARAPIRACA (2006), adaptado pela autora (2021).

Logo, entre os objetivos citados vê-se pontos importantes que beneficiariam


diretamente a comunidade de estudo deste trabalho, tais como: a democratização ao
acesso à moradia e aos serviços públicos de boa qualidade; a oferta de equipamentos
comunitários e de lazer; a promoção à regularização fundiária nas Zonas Especiais
de Interesse Social (ZEIS); e, principalmente, a garantia à assistência técnica gratuita
nas áreas de arquitetura, engenharia e agronomia para a população de baixa renda.

4.2.4 Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS)

É um documento de planejamento habitacional, criado a partir de audiências


públicas, o qual “busca informar sobre a realidade habitacional local da população
pobre do município e apresentar princípios e metas no sentido de consolidar uma
política pública de inclusão social, comprometida com desenvolvimento do setor
habitacional local e com a melhoria das condições de vida da população local e
128

regional. ” (ARAPIRACA, 2004). Quanto aos seus objetivos específicos, estão citados
no Quadro 10.

Quadro 10 - Objetivos específicos do PLHIS

Objetivos específicos do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS)

- Integrar a habitação às demais políticas, programas, planos e projetos setoriais


desenvolvidos pelo Governo Federal, Governo Estadual e pelo Governo Municipal,
relacionados à infraestrutura, ao desenvolvimento socioeconômico da região e à saúde,
educação, assistência social, cultura e geração de trabalho e renda;
- Promover ações conjuntas com os municípios vizinhos que fazem parte da área de
influência urbana da sede municipal de Arapiraca no sentido de enfrentar o déficit e a
inadequação de moradias de forma ampliada e coordenada;
- Implantar sistema de planejamento, gestão e acompanhamento do plano, incluindo o
sistema de informações habitacionais para orientar e apoiar as iniciativas do município;
- Desenvolver sistema de capacitação permanente do quadro gestor do município
relacionado às questões urbanas e habitação de interesse social;
- Ampliar a participação do município junto ao Sistema Nacional de Habitação de Interesse
Social – SNHIS;
- Orientar e prestar assistência técnica à comunidade de mais baixa renda para a melhoria
das condições habitacionais do município;
- Incentivar parcerias com instituições de ensino e organizações não governamentais para
o apoio de pesquisas e estudos na área habitacional;
- Diversificar as ações municipais no sentido de atender a diversidade da demanda no meio
urbano e rural, respeitando os aspectos culturais;
- Articular as ações habitacionais com os meios de transporte e acessibilidade da
população, visando uma melhor integração urbana e regional;
- Recuperar áreas degradadas e insalubres ocupadas por assentamentos precários,
promovendo a melhoria das famílias residentes e do meio ambiente;
- Promover a regularização fundiária de conjuntos habitacionais e de moradias irregulares
em assentamentos precários, no meio urbano e rural;
- Firmar parcerias com agentes e instituições públicas e privadas para ampliar o acesso das
famílias beneficiadas direta ou indiretamente por programas e projetos habitacionais a
serviços sociais e de trabalho e renda;
- Apoiar as iniciativas de cooperativas habitacionais, associações e organizações não
governamentais na promoção de programas e projetos habitacionais, inclusive para a
melhoria de moradias;
129

- Ampliar e fortalecer a participação e integração da sociedade civil no processo de


formulação, implementação, acompanhamento e controle das intervenções habitacionais.
Fonte: ARAPIRACA (2014), adaptado pela autora (2021).
Como instrumento de inclusão social, o Plano Diretor delimitou algumas áreas
da cidade e os destinou à população de baixa renda, essas foram chamas de Zonas
Especiais de Interesse Social (ZEIS), que são três: ZEIS A, ZEIS B e ZEIS C, conforme
pode ser visto no Quadro 7 que possui as áreas equivalentes a cada uma, bem como
o critério de classificação de cada ZEIS (Quadro 11). A localização de cada uma
dessas áreas pode ser vista na Figura 83.

Quadro 11 - Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS)

A Áreas destinadas prioritariamente à regularização fundiária

LOCALIDADES

A1 Planalto / Quati

A2 Planalto/ Conj. Hab. José Marques Freire

A3 Senador Arnon de Melo/ Loteamento Arnon de Melo

A4 Manoel Teles

A5 Cacimbas/ Olho D’Água dos Cazuzinhas

A6 Canafístula/Conj. Frei Damião

A7 Zélia Barbosa

Entorno do riacho Piauí a 15 m de cada lado do eixo do seu curso e nos locais
A8 onde há terrenos vazios 30m para cada lado do seu eixo, conforme legislação
federal, CONAMA.

Áreas ocupadas por população de baixa renda, remanejadas de áreas não


B
urbanizáveis e regularizáveis.

LOCALIDADES

B1 Zélia Barbosa / Conj. Jardim das Paineiras

C Áreas vazias, públicas ou privadas, para receberem habitações de interesse social

LOCALIDADES

C1 Cavaco

C2 Baixa Grande

C4 Baixão

C5 Planalto
130

C6 Brasiliana

C7 Brasiliana

C8 Stª Edwirgens

C9 Senador Arnon de Melo

C10 Stª Esmeralda

C11 Stª Esmeralda

C12 São Luiz

Fonte: ARAPIRACA (2006), adaptado pela autora (2021).

Figura 82 - Localização das ZEIS dentro da cidade de Arapiraca.

Fonte: ARAPIRACA, 2004.

Como visto, os documentos citados possuem bastantes objetivos que


respaldam a questão habitacional, e principalmente relacionados às famílias que
131

habitam em moradias de interesse social. Porém, para que esses objetivos sejam
alcançados é preciso haver mobilização e iniciativa da gestão que atua sobre a cidade.
Arapiraca não possui setor específico para os assuntos inerentes a habitações
de interesse social, muito menos para ações de ATHIS. A Secretaria de
Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, que tem por secretária a professora,
cedida pela UFAL, Simone Romão, é que elabora projetos voltados para a área. Um
dos programas relacionados à secretaria é o Viver Melhor, cujo objetivo é “adotar
políticas públicas efetivas para a construção de escolas, creches, unidades básicas
de saúde, obras de infraestrutura urbana, pavimentação, moradias, entre outras
intervenções, para melhorar a qualidade de vida dos arapiraquenses”23.
Atualmente, segundo informações dadas pela secretária no Seminário “Vida
bem pensada: o papel da Arquitetura e Urbanismo no desenvolvimento de pequenos
e médios municípios de Alagoas”, organizado pelo CAU/AL, estão sendo
desenvolvidas ações de regularização fundiária no Bairro Bom Sucesso (CAU/AL,
2021).

4.3 BAIRRO CANAFÍSTULA E A COMUNIDADE FREI DAMIÃO

O bairro Canafístula (Figura 84), segundo o Plano Diretor, está localizado em


uma Zona de Recuperação Urbana, possuindo como características principais: I –
predominância do uso residencial; II - alta densidade populacional pontual; III –
carência de infra-estrutura e equipamentos públicos; IV – alta incidência de
loteamentos irregulares e núcleos habitacionais de baixa renda (ARAPIRACA, 2004).

23Disponível em: https://www.facebook.com/PrefeituraArapiraca/posts/4048952068504345/. Acesso


em: 10 dez. 2021.
132

Figura 83 - Localização do bairro Canafístula em Arapiraca.

Fonte: Google Maps (2021).

Conforme Santos (2017), o bairro está localizado no limite Sul da zona urbana
e possui cerca 6.637 habitantes, segundo o último censo do IBGE, e é um dos mais
antigos e de maior extensão da cidade. As famílias são atendidas pelo Centro de
Referência de Assistência Social (CRAS) Canafístula e pela Unidade Básica de Saúde
(UBS) – Canafístula.
A Comunidade Frei Damião está localizada na Av. Miguel Guimarães Silva,
entre a AL-115 e a R. Antônio Firmino. Está entre dois residenciais, de um lado casas
do Programa Minha Casa Minha Vida, de outro o Residencial Canafístula (Figura 85).
Como citado anteriormente, é considerada uma ZEIS, denominada de ZEIS A6, desde
que é uma área destinada à regularização fundiária. A comunidade Frei Damião foi
escolhida como estudo de caso pelo fato de que a Professora Simone Romão, que
orientava inicialmente este trabalho, já possuia comunicação com a presidente da
associação de moradores de lá, facilitando as visitas ao local e a troca de informações.
A escolha do objeto de estudo, a Comunidade Frei Damião, ocorreu devido a
essa ser composta, em sua maioria por casas autoconstruídas, assim como pelo fato
de que a professora Simone Romão, que já foi orientadora deste estudo, tinha contato
com a líder da Associação Comunitária do local, Dona C.M.C., o que facilitou a entrada
na Comunidade e o desenvolvimento do trabalho. O levantamento de campo foi feito
a partir de registros fotográficos de algumas ruas da Comunidade, a fim de observar
aspectos gerais do cotidiano dos moradores e da infraestrutura do lugar.
133

Figura 84 - Localização da Comunidade Frei Damião

Fonte: Google Earth (2021), adaptado pela autora.

O terreno onde a Comunidade está inserida pertencia a Cícero Valentim e foi


doado aos moradores da região, durante uma campanha política em que ele era
candidato, que ali construíram suas habitações. A maioria das casas são feitas de
alvenaria, mas ainda existem casas de taipa. Grande parte dos atuais moradores
compraram suas casas de seus antigos donos e só possuem recibo de compra e
venda sem registro em cartório (ARAPIRACA, 2014).
Para entender melhor a realidade local, fora realizada uma entrevista com a
presidente da associação de moradores (ver Apêndice C), Dona C.M.C., a qual foi
feita em sua residência pela autora deste trabalho na presença de seu orientador,
professor Marcelo Karloni. A gravação foi por áudio, em um smartphone com um
aplicativo de gravação de voz. Também foi realizado um levantamento de campo na
Av. Miguel Guimarães Silva, que é a via principal que interliga todas as 33 ruas da
Comunidade, em que foram feitos registros fotográficos de toda infraestrutura atual do
local. Devido ao clima chuvoso, as ruas secundárias não foram visitadas, exceto a
Rua 5.
As ruas entre as casas são pavimentadas com paralelepípedos, porém, sem
manutenção (Figura 85) e partes da Av. Miguel Guimarães Silva ainda é de barro e
geralmente apresenta muitos buracos (Figura 86). Segundo Dona C.M.C., a coleta de
lixo é feita dias de segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira, porém as famílias
precisam deixar as sacolas de lixo no chão nas esquinas da Av. Guimarães Silva, que
134

é onde o caminhão de lixo passa com os garis, isso faz com que animais rasguem as
sacolas e sujem as ruas (Figura 88), além de que alguns moradores aproveitam para
jogar entulhos que o caminhão do lixo não coleta, poluindo ainda mais a avenida
(Figura 89). O direcionamento das águas escuras, vindas dos vasos sanitários, vai
para fossas comunitárias, não há saneamento para as águas dos chuveiros e pias,
nem drenagem nas ruas, o que faz com que a água que sai das casas fique exposta
na rua (Figura 90), ou com que a água da chuva empoce ou cause erosões (Figura
91). As calçadas de algumas ruas são irregulares e também possuem objetos
obstruindo a passagem (Figuras 92 e 93). Na figura 94, pode-se observar a localização
dos principais problemas de infraestrutura dentro da comunidade.

Figura 85 - Pavimentação em paralelepípedos Figura 86 - Rua de barro com buracos


sem manutenção

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

Figura 87 - Lixo com comida espalhado na rua Figura 88 - Entulhos espalhados pela rua.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


135

Figura 89 - Água de esgoto escoando na rua Figura 90 - Água da chuva empoçada

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

Figura 91 - Calçadas com objetos Figura 92 - Calçada estreita e com desníveis


interrompendo a passagem

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


136

Figura 93 - Localização dos principais problemas de infraestrutura da comunidade

Fonte: Autora (2022).


137

Quanto à segurança interna, Dona C.M.C. considera como péssima e relata


que já ocorreram homicídios no local, assim como já passou por situação
constrangedora em que seu filho foi confundido por policiais como traficante de drogas
(CONCEIÇÃO, 2021). De mobiliários urbanos, a Frei Damião possui postes de
iluminação em todas as ruas e um ponto de ônibus/ mototáxi localizado na entrada da
comunidade, na rua Antônio Firmino. A moradora ainda afirma que a Comunidade é
carente de um posto policial, assim como de uma creche e de uma praça para lazer.
Os serviços comunitários e públicos que a família frequenta são: a Escola Domingos
Lopes da Silva, a Paróquia Santa Luzia da Ungria, o CRAS Canafístula e a UBS
Canafístula. Na Figura 95, pode-se observar a localização dos lugares citados em
relação à da Comunidade Frei Damião, além de que pode se destacar a localização
da MF Construções, loja de materiais de construção mais próxima da comunidade.

Figura 94 - Serviços comunitários e públicos frequentados pela família da líder comunitária

Fonte: Google Earth, com adaptações da autora (2022).


138

5 METODOLOGIA: A FAMÍLIA, A CASA E AS CONDICIONANTES

Para que a execução deste trabalho fosse possível, diante da pandemia do


Covid-19, foi escolhido apenas uma família da Comunidade Frei Damião, que
possuísse uma casa autoconstruída e própria, para ser receber o projeto de melhoria
habitacional. A família escolhida foi a da Dona C.M.C., presidente da associação de
moradores da Comunidade Frei Damião, pelos seguintes motivos: a moradora já tinha
contato com a professora Simone Romão, o que facilitou toda a comunicação e idas
ao local; a casa possui inadequações que comprometem a qualidade de vida da
família, além de possuir situação de risco devido a danos na estrutura do telhado;
Dona C.M.C. já pretendia fazer uma sede temporária para a associação de moradores
ao lado da sua casa, e incluir isso no projeto faria com que toda a comunidade também
fosse, de certa forma, beneficiada, desde que, atualmente, a cooperativa não possui
um local fixo para funcionamento.
As informações contidas nesse capítulo também foram extraídas da entrevista
realizada com a Dona C.M.C. (ver Apêndice C), em que além das perguntas feitas
sobre o cotidiano da comunidade, também se questionou sobre o que a família achava
da casa em que morava, sobre como utilizavam-na e quais eram os seus anseios de
mudança. Também foram realizados os registros de todas as medidas e fotos dos
ambientes da casa, para se obter todas as informações possíveis sobre o local em
que vivem e como eles vivem, a fim de elaborar um programa de necessidades que
atenda às necessidades dos moradores de acordo com a realidade estudada.

5.1 A FAMÍLIA DA DONA C.M.C.

Dona C.M.C. mora na Comunidade Frei Damião há 21 anos. Na casa, moram


ela, 3 filhos e 2 netos. Ela é hipertensa e tem problemas no coração, fazendo com que
não consiga trabalhar em tarefas muito exaustivas. Entre as principais atividades de
lazer da família, estão: assistir televisão e reunir todos para um almoço no fim de
semana. Logo, as salas de estar e jantar são os ambientes mais utilizados da casa.
No momento, a família não possui uma renda fixa, desde que estão todos
desempregados e sem auxílio governamental, até o momento. Segundo a líder
familiar, quando ela consegue catar reciclagem ou destalar fumo ganha no máximo
139

R$ 50 reais para ajudar na alimentação, mas na maior parte do mês ela sobrevive de
doações de conhecidos, amigos e familiares para sustentar os filhos. Os gastos
mensais da família por mês são com botijão de gás, energia e alimentação, os quais
são pagos com ajuda de familiares sempre que possível, ou ficam pendentes até surgir
algum recurso. Assim, pode-se afirmar que sua família vive em situação de extrema
vulnerabilidade.

5.2 LEVANTAMENTO TÉCNICO-FOTOGRÁFICO DA CASA

No mesmo dia em que se realizou a entrevista com a família também foi feito o
levantamento de dados da casa, registrando todas larguras e comprimentos dos
cômodos, assim como pé direito, níveis, medidas de portas e janelas, posição da casa
em relação ao Norte, entre outras informações importantes. Foram tiradas fotos de
todos os ambientes. Esse foi feito com o auxílio de uma trena à laser, uma trena
manual de 8 metros, uma prancheta A4, folhas de ofício e uma caneta.
A casa em que a família mora é quitada, comprada quando seu ex-marido ainda
trabalhava no Clube do Sesi, porém possui apenas o documento de compra e venda.
A partir da planta de layout (Figura 96), pode-se observar a disposição dos ambientes
dentro terreno, a distribuição dos móveis e a posição em que foram tiradas as fotos
no levantamento (Figuras 97 a 123), as quais serão mostradas a seguir.
140

Figura 95 - Planta de layout da casa da Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021).


141

Como pôde ser visto na Figura 96, a cada possui oito cômodos. Possui um
muro externo e um poço artesiano na frente da casa (Figura 98). Seus ambientes
internos são: varanda (Figuras 97, 98 e 99), sala de estar (Figuras 100, 101 e 102),
sala de jantar (Figuras 103 e 104), quarto 1 (Figuras 105, 106 e 107), quarto 2 (Figuras
108, 109 e 110), cozinha (Figuras 111, 112 e 113) e banheiro (Figuras 114, 115 e
116). Na área externa, existe um espaço coberto, nos fundos da casa, onde fica o
tanque de lavar roupa, e também serve de despensa, e no corredor lateral há um
tanque de cimento usado como pia para lavar louça e também como apoio para lavar
roupa (Figuras 117, 118 e 119).

Figura 96 - Localização da Figura 97 - Fachada frontal Figura 98 - Varanda da casa da


varanda da casa da Dona C.M.C. Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

Figura 99 - Localização da Figura 100 - Sala de estar da Figura 101 - Sala de estar da casa
sala de estar casa da Dona C.M.C. da Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


142

Figura 102 - Localização da Figura 103 - Sala de jantar


sala de jantar da casa da Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


Figura 104 - Localização do Figura 105 - Quarto 1 da Figura 106 - Quarto 1 da casa da
quarto 1 casa da Dona C.M.C. Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021).


Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).
Figura 107 - Localização do Figura 108 - Quarto 2 da Figura 109 - Quarto 2 da casa da
quarto 2 casa da Dona C.M.C.- vista 1 Dona C.M.C.- vista 2

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


143

Figura 110 - Localização da Figura 111 - Cozinha da Figura 112 - Cozinha da casa da
cozinha casa da Dona C.M.C. Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

Figura 113 - Localização do Figura 114 - Banheiro da Figura 115 - Banheiro da casa da
banheiro casa da Dona C.M.C. Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


Figura 116 - Localização da Figura 117 - Área de serviço Figura 118 - Corredor lateral da
área de serviço da casa da Dona C.M.C. casa da Dona C.M.C.

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).


144

As paredes externas e internas são de alvenaria com tijolo cerâmico, e partes


de tijolo de concreto. O piso não possui revestimento, ainda estando no contrapiso, e
é irregular (Figura 120). As esquadrias são de madeira, ferro e alumínio. O telhado
colonial é composto por madeira e telhas cerâmicas.
Segundo a Dona C.M.C., ela e sua neta de 12 anos dormem em um colchão
na sala, no quarto 1 dormem sua filha mais velha com o seu neto e no quarto 2
dormem seus dois filhos.
Ao ser questionada quanto a seu grau de satisfação da residência em relação
ao conforto no período de frio e calor, a líder familiar considerou como péssimo em
ambos. Explicou que no inverno caem muitas goteiras dentro de casa e há o risco de
o telhado desabar com os ventos e chuvas fortes, pois a linha está danificada e já
possui uma escora (Figura 121). No verão, afirma que utiliza da varanda para se
refrescar, desde que dentro de casa há pouca circulação ar.

Figura 119 - Contrapiso da casa Figura 120 - Escora na linha da cumeeira

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

O esgoto da bacia sanitária vai para uma fossa comunitária da comunidade e


as demais águas sujas escoam pelo corredor lateral da casa à céu aberto (Figura
118). O consumo de água é feito a partir de um poço (Figura 98), localizado em frente
à casa, e o manejo é realizado com baldes, desde que não existe caixa d’água e
encanações para direcionamento dessa água.
A energia que abastece a casa vem por uma extensão da casa da vizinha, e é
distribuída em dois pontos de tomadas, um na sala de estar e outro na cozinha, e dois
145

pontos de luz, no centro da casa (Figura 122) e outro entre o quarto 1 e a sala de estar
(Figura 123).

Figura 121 - Ponto de luz no centro da casa da Figura 122 - Ponto de luz entre o quarto 1 e a
Dona C.M.C. sala de estar

Fonte: Autora (2021). Fonte: Autora (2021).

Dona C.M.C., ao ser questionada sobre o seu grau de satisfação por sua casa,
considerou-a pequena e entre suas metas de reforma, estão: aumentar a sala, cozinha
e banheiro; criar mais um quarto, consertar o telhado e colocar cerâmica no piso de
todos os ambientes. Outro anseio da líder comunitária é construir uma sede
temporária para a associação de moradores da própria comunidade, a qual é
presidente, no corredor lateral da sua casa. O local precisaria ter um espaço para
atender aos moradores e uma cozinha com pia, fogão de duas bocas e espaço para
freezer.
146

6 ARRUMANDO A CASA: PROJETO DE MELHORIA HABITACIONAL

6.1 O PROJETO

A casa da Dona C.W.C e de sua família (Figura 124) possui muitas melhorias
habitacionais a serem feitas. Os cômodos são pequenos e não foram posicionados
pensando no conforto ambiental da casa. Para receber os ventos que vem do Sudeste
existem apenas duas aberturas, que são a porta da cozinha e o cobogó do banheiro,
a outra janela fica para o Oeste, isso faz com que haja pouca ventilação dentro da
residência, deixando-a quente. Com a presença de poucas esquadrias, também há
pouca iluminação natural entrando nos ambientes, propiciando o acúmulo de
umidade. Um dos quartos está posicionado para o poente, recebendo todo o sol da
tarde e ficando muito quente à noite.
O telhado, como já comentado, é o ponto mais crítico devido ao apodrecimento
das linhas que sustentam-o, podendo a qualquer momento desabar. O banheiro é
insalubre, desde que não possui revestimentos nem no piso, nem nas paredes, para
evitar infiltrações, além de não possuir água encanada. Toda a casa não possui
instalações hidráulicas, fazendo que o manejo da água ocorra com baldes que vão
direto ao poço. Isso faz com que haja a possibilidade de contaminação da água, que
é a mesma que a família utiliza para beber e cozinhar alimentos. Quanto à eletricidade
da casa, ocorre por meio de uma extensão que vem da casa da vizinha, havendo a
probabilidade de acontecer um curto-circuito.
Em relação ao estado das esquadrias existentes (Quadro 12), a porta da frente
da casa (P1) está com muito ferrugem e com alguns vidros faltando; as portas do
banheiro (P2) e da cozinha (P3) são de ripas de madeira, além de não serem seguras
ainda não possuem uma altura adequada. Assim, as únicas que serão aproveitadas
no projeto serão o portão do muro (P4) que está em bom estado, e a janela do quarto
(J1) que precisa apenas ser pintada.
147

Figura 123 - Planta baixa atual da casa

Fonte: Autora (2021).


148

Quadro 12 - Quadro de esquadrias existentes

Fonte: Autora (2021).

Conversando com Dona C.M.C. sobre qual seria a ordem de prioridade nas
melhorias habitacionais a serem feitas em sua casa, a moradora afirmou que a
primeira mudança seria no telhado, logo após a construção da Associação de
moradores, depois a reforma do banheiro e por último a ampliação dos outros
cômodos. Essas informações foram levadas em consideração na divisão das etapas
do projeto de reforma e na ordem de prioridade de cada uma delas. As etapas foram
pensadas no intuito de dividir o projeto completo em partes menores, de forma que
seja mais fácil adquirir os recursos e que após uma etapa seja finalizada, não fique
obra inacabada desde que cada uma é independente da outra, desde que não seja
alterada a ordem de execução entre elas.

6.1.1 Etapa 1 – Conserto do telhado

A primeira melhoria a ser feita na casa é o conserto do telhado devido ao


apodrecimento de algumas madeiras, tendo o risco de desabamento, e a algumas
telhas estarem danificadas, ocasionando pingueiras. Atualmente, o telhado é
composto por ripas, caibros e linhas de madeira e telhas cerâmicas, possuindo duas
águas com inclinação de 25% (Figuras 125, 126 e 127).
149

Figura 124 - Planta de coberta atual

Fonte: Autora (2022).


150

Figura 125 - Corte AA'

Fonte: Autora (2022).

Figura 126 - Corte BB'

Fonte: Autora (2022).

6.1.2 Etapa 2 – Construção da sede temporária da Associação comunitária da


Comunidade Frei Damião

Dona C.M.C é presidente da Associação comunitária da Comunidade, em que


recebe doações de leite de cabra, de cestas básicas e outros alimentos e direciona
para os moradores que mais necessitam. Porém, no momento, a Associação está sem
uma sede, desde que não há dinheiro para quitar o aluguel do antigo espaço. Assim,
os planos de Dona C.M.C é construir uma sede temporária ao lado de sua casa, em
terreno próprio, em que ela tenha um lugar para atender às pessoas e uma cozinha
com espaço para um freezer (já existente), um fogão de duas bocas (já existente) e
um pia.
151

Analisando os pedidos da líder comunitária, foi desenvolvida uma proposta de


layout para a Associação comunitária da Comunidade Frei Damião, que pode ser vista
na Figura 128. A cozinha terá uma pia nova, o fogão e freezer já são existentes. Na
recepção, todos os móveis serão produzidos com materiais reutilizáveis. A mesa de
apoio será feita com madeira de paletes e os puffs para assento serão de garrafas
pets, cobertos com estofado e tecido.

Figura 127 - Proposta de layout para a Associação comunitária da Comunidade

Fonte: Autora (2022).

Na Figura 129, pode ser observado quais paredes precisarão ser construídas,
bem como na Figura 130 contém os cortes esquemáticos mostrando a altura das
alvenarias e a inclinação do telhado. Como, devido à legislação local, não é possível
abrir uma janela direcionada para a calçada, optou-se por inserir um cobogó em uma
das paredes da recepção, criado a partir de espaços entre alguns tijolos, possibilitando
152

que haja circulação de ar e iluminação natural, mas sem tirar a privacidade dos
moradores da casa (Figura 131). Nessa etapa, durante o desenvolvimento das
instalações hidráulicas da cozinha será necessário também criar uma encanação que
capte a água que sai do tanque em que a família usa para lavar louças e roupas e a
direcione para fora do lote.

Figura 128 - Planta de demolir/ construir da etapa 2

Fonte: Autora (2022).


153

Figura 129 - Cortes AA' e BB'

Fonte: Autora (2022).

Figura 130 - Cobogó construído a partir de tijolos espaçados

Fonte: Life by Lufe (2020).

Caso a Dona C.M.C deixe de ser presidente da Associação, o local poderá ser
um ponto comercial para a família empreender, ou um local para ser alugado ou um
quarto com cozinha para sua filha morar com seu neto.
154

6.1.3 Etapa 3 – Construção do banheiro com caixa d’água e da lavanderia, e


alocação da pia da cozinha

A terceira etapa constitui de mais de uma melhoria habitacional. Entre elas, a


construção de um novo banheiro, desde que o banheiro atual não possui as medidas
mínimas necessárias, seu pé direito também é baixo, sua cobertura é improvisada,
além de não possuir instalações elétrica e hidráulica adequadas. Logo, a proposta
engloba demolir o banheiro atual e construir um novo, com estrutura para caixa d’água
de 1000 litros. Enquanto não houver ligação de água com a rede de abastecimento
da cidade, a família pode usar uma bomba de água para transferir água do poço
artesiano até a caixa d’água. O layout proposto para o novo banheiro, assim como
para a área de serviço e cozinha, pode ser visto na Figura 132, com uma nova posição
para as louças sanitárias e mais espaço. O banheiro não foi construído em local mais
próximo aos quartos, pois a etapa de conserto do telhado precisou ser prioritária.
Assim, para ser construído em outro lugar, teria que mexer novamente no telhado
aumentando o orçamento, ou atrapalharia a ventilação do quarto 2.

Figura 131 - Proposta de layout para o banheiro, área de serviço e cozinha

Fonte: Autora (2022).


155

Como pôde ser visto na Figura 131, ao lado do banheiro, embaixo da laje
construída, será alocada a área de serviço com tanquinho (já existente), tanque e
espaço para o botijão de gás. No interior da residência, será preciso demolir uma
parede para que a porta do banheiro seja realocada, como também será inserida uma
pia dentro da cozinha. Logo, nesta etapa, devem ser previstas as instalações
hidrossanitária e elétrica para o banheiro, área de serviço e cozinha. Todas as
mudanças que precisarão ser feitas nas paredes durante essa etapa podem ser vistas
na Figura 133, já figura 134 pode-se observar as alturas das alvenarias.
156

Figura 132 - Planta de demolir/ construir da etapa 3

Fonte: Autora (2022).


157

Figura 133 - Cortes CC' e DD'

Fonte: Autora (2022).

6.1.4 Etapa 4 – Melhorias habitacionais para adequar a casa ao layout proposto

Nesta etapa, será necessário fazer algumas demolições, assim como construir
em alguns locais, para adequar os espaços de acordo com o novo layout. Será preciso
também adaptar as instalações elétricas dos novos ambientes. Na Figura 135 pode-
se observar todas as mudanças propostas para o novo layout e na Figura 136 constam
todas as paredes que precisam ser demolidas, assim como as esquadrias a serem
inseridas.
158

Figura 134 - Proposta para o novo layout

Fonte: Autora (2022).


159

Figura 135 - Planta de demolir/ construir da etapa 4

Fonte: Autora (2022).

Foi proposto que o quarto 1 mudasse de lugar, para ficar em uma posição onde
o sol da tarde não o atingisse diretamente, deixando a sala de estar em seu lugar.
Assim, a porta de entrada também foi realocada, e no lugar da antiga foi colocada
uma janela. O quarto 2 ganhará uma janela, recebendo a ventilação sudeste. A porta
160

da cozinha será trocada por uma de alumínio com basculantes de vidro, possibilitando
entrada de ar e de luz natural. O layout aberto entre sala de estar, sala de jantar e
cozinha foi proposto para que houvesse a sensação de ambientes mais amplos, que
era um dos anseios da Dona C.M.C., mas também para que tais espaços obtivessem
ventilação cruzada e maior iluminação, tornando-se mais arejados e agradáveis
(Figuras 137). Uma nova janela também foi inserida na sala de jantar, a qual dá acesso
para um pergolado que a protege do poente. Em tal pergolado, pode ser colocada
uma rede para descanso. Como solução alternativa à construção de um novo quarto,
que não foi sugerida por falta de terreno e por não conhecer a situação da fundação
da casa para construção de um primeiro andar, foi proposto um sofá de paletes para
a sala, para que sua neta mais nova possa dormir. No quarto 1, dormiria Dona C.M.C
no colchão de solteiro e sua filha mais velha com seu neto dormiriam na cama de
solteirão. Todas as medidas a serem alteradas durante essa etapa podem ser vistas
na Figura 138. Na Figura 139 consta a planta baixa com todas as mudanças que foram
propostas e na Figura 140 está a planta de layout humanizada, que foi criada com a
intenção de facilitar o entendimento da proposta pela família.

Figura 136 - Estudo de incidência de ventilação e iluminação natural

Fonte: Autora (2022).


161

Figura 137 - Planta de demolir/ construir final

Fonte: Autora (2022).


162

Figura 138 - Planta baixa da proposta geral

Fonte: Autora (2022).


163

Figura 139 - Planta humanizada da proposta final

Fonte: Autora (2022).


164

6.1.5 Etapa 5 – Assentamento de revestimento cerâmico no piso de toda a casa


e pintura interna e externa

A última etapa consiste em acabamentos. A proposta é que seja realizado o


reboco nas paredes que ainda não possuem, seja feito o contrapiso da parte frontal e
posterior da casa, sejam assentados os revestimentos cerâmicos no piso de todos os
ambientes que ainda não possuem e que seja realizada a pintura interna e externa da
habitação. Como alternativa para baratear o custo da pintura, a família pode analisar
a possibilidade e viabilidade de utilizar tinta de terra, feita com terra, cola, água e óleo
de linhaça.

6.2 ESTRATÉGIAS DE VIABILIDADE ECONÔMICA E DE GESTÃO DE OBRA

Como afirma Mariana Estevão, entregar apenas o projeto para uma família que
não tem condições de executá-lo pode gerar um impacto negativo. Assim, este
subitem trará algumas estratégias de viabilidade econômica e de gestão de obra que
a Dona C.M.C. pode adotar futuramente para conseguir executar as melhorias
habitacionais propostas anteriormente.

6.2.1 Autoconstrução assistida

A primeira estratégia seria a autoconstrução assistida. Dona C.M.C. possui um


genro que é pedreiro e outro que é servente e, segundo ela, eles se habilitariam a
trabalhar aos fins de semana na obra. Por um lado, as etapas demorariam mais tempo
para serem finalizadas, mas tal solução faria com que a família economizasse cerca
de 40% do valor total do orçamento. Para que a execução fosse feita de acordo com
o projeto proposto, o acompanhamento da obra poderia ser feito por estudantes de
arquitetura e urbanismo da UFAL, supervisionados por um dos professores
responsáveis pelas Atividades Curriculares de Extensão (ACE) do curso.

6.2.2 Mutirão

Outra estratégia que poderia ser adotada seria a organização de mutirões.


Dona C.M.C. afirmou que alguns amigos e parentes de seus genros poderiam ajudar
quando necessário, assim como seus filhos e filhas. Ela também poderia tentar
165

conseguir ajuda de outros moradores da comunidade, principalmente na etapa de


construção da sede temporária da Associação comunitária. Com esse recurso, o
tempo de obra seria reduzido.

6.2.3 Crowdfunding

Para conseguir dinheiro para a compra de materiais, uma estratégia seria a


criação de uma vaquinha online para cada etapa do projeto. Dona C.M.C. e sua família
poderiam movimentar a campanha de arrecadação de doação para levantar o valor,
ou parte significativa dele, através da plataforma Benfeitoria, usada inclusive pelo
Projeto Arquiteto de Família.

6.2.4 Arrecadação de doação de materiais de construção

Dona C.M.C. e sua família também poderiam pedir doação de materiais de


construção em lojas de construção, os quais não pudessem mais ser comercializados
por ter algum defeito, mas que estivessem em perfeito estado para utilização.
Poderiam pedir também a conhecidos que estivessem com obra em andamento ou a
algum representante de construtora. As sobras dos materiais poderiam ser recolhidas
e armazenadas na casa da sua filha. Os materiais que ela ganhasse que não fosse
servir para a sua obra, poderiam ser trocados com moradores da comunidade por
outros que fossem necessários.

6.2.5 Regularização fundiária a partir da parceria do CAU com a Defensoria


Pública

Até o momento, Dona C.M.C. possui apenas o papel de compra e venda da


sua casa. Logo, para regularizá-la, ela pode procurar a Defensoria Pública da cidade
alegando que já possui o projeto arquitetônico da sua residência e se informar de que
forma pode dar entrada no processo de regularização, diante das suas condições
financeiras.
166

Assim, alinhando o projeto proposto às sugestões acima, Dona C.M.C. terá


uma maior probabilidade de conseguir executas as melhorias em sua casa e,
consequentemente, ter uma moradia de qualidade para viver.
167

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os números de habitações inadequadas crescem a cada dia no Brasil, mesmo


que possuir uma moradia digna seja um direito constitucional. Ao estudar os conceitos
de arquitetura social e compreender melhor sobre a Lei 11.888/08, percebeu-se que
essa ainda é uma lei pouco praticada por todo o país. Durante a pesquisa bibliográfica
achou-se apenas um Projeto que trabalhasse com ATHIS sendo amparado por ela, o
Melhorias Habitaconais da CODHAB.
Observou-se também que por mais que seja garantida a atuação de um
arquiteto ou engenheiro para desenvolver o projeto e acompanhar a obra da casa de
uma família de baixa renda, provavelmente, não será suficiente para garantir uma
moradia adequada, desde que se a família não possuir meios para construir, todo o
projeto não sairá do papel. Analisou-se que as ONGs que trabalham com assessoria
técnica em habitações de interesse social, utilizam várias estratégias para viabilizar
que o projeto seja construído.
Ao adentrar na Comunidade Frei Damião, pôde-se enxergar várias famílias
vivendo em casas insalubres, sem qualidade de vida e sem perspectiva de mudanças,
como exemplo, a casa da Dona C.M.C. Entre as dificuldades encontradas durante a
fase de levantamento de dados e entrevista, esteve a preocupação em manter contato
físico com os moradores em meio à pandemia de COVID- 19, pois a líder familiar
pertence ao grupo de risco. Outra questão delicada, foi desenvolver este trabalho
enquanto Dona C.M.C. passava por problemas pessoais, e logo percebeu-se que teria
sido importante ter o apoio de um assistente social durante as entrevistas com a
família.
O projeto de melhoria habitacional foi desenvolvido de forma a atender às
expectativas dos moradores, possibilitando que houvesse o processo participativo
desses, e a se adequar à realidade atual da família. Foi preciso entender quais eram
as mudanças que precisavam ser feitas e qual a ordem de prioridade entre elas. As
etapas foram pensadas como meio de fracionar os recursos que seriam necessários
e possibilitar uma melhor organização de execução, em que após a finalização de
capa uma delas, não haveria obra inacabada e a próxima etapa poderia demorar a
começar sem prejudicar o que havia sido feito anteriormente. Da mesma maneira,
avaliou-se todas as estratégias de viabilização possíveis que pudessem ser
implementadas futuramente, a fim de criar possibilidades para a execução do projeto.
168

As mudanças propostas focaram em melhorar a qualidade de vida dos moradores,


proporcionando maior ventilação e iluminação natural entre os ambientes, assim como
promovendo mais privacidade e comodidade.
Com o projeto desenvolvido e aprovado, ressalta-se também a importância de
explicar com detalhes tudo o que foi proposto e qual a relevância de cada coisa,
esclarecendo, por exemplo, o que é ventilação cruzada e em que ela beneficia na
qualidade de vida dos moradores, explicando ainda quais as etapas são essenciais
para que essa ocorra. Conceitos como esse são importantes de serem repassados
para que haja uma qualificação ao processo autoconstrutivo, pois a partir do momento
que a família entende o motivo das mudanças que foram sugeridas, ela possivelmente
tenderá a executar a obra o mais fiel possível do projeto.
Por fim, pode-se concluir através deste estudo que é sim possível atuar com
arquitetura social em meio à falta de recursos, em uma comunidade com famílias de
baixa renda, desde que se corra atrás de estratégias de captação de recursos para
viabilizar a construção da obra. Porém, mesmo a atuação sendo possível e mesmo o
resultado final podendo ser satisfatório, é necessário avaliar a situação familiar em
que a família esteja para saber se é viável a atuação e se os moradores estão
dispostos a reformar a casa que residem.
Para futuros trabalhos relacionados ao tema, sugere-se:

a) Ampliar a aplicação da metodologia desenvolvida neste trabalho para


mais famílias da comunidade de estudo, desta vez, acrescentando um
orçamento preliminar para cada etapa do projeto, a fim de possibilitar
uma melhor organização financeira e de arrecadação de recursos;
b) Aplicar a metodologia desenvolvida neste trabalho em outras
comunidades localizadas em ZEIS;
c) Criar uma rede de profissionais interessados pela atuação com
arquitetura social, a fim de buscar formas de arrecadação de recursos
para a realização de melhorias habitacionais em casas de famílias em
vulnerabilidade social;
d) Possibilitar a atuação de estudantes de Arquitetura e Urbanismo em
ATHIS em comunidades de baixa renda, para famílias que possuam
recursos para a obra, mas que não tenham o projeto para desenvolver.
Isso, a partir das ACEs com a supervisão dos professores responsáveis.
169

Dessa forma, este trabalho busca ressaltar a importância da democratização


do acesso à arquitetura, para que o direito à moradia adequada chegue às camadas
mais necessitadas e, assim, garanta-se qualidade de vida a famílias de baixa renda a
partir do espaço habitado.
170

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178

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ALLAN OLIVEIRA, CEO DA RENOVA

Entrevista com Allan Oliveira, CEO da RENOVA – Soluções em habitação. Para


facilitar a compreensão, adotou-se A para autora e B para o entrevistado.

A: Como e quando surgiu a RENOVA?

B: Começou em 2019 quando eu já estava saído (da UFAL) e a perspectiva era outra,
era sair para fazer o mestrado tanto que eu já fiz o TCC me projetando pra isso. Aí
veio aquele corte de bolsa, aquele monte de coisa, aí eu disse: Não, eu preciso fazer
alguma coisa. E comecei a pensar de que maneira eu poderia atuar: Ah, vou trabalhar
com design de interiores. Mas não eu não gosto muito, não é muito o meu perfil. Aí
comecei a estudar e pesquisar, foi quando eu encontrei o Vivenda, o Moradigna, o
pessoal de Recife, acho que foi a ABRA, e comecei a estudar realmente. Aí foi quando
eu pensei: É, aqui dá pra trabalhar com isso. Não é uma coisa de outro mundo, porque
é simplesmente um jeito de você meio que realocar os clientes, tipo, um cliente que
tá na mão de uma mão de obra informal poderia formalizar isso e dar um resultado
melhor para as construções. Porque eu sempre via no meu bairro, por exemplo,
sempre tem reforma, sempre tem alguma coisa assim e não tem ninguém por traz
disso, é só o pedreiro. Então a demanda que era muito grande, ainda é muito grande.
Aí foi quando eu olhei essa questão com o pessoal da Moradigna, conversei com o
Matheus e ele me explicou como funcionava lá e tal, e aí a gente foi trocando ideia e
eu disse: Não, eu vou montar! Aí foi quando eu comecei.

A: Qual o objetivo da RENOVA?

B: O que gente faz é uma assessoria, ela funciona de maneira que a gente vai levar
realmente essa assistência a pessoas que não tem condição. É um jeito que a gente
encontrou de atender a uma demanda que não era atendida e de chegar em bairros
que não tinha esse serviço. A gente sempre tem esse perfil de pensar assim: a gente
consegue fazer com o menos, com pouco. A ideia era essa, a gente conseguir fazer
uma reforma que fosse possível executar. A principal missão da gente é mostrar que
dá pra fazer. Porque o pessoal precisa ver que a sua função ali não é só deixar bonito,
não é só uma questão estética. A gente trabalha com melhorias habitacionais, que é
o que o ATHIS faz, né. É melhorar a qualidade de vida, tirar as pessoas de condições
179

insalubres e conseguir democratizar o acesso à arquitetura e urbanismo. A gente


trabalha especificamente com obras de reforma e que atendam a essa classe.

A: Como aconteceu e como funciona a parceria com a Vivenda?

B: Quando a gente começou 2021, a gente já tava com uma experiência legalzinha
de projeto de reforma e aí foi quando a Vivenda lançou o Instituto Vivenda, que a ideia
deles era abraçar mais negócios ao redor do Brasil que pudessem trabalhar na mesma
causa, então meio que funcionaria como um guarda-chuva que a gente ficaria
embaixo. Já havia alguns testes com negócios como o Moradigna e alguns outros que
já estavam fazendo esse teste de como funcionaria. E aí eles começaram a ver turmas
de negócios que passassem pelo treinamento deles e a partir desse treinamento
essas empresas passariam a ser acolhidas por um fundo de debêntures onde grandes
empresas investem, voltado para causa habitacional. Em junho a gente começa a
participar da turma desse treinamento. E aí a perspectiva mudou né de negócio,
porque a gente já tava se adequando ao modelo de negócio da RENOVA, onde a
gente faria consultoria e reformas que sempre foi o nosso foco. A gente tem um
analista que faz todas as análises do nosso negócio e dá um feedback semanal, a
gente tem um sistema de organização de projeto, de gestão de obra também. Então,
tudo isso contou bastante pra gente conseguir estruturar até chegar no ponto que é
hoje. Só agora a gente tem a possibilidade de a gente tá conseguindo executar o que
a gente esperava, porque a gente tem a possibilidade de ter um alcance maior, de ser
um negócio escalável no sentido de que a gente pode atender mais pessoas,
justamente pelo fato do financiamento, o subsídio financeiro.

A: Quais foram os critérios para conseguir a parceria com a Vivenda?

B: Eles já pretendiam ter um alcance grande no território nacional, então a gente


passou por esse processo né e qual era a principal requisição deles, era que fosse
um negócio social que tivesse CNPJ, que trabalhasse com melhorias habitacionais.
Então, o que era principal era ter um compromisso de atender a uma classe específica
que tem uma demanda grande. E a partir disso eles treinaram a gente pra fazer
realmente o negócio acontecer.

A: Como funcionam os Kits de serviço da RENOVA?


180

B: A gente tem o Kit cozinha, o Kit banheiro ... que facilita na hora de executar a obra,
facilita na hora de financiar, porque a gente já sabe o valor médio que vai gastar em
cada um e facilita também para o cliente porque acaba sendo uma obra mais
organizada, uma obra mais limpa, não tem aquele quebra-quebra e aquela bagunça
generalizada. Então, os Kits de serviço são meio que uma forma de limitar o que pode
ser feito para não fugir muito do orçamento, porque isso acaba frustrando o cliente e
a gente também, é uma forma de limitar e também de organizar os processos de obra.
Tem casos que a gente pode pegar um Kit banheiro e um Kit cozinha, então a gente
faz um e depois faz o outro de maneira mais organizada. Então tem meio que uma
ordem, pra manter essa ordem de serviços e manter também o financiamento que,
hoje, é o nosso carro-chefe, a gente tem que tentar colocar as expectativas nessa
nossa realidade. A gente faz as visitas, prepara o estudo preliminar, faz o orçamento.
Fechou o orçamento a gente passa pro executivo, até porque o próprio sistema da
Vivenda ele pede que a gente coloque o projeto executivo junto com o escopo da obra.
Tudo o que a gente vai fazer e o que a gente não vai fazer tem que colocar ali, pra
poder dar uma segurança jurídica pro cliente e pra gente, né. E aí a gente vai trabalhar
com a mão de obra e com o gerenciamento, e tudo isso tá incluso no valor que vai ser
parcelado em até 30 vezes.

A: Qual o prazo de entrega de uma obra?

B: A gente tem uma meta de no máximo 60 dias para a entrega de uma obra, no
máximo, estourando.

A: Como funciona a etapa de escolha de materiais?

B: O cliente é quem escolhe, mas a gente já conhece a faixa de preço que eles vão
querer. O que muda mais mesmo é a questão de revestimento e algumas peças, tipo
vaso de banheiro.

A: Como ocorre a parceria com a loja Master Construções?

B: Então, é mais uma forma que a gente encontrou de explorar território, né. Ali é um
bairro com um potencial bom, que tá bem localizado. É uma forma que a gente tem
de chamar atenção do pessoal e também de captar clientes na loja, porque, por
exemplo, às vezes vai uma pessoa que se encaixa no perfil que a gente atende, que
vai comprar material e ele não sabe o que fazer e nem o que é necessário. Então a
181

gente acaba tendo essa experiência de passar pra eles uma consultoria a hora ou
garantir a reforma deles. E a gente pode explicar que a gente divide em até 30 vezes
o material, a mão de obra, o projeto. Aí a pessoa vai tá mais aberta ao que ela precisa
e o que a gente pode oferecer pra ela, e isso a gente atendendo no local. A gente usa
a loja como escritório e também dá esse auxílio pra qualificar a venda do pessoal que
vai lá, então é uma via de mão dupla, a gente ganha e eles ganham também.

A: Vocês possuem uma mão de obra fixa?

B: A gente tem pedreiros colaboradores que estão disponíveis pra gente, a gente não
tem nem o capital e nem a quantidade de obras necessárias pra ter uma mão de obra
fixa 100%. Às vezes a gente também pega casos em que a pessoa quer fazer a
reforma, mas o pai é pedreiro, a pessoa mesmo é pedreiro, então a gente tem essa
possibilidade também e acaba reduzindo os custos da pessoa. A gente acaba
economizando com a mão de obra e o gerenciamento acaba sendo até mais próximo,
pelo fato de se tratar do próprio cliente. Então ele vai tá muito mais aberto do que um
pedreiro pra ouvir o que deve ser feito. Muitas vezes, quando o cliente prefere chamar
a gente é porque eles querem uma solução para alguns problemas que eles não estão
conseguindo resolver.

A: Vocês sentem que há um impacto social maior para as famílias agora com a
entrega da obra concluída, do que antes apenas com a entrega da consultoria
ou projeto?

B: Sim, sim! Porque muito do que a gente fazia às vezes nem era executado. Então
qual o real impacto de uma consultoria que não é executada, de um projeto que não
é executado? Não funciona. Quando a gente entrega uma obra pronta a gente sabe
que ali tem a qualidade, foi tudo planejado, que ali está dentro dos padrões que a
gente exige. O impacto é muito diferente. Quando você entrega a obra pronta você
não tá vendendo o projeto, você tá vendendo a obra.

A: No início, antes da parceria com a Vivenda, como vocês fizeram para captar
clientes e chamar a atenção dessa classe específica (C, D e E)?

B: No começo, a gente tentava entender como o pessoal estava se comportando e


pra isso a gente foi onde eles estavam, né. Eu fiz uma ação no Agreste com o pessoal
de lá e a gente conseguiu encher o salão com pessoas pra tirar dúvidas sobre o projeto
182

e sobre reforma. Foi uma maneira de a gente mostrar pra eles que dá pra fazer e foi
uma parceria com a associação de moradores. Infelizmente, não deu certo porque na
época a gente não financiava, porque se financiasse a gente conseguiria atender
muita gente naquela época. E a gente conseguiu também encontrar um nicho
virtualmente que é do público que a gente queria atingir, que é de dona de casa, tanto
que 80% das pessoas que procuram a gente pra fazer são mulheres.

A: Quais as principais dificuldades que vocês têm enfrentado na atuação com


arquitetura social?

B: Primeiro pelo não direcionamento da faculdade, embora a gente tenha uma base
boa que era o Maloca, mas, assim, pra atuar no mercado a gente teve um choque
muito grande. Questão também de disciplinas de reforma, que a gente pudesse
conhecer um caso prático, porque assim, reforma é um caso complicado. A questão
também de orçamentação, que são experiências que a gente vai adquirindo na prática
mesmo. Não é uma crítica à faculdade e aos professores, mas é o modelo de ensino
que existe principalmente nas Universidades.

A: Já teve algum momento em que você pensou em desistir de trabalhar com a


arquitetura social?

B: Em 2019, no finalzinho do ano, teve uma aceleração do Artemisia, que é o Lab


Habitação, a gente se inscreveu, mas não passou, mas foi uma experiência legal
porque é um programa que tá rolando há muitos anos e acelera negócios de impacto
social voltados pra habitação. Então, quando saiu a primeira lista aí eu comecei a
enxergar de outra maneira, porque eu vi outros negócios, por exemplo, negócios de
regularização fundiária especificamente para as classes baixas, e negócio voltado
para energia solar, então existe um mundo onde as classes C, D e E são atendidas
por negócios que dão certo. Aí foi numa época que eu tava meio desanimado um
pouquinho, porque eu não via tanta perspectiva nisso, mas continuava trabalhando
pra ver o que é que rolava. Mas aí comecei a ver essas coisas e disse: Não, tem como
dar certo, não tem como dar errado não. Porque se dá certo em cidades de menores
expressão que Arapiraca, se Alagoas até o momento não tinha um negócio declarado
abertamente voltado pras classes mais baixas, existe aí uma chance.
183

A: Pra você é possível conseguir trabalhar com essa classe social específica e
receber bem por isso, com e sem o parcelamento?

B: Sim, sim. Eu acho que dá. No começo a gente trabalhava com mais de um público,
trabalhava muito com consultoria e reforma também. Hoje a gente conseguiu definir
melhor, justamente por essa questão do financiamento, até porque é muita coisa que
a gente precisa fazer pra conseguir esse financiamento. Até pela questão do tempo a
gente focou mais nisso agora. Mas não diria que é impossível você fazer essas coisas
sem a ajuda de um financiamento, porque a demanda é muito grande, o público que
precisa disso é muito grande. Então, as coisas que você consegue atender com uma
consultoria ou até mesmo só com o acompanhamento da obra, porque às vezes a
pessoa já tá com os materiais comprados, já tem uma ideia do que fazer e você pode
oferecer a consultoria e o acompanhamento da obra. São muitas possibilidades. É
realmente muito trabalhoso, mas vale a pena. A gente consegue ganhar o que a gente
precisa, a gente consegue vender o nosso serviço e consegue também favorecer às
pessoas.

A: Quais as metas futuras para a RENOVA?

B: A principal meta até o fim do ano é fechar pelo menos umas 6 reformas. E a ideia
futura é de expansão mesmo, de conseguir atingir mais territórios. Aumentar equipe,
criar uma metodologia de análise, de levantamento e tudo mais, é inclusive algo que
a gente já vem trabalhando e se planejando pra começar ano que vem esse tipo de
trabalho.

A: Vocês já tentaram procurar saber na prefeitura com relação a seus planos em


relação à implementação da Lei 11.888?

B: Por lei já deveria ter um Escritório Público, que é uma lei de 2006, e até hoje não
se firmou. Na última gestão houve o boato de que ia acontecer e não aconteceu, nessa
também existe, mas até agora não foi concretizado nada. Não sei com essa
implementação desse Programa Viver Melhor o que é que vai rolar. O setor de
regularização fundiária de lá estava desmontado, a previsão é que voltasse a
funcionar agora.
184

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM PAULA ZACARIAS, ANALISTA DE


PROGRAMAS DO ONU-HABITAT E CONSELHEIRA TITULAR DO CAU-AL

Entrevista com Paula Zacarias, Analista de Programas do ONU-Habitat e Conselheira


Titular do CAU-AL. Para facilitar a compreensão, adotou-se A para autora e B para a
entrevistada.

A: Quando surgiu e como funciona a parceria entre o Governo de Alagoas, o


ONU-HABITAT e o CAU-AL?

B: Em 2017, o ONU-Habitat estabeleceu um projeto de cooperação técnica com o


Governo do Estado. O Vida Nova nas Grotas é um programa do Governo, ele não é
um programa do ONU-Habitat, ele recebe o nosso apoio institucional, a gente apoia o
Governo produzindo diagnósticos, relatórios e estratégias para aprimorar o programa,
mas a concepção, o financiamento, a execução do Vida Nova, realmente, é do
Governo do Estado. Em 2018, nós firmamos uma parceria entre Governo do Estado,
o CAU/AL e o ONU-Habitat para atuarmos com assistência técnica nas grotas. O
Governo do Estado já tinha o programa Vida Nova nas Grotas implementado,
sobretudo, por duas Secretarias do estado: a Secretaria de Estado de Transporte e
Desenvolvimento Urbano (SETRAND), que é responsável pelas obras de
acessibilidade e mobilidade, construções de pontes, escadarias, corrimão, caneletas
de drenagem, toda essa parte de estrutura física da porta pra fora, digamos assim; e
a Secretaria de Estado da Infraestrutura (SEINFRA) é responsável pelas ações da
porta pra dentro, pelas ações de melhoria habitacional. O CAU/AL usa o seu
orçamento destinado para assistência técnica, lança editais, normalmente são editais
anuais, seleciona profissionais habilitados, de acordo com os critérios que estão
definidos no edital, para trabalharem com assistência técnica. Em média nos últimos
editais foram 4 arquitetos(as) por edital, e esses arquitetos são responsáveis por fazer
toda parte de levantamento de campo,tirar as medições iniciais e realizar os projetos
de melhoria habitacional das unidades que se localizam nas grotas. Então, em
resumo, o CAU/AL lança o edital, seleciona os arquitetos e contrata. Os arquitetos vão
a campo, fazem os levantamentos e o projeto e entregam esse conjunto de projetos
para a SEINFRA e a SEINFRA é responsável por executar as obras. Tanto as dos
projetos que são feitos pelos arquitetos do CAU/AL, quanto também de projetos feitos
185

pela própria secretaria, pela própria SEINFRA. Porque os recursos que o CAU/AL
dispõe não consegue abarcar toda a demanda de melhoria habitacional das grotas,
então ele consegue atender a um percentual específico e o restante dos projetos é
feito internamente pela SEINFRA. E nós, enquanto ONU-Habitat, apoiamos a
articulação desse processo envolvendo as três instituições.

A: Quais as fontes de recursos para a viabilização do Projeto Vida Nova nas


Grotas?

B: O recurso de execução é do Governo do Estado. No caso das melhorias


habitacionais, elas são custeadas pelo Fundo Estadual de Combate e Erradicação da
Pobreza (FECOEP). Desde 2005 que o estado tem esse fundo que é arrecadado de
diversas fontes de recurso, desde a conta de luz até cigarro, gasolina, fogos de
artifício, enfim, tem alguns produtos e serviços que destinam um percentual para esse
fundo. E é com esse fundo estadual que o Governo consegue executar e implementar
uma série de ações estaduais e entre elas, as ações de melhoria habitacional do Vida
Nova nas Grotas.

A: Já houve tentativa de conseguir recursos pela Lei 11.888/08?

B: A lei é uma normativa, é uma orientação, a lei sozinha não vai garantir a sua
efetivação. A lei vai ter que ser transformada em política pública, seja ela no nível
municipal, estadual ou federal, e aí sim dentro dessa política pública a prefeitura ou
governo pode criar programas que efetivem a implementação dessa lei, faça ela valer.
Até então, é uma normativa, uma diretriz, se ela vai ser colocada em prática ou não é
uma outra história. Hoje, no Governo do Estado e onde eu sei, em todas as prefeituras
de Alagoas não existe nenhuma lei estadual de assistência técnica que seja efetiva.

A: Para você, por que a Lei 11.888/08 ainda não é implementada em Alagoas?

B: Eu acho que falta uma maior sensibilização dos gestores, dos tomadores de
decisão em termos de política pública. De desconhecimento, apesar de a Lei não ser
recente, desde 2008. Eu acho que, no ponto de vista técnico, arquitetos, engenheiros,
estudantes, a academia de um modo geral, todo mundo já conhece e já é do senso
comum. Há uma mobilização muito grande das entidades de classe, sobretudo do
CAU, de difundir, organizar seminários, cursos, palestras que se discutam a
assistência técnica. Mas, ela ainda é muito desconhecida, por grande parte dos
186

gestores. Esse desconhecimento pode levar, a uma ausência de sensibilização para


o tema e também de colocar esse tema na agenda política, que não é a agenda
técnica. Tem uma frase que diz assim: há leis que pegam e outras que não pegam. A
assistência técnica ainda não pegou, está pegando, mas ainda não pegou. Então, eu
acredito que é necessário esse esforço de sensibilizar, de mobilizar, de colocar esse
assunto na pauta da agenda política. E isso é difícil, porque existem muitos assuntos
que entrariam nessa pauta política e precisa realmente o gestor tomar a decisão de
querer, de se engajar nisso. Ter uma equipe técnica mobilizada, engajada, qualificada
para trabalhar o tema e pensar numa política pública, pra pensar num programa de
assistência técnica. Acho que também destinar recursos para isso, por exemplo,
existem muitos fundos municipais de habitação que não possuem recursos. Como
também não tá na pauta do Governo Federal, acho que isso dificulta, porque até então
a agenda do Governo Federal tem sido construção de conjuntos habitacionais nos
moldes do Minha Casa Minha Vida, não se pensa em outras alternativas e assistência
técnica seria uma dessas alternativas. Se isso não está no discurso federal, dificulta
entrar no discurso estadual ou municipal.

A: Quais profissionais fazem parte do Projeto?

B: O CAU/AL, só contrata e remunera arquitetos. Na equipe da SEINFRA tem


arquitetos, engenheiros, técnicos em edificações e a equipe do social, formada por
assistentes sociais. Além de ter estagiários de arquitetura e engenharia.

A: Como funciona o eixo de melhorias habitacionais do Vida Nova nas Grotas?


Quais são as etapas entre projeto e obra?

B: Talvez a equipe SEINFRA seja o melhor grupo pra te responder o passo a passo
certinho, mas eu vou dar um panorama geral. A equipe social vai a campo, tendo
alguns critérios de famílias que serão atendidas. E depois vai a equipe de campo fazer
o levantamento, aí essa equipe ou são os arquitetos do CAU ou os arquitetos,
engenheiros e estagiários da SEINFRA.

A: Atualmente, quais os critérios para seleção das famílias?

B: Até dois salários mínimos, que não tenha problemas estruturais, que não seja
alugada, seja de alvenaria e que apresente pelo menos a necessidade de um serviço
187

prioritário. Ou que tenha algum morador com mobilidade reduzida, idoso, portador de
deficiência, alguém que tenha alguma vulnerabilidade.

A: Há algum tipo de assistência para situações em que a família necessita, mas


não pode ser atendida pelo Projeto?

B: Não, infelizmente no momento não.

A: Qual o valor máximo disponibilizado para cada família?

B: Hoje, se eu não me engano, é mais ou menos R$6.500 em média. Obviamente que


não é um valor fechado, então, às vezes, pode gastar R$5.500 em uma e passar um
porquinho de R$6.500 em outra.

A: Quais são as prioridades nos projetos de melhorias habitacionais?

B: Os serviços funcionam em dois tipos: os prioritários, que são melhorias na coberta,


banheiro, cozinha, fachada, e revestimento das paredes e do piso, que realmente são
as áreas que estão mais críticas e em condições piores; e os serviços
complementares, que são reposição de alguma tubulação, alguma fiação, pequeno
reparo na pintura em geral. Então, as ações feitas nas unidades têm que se enquadrar
em algum desses dois tipos de serviços.

A: O que é entregue à família? (Planta baixa da casa, planta apenas do ambiente


atendido?)

B: Boa pergunta, não sei te dizer. Eu acredito que eles não entregam o projeto, eles
executam, dentro daqueles serviços que eu comentei que são prioritários ou
complementares.

A: Como ocorre a participação da família durante todo o processo, desde a


elaboração do projeto até a entrega da obra concluída?

B: Eu acho que há uma abertura para ouvir os moradores, mas ao mesmo tempo que
há essa abertura também há uma certa limitação de forma que atenda aos serviços a
serem priorizados. Tem uma metodologia, tem o recurso, mas infelizmente não tem
como atender ainda a todas as demandas, mas a medida do possível é conversado
com os moradores. Eles são escutados e tenta-se chegar em um consenso entre a
188

demanda do morador, a parte técnica e as limitações de metodologia e de recursos


do Programa.

A: Qual é a mão de obra que participa desse eixo?

B: No programa Vida Nova nas Grotas são contratadas empresas/construtoras para


executar as obras, e elas tem por contrato a obrigação de selecionar um percentual
de moradores da grota. Para a parte de mobilidade e acessibilidade eu sei que é 30%
e acredito que o mesmo percentual se mantém para as melhorias habitacionais, em
serviços como ajudantes de pedreiro, servente, pintor, eletricista.

A: Como funciona o acompanhamento e gerenciamento das obras?

B: Tem o acompanhamento técnico, de fiscalização, de conferência, para ver se tá


sendo tudo feito para liberar os recursos, por parte da SEINFRA. Toda parte de
licitação e execução é tocada pela Secretaria.

A: Quanto tempo leva desde a primeira entrevista com a família até a obra
concluída?

B: É em média de um ano, de fazer o levantamento, ter todo o processo licitatório e


começar a obra. O que, inclusive, é um dos desafios do programa. Talvez, hoje, esse
prazo esteja um pouco menor. Às vezes, você vai na família e faz o levantamento,
hoje, das melhorias habitacionais daquela unidade, e aí demora pra isso ser
executado. Aí, quando vai chegar lá, às vezes, a família já resolveu aquela questão.
Antes, por exemplo, era uma coberta, aí em alguns meses ou em um ano conseguiu
resolver a coberta. Ou seja, já não é mais aquela demanda, já tem outras.

A: Há um acompanhamento pós-entrega da obra concluída? Se sim, como


ocorre?

B: Acompanhamento no sentido de Avaliação Pós-Ocupação não acontece. Acho


necessário, inclusive, mas não acontece.

A: Quais as dificuldades enfrentadas e quais seriam as possíveis soluções para


contorná-las?

B: Completar esse ciclo, da entrada na grota até a obra ser realmente entregue. Acho
que isso poderia ser feito em um tempo mais reduzido, e para isso ser feito teria que
189

se pensar em alternativas que fogem, um pouco do que já é feito. Mas acho que esse
ciclo completo poderia ser revisto. Acho também que poderiam ser envolvidos outros
atores no processo. Ter um próprio programa do Governo do Estado para contratação
de profissionais que prestassem essa assistência técnica, aumentar o corpo técnico
do estado para atuar nessas áreas. Aumentar recursos humanos para dar mais
celeridade. Você esperar, às vezes, tanto tempo para ser atendido, pode potencializar
o risco que essa família enfrenta, seja nas suas condições de saúde, seja no seu bem-
estar. Acho que também poderia ser pensado em envolver empresas de pequeno,
além das de médio e grande porte, empresas menores que pensem em formas
alternativas de execução dessas melhorias, como mutirão, autoconstrução assistida.
Pensar em outras formas de dinamizar um pouco o Programa. Acho que um dos
principais desafios mesmo é pensar a assistência técnica como um programa de
estado. Se tem um programa estadual, com objetivos, com metas, com recursos
destinados exclusivamente para essa ação, isso ganha mais fôlego e permite que
mais famílias sejam atendidas e se diminua, ou tente-se diminuir, a inadequação
habitacional desses locais, e com isso ampliar o acesso à moradia.

A: Haveria a possibilidade de disponibilizar fotos de antes e depois de reformas


já realizadas pelo Projeto?

B: Nesse relatório que eu vou te passar tem algumas fotos. Eu vou te mandar esse
material e você vê se é isso que você tá buscando.

A: Em Palmeira dos Índios, está sendo implementado o Projeto Vida Nova na


Cidade. Há relação com o Vida Nova nas Grotas? Se sim, como funciona? Há
planos de implementação em outras cidades?

B: Não sei te dizer se em Palmeira seria o caso. Eu sei que o estado já tem levado
para outros municípios, se eu não me engano, Barra de Santo Antônio, talvez
Palmeira, mas não tenho certeza. A ideia de urbanizar, de levar melhorias de
escadarias, toda essa parte de mobilidade e acessibilidade eles já estão iniciando em
outros municípios.

A: Quais são os planos do CAU-AL para a cidade de Arapiraca, em relação às


ações de ATHIS?
190

B: Eu sei que o Conselho iniciou um diálogo com a Defensoria Pública. Então é


possível que nos próximos meses tenha uma parceria, a Defensoria recebe muita
demanda de famílias que precisam de regularização fundiária.

A: Existe alguma articulação entre CAU/AL e Prefeitura de Arapiraca que tenha


se traduzido na criação de um setor que trate da questão na prefeitura? Ou
inexiste destacamento de setor para a questão da habitação social na
prefeitura?

B: Não, ainda não. A gente tem dialogado com diversos atores de Arapiraca, tem um
diálogo recente com a Prefeitura, mas nada que tenha sido traduzido em uma coisa
mais concreta ou um setor mais específico.

A: Em caso negativo (Não há destacamento), qual a sua percepção sobre os


motivos para não haver?

B: Para criar uma estrutura que realmente funcione dentro da Prefeitura, o CAU/AL
provavelmente teria interesse, mas acho que não teria capacidade operacional para
isso e acho que foge um pouco do nosso papel enquanto Conselho. É mais um papel
de apoiar iniciativas, de conseguir executar algumas ações, mas acho que fazer parte
de uma estrutura oficial de um órgão público extrapolaria um pouco a nossa
capacidade institucional.

A: Qual sua percepção sobre a estratégia de autoconstrução assistida?

B: Eu vejo como uma forma positiva. É um número muito elevado, ainda, da sociedade
que não possui acesso a profissionais como eu, e como você vai ser futuramente,
então eu acho que há um nicho realmente de mercado, uma fatia considerável da
sociedade que não tem acesso a um profissional qualificado, quanto também uma
possibilidade de nós arquitetos cumprirmos a nossa responsabilidade social. A
autoconstrução é um fenômeno que existe e que a gente não tem como lutar contra
isso, existe e vai continuar existindo. Mas o grande problema é quando ela é feita sem
orientação técnica adequada, quando o morador faz por conta própria sem ter o
conhecimento, sem ter o projeto, sem ter uma orientação adequada. A gente sabe que
isso acaba resultando em situações inadequadas r, inclusive colocando em risco
aquela edificação e a saúde, sobretudo que é o mais importante, dos moradores.
Quando a autoconstrução pode ser feita com um apoio técnico, com uma orientação
191

profissional, com projeto, com acompanhamento, com pós-avaliação, quando isso é


acompanhado realmente por um profissional, me parece uma alternativa interessante
de tentar diminuir o déficit e a inadequação habitacional. Porque nem tudo, isso é fato,
o poder público vai conseguir arcar, vai conseguir custear. O déficit é gigante e
diversificado, então eu acho que pensar em programas, políticas que atendam a essa
diversidade, e entre elas, a assistência técnica como uma ferramenta que possa
auxiliar o morador para que ele construa a sua moradia da melhor forma possível,
orientado tecnicamente, me parece um caminho. Eu acredito nesse caminho e vejo
de forma positiva, sempre com orientação técnica.
192

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM DONA C.M.C., MORADORA CONTEMPLADA


COM O PROJETO DE MELHORIA HABITACIONAL E PRESIDENTE DA
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE FREI DAMIÃO

Entrevista com Dona C.M.C., moradora contemplada com o projeto de melhoria


habitacional e presidente da associação de moradores da Comunidade Frei Damião
e levantamento de dados da comunidade.

1) Há quanto tempo a senhora mora na Comunidade?


Tem 21 anos.

2) Qual a faixa etária dos moradores (preencher com a quantidade de


moradores):
Dona C.M.C. tem 52 anos, uma filha tem 19 anos, um filho tem 17 anos, outro filho
tem 15, uma neta (considerada filha) tem 11 anos e seu neto, filho da sua filha de 19
anos, tem 3 anos.
3) Qual a faixa de renda da família:
De 30 a 50 reais. No momento, sobrevive mais de doações.

4) Qual a principal fonte de renda da família?


“Isso aqui, quando aparece: destalar fumo pra ganhar um real o quilo. E então, cato
reciclagem”.

5) Alguém na casa possui alguma necessidade especial ou algum problema


de saúde?
Sim.

6) Se sim, para necessidades especiais, especifique:


7) Se sim, para enfermidade crônica, especifique:
É hipertensa e tem problema no coração.

8) Faz parte de grupo de beneficiários de algum programa de transferência


de renda?
Não.

9) Se faz, especifique.
10) De acordo com sua percepção quais as principais necessidades de sua
193

comunidade?
Um posto policial, uma creche e um posto de saúde.
11) Cite aspectos positivos na comunidade?
O povo, a vizinhança.

12) De acordo com sua percepção algo melhorou desde quando você veio
morar na comunidade?
O calçamento, a energia, a água.

13) Qual o tipo de transporte vocês utilizam?


A pé ou ônibus, quando tenho dinheiro.

14) Quais são as atividades de lazer da família?


Almoço em casa com a família reunida.

15) Qual a localidade da moradia da família antes de morar na comunidade?


Morava na Cafurna de cima, em Palmeira dos Índios-AL.

16) Por quais motivos vocês vieram morar na comunidade?


Vieram para Arapiraca, pois o ex-marido havia conseguido trabalho no Clube do Sesi.
Conseguiram comprar um vão na comunidade e depois conseguiram trocar na casa
atual.

17) Você gosta de morar na comunidade?


Sim.
18) Já quis sair daqui? Se sim, especifique motivo:
Sim, devido à falta de segurança.
19) Como você avalia a segurança na área? Por quê?
“Eu acho péssima Iris, porque eles não sabem definir. Porque, hoje em dia, em todo
canto mora gente boa e gente ruim, né. E a justiça de hoje em dia ela tá muito
esquivada. Ela tá pegando gente inocente pra pagar pelo erro de quem deve. Outro
dia pegaram o meu filho de 17 anos na esquina da “6”. Trouxeram o meu filho
arrodeando por aí, quando chegaram ali queriam que meu filho dissesse que era
traficante, sendo que meu filho nunca mexeu com isso. Eu fui atrás, porque ele é meu
filho e é de menor, levei nome de traficante. Eu disse a ele: moço, vá na minha casa,
eu moro aqui nessa rua, o número da minha casa é 23, trabalho com isso não. Meu
filho dormiu na casa da irmã dele no Vale da Perucaba, tinha acabado de chegar.
194

“Que mãe é você? Que mãe é você? Seu filho no córrego. ” Aí eu disse: cês devem
tá confundindo meu filho com outra pessoa, meu filho não tava aqui. Praticamente
esculhambou comigo, com meu filho. Meu genro desceu pra lá, eles não deixaram
ninguém chegar perto. “Volte, volte, volte”. E ainda teve um policial que disse: nós não
têm medo de denúncia, de porra nenhuma não. Imprensando o menino. O outro
policial mandando o menino correr. Queria ele correr pra quê? Pra atirar no meu filho?
Aí ele disse: não, eu não vou correr não moço que eu não devo. Aí qual é a segurança
que a gente tá tendo desse jeito? Né.”

20) O que você acha do tamanho da sua casa:


Péssimo, acha pequena.
21) De onde vem a água que abastece a casa?
( ) Encanada da Casal ( )Vizinho ( x ) Poço/Cacimba ( )Outro:
22) Se possui água encanada, recebe conta de água?
( ) Sim ( x ) Não
23) A residência possui banheiro?
( x ) Sim ( ) Não ( x ) Dentro da casa ( ) Fora da casa
24) Sua casa possui energia elétrica?
( x ) Sim ( ) Não
25) Se sim, recebe conta de energia?
( ) Sim ( x ) Não, pega energia da vizinha.
26) A casa está ligada ao sistema de esgoto (ralo no banheiro, saída das pias
e vaso sanitário)?
( x )Sim ( )Não
27) Qual o grau de satisfação da sua residência em relação ao conforto no
período de frio? Por quê?
( ) ótimo ( ) bom ( x ) péssimo.
28) Qual o grau de satisfação da sua residência em relação ao conforto no
período de calor? Por quê?
( ) ótimo ( ) bom ( x ) péssimo.
29) Qual o cômodo que a família permanece por mais tempo?
A sala.
30) Utiliza algum cômodo para exercer atividade que gere renda?
( x )Sim ( ) Não.
195

Qual?
A varanda, para destalar fumo.
31) Sente falta de algum ambiente na casa:
( x )Sim ( ) Não Qual?
Mais um quarto.
32) Quando chove, inunda a sua rua:
( )Sim ( x )Não
Mas na ponte, sim.
33) Quando chove, inunda a casa:
( )Sim ( x )Não
Mas goteja dentro de casa.
34) O que você acha da largura da sua rua:
( ) ótimo ( x ) bom ( ) péssimo.
35) Qual a forma de coleta de lixo:
( ) Caminhão de porta em porta ( ) Gari de porta em porta ( ) Conteiner mais próximo
( x ) Ponto de lixo mais próximo ( ) Outro:
36) Qual a frequência do caminhão de lixo na comunidade:
( ) diariamente ( ) 1x/semana
( x )Dias alternados, quais? Segunda, quarta e sexta
37) Sua rua tem iluminação pública:
( x )Sim, Qual? ( x )Equatorial ( )Prefeitura ( ) Comunidade ( )Não
38) Serviços comunitários e públicos utilizados (Local: fora ou dentro do
bairro):
Nº Item S N Onde: Qual?
Igreja Santa Isabel
( x ) Dentro
01 Igreja x
( ) Fora
( x ) Dentro
02 Campo/Quadra x
( ) Fora
( ) Dentro
03 Espaço CuIturaI X
( ) Fora
Escola de Ensino
(x) Dentro
04 Escola Municipal X Fundamental Domingos
( ) Fora
Lopes da Silva
( ) Dentro
05 Escola Estadual X
( ) Fora
( ) Dentro
06 Creche X
( ) Fora
196

(x) Dentro UBS Canafístula


07 Posto de Saúde X
( ) Fora
CRAS (Centro de CRAS Canafístula
(x) Dentro
08 Referência de X
( ) Fora
Assistência Social)
Associação (X ) Dentro Associação
09 X
Comunitária ( ) Fora Comunitária Frei Damião
( ) Dentro
10 Posto Policial X
( ) Fora
( ) Dentro
11 Praça ou área verde X
( ) Fora

39) Mobiliários urbanos existentes na comunidade (OBS.: fotografar):

N° ITEM N S Qtd Onde?

01 Ponto de Táxi X

02 Ponto de Motatáxi X 1 Na entrada da Comunidade

03 Ponto de Õnibus X 1 Na entrada da Comunidade

04 Lixeiras X

05 Caixa Coleta do Correio X

06 Poste de Iluminação X Em todas as ruas.

07 Apoio para bicicleta X

40) Acessibilidade Urbana nas ruas da Comunidade (OBS.: fotografar):

№ ITEM N S Qtd Onde

01 Placas de sinalização X

02 Rota acessível tátil X

03 Rebaixamento da X
calçada

04 Telefone público X
acessível

05 Lixeira pública acessível X

41) Como você avalia o barulho externo a sua residência:

( x ) Incomoda ( ) Não incomoda


197

42) Sua casa já foi regularizada pela Prefeitura:

( ) Sim (x) Não ( ) Em processo

43) Possui algum documento referente à casa? Quais?

Tem apenas o comprovante de compra e venda. Já teve promessas de receber a


escritura original, mas nunca recebeu.

44) Já foram ameaçados de despejo?

( ) Sim , como ocorreu? ( x ) Não

44) Conhece a Lei de assistência técnica em habitação de interesse social, Lei


11.888?

Não.

45) Já pretendeu fazer uma reforma na casa?

( x ) Sim, o que mudaria em cada ambiente? ( ) Não


Gostaria de aumentar a sala, cozinha e banheiro. Faria outro quarto e colocaria
cerâmica na casa.
46) Se fosse possível construir um local para a associação, como a senhoria
gostaria que fosse? O que teria que ter? (ambientes, equipamentos, etc.)

Espaço para atender o pessoal. Uma cozinha com pia, fogão de duas bocas e espaço
para freezer.

47) Algum parente ou vizinho é pedreiro, quem? Se sim, este teria a


possibilidade de ajudar aos fins de semana?

Os genros são pedreiro e ajudante de pedreiro. Ajudariam na reforma.

48) Algum parente ou vizinho ajudaria na reforma durante os fins de semana?


Quem?

Sim, pessoas de fora da Comunidade.

49) Existe um possível local para armazenamento de materiais de construção?


Se sim, onde?
198

Sim, na casa da filha.

50) Há alguma loja de material de construção próxima à comunidade? A senhora


acredita que consiga comprar lá de forma financiada e pegar os materiais aos
poucos?

Sim, a Loja do Seu Everaldo. Mas não conseguiria comprar parcelado sem ser no
cartão.

51) Caracterização do sistema construtivo da casa:

- Envoltória externa: alvenaria com reboco.

- Divisões internas: alvenaria com partes sem reboco.

- Cobertura: madeira e telhas de cerâmica.

- Piso: contrapiso.

- Esquadrias: Madeira, ferro e alumínio.

52) Quantos cômodos tem a casa?

São 7 cômodos: varanda, 2 salas, 2 quartos, cozinha e banheiro.

54) Fazer mapa riscos junto com a família (classificando os problemas que mais
incomodam a família em ‘curto prazo’, ‘médio prazo’ e ‘longo prazo’).

Primeiro faria a sede para a associação. Depois consertaria o telhado. Depois


aumentaria o banheiro, quarto, sala e cozinha.

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