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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL


CAMPUS ARAPIRACA
ARQUITETURA E URBANISMO – BACHARELADO

THAYSE KARLA SANTOS SILVA

A BIOCONSTRUÇÃO NA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: UMA


PROPOSTA DE CASA SUSTENTÁVEL UTILIZANDO A TAIPA DE PILÃO

ARAPIRACA
2022
Thayse Karla Santos Silva

A bioconstrução na habitação de interesse social: uma proposta de casa sustentável utilizando


a taipa de pilão

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC apresentado


a Universidade Federal de Alagoas – UFAL,
Campus de Arapiraca, como pré-requisito para a
obtenção do grau de Graduada em Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Prof.ª Esp. Natiele Vanessa Vitorino

Arapiraca
2022
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
Biblioteca Campus Arapiraca - BCA

S586b Silva, Thayse Karla Santos


A bioconstrução na habitação de interesse social: uma proposta de casa
sustentável utilizando a taipa de pilão / Thayse Karla Santos Silva. – Arapiraca, 2022.
80 f.: il.

Orientadora: Prof.ª Esp. Natiele Vanessa Vitorino.


Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo).-
Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, Arapiraca, 2022.
Disponível em: Universidade Digital (UD) – UFAL (Campus Arapiraca).
Referências: f. 77-80

1. Biocontrução 2. Construção sustentável 3. Construção ecológica 4.


Habitação popular 5. Taipa de pilão I. Vitorino, Natiele Vanessa II. Título.

CDU 72

Bibliotecário responsável: Gerlane Costa Silva de Farias


CRB - 4 / 1802
Thayse Karla Santos Silva

A bioconstrução na habitação de interesse social: uma proposta de casa sustentável utilizando


a taipa de pilão

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC,


apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca, como partes dos requisitos para
obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo.

Data de Aprovação: 08/02/2022

Banca Examinadora

________________________________________________________
Prof.ª Esp.ª Natiele Vanessa Vitorino
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Orientadora)

________________________________________________________
Prof.ª Dr.º Marcelo Karloni da Cruz
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Examinadora)

________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Simone Carnaúba Torres
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca
(Examinadora)

________________________________________________________
Profº Drº Odair Barbosa de Moraes
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Delmiro Gouveia
(Examinador)
Para os amores da minha vida, meus avós, Anelita e
José Moraes, obrigada por todo amor. (in
memorian)
“Amar e mudar as coisas me interessa mais”
Alucinação - Belchior
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha mãe Rosilene, por todo amor, cuidado e dedicação
para que eu chegasse até aqui, muito obrigada mainha. Agradeço também a minha tia Roseane
por todo cuidado e amor, a minha madrinha Suzy, minha irmã Gleyzzianne e minha prima
Maria Luiza, amo vocês. Agradeço também a minha namorada Lorena por todo amor e apoio
sempre.
Ao MALOCA, Escritório de Habitação Social, que era dirigido pelos queridíssimos
Profº Dr. Odair Barbosa e Profª Dr. Ester Viegas, muito obrigada por todos os ensinamentos
que me ajudaram a ser o que sou e acreditar no que acredito. E aos professores que fizeram
parte da minha formação como profissional e pessoa, muito obrigada por toda a paciência e
cuidado.
Aos meus amigos, Douglas, Myllena e Nilson, por sempre se fazerem presentes, mesmo
de longe. A SSG, Sarah, Yanca, Williana, Henrique, Jennifer, Eduardo, José Vinícius, Natali e
Mayara, por toda a parceria e momentos de fuga durante todos esses anos de graduação. É mais
leve caminhar com vocês do lado.
Muito obrigada a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, me ajudaram na
caminhada até aqui, não foi fácil, mas conseguimos!
RESUMO

A moradia é um direito garantido pela Constituição Federal brasileira de 1988. Entretanto,


milhares de pessoas vivem em vulnerabilidade com relação a esse direito. O déficit habitacional
é um problema que persiste mesmo após alguns programas habitacionais que tinham como
objetivo sanar essa questão. Além disso, o planeta sofre com as consequências do uso de seus
recursos finitos e a poluição das cidades, produzida em grande parte pela construção civil. O
presente trabalho tem como objetivo, desenvolver uma proposta de bioconstrução voltada para
a HIS, utilizando a taipa de pilão como principal elemento construtivo, como uma alternativa
para diminuir o impacto ambiental da construção civil e a diminuição do déficit habitacional
existente. Para este fim foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a questão
Habitacional de Interesse Social no Brasil e a Sustentabilidade ambiental na Arquitetura e
Urbanismo, e pesquisa e compreensão de como funcionam algumas técnicas que utilizam a
terra crua como material construtivo. O resultado é um estudo preliminar de uma Habitação de
Interesse Social bioconstruída utilizando a taipa de pilão e o tijolo de solo-cimento como
principais materiais construtivos. Essa proposta se faz importante na área da habitação social e
serve como uma alternativa para a produção de HIS pela grande demanda existente nesse meio
e pelo seguimento ambiental, que não se vê nas produções de HIS nos últimos tempos.

Palavras-chave: bioconstrução; habitação de interesse social; taipa de pilão.


ABSTRACT

The housing is a right guaranteed by the Brazilian Federal Constitution of 1988. However, many
people live in vulnerability in relation to this right. The housing deficit is a problem that persists
even after some housing programs that aimed to remedy this issue. In addition, the planet with
consequences of its finite resources and suffers from the use of cities, produced in large civil
construction. The work has a bioconstruction proposal presented as an objective to increase the
development of HIS, using as an alternative for the environmental impact of civil construction
and the reduction of the housing deficit. To this end, a bibliographic survey was carried out on
the issue of Social Interest Housing in Brazil and Environmental Sustainability in Architecture
and Urbanism, and some research and understanding of how the techniques that use raw earth
as a constructive material work. The result is a preliminary study of a biobuilt Social Interest
Housing using a rammed earth and soil-cement brick as the main building materials. This
proposal remains important in the area of social housing and serves as an alternative for the
production of HIS due to the great demand for existence in this environment and the
environment, which has not been seen in the production of HIS in recent times.

Keywords: bioconstruction; housing of social interest; rammed earth.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo de vida da taipa ............................................................................................... 35


Figura 2 - Inércia térmica ......................................................................................................... 36
Figura 3 - Forma e tijolo de adobe .......................................................................................... 38
Figura 4 - Fundação e tramas .................................................................................................. 39
Figura 5 - Fundação e tramas preenchidas .............................................................................. 40
Figura 6 - Sacos sendo preenchidos e apiloados na técnica superadobe ................................ 41
Figura 7 - Encaixe de esquadrias na técnica superadobe ........................................................ 41
Figura 8 - Sacos sendo preenchidos e apiloados na técnica hiperadobe ................................. 42
Figura 9 - Encaixe de esquadrias na técnica hiperadobe ........................................................ 42
Figura 10 - Solo, cimento e água .............................................................................................. 43
Figura 11 - Taipal e solo apiloado ............................................................................................ 44
Figura 12 - Construção da parede de taipa de pilão .................................................................. 45
Figura 13 - Rolando o cordão para o teste ................................................................................ 47
Figura 14 - Esmagando a bola de terra úmida .......................................................................... 48
Figura 15 - Amostra da queda da bola ...................................................................................... 49
Figura 16 - Fazendo o cilindro .................................................................................................. 49
Figura 17 - Fita ......................................................................................................................... 50
Figura 18 - Mapa de localização ............................................................................................... 52
Figura 19 - Localização do terreno ........................................................................................... 53
Figura 20 - Vista do terreno escolhido ..................................................................................... 53
Figura 21 - Sombreamento ....................................................................................................... 55
Figura 22 - Ventilação cruzada ................................................................................................. 56
Figura 23 - Resfriamento evaporativo ...................................................................................... 56
Figura 24 - Tipologia sugerida pelo PMCMV ......................................................................... 57
Figura 25 - Setorização térreo .................................................................................................. 59
Figura 26 - Setorização 1º pavimento ...................................................................................... 59
Figura 27 - Planta térreo sem evolução e planta superior com evolução ................................. 60
Figura 28 - Planta térreo com evolução e planta superior sem evolução ................................. 61
Figura 29 - Rosa dos ventos ...................................................................................................... 62
Figura 30 - Estudo insolação e ventilação térreo ..................................................................... 62
Figura 31 - Estudo insolação e ventilação 1º pavimento .......................................................... 63
Figura 32 - Modelo de janela .................................................................................................... 63
Figura 33 - Corte esquemático ................................................................................................. 64
Figura 34 - Técnicas e soluções ................................................................................................ 65
Figura 35 - Casa Kawall ........................................................................................................... 66
Figura 36 - Escritório fazenda capituva .................................................................................... 66
Figura 37 - Identificação das partes ..........................................................................................67
Figura 38 - Esquema de proteção contra a água na parede ...................................................... 68
Figura 39 - Fundação ................................................................................................................ 68
Figura 40 - Construção da parede ............................................................................................ 69
Figura 41 - Movimento do taipal ............................................................................................ 69
Figura 42 - Compactação manual ........................................................................................... 70
Figura 43 - Prensa mecânica ................................................................................................... 70
Figura 44 - Porta com bandeira ............................................................................................... 71
Figura 45 - Camadas do telhado verde .................................................................................... 72
Figura 46 - Sistema de captação das águas da chuva .............................................................. 72
Figura 47 - Imagem do projeto ............................................................................................... 73
Figura 48 - Processo de compostagem .................................................................................... 74
Figura 49 - Horta horizontal .................................................................................................... 75
Figura 50 - Horta vertical ........................................................................................................ 75
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Influências de tecnologias construtivas ................................................................ 37


Quadro 2 - Análise teste do cordão ......................................................................................... 48
Quadro 3 - Análise teste da fita ............................................................................................... 50
Quadro 4 - Técnicas construtivas indicadas através do teste do solo ...................................... 50
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Temperatura média mensal do ar em Arapiraca ...................................................... 54


Tabela 2 - Umidade relativa média mensal do ar de Arapiraca ................................................ 54
Tabela 3 - Pré-dimensionamento ............................................................................................. 58
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CO2 Dióxido de Carbono;


IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada;
IAP Instituto de Aposentadoria e Pensão;
FCP Fundação da Casa Popular;
BNH Banco Nacional de Habitação;
SFH Sistema Financeiro de Habitação;
FGTS Fundo de Garantia de Tempo de Serviço;
ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social;
SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo;
PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida;
FGV Fundação Getúlio Vargas;
PAC Programa de Aceleração do Crescimento.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 15
1.2 Objetivos ............................................................................................................ 16
1.2.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 16
1.2.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 16
1.3 Procedimentos metodológicos .......................................................................... 17
2 HABITAÇÃO POPULAR ............................................................................... 18
2.1 Habitação de interesse social no brasil ........................................................... 18
2.2 Sustentabilidade ambiental na HIS ................................................................ 28
2.2.1 As dimensões da sustentabilidade ...................................................................... 28
2.2.2 Sustentabilidade ambiental ................................................................................. 30
2.2.3 Sustentabilidade em habitações populares ......................................................... 31
3 CONSTRUÇÃO COM TERRA ...................................................................... 34
3.1 Aspectos sustentáveis das técnicas de bioconstrução .................................... 34
3.2 Adobe ................................................................................................................. 38
3.3 Taipa de mão/ Pau-a-pique/ Técnica Mista.................................................... 39
3.4 Superadobe ........................................................................................................ 40
3.5 Hiperadobe ........................................................................................................ 41
3.6 Tijolo de solo-cimento ...................................................................................... 43
3.7 Taipa de pilão .................................................................................................... 43
3.8 A construção com barro e o preconceito ........................................................ 45
3.9 Testes ................................................................................................................. 46
3.9.1 Teste do cordão ................................................................................................... 47
3.9.2 Teste da queda da bola........................................................................................ 48
3.9.3 Teste da fita ........................................................................................................ 49
4 PROPOSTA DE UMA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
BIOSUSTENTÁVEL ........................................................................................ 52
4.1 Dados preliminares ............................................................................................ 52
4.1.1 Localização ......................................................................................................... 52
4.1.2 Análise climática ................................................................................................ 54
4.1.3 Estratégias bioclimáticas recomendadas ............................................................ 55
4.2 Estudo preliminar ............................................................................................. 57
4.2.1 Análise da planta padrão para casas populares PMCMV ................................... 57
4.2.2 Pré-dimensionamento e programa de necessidades............................................ 58
4.2.3 Evoluções ........................................................................................................... 60
4.2.4 Estudo de insolação e ventilação ........................................................................ 61
4.2.5 Orientação do projeto no terreno ........................................................................ 62
4.2.6 Materiais ............................................................................................................. 64
4.3 Materiais e técnicas aplicados ao projeto ....................................................... 65
4.3.1 Taipa de pilão ..................................................................................................... 65
4.3.1.1 Construindo com taipa de pilão ......................................................................... 66
4.3.2 Tijolo de solo cimento ........................................................................................ 70
4.3.3 Porta com bandeira ............................................................................................. 71
4.3.4 Teto verde e aproveitamento de água da chuva .................................................. 71
4.3.5 Placas fotovoltaicas ............................................................................................ 73
4.3.6 Compostagem ..................................................................................................... 73
4.3.7 Horta ................................................................................................................... 74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 76
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 77
15

1 INTRODUÇÃO

A moradia é um dos direitos básicos do cidadão brasileiro, entretanto assim como outros
direitos, por muitas vezes o direito a moradia também lhe é negado. Segundo o IBGE (2010), cerca
de 6 milhões de famílias, que somam 30 milhões de pessoas, não possuem acesso a habitação e,
dessa quantidade, cerca de 101.854 de pessoas vivem em situação de rua (IPEA, 2016). Outro
ponto que tem se tornado ainda mais preocupante na atualidade é a questão ambiental, que tem
gerado consequências diretas para os seres vivos, elevando a temperatura do planeta, provocando
alagamentos, secas e outros desastres naturais. Fazendo-se cada vez mais necessária a discussão
sobre o uso de materiais alternativos para construir.
A construção civil é responsável por uma grande parte da emissão de CO2 (Dióxido de
Carbono), gerando lixo desde a produção dos materiais até o seu descarte. A retirada e queima de
alguns materiais, como tijolos e telhas cerâmicas geram um grande impacto ambiental, o cimento
também é um grande gerador de CO2, durante sua produção, uso e descarte. Levando em
consideração o crescimento da construção civil, se faz necessário a procura por meios de gerar
menos impacto ambiental nesse setor (LIRA et al., 2018).
A preocupação em construir de forma sustentável, ou seja, utilizando métodos e
materiais que demandam menos gasto de energia e que levam o conceito de desenvolvimento
sustentável e ecológico, surgiu da preocupação com a carência dos recursos energéticos e seu
uso exacerbado. A bioconstrução se caracteriza pela aplicação de materiais ecológicos e
tecnologias populares, o que diminui o impacto ambiental e fortalece a ancestralidade das
técnicas construtivas baseadas em materiais sustentáveis.
O objetivo é a utilização de técnicas que gerem o menor impacto ambiental possível e
uma das formas é a utilização de materiais locais, o que contribui para a redução de gastos com
fabricação e transporte. Este conceito se aplica para além da construção, na ocupação se faz
importante a incorporação de ações que minimizem o impacto ambiental como a reciclagem de
materiais e o aproveitamento de resíduos (VIEIRA, 2015), como será possível visualizar no
trabalho, que além da proposta de projeto traz elementos que auxiliam na manutenção da
sustentabilidade na habitação.
16

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Desenvolver uma proposta arquitetônica em nível de estudo preliminar de uma


habitação unifamiliar evolutiva em Arapiraca - AL, utilizando a bioconstrução na habitação de
interesse social, aplicando como sistema construtivo a taipa de pilão.

1.2.2 Objetivos específicos

 Identificar estratégias bioconstrutivas que possam ser implementadas no projeto;


 aplicar estratégias bioclimáticas na concepção projetual;
 promover a discussão sobre a bioconstrução como uma alternativa de solucionar parte
da demanda habitacional de interesse social.
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1.3 Procedimentos metodológicos

Para a estruturação do trabalho, os principais procedimentos metodológicos adotados


para seu desenvolvimento foram: a fundamentação teórica, o estudo sobre as técnicas
construtivas utilizando a terra crua como material construtivo, e o desenvolvimento da proposta
de bioconstrução voltado para a habitação de interesse social.
A fundamentação teórica percorreu os seguintes temas: O histórico da habitação social
no Brasil, tema importante para entender como tem-se lidado com a habitação popular desde o
início da história. E, a sustentabilidade na Arquitetura e Urbanismo, importante para a
compreensão do que tem sido feito e de como aliar ideais sustentáveis e Habitação Popular.
Para uma maior compreensão sobre as técnicas que envolvem a construção utilizando
terra crua como material construtivo, nessa etapa foi realizada uma pesquisa sobre essas
técnicas, suas influências e aplicações, entendendo os preconceitos existentes com esse material
e buscando soluções para que essa visão seja modificada. Sendo realizado também um estudo
sobre os testes que podem ser realizados para apurar a qualidade da terra para a construção.
Levando em consideração toda a pesquisa realizada, foi desenvolvido o projeto
preliminar, percorrendo as seguintes etapas:
1) Uma breve análise climática da cidade de Arapiraca, utilizando o estudo de SILVA,
2017;2019, visando aplicar as melhores soluções para a ventilação, orientação do
projeto e uso de materiais;
2) Seleção do terreno;
3) Análise tipográfica;
4) Elaboração do programa de necessidades;
5) Escolha dos materiais empregados no projeto;
6) E a produção do estudo preliminar contendo: planta de locação e coberta, plantas baixas,
cortes, fachadas, elaboradas no software Autocad, e a maquete eletrônica, que deu
origem as perspectivas, no software SketchUp e a renderização no software V-ray.
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2. HABITAÇÃO POPULAR

2.1 Habitação de interesse social no brasil

Desde o início da história da humanidade, a habitação é de extrema importância para a


sobrevivência e o bem-estar humano, desde a pré-história em que o indivíduo precisava
construir abrigos para sua proteção contra animais, chuvas e outras intempéries, até os dias
atuais com habitações contemporâneas que possuem diversas funções além da moradia. Muitas
foram as evoluções relacionadas as habitações que serviram de abrigo durante toda a história,
porém quando se refere a Habitação de Interesse Social no Brasil, essa evolução é pequena.
Segundo o IBGE (2010), cerca de 6 milhões de famílias, que somam 30 milhões de pessoas,
não possuem acesso a habitação. E dessa quantidade, 101.854 de pessoas vivem em situação de
rua (IPEA, 2016).
A questão habitacional passou a ser pensada como um problema, quando teoricamente
o número de pessoas passou a ser maior que a quantidade de habitações disponíveis para
moradia. Principalmente a partir do momento em que começaram a surgir epidemias,
supostamente causadas pelas grandes aglomerações de pessoas em pequenos espaços, e a
qualidade das habitações em que viviam (BONDUKI, 1998). O que ocorreu no final do século
XIX, impulsionado pela Revolução Industrial e pela expansão da produção de café no Brasil,
habitantes de cidades interioranas e imigrantes, iniciaram um movimento de locomoção para os
centros urbanos, em boa parte dos estados e capitais brasileiras, em busca empregos e melhor
qualidade de vida (RUBIN, 2014; VILLAÇA, 1986). Assim sendo, o processo de urbanização
aumentou, e os centros urbanos não estavam preparados para abrigar um número elevado de
pessoas.
Para Villaça (1986), esses indivíduos que migraram para as capitais em busca de
condições melhores passaram a trabalhar, em sua maioria, em plantações de café e construções
que com o crescimento das cidades aconteciam em grande número, em que precisavam
trabalhar por muitas horas seguidas, em péssimas condições, e recebiam baixos salários
incompatíveis com os serviços prestados, que não eram suficientes para pagar por melhores
moradias. Além de toda a questão da má qualidade de trabalho, enfrentavam um problema de
moradia ainda maior, pois com as cidades em expansão e o grande número de pessoas que
migravam para os centros, as habitações não eram suficientes para abrigar a todos e existiam
em péssimas condições.
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Existiam nas cidades sobrados que eram ocupados pelos senhores no período colonial,
que se localizavam nos centros urbanos. Com o passar do tempo e o abandono e degradação
desses sobrados, eles passaram a ser ocupados por dezenas de famílias, no final do século XIX,
que se distribuíam entre os cômodos, e assim surgiam os cortiços (COSTA, 2016; VILLAÇA,
1986). Visto que os trabalhadores recebiam pouco e o contingente populacional das capitais só
aumentava, a alternativa de moradia para os operários eram os Cortiços, que eram pequenos
quartos com áreas como banheiro e cozinhas compartilhadas, aos quais eram cobrado aluguel,
em situações insalubres. Com o crescimento de moradores em cortiços e a precarização desses
ambientes, epidemias passaram a ser constantes e à se espalhar entre a população (VILLAÇA,
1986). As autoridades logo se preocuparam quando o problema se espalhou e começou a
parecer incontrolável, como dito por Bonduki (1998, p.38): “[...] o medo da classe dirigente de
vir a ser atingida pelas doenças foram as razões que levaram o Estado a intervir no espaço
urbano”.
A primeira providência tomada foi permitir que fiscais visitassem os cortiços,
chegando até a invadir e a agir com violência. A segunda providencia, depois de um tempo, foi
a implantação de um melhor sistema sanitário, o que funcionou mais efetivamente. Lembrando
que o problema das epidemias não era apenas causado pela aglomeração de pessoas num
pequeno ambiente, mas também pela falta de infraestrutura urbana, que não era adequada para
atender as necessidades sanitárias, principalmente falando de um contingente populacional
elevado (BONDUKI, 1998).
“A principal forma de abrigo que a sociedade brasileira vai desenvolver para alojar
essas multidões é o cortiço. O cortiço é uma “solução” de mercado, é uma moradia
alugada, é um produto de iniciativa privada. Em seus diversos tipos, foi a primeira
forma física da habitação oferecida ao “homem livre” brasileiro da mesma maneira
que o aluguel foi a primeira forma econômica.” (VILLAÇA, 1986, p.14)
Ligada a essa questão, está a então recente abolição da escravatura, que ocorreu em
1888, e para Costa (2016), foi uma abolição inacabada, pois houve a “libertação”, mas não
houve a preocupação de como essas pessoas iriam viver, onde iriam morar e o que iriam comer
após a suposta liberdade. O que aconteceu naquela época, é o que acontece até os dias atuais, a
exclusão do povo preto e da classe trabalhadora para as margens da cidade, e uma parte que
ficou nos centros das cidades, ambos morando em situações precárias. Por não possuírem
experiência, e sem nenhum tipo de renda anterior, precisavam aceitar trabalhar para receber
pouco em troca, o que lhes davam a alternativa de morar em cortiços que existiam nos centros
das cidades ou nas periferias. Parte desses cortiços, eram construídos com materiais
improvisados, como: madeiras, chapas de zinco e outros materiais que não garantiam segurança
sanitária para os indivíduos (BONDUKI, 1998).
20

Com isso, a melhor solução que o Estado encontrou, foi afastar os cortiços das áreas
centrais da cidade onde haviam ocorrido os surtos de epidemias, sob a justificativa de prevenir
novos surtos. Haviam exigências sanitárias rigorosas para que alguns cortiços, que não estavam
totalmente condenados continuassem ocupando os locais de origem, como as adequações que
Estado impunha através de leis. Inúmeros cortiços foram demolidos, mas como a quantidade
de pessoas vivendo nessas condições era grande, o poder público teve que deixar que alguns
permanecessem, ou boa parte dos trabalhadores ficariam sem abrigo (BONDUKI, 1998). Essa
situação de despejo e abandono aconteceu em vários locais do país, visto que as leis nacionais
eram as mesmas para toda parte do Brasil. Para Bonduki (1998, p.41): “É evidente a intenção
de eliminar os cortiços da área e, com isso, acelerar o processo de segregação por meio da
intervenção pública”, fica visível a política higienista que se instaurou nesse momento histórico
do Brasil.
“O problema da habitação popular no final do século XIX e concomitantemente aos
primeiros indícios de segregação espacial. Se a expansão da cidade e a concentração
de trabalhadores ocasionou inúmeros problemas, a segregação social do espaço
impedia que os diferentes estratos sociais sofressem da mesma maneira os efeitos da
crise urbana, garantindo à elite áreas de uso exclusivo, livres da deterioração, além de
uma apropriação diferenciada dos investimentos públicos.” (BONDUKI, 1998, p.28).
A parte dos trabalhadores que foram despejados dos cortiços que foram demolidos,
migraram para as periferias desses centros urbanos, iniciando-se uma segregação sócio-espacial
dessa população para as periferias, que não possuíam infraestrutura adequada, nem acesso a
serviços básicos, o que auxiliou no aumento da marginalização dessa população. Ao mesmo
tempo, nas áreas nobres da cidade se promovia a higienização, onde o maior foco era a retirada
dos cortiços que existiam próximos, sob a desculpa dessas habitações serem potenciais
transmissores de doenças para a sociedade como um todo. Houve então o embelezamento
através de grandes obras, abertura de grandes vias e áreas verdes. A preocupação era o
embelezamento das cidades, e a desculpa para afastar as camadas pobres da cidade era a
higienização por conta das epidemias (BONDUKI, 1998).
“Num período em que a questão social era tratada como caso de polícia, o problema
sanitário foi enfrentado pelo autoritarismo sanitário basicamente como uma questão
de higiene, na perspectiva de difundir padrões de comportamento, de asseio e de
hábitos cotidianos. A ação mais importante foi a extensão das redes de água, embora
a insuficiência da adução tenha gerado escassez. Por outro lado, os incentivos para a
construção de vilas operárias beneficiaram mais os investidores do que os
trabalhadores.” (BONDUKI, 1998, p.51).
Com a grande demanda de habitações para a classe operária e o problema com a
salubridade dos cortiços, o poder público precisou tomar decisões sobre como seria resolvido
esse problema, chegou-se à conclusão de que habitações precisavam ser construídas, pois não
havia como eliminar os cortiços e não oferecer um substituto para se habitar. Então foi dado o
21

poder para que a iniciativa privada construísse essas habitações, através de financiamento de
bancos, para os proprietários das habitações que seriam construídas para moradia de operários
através da cobrança de aluguel. Haviam incentivos, como fala Bonduki (1998, p.49): “Em São
Paulo, a lei 493/1900 previa a isenção dos impostos municipais para as vilas operárias
construídas conforme o padrão da prefeitura e fora do perímetro central, incentivo reforçado,
em 1908, pela lei 1098”. Já podia-se notar o interesse em afastar a classe trabalhadora dos
centros urbanos das cidades.
Segundo Villaça (1986) os donos das vilas, que eram oferecidas como assentamentos
para os operários, utilizavam do poder que exerciam sobre a moradia dos trabalhadores para
controlar sua força de trabalho, impondo um estilo de vida rígido, chegando a ser comparadas
com penitenciárias, em que presidiários em regime semiaberto saem para trabalhar durante o
dia e retornam à noite para dormir. Era um bom investimento manter os operários próximos das
indústrias, o que refletia diretamente na produtividade, com o mínimo de infraestrutura e tendo
esse controle sobre seus cotidianos e suas vidas. E ainda cobrar um valor pela moradia, o que a
maioria dos donos de fábricas faziam.
Em Alagoas, a indústria de algodão fez com que grandes fábricas têxtis surgissem no
estado no final do século XIX, e com isso houve o surgimento de vilas operárias. A primeira
fábrica a possuir uma vila operária foi a fábrica Carmen, localizada no Bairro Fernão Velho em
Maceió, em que viviam dezenas de operários e suas famílias. Segundo as pesquisas de Farias
(2012) “Em Fernão Velho, a moradia era constituída em conexão com a vida dentro e fora da
indústria e ambos eram regidos pelo apito da fábrica.” Ou seja, todas as ordens vinham dos
patrões como forma de controlar não só a força de trabalho dos operários, mas também suas
vidas, seu cotidiano e todos os aspectos, para deixar claro quem mandava nas vilas e nas casas
dos operários.
As vilas operárias foram criadas para serem exemplos de casas salubres, possuíam a
configuração de uma casa unifamiliar, que podiam abrigar os operários e suas famílias,
lembrando que essas habitações eram passíveis a aluguel (BONDUKI, 1998). Essas vilas
operárias eram constituídas por residências modestas, geralmente de tipologia repetida, e dentro
de algumas dessas vilas existiam escolas, mercados, farmácias, eram quase cidadelas, já que
boa parte delas eram construídas distantes do perímetro urbano. Algumas vilas eram chamadas
de povoados quando se localizavam em áreas mais próximas do meio rural. Com o passar do
tempo e as vilas sendo consideradas como locais salubres e seguros para morar, elas deixaram
de ser apenas moradias para operários e passaram a ser moradias que pessoas com rendas mais
22

baixas poderiam pagar para viver nessas habitações também, ou seja, se tornou um mercado,
além do que já era, mas agora expandido para uma população quase que específica, a classe
média baixa de forma mais geral (CORREIA, 2001).

A maior parte das habitações existentes, até 1930, eram moradias de aluguel. Não
haviam muitas possibilidades, visto que não existiam modelos de financiamento para a casa
própria. Assim, segundo Bonduki (1998, p.51), as casas de aluguel eram “[...] produzidas por
uma gama variada de investidores privados com o objetivo de obter uma boa rentabilidade”,
era seguro e lucrativo, para os proprietários, investir na produção de casas para aluguel.
Lembrando que essas habitações, em sua maioria, eram cortiços corredor e casa, vilas e casas
geminadas. Como esse setor era regulado pelo mercado e não pelo Estado, com a instalação do
higienismo nesse período o setor público passou a incentivar de forma fiscal e a oferecer
vantagens para habitações julgadas salubres. A exploração através de locações habitacionais foi
um crescente em busca da rentabilidade nesse período, pelos investidores que eram capazes de
aplicar nessa área e por não ter controles estatais nos valores dos alugueis (BONDUKI, 1998).
O Aluguel por muito tempo foi a única forma de poder morar numa casa.

“Nas primeiras décadas do século XX, as “vilas operárias” surgiam como modelo
privilegiado de reforma da habitação do pobre urbano, a qual era apontada como um
dos problemas centrais da cidade. As “vilas operárias” definiam-se como um padrão
de moradia popular oposto à favela, ao mocambo e ao cortiço, supondo ordem, higiene
e decência. O termo sugeria casas salubres e dotadas de ordem espacial interna, que
se distinguia da falta de higiene, de espaço e de conforto atribuída às casas dos pobres
urbanos.” (CORREIA, 2001, p.2)

Com a chegada de Vargas ao poder em 1930 e a preocupação com a economia geral


do país, a habitação também passou a ser uma questão importante a ser discutida pelo Estado.
E foi discutida por anos de forma multidisciplinar, por diversos especialistas e a classe abastada,
como exposto por Bonduki (1998). Até então a produção de moradia popular era produzida
pelo setor privado rentista, e com a crescente demanda por habitação era notável que o setor
privado não seria capaz de suprir toda a necessidade habitacional existente, era necessária então
a intervenção do Estado nesse âmbito. O que mais tarde levou ao congelamento dos alugueis, a
lei do inquilinato.

“Segundo opinião generalizada, a iniciativa privada era incapaz de enfrentar o


problema, tornando inevitável a intervenção do Estado. Deste modo marginalizava-se
o setor rentista que desde o início da república, desfrutara de regalias fiscais e da
ausência de regulamentação em suas relações com os inquilinos.” (BONDUKI. 1998,
p. 86).

A década de 1940 foi significativa em se tratando da ação do Estado no âmbito


habitacional. A lei do inquilinato e o congelamento dos aluguéis, os Institutos de Aposentadoria
23

e Pensão, em que foram construídas habitações em larga escala por todo país, em maioria para
a classe média, o que intensificou as alternativas de habitações informais, precárias e ilegais,
devido à grande demanda. As IAPs atendiam apenas aos trabalhadores assalariados, os
trabalhadores informais continuavam morando de forma precária, a demanda habitacional só
crescia e a produção de moradias de aluguel pelo setor privado continuava sendo a maior fonte
de habitações para a população. Era sabido que o setor privado não seria capaz de suprir a
demanda habitacional existente, seria necessário a intervenção do Estado. Foi criado em 1946
o FCP – Fundação da Casa Popular, um órgão Federal que foi pioneiro em financiar produções
habitacionais e de infraestrutura urbana, em uma década foram produzidas cerca de 16.000
unidades, entretanto por atender a setores médios subsidiados, em sua maioria, não conseguiu
dar continuidade. Para intervir no mercado de casas de aluguel, o Estado criou a Lei do
inquilinato, que restringia a livre negociação dos alugueis (BONDUKI, 1998).

“O preço do aluguel podia ser fixado livremente e o locatário tinha de se sujeitar às


condições acordadas, entre os quais o prazo determinado da locação, findo qual o
imóvel devia ser desocupado. [...] Predominava, portanto, os princípios individualistas
e o “sentido absoluto da propriedade.” (BONDUKI, p. 219, 1998)

A Lei do Inquilinato surgiu para regular os abusos que ocorriam na cobrança de


alugueis, despejos e as condições precárias de algumas dessas habitações. A lei previa que não
poderia haver aumento de aluguel durante dois anos, entretanto, com o aviso antecipado de 3
meses, os locadores poderiam despejar os moradores e assim alugar para outros com o valor
que desejasse. Com as atualizações da Lei de 1942 até 1963, diversos direitos foram incluídos,
tanto para os locatários quanto para os inquilinos, mas principalmente para os proprietários, em
alguns anos já era permitido aumentar o aluguel, cobrar taxas de serviços municipais e
condominiais. Além das condições de moradia, existia uma crise habitacional crescente e a
Segunda guerra Mundial, que gerou condições adversas no país (BONDUKI, 1998).

Enquanto isso, o Estado procurava incentivar os operários de que era melhor viver em
condições precárias nas periferias da cidade, em casas construídas com suas próprias mãos do
que nos centros das cidades em condições insalubres. Entretanto, para que os trabalhadores
pudessem ir para as periferias seria necessário oferecer, no mínimo, transporte público de
qualidade para a locomoção das pessoas para seus trabalhos, que se localizavam por muitas
vezes no centro, deixando de lado outras questões como acesso a água, energia, saneamento e
outros direitos. “Tratava-se, portanto, de convencê-lo das vantagens da periferia, o que não era
tarefa de pouca monta: não se altera de uma hora pra outra um modo de vida e de morar já
consolidado.” (BONDUKI, 1998, p.100). O trabalhador tinha que escolher entre morar perto
24

do trabalho, onde já havia uma certa infraestrutura, ou morar nas margens da cidade longe do
trabalho e sem os direitos básicos como segurança, transporte, água, energia entre outros.

Arquitetos e engenheiros estudavam uma forma de baratear o custo de habitações


unifamiliares, e foi entendido que padronizar materiais e construir de forma padronizada e
repetitiva fazia com que a construção fosse mais barata. Desde a década de 1930 surgiram os
IAPs, que eram os Institutos de Aposentadoria e Pensão, criados pelo governo Vargas como um
sistema previdenciário público. Os IAPs eram divididos por categorias de trabalho, como dos
industriários, bancários, comerciários e outros. Em 1937, se iniciaram os financiamentos para
habitações, utilizando os fundos dos IAPs. Era evidente a preocupação com a rentabilidade das
reservas dos IAPs, e também existia a preocupação em amplificar o atendimento social de
habitação (BONDUKI, 1998). Existiam três planos para atender a questão habitacional, eram
eles:

“1) Plano A: locação ou venda de unidades habitacionais em conjuntos residenciais


adquiridos ou construídos pelos institutos, com o objetivo de proporcionar aos
associados moradia digna, sem prejuízo da remuneração mínima do capital investido.
2) Plano B: financiamento aos associados para aquisição da moradia ou construção
em terreno próprio.
3) Plano C: empréstimos hipotecários feitos a qualquer pessoa física ou jurídica, bem
como outras operações imobiliárias que o instituto julgasse convenientes, no sentido
de obter uma constante e mais elevada remuneração de suas reservas (BONDUKI,
1998, p.112).

Durante o funcionamento dos IAPs foram construídas milhares de casas e conjuntos


habitacionais por todo país. No intervalo em que ocorria a ditadura Vargas, de 1930 à 1945, o
enfoque era muito maior no Plano C, que oferecia maior rentabilidade para as reservas
previdenciárias das IAPs, depois desse período, com a redemocratização, o enfoque foi maior
nos Planos A e B, em que eram cobrados alugueis dos associados e a preocupação girava em
torno da habitação, embora não tenha resolvido o problema habitacional existente. Com o golpe
de 1964, os IAPs que eram divididos por categorias trabalhistas, se agrupam no INPS (Instituto
Nacional de Previdência Social), e a produção habitacional fica a cargo do Banco Nacional de
Habitação, o BNH (BONDUKI, 1998).
A crise habitacional não poderia ser solucionada pelo setor privado, isso era sabido.
Nem todos foram beneficiados com os programas criados pelo governo, visto que quem podia
acessar essas habitações eram os trabalhadores que possuíam trabalho regular assalariado, como
nos Institutos de Aposentadoria e Pensão. A partir desse ponto, da existência dos IAPs, que
foram desfeitos em 1964, e da tentativa de regularização dos alugueis através da Lei do
25

Inquilinato, foi crescente o índice de habitações irregulares, autoconstruções nas periferias. E


em 1964, com a ditadura militar surge o BNH – Branco Nacional de Habitação (BONDUKI,
1998).
Em 1964, com a ditadura militar, surgiu o Plano Nacional de Habitação e o Banco
Nacional de Habitação, que tinham como objetivo fundamental financiar habitações
principalmente para as classes menos favorecidas. Segundo a Lei nº 4 380/64 de 21 de agosto
de 1964, o BNH tinha a missão de: “estimular a construção de habitações de interesse social e
o financiamento da aquisição da casa própria, especialmente pelas classes da população de
menor renda”. A principal motivação era de ordem política, o plano era conquistar a simpatia
das massas, que consequentemente era a população menos favorecida e mais volumosa,
tentando conquistar o apoio popular para o governo. O novo programa gerou efeitos positivos
para a economia, como contração de pessoal não especializado para as construções, na indústria
de materiais de construção e em empresas de construção civil, além de outros setores
(AZEVEDO, 1988).
Era utilizado para o financiamento de habitações, através do SFH – Sistema Financeiro
da Habitação, a poupança obrigatória, o FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, que
é utilizado até os dias atuais e é um direito do trabalhador, e as cadernetas de poupança que
eram pagas de forma voluntária. As faixas de rendimento familiar eram divididas da seguinte
forma: A Faixa 1, que atendia o mercado popular, também chamada de baixa renda, que
abarcava as famílias que possuíam renda mensal de até três salários mínimos e tinha como
agente o Estado e o Município, conhecidos como companhias habitacionais (Cohab). A Faixa
2, que atendia o mercado econômico, também conhecido como classe média baixa, que
abarcava as famílias que possuíam renda mensal entre três e seis salários mínimos, e tinham
como agentes os institutos de previdência social, cooperativas habitacionais, caixas hipotecárias
e outros. E a Faixa 3, que atendia o mercado médio, também chamado de classe média alta, que
abarcava famílias com a renda mensal mínima de seis salários mínimos, e tinham como agentes
o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que entre outras instituições, era
composto pelas Caixas Econômicas (AZEVEDO; ANDRADE, 1982).
O BNH não conseguiu atingir de forma satisfatória, o setor que lhe era dado como
prioridade, o mercado popular. Os motivos para esse problema eram atribuídos ao próprio
sistema político vigente, o regime militar, que por anos prejudicou os setores de baixa renda
com a diminuição de salários, sob o pressuposto de resolver problemas econômicos daquela
época. Assim as Cohabs foram diretamente afetadas, pela falta de pagamento do seguimento de
26

baixa renda, e entraram em crise financeira logo nos primeiros anos de atuação do banco, entre
1964 e 1969. Nos próximos anos a solução adotada para “resolver” essa questão foi reduzir os
investimentos para a renda baixa e investir na classe média e alta. Entretanto, em 1975 com a
entrada de um governo que buscava apoio popular, o problema da crise das Cohabs começou a
se resolver. Então pode-se notar como o investimento em habitações populares estava
intrinsecamente ligado ao quanto o governo buscava apoio popular (AZEVEDO, 1988).

“Nessa conjuntura de crise habitacional geral e da opção das Cohab por setores de
maior renda, outras vantagens oferecidas na época pelo governo tornaram as casas
populares ainda mais atrativas. A primeira facilidade diz respeito à ampliação do
prazo de ressarcimento do financiamento (de 20 para 25 anos) e a segunda se refere à
diminuição dos juros para o setor popular, ambas objetivando a redução do valor real
das mensalidades” (AZEVEDO, 1988, p. 114).

Com o interesse da classe média nas habitações das Cohabs, o público atendido passou
de baixa renda, que possuíam renda abaixo de três salários mínimos, para a classe média que
possuíam renda acima dos três salários, o que fugia a regra imposta pelo BNH no seu
surgimento, essa parcela da população significava aproximadamente 1/3 dos clientes das
Cohabs. Na crise que ocorreu por volta do início da década de 1980, todas as faixas foram
atingidas, porém a que menos sofreu o impacto foi a das Cohabs, já que eram ocupadas por uma
grande parcela de clientes que possuíam uma renda maior que a estipulada no início do Banco.
Com uma flexibilização no BNH após mobilizações e pressões públicas, as prestações das casas
populares baixaram consideravelmente, o que foi bom para os clientes e um desastre financeiro
para o Banco. No entanto, a faixa que o Banco prioritariamente pretendia atingir, a de renda
familiar abaixo de três salários, que depois foi expandido para cinco salários, teve apenas 35%
das unidades habitacionais financiadas pelo BNH (AZEVEDO; ANDRADE, 1982).
Em 1988, com a redemocratização e a criação da Constituição Federal, o acesso a
moradia se torna um direito do cidadão, o que não explica até os dias atuais existirem 101.854
pessoas em situação de rua no Brasil (IPEA, 2016), um número que não para de crescer. Entre
o fim do BNH e o Programa Minha Casa Minha Vida foram 23 anos, dois grandes programas
e um grande período de tempo entre eles, em que aconteceram muitas movimentações
importantes para a habitação social no Brasil. Boa parte das movimentações partiram dos
próprios Estados e Municípios, como regularizações de ZEIS (Zonas Especiais de Interesse
Social), programas de revitalização de favelas e programas de mutirões autogeridos, que
rompiam a velha forma de planejar habitações levando a participação direta da comunidade.
Em 2002, foi criado o Ministério das Cidades, extinto no ano de 2019 e com funções
direcionadas para o Ministério de Desenvolvimento Regional. Em 2008 foi elaborado o
27

PlanHab (Plano Nacional de Habitação Social), que tinha como objetivo facilitar o acesso a
moradia digna para o cidadão brasileiro, em 2009 foi criado o Programa Minha Casa Minha
Vida, que faz parte do PlanHab, junto a outros programas como o PAC Urbanização de favelas.
Em 2009 surge o Programa Minha Casa Minha Vida, com uma estrutura semelhante
ao BNH, se não pelo fato de ser realizado num Estado democrático, e o programa tendo como
principal objetivo atender as necessidades habitacionais da população de baixa renda. Assim
como no BNH o programa foi dividido em três faixas, a Faixa 1: que atendem as famílias de
renda mensal de zero a três salários mínimos, as unidades são produzidas por demanda, onde
terreno e as planta das habitações são escolhidos e produzidas pela construtora e,
posteriormente, as unidades são vendidas para a Caixa Econômica Federal e então, através de
listas produzidas pelo município com cadastros das famílias que possuem renda de 0 a 3 salários
mínimos, é feita a distribuição. É financiado pela FAR (Fundo de Arrecadamento Residencial),
criado para atender ao PMCMV. As Faixas 2 e 3: atendem as famílias que possuem de 3 a 6
salários mínimos e de 6 a 10 salários mínimos, respectivamente, ambas são financiadas pelo
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Os projetos de habitações são apresentados
a CEF, que faz a avaliação e autoriza ou não o lançamento e comercialização do
empreendimento. Ainda é possível que compradores avulsos, com a aprovação da CEF,
busquem moradias no mercado dentro da sua faixa. (CARDOSO; LAGO, 2013)
Segundo o Relatório de avaliação do PMCMV de 2020, o Programa entregou até
setembro de 2020 cerca de 5,1 milhões, das mais de 6,1 milhões de unidades habitacionais
contratadas. Como um dos maiores objetivos do programa é a diminuição do déficit
habitacional, a prioridade era beneficiar as famílias encaixadas na Faixa 1 do programa, que
possuíam renda mensal de até 1,800 reais. Das 6,1 milhões de unidades contratadas, 26% foram
destinadas para a região nordeste, cerca de 1,5 milhões de unidades, visto que ela possuía o
segundo maior índice de déficit habitacional, atrás apenas da região sudeste com 44%
(MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2020).
Em 2020 o Governo lançou um novo Programa habitacional, o Casa Verde e Amarela,
que pouco se difere de seu antecessor o PMCMV. Houveram mudanças com relação as taxas
pagas em cada região, sul, sudeste e centro-oeste as taxas foram mantidas como as do programa
anterior, e as taxas do norte e nordeste foram reduzidas. Outra mudança foi a retirada da faixa
1 do programa, o que pode impactar na maioria das famílias que antes poderiam ser beneficiadas
por essa faixa, que abarcava a maior parte das habitações, visto que era ocupada pela população
mais carente. Outra grande mudança foi a inclusão da regularização fundiária e melhorias
28

habitacionais, que se bem executadas podem ajudar a resolver o problema de insalubridade de


inúmeras habitações por todo o país.

Dois dos grandes problemas habitacionais são o déficit habitacional e a inadequação


habitacional, o primeiro trata-se da falta de habitações e o segundo das inadequações em
habitações já existentes. O déficit habitacional é calculado através de algumas variáveis, são
elas: Habitação precária, em que estão inseridos domicílios rústicos e domicílios improvisados;
a Coabitação, que inclui a unidade doméstica convivente déficit e o domicílio cômodo, e por
fim o ônus excessivo com aluguel. Todas essas são variáveis analisadas para se obter o
percentual do déficit do Brasil. Em 2019, segundo a FJP o déficit habitacional foi de 5.876.699
domicílios, sendo 1.778 milhões do Nordeste (FJP, 2021).
Já no cálculo de inadequação habitacional consta as habitações que não foram
incluídas no déficit habitacional por sua estrutura física. A inadequação é calculada através das
variáveis: carência de infraestrutura urbana, carências edílicas e inadequação fundiária. Muitos
desses quesitos dizem respeito a questões de saúde, o acesso a água, energia, esgoto, lixo e a
infraestrutura da própria habitação, por exemplo. Segundo a FJP a quantidade de habitações em
inadequação foi de 24.893.961, sendo 8.861.043 da região nordeste. (FJP, 2021).
A problema habitacional foi utilizado, por muitas vezes, com o objetivo primordial de
obter lucro, enquanto o problema crescia e cresce de maneira quase descontrolada. A construção
civil é uma grande ferramenta de movimentação de capital, o intuito de construir habitações
para a população de menor renda, e por tanto a maior população que demanda de habitações, é
um prato cheio para uma grande movimentação na construção civil do país (MARICATO,
1987). Entretanto, com o passar do tempo, esse foco foi redirecionado em boa parte para as
classes com maior poder aquisitivo, o que colocou de lado a ideia de construções de habitações
populares, que afetou e afeta, diretamente no déficit habitacional hoje existente, tanto no
período do BNH, quanto no período do PMCMV.

2.2 Sustentabilidade ambiental na HIS

2.2.1 As dimensões da sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável inclui diversas dimensões que se complementam entre


si, e o ser humano está posto nesse meio. A dimensão ecológica visa, prioritariamente, o
equilíbrio ambiental, a conservação ambiental e a integridade climática, levando em
29

consideração que quanto menos interferência do ser humano na natureza, maior é a condição
de um meio mais sustentável. Esta limitação da intervenção do ser humano na natureza se dá
basicamente em respeitar seus ciclos e procurar formas de utilizar as energias renováveis para
satisfazer suas necessidades (VIEIRA, 2009).
A dimensão econômica foi a primeira a ser observada, entretanto sem levar o foco
sobre a sustentabilidade, mas sim visando o lucro. Esta é uma dimensão complexa visto que se
faz necessário unir o desenvolvimento econômico e a preservação da natureza. É sabido que
um dos grandes causadores do colapso ambiental que se tem enfrentado nas últimas décadas,
gira em torno do capitalismo e da ideia de um crescimento ilimitado, em busca de lucro e
crescimento econômico (VIEIRA, 2009).
Outra das dimensões é a social, propõe que todas as pessoas tenham condições de
acesso iguais, a serviços e a uma qualidade de vida adequada, mas para isso muitos são os
obstáculos considerando que é crescente o índice de pobreza. Segundo a FGV (2021) a
porcentagem de pobreza no primeiro trimestre do ano de 2021 gira em torno de 16,1%, que
corresponde a 34,3 milhões de pessoas. Não há garantias e nem políticas públicas eficazes que
garantam a essas pessoas seus direitos básicos, como alimentação, saúde e moradia. A dimensão
social abrange para além de acesso a natureza e sua degradação, essa parcela da população não
possui “permissão” para interagir ou usufruir de qualquer fração dessa natureza (VIEIRA,
2009).
Na dimensão espacial ou territorial, é pensado na superlotação ocorrida nos centros
urbanos durante a revolução industrial, e é colocado como estratégia a descentralização da
moradia na cidade grande, levando em consideração a possibilidade da interligação de cidades
intermediárias com uma menor densidade urbana. Dessa forma, seria possível uma maior
agilidade na questão urbana e sustentável, visto que não haveria uma superlotação em um só
núcleo, mas essa população teria a liberdade de usufruir da cidade em uma escala humana, com
qualidade de vida e a possibilidade de um meio mais sustentável (VIEIRA, 2009).
Outra dimensão é a política, a democracia e a participação popular nas decisões
tomadas é o ideal partindo dessa visão, a descentralização do poder no domínio de poucos e nas
mãos da sociedade como um todo seria um cenário mais favorável, mas o capitalismo visa o
poder na mão de poucos e a participação popular é mínima. O modelo de desenvolvimento
sustentável é fundamentado na união e participação de distintos setores da sociedade, como o
setor público, privado, voluntário e comunitário, podendo chegar a soluções que abarquem a
maior quantidade de indivíduos possíveis. Se faz necessário políticas públicas que estimulem e
30

desenvolvam a consciência ecológica e que encaminhem a sociedade para um caminho mais


sustentável (VIEIRA, 2009).
Dentre as dimensões tem-se também a cultural, que possui como objetivo a difusão e
a preservação da história e tradições, e o planejamento de meios para que todos tenham acesso
à informação. Isso se dá através de um processo educacional, buscando a colaboração por meio
da valorização das culturas, o ambiente, o interesse social, a política e a democracia. A
dimensão psicológica é subjetiva, visto que gira em torno das experiencias, emoções e
expectativas vividas por cada indivíduo. Embora esse processo seja bastante individual, entra-
se num consenso quando pensado no bem-estar, que abrange outras dimensões e são parte do
desenvolvimento sustentável. As dimensões sustentáveis giram em torno basicamente da
participação de diversas áreas da sociedade, buscando o bem estar social. Entretanto no modelo
capitalista atual, o lucro se faz mais importante que solucionar problemas amplamente
difundidos na sociedade, e sem diálogo e participação a mudança se torna cada vez mais distante
(VIEIRA, 2009).

2.2.2 Sustentabilidade ambiental

Antes da década de 1960 os recursos naturais eram consumidos como se não fossem
finitos, sobretudo nos países mais ricos, isso gerou um grande impacto ambiental, e
questionamentos sobre os padrões de consumo. Na próxima década, 1970, o assunto começou
a ter mais foco, tendo em vista o agravamento dos problemas ambientais, e a sustentabilidade
começou a ser discutida de forma mais direta, na relação entre o crescimento econômico e o
meio ambiente, fatores que estão intimamente ligados, visto que quanto mais rico o país e seu
nível de produção, mais recursos naturais ele consome (GASPARETTO; LYRA, 2018).
Em 1987, foi publicado o relatório de Brundtland, chamado de nosso futuro comum,
em que desenvolvimento sustentável é definido como um desenvolvimento que: “satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem
suas próprias necessidades” (WCED, 1987). Algumas estratégias foram criadas a partir desse
relatório para promover um equilíbrio entre a demanda e o consumo dos recursos naturais, entre
elas a diminuição do consumo de energia, e o desenvolvimento de tecnologias com uso de
fontes energéticas renováveis e a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas
(GASPARETTO; LYRA, 2018).
31

Entretanto, o problema se mantinha visto que os principais fatores, o padrão de


produção e os padrões de consumo e estilo de vida, não caminhavam junto a proteção ambiental.
Tornando a ideia de possibilitar as gerações futuras que usufruíssem dos recursos conforme
suas necessidades, quase uma utopia. Já nas décadas de 1990 e 2000, surgiram variadas
discursões por parte da ONU (Organização das Nações Unidas), para discutir as questões
ambientais e sociais do planeta, porém para Gasparetto e Lyra (2018):

“[...] essas expectativas também parecem ter se distanciado de um ideal alentador: a


devastação ambiental continua e os bolsões de pobreza mundiais pouco se
diminuíram, sugerindo que os processos decisórios e os modelos econômicos de
desenvolvimento se sobrepõem às dimensões ambientais e sociais.” (GASPARETTO;
LYRA, 2018, p.221).

Atualmente o problema ambiental e social continuam a crescer de forma desenfreada,


dado que os padrões de consumo pouco mudaram e até se intensificaram. É visível o impacto
dessas ações no planeta através de fenômenos da natureza, como enchentes, queimadas,
mudanças climáticas significativas e tantos outros fenômenos. Para que uma mudança
sustentável possa acontecer efetivamente, é necessário a consciência e empenho de cada
indivíduo para que as gerações futuras ainda possam usufruir dos recursos naturais do planeta.

2.2.3 Sustentabilidade em habitações populares

Com o aumento do déficit habitacional, o surgimento de conjuntos habitacionais


também foi crescente, sobretudo durante o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
financiado pela CAIXA. Uma das características que mais chamam atenção na implantação
desses conjuntos, principalmente da faixa 1, é sua locação que geralmente fica nos limites da
cidade, longe da infraestrutura necessária para uma qualidade de vida adequada. Muitas vezes
sem acesso a transporte de qualidade, saneamento ambiental e equipamentos urbanos, os
moradores se veem deslocados da sociedade (SILVA, 2015).
Pode-se observar em grandes programas habitacionais como o BNH e o PMCMV, que
ambos possuem a característica de segregar espacialmente conjuntos habitacionais da Faixa 1,
ou seja, quanto menor o poder aquisitivo menos acesso a cidade, áreas com infraestruturas
consolidadas são mais valorizadas e possuem um custo mais alto, diferente das áreas localizadas
nas margens da cidade. Esse distanciamento da cidade carrega em si grandes problemas, como
a precariedade de transporte coletivo, a falta de saneamento ambiental e o acesso insuficiente a
equipamentos públicos básicos, como os de saúde, educação e lazer, uma vez que estão
afastados dos grandes centros (SILVA, 2015).
32

Há uma padronização de projetos arquitetônicos e materiais construtivos para a


construção de conjuntos habitacionais do PMCMV, que são replicadas no país inteiro, deixando
de levar em consideração as particularidades de cada região. Essa padronização reduz o custo
de produção e permite maior lucro para investidores e construtores, entretanto, prejudica a
qualidade de vida dos moradores, visto que as condições climáticas, orientação solar, sentido
da ventilação e tantos outros aspectos que determinam o conforto ambiental do local são
variáveis e devem ser analisadas de forma independente. As particularidades de cada região
devem ser levadas em consideração no momento da elaboração do projeto dos conjuntos, só
assim pode ser garantido um maior conforto térmico, acústico e luminoso nas habitações
(POSSANI, 2015).
Em 2009, foi criado pela CAIXA o Selo casa azul, esse foi o primeiro sistema de
classificação do índice de sustentabilidade de projetos habitacionais. Em 2020, houve
atualizações para se adequar as normas, inovações no campo da construção civil e critérios que
incentivam a construção de habitações mais sustentáveis. O principal objetivo do Selo é
incentivar o uso de soluções sustentáveis, trazendo diversos benefícios para os empreendedores
e moradores, em diversas reduções de custos, desde a construção da habitação até o morar,
como por exemplo redução no custo de água, energia e outras despesas mensais. (CAIXA,
2020).
O Selo é destinado a construtoras, poder público local, empresas públicas de
habitações, cooperativas e ONG’s, podendo ser aplicado a projetos habitacionais financiados
pela CAIXA. Para atender aos requisitos de participação é necessário atender a Norma de
Desempenho NBR 15.575:2013, que possui os parâmetros para o desempenho de edificações
habitacionais, nos casos de sistemas inovadores também precisa atender as diretrizes da SINAT,
a política Socioambiental FGTS em alguns casos e ao código de Práticas da CAIXA. Atendendo
aos requisitos, os documentos são encaminhados para análise e aprovação, no caso de
aprovação é informado o nível de classificação alcançado na proposta. A execução é
acompanhada através de vistorias, e em caso de modificações durante a obra será necessária a
autorização da CAIXA (CAIXA, 2020).
A classificação possui 4 níveis de gradação, Bronze, Prata, Ouro e Diamante. Para
conseguir a classificação é necessário que a proposta atenda a 6 categorias de avaliação, são
elas: Qualidade Urbana e Bem estar, que diz respeito ao entorno imediato das habitações,
Eficiência Energética e Conforto Ambiental, Gestão Eficiente da Água, Produção Sustentável,
Desenvolvimento Social e Inovação. Todas essas categorias possuem critérios e geram
33

pontuações que variam de 10 a 100 pontos, para os 3 primeiros níveis de gradação é necessário
atender no mínimo a 15 critérios obrigatórios e para o Selo Diamante existem 7 critérios
obrigatórios adicionais. O atendimento desses critérios é muito importante para fornecer não só
uma habitação sustentável, como também um entorno compatível com a realidade proposta
(CAIXA, 2020).
34

3 CONSTRUÇÃO COM TERRA

3.1 Aspectos sustentáveis das técnicas de bioconstrução

A terra é um dos materiais construtivos mais abundantes do planeta, podendo ser


encontrada em todos os lugares do mundo, e é sustentável, visto que quando utilizada para
construção ela pode ser retirada das proximidades da obra, o que dispensa o uso de transporte
de material, uma etapa que tende a gastar bastante energia e combustível. No Brasil foi
amplamente utilizada no período colonial, para diversas construções, porém com o passar do
tempo e a chegada de novas tecnologias construtivas, as construções com barro passaram a ser
substituídas pelas mais tecnológicas. Com a crise ambiental que vem sendo agravada há
décadas, o uso de técnicas alternativas e de baixo impacto ambiental se fazem necessárias.
Técnicas vernaculares de construção aliadas a inovação tecnológica podem mudar o cenário
atual da construção civil, que produz uma grande quantidade de lixo (HOFFMANN at al. 2011).
Comparado a outras técnicas convencionais a Taipa de pilão, e outras técnicas com
terra comprimida, geram menos da metade dos impactos ambientais gerados por Blocos
Cerâmicos e de Concreto, como pode-se observar na Figura 1. Nos gráficos se tem como
referência para os valores a construção de uma parede de 1m², no gráfico de Potencial de
Aquecimento Global pela emissão de CO2 equivalente, o Bloco de Terra Comprimido (CEB)
aparece com 15kg, na escala em que o Bloco de Cerâmica (BR) se apresenta com 40kg, e o
Bloco de Concreto (CB) por volta dos 32kg. No gráfico de energia incorporada, que mede o
gasto energético durante o processo de extração, produção e transporte, medido em
megajoules(mj), tem-se o Bloco de Terra Comprimida medindo aproximadamente 180mj,
enquanto o Bloco de cerâmica mede 350mj e o Bloco de Concreto mede por volta de 250mj.
Com isso, pode-se perceber o potencial da terra como um material construtivo com eficiência
energética e sustentável.
“É reconhecido que o setor da construção civil é um dos que causam maior impacto
no meio ambiente. Além do uso de muito dos recursos naturais, utilizados como
matéria-prima, o setor ainda consome grande parte da energia disponível na
transformação e transporte desses materiais. Ele ainda é um grande gerador de
entulho, classificado como resíduo sólido, tanto durante o processo de execução como
na demolição das obras. É papel de todos os envolvidos com o setor propor novas
ideias que conciliem o desenvolvimento das atividades da construção à preservação
do meio ambiente.” (HOFFMANN at al, 2011, p.49).
35

Figura 1 - Ciclo de vida da taipa

Fonte: Sustentarqui (2018).

Muitas são as vantagens de construir com terra crua, a terra é abundante e natural, tem
uma menor emissão de CO², não consome grandes quantidades de energias não renováveis,
pode ser retirada do próprio local da construção, o que dispensa o transporte. Pode ter um bom
isolamento termoacústico, a depender do coeficiente de transmitância térmica do material, que
pode variar conforme a espessura e aditivos utilizados na mistura do material. Em se tratando
de economia, é altamente eficaz, visto que a matéria prima é a terra e possui fácil acesso, a
depender da região. Para que a técnica seja replicada não necessita de mão de obra
especializada, podem ser executadas por famílias e comunidades através de mutirões, é
importante também a supervisão de um profissional da construção civil, arquiteto ou
engenheiro. (FARIA, 2007)

“Em termos técnicos, este tipo de construção apresenta propriedades higrotérmicas,


que contribuem para a regulação do conforto térmico e para a exploração de
mecanismos com funcionamento bioclimático, devido à elevada inercia térmica
apresentada e ainda boas características relativamente ao isolamento acústico a sons
aéreos, devido à massa associada as paredes resultantes.” (FARIA, 2007, p.151)

No geral, as técnicas construtivas utilizando a terra crua como material construtivo


oferecem um bom conforto térmico pela inercia térmica e bom conforto acústico por conta da
densidade dos blocos e paredes construídas. Em se tratando da técnica utilizada no protótipo de
bioconstrução deste trabalho, a taipa de pilão, os dois confortos, térmico e acústico, podem
funcionam muito bem, visto que a parede de barro possui no mínimo 30cm de espessura e a
terra está compactada. Segundo Cordeiro (2020), para a questão térmica a densidade faz com
que o calor demore mais tempo para entrar no ambiente e/ou entre com menos intensidade
mantendo a temperatura estável, o que é chamado de inércia térmica (Figura 2). E para a
acústica, a densidade das paredes barram com eficácia os ruídos aéreos, que são basicamente
36

os sons do dia-a-dia, som de conversa, música, e ruídos externos, é um ótimo tratamento


acústico natural. (FARIA, 2007).
A NBR 15575/2021, indica como referência para a transmitância térmica (U) de
paredes externas, o valor de U ≤ 2,5, para a zona climática 8, a qual a cidade de Arapiraca se
localiza. A parede utilizada no projeto possui espessura de 30cm, esta espessura atende aos
parâmetros de transmitância térmica indicados na NBR 15575/2021 e a NBR 15220/2015
(CORDEIRO, 2020).

Figura 2 - Inércia térmica

Fonte: Sustentarqui (2018).

Acredita-se que construções utilizando a terra como matéria-prima surgiram ainda no


período pré-histórico. As primeiras datações de construções utilizando a terra como técnica
construtiva, foram identificadas no Oriente médio entre os anos 9000 e 5000 a.c., alvenarias de
terra compactada, conhecida atualmente como taipa de pilão e adobes. Cidades inteiras foram
construídas com terra utilizando adobe e taipa de pilão, localizadas no Oeste da Ásia, também
no Novo México, EUA, no Brasil e tantos outros países. Parte da muralha da China e outros
monumentos que estão de pé até os dias atuais, foram construídos utilizando a técnica
construtiva de adobe e taipa de pilão, o que deixa evidente a potencial resistência que esse
material possui (PISANI, 2004).
37

Para Penido et al. (2013), muitas foram as influências do uso da terra como material
construtivo no Brasil. A começar pela influência indígena, que a princípio pouco utilizava a
terra para construir, os materiais mais utilizados eram madeiras e folhas, mas empregavam a
terra para vedações em algumas construções. Com a chegada dos colonizadores portugueses,
acompanhou a técnica de adobe, taipa de pilão e taipa-de-mão, que eram técnicas utilizadas
para as construções em Portugal, sendo a taipa de pilão a mais sofisticada, depois da construção
com pedras. Junto a vinda dos escravos para o Brasil, que em sua maioria eram traficados da
África, foram aprimoradas as técnicas, com a mão de obra escrava, para a construção de
diversas igrejas e casarões em Ouro Preto, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e outras cidades
do país.
Ainda para Penido et al. (2013), a chegada dos holandeses em Recife no século XVII
e o desejo de construir uma colônia holandesa no Brasil, trouxe consigo outra técnica
construtiva, o tijolo cozido, que utilizava a terra como matéria prima, entretanto era preciso
cozinhar em fogo baixo por alguns dias, que é bastante utilizado até os tempos atuais. No século
XIX houve a chegada dos Alemães, Italianos, Poloneses e outros povos, e os Alemães
adicionaram a lista de influências de técnicas o Enxaimel, que consistia em estruturas de
madeiras que podiam ser encaixadas de diversas formas e eram preenchidas com adobe, barro
socado, pedras ou tijolos. Atualmente construções utilizando essa técnica podem ser
encontradas nos estados do sul, onde houve uma maior influência desses povos.

Quadro 1 - Influências de tecnologias construtivas


QUADRO DE INFLUÊNCIAS EM CONSTRUÇÃO COM TERRA CRUA

Influência Método utilizado


Indígena  Terra utilizada para vedações, porém
pouco utilizadas.
Portuguesa  Taipa de pilão;
 Adobe, para vedação e/ou estrutura;
 Taipa de mão.
Africana  Pau-a-pique (taipa de mão);
 Adobe.
Holandesa (Países baixos)  Tijolo cozido.
Alemã, Italiana, Polonesa e  Enxaimel – estrutura em madeira
outros povos contraventamento ortogonalmente
preenchido com adobe, pedras ou tijolos.
Fonte: A autora (2021).
38

3.2 Adobe

O processo de fabricação do adobe é acessível e artesanal, é basicamente a mistura de


barro e água, podendo ser adicionada palha que ajuda na estabilização. Depois de realizada a
mistura, a massa é colocada em formas de madeira (Figura 3) e são colocados para secar
naturalmente, sem passar pelo procedimento de queima, o que torna sua fabricação livre de
poluentes. Os tijolos podem ter tamanhos variados, de 20cmx15cmx30cm ou até maiores, é
sempre importante a realização de testes, tanto do barro quanto da resistência do tijolo. O barro
utilizado pode ser retirado das proximidades da construção, no entanto é necessário que façam
testes para se certificar de que o barro é adequado para esse uso. Ele precisa conter certos níveis
de argila para que consiga a liga necessária para a fabricação desse material e para torná-lo mais
durável. O processo é artesanal e várias pessoas podem participar, desde a extração do barro,
até pisar a massa e moldar os tijolos. Muitas são as vantagens do adobe, por ser fabricado de
terra crua é naturalmente um material ecológico e reutilizável, e por ser um material natural
atua como um ótimo isolante térmico (SELEGUIM, 2019).

Figura 3 - Forma e tijolo de Adobe

Fonte: A autora (2021).


39

3.3 Taipa de mão/ Pau-a-pique/ Técnica Mista

Essa técnica é bastante antiga, e utilizada desde a colonização até os dias atuais para
construir habitações simples. Também conhecida como técnica mista por misturar madeira ou
bambu e terra, o processo acontece em etapas de construção de tramas de madeira (Figura 4) e
preenchimento e contorno dessas tramas com terra (figura 5). A terra precisa estar argilosa para
que seja moldável na trama, são feitas no mínimo três camadas para que as paredes fiquem
resistentes, geralmente não são construídos mais que um pavimento utilizando essa técnica pois
as paredes costumam ter espessuras pequenas. É recomendável, para construções que utilizam
terra crua, que seja feita uma boa fundação, utilizando pedras ou até concreto, para garantir uma
maior segurança. É aconselhável que após algum tempo de exposição, e caso surjam rachaduras
depois da argila secar, sejam feitas camadas extras para garantir um bom acabamento e anular
as chances de transmissão de doenças (SELEGUIM, 2019).

Figura 4 - Fundação e tramas

Fonte: A autora (2021).


40

Figura 5 - Fundação e tramas preenchidas

Fonte: A autora (2021).

3.4 Superadobe

A técnica de Superadobe foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, por volta da
década de 1980, a técnica consiste em ensacar a terra e compacta-la (Figura 6), camada por
camada até se formarem as paredes e encaixe de esquadrias (Figura 7), assim os formatos das
paredes podem ser tanto curvos quanto retos, para melhorar o atrito entre os sacos são utilizados
arame farpado. Um dos passos mais importantes para construções com terra crua é a fundação,
se faz necessário que ela seja firme o suficiente para sustentar a técnica; podem ser utilizadas
concreto, pedra e outras formas de fundações. Depois de formadas as paredes, os sacos são
queimados para que as paredes recebam o chapisco e as outras camadas de acabamento. A
técnica apresenta um bom desempenho térmico pelo uso da terra como principal material e bom
conforto acústico pelas espessuras das paredes (SELEGUIM, 2019).
41

Figura 6 - Sacos sendo preenchidos e apiloados

Fonte: A autora (2021).

Figura 7 - Encaixe de esquadrias

Fonte: A autora (2021).

3.5 Hiperadobe

A técnica de hiperadobe é semelhante à de superadobe, são utilizados os mesmos


materiais com exceção do tipo de saco, que é utilizado o raschel, que permite um melhor atrito
entre os sacos e dispensa o uso de arame farpado. A execução também é semelhante ao do
superadobe (Figura 8 e 9), a diferença é apenas o tipo do saco e o efeito de chapisco que ele
42

oferece, dispensando o trabalho feito na etapa de acabamento do superadobe (SELEGUIM,


2019).

Figura 8 - Sacos sendo preenchidos e apiloados

Fonte: A autora (2021).

Figura 9 - Encaixe de esquadrias

Fonte: A autora (2021).


43

3.6 Tijolo de solo-cimento

Para fabricação do tijolo de solo-cimento, é utilizada uma prensa que já possui a forma
do tijolo, ou podem ser feitos com moldes de madeira, contanto que a massa seja bem
compactada. A matéria prima fundamental é a terra, junto ao cimento e a água (Figura 10),
podem ser utilizados variados traços, que precisam ser testados para saber qual o ideal para
produção do tijolo, sendo mais comum o 1:10, 1 porção de cimento para 10 de solo. A água é
adicionada aos poucos, sempre observando o ponto de umidade do solo e realizando testes
simples como o teste do bolo, como poderá ser visto mais à frente. Após os testes, os tijolos já
podem ir para a prensa ou para as formas, onde serão compactados. Depois de prontos é
necessário um tempo de cura, em que precisam ser regados algumas vezes e após alguns dias
estão prontos para o uso (SELEGUIM, 2019).

Figura 10 - Solo, cimento e água

Fonte: A autora (2021).

3.7 Taipa de pilão

A técnica de taipa de pilão consiste em construir paredes com terra socada em formas.
Essas formas são chamadas de taipal, e dentro delas o barro é apiloado com pilão ou instrumento
semelhante, e a isso se deve o nome da técnica, taipa de pilão (Figuras 11 e 12). Nessa técnica,
44

o ideal é que a terra seja uma mistura de 70% de areia 30% de argila, mas é preciso observar o
comportamento da argila através de testes. A terra necessita estar no estado plástico, para isso
precisa ser rica em argila que possui a forte característica de coesão entre as partículas. A terra
pode ou não ser misturada a algum aglomerante como cimento ou cal, para adquirir mais
resistência, já que a parede de taipa serve também como parede estrutural (SELEGUIM, 2019).

Figura 11 - Taipal e solo apiloado

Fonte: A autora (2021).


45

Figura 12 - Construção da parede de taipa de pilão

Fonte: A autora (2021).

3.8 A construção com barro e o preconceito

Uma das maiores questões em relação ao preconceito existente com casas que utilizam
a terra como principal componente construtivo, é a preocupação com a doença de Chagas, que
foi descoberta há pouco mais de 100 anos, e é transmitida através de um besouro, conhecido
como “barbeiro”, que costuma esconder-se em frestas e rachaduras existentes nas habitações.
Acredita-se que a proliferação da doença aconteceu por conta da adaptação do besouro a casas
rurais de baixa qualidade, como foi visto anteriormente, algumas das técnicas que utilizam o
barro, como a de taipa-de-mão/pau-a-pique, ao secarem e a depender do acabamento podem
apresentar rachaduras devido a terra bastante argilosa compactada que é utilizada e ao secar há
a expansão (SILVA, 2000).
Quando essas habitações eram feitas antigamente não havia tanta preocupação com o
acabamento, visto que sua maior função era suprir a necessidade de moradia existente por parte
de pessoas que não possuíam outros meios de construir suas habitações. O Estado sugeriu que
as habitações de pau-a-pique fossem substituídas por construções de alvenaria, mas é
importante frisar, que o problema não é a construção com barro em si, mas a baixa qualidade
de seus acabamentos, o que pode acontecer também em casas de alvenaria, que se mal acabadas
podem deixar espaços propícios para a acomodação do besouro. Há algumas sugestões viáveis
para a solução desses problemas de acabamento nas casas de taipa-de-mão, uma delas é a
utilização do próprio barro para que sejam feitas novas camadas que vedem as rachaduras,
46

podendo até mesmo utilizar cal ou cimento como estabilizantes junto ao barro, uma solução de
baixo custo e que pode resolver boa parte do problema de insalubridade que possam existir
nessas habitações (SILVA, 2000).

Como já citado anteriormente, existem diversas técnicas que podem ser muito bem
desenvolvidas para construir casas completamente salubres utilizando o barro, a questão não é
o material, mas sim a forma como a técnica é utilizada. Essas técnicas vieram junto dos
colonizadores e sua difusão foi basicamente de forma oral. Com o passar do tempo e o
aprimoramento das técnicas, existem variadas formas de fazer esse conhecimento ser difundido
de forma eficaz, como através de cartilhas, livros, vídeos, entre outros meios. Sem o
conhecimento de que é possível construir usando a terra de forma segura e com baixo custo,
pessoas que vivem em casas de barro e de forma insalubre, não conseguem sair das condições
em que se encontram, ainda mais sem assistência de profissionais da área e sem auxilio do
Estado (SILVA, 2000).

Das técnicas construtivas que utilizam a terra crua como matéria prima, apenas o
Adobe possui uma norma técnica, a NBR 16814, que ganhou sua primeira edição apenas em
2020. A Norma inicia falando do baixo impacto ambiental que esse tipo de construção possui,
ela aborda os passos da confecção do Adobe e a execução de alvenaria, também mostra alguns
testes que devem ser realizados para o uso do solo ideal na fabricação e resistência do tijolo. É
falado sobre o uso dessa técnica, principalmente, para fins de produção de habitação de interesse
social, especialmente em regiões onde haja fácil acesso a matéria prima (NBR 16814, 2020).
Segundo as pesquisas realizadas no código de obras da cidade de Arapiraca e questionado a
funcionários da prefeitura, não existe restrição quanto a autorização para construir utilizando
terra crua como material construtivo em Arapiraca, os aspectos analisados são projetuais e
legais.

3.9 Testes

Poucas são as normativas existentes relacionadas a construção com terra crua, o


conhecimento e técnica passa de geração para geração quase que apenas de forma verbal, e com
o preconceito instalado na ideia de que construir com terra é insalubre. A Rede PROTERRA
vem fazendo um trabalho de disseminação de tecnologia desde 2001, desenvolvendo manuais,
aprimorando técnicas e gerando publicações que servem de apoio para pessoas interessadas no
47

uso da terra crua para construir, visto a falta de normativas que auxiliem tais construções, os
estudos são realizados desde a época das vilas tecnológicas (PROTERRA, 2011).

A terra é testada para se saber a mais adequada para o tipo de técnica construtiva
escolhida. Algumas técnicas exigem solos mais arenosos, outros mais argilosos e essas
diferenças podem ser observadas de diversas formas, através de testes visuais e táteis. Abaixo
alguns testes de campo que podem ser utilizados para avaliar as diversas características do solo
a ser utilizado, como granulosidade, retração, textura e outros comportamentos. É importante
que as amostras de terra sejam retiradas de lugares variados do terreno em que se pretende
extrai-lo, sendo recomendando recolher aproximadamente 30 kg para os testes (PROTERRA,
2010).

3.9.1 Teste do cordão

A finalidade desse teste é analisar a coesão e a plasticidade do solo sob uma


determinada quantidade de água. Primeiro se adiciona água em uma porção do solo seco,
rolando em uma superfície lisa, até que o cordão se rompa com 3mm de diâmetro (Figura 13).
Depois desse passo, formar uma bola com o cordão na umidade encontrada e observar a força
necessária para esmigalhá-la entre o indicador e o polegar (Figura 14) (PROTERRA, 2010).

Figura 13 - Rolando o cordão para o teste

Fonte: A autora (2021).


48

Figura 14 - Esmagando a bola de terra úmida

Fonte: A autora (2021).

A análise é feita utilizando a tabela abaixo como base:

Quadro 2 - Análise teste do cordão

Fonte: Proterra (2010).

3.9.2 Teste da queda da bola

Esse teste tem por objetivo indicar o tipo de terra em questão da coesão, que é a
resistência ao cisalhamento. É separado uma porção de solo seco e adicionado água, após é feita
uma bola de aproximadamente 3cm de diâmetro, e a uma altura de aproximadamente um metro
a bola deve ser solta e cair em queda livre (Figura 15). Se a terra for arenosa a tendencia é se
espalhar e esfarelar-se, caso seja argilosa ela se espalha, mas mantém a coesão (PROTERRA,
2010).
49

Figura 15 - Amostra da queda da bola

Fonte: A autora (2021).

3.9.3 Teste da fita

Esse teste analisa a plasticidade da terra e assim determina qual seu tipo. Com a mesma
umidade do teste do cordão, fazer um cilindro de aproximadamente 8mm de diâmetro e 8cm de
comprimento (Figura 16), amassar o cilindro com os dedos formando uma fita com 3 a 6 mm
de espessura, deixando que fique no maior comprimento possível (Figura 17). Medir o
comprimento encontrado e conferir no Quadro 3.

Figura 16 - Fazendo o cilindro

Fonte: A autora (2021).


50

Figura 17 - Fita

Fonte: A autora (2021).

Quadro 3 - Análise do teste da fita

Fonte: Proterra (2010).

Com o resultado dos testes realizados, pode-se identificar quais as técnicas mais
adequadas para construir, com o teste do cordão e da fita, o da queda da bola (Figura 15) o tipo
da terra pode ser analisado no instante da queda. Para analisar os demais, utiliza-se o seguinte
quadro:

Quadro 4 - técnicas construtivas indicadas através de testes de solo


Teste do cordão Teste da fita Tipo de terra Técnica construtiva
Cordão frágil ou Fita curta ou não se Arenosa; Tijolos prensados,
resistência nula consegue fazer a Areno-siltosa; adobe e terra
fita Areno-argilosa; compactada (Taipa
Silto-argilosa. de pilão)
51

Cordão frágil e Fita curta Siltosa Utilização mais


mole difícil que as terras
anteriores, mas
possível com o uso
de aglomerante
Cordão mole Fita curta a longa Argilosa com Possível usar para a
pedregulho; terra compactada
Argilo-arenosa e (Taipa de pilão) ou
argilo-siltosa. tijolo prensado,
com aglomerante

Cordão duro Fita longa Argilosa Possível usar para


fabricação de
adobes com adição
de fibras e
barreamento de
técnicas mistas

Fonte: Proterra, 2010. Adaptação da autora (2021).


52

4 PROPOSTA DE UMA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL BIOSUSTENTÁVEL

4.1 Dados preliminares

4.1.1 Localização

Arapiraca é uma cidade localizada no agreste do Estado de Alagoas (Figura 18), seu
nome é de uma árvore que possui origem indígena que significa “ramo que a arara visita”,
conhecida por ser a árvore em que seu fundador, Manoel André, parou para descansar. A cidade
também é conhecida pela produção fumageira que esteve em seu auge durante a década de 1970
e 1980, chegando a ser reconhecida como a Capital brasileira do Fumo, por grande destaque na
produção fumageira (Prefeitura de Arapiraca, 2021). A cidade possui, aproximadamente, 234
mil habitantes e é a segunda cidade mais populosa do estado, de acordo com a estimativa do
IBGE (2018).

Figura 18 - Mapa de localização

Fonte: A autora (2022).

O terreno da proposta está situado na Universidade Federal de Alagoas - Campus


Arapiraca (Figura 19). Ele mede 9m x 17m, um tamanho semelhante ao de conjuntos
habitacionais atendidos pela Faixa 1 do PMCMV. Por conta da pandemia do COVID 19, não
foi possível realizar visitação ou escolha de terrenos presentes nos conjuntos habitacionais
53

existentes na cidade. Sendo a UFAL um local de fácil acesso para visitação, e implantação da
proposta, para a autora durante a pandemia.

Figura 19 - Localização do terreno

Fonte: Gloogle Earth (2022).

Figura 20 - Vista do terreno escolhido

Fonte: A autora (2021).


54

4.1.2 Análise climática

Arapiraca pertence a zona bioclimática 8, tendo como característica o clima semiárido,


e localiza-se no agreste alagoano (SILVA, 2017). Segundo o IBGE (2021), a população
estimada para 2021 é de 234.309 pessoas, com uma densidade demográfica de 600.83 hab/km².
Os meses que apresentam uma baixa na temperatura é no intervalo de abril à dezembro, durante
o outono e o inverno, e o intervalo entre os meses outubro e março, primavera e verão (Tabela
1). Tendo como temperatura média 22,1°C e 26,5°C (SILVA, 2019).

Tabela 1 - Temperatura média mensal do ar em Arapiraca

Fonte: Silva, M. (2019).

A umidade média de Arapiraca apresentou os menores valores entre outubro e março,


por volta de 70%, e entre abril e setembro ela esteve em torno de 80%, como pode ser visto na
Tabela 2. A umidade máxima não teve grandes variações, girando em torno de 90%, e a
umidade mínima, durante o período seco apresentou valores abaixo de 50%, no período de
setembro à abril. Os meses que possuem as menores temperaturas, são os que apresentam as
maiores umidades relativas médias do ar. (SILVA, 2019)

Tabela 2 - Umidade relativa média mensal do ar de Arapiraca.

Fonte: Silva, M. (2019).


55

Existem duas normas que regulam a qualidade térmica da edificação. A NBR


15220/2015, que se trata do desempenho térmico de edificações, e aborda métodos de cálculos
para a transmitância térmica, a capacidade térmica, o atraso térmico e o fator solar, todos com
os valores de referência para cada zona bioclimática. Nela também está contido o zoneamento
bioclimático brasileiro, diretrizes construtivas e medição da resistência térmica. Na NBR
15575/2021, é a norma de desempenho para edificações habitacionais, e nela está contida
requisitos para as construções dessas habitações, esses requisitos são: para sistemas estruturais,
sistemas de pisos, sistemas de vedações verticais internas e externas, sistemas e cobertura e
sistemas hidrossanitários. Estas são normas que se complementam em se tratando de
bioconstrução para habitação de interesse social.

4.1.3 Estratégias bioclimáticas recomendadas

Segundo Silva (2019), a cidade de Arapiraca atinge o conforto térmico em apenas


17,7% do ano, em 6,22% sofre desconforto por frio e em 76,1 desconforto por calor (SILVA,
2019). E para auxiliar na minimização desse desconforto foram traçadas algumas estratégias:

 Sombreamento
O sombreamento é uma das estratégias cruciais para a zona em que Arapiraca está
localizada, é recomentado que as habitações fiquem orientadas prioritariamente para o sentido
N/S, entretanto também é recomendado que para cada terreno seja analisada a carta solar para
uma implantação e eficiência de sombreamento maior. O sombreamento pode ser realizado
através de proteções permanentes como brises, toldos, pergolados, vegetação, entre outros
elementos. (SILVA, 2019).

Figura 21 - Sombreamento

Fonte: Projeteee (2021).


56

 Ventilação cruzada
A ventilação cruzada pode ser utilizada durante todo o ano, atentando-se para períodos
com menos necessidade, podem ser utilizadas esquadrias que regulem a porcentagem de vento.
Para auxiliar na ventilação cruzada é recomendado que as aberturas fiquem voltadas para o leste
e sudeste, que são as orientações de onde se recebe os ventos predominantes na cidade. Não há
um padrão de tamanho para as aberturas, entretanto é recomendado que ela tenha de 20 a 40%
da área interna da parede (SILVA, 2019).

Figura 22 - Ventilação cruzada

Fonte: Projeteee (2021).

 Resfriamento evaporativo
Entre as estratégias recomendadas para a cidade, esta possui um caráter eletivo, visto
que ela é indicada prioritariamente para alguns períodos do ano. Esta estratégia auxilia para o
resfriamento em ambientes internos e externos, através da evaporação da água, pode ser
aplicada através de espelhos d’água, telhado verde, microclima local, entre outras formas
(SILVA, 2019; PROJETEE, 2021).

Figura 23 - Resfriamento evaporativo

Fonte: Projeteee (2021).


57

4.2 Estudo preliminar

4.2.1 Análise da planta padrão para casas populares PMCMV

A planta abaixo (Figura 24) é a tipologia mínima sugerida pelo PMCMV, que possui
os seguintes ambientes: Sala, banheiro, cozinha, 2 quartos e uma área externa com um tanque,
e sua área mínima sugerida é de 42m², construída com blocos de concreto, e coberta por telha
cerâmica ou fibrocimento.

Figura 24 - Tipologia sugerida pelo PMCMV

Fonte: Cadernos CAIXA (2007).

Essa tipologia é aplicada em vários lugares do Brasil, muitas vezes sem levar em
consideração a região ou a quantidade de moradores que residem na habitação. A proposta de
projeto deste TCC busca solucionar alguns dos problemas encontrados nessas tipologias,
ampliando ambientes como a cozinha que é um ambiente bastante prejudicado nessas
tipologias, fazendo aberturas que possibilitem a entrada e saída de ar e iluminação, e a inclusão
58

de mais um quarto. Para possibilitar um maior conforto e uma melhor qualidade de vida para
os usuários.

4.2.2 Pré-dimensionamento e programa de necessidades

As dimensões utilizadas no terreno têm como base as medidas empregadas no


PMCMV, com acréscimo de 1 metro longitudinal e 1 metro transversal, ficando com a medida
total do terreno de 9m x 17m. Foi adotado o modelo de habitação evolutiva e sobrado, o térreo
e o pavimento superior possuem uma área de expansão que pode abrigar diversas funções,
quarto, serviço e até comércio. Na tabela abaixo (Tabela 3) pode-se conferir o pré-
dimensionamento da habitação:

Tabela 3 - Pré-dimensionamento
PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
AMBIENTE TÉRREO SUPERIOR
Área Área
Sala de Estar 10,50m² 10,50m²
Sala de jantar 9,65m² 4,50m²
Cozinha 7,83m² 8,00m²
Quarto 01 8,41m² 8,41m²
B.W.C.1 2,62m² 2,62m²
Quarto 02 13,00m² 13,00m²
B.W.C.2 2,40m² 2,40m²
Circulação 4,00m² 4,00m²
Área de serviço 8,40m² 8,28m²
Hall ---------- 5,52m²
Área evolutiva 7,75m² 7,75m²
Área útil 74,50 m² 74,50m²
Fonte: A autora (2021).

O programa de necessidades busca atender as diversas configurações de famílias que


ocupam habitações populares, por essa razão, pensou-se nas habitações evolutivas e sobrados.
O sobrado possui um pavimento superior que pode atender a mais uma família, possuindo os
mesmos cômodos do pavimento térreo, tendo o acesso pela escada existente na lateral direita
59

da habitação. Considerando o déficit habitacional, o sobrado pode ser uma boa estratégia de
habitação pois consegue suprir a necessidade de moradia de duas famílias no mesmo terreno,
conseguindo produzir o dobro de habitações que existiriam em modelo térreo. Tanto o
pavimento térreo quanto o superior, foram divididos em três setores, área social, área intima e
serviço (Figura 25 e Figura 26).

Figura 25 - Setorização térreo

Fonte: A autora (2022).

Figura 26 - Setorização 1º pavimento

Fonte: A autora (2022).

Área social (Verde):


 Sala de estar; Sala de jantar; B.W.C.1; Circulação;
Área íntima (Vermelho):
 Quarto 1; B.W.C.2; Quarto 2;
Área Serviço (Laranja):
 Cozinha; Área de serviço.
60

Área evolutiva (Azul):


 Quarto; ou serviço; ou comércio.

4.2.3 Evoluções

As evoluções permitem que cada configuração de família se adapte melhor a


habitação, acrescentando se preciso um cômodo que atenda melhor a suas demandas, podendo
ser, por exemplo, quarto, serviço ou comércio. Existe a possibilidade de expansão tanto para o
pavimento térreo, quanto para o pavimento superior (Figura 27 e 28).
A evolução pode ocorrer individualmente, por exemplo, construir um cômodo no
pavimento superior sem que seja necessário a expansão no pavimento térreo, visto que há uma
estrutura de pilares e vigas que suportam essa evolução. Em caso de expansão, o cômodo a ser
construído usará o tijolo de solo cimento, visto sua melhor implantação nessa finalidade, onde
há a dificuldade de utilizar a taipa de pilão por questão espaciais de compatibilização e questões
estruturais.

Figura 27 - Planta térreo sem evolução e Planta superior com evolução

Fonte: A autora (2022).


61

Figura 28 - Planta térreo com evolução e Planta superior sem evolução

Fonte: A autora (2022).

4.2.4 Estudo de insolação e ventilação

Os ventos predominantes na cidade de Arapiraca são provenientes em maior


intensidade do Leste, e de forma moderada do Sudeste (Figura 29). Com relação a orientação
solar, o sol nasce no Leste e se põe no Oeste. É importante atenção para essas orientações antes
do início do projeto, para que seja possível proporcionar as edificações o maior nível de
conforto possível.
62

Figura 29 - Rosa dos ventos

Fonte: PROJETEEE (2021).

4.2.5 Orientação do projeto no terreno

A vento na cidade de Arapiraca é proveniente do Leste e do Sudeste, e o sol nasce no


Leste e se põe no Oeste, o que determinou a orientação da fachada principal da proposta ser
voltada para o Norte (Figura 30 e 31), para que se obtenha um nível de conforto desejável.

Figura 30 - Estudo insolação e ventilação do térreo

Fonte: A autora (2022).


63

Figura 31 - Estudo insolação e ventilação 1º pavimento

Fonte: A autora (2022).

A NBR 15220-3:2005 traz algumas recomendações relacionadas as dimensões das


aberturas para ventilação de habitações localizadas na Zona bioclimática 8. É recomendada que
as aberturas sejam grandes e sombreadas, as áreas das aberturas devem ser maiores que 40% da
área do piso, em ambientes de longa duração, como cozinha, dormitórios e salas de estar. Para
atender as recomendações foram realizados cálculos para atender ao tamanho mínimo de
abertura, que chegaram as dimensões das janelas contida na tabela de esquadrias (Anexo 1),
tendo como exemplo a imagem abaixo.

Figura 32 - Modelo de janela

Fonte: A autora (2022).


64

4.2.6 Materiais

Os materiais e técnicas que serão utilizados na proposta bioconstrutiva (Figura 33 e


34), sendo a taipa de pilão a técnica construtiva principal e o tijolo modular de solo-cimento
utilizado nas áreas molhadas como cozinha, banheiros e a área de serviço pra garantir maior
segurança, as duas técnicas auxiliaram no conforto térmico da habitação. Como fonte principal
de energia foi pensado nas placas solares, para fornecer não só aquecimento de água, como é
comum em algumas casas do PMCMV, mas todo o abastecimento da residência. Para aproveitar
água das chuvas será feito um sistema de capitação de água, que poderá ser utilizada para
diversos fins, como serviços domésticos, descarga, regar a horta. Também serão implantados
uma pequena horta e um pequeno setor de compostagem, que servirá para o descarte de resíduo
orgânico e seu substrato pode servir como adubo para a própria horta. E o telhado verde, que
junto a taipa de pilão e o tijolo de solo-cimento, irá trabalhar para a estabilidade do conforto
térmico.

Figura 33 - Corte esquemático

Fonte: A autora (2022).


65

Figura 34 - Técnicas e soluções

Fonte: A autora (2021).

4.3 Materiais e técnicas aplicados ao projeto

4.3.1 Taipa de pilão

A taipa de pilão foi a técnica utilizada na proposta, como já visto anteriormente a


construção com terra crua possui potenciais importantes, como durabilidade, conforto térmico,
é sustentável e pode ser retirada do próprio terreno onde será construída a habitação ou das
proximidades.
Como exemplo de construções de habitações com taipa de pilão existe o Escritório
Taipal Brasil, que são especialistas em construção com terra e executam habitações com esse
material em todo país (Figura 35 e 36).
66

Figura 35 - Casa Kawall

Fonte: Taipal Brasil, 2018.

Figura 36 - Escritório Fazenda Capituva.

Fonte: Taipal Brasil (2012).

4.3.1.1 Construindo com taipa de pilão

Para facilitar a compreensão das partes da construção com a taipa, abaixo uma
ilustração identificando cada parte:
67

Figura 37 - Identificação das partes

Fonte: A autora (2021).

O primeiro passo é encontrar o solo apropriado para a execução da técnica, através de


testes, como foi visto no capítulo anterior, após testar e encontrar o solo ideal, que é 30% de
argila e 70% de areia (SELEGUIM, 2019), com isso pode-se partir para a construção.
O primeiro passo da construção é fazer uma boa fundação, que precisa ser segura visto que as
paredes de taipa de pilão também funcionam como paredes estruturais, a recomendação é que
a fundação seja feita com pedras ou com concreto (Figura 39). Costuma-se falar em meio a
bioconstrução utilizando terra, que a construção precisa “ter um bom chapéu e um bom par de
botas”, o que significa dizer que é importante ter um beiral que proteja das águas da chuva
(Figura 38) e a fundação ser firme e não totalmente enterrada.
68

Figura 38 - Esquema de proteção contra água na parede

Fonte: PROTERRA (2011).

Figura 39 - Fundação

Fonte: A autora (2021).

Com a fundação pronta, são armados os taipais, que funcionam como uma caixa sem
fundo onde o barro será compactado, a cada parte compactada deve-se subir os taipais
acompanhando o crescimento da parede (Figura 40 e 41). É iniciado o processo de fazer as
camadas de terra compactada. A terra pode ser misturada a palha que funciona como um
estabilizante, o recomendado é que cada camada de terra apiloada tenha 15cm,
aproximadamente. Para compactar a terra são utilizados pilões, que de forma manual apiloam
a terra deixando-a compacta, também existem formas de compactar de maneira mecânica,
utilizando equipamentos que compactam num ritmo mais rápido que o ser humano.
69

Figura 40 - Construção da parede

Fonte: A autora (2021).

Figura 41 - Movimento do taipal

Fonte: A autora (2021).


70

4.3.2 Tijolo de solo cimento

A construção com tijolo de solo cimento, conhecido também como tijolo ecológico, é
uma das técnicas que utilizam a terra como principal material construtivo, o tijolo pode ser
prensado manualmente (Figura 42) ou de forma mecânica (Figura 43). Nessa técnica, a terra é
misturada ao cimento e água, tendo uma proporção de cimento consideravelmente menor que
a quantidade de terra. Na proposta essa técnica foi empregada nas áreas molhadas, sabendo-se
da sua maior resistência a água. É um material que também pode ser produzido in loco o que
gera menos gastos com transporte e energia.

Figura 42 - Compactação manual.

Fonte: UFSM (2015).

Figura 43 - Prensa mecânica

Fonte: Portal virtuhab (2021).


71

4.3.3 Porta com bandeira

Para auxiliar no resfriamento passivo do ambiente foram colocadas portas com


bandeira (Figura 44), que permitem a passagem da ventilação mesmo com a porta fechada.

Figura 44 - Porta com bandeira

Fonte: A autora (2022).

4.3.4 Teto verde e aproveitamento de água da chuva

O teto verde funciona como estratégia de resfriamento evaporativo, que é uma das
soluções bioclimáticas indicadas para a cidade de Arapiraca. Ele funciona como regulador de
temperatura, mantendo a temperatura interna amena, além de funcionar também como um meio
de capitação da água da chuva. E possui camadas para auxiliar na sua eficácia, como exposto
na figura 45, sendo a primeira camada o telhado, que pede a inclinação de no mínimo 8%; em
seguida a membrana a prova d’Água; a barreira contra raízes, que pode ser opcional caso o tipo
de vegetação escolhida não tenha como característica o crescimento de raízes; o sistema de
drenagem que auxiliará na capitação da água da chuva; o tecido impermeável, a terra e a
vegetação.
72

Figura 45 - Camadas do telhado verde

Fonte: Alfaunipac (2020).

Na proposta de projeto foi adotado o telhado verde como forma de resfriamento


evaporativo e como um auxílio para a capitação das águas da chuva, que funciona como um
filtro. Os problemas de drenagem urbana são elevados em boa parte do país, a drenagem de
parte da água da chuva, diminui o escoamento para a sistema viário e possibilita o reuso dentro
da própria residência, podendo ser utilizada para descarga, irrigação, e outros usos não potáveis.
A Figura 46 expõe o sistema de capitação de água utilizado na proposta, a água é captada através
das calhas passando por um filtro para retirar os resíduos orgânicos e é encaminhado para um
reservatório subterrâneo, a á com o auxílio da bomba é encaminhada para um reservatório
superior especifico para o reaproveitamento de água e a partir disso a água é encaminhada para
os usos que lhe são possíveis.

Figura 46 - Sistema de capitação das águas da chuva

Fonte: UFG (2020).


73

4.3.5 Placas fotovoltaicas

A cada dia se faz necessário o uso de energias limpas e renováveis, e a energia gerada
através do sol é um recurso inesgotável e que pode ser bem utilizado no Brasil. As placas
fotovoltaicas são capazes de gerar energia para abastecer diversos tipos de usos, entre eles o
habitacional. É recomendado que as placas fiquem voltadas para o Norte, e a garantia de que
não haverá sombra no local onde elas serão alocadas. Na proposta de projeto desse trabalho
foram inseridas, sobre o telhado verde, que abastecerá os pavimentos térreo e superior (Figura
47) (MARINOSKI, 2004).

Figura 47 - Imagem do projeto

Fonte: A autora (2022).

4.3.6 Compostagem

O descarte de lixo faz parte de um grande problema ambiental, mesmo em se tratando


de lixo orgânico, que demanda de um menor período de tempo para se decompor. Um dos
maiores percentuais de resíduos residenciais é o orgânico, restos de resíduos vegetais e animais.
A compostagem é uma alternativa para a diminuição desse descarte, e gera um material
orgânico que pode ser reutilizado, o adubo (WANGEN, 2010). Após o processo mostrado
74

abaixo (Figura 48), o adubo pode ser utilizado em um novo ciclo de plantação, que no caso da
proposta desse trabalho, será utilizado na horta doméstica também inclusa no projeto.

Figura 48 - Processo de compostagem

Fonte: Imagem Catraca Livre, Adaptação da autora (2022).

4.3.7 Horta

O plantio de alimentos orgânicos auxilia em diversos aspectos da vida de um


indivíduo, desde o de saúde até o econômico. Promovendo uma alimentação mais saudável e
um fácil acesso a alimentos livres de agrotóxicos. As hortas residenciais podem ser horizontais
(Figura 49) ou verticais (Figura 50) que podem ser compostas de diversos materiais, para sua
montagem é necessário terra, adubo, que nesse caso pode ser retirado da composteira, e
sementes. Podem ser plantados diversos alimentos, que podem auxiliar na qualidade de vida
dos moradores, e em se tratando de habitações populares ocupadas por pessoas com um menor
poder aquisitivo gera uma maior segurança alimentar, através de alimentos como hortaliças,
legumes, vegetais e a depender do tamanho da horta, raízes.
75

Figura 49 - Horta horizontal

Fonte: Ivani Kubo paisagista (2022).

Figura 50 - Horta vertical

Fonte: Horta em casa (2022).


76

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão habitacional e ambiental que tem se agravado com o passar dos anos, são
problemas que possuem uma estreita relação, e o profissional de arquitetura e urbanismo, junto
a políticas públicas, pode contribuir para que a realidade de déficit habitacional e crise
ambiental seja amenizada através da utilização de materiais alternativos e sustentáveis para a
construção.
Neste trabalho foi evidenciado dois crescentes problemas o primeiro no âmbito
habitacional, visto a quantidade de famílias que não possuem acesso a habitação e o problema
ambiental que, como já citado, tem a construção civil como um dos grandes emissores de CO2.
A partir desses pontos, mostra-se a importância da implementação de técnicas construtivas que
contribua para produção de habitações sustentáveis.
Com a utilização de técnicas construtivas que utilizam a terra crua como matéria prima,
seria possível construir grandes quantidades de habitações sem ter o impacto ambiental que
teria para construir com os materiais convencionais. Além disso, a atuação do arquiteto e
urbanista possibilita a assistência técnica, que pode auxiliar na autoconstrução de famílias e
comunidades que pensem em utilizar a terra como material construtivo.
Pensando nisso, no trabalho foi proposto um sobrado construído em taipa de pilão e
tijolo de solo-cimento para abrigar duas famílias. Inicialmente foi pensado em locar o estudo
do projeto em um dos residenciais do PMCMV da cidade de Arapiraca, entretanto por conta da
pandemia do COVID 19 não foi possível realizar pesquisa no residencial e se locomover até
ele, por essa razão foi locado na UFAL, pela facilidade de acesso.
O presente trabalho contribui de diversas formas para os estudos nessa área da
bioconstrução, visto que é um assunto pouco explorado durante a graduação, o trabalho pode
servir de base para pesquisas futuras nesse tema. O projeto foi desenvolvido a nível preliminar,
e em trabalhos futuros pode chegar a outros níveis, como o projeto executivo, orçamento e
comparativo com os materiais de construção convencionais.
Se faz necessário e é de extrema importância a discussão desse tema na graduação e
na vida profissional do arquiteto e urbanista. Esse trabalho tem o intuito de plantar uma semente
de que é possível construir e morar de forma segura, saudável e sustentável, utilizando um
material natural e de fácil acesso, junto a assistência técnica de um profissional da área.
77

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WANGEN, Dalcimar R. B.; FREITAS, Isabel C. V. Compostagem doméstica: alternativa de


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Acesso em: 13 nov. 2021.

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