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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

APLICABILIDADE DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS AO PROJETO DE


HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: Proposta de anteprojeto para reordenamento
urbano do loteamento irregular Frei Damião – Arapiraca, AL

Arapiraca - AL
2018
MARCIANO APARECIDO TENÓRIO

APLICABILIDADE DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS AO PROJETO DE


HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: Proposta de anteprojeto para reordenamento
urbano do loteamento irregular Frei Damião – Arapiraca, AL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas, Campus
Arapiraca, como parte dos requisitos para
obtenção do Grau de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo.

Orientadora: Profª. Drª. Simone Carnaúba Torres

Arapiraca - AL
2018
A Deus pelo dom natural;
Ao meu pai por uma vida digna;
A minha mãe pela formação e incentivo;
A minha irmã pela presença;
Ao Igor pelo apoio.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, onipotente e benevolente e às ferramentas que Ele disponibilizou


para que eu conseguisse trilhar o meu caminho. Agradeço também, aos meus pais por todo o
amor, dedicação e apoio que recebo desde o dia em que nasci, ao Igor pela força, incentivo e
por segurar minhas mãos nas horas de dificuldade, a minha doce irmã que me ama
incondicionalmente, a todos os amigos e professores que me apontaram o caminho e, em
especial a minha orientadora Profª Drª. Simone Carnaúba Torres por toda a dedicação e
paciência.
RESUMO

O planejamento e a execução de projetos habitacionais integrados ao meio urbano, como


forma de promoção de uma habitabilidade nos conjuntos habitacionais populares, ainda
constituem um desafio para a promoção digna de políticas públicas na contemporaneidade. A
perda da qualidade de vida nas cidades do cenário brasileiro vem sendo vivenciada cada vez
mais através do aumento dos diferentes impactos ambientais. Nesse cenário, faz-se necessário
contemplar uma conexão direta entre arquitetura e natureza, fazendo uso dos princípios da
arquitetura bioclimática. Os projetos bioclimáticos são fundamentados a partir da adequação
ao clima, à vegetação, à topografia e à geologia do solo, com o objetivo de minimizar as
necessidades de energia elétrica da edificação, proporcionando maior conforto térmico,
acústico e luminoso. O presente trabalho pretende contribuir com a compreensão dos aspectos
sócio-espaciais do loteamento irregular Frei Damião para a identificação de soluções
arquitetônicas integradas a uma proposta de adequação urbanística a partir de uma
abordagem bioclimática, apresentando uma proposta de anteprojeto em escala urbana visando
uma harmonia entre a edificação e o clima local.

Palavras – Chave: Habitação de Interesse Social. Arquitetura Bioclimática. Arapiraca.


ABSTRACT

The planning and execution of housing projects at the same time constitute a challenge for the
promotion of contemporary public policies. The salvation of the quality of life in cities in the
Brazilian scenario has been increasingly experienced through the growth of different
environmental impacts. In this scenario, it is necessary to contemplate a direct connection
between architecture and nature, making use of the principles of bioclimatic architecture.
Bioclimatic projects are based on the adaptation to climate, vegetation, topography and soil
geology, with the objective of minimizing the electrical energy needs of the building,
providing greater thermal, acoustic and luminous comfort. The present work intends to
contribute to the continuity of Frei Damião irregular lot planning tasks for an identification of
architectural solutions integrated in a proposal of urban adaptation from a bioclimatic
approach, between the building and the local climate.

Keywords: Housing of Social Interest. Bioclimatic Architecture. Arapiraca.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Planta baixa e vista de um cortiço urbano, 1983 .....................................................17


Figura 2 - Planta baixa de uma vila operária ...........................................................................18
Figura 3 - Vila em Santa Cecília ..............................................................................................19
Figura 4 - Vila no Brás .............................................................................................................19
Figura 5 - Gráfico da Rosa dos Ventos de Arapiraca-AL .........................................................25
Figura 6 - O zoneamento bioclimático brasileiro .....................................................................26
Figura 7 - Carta Bioclimática do município de Arapiraca gerada pelo programa Analysis Bio
(LABEEE, 2017) partir dos dados do TRY (2010) ..................................................................30
Figura 8 - Carta Solar de Arapiraca-AL até 21 de junho..........................................................31
Figura 9 - Carta Solar de Arapiraca-AL após 21 de junho........................................................31
Figura 10 - Ventilação cruzada..................................................................................................32
Figura 11 - Elementos vazados ................................................................................................33
Figura 12 - Brises verticais e horizontais ................................................................................34
Figura 13 - Cobertura verde experimental sobre um edifício (esquerda) da Universidade
Nacional de Yokohama, Japão. O lado esquerdo da cobertura possui quadrados de trevo,
enquando o lado direito é uma superfície convencional exposta. A termografia infravermelha
(direita) mostra o efeito da cobertura verde nas temperaturas das superfícies. ECOTECH
LABORATORY .......................................................................................................................35
Figura 14 - Telhado leve reflexivo ...........................................................................................36
Figura 15 - Resfriamento evaporativo .....................................................................................37
Figura 16 - Sistema de aquecimento solar ...............................................................................38
Figura 17 - Diagrama esquemático de sistemas fotovoltaicos; conectado à rede pública
(superior) e não conectado à rede pública (inferior) ................................................................38
Figura 18 - Localização do município no nordeste brasileiro (A), situação geográfica no
Estado de Alagoas - região do agreste alagoano (B).................................................................39
Figura 19 - Loteamento irregular Frei Damião, Arapiraca-AL ................................................40
Figura 20 - Moradias no Frei Damião, Arapiraca-AL ..............................................................43
Figura 21 - Padrão de rua no Frei Damião, Arapiraca-Al.........................................................45
Figura 22 - Adequação urbanística do Frei Damião.................................................................46
Figura 23 - Proposta de implantação do conjunto arquitetonico..............................................47
Figura 24 - Perspectiva aérea ás 9:00h (obtida por meio do Revit Architecture).....................49
Figura 25 - Perspectiva aérea ás 12:00h (obtida por meio do Revit Architecture)...................49
Figura 26 - Perspectiva aérea ás 15:00h (obtida por meio do Revit Architecture)...................50
Figura 27 - Cidades da primeira e segunda eras, croqui...........................................................51
Figura 28 - Área de convivência – academia ao ar livre e áreas vegetadas..............................52
Figura 29 - Área de convivência – playground e área de estar.................................................53
Figura 30 - Espaços vegetados e espaçamento entre os blocos residencias..............................54
Figura 31 - Área de convivência – espaço de circulação entre blocos......................................54
Figura 32 - Planta Baixa de layout de uma unidade habitacional com trajeto da ventilação
(seta azul)..................................................................................................................................55
Figura 33 - Planta Baixa de 2 unidades habitacionais com trajeto da ventilação (seta azul)....56
Figura 34 - Pátio central coberto...............................................................................................57
Figura 35 - Estrutura do sistema de captação de águas pluviais e caixa d’água.......................57
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Absortância e refletância solar dos acabamentos ....................................................27


Tabela 2 - Comparativo entre a NBR 15220-3 e NBR 15575 ..................................................28
Tabela 3 - Percentual referente a aplicação das estratégias bioclimáticas apontadas pelo
Analysis BIO a partir do TRY 2010 – Arapiraca-AL ...............................................................30
Tabela 4 - Estratégias bioclimáticas indicadas pelo pelo programa Analysis BIO a partir do
TRY 2010 para a cidade de Arapiraca-AL ...............................................................................30
Tabela 5 - Quadro de ambientes e especificações de uma unidade habitacional .....................56
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


BNH Banco Nacional de Habitação
CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
FIPLAN Fundação Instituto de Planejamento de Alagoas
FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social
MCMV Minha Casa Minha Vida
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PEHIS Plano Estadual de Habitação de Interesse Social
PNDU Política Nacional de Desenvolvimento Urbano
SEPLAN/AL Secretaria de Planejamento do Estado de Alagoas
SNH Sistema Nacional de Habitação
SNHM Sistema Nacional de Habitação de Mercado
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.1 Obetivos.......................................................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 15
1.1.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 16
1.2 Procedimentos metodológicos ...................................................................................... 16
2 HABITAÇÃO SOCIAL: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO ............................. 17
2.1 A habitação social no Brasil ......................................................................................... 17
2.1.1 Origem............................................................................................................................. 17
2.2.2 A intervenção do Estado, a inserção em Alagoas, e a produção de habitações de
interesse social atualmente ....................................................................................................... 20
3 PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS PARA ARQUITETURA E HABITAÇÃO
SOCIAL ................................................................................................................................... 23
3.1 Arquitetura bioclimática .............................................................................................. 23
3.1.1 Conceito .......................................................................................................................... 23
3.2 O clima e a adequação da arquitetura no nordeste ................................................... 23
3.3 A caracterização climática de Arapiraca-AL ............................................................. 24
3.4 Estratégias bioclimáticas para habitações em Arapiraca-AL ................................... 25
3.4.1 O Zoneamento Bioclimático, suas diretrizes e a norma de desempenho das edificações
habitacionais ............................................................................................................................. 26
3.4.2 A Carta Bioclimática e a Carta Solar .............................................................................. 29
3.4.3 Estratégias Bioclimáticas adotadas ................................................................................. 31
3.4.3.1 Ventilação Cruzada ....................................................................................................... 32
3.4.3.2 Sombreamento .............................................................................................................. 33
3.4.3.3 Alta Inércia térmica para resfriamento ......................................................................... 34
3.4.3.4 Resfriamento evaporativo ............................................................................................. 37
4 O LOTEAMENTO IRREGULAR FREI DAMIÃO ................................................. 39
4.1 Área de intervenção ...................................................................................................... 39
4.1.1 Análise social, e física da área apartir de entrevistas realizadas durante a pesquisa de
campo produzida para as disciplinas de PU2 e P5 em 2016 .................................................... 41
5 O ANTEPROJETO URBANO-ARQUITETÔNICO ................................................ 46
5.1 Condicionantes ambientais........................................................................................... 48
5.2 Condicionantes legais .................................................................................................... 50
5.3 Pesquisa tipológica e partido ........................................................................................ 50
5.3.1 Tipologia urbanística ....................................................................................................... 51
5.3.2 Tipologia habitacional ..................................................................................................... 55
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 59
APÊNDICE A – PRANCHA 01/06 .......................................................................................... 61
APÊNDICE B – PRANCHA 02/06 .......................................................................................... 62
APÊNDICE C – PRANCHA 03/06 .......................................................................................... 63
APÊNDICE D – PRANCHA 04/06.......................................................................................... 64
APÊNDICE E – PRANCHA 05/06 .......................................................................................... 65
APÊNDICE F – PRANCHA 06/06 .......................................................................................... 66
13

1 INTRODUÇÃO

O meio ambiente deve ser estudado minunciosamente com o propósito de reduzir os


impactos ambientais oriundos do processo de urbanização, objetivando a elaboração de
medidas e ações que possibilitem a obtenção do equilíbrio entre o homem e o meio ambiente.
A perda da qualidade de vida nas cidades do cenário brasileiro vem sendo vivenciada cada vez
mais através do aumento dos impactos ambientais (desmatamentos, poluição do ar, solo e
água, destruição da flora e fauna (TORRES, 2017).
Contemplar uma conexão direta entre arquitetura e natureza faz parte dos princípios da
arquitetura bioclimática. Os projetos bioclimáticos são fundamentados a partir da adequação
ao clima, à vegetação, à topografia e à geologia do solo, com o objetivo de minimizar as
necessidades de energia mecânica da edificação, proporcionando maior conforto térmico,
acústico e luminoso. Esse tipo de arquitetura visa respeitar a paisagem existente e integrar a
edificação nela, buscando proporcionar o melhor benefício das condições ambientais,
diminuindo os impactos negativos ao meio ambiente (BROWN; DEKAY, 2004).
Vale considerar que a arquitetura bioclimática deve ser trabalhada não apenas na
escala do edifício, mas também, na escala urbana, pois o entorno urbano deve estar em
consonância com as estratégias a serem utilizadas visando o conforto ambiental tanto da
edificação quando do meio na qual ela está inserida, uma vez que fatores como iluminação e
ventilação natural dependendem de condições urbanas favoráveis (TORRES, 2017).
Durante a fase de pesquisa deste trabalho percebeu-se que, independente do país, a
habitação torna-se uma grande preocupação do governo. Tanto em países mais desenvolvidos
quanto nos menos desenvolvidos – do ponto de vista econômico, social e tecnológico – a
habitação geralmente é um problema constante entre os gestores da infraestrutura urbana.
Por mais que a oferta numérica de habitações sociais seja vista como uma alternativa
para que a população de baixa renda possa realizar seu sonho de ter uma casa própria, existem
no Brasil diversos estudos que apontam os fatores negativos dos atuais modelos implantados,
como por exemplo alta densidade de ocupação, déficit em infraestrutura urbana, mobilidade,
falta de paisagismo no entorno, falta de acuidade estética, conforto, má inserção urbana, entre
outros (VILLA; ORNSTEIN, 2013).
Os Conjuntos Habitacionais de Interesse Social apresentam, num contexto geral,
inúmeros irregularidades e problemas no tocante ao uso e manutenção tanto nos espaços
coletivos quanto em sua infraestrutura urbana. Importante salientar que muitas habitações
sociais localizam-se em áreas de preservação ambiental ou áreas de mananciais, ocasionando
14

um grande impacto ambiental nessas áreas, visto que o processo de ocupação irregular dos
espaços urbanos polui os cursos de água, o solo e destrói a fauna e flora local. Além disso, as
edificações irregulares acarretam problemas de conforto, segurança, funcionalidade.
A inexistência de uma avaliação metodológica dos pontos positivos e negativos frente
à construção das edificações, encaminhou o município à repetição dos métodos de soluções
adotadas até hoje (ABIKO; ORNSTEIN 2002).
O processo de industrialização pelo qual o planeta vem passando desde a Revolução
Industrial iniciada em meados do século XVIII provocou mudanças nos meios de produção,
interferindo na economia e na sociedade. Isso influenciou diretamente no estilo de habitação
social que conhecemos hoje - extremamente lucrativa, visto o grande aproveitamento do
terreno e a precariedade de materiais, produzindo uma habitação com péssima disposição
espacial, materiais construtivos de qualidade muito inferior e conforto ambiental quase
inexistente, além é claro, da importação de padrões arquitetônicos, onde as edificações são
replicadas em diferentes cidades e estados, sem ser levado em consideração o contexto
histórico, social, econômico e as reais necessidades dos moradores, unicamente para suprir o
défit quantitativo das habitações e, não visando a obtenção da qualidade ambiental dessas
habitações.
Localizado na periferia da cidade de Arapiraca/AL, o loteamento irregular Frei
Damião, situado no bairro Canafístula, foi objeto de estudo para as disciplinas de Projeto de
Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016. A experiência
vivenciada nas disciplinas supracitadas despertou o interesse para o aprofundamento da
temática neste Trabalho de Conclusão de Curso, visto que o objeto de estudo é um ilustrador
da problemática da produção de habitação social no Brasil. A área ocupada atualmente pelo
Frei Damião corresponde a cerca de 80.000,00 m² e abriga cerca de 4 mil pessoas, distribuídas
em 900 famílias. De acordo com o Plano Diretor Municipal de Arapiraca a área situa-se nas
seguintes Zonas urbanas:
➢ Zona Especial de Interesse Social ZEIS-A5: áreas já ocupadas por propriedade
privada ou públicas em áreas de conservação ou preservação ambiental e áreas
de favelas ou loteamentos irregulares;
➢ Zona Especial de Interesse Ambiental ZEIA-PN A2: zona de proteção aos
mananciais e remanescentes de cobertura vegetal (LEI 2.424/06, 2006)
Em visita técnica ocorrida no dia 03 de fevereiro de 2016, buscando uma melhor
compreensão da dinâmica da comunidade do Frei Damião, foi realizada uma entrevista com a
15

Sra. Cecir, líder da Associação Comunitária dos Moradores do Frei Damião, onde pôde-se
conhecer como se deu a ocupação do loteamento e sua atual situação. Além disso, foram
escolhidas aleatoriamente cinquenta residências para aplicação de questionários amostra com
44 quesitos que englobavam perguntas, em sua maioria de caráter qualitativo, a respeito das
condições de habitação, mobilidade e infraestrutura urbana e condições socioeconômicas dos
moradores locais. Foi observado que o Frei Damião não possui boa configuração urbana;
muitas habitações foram construídas pelos próprios moradores, delimitadas e ocupadas de
forma totalmente ilegal, sem nenhuma documentação oficial. Dessa forma, pela falta de um
partido urbanístico adequado, existe um grande prejuízo na presença de áreas verdes e
vegetação no Frei Damião, interferindo nas condições de moradia e vida da população. Nota-
se que além das habitações serem minúsculas, apresentam baixo conforto térmico, fator muito
importante para se ter o mínimo de qualidade no interior da residência.
Os estudos realizados com a comunidade durante o ano letivo de 2016 possibilitaram
observar que no que diz respeito à qualidade e disposição das moradias, mobilidade,
disponibilidade de equipamentos urbanos e serviços públicos, entre outros, a população sofre
um grande déficit. E importante salientar que cada um desses itens exerce grande influência
nas condições de habitabilidade, isto é, no conforto, bem estar, segurança, privacidade,
relações interpessoais, bem como nas mais simples tarefas diárias, como comer, dormir,
trabalhar e na infraestrutura urbana e acesso aos serviços públicos e mobilidade urbana.
O presente trabalho, intitulado Aplicabilidade de Estratégias Bioclimáticas ao Projeto
de Habitação de Interesse Social: proposta de anteprojeto para reordenamento urbano do
loteamento irregular Frei Damião, Arapiraca/AL, pretende contribuir com a compreensão dos
aspectos sócio-espaciais do loteamento irregular Frei Damião e propor soluções arquitetônicas
integradas a uma proposta de adequação urbanística fundamentada em princípios
bioclimáticos, apresentadas sob a forma de anteprojeto urbano-arquitetônico, buscando a
harmonia entre a edificação e o clima local.

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral


O objetivo geral deste trabalho é elaborar um anteprojeto arquitetônico de habitação
social, integrado a uma proposta de adequação urbanística para o loteamento irregular Frei
Damião em Arapiraca/AL, levando em consideração o aproveitamento das estratégias
bioclimáticas locais.
16

1.1.2 Dentre os objetivos específicos, pode-se destacar os seguintes:


➢ Caracterização do clima local;
➢ Identificar as diretrizes projetuais de adequação climática aplicáveis ao
contexto local;
➢ Conhecer as diretrizes do Plano Diretor local e propor uma adequação
urbanística na ZEIS onde se encontra a área de estudo;
➢ Projetar uma nova tipologia de quadra visando o convívio social e aplicação de
estratégias bioclimáticas na escala urbana;
➢ Projetar uma tipologia de habitação social levando em consideração as
particularidades da população a ser atendida.

1.2 Procedimentos metodológicos


Os procedimentos metodológicos adotados no presente trabalho serão desenvolvidos
com o propósito de apresentar uma proposta arquitetônica integrada à uma adequação
urbanística, atendendo as necessidades dos moradores e do clima local. Para isso, o trabalho
organiza-se em três procedimentos, nos quais o desenvolvimento do conteúdo objetivou
possibilitar compreensão do tema e da proposta gráfica desenvolvida.
O primeiro procedimento trata-se de uma revisão bibliográfica sobre a temática geral
do trabalho, do qual, geral o capítulo 2 titulado Habitação Social: Uma breve contextualização
e, o capítulo 3, denominado Princípios bioclimáticos para arquitetura e habitação social.
O segundo procedimento é um levantamento de dados com a finalidade de caracterizar
a área de intervenção, tanto nos aspectos físico-espaciais, quanto para o entendimento das
condições socio-ambientais, o que gerou o capítulo 4 denominado: O loteamento irregular
Frei Damião.
O terceiro procedimento trata-se do desenvolvimento da proposta de anteprojeto
Urbano-Arquitetonico, possibilitada através do estudo das etapas anteriores, bem como o
estudo dos condicionantes ambientais, condicionantes legais, pesquisa tipológica e partido da
quadra e da habitação proposta.
17

2 HABITAÇÃO SOCIAL: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 A habitação social no Brasil

2.1.1 Origem
As primeiras habitações sociais no Brasil surgiram em São Paulo, no Bairro Santa
Ephigênia no final do século XIX. Situavam-se em terrenos baratos, abaixo do nível de
arruamento, com notáveis depressões, onde o calçamento ficava visivelmente acima do nível
dos quintais das edificações. Alí a drenagem superficial era escassa e o esgotamento sanitário
quase não existia. À época a procura por casas de aluguel era alta e as habitações eram
construídas com precária qualidade (MOTTA, 1894 apud BONDUKI, 2004).
A necessidade de alojar a crescente população de imigrantes trabalhadores da cidade
de São Paulo ocasionou a produção em massa de diferentes tipos de habitações sociais, como
cortiços (figura 1) e habitações operárias (figura 2) (MOTTA, 1894 apud BONDUKI, 2004).

Figura 1 - Planta Baixa e Vista de um Cortiço Urbano, 1983

Fonte: BONDUKI (2004)


18

Figura 2 - Planta Baixa de uma Vila Operária , 1911

Fonte: BONDUKI (2004)

Ainda nesse cenário surgem dois tipos de habitação popular:


a) as casas de dormidas (figura 3), onde se adicionam alguns cômodos para o
uso comum, uma sala com diversos fogões para uso de todos, uma latrina sem
nenhuma condição de higiene e corredores longos com iluminação
comprometida;
b) o cortiço pátio (figura 4), que era o tipo mais comum de habitação popular em
São Paulo e geralmente situado no quintal ou nos fundos de uma loja, possuía
um portão lateral situado em um corredor longo e estreito que conduzia a um
pátio pequeno, onde se encontravam as esquadrias de portas e janelas das
minúsculas casas geminadas (BONDUKI, 2004). Vale ressaltar que estes
cortiços possuíam má qualidade tanto nos materiais utilizados, quanto na
execução da obra, além da má distribuição dos ambientes, precária iluminação
19

e ventilação, carente saneamento do terreno e desprezo total das mais básicas


regras de higiene doméstica.

Figura 4 – Exemplo de casas de dormida: Vila em Figura 3 – Exemplo de cortiço pátio: Vila no Brás
Santa Cecília

Fonte: BONDUKI (2004) Fonte: BONDUKI (2004)

Geralmente esses pequenos cubículos tinham no máximo 3 metros de largura e 5


metros de comprimento, com capacidade para até quatro pessoas. Essas habitações na maioria
das vezes possuíam assoalhos, os quartos e as salas eram forrados; já as cozinhas, quando
muito tinham, era um piso cimentado de baixo acabamento. A umidade do solo, decorrente
das depressões do terreno e da impermeabilização inexistente das fundações, subia pelas
paredes; a argamassa utilizada no reboco era de baixa qualidade, logo desprendia-se da
alvenaria. Esta por sua vez era erguida com tijolos de procedência duvidosa. O ralo para
esgotamento sanitário, a torneira, o tanque e a latrina, por sinal mal instalada, jamais eram
higienizados e situavam-se na área livre, com piso de barro batido, onde, na maioria das casas,
a água utilizada na higienização roupas, louças e nos banhos, misturava-se com a água da
chuva e ficavam empoçadas nos quintais, aumentando o risco de doenças e contaminação do
lençol freático (BONDUKI, 2004).
Outro tipo de habitação social bem comum era a casinha. Esta era uma edificação
independente, com frente voltada para a rua. Pequena, sem condições de higiene básica,
abrigava uma insignificante latrina no quintal e a cozinha, na maioria das vezes, era localizada
ou ao lado da latrina ou dividia a parede com o quarto (BONDUKI, 2004).
Esses foram os tipos de habitações sociais mais comuns em cidades como São Paulo
por muitas décadas.
20

2.1.2 A intervenção do Estado, a inserção em Alagoas e a produção de habitações de


interesse social atualmente
Foi apartir dos anos 1930, sob a era Vargas, que as habitações sociais ganharam a
atenção do Estado, pois a produção rentista privada das habitações era incapaz de atender a
demanda e de evitar consequências morais, higiênicas, econômicas e sociais. O que de fato,
não agradou muito ao setor rentista, que por muitos anos desfrutou de regalias fiscais
(BONDUKI, 2004).
Parte do discurso do deputado Salgado Filho (1937), ex-ministro do trabalho do
governo provisório, citado por Bonduki (2004, p. 78-79) expõe que:
Defendemos no governo provisório o princípio de que este assunto [construção de
casas para opoerários] deveria sempre ser da alçada do Estado, tal sua magnitude e
relevância. Embora muitos não queiram ver a obra realizada do governo provisório
no que concerne a construção de casas para trabalhadores, o que esse governo fez
[...] foi obra que merece ser aprecisada por aqueles que estudam o assunto [...] Não
desconheço que as instituições que se quer beneficiar nesta Casa, umas com o
crédito, outras com a cessão de grandes faixas de terras, são entidades da maior
benemerência. Mas, senhor presidente, a construção de casas para operários deve ser
obra obrigatória do Estado, tal a magnitude do problema, tais os encargos
financeiros que exige, indispencáveis para sua realização. É certo que, até 1930,
nada se havia feito nesse setor.

Habitar de maneira humana e/ou confortável é inegavelmente um problema do


governo, o que discute-se ainda hoje é de qual dos três poderes é a responsabilidade -
Municipal, Estadual ou Federal (BONDUKI, 2004). Visto que é obrigação prioritária do
governo proporcionar o bem estar público, a solução para as condições precárias em que vive
a grande maioria da população brasileira não deve ser procrastinada ainda mais.
Diversos setores sociais eram a favor da intervenção pública do Estado nas edificações
habitacionais de interesse social, pois, a partir daí, caberia ao Estado assegurar habitações
dignas e para isso acontecer, recursos públicos e fundos sociais deveriam ser investidos,
através da concepção e consolidação dos órgãos responsáveis tanto pela construção quanto
pelo financiamento das habitações (BONDUKI, 2004).
Com o passar do tempo alguns órgãos públicos que tratavam de habitações sociais
foram criados e mais tarde foram extintos, como é o caso do BNH (Banco Nacional de
Habitação) criado em 1964 pelo regime militar, com o intuito de angariar o apoio político de
grande parte da população desabrigada. Extinto em 1986, o BNH foi responsável pela
edificação de 25% das unidades habitacionais existentes no Brasil (BONDUKI, 2004).
Após 1986, a ação do governo federal no tocante às habitações sociais se tornou uma
“dança das cadeiras”, onde apenas pequena parcela de pessoas eram criteriosamente
selecionadas (BONDUKI, 2004). Desenvolver ações que beneficiem moradias populares
21

tornou-se tarefa dos municípios, apoiados ou não, por seus governos estaduais.
O novo modelo de financiamento, clientista, surgido a partir de 1980 e focado em
projetos locais, em consonância com a nova Constituição Federal, foi de extrema importância
para a continuidade das políticas habitacionais (BONDUKI, 2004).
Todavia, mais do que tudo, contou a iniciativa de governos municipais progressistas,
comprometidos com políticas sociais e com a democratização da gestão local,
assumindo o vácuo deixado pela não-política Federal, gerando um novo padrão
descentralizado de política pública, com alto grau de inovação que vem firmando
uma alternativa válida e desejável (ABIKO; ORNSTEIN, 2002, p. 15).

Em Alagoas, o primeiro diagnóstico habitacional foi preparado em 1988 através da


SEPLAN/AL – Secretaria de Planejamento do Estado de Alagoas e do FIPLAN – Fundação
Instituto de Planejamento de Alagoas. Uma nova política habitacional começa a ser definida
logo no início dos anos 2000. Em 2001 foi aprovado o Estatuto da Cidade, que regulamenta
os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e tem como principal objetivo tratar o
planejamento urbano e a questão habitacional, garantindo assim o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Dois anos mais tarde é concebido o
Ministério das Cidades, responsável por ser o órgão coordenador, gestor e desenvolvedor da
Política Nacional de Desenvolvimento Urbano – PNDU e principal responsável pelo
incentivo aos municípios na elaboração dos Planos Diretores Participativos (PEHIS, 2010).
Surge em 2005 o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social - SNHIS que, em
parceria com o Sistema Nacional de Habitação de Mercado – SNHM, formam o Sistema
Nacional de Habitação - SNH. Paralelo a isso, institui-se o Fundo Nacional de Habitação de
Interesse Social – FNHIS (PEHIS, 2010).
Em 2009 o Plano Nacional de Habitação – PlanHab é concretizado, possibilitando que
as ações públicas e privadas fossem planejadas de forma sistemática, focadas nas
necessidades habitacionais do País, deixando claro os quatro eixos das ações simultâneas:
financiamento e subsídios, arranjos institucionais, cadeia produtiva da construção e estratégias
urbano-fundiárias (PEHIS, 2010). Conjuntamente a esse processo, é lançado o Programa de
Aceleração do Crescimento - PAC. Em meio à crise econômica financeira internacional, é
introduzido o Programa Minha Casa Minha Vida – MCMV. O Governo de Alagoas lança em
2010 o Plano Estadual de Habitação de Interesse Social – PEHIS/AL, documento instituído
com a finalidade de proporcionar moradias dignas e reduzir a pobreza da população,
orientando, delimitando e gerenciando a Política Habitacional.
É importante ressaltar que o lucro desenfreado almejado pelo mercado imobiliário fez
as questões de relação entre moradores e casas, questões afetivas, sentimento de apropriação e
22

outras questões de habitabilidade perderem o valor diante do atual cenário (VILLA;


ORNSTEIN, 2013). As edificações não são estabelecidas unicamente por seus aspectos
construtivos, apesar desse ser de extrema relevância. As habitações conectam as pessoas,
criam laços entre indivíduos e gerações; passado, presente e futuro dos moradores e vários
outros fatores das questões de contexto socioespacial (VILLA; ORNSTEIN, 2013).
[...] a moradia é um reflexo do estágio evolutivo de uma civilização, representando
o estágio tecnológico que se encontra um grupo, o modo como ele interage com o
meio ambiente e as peculiaridades de suas relações internas (entre membros) e
externas (com quem não pertence a ele) (VILLA; ORNSTEIN, 2013, p. 17).

Existem no Brasil diversos estudos que apontam os fatores negativos das atuais
habitações de interesse social, como por exemplo, alta densidade de ocupação, falta de
paisagismo no entorno, falta de acuidade estética, conforto, má inserção urbana, entre outros
(VILLA; ORNSTEIN, 2013).
Os Conjuntos Habitacionais de Interesse Social apresentam, num contexto geral,
inúmeros problemas de irregularidades, uso e manutenção tanto nos espaço coletivos quanto
em sua infraestrutura urbana.
Edificações que não contemplam em seus projetos aspectos de ergonomia e adequação
climática ao local no qual se inserem, além de um trabalho técnico social que adapte os
moradores às particularidades dos sistemas complementares que fazem as unidades
funcionarem acarretam problemas de conforto ambiental, segurança, funcionalidade, além é
claro, de danificar a manutenção das redes de águas e esgoto. A inexistência de uma avaliação
metodológica dos pontos positivos e negativos frente à construção das edificações
encaminhou os municípios à repetição dos métodos de soluções adotadas até hoje (ABIKO;
ORNSTEIN 2002).
Vale ressaltar que os Conjuntos Habitacionais de Interesse Social “apresentam um
espaço contínuo e indiferenciado, desconhecido da maior parte da população brasileira, que se
localiza e identifica com a rua, a praça e a cidade” (ABIKO; ORNSTEIN, 2002, v. 1, p. 135).
Esse espaço público, geralmente refuta o espaço privado de cada habitação presente no
conjunto. Na maioria dos casos, observa-se que os espaços coletivos são abandonados, não
tendo manutenção alguma devido à indefinição espacial e legal dos limites entre público, semi
público e privado, além da renegação da manutenção do respectivo local (ABIKO;
ORNSTEIN, 2002).
23

3 PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS PARA ARQUITETURA E HABITAÇÃO


SOCIAL

3.1 Arquitetura bioclimática

3.1.1 Conceito
Arquitetura Biclimática é a arquitetura que contempla uma conexão direta com a
natureza. Os projetos bioclimáticos são fundamentados a partir da adequação ao clima, à
vegetação, à topografia e à geologia do solo, com o objetivo de minimizar as necessidades de
energia mecânica da edificação, proporcionando maior conforto térmico, acústico e luminoso.
Esse tipo de arquitetura visa respeitar a paisagem existente e integrar a edificação nela,
buscando proporcionar o melhor benefício das condições ambientais, diminuindo os impactos
negativos ao meio ambiente (BROWN; DEKAY, 2004).
Segundo Torres (2017) a arquitetura bioclimática constitui-se no harmônico e
apropriado relacionamento existente entre o ambiente construído e o clima local, objetivando
alcançar o conforto ambiental humano. Todavia, é importante salientar que a arquitetura
bioclimática deve ser trabalhada não apenas na escala do edifício, mas também, na escala
urbana, pois, o entorno urbano deve estar em consonância com as estratégias a serem
utilizadas visando o conforto ambiental tanto da edificação quando do seu entorno, um vez
que fatores como iluminação e ventilação natural dependendem de condições urbanas
favoráveis (TORRES, 2017).

3.2 O clima e a adequação da arquitetura no nordeste


Como foi visto anteriormente, o papel da arquitetura é, além de inúmeros outros,
contribuir para o conforto da edificação, minimizando as diferenças entre as temperaturas
externas e internas do ambiente (FROTA; SCHIFFER, 2001).
O desempenho térmico satisfatório da edificação não depende unicamente de
estratégias de projeto. Em casos de temperaturas muito rígidas se faz
necessário,inevitavelmente, a utilização de equipamentos para refrigeração ou aquecimento;
contudo, é imprescindível propor alternativas que maximizem o desempenho térmico natural,
reduzindo ao máximo o uso de equipamentos climatizadores (FROTA; SCHIFFER, 2001).
Adaptar a arquitetura ao clima local consiste em edificar espaços que proporcionem ao
homem condições de conforto. Compete à arquitetura diminuir as sensações de desconforto,
como calor e frio execessivos, e proporcionar espaços internos tão confortáveis quanto os
24

espaços ao ar livre em climas amenos (FROTA; SCHIFFER, 2001).


As variáveis climáticas são diferentes para cada região do planeta em consequência de
fatores como circulação atmosférica, topografia, distribuição oceânica, latitude e altitude
(FROTA; SCHIFFER, 2001). Deve-se antes mesmo de executar o primeiro traço de um
croqui arquitetônico estudar o clima, afim de traçar estratégias específicas, levando em
consideração o comportamento das variáveis climáticas como temperatura do ar, umidade
relativa do ar, direção e velocidade dos ventos (CORBELLA; CORNER, 2011).
De modo geral, o nordeste brasileiro é marcado pelo clima tropical quente úmido e
exige estratégias específicas tanto de projeto quanto de materiais utilizados nas edificações. A
variação de temperatura no nordeste não é tão brusca ao ponto de causar desconforto nas
pessoas e a ventilação noturna é sempre bem vinda (CORBELLA; CORNER, 2011).
Prever grandes aberturas para permitir maior circulação de ar e protegê-las da radiação
solar direta é fator preponderante para o conforto térmico e luminoso. A inércia térmica nas
construções não deve ser grande, afim de facilitar a saida do calor interno da edificação
durante o dia e proporcionar o resfriamento nortuno da construção (FROTA; SCHIFFER,
2001).
A distribuição das edificações nos lotes deve ser de forma tal que proporcionem uma
livre circulação dos ventos, para que estes atinjam todos os edifícios do entorno. Para isso, é
necessário que o projeto arquitetônico contemple construções alongadas no sentindo
perpendicular aos ventos, para que assim toda a edificação seja arejada (FROTA; SCHIFFER,
2001).

3.3 A caracterização climática de Arapiraca - AL


Arapiraca está localizada na mesoregião do agreste alagoano, com clima tropical.
Possui duas estações bem definidas, sendo uma denominada quente e seca, que ocorre entre
os meses de novembro a fevereiro, onde há uma amplitude térmica elevada e baixa umidade
relativa do ar durante o dia; e a outra estação quente e úmida, que ocorre entre os meses de
março a outubro, onde há um maior índice de chuvas, umidade relativa do ar e baixa
amplitude térmica (TORRES, 2017).
Segundo Torres (2017, p. 106), a partir da análise de dados coletados através da
estação do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) entre os anos de 2008 a 2016, foi
possível constatar que:
No período de outono e inverno, observou-se, através da análise dos valores médios
horários das principais variáveis climáticas, que os dias são caracterizados por
temperatura do ar elevada e moderada umidade relativa do ar (umidade acima de
25

60%). Porém, foi verificada, nos horários noturnos, uma redução dos valores de
temperatura do ar, ocasionando a amenização térmica. Neste período quente e úmido
também são observados os maiores índices de precipitação, com dias tipicamente
chuvosos. Foi detectada, ainda neste período, amplitude térmica inferior a10ºC
(entre 6°C e 10°C).

Ainda de acordo com Torres (2017, p. 107)


No período, quente e seco (primavera e verão), os dias apresentam temperatura do ar
elevada e baixa umidade relativa do ar (umidade inferior a 50%). A amplitude
térmica é elevada, correspondendo a valores acima de 10°C, sendo o índice de
pluviosidade baixo, com poucos dias de chuva.

As direções predominantes dos ventos são leste, apresentando 41,36% de ocorrências


e sendo mais frequente entre outubro a abril, e sudeste, com 29,04% de ocorrências entre os
meses de maio a setembro (TORRES, 2017).
A figura 5 apresenta o gráfico da rosa dos ventos a partir dos dados climáticos do
INMET publicados na plataforma PROJETEEE do Laboratório de Eficiência Energética em
Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina.

Figura 5 – Gráfico da Rosa dos Ventos de Arapiraca, AL

Fonte: PROJETEEE (2017). Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br/dados-climaticos/

3.4 Estratégias bioclimáticas para habitações em Arapiraca-AL


Com base na compreensão do clima local e auxílio da ABNT NBR 15220:
Desempenho Térmico de Edificações, da ABNT NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho parte 4 e parte 5, da Carta Bioclimática de Givoni (GIVONI, 1992), através da
utilização do programa Analysis Bio – LABEEE, realizou-se a coleta de informações
26

necessárias, bem como os procedimentos pertinentes para identificar quais as estratégias


bioclimáticas aplicáveis para proporcionar maior conforto as edificações em Arapiraca.

3.4.1 O Zoneamento Bioclimático, suas diretrizes e a norma de desempenho das edificações


habitacionais
De acordo com a NBR 15220-3 (ABNT, 2005) o Zoneamento Bioclimático consiste na
divisão do território brasileiro em oito zonas de estudo relativamente homogêneas quanto ao
clima (figura 6). Para cada zona são feitas recomendações de estratégias de condicionamento
térmico passivo para habitações de interesse social.

Figura 6 – O zoneamento bioclimático brasileiro

Fonte : NBR 15220 – Desempenho Térmico de Edificações

A cidade de Arapiraca situa-se na Zona Bioclimática Z8 e assim como nas outras sete
zonas, a Z8 exige algumas diretrizes específicas a fim de garantir o conforto ambiental aos
usuários da edificação.
A NBR 15220-3 (ABNT, 2005) recomenda que para cidades localizadas na Zona
Bioclimática Z8 as aberturas para ventilação sejam amplas e sombreadas, com abertura para
27

ventilação superior a 40% da área de projeção do piso no ambiente, com a finalidade de


proporcionar maior e constante renovação de ar, impedindo a entrada da radiação solar direta
dentro dos ambientes da edificação.
Ainda segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), as paredes de vedações externas
devem ser leves e refletoras, assim como a coberta da edificação. Afirmam Browm e Dekay
(2004, p. 251) que:
As superfícies externas refletivas podem incrementar a quantidade de radiação que
ingressa através das aberturas projetadas para captar o sol. A quantidade de radiação
refletida para dentro da abertura depende dos ângulos entre o sol, o refletor e a
abertura, o tamanho e a refletância do refletor e a latitude na qual se encontra o sítio
da edificação.

A tabela 1 mostra o percentual de absortância e refletância solar de alguns materiais


utilizados nos acabamentos de edificações.

Tabela 1 – Absortância e refletância solar dos acabamentos


Acabamento refletivo Absortância (%) Refletância (%)
Tinta preta fosca ótica 0,98 0,02
Tinta preta fosca 0,95 0,05
Verniz preto 0,92 0,08
Tinta chumbo 0,91 0,09
Concreto preto 0,91 0,09
Verniz azul escuro 0,91 0,09
Tinta a óleo preta 0,90 0,10
Tijolos azuis tipo Stafford 0,89 0,11
Tinta fosca oliva escuro 0,89 0,11
Tinta marrom escuro 0,88 0,12
Tinta azul escuro acinzentado 0,88 0,12
Azul celeste/ verniz verde escuro 0,88 0,12
Concreto marrom 0,85 0,15
Tinta marrom 0,84 0,16
Tinta marrom claro 0,80 0,20
Verniz marrom ou verde 0,79 0,21
Tinta anticorrosiva 0,78 0,22
Tinta a óleo cinza claro 0,75 0,25
Tinta a óleo vermelha 0,74 0,26
Tijolos cor natural 0,70 0,30
Concreto cor natural 0,65 0,35
Tijolos laranja levemente claro 0,60 0,40
Tinta verde fosca 0,59 0,41
Tinta laranja 0,58 0,42
Tinta amarela 0,57 0,43
Tinta azul 0,51 0,49
Tinta verde médio 0,51 0,49
Tinta verde claro 0,47 0,53
Tinta branca semibrilho 0,30 0,70
28

Tinta branca brilho 0,25 0,75


Tinta prateada 0,25 0,75
Verniz branco 0,21 0,79
Refletor de alumínio polido 0,12 0,88
Película Mylar aluminizada 0,10 0,90
Acabamentos especiais (laboratórios) 0,02 0,98
Fonte: BROWN; DEKAY, 2004.

A NBR 15220-3 (ABNT, 2005) afirma que as telhas de barro são bem vindas em
residências que não possuem forro quando não esmaltadas ou pintadas, a fim de garantir um
maior isolamento da construção por meio da não obstrução dos poros criados no processo de
cozimento do barro.
Além das diretrizes construtivas; a NBR 15220-3 (ABNT, 2005) sugere também que a
edificação tenha uma estratégia de condicionamento térmico passivo conhecida por ventilação
cruzada permanente, que além de ventilar de forma natural, proporciona a desumidificação
dos ambientes por meio da renovação constante do ar. Obtemos a ventilação cruzada por meio
da circulação de ar pelos ambientes da edificação. Vale lembrar que se o ambiente tiver
janelas apenas em um lado, a porta deverá ser mantida aberta, permitindo assim a ventilação
cruzada. É importante levar em consideração os ventos predominantes da região e do entorno,
pois o entorno influencia diretamente a direção dos ventos.
A norma de desempenho de edificações habitacionais NBR 15575 (ABNT, 2013)
complementa mostrando que para as alvenarias nas condições de verão, o valor máximo
diário da temperatura do ar no interior da edificação deve ser menor que o valor máximo
diário da temperatura do ar exterior à edificação. Sobre as aberturas para ventilação, a norma
estabelece que estas devam ter área útil superior a 8% a área de projeção do piso. A norma diz
ainda que para as coberturas, se a absorbância for menor que 0,4 a transmitância térmica deve
ser menor ou igual a 2,3, caso a absorbância seja maior do que 0,4 a transmitância térmica
deve ser menor ou igual a 1,5. A tabela 2 ilustra um breve comparativo entre as NBR’s 15220-
3 e 15575, no tocante aos parâmetros acima descritos.

Tabela 2 – Comparativo entre a NBR 15220-3 e NBR 15575

NBR 15220-3 (ABNT, 2003) – Desempenho térmico de NBR 15575 (ABNT, 2013) – Edificações
edificações habitacionais - Desempenho
Aberturas para ventilação A Sombreamento das Aberturas para ventilação Sombreamento das
(em % da área de piso) aberturas A (em % da área de piso) aberturas
Grandes Sombrear arberturas Aberturas grandes Possibilitar o controle
A > 40% A ≥ 15% da entrada de luz e
29

calor pelas aberturas

Paredes externas Cobertura Paredes externas Cobertura


U ϕ FSo U ϕ U U min** CT min U α
≤ 3,60 ≤ 4,3 ≤ 4,00 ≤ 2,30.FT ≤ 3,3 ≤ 6,5 ≤ 3,7 e α ≤ 0,60 Sem ≤ 2,3 FV α ≤ 0,4
(leve (leve ≤ 2,5 e α > 0,60 Exigen. ≤ 1,5 FV α > 0,4
refletora) refletora)
Fonte: Adaptado das NBR 15220-3 (ABNT 2003) e NBR 15575 (ABNT 2013)

Apesar das duas normas se complementarem, a NBR 15220-3, descreve entre outros
aspectos, o zoneamento bioclimático brasileiro relacionado às diretrizes construtivas voltadas
às habitações de interesse social através das estratégias de condicionamento térmico passivo.
Já a NBR 15575, estipula exigências e parâmetros de desempenho apropriado às edificações
habitacionais, propiciando as condições de habitabilidade por meio de quesitos dos usuários
explícito por diversos fatores, entre eles, o desempenho térmico dos ambientes. É importante
observar que NBR 15575 é bem extensa, com isso as partes mais relevantes para esse trabalho
são as partes 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas e parte 5: Sistemas de
coberturas
Partindo da premissa de que a norma de desempenho surge para atender as exigências
dos usuários, através da definição de alguns critérios preestabelecidos e métodos avaliativos,
percebe-se que a NBR 15575 não recomenda indicadores de conforto térmico, uma vez que o
método de avaliação não possibilita a mensuração do atendimento dos requisistos térmicos
necessários aos usuários.

3.4.2 A Carta Bioclimática e a Carta Solar


Torres (2017) explica que a análise bioclimática foi embasada em dados climáticos
disponíveis para a cidade de Arapiraca. A partir da plotagem dos dados da cidade em questão,
utilizando um estudo do ano climático de referência (TRY) correspondente ao ano de 2010,
coletados através da estação automática do INMET (A253), inseriu-se os dados horários
correspondentes à temperatura e umidade relativa do ar no software Software Analysis BIO1
(LABEEE, 2017) com a finalidade de obter a Carta Bioclimática de Givoni (1992), adaptada
para o Brasil (Goulart et al, 1994) (figura 7), que determina as estratégias climáticas
adequadas ao alcance do conforto térmico em um determinado local e traça os percentuais de

1
Software que auxilia no processo de adequação de edificações ao clima local. Desenvolvido pelo
Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LabEEE.
30

estratégias necessárias para que obtenhamos maior conforto no interior das edificações
(BROWN; DEKAY, 2004).

Figura 7 – Carta Bioclimática do município de Arapiraca gerada pelo programa Analysis


Bio (LABEEE, 2017) partir dos dados do TRY (2010)

Fonte: Analysis BIO (LABEEE, 2017)

Tabela 3 – Percentual referente a aplicação das estratégias bioclimáticas apontadas pelo Analysis BIO a partir do
TRY 2010 – Arapiraca-AL
Geral Estratégias para resolver as horas de Estratégias para resolver as horas de
desconforto por calor desconforto por frio
Conforto: 17,8% Ventilação: 73,2% Alta Inércia Térmica p/ Aquecimento: 6,18%
Desconforto: 82,2% Alta Inércia p/ Resfriamento: 17,4% Aquecimento Solar Passivo: 0%
Por Frio: 6,19% Resfriamento Evaporativo: 16,1% Aquecimento Artificial: 0,0114%
Por Calor: 76% Ar Condicionado: 0,103%
Fonte: TORRES (2017)

Tabela 4 – Estratégias bioclimáticas indicadas pelo pelo programa Analysis BIO a partir do TRY 2010
para a cidade de Arapiraca
Estratégias para solucionar desconforto térmico
Por calor Por frio
Ventilação Alta Inércia Resfriamento Ar Alta Inércia
Estações p/ Evaporativo Condicionado Térmica p/
Resfriamento Aquecimento
Solar
Primavera 71,50% 24,50% 24,40% 0,05% 3,61%
Verão 81,10% 29,40 28,60% 0,32% 0,00%
Outono 91,10% 14,80% 13,90% 0,36% 0,27%
Inverno 49,10% 0,23% 0,23% 0,00 20,70%
Fonte: TORRES (2017)

Com base nos dados climáticos horários do TRY (2010), observa-se que o percentual
de horas em desconforto é relativamente alto, cerca de 82,2%. Essa informação é de extrema
31

importância, pois a paritr dela é possível que se trace uma metodologia para tratamento das
fachadas das edificações e de seu entono, visando a amenização da temperatura interna das
edificações e a melhoria nas condições de conforto térmico (TORRES, 2017). É importante
observar que para a adequação climática das edificações situadas em Arapiraca, as estratégias
mais indicadas são ventilação, resfriamento evaporativo e alta inércia térmica para
resfriamento.
A carta solar representa a trajetória solar na abóboda celeste e determina ainda a
posição do Sol em termos de altura e azimute para qualquer horário na cidade; ela é a
principal ferramenta para projetos e análises de projeções solares, pois possibilita o
dimensionamento de elementos de proteção solar, além de melhor dispor as aberturas
(BROWN; DEKAY, 2004, p. 36). Em um projeto de arquitetura, a disposição e o
sombreamento das aberturas é de grande importância no controle dos ganhos térmicos solares
e no aproveitamento de luz natural nos ambientes (CORBELLA; CORNER, 2011). As figuras
8 e 9 apresentam a Carta Solar de Arapiraca, auxiliando no projeto de proteções solares
através da visualização gráfica dos ângulos de projeção desejados sobre transferidor de
ângulos.

Figura 8 – Carta Solar de Arapiraca-Al até Figura 9 – Carta Solar de Arapiraca-Al


21 de junho pós 21 de junho

Fonte: PROJETEEE (2017). Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br/dados-climaticos/

3.4.3 Estratégias bioclimáticas adotadas


De acordo com a análise climática e suas variáveis, pode-se notar a necessidade de
incluir no projeto arquitetônico mecanismos capazes de manipular as diversas condições de
32

ventilação e iluminação natural visando o maior conforto dos usuários no interior das
edificações (CORBELLA; CORNER, 2011).
As estratégias adotadas nesse trabalho serão:

➢ Ventilação cruzada;

➢Sombreamento;

➢Alta inércia térmica para resfriamento, e

➢Resfriamento evaporativo

3.4.3.1 Ventilação cruzada


A ventilação cruzada nada mais é que o posicionamento das aberturas em relação ao
sentido de escoamento do vento, de maneira que o ar adentre por uma abertura e saia por
outra oposta, como mostra a figura 10.

Figura 10 – Ventilação cruzada

Fonte: Tamanini (2009)

Segundo Browm e Dekay (2004, p. 205) “A taxa na qual o ar flui através de um


cômodo, retirando o calor consigo, é uma função da área das entradas e saídas de ar, da
velocidade do vento e da direção do vento em relação às aberturas”.
A ventilação natural torna-se uma estratégia muito eficiente na remoção das cargas
térmicas no interior das edificações, além de proporcionar um resfriamento fisiológico aos
usuários (BITTENCOURT et al., 2010). Conforme determina a NBR 15220-3 (ABNT, 2003)
a qualidade do ar é mantida pela constante renovação do mesmo, dentro dos diversos
ambientes. Com isso as impurezas são removidas e o oxigênio é mantido em níveis adequados
33

(BITTENCOURT et al., 2007).


Dentre os dispositivos que podem potencializar o aproveitamento da ventilação natural
em edificações, pode-se citar o o uso de elementos vazados. A utilização do elemento vazado
de parede – cobogó – além de fornecer inúmeras possibilidades plásticas fornece
luminosidade e deixa a brisa penetrar no lote da edificação.
Os cobogós (figura 11), são elementos arquitetônicos típicos do nordeste, geralmente
no formato de blocos vazados, que podem ser aplicados nas edificações para promover
soluções construtivas econômicas e racionais para o controle de insolação e ventilação dos
ambientes. Os painéis de elementos vazados são componentes arquitetônicos de uso comum
por ser um tipo de fechamento de baixo custo e satisfatório desempenho ambiental,
funcionando como recursos que propiciam proteção solar e filtram a intensa luminosidade da
abóbada celeste, em determinadas regiões, além de proporcionarem permanente ventilação
natural e apresentarem custos reduzidos e facilidade de fabricação (CORBELLA; CORNER,
2011).

Figura 11 – Elementos vazados

Fonte: Tamanini (2009)

3.4.3.2 Sombreamento
Essa estratégia é de extrema importância na redução dos ganhos térmicos da
edificação. As proteções solares projetadas adequadamente evitam ganhos solares demasiados
no verão sem atrapalhar a entrada da ventilação, iluminação natural e o sol necessário em
períodos de inverno, por exemplo (BROWN; DEKAY, 2004).
Segundo Brown e Dekay (2004, p. 106)
34

Quando uma fachada está na sombra, sua temperatura superficial está mais baixa e
assim a edificação recebe menos calor e usa menos energia para o esfriamento.
Quando as ruas e calçadas estão sombreadas no verão, as temperaturas radiantes
diurnas médias são inferiores, criando mais conforto para os pedestres.

Além do uso de beirais, ou copas de árvore que ajudam a melhororar o conforto no


ambiente externo e interno, auxiliando na redução do efeito de ilha de calor, faz-se necessário
o uso de dispositivos como os brises para melhorar o sombreamento das aberturas das
edificações, auxiliando no controle da entrada de uluminação natural e insolação direta.
Os brises (figura 12) funcionam como uma barreira contra a radiação solar direta.
Quando projetados de forma horizontal, são indicados para fachadas Norte e Sul, quando
projetados de forma vertical, são ideais para fachadas Leste e Oeste. Os brises são proteções
que além de sombrearem, permitem que o ar seja renovado no interior dos ambientes, mesmo
em épocas de chuvas (HOLANDA, 1976). Os brises a serem utilizados nesse trabalho, serão
do tipo malha mista, vertical e horizontal.

Figura 12 – Brises verticais e horizontais

Fonte: Bitencourt (2013)

3.4.3.3 Alta inércia térmica para resfriamento


A utilização da alta inércia térmica para resfriamento possibilita a diminuição da
diferença de temperatura entre o interior e o exterior da edificação. Com uso de massa térmica
de terra ou materiais isolantes na construção, é possível evitar grandes picos térmicos no
35

interior dos recintos (TORRES, 2017). Abaixo, elenca-se dois meios para favorecer essa
estratégia:

➢Telhado verde
A inclusão da vegetação nas superfícies dos telhados é de extrema importância para a
requalificação ambiental das cidades, pois os centros urbanos estão cada vez mais distantes
das áreas verdes devido à escassez de espaços livres. Mesmo não sendo utilizado na presente
proposta de anteprojeto arquitetônico, julgou-se necessário a sua apresentação.
Os telhados verdes (figura 13) apresentam elevado desempenho no resfriamento
devido à evapotranspiração das plantas que retiram parte da energia do sol para realizar seus
processos biológicos de fotossíntese e transpiração. “A cobertura verde oferece muitos
benefícios, pois reduz o efeito de ilha térmica, pode gerar altos valores de isolamento, diminui
o escoamento pluvial e, possivelmente, cria um hábitat para a fauna e a flora local” (KWOK;
GRONDZIK, 2013, p. 29).
Segundo Parizotto Filho (2010, p. 89):
A tecnologia dos telhados vegetados tem sido largamente investigada e utilizada nas
últimas décadas em diversas cidades ao redor do mundo como estratégia
bioclimática para o aumento da eficiência energética das edificações e do conforto
térmico dos usuários. Além da economia de energia, grande parte do interesse na
tecnologia deve-se a muitas outras vantagens socioambientais, sendo as principais o
potencial para redução de enchentes urbanas e mitigação dos efeitos climáticos de
ilhas de calor, problemas comuns a quase todas as áreas densamente ocupadas.

Figura 13 - Cobertura verde experimental sobre um edifício (esquerda) da Universidade Nacional de


Yokohama, Japão. O lado esquerdo da cobertura possui quadrados de trevo, enquando o lado direito é uma
superfície convencional exposta. A termografia infravermelha (direita) mostra o efeito da cobertura verde nas
temperaturas das superfícies. ECOTECH LABORATORY

Fonte: Kwok; Grondzik, (2013)

Ainda de acordo com Parizotto Filho (2010), algumas vantagens da utilização do


36

telhado verde são: combatem o efeito ilha de calor urbano, melhora a qualidade do ar, filtra o
ar, absorve a chuva, reduz a emissão de CO2 da edificação, aumenta os espaços de habitat
para a fauna local; favorecem espaços agradáveis aos olhos, com possibilidade de uso para
lazer e agricultura familiar; aumento da eficiência energética nas edificações e maior
longevidade da cobertura.
Num contexto geral os telhados verdes proporcionam isolamento através da camada de
ar entre a grama e a camada de substrato, isolamento acústico e capacidade de armazenamento
de calor, melhoram a qualidade do ar urbano, drenam a água, evitam as radiações UV e fortes
variações de temperatura, absorvem a poeira, resgatam áreas verdes e melhoram a qualidade
de vida das pessoas. A massa térmica da cobertura de terra do telhado verde diminui a
incidência da radiação direta no telhado, tanto no verão quanto no inverno (KWOK;
GRONDZIK, 2013).

➢ Telhado leve reflexivo


Os revestimentos refletivos para telhados são produtos aplicados aos telhados de casas
e prédios comerciais e residenciais para reduzir o calor solar, especialmente em áreas com
clima quente e ensolarado em boa parte do ano (figura 14). Esses tipos de revestimentos
reflexivos podem reduzir as temperaturas superficiais dos substratos consideravelmente,
sendo que estes produtos também têm um grande impacto sobre os custos de resfriamento.
Estudos realizados em laboratórios em todo o mundo estimam que este modelo de
revestimento de telhado é capaz de gerar a economia de cerca de 25% no consumo de energia
gasto em climatização de ambientes industriais (BONAFÉ, 2017).

Figura 14 – Telhado leve reflexivo

Fonte: Acesso livre. GOOGLE (2017)


37

3.4.3.4 Resfriamento evaporativo


O resfriamento evaporativo (figura 15) ocorre quando umidifica-se o ar com o
propósito de reduzir a temperatura do mesmo, contribuindo na formação de um microlima
local. Fontes de água como espelho d’água, cascata, chafariz ou até mesmo grupamentos
arbóreos, proporcionam tal estratégia (TORRES, 2017).

Figura 15 – Resfriamento evaporativo

Fonte: Tamanini (2009)

Essa estratégia é extremamente eficiente e uma das mais antigas. Seu processo
consiste na retirada do calor da superfície ou matéria através da evaporação da água. Quando
localizados próximos às aberturas da edificação, a massa de ar resfriada alcança o interior dos
espaços construídos auxiliando as trocas térmicas (BROWN; DEKAY, 2004).
De acordo com Brown e Dekay (2004), quando o entorno da edificação possui
cobertura vegetal há grandes melhorias nas condições de conforto da edificação, pois, a água
retida no processo de convecção é evaporada, gerando um resfriamento pela diminuição da
temperatura do ar.
Além da utilização das estratégias bioclimáticas, o projeto da edificação pode
contemplar soluções e equipamentos para potencializar o uso dos recursos naturais para
auxiliar a redução do consumo de energia elétrica. A utilização da energia solar, por exemplo,
pode ser adotada para esta finalidade (figura 16).
A energia solar abundante no Nordeste pode ser aproveitada para atender uma grande
demanda de necessidades. Dentre as diversas aplicações, a conversão da energia solar em
energia elétrica através do efeito fotovoltaico (figura 17) ocorre de forma silenciosa, não
38

poluente, renovável e estática, sendo o processo que se apresenta mais viável na geração de
potência elétrica (RUTHER, 2004). “Os sistemas fotovoltaicos produzem eletricidade por
meio da conversão direta da radiação solar incidente (insolação)” (KWOK; GRONDZIK,
2013, p. 225). A energia gerada pode ser utilizada diretamente na edificação ou conectada a
uma rede elétrica externa, como mostra a figura 40 (KWOK; GRONDZIK, 2013).

Figura 16 – Sistema de aquecimento solar

Fonte: Acesso livre. GOOGLE (2017)

Figura 17 – Diagrama esquemático de sistemas fotovoltaicos; conectado à rede pública (superior) e não
conectado à rede pública (inferior)

Fonte: Kwok; Grondzik (2013)


39

4 O LOTEAMENTO IRREGULAR FREI DAMIÃO

4.1 Área de intervenção


Situada a 280 metros acima do nível do mar, a cidade de Arapiraca, estado de Alagoas
(figura 18), com seus 214.006 habitantes (IBGE, 2010) possui clima tropical quente subúmido
seco e grande parte de seu território encontra-se em regiões planas (TORRES, 2017).

Figura 18 – Localização do município no nordeste brasileiro (A), situação geográfica no Estado de Alagoas -
região do agreste alagoano (B).

Fonte: TORRES (2017)

Dentro desse cenário destaca-se o bairro Canafístula, região tradicional com certa
notoriedade na cidade que possui 10.674 habitantes (IBGE, 2010). Com seus primeiros
habitantes vindos de cidades circunvizinhas, como Feira Grande, Anadia e Palmeira dos
Índios, o bairro tem uma história marcada por significativas conquistas através da participação
da população, como a construção da igreja, da escola e da unidade de saúde, que foram
concluídas através de doações de terrenos de moradores da comunidade (FACOMAR, 2003).
Por estar localizado distante do centro e consequentemente das instalações de lazer da
cidade, os próprios moradores desenvolveram, com o passar do tempo, meios para tais
atividades. Exemplo disso é o grande potencial cultural do bairro, que chegou a ser
considerado o primeiro ponto cultural de Arapiraca2.
Neste bairro encontra-se o loteamento irregular Frei Damião, objeto de estudo do
presente trabalho (figura 19), conhecido popularmente por Valentin, nome que faz referência à
Cícero Valentin, ex-vereador e antigo proprietário do terreno do conjunto.

2
Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo elaborada para
as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
40

Figura 19 – Loteamento irregular Frei Damião, Arapiraca-AL

Fonte: Google Earth com alteração pessoal (2018)

Com pouco mais de 20 anos de existência, o Frei Damião surgiu através da doação do
terreno pelo já citado ex-vereador, atraindo durante sua ocupação famílias das mais variadas
localidades, tanto de Arapiraca quanto de cidades circunvizinhas, que durante alguns anos
viveram de forma totalmente precária no local, em moradias improvisadas de lona3.
A área ocupada atualmente pelo Frei Damião corresponde a cerca de 80.000,00 m² e
abriga cerca de 4 mil pessoas, distribuídas em 900 famílias. De acordo com o Plano Diretor
Municipal de Arapiraca a área situa-se nas sequintes Zonas urbanas:
➢ Zona Especial de Interesse Social ZEIS-A5: áreas já ocupadas por propriedade
privada ou públicas em áreas de conservação ou preservação ambiental e áreas

3
Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo elaborada para
as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
41

de favelas ou loteamentos irregulares (LEI 2.424/06, 2006);


➢ Zona Especial de Interesse Ambiental ZEIA-PN A2: zona de proteção aos
mananciais e remanescentes de cobertura vegetal (LEI 2.424/06, 2006).

4.1.1 Análise social, econômica e física da área a partir de entrevistas realizadas durante a
pesquisa de campo produzida para as disciplinas de PU2 e P5 em 2016
O loteamento irregular Frei Damião foi objeto de estudo das disciplinas Projeto de
Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016. Grupos de
alunos foram formados com a finalidade de entrevistar e registrar pontos relevantes sobre
questões sociais, econômicas, serviços públicos e de infraestrutura do Frei Damião.
Consequência da polarização social, a irregularidade fundiária é aliada a ocupações
por população de baixa renda, que devido ao alto custo de aluguel ou por outros motivos
econômicos e sociais, não obteve acesso à produção formal da habitação, e,
consequentemente, encontra-se impossibilitada de exercer plenamente sua cidadania no
âmbito da legalidade.
A habitação irregular é sinônimo de insegurança em todos os sentidos, visto que os
direitos dos cidadãos não são assegurados, tais como abrigo e conforto adequados, lazer,
educação e saúde. A ausência destes aspectos corresponde aos pontos mais citados nas
entrevistas realizadas com os moradores do loteamento irregular Frei Damião.
Os serviços escassos no local ocorrem por consequência da irregularidade presente das
edificações, tornando a população “invisível” frente à perspectiva das políticas públicas.
Devido a negligência política, os moradores acabam se deslocando até as áreas centrais com a
finalidade de terem acesso a serviços básicos.
A área do Frei Damião é considerada há anos abandonada pelas diversas autoridades
municipais, se distinguindo das demais regiões de Arapiraca por descaso político,
apresentando assim problemas de infraestrutura urbana, mobilidade e uso de espaços, gerando
péssima qualidade de vida para as famílias que ali se encontram.
Atualmente o local não possui uma boa configuração urbana. Muitas habitações foram
construídas pelos próprios moradores e foram delimitadas e ocupadas de forma totalmente
ilegal, sem nenhuma documentação oficial. Dessa forma, pela falta de um partido urbanístico
adequado, existe um grande prejuízo na presença de áreas verdes e vegetação no Frei Damião,
interferindo nas condições de moradia e vida da população. Segundo reclamações dos
moradores as residências são muito pequenas e não apresentam bom conforto térmico, um
42

fator muito importante para se ter o mínimo de qualidade na residência, considerando as


características climáticas da cidade de Arapiraca.
Através das entrevistas4 realizadas com os moradores da região cerca de 80% das
famílias que ali residem são compostas por grupos de 3 a 5 integrantes. A faixa etária varia
bastante e se distribui em maior parte em crianças e adultos de 30 a 49 anos, possuindo
também adultos de outras faixas etárias e idosos com mais de 60 anos.
Outro fator relevante apontado através das entrevistas é que 26 das 50 famílias
entrevistadas não apresentam renda fixa. A maior parte da população consegue renda através
de diversas atividades distintas, trabalhando em empregos informais, com artesanato,
ambulantes, comercializando doces, salgados e bebidas em pontos específicos da cidade.
Apenas uma pequena parcela da população que ali reside possui emprego formal no setor
privado. É importante ressaltar que alguns moradores alegaram que no surgimento do
loteamento a principal fonte de renda da população do bairro Canafístula era a agricultura,
fato que hoje não é mais tão comum.
Os moradores apontaram graves problemas em suas moradias (figura 20), visto que
algumas não possuem banheiros e outras ainda são vedadas com papelão e lona de plástico. A
maioria não possui nenhum conforto, mesmo em sua casa de alvenaria. Tais residências ainda
possuem área útil reduzida, em média 40,00 m²/50,00 m², e apresentam ausência de espaços
adequados e de aberturas, prejudicando a captação de ventos e iluminação, principalmente nos
espaços de permanência prolongada, como quartos.
Outro problema muito recorrente entre a população é a falta de acessibilidade que
pessoas com mobilidade reduzida encontram em suas residências e nos acessos gerais do
loteamento. Este dado é bastante relevante, já que aproximadamente 24% das famílias
entrevistadas possuem algum morador com deficiência e a precariedade da infraestrutura da
localidade prejudica diretamente a vida não só destes moradores, como também das pessoas
que momentaneamente tenham problema para se locomover.
Percebe-se que a garantia de uma mobilidade urbana eficiente se dá pela priorização
das pessoas e não dos veículos, garantindo dessa forma o acesso amplo e democrático ao
espaço urbano no conjunto de políticas de transporte e circulação.
Dado o exposto, nota-se que a mobilidade urbana da cidade de Arapiraca apresenta um

4
Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo
elaborada para as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
43

quadro caótico no ponto de vista operacional, funcional e de alcance. Ao não promover a


ligação entre os bairros, as vias de intercomunicação da cidade, que atualmente encontram-se
em estado precário, não cumprem sua principal função, provocando uma circulação viária
deficiente. Como as linhas de ônibus no município tem caráter nítido distrito-centro, muitos
bairros localizados em áreas mais periféricas da cidade ficam desassistidos de transporte
coletivo, como o Frei Damião, criando dessa forma uma barreira espacial, já que as vias
urbanas não pavimentadas dificultam uma política eficiente de transporte coletivo.

Figura 20 – Moradias no Frei Damião, Arapiraca-AL

Fonte: Arquivo pessoal (2016)

A ausência de política pública de transporte efetiva fez com que as pessoas


procurassem outros modos de locomoção, entre eles a motocicleta, que passou a ser o
principal meio de locomoção utilizado na cidade, seguido de automóveis, motoneta, entre
outros. Em função da falta de sinalização viária eficiente e ausência educação no trânsito,
como por exemplo, costume de andar na contramão, é preocupante também o aumento de
acidentes de trânsito na cidade.
De acordo com as entrevistas, os moradores da área estudada têm como principais
44

reclamações as distâncias imensas a serem percorridas até escolas (principal desejo dos
moradores para a localização do Frei Damião), postos de saúde, centro da cidade, entre outros
locais, devido à ausência de transporte coletivo. Os moradores relataram que quando há a
necessidade de atendimento médico de urgência, as ambulâncias não conseguem chegar no
local da emergência, tanto pelas ruas serem estreitas, quanto pela falta de infraestrutura
adequada no local.
Outro fator importante é a acessibilidade, que por sua vez, é inexistente no local,
quando se trata do acesso a um lugar com segurança e autonomia por todos, sem que hajam
barreiras. As calçadas, quando existentes, não atendem as larguras mínimas estabelecidas
pelas normas técnicas, nem tampouco a altura máxima dos desníveis necessários para a
locomoção hábil de pessoas com mobilidade reduzida.
Constataram-se também diversas carências no âmbito da Infraestrutura de saneamento
ambiental. No Frei Damião, foi implantada uma Estação de Tratamento de Esgoto – ETE,
porém não foi avaliada junto a CASAL a eficiência do sistema, e hoje encontra-se inativa,
mas segundo a líder comunitária Cecir, existe uma promessa de governo paraque a ETE venha
a funcionar, o que acarretaria na diminuição dos afluentes que escorrem pela região. O
loteamento também possui um grande espaço de brejo em área de preservação ambiental que
sem tratamento adequado pode causar problemas de drenagem e alagamentos na região,
favorecendo assim o surgimento de problemas de saúde pública.
Outro problema de grande destaque na área é a dificuldade com a coleta de lixo.
Devido ao fato das ruas serem estreitas (cerca de 3,00 metros de largura - figura 21), o veículo
público coletor de lixo não consegue se locomover através delas e a coleta é feita através de
caçambas localizadas na avenida de principal acesso e recolhida uma ou duas vezes por
semana. Os moradores reclamam da periodicidade da coleta de lixo, visto que o acúmulo de
lixo nas camçambas atraem insetos e outros animais transmissores de vetores.
45

Figura 21 – Padrão de rua no Frei Damião, Arapiraca-Al

Fonte: Arquivo pessoal (2016)

Em suma, as políticas públicas não são efetivas, o estado não age de forma
humanitária, mas sim visando o lucro, e quem não se enquadrar nos padrões preestabelecidos,
é de certa forma excluído e desamparado. Lembrando que sob o ponto de vista dos conflitos
sociais e da habitação, a visita ao Frei Damião apontou um alto índice de violência, o qual só
não é superado pelo índice de miséria que grande parte dos 4.000 (quatro mil) habitantes estão
submetidos, no que diz respeito à qualidade e disposição das moradias, mobilidade,
acessibilidade, disponibilidade de equipamentos urbanos e serviços públicos, entre outros.
46

5 O ANTEPROJETO URBANO-ARQUITETÔNICO

Considerando a problemática que foi exposta ao longo dos capítulos anteriores, a


proposta de anteprojeto urbano-arquitetônico a ser apresentada aqui visa, entre outros fatores,
proporcionar moradia digna e adequada bioclimaticamente, um melhor convívio social entre
todos os moradores da área e a preservação ambiental do entorno do Riacho Seco. Sendo
assim, a adequação urbanística do projeto contempla como área de intervenção o equivalente
a 28.118,80 m² dos 72.322,00 m² da área ocupada atualmente pelas moradias do loteamento
irregular Frei Damião (figura 22). Os outros 44.204,00 m² foram transformados em área verde
e área de equipamentos comunitários (figura 22 - quadra 3). De acordo com a Lei nº
12.641/12 – Código Florestal Brasileiro e a Lei 12.727/22 – Alteração do Código Florestal
Brasileiro, foi definida uma área de domínio para proteção das margens do Riacho Seco,
equivalente a 30,00 m do eixo do riacho para cada lado, além de estabelecer, de acordo com o
Plano Diretor Participativo – Lei nº 2.424/06, uma área de preservação permanente
equivalente a 120.236,10 m². O grande vazio urbano existente equivale a 196.250,36 m², foi
dividido em super quadras, ficando a quadra 1 (figura 22) com 82.303,33 m² e a quadra 2
(figura 22) com 113.947,03 m². A área total de intervenção, corresponde a 235.870,43 m²,
divididos em áreas habitacionais, equipamentos comunitários, área verde e área produtiva.

Figura 22 – Adequação Urbanística do Frei Damião

Fonte: Google Earth com alteração pessoal (2018)


47

No tocante ao partido arquitetônico, a principal preocupação e característica


norteadora do conceito plástico adotado foi conceber uma edificação que estimulasse a
interação comunitária, que fosse capaz de prover todas as unidades de conforto ambiental em
seu sentido amplo – térmico, acústico, lumínico e ergonômico – em condições igualitárias e
que elevasse a autoestima de seus ocupantes, a partir da qualidade construtiva e apelo estético
do conjunto como um todo. Como resultado, optou-se por distribuir a demanda identificada
de unidades habitacionais em 10 edifícios de 4 pavimentos cada, de formato estelar com pátio
central hexagonal, dispostos alternadamente pela área de implantação, a fim de proporcionar
movimento, permeabilidade visual e identidade ao conjunto. Cada edifício de 4 pavimentos
terá apenas 2 pavimentos ocupados por unidades habitacionais; a pavimento térreo (pilotis) de
alguns conjuntos, servirá apenas como espaço de convívio, cultural e de renda, já o segundo
pavimento de alguns onjuntos, terá a função de permitir a passagem da ventilação, além de ser
um componente estético, com seu fechamento em elementos vasados. Importante ressaltar que
a cor e os elementos vazados nas fachadas são elementos arquitetônicos que contribuem tanto
para a identificação do espaço individual dentro do universo dos edifícios, como também para
a ventilação e proteção solar das unidades. As áreas verdes denominadas de paisagismo
produtivo, serão áreas para o cultivo de hortaliças e vegetais comestivos e pomar, para que a
população possa obter renda com a venda desses alimentos, além de utilizarem para o
consumo próprio. Se outrora a comunidade do Frei Damião era reconhecida pela precariedade
urbana, a partir desse marco de readequação urbanística passará a ser reconhecida como um
local de qualidade de vida e estética urbana único na cidade de Arapiraca/AL (figura 23).

Figura 23 – Proposta de Implantação do conjunto arquitetônico

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


48

1.1. Condicionantes ambientais


Avaliar o estudo da ventilação e da insolação de um projeto, seja ele de arquitetetura
ou urbanístico, é algo que deve ser pensado desde o início. Esse estudo tem que ser concebido
mesmo antes de se traçar o primeiro risco do projeto.
Arapiraca está localizada na Mesoregião do Agreste Alagoano, com clima semiárido.
Possui duas estações bem definidas, sendo: uma denominada quente e seca que ocorre entre
os meses de novembro a fevereiro, onde há uma amplitude térmica elevada e baixa umidade
relativa do ar durante o dia; e a outra estação quente e úmida que ocorre entre os meses de
março a outubro, onde há um maior índice de chuvas, umidade relativa do ar e baixa
amplitude térmica (CLIMATE-DATA.ORG).
Como foi visto no capítulo 3, as estratégias destacadas para proporcionar um melhor
condicionamento térmico em habitações na cidade de Arapiraca-AL são:
➢ ventilação natural;
➢ alta inércia térmica para resfriamento;
➢ resfriamento evaporativo;
➢ sombreamento.
De acordo com a rosa dos ventos a ventilação predominante é nas fachadas sudeste e
leste. Com isso, sabemos que todos os ambientes de uso prolongado deverão estar
posicionados entre as fachadas Leste e Sul para maior aproveitamento da ventilação natural.
Todavia, de acordo com a proposta a ser trabalhada nem sempre é possível controlar a
incidência da radiação solar apenas com a implantação da edificação no lote, muitas vezes é
necessário utilizar mecanismos de controle solar, como os brises, por exemplo.
Seguem abaixo ilustrações do resultado do estudo solar do projeto para diferentes
horários ao longo do dia (figuras 24, 25 e 26).
49

Figura 24 – Perspectiva áerea ás 9:00h (obtida por meio do Revit Architecture)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

Figura 25 – Perspectiva áerea ás 12:00h (obtida por meio do Revit Architecture)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)


50

Figura 26 – Perspectiva áerea ás 15:00h (obtida por meio do Revit Architecture)

Fonte: Arquivo pessoal (2018)

1.2. Condicionantes legais

• Lei nº 2.424/06: Plano Diretor participativo do Município de Arapiraca e seus anexos;


• Diagnóstico técnico comunitário do Plano Diretor Participativo do Município de
Arapiraca;
• Lei nº 12.641/12 – Código Florestal Brasileiro;
• Lei 12.727/22 – Alteração do Código Florestal Brasileiro;
• NBR 15.220/2003: Desempenho térmico de edificações;
• NBR 15.575/2013: Edificações Habitacionais – Desempenho;
• NBR 9.050/2015: Acessibilidade a edificações, mobiliários, espaços e equipamentos
urbanos.

1.3. Pesquisa tipológica e partido


A inspiração para o presente projeto se deu a partir de algumas pesquisas e
questionários aplicados junto aos moradores do Frei Damião. Optou-se trabalhar com a
proposta de quadras abertas para implantação urbana (figura 27) e uma única tipologia de
habitação – apartamentos.
51

1.3.1. Tipologia urbanística

Segundo Christian de Portzamparc (citado por GUERRA, 2011):


Quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por
aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas
ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas
individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto é, uma
arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de modenatura, pode
desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas
fachadas contíguas.

O conceito de quadra aberta não é uma novidade, Londres já fazia uso dessa tipologia
em 1954 no Conjunto Golden Lane, de Chamberlin, Powell e Bon.
A quadra aberta é por essência um elemento híbrido conciliador. Permite a
diversidade, a pluralidade da arquitetura contemporânea. Ela recuperar o valor da
rua e da esquina da cidade tradicional, assim como entende as qualidades da
autonomia dos edifícios modernos. A relação entre os distintos edifícios e a rua se dá
por alinhamentos parciais, o que possibilita aberturas visuais e o acesso mais
generoso do sol. Os espaços internos gerados pelas relações entre as distintas
tipologias podem variar do restritamente privado ao generosamente público, sem
desconsiderar as nuances entre o semipúblico e o semiprivado (FIGUEROSA,
2006).

Figura 27 – Cidades da primeira e segunda eras, coquis.

Fonte: GUERRA (2011)

A proposta apresenta um zoneamento de áreas delimitadas para a implantação futura


de alguns equipamentos públicos apontados pelos moradores como de extrema importância,
visto que entre os diversos problemas enfrentados pela comunidade é a falta de acesso aos
serviços públicos básicos, que são extremamente precários ou quase inexistentes.
52

Para proporcionar educação aos moradores e principalmente às crianças, propôs-se a


implantação de uma creche-escola, com o objetivo de educar as crianças e evitar que estas
fiquem expostas à marginalidade que tanto perturba as cidades. No que concerne à saúde, a
proposta conta com a destinação de uma área para implantação de uma Unidade Básica de
Saúde, visto que a população local tem que percorrer grandes deslocamentos na cidade para
acessarem serviços dessa natureza. Para a segurança é apresentada uma área destinada a
implantação de posto de policiamento para que os moradores possam recorrer em caso de
necessidade e para fornecer um sentimento de segurança a todos.
Os espaços públicos de circulação e permanência foram trabalhados de forma a
proporcionar e estimular o convívio social entre diferentes faixas etárias. Academias de
ginástica ao ar livre, playgrounds e áreas de paisagismo produtivo estão dispostos
contiguamente uns aos outros, como forma de proporcionar também a segurança social, pois a
ausência de espaços isolados permite que todos os transeuntes alcancem visualmente as
atividades em curso nesses espaços (figuras 28 e 29).

Figura 28 – Área de convivência – academia ao ar livre e áreas vegetadas

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


53

Figura 29 – Área de convivência – playground e áreas de estar

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)

A utilização de áreas sombeadas e materiais de revestimentos adequados ao clima são


fatores que convidam e favorecem o uso e permanência nesses espaços. O afastamento entre
os blocos que compõem cada um dos edifícios também favorece não só a circulação de
pedestres como também a ventilação e insolação naturais nas unidades (figuras 30 e 31).
Grandes áreas verdes foram criadas com o propósito de oferecer aos usuários, verdadeiros
bosques formadores de micro clima local, melhorando o balanço hídrico local, diminuíndo os
ruídos sonoros, reduzindo a poluição atmosférica, favorecendo a produção de oxigênio
trazendo mais bem estar e qualidade de vida para todos o moradores da região, além de criar
espaços de lazer amplo e sombreados e ser mais que apenas uma composição paisagística na
cidade. Devido a quantidade de crianças existentes no local, e observando a faixa etária dos
moradores, é possível perceber que a quantidade de crianças tendem a aumentar
exponencialmente. Com isso, sugere-se a implantação de a´reas de playground bem
localizadas e rica em diversão para as crianças
54

Figura 30 – Espaços vegetados e espaçamento entre os blocos residenciais

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)

Figura 31 – Área de convivência – espaço de circulação entre blocos

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


55

1.3.2. Tipologia habitacional

Todas as unidades habitacionais dos pavimentos superiores terão acesso a partir de


uma rampa acessível com declividade de 8,33% como orienta a NBR 9050. As rampas
seguirão o conceito hexagonal do pátio de convívio e possuíram guarda corpo em todo o seu
perímetro. Cada pavimento contemplará 24 unidade habitacionais. As unidades habitacionais
(figura 32, tabela 5 e figura 33) será composta por um hall de entrada integrado á uma área de
serviço, uma sala de estar, uma sala de jantar, uma cozinha no estilo americana, um quarto
adaptado para portadores de mobilidade reduzida, bem como um banheiro com as mesmas
características e dois quartos, sendo que um dos quartos é um espaço reversível que, a
depender da necessidade da família, pode ser utilizado como um espaço produtivo, onde os
moradores possam trabalhar com corte e costura, artesanado, beleza, entre outros trabalhos
informais, totalizando 70,00 m². Todas as portas terão dimensões mínimas de 0,86 metros de
vão, possibilitando que qualquer pessoa possa adentrar nos ambientes.

Figura 32 – Planta Baixa de layout de uma unidade habitacional com trajeto da ventilação (seta azul)

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


56

Tabela 5 – Quadro de ambientes e especificações de uma unidade habitacional

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)

Figura 33 – Planta Baixa de 2 unidades habitacionais com trajeto da ventilação (seta azul)

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


57

Outra condicionante de projeto bastante trabalhada nesse projeto foi a possibilidade do


convívio comunitário mesmo em dias de chuva. A disposição dos blocos residenciais em torno
de um pátio hexagonal permitiu a implantação de uma cobertura que é parte de um sistema de
captação de águas pluviais, para prover a manutenção, limpeza e conservação das áreas de
lazer e jardins de maneira econômica e sustentável. Essa estrutura engloba também a estrutura
de sustenção das caixas dágua de cada edifício, assemelhando-se a uma árvore, cuja copa
(cobertura) protege e une todos que ali residem (figuras 33 e 34).

Figura 34 – Pátio central coberto

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)

Figura 35 – Pátio central coberto

Fonte: Arquivo Pessoal (2018)


58

6 CONCLUSÃO

As cidades crescem muito rápido e na maioria das vezes de forma desordenada. As


construções são edificadas de maneira aleatória, sem infraestrutura e planejamento adequados,
muito menos um estudo climático da área de implantação da edificação, ocasionando diversos
problemas econômicos, sociais e ambientais, além do desconforto vivenciado dieratamente
pelos usuários.
O anteprojeto arquitetônico de habitação social integrado á proposta de adequação
urbanística apresentado neste trabalho, partiu na premissa da caracterização climática da área
de intervenção para apartir desse ponto, fazer o uso das estratégias bioclimáticas que melhor
se aplicam em habitações de interesse social no Loteamento irregular Frei Damião, Arapiraca-
AL.
O projeto buscou integrar a população do Frei Damião ao contexto urbano, resgatando
a comunicação entre os moradores e o meio ambiente, além de inseri-los de forma
humanitária à sociedade que há muito tempo não olhava para essa comunidade,
proporcionando qualidade vida, bem estar, segurança e incentivo a geração de renda familiar.
59

REFERÊNCIAS

ABIKO, Alex Kenya; ORNSTEIN, Sheila Walbe. Inserção urbana e avaliação pós-
ocupação (APO) da habitação de interesse social. Coletãnea Habitare, v. 1, São Paulo:
FAUUSP, 2002.

ARAPIRACA, Lei nº 2.424/06 - Plano diretor participativo do município de Arapiraca.


Diagnóstico técnico-comunitário e seus anexos. Prefeitura municipal de Arapiraca, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Zoneamento bioclimático


brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social:
NBR 15220-3. Rio de Janeiro, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Edificações Habitacionais-


Desempenho: NBR 15575. Rio de Janeiro, 2013.

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