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CAMPUS ARAPIRACA
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Arapiraca - AL
2018
MARCIANO APARECIDO TENÓRIO
Arapiraca - AL
2018
A Deus pelo dom natural;
Ao meu pai por uma vida digna;
A minha mãe pela formação e incentivo;
A minha irmã pela presença;
Ao Igor pelo apoio.
AGRADECIMENTOS
The planning and execution of housing projects at the same time constitute a challenge for the
promotion of contemporary public policies. The salvation of the quality of life in cities in the
Brazilian scenario has been increasingly experienced through the growth of different
environmental impacts. In this scenario, it is necessary to contemplate a direct connection
between architecture and nature, making use of the principles of bioclimatic architecture.
Bioclimatic projects are based on the adaptation to climate, vegetation, topography and soil
geology, with the objective of minimizing the electrical energy needs of the building,
providing greater thermal, acoustic and luminous comfort. The present work intends to
contribute to the continuity of Frei Damião irregular lot planning tasks for an identification of
architectural solutions integrated in a proposal of urban adaptation from a bioclimatic
approach, between the building and the local climate.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 13
1.1 Obetivos.......................................................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 15
1.1.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 16
1.2 Procedimentos metodológicos ...................................................................................... 16
2 HABITAÇÃO SOCIAL: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO ............................. 17
2.1 A habitação social no Brasil ......................................................................................... 17
2.1.1 Origem............................................................................................................................. 17
2.2.2 A intervenção do Estado, a inserção em Alagoas, e a produção de habitações de
interesse social atualmente ....................................................................................................... 20
3 PRINCÍPIOS BIOCLIMÁTICOS PARA ARQUITETURA E HABITAÇÃO
SOCIAL ................................................................................................................................... 23
3.1 Arquitetura bioclimática .............................................................................................. 23
3.1.1 Conceito .......................................................................................................................... 23
3.2 O clima e a adequação da arquitetura no nordeste ................................................... 23
3.3 A caracterização climática de Arapiraca-AL ............................................................. 24
3.4 Estratégias bioclimáticas para habitações em Arapiraca-AL ................................... 25
3.4.1 O Zoneamento Bioclimático, suas diretrizes e a norma de desempenho das edificações
habitacionais ............................................................................................................................. 26
3.4.2 A Carta Bioclimática e a Carta Solar .............................................................................. 29
3.4.3 Estratégias Bioclimáticas adotadas ................................................................................. 31
3.4.3.1 Ventilação Cruzada ....................................................................................................... 32
3.4.3.2 Sombreamento .............................................................................................................. 33
3.4.3.3 Alta Inércia térmica para resfriamento ......................................................................... 34
3.4.3.4 Resfriamento evaporativo ............................................................................................. 37
4 O LOTEAMENTO IRREGULAR FREI DAMIÃO ................................................. 39
4.1 Área de intervenção ...................................................................................................... 39
4.1.1 Análise social, e física da área apartir de entrevistas realizadas durante a pesquisa de
campo produzida para as disciplinas de PU2 e P5 em 2016 .................................................... 41
5 O ANTEPROJETO URBANO-ARQUITETÔNICO ................................................ 46
5.1 Condicionantes ambientais........................................................................................... 48
5.2 Condicionantes legais .................................................................................................... 50
5.3 Pesquisa tipológica e partido ........................................................................................ 50
5.3.1 Tipologia urbanística ....................................................................................................... 51
5.3.2 Tipologia habitacional ..................................................................................................... 55
6 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 59
APÊNDICE A – PRANCHA 01/06 .......................................................................................... 61
APÊNDICE B – PRANCHA 02/06 .......................................................................................... 62
APÊNDICE C – PRANCHA 03/06 .......................................................................................... 63
APÊNDICE D – PRANCHA 04/06.......................................................................................... 64
APÊNDICE E – PRANCHA 05/06 .......................................................................................... 65
APÊNDICE F – PRANCHA 06/06 .......................................................................................... 66
13
1 INTRODUÇÃO
um grande impacto ambiental nessas áreas, visto que o processo de ocupação irregular dos
espaços urbanos polui os cursos de água, o solo e destrói a fauna e flora local. Além disso, as
edificações irregulares acarretam problemas de conforto, segurança, funcionalidade.
A inexistência de uma avaliação metodológica dos pontos positivos e negativos frente
à construção das edificações, encaminhou o município à repetição dos métodos de soluções
adotadas até hoje (ABIKO; ORNSTEIN 2002).
O processo de industrialização pelo qual o planeta vem passando desde a Revolução
Industrial iniciada em meados do século XVIII provocou mudanças nos meios de produção,
interferindo na economia e na sociedade. Isso influenciou diretamente no estilo de habitação
social que conhecemos hoje - extremamente lucrativa, visto o grande aproveitamento do
terreno e a precariedade de materiais, produzindo uma habitação com péssima disposição
espacial, materiais construtivos de qualidade muito inferior e conforto ambiental quase
inexistente, além é claro, da importação de padrões arquitetônicos, onde as edificações são
replicadas em diferentes cidades e estados, sem ser levado em consideração o contexto
histórico, social, econômico e as reais necessidades dos moradores, unicamente para suprir o
défit quantitativo das habitações e, não visando a obtenção da qualidade ambiental dessas
habitações.
Localizado na periferia da cidade de Arapiraca/AL, o loteamento irregular Frei
Damião, situado no bairro Canafístula, foi objeto de estudo para as disciplinas de Projeto de
Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016. A experiência
vivenciada nas disciplinas supracitadas despertou o interesse para o aprofundamento da
temática neste Trabalho de Conclusão de Curso, visto que o objeto de estudo é um ilustrador
da problemática da produção de habitação social no Brasil. A área ocupada atualmente pelo
Frei Damião corresponde a cerca de 80.000,00 m² e abriga cerca de 4 mil pessoas, distribuídas
em 900 famílias. De acordo com o Plano Diretor Municipal de Arapiraca a área situa-se nas
seguintes Zonas urbanas:
➢ Zona Especial de Interesse Social ZEIS-A5: áreas já ocupadas por propriedade
privada ou públicas em áreas de conservação ou preservação ambiental e áreas
de favelas ou loteamentos irregulares;
➢ Zona Especial de Interesse Ambiental ZEIA-PN A2: zona de proteção aos
mananciais e remanescentes de cobertura vegetal (LEI 2.424/06, 2006)
Em visita técnica ocorrida no dia 03 de fevereiro de 2016, buscando uma melhor
compreensão da dinâmica da comunidade do Frei Damião, foi realizada uma entrevista com a
15
Sra. Cecir, líder da Associação Comunitária dos Moradores do Frei Damião, onde pôde-se
conhecer como se deu a ocupação do loteamento e sua atual situação. Além disso, foram
escolhidas aleatoriamente cinquenta residências para aplicação de questionários amostra com
44 quesitos que englobavam perguntas, em sua maioria de caráter qualitativo, a respeito das
condições de habitação, mobilidade e infraestrutura urbana e condições socioeconômicas dos
moradores locais. Foi observado que o Frei Damião não possui boa configuração urbana;
muitas habitações foram construídas pelos próprios moradores, delimitadas e ocupadas de
forma totalmente ilegal, sem nenhuma documentação oficial. Dessa forma, pela falta de um
partido urbanístico adequado, existe um grande prejuízo na presença de áreas verdes e
vegetação no Frei Damião, interferindo nas condições de moradia e vida da população. Nota-
se que além das habitações serem minúsculas, apresentam baixo conforto térmico, fator muito
importante para se ter o mínimo de qualidade no interior da residência.
Os estudos realizados com a comunidade durante o ano letivo de 2016 possibilitaram
observar que no que diz respeito à qualidade e disposição das moradias, mobilidade,
disponibilidade de equipamentos urbanos e serviços públicos, entre outros, a população sofre
um grande déficit. E importante salientar que cada um desses itens exerce grande influência
nas condições de habitabilidade, isto é, no conforto, bem estar, segurança, privacidade,
relações interpessoais, bem como nas mais simples tarefas diárias, como comer, dormir,
trabalhar e na infraestrutura urbana e acesso aos serviços públicos e mobilidade urbana.
O presente trabalho, intitulado Aplicabilidade de Estratégias Bioclimáticas ao Projeto
de Habitação de Interesse Social: proposta de anteprojeto para reordenamento urbano do
loteamento irregular Frei Damião, Arapiraca/AL, pretende contribuir com a compreensão dos
aspectos sócio-espaciais do loteamento irregular Frei Damião e propor soluções arquitetônicas
integradas a uma proposta de adequação urbanística fundamentada em princípios
bioclimáticos, apresentadas sob a forma de anteprojeto urbano-arquitetônico, buscando a
harmonia entre a edificação e o clima local.
1.1 Objetivos
2.1.1 Origem
As primeiras habitações sociais no Brasil surgiram em São Paulo, no Bairro Santa
Ephigênia no final do século XIX. Situavam-se em terrenos baratos, abaixo do nível de
arruamento, com notáveis depressões, onde o calçamento ficava visivelmente acima do nível
dos quintais das edificações. Alí a drenagem superficial era escassa e o esgotamento sanitário
quase não existia. À época a procura por casas de aluguel era alta e as habitações eram
construídas com precária qualidade (MOTTA, 1894 apud BONDUKI, 2004).
A necessidade de alojar a crescente população de imigrantes trabalhadores da cidade
de São Paulo ocasionou a produção em massa de diferentes tipos de habitações sociais, como
cortiços (figura 1) e habitações operárias (figura 2) (MOTTA, 1894 apud BONDUKI, 2004).
Figura 4 – Exemplo de casas de dormida: Vila em Figura 3 – Exemplo de cortiço pátio: Vila no Brás
Santa Cecília
tornou-se tarefa dos municípios, apoiados ou não, por seus governos estaduais.
O novo modelo de financiamento, clientista, surgido a partir de 1980 e focado em
projetos locais, em consonância com a nova Constituição Federal, foi de extrema importância
para a continuidade das políticas habitacionais (BONDUKI, 2004).
Todavia, mais do que tudo, contou a iniciativa de governos municipais progressistas,
comprometidos com políticas sociais e com a democratização da gestão local,
assumindo o vácuo deixado pela não-política Federal, gerando um novo padrão
descentralizado de política pública, com alto grau de inovação que vem firmando
uma alternativa válida e desejável (ABIKO; ORNSTEIN, 2002, p. 15).
Existem no Brasil diversos estudos que apontam os fatores negativos das atuais
habitações de interesse social, como por exemplo, alta densidade de ocupação, falta de
paisagismo no entorno, falta de acuidade estética, conforto, má inserção urbana, entre outros
(VILLA; ORNSTEIN, 2013).
Os Conjuntos Habitacionais de Interesse Social apresentam, num contexto geral,
inúmeros problemas de irregularidades, uso e manutenção tanto nos espaço coletivos quanto
em sua infraestrutura urbana.
Edificações que não contemplam em seus projetos aspectos de ergonomia e adequação
climática ao local no qual se inserem, além de um trabalho técnico social que adapte os
moradores às particularidades dos sistemas complementares que fazem as unidades
funcionarem acarretam problemas de conforto ambiental, segurança, funcionalidade, além é
claro, de danificar a manutenção das redes de águas e esgoto. A inexistência de uma avaliação
metodológica dos pontos positivos e negativos frente à construção das edificações
encaminhou os municípios à repetição dos métodos de soluções adotadas até hoje (ABIKO;
ORNSTEIN 2002).
Vale ressaltar que os Conjuntos Habitacionais de Interesse Social “apresentam um
espaço contínuo e indiferenciado, desconhecido da maior parte da população brasileira, que se
localiza e identifica com a rua, a praça e a cidade” (ABIKO; ORNSTEIN, 2002, v. 1, p. 135).
Esse espaço público, geralmente refuta o espaço privado de cada habitação presente no
conjunto. Na maioria dos casos, observa-se que os espaços coletivos são abandonados, não
tendo manutenção alguma devido à indefinição espacial e legal dos limites entre público, semi
público e privado, além da renegação da manutenção do respectivo local (ABIKO;
ORNSTEIN, 2002).
23
3.1.1 Conceito
Arquitetura Biclimática é a arquitetura que contempla uma conexão direta com a
natureza. Os projetos bioclimáticos são fundamentados a partir da adequação ao clima, à
vegetação, à topografia e à geologia do solo, com o objetivo de minimizar as necessidades de
energia mecânica da edificação, proporcionando maior conforto térmico, acústico e luminoso.
Esse tipo de arquitetura visa respeitar a paisagem existente e integrar a edificação nela,
buscando proporcionar o melhor benefício das condições ambientais, diminuindo os impactos
negativos ao meio ambiente (BROWN; DEKAY, 2004).
Segundo Torres (2017) a arquitetura bioclimática constitui-se no harmônico e
apropriado relacionamento existente entre o ambiente construído e o clima local, objetivando
alcançar o conforto ambiental humano. Todavia, é importante salientar que a arquitetura
bioclimática deve ser trabalhada não apenas na escala do edifício, mas também, na escala
urbana, pois, o entorno urbano deve estar em consonância com as estratégias a serem
utilizadas visando o conforto ambiental tanto da edificação quando do seu entorno, um vez
que fatores como iluminação e ventilação natural dependendem de condições urbanas
favoráveis (TORRES, 2017).
60%). Porém, foi verificada, nos horários noturnos, uma redução dos valores de
temperatura do ar, ocasionando a amenização térmica. Neste período quente e úmido
também são observados os maiores índices de precipitação, com dias tipicamente
chuvosos. Foi detectada, ainda neste período, amplitude térmica inferior a10ºC
(entre 6°C e 10°C).
A cidade de Arapiraca situa-se na Zona Bioclimática Z8 e assim como nas outras sete
zonas, a Z8 exige algumas diretrizes específicas a fim de garantir o conforto ambiental aos
usuários da edificação.
A NBR 15220-3 (ABNT, 2005) recomenda que para cidades localizadas na Zona
Bioclimática Z8 as aberturas para ventilação sejam amplas e sombreadas, com abertura para
27
A NBR 15220-3 (ABNT, 2005) afirma que as telhas de barro são bem vindas em
residências que não possuem forro quando não esmaltadas ou pintadas, a fim de garantir um
maior isolamento da construção por meio da não obstrução dos poros criados no processo de
cozimento do barro.
Além das diretrizes construtivas; a NBR 15220-3 (ABNT, 2005) sugere também que a
edificação tenha uma estratégia de condicionamento térmico passivo conhecida por ventilação
cruzada permanente, que além de ventilar de forma natural, proporciona a desumidificação
dos ambientes por meio da renovação constante do ar. Obtemos a ventilação cruzada por meio
da circulação de ar pelos ambientes da edificação. Vale lembrar que se o ambiente tiver
janelas apenas em um lado, a porta deverá ser mantida aberta, permitindo assim a ventilação
cruzada. É importante levar em consideração os ventos predominantes da região e do entorno,
pois o entorno influencia diretamente a direção dos ventos.
A norma de desempenho de edificações habitacionais NBR 15575 (ABNT, 2013)
complementa mostrando que para as alvenarias nas condições de verão, o valor máximo
diário da temperatura do ar no interior da edificação deve ser menor que o valor máximo
diário da temperatura do ar exterior à edificação. Sobre as aberturas para ventilação, a norma
estabelece que estas devam ter área útil superior a 8% a área de projeção do piso. A norma diz
ainda que para as coberturas, se a absorbância for menor que 0,4 a transmitância térmica deve
ser menor ou igual a 2,3, caso a absorbância seja maior do que 0,4 a transmitância térmica
deve ser menor ou igual a 1,5. A tabela 2 ilustra um breve comparativo entre as NBR’s 15220-
3 e 15575, no tocante aos parâmetros acima descritos.
NBR 15220-3 (ABNT, 2003) – Desempenho térmico de NBR 15575 (ABNT, 2013) – Edificações
edificações habitacionais - Desempenho
Aberturas para ventilação A Sombreamento das Aberturas para ventilação Sombreamento das
(em % da área de piso) aberturas A (em % da área de piso) aberturas
Grandes Sombrear arberturas Aberturas grandes Possibilitar o controle
A > 40% A ≥ 15% da entrada de luz e
29
Apesar das duas normas se complementarem, a NBR 15220-3, descreve entre outros
aspectos, o zoneamento bioclimático brasileiro relacionado às diretrizes construtivas voltadas
às habitações de interesse social através das estratégias de condicionamento térmico passivo.
Já a NBR 15575, estipula exigências e parâmetros de desempenho apropriado às edificações
habitacionais, propiciando as condições de habitabilidade por meio de quesitos dos usuários
explícito por diversos fatores, entre eles, o desempenho térmico dos ambientes. É importante
observar que NBR 15575 é bem extensa, com isso as partes mais relevantes para esse trabalho
são as partes 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas e parte 5: Sistemas de
coberturas
Partindo da premissa de que a norma de desempenho surge para atender as exigências
dos usuários, através da definição de alguns critérios preestabelecidos e métodos avaliativos,
percebe-se que a NBR 15575 não recomenda indicadores de conforto térmico, uma vez que o
método de avaliação não possibilita a mensuração do atendimento dos requisistos térmicos
necessários aos usuários.
1
Software que auxilia no processo de adequação de edificações ao clima local. Desenvolvido pelo
Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LabEEE.
30
estratégias necessárias para que obtenhamos maior conforto no interior das edificações
(BROWN; DEKAY, 2004).
Tabela 3 – Percentual referente a aplicação das estratégias bioclimáticas apontadas pelo Analysis BIO a partir do
TRY 2010 – Arapiraca-AL
Geral Estratégias para resolver as horas de Estratégias para resolver as horas de
desconforto por calor desconforto por frio
Conforto: 17,8% Ventilação: 73,2% Alta Inércia Térmica p/ Aquecimento: 6,18%
Desconforto: 82,2% Alta Inércia p/ Resfriamento: 17,4% Aquecimento Solar Passivo: 0%
Por Frio: 6,19% Resfriamento Evaporativo: 16,1% Aquecimento Artificial: 0,0114%
Por Calor: 76% Ar Condicionado: 0,103%
Fonte: TORRES (2017)
Tabela 4 – Estratégias bioclimáticas indicadas pelo pelo programa Analysis BIO a partir do TRY 2010
para a cidade de Arapiraca
Estratégias para solucionar desconforto térmico
Por calor Por frio
Ventilação Alta Inércia Resfriamento Ar Alta Inércia
Estações p/ Evaporativo Condicionado Térmica p/
Resfriamento Aquecimento
Solar
Primavera 71,50% 24,50% 24,40% 0,05% 3,61%
Verão 81,10% 29,40 28,60% 0,32% 0,00%
Outono 91,10% 14,80% 13,90% 0,36% 0,27%
Inverno 49,10% 0,23% 0,23% 0,00 20,70%
Fonte: TORRES (2017)
Com base nos dados climáticos horários do TRY (2010), observa-se que o percentual
de horas em desconforto é relativamente alto, cerca de 82,2%. Essa informação é de extrema
31
importância, pois a paritr dela é possível que se trace uma metodologia para tratamento das
fachadas das edificações e de seu entono, visando a amenização da temperatura interna das
edificações e a melhoria nas condições de conforto térmico (TORRES, 2017). É importante
observar que para a adequação climática das edificações situadas em Arapiraca, as estratégias
mais indicadas são ventilação, resfriamento evaporativo e alta inércia térmica para
resfriamento.
A carta solar representa a trajetória solar na abóboda celeste e determina ainda a
posição do Sol em termos de altura e azimute para qualquer horário na cidade; ela é a
principal ferramenta para projetos e análises de projeções solares, pois possibilita o
dimensionamento de elementos de proteção solar, além de melhor dispor as aberturas
(BROWN; DEKAY, 2004, p. 36). Em um projeto de arquitetura, a disposição e o
sombreamento das aberturas é de grande importância no controle dos ganhos térmicos solares
e no aproveitamento de luz natural nos ambientes (CORBELLA; CORNER, 2011). As figuras
8 e 9 apresentam a Carta Solar de Arapiraca, auxiliando no projeto de proteções solares
através da visualização gráfica dos ângulos de projeção desejados sobre transferidor de
ângulos.
ventilação e iluminação natural visando o maior conforto dos usuários no interior das
edificações (CORBELLA; CORNER, 2011).
As estratégias adotadas nesse trabalho serão:
➢ Ventilação cruzada;
➢Sombreamento;
➢Resfriamento evaporativo
3.4.3.2 Sombreamento
Essa estratégia é de extrema importância na redução dos ganhos térmicos da
edificação. As proteções solares projetadas adequadamente evitam ganhos solares demasiados
no verão sem atrapalhar a entrada da ventilação, iluminação natural e o sol necessário em
períodos de inverno, por exemplo (BROWN; DEKAY, 2004).
Segundo Brown e Dekay (2004, p. 106)
34
Quando uma fachada está na sombra, sua temperatura superficial está mais baixa e
assim a edificação recebe menos calor e usa menos energia para o esfriamento.
Quando as ruas e calçadas estão sombreadas no verão, as temperaturas radiantes
diurnas médias são inferiores, criando mais conforto para os pedestres.
interior dos recintos (TORRES, 2017). Abaixo, elenca-se dois meios para favorecer essa
estratégia:
➢Telhado verde
A inclusão da vegetação nas superfícies dos telhados é de extrema importância para a
requalificação ambiental das cidades, pois os centros urbanos estão cada vez mais distantes
das áreas verdes devido à escassez de espaços livres. Mesmo não sendo utilizado na presente
proposta de anteprojeto arquitetônico, julgou-se necessário a sua apresentação.
Os telhados verdes (figura 13) apresentam elevado desempenho no resfriamento
devido à evapotranspiração das plantas que retiram parte da energia do sol para realizar seus
processos biológicos de fotossíntese e transpiração. “A cobertura verde oferece muitos
benefícios, pois reduz o efeito de ilha térmica, pode gerar altos valores de isolamento, diminui
o escoamento pluvial e, possivelmente, cria um hábitat para a fauna e a flora local” (KWOK;
GRONDZIK, 2013, p. 29).
Segundo Parizotto Filho (2010, p. 89):
A tecnologia dos telhados vegetados tem sido largamente investigada e utilizada nas
últimas décadas em diversas cidades ao redor do mundo como estratégia
bioclimática para o aumento da eficiência energética das edificações e do conforto
térmico dos usuários. Além da economia de energia, grande parte do interesse na
tecnologia deve-se a muitas outras vantagens socioambientais, sendo as principais o
potencial para redução de enchentes urbanas e mitigação dos efeitos climáticos de
ilhas de calor, problemas comuns a quase todas as áreas densamente ocupadas.
telhado verde são: combatem o efeito ilha de calor urbano, melhora a qualidade do ar, filtra o
ar, absorve a chuva, reduz a emissão de CO2 da edificação, aumenta os espaços de habitat
para a fauna local; favorecem espaços agradáveis aos olhos, com possibilidade de uso para
lazer e agricultura familiar; aumento da eficiência energética nas edificações e maior
longevidade da cobertura.
Num contexto geral os telhados verdes proporcionam isolamento através da camada de
ar entre a grama e a camada de substrato, isolamento acústico e capacidade de armazenamento
de calor, melhoram a qualidade do ar urbano, drenam a água, evitam as radiações UV e fortes
variações de temperatura, absorvem a poeira, resgatam áreas verdes e melhoram a qualidade
de vida das pessoas. A massa térmica da cobertura de terra do telhado verde diminui a
incidência da radiação direta no telhado, tanto no verão quanto no inverno (KWOK;
GRONDZIK, 2013).
Essa estratégia é extremamente eficiente e uma das mais antigas. Seu processo
consiste na retirada do calor da superfície ou matéria através da evaporação da água. Quando
localizados próximos às aberturas da edificação, a massa de ar resfriada alcança o interior dos
espaços construídos auxiliando as trocas térmicas (BROWN; DEKAY, 2004).
De acordo com Brown e Dekay (2004), quando o entorno da edificação possui
cobertura vegetal há grandes melhorias nas condições de conforto da edificação, pois, a água
retida no processo de convecção é evaporada, gerando um resfriamento pela diminuição da
temperatura do ar.
Além da utilização das estratégias bioclimáticas, o projeto da edificação pode
contemplar soluções e equipamentos para potencializar o uso dos recursos naturais para
auxiliar a redução do consumo de energia elétrica. A utilização da energia solar, por exemplo,
pode ser adotada para esta finalidade (figura 16).
A energia solar abundante no Nordeste pode ser aproveitada para atender uma grande
demanda de necessidades. Dentre as diversas aplicações, a conversão da energia solar em
energia elétrica através do efeito fotovoltaico (figura 17) ocorre de forma silenciosa, não
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poluente, renovável e estática, sendo o processo que se apresenta mais viável na geração de
potência elétrica (RUTHER, 2004). “Os sistemas fotovoltaicos produzem eletricidade por
meio da conversão direta da radiação solar incidente (insolação)” (KWOK; GRONDZIK,
2013, p. 225). A energia gerada pode ser utilizada diretamente na edificação ou conectada a
uma rede elétrica externa, como mostra a figura 40 (KWOK; GRONDZIK, 2013).
Figura 17 – Diagrama esquemático de sistemas fotovoltaicos; conectado à rede pública (superior) e não
conectado à rede pública (inferior)
Figura 18 – Localização do município no nordeste brasileiro (A), situação geográfica no Estado de Alagoas -
região do agreste alagoano (B).
Dentro desse cenário destaca-se o bairro Canafístula, região tradicional com certa
notoriedade na cidade que possui 10.674 habitantes (IBGE, 2010). Com seus primeiros
habitantes vindos de cidades circunvizinhas, como Feira Grande, Anadia e Palmeira dos
Índios, o bairro tem uma história marcada por significativas conquistas através da participação
da população, como a construção da igreja, da escola e da unidade de saúde, que foram
concluídas através de doações de terrenos de moradores da comunidade (FACOMAR, 2003).
Por estar localizado distante do centro e consequentemente das instalações de lazer da
cidade, os próprios moradores desenvolveram, com o passar do tempo, meios para tais
atividades. Exemplo disso é o grande potencial cultural do bairro, que chegou a ser
considerado o primeiro ponto cultural de Arapiraca2.
Neste bairro encontra-se o loteamento irregular Frei Damião, objeto de estudo do
presente trabalho (figura 19), conhecido popularmente por Valentin, nome que faz referência à
Cícero Valentin, ex-vereador e antigo proprietário do terreno do conjunto.
2
Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo elaborada para
as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
40
Com pouco mais de 20 anos de existência, o Frei Damião surgiu através da doação do
terreno pelo já citado ex-vereador, atraindo durante sua ocupação famílias das mais variadas
localidades, tanto de Arapiraca quanto de cidades circunvizinhas, que durante alguns anos
viveram de forma totalmente precária no local, em moradias improvisadas de lona3.
A área ocupada atualmente pelo Frei Damião corresponde a cerca de 80.000,00 m² e
abriga cerca de 4 mil pessoas, distribuídas em 900 famílias. De acordo com o Plano Diretor
Municipal de Arapiraca a área situa-se nas sequintes Zonas urbanas:
➢ Zona Especial de Interesse Social ZEIS-A5: áreas já ocupadas por propriedade
privada ou públicas em áreas de conservação ou preservação ambiental e áreas
3
Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo elaborada para
as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
41
4.1.1 Análise social, econômica e física da área a partir de entrevistas realizadas durante a
pesquisa de campo produzida para as disciplinas de PU2 e P5 em 2016
O loteamento irregular Frei Damião foi objeto de estudo das disciplinas Projeto de
Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016. Grupos de
alunos foram formados com a finalidade de entrevistar e registrar pontos relevantes sobre
questões sociais, econômicas, serviços públicos e de infraestrutura do Frei Damião.
Consequência da polarização social, a irregularidade fundiária é aliada a ocupações
por população de baixa renda, que devido ao alto custo de aluguel ou por outros motivos
econômicos e sociais, não obteve acesso à produção formal da habitação, e,
consequentemente, encontra-se impossibilitada de exercer plenamente sua cidadania no
âmbito da legalidade.
A habitação irregular é sinônimo de insegurança em todos os sentidos, visto que os
direitos dos cidadãos não são assegurados, tais como abrigo e conforto adequados, lazer,
educação e saúde. A ausência destes aspectos corresponde aos pontos mais citados nas
entrevistas realizadas com os moradores do loteamento irregular Frei Damião.
Os serviços escassos no local ocorrem por consequência da irregularidade presente das
edificações, tornando a população “invisível” frente à perspectiva das políticas públicas.
Devido a negligência política, os moradores acabam se deslocando até as áreas centrais com a
finalidade de terem acesso a serviços básicos.
A área do Frei Damião é considerada há anos abandonada pelas diversas autoridades
municipais, se distinguindo das demais regiões de Arapiraca por descaso político,
apresentando assim problemas de infraestrutura urbana, mobilidade e uso de espaços, gerando
péssima qualidade de vida para as famílias que ali se encontram.
Atualmente o local não possui uma boa configuração urbana. Muitas habitações foram
construídas pelos próprios moradores e foram delimitadas e ocupadas de forma totalmente
ilegal, sem nenhuma documentação oficial. Dessa forma, pela falta de um partido urbanístico
adequado, existe um grande prejuízo na presença de áreas verdes e vegetação no Frei Damião,
interferindo nas condições de moradia e vida da população. Segundo reclamações dos
moradores as residências são muito pequenas e não apresentam bom conforto térmico, um
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Informações coletadas com moradores locais e líderes comunitários durante pesquisa de campo
elaborada para as disciplinas de Projeto de Urbanismo 2 e Projeto Arquitetônico 5 do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas – Campus Arapiraca, durante o 9º período no ano de 2016.
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reclamações as distâncias imensas a serem percorridas até escolas (principal desejo dos
moradores para a localização do Frei Damião), postos de saúde, centro da cidade, entre outros
locais, devido à ausência de transporte coletivo. Os moradores relataram que quando há a
necessidade de atendimento médico de urgência, as ambulâncias não conseguem chegar no
local da emergência, tanto pelas ruas serem estreitas, quanto pela falta de infraestrutura
adequada no local.
Outro fator importante é a acessibilidade, que por sua vez, é inexistente no local,
quando se trata do acesso a um lugar com segurança e autonomia por todos, sem que hajam
barreiras. As calçadas, quando existentes, não atendem as larguras mínimas estabelecidas
pelas normas técnicas, nem tampouco a altura máxima dos desníveis necessários para a
locomoção hábil de pessoas com mobilidade reduzida.
Constataram-se também diversas carências no âmbito da Infraestrutura de saneamento
ambiental. No Frei Damião, foi implantada uma Estação de Tratamento de Esgoto – ETE,
porém não foi avaliada junto a CASAL a eficiência do sistema, e hoje encontra-se inativa,
mas segundo a líder comunitária Cecir, existe uma promessa de governo paraque a ETE venha
a funcionar, o que acarretaria na diminuição dos afluentes que escorrem pela região. O
loteamento também possui um grande espaço de brejo em área de preservação ambiental que
sem tratamento adequado pode causar problemas de drenagem e alagamentos na região,
favorecendo assim o surgimento de problemas de saúde pública.
Outro problema de grande destaque na área é a dificuldade com a coleta de lixo.
Devido ao fato das ruas serem estreitas (cerca de 3,00 metros de largura - figura 21), o veículo
público coletor de lixo não consegue se locomover através delas e a coleta é feita através de
caçambas localizadas na avenida de principal acesso e recolhida uma ou duas vezes por
semana. Os moradores reclamam da periodicidade da coleta de lixo, visto que o acúmulo de
lixo nas camçambas atraem insetos e outros animais transmissores de vetores.
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Em suma, as políticas públicas não são efetivas, o estado não age de forma
humanitária, mas sim visando o lucro, e quem não se enquadrar nos padrões preestabelecidos,
é de certa forma excluído e desamparado. Lembrando que sob o ponto de vista dos conflitos
sociais e da habitação, a visita ao Frei Damião apontou um alto índice de violência, o qual só
não é superado pelo índice de miséria que grande parte dos 4.000 (quatro mil) habitantes estão
submetidos, no que diz respeito à qualidade e disposição das moradias, mobilidade,
acessibilidade, disponibilidade de equipamentos urbanos e serviços públicos, entre outros.
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5 O ANTEPROJETO URBANO-ARQUITETÔNICO
O conceito de quadra aberta não é uma novidade, Londres já fazia uso dessa tipologia
em 1954 no Conjunto Golden Lane, de Chamberlin, Powell e Bon.
A quadra aberta é por essência um elemento híbrido conciliador. Permite a
diversidade, a pluralidade da arquitetura contemporânea. Ela recuperar o valor da
rua e da esquina da cidade tradicional, assim como entende as qualidades da
autonomia dos edifícios modernos. A relação entre os distintos edifícios e a rua se dá
por alinhamentos parciais, o que possibilita aberturas visuais e o acesso mais
generoso do sol. Os espaços internos gerados pelas relações entre as distintas
tipologias podem variar do restritamente privado ao generosamente público, sem
desconsiderar as nuances entre o semipúblico e o semiprivado (FIGUEROSA,
2006).
Figura 32 – Planta Baixa de layout de uma unidade habitacional com trajeto da ventilação (seta azul)
Figura 33 – Planta Baixa de 2 unidades habitacionais com trajeto da ventilação (seta azul)
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ABIKO, Alex Kenya; ORNSTEIN, Sheila Walbe. Inserção urbana e avaliação pós-
ocupação (APO) da habitação de interesse social. Coletãnea Habitare, v. 1, São Paulo:
FAUUSP, 2002.
BITENCOURT, Karina. Conforto Ambiental CAU Unilest - Brises, 2013. Disponível em: <
http://laboratoriodeconfortocau.blogspot.com.br/2013/10/brises-karina-bitencourt.html>.
Acesso em: 25 nov. 2017.
BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social social no Brasil: arquitetura moderna, lei
do inquilinato e difusão da casa própria. 5. ed. São Paulo: estação Liberdade, 2011.
BROWN, G. Z.; DEKAY, Mark. Sol, vento e luz: estratégias para o projeto de arquitetura.
2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.
FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de conforto térmico. São Paulo:
Studio Nobel, 2001.
GIVONI, B. Comfort climate analysis and building design guidelines, Energy and
Buildings, 18(1), p.11-23.1992.
GUERRA, Abílio. Quadra aberta: uma tipologia rara em São Paulo. Vitrúvios, 2011.
Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/11.124/3819>. Acesso
em: 25 nov. 2017.
HOLANDA, Armando de. Roteiro para construir no Nordeste: arquitetura como lugar
ameno nos trópicos ensolarados. Recife: UFPE, 1976.
KWOK, Alison G.; GRONDZIK, Walter T. Manual de arquitetura ecológica. Porto Alegre:
Bookman, 2013.