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CURSO BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

MARIANA EMÍLIA BANDEIRA COELHO

PROPOSTA DE ANTEPROJETO DE UM CONJUNTO


HABITACIONAL COM RESGATE DA ESTÉTICA E IDEAIS
MODERNISTAS

Campos dos Goytacazes/RJ.


2012
MARIANA EMÍLIA BANDEIRA COELHO

PROPOSTA DE ANTEPROJETO DE UM CONJUNTO


HABITACIONAL COM RESGATE DA ESTÉTICA E IDEAIS
MODERNISTAS

Monografia apresentada ao Instituto Federal


Fluminense como requisito parcial para
conclusão do Curso de Bacharelado em Arquitetura e
Urbanismo.

Orientador: Prof. Dr. Luiz de Pinedo Quinto Junior

Campos dos Goytacazes/RJ


2012

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AGREDECIMENTO
Agradeço em primeiro lugar à Deus. Todos os aplausos que eu receber são
Seus, até por que a minha capacidade vem do Senhor.
À minha família que me deu todo tipo de suporte e incentivo.
Ao meu namorado por me ensinar a amar, ceder e apoiar.
Ao meu orientador pelo pedido de desculpas que eu nunca vou esquecer, e o
carinho com que me passou tanto conhecimento. Isso não tem preço.
Ao meu co-orientador que foi mais que isso. Foi um amigo.
Aos meu amigos inesquecíveis, Marcela e Raphael. Boa parte do que sei de
arquitetura eu aprendi com vocês, e muito do que sei sobre amizade também.
À minha turma querida por ser a melhor de todas.
À minha célula da igreja que orou por mim.
A mim mesma porque eu estou merecendo...

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“ [...]a cidade está no homem
quase como a árvore voa
ao pássaro que a deixa

cada coisa está em outra


de sua própria maneira
e de maneira distinta
de como está em si mesma

a cidade não está no homem


do mesmo modo que em suas
quitandas praças e ruas.”

Ferreira Gullar

"A arquitetura não é uma arte, mais ou menos bem


executada; é uma manifestação social ."

Louis Sullivan

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RESUMO

O presente trabalho apresenta um solução arquitetônica através de um ante


projeto, para um Conjunto Habitacional Modernista, resgatando os principais ideais
desse importante período histórico para a arquitetura brasileira por meio de uma
linguagem neo moderna.
O crescimento imobiliário em Campos dos Goytacazes é inegável, e deve haver
um uso correto das áreas na cidade para que todas as classes sociais possam ter acesso
aos benefícios da boa moradia. Ao fazer uma releitura do movimento moderno no
projeto proposto, várias questões pertinentes a qualidade de vida podem ser implantadas
sanando problemas do atual estilo de viver na cidade.

Palavras-chave: conjunto habitacional, modernismo, urbanismo, unidade de vizinhança

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ABSTRACT

The present study presents a architecture propose trough an project to a


Modern Habitational Complex, rescuing de principal ideals of this important period of
the Brazilian architecture period trough a new modern language.
The real state growth in Campos dos Goytacazes is undeniable, and there must
be a correct use of the city areas, so every social class may have access to the benefits of
a good living. Making a new version of the modern movement in this project, many
pertinent questions concerning life quality can be developed resolving problems of the
actual life style in the city.

Keywords: habitational complex, modernism, urbanism, neighborhood units

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Cortiço do Rio de Janeiro em 1906 na Rua Visconde do Rio Branco.... 13


FIGURA 02 – Cortiço ou estalagem em São Paulo na Rua dos Inválidos..................... 13
FIGURA 03 – Getúlio Vargas na Inauguração do Conjunto Residencial Vila IAPI..... 16
FIGURA 04 – Bauhaus................................................................................................... 18
FIGURA 05 – Plano Piloto de Brasília.......................................................................... 20
FIGURA 06 – Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes................................. 21
FIGURA 07 – Andar de pilotis do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes..22
FIGURA 08 – Entrevista com moradora do Pedregulho................................................ 23
FIGURA 09 – Mural de Burle Marx no refeitório da escola do Pedregulho................. 24
FIGURA 10 – Mural de Portinari no ginásio da escola do Pedregulho......................... 24
FIGURA 11 – Rampa e corredor da escola do Pedregulho............................................ 25
FIGURA 12 – Pavimento térreo e andar de salas de aula da escola do Pedregulho...... 25
FIGURA 13 – Karl Marxs Hoff em Viena..................................................................... 26
FIGURA 14 – Vista da implantação do Karl Marxs Hoff em Viena............................. 26
FIGURA 15 – Permeabilidade dos prédios no Karl Marxs Hoff................................... 27
FIGURA 16 – Esquema dos pavimentos do Narkonfin................................................. 28
FIGURA 17 – Fachada do prédio de apartamentos do Narkonfin................................. 28
FIGURA 18 – Fachada do prédio de equipamentos do Narkonfin................................ 29
FIGURA 19 – Inauguração do Prédio do MEC no Rio de Janeiro................................ 30
FIGURA 20 – Parque do Ibirapuera em São Paulo........................................................ 31
FIGURA 21 – Hospital da Rede Sarah........................................................................... 32
FIGURA 22 – Maquete de uma Masion Citrohan.......................................................... 33
FIGURA 23 – Implantações de Superquadras em Brasília.............................................34
FIGURA 24 – Mapa Referencial.................................................................................... 35
FIGURA 25 – personagem do mapa: Parque do Ibirapuera........................................... 36
FIGURA 26 – personagem do mapa: Hospital da Rede Sarah....................................... 36
FIGURA 27 – personagem do mapa: Edifício do Ministério da Educação................... 37
FIGURA 28 – personagem do mapa: Pedregulho.......................................................... 37
FIGURA 29 – personagem do mapa: Karl Marxs Hof................................................... 37
FIGURA 30 – personagem do mapa: Narkomfin........................................................... 38
FIGURA 31 – Terreno e áreas a serem desapropriadas................................................. 39
FIGURA 32 – Trecho do Mapa de Uso e Ocupação onde se encontra o terreno........... 39

7
FIGURA 33 – Trecho do Mapa de Uso e Ocupação onde se encontra o terreno........... 40
FIGURA 34 – Setorização das linhas de ônibus de Campos dos Goytacazes............... 41
FIGURA 35 – implantação e o entorno...........................................................................45
FIGURA 36 – Implantação............................................................................................. 46
FIGURA 37 – equipamento banco com árvore.............................................................. 47
FIGURA 38 – implantação com todos os elementos 1.................................................. 48
FIGURA 39 – implantação com todos os elementos 2.................................................. 49
FIGURA 40 – implantação com todos os elementos 3.................................................. 50
FIGURA 41 – Unidade residencial unifamiliar 1........................................................... 51
FIGURA 42 – Unidade residencial unifamiliar 2........................................................... 52
FIGURA 43 – Unidade residencial unifamiliar 3........................................................... 53
FIGURA 44 – Unidade residencial multifamiliar 1....................................................... 54
FIGURA 45 – Unidade residencial multifamiliar 2....................................................... 55
FIGURA 46 – Posto de Saúde........................................................................................ 56
FIGURA 47 – Corte esquemático mostrando a ventilação no Posto de Saúde.............. 56
FIGURA 48 – Quiosque................................................................................................. 57
FIGURA 49 – Centro Comercial.................................................................................... 58
FIGURA 50 – cobertura do Centro Comercial............................................................... 58
FIGURA 51 – Área de convivência dos Quiosques....................................................... 59
FIGURA 52 – Área de convivência do Centro Comercial............................................. 60
FIGURA 53 – Bloco administrativo e pedagógico........................................................ 60
FIGURA 54 – Área de convivência do Centro Comercial............................................ 61
FIGURA 55 – quadra, marquise e castelo d’água da escola.......................................... 61
FIGURA 56 – quadra, marquise e castelo d’água da escola 2....................................... 62
FIGURA 57 – quadra poliesportiva da escola................................................................ 62
FIGURA 58 – detalhe do piso do playground da escola................................................ 63
FIGURA 59 – refeitório da escola.................................................................................. 63
FIGURA 60 – Fachada do Memorial Arquitetônico...................................................... 64
FIGURA 61 – Fachada do Memorial Arquitetônico...................................................... 65

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SUMÁRIO

Lista de Figuras............................................................................................................................07
INTRODUÇÃO............................................................................................................................10
Considerações iniciais.....................................................................................................10
Justificativa.................................................................................................................... 10
Objetivos gerais e específicos..........................................................................................10
Procedimentos metodológicos.........................................................................................11
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO..............................................................................11
1. ORIGEM E EVOLUÇÃO DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO
BRASIL................................................................................................................................................11
1.1. A habitação como produto e os problemas de salubridade..........................12
1.2. A Era Vargas e a Produção Estatal da Moradia...........................................14
2. CONSIDERAÇÕES SOBRE ARQUITETURA MODERNA....................................16
2.1. A arquitetura moderna no Brasil..................................................................18
2.2. A arquitetura moderna em campos dos Goytacazes....................................20
3. PRECEDENTES PROJETUAIS.................................................................................21
3.1. Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)................21
3.2. Karl Marxs Hof............................................................................................25
3.2. Narkomfin....................................................................................................27
3.4. Prédio do Ministério da Educação...............................................................29
3.5. Parque do Ibirapuera....................................................................................30
3.6. Hospital Sarah Kubitschek..........................................................................32
3.7. Mansion Citrohan........................................................................................32
3.8. Superquadras de Brasília.............................................................................33
3.9. Arquitetura Moderna em Campos dos Goytacazes......................................34
3.10. Mapa Referencial......................................................................................35
4. PROPOSTA ARQUITETÔNICA..............................................................................38
4.1. Localização.................................................................................................38
4.2. Transporte e mobilidade urbana.................................................................41
4.3. Impacto da implantação..............................................................................42
4.4. Condições legais do projeto........................................................................42
4.5. Programa de necessidades...........................................................................42
4.6. Partido arquitetônico...................................................................................44
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................65
APÊNDICES................................................................................................................................66
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................................68

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INTRODUÇÃO

Considerações Iniciais
A arquitetura moderna como um todo abrange a questão social por definição. Os
traços minimalistas e as formas fáceis e limpas expressam a racionalidade de um momento
histórico onde criar arquitetura estava ligado a dar esperança a várias famílias sem lar. A
arquitetura moderna surgiu facilitando a produção massiva de moradia na Alemanha do pós
guerra, e encontrou no racional uma beleza limpa e crua.
Essa beleza inspirou várias correntes e vários arquitetos, chegando ao Brasil com uma
linguagem única e própria. Logo o modernismo ganhou o público brasileiro e os anos 60
explodiram em formas geométricas e jardins tropicais. Porém a função original/social foi
esquecida, e a racionalidade passou a ser mais valorizada pelo plástico volumétrico que pela
tecnologia e rapidez inerentes a projetos de habitação social. (BENEVOLO,1976)
Em Campos dos Goytacazes não foi diferente. As pessoas que podiam contratar
arquitetos para que desenhassem suas casas modernistas o faziam, enquanto a desordem do
crescimento sem planejamento das favelas crescia.
Acredita-se que seria de grande importância a criação de um conjunto habitacional em
Campos dos Goytacazes que evidenciasse essa forte corrente modernista presente em áreas mais
nobres da cidade, para retomar o conceito social de um estilo que não é só plasticamente
agradável.

Justificativa
Campos dos Goytacazes tem um grande número de obras modernistas: casas,
instituições e jardins de arquitetos e paisagistas famosos, de grande expressão, e grande parte
dessas obras estão na área central da cidade em áreas nobres.
Pretende-se criar um projeto arquitetônico que vá além da importância estética, e
resgate as origens do movimento modernista, criado numa situação de pós guerra e direcionado
à pessoas carentes com foco na racionalidade e redução de custos. Acredita-se que o diferencial
desse projeto é a inovação a partir do simples e o uso de tecnologias baratas e eficientes.

Objetivos gerais e específicos


Analisar a arquitetura do século XX e suas organizações espaciais para a definição da
implantação do projeto de um conjunto habitacional em Campos dos Goytacazes.
Fazer uma análise da história da arquitetura moderna no Brasil e em Campos dos
Goytacazes.

10
Fazer uma análise da história da habitação social no Brasil e em Campos dos
Goytacazes.
Levantar dados sobre a situação da habitação social na cidade.
Desenvolver um projeto de um Conjunto Habitacional Modernista em Campos dos
Goytacazes.

Procedimentos metodológicos
Pesquisa bibliográfica baseada em livros e artigos que tratem sobre o tema.
Pesquisa documental.
Pesquisa de campo em conjuntos habitacionais em Campos dos Goytacazes e Rio de
janeiro, a fim de constatar de perto as questões pertinentes a implantação do projeto
arquitetônico proposto.
Entrevistas com moradores de conjuntos habitacionais para que sejam evidenciados os
principais problemas habitacionais da região pelo ponto de vista dos moradores.

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Os tópicos desenvolvidos no presente trabalho estão apresentados na seguinte forma:


 No capítulo um: a origem e evolução da habitação de interesse social no Brasil
 No capítulo dois: as considerações sobre a arquitetura moderna
 No capítulo três: os precedentes projetuais
 No capítulo quatro: a proposta arquitetônica
 No capítulo cinco: as considerações finais

1 - ORIGEM E EVOLUÇÃO DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL


NO BRASIL

O início da habitação voltada para o interesse social foi marcado pela grande
ameaça a saúde pública e também pelas condições desumanas as quais as pessoas eram
submetidas para ter uma moradia. O autoritarismo da ordem sanitária para a resolução
dos problemas gerados pela falta de estrutura e planejamento nas moradias de produção
rentista teve seu papel na contenção de doenças ocasionadas pela falta de higiene.
Essa também é a origem do preconceito em relação à habitação de interesse
social, uma vez que esta foi o berço de tantos problemas sociais e focos de doenças.

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1.1 - A habitação como produto e os problemas de salubridade
O surgimento do urbanismo moderno do Brasil esteve relacionado com o início
da república e o boom econômico que ocorreu de 1870 até 1913, quando a crise do
sistema econômico mundial interrompeu este ciclo (CARDOSO DE MELLO,1982).
Desde 1840 o Brasil vai estruturar a economia exportadora dentro dos novos padrões da
divisão internacional do trabalho. Os países centrais como Inglaterra e França passam a
estruturar o centro hegemônico do capitalismo internacional, e os países como o Brasil
passam a ser os grandes fornecedores de matérias primas e insumos agrícolas para os
países centrais.
A antiga economia mercantilista colonial é substituída por uma economia
agrícola exportadora que introduz máquinas de beneficiamento e novas fontes de
energia, como vapor para as usinas de açúcar.
Outro fator importante da modernização que ocorre no período será a
introdução da ferrovia que irá potencializar a ocupação do território ampliando as áreas
agriculturáveis. Neste ciclo teremos o esboço da modernização das cidades brasileiras
principalmente nos corredores de exportação onde será criada as cidades dos fluxos
(cidades portuárias).
Esta nova divisão internacional do trabalho vai exigir uma eficiência maior no
deslocamento das cargas e dos produtos do complexo agro-exportador. A lógica
capitalista vai rebaixar os custos do transporte, que reduziu de 80% (antes da ferrovia)
para 20% o custo total da produção. A substituição da mão de obra escrava pela mão de
obra livre também terá sua parte na revolução da planilha de custos das unidades de
produção. Assim de 1870 a 1913, a introdução de mão de obra livre nas fazendas
acelera as relações capitalistas de produção. Esta mão de obra livre entra num ciclo de
consumo de alimentos, roupas e outros bens não duráveis. Inicia-se uma
industrialização voltada para o abastecimento desses bens.
É nesse contexto de crescimento econômico que surgem as primeiras formas de
sub-habitação1, que foram berço de grandes epidemias. A estrutura arquitetônica das
moradias da época além de modesta eram insalubres e desprovidas de qualquer
conforto.

1
Entende-se por sub-habitação uma moradia que não atende os critérios básicos de salubridade e direitos
humanos, uma vez que uma casa é mais que um abrigo físico. Deve ser um local de interação entre
familiares, cumprindo seu valor social na formação de cidadãos. Mocambos, cortiços, favelas, são
exemplos de sub-habitações.

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“Esses cortiços [...] não são senão casas de dormida que se
adicionam alguns cômodos para uso comum: uma sala com
vários fogões improvisados para uso de todos, uma latrina
pessimamente instalada e compridos corredores com
iluminação insuficiente”
(MOTTA, 1894)

FIGURA 01 – Cortiço do Rio de Janeiro em 1906 na Rua Visconde do Rio Branco


Fonte: http://sociologiasurbanas.blogspot.com.br/

FIGURA 02 – Cortiço ou estalagem em São Paulo na Rua dos Inválidos


Fonte: http://geomarcos.blogspot.com.br/2008_07_01_archive.html

A cidade dos fluxos entra em crise neste período em função da estrutura urbana
colonial que não respondia as novas demandas de suporte e infra-estrutura para
13
exportação. As cidades portuárias e as cidades nodais como São Paulo, Campinas,
Santos, Rio de Janeiro e Campos dos Goytacazes entram em colapso com epidemias
(malária, febre amarela).

1.2 - A Era Vargas e a Produção Estatal da Moradia


Segundo Waren Dean (1971), ao analisar a origem dos movimentos operários
no Brasil dominados pela corrente anarquista que não adotava uma proposta de
negociação reformista onde a questão da habitação deveria constar nas reivindicações
salariais e trabalhistas, a política habitacional voltada para a população de baixa renda
tem um início nas vilas operárias ligadas ás indústrias nascentes no final do século XIX
e início do século XX.
Com o desenvolvimento das Caixas de Previdência, dentro das indústrias
começa a surgir a discussão destes fundos se dedicarem à produção de habitação
operária financiada por estas. Irá ocorrer uma mudança significativa com a Revolução
de 30 que vai adotar uma política sindical e previdenciária inspirada nos governos
fascistas da Europa.
Como não se tornava possível a compra, os habitantes dos centros urbanos em
expansão se viam obrigados a locar imóveis, mesmo assim com muita dificuldade. A
construção de casas para alugar passou a ser um tipo de investimento. Todas as pessoas
de poder aquisitivo mais elevado preferiam construir casas para alugar, justamente por
existirem poucas formas de investimento financeiro. Além disso, o mercado era carente
desse tipo de produto, e logo os preços de locação começaram a ficar absurdamente
caros.
Na Era Vargas (1930-1945) o poder público passa a ver a moradia como o
berço do “novo homem” e a discussão modernista começa a repercutir, mostrando uma
nova forma de construir valorizando o morador e minimizando custo de forma a não
prejudicar a qualidade de vida de forma geral.
Como o setor privado era insuficiente para a produção de moradias, o Estado
assumiu essa responsabilidade, marginalizando a produção rentista pela primeira vez
desde a República Velha.
“A partir de 1930 [...] a ascensão do fascismo e do socialismo
criaram um clima ideológico amplamente favorável à
intervenção do Estado na economia e no provimento aos

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trabalhadores das condições básicas de sobrevivência, inclusive
a habitação.”(BONDUKI, 2004)

O então presidente Getulio Vargas adotou uma política em relação ao preço


dos aluguéis, os congelando em 1942 para que fosse possível o pagamento destes pela
parcela que já estava morando de aluguel, uma vez que a desproporção entre a renda e o
valor do aluguel levava a condições precárias de vida. Não podendo comprar ou alugar
moradias descentes, a população trabalhadora sem carteira assinada foi conduzida às
sub-habitações, que se tornaram a forma mais acessível e imediata de moradia.
Além dos trabalhadores, os empresários também sofriam com o aumento dos
aluguéis, sendo forçados a aumentar também os salários. Os protestos dos sindicatos
finalmente foram ouvidos quando pela primeira vez uma política habitacional foi
promovida pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões, que entre 1937 e 1964
financiaram a construção de 140 mil moradias, sendo que muitas delas foram destinadas
ao aluguel (MARICATO, 1997).
A responsabilidade de assumir a política urbana passou a ser das Caixas
Previdenciais, Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e
Cargas (IAPTEC), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI),
Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Comerciários (IAPC) e o Instituto de
Aposentadoria e Previdência dos Bancários (IAPB) e outros. Esta reforma vai criar um
sistema unificado por categorias, aonde a organização do instituto de previdência é por
ramos de produção. Este sistema vai ter grande importância na história da habitação
social no Brasil, criando os grandes conjuntos habitacionais em boa parte das grandes
cidades brasileiras. O grande problema eram os trabalhadores que não estavam
organizados dentro desses institutos, que eram uma parcela significativa da mão de
obra. Estes irão habitar os loteamentos periféricos e cortiços nos arrabaldes das cidades
ou nas formas de sub-habitação da época.

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FIGURA 03 – Getúlio Vargas na Inauguração do Conjunto Residencial Vila IAPI
Fonte: http://fotosantigas.prati.com.br/

2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARQUITETURA MODERNA

O nascimento do movimento moderno é um conjunto de contribuições


coletivas e individuais, sendo imprecisa a data, lugar e ambiente cultural de seu
surgimento, mas foi entre o fim da Primeira Grande Guerra e 1927, marcado por
importantes fatos históricos, o que ocorreu o surgimento de figuras determinantes da
arquitetura moderna. (BENEVOLO, 1976)
A Alemanha foi o palco para o amadurecimento desse movimento
principalmente por ter uma cultura de pouca expressão comparada à francesa e a inglesa
e uma industrialização tardia em reação aos outros países da Europa. Esse falta de
precedentes foi determinante para o surgimento do pensamento moderno, mesmo antes
da guerra, que rompeu as ligações com o passado histórico para o nascimento de uma
nova forma de criar a arte de forma global.
Os avanços da Revolução Industrial também proporcionaram grandes
mudanças na forma de construir, com inovações tecnológicas e o uso de novos materiais
que possibilitaram a separação dos elementos estruturais dos de vedação, contribuindo
para a liberdade de criação, possibilitando a concretização da teoria moderna.
Em 1907 é formada a organização cultural mais importante de antes da guerra,
a Deutscher Werkbund, por onde passam grandes arquitetos e artistas como Gropius,
Mies van der Rohe, Van de Velde e Peter Behrens que mais tarde seriam expoentes
modernistas.

16
A primeira guerra mundial (de 1914 a 1918) abre os olhos dos arquitetos
europeus para uma nova realidade e um novo modo de projetar como diz Benevolo:
“Modifica-se, assim, a clientela dos arquitetos: menos encargos
dos particulares e mais do Estado e das entidades públicas,
menos casas isoladas e mais bairros e arranjos de conjunto. A
importância da urbanística cresce rapidamente.”
(BENOVOLO, 1976)
Walter Gropius foi um dos protagonistas do movimento moderno que
interrompeu a carreira para ir para a guerra, e ressalta em seu discurso a importância do
arquiteto na mudança da realidade dos países envolvidos, principalmente na Áustria e
Alemanha:
“A plena consciência de minha responsabilidade como
arquiteto, baseada em minhas próprias reflexões, foi em mim
determinada como resultado da Primeira Guerra Mundial,
durante a qual minhas premissas teóricas tomaram forma pela
primeira vez. Após aquele violento abalo, cada ser pensante
sentiu a necessidade de uma mudança de frente intelectual.
Cada um dentro de sua esfera particular de atividade, desejava
dar sua contribuição para superar o desastroso abismo aberto
entre a realidade e o ideal.”
(GROPIUS,1935)
Em 1918 Gropius foi convidado a dirigir dois institutos que ele fundiu e
formou a Staatliches Bauhaus, a escola de arte moderna que marcou o inicio do
movimento na arquitetura e artes gráficas. Os métodos de ensino davam importância aos
exercícios práticos e a ligação do artesanal com o industrial, transformando o ensino
numa experiência capaz de desenvolver toda a personalidade humana.

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FIGURA 04 – Bauhaus
Fonte: http://arthistoryfeathers.files.wordpress.com

Em 1927 nota-se uma unidade no modo de pensar a arquitetura através dos


concursos internacionais e exposições e em 1928 ocorre o primeiro Congresso
Internacional de Arquitetos Modernos, onde foram discutidos seis pontos: a técnica
moderna e suas conseqüências; a padronização; a economia; a urbanística; a educação
da juventude; a realização: a arquitetura e o Estado.

2.1 – A arquitetura Moderna no Brasil


A chegada do movimento ao Brasil se deu pela Semana de Arte Moderna, que
ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo em 1922 e foi o primeiro eco da vanguarda
modernista européia do primeiro pós-guerra. O evento expunha duas correntes
principais, a primeira rompendo as amarras formais das correntes européias que
subjugavam a cultura nacional importando os modismos estrangeiros, e a segunda era
uma vertente voltada para a criação e investigação de novos estilos voltando às origens
do homem brasileiro. Da fusão desses pensamentos nasceu o movimento antropofágico
que aceitava referências estrangeiras, mas passando sempre por uma releitura nacional.
O panorama político no Brasil também ajudou bastante a implantação de
prédios de grande importância para o momento cultural vigente. Com a Revolução de
30 ocorre a ascensão ao poder de uma classe de governantes que saiu do mesmo
ambiente em que se apóiam os artistas de vanguarda, que antes eram vistos como
oposição e agora fazem parte da elite dominante.

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[...] Esta, no seu desenrolar [a Revolução de 30], criou as condições para o
encontro com o que havia em termos “revolucionários” entre arquitetos e artistas para
a gestação dos planos para o Ministério da Educação. (ARTIGAS, 2004)
Outro fato importante para a mudança do pensamento em relação à arquitetura
foi a nomeação de Lúcio Costa para diretor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro,
a então capital nacional. Ele convidou arquitetos que partilhavam das mesmas idéias
para ensinar na instituição, dentre eles Gregori Warchavchik, autor de obras
modernistas que marcaram o início do movimento no Brasil. Juntos lecionaram por
menos um ano, quando Lucio costa foi deposto por revolucionar o ensino tradicional
das artes voltadas para a construção.
Em 1935 uma equipe de ilustres arquitetos liderados por Lúcio Costa, e em
outro momento por Oscar Niemeyer, se torna responsável pelo projeto do Ministério da
Educação que contou com a consultoria do mestre francês Le Corbusier. Quando o
prédio ficou pronto se tronaram evidentes os elementos que compunham o novo estilo:
“Essa é, de fato, a primeira realização de um tipo de realização
que Le Corbusier de há muito cogitava [...] e aqui estão
rigorosamente aplicados todos os princípios de seu ideário
arquitetônico: os pilotis, o terraço jardim, o pan de verre, o
brise-soleil.”(BENOVOLO, 1999)

A partir daí as oportunidades para arquitetos modernistas se multiplicaram


através de concursos e convites para obras públicas, tornando a forma brasileira de
projetar e construir mundialmente conhecida.
Os laços entre a arquitetura moderna e a política se tornaram ainda mais fortes
e evidentes em 1955 com a presidência de um mineiro grande defensor do movimento
modernista, Juscelino Kubitschek. A construção de uma nova capital foi a marca do
governo que tinha como visão levar o crescimento populacional e de investimentos do
litoral para o interior do território nacional. Depois de estudos feitos por companhias
estrangeiras, foi definido que o Planalto Central seria o local ideal para a expansão
territorial desejada.
Niemeyer é nomeado diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de
Brasília, instituindo um concurso para o traçado urbanístico para a nova capital. O
famoso projeto de Lúcio Costa foi eleito, organizando a cidade em dois eixos ortogonais

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que depois foram moldados a topografia local, formando um desenho semelhante a um
avião. Estava sendo criado o Plano Piloto.

FIGURA 05 – Plano Piloto de Brasília


Fonte: http://gate4.wordpress.com

Na década de 1960 o movimento continua sendo expoente na América Latina e


com o passar do tempo vai perdendo sua força, resultado de conquistas nos campos
sociais e políticos.

2.2 – A arquitetura Moderna em Campos dos Goytacazes


O arquiteto Joffre Maia foi o primeiro arquiteto modernista a influenciar o
modo de construir em Campos dos Goytacazes. Sua atuação na cidade tem início na
década de 1950, em projetos residenciais.
Francisco Leal também foi uma figura importante na expansão do movimento
moderno no norte-fluminense, contribuindo com projetos institucionais que são

20
referência na região. O Palácio da Cultura é uma de suas obras mais famosas, além de
vários projetos residenciais em Campos dos Goytacazes.
Infelizmente a maioria das obras modernistas da cidade está localizada em
bairros nobres e a função social do movimento foi perdida.

3 – PRECEDENTES PROJETUAIS

3.1 – Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho)


O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como
Pedregulho ou Minhocão, localiza-se no bairro São Cristóvão perto de comunidades
carentes e tem um terreno com topografia bem acentuada.
Além dos três blocos residenciais, o complexo abriga uma escola primária,
ginásio, piscina com vestiários, centro de saúde, lavanderia, cooperativa, playground e
creche.
Em pesquisa de campo realizada no dia 21 de abril de 2012 pôde-se ter acesso
a escola e percebeu-se claramente como a arquitetura condiciona a qualidade do ensino
quando bem integrado com os aspectos físicos do terreno e as questões primárias de
fluxo, ventilação, insolação, etc. Elementos vazados foram amplamente usados
principalmente nos corredores de acesso que são uma marca no projeto até mesmo nos
outros prédios. Da quadra, a vista para o bloco de planta serpenteada emoldura a
paisagem e todo o pátio tem uma visão privilegiada da composição da obra com a
vegetação existente.

FIGURA 06 – Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes


Fonte: Acervo Pessoal

21
O bloco residencial serpenteado tem o seu acesso principal por uma passarela
no andar de pilotis. Os moradores usam a área para recreação e festas, além de abrigar a
creche e o serviço social do conjunto com uma vista sem obstáculos para todo o Rio de
Janeiro. O estado de conservação do prédio é precário e muitas grades de proteção estão
danificadas, comprometendo a segurança das crianças que freqüentemente brincam ali.
Os moradores também reclamam da falta de cuidados com a vegetação em volta do
prédio, acumulando muita sujeira e denegrindo a fachada principal.
Nos dois primeiros níveis do prédio estão os apartamentos de um quarto, e
acima dos pilotis erguem-se dois pavimentos de apartamentos duplex com dois quartos.
Teve-se acesso a um apartamento duplex e foi constatada a qualidade e o conforto do
mesmo, com piso e paredes muito bem conservados e móveis novos, uma imagem bem
contrastante com a área externa.

FIGURA 07 – Andar de pilotis do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes


Fonte: Acervo Pessoal

22
A proprietária da apartamento, Dona Marília, relata que o valor do condomínio
é de R$ 25,00 e ela não troca o Pedregulho por nada. Apesar da comunidade perto, ela
diz que nunca teve problemas com segurança e o policiamento tem se tornado cada vez
mais freqüente. A vista da sua sala e do seu quarto são ótimas e ela mora lá há trinta
anos, num prédio que conta a história da arquitetura moderna em seus detalhes, no
cuidado com o morador e na simplicidade de sua forma escultural.

FIGURA 08 – Entrevista com moradora do Pedregulho


Fonte: Acervo Pessoal

A área destinada à escola está na parte mais baixa do terreno. Na parte térrea
está a área de esportes com quadra e ginásio, o playground e o refeitório que fica
embaixo das salas de aula e é completamente aberto permitindo um bom fluxo e
conforto térmico. Tanto o ginásio quanto o refeitório receberam painéis de azulejos
pintados por Portinari e Burle Marx colorem o espaço das crianças.

23
FIGURA 09 – Mural de Burle Marx no refeitório da escola do Pedregulho
Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 10 – Mural de Portinari no ginásio da escola do Pedregulho


Fonte: Acervo Pessoal

O acesso ao bloco de salas de aula é feito por uma rampa, e toda a circulação
entre as salas é feita por meio de um único corredor que ameniza a insolação e melhora
a ventilação por ter a vedação feita com elementos vazados.

24
FIGURA 11 – Rampa e corredor da escola do Pedregulho
Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 12 – Pavimento térreo e andar de salas de aula da escola do Pedregulho


Fonte: Acervo Pessoal

3.2 – Karl Marxs Hoff


Durante os anos 20 o governo socialista austríaco construiu edifícios de
habitação social denominados Hof.

25
FIGURA 13 – Karl Marxs Hoff em Viena
Fonte: http://arq-renatobn.blogspot.com

Pela escala e estrutura, os höffe (plural de hof) assemelham-se a imensos


quarteirões com a parte interna dos prédios composta por espaços livres comunitários,
geralmente preenchidos por jardins. Os equipamentos sociais eram parte do projeto,
endossando a idéia da integração do meio com a habitação e a coletividade. Escolas,
espaços de recreação, lavanderias, serviços médicos, estabelecimentos comerciais e
instalações sanitárias eram parte do programa. Aos poucos essa tipologia foi ganhando
popularidade e deixou influências no urbanismo moderno.

FIGURA 14 – Vista da implantação do Karl Marxs Hoff em Viena


Fonte: http://arq-renatobn.blogspot.com

26
Com o fim do socialismo europeu, o enorme edifício viu sua decadência, já que
seu uso e ideologia básica estavam atrelados a um momento político. Os apartamentos
se tornaram obsoletos e tiveram suas infra-estruturas degradadas.

FIGURA 15 – Permeabilidade dos prédios no Karl Marxs Hoff


Fonte: http://arq-renatobn.blogspot.com. 3

A Figura 15 mostra um dos parâmetros funcionais do prédio que permite a


permeabilidade do edifício. Dessa forma as noções de proximidade entre o urbano e o
residencial são estreitadas gerando uma sensação de comunidade.
Um plano de intervenção incluindo obras como reparação da estrutura,
substituição de pavimentos, janelas e outros elementos foi implantado nos anos 90, para
que o edifício pudesse se ajustar aos padrões de vida atuais.
Atualmente as habitações restauradas são comumente ocupadas por jovens que
não tem poder aquisitivo para morar em locais mais caros da cidade e querem usar os
espaços internos do prédio para promover encontros sociais, retomando o uso original.

3.3 - Narkomfin
Moisei Ginzburg foi um arquiteto atraído pela União Soviética para trabalhar
lado a lado com uma equipe para completar algumas das obras mais inspiradas e
visionárias da época. Como judeu ele teve a educação universitária negada na Rússia
czarista e aprendeu arquitetura em Paris e Milão.

27
O Conjunto Habitacional Narkofin foi a maior conquista de Ginzburg,
desenhado para os trabalhadores do Comissariado de Finanças. Pilares elegantes,
corredores largos e enormes janelas de vidro duplo contribuem para um conjunto de
apartamentos de diferentes tamanhos, restaurante comunitário, creche, lavanderia e
jardim na cobertura.

FIGURA 16 – Esquema dos pavimentos do Narkonfin


Fonte: http://lumieregallery.net/artis

FIGURA 17 – Fachada do prédio de apartamentos do Narkonfin


Fonte: http://lumieregallery.net/artists

28
FIGURA 18 – Fachada do prédio de equipamentos do Narkonfin
Fonte: http://lumieregallery.net/artists

3.4 – Prédio do Ministério da Educação


O Prédio do Ministério da Educação foi construído e idealizado durante a Era
Vargas na cidade do Rio de Janeiro . Gustavo Capanema foi indicado como Ministro da
Educação para revelar o ecletismo ideológico do novo governo, e instituíu o concurso
de anteprojeto do edifício do Ministério da Educação e Saúde, em 1935, que foi vencido
por um arquiteto acadêmico chamado Archimedes Memória, mas no entanto, o projeto
não atendia as expectativas progressistas do ministro Capanema. O resultado do
concurso foi simplesmente desconsiderado, a fim de buscar uma arquitetura que
inspirasse um edifício inovador, segundo os cânones do estilo internacional, ícone da
modernidade pretendida. Lucio Costa, que havia participado do concurso, foi indicado
para a criação de um novo projeto modernista, mostrando que a arquitetura moderna no
Brasil teve inicio em determinações políticas autoritárias. A equipe montada por Lúcio
Costa contava com os arquitetos Carlos Leão, Ernani Vasconcelos, Oscar Niemeyer,
Afonso Eduardo Reidy e João Moreira, também adeptos do funcionalismo.

29
FIGURA 19 – Inauguração do Prédio do MEC no Rio de Janeiro
Fonte: http://www.ccpg.puc-rio.br

Uma grande novidade do projeto foi referente à implantação, dispondo o bloco


principal perpendicular à Av. Graça Aranha, valorizando a vista para a Baía e
resultando na verticalização do edifício. “A situação do edifício em meio de quadra
subvertia as normas de ocupação do Plano Agache, que abrigava a construção dos
volumes alinhados no perímetro externo do lote e refletia um modelo de implantação de
arranha-céus isolados não caracterizadores das combatidas ruas corredores.”
(SEGAWA, 2002).
Logo o edifício se tornava único em relação ao contexto urbano e a relação
com o entorno. As influências de Le Corbusier são inegáveis, sendo o pilotis a
expressão mais significativa, permitindo a criação de uma praça cívica no nível do solo,
dando a idéia de um espaço monumental para eventos, tendo sua amplitude associada ao
poder. A eficiência em termos de insolação e conforto térmico são garantidas pelo uso
de brises que também valorizam a estética do prédio.

3.5 – Parque do Ibirapuera


Em 1951, uma equipe formada pelos arquitetos Oscar Niemeyer, Zenon
Lotufo, Eduardo Kneese de Mello e Hélio Cavalcanti, Ícaro de Castro Melo, Milton

30
Ghiraldini, Otávio Augusto Teixeira Mendes, responsável pelo projeto paisagístico,
entre outros, com colaboração de Gauss Estelita e Carlos Lemos, começa seus estudos
na área do parque do Ibirapuera, localizado na cidade de São Paulo. Burle Marx
colaborou com um projeto em 1953 que acabou não executado. O terreno ocupa mais de
um milhão e oitocentos mil metros quadrados, e tem como limítrofes as Av. IV
Centenário e Av. República do Líbano.
A amplitude e os estudos preliminares inspiraram a idéia principal do parque, a
conexão de grandes edifícios por uma marquise ladeados por um grande lago. Os
primeiros estudos foram modificados em função da escala, uma vez que a área é muito
vasta e a coerência entre os blocos e os espaços deveria ser mantida. O primeiro estudos
de marquise, com traçado bem menos elegante que a executada, é definida por uma
mescla de linhas retas e curvas, unindo todos os edifícios.
No início do ano de 1953 chega-se ao desenho final do conjunto. A
reformulação da forma da marquise suavizou seu traçado, conectando quatro edifícios.
Os pavilhões mantiveram suas características geométricas iniciais, apesar de mudanças
acarretadas pelos programas. A monumentalidade da entrada foi garantida pelo prédio
do Pavilhão de Exposições e o Auditório.

FIGURA 20 – Parque do Ibirapuera em São Paulo


Fonte: http://www.parquedoibirapuera.com/atracoes/ambientes/marquise-ibirapuera/

31
3.6 – Hospital Sarah Kubitschek
A rede de hospitais Sarah Kubitschek é destinadas ao atendimento de vítimas
de politraumatismos e problemas locomotores, objetivando sua reabilitação. O nome é
em homenagem à Sarah Kubitschek, primeira dama do país na época da fundação de
Brasília. A rede conta com unidades em Belém, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza,
Macapá, Rio de Janeiro, Salvador e São Luís.
Os prédios que compõe a rede mantém uma identidade plástica coerente e
marcante que consagraram o arquiteto João Filgueiras Lima, mais conhecido como
Lelé. O uso da argamassa armada e sheds de ventilação norteiam o projeto que enfatiza
a eficiência energética e o conforto térmico. O prolongamento das testeiras verticais
pintadas de amarelo desenham uma coberta curva que dispõe de fileiras paralelas de
brises horizontais. Desse modo, os ambientes internos ficam resguardados dos raios
diretos do sol.

FIGURA 21 – Hospital da Rede Sarah


Fonte: http://www.sarah.br

Os ambientes internos estão intimamente conectados aos jardins externos que


rodeiam o edifício, além do elemento água presente no espelho d’água.

3.7 – Masion Citrohan


Esse protótipo de Le Corbusier chamado Citrohan Mansion também é
conhecido como “a máquina de morar”. O nome revela a intenção do arquiteto, a
praticidade, tanto na hora de construir como na hora de morar. O conceito principal é de

32
que a casa poderia ser feita em série, assim como carros. A pré-fabricação é sugerida
como uma forma de reduzir ou minimizar os equipamentos necessários para a
construção das casas, em resumo, estava sendo imitado o conceito de fabricação usado
em nas linhas de montagem de carros, navios e aviões.

FIGURA 22 – Maquete de uma Masion Citrohan


Fonte: http://lumieregallery.net/artists

Com cinco versões construídas entre 1919 e 1927, as casas tinham em comum o
uso do espaço para o conforto do morador. A garagem é incorporada à casa, facilitando
o acesso e enfatizando a proximidade da máquina com a moradia.

3.8 – Superquadras de Brasília


As Superquadras são organizações urbanas implantadas em Brasília que
permitem uma organização do espaço residencial e o uso do entorno, criando Unidades
de Vizinhança, enfatizando o pensamento socialista inerente à época. As primeiras
Superquadras foram pensadas para suprir a deficiência habitacional em Brasília e foram
implantadas no meio da via W3 na Asa Sul. Lucio Costa, responsável pelo desenho
urbano da capital nacional se preocupou em separar os fluxos de pedestre e veículos,
fazendo uso de cul de sac 2 numa clara influência das Cidades Jardim. Apesar da

2
Cul-de-sac é uma expressão de origem francesa, que se traduzida literalmente, significaria fundo de
saco. Em português significa "balão de retorno", uma vez que é neste espaço ampliado que terminam as

33
concepção do conceito ser de Lúcio Costa, a sua equipe composta por vários outros
arquitetos desenvolveram os modelos de quadra com diferentes prédios e equipamentos.
“As superquadras possuem 240 x 240 metros, considerando
apenas o perímetro, mais uma moldura de vegetação de 20
metros de largura em todo seu entorno. É interessante observar
que, quando consideramos uma grande unidade de
parcelamento constituída por duas superquadras, mais a
entrequadra que não é atravessada por nenhuma via entre elas,
temos um grande quarteirão com 280m x 620m.”(MACHADO,
2007)”
A disposição dos edifícios nas superquadras se dá de formas variadas (inclusive
a tipologia dos prédios também poderia ser modificada), mas sempre obedecendo aos
critérios que norteiam o conceito de unidade de vizinhança. O acesso as escolas, a
proximidade dos equipamentos de uso comum e a separação do tráfego de veículos
eram questões a serem respeitadas em todos os modelos de implantação.

FIGURA 23 – Implantações de Superquadras em Brasília


Fonte: Dissertação de mestrado de Marília Pacheco Machado

3.9 - Arquitetura Moderna em Campos dos Goytacazes


A riqueza da arquitetura moderna em Campos dos Goytacazes está restrita a
poucos bairros da cidade, geralmente em projetos residenciais com moradores de maior
poder aquisitivo.

ruas sem saída, constituindo solução adequada para automóveis retornarem ao sentido oposto à sua
direção. O termo também é utilizado com a função de designar "becos-sem-saída' e "ruas sem saída".

34
Em pesquisa de campo realizada no dia 23 de maio de 2012 analisou-se a
estrutura estética das casas modernistas do bairro Parque Tamandaré. A linha de
composição plástica das casas deverá ser mantida na elaboração do projeto proposto.

3.10 – Mapa Referencial


O mapa referencial é uma representação gráfica simbólica que possibilita o
entendimento das bases do projeto em questão. Através de croquis e desenhos
compreende-se o acompanhamento das origens das idéias que levaram ao esboço dos
equipamentos do conjunto habitacional proposto e sua organização espacial.

FIGURA 24 – Mapa Referencial


Fonte: Acervo Pessoal

35
Os personagens do mapa referencial são as obras citadas como precedentes
projetuais, e para facilitar a legibilidade do mesmo são usadas diferentes escalas.

FIGURA 25 – personagem do mapa: Parque do Ibirapuera


Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 26 – personagem do mapa: Hospital da Rede Sarah


Fonte: Acervo Pessoal

36
FIGURA 27 – personagem do mapa: Edifício do Ministério da Educação
Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 28 – personagem do mapa: Pedregulho


Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 29 – personagem do mapa: Karl Marxs Hof


Fonte: Acervo Pessoal

37
FIGURA 30 – personagem do mapa: Narkomfin
Fonte: Acervo Pessoal

4 – PROPOSTA ARQUITETÔNICA

O projeto proposto trata-se de uma parceria público-privada, onde a venda das


residências unifamiliares subsidiaria a construção de parte dos equipamentos de uso
público. Pretende-se a doação dos apartamentos da unidade multifamiliar a famílias
dentro dos programas habitacionais pelos critérios posicionados pelo poder público.
Dessa forma haveria a mistura de classes convivendo num mesmo espaço com grande
representatividade cultural, valorizando o idealismo modernista.

4.1 - Localização
A escolha do terreno foi feita visando à integração das construções com o
entorno. As famílias que passarão a morar no conjunto habitacional terão fácil acesso às
áreas centrais da cidade, não ficando isoladas como geralmente ocorre, assim como a
população local poderá se beneficiar dos equipamentos urbanos. Será uma alternativa
para beneficiar a todos.
O terreno localiza-se na cidade de Campos dos Goytacazes no bairro Parque
Alphaville e encontra-se sem uso. Algumas construções deverão ser desapropriadas para
utilização total do terreno no projeto, como mostra a figura a seguir.

38
FIGURA 31 – Terreno
Fonte: Google Earth

FIGURA 32 – Terreno e áreas a serem desapropriadas


Fonte: Acervo pessoal

As vias limítrofes ao terreno são a Avenida Arthur Bernardes, Rua Antônio


Manoel e a Rua José Ildefonso Evangelista Campos, e próximas a ele estão a Avenida

39
Princesa Isabel e a Avenida Vinte e Quatro de Outubro que tem grande importância no
sistema viário de Campos dos Goytacazes.
A área escolhida ocupa 39859,40m² e de acordo com a lei 7974 de Uso e
Ocupação do Solo do Município de Campos dos Goytacazes, está situada em uma Zona
Residencial 4 – ZR4. Abaixo está representado parte do mapa anexo da legislação no
trecho pertinente ao projeto.

FIGURA 33 – Trecho do Mapa de Uso e Ocupação onde se encontra o terreno


Fonte: Mapa de Uso e Ocupação de Campos dos Goytacazes

De acordo com o artigo 66 da referida lei:


“a Zona Residencial 4 – ZR 4 destina-se ao uso residencial
unifamiliar, residencial multifamiliar horizontal, residencial
multifamiliar vertical, sendo permitido comércio e serviços
locais, comércio e serviços de bairro, indústria doméstica e uso
misto, uso institucional local e institucional principal.[...] e será
admitida a construção de Condomínios Urbanísticos e Vilas,
nas condições estabelecidas pela Lei do Parcelamento.”
(Código de Obras do Município de Campos dos Goytacazes)

40
4.2 – Transporte e mobilidade urbana
O transporte público será o grande responsável pela mobilidade dos moradores
que ocuparão a nova área, logo pretende-se articular as linhas que passam nas
proximidades para satisfazer as novas demandas originadas do conjunto habitacional.
As linhas de ônibus em Campos dos Goytacazes são dividas entre setores e
zonas, associadas aos bairros. Como é possível ver na figura 34 o terreno encontra-se na
zona leste, setor 200, representados no mapa abaixo.

terreno

FIGURA 34 – Setorização das linhas de ônibus da cidade de Campos dos Goytacazes


Fonte: Acervo de estudo da EMUT

A Avenida Arthur Bernardes é parte importante no sistema de mobilidade da


área, uma vez que a oferta de serviços e os equipamentos urbanos propostos se tornarão
Pólos Geradores de Tráfego 3 . As três faixas de rolamento da via ajudarão no
escoamento do fluxo, assim como a ciclovia projetada no canteiro central viabilizará
uma alternativa sustentável de transporte.

3
São considerados Pólos Geradores de Tráfego (PGT) os empreendimentos constituídos por edificação
ou edificações cujo porte e oferta de bens ou serviços geram interferências no tráfego do entorno e
grande demanda por vagas em estacionamentos ou garagens.

41
A circulação interna no Conjunto Habitacional se dá em pequenos trechos para
acesso aos estacionamentos. O uso de cul-de-sac foi essencial no traçado urbano para
impedir a permeabilidade do conjunto em áreas residenciais, proporcionando mais
segurança.

4.3 – Impacto da implantação


O impacto social é extremamente relevante para a implantação de um conjunto
habitacional. Tanto as pessoas que irão viver nas novas casas como os moradores locais
terão benefícios devido aos equipamentos urbanos instalados. A área será mais
valorizada por estar num ponto de grande movimento da cidade que precisa crescer de
forma ordena dando espaço a todas as classes sociais.
Além de trazer o benefício da moradia e dos serviços, o projeto será valorizado
enquanto obra arquitetônica, um marco para lembrar o povo campista que fez parte de
um importante momento histórico da arquitetura no Brasil.

4.4 – Condições legais do projeto


O projeto do Conjunto Habitacional será composto por diversas construções
com diferentes usos que deverão estar de acordo com a legislação vigente da cidade de
Campos dos Goytacazes.
Deve-se respeitar também a legislação referente à acessibilidade e mobilidade
urbana, presente na NBR 9050 e o Código de Segurança contra Incêndio e Pânico-
COSCIP do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, já que alguns prédios
abrigarão muitas pessoas ao mesmo tempo.
Na proposta de ante-projeto em questão, alguns parâmetros urbanísticos não
foram detalhados em planta, já que o enfoque no presente trabalho é arquitetônico.

4.5 – Programa Arquitetônico


O conteúdo programático contempla os equipamentos que compõem o projeto
arquitetônico e suas subdivisões particulares.
 Unidade Residencial Multifamiliar
o 32 apartamentos (1un. Tipo 1/ 1un. Tipo 2/ 28un. Tipo 3/ 2un. Tipo 4)
o Pavimento de uso comum
o Estacionamento

42
 Unidade Residencial Unifamiliar
o 27 casas, sendo 2 adaptadas ao uso de deficientes físicos
o Sala
o Cozinha
o Dois ou três quartos
o Banheiro
o Área de Serviço
o Garagem

 Unidade escolar
o Salas de aula
o Banheiros femininos e masculinos para uso dos alunos
o Vestiário feminino e masculino
o Coordenação
o Secretaria
o Recepção
o Diretoria
o Sala dos professores
o Banheiro para funcionários
o Refeitório
o Cozinha
o Despensa
o Área de Serviço
o Quadra poliesportiva
o Horta
o Playground com piso acessível e grama sintética

 Memorial arquitetônico
o Administração
o Lavabo
o Área de Exposição
o Estacionamento

43
 Posto médico
o Recepção
o Banheiros masculinos e femininos
o Consultório Pediátrico
o Consultório Ginecológico
o Consultório Odontológico
o Consultório Clínico Geral
o Sala de vacinação
o Sala de curativos
o Direção
o Arquivos
o Copa

 Centro comercial
o Lojas
o Áreas de convivência
o Quiosques com banheiros públicos
o Estacionamento

4.6 – Partido Arquitetônico


A idéia principal no conjunto habitacional proposto é o resgate da estética
modernista e as idéias que abrangem todo o movimento, tais como a eficiência
energética, o conforto térmico, o diálogo da implantação com o entorno e a praticidade e
funcionalidade das construções.
A implantação foi pensada de modo a simplificar os percursos, relacionar os
usos e promover a socialização. O traçado orgânico dos pisos teve inspiração nos
projetos paisagísticos de Burle Marxs, procurando através da mistura de materiais e
texturas direcionar o uso dos espaços. Todo o conjunto foi idealizado de modo a
permitir a livre movimentação de portadores de deficiência física, minimizando os
desníveis e propondo cominhos alternativos.

44
FIGURA 35 – implantação e o entorno
Fonte: Acervo Pessoal

Como o enfoque do ante projeto apresentado é mais voltado à arquitetura,


alguns parâmetros da implantação paisagística não foram completamente detalhados,
assim como alguns detalhes urbanísticos. Dessa forma algumas questões referentes à
implantação serão descritas neste trabalho monográfico ou indicado em planta através
de textos.
Uma grande intervenção urbanística foi o prolongamento da Rua Princesa
Isabel até a Avenida Arthur Bernardes dividindo o terreno em dois como pode ser visto
na figura 35. Dessa forma os usos segmentaram-se, porém ainda manteve-se o diálogo
entre as construções.

45
FIGURA 36 – Implantação
Fonte: Acervo Pessoal

46
O prolongamento das ruas Dilce Odiléia Martins e Professor Fulvio
Dalessandri para dentro do terreno culminando em ruas sem saída, possibilitou a
implantação de estacionamentos mais perto das residências e serviços. Esse modelo
também garante mais segurança e praticidade ao motorista.
Na parte de cima do terreno ficam as residências unifamiliares em lotes de em
média 230m² e o setor de comércio. As casas são voltadas para os pátios internos. A
garagem é voltada para as vias facilitando o acesso de veículos na casa, e a entrada
principal é feita pelo pátio interno que pode ser acessado pelos pedestres.
Os pátios internos contam com área arborizada e espaços de convivência.
Perto do setor de comércio foram implantados bancos com canteiros e árvores,
para conforto do transeunte proporcionando sombreamento natural como mostra a
figura 37.

FIGURA 37 – equipamento banco com árvore


Fonte: Acervo Pessoal

O Memorial Arquitetônico fica perto da área residencial podendo ser acessado


pelo pátio interno, pelas pessoas que estão no setor comercial e por meio de uma
alameda por entre as casas, facilitando o acesso de quem vem da parte de baixo do
terreno. Sua localização no terreno é estratégica, perto dos estacionamentos, ganhando a
visibilidade dos moradores e visitantes.

47
Na parte da implantação abaixo da Rua Princesa Isabel, está localizada a
Unidade Residencial Multifamiliar implantada com as fachadas no sentido leste/oeste, a
Unidade Escolar engastada no prédio residencial, e o Posto de Saúde com a fachada
principal voltada para o nordeste, a fim de captar o vento predominante.
O estacionamento para a Unidade Escolar e o Posto de Saúde é compartilhado,
contando com 17 vagas, sendo 2 para o uso de deficientes físicos. O estacionamento da
Unidade Residencial Multifamiliar conta com 34 vagas sendo 2 para uso de deficientes
físicos.
A disposição dos equipamentos, paisagismo e a composição do Conjunto
Habitacional como um todo pode ser vista nas figuras abaixo:

FIGURA 38 – implantação com todos os elementos 1


Fonte: Acervo Pessoal

48
FIGURA 39 – implantação com todos os elementos 2
Fonte: Acervo Pessoal

49
FIGURA 40 – vista superior da implantação
Fonte: Acervo Pessoal

50
As unidades residenciais unifamiliares receberam influência direta da
praticidade de funcionalidade da Masion Citroahn de Le Corbusier. O pensamento da
moradia funcionando como uma “máquina de morar”, fez com que o projeto proposto
ganhasse objetividade e concisão em suas formas.

FIGURA 41 – Unidade residencial unifamiliar 1


Fonte: Acervo Pessoal

Como solução térmica, além a implantação favorável com o setor social da


casa voltado para o nascente, a cobertura é feita em parte com cobertura ecológica, uma
alusão ao uso dos jardins suspensos muito presentes em projetos modernistas. O acesso
é feito por uma escada tipo marinheiro perto da parte de serviço no exterior da casa. A
manutenção da cobertura ecológica é de responsabilidade do morador, e no caso das
residências adequadas ao uso de deficientes físicos, propõe-se que haja um auxílio
público para que a manutenção seja feita.

51
FIGURA 42 – Unidade residencial unifamiliar 2
Fonte: Acervo Pessoal

Para manter a padronização das casas o morador poderá mudar a cor do núcleo
central e o material a ser usado para esconder a área de serviço na fachada principal.
Nas figuras 41, 42 e 43 pode-se perceber que a identidade visual é composta
pelo uso da cor azul e elementos vazados de argamassa sem pintura.

FIGURA 43 – Unidade residencial unifamiliar 3


Fonte: Acervo Pessoal

52
A cobertura é feita em parte com telha com inclinação de 8% escondida em
platibanda e cobertura ecológica. A cobertura da garagem é feita em argamassa armada
com inclinação de 3%.
Na residência adequada aos deficientes físicos todas as portas são acessíveis e
não há desnível entre os cômodos. A circulação permite o movimento do cadeirante de
forma prática, como se a casa fosse uma “máquina de morar”.
A Unidade Residencial Multifamiliar teve como principal inspiração o projeto
do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, mais conhecido como
Pedregulho, principalmente em termos de implantação. A fachada principal onde estão
os apartamentos é voltada para o leste, justificando sua posição em relação às vias
delimitadoras do terreno. A subtração de volumes de forma ritmada além de compor um
desenho geométrico, também proporciona sombreamento. Foram usadas cores primárias
em tons pastel, remetendo à simplicidade dos desenhos de Piet Mondrian, como pode
ser vista na figura 44.

FIGURA 44 – Unidade residencial multifamiliar fachada leste


Fonte: Acervo Pessoal

A fachada oeste é composta por elementos vazados (figura 45), permitindo


grande circulação de ar, uma vez que não existem prédios que gabarito alto por perto
que sirvam de barreira para o fluxo do vento. A circulação externa com grandes
proporções, assim como o andar térreo de pilotis, fazem alusão aos “corredores-rua”,
uma idéia modernista muito explorada por João Batista Vilanova Artigas, arquiteto

53
paulista que pensa o edifício como a cidade, valorizando o fluxo e as áreas de
convivência.

FIGURA 45 – Unidade residencial multifamiliar fachada oeste


Fonte: Acervo Pessoal

São quatro tipos diferentes de apartamentos resultando num total de trinta e


duas unidades, sendo duas destinadas ao uso de portadores de deficiência física. Dentro
das resoluções da NBR 9050 foi implantada uma rampa de acesso com a inclinação de
8%, extensão de 51 metros e um patamar depois de 26,5 metros de extensão. Pode-se
acessar o prédio também por uma escada principal e duas escadas enclausuradas que
foram dispostas de acordo com o Código de Segurança de Incêndio e Pânico. Como o
andar térreo de pilotis tem altura de 4,08 metros, sendo mais alto que os outros de 2,89
metros, a caixa de escada ficou com o tamanho correspondente ao número de degraus
do primeiro pavimento.
A cobertura é feita com telhas de 8% de inclinação escondidas em platibandas
com calhas correspondentes a vazão necessária ao escoamento da água. Logo à cima da
caixa das escadas enclausuradas estão localizadas as duas caixas d’água. De acordo com
o cálculo feito a partir do número de moradores mais 20% de reserva técnica para uso
dos bombeiros, foi determinado o volume de 17664 litros para caixa d’água e 26496
litros para a cisterna. Como são duas caixas d’água, cada uma deverá ter capacidade
para no mínimo 8832 litros. Em cima da cisterna, do lado da escada enclausurada está
localizada a casa de bombas.

54
Para referenciar o Posto de Saúde foi também escolhido um edifício com a
mesma temática, o Hospital Sarah Kubitschek, que através de sua funcionalidade
inspirou a implantação e o uso da ventilação natural no projeto.
A volumetria está totalmente atrelada ao uso. A cobertura é composta por dois
volumes curvos de cores diferentes que saem do espelho d’água. As paredes e a
cobertura são unidas por uma estrutura com grades vazadas protegidas do risco de
chuva pelo beiral de 60cm, permitindo a saída do ar quente e impedindo a entrada de
animais.

FIGURA 46 – Posto de Saúde


Fonte: Acervo Pessoal

No corte esquemático ilustrado na figura 47 pode-se perceber a circulação do


vento no interior do prédio. A corrente de ar frio nordeste entra pelas aberturas da
fachada, como é mais denso cai, se misturando com o ar que está subindo e sai pelas
aberturas gradeadas logo abaixo da cobertura. Essa dinâmica faz com que o conforto
térmico seja maior e sem a necessidade do uso de ar condicionado conquista-se também
a eficiência energética.

55
FIGURA 47 – Corte esquemático mostrando a ventilação no Posto de Saúde
Fonte: Acervo Pessoal

A única parte da construção que recebe laje é a farmácia a fim de suportar a


caixa d’água, e fica na parte de trás do prédio. Mesmo assim o conforto térmico não é
prejudicado, pois a estrutura gradeada permite ventilação cruzada.
As ruas com mais movimentação e tráfego de carros normalmente tem mais
vocação para o comércio. A fim de preservar a área residencial e ganhar visibilidade, o
centro comercial juntamente com os quiosques ficaram posicionados de frente para a
Avenida Arthur Bernardes e a Rua Antônio Manoel. Foram dispostas 52 vagas ao longo
das duas vias, sendo 6 destinadas a portadores de deficiência física.
A inspiração plástica acompanha o uso nos dois equipamentos, os quiosques
(figura 48) e o centro comercial (figura 49).

FIGURA 48– Quiosque


Fonte: Acervo Pessoal

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FIGURA 49 – Centro Comercial
Fonte: Acervo Pessoal

Ambos fazem o uso de brise solei para trazer conforto lumínico e a estrutura
escultural exerce sua função de sustentação sem perder a beleza apesar da pureza das
formas.
As vitrines do Centro Comercial são voltadas para as vias, deixando a
circulação dos usuários voltada para o pátio interno do conjunto, assim como no Karl
Marxs Hoff. Já os quiosques tem a sua fachada principal voltada para a área residencial,
funcionando como uma extensão de lazer das casas. Para que a essa ligação entre os
quiosques e as casas preservasse a área residencial, foi posto um canteiro com arvores
entre os equipamentos.
As lojas do centro comercial possuem lavabo e caixas d’água individuais,
assim como os quiosques.
A cobertura do centro comercial é em parte feita em telha com inclinação de
8% escondida em platibanda, e na circulação externa e área de convivência feita por
estrutura metálica com acrílico, permitindo luminosidade natural. A responsabilidade de
manutenção dos equipamentos é pública.

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FIGURA 50 – cobertura do Centro Comercial
Fonte: Acervo Pessoal

Já nos quiosques a cobertura é em parte feita em telha com inclinação de 8%


escondida em platibanda, e a parte de área de convivência com mesas e cadeiras (figura
51) é coberta em laje inclinada em 7%.

FIGURA 51 – Área de convivência dos Quiosques


Fonte: Acervo Pessoal

58
A circulação dos usuários do Centro Comercial conta com banco em madeira
em frente às lojas.

FIGURA 52 – Área de convivência do Centro Comercial


Fonte: Acervo Pessoal

Para reforçar a idéia de comunidade, os equipamentos de uso público devem


estar próximos à área residencial, facilitando os deslocamentos. Sob esse olhar e a
influencia do Narkomfin, onde os equipamentos e as residências ficavam no mesmo
prédio, a unidade escolar foi implantada tendo a sua cobertura engastada na unidade
residencial multifamiliar. Nota-se que a marquise “sai do prédio” como se fizesse parte
dele, fortalecendo a idéia de integração de usos.
São 7 salas de aula equipadas para atender 140 crianças em idade escolar. Todo
o perímetro do terreno destinado à escola é gradeado, assegurando a segurança dos
alunos da unidade.
O acesso principal é feito pela via projetada sem saída que dá acesso ao
estacionamento do prédio, logo o trafego de veículos é pouco. A entrada principal
(figura 53) fica embaixo do prédio residencial, no andar de pilotis, usando o mesmo
como cobertura para a entrada dos alunos e funcionários. A entrada de serviço é feita
pela Rua José Ildefonso Evangelista Campos, perto da quadra de esporte e atrás do
refeitório.

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FIGURA 53 – Bloco administrativo e pedagógico
Fonte: Acervo Pessoal

A unidade educacional é dividida em um bloco administrativo, dois blocos


pedagógicos e o bloco de serviço. Todos os blocos tem as aberturas de ventilação
voltadas para o lado de fora, sendo todos - menos o bloco de serviço - orientados no
sentido norte/sul equipadas com brises móveis (figura 38), proporcionando conforto
lumínico, podendo ser usadas e ajustadas de acordo com a necessidade. O bloco de
serviço tem as suas janelas voltadas pata a fachada oeste, logo o uso da brise se torna
ainda mais necessário.

FIGURA 54 – Área de convivência do Centro Comercial


Fonte: Acervo Pessoal

60
A marquise sustentada por pilotis foi inspirada no projeto do Parque do
Ibirapuera que conecta vários prédios de diferentes usos. No projeto em questão, essa
ligação da marquise com o prédio residencial transmite a idéia de que a educação deve
ser parte do cotidiano das famílias. Além disso, o colchão de ar criado entre os blocos e
a marquise cria um isolamento térmico que assegura o conforto dos usuários da unidade
escolar.
Para criar um ar de descontração no prédio, as brises e as portas de cada bloco
foram pintadas de cores diferentes, setorizando os blocos por cor. O castelo d’água com
a parte superior pintada em vermelho e os pilares de sustentação espaçados faz alusão à
um lápis com a ponta de borracha, dando um toque lúdico ao projeto.

FIGURA 55 – quadra, marquise e castelo d’água da escola


Fonte: Acervo Pessoal

FIGURA 56 – quadra, marquise e castelo d’água da escola 2


Fonte: Acervo Pessoal

61
A quadra poliesportiva fica localizada atrás do setor de serviço e conta com dois
lances de arquibancada, podendo ser usada em eventos da escola.

FIGURA 57 – quadra poliesportiva da escola


Fonte: Acervo Pessoal

Para assegurar o acesso de portadores de deficiência física não há diferença de


nível desde o acesso principal, passando pelos blocos até a quadra e a horta recreativa e
o piso é acessível em todo o projeto. Também há ligação entre o piso do playground e o
principal com os blocos pedagógicos.
O desenho orgânico do playground é baseado em telas de Burle Marx,
importante paisagista brasileiro. Além disso, as formas amebóides possibilitam a
interação de crianças cadeirantes com as outras que brincam na grama sintética como
mostra a figura 41.

FIGURA 58 – detalhe do piso do playground da escola


Fonte: Acervo Pessoal

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A horta recreativa foi implantada depois da quadra esportiva, relativamente
distante dos blocos de sala de aula. Dessa forma a ida à horta passa a ser vista como
uma pequena mudança de cenário educacional para as crianças que, passarão a encarar a
atividade externa com uma diversificação do ensino. Na horta também foi pensado um
desenho de piso que favoreça a integração e mobilidade do aluno portador de
deficiência física. Pretende-se usar os alimentos cultivados na horta na merenda escolar.
Perto da horta também prevê-se a implantação de um pomar que também deverá ter seu
uso direcionado à merenda escolar.
O refeitório comporta confortavelmente 98 pessoas, não sendo necessário o
numero vagas à mesa ser compatível com a quantidade de estudantes, uma vez que
geralmente são feitos rodízios de horários para as refeições. Contudo, se for necessária a
expansão do refeitório, não haveriam problemas, já que o espaço físico não é delimitado
por vedações, mas somente protegido por um parede curva como mostra a figura
abaixo.

FIGURA 59 – refeitório da escola


Fonte: Acervo Pessoal

A cozinha tem uma abertura para ser feita a entrega dos pratos às crianças que
deverão se acomodar em mesas e cadeiras coloridas com as cores da escola. De acordo
com a teoria das cores, o uso de equipamentos coloridos estimula o apetite. Dessa forma
as crianças poderão comer mais e melhor, beneficiando o aprendizado.
E finalmente, para marcar o Conjunto Habitacional proposto, mostrou-se
necessária uma construção que além de exprimir em suas formas a ideologia

63
modernista, pudesse explicar para os moradores e a população de forma geral a
importância do movimento modernista e a eficiência das construções desse período.
Sob esse olhar foi incluído ao programa geral do conjunto o Memorial
Arquitetônico, que funciona como uma sala de exposições sobre a arquitetura moderna
em Campos dos Goytacazes e no Brasil.

FIGURA 60 – Fachada do Memorial Arquitetônico


Fonte: Acervo Pessoal

Para melhor identificação pessoal com o período arquitetônico, a plástica da


construção segue a subcorrente campista desenvolvida por Joffre Maia em Campos dos
Goytacazes. O uso de pedras, o ângulo na fachada falsa, a cobertura da varanda com laje
suportada por pilares distribuídos de forma rítmica são elementos muito usados pelo
arquiteto.
O prédio fica situado na área residencial justamente para promover a
proximidade dos moradores com a cultura e o conhecimento.

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FIGURA 61 – Fachada do Memorial Arquitetônico
Fonte: Acervo Pessoal

A cobertura é feita parte com telha de inclinação de 8% escondida em


platibanda, e parte em cobertura ecológica, remetendo ao uso de telhados jardim.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se com base nas pesquisas e estudos feitos em prol da elaboração
desse projeto monográfico, que um Conjunto Habitacional de qualidade e bem
implantado pode fazer diferença na forma de morar tanto para quem vai usufruir
diretamente dele como para o entorno que contará com novos equipamentos de uso
público. A proposta de remeter a um período importante para a cultura arquitetônica do
país como o modernismo, estabelece uma conexão com o morador que passa a se
importar mais com a funcionalidade urbana. A qualidade de vida da população melhora
e a cidade ganha com a organização do espaço público e um crescimento ordenado.

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APÊNDICES

Estudo de forças do terreno


Fonte: Acervo Pessoal

Estudo de implantação
Fonte: Acervo Pessoal

66
Estudo paisagístico
Fonte: Acervo Pessoal

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BIBLIOGRAFIA

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