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por consequências decorrentes de uso de quaisquer dados, afirmações e opiniões inexatas (ou que conduzam a
erros) publicados neste livro.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................................................5
MODALIDADE I.......................................................................................................7
ARTIGO CIENTÍFICO.........................................................................................7
APROPRIAÇÃO SOCIAL DA PRAÇA VEIGA CABRAL DE MACAPÁ-AP......8
MODALIDADE II...................................................................................................81
PRODUÇÃO AUDIOVISUAL.........................................................................81
ACUPUNTURA URBANA.............................................................................................82
FOTOGRAFIA....................................................................................................84
NA ESQUINA DO TEMPO...........................................................................................85
NA SOMBRA DA FÉ......................................................................................................87
TEMPO............................................................................................................................. ..89
MAQUETE..........................................................................................................91
KINKAKU-JI O TEMPLO DO PAVILHÃO DOURADO...................................92
CADERNO DE DESENHO.............................................................................94
BAIRRO CIDADE NOVA: COLORIR E HABITAR.................................................95
OLINDA...........................................................................................................................103
MODALIDADE III...............................................................................................109
PAINEL DE APRESENTAÇÃO..................................................................109
ADVERSIDADES DE ACESSIBILIDADE EM UM PERCURSO NO BLOCO DE
GEOGRAFIA DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ, CAMPUS
MARCO ZERO...........................................................................................110
PRO-POLIS...................................................................................................................120
5
APRESENTAÇÃO
A Semana de Arquitetura e Urbanismo traz discussões pertinentes acerca da cidade e das ações do
ser individual e do coletivo a fim de melhorar o espaço urbano em que vivemos. O projeto dá
oportunidade para que os próprios acadêmicos possam desenvolver uma atividade à sua maneira e
para um público alvo semelhante, o qual possui questionamentos e inquietações.
O principal objetivo do evento foi discutir a cidade de Macapá tendo como base os eixos temáticos:
"Processos Criativos na Cidade", "Percepção e Memória da Cidade" e "Sustentabilidade e Práticas de
Autogestão". Para isso, reuniram-se acadêmicos, professores, pesquisadores e profissionais da
Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, História, Jornalismo, Ciências Sociais, Psicologia, bem
como todos aqueles que almejam uma cidade melhor, sustentável e diversa.
Este ano o evento disponibilizou três modalidades de participação acadêmica, que estavam entre
artigo científico, trabalhos gráficos (maquete física, fotografia, vídeo, caderno de desenhos) e painel,
todos relacionados aos eixos temáticos do evento.
Durante os quatro dias de evento foram promovidas palestras, rodas de conversa, oficinas, convívio,
intervenções urbanas, troca de experiências entre os participantes e a valorização da cultura local
através do evento cultural que finalizou a semana.
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PROGRAMAÇÃO
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MODALIDADE I
ARTIGO CIENTÍFICO
CRIA-TE CIDADE
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APROPRIAÇÃO SOCIAL DA PRAÇA VEIGA
CABRAL DE MACAPÁ-AP
Processos Criativos Na Cidade
RESUMO
Macapá é a cidade mais populosa do estado do Amapá, possui maior infraestrutura, e como
consequência, maior necessidade de espaços públicos. O bairro central de Macapá apresenta a maior
concentração de praças e parques da cidade, constitui um polo de atração aos que buscam serviços e
equipamentos urbanos, além de deter grande valor histórico e cultural. Neste bairro há a Praça Veiga
Cabral, a primeira da cidade, datada do século XVIII, fazendo parte do seu patrimônio histórico. Esta
pesquisa tem como finalidade analisar os usos e as condições atuais da Praça Veiga Cabral, em
Macapá, Amapá, sob o ponto de vista social. O método consiste em pesquisa bibliográfica, análise de
legislações urbanísticas, de dados qualitativos e visitas de campo. O período de análise é a partir de
2016, quando a praça foi reinaugurada e foram identificadas as interações dos usuários com os
equipamentos urbanos e suas formas de apropriação do espaço. Espera-se como resultado que a praça
seja utilizada em maioria por jovens e adultos de outros bairros da cidade, que ela contribui para a
qualidade de vida da população e cumpre com sua função social.
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APROPRIAÇÃO SOCIAL DA PRAÇA VEIGA CABRAL DE
MACAPÁ-AP
Introdução
As praças e parques são espaços públicos que contêm áreas verdes com equipamentos que
possibilitam o lazer, a recreação, o desporto e entre outros. Uma cidade possui esses espaços para o
uso coletivo e acessível a todas as classes sociais. Este trabalho se direciona ao estudo do que
significam esses espaços nas cidades trazendo para a realidade de Macapá, Amapá.
O objeto desse estudo é a Praça Veiga Cabral, que está no Bairro Central de Macapá, sendo a única
cidade do extremo norte do Brasil cortada pela linha do equador e de frente para o rio Amazonas. De
acordo com o IBGE (2019), a população estimada do Amapá é de 845 mil, e de Macapá é de 500 mil
habitantes, detendo maior concentração da população do estado, com aproximadamente 59,5%.
Atualmente, o Bairro Central é o que mais sofreu o processo de antropização, urbanização e detém
os principais pontos turísticos, históricos, comerciais e administrativos da cidade de Macapá. Em
consequência disso ocorre um grande fluxo de pessoas nessa área, além de ser o polo com maior
oferta de serviços e equipamentos urbanos, em que a região de concentração do comércio funciona
como um ponto nodal na cidade.
O presente trabalho tem como objetivo a análise dos usos e equipamentos da Praça Veiga Cabral.
Será realizada uma abordagem social a fim de identificar o público alvo e suas atividades, realizar a
relação dos usuários com as condições infraestruturais do local, analisando a praça após sua
reinauguração em 2016.
Este trabalho foi gerado a partir de pesquisa realisada na disciplina de Fundamentos Sociológicos em
Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Amapá. Foi utilizado como metodologia a
pesquisa bibliográfica, a análise de legislações urbanísticas, dados qualitativos, e duas visitas de
campo por meio de observações e aplicação de formulários.
Este trabalho é dividido nas seguintes etapas: embasamento teórico sobre a evolução do conceito de
espaços públicos livres; análise de legislações pertinentes como documentos oficiais; análise da praça
Veiga Cabral, seus usos e infraestrutura e as considerações finais.
Espaços públicos
A cidade é um reflexo dos anseios e da realidade vivida pela população, e dentro da diversidade de
construções na cidade, há as de caráter privado composto por residências, pontos comerciais e
diversos condomínios fechados que compõem a malha urbana. Contudo, há espaços que caracterizam
a cidade de forma mais democrática e marcante, os espaços públicos, estes foram retratados pela
Carta de Atenas gerada no IV Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM) de 1933
10
como espaços de lazer, superfícies livres ou pulmões das cidades, que são de extrema importância
para a manutenção da vida urbana.
Entre esses espaços públicos urbanos, destacam-se as praças nessa pesquisa, definidas por serem
espaços livres de edificações e serem para recreação e convivência. A Ágora na Grécia foi o primeiro
exemplo de praça na sociedade, a palavra Ágora em si tem como definição reunião, em que era um
espaço aberto onde se instalava o mercado e que eram realizadas assembleias do povo, um local onde
se praticava a democracia diretamente pois era onde os cidadãos discutiam e debatiam entre si
(ROBBA; MACEDO, 2002).
No período colonial brasileiro, não era raro iniciar determinados vilarejos a partir da construção de
núcleos compostos por igrejas e praças semelhantes aos países da América Espanhola como em
Salvador, Bahia, em que o seu traçado urbano era ortogonal e os centros administrativos eram
localizadas no entorno das praças (BURY, 2006). Essa mesma situação é semelhante ao traçado de
Macapá, no Amapá, quando ainda era a Vila de São José de Macapá no início do século XX e a praça
central era a Veiga Cabral.
Os espaços públicos do centro histórico no bairro central de Macapá possuem um grande valor
simbólico. Porém, esses locais têm perdido o seu papel de encontro de vizinhança, em especial aos
que moram em bairros mais distantes, de modo que são frequentados de forma predominante para
passeios em finais de semana e pela 'ocupação pelo movimento' (CULLEN, 1983).
Segundo Matos (2010, p. 20) “As novas e crescentes necessidades da população urbana, associadas
a mutações de ordem demográfica e a novas exigências geracionais, repercute-se, na utilização e em
novas procuras dos espaços públicos”. Dessa forma, pode-se concluir que é necessário o aumento de
ambientes coletivos proporcionalmente com o avanço demográfico e urbano das cidades.
Mediante o mundo contemporâneo de cidades enclausuradas, fechadas por muros e grades, fazse de
extrema importância a presença dos espaços públicos no meio urbano-metropolitano. Tomando como
base as narrativas de Alomá (2013) e Lima e Souza (2009), compreende-se que é de necessário prever
os espaços públicos de modo que promovam saúde e bem-estar aos indivíduos. Em complemento a
isso, e baseado em Tostes (2011), Espaço Público constitui uma área acessível ao cidadão e que
promove a integração da coletividade.
Aliado aos posicionamentos dos autores citados anteriormente, é retratado por Santos (2013, p.
3): “As praças são para as pessoas de classe médio-baixa a única fonte de lazer na atualidade, devido
o alto custo para desfrutar de ambientes como shopping centers ou de áreas de lazer, como clubes ou
associações privadas”. Observa-se que os espaços verdes de modo geral funcionam como um espaço
democrático de uso ao garantir o que a Constituição Brasileira prevê como lazer.
Segundo Alomá (2013) os projetos de caráter público devem encontrar formas de trazer vida aos
espaços públicos, garantindo cinco aspectos fundamentais: beleza, conectividademobilidade,
funcionalidade, segurança e comodidade. As praças também beneficiam o bemestar psicológico,
funcionando como refúgio do aglomerado urbano composto por edificações e zonas
impermeabilizadas, além de que os parques e praças servem como ponto de encontro, apreciação da
paisagem e para apresentações culturais.
Legislações pertinentes
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No período da arquitetura moderna, surge um elemento marcante no cenário da arquitetura e do
planejamento urbano, a Carta de Atenas. De acordo com Irazábal (2011), a Carta vem propor quatro
funções básicas para a cidade: habitação, trabalho, recreação e circulação. Os espaços públicos como
parques e praças são espaços de recreação e circulação, dando indicação de valorização e
possibilidade de planejamento para as futuras gerações.
O Estatuto da Cidade, Brasil (2001), é um instrumento de planejamento que tem como principais
diretrizes que também são relevantes a este trabalho: o direito a cidades sustentáveis, gerar a função
social da cidade, gestão democrática e participativa e a oferta de equipamentos urbanos e
comunitários.
De outro modo, há os instrumentos municipais de planejamento como o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano e Ambiental (PDDUA) em Macapá (2004). De acordo com este
documento, cinco dos sete espaços públicos presentes no bairro central estão classificados como áreas
de preservação e lazer da cidade, compostos por nove áreas classificadas pela prefeitura de Macapá.
Entretanto, a praça Veiga Cabral não é classificada como área de preservação e lazer pelo PDDUA,
o que acaba por se tornar algo contraditório devido à sua grande importância para o bairro central e
para a cidade. Neste mesmo documento, são classificados como patrimônio ambiental do município:
a orla do rio Amazonas, os recursos hídricos, os bens imóveis históricos e culturais e o traçado original
da antiga praça e vila de São José de Macapá. De acordo com o mapa seis de macrozoneamento
urbano do PDDUA, o bairro central está em uma subzona de ocupação prioritária (SOP) e a sua orla
está em uma subzona de fragilidade ambiental (SFA) no art. 81.
Mesmo que a Praça Veiga Cabral seja um patrimônio histórico da cidade, ela passou por diversas
modificações, já está bem menor e tem perdido suas características e apropriações sociais originais,
em que era uma praça de bairro e agora está sofrendo com o avanço das edificações. Também se
conclui que no Brasil as legislações que são criadas possuem extensas propostas positivas, mas que
são pouco colocadas em prática.
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Figura 1: Contextualização da Praça Veiga Cabral, Macapá/Ap.
Ela foi a primeira Praça de Macapá, antes denominada como Praça São Sebastião, foi também
cenário da elevação do Povoado de Macapá à categoria de Vila de São José por Mendonça Furtado,
Governador do Grão-Pará e Maranhão, no dia 4 de fevereiro de 1758. Além disso, a praça era local
de eventos importantes e possui grande valor histórico e cultural para a cidade (Figura 3).
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Figura 3: Praça São Sebastião em 1910 na futura Avenida Presidente Vargas.
A praça passou por um processo de revitalização, sendo reinaugurada em 2016. A obra utilizou 422
mil reais oriundos de emenda parlamentar mais um valor dado pela prefeitura, de 150 mil reais,
conforme o secretário de Obras Emílio Roberto Escobar em 2017. A Praça recebeu uma nova
instalação de iluminação, galeria destinada a exposições culturais, ambiente de jogos de xadrez e
calçada com acessibilidade para os deficientes físicos.
O local tem grande movimento de pessoas por estar no centro da cidade, em frente e Igreja de São
José de Macapá, prédio histórico da cidade e ao lado do Teatro das Bacabeiras. Outro fator de atração
é um ponto de ônibus na Rua São José nas margens da praça. Atualmente, muitos eventos são
realizados na Praça como bazares, feiras de adoção de animais e exposições de arte.
Foi realizada a primeira visita de campo no dia 4 de fevereiro de 2017, de quatro a seis horas e meia
da tarde, com o objetivo de fazer o levantamento da estrutura física e dos diversos usos da praça Veiga
Cabral. Dessa forma, foi realizado registro fotográfico, observações da paisagem, aplicação de
formulários e conversas informais com os usuários da praça.
Na primeira visita foram aplicados 29 formulários que consistem em uma lista de perguntas feitas
pelos autores com os usuários da praça que possuíam a partir de 18 anos. Dessa forma, foram
perguntados os nomes, idade, o bairro onde mora, a ocupação, qual á a frequência de ida até o espaço,
qual a motivação para frequentar o local, se a praça é importante para a cidade, a avaliação da estrutura
física, da segurança na praça e como melhorá-la.
Baseado em estudos feitos na praça, constatou-se através dos formulários que o público predominante
pertence à classe baixa e média devido as suas ocupações identificadas, os quais fazem uso do local
para lazer e/ou como meio de arrecadação de renda. Além disso, do total de 29 entrevistados a maioria
está na faixa etária entre 18 a 24 anos (13), constituída por jovens, em segundo está entre 25 a 35 anos
(8), de adultos, igualado com a idade entre 36 e 59 (8) e não havia idosos.
Nesta visita percebeu-se que o espaço com mesas de xadrez é muito utilizado por jovens para ponto
de encontro, refeições e o uso de cigarro. Universitários utilizam o local como ponto de encontro,
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além das pessoas que desfrutam do comércio em maior parte do dia e durante a noite a praça costuma
ser menos movimentada (Figura 4).
Foi percebido em visitas de campo que a maioria dos usuários são adolescentes e jovens adultos,
compostos em maioria por casais. Entretanto, as mesas de xadrez, que além de refeições, ocorre o
consumo de bebida alcoólica e cigarro, e há sinais de depredação e deterioração nesta área.
As pessoas avaliaram a Praça Veiga Cabral após sua revitalização como de grande benefício para a
sociedade, pois se tornou um lugar de melhor uso devido ser mais bem distribuídos os seus espaços.
Porém mesmo após isso, as pessoas ainda reclamam de insegurança. Isso ocorre pelo fato de vândalos
quebrarem as lâmpadas da praça, ou de roubarem a fiação dos postes de luz, com menos frequência
de cidadãos à noite.
Foi realizada uma pesquisa sobre como está a segurança no lugar em que 58,62% dos entrevistados
consideram ruim e 41,38% consideram boa. Em seguida foi realizado o levantamento sobre o que
pode melhorar a segurança na praça, os resultados foram: em maioria o policiamento (17), a educação
dos usuários (15), melhor iluminação pública (13) e manutenção (8).
De outro modo, a Praça é um espaço que traz calmaria para o caos do meio urbano, e ao mesmo tempo
um local que integra os habitantes com o meio ambiente. A Praça Veiga Cabral é uma expressão viva
da Diversidade Social citada tanto na Carta de Atenas como pelos arquitetos do Novo Urbanismo.
Trazendo acessibilidade, participação democrática e a expressão da cultura local.
Ocorrem diversos eventos de iniciativa do poder público na praça depois de sua reinauguração, como:
'Chefs na Praça', projeto Leitura na praça, projeto “Ser bombeiro, sonho de criança”, entre outros. Em
relação as práticas coletivas realizadas na praça, foi observada a prática de capoeira e skatismo, a
presença de casais de namorados, usuários do bar, crianças brincando, sessões de fotografia e sem-
tetos abrigados na praça.
A frequência de pessoas de outros bairros muito maior do que as do próprio bairro onde está a praça
é preocupante. Aqueles que passam no cotidiano próximo à praça não se apropriam dela, não a
utilizam e ajudam a zelar pelo lugar, propiciando outras atividades que a afetam de forma negativa
como a depredação, uso de drogas ilícitas, moradias improvisadas, roubos entre outros.
15
Foi realizada outra visita à Praça no dia 23 de setembro de 2019, as 11 horas da manhã, a fim de
verificar se a Praça Veiga Cabral ainda está com a sua estrutura física mantida e com os usos
semelhantes aos encontrados na visita de 2017, não foram aplicados formulários, e sim feitas algumas
observações. Portanto, foi possível perceber o mesmo público-alvo composto em maioria por jovens
e adultos, a estrutura da praça ainda está mantida, porém apresenta problemas de depredação como
inscrições em mobiliários.
Apesar dessas problemáticas, a Praça Veiga Cabral é bastante utilizada pela população de Macapá e
ela cumpre com o seu papel de ser um espaço de lazer, portanto cumpre com a sua função social.
Dessa forma, o espaço é apropriado de acordo como a população imprime a sua cultura e educação
neste espaço, ora utilizando-o de maneira correta, ora depredando-o.
Desse modo, foram identificadas na praça Veiga Cabral diversas práticas coletivas, o local de moradia
dos visitantes e a condição da segurança pública. Conclui-se que é fundamental entender as formas
de apropriação social e da cultura local para identificar como a cidade se modifica espacialmente.
Considerações finais
O presente artigo buscou centrar-se na percepção e análise dos espaços públicos do bairro central com
enfoque para a praça Veiga Cabral, devido sua funcionalidade para a cidade, importância e valor
histórico. Entende-se que esses espaços verdes são de extrema importância para a conservação de
áreas verdes no meio urbano, relacionando-se nas esferas social, ambiental e econômica, além de
melhorar a qualidade de vida da população.
Notou-se que a cidade de Macapá possui um número maior de praças e parques no bairro central, e
que diferentemente dos outros bairros, possui infraestrutura urbana privilegiada e concentrada, além
de sediar o centro histórico da cidade. Essa concentração faz com que pessoas de bairros distantes
precisem se deslocar para obter serviços, produtos, bem como lazer e recreação nas praças.
Foi constatado a partir desse estudo e das visitas de campo, que os principais problemas na Praça
Veiga Cabral e nas demais praças de Macapá são a depredação a insegurança. De outro modo, os
potenciais da praça são: a memória do patrimônio, a oferta de área verde, lazer, contemplação e um
espaço para eventos culturais.
A população pede policiamento e manutenção do espaço, porém foi constatado que a maior parte dos
entrevistados acham que a praça melhoraria com a educação dos usuários. Apesar de maior parte dos
frequentadores entrevistados possuírem essa opinião, a praça continua sofrendo com o vandalismo, e
isso significa que não está ocorrendo um cuidado dos usuários para manterem a praça em boas
condições.
A prefeitura utiliza a arrecadação dos impostos para construir e manter as praças, dessa forma
entende-se que elas pertencem a todos os cidadãos e que estes devem zelas por elas. Portanto, é
necessário um maior incentivo para a conscientização dos moradores, pois mesmo que a prefeitura
faça a manutenção adequada e contínua da praça, a população precisa cooperar.
Referências
16
ALOMÁ, Patrícia Rodrigues. El Espacio Público, ese protagonista de la ciudad. 2013. Disponível
em: <http://www.plataformaurbana.cl/archive/2013/11/14/el-espacio-publico-eseprotagonista-de-la-
ciudad/> Acesso em 22/01/2017.
MATOS, Fátima Loureiro de. Espaços públicos e qualidade de vida nas cidades - o caso da cidade
porto. OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.2, n.4, p.17-33, jul. 2010.
IBGE. Censo Demográfico 2010 - Estimativa 2019 do Amapá e Macapá. 2019. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ap/macapa/panorama>. Acesso em: outubro de 2019.
IRAZÁBAL, Clara. Da Carta de Atenas à Carta do Novo Urbanismo. 2011. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.019/821> Acesso em: Fevereiro de 2017.
ROBBA, Fabio; MACEDO, Silvio Soares. Praças Brasileiras. Coleção QUAPA. São Paulo: Edusp.
2002.
SANTOS, Danilo. Áreas verdes urbanas: um estudo geográfico sobre as praças de Campo
Mourão – PR.Campo Mourão, 2013.
TOSTES, José Alberto. Espaço Público e Espaço Privado. 2011. Disponível em:
<https://josealbertostes.blogspot.com.br/2011/08/espaco-publico-e-espaco-privado.html> Acessado
em 22/01/2017.
17
O urbano como lugar de memórias e estranhamentos:
etnografias na Praça Floriano Peixoto, em Macapá.
Percepção e Memória da Cidade
D. C. L. MONTEIRO
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Amapá.
danielymonteiro.au@gmail.com
S. S. N. SERRA
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Amapá.
similysns@gmail.com
A. K. S. CASTRO
Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Amapá.
kaliellnakata@hotmail.com
C. A. R. FIGUEIREDO
Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará e Docente do Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá.
cibellyfigueiredo@gmail.com
RESUMO
Este estudo apresenta a Praça Floriano Peixoto, na cidade de Macapá, norte brasileiro, a partir das
narrativas de memória e experiências sensoriais vivenciadas por três acadêmicos do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá durante uma incursão etnográfica neste
lugar citadino a eles familiar. Em contrapartida, em um movimento de aproximação, sua professora
se propôs a conhecer o espaço público do meio urbano amapaense com o propósito de refletir sobre
o estranhamento do encontro entre uma pessoa distanciada e o universo territorial de pertencimento
de seus discentes. A interpretação, de cunho antropológico, dessas convergências na cidade,
18
demonstra estratégias de investigação balizadas no desafio das referências de proximidade e de
distanciamento.
PALAVRAS-CHAVE:
Introdução
Neste ensaio pretendemos realizar reflexões articuladas em um espaço público da cidade de Macapá
sob a ótica de três residentes criados nessa cidade e atualmente graduandos do Curso de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá e de sua professora da disciplina de Projeto
Arquitetônico VI, habitante recente de Macapá, com o objetivo de ampliar o debate acadêmico acerca
de percepções memoriais e sensoriais em objetos de pesquisa inseridos no meio urbano e que afloram
a partir do (re)encontro entre esses e os pesquisadores.
De acordo com Velho (1992, p. 11), “a cidade é em grande parte responsável por essa expansão, na
medida que os antropólogos crescentemente identificam e constroem objetos de investigação no meio
urbano”. Após uma reunião para definirmos onde e como faríamos a abordagem em um espaço
público de Macapá, combinamos, com o objetivo de perceber a paisagem a partir de experiências
sensoriais, que a Praça Floriano Peixoto seria nosso objeto de estudo na verificação da relação entre
homem-lugar por meio das sensações que as cores, texturas, aromas, paladares, clima, e assim
interpretarmos como a experiência na urbe pode fazer parte da construção de nossas histórias,
enquanto seres totalmente sociais, levando em consideração as identidades culturais e as memórias
afetivas. Faremos, a seguir, breves relatos das quatro incursões, a serem identificadas por
Observadora 1, Observadora 2, Observador 3 e Observadora 4, para que possamos aproximar nosso
leitor das sensações que presenciamos a partir de nossa imersão proposital no campo de estudo, em
1
Domingo, 6 de outubro de 2019, por volta de 16:00h
2
Quarta-feira, 9 de outubro de 2019, por volta de 17:00h
19
uma primeira aproximação da complexidade das diferentes dinâmicas urbanas na
contemporaneidade, a partir dos usos de desusos da Praça Floriano Peixoto, requalificada em 2016 3.
Observadora 1 – Sai de casa4, na Zona Norte da Cidade, por volta de 15:30h, chegando na Praça uma
hora depois - tempo levado pelo transporte público. Encontrei a Observadora 2, e combinamos de nos
separarmos. Ao acomodar-me, entre sensações nem tanto prazerosas como imaginara, provocadas
pela textura da vegetação e por formigas que insistam em me tirar dali, identifiquei alguns grupos de
pessoas que estavam ao meu redor, bem como suas dinâmicas de uso daquele espaço público.
Um casal próximo a mim tomava cerveja enquanto a filha brincava com um balão. Na frente deles,
um grupo de pessoas comemorava a chegada próxima de um bebê. Compreendi que meu voluntário
isolamento traria experiências interessantes e talvez intensas como as vivenciadas pelos que estavam
acompanhados.
Pássaros faziam muito barulho ao voarem de um lado para o outro até pousarem no açaizeiro. Fiquei
confusa se eram periquitos, mas lembrei do meu pai falando quando era criança como os periquitos
faziam barulho, o qual já fez parte de minha infância. Fui para o outro lado da Praça conduzida pelo
cheiro de batata e macaxeira frita exalados na barraca da vendedora ambulante. Encontrei a
Observadora 2 novamente, a qual relatou sobre um bazar em prol de um grupo de dança do ventre.
Lembrei-me dos bazares que participei na feira do meu bairro. Notamos que outro acontecia próximo
de nós e de uns garotos na pista de skate e patins.
No lago, os pedalinhos estavam sem uso, provavelmente por falta de manutenção e o lago, saturado
de lixo. A que ponto chegamos? Uma praça com potencial paisagístico e cultural que recebe todos os
tipos de públicos sucumbia diante dessa triste situação. O coração apertou!
A dinâmica diversificada da Praça era perceptível. Seus usos são setorizados, involuntariamente,
pelas pessoas. Minha incursão finalizou ao som de “Proibida pra Mim”, de Charlie Brown Jr., que
ecoava de uma lanchonete próxima e se prolongou na minha mente, acompanhando-me durante todo
o trajeto de volta para casa.
Observadora 2 – Com o intuito de desfrutar das sensações e convívio que os lugares públicos podem
proporcionar, dois colegas e eu4 marcamos um encontro na Praça Floriano Peixoto. Em uma tarde
ensolarada e bastante ventilada de domingo, 06 de outubro de 2019, objetivando chegar na praça por
volta das 16h30, saí de casa uma hora antes e chego ao destino concluindo que aos domingos, Macapá
assume outra áurea, a de cidade tranquila e despretensiosa.
Ao chegar, senti-me contida por estar sozinha e tentando deixar-me levar pelos meus sentidos: visão,
audição e olfato, principalmente, anotando minhas primeiras impressões. Resolvi sentar-me no centro
da Praça para exercer um papel de observadora até avistar meus colegas. O barulho dos passarinhos,
periquitos que se avolumaram em algumas árvores se jogando no ar e fazendo, em grupo, uma série
de desenhos no céu azul contrastavam com o lago, que se movimentava lentamente refletindo as
árvores mais próximas. Percebi alguns grupos concentrados, conversando, fazendo reuniões e baby
3
Ver em http://macapa.ap.gov.br/359-nova-floriano-terá-contação-de-história-na-reinauguração-da-praça 4 Diário
de campo de Daniely Monteiro
4
Diário de campo de Símily Serra
20
chá com suas toalhas, lanches, balões. Senti-me feliz em presenciar a paz transmitida pela
contemplação da natureza e pelas pessoas usufruindo o espaço.
Um carro tocava rock brasileiro anos 80, era Engenheiros do Hawai. Minha memória das viagens de
carro com a minha família durante a infância ressurgiu embalada por aquela música, complementando
as sensações vivenciadas por estar ali.
Meu maior questionamento e reflexão surgiram ao contornar o lago: por que tanta poluição? Havia
muito lixo no lago.
A Praça proporcionou sensações que às vezes não valorizamos e que passam desapercebidas, porém
fazem grande diferença na nossa própria saúde. Saí com uma sensação de segurança e, em nenhum
momento senti-me constrangida em utilizar esse espaço público sozinha ou acompanhada. Retornei
levando boas memórias de uma tarde quente de domingo na cidade de Macapá.
Observador 3 – Tendo em vista uma análise pessoal da Praça Floriano Peixoto 5, a Observadora 1, a
Observadora 2, e eu, colegas do curso de Arquitetura e Urbanismo, nos separamos com o propósito
de termos pontos de vista, sensações e múltiplas perspectivas em relação ao lugar.
Enquanto caminhava, verifiquei uns pedalinhos em formato de cisne que, sem dúvida, proporcionam
novas experiências aos usuários deste espaço público. Conforme me deslocava, o som dos pássaros
ecoava nas copas das árvores e não cessavam, relembrando em minha memória a feliz lembrança do
sítio de minha avó e dos momentos que passava na extensa varanda ouvindo o canto dessas aves.
Logo me surpreendo com uma música que começa a tocar, percebo então que está vindo da pista de
skate e me gera curiosidade. Era um grupo musical de kpop que estava treinando suas coreografias
visando uma possível competição. Em seguida a Observadora 1 e a Observadora 2 vieram até mim
ao mesmo tempo que um menino, com cerca de 8 anos de idade e filho de uma senhora do bazar,
trazendo seu cachorro. Indagou o que estávamos anotando naquele local, e tendo sua curiosidade
dissipada apresentou seu animal de estimação permitindo que fizéssemos carinho. Ao longo do
caminho avistamos grupos de famílias realizando piqueniques, malabaristas e o que chamou nossa
atenção foi uma mesa cheia de bolos e outros lanches que estavam à venda. O céu começou a
escurecer, então decidimos finalizar nossa incursão na Praça.
A partir de uma reflexão sobre lugares e sensações que afloram do contato com espaços físicos
carregados de imaterialidades, as quais muitas vezes passam desapercebidas, inferimos que em algum
momento de nossa vida desfrutamos de qualquer experiência em praças. Talvez na infância, na
adolescência ou na vida adulta, a Praça nos serviu como cenário de situações de convívio social as
quais ficaram marcadas em nossa memória, quer pela intensidade ou pela característica da
experimentação, quer por práticas de uso ou formas de estranhamento.
Observadora 4 – Assim, no final de uma tarde de quarta-feira, 9 de outubro, realizei6 minha primeira
incursão na Praça Floriano Peixoto. Decidi optar por um dia de semana normal, porém próximo do
horário realizado pelos meus discentes, pois minha intenção era de observar a dinâmica do espaço em
dia de fluxo rotineiro. Desci do carro na Rua General Rondon, uma jovem brincava, à beira do lago,
com seu cachorro e logo chamaram minha atenção, pois ali naquele espaço o que não faltava era área
livre para correrem. Simultaneamente outros grupos foram surgindo sob meus olhos e, de repente,
surge de um arbusto um fotógrafo e sua modelo, uma grávida com lindo arranjo de flores nos cabelos
cacheados, usando top e uma saia de tule amarela que favorecida seu tom de pele exposto aos raios
5
Diário de campo de Kaliell Castro
6
Diário de campo de Cibelly Figueiredo
21
do sol poente. Caminhei em direção ao carrinho de batata frita a fim de conversar um pouco sobre a
Praça ao mesmo tempo que a observava. Confesso que fiquei preocupada em sentar-me em uma
condição de vulnerabilidade, tanto para pedintes quanto para meliantes. Afinal, nunca estivera nesse
espaço, muito menos sentada e sozinha. Pedi uma porção de batata frita e um refrigerante. Fiquei
aguardando uma oportunidade de iniciar uma conversa.
Sentada na calçada da Praça Floriano Peixoto recordei-me das situações de risco iminente que eu
havia presenciado em pesquisas de campo realizadas em minha cidade natal, Belém, lugar de
pertencimento e de espaços já conhecidos proporcionando suporte para a compreensão de gestos e
prováveis ações de abordagens não consensuadas. Mas e ali, como comportar-me? Como realizar
uma abordagem com um nativo antes tão facilmente obtida em minha cidade? Talvez esta situação
fora a primeira vez que senti uma sensação estranha, pois não saberia como me identificar, não era
nativa, não era turista e na verdade nem sequer ainda havia passeado pelas ruas do centro macapaense.
Como manteria uma conversa?
Uma preocupação veio à tona, como seria, após a primeira pergunta de minha interlocutora, se fosse
necessário eu contar uma pequena parte de minha vida profissional e, quem sabe até pessoal, para
que ela entendesse a situação de mobilidade social, profissional e cultural que eu estava inserida.
Morando há quase dois meses em Macapá, o sentimento pelo qual era tomada, naquele instante, era
de querer me posicionar naquele campo de estudo, não profissionalmente, o que provavelmente seria
logo aceito, mas como indivíduo, como alguém que gostaria de compartilhar as histórias que
poderiam ser contadas daqui há poucos minutos. Mas, e quando começassem, o que eu
compartilharia? A barreira do pertencimento cada fez mais se elevava em minha frente
simultaneamente ao meu anseio em socializar as experiências naquele espaço público.
A vendedora trouxe meu pedido e comecei a conversar com aquela senhora, que se colocou a falar e
falar a partir de minha indagação sobre o tempo que trabalhava naquele local. Durante sua explanação,
pronunciou a pergunta que me atormentava desde o momento que me sentei em sua cadeira – Tu és
daqui mesmo? A frase entrou nos meus ouvidos como uma lança... poucos segundos em silêncio... e
rebati, na esperança de que a conversa ultrapassasse aquele momento incômodo para mim, respondi
que havia mudado recentemente para Macapá, e aquela seria minha primeira visita à Praça.
A conversa fluiu e, contrariando minhas expectativas, percebi que o local estava limpo e bem cuidado,
com apenas alguns sacos boiando no lago. Ela relatou que todos os dias a Prefeitura limpa, excetuando
finais de semana. Mas esses dias não seriam os mais frequentados pelos usuários? A hora passara
rápido, agradeci principalmente pela conversa que fora interrompida pela aproximação de novos
clientes.
Após breves reflexões sobre como estar ali, em um espaço urbano da cidade que me acolhia
profissionalmente, atingiu-me de um modo até então inimaginável. Naquela Praça e prestes a comprar
uma batata frita para assim poder iniciar uma conversa com a vendedora do carrinho, preocupações
em relação à minha integridade física assumiram um segundo plano frente à minha identificação.
Afinal, quem eu era naquele espaço público?
De acordo com Pellini (2014, 2016), percebemos o mundo ao nosso redor por meio de vivências
sensoriais, no qual registramos na memória as emoções que emergem do processo desta captação,
mediante os estímulos acionados através de nossos sentidos de visão, audição, tato, paladar e olfato.
No entanto, o autor ratifica a necessidade de estarmos preparados para experimentar o lugar,
ressaltando que as influências externas interferem nestas percepções e que, concomitantemente ao ato
22
de guardar na memória algo vivido no presente, lembranças afloram, trazendo o passado fragmentado
em recordações acionadas no presente.
“lembranças, imagens e emoções que afetam nossa relação com o entorno experimentado” (Pellini
2014:135), conferindo forma e experiência à narrativa.
Percebemos que os limites dos campos atuantes de ciências que estudam a paisagem urbana,
tornaram-se flexíveis, trazendo, de acordo com Tilley (2017), Synnestvedt (2006) e Sousa (2005)
uma maior diversidade de abordagens interdisciplinares de perspectivas fenomenológicas,
arqueológicas, geográficas, urbanísticas, antropológicas, históricas e temporais, aferindo um peso
simbólico proporcionado pelas pessoas do contemporâneo por meio de ressignificação e
reapropriação do passado através de suas práticas no presente e que influenciarão no futuro. A
observação dos diversos usos atuais da paisagem é mister para a compreensão da relação homem-
lugar, pois essas ocupações podem não possuir fronteiras materialmente delimitadas. Deste modo, a
experiência no lugar nos transfere ao passado, para imaginarmos, em um exercício de abstração, as
diversas temporalidades, as múltiplas utilizações e as heterogêneas interferências, que evidenciam o
tempo, conforme Hamilakis (2009) como uma coexistência do presente, passado e futuro.
Os diferentes significados que se atribui aos espaços públicos, conforme Smith & Low (2006) partem
da relação e do significado que as pessoas estabelecem nesta interação, que são regulamentadas pelas
políticas públicas. A intensidade, as dinâmicas dos movimentos, o controle de acessos, o
monitoramento de comportamentos, são normas de uso que podem ser explícitas ou veladas,
obedecidas ou ignoradas, excludentes ou inclusivas, gerando um sentimento de desigualdade quando
neste lugar se reproduz a vida privada, no qual valores burgueses se sobrepõe aos das classes sociais
menos beneficiadas. De acordo com Hamilakis (2009), o uso não oficializado de práticas cotidianas
pode ser estigmatizado como depredação, contudo poderá ser um ato de resistência a exigência de
uso pelo poder público. Quais as mensagens que essas paisagens referenciam? Existe segregação
social aliadas à interesses econômicos e políticos? Quais comportamentos e experiências humanas
são relacionadas ao meio ambiente e conformação urbana?
Conforme Velho (1992: 128), ao observarmos o que nos é familiar acionamos mecanismos atrelados
à nossa maneira de ver e estar no mundo, e essa relação “pode constituir-se em impedimento se não
for relativizado e objeto de reflexão sistemática (...), o meu conhecimento pode estar seriamente
comprometido pela rotina, hábitos, estereótipos”. Contudo, para ele, a familiaridade perpassa as
experiências comuns vivenciadas pelo pesquisador e pesquisado, permitindo um coeficiente de
influência mútua peculiar a esse contato. Para Resende (2009: 33), a Antropologia assume um caráter
23
pessoal, com o nativo estudando sua própria comunidade e refletindo sobre suas experiências no
campo, “colocando o nosso eu no contexto”, cuja aproximação precisará ser relativizada por aspectos
espaciais, sociais, econômicos e circunstanciais.
Sobre esta aproximação contextualizada, Simmel (apud Tedesco, 2016: 290), cunhou o termo
“estrangeiro” para designar e caracterizar o sujeito cuja mobilidade espacial rompe suas as barreiras
nativas e perpassa sobre espaços desconhecidos, os quais sua adaptação vincula-se aos fatores
identitários, em uma “configuração entre familiaridade e estranhamento, emoção/afetividade e
indiferença, engajamento e liberdade, suspeição e perigo; é um recém-chegado e que terá de definir
sua situação/localização e representação no mundo”.
Reflexões finais
Deste modo, ao presenciar por meio de nossas reflexões os múltiplos usos da materialidade e das
subjetividades que a paisagem arqueológica da Praça Floriano Peixoto provoca, questionamos qual o
nosso lugar como pesquisadores na cidade de Macapá, cidade ora local de pertencimento, ora de
estranhamento? Como passaremos a reconhecê-la e vivenciá-la? Nossos olhares de indivíduos que
trilham os caminhos da Arquitetura e Urbanismo fundem-se com os de pesquisadores com abordagens
transdisciplinares, absorvendo as teorias e métodos que abordam o espaço físico e seus ocupantes,
analisando as relações sociais por meio de suas similitudes e conflitos na apropriação desses espaços.
Os processos normativos e estruturais que estabelecem limites e arranjos construtivos das cidades não
são revelados pelo simples observar da paisagem urbana, contudo podem ser realizadas considerações
e problematizações que tentarão compreender o tema ao ressaltar os interesses, dos beneficiados, dos
prejudicados e do contexto social e político contemporâneo ao estabelecimento de leis e normativas,
que muitas vezes não são evidenciados no vivenciar de grupos sociais. Experiências na e da urbe
carecem acordar como contribuições ao desenvolvimento de pesquisas que difundam e transpareçam
entraves e reflexões usos e desusos de espaços públicos.
A participação das pessoas envolvidas nos processos de requalificação dos espaços públicos é de
importância fundamental, uma vez que a multivocalidade do valor cultural das referências é dado não
somente pelos técnicos especializados utilizando critérios próprios de seus respectivos ofícios, mas
principalmente pelo valor de testemunho histórico e de concentração de memórias e significados
atribuídos pelo grupo social ao lugar, rastreando os diversos significados do sítio em formação, não
somente descrevendo mas simultaneamente contextualizando em uma abordagem multisituada.
Como a paisagem opera no emaranhado das relações sociais e materiais? Como a Praça Floriano
Peixoto fornece possibilidades para o desempenho e formação de identidades?
Referências
24
HAMILAKIS, Yannis; ANAGNOSTOPOULOS, Aris. What is Archaeological
Ethnography?. Public Archaeology: archaeological ethnographies, Reino Unido, v. 8, n. 23, p. 65-
87, 2009.
HODDER, I.; SHANKS, M.; ALEXANDRI, A.; BUCHLI, V.; LAST, J.; LUCAS, G. (ed.).
Interpreting Archaeology: finding meaning in the past. In: WALSH, K. A sense of place: a role for
cognitive mapping in the 'postmodern' world? New York: Routledge, 1995. p. 131138.
PEIRANO, Mariza. Etnografia não é método. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 20, n.
42, p. 377-391, 2014.
PELLINI, José Roberto. Paisagens: Práticas, memórias e narrativas. Habitus, Goiânia, v. 12, n.
1, p. 125-142, 2014.
RESENDE, Rosana. Tropical Brazucas: Brazilians in South Florida and the imaginary of
national identity. 2009. Tese de Doutorado (Doutorado em Antropologia) - University of Florida,
Gainesville, 2009.
SMITH, Neil; LOW, Setha (ed.). Introduction: The imperative of Public Space. In: SMITH, Neil;
LOW, Setha. The Politics of the Public Space. New York: Routledge, 2006. p. 1-16.
SOUSA, Ana Cristina de. Arqueologia da paisagem e a potencialidade interpretativa dos espaços
sociais. Habitus, Goiânia, v. 3, n. 2, p. 261-290, 2005.
25
A Importância da Memória Individual e Coletiva na
Preservação de Bens de Interesse em Belém-PA e
Macapá-AP.
PERCEPÇÃO E MEMÓRIA DA CIDADE
RESUMO
Em meados de Junho/Julho de 2013, iniciou-se a pesquisa de campo para o levantamento dos tipos
de edificações Neocoloniais no Bairro de Nazaré, em Belém. O presente artigo consiste na discussão
teórica com base em entrevista com uma moradora, onde procurou detectar, através da memória, a
importância que tais edificações possuem, integrando como as atuais transformações pelas quais
determinados prédios de interesse a preservação em Macapá passam. Procurando entendê-las a partir
da visão, destas, como documentos concretos da memória, atentando, para o contexto onde estão
atualmente inseridas, na importância que há da memória para estas arquiteturas, assim como na
consolidação dessas edificações artefatos culturais da sociedade, através da necessidade da memória
(coletiva e/ou individual) para a construção destes como patrimônio cultural material.
26
A Importância da Memória Individual e Coletiva na Preservação de
Bens de Interesse em Belém-PA e Macapá-AP.
Desde épocas paleocristãs usa-se da memória para perpetuar a forma de viver, habitar, ou seja, passar
as gerações futuras os saberes e conhecimentos - especialmente no momento em que não havia-se
descoberto a escrita, sempre houve uma procura de resguardar a memória. Segundo Assmann (2003,
p. 2) "(...) a capacidade de lembrar-se, (...) é que faz do ser humano um ser humano. (...), não seríamos
capazes de construir uma identidade própria nem de nos comunicar com outros enquanto indivíduos".
E desta destaca-se a memória coletiva dos povos referente às arquiteturas.
Todavia, conforme Bogea (2009), a memória é involuntária, ou seja, as lembranças são latentes,
adormecidas no cérebro, esperando serem despertadas por ações ou acontecimentos externos. E isto
acaba provocando frustração, pois transformamo-nos reféns da memória e dos estímulos que as fazem
serem revividas. Assim esta é de caráter subjetivo, pois “(...) não existem isoladamente, mas estão
ligadas as lembranças de outros (...) são fundamentalmente fragmentárias, (...) modificam-se
juntamente com as pessoas e suas condições de vida (...)” (ASSMANN, 2003, p. 2).
A memória (individual ou coletiva) depende do ser humano para estar viva, logo, nas residências
Neocoloniais do bairro de Nazaré, em Belém, e em determinadas obras de interesse em Macapá, tem-
se a necessidade, para melhor compreender os momentos de construção e suas transformações,
conhecer a história construída, transmitida e contida nos seus alicerces e elementos estético-
funcionais. Contudo hoje, de certa forma, ocorre a perda da memória, marcada pelo processo de
globalização vivenciado, acarretando alterações em obras de interesse à preservação, em muitos casos
devido à perda daquela, dissolvendo sua história, abarcando uma memória única na emergente
sociedade mundial.
A visão que tem-se destas não se alicerça na questão arquitetônica somente, ou seja, quando se
relembra – seja por intervenção de Mnemosyne ou pelas músicas das musas dos poetas – de uma
edificação, rememora-se todo o passado que a compõe, a sociedade, sua forma de vestir e se portar,
a política, as ideologias, os materiais aplicados nas construções, em suma, assim como os aedos e
adivinhos da Grécia, indivíduos são transportados ao passado através do recordar.
Porém as lembranças não são eternas. Como afirma Bogea (2009, p. 01), há “um paradoxo típico das
recordações: lembrar é também esquecer. Pois implica em abstrair certos aspectos (...)”. Logo, a
memória é involuntária – recorda-se em dosagens, a partir de flash – que aliado a memória coletiva
– composta por fatos, cenas de pessoas entrelaçadas com os de outras, compondo a história em
sociedade – pode-se indagar sobre algumas edificações como artefatos humanos e pertencentes a
cultura material do povo, como elementos ou monumentos de rememoração e conhecer do passado.
Assim, de fato, deve-se esquecer para lembrar. No entanto quando fala-se sobre a questão de preservar
há a necessidade de pensar na seleção dos fatos a serem rememorados ou conhecidos, ou seja, como
27
dizia Camilo Boito (apud KÜHL, 2006, p. 19) para "bem restaurar é necessário amar e entender o
monumento”, portanto, para considerar uma edificação digna de preservação, deve-se conhecê-la,
fazer uma pesquisa histórica sobre ela. Mas também precisa-se mantê-la em uso, ou seja, quando
pensa-se em preservar um bem imóvel deve-se, propor uma função, a fim de que esta continue a
cumprir o objetivo de servir ao homem.
Com esta afirmação e levando em conta a importância de procurar preservar a arquitetura, buscou-se
entender o porquê das mudanças que estão ocorrendo em algumas edificações, o que levam os
moradores ou instituições a procurar preservar determinadas características ou elementos decorativos
e a desmerecer outros, provocando a sua perda. Assim começou a realizar tentativas de conversa,
obtendo-se autorização de uma moradora do bairro de Nazaré, em Belém (figura 1).
Na entrevista7 percebeu-se que há grande relação das edificações Neocoloniais com os novos
programas de necessidades, quando se trata de residências unifamiliares - atenta-se para o fato desta
edificação não está protegida por órgão de proteção governamental e nem se encontra em área de
entorno de bem tombado.
Da fachada para o pátio não mudou nada, o jardim era cheio de pedras e tinha plantas que tiramos, e
resolvemos colocar grama, (...) a fachada era essas pedras, tiramos e acimentamos, essas grades eram
sempre desse jeito. (...) Na lateral tinha pedras no meio tinha grama, aí tiramos e colocamos piso,
(...). Aqui a garagem8 [figura 2]. Tinha uma porta, portão, aí tiramos pra deixar tudo amplo; (...).
(Belém, 13 de Junho de 2013, Quinta-feira).
Isto marca uma característica da arquitetura que é estar fadada a mudanças. Este pensar remete-se aos
dizeres de Brandi com relação a importância ao realizar qualquer intervenção ou restauro em
edificações, cujo produto final tem que ser algo útil para quem vai habitar, mantendo sua função
primária, a de ter finalidade para o homem, ou seja, ter utilidade, mesmo que para isso seja necessário
aplicar mudanças. Portanto o problema não é a intervenção, mas como esta ocorre.
Este pensar instiga a lembrar que “os ambientes construídos pelos homens guardam, através de sua
materialidade, a memória das idéias, das práticas sociais e dos sistemas de representação dos
indivíduos que ali convivem” (BOGEA, 2009, p. 03), tornando-se uma forma de ativar suas
7
Entrevista realizada em visita de campo à edificação de interesse, com a Senhora Rúbia Ribeiro Reis, moradora da
Passagem Joaquim Nabuco, nº 103 – Belém, 13 de Junho de 2013, das 16:00 ás 18:00. O modelo entrevista aberta,
segundo Lakatos e Marconi (2003).
8
Parte coberta localizada na lateral esquerda da casa (visto pela fachada principal).
28
memórias, direta ou indiretamente, provando que a ação de preservar tal bem como patrimônio
cultural é importante para mantê-lo vivo como elemento depositário de valor cultural.
Portanto, decidir intervir em edificações, é saber muito bem quais serão estes processos, a fim de não
prejudicar na rememoração das pessoas, podendo mexer com a memória coletiva da sociedade, por
isso todas as reformas exigem uma ação crítica e toda uma análise de impacto, pois “não se pode (...)
fixar uma materialidade em sua totalidade (...) há que se definir criteriosamente o que esquecer”
(BOGEA, 2009, p. 04).
O mesmo pensar refletiu-se, em análise das intervenções em bens arquitetônicos de Macapá. Cuja
produção fora em momentos distintos do atual, atentando-se para outras discussões como a questão
da segurança da memória coletiva e individual da sociedade amapaense. Por exemplo, o caso da
Escola Estadual Gabriel de Almeida Café, hoje bastante alterado, perdendo suas características do
modernismo brutalista visto no Brasil (figuras 3 e 4).
Figuras 3 e 4: Fachada da Escola Estadual Gabriel de Almeida Café.
Outro exemplo de intervenções são as mudanças nas edificações Neocoloniais para adequarem-se aos
novos programas de necessidades. É comum, em Belém, ver moradas unifamiliares se transformarem
em consultórios, clinicas, sedes de instituições públicas e outros. Promovendo perdas de elementos
arquitetônicos. Em Macapá o processo é, por vezes, mais problemático, pois gera-se a demolição da
obra, impedindo qualquer analise ou perpetuação sobre a mesma, como as antigas residências da
Avenida Mendonça Furtado (figuras 5 e 6).
Figuras 5 e 6: Antigos exemplares da Av. Mendonça Furtado.
Todavia há elementos, espaços ou detalhes que muitas vezes procura-se preservar. São princípios de
intervenção, como os destacados por Cesare Brandi, no qual toda e qualquer ação em bem a
preservação deve seguir princípios e métodos ligados ao pensamento crítico e científico, ser
29
amplamente questionados e discutidos, além de estarem firmemente alicerçados e protegidos através
de textos, leis, regras, documentos e normas que impeçam qualquer forma de arbitrariedade.
Porém para realizar adições e demolições, Brandi afirma que o testemunho humano (guardado na
mente) não é suficiente, pois como vê-se em Bogea (2009) a memória é involuntária. Logo deve-se
compreender a necessidade da documentação. Cada remoção ou acréscimo “equivaleria a um
cancelamento de uma passagem histórica” (BOGEA, 2009, p. 7), que provoca a transformação do
testemunho da edificação, portanto, não se deve apenas pensar na estética, mas na intervenção
racional, delineada pela história que tal como a anterior deve apresentar seu juízo de valor.
As arquiteturas são obras concretas, feitas de tijolo, pedra, ferro e cimento que juntos compuseram
verdadeiras obras de arte capazes de entreter, emocionar e estimular as memórias (coletivas ou
individuais). Partindo desse pensar pesquisou-se de Junho à Julho de 2013, as edificações
Neocoloniais no bairro de Nazaré em Belém. Subdividiu-se em "ainda preservadas", "com traços" e
"modificadas"; detectando-se um número considerado entre a primeira e terceira opções. Porém o
levantamento trouxe a tona um dado que já havia sido percebido agora comprovado, pois dessas
apenas duas são tombadas.
Dessa forma interpreta-se que em Belém há um processo de perda ou falhas na memória, seja da
comunidade ou do indivíduo. Porém ressalta-se a intenção de Chiarotti (2005, p. 303) ao afirmar que
“o estudo da cultura material realiza uma maior interação entre as diversas ciências humanas, (...),
torna possível uma maior compreensão do homem”, ou seja, "a memória coletiva e sua forma
científica, a história, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos" (LE
GOFF, 2003, p. 525), em outras palavras, a escolha de uma arquitetura como sobrevivente da
memória é efetuada por "forças", quer da ciência quer da sociedade.
A materialidade torna-se uma ferramenta para compreender o método ou a forma como a sociedade
ganhou o corpo que hoje possui. No pensar de Chiarotti (2005), o artefato não é um objeto
consolidado, ele está inacabado, pois é passível de variação (mudança). A questão não é impedir tais
modificações, o que garante a continuidade de sua função, ser útil ao homem, porém o erro na forma
como estas alterações são realizadas. Hoje há, em Belém e em Macapá, intervenções em bens de
interesse que prejudicam a preservação das características estéticas, o que afeta não apenas a história
da arquitetura, mas a própria história memográfica das pessoas. Há uma perda, um esquecimento
desse objeto/artefato.
Para tanto este autor reconhece dois processos de atuação, a instrumentação e a instrumentalização.
O primeiro é aplicado ao homem, ou seja, está relacionado à visão deste do artefato; já a
instrumentalização refere-se ao artefato, ou seja, analisa sua forma de produção, o processo usado, as
modificações pela qual pode passar, a fim de servir para outra finalidade. Logo, como em Chiarotti
(2005, p. 310), o patrimônio histórico edificado é um artefato, pois “nele ocorre os mesmos processos
que o artefato/instrumento tem”, como as construções Neocoloniais em Belém, ou em arquiteturas da
fase moderna macapaense, como as escolas estaduais do Barão do Rio Branco, Santina Rioli e
Antônio Cordeiro Pontes.
O artefato é um documento e que, tal como Samaran (apud LE GOFF, 2003, p. 531) "não há história
sem documento", não apenas o escrito ou o ilustrado, mas sim o concreto, o real, ou seja, o
monumento. Portanto, desde a revolução documental, principalmente crescida pelos fundadores da
Revista Annales, tem-se visto que a memória tem sido utilizada como fato na compreensão dos
acontecimentos com determinada edificação.
30
Chiarotti (2005) também relata que deve-se atentar na possível relação, antes muito recorrente, mas
hoje não aceitável, referente à dicotomia monumento e patrimônio histórico. Essa separação devesse,
pois, o monumento é uma obra projetada para ser admirada, ou seja, ela nasce com este cunho
imediato; o patrimônio histórico não se origina para tal fim, ele adquire devido ser de grande
importância (cultural) para uma sociedade ou nação.
Atentar-se-á para não transformar estas edificações em uma cristalização da memória, ou seja, em
lugares de memória, pois segundo Nora (1993, p. 7) "há locais de memória porque não há mais meios
de memória". Assim estas devem ser formas de rememorar e conhecer o passado, porém com uma
identificação para o presente e o futuro da sociedade.
Assim o documento (edificação) não é inócuo, neutro, mas contém toda uma influência, que tal como
visto nos monumentos devesse ter total atenção. Entretanto Aloïs Riegl (2006) defendeu que “a obra
de arte deve ser considerada um documento histórico e analisada de maneira análoga”, por isso o
Denkmalkultus direciona-se para um conjunto mais vasto dos monumentos, buscando mostrar que o
valor artístico da obra, não propriamente é a parte mais importante da identidade desta, pois, segundo
ele, o usuário da obra irá primeiro perceber o seu valor de antiguidade ou o seu valor de novidade.
Como defendido por Ruskin (2008) em sua visão humanista na Lâmpada do Sacrifício, a arquitetura
é a arte que irá dispor e adornar os edifícios feitos pelos homens, para contribuir à saúde mental, de
poder e prazer do mesmo. A final "a memória é um absoluto e a história só conhece o relativo"
(NORA, 1993, p. 9), ou seja, esta é baseada em ciência, fatos e no contar de uma pessoa, é crítica,
mas aquela, embora privada, abarca tudo, inclusive a história, pois "a necessidade de memória é uma
necessidade da história" (NORA, 1993, p. 14).
As arquiteturas de interesse a preservação tem sido alvo de mudanças, das quais acabam gerando
perdas sejam em seus elementos, ou seja, na matéria própria ou na memória que o povo ou a
vizinhança local tinha ou tem sobre tal edificação. Pensando nisso há um conceito ou forma de pensar
a preservação no Brasil, que aplica a proteção destes artefatos, sejam eles móveis ou imóveis.
Entretanto percebe-se que há - em cada período - uma mudança, ou seja, muitas vezes o que no
passado era considerado digno de ser preservado hoje não o é. Assim, também, entende-se que a
mentalidade da sociedade muda, se transforma, evolui.
Todavia há, tanto em Belém quanto em Macapá, uma famigerada movimentação a cerca da
descaracterização de bens antigos, ou a perda destes. No caso das edificações Neocoloniais em Belém
e as institucionais em Macapá, percebe-se o avanço dos processos de descaso e de danos causados
por alterações e obras indevidas. Contudo o que agrava a situação não é apenas a pouca fiscalização,
mas a questão que a maior parte destes exemplares não são protegidos pelos próprios órgãos
competentes, sejam eles municipal, estadual ou federal.
Logo levanta-se a discussão sobre a importância de preservar estas edificações, ou seja, porque deve-
se proteger tais exemplares arquitetônicos, a fim de transformá-los em patrimônio da sociedade? Pois
pode-se através da preservação destes artefatos, melhor entender o significado histórico, assim como
o resgate da memória que fará deles um patrimônio histórico edificado.
Contudo para ser artefato este deve ser aplicável a alguma atividade, sendo segundo Chiarotti
(2005) considerado como “instrumento”. Analisando por esse viés pode-se considerar determinados
bens arquitetônicos como artefatos, pois como edificações, foram elaboradas e projetadas para algum
fim, ou seja, possuem um programa de necessidades que no decorrer dos tempos pode ser modificado,
31
fazendo desta um artefato passível de mudanças, porém ainda mantendo o conceito de instrumento,
de uso.
Referências
ASSMANN, Aleida. A gramática da memória coletiva. Humboldt 86, ano 45, 2003.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 5ª ed. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2003.
NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Proj. História: Revista
do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC-SP.
São Paulo, 1993.
RIEGL, Aloïs. O Culto Moderno dos Monumentos: sua essência e sua gênese. – Goiânia: Ed. da
UCG, 2006.
32
Mobilidade urbana em Macapá via transporte
coletivo: Características históricas e planejamento
urbano.
Percepção e memória da cidade
Autor 01
Thayana Galeão Quintas
Mestra em Desenvolvimento regional, UNIFAP
RESUMO
33
Mobilidade urbana em Macapá via transporte
coletivo: Características históricas e planejamento urbano.
A organização espacial das cidades e os meios de transporte estiveram diretamente relacionados com
a forma como a sociedade utiliza os espaços públicos, e, seu processo de modernização dos sistemas
de transporte. Para tanto, entender a cidade e seus processos de desenvolvendo, conhecer a história
dos acessos aos transportes é um meio de compreender a formação dos espaços, suas vias como
resgate ao sistema democrático da cidade e sua relação ao fluxo social de acesso como um todo, ao
esclarecer as rotas, a demanda e o uso dos ônibus como uma forma de perceber a cidade em função
da memória voltada as necessidades de seus habitantes.
Quando se trata do surgimento dos transportes coletivos remonta-se entender o ano de 1662, ao qual
o seguimento de transporte público era puxado por cavalos e foi introduzido em Paris por Blaise
Pascal. Embora inicialmente popular, o serviço durou 15 anos pelo preço do bilhete ter se restringindo
aos membros da sociedade elevada. E assim, seguiu-se uma enorme lacuna na história até o início
do século 19, quando o ‘omnibus’ (que significa “para todos”) chegou em Bordeaux, França, em
1812. (HAUBERT, 2017).
No Brasil, a história do ônibus começou em 1817, no Rio de Janeiro, com o primeiro transporte,
quando Sebastião Fábregas de Suriguê, gestou duas linhas de transporte de pessoas com itinerário de
mais de cinco horas, tarifa e horário previstos. (Figura1) (REVISTA ÔNIBUS, 2004, p.18).
Em 1837, foi fundada a primeira empresa de transporte coletivo do país, a Companhia de Omnibus, com
a chegada ao Rio de Janeiro de um ônibus de dois andares puxado por burros, cujo sucesso foi grande
que os outros meios de transporte (carruagem, cabriolés e tílburis) protestaram contra o novo concorrente
e a Câmara Municipal instituiu a cobrança de impostos e aplicou pesadas multas aos veículos da
Companhia de Omnibus (STIEL, 1984).
Em 1868, os bondes interrompeu a ascensão do ônibus, período que durou 40 anos, quando então surgiu o
auto-ônibus, também no Rio de Janeiro em 1908. Em 1917, foi aprovado o modelo de um novo tipo de
auto-ônibus para o transporte de passageiros; esses ônibus eram movidos a bateria (eletricidade),
construídos nos EUA, e funcionaram até 1928 (STEIL, 1984).
34
Em 1923, surge a primeira empresa regular de ônibus no Rio de Janeiro e em 1928, dezenove empresas
estavam licenciadas, transportando 88,1 milhões de passageiros/ano (STEIL, 1984). Em pouco mais
de uma década, o movimento de passageiros se firmou e o ônibus passou a galgar o status de principal
meio de transporte público.
Em 1953, foi fundada a Mercedes Benz do Brasil, com novos veículos e agregou a consolidação,
efetivada na década de 60, das lotações que se caracterizam como veículos de lotação mínima de 10 e
máxima de 21 passageiros. A empresa Volvo, que instalou sua fábrica no país nos anos 70, atingiu o
pico de sua produção em 1992. Em 2005, o Brasil tornou-se o maior fabricante mundial de ônibus
(STEIL, 1984).
No entanto, mesmo com esse dado, nas últimas décadas, deu-se a transformação das maiores cidades
brasileiras em espaços eficientes para o automóvel, e a frota de automóveis cresceu substancialmente,
alardeada como única alternativa eficiente de transporte para as populações de níveis de renda mais
alto.
O primeiro transporte coletivo público, foi do empresário Francisco Severo de Sousa e tratava-se de
um caminhão Ford 1929, denominado chorão, que circulava apenas centro urbano (SILVA,
RUCKERT, 2005).
Em 1930, adquiriu-se um ônibus do território, apelidado de “caixa de cebola” ou “chora”, e que fazia
a mesma linha circular (figura 02). Remonta-se entender que havia demanda e interesse do capital
visto que no mesmo ano foi comprado um outro caminhão dando início a linha intermunicipal
Macapá-Santana, apelidado de “pau-de-arara” (SILVA, 2012).
35
Fonte: Revista Perfil do Amapá (1998).
Quando Macapá tornou-se capital do Território Federal, pelo decreto-lei federal nº. 6.550 de
31/03/1944, a cidade passou a ter outro status a partir dos novos investimentos, quando o primeiro
governador, Janari Gentil Nunes, assumiu o comando, no intuito de modernizar a cidade com o núcleo
urbano, ocorrendo a mudança de transferência da sede do governo para a atual Macapá (TOSTES;
WEISER, 2018). Assim, cerca de mais de dez anos o trajeto do primeiro ônibus ainda se dava pelas
vias urbanas maior adensamento populacional (Figura 03) e principais intervenções urbanas de valor
histórico, como evidencia a Figura 04 (TOSTES; WEISER, 2018).
36
Fonte: Costa (2015), Tostes; Weiser (2018).
Por volta de 1950 foi implantada no território a Indústria e Comércio de Mineração (ICOMI), o que
proporcionou crescimento populacional e a implantação de um porto, além da criação da Companhia
de Eletricidade do Amapá (CEA), em 1956 (TOSTES; WEISER, 2018).
Dados do IBGE revelam que dos três mil domicílios que residiam nessa época passou para mais de
20 mil como mostra a Tabela 01; desse total, menos de 15% da população tinha acesso aos serviços
de infraestrutura (SILVA, 2017). A ocupação desordenada conjecturou-se a pensar no espaço, através
de um conjunto de teorias a serem implantadas; consolidaram-se os planos urbanísticos como o Plano
Diretor.
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. (1) População presente. (2) População
recenseada. (3) População residente.
Em 1958, apenas um ônibus que fazia a rota de Macapá até a comunidade da Vila Maia (hoje
município de Santana), pela estrada Duca Serra, no entanto conforme a demanda aumentou, houve,
em 1962, quatro kombis que passariam a prestar esse serviço, levando pessoas e seus produtos
agrícolas para abastecer a demanda dos colonos que desembarcavam semanalmente de trem pela
estação localizada no km-09.
Com o incremento planos diretores obteve-se um planejamento voltado ao interesse econômico da
cidade e consolida-se, a partir de 1959, os seguintes planos: Plano de Grumbilf do Brasil, seguido
do plano da Fundação João Pinheiro de 1973, da H.J. Cole + Associados de 1976 a 1979 e o Plano
Diretor de Macapá de 1990 e 2004. Para melhor compreender a evolução histórica e seu
desenvolvimento urbano, desenvolveu-se o Mapa 01 com as seguintes demarcações:
37
Mapa 01 - Planos diretores e a evolução urbana da Cidade de Macapá e seus planos urbanos.
Quanto ao processo de desenvolvimento de execuções dos planos, em 1960, avança quanto ao sistema
de ônibus por obter mais veículos com maior tecnologia: ônibus denominado “Bossa nova”, como
mostra a figura 06, de linhas trolleybus, no entanto ainda circulava apenas a área central da cidade.
38
Figura 06 – Década de 60 – ônibus bossa nova.
E para tanto houve o desenvolvimento dos abrigos com a perspectiva de que “os abrigos só deverão
ser instalados onde não prejudiquem o fluxo do tráfego, baseando-se em observações de real
necessidade, acompanhando a evolução da cidade” (GRUMBILF DO BRASIL, 1960, p.48).
Em 1973, o prefeito de Macapá Lourival Benvenuto contrata a primeira empresa de ônibus a prestar
serviço no transporte coletivo entre as duas cidades. No entanto, a entrada dessa empresa de ônibus
não impediu que o empresário Jarbas Gato substituísse, em 1975, as kombis com cinco novos ônibus
(Figura 07) e conseguiu a concessão da linha rodoviária para a cidade portuária, fazendo um itinerário
diário entre Macapá-Fazendinha-Porto de Santana e vice-versa.
Nesse contexto, tratava-se em andamento o plano da Fundação João Pinheiro, com o foco disperso
da capital e o progresso para outro núcleo urbano como Santana, no alinhamento de duas rodovias
em união a construções de abrigos, no intuito de complementar as funções de cada cidade, buscando
solucionar as estruturas urbanas com apoio a indústria e a cidade de Santana. Porém, os sistemas de
transportes eram direcionados totalmente às áreas urbanizadas, que correspondia as mesmas áreas
desde seu primeiro coletivo, não dispondo de linhas nas áreas periféricas (FUNDAÇÃO JOÃO
PINHEIRO, 1973).
39
Em 1998, foi legalizado o serviço de coletivo público quando o prefeito da capital Annibal Barcellos
criou a Companhia de Transporte de Macapá, em consonância ao novo código nacional de trânsito,
instituído através da Lei n°9.503 de 23 de setembro de 1997 e a Lei n° 9.602 de 21 de janeiro de 1998
(BRASIL, 2007; SETAP, 2016).
Uma das principais mudanças no novo código foi a transferência da gestão do trânsito para os
municípios, abrangendo em Macapá, os responsáveis pela administração de trânsito, o DETRAN –
Departamento Estadual de Trânsito e EMTU – Empresa Municipal de Transporte Urbanos (BRASIL,
2007).
Mas, apesar do caractere institucional ter se organizado, havia, no entanto, diversos problemas
referentes ao transporte coletivo. A instituição EMTU contava apenas com duas empresas de ônibus,
Cattani e Estrela de Ouro e o serviço prestado de forma precária, acumulavam dificuldades quanto a
regularização que as habilitasse; assim, forçou-se a saída das duas do sistema, e a alternativa dos
empresários foi repassar seus carros e as linhas concedidas pelo município para outra razão social. A
Estrela de Ouro passou para a atual União Macapá (FIGUEIREDO, 2012). E seus trajetos
continuaram a mesma circulação, no entanto somente ampliada aos novos bairros, de forma remota.
Nesse período, as empresas que prestavam serviço à cidade de Macapá contavam com uma frota com
119 ônibus, com a maioria dos carros sucateados, atendendo mal, portanto, os usuários do serviço,
além de colocar em risco a vida dos motoristas, cobradores e passageiros (FIGUEIREDO, 2012).
Dentre a frota total, apenas dois ônibus tinham a rampa de acesso e o elevador eletrônico para
transportar os cadeirantes, assim contava a inclusão social em uma frota de 119 ônibus para mais de
500 mil habitantes. Outra deficiência era relacionada à frequência dos ônibus, pois, de sete ônibus em
cada linha, apenas três eram colocados em circulação (FIGUEIREDO, 2012).
Em 2004, foi implantado o plano diretor na cidade que propôs a adoção da estratégia para Melhoria
da Mobilidade, no qual quanto ao coletivo expandiram-se as rotas, 163km, 28 linhas operadas por 6
empresas privadas, por frota total de 109 veículos ativos e o número de viagens previstos pela EMTU
era de 1.225 viagens, uma média de 42 viagens/dia por linha em 20h, sendo aos sábados reduzidos
30%, e 40% aos domingos.
O trecho de via que mais recebia linhas de ônibus era no centro, com concentração nas avenidas FAB
(28 linhas), Tiradentes (26 linhas) e são José (22 linhas), com montante de 20 linhas. Outros
corredores de grande expressão eram formados pelas avenidas Adilson José Pinto Pereira e Tancredo
Neves (CTMAC, 2012).
No entanto, esse plano pouco contribuiu para a melhoria do espaço e da qualidade de vida, ao
contrário, ao longo dos anos, deteriorou-se a qualidade de vida urbana, principalmente no tocante à
mobilidade e à recuperação das áreas ambientais fragilizadas e a falta de implementação dos
instrumentos legais previstos (SOUZA, 2014, p.102).
Na transição dos anos 2008 para 2009, entrou mais seis empresas no setor, passando a integrar o
sistema de transporte coletivo urbano, porém, essa expansão não seguiu de forma ordenada e seguindo
os planos municipais, que se comprovou que à medida que a cidade de Macapá crescia, os serviços
de transporte coletivos necessitavam ser modificados (CTMAC, 2012).
40
As situações recorrentes dos meios de transporte público levaram, ao se deparar com as péssimas
condições de funcionamento da EMTU, à transformação em autarquia recebendo a nomenclatura de
Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMAC), com base legal da Lei nº. 091, de
28.12.2011 (SETAP, 2010).
Outra preocupação conta com o aumento rápido dos transportes automotivos individuais, que se
configurou uma equivalência quantitativa de automóveis e motocicletas a frota de veículos cerca de
110 mil (DENATRAN, 2016).
Já em relação aos ônibus, a frota de Macapá em 2010 era composta por 159 veículos. Em 2017, tem-
se o total de veículos cadastrados para realizar o transporte coletivo de 172 veículos. Assim,
configura-se uma diferença de 13 ônibus de crescimento da frota de veículos em sete anos (CTMAC,
2017).
Comparando os anos de 2000 a 2017, tem-se o total de grande crescimento da frota de veículos
individuais e pouco crescimento de ônibus, como mostra a figura 07.
Ao ponderar que, em 75 anos desde o primeiro ônibus circular da cidade, não foi realizado licitação
para a prestação de serviço com o transporte coletivo, e somente em 2012 se evidenciou a iniciativa
e tentativa de realizar licitação para o mesmo, encontra-se um déficit de crescimento desse setor que
se aloja na influência dos empresários através de seu Sindicato – SETAP.
Em agosto de 2018, a prefeitura, por intermédio da CTMAC, realizou licitação visando à contratação
de empresa especializada para elaborar estudos técnicos para a reestruturação e concessão do Sistema
de Transporte Público Coletivo Urbano da capital Macapá. A audiência foi agendada para o dia 1º de
fevereiro de 2019 e suspensa dia 29 de janeiro de 2019 por conveniência administrativa (CTMAC, 2018).
Conclusão
41
ao transporte público aos seus habitantes/ consumidores, cabendo o direcionamento ao uso dos
automóveis privativos individuais.
Nota-se que os custos ambientais que incorporar o transporte público como propulsor da redução do
número de veículos individuais, traria vantagens no que tange à diminuição de poluição ambiental e
à redução dos riscos aderindo maior investimento no setor de transporte público, agregando as
premissas do meio ambiente status de participação do Estado mais conservado da federação.
Referências
ARAÚJO, Denossy, reprodução de Marcio José Andrade da Silva (jornalista). Fotografia da Caixa
de cebola sobre a ponte do Igarapé da Fortaleza - Macapá – AP, 1950, Fotografia publicada em
Outubro 14, 2010 de https://porta-retrato-ap.blogspot.com/2010/05/ponte-da-candido-mendes.html
BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Lei Nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 que
institui o Código de Trânsito Brasileiro. Brasília: Presidência da República. Casa Civil. Subchefia
para Assuntos Jurídicos, 2007.
42
REVISTA ONIBUS. Série História do Transporte: O transporte coletivo no Brasil. Número 26,
Rio de Janeiro, RJ, 2004. Disponível em: <http://www.revistaonibus.com.br/edicoes-
virtuais/revista-onibus-no-26/ >. Acesso em: 10 set 2018.
SILVA, F.; RUCKERT, P. Macapá: uma história pioneira. Belém: Paka Tatu, 2005.
SILVA, Eliane Aparecida Cabral. Quando a terra avança como mercadoria perde-se o valor de
uso na cidade: regularização fundiária e a expansão urbana na cidade de Macapá
- Amapá. Campinas: [s.n.], 2017.
STIEL, Waldemar Corrêa. História do Transporte Urbano no Brasil. Brasília: Editora Pini,
1984.
TOSTES; WEISER, José A.; Alice A. Revista Amazônia Moderna, Palmas, v.1, n.2, p.34-53, out.-mar.
2018. Disponível em: <http://www.academia.edu/33646681/macap%c3%81_a_
cidade_modernista_do_per%c3%8dodo_janarista_de_1943_a_1955> Acesso em 15 de jan de 2018.
43
EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS EM MACAPÁ: o caso da
residência nº 44 da Vila Ipase
Percepção e Memória da Cidade
RESUMO
No início da ocupação urbana da cidade de Macapá-AP, diversas vilas residenciais foram criadas,
com características referentes às suas épocas de construção. Dentre essas vilas, está a Vila Instituto
de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), construída na década de 1950, no
governo de Janary Nunes. Hoje, essas vilas são de suma importância para a compreensão e
perpetuação da história local. Neste contexto, o trabalho propõe-se a estudar a respeito de uma das
residências da Vila IPASE, a residência nº 44, a fim de identificar sua significância cultural. Para isto,
descreveu-se o projeto original, bem como as modificações que foram realizadas na construção, e as
características estilísticas. Após a análise destas informações, observou-se que, apesar das alterações
arquitetônicas efetuadas, o bem ainda se encontra em estado passível de restauro. Esta intervenção
44
poderá resgatar a construção original da edificação e suas características Neocoloniais, retornando à
unidade potencial do bem, identificada como de alta significância cultural para a memória da cidade.
PALAVRAS-CHAVE
Introdução
Macapá se originou de um destacamento militar que se fixou no mesmo local das ruínas da antiga
Fortaleza de Santo Antônio, a partir de 1740. Este destacamento surgiu em razão de constantes
pedidos feitos pelo governo da Província do Pará (a quem as terras do Amapá estavam juridicamente
anexadas), na pessoa de João de Abreu Castelo Branco que, desde 1738, sentindo o estado de
abandono em que se encontrava a fortaleza, solicitou à Coroa portuguesa providências urgentes.
Assim, os insulares dos Açores colonizaram Macapá. (RODRIGUES, 2012)
O atual bairro Central é o local onde se estabeleceram os primeiros habitantes de Macapá, dando
origem ao núcleo urbano que foi transformado em cidade em 4 de fevereiro de 1758. O bairro
encampou os primeiros bairros de Macapá, como o da Fortaleza, onde ficava a antiga doca; do
Cemitério; do Alto; do Formigueiro, onde vivera a Mãe Luzia (Francisca Luzia da Silva) e da Favela
onde viveram grandes figuras da cultura popular macapaense, entre eles Benedito Lino do Carmo, o
velho Congós, e D. Gertrudes. (RODRIGUES, 2012)
A partir de 1940, com a instalação de uma administração na nova sede do território federal, vilas e
conjuntos residenciais para servidores públicos e funcionários eram construídos. Visto que era
necessário acomodar seus empregados e família, à época, o governo contratou a firma Emílio
Brandenberg, para construir 35 residências em madeira para novos empregados da administração
pública. Com isso, na década de 1940, as primeiras residências são construídas na Avenida General
Gurjão, e entregues aos moradores. Porém, com alterações no contrato após o falecimento do
contratante, ocorreram as seguintes mudanças no decorrer da construção: 8 casas finalizadas, 2 para
conclusão, 16 apenas com estrutura, 4 casas somente com pilares erguidos e 5 ainda sem construção.
45
Figura 1: Vista parcial da Vila IPASE, década de 1950.
Visto que diversos conjuntos habitacionais foram entregues no decorrer de cada governante, entre
eles Vila IPASE e Vila Operária, no governo Janary Nunes, outros também são executadas com
características Art Decó e Neocolonial. Sendo assim, aspectos construtivos de certos conjuntos ainda
são evidentes, alguns com muros baixos, detalhes minuciosos nas fachadas frontais, azulejos florais,
madeira e telha de barro.
Ambos os projetos, juntos com as demais obras realizadas nesse primeiro período de Território
Federal, possuíram um caráter de privilégio dado somente aos trabalhadores assalariados da
administração pública (LUNA, 2017). Estas ações do governo se mantiveram até a segunda metade
do século XX, aliadas com a provisão de moradias ofertada para os funcionários de empresas que
vieram a se instalar em Macapá, como foi o caso da Empresa Brasileira de Telecomunicações
(EMBRATEL) e da Companhia de Energia do Amapá (CEA). (CORDEIRO; MATSUNAGA, 2018,
p. 4)
46
Contexto histórico da área de localização do Bem
O capitão Janary Nunes foi nomeado por indicação do presidente Getúlio Vargas em 27 de dezembro
de 1943, contando com 31 anos de idade, sua escolha foi devido aos seus méritos militares aliados a
reivindicações do amapaense. Seu governo durou mais de 12 anos e foi governante por duas vezes,
mostrando-se autoritário e populista durante esse período. (SANTOS, 2001)
Segundo Santos (1998), nos doze anos de governo, Janary Nunes integrou amapaenses ao serviço
público; dinamizou o sistema educacional, construindo novas escolas; implementou a pecuária e a
agricultura, criando polos de produção como a Colônia Agrícola de Matapí e Posto Agropecuário de
Fazendinha; construiu o Hospital Geral,
A Vila Ipase era caracterizada com construções em alvenaria, sua área urbana foi pensada com
infraestrutura viária provida de passeio público e postes de iluminação. O projeto era privilegiado aos
trabalhadores assalariados da administração pública, excluindo dessa forma a população de baixa
renda, que foi removida para outras regiões da cidade, “ocupando áreas alagadas e construindo
palafitas” (LUNA, 2017, p. 133). A vila está localizada na atual Av. Procópio Rola, no bairro Central.
Localizada na Vila Ipase, a edificação n° 44 foi a última residência construída do conjunto (Figura
2). Após a conclusão das edificações da vila, os muros para as divisões dos lotes ficaram sob a
responsabilidade dos moradores. Por ser uma edificação limítrofe do conjunto, a divisão desta
residência já era propagada por muros, com o intuito de representar o término do conjunto.
47
Fonte: COSTA FILHO, 2017.
No projeto original, a casa era composta por sala de estar e cozinha conjugadas, área de serviço, área
de banho, um quarto e uma suíte. A sala era o ponto de entrada dos visitantes. Imediatamente após
esse cômodo, encontrava-se a cozinha, que dava acesso ao quintal e aos quartos, sendo que, em um
dos dormitórios, havia um lavabo que era cedido às visitas. Na área externa da casa, encontrava-se,
ainda, um ambiente destinado apenas para o banho e um setor de serviço.
Esta composição arquitetônica, contudo, sofreu alterações com o passar do tempo. Em 1982,
iniciaram-se as reformas e ampliações da casa. Neste ano, a pequena varanda localizada na frente da
casa foi ampliada. A cozinha, antes composta por paredes de madeira e piso em alvenaria revestido
com taco de madeira, passou a ter paredes de alvenaria e o piso em lajota. Este ambiente, ainda, sofreu
uma alteração de uso, transformando-se na continuação da sala de estar. Um outro ambiente,
conectado a este, foi construído para comportar a cozinha da residência.
Ainda nesta obra, com o objetivo de transformar os quartos em cômodos mais reservados,
transformou-se a suíte em closet e construiu-se um dormitório ligado a esse ambiente. Entre a nova
cozinha e o novo dormitório, encontrava-se o local destinado ao banho, que se tornou um duto de
ventilação. Ao lado da cozinha e com acesso ao exterior da residência, foi construída uma área de
serviço com um banheiro. Seguindo a forma linear dos novos ambientes, edificou-se um escritório -
que, alguns anos mais tarde, passou a ser utilizado como depósito de bebidas -, e conectado a este,
construiu-se um depósito. Na área externa da casa, criou-se uma estrutura de alvenaria, com cerca de
6 metros de altura, para abrigar a caixa d’água, e ergueu-se um abrigo para animais de estimação, a
poucos metros da edificação, com a base feita em concreto.
Em 1995 foi construído um espaço para convivência, lazer e descanso, na parte posterior do terreno,
apoiado ao muro. E por fim, no ano de 2013 todo o piso da área externa foi reconstruído e o espaço
48
de lazer tornou se atualmente um depósito. Ainda que tenham sido realizadas diversas modificações
arquitetônicas, a construção original da casa, do ano de 1953, sofreu, em sua maioria, modificações
de usos. Poucas alterações na estrutura foram de fato realizadas, como a ampliação da varanda e
abertura de um vão em um dos quartos para acessar um novo ambiente, construído em 1982 (Figura
3).
Apesar das modificações fazerem parte do processo histórico da edificação, identifica-se como
unidade potencial do bem a construção original da residência, por ser um dos poucos bens locais que
ainda apresentam características de uma arquitetura neocolonial. Dado o exposto, uma vez que essa
estrutura não foi danificada, é possível que haja o resgate dessa unidade, para que se preserve um
momento histórico de significativa importância da cidade de Macapá.
Considerações Finais
Entender e estudar os edifícios do passado são necessários para permitir à população conhecer um
pouco da história da cidade, através de obras com traços de estilos ou tendências arquitetônicas
49
características de sua época. Arquiteturas às quais se perpetuaram ao longo do tempo, e hoje
destacam-se em uma cidade contemporaneizada, onde muitas obras do passado perderam-se ao longo
dos anos, sendo substituídas ou modernizados para se adequar a um novo modelo de construção que
mais se adequa a sua era.
Referências
LUNA, Verônica Xavier. Um cais que abriga histórias de vida: homens e máquinas construindo
o social na cidade de Macapá (1943-1970). Tese de Doutorado.
Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade Federal do Ceará, 2017.
SANTOS, Fernando Rodrigues dos. História do Amapá. 6a ed. Valcan. Macapá, 2001.
50
CASA 143: LEVANTAMENTO HISTÓRICO E
ARQUITETÔNICO DE UMA EDIFICAÇÃO DO CONJUNTO
DO BANCO DA AMAZÔNIA S.A.
Percepção e memória da cidade
RESUMO
O presente artigo é oriundo da disciplina de Técnicas Retrospectivas, ministrada pela Prof. Msc.
Dinah Reiko Tutyia no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP). A proposta metodológica foi a realização do levantamento de dados e informações de
51
conjuntos construídos entre as décadas de 1940 a 1970 na cidade de Macapá, capital do Amapá. O
objeto de estudo selecionado pelo grupo foi o Conjunto de casas construído pelo Banco da Amazônia
S/A, no bairro central da cidade de Macapá-AP – até então pouco estudado – que fora destinado aos
primeiros funcionários do Banco que, ao chegar no Território, precisavam de um local para morar
com suas famílias. O desenvolvimento da pesquisa foi realizado por meio de cinco procedimentos
metodológicos: Rastreamento de dados e informações do imóvel; Visitas de campo; Registro
fotográfico e tomada das dimensões do imóvel; Análise dos materiais coletados e identificação de
danos; Criação de Plantas e modelagem para representação gráfica do objeto de estudo. O objetivo é
investigar a importância histórica e patrimonial do conjunto para a cidade de Macapá.
PALAVRAS-CHAVE
52
CASA 143: LEVANTAMENTO HISTÓRICO E ARQUITETÔNICO
DE UMA EDIFICAÇÃO DO CONJUNTO DO BANCO DA
AMAZÔNIA S.A.
Introdução
O objeto de estudo desta produção é, especificamente, a casa do lote urbano nº 05, quadra 12, setor
01, localizado na avenida Machado de Assis, nº 143, bairro central, que mede 15 (quinze) metros de
frente por 30 (trinta) metros de fundo (Figura 01).
A relevância deste estudo está na busca da história de uma parte da cidade de Macapá, desconhecida
até mesmo pelos funcionários e moradores do conjunto, e no levantamento de dados que permitam
avaliar os danos decorrentes do tempo e mau uso da edificação. A identificação de materiais e técnicas
utilizados na construção dos imóveis podem contar sobre o estilo de construção da época. Descobrir
o que há por trás das reformas, pode revelar a passagem do tempo, a história de desenvolvimento do
Território, a chegada de uma instituição financeira e o modo de vida de famílias. A coleta de imagens
e lembranças, permitirão fazer a melhor escolha na busca da conservação de edificações antigas
construídas num período de grandes transformações do espaço urbano de Macapá.
A expansão de Macapá até 1945 deu-se nos seguintes sentidos: ao sul, o bairro do Forte, ao norte, o
campo de aviação, a oeste, a vila Getúlio Vargas e bairro Cemitério – na década de 1950 surgiu na
parte sul, o bairro do Trem e parte do bairro do Beirol, a oeste o bairro Central se expandiu, além de
parte do Santa Rita. Ao Norte surgiram os bairros do Laguinho e o Igarapé das Mulheres. (TOSTES,
2013)
O Bairro Central de Macapá, também tem início com a ocupação e o povoamento mais antigo da
cidade, quando as terras do atual estado do Amapá estavam juridicamente anexadas à província do
Grão Pará e Maranhão, nesse mesmo período, o governador João de Abreu Castelo Branco, solicitou
um destacamento militar para o Amapá, mais precisamente, para as ruínas da antiga Fortaleza de
Santo Antônio (atualmente a Fortaleza de São José) cujo estava em estado de abandono. Conforme
texto extraído do site Amapá em Destaque9, a cidade de Macapá teve sua origem a partir do
destacamento militar criado em 1738. Sua história está ligada umbilicalmente com a defesa e as
fortificações das fronteiras brasileiras, além da preocupação em garantir a ocupação geográfica do
9
Disponível em: <www.amapaemdestaque.webnode.com.br>. Acesso em 18 de maio de 2018.
53
Brasil, após as acirradas disputas territoriais com a França. Seu desenvolvimento também está
intimamente ligado ao contexto da Região Norte que, desde o período correspondente à colonização
europeia, representa uma área de vazio demográfico, a princípio, pelos seus aspectos naturais que
sempre dificultaram a sua ocupação mais intensiva. Após o declínio do Ciclo da Borracha, no início
do século XX, a região sofreu uma queda na quantidade de imigrantes.
A década de 1960 ficou marcada por um processo de integração nos moldes oferecidos pelos governos
militares. Essa ocupação militar em políticas desenvolvimentistas de caráter nacionalista (“integrar
para não entregar”) e soberania (ocupação de áreas de fronteiras), ao criar instituições (bancos,
superintendências) estatais para gerenciar a ocupação da região, principalmente para exploração de
madeira e minérios.
Sua história mostra que o seu crescimento urbano, até a estadualização em 1988, foi consequência
de grandes projetos econômicos ligados ao extrativismo, à exploração mineral e às políticas públicas
direcionadas à “ocupação” e ao desenvolvimento da Amazônia depois que foi elevado à categoria de
Território Federal, em 1943 (...) (SILVA, 2017, p. 429).
Segundo Dona Maria José de Lara Quinto11, funcionária do BASA desde a década de 80, no Amapá,
o Banco da Amazônia foi inaugurado em 1951. Mas não se sabe ao certo a data da construção do
conjunto, que pode estar entre o início da década de 50 e fim da década de 60. Dona Orquizete,
moradora do conjunto desde 1976, contou que as casas “eram todas iguais, elas todas... uma, duas,
três, quatro, são seis... casas. (...) Aquela casa (da dona Marizete) ela foi toda modificada por um
gerente que veio morar aí...” 12. Também disse que o conjunto era composto por 06 (seis) casas – lote
03 (três) ao 08 (oito) (Figura 02), este último, continha a casa do gerente do Banco. “As casas eram
todas iguais, todas iguais, idênticas sem tirar nem pôr nada...” 13, disse Dona Nivana, moradora do
conjunto, sobre o modelo das casas.
10
Disponível em: <www.bancoamazonia.com.br >. Acesso em 09 fev de 2018.
11
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 29 de novembro de 2017.
12
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 7 de fevereiro de 2018.
13
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 30 de novembro de 2017.
54
O objeto de estudo deste trabalho é a casa do lote urbano nº 05 (Figura 02), quadra 12, setor 01,
localizado na avenida Machado de Assis, nº 143, Bairro Central, que mede 15 (quinze) metros de
frente por 30 (trinta) metros de fundo, que fora destinado, segundo Dona Nivana “...pros funcionários
que vinham de outros estados pra trabalhar aqui em Macapá pra trabalhar no banco” 14. (Figura 03).
Dona Orquizete, disse que no início, o imóvel era alugado ao funcionário, depois o ele foi vendido
àqueles que tiveram interesse – “ela foi alugada pra nós, aí, como o banco não tinha dinheiro pra
reformar (...) nós compramos” 15.
Figura 03: Alguns dos primeiros funcionários do Banco da Amazônia nos anos 70.
É uma residência unifamiliar de um pavimento, em alvenaria, coberta com telhas de barro, medindo,
originalmente, 90,25 m² de área, conforme descrito no documento de compra do imóvel (Figura 04)
e também relatados por Dona Orquizete ao lembrar que ao se mudar para o imóvel “as dependências
eram um pátio, uma sala, dois quartos, banheiro, cozinha, despensa e área de serviço. (...) aqui era
uma despensa, de guardar depósito essas... de guardar mantimentos essas coisas” 16. A despensa não
existe mais na maioria das casas. Dona Nivana também relata: “era dois quartos, uma sala aqui, essa
cozinha aqui, cozinha imensa que era cozinha... acabava bem aqui a casa! A suíte nos que já fizemos,
né! Era uma despensa aqui, aí ela aproveitou e fez o quarto dela, que é da minha mãe. Aqui o
banheiro... aí tinha só esses dois quartos...” 17.
Figura 04: Documento de Compra do imóvel.
14
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 30 de novembro de 2017.
15
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 7 de fevereiro de 2018.
16
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 7 de fevereiro de 2018.
17
Entrevista cedida a Juliana Quadros em 30 de novembro de 2017.
55
Transcrição do documento:
“N. 02/005- No Terreno objeto da presente matrícula, o proprietário LAVOISIER GANTUS
CAMILO, acima qualificado, adquiriu, através de Escritura Pública de Compra e Venda com Parte
Adjeta de Hipoteca, Lavrada no Cartório Jucá, desta cidade, no L.95, às fls xxv; em 02 de março de
1978, na qual figura como vendedor-autuante o BANCO DA AMAZÔNIA S/A. instituição
financeira pública, com sede na cidade de Belém, Estado do Pará, com COC nº 04.902.979/001,
representado por sua Agência de Macapá-AP e por seus administradores, respectivamente Gerente e
Chefe de Setor, Srs Jacinto Loureiro de Vasconcelos Filho e Antônio de Araújo Bastos, brasileiros,
casados, bancários, residentes e domiciliados nesta cidade, portadores dos CIC(MF) nº 001.647.702
e 004.729.131. O objeto, uma casa residencial, em alvenaria, de um pavimento, coberta com
telhas de barro, medindo 90,25m² de área construída, contendo as seguintes dependências: uma
sala, três quartos, uma varanda, uma despensa e um banheiro, a qual tomou o nº 157 da Av.
Machado de Assis. Valor: Cr$ 2.000.000,00. Dou Fé. Macapá, 17 de fevereiro de 1982.” (Grifo
nosso)
18
Dona Orquizete descreveu o revestimento dos pisos em seu relato ...” em entrevista cedida a Juliana Quadros em 7 de
fevereiro de 2018.
19
Informação dada por Dona Orquizete, Dona Nivana e Geandresson (Eletricista que trabalhou em algumas casas do
conjunto).
56
A planta de memória da casa foi feita pela equipe na tentativa de ilustrar a arquitetura original da
residência (Figura 07).
Figura 07: Planta de memória
Possuía um muro de 1,0 m de altura na frente e 1,6 m nas laterais e fundos, não possuía anexos nem
pavimentação ao redor da casa (Figura 08). Havia calçamento e arborização no passeio público.
57
Após as intervenções cujas datas são desconhecidas, a equipe fez um levantamento que mostra a
planta atual da residência (Figuras 09 e 10). A casa ganhou uma dependência de empregada aos
fundos do quintal, (Figura 11) e uma suíte com uma parede com a cozinha. As esquadrias foram
trocadas e o telhado ganhou telha de fibrocimento: algumas aberturas tiveram suas posições trocadas
ou foram fechadas; a casa ganhou muros mais altos e gradil nas esquadrias e no muro da frente (Figura
13); os revestimentos dos pisos de todos os cômodos foram trocados (Figura 12) e as cores das paredes
também; a pia, teve seu lugar trocado de posição (Figuras 14 e 15). O quintal ganhou pavimentação
em algumas áreas. (Figura 16).
58
Figura 10: Levantamento da casa atual
59
Figura 12: Piso interno.
60
Figura 15: Após a reforma - posição da janela e da bancada.
2. Diagnóstico
Fachada principal: A fachada principal da casa se encontra em bom estado de conservação, pois seus
danos concentram-se nos cantos, partes mais laterais ou próximos à base. Seus danos são manchas
escuras resultantes da umidade e algumas pequenas partes com a pintura já descascada. Suas
esquadrias também não possuem tantas danificações, apenas algumas peças enferrujadas e alteração
de sua cor original por conta também da umidade e da passagem do tempo. Apesar disso, se ela for
visualizada de forma geral sem focar nesses pequenos problemas, pode ser considerada bem
conservada.
Fachada lateral esquerda: A fachada lateral esquerda da casa está em estado de conservação regular,
pois diferente da anterior possui grandes danos no centro de suas paredes, como manchas escurecidas
resultantes da umidade e tinta descascada, que apesar de parecerem ser poucos danos são facilmente
visualizados em grande parte de sua área.
Fachada lateral direita: A fachada lateral direita da casa está em bom estado de conservação, possui
apenas algumas manchas escurecidas do topo e próximo à base, uma pequena parte com a pintura
descascada e um buraco pequeno que adentra sua alvenaria.
Fachada posterior: A fachada posterior é a que está em pior estado de conservação, principalmente
por conta das enormes manchas escurecidas que preenchem grande parte das paredes. As esquadrias
61
também se encontram em situação ruim, apresentando ferrugem em várias partes e a janela de madeira
com sua cor alterada por conta da umidade e da falta de manutenção.
Fachada principal da edícula: A fachada principal da edícula está em situação de conservação regular,
apresentando grandes manchas escurecidas por conta da umidade próximas à base.
Fachada lateral esquerda da edícula: Essa fachada está em estado bom de conservação, pois seus
únicos danos são algumas manchas escurecidas assim como as outras fachadas, a madeira do telhado
está um pouco danificada apresentando sua cor alterada e as janelas altas estão um pouco enferrujadas
também com a cor original alterada.
Interior da casa principal: O interior da casa está em ótimo estado de conservação, levando em conta
que foi recentemente reformada por seus novos moradores.
Interior da edícula: O interior da edícula está bem conservado no geral, porém por não ser habitada
há certo tempo está sujo. O único dano encontrado nele são algumas peças do revestimento da parede
faltando no banheiro.
Assim, sendo o valor uma síntese ou reunião de suas significâncias histórica, emocional, cultural e
espiritual, mas também, majorando sua riqueza social, arquitetônica e estética, revelando através das
intervenções sofridas durante sua existência, provocadas pela necessidade e aspirações sociais,
refletindo os padrões de mudança da sociedade ao longo do tempo.
62
Diante do exposto acima, traçando um enfoque de importância deste trabalho, tem-se que a referida
construção trazida para a apreciação, onde marcam a transição de períodos históricos bem definidos,
observando nitidamente, as necessidades da sociedade a época da sua construção, trazendo as
necessidades da comunidade no período, marcada pelas transformações arquitetônicas desenvolvidas.
Considerações Finais
Este estudo se dispôs a realizar um levantamento detalhado dos aspectos histórico, fotográfico e
arquitetônico do Conjunto do Banco da Amazônia S. A. As diversas fontes de pesquisa – artigos e,
principalmente, relatos de moradores e pessoas conhecedoras da história ou, pelo menos, parte dela,
forneceram informações e memórias, que reunidos permitiram contar uma parte da história do
conjunto com mais riquezas de detalhes. Neste estudo também foi possível reconhecer a planta
original das casas e as alterações pelas quais passou. Ela apresenta bom estado de conservação e
poucos danos identificados. A análise detalhada de todas as informações coletadas subsidiará um
futuro plano de intervenção para conservação deste patrimônio.
Referências
63
MOLDADORES DO ESPAÇO CONTEMPORÂNEO: vida e
obras de Odailson Benjamin
Percepção e memória da cidade
RESUMO
64
O presente artigo tem como objetivo estudar vida e obras do arquiteto Odailson Picanço Benjamin,
apresentando um breve estudo biográfico, baseado no início da sua trajetória, até graduar-se em
Arquitetura e Urbanismo, e na sua jornada profissional. Realizou-se a análise de fatores que o
influenciaram, como arquitetos e seus professores enquanto discente, objetivando compreender a sua
formação acadêmico-profissional. A metodologia que utiliza para desenvolver seus projetos
arquitetônicos é fator determinante para compreender as características de seu trabalho, os elementos
que utiliza, o estilo e os procedimentos para geração de um produto de qualidade. Para isso, foram
destacadas três obras: a Oncoclínica, construída como edifício para serviços de tratamento e
prevenção contra o câncer; a Maison Nuance, um prédio para eventos sociais; e um projeto
residencial. Por meio desse artigo, pretende-se contribuir na construção de uma história dos arquitetos
da cidade de Macapá, identificando e estudando as construções por eles projetadas, a fim de valorizá-
los como profissionais dentro da sociedade.
PALAVRAS-CHAVE
65
MOLDADORES DO ESPAÇO CONTEMPORÂNEO: vida e obras de
Odailson Benjamin
Introdução
O arquiteto é dotado de criatividade e imaginações que dão origem às cidades e espaços, sendo
prestigiado por apresentar um olhar que vai além de materiais construtivos, pois ele abrange em seus
projetos a cultura, a arte e as necessidades dos indivíduos como usuários. A valoração desses
profissionais pela sociedade é feita principalmente à arquitetos famosos, renomados e de outras
cidades ou países, não sendo muito estudados aqueles que estão no mesmo território.
Desconhecer os criadores de espaços de sua região é ser incapaz de compreendê-la, como em Macapá,
onde há o desconhecimento a respeito das raízes da história local. Macapá possui arquitetos que ao
longo dos anos vêm trazendo mudanças à cidade, seja em pequenas ou grandes proporções, incluindo
os diversos elementos que envolvem a arquitetura, buscando melhoria de vida à população
macapaense. Entre eles, destaca-se Odailson Picanço Benjamin, do escritório OPB Arquitetos
Associados.
O objetivo deste artigo é estudar a trajetória de Odailson Benjamin até o período atual, focando em
sua carreira profissional e analisando as suas influências e forma de pensar dentro da arquitetura. Este
trabalho apresenta elementos que caracterizam e individualizam o arquiteto, e que o tornam
merecedor de reconhecimento e valorização, mediante as obras que executou para o crescimento de
Macapá.
A busca por uma regionalidade e por uma arquitetura que se preocupa com o meio social são
características presentes em Odailson. Esses conceitos são refletidos durante a elaboração de todas as
suas obras, com o objetivo de serem materializados, mesmo que em pequenos detalhes arquitetônicos.
Adequar sua personalidade dentro de seus projetos é tarefa cada vez mais distante, pois o mercado
impõe a muitos arquitetos projetarem de acordo com o que é vendido. Além disso, em alguns casos,
há interferência dos clientes, o que limita vários profissionais no processo criativo. Porém, quando se
constrói uma relação de confiança entre arquiteto e cliente – vínculo que Odailson se empenha em
desenvolver –, essa barreira é facilmente contornada.
As informações do artigo foram obtidas por meio de entrevistas com o arquiteto, nas quais
questionou-se a respeito de sua biografia, vida profissional e obras. Além disso, coletou-se
documentos digitais e informações mais detalhadas, que foram fornecidas pelo escritório OPB, de
forma a contribuir com o trabalho. Durante as entrevistas, buscou-se captar a essência do entrevistado,
fazendo-o relembrar a sua trajetória e conhecer a si mesmo como indivíduo e como profissional da
área de arquitetura.
Além disso, o foco principal é conhecer os processos que levaram o arquiteto a se tornar quem é, a
compreendê-lo e a valorizá-lo como criador e transformador do espaço. E também a analisar como
as circunstâncias pequenas da vivência humana podem agregar no crescimento profissional de um
indivíduo, pois seus passos dentro da história são caminhadas árduas em direção ao sucesso almejado.
66
Biografia
Odailson Picanço Benjamin nasceu em Macapá – AP no dia 3 de agosto de 1970 (Figura 1). É filho
dos professores José Edmar Fonseca Benjamin e Benedita Gonçalves que moravam em Mazagão. Por
este motivo, dois anos após seu nascimento, Odailson mudou-se para Mazagão com sua família, onde
permaneceram por 9 anos, até retornarem para a capital. A sua educação no Amapá foi somente em
escolas públicas, tendo passado o primário no município mazaganense e a partir da quinta série
regressou para Macapá, onde se estabilizou até o primeiro ano do ensino médio.
No período em que residia em Macapá, o curso de Arquitetura e Urbanismo era inexistente no estado,
havendo apenas Engenharia Civil e cursos técnicos voltados para a área. Tendo em vista poucas
referências de arquitetos na cidade, Odailson sofreu dificuldades na escolha da carreira a seguir,
apresentando interesse nos dois cursos supraditos. Os seus dois últimos anos do ensino médio foram
concluídos em Belém – PA, em escola particular. Nessa nova fase, Odailson já tinha o intuito de
cursar Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Pará – UFPA, onde, a partir do período
de inserção no curso (1989) até o ano de sua graduação, sofreu forte influência pela arquitetura
regional.
Próximo do final do curso de Arquitetura e Urbanismo, Odailson estagiou no escritório de um
engenheiro, para cumprir o requisito de estágio obrigatório da universidade. Um semestre depois,
participou de um processo seletivo, no qual foi selecionado para o Escritório Modelo de Arquitetura,
porém não permaneceu em atividade devido aos cortes nas bolsas por decisão do governo federal.
Em 1995, recém-formado, o arquiteto retornou a Macapá, onde começou a fazer serviços pequenos,
realizando atendimentos em sua própria residência. Apesar de ter tido poucas oportunidades de
estágio, adquiriu experiência na área de construções quando se tornou, em 4 de julho de 1996, servidor
público do governo do estado do Amapá, assumindo, após um ano, o cargo de Chefe de Projetos. No
ano de 2000, Odailson foi aprovado no concurso do Estado, onde assumiu os cargos de Diretor de
Obras e, posteriormente, de Secretário do Município de Macapá.
Atualmente é dono do escritório OPB Arquitetos Associados, idealizado no ano de 2001, e
inaugurado em abril de 2003. No escritório, é o encarregado pelas ideias projetuais, ou seja, pela parte
67
criativa, e a área de interiores e luminotécnica é de responsabilidade de sua esposa, que recebe
contribuições significativas de seus estagiários e demais funcionários. Esse conjunto de pessoas
consegue fornecer como produto final uma arquitetura de qualidade e esteticamente agradável.
Influências
Ao longo dos anos, Odailson teve várias experiências que o levaram até o patamar que se encontra
hoje. A sua saída para outra cidade para estudar a arquitetura e suas viagens nacionais e internacionais
após formado foram fator significativo e essencial para sua profissão, pois, quando se conhece outras
cidades, obtêm-se uma visão mais ampliada sobre novas formas de construções, espaços urbanos e
singularidades específicas daquela cidade.
Durante sua formação na Universidade Federal, Odailson foi influenciado pelo professor José de
Andrade Raiol, responsável pela disciplina Introdução à Arquitetura, que o fez aprender e conhecer
o básico sobre o universo de um arquiteto urbanista. Além disso, a regionalidade passou a fazer parte
dos conceitos de seus projetos arquitetônicos, por meio dos engenheiros-arquitetos Alcyr Meira e
Milton Monte (Mestre Monte), de Belém, que o induziram a uma análise da arquitetura como forma
de incluir aspectos característicos da região em que será construída. Esses elementos se baseiam no
uso da ventilação natural, iluminação natural e utilização de materiais e vegetações regionais. Porém,
apesar dessa forte influência regionalista, Odailson nota-se, muitas vezes, obrigado a atender o que o
mercado e os clientes impõem, tendo sua criatividade limitada por esses fatores.
Durante as férias na universidade, o arquiteto visitava sua terra natal, Macapá. Nesse momento,
Chikahito Fujishima e Ubiratan Homobono possuíam vários projetos sendo executados na cidade, os
quais também o influenciaram na área de regionalidade. Chikarito acredita que o arquiteto deve
valorizar a arquitetura regional, fazendo uso dos elementos naturais oriundos desse tipo de
construção, sem sofrer influências estrangeiras (COLARES et al., 2011).
Metodologia de projeto
Odailson Benjamin projeta de acordo com o que o cliente e o comércio exigem, adaptando o seu estilo
ao mercado. Na elaboração e construção de suas obras, a partir das exigências impostas, seus projetos
são iniciados pelo programa de necessidades, onde os desejos de seus compradores são filtrados,
retirando o máximo de informações necessárias para geração de um produto de qualidade e
satisfatório ao olhar do seu usuário. Segundo o arquiteto, é de fundamental importância a captação
das reais necessidades do cliente, para que, no futuro, a avaliação pós-ocupação, realizada pelo
próprio cliente, seja a melhor possível, descartando a necessidade de adaptações na construção.
As primeiras ideias surgem por meio dos desenhos a mão livre, onde Odailson expõe suas
imaginações. No decorrer do processo criativo, implanta suas próprias características no projeto,
como a utilização de elementos que simbolizam a regionalidade, buscando a valorização da natureza.
O estilo atual de Odailson é o contemporâneo, no qual insere nas edificações sua própria linguagem
projetual. Além disso, utiliza o princípio de “a forma segue a função”, pois para ele a forma é o que
vende no mercado, mas a arquitetura tem que ser funcional, ou seja, que funcione e que reflita em sua
forma a beleza de uma arquitetura que, além de admirável, é confortável aos seus usuários. Sobre
isso, pode-se afirmar que
Em arquitetura, não é a função que tem uma forma. Ao contrário, a forma representa a função, pois
é a forma que é construída, é ela que vence o tempo, atravessa os séculos e vem até nós. É nela que
o uso é exercido. A função-uso gera a existência e o porquê de um edifício, mas o resultado é sempre
uma forma. É justamente na maneira pela qual a forma se vale da função que, acredito, reside a
essência da arquitetura. (STROETER, 1986, p. 43).
68
Em suas características projetuais observa-se a abertura de grandes vãos com vidro, oferecendo
leveza, iluminação e ventilação aos ambientes. Também faz uso do traço reto para facilitar o trabalho
com os espaços internos, objetivando também a criação de diferentes volumes em um único edifício.
Esses volumes são demarcados por meio de cores e revestimentos, formando desenhos como “L” ou
“U”, nos eixos vertical e horizontal; além disso, utiliza detalhes curvos para harmonizar com o
restante da obra. A vegetação é incluída em seus edifícios através de paisagismo, pergolados e plantas,
fazendo uma aproximação com as pessoas que irão vivenciar aquele espaço.
Além dessas características, todo ano pode ser encontrado um novo elemento nas arquiteturas
elaboradas por Odailson. No início de cada ano, o arquiteto cria um elemento inédito e o reproduz
em todos os projetos de sua autoria, elaborados dentro do período de 12 meses. Este elemento se torna
a assinatura do arquiteto nas obras arquitetônicas.
Obras Oncoclínica
A Oncoclínica, associada às Clínicas Integradas Secco & Jung, oferece serviços de tratamento e
prevenção contra o câncer. Com o crescimento gradual das clínicas, verificou-se a necessidade de
criação de um estabelecimento exclusivo para abrigar a clínica de tratamento oncológico. Para o
desenvolvimento desse novo edifício contratou-se o escritório OPB.
O cliente apresentou dois terrenos para a elaboração do projeto. Sob decisão do arquiteto, o terreno
de maiores dimensões foi escolhido e o projeto começou a ser elaborado, com base no programa de
necessidades apresentado pelo cliente. Desde o princípio da concepção do projeto, Odailson
fundamentou-se na norma RDC nº 50, que dispõe orientações para planejamento e elaboração de
projetos físicos de instalações assistenciais de saúde. Este documento serviu de auxílio principalmente
durante o dimensionamento dos ambientes listados pelo cliente.
Durante entrevista, Odailson informou que o estudo dos fluxos do projeto foi trabalhoso, uma vez
que não teve a oportunidade de estudar sobre arquitetura hospitalar na sua formação em Arquitetura
e Urbanismo. Portanto, o arquiteto utilizou como estudos de caso as diversas clínicas, projetos e
legislações que teve a oportunidade de conhecer enquanto trabalhava como servidor público.
Com o projeto finalizado, próximo à data de início da construção, a clínica precisou imediatamente
sair do estabelecimento antigo. Como resultado, era essencial a construção de um prédio o mais rápido
possível, tornando inviável o edifício de grandes dimensões que havia sido projetado. Desta forma,
Odailson precisou elaborar um novo projeto, no terreno menor, mais barato e com um programa de
necessidades simplificado (Figuras 2 e 3). A segunda proposta foi aprovada pelo cliente e iniciou-se
a construção.
Figura 2: Representação da fachada da segunda proposta da Oncoclínica.
69
Fonte: BENJAMIN, 2019.
Durante a construção do prédio, o cliente solicitou algumas alterações na obra: aumentar a taxa de
ocupação e acrescentar um pavimento. Quando finalizada a estrutura do prédio, constava com o dobro
da área construída prevista no projeto.
Maison Nuance
70
A OPB também desenvolveu o projeto da Maison Nuance, estabelecimento para eventos sociais e
corporativos da grife Nuance Eventos e Produções. A edificação era um galpão que ganhou uma nova
aparência após ser revestido com materiais de alta qualidade. As fachadas foram idealizadas com
pintura marmorizada, revestimento amadeirado, pintura automotiva, jardins verticais e iluminação
direta. Os portões de ferro do antigo galpão foram preservados e utilizados na fachada, ganhando
destaque em meio a tantos materiais e revestimentos modernos (Figura 4).
O grande diferencial do projeto é o salão multiuso. Este salão é capaz de abrigar mais de um evento
simultaneamente, transformando-se em dois salões separados pela pista (Figura 5). Ambos os salões
possuem exclusivas entradas, banheiros e escadarias que levam aos camarins, se tornando, desta
forma, completamente independentes um do outro.
71
Fonte: BENJAMIN, 2019.
As adaptações no galpão aconteceram também na parte interna do mesmo. Foram aplicados materiais
que se adequam à vários de tipos de eventos, desde congressos até formaturas. A capacidade no
interior do galpão é de 3.000 pessoas em eventos corporativos, shows e feiras, e comporta até 1.000
convidados em evento de caráter social, como casamentos e formaturas. A edificação, localizada na
avenida Jovino Dinoá- Beirol, foi inaugurada em abril de 2018.
Projeto Residencial
A OPB Arquitetos Associados concebe vários tipos de projetos, inclusive residencial. A residência a
seguir foi desenvolvida a partir da volumetria e funcionalidade, princípios seguidos por Odailson para
iniciar todo e qualquer projeto.
72
Fonte: BENJAMIN, 2019. Adaptada pelos autores, 2019.
As influências da arquitetura regional podem ser percebidas neste projeto através dos usos de
elementos que visaram a melhor iluminação e ventilação natural possível. Um dos elementos usados
para permitir a introdução da iluminação natural difusa no interior da edificação foram as peles de
vidro da fachada principal, protegidas dos raios solares pela extensão da laje (Figura 7).
O arquiteto Odailson Benjamin contribuiu para o avanço de novos traços na arquitetura macapaense
no uso de linhas retas e singulares linhas curvas, na formação de elementos que se inovam a cada
construção projetada, e principalmente na preocupação em oferecer projetos que impactam
positivamente na forma de viver, agir e pensar dos seus usuários, pois a arquitetura por si só muda a
qualidade de vida dos habitantes.
Odailson é um arquiteto que vê a arquitetura como algo além de uma profissão, enxerga nela a
realização dos desejos internos de seus clientes, mesmo no caso de clientes com opiniões indefinidas
73
a respeito do produto final de suas próprias construções, pelos quais ele se esforça para compreendê-
los, buscando as melhores soluções para satisfazer as suas necessidades. Também consegue adequar
seus projetos ao entorno, ao urbano, às pessoas e à natureza, um único edifício abrangendo vários
elementos, funcionando como um grande sistema vivo.
O maior sonho de um profissional é ver seu projeto ser idealizado e seu cliente satisfeito, superando
as expectativas esperadas. Odailson almeja o reconhecimento de sua profissão no Estado do Amapá
e sua valorização pela sociedade, pois nem todos conhecem ou buscam um profissional de arquitetura
para elaboração de um edifício. Para alguns indivíduos os arquitetos são apenas desenhistas, e são
esses preconceitos que fazem com que a população viva em cidades cada vez menos funcionais e
criativas.
Conhecer os arquitetos formadores do espaço de seu território é conhecer suas raízes, sua cultura e
arte. É entender que os traços de Macapá evoluíram ao longo da história nas mãos de pessoas que
entendem o real significado da arquitetura, visando valorizá-la mediante cada elemento e material
utilizado nas suas formações, seja na construção de um grande edifício ou na mera posição de uma
árvore. Como diz Oscar Niemeyer (1984), o arquiteto é aquele que desenha hoje o passado de amanhã.
Referências
AMANAJÁS, Alan et al. Vida e Obra de Odailson Benjamin. Ceapgrupo4. Disponível em:
<http://ceapgrupo4.blogspot.com/2011/06/blog-post.html?m=1> Acesso em: 27 maio de 2019.
74
<https://www.arcoweb.com.br/projetodesign/entrevista/oscar-niemeyer-01-12-2007> Acesso em
27 de junho de 2019.
QUEM SOMOS. Nuance Produções, 2016. Disponível em :
<http://www.nuanceproducoes.com.br/quem-somos/> Acesso em: 27 de junho de 2019.
STROETER, João Rodolfo. Arquitetura e teorias. São Paulo: Nobel, 1986
75
ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA AMAPAENSE: Um
RESUMO
O trabalho descreve a vida e obra da arquiteta Izoneth de Nazaré Oliveira Nunes Aguillar e tem como
objetivo contribuir para a elaboração de um quadro histórico inicial da produção da arquitetura
contemporânea amapaense. Adotou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e
levantamento de dados. Constatou-se que, a arquiteta tem como principais características projetuais:
76
a funcionalidade, o trabalho interdisciplinar, o desenho à mão livre, iluminação e ventilação naturais,
uso de madeira e vidro, linhas em 45 graus e, principalmente, fazer a tradução entre a ideia do cliente
e o projeto. Portanto, Izoneth tem uma inegável contribuição para a arquitetura contemporânea
amapaense, por possuir muitas obras e atuar em diversas vertentes projetuais, desde residências,
pontos comerciais, clínicas hospitalares, escolas e arquitetura efêmera, que fazem parte do cotidiano
do amapaense.
PALAVRAS-CHAVE
Introdução
Izoneth Aguillar, arquiteta apresentada neste trabalho, é uma das representantes da arquitetura
contemporânea amapaense, por sua relevante contribuição para o desenvolvimento do cenário
arquitetônico do Estado. Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica
- PUC Campinas (1990), em suas primeiras experiências profissionais, trabalhou em grandes
empresas paulistanas (ALCOA Alumínio, SELFCAMP e Companhia de Saneamento - COPLASA),
e também atuou como profissional liberal em pequenos projetos.
Essas experiências proporcionaram o contato com trabalhos que envolvem detalhamentos, projetos
com grandes estruturas, saneamento básico, o que fez com que ela desenvolvesse uma de suas
principais características projetuais, que é o envolvimento com diversos profissionais, ou seja,
trabalho interdisciplinar.
A empresa ATRIUM trabalha, em sua maioria, com projetos comerciais, mas também destaca-se por
projetos de interiores, de escolas, projetos de clínicas médicas e
odontológicas, além de projetos residenciais e religiosos. Ademais, destaca-se a sua linha projetual,
que apresenta, quase sempre, funcionalidade e simetria.
Por conseguinte, este trabalho tem como objetivo contribuir para a elaboração de um quadro histórico
inicial que revela a arquitetura contemporânea da cidade de Macapá - AP. Realizou-se pesquisa
bibliográfica, pesquisa de campo e levantamento de dados. Destaca-se que as fontes de dados são
primárias e secundárias: os dados primários foram coletados por meio de entrevistas, que foram
aplicadas à arquiteta e a alguns clientes; os dados secundários foram pesquisados nas pranchas dos
projetos.
77
Vida e Formação Profissional
Izoneth de Nazaré Oliveira Nunes Aguillar, nasceu em 9 de outubro de 1965, na cidade de Macapá-
AP. Ainda muito jovem, em 1984, mudou-se para a cidade de Campinas - SP, onde cursou o segundo
e terceiro ano do ensino médio, no Colégio Pio XII, o qual apresentava divisões nas áreas de humanas,
exatas e biológicas. Nesse período, Izoneth demonstrava interesse pelos cursos de humanas. Durante
o processo de formação escolar, cursou disciplinas complementares, como desenho técnico. Ainda
que o pai fosse formado em engenharia civil, suas tias foram o incentivo direto na sua graduação.
A escola na qual estudou continha um vínculo com a PUC - Campinas, onde prestou vestibular, em
1985, para arquitetura (a PUC era a única universidade da cidade que ofertava o curso). Realizou
também vestibular para engenharia civil na Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, no
entanto optou por cursar arquitetura.
Formou-se em janeiro de 1990 e iniciou sua vida profissional na ALCOA ALUMÍNIO, onde
trabalhou com detalhamentos de perfilados de alumínio. Durante a atuação na empresa, Izoneth
colaborou com uma arquiteta que a ajudou a se desenvolver na área de representação técnica. No
mesmo ano, trabalhou na SELFCAMP, onde atuou com locação de exaustores eólicos. Nesse
contexto, adquiriu as primeiras experiências nas relações comerciais diretas com clientes (fábricas).
Posteriormente, Izoneth trabalhou na COPLASA, em São Paulo. Sua entrada na companhia se deu
por meio da influência de seu pai, que trabalhava na Companhia de Água e Esgoto do Amapá -
CAESA, a qual na época, em conjunto com a COPLASA, licitou um projeto de saneamento para ser
implantado na cidade de Macapá-AP. Durante sua atuação profissional na companhia, desenvolveu
projetos de diferentes complexidades e contava com uma equipe multidisciplinar, com número
reduzido de arquitetos. Por conseguinte, teve contato com uma arquiteta da equipe, na qual
participaram de um projeto de alta complexidade - projeto de metrô - onde aprimorou-se na
representação de detalhamentos, todos realizados à mão.
Em 1991, após casar-se, Izoneth saiu da COPLASA e lançou-se no mercado como profissional liberal.
Um de seus primeiros projetos foi uma casa de repouso para religiosas em Rio Claro, no interior de
São Paulo. Durante o processo de elaboração da obra, integrou sua equipe com membros de diferentes
áreas de atuação, assim como também atuou em outros projetos independentes.
No ano de 1994, com o nascimento de seu primeiro filho, Izoneth mudou-se para Macapá-AP e, nesse
contexto, passou por um processo de adequação ao ritmo menos dinâmico e acelerado que o da cidade de
São Paulo. Em Macapá, trabalhou na Prefeitura com a área de urbanismo, onde teve contato com arquitetos
locais, como o Elizeu Correa20. E m seguida, atuou na SEINF, na qual permaneceu por cerca de dois
anos. Assim, Izoneth desenvolvia, simultaneamente, duas esferas de sua vida: a profissional e a
familiar.
Posteriormente, começou a trabalhar em parceria com seu pai, diretor técnico da CAESA, o qual
fundou a ENGEDIL, que, como arquiteta, se encarregava dos projetos. Por meio desta parceria
familiar, Izoneth teve contato com execução de obras, parte importante de seu crescimento
profissional.
20
Arquiteto e Urbanista formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA, 1992). Mestre em Planejamento e Políticas
Públicas (UECE - CE, 2010). Professor efetivo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do
Amapá - UNIFAP.
78
Em 2006 teve sua participação no evento Casa Show21, em Macapá, a convite de um grupo de
arquitetos de Belém. Esse evento proporcionou seu contato com a arquitetura de interiores, que
mudou as suas perspectivas de planejamento como arquiteta. Para Izoneth, esse projeto foi um marco
na arquitetura de interiores, visto que, na época, era uma área pouco desenvolvida na cidade. No ano
de 2007, a partir do convite de uma amiga, coordenou um projeto do Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, chamado de Casa da Amapalidade 22. A partir desse evento,
começou a prestar consultorias ao SEBRAE. E foi nesse mesmo ano que a empresa de seu pai,
ENGEDIL, fechou.
Depois da aposentadoria de seu pai, ainda em atuação como profissional liberal, Izoneth fortaleceu
uma outra veia de projeto, a de arquitetura comercial, por conta de seu trabalho com o SEBRAE. Em
2008, foi convidada a trabalhar na SEMOB, na qual permaneceu por cinco anos. Após anos de
experiências de mercado e relações com clientes, fundou oficialmente a ATRIUM - Arquitetura
Plena, em 2010/2011.
A ATRIUM abrange diversas áreas de atuação e trabalha em sua maioria, com projetos de arquitetura
comercial, mas também atua com projetos de escolas - Prédio Administrativo e alguns laboratórios
do Colégio Bartolomea; Prédio do Instituto de Ensino Superior do Amapá - IESAP; Escola Conexão
Aquarela; projetos de clínicas médicas e odontológicas; espaços gastronômicos - Fruit Mix; Tostare
Café; Empório Amazônico; projetos residenciais; arquiteturas efêmeras e eventos; arquitetura
religiosa e execução de obras. A arquiteta também realizou e realiza até hoje, muitos projetos em
parceria com a arquiteta Ana Paula Lima Corrêa23, como a Livraria Acadêmica; Loja de eletrônicos
Starbyte e Poroc Turismo.
Acrescenta-se a linha projetual de Izoneth, que segundo ela, é o que se destaque em suas obras: a
funcionalidade e simetria. E para a arquiteta, o seu modo de pensar o projeto é sempre iniciar com o
desenho à mão, com a elaboração de estudos de massa, criação de organogramas, e etc.
A seguir, será apresentado o estudo dos projetos da Residência da moradora Rosana Santos, do
estabelecimento comercial Poroc Turismo e do Colégio Bartolomea.
Em fevereiro de 1997, a arquiteta elaborou um projeto residencial localizado na Rua Lucimar Amoras
Del Castillo, no bairro Jardim Marco Zero, para a proprietária Rosana Sueli Penafort dos Santos, que
relatou em entrevista ter visto a casa da própria arquiteta, o que despertou seu desejo de contratá-la.
O projeto possui dois pavimentos (térreo e primeiro andar) e tem como programa de necessidades,
no térreo (Figura 1): garagem, varanda, área de serviço, hall, lavabo, escritório, living, cozinha,
dispensa, sala de jantar e sala de estar. O andar superior (Figura 2) é voltado para sessão íntima da
casa, com suíte master, closet, sala de banho, sala íntima, suíte de hóspede, banheiro de hóspede e
sacada.
Figura 1: Planta baixa do pav. térreo da residência Figura 2: Planta baixa do pav. superior da da
proprietária Rosana Santos. residência da proprietária Rosana Santos
21
Exposição de projetos de interiores, ocorrido no Macapá Shopping, 2006.
22
Exposição realizada por arquitetos, designers, decoradores e artesãos, que buscaram mesclar as culturas regionais
com as contemporâneas, ocorrido na Feira de Exposições da Fazendinha, 2007.
23
Arquiteta e Urbanista, 1998. Empreendedora do setor imobiliário e da empresa Atrium Arquitetura Plena.
79
Fonte: Izoneth Aguillar. Fonte: Izoneth Aguillar.
Nota: Elaborado pelos autores, 2019 Nota: Elaborado pelos autores, 2019
A proprietária da residência, Rosana Santos, é uma advogada, que na época da construção da casa,
tinha em torno dos 20 anos, solteira e por isso solicitou que a casa fosse bem espaçosa, com ambientes
abertos e conjugados. Segundo Izoneth, a casa foi projetada para priorizar a ventilação e iluminação
natural, e isto tornou-se visível com a visita de campo, onde foi possível constatar que a casa é bem
iluminada e arejada.
O destaque da obra é a escada em madeira, que liga o piso térreo ao primeiro andar. A partir do pedido
da cliente, Izoneth projetou uma escada sem corrimão, que parece flutuar sob o ambiente. Outra
importante característica dessa casa é o uso predominante da madeira, que foi utilizada tanto na
escada, como no forro e nas esquadrias (Figuras 3 e 4). O uso do vidro e a telha de barro, que cobre
toda a casa, também são atributos que merecem ser enfatizados.
Figura 3: Fotografia da residência da proprietária Figura 4: Fotografia da residência da proprietária
Rosana Santos. Rosana Santos.
Como nota-se nas figuras 01 e 02, a planta baixa da casa apresenta cheios e vazios, algo inovador
para um projeto elaborado há quase vinte anos. Inovação também aparece na separação dos
ambientes, que utilizou-se do piso elevado para diferenciar os ambientes da living da sala de estar.
Projeto de Interiores
80
Izoneth, em parceria com a arquiteta Tayara Maia da ATRIUM e o SEBRAE, projetou em 2017 as
agências da POROC Turismo de Macapá e Belém. Os projetos para a POROC - na época com três
lojas físicas, uma em Macapá-AP e as outras duas em Belém-PA - foram pensados com o objetivo de
fortalecer e consolidar a imagem de modernidade da agência, que com sua expansão houve a
necessidade da padronização arquitetônica para a identificação da marca em qualquer lugar.
O cliente surgiu com a proposta de projeto de arquitetura de interiores, em um espaço para a instalação
de uma agência de viagens que havia passado por uma reformulação visual em sua logomarca. O
primeiro projeto foi feito para uma loja em Macapá, a partir do modelo “loja de rua” (Figura 5 e 6) e
apresentou como programa de necessidades, um ambiente para atendimento da POROC Turismo,
com três estações de trabalho e uma pequena área de espera. Izoneth (2019) afirma que em sua
concepção arquitetônica, dentre as características mais importantes de um projeto comercial estão:
entender o funcionamento do serviço ofertado no espaço, conforto dos usuários (funcionários e
clientes) e a necessidade de ampliação das vendas.
No ano seguinte, em parceria com a arquiteta Ana Paula Corrêa da ATRIUM Arquitetura Plena, foi
realizado um projeto para um box no aeroporto de Belém-PA, que deveria seguir as regras de espaços
mínimos estabelecidos pela Infraero. Nesse contexto, também surgiu a proposta de uma unidade no
estacionamento de um supermercado em Ananindeua-PA, com o diferencial de possuir duas fachadas
em destaque.
Após a elaboração desses 3 projetos para a mesma marca, todos realizados em parceria com a
arquiteta Tayara Maia, foi solicitada a padronização dos espaços para que a loja possa ser montada
em shoppings, quiosques ou lojas de rua, a fim de apresentar a mesma identidade visual. Portanto,
foram criados padrões de acabamentos de piso, parede e teto, o que resultou em um manual para
elaboração do projeto de interiores, o qual pode ser aplicado em qualquer outro estado.
Com relação ao mobiliário, foi utilizado um padrão mais claro, voltado para o branco gelo, com
detalhes amadeirados no painel e embaixo das bancadas, utilizou-se iluminação para dar mais
destaque às estações de trabalho e ao atendimento personalizado ao cliente. Ademais, a iluminação
foi pensada em LED, com temperatura de cor voltada para o branco, devido às necessidades do tipo
81
de ambiente. Em contraste à essa paleta de cores, foram aplicadas as cores da logomarca nas paredes:
azul e amarelo.
Projeto Educacional
Em 1996, em parceria com seu pai, Izoneth elaborou o projeto para o prédio administrativo, o
laboratório de ciências e a biblioteca do Colégio Santa Bartolomea Capitanio, que fica localizado na
Avenida Duque de Caxias, bairro Central de Macapá.
Segundo a arquiteta, os projetos para a escola são primeiro enviados para São Paulo, seguido de Itália,
para enfim serem aprovados para execução. Assim, o projeto que ela e o pai elaboraram para o
Colégio Bartolomea, passou por uma série de etapas antes de poder ser posto em prática.
O prédio administrativo (Figura 7) é composto por varanda, tesouraria, recepção, arquivo, sala de
educação religiosa, supervisão e diretoria, copa, DML, lavabo e banheiros masculino e feminino,
além de salas de orientação educacional, pedagogia, reunião e do setor pessoal. Em entrevista, a
arquiteta afirmou que o projeto deveria seguir o padrão de construção já existente da fachada e que o
destaque da obra é o pequeno jardim central (Figura 8), locado no corredor de circulação, que interliga
as salas administrativas. Esse jardim interno conta com iluminação e ventilação naturais e foi algo
que o pai da arquiteta projetou.
Figura 7: Planta baixa do prédio administrativo do Figura 8: Fotografia do jardim central do prédio
Colégio Santa Bartolomea Capitanio. administrativo.
Com as entrevistas e visita de campo, notou-se o carinho que a arquiteta tem por esse espaço e isto
pode ser observado na fala abaixo:
[...] isso é pra ventilação natural; é aberto, chove mesmo, cai certinho, aqui tem todo o dreno [...] Foi
o meu pai que construiu [...] Gente, eu amo isso ai, eu olho até hoje [...] Como tinha muita carência
de material, meu pai foi colocar telhas, telhas mesmo de fibrocimento, pra água poder cair direto [...]
(informação verbal24).
24
Entrevista concedida por Izoneth Aguillar, junho de 2019.
82
Em relação ao laboratório, este foi projetado para alunos do ensino fundamental e médio e contou
com móveis específicos, como bancadas com tampo sextavado, para poder acomodar um maior
número de alunos. Em decorrência da falta de informações em
Macapá sobre esse tipo de laboratório, Izoneth, no período da elaboração do projeto, foi até São Paulo
para saber mais sobre como se equipava laboratórios de ciências, quais materiais usar, onde
posicioná-los e etc.
Por fim, tem-se a biblioteca do colégio, que segundo Izoneth, foi projetada para atender às regras
determinadas pela escola, como mesas de madeira no centro do ambiente e livros posicionados em
estantes projetadas pela própria arquiteta, executadas em madeira de lei e vidro, que rodeiam toda a
extensão da sala. A arquiteta gosta de ressaltar a iluminação natural da biblioteca, que foi preservada
pelo uso das janelas de vidro.
Considerações Finais
Izoneth Aguillar, arquiteta formada pela PUC-Campinas, em suas primeiras práticas projetuais, ainda
em São Paulo, em empresas como a ALCOA Alumínios, SelfCamp e COPLASA - que
proporcionaram o contato com detalhamentos de perfilados de alumínio, locação de exaustores
eólicos e projetos de diferentes complexidades - adquiriu experiências em projetos técnicos e
detalhamentos em geral, que auxiliaram em sua formação profissional e no seu modo de trabalhar em
equipe, com o uso da inter e multidisciplinaridade.
Em Macapá, Izoneth teve contato com obras públicas, antes da criação do seu escritório de
arquitetura, a Atrium Arquitetura Plena. Na cidade, pode-se notar o vasto repertório de atuação da
arquiteta, com projetos comerciais, hospitalares, residenciais, interiores, escolares, religiosos,
reformas e eventos, com destaque para as obras apresentadas neste artigo: o Colégio Santa
Bartolomea Capitanio, a residência da Rosana Santos e as agências da Poroc Turismo.
No Colégio Bartolomea, ressalta-se o jardim central, projeto da arquiteta com o pai, na empresa
ENGEDIL, onde a partir da escassez local de materiais, fez-se necessário o uso de telhas de
fibrocimento para a realização da abertura zenital. Na residência, evidencia-se a escada em madeira,
sem corrimão, com o intuito de parecer flutuar no ambiente, além da divisão dos espaços por meio de
desníveis e do uso de grandes aberturas para ventilação e iluminação naturais, que revelam a
preocupação com o conforto térmico da edificação. Por fim, as agências da Poroc Turismo, que
destacam-se pelo Manual de Padronização Arquitetônico, como forma de propagar a identidade visual
da marca.
Como visto anteriormente, suas principais características projetuais são a simetria e funcionalidade,
o traçado inicial de linhas em 45 graus, a predominância da ventilação e iluminação naturais, o uso
da madeira e vidro e, principalmente, a tradução entre a ideia do cliente e o projeto.
Por conseguinte, a partir da elaboração deste trabalho, pode-se perceber a inegável contribuição de
Izoneth Aguillar para a arquitetura contemporânea do Amapá, visto o grande número de obras
presentes no Estado, seu desempenho em diversas áreas projetuais e por fazer parte do cotidiano do
morador local.
83
Referências
AGUILLAR, Izoneth de Nazaré O. N. Planta Baixa - Residência. Macapá-AP, 1997. Escala 1:50.
84
MODALIDADE II
PRODUÇÃO
AUDIOVISUAL
85
CRIA-TE CIDADE
Acupuntura Urbana
Processos criativos na cidade
86
DESCRIÇÃO
Acupuntura urbana é um conceito amplamente aplicado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, autor
do livro “Acupuntura Urbana”. Baseado em suas citações sobre o tema, a equipe, sob orientação do
Professor Doutor Jodival Maurício da Costa durante a disciplina de Planejamento Urbano e Regional
I do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá, desenvolveu este curta
juntamente com a I9 produtora a fim de identificar pontos de acupuntura urbana na cidade de Macapá,
capital do estado do Amapá. Várias atividades e locais foram encontrados e dois deles foram
desenvolvidos ao longo do trabalho: o CEU das Artes e a Batalha de Rap.
87
Como aprender sobre Kevin Lynch
e Gordon Cullen
Processos criativas na cidade
88
Welligton Gatinho Ribeiro Júnior
DESCRIÇÃO
Produção audiovisual independente criada e produzida por um grupo de alunos da turma 2014 do
curso Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Amapá, em 2016. Foi feito como
atividade avaliativa apresentada na disciplina Planejamento da Paisagem, ministrado pelo professor
Pedro Mergulhão. A produção explica, de forma didática e divertida, as principais ideias de Kevin
Lynch e Gordon Cullen, autores clássicos da área de paisagismo. O vídeo encontra-se disponível
online no site YouTube desde então, e já soma mais de 5.000 visualizações, sendo ainda hoje utilizado
por alunos tanto como fonte inicial de contato com os autores, como para revisão de estudos.
89
MODALIDADE II
FOTOGRAFIA
CRIA-TE CIDADE
90
Na esquina do tempo
Percepção e memória da cidade
DESCRIÇÃO
Fotografia tirada no cruzamento da Av. Coaracy Nunes com a Rua Cândido Mendes, no bairro Central
de Macapá, capital do Estado do Amapá, Brasil. Foto de 2016, tirada em deriva urbana promovida
por exercício de percepção de detalhes dos estilos arquitetônicos do século XX presentes em Macapá,
durante as atividades propostas na disciplina Teoria e História da Arquitetura IV, ministrada pelo
professor André Coelho. Retrata o desgaste do tempo, em escalas diferentes. A edificação, com
ornamentação em Art Déco, esmorece e se esconde entre os fios, postes e pedaços da nova cidade do
meio do mundo. O cartaz, apesar de recente, já cede sob o peso do passado. Assim é a história
invisível da nossa cidade.
91
Na sombra da fé
Percepção e memória da cidade
DESCRIÇÃO
A foto foi tirada durante uma pausa na cidade de Mazagão Novo, a caminho para a cidade
de Mazagão Velho, para prestigiar a festa de São Tiago. Nela aparece a igreja de São
Raimundo, a primeira igreja em Mazagão Novo, contrastando com os raios de sol, os
quais estão por trás dela, criando um contorno sutil. A cruz, símbolo da fé cristã, está no
topo da imagem, o que faz com que o olhar se eleve ao céu. A igreja representa um
importante elemento de memória para a população da cidade.
92
Tempo.
Percepção e memória da cidade.
DESCRIÇÃO
A imagem é um retrato do fim de tarde na Praça do Forte, e mostra a tentativa de três
crianças de escalar a muralha da Fortaleza de São José de Macapá por meio das juntas
entre cada pedra. Neste caso, mostra uma forma curiosa de se relacionar com o patrimônio
arquitetônico da cidade, fundamentada na inocência presente na personalidade de cada
criança. O que um dia foi um lugar de extrema importância para a defesa da antiga vila,
também já foi lugar de utilização de mão de obra escrava, passou pelo esquecimento da
administração pública e hoje é muito valorizado pela população através do uso e
apropriação do espaço público. É uma questão de tempo.
93
MODALIDADE II
MAQUETE
94
Kinkaku-ji o Templo do Pavilhão Dourado
Percepção e Memória da Cidade
DESCRIÇÃO
A presente maquete tem por objetivo apresentar um dos edifícios históricos de Quioto,
chamado Kinkaku-ji, Templo do Pavilhão Dourado, que é o nome dado ao templo Rokuon-ji,
95
situado localizado no Japão e rodeado pelo Kyōko-chi. Todo o pavilhão, exceto o andar térreo,
é coberto de folha de ouro puro e no telhado do pavilhão está uma fenghuang dourada a
fênix chinesa. O local onde o Pavilhão Dourado se situa, foi usado por volta de 1220 como
local de descanso para Kintsune Saionji, mas o pavilhão em si só foi construído em 1397 ,
para servir como sítio de descanso para o shogun Ashikaga Yoshimitsu. Seu filho foi o
responsável pela conversão num templo Zen de orientação Rinzai. Durante a Guerra de Ōnin
o templo foi queimado várias vezes. Recentemente verificou-se que o revestimento estava um
pouco estragado tendo-se reparado esta situação e colocado uma nova cobertura de folha de
ouro, muito mais espessa que a original. Além destas medidas também se restaurou o interior
do edifício, incluindo as pinturas, sendo o telhado restaurado em 2003.
96
97
MODALIDADE II
CADERNO DE
DESENHO
CRIA-TE CIDADE
98
Bairro Cidade Nova: colorir e habitar
Processos criativos na cidade
DESCRIÇÃO
99
100
Manual de Desenho Urbano
Sustentabilidade e práticas de autogestão
DESCRIÇÃO
101
102
Manual de Desenho Urbano – Residencial Verana
Sustentabilidade e práticas de autogestão
DESCRIÇÃO
103
facilitam e alertam sobre a segregação disfarçada que vem ocorrendo em Macapá. A leitura é de fácil
compreensão, sem rigor técnico tornando-se autoexplicativa com diagramações artísticas e simples.
104
Manual de projeto urbano
Processos criativos na cidade
DESCRIÇÃO
O Manual de Projeto Urbano foi um trabalho oriundo da disciplina de Projeto Urbano I, ministrada
pelos professores Bianca Moro e Pedro Mergulhão, do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Amapá. Com o objetivo de conhecer sobre a morfologia urbana, estudou-se
a estruturação e formas de outras cidades, no primeiro momento, para adquirir conhecimento de
variadas “formas de cidade”, estudo respectivo a Síntese. Assim, após os estudos de casos, passou
para a área de intervenção, aplicando a elas variadas metodologias de projeto urbano denominadas de
“Dimensões” tais como: funcional, bioclimática, econômico financeira, topoceptiva e expressivo-
simbólica e copresencial, apresentadas no manual nessa ordem. Após o término desses estudos,
105
criouse um manual de desenho urbano contento análise e aplicação das metodologias citadas,
proporcionado arcabouço para projetos futuros.
106
OLINDA
Percepção e memória da cidade
DESCRIÇÃO
107
patrimônio urbano da cidade. Os desenhos apresentados foram feitos por meio da técnica de Aquarela,
juntamente com o uso de canetas Nanquim. Nos quais consistem o Centro Histórico da cidade, a
tipologia do Casario Colonial, o Mercado Eufrásio Barbosa e a Estação Maxambomba constituídas
no fim do século XVIII, além do Palácio dos Governadores onde sua fachada foi alterada para o estilo
neoclássico no século XIX e seus detalhes do balcão presente no pavimento superior. A Biblioteca
Pública de Olinda e um Coreto de estilo Eclético.
108
Proposta de projeto paisagístico de espaço público livre na
UNIFAP
Processos Criativos na Cidade
DESCRIÇÃO
O presente caderno é oriundo da disciplina de Projeto de Paisagismo II, ministrada pela professora
mestra Géssica Nogueira dos Santos no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Amapá (UNIFAP). A proposta da disciplina era fazer um levantamento de lugares com potencial
de espaço livre público dentro da universidade para ser trabalhado uma proposta de intervenção. A
área entre o bloco de Departamento de Letras e Artes e a garagem do campus Marco Zero, sendo ela
espaçosa, bem ventilada, descampada e sem elementos construtivos obstruindo, foi escolhida. Os
meios técnicos para elaboração da proposta foram levantamentos físicos (estudo solar e de ventos),
entrevistas e diagnóstico do espaço. A proposta do projeto consiste em promover um espaço livre
dentro do campus da universidade que proporcione mais conforto aos estudantes com a adoção de
áreas sombreadas por vegetações arbóreas; bem como um lugar que consiga abrigar mais pessoas, de
forma democrática, onde poderá se exercer diversas atividades, tais como: contemplação, estudos,
descanso, interação social, eventos estudantis e aulas externas.
109
110
Sketchbook de Memórias - Porto Alegre/RS
Percepção e memória da cidade
DESCRIÇÃO
O Sketchbook foi produzido para a disciplina Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, no ano
de 2018, o qual contém 10 desenhos feitos manualmente utilizando a técnica aquarela. O objeto de
estudo é a cidade de Porto Alegre/RS, a arquitetura é uma das mais antigas do país e é possível
acompanhar sua trajetória histórica por meio das fachadas e obras arquitetônicas da capital. No
caderno são apresentados edifícios arquitetônicos do sec. XIX e começo do XX, com importância
histórica e cultural para o Brasil , que são: Igreja Nossa Senhora das Dores – 1813; Paróquia Nossa
Sra. Da Conceição – 1851; Palácio do Ministério Público – 1857; Teatro de São Pedro – 1858; Paço
Municipal de Porto Alegre – 1898; Palácio Piratini – 1909; Memorial Rio Grande do Sul – 1910;
111
Casa de Cultura Mario Quintana – 1916; Casa Parreira Machado – 1916; Solar da Travessa do Paraiso
– 1920.
112
113
Adversidades de acessibilidade em um
percurso no Bloco de Geografia da Fundação
114
Universidade Federal do Amapá, campus
Marco Zero
Sustentabilidade e Práticas de Autogestão
RESUMO
A estrutura educacional é considerada um dos principais fatores por auxiliar na formação da vida
social. A realização da educação se faz necessária para a construção de uma melhor convivência
dentro da sociedade, com a valorização das diferenças e principalmente das deficiências educacionais.
Para pessoas que apresentam a condição de deficiência, seja física ou intelectual, o ambiente deve
estar livre de barreiras arquitetônicas que os impossibilitam de utilizar os bens na sociedade, como
transporte, meios de comunicação e outros. Nesta perspectiva, o presente trabalho tem por objetivo
115
verificar as instalações de acessibilidade durante a execução do percurso, realizado desde a parada de
ônibus até o bloco de geografia da Universidade Federal do Amapá, campus Marco Zero. Para isto
realizou-se, no mês de maio de 2019, uma atividade constituída em pesquisa participante, com
interação significativa entre pesquisador e pesquisa, com execução realizada em duas etapas
metodológicas. A primeira compreendeu a verificação do percurso e a segunda, a realização do trajeto
pelos acadêmicos, sendo estes vendados, e para a realização do percurso utilizou-se um cabo de
vassoura para simular uma bengala. Verificaram-se durante o percurso as dificuldades encontradas
por pessoas com deficiências, como surdos, cadeirantes e principalmente deficientes visuais, onde o
piso tátil de alerta observou-se inicialmente rampas desgastadas e sem sinalização, o piso tátil de
alerta e direcional compreendem apenas a passarela principal da universidade, sendo o acesso para o
bloco do curso de geografia possuía apenas rampas, com ausência de corrimão. Em relação aos
banheiros do bloco, foram constatadas poucas adaptações para deficientes, referindo-se apenas a pias
rebaixadas, sendo contrárias as normativas de acessibilidade presentes na Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT/NBR 9050). Durante a realização do trajeto foi possível entender e
compreender todas as adversidades enfrentadas por acadêmicos deficientes, como a falta de piso tátil
e outras sinalizações pertinentes para a locomoção destes alunos. Por fim, ainda são necessárias
muitas transformações, seja na estrutura física para assegurar a mobilidade dentro das dependências
da universidade, ou na concepção de aceitação das diferenças e respeito a inclusão.
PALAVRAS-CHAVE:
116
Chalé Azul Coworking
Percepção e Memória da cidade
Lidiane Miranda
Acadêmica da Universidade Federal do Amapá.
lidiane_mir@hotmail.com
Paulo Victor
Acadêmico da Universidade federal do Amapá.
paulovictor.v.f.c.97@gmail.com
RESUMO
117
Leopoldo Machado e Jovino Dinoá, Centro, remonta a construção de residências higiênicas a fim de
conter as moradias irregulares em 1949. Segundo a vizinhança a residência não sofreu grandes
alterações até a chegada dos moradores atuais em 1988, que a modificaram em prol as suas
necessidades, incluindo desconfigurações afim de burlar o processo de preservação e possível
tombamento. No bairro onde o objeto de estudo se localiza não faltam equipamentos urbanos para
atender a população, logo se percebeu a demanda por ambientes de trabalho, assim, foi estudada uma
nova maneira de inserir o contexto de escritório no projeto, sem apagar a imagem amistosa e
convidativa do chalé, logo a temática de coworking, tornouse apropriada para a reformulação do bem
de estudo. Coworking é uma nova modalidade que se expandiu a partir da ideia de “home office”,
agregando a ideia de colaboração e compartilhamento. Sua estrutura física e de gestão se propõe a
buscar o estimulo das relações interprofissionais, oferecendo ambientes abertos sem interferência de
paredes ou de quaisquer outros obstáculos visuais, assim como a promoção de workshops entre os
coworkers como recursos para apresentarem seus trabalhos e habilidades. Com isso o projeto propôs:
a retomada da unidade de potencial da residência a partir do ano de 2014, resgatar o uso da madeira
nas estruturas, potencializar as características do chalé com o retorno do telhado de duas aguas; evitar
aberturas e ou remoção de paredes sem justificativas plausíveis; inserir o conceito de acessibilidade
para atender as necessidades atuais e prover aos usuários de espaços confortáveis para trabalho.
PALAVRAS-
118
Diagnóstico, restauro e reuso da residência
nº 44 da Vila Ipase
Percepção e Memória da Cidade
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo o levantamento e a análise de uma edificação situada no
conjunto residencial Vila IPASE (Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado),
construído na década de 1950. Arquitetada no governo de Janary Gentil Nunes, a vila é composta por
treze residências, que eram destinadas ao abrigo de servidores públicos do ex-Território do Amapá.
É possível identificar – a partir das pesquisas bibliográficas, documentais e levantamento – que, após
aproximadamente meio século desde a finalização da construção da vila, a edificação nº 44 da Vila
IPASE apresenta o melhor grau de preservação das características arquitetônicas originais, de estilo
Neocolonial, dentre as demais residências do conjunto. Em função disto, esta residência foi escolhida
como objeto de estudo deste trabalho. Além do levantamento do objeto em seu estado atual, com o
objetivo de retornar à unidade potencial do bem e conservá-lo, elaborou-se um projeto de restauro e
reuso da edificação. Com base em uma pesquisa in loco com os moradores do entorno da residência,
observou-se a necessidade de implantação de um empreendimento ligado ao lazer. Desta forma, foi
proposta uma Livraria Café, com espaços destinados a exposição histórica da edificação, cômodos
119
destinados à venda e apreciação de livros, e áreas de venda e degustação de cafés. Devido à
inevitabilidade de incluir anexos à edificação, os materiais dos mesmos foram cuidadosamente
selecionados para diferenciar-se da parte original, mantendo o diálogo entre si. Procurou-se, ainda,
conceber ambientes com melhores condições de conforto térmico, lumínico e acústico possíveis, e
elaborar um projeto visando atender portadores de necessidades especiais. As características
tipológicas originais foram recuperadas, como as esquadrias com veneziana, a formatação do telhado
em conjunto com a construção, que se assemelha a forma de um frontão, as telhas de barro de modelo
colonial e elementos decorativos característicos do estilo. Dado o exposto, o trabalho valoriza uma
construção com significativo valor patrimonial, uma vez que: estuda os dados históricos do bem;
propõe o resgate das características Neocoloniais; e propõe o reuso, que é um dos métodos mais
eficazes de conservação e utilização do patrimônio, e de inserção de uma edificação histórica na
dinâmica atual da cidade.
PALAVRAS-CHAVE
Arquitetura; Patrimônio; Restauro; Reuso; Vila Ipase.
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FEIRA DAS MARÉS
Sustentabilidade e práticas de autogestão
RESUMO
A premissa básica do projeto é potencializar uma área antes esquecida, mas de extrema importância
para a cidade, inserindo, no centro urbano, uma feira que é abastecida por produtos provenientes de
ilhas vizinhas e caracterizada, em seu partido arquitetônico, pelas ondas que as embarcações
produzem ao se locomoverem no rio. Além do seu aspecto regional, a Feira das Marés tende a ser um
espaço sustentável, fazendo uma arquitetura consciente, que se sustenta antes, durante e depois de
sua construção, principalmente por ter princípios da biomimética, que tem como inspiração a
natureza, respeitando seus ciclos naturais de nascer, se desenvolver e morrer, se auto mantendo a
partir do que ela mesma é capaz de oferecer. A cobertura sinuosa além de proporcionar um
movimento visual também auxilia no sistema de captação de água, guiando-a para canos de aço
semiestruturais que permitem a sensação de fluidez e amplitude do complexo da feira. A praça de
alimentação, localizada ao centro do complexo, tem como seu partido, a bússola, instrumento de
extrema importância para navegantes, pescadores e marinheiros, utilizado para auxiliar em seus
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percursos ao longo do mar. Portanto, a praça de alimentação possui um papel importante de integração
com o entorno da Feira das Marés.
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GALERIA 70: Proposta de reabilitação em
residência de vila histórica em Macapá
Percepção e memória da cidade
RESUMO
Construída em uma vila histórica dos anos 1970 que está perdendo suas características modernas por
conta de reformas nas fachadas das casas, a Galeria 70 é um espaço de inclusão – que tem como uma
de suas prioridades inserir mulheres em espaços antes ocupados majoritariamente por homens – e
descontração, buscando potencializar um local, com características arquitetônicas históricas antes
ignoradas, dando uma nova percepção a construção, melhorando seus equipamentos e utilidades ao
mesclar o projeto original com um ambiente convidativo, sendo uma área inusual que tem como
público alvo pessoas joviais. Trata-se de um ambiente predominantemente de serviços de estética, –
design de cabelos e tatuagens –, mas que também busca atrair o público através da arte em um espaço
sereno onde, conjuntamente, ofereça diversão e relaxamento, concedendo uma experiência única ao
resgatar a memória da construção moderna da cidade e brincando com os cinco sentidos – visão,
olfato, tato, paladar e audição – de seus clientes.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura Moderna; Memória da Cidade; Preservação; Património.
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Os desafios da acessibilidade no percurso até o bloco
de ciências ambientais da UNIFAP
Sustentabilidade e Práticas de Autogestão
RESUMO
A acessibilidade é essencial para a promoção da educação e é, sem dúvida, um direito que garante à
pessoa com deficiência viver com independência, exercendo os seus direitos de cidadania e
participação social. As universidades deveriam ser ambientes de promoção do livre acesso de pessoas
e a acessibilidade para deficientes não ocorre de forma significativa e somente as mínimas
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providências são garantidas. Este trabalho teve como objetivo verificar as dificuldades enfrentadas
por deficientes visuais e pessoas com mobilidade reduzida no percurso desde a entrada da UNIFAP
até o bloco de Ciências Ambientais, no intuito de investigar as carências estruturais acessíveis. Para
isso, como parte da experiência, um dos acadêmicos permaneceu vendado, sendo auxiliado por um
cabo de vassoura simulando uma bengala, para a aproximação da vivência real de um deficiente visual
até a chegada no bloco, porém acompanhado de um outro colaborador. No início da trajetória, foi
verificada a existência de sinalização tátil do tipo alerta e direcional, conforme preconizada na NBR
9050, mas não houve o uso de cores contrastantes, exigidas na referida NBR. Enquanto no bloco de
Ciências Ambientais essas sinalizações não foram encontradas. Além disso, há pontos projetados no
piso para o escoamento de água da chuva; por não haver qualquer sinalização, estes são passíveis de
causar acidentes variados. Em contrapartida, adaptações como rampas e banheiros individualizados
foram verificados no referido bloco, mas as rampas são muito íngremes, dificultando o acesso. Há
presença de rebaixamento de calçada para dar acesso às salas de aula. Desse modo, atende-se ao
pressuposto disponível na Lei 13.146/15 em que o acesso à educação superior e à educação
profissional e tecnológica deve ocorrer em igualdade de oportunidades e condições com as demais
pessoas. Ao final do percurso, percebeu-se que a estrutura física da Universidade Federal do Amapá
atende apenas parcialmente às diretrizes de acessibilidade às pessoas com deficiência.
PALAVRAS-CHAVE
Mobilidade; percurso; acessibilidade.
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Pro-Polis
Sustentabilidade e práticas de autogestão
RESUMO
O desenvolvimento do trabalho se deu pela necessidade de lidar com o elevado número de refugiados,
caracterizados como: Número expressivo de pessoas que se encontram fora do seu país por causa de
fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou
participação em grupos sociais, e que não possa (ou não queira) voltar para casa. (Convenção de
1951). “Em 2017, o número de pessoas deslocadas por guerras, violência e perseguições bateu um
novo recorde pelo quinto ano consecutivo. Do total de indivíduos forçados a se deslocar, 25,4 milhões
haviam cruzado fronteiras, tornando-se refugiados. Os números são do relatório anual Tendências
Globais, divulgado hoje pela Agência da ONU para Refugiados” (ACNUR, 2017). A partir da crise
político-econômico-social que se agravou em 2018 na Venezuela, um elevado número de imigrantes,
sendo um total 4 milhões, buscou abrigo nos países fronteiriços como Colômbia, Peru, Equador,
Argentina e Brasil (5° nação que mais recebe refugiados sendo 168 mil, de acordo com a ONU 2019),
mais especificamente no estado de Roraima entre outros estados principalmente da região norte.
(ONU, 2019). Partindo dessa premissa desenvolveu-se uma proposta de habitação social
considerando o clima quente e úmido amazônico se caracteriza por apresentar elevados índices
médios de temperatura, durante todo o ano, e pluviosidade, no período chuvoso. (Tavares, 2014).
Segundo a NBR 152203 o clima quente e úmido amazônico não consegue alcançar o limiar de
conforto em determinados períodos do ano em função da temperatura ser elevada, necessitando de
resfriamento artificial.Pensou-se em métodos e materiais construtivos para a edificação, partindo de
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duas premissas, sendo a primeira o elevado número de refugiados venezuelanos na região norte do
Brasil e da necessidade de conforto térmico em abrigos para regiões de clima quente úmido. A ideia
principal da proposta foi desenvolver um módulo possuindo 25 m² de área, acessível, que pudesse se
encaixar com réplicas suas, colocando em seu centro um espaço de vivência e socialização. E a forma
do espaço seria moldada e desenhada pela união desses módulos.
PALAVRAS-CHAVE
Habitação social; clima quente e úmido; refugiados
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A Organização da VIII SAU – CRIA-TE CIDADE agradece a todos que contribuíram para a
realização do evento. À todas as comissões que se empenharam incansavelmente para a sua
concretização. Aos professores, que em conjunto com os alunos envolvidos prestaram auxilio durante
cada etapa desse processo. A todos que submeteram seus trabalhos e contribuíram no
compartilhamento de conhecimentos. A todos os profissionais que ministraram palestras e oficinas
oferecendo conhecimento nas diversas áreas que circundam a criação da cidade. Além disso,
prestamos agradecimentos especiais ao Prof. Elizeu, coordenador do evento, o qual nos acompanhou
durante toda jornada.
Agradecemos a todos os participantes que mediante sua presença tornaram o evento possível e
gratificante àqueles trabalharam arduamente para efetivação da semana. E dessa forma, esperamos
ter acrescentado a cada um, o conhecimento necessário para tornar Macapá uma cidade cada vez mais
criativa, no que se direciona a sua cultura, suas memórias e seu desenvolvimento.
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