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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL

DAVID GUILHON

KIT CARANGUEJO VOLTADO PARA BARES

E RESTAURANTES DE SÃO LUÍS-MA

São Luís

2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL

KIT CARANGUEJO VOLTADO PARA BARES

E RESTAURANTES DE SÃO LUÍS-MA

Monografia apresentada ao Curso de Desenho


Industrial da Universidade Federal do Maranhão
para obtenção do grau de Bacharel em Desenho
Industrial.

Orientador: Prof. Dr. Raimundo Lopes Diniz

São Luís

2005
DAVID GUILHON

KIT CARANGUEJO VOLTADO PARA BARES

E RESTAURANTES DE SÃO LUÍS-MA

Monografia apresentada ao Curso de Desenho


Industrial da Universidade Federal do Maranhão
para obtenção do grau de Bacharel em Desenho
Industrial.

Aprovada em: ____ / ____ / _______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________
Prof. Dr. Raimundo Lopes Diniz
(Orientador)

______________________________________
Prof. MSc. Luciana Caracas
(Primeiro Examinador)

______________________________________
Prof. João Raposo
(Segundo Examinador)
A Deus, o Senhor de todas as coisas.

À minha família e meus amigos que os

tenho como norte e fortaleza.

Aos professores, pela sabedoria.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a

elaboração desta monografia, especialmente à minha mãe Nonata e ao meu pai,

Raimundo Guilhon (in memorian), que, além de colaborarem financeiramente para

este feito, são eles os exemplos de pessoas que eu sigo e que muito se dedicaram

ao que hoje eu sou. De igual modo, aos meus irmãos, que compartilharam de suas

experiências acadêmicas para comigo, assistindo-me nos momentos de dúvida. Ao

meu amigo Geraldo, que me auxiliou com os assuntos da área da saúde

(cinesiologia, anatomia e biomecânica funcional), e aos outros companheiros de

curso que compartilharam comigo sabedoria e momentos. Ao meu amigo Monteiro,

que cedeu seu Pc para consultas on-line. Ao meu orientador e amigo Dr. R. Diniz,

que norteou esta monografia pacientemente desde que ela era apenas um

“trabalhinho” de disciplina, que por sinal rendeu bons “frutos”; este homem guiou-me

ao maravilhoso mundo da Ergonomia.


“Penso, logo insisto”.

Adaptação de Descartes, por Guilhon


RESUMO

Desenvolvimento do projeto do “kit caranguejo” nos bares e restaurantes

de São Luís. Visa à aplicação de princípios ergonômicos para o aumento da

confortabilidade do usuário no ato da quebra do caranguejo, para a degustação da

carne do mesmo, e ainda, a inclusão de um maior nível de precisão de movimento.

Atende à necessidade projetual, com igual importância, a utilização de caracteres de

cunho estético-simbólicos. O estudo aconteceu durante o desenvolvimento do

projeto do kit, onde a etapa conceitual abrangeu a aplicação de entrevistas abertas e

pesquisa de similares, e na etapa configuracional realizou-se um teste de

usabilidade de um modelo tridimensional em situação real de uso. Os resultados

adquiridos no teste de usabilidade atendem às necessidades projetuais, como o uso

da precisão do movimento, uso de elementos simbólicos e aumento da

confortabilidade do usuário.

Palavras-chaves: Desenvolvimento de produto, Kit Caranguejo.


ABSTRACT

This research is about an product development of “kit caranguejo” (crab

kit) in bars and restaurants of the São Luís, requesting the application of ergonomic

items to grow the confortability in the hammer use and best precision level of

movement. With some importance, insert the study of esthetic-symbolical elements,

based in the projetual needs. That study it was carry out during the design

development of the “Crab Kit”. It was applied interviews and research about similar

products and at detailed design stage it was carried out a usability test with prototype

in real situation. The obtained results in usability test attend the design needs, as

such the use of the movement precision and crease of user’s confortability.

Key words: Product development, Crab Kit.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Anatomia do caranguejo-uçá - adaptado de Rodrigues (1995)............. 22

Figura 2 - Alavancas de primeira classe .............................................................. 28

Figura 3 - Alavancas de segunda classe ............................................................. 28

Figura 4 - Alavancas de terceira classe ............................................................... 29

Figura 5 - Tipos de engate e preensão da mão - adaptação: Pastre (2001)........ 32

Figura 6 - Indicação das medidas da tabela 2, segundo Dreyfuss (1966 apud Dias,

1986) ...................................................................................................................... 34

Figura 7 - Análise funcional da tarefa .................................................................. 52

Figura 8 - Similares encontrados (1 a 8) .............................................................. 55

Figura 9 - Similares encontrados (9 a 16) ............................................................ 56

Figura 10 - Representação das Alternativas (1) ..................................................... 68

Figura 11 - Representação das Alternativas (2) ..................................................... 68

Figura 12 - Geração de Alternativas (3) .................................................................. 69

Figura 13 - Geração de Alternativas (4) ................................................................. 69

Figura 14 - Primeira versão do “kit caranguejo”....................................................... 76

Figura 15 – Análise da postura durante o uso do martelo ...................................... 77

Figura 16 – Preferências dos usuários quanto ao uso do martelo.......................... 77

Figura 17 - Segunda versão do “kit caranguejo”...................................................... 78

Figura 18 – Terceira versão do martelo do “kit caranguejo” – experimento com

sistema de solda da esfera em placa metálica....................................................... 79

Figura 19 – Quadro evolutivo da alternativa escolhida........................................... 80

Figura 20 – Posturas geradas pelo martelo do kit caranguejo................................ 87


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados referentes a comprimento e largura de carapaça (mm) do

caranguejo-uçá, por sexo, valores estatístico F e t, segundo Alcântara Filho (1978).

................................................................................................................................. 19

Tabela 2 - Tabela 2 - Movimentos do membro superior - adaptação de Panero &

Zelnik (2002) .......................................................................................................... 29

Tabela 3 - Medidas antropométricas da mão de homem e mulher, em cm. Valores

em três percentis (2,5, 50 e 97,5), adaptado de Dreyfuss (1966 apud Dias, 1986)

............................................................................................................................... 32

Tabela 4 - Análise de uso dos similares encontrados ........................................... 56

Tabela 5 - Análise estrutural dos similares encontrados ........................................ 57

Tabela 6 - Análise morfológica dos similares encontrados – Dimensões .............. 58

Tabela 7 - Análise morfológica dos similares encontrados – Tipo de forma .......... 59

Tabela 8 - Análise morfológica dos similares encontrados – Peso ....................... 60

Tabela 9 - Análise sincrônica dos similares encontrados ...................................... 61

Tabela 10 - Análise sincrônica dos similares encontrados (1 a 4) – Atributos ....... 62

Tabela 11 - Análise sincrônica dos similares encontrados (5 a 8) – Atributos ....... 62

Tabela 12 - Análise sincrônica dos similares encontrados (9 a 12) – Atributos ..... 63

Tabela 13 - Análise sincrônica dos similares encontrados (13 a 16) – Atributos ....63

Tabela 14 - Análise paramétrica das alternativas geradas - quadro de classificação,

conforme Baxter (2001) ......................................................................................... 66

Tabela 35 - Propriedades físicas e mecânicas do aço, conforme Pereira (1995) ... 83


Tabela 4 - Propriedades físicas e mecânicas da Maracatiara, segundo Mainieri

(1980)....................................................................................................................... 84

Tabela 5 - Propriedades físicas e mecânicas do Pau-Cetim, segundo Mainieri

(1980)...................................................................................................................... 85
SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................. 9

LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 10

SUMÁRIO ............................................................................................................... 12

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15

1.1. Objetivos ....................................................................................................... 17

1.1.1 Geral ............................................................................................................. 17

1.1.2. Específicos ................................................................................................... 17

1.1.3. Operacionais ................................................................................................ 17

1.2. Estrutura de trabalho .................................................................................... 18

2. BREVE DESCRIÇÃO DO CARANGUEJO UÇÁ .............................................. 19

2.1. O “Kit caranguejo” ....................................................................................... 24

3. BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ..................................................................... 25

3.1. Breve histórico e definição .......................................................................... 25

3.2. Mecânica muscular ...................................................................................... 25

3.2.1. Força motora ............................................................................................... 26

Trabalhos estático e dinâmico ..................................................................... 26

3.2.2. Regras fundamentais da Física ................................................................... 27

3.3. A Biomecânica e o Design de ferramentas ................................................ 29

4. ATRAÇÃO BISSOCIATIVA E VALOR SEMÂNTICO ....................................... 34

4.1 Atração Bissociativa ...................................................................................... 34

4.2 Semântica ........................................................................................................ 36

4. 3 Valor Semântico ............................................................................................. 39


5. MÉTODOS E TÉCNICAS .................................................................................. 43

5.1. Técnicas de pesquisa descritiva .................................................................. 43

5.1.1 Observações .................................................................................................. 43

5.1.2. Entrevistas .................................................................................................... 44

5.1.3. Questionários ................................................................................................ 45

5.2. Técnicas de análises de produtos similares ............................................... 45

5.2.1. Análise de uso ...............................................................................................46

5.2.2. Análise estrutural ...........................................................................................46

5.2.3. Análise morfológica ....................................................................................... 46

5.2.4. Análise sincrônica ......................................................................................... 47

5.3. Intervenção ergonomizadora (Moraes & Mont’Alvão, 1998) ...................... 47

5.2.1. Apreciação ergonômica ................................................................................ 47

5.2.2. Diagnose ergonômica .................................................................................. 48

5.2.3. Projetação ergonômica ................................................................................ 49

Método Projetual de Baxter (2001)................................................................. 49

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 51

6.1. Apreciação Ergonomizadora ........................................................................ 51

6.1.1. Entrevistas abertas e observações assistemáticas ...................................... 51

6.2. Diagnose ergonômica ................................................................................... 52

6.3. Projetação ergonômica - Método Projetual de Baxter (2001) ................... 53

6.3.1. Fase conceitual ............................................................................................ 53

Pesquisa de similares (análise de uso, estrutural, morfológica e sincrônica). 54

Requisitos projetuais ..................................................................................... 65

Geração e escolha de alternativas ................................................................ 66

Atração Bissociativa ....................................................................................... 70


Valores estético e simbólicos ......................................................................... 71

6.3.2. Etapa configuracional ................................................................................... 73

Dimensionamento .......................................................................................... 73

Detalhamento técnico ..................................................................................... 75

Evolução e desenvolvimento da alternativa escolhida ................................... 75

Processos e materiais para a fabricação ....................................................... 81

6.3.3. Validação do produto .................................................................................... 88

Teste de usabilidade ...................................................................................... 88

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................89

8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 90

GLOSSÁRIO .......................................................................................................... 98

APÊNDICES............................................................................................................ 100

APÊNDICE A – DESENHO TÉCNICO................................................................... 101

APÊNDICE B – RENDERING ................................................................................ 105


1. INTRODUÇÃO

Churchill (1992, apud BAXTER, 2001. pp. 133)1 afirma que “[…] as

necessidades dos consumidores é fundamental para identificar, especificar e

justificar uma oportunidade de produto”. As possibilidades de desenvolver um novo

produto são inúmeras e todas provém da compreensão da mente do consumidor

(BAXTER, 2001). Para tanto, não somente o desempenho do produto (seu uso)

deve ser o alvo de análise, quando aplica-se a pesquisa de similares, mas a

presença de outros elementos como seus aspectos formais (estéticos), o valor

semântico que o produto manifesta para seus consumidores (simbólico). Pois os

produtos, sendo “extensões de nosso corpo” (FREIVALDS, 1999) e habilidades, são

por analogia, o reflexo de seus usuários (comportamento, necessidades).

Mecanismos utilizados para a obtenção de dados dos objetos similares,

como por exemplo, a análise de tarefa, utiliza-se a ergonomia que, conforme Soares

(1988), pode ser uma delineadora do modus operandis da atividade projetual. A

ergonomia do produto, especificamente, analisa de maneira aprofundada os

artefatos e seus efeitos na relação com o homem. Os dados fornecidos por esta

ciência são capazes de conferir maior e melhores condições ao designer na

concepção de interfaces bem sucedidas com o usuário (MORAES, 1992).

Para Baxter (2001, pp. 69), faz-se importante ”[…] a presença do caráter

subjetivo do produto, onde se enquadram os valores estéticos e simbólicos”.

Conforme o referido autor, o usuário analisa (visualmente) as propriedades do

produto pela formatação externa: a aparência e estilo (atratividade). É necessário

frisar que fatores sociais, cultural e comerciais têm grande peso na determinação de

1
CHURCHILL, G. A. Jr. Basic Marketing Research. 2. ed. [s.l.]: The Dryden Press, 1992.
um estilo para o objeto, podendo durar alguns meses, como também muitas

décadas (BAXTER, 2001). Tais questões devem ser consideradas, pois o objeto é

dotado de significado, valor semântico que deve expressar ao usuário, além da

função declarada, outros aspectos (qualidades) que o tornam único em relação aos

concorrentes (NIEMEYER, 2003).

Este trabalho busca apresentar o desenvolvimento de projeto de um

produto com ênfase nas questões: simbólica, estética e aplicação de princípios

ergonômicos. Nesse sentido, agregam-se, também, a semiótica e estética ao

produto em questão, o “kit caranguejo”, concebido para quebrar o exoesqueleto

(casca) do crustáceo e extrair a sua carne (um prato da culinária de regiões

litorâneas) para degustação imediata, em bares e restaurantes, mas pode ser

utilizado também em residências. Procurou-se estudar o uso do referido kit,

utilizando-se dos princípios ergonômicos, tendo-se como referência o conhecimento

das capacidades, habilidades e limites dos usuários alvo (pessoas que apreciam

degustar o prato culinário feito com o caranguejo-uçá, animal que vive em regiões de

manguezais) durante o uso do kit, acrescentando com maior importância (conforme

os requisitos de projeto) aos valores estético-simbólicos.

O desenvolvimento do projeto do referido produto seguiu com a

intervenção ergonomizadora, que se sucede em três fases: a apreciação

ergonômica, que recolhe os dados obtidos de entrevistas e observações

assistemáticas; a diagnose ergonômica que, por meio de questionários e

observações sistemáticas, ratifica a fase anterior e; a projetação ergonômica que,

para produtos, se subdivide em: etapa conceitual (geração de requisitos e

alternativas – idéias – projetuais), onde foram realizadas entrevistas abertas


usuários e pesquisas de similares; já na etapa configuracional, realizou-se um teste

de usabilidade com um modelo tridimensional, em situação real de uso.

1.1. Objetivos

1.1.1. Objetivo Geral

Contribuir com a segurança, conforto, eficiência e satisfação dos usuários

do “kit caranguejo”, em bares e restaurantes de São Luís.

1.1.2. Objetivos Específicos

• Projetar uma proposta de redesign do “kit caranguejo” (martelo e tábua);

• Apresentar alternativas, seguindo princípios ergonômicos, respeitando a

biomecânica, a antropometria e a anatomia da mão dos usuários;

• Aplicar princípios estético-simbólicos;

• Utilizar a tecnologia regional, bem como matéria-prima e processos de

fabricação, a fim de baratear custos e valorizar o mercado local (mão-de-

obra e empresas);

1.1.3. Objetivos Operacionais

• Fazer coleta de dados e análise dos produtos similares ao “kit

caranguejo”;
• Fazer observação assistemática dos usuários em bares e restaurantes,

por meio de registros fotográficos e aplicação de entrevistas abertas;

• Aplicar questionários para a verificação do perfil do usuário;

• Confeccionar mock-up, modelo e protótipos para efetuar teste de

usabilidade, avaliando o dimensionamento, a funcionalidade da alternativa

(idéia) gerada e o produto final em situação real de uso.

1.2. Estrutura do Trabalho

O presente trabalho consiste em sete capítulos. O primeiro ilustra sua

parte introdutória, assim como a justificativa e os objetivos da pesquisa.

O segundo capitulo mostra uma breve descrição do caranguejo-uçá, suas

características anatômicas (dimensões), reprodutivas e hábitos; segue também

como ocorre sua captura, propriedades químicas e comerciais deste crustáceo. A

seguir, descreve-se brevemente sobre o “kit caranguejo” (martelo e tábua).

O capitulo três focaliza o estudo da biomecânica ocupacional, enfatizando

o design de ferramentas.

O capitulo de número quatro estuda a importância e o significado da

atração bissociativa, o uso dos diversos tipos de analogia (sinética) e enfoca o valor

da semântica no produto.

Os métodos e técnicas empregados para a elaboração desta pesquisa

são descritos no capitulo cinco. Tais mecanismos ajuntam a justificativa dos mesmos

e, a aplicação das estratégias de pesquisas eleitas para a coleta de dados.

Os resultados, assim como as discussões, são mencionados no capitulo

seis. Por fim, o capítulo sete ilustra as considerações finais desta monografia.
2. BREVE DESCRIÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ

Segundo Trolles (2001), o caranguejo-uçá apresenta a seguinte

classificação: filo: Arthropoda; classe: Crustacea; superordem: Eucarina; ordem:

Decapoda; família: Gegarcinidae; gênero: Ucides; espécie: Ucides cordatus.

Conforme Castro (1986), o Ucides cordatus (nome científico do caranguejo-uçá)

representa um dos mais importantes componentes da fauna dos manguezais

brasileiros. Tal crustáceo habita áreas litorâneas que compreendem desde a costa

do Amapá até a orla de Santa Catarina (COSTA, 1972 apud CASTRO, 1986)2. A

exploração deste espécime é feita por coleta manual e a produção total é

praticamente desconhecida, devido à falta de um controle eficiente (PAIVA,

BEZERRA & FONTELES-FILHO 1971 apud ALCÂNTARA FILHO, 1978)3.

Castro (1986) afirma que o caranguejo-uçá apresenta variação em sua

coloração podendo sê-la azulada, arroxeada ou avermelhada. Esses caranguejos

são considerados semiterrestres e a zona de ocorrência da espécie está geralmente

limitada pelo supralitoral (zona de influência de marés). São territorialistas, os

maiores indivíduos são encontrados no mesolitoral, enquanto os menores

predominam nas zonas mais altas do mangue. A sua densidade varia conforme a

latitude (e, portanto, a disponibilidade de alimentos). Em estados da Região

Nordeste chega a 4-5 m2, enquanto na Região Norte chega a 6 m2.

O caranguejo-uçá atinge a maturidade sexual já no segundo ano de vida.

No entanto, o tamanho comercial (largura de carapaça superior a 5 cm) é atingido

2
COSTA, R. S. Fisiologia do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763) – crustáceo
decápode do Nordeste brasileiro. Tese apresentada ao Instituo de Biociências da Universidade de
São Paulo e Instituto de Biologia Marinha, para obtenção do título de Doutor em Ciências. São Paulo,
1972, pps-121.
3
PAIVA, M. P.; BEZERRA, R. C. F. & FONTELES-FILHO, A. A tentativa de avaliação dos recursos
pesqueiros do Nordeste brasileiro. Fortaleza: Arquivo de Ciências do Mar, 1971. 11 (1): 1-43, 8
figs.
geralmente após o quinto ano de vida. Os machos naturalmente crescem mais que

as fêmeas. Para Alcântara Filho (1978), o comprimento da carapaça dos machos

varia entre 33,6 e 59 mm, apresentando uma média de 46,3 mm e, largura oscilando

entre 44 e 81 mm, cuja média é de 60,3 mm; nas fêmeas da espécie, o comprimento

varia de 27 a 58 mm, com média de 44,5 mm e a largura oscila entre 34 e 75 mm,

apresentando como média o valor de 56,9 mm (tabela 1). Segundo os estudos da

ADEMA (1984a) este dimorfismo sexual ou o difícil a acesso às tocas das fêmeas,

visto que a maior parte do ano elas se encontram quase sempre protegidas sob as

raízes que dificulta sua captura, tornam as fêmeas comercialmente inviáveis.

Conseqüentemente, os pescadores desenvolvam, provavelmente, um

condicionamento de apenas capturarem caranguejos de maior tamanho.

Tabela 6 - Dados referentes a comprimento e largura de carapaça (mm) do caranguejo-uçá, por sexo,
valores estatístico F e t, segundo Alcântara Filho (1978).

MACHOS FÊMEAS
ESTIMATIVAS
Comprimento Largura Comprimento Largura

COMPRIMENTO MÍNIMO 33,6 44,0 27,0 34,0

COMPRIMENTO MÁXIMO 59,0 81,0 58,0 75,0

MÉDIA ARITMÉTICA ( x ) 46,3 60,3 44,5 56,9

VARIÂNCIA (s²) 17,9 33,6 12,4 21,6

DESVIO PADRÃO (s) 4,2 5,8 3,5 4,6

DESVIO PADRÃO DA MÉDIA (s x ) 0,2 0,2 0,1 0,1

COEFICIENTE DE VARIAÇÃO 9,1 9,6 7,9 8,6

x − t × sx 46,0 59,8 44,2 56,6

x + t × sx 46,6 60,8 44,7 57,2

COMPRIMENTO LARGURA

VALORES DA F 1,44* 1,56*

ESTATÍSTICA t 9,89* 13,73*

* significante ao nível α= 0,05


O período de reprodução acontece entre os meses de dezembro e

fevereiro, sendo esta época, como quer Castro (1986, pp. 9), período “[…]

caracterizado pela saída dos indivíduos das galerias em grandes quantidades,

quando são capturados facilmente […]”. Após esta fase a caça ao caranguejo-uçá se

torna mais difícil, ao passo de que os cancrídeos adentram profundamente as

galerias que se encontram tapadas por sedimentos. Em suas tocas há suprimento

de alimentos necessários para este longo período de mudança de carapaça

(ecdise). Nos meses de maio a agosto, quando estes crustáceos (gordos) se

encontram em tocas mais profundas, a captura é realizada por “caranguejeiros”

profissionais que vivem geralmente da captura de subsistência.

O horário para tanto não se enquadra ao ritmo convencional, como alega

ADEMA (1984b). Pois os horários para estes pescadores dormir e/ou acordar

dependem do fluxo da maré, que oscila a cada sete dias, com variações de até uma

hora de dia para outro, e cada fluxo perdura por seis horas (cheia, vazante,

enchente, cheia, etc.).

O presente autor relata mais acerca desta prática extrativista:

“[…] a hora certa de ir para o mangue corresponde ao período de maré


vazante e quem se utiliza de canoa beneficia-se da correnteza favorável até
alcançar o local de trabalho. Aqueles que alcançam o mangue a pé – por
não terem canoa nem acesso a um – por conseguinte, capturam no mangue
mais acessível, seja ele produtivo ou não; ao contrário, aqueles que têm
bosques produtivos próximos, saem de suas casas mais tarde, pela
impossibilidade de ‘vencerem’ as águas. […] (pp. 27)”.

Durante a reprodução dos caranguejos-uçá, os ovos são incubados pela

fêmea no abdome. As larvas passam por cinco subestágios de zoea e um de

megalopa, antes de atingir o estágio juvenil. Em laboratório, todas essas etapas

ocorrem em 35-40 dias. O desenvolvimento larval ocorre em águas superiores a

20°C, no entanto, a 25-30°C, o tempo de desenvolvimento larval cai


substancialmente. Nessa etapa do cultivo, a salinidade deve ser mantida entre 20-35

ppmil.

As larvas são carnívoras (alimentando-se de zooplâncton) e os adultos

são onívoros (alimentando-se de folhas – que caem das árvores e são levadas para

dentro de tocas, onde são parcialmente decompostas por fungos e bactérias;

animais em decomposição). Suas características físicas são: apresentam dez

pereópodes (patas) e abdômen completamente dobrado por baixo do cefalotórax, a

parte central do corpo revestida por uma carapaça. O primeiro par de patas tem uma

grande pinça móvel, usada para captura de presas e defesa (figura 1).

Figura 2 - Anatomia do caranguejo-uçá - adaptado de Rodrigues (1995)


Os caranguejos desenvolvem-se com as mudas de sua casca, que forma

a carapaça recoberta por uma camada de quitina (substância que reveste os

artrópodes), em um valor de 15 a 20% (CANELLA & GARCIA, 2001). A carne é

apreciada na culinária, a quitina do exoesqueleto tem vários usos médicos,

cosméticos e alimentares, e as vísceras podem ser processadas para

aproveitamento em rações para animais. Apresenta a carne e outras partes

comestíveis do caranguejo-uçá, conforme a ADEMA (1984b), valor nutritivo por

grama o cálcio (0,124%), sódio (0,216%), fósforo (0,32%), lipídio (1,875%) e

nitrogênio (2,95%); e valor calorífico entre 69,97-121,40 Cal/100g.

Para Castro (1986), a grande abundância e facilidade de captura (que não

necessita métodos e técnicas de pesca sofisticados) são fatores que apontam o

caranguejo-uçá como um dos principais recursos pesqueiros estuarinos.

O caranguejo é apreciado em pratos culinários, servido apenas cozido ou

acompanhado de um molho, a caranguejada. Este tipo de preparo deve-se ao fato

de que o exoesqueleto do crustáceo perde a dureza quando aquecido com água

(cozido), tornando-se avermelhado e frágil e a carne, parte comestível, apta ao

consumo humano.
2.1. O “Kit Caranguejo”

Freivalds (1999) afirma que “as ferramentas são tão antigas quanto à

própria raça humana (pp. 461, tradução nossa)”4. São elas frutos da necessidade do

homem primitivo de ampliar a força, eficiência, além do comprimento, de seus

braços e pernas. Concebidas de simples pedras e ossos pontiagudos, atrelados ou

não a uma espécie de cabo de madeira. O homem pré-histórico percebe nestes

elementos um auxílio na caça, extração de carne, couro e pele, na colheita, defesa

do bando e fabricação de seus utensílios. O desenvolvimento e eficiência das

ferramentas com o uso de engates de precisão e anatomia da mão (NAPIER, 1962

apud FREIVALDS, 1999)5.

Ferreira (2000) descreve “kit” como uma palavra de origem inglesa que

designa um “conjunto de materiais reunidos em uma embalagem adequada e usada

para um fim específico” (pp. 412). O “kit caranguejo” é um produto evoluído de

ferramentas similares (de uso similar, também) destinado à extração da carne

contida no exoesqueleto do caranguejo, quando este é preparado como um prato

culinário. Geralmente é composto por duas peças: martelo e tábua. A tábua serve

como o suporte de apoio do caranguejo e o martelo como ferramenta para quebrar a

crosta do animal. O kit pode apresentar uma caixa para transporte onde o usuário

poderá deslocar o produto para lugares diversos, como bares, restaurantes,

campings, praia, etc.

4
“Tools are as old as the human race itself”.
5
NAPIER, J. The evolution of the hand. [s.l]: Sci. Am., 1962. 207:56-62.
3. BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

3.1. Definição

Segundo Garhammer (1980), a biomecânica pode ser definida como a

aplicação da mecânica em organismos vivos e tecidos biológicos. Desta forma, tal

área de conhecimento concilia três campos do conhecimento: a mecânica, a

cinesiologia e a anatomia; cujo objetivo é estudar os movimentos realizados pelo

corpo humano, a construção do esqueleto e modo como os músculos agem no

corpo, tendo como parâmetro as leis newtonianas, sendo esta a principal suposição

da biomecânica ocupacional (KROEMER, 1987 apud MARRAS, 1999)6. Iida (1990)

alega que a biomecânica ocupacional estuda as interações entre o trabalho o

homem, focalizando os movimentos músculo-esqueletais envolvidos e suas

conseqüências. O objetivo da biomecânica ocupacional é, conforme o referido autor,

analisar as questões das posturas corporais no trabalho e a aplicação de forças.

3.2. Mecânica muscular

Há dois tipos de forças na natureza, conforme Marras (1999): a força

externa – refere-se àquela força aplicada sobre um objeto, como resultado da ação

da gravidade sobre este – e a interna – que se refere à força proveniente de um

corpo (no caso, o músculo). Segundo Rosa Filho (2001), os músculos produzem

forças que agem através do sistema de alavancas ósseas. O sistema ósseo tende a

mover-se ou agir estaticamente contra uma resistência, nunca ocorrendo a força

6
KROEMER, K.H. E. Biomechanics of the human body. In: WILEY, J.; SONS (eds). Handbook of
human factors. New York: Salvendy, 1987.
interna no centro das articulações e sim, mantém-se certa distância em relação ao

centro de rotação (SPRING et al., 1995).

3.2.1. Força motora

Trabalhos estático e dinâmico

Segundo Iida (1990), os tipos de atividades motoras realizadas pelo corpo

humano podem determinar dois tipos de trabalho:

• Trabalho Estático: requer contração isométrica de grupos musculares

para realizar atividades. Iida (1990) relata que este trabalho é altamente

fatigante e, se possível, deve ser evitado, pois a contração dos grupos

musculares envolvidos em uma atividade estática promove o aumento da

pressão interna, o que provoca o estrangulamento dos capilares, que são

vasos sangüíneos muito finos (cerca de 0,007 mm) responsáveis pelo

transporte de oxigênio ao músculo e retenção dos subprodutos do

metabolismo, como o gás carbônico.

• Trabalho Dinâmico: permite movimentos alternados de contrações e

relaxamentos, conferindo ao músculo uma melhor irrigação sangüínea.

Percebe-se que o músculo passa a funcionar como uma bomba

sangüínea, que ativa a circulação dos capilares, de modo que o músculo

passa a receber mais oxigênio, tornando-se mais resistente à fadiga, visto

que o volume de sangue circulado aumenta em até 20 (vinte) vezes, se

comparado ao estado de repouso.


3.2.2. Regras fundamentais da Física

Para tanto, faz-se necessário o entendimento de termos mecânicos, como

torque e cadeia cinética.

Obtêm-se no movimento realizado por uma articulação uma espécie de

alavanca natural, que consiste no giro ou movimentação em torno de um ponto fixo,

o fulcro. O estudo deste movimento é denominado Torque ou Momento de Força


r
( M ) (GARHAMMER, 1980). Para Wirhed (1986), o Torque é obtido pelo resultado
r
da aplicação de determinada força ( F ) em um ponto (fulcro) a uma determinada
r r
distância ( d ) ( M = F × d ). O comprimento entre o fulcro e a força aplicada é

denominado braço de força. E distância entre o fulcro e peso ou resistência é dito

como braço de resistência.

Há tal relação entre os movimentos realizados pela alavanca (uma barra

rígida que gira em torno de um ponto fixo quando uma força é aplicada para vencer

a resistência) e os movimentos do corpo humano. Haja vista que ambos realizam o

mesmo tipo de movimento, o rotatório ou angular. Pois este tem um ponto fixo que

em torno deste o movimento é realizado, formando um ângulo. Rosa Filho (2001)

afirma que todas as partes de um determinado corpo que o realizam movem-se ao

mesmo ângulo, direção e tempo, porém, em distâncias diferentes. O mesmo autor

diz que a maioria dos movimentos do corpo é angular, exceto os da escápula que é

linear ou translatório, trata-se de um tipo de movimento onde todas as partes

percorrem os mesmos espaços, ângulos e ao mesmo tempo, sem que haja um

ponto fixo de referência.

Baseado no comportamento cinemático das alavancas pode-se, por

analogia, qualificar em três classes que, segundo Garhammer (1980), são:


• Primeira classe: o fulcro (ou eixo) se localiza entre a força e a

resistência, apresentando como conseqüência o deslocamento dos dois

braços da alavanca em direções opostas, como em uma tesoura,

gangorra ou pé-de-cabra. A vantagem desta alavanca é que ela favorece

a força ou a amplitude de movimento, porém diminui a resistência.

Exemplo típico é o do músculo gastrocnêmico da panturrilha da perna,

que realiza o movimento de supinação do pé, tendo os artelhos como

base do corpo, como ilustra a Figura 10.

Figura 2 - Alavancas de primeira classe

• Segunda Classe: o fulcro se encontra posicionado em uma das

extremidades, tendo entre este a força a resistência, como o carrinho de

mão ou o quebra-nozes. Há neste caso o sacrifício da amplitude do

movimento para o benefício da força. No corpo existe apenas a abertura

que a boca realiza (vide Figura 11).

Figura 3 - Alavancas de segunda classe

• Terceira classe: o fulcro se encontra em umas das extremidades,

assim como a resistência e, entre eles, a força. Mecanismo semelhante


ao da mola de portas de “vai-e-vem” e é o mais comum das alavancas do

corpo, pois permite que o músculo se prenda próximo à articulação,

obtendo mais extensão de movimento, velocidade e distância com

encurtamento muscular mínimo. Um caso comum é o bíceps quando o

antebraço é fletido em uma angulação qualquer e um projétil é segurado

pela mão, como na Figura 12. No caso do “kit caranguejo”, a postura da

tarefa se enquadra como uma alavanca de 3ª classe.

Figura 4 - Alavancas de terceira classe

3.3. A Biomecânica e o design de ferramentas

Matern & Waller (1999), afirmam que quando há uma situação de uso de

instrumentos manuais, é necessário se considerar a função dos membros superiores

(braços, antebraços e mãos), especialmente as mãos. A mão humana é uma das

“ferramentas” mais completas, versáteis e sensíveis (IIDA, 1990). Ela compreende

mais de 20 articulações entre 27 ossos, movidos por 33 músculos distintos, como

ilustra melhor a Tabela 2 (MARTINEZ & LOSS, 2001). Pela mobilidade dos dedos

(com o polegar trabalhando em oposição aos demais) há uma imensa variedade de

manejos, com variações de velocidade, precisão e força. De acordo com Freivalds

(1999), as mãos e os pés humanos podem ser considerados ferramentas naturais.

Os instrumentos e ferramentas podem ser considerados como extensões das mãos


e dos pés, visando ampliação do alcance, força e precisão de movimentos. A Tabela

2 apresenta os movimentos realizados por cada segmento do membro superior.

Tabela 7 - Movimentos do membro superior - adaptação de Panero & Zelnik (2002)

Músculo Osso Articulação Movimentos


Supraespinhal Flexão - 180°
Infraespinhal Hiperextensão - 45°
Redondo menor Rotação em abdução -180°
Clavícula
Redondo maior Glenoumeral Rotação em posição neutra
Braço

Espátula
Deltóide Acromioclavicular interna - 135°
Esterno
Subescapular Esternoclavicular Rotação em posição neutra
Úmero
Coracobraquial externa - 45°
Bíceps braquial Abdução - 90°
Tríceps braquial Elevação - 40°
Supinador longo
Supinador curto
Braquial anterior Supinação com braço dobrado -
Ancôneo 85°
Pronador quadrado Pronação com braço dobrado -
Antebraço

Pronador redondo 85°


Úmero-radial
Palmar maior Rádio Supinação com braço esticado -
Úmero-ulnar
Palmar menor Ulna (cúbito) 62,5°
Radioulnar
Primeiro radial Pronação com braço esticado -
Segundo radial 62,5°
Cubital posterior Flexão - 145°
FLSCD Extensão - 180° (neutra)
FLPCD
ECD

Interósseos dorsais
Escafóide
Interósseos ventrais
Semilunar Circundução
Abdutor do mínimo
Piramidal Abdução (desvio ulnar) -30°
Flexor curto do mínimo
Pisiforme Adução (desvio radial) - 15°
Oponente do mínimo
Trapézio Radiocárpica Flexão palmar - 70°
Extensor próprio do mínimo
Trapezóide Intercárpica Dorsiflexão - 65°
Adutor do polegar
Mão

Capitato Metacarpofalângica Abdução do polegar - 40°


Abdutor curto do polegar
Hamato Interfalângica Flexão falange p./palmar - 90°
Abdutor longo do polegar
Sesamóide Carpometacárpica Flexão falange m/falange p -
Oponente do polegar
(5) Metacarpos 110°
Flexor curto do polegar
(5) Falanges distais Flexão falange d/falange m - 45°
Flexor longo do polegar
(4) Falanges médias Oposição do polegar
Extensor curto do polegar
(5) Falanges proximais
Extensor longo do polegar
Para o design de ferramentas é necessário perceber a maneira de como o

ser humano realiza o engate ou preensão nos instrumentos manuais, o manejo. De

acordo com Iida (1990), é a forma de “engate” que ocorre entre o homem e a

máquina, pelo qual se torna possível, ao homem, transmitir movimentos de comando

à máquina. Dias (1985) afirma que o “engate” é a forma que a mão assume no

contato com o objeto e pode ser classificado em: contato simples (quando a

transmissão de forças se faz num só sentido); pega (quando a mão trabalha como

uma pinça, podendo utilizar também os dedos); empunhadura (quando a mão ou

alguns dedos envolvem o objeto, atingindo a transmissão máxima de forças).

Grandjean (1998) concluiu que durante o trabalho manual a mão deve acompanhar

o eixo longitudinal do braço, que confere características da postura neutra.

Entretanto, existe um tipo de postura mais favorável à amplitude de

movimentos e carga de força realizados pelo indivíduo, a chamada postura

funcional. É ela a interação ideal proporcionada pela mão no sistema homem-

máquina, descrita como uma postura onde a mão em repouso assume uma

determinada posição, sendo esta, basicamente, a posição mediana do intervalo de

movimento de cada articulação, incluindo o punho e a rotação (pronação e

supinação) do antebraço (SEGALLE, 2004). Há o equilíbrio entre os músculos de tal

modo que seu tônus normal, quando em repouso, a posição resultante é dita como

funcional. O mesmo autor afirma que as posturas funcionais proporcionam pega

fácil, onde a rigidez é menos provável de ocorrer e, caso ocorra, garante a

realização dos movimentos finos (de pequena amplitude), em um intervalo de tempo

útil. A figura 17 relaciona tipos de engates realizados durante a preensão no martelo

do “kit caranguejo”.
Figura 5 - Tipos de engate e preensão da mão - adaptação: Pastre (2001)

A postura funcional apresenta como vantagem em relação à postura

neutra (do punho) o fato de que a primeira é exercida de modo que as articulações

envolvidas, assim como os músculos, realizem o mínimo de esforço, conferindo à

postura a sensação de descanso; a segunda já exige determinada carga de força

por parte da musculatura radioulnar para manter estático o punho e mão, sem que

ocorra qualquer desvio (quer seja cubital, quer seja radial), flexão e extensão.

Segundo Kiser & Rodgers (1983) muitas atividades dependem da

habilidade das mãos para desenvolverem força. As mãos são a ligação entre o

trabalhador/usuário e os objetos a serem carregados, puxados, empurrados ou

manipulados. Um engate ineficiente, com um design que não esteja enquadrado de

acordo com princípios ergonômicos, podem tornar o trabalho (ou a realização da

tarefa) difícil ou quase impossível de ser executado. O dimensionamento de um

objeto influencia na apreensão ou engate do mesmo (pega, empunhadura ou

contato simples) e no manejo deste, além de como a força será aplicada para a

execução da tarefa. As dimensões (antropometria) das mãos determinarão a força

por unidade de área na mão e influenciará o conforto da preensão de determinado

objeto.
Freivalds (1999) afirma que os princípios e problemas relacionados ao

design de instrumentos e ferramentas manuais, consideram os tipos de preensão, a

carga muscular (estática – isométrica), posturas do punho (desvios ulnar e radial,

flexão, extensão, pronação e supinação), a aplicação de força, movimentos

repetitivos, o sexo e a idade das pessoas, além das atividades das tarefas a que se

destinam as ferramentas. O autor afirma, ainda, que para o design da ferramenta, é

necessário se considerar: o diâmetro, o comprimento, a forma, a superfície (texturas

e materiais), o ângulo de preensão, o peso, a vibração (se houver o uso de algum

sistema eletro-mecânico) e o uso de luvas (Equipamentos de Proteção Individual).

Grandjean (1998) afirma que as empunhaduras não adaptadas à

anatomia da mão ou que pouco valorizam a biomecânica do trabalho, podem

influenciar a produção e eventualmente causar danos à saúde do

trabalhador/usuário. De acordo com Freivalds (1999), o desempenho da

empunhadura aumenta com a seção de até 22 mm de diâmetro (ou seção), 120 mm

de comprimento e ângulo (eixo da preensão em relação ao dedo indicador) de 60o

para manejo de precisão. A Tabela 3 aborda dados antropométricos mais

detalhados usados para a configuração do “kit caranguejo”.

Tabela 8 - Medidas antropométricas da mão de homem e mulher, em cm. Valores em três percentis
(2,5, 50 e 97,5), adaptado de Dreyfuss (1966 apud Dias, 1986)7

Percentil A B C D E Percentil A B C D E
MULHER
HOMEM

97,5 20,8 9,6 8,1 12,7 7,6 97,5 19,0 7,8 7,8 11,1 6,6

50 19,0 8,8 7,6 11,4 6,8 50 17,5 7,3 7,3 10,1 6,0

2,5 17,3 8,1 7,1 10,1 6,0 2,5 15,7 6,6 6,6 9,1 5,5

7
DREYFUSS, Henry. The measure of man: Human factor in Design. [s.l.: s.n], 1966.
Figura 6 - Indicação das medidas da tabela 2, segundo Dreyfuss (1966 apud Dias, 1986)8

8
DREYFUSS, Henry. The measure of man: Human factor in Design. [s.l.: s.n.], 1966.
4. ATRAÇÃO BISSOCIATIVA E VALOR SEMÂNTICO

4.1. Atração Bissociativa

O conceito estabelecido por Kloester (1964, apud BAXTER, 2001)9 para

bissociação é fundamentado na natureza do humor, sendo ele, o humor, engraçado

por ter um fim ridículo, inusitado ou absurdo, ao contrário do que se entende por

comum ou normal. Para Ferreira (1999) a bissociação é definida por uma

“associação mental simultânea de uma idéia ou objeto com dois campos que

normalmente não se consideram como relacionados”.

A atração bissociativa, segundo Baxter (2001), afirma que o objeto busca

outras concepções além da sua para configurar-se, formando um contraste formal e

configuracional. Ademais, almeja a quebra da expectativa do usuário em relação ao

referido produto. Sendo assim, o público-alvo, ao visualizar o produto, confere ao

mencionado outras funções, nomes ou até lhe atribui apenas o caráter decorativo

(BAXTER, 2001). Porém, ao usufruir do mesmo, acaba por entender que tal objeto

atende às necessidades propostas.

O inusitado é perfeitamente usado como estímulo para não só quebrar

paradigmas configuracionais (forma e cor, principalmente), mas também ampliar a

interação produto-usuário por intermédio dos requisitos funcionais. Baxter (2001) dá

como exemplo o espremedor de laranja de Phillipe Stark, cujas formas, material e

dimensionamento, por exemplo, remetem a não pensar, à primeira vista, em um

espremedor, mas em um inseto exótico ou espaçonave terrestre. Todavia, este

produto, com três pernas longas e dobras que sustentam um corpo alongado e

limpo, com ranhuras semelhantes ao de um espremedor comum, consegue suprir a

9
KLOESTER, A. The Act of Creation. London: Hutchinson & Co., 1964.
necessidade primária (retirar o suco da fruta – mesmo que não ofereça melhores

dispositivos para a realização da tarefa), ainda que se assemelhe a um objeto

decorativo.

Tal artifício tem também por finalidade a diferenciação perante aos

similares, personalizando o produto, refletindo o anseio do usuário em diferenciar-se

dos outros, “[…] exprimir, por meio da posse de objetos, sua personalidade ou

presumido status social […]” (GUIMARÃES, 2000). Heskett (1980, apud

GUIMARÃES, 2000)10 comenta que quando um padrão familiar ao consumidor é

incorporado a uma outra forma nova e radical, o que é incomum pode ser aceito por

muitos, porém se fosse feito de outra maneira, haveria rejeição.

Buscando tal distinção em relação aos produtos existentes no mercado

que seguem a “teoria” de Centre Georges Pompidou (1980, apud GUIMARÃES,

2000)11, que relata que “um ferro de passar deve parecer um ferro de passar; uma

máquina fotográfica, uma máquina fotográfica”, ou seja, a função do objeto deve vir

“estampada” na sua aparência, o que revela uma padronização da estética do

produto em função de sua função. Por conta deste critério, o consumidor encontra

dificuldade de perceber as qualidades funcionais em determinados produtos, uma

vez que a aparência dos similares no mercado denota pouca variação, como ocorre

com os “kit’s caranguejos”.

Baxter (2001) acresce que muitas das vezes o consumidor não tem

oportunidade de verificar o funcionamento do produto antes de comprar ou apenas

usar. Portanto, grande parte do julgamento do funcionamento do produto é feito pela

aparência visual do mesmo. Para tanto, o referido autor menciona, ainda, que o

produto precisa expressar bom funcionamento, onde o aspecto funcional é

10
HESKETT, J. Industrial design.. New York: Oxford University Press, 1980. 216 pp.
11
CENTRE GEORGES POMPIDOU. L’object industriel. Paris : Centre Georges Pompidou/CCI,
1980. 112 pp.
importante, por meio da aparência. Caso a aparência do produto seja mais

importante, a confiança do produto é obtida a partir do momento em que o próprio

seja um reflexo do consumidor e que auxilie na construção da imagem deste mesmo

consumidor perante aos demais.

4.2. Semântica

Para Baxter (2001), juntar elementos aparentemente diferentes que não

possuam relação entre si é compreendido por Sinética. Tal técnica provém do

melhoramento da brainstorming (uma técnica de reunião em que os participantes,

usualmente de diferentes especialidades, expõem livremente suas idéias em várias

rodadas de curto tempo, em busca de solução criativa para um dado problema) e é

aplicada, conforme Gordon (1961, apud BAXTER, 2001, pp. 68)12 na solução de

“[…] problemas inéditos ou quando se deseja introduzir mudanças mais profundas

em produtos e processos”.

A Sinética se preocupa com a exploração de todos os aspectos possíveis

do problema, por meio de conceitos novos, durante a fase conceitual, prevenindo o

aparecimento de conceitos conservadores. Haja vista que muitos projetistas deram

vida a produtos com essência tradicional, ou melhor, um padrão já estabelecido,

devido ao mecanismo mental de transformar o estranho em algo familiar. Baxter

(2001) relata a tentativa do homem em decodificar uma imagem nova, alheia a sua

situação normal e sua mente logra eliminar as estranhezas. Este recurso, como já

descrito, “[…] leva a um conjunto de soluções tradicionais para o projeto” (BAXTER,

2001, pp. 78).

12
GORDON, W. J. J. Synectics. New York: Harper & Row, 1961.
Para que haja inovação, é necessário que se faça o caminho inverso, ou

seja, transformar o padrão (familiar) em algo estranho (BAXTER, 2001). É preciso

que o designer não apenas mude o ponto de vista sobre certo conceito, mas que

acrescente a este familiar uma outra visão coexistente, porém estranha. Tal prática

se vale das analogias, que são formas de raciocínio onde há transferências de

propriedades de um objeto para outro diferente, havendo ainda certas propriedades

em comum. As analogias são classificadas, de acordo com Baxter (2001) em:

• Analogia pessoal: é caracterizada pela inversão de papéis, como o do

projetista com o do mecanismo a ser elaborado. Exemplo deste caso é

quando o projetista imagina-se no lugar de moléculas, vagando e

movimentando em meio a uma reação química, sendo empurrada por

outras forças moleculares;

• Analogia direta: estabelece comparações com os fatos reais,

conhecimentos e tecnologias semelhantes. Utiliza-se bastante da biônica.

Tal caso pode ser ilustrado quando se olha para um helicóptero e sua

estrutura aerodinâmica, que fora baseada no vôo da libélula;

• Analogia simbólica: utiliza-se da objetividade e impessoalidade de

imagens para descrever um problema. Pode-se citar como modelo o

desenvolvimento de um mecanismo compacto para levantar pesos, haja

vista que se imaginou uma corda indiana saindo do cesto e que fique em

pé;

• Analogia fantasiosa: a busca de novos pontos de vista ocorre quando

há fuga consciente para o mundo fantasioso, não seguindo leis e regras

pré-estabelecidas; dá-se “asas” à imaginação. Pode-se referir como

exemplo quando se imagina o funcionamento de um mecanismo fora da


gravidade, haja vista que não há intenção de violar tal lei. Pretende-se

criar soluções que possam ser adaptadas às reais situações e, se

encontrado brechas nas leis físicas (por exemplo), fazer com que tais

alternativas de caráter inovador sejam encaixadas.

Baxter (2001, pp. 80) acrescenta às analogias a função de criar soluções,

“[…] descobrindo-se como um problema semelhante é resolvido em um contexto

diferente […]”.

4.3. Valor Semântico

Oposto ao pensamento de Centre Georges Pompidou (1980, apud

GUIMARÃES, 1999)13, a inovação pelo uso de subsídios simbólicos, quer seja no

uso de materiais que remetem a um costume, tradição e hábitos afins, quer seja pela

configuração apresentada que representa as práticas citadas.

Guimarães (1999) corrobora a assertiva ao dizer que ainda que o objeto

(em relação ao seu concorrente) tenha similar tecnologia (função primária) e

qualidade (durabilidade), poderá ser substituído por um outro que melhor apresentar

(visualmente) estes e outros atributos.

Para compreender melhor as funções prática, estética e simbólica, o

referido autor explana a diferença entre elas. A primeira função remete às

necessidades (objetivas) do produto em relação ao usuário, o que realmente ele

precisa. A segunda e a terceira devem corresponder às necessidades (subjetivas)

do usuário em relação ao objeto, o que ele quer que o produto tenha. A função

13
CENTRE GEORGES POMPIDOU. L’object industriel. Paris : Centre Georges Pompidou/CCI,
1980. 112 pp.
estética, particularmente, aborda o perfil subjetivo de beleza do objeto, sendo

coligada à função simbólica. Esta última decodifica o significado que a segunda

função representa para o usuário e faz-se elo entre as expectativas que o produto

oferece e o que ele realmente propõe como função prática.

A frase de Sullivan “a forma segue a função (de uso)” resume todo o

pensamento ideológico funcionalista, cuja forma é fruto do meio, do contexto

funcional, de caráter seletivo, de modo automático e determinístico. A também

chamada função prática remete a um pensamento racional sobre o objeto a ser

projetado, cujo foco de estudo é o uso. Apresenta como conseqüência um produto

com pouco apelo estético e simbólico, apenas a preocupação funcional do mesmo.

O uso de formas mais limpas e puras, formas que remetam à geometria e

à simetria, universalizaram o modo de fazer design. De certo, criou-se um diferencial

entre o fabril e o artesanal. Porém, mais tarde, a preocupação com a função prática

acarretou problemas como pouca variação entre os produtos, dificultando o

processo de avaliação do consumidor.

Diante disso, surgiram questionamentos sobre a viabilidade deste tipo de

raciocínio. A partir daí, resgatou-se a importância da função simbólica no produto,

uma vez que tal fator reflete a necessidade (cultural) do consumidor em seu

cotidiano. Guimarães (1999) afirma que o produto não deve ser visto como um ser

inanimado subordinado ao homem para tomar vida. Contudo, o objeto é vivo, pois

por meio de sua forma (estética) estabelece comunicação com o consumidor. Tal elo

é reflexo de não apenas uma, mas múltiplas funções (de uso, simbólica e estética).

Niemeyer (2003, pp. 51) frisa que, de acordo com a teoria da informação,

“quanto mais um produto informar, mais forte é a sua identidade”. Portanto, a

semiótica estuda esta interação semântica entre o homem os seus utensílios,


partindo do pressuposto de que a mesma trata da compreensão dos significados de

qualquer fenômeno de natureza e intuito comunicativos.

Além de corresponder tecnicamente à função de uso, o objeto deve ter

uma aparência visual adequada às necessidades projetuais (BAXTER, 2001). Para

tanto, durante a fase conceitual, o designer deve adicionar caracteres

semantológicos ao produto, ou seja, atribuir ao objeto valores e significados que

possam garantir “à primeira vista” o cumprimento da funcionalidade do mesmo. Esta

corrente de significados pode ocorrer na escolha de um material aparentemente

mais resistente, ou também, no uso de formas correlacionadas com a natureza

(orgânica), ou ainda, na utilização das cores, por exemplo.

Baxter (2001) revela que todos os seres têm uma auto-imagem,

fundamentadas nos valores pessoais e sociais que estes possuem. Afirma, ainda

que, é da natureza do ser humano cerca-se dos objetos que sejam o reflexo desta

auto-imagem. Pessoas comparam a si próprias com outras procurando por

similaridades e diferenças para formar sua autoidentidade (SPROLES, 1985 apud

MIRANDA et al., 2002)14. Por fim, o produto é, além de extensão e ampliação das

habilidades do homem, tal quer MARRAS (1999), é também espelho de seus

desejos e necessidades.

Guimarães (1999) afirma que um artefato pode carregar carga simbólica

apenas com a inclusão de elementos comunicativos que, para fins técnico-

econômicos, não apresentam grandes despesas. Porém, o valor agregado na fase

final (consumo) é quem determina o custo do produto. Por exemplo, o uso de algum

material mais nobre (caro) ou superfície com outro acabamento denotam status ao

usuário. Este exemplo, citado pelo referido autor, confere o anseio do consumidor

14
SPROLES, G. B. Analyzing fashion life cycles - principles and perspectives. Journal of Marketing,
Vol. 45. Fall: [s.l], 1981.
por querer diferenciar-se dos demais indivíduos, por ostentar aquele produto de

preço elevado, apesar de não ser o único que o possui, uma vez que se trata de um

fruto de uma produção em série, não de obra de arte (analogia aos colecionadores

de obras de arte do Renascimento).

Há outras espécies de sentimentos que a imagem do produto pode

imprimir, tais como a segurança, a durabilidade (resistência), alegria, seriedade,

praticidade e, também, um perfil ecológico (reaproveitamento de materiais e/ou

preservação do meio ambiente) (BAXTER, 2000). O valor simbólico agregado ao

valor funcional dos objetos de consumo vem atender a um objetivo claro:

acompanhar as mudanças das estruturas sociais e interpessoais (BAUDRILLARD,

1995 apud MIRANDA et al., 2002)15.

Para tanto, o “kit caranguejo” deve carregar em sua imagem o valor

semântico que o seu uso lhe confere, ou melhor, os valores tradicionais (simbólicos)

existentes na atividade devem fazer-se presentes na composição da forma do

produto.

15
BAUDRILLARD, J. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Elfos Ed.; Lisboa: Edições 70, 1995.
5. MÉTODOS E TÉCNICAS

Para o desenvolvimento do produto “kit caranguejo” aplicou-se a

intervenção ergonomizadora, conforme Moraes & Mont’Alvão (1998).

5.1. Técnicas de pesquisa descritiva

Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, na qual,

segundo Moraes & Mont’Alvão (1998), o pesquisador apenas busca conhecer e

interpretar a realidade, a fim de descrever, classificar e observar os seus fenômenos,

sem que haja interferência deste para modificá-la. A partir do momento em que se

descreverá o uso do “kit caranguejo” e todas as suas peculiaridades, e também,

caracteriza-se como pesquisa aplicada, pois conforme Marconi & Lakatos (1996),

tem como principal ênfase o interesse prático, isto é, que os resultados seja

aplicados ou utilizados, imediatamente, na solução de problemas que ocorrem na

realidade.

5.1.1. Observações

Segundo Gonçalves (2004) a observação é um dos meios que o ser

humano mais utiliza para conhecer e entender pessoas, coisa, enfim, o mundo que o

cerca. No caso deste trabalho, tratar-se-á da especificidade desta observação, ao

passo que, para Moraes & Mont’Alvão (1998), uma das condições para tal é a

demarcação dos limites desta e definir o que se quer observar.


Neste presente trabalho, fez-se uso da observação assistemática com os

usuários em bares e restaurantes de São Luís que, para Fernández-Ballesteros

(1996 apud GONÇALVES, 2004)16, consiste na coleta de impressões e registros

acerca de um determinado fenômeno. Como artifício, o contato direto com as

pessoas que serão observadas ou através de instrumentos auxiliares. Será utilizada

como uma das formas de extração de dados durante a apreciação ergonômica, que

será descrita posteriormente.

Também, de igual importância, a observação sistemática lida com a

escolha da unidade de observação, como afirma Gonçalves (2004), de modo que

possa se constituir em comportamentos individuais, assim como em relações ou

interações entre duas ou mais pessoas, ou entre o individuo e o meio ambiente17.

Este tipo de observação será abordado mais adiante na fase de diagnose

ergonômica.

5.1.2. Entrevistas

Técnica de coleta de dados onde ocorre contato direto entre o

entrevistador, aquele que coleta as informações, e o entrevistado, o que as fornece,

independente de que seja ou não o entrevistado o foco das informações

(FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, 1996 apud GONÇALVES, 2004) 18.

Tal artifício foi empregado na apreciação ergonômica, de maneira

estruturada, onde a entrevista representa, para Fontana & Frey (1994 apud

16
FERNÁNDEZ-BALLESTEROS. R. Introducción a la evaluación psicológica. vol. 1. Madrid:
Pirámide, 1996.
17
Ibid.
18
Ibid.
GONÇALVES, 2004) 19, um roteiro esquematizado cujas perguntas são elaboradas a

partir de estudos sendo que estas visam limitações quanto ao tipo de respostas.

5.1.3. Questionários

A aplicação de questionários busca a complementação das informações

adquiridas na entrevista, uma vez que se centra neste os tipos de dados que se

desejar obter. É realizado de forma indireta, constituído de perguntas de múltipla

escolha de respostas, sendo que o questionário visa o direcionamento dos dados

através da facilidade de resposta das perguntas. Goddar & Villanova (1996)

acreditam que os questionários possibilitam a uma análise comparativa de respostas

diferentes de várias pessoas.

Durante a diagnose ergonômica propôs por meio de questionários

obterem maiores informações, servindo como reforço da entrevista. Já na projetação

ergonômica, houve o uso do questionário para a validação do teste de usabilidade.

5.2. Técnicas de análises de produtos similares

Tais técnicas têm por finalidade o esclarecimento do problema projetual, a

interpretação das informações para o projeto e preparar o campo de trabalho para a

geração de idéias (RODRIGRUEZ, 198[?]). Estas técnicas analíticas são aplicadas

aos dados levantados durante a apreciação ergonômica, que será mais adiante

abordada.

19
FONTANA, A. & FREY, J. H. Interviewing: The Art of Science. In: DENZIN, N. K. & LINCOLN, Y.
S. (orgs.). Handbook of Qualitative Research. Sage: Thousand Oaks, 1994. pp. 361-376.
5.2.1. Análise de uso

Permite analisar os pontos negativos e criticáveis de um produto. Para

tanto, requer testes de uso por parte do analista, a fim de avaliar o desempenho do

objeto-alvo, sugerindo para as falhas anotadas e questionadas opções de solução.

5.2.2. Análise estrutural

Esta técnica se vale do reconhecimento e compreensão dos tipos e

quantidades de componentes, dos subsistemas, dos princípios de montagem, das

tipologias de união e carcaça utilizadas pelo produto analisado. Deste modo, faz-se

necessária a presença do objeto-alvo para tal estudo e compreensão de sua

estrutura, uma vez efetuado registro gráfico (desenho, detalhamento construtivo ou

foto).

5.2.3. Análise morfológica

Esta análise permite ao designer compreender o produto a partir de sua

forma, seu significado estético para com o consumidor e suas intenções

mercadológicas. O conhecimento prévio do analista, por meio desta técnica, permite

ao designer poder fazer uma releitura do produto (redesign) e, como quer Rodriguez

(198[?], pp. 147) “[…] propondo uma nova ‘cara’ ao produto […]”. O objetivo da

análise morfológica é, para o referido autor, “[…] compreender a concepção formal

do produto, ou seja, a composição plástica, por meio do estudo de suas linhas


geométricas, das transições entre suas partes componentes de seu acabamento

superficial”.

5.2.4. Análise sincrônica

Entende por análise sincrônica a avaliação qualitativa de um universo de

objetos, sistemas ou produtos similares. Isto se dá por meio de comparação dos

atributos (eleitos de acordo com os requisitos projetuais, de preferência) conferidos

aos produtos, remetendo-lhes peso (grau de importância que variam de 1 a 5) e, por

conseguinte, julga-se por meio de notas (entre 0 e 10) os mesmos itens qualitativos

dos produtos analisados.

5.3. Intervenção ergonomizadora (Moraes & Mont’Alvão, 1998)

A intervenção ergonomizadora é dividida várias etapas, como: apreciação

ergonômica, diagnose ergonômica, projetação ergonômica, avaliação/validação e/ou

testes ergonômicos e detalhamento ergonômico e otimização. Entretanto, o referido

projeto fará o uso apenas das três primeiras fases apresentadas.

5.3.1. Apreciação ergonômica

Produzir princípios de projeto para o produto como um todo; trata da

definição do benefício básico e das necessidades do consumidor e compreensão

dos produtos concorrentes. O conceito do produto “Kit Caranguejo” foi definido por
meio de observações assistemáticas (registro em caderneta de campo),

depoimentos e relatos – entrevistas abertas – dos usuários sobre a prática da

quebra do caranguejo em bares na região litorânea de São Luis - MA, onde o

público-alvo apresentava ter idade entre 15 e 40 anos, maioria destro e do sexo

feminino.

Os resultados obtidos nesta etapa serviram de suporte para o

mapeamento de problemas ergonômicos detectados para a realização da etapa

seguinte: a diagnose ergonômica.

5.3.2. Diagnose ergonômica

Nesta fase há um afunilamento dos problemas e conferir prognósticos.

Para ratificar ou refutar os problemas verificados na apreciação ergonômica,

utilizam-se questionários, conversas (verbalizações), gravações em vídeos.

Durante a diagnose ergonômica fizeram-se observações sistemáticas da

realização de toda a tarefa, desde a visualização do crustáceo até a obtenção de

sua carne, por meio da quebra do seu exoesqueleto. Pode-se acompanhar a postura

realizada pelos usuários durante tal ato, bem como descrever por meio de

anotações as diferentes formas encontradas pelos usuários de quebrar caranguejo e

também os diferentes artifícios, como o uso de cabos de faca, chaves, garfos e

colheres, por exemplos (GUILHON & DINIZ, 2004). E, também, por meio deste tipo

de observação, pode-se traçar uma análise da tarefa realizada, por meio de um

fluxograma operacional do Sistema Homem-Tarefa-Máquina (SHTM), conforme a

analise de tarefa idealizada por Baxter (2001).


5.3.3. Projetação ergonômica

Método Projetual de Baxter (2001)

Nesta etapa da intervenção ergonomizadora, faz-se uso da metodologia

projetual de Baxter (2001), que consistem em três subfases: fase conceitual (projeto

conceitual), fase configuracional (configuração do produto) e fase de validação do

produto ou testes (detalhamento do produto).

A fase conceitual para Baxter (2001) demanda muita criatividade, uma

fase onde se analisa e define os problemas do produto, se gera e seleciona idéias

sobre conceitos escolhidos. Nesta etapa foi realizada uma pesquisa de similares

encontrados no mercado, com amostras de fotos in loco e extraídas da internet.

Elaborou-se uma ficha geral de análises de uso, estrutural, morfológica e sincrônica

dos similares, que compara qualitativa e quantitativamente os similares com os

princípios de projeto. Os resultados das observações assistemáticas, da aplicação

dos questionários e da pesquisa de similares serviram para compor a estrutura dos

requisitos projetuais, para só então serem geradas idéias, alternativas para a

necessidade dos usuários alvo. A seguir, escolheu-se uma alternativa, levando em

consideração os requisitos projetuais elaborados, para ser desenvolvida na etapa

configuracional.

Baxter (2001) relata que a etapa configuracional se inicia com a divisão

dos componentes para a fabricação. O autor afirma, ainda, que nesta fase é que se

pensa como cada componente do produto será fabricado, sendo as especificações

projetuais dos materiais escolhidos e os devidos processos de fabricação traduzidos

em desenhos técnicos. Durante a fase configuracional, procuraram-se apresentar os


princípios de projeto para os componentes, configuração e detalhamento dos

componentes (dimensionamento, detalhamento técnico, representação bi e

tridimensional, processos e materiais para a fabricação) da alternativa (idéia)

escolhida de acordo com os requisitos projetuais, na fase conceitual; Desenvolveu-

se um modelo de isopor do martelo, para melhor visualizar toda a questão de

manejo que envolve esta peça do produto e a questão de dimensionamento

antropométrico (a fim de evitar erros na fase projetual de dimensionamento).

A terceira fase é inicialmente, para Baxter (2001), parte integrante da

configuração do projeto, sendo considerada o detalhamento do projeto quando o

protótipo é testado, analisado e aprovado para a fabricação. Para a presente

monografia, procurou-se separar estas duas fases, pois como Baxter (2001) afirma,

o projeto detalhado trabalha de acordo com os resultados da fase configuracional,

do mesmo modo, o desenvolvimento de projeto em relação à fase conceitual. A

proposta final do projeto do “Kit Caranguejo” foi testada por meio de um modelo,

durante a fase de validação do produto, confeccionado em escala natural, em

madeira (Maracatiara), com uma esfera de aço furada fixada no ápice do martelo. O

modelo do “kit” deve ser testado em situação real de uso por 25 indivíduos, onde ao

final do uso aplicou-se um questionário fechado, com quesitos inerentes ao uso do

martelo.
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1. Apreciação Ergonomizadora

6.1.1. Entrevistas abertas e observações assistemáticas

Os usuários do kit afirmam que a prática de degustar a carne do

caranguejo é anti-higiênica, visto que os instrumentos utilizados não apresentavam

bom acabamento (tratamento da superfície - verniz ou selado, por exemplo - do

material empregado no produto) e facilidade de limpeza, notando-se que os restos

do crustáceo ficam impregnados entre as fibras da tábua de madeira. Verificou-se

também que os usuários executavam diferentes modos de quebrar caranguejo e que

estes possuem diferentes artifícios, como o uso de outros objetos (colheres, chaves,

garfos e cabos de facas) para a retirada da carne do exoesqueleto do caranguejo.

Durante a utilização dos instrumentos de quebra notou-se ruído

provocado pelo constante choque entre martelo e tábua. O manejo do martelo é dito

como fácil, pois para efetuar a quebra não necessita o usuário ter um tipo de

treinamento prévio, havendo peculiaridades na forma de quebrar. Notou-se,

também, que tal atividade requer um contínuo esforço físico, podendo apresentar

constrangimento ergonômico quanto à falta de apoio na empunhadura do martelo

provocando um abandono da ferramenta e utilização de outras formas alternativas

de realizar a mesma tarefa.


6.2. Diagnose ergonômica

A principio, observou-se que o hábito de quebrar crosta de caranguejo

para a degustação é uma rotina de fim de semana (entre os dias de sexta, sábado e

domingo), o que é valido afirmar que o esforço físico realizado durante o ato tem

menor peso em relação a atividades de carga de força similares, cuja freqüência é

diária.

Esta sub-etapa relata por meio de questionários, vídeos e observações

sistemáticas as diferentes maneiras que os usuários executam durante o ato de

extrair carne do caranguejo, quer seja com o próprio aparato, quer seja com outros

utensílios (garfos, faca, colher, chave, os próprios dentes, etc). Foram traçados, a

partir do comportamento (atividades) do usuário durante o consumo de caranguejo

(figura 18).

Figura 7 - Análise funcional da tarefa, conforme Iida (1990)


6.3. Projetação ergonômica - Método Projetual de Baxter (2001)

Utilizou-se a metodologia projetual de Baxter (2001) como suporte para a

projetação do produto, uma vez que tal método oferece subsídios necessários para

a produção de “[…] princípios de projeto para o novo produto” (BAXTER, 2001. pp.

174). Apesar de estar sendo usada, a intervenção ergonomizadora, com a aplicação

do método citado, busca não somente solucionar os problemas de ordem

ergonômica (não desmerecendo sua importância), mas também frisa valorar, com

igual mérito, os aspectos simbólicos e estéticos do produto em sua concepção e em

sua configuração.

6.3.1. Fase conceitual

Pesquisa de similares (análise de uso, estrutural, morfológica e

sincrônica)

Por meio de análise de uso, estrutural, morfológica e sincrônica dos

similares, constatou-se que dos 16 produtos encontrados apenas um é

industrializado (denominado Pranch Fort, fabricado pela Tramontina®), os demais

são artesanais. É remetida a estes 15 a despreocupação dos fabricantes com os

princípios ergonômicos, o que também reflete na pouca variação de forma, tamanho

e peso entre eles. Ressalta-se o martelo como um dos elementos dos “kits” que mais

apresentam diferenças como, por exemplo, pode ser semelhante à ferramenta

homônima a ele ou um simples porrete. Percebe-se que tais exemplares têm

acabamento inadequado (presença de cantos vivos e pouco resistência do material


à ação do tempo) e grandes variações de preço (R$4,00 a R$28,00). O produto

pode acarretar acidentes ao usuário, pois no ato da quebra o mesmo pode acertar

seus dedos ou ainda a cabeça do martelo pode se soltar caso não estiver bem presa

ao cabo podendo atingir alguém ou, ainda, escorregar da mão suja, pois se

constatou que a prática de quebrar caranguejo é bastante anti-higiênica. Alguns

“kits” encontrados não apresentam condicionamento do martelo na tábua ou de

ambos em algum lugar, o que torna mais incômodo o translado do produto. Tal falta

de saneamento se reflete no acúmulo de dejetos das crostas e carnes do caranguejo

nas superfícies da tábua e do martelo. A manutenção é feita com a limpeza à base

de água e sabão.

Detectou-se que foram usados como tipos de união dos componentes a

colagem e o encaixe; o prego também foi citado como interface de união. Os

materiais dos “kits”, em sua maioria, eram madeiras como: Angelim, Pau-cetim, Pau-

d’arco, Tatajuba, Mogno e Pau-marfim; mas houve um “kit” que utilizou em seu

acabamento fórmica e outro usufruiu do mármore.

Mais adiante, pode-se acompanhar o processo adotado para analisar os

16 similares encontrados no mercado, sendo que estes foram numerados para

facilitar a análise.
1 2

3 4

5 6

7 8
Figura 8 - Similares encontrados (1 a 8)
9 10

11 12

13 14

15

16

Figura 9 - Similares encontrados (9 a 16)


Análise de Uso

Tabela 9 - Análise de uso dos similares encontrados

DEFEITOS OU PROBLEMAS
Como se Nº do
Onde Quando Por que Solução
manifesta produto
Fica na
Tratar a
A carne se impregnado
Quebra-se o superfície da 1, 2, 9, 10, 13,
mistura com a Na tábua tábua restos de
caranguejo nela tábua com 14, 15 e 16
casca carne e/ou
algum isolante
casca
A forma e o Criar
peso não componente
Realização de
No martelo e/ou O martelo é possibilitam o que possibilite 2, 10, 11, 12,
esforço
porrete manuseado melhor menos esforço, 13, 15 e 16
repetitivo
rendimento da por meio da
atividade precisão.
Usar selador no
Material pouco material
Durante o Por não ter
resistente à Na tábua e no (madeira) ou Todos, exceto o
manuseio ou acabamento
ação do tempo martelo adotar outro 8 (tábua)
não adequado
(umidade) material mais
resistente
Por que a mão Criar ranhuras,
O martelo pode Durante o
- pode está suja rugosidades ou Todos
cair da mão manuseio
e escorregadia rebaixos
Pois podem Chamfrar os
Tábua – todos
Presença de Na tábua e no Durante o machucaras cantos ou criar
Martelo – 2, 10
cantos vivos martelo manuseio mãos e/ou formas menos
e 12
dificultar no uso pontiagudas
Pois não há Criar um
Não
algum sistema vazado ou um
condicionamento
de união do encaixe na 1, 2, 5, 8, 9, 10,
do martelo na Antes e depois
- martelo com a tábua ou adotar 11, 12, 13, 14,
tábua ou de do uso
tábua ou a uma caixa para 15 e 16
ambos em
contenção de portar o martelo
algum lugar
ambos e a tábua
Análise Estrutural

Tabela 10 - Análise estrutural dos similares encontrados

ESTRUTURA DOS PRODUTOS


Tipo de
Nº de Tipo de Nº do
montagem Material Acabamento
componentes união produto
(fabricação)
13 (6 tábuas, 6
Encaixe,
martelos e 1 Lixado e
colagem e Artesanal Pau-cetim 6
caixa para vernizado
prego
transporte)
9 (4 tábuas, 4
Encaixe,
martelos e 1 Lixado e
colagem e Artesanal Angelim 4
caixa para vernizado
prego
transporte)
7 (3 tábuas, 3
Encaixe,
martelos e 1 Lixado e
colagem e Artesanal Angelim 3
caixa para vernizado
prego
transporte)
Pau-d’arco (1),
Lixado e
2 (tábua e Encaixe e Angelim (5),
Artesanal vernizado 1, 5 e 14
martelo) prego Tatajuba (5)
(exceto o 14)
Mogno (5 e 14)
Mármore (tábua) e
2 (tábua e Encaixe e Lixado, polido
Artesanal Pau-cetim e Pau- 8
martelo) prego e vernizado
d‘arco ( martelo)
2 (tábua e Encaixe e Lixado e
Industrial Pinho 7
martelo) colagem vernizado
Lixado (2, 10,
Angelim (2 e 10),
11, 13, 15 e
Mogno (11 e 13),
2 (tábua e 16), vernizado 2, 10, 11,
Colagem (11) Artesanal Tatajuba (15 e 16),
porrete) (2), com 13, 15 e 16
Fórmica (11), Pau-
fórmica na
marfim (16)
tábua (11)
3 (2 porretes e 1 Lixado e
- Artesanal Mogno 9
tábua) vernizado
2 porretes - Artesanal Pau-marfim Lixado 12
Análise Morfológica

Tabela 11 - Análise morfológica dos similares encontrados – Dimensões

FORMAS DOS PRODUTOS

Dimensões (cm)
Nº do
Martelo ou Porrete
produto Tábua Caixa
Cabeça Ápice

1 18 x 26 x 1,5 8 x 12 x 5 1,3 ø x 17,5 -

2 19 x 24 x 1,5 - 2,5 x 2,5 x 19 -

3 15 x 22,5 x 1,25 7,5 x 12,25 x 4,5 1,25 ø x 18,25 24 x 17,5 x 18

4 17 x 25 x 1,6 8 x 11 x 6 1,35 ø x 16 23 x 18 x 17

5 15 x 23 x 2,25 7,5 x 10,5 x 7 1,5 (1) ø x 15,5 -

6 14,5 x 22 x 3,25 7,5 x 13 x 3,35 1,25 ø x 18 25,5 x 22,5 x 17,5

7 18 x 25 x 2,25 8,25 x 4 x 7,5 2,25 ø x 17,5 -

8 14 x 16 x 1,5 9 x 4 x 2,5 1,8 ø x 21 -

9 13,5 x 22 x 2 - 3 ø x 25 -

10 15 x 27,5 x 2,75 - 3 x 3 x 26 -

11 14 x 23,5 x 3,15 - 3,5 (3) ø x 25 -

12 - - 1,35 ø x 17 -

13 15 x 26 x 1,65 - 2,25 (1,35 )ø x 27 -

14 17 x 25 x 2 8,5 x 12 x 6 2,25 (1,5) ø x 17 -

15 17,25 x 24,5 x 1,85 - 2,25 ø x 29 x 4,75 x 0,65 -

16 12 x 15 x 1,25 - 2,8 ø x 17 -
Tabela 12 - Análise morfológica dos similares encontrados – Tipo de forma

FORMAS DOS PRODUTOS

Tipo de Forma
Nº do
Martelo ou Porrete
produto Tábua Caixa
Cabeça Ápice (corpo)

Base retangular com


1 Paralelepípedo Cilíndrica -
contorno arqueado

Polígono semelhante Prisma de base


2 - -
a uma folha quadrada chanfrada

Prisma aberto semelhante


3 Retangular Paralelepípedo Cilíndrica
a uma casa

Poligonal (retângulo Prisma aberto semelhante


4 Paralelepípedo Cilíndrica
+ trapézio) a uma casa

5 Retangular Paralelepípedo Tronco de cone -

Poligonal (retângulo
Prisma aberto semelhante
6 com corte retangular Paralelepípedo Cilíndrica
a uma casa
menor)

Retangular de

cantos arredondados Prisma de base


7 Cilíndrica -
e rebaixos próximo elipsoidal

às extremidades

8 Retangular Paralelepípedo Cilíndrica -

Retangular com
9 - Cilíndrica -
arestas chanfradas

Base retangular de Prisma de base


10 - -
contornos arqueados quadrada

11 Retangular - Cilíndrica -

Semelhante a arco
12 - - -
retorcido

13 Base retangular de - Cilíndrica -


contornos arqueados

Base retangular com

14 um dos lados Paralelepípedo Tronco de cone -

arqueados

Cilíndrica com
Base retangular de
15 - extremidade -
contornos arqueados
achatada

16 Retangular - Cilíndrica -

Tabela 13 - Análise morfológica dos similares encontrados – Peso

FORMAS DOS PRODUTOS

Peso (kg)
Nº do
Martelo ou Porrete
produto Tábua Caixa
Cabeça Ápice (corpo)

1 1,3 0,15 0,2 -

2 1,15 - 0,3 -

3 0,9 0,15 0,25 1,75

4 0,85 0,2 0,15 2,15

5 0,85 0,3 0,2 -

6 0,7 0,2 0,15 1,85

7 0,8 0,15 0,1 -

8 0,65 0,15 0,2 -

9 0,6 - 0,17 -

10 1,25 - 0,22 -

11 0,95 - 0,2 -

12 - - 0,15 -

13 1,35 - 0,35 -

14 0,85 0,25 0,12 -

15 1,25 - 0,25 -

16 0,45 - 0,35 -
Análise Sincrônica

Tabela 14 - Análise sincrônica dos similares encontrados

IDENTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS

Nº do
Marca Origem Preço Material Embalagem
Produto

1 - Artesanal R$ 4,00 Pau-d’arco -

2 - Artesanal Não informado Angelim -

3 - Artesanal R$ 8,00 Angelim Caixa para transporte

4 - Artesanal R$ 12,00 Angelim Caixa para transporte

5 - Artesanal R$ 4,00 Tatajuba e Mogno -

6 - Artesanal R$ Pau-cetim Caixa para transporte

Pranch Fort
7 Industrial R$ 7,50 Pinho Embalado no plástico
Tramontina ©

Mármore (tábua) e

8 - Artesanal R$ 15,00 Pau-cetim e Pau- -

d‘arco ( martelo)

9 - Artesanal Não informado Angelim -

10 - Artesanal Não informado Mogno -

11 - Artesanal Não informado Angelim e fórmica -

12 - Artesanal Não informado Pau-marfim -

13 - Artesanal Não informado Mogno -

14 - Artesanal Não informado Mogno -

15 - Artesanal Não informado Tatujuba -

Tatajuba e pau-
16 - Artesanal Não informado -
marfim
Tabela 15 - Análise sincrônica dos similares encontrados (1 a 4) – Atributos

Pesos Produto1 Produto 2 Produto 3 Produto 4


Atributos
1a5 Nota NxP Nota NxP Nota NxP Nota NxP

Valor semântico 2 8 16 6 12 7,5 15 6 12

Durabilidade 3 9 27 8 24 8 24 8 24

Acabamento 3 8 24 6 18 8 24 7 21

Praticidade 4 7 28 5 20 7 28 8 32

Material 4 8 32 8 32 9 36 7,5 30

Dimensionamento 5 6 30 5 25 7 35 6 30

Tabela 16 - Análise sincrônica dos similares encontrados (5 a 8) – Atributos

Pesos Produto 5 Produto 6 Produto 7 Produto 8


Atributos
1a5 Nota NxP Nota NxP Nota NxP Nota NxP

Valor semântico 2 8 16 9,5 19 8 16 9 18

Durabilidade 3 8 24 8,5 25,5 8 24 8,5 25,5

Acabamento 3 8,5 25,5 9,5 28,5 9 27 9 27

Praticidade 4 8,5 34 10 40 8 32 9 36

Material 4 9 36 9 36 8,5 34 9 36

Dimensionamento 5 8 40 8,5 42,5 7,5 37,5 9 45


Tabela 17 - Análise sincrônica dos similares encontrados (9 a 12) – Atributos

Pesos Produto 9 Produto 10 Produto 11 Produto 12


Atributos
1a5 Nota NxP Nota NxP Nota NxP Nota NxP

Valor semântico 2 7,5 15 7 14 8,5 17 5 10

Durabilidade 3 8 24 7 21 8,5 25,5 6 18

Acabamento 3 6,5 13,5 6 18 8,5 25,5 5 15

Praticidade 4 8 32 7,5 28 8 32 5 20

Material 4 8 32 8 32 9 36 7,5 28

Dimensionamento 5 8 40 7 35 8 40 5 25

Tabela 18 - Análise sincrônica dos similares encontrados (13 a 16) – Atributos

Pesos Produto 13 Produto 14 Produto 15 Produto 16


Atributos
1a5 Nota NxP Nota NxP Nota NxP Nota NxP

Valor semântico 2 6,5 13 7,5 15 7,5 15 8 16

Durabilidade 3 8 24 8,5 25,5 8 24 8,5 25,5

Acabamento 3 6,5 19,5 7 21 6,5 19,5 8 24

Praticidade 4 7,5 28 7,5 28 7,5 28 8 32

Material 4 8 32 8 32 8 32 8,5 34

Dimensionamento 5 7 35 7 35 7 35 7,5 37,5


Requisitos projetuais

Os requisitos projetuais foram traçados conforme Bonsiepe (1978, apud

RODRIGUEZ, [198[?])20.

De uso: proporcionar uma ferramenta – martelo – com maior nível de

precisão de movimento e menos aplicação de força. O martelo, conseqüentemente,

deverá estar de acordo com princípios ergonômicos, tanto no manejo (área de

contato), quanto na antropometria (dimensionamento). Deve, por isso, ser prático, de

fácil manuseio e que exija menos esforço físico do usuário.

Técnico-produtivo: O produto tem que atender às limitações

tecnológicas regionais, de baixo custo e valorizar a mão-de-obra local; ser de fácil

aquisição e que sua matéria-prima seja comum na região, além de corresponder

igualmente a todas as propriedades físicas dos concorrentes, tais como: resistência

ao impacto, ao desgaste, à luminosidade, à insolação e salinidade (visto que o kit é

usado em horários diurnos e em ambientes abertos, ao ar livre, e exposição à

salinidade) e à umidade.

De função: Além de apresentar bom acabamento e resistência, visando o

melhor funcionamento de produto, de modo que transpasse confiança ao usuário.

Estrutural: Deve possuir poucas peças, entre duas e cinco, para facilitar

a manutenção e posterior reposição, bem como tornar mais simples e barato o

produto.

Formal: a simplicidade da forma e relação entre os componentes deve

promover estabilidade visual, utilizando elementos visuais. O produto deve portar em

sua configuração elementos semióticos que o identifique com o contexto em que

20
BONSIEPE, Gui. Diseño Industrial, Tecnología y Dependencia. México: Edicol, 1978. pp. 142-
143.
está inserido. Para tanto, o objeto necessita de estilo próprio e sua imagem

(superfície) deverá relacionar-se com o usuário por meio de elementos que estejam

inseridos no mesmo contexto da tarefa analisada.

Geração e escolha de alternativas

Foram propostas alternativas, que tiveram como foco o modo de quebrar

caranguejo. Diversos mecanismos diferentes do habitual foram apresentados como

propostas (figuras 21 a 24), porém elegeu-se a que seguia a análise das atividades

da tarefa e a estruturação dos requisitos projetuais.

Adotou-se como critério de seleção de alternativa o fruto de análise

paramétrica das idéias geradas que abrangem, conforme Baxter (2001), aspectos

qualitativos, quantitativos e de classificação.

A primeira alternativa descreve um mecanismo semelhante ao de uma

bica (dispositivo antigo usado para bombear água), feito de madeira e metal. Seu

manuseio exigiria uma carga adicional de força, apesar de estar sendo utilizado uma

alavanca. O custo relacionado a sua fabricação elevaria seu preço e, ademais, a

reposição de peças, assim como limpeza e transporte seriam mais dificultosos.

O segundo esboço ilustra um maquinário semelhante aos êmbolos de

canetas. O acionamento do embolo situado na parte elevada do produto transmitiria

uma carga de força à estaca, localizada entre a base do aparelho e o corpo

suspenso por duas hastes. Tal dispositivo seria dotado de molas, tal qual aparece

nos aparatos de lapiseiras então citados. O produto seria composto de polímero e

algumas peças, como a mola e parafusos de aço. O transporte e limpeza não

apresentariam eventuais problemas, porem a reposição de peças teria dificuldades


maiores, por se tratar de um material não muito comum da região e sofisticado

processo de fabricação. Percebe-se a sua complexidade do uso, bem como a

dificuldade para sua confecção, uma vez que a tecnologia regional não dispõe

recursos que possibilitem tal execução.

Tabela 19 - Análise paramétrica das alternativas geradas - quadro de classificação, conforme Baxter
(2001)

Nº DO PRODUTOS META A
PARÂMETROS VARIAVEL COMENTÁRIO
PRODUTO SIMILARES ATINGIR
Madeira de alta Material de fácil Madeira de
1 Material Aço e baixa acesso e média
densidade manuseio densidade
Número de Reduzir número
2 9 Entre 2 e 13 Entre 2 e 5
componentes de componentes
Tecnologia
Artesanal Usar alternativa
3 Tecnologia Industrial regional (baixa
(maioria) de baixo custo
escala)
Formas que
Forma
respeitem a
4 Martelo (dimensões) do Geométrica Antropomorfa
anatomia da
cabo
mão

O terceiro exemplar tem em sua essência o mecanismo do quebra-nozes.

Consiste em um alicate de aço inox adaptado à quebra da crosta que envolve a

carne (da noz). Possui um sistema de alavancas de primeira ordem acionadas com

o auxílio de uma mola. Junto com o alicate, a tábua de madeira com um

compartimento aberto para o depósito dos restos do crustáceo. Vê-se, também,

neste esboço a complexidade de sua fabricação para a tecnologia disponível na

região que este se insere. Em seguida, a manutenção de suas peças, pois elas

estão em função do processo de fabricação adotado. O transporte é favorável, assim

como sua limpeza.


Figura 10 - Representação das Alternativas (1)

Figura 11 - Representação das Alternativas (2)


Figura 12 - Geração de Alternativas (3)

Figura 13 - Geração de Alternativas (4)


A quarta alternativa se remete à adaptação e melhoria do mecanismo

tradicional de quebra de caranguejo. Apresenta um martelo de madeira de ápice

curvada e em sua extremidade uma esfera de aço. A tábua de madeira, também,

possui pega para o translado e área de quebra específica para a prática da extração

de carne. Verificou-se que a tecnologia presente na região é favorável à sua

confecção, o que barateia o produto. Ainda, optou-se pelo mesmo mecanismo de

quebra devido fatores de ordem semântica, a aceitabilidade do público, quanto ao

uso de um objeto cujo uso é similar aos concorrentes. Sua manutenção, limpeza e

transporte são fáceis. De igual valor ao da carga subjetiva do “kit” o redesign,

conforme os princípios ergonômicos, que objetivam melhorar a interação do produto

e do usuário através de dimensões que respeitem a anatomia e a biomecânica da

mão.

Atração Bissociativa

Eleita a alternativa, houve ligações de idéias já existentes em outros

produtos de diferentes funções, tais como: o barbeador, com um ângulo entre a

pega e o suporte da lâmina, que facilita o afeitar, evitando um esforço maior nas

articulações e tendões do antebraço, além da fadiga; o cabo de faca de mesa, de

forma antropomorfa; a baqueta de bateria (instrumento musical), onde a ponta

esférica deste objeto, por não possuir arestas, “fere” muito menos o aparelho (a pele

da bateria), além de haver mais consistência no som, ocasionada pelo peso

concentrado em um só ponto. Tais analogias, de caráter direto (BAXTER 2001),

onde se compara o objeto com os fatos reais, conhecimentos ou tecnológicas

semelhantes, serviram para achar algo que melhore o produto em questão. O


referido autor menciona que a bissociação busca ter não apenas, mas vários pontos

de vista acerca de um problema. A inclinação entre o cabo e a ligação da esfera; as

curvas do cabo; e a esfera na ponta (substituindo o cilindro ou prisma de base

quadrada, comum nos “porretes” similares), pode facilitar o uso do martelo

diminuindo a aplicação de força, pois a quebra do exoesqueleto do caranguejo-uçá

seria efetuada com a concentração de força mecânica da esfera, e aumento da

precisão de movimento, além de permitir a postura neutra do punho.

Valores estético e simbólico

Percebeu-se durante a análise de tarefa e as entrevistas que a prática de

extrair carne do crustáceo não possui apenas o significado alimentício. Há uma

carga simbólica muito forte, a ponto de estar enraizada culturalmente nos hábitos

alimentares do povo maranhense. Portanto, para o usuário do “kit caranguejo” a

função estético-simbólica tem grande destaque na concepção deste produto, por

muito motivos, como, por exemplo: a falta de atrativo visual nas formas e materiais

dos produtos existentes (similares diretos), o que confere a estes apenas a função

prática; a existência de outros aparatos de qualidade duvidosa (questões higiênicas

e ergonômicas); etc.

Para tanto, visou-se projetar um equipamento que suprisse esta carência

semântica, uma vez que dentre dois produtos que contém finalidade e tecnologia

similares, o consumidor (usuário final) dará preferência àquele que lhe apresentar

visualmente eficiência (BAXTER, 2001). Frente a essa assertiva, analisando o

significado do ato de quebrar caranguejo como fator cultural, percebeu-se a

necessidade de acrescentar elementos cuja carga semântica remetesse o usuário a


associar o objeto com a tarefa a ser executada e toda a situação em que ambos

estão inseridos.

Usar o próprio caranguejo como referência para agregar os valores

significativos, tais como: resistência (durabilidade – uma vez que sua carapaça

calcária oferece certa resistência à atividade em questão); valor simbólico agregado

(elo entre a tarefa o crustáceo, utilizando-se de elementos representativos) e;

inovação, por atribuir elementos sinéticos familiar ao usuário e, ao mesmo tempo,

estranho aos demais similares.

A composição do produto valeu-se destes valores para sua configuração.

O uso da analogia direta em relação à carapaça do cancrídeo para o tampo da tábua

remeteu dois aspectos: o simbólico que, como já descrito, se vale da resistência que

a tábua deseja transmitir; o estético que, conforme os requisitos formais, figura por

meio de elementos visuais a simplicidade. O mesmo ocorre na empunhadura da

referida tábua, cujos elementos oferecem transferência de valores semelhantes, no

que diz respeito à função prática desta peça. Foram atribuídas à pega configurações

que remetesse o usuário a lembrar das garras (quelípodes e dáctilos), como

interface do usuário com a tábua, proveniente da interface caranguejo-alimento (a

garra do crustáceo tem como função a defesa e captura de alimentos). A mesma

analogia está presente no caráter prático-funcional desta peça. As leves ondulações

que simulam a superfície interna das garras têm por função auxiliar a pega do

usuário, durante o transporte, evitando possíveis acidentes.

O instrumento utilizado para a quebra (martelo) possui, ainda, valores

simbólicos (não devendo ser confundido com estudos de biônica). O corpo curvado,

com leve decréscimo de espessura, desta peça remete também ao crustáceo, mais
especificadamente, às suas unhas (pereópodes). A esfera de aço figura pureza,

uniformidade e remete, também, a uma pérola (encontrada em ostras).

Para todo o conjunto, optou-se pela madeira (especificamente a

Maracatiara), pois tal material é intrínseco a prática, uma vez que a madeira

simboliza longa vida (durabilidade) e culturalmente já está presente, além de ter

cunho ecológico, o que aproxima o usuário da natureza, agregando valor de pureza

ao produto. Pereira & Monteiro (1995) acrescentam que tal madeira é apropriada ao

uso de cabos de ferramentas e que a mesma retém pouca umidade (baixa variação

volumétrica), sendo, portanto, mais resistente aos ataques de fungos e bactérias

xilófagas, devido ao seu baixíssimo teor higrométrico. É, com isso, diferente dos

demais similares, uma vez que o material possibilita o uso do equipamento de modo

mais higiênico, sem que os restos de casca e carne do crustáceo fiquem presos nas

reentrâncias do produto. Haja vista que se prime por este diferencial: a higiene da

atividade; então, a utilização de um impermeabilizante para o acabamento final (visto

que a maioria dos similares não o possuem), como o selador, fortalece a idéia de

limpeza, além de valorizar mais a natureza do material, que a madeira, roborando a

questão ecológica e os outros fatores referentes.

6.3.2. Etapa configuracional

Dimensionamento

O dimensionamento do martelo foi pensado conforme Grandjean (1998),

quando afirma que as empunhaduras não adaptadas à anatomia da mão ou que

pouco valorizam a biomecânica do trabalho, podem influenciar a produção e


eventualmente causar danos à saúde do trabalhador-usuário. Basicamente, o

formato do martelo respeita os contornos da mão, contendo depressões para facilitar

o contato dos dedos. O cabo do martelo possui as seguintes dimensões: 22 mm (∅)

x 9,90 mm. Tais dimensões do martelo foram estabelecidas de acordo com Freivalds

(1999): 22 mm de diâmetro (ou secção), 120 mm de comprimento e ângulo (eixo da

preensão em relação ao dedo indicador) de 60o para manejo de precisão; e com a

tabela de Dreyfuss (1966 apud DIAS, 1986)21: usando os percentis homem 97,5% e

mulher 2,5%, medidas B, C, D e E. Este dimensionamento serviu de referência para

o projeto do martelo, sofrendo pequenas adaptações após o teste de usabilidade,

em situação real.

A área de quebra da tábua, constituída de uma superfície reta, tem por

dimensões: 260,0 mm x 240,6 mm x 20,0 mm, conforme a tabela de Alcântara Filho

(1978), utilizando-se a média aritmética do comprimento e da largura da carapaça do

macho, uma vez que as fêmeas são inviáveis comercialmente, por serem bem

menores que os machos e mais difíceis de serem capturadas (ADEMA, 1984a). A

tábua é uma peça estática no processo da quebra de caranguejo e a ela são

atribuídas propriedades, como: resistência a fortes impactos, visto que tal peça é

passiva a choques.

Há a presença de uma empunhadura (231,3 mm x 99,2 mm, vazado:

154,1 mm x 35,0 mm), conforme Freivalds (1999) e Dreyfuss (1966 apud DIAS,

1986)22 com suaves curvas (evita que a tábua caía ou escorregue da mão), visto que

facilita o transporte e o escoamento dos dejetos em seu tampo superior, para o lixo.

21
DREYFUSS, Henry. The measure of man: Human factor in Design. [s.l.: s.n.], 1966.
22
Ibidem.
Detalhamento técnico

Na parte remetida à preensão dos dedos (cabo) forma um ângulo de 60°

com o apêndice (elo entre o cabo e a esfera), cuja finalidade é de condicionar a mão

do usuário à posição neutra, não condicionando ao punho qualquer outro movimento

(flexão, extensão ou desvios). O diâmetro da esfera de aço é de 10 mm, visto que tal

sólido tem a menor área de contato, conseqüentemente, um ponto único e uniforme

de ruptura da crosta do caranguejo, e também, em decorrência do peso da tal forma.

Também é perfurada, para a posterior fixação com o corpo do martelo. Tal sistema

de encaixe é feito através de um pino helicoidal (semelhante ao corpo de um

parafuso), onde a esfera é enroscada nele, visto que na superfície de seu orifício há

ranhuras adequadas a esta interação.

Evolução e desenvolvimento da alternativa escolhida

A alternativa eleita passou por todo o processo de intervenção

ergonômica três vezes até alcançar a configuração que o produto possui.

Na primeira vez, o kit teve como foco principal o martelo, sobretudo, a

precisão dos movimentos realizados por meio dele. Desenvolveu-se, então, o estudo

físico do martelo, como a análise das massas específicas dos materiais utilizados.

Preocupou-se, ainda, com a higiene do usuário, uma vez que nesta versão de

número um do kit houve: observações do comportamento do usuário durante o

consumo do crustáceo, sucedida de entrevista e de análise da tarefa e pesquisa dos

similares encontrados, seguida de analise paramétrica. Os testes de usabilidade

foram efetuados com um modelo feito com uma madeira alternativa sem
acabamento, no caso o Angelim, como mostra a Figura 14. Tais avaliações

forneceram dados relevantes como o perfil do usuário: maioria do sexo feminino, de

idade entre 16-35 anos, com costume de comer caranguejo. Anterior a esta prova,

obteve maior credibilidade do objeto-alvo (martelo) com o teste de contato,

abrangendo o percentil 5% feminino e o percentil 95% masculino. Comprovou-se a

eficiência da interação homem-máquina nestes extremos, conforme a Figura 28.

Figura 14 - Primeira versão do “kit caranguejo”.

Nota-se na figura 15 que a postura adotada dos punhos quando do uso

do martelo em situação real, foi próximo da postura neutra. Isto resulta em um maior

nível de conforto e menor nível de constrangimentos biomecânicos.


Figura 15 – Análise da postura durante o uso do martelo.

A figura 16 mostra que os usuários que participaram do teste de

usabilidade, percebem o uso do martelo (alternativa proposta) como de tamanho

médio, peso leve, boa eficiência, confortável e bonito, corroborando com os

requisitos projetuais.

Figura 16 – Preferências dos usuários quanto ao uso do martelo.

A segunda versão do kit caranguejo traz melhorias na superfície da tábua,

com o acréscimo de fórmica, com o intuito de melhorar o acabamento de mesma e,

ainda, sua estética. Além do acabamento, o martelo recebeu revisão em suas


dimensões, fundamentadas nos conceitos ergonômicos para instrumentos de

precisão, de maneira que evitasse possíveis danos à saúde do usuário, bem como

proporcionar melhores conforto e desempenho, como quer o objetivo deste trabalho.

Mantiveram-se, também, os materiais antes empregados. Esta versão não passou

pela simulação de uso, apenas pelo estudo da configuração, do contato e do apelo

estético.

Figura 17 - Segunda versão do “kit caranguejo”.

Nesta terceira e última variante as alterações vieram para o

dimensionamento da tábua, baseada nas dimensões da carapaça do caranguejo

(vide pp. 19). Ademais, a forma desta é semelhante ao cefalotórax deste cancrídeo.
A empunhadura da tábua possui suaves ondulações para evitar que a mesma

escorregue das mãos e, esteticamente, visa lembrar os quelípodes do caranguejo.

Para o martelo, estudaram-se pequenas variantes de sua configuração, objetivando

a melhoria, através de alterações nas dimensões. Buscou-se também explorar

alternativas de fixação da esfera no ápice, quer fosse por meio de rosca, quer fosse

soldado em uma placa metálica em forma de U fixa ao ápice por meio de parafuso

ou pino, quer fosse também pino metálico de interface em forma de H. A região do

cabo, parte onde os dedos e parte da palma se acomodam, recebeu atenção por

meio de análises e comparações com outras posturas e equipamentos de fins

semelhantes (martelos, facas, serras, etc.). Os dados adquiridos nas entrevistas da

primeira versão, assim como ao longo deste trabalho (as informações aqui escritas

são, a maioria, desta última versão), auxiliaram na concepção configuracional do kit.

Figura 18 – Terceira versão do martelo do “kit caranguejo” – experimento com sistema de solda da
esfera em placa metálica.

O resultado do experimento do elo em U esfera-martelo por soldagem não

foi satisfatório, devido ao excesso de material resultante da aplicação de solda ter

escapado da área delimitada à operação. Tal fato interfere e dificulta o acabamento

do produto, encarecendo o processo e, por conseguinte, o mesmo.

Para o pino H, o fator decisivo que o impediu de ser mais bem explorado

foi a tecnologia indisponível e mais cara. Haja vista que dois motivos explanam o
abandono desta alternativa: primeiro, as necessidades estabelecidas no projeto

remetem à valorização da tecnologia regional; e segundo que, uma vez

prosseguindo com esta idéia, arcar-se-á com mais custos que, também, é

impraticável perante aos critérios estabelecidos pelos pré-requisitos projetuais.

Figura 19 – Quadro evolutivo da alternativa escolhida.


Por fim, a alternativa desenvolvida para a fabricação do modelo é a por

meio de enroscamento, pois dentre as três é a que corresponde melhor aos pré-

requisitos do projeto.

Processos e materiais para a fabricação

Para o modelo do kit (martelo e tábua), foi decidido usar duas espécies de

madeiras: a Maracatiara (Astronium lecointei Ducke), por ser uma madeira nativa da

região amazônica, muito usada no estado, sendo então de fácil aquisição e baixo

preço; e o Pau-Cetim (Euxylophora paraensis Huber), também de fácil aquisição e

propriedades similares a da primeira. De acordo com Freivalds (1999), a madeira é

um material de fácil aquisição e trabalho, tem boa resistência ao choque,

condutividade elétrica e térmica, e tem boas qualidades de fixação (atrito) na

presença de líquidos.

De acordo com Pereira & Monteiro (1995), a Maracatiara é classificada

como muito pesada, uma qualidade boa para as madeiras empregadas para cabo de

martelos e de chaves de fenda, como também para pegas de outros tipos de chaves

mecânicas, possui baixa variação volumétrica, o que possibilita dizer que ela retém

muito pouca umidade (conforme a Tabela 16). Assim pode-se dizer que não afetaria

na preservação do objeto por ter um baixíssimo teor higrométrico, o que indica muito

menos risco de haver fungos e bactérias xilófagos. Entre outras propriedades, vale

ressaltar seu médio limite de resistência, que é considerado adequado para o

produto, pois este não necessita ter uma grande resistência. Isto é levantado por

que o mecanismo de quebra (martelo) possibilita maior interação com o crustáceo

sem haver a necessidade de aplicar-se uma quantidade maior de força. Logo, a


tábua atenderá perfeitamente a esta precisão, por não precisar suportar altos

impactos e choques.

Para Mainieri (1980), a trabalhabilidade do Pau-Cetim é uma das suas

características mais marcantes, uma vez que o acabamento por lixação é fácil,

assim como o corte com serra e a colagem. Apesar da usabilidade (aplicação citada

como a da Maracatiara) semelhante as das madeiras consideradas pesadas e baixo

teor higrométrico, possui algumas características que a diferenciam, tais como maior

resistência ao choque, o que compensa o valor de sua densidade, item que confere

ao Pau-Cetim a denominação de madeira média (quanto ao peso), de acordo com a

Tabela 17. Como anteriormente descrito, tais propriedades estão condizentes com

as necessidades do projeto, no caso da fabricação, o modelo.

O aço inox foi eleito para ser o material da esfera, por possuir

propriedades físicas e mecânicas ideais. A baixíssima dilatação volumétrica do

material lhe possibilita a permanência em locais de variações climáticas Pereira &

Monteiro (1995). Quanto ao peso, este metal atende adequadamente por tê-lo

concentrado, se levar em consideração as dimensões da esfera, pois foi feita

reduzida em relação aos similares Tem-se como justificativa a não-carência de força

bruta durante a prática da quebra de caranguejos, mas de força aplicada. Por isso,

projetou-se o martelo com a intenção de efetuar sua função com maior facilidade e

menos esforço por parte do usuário. Possui maiores resistência e densidade que as

madeiras então descritas, como indica a Tabela 15. A superfície é impermeável,

quer dizer, não absorve umidade. Ela também é lisa, o que impossibilita a

penetração de restos de crustáceo entre suas possíveis reentrâncias.

A fabricação do modelo de testes foi realizada de maneira artesanal

utilizando o maquinário da oficina de modelos tridimensionais dos Cursos de


Desenho Industrial e Física (Universidade Federal do Maranhão). O referido

processo foi realizado da seguinte maneira: depois de selecionadas as tábuas (de

maracatiara), foram cortadas nas dimensões desejadas, com o auxílio da serra de

fita. O corte foi disposto de modo a evitar desperdícios e por tratar-se de ser

ecologicamente correto. Obtidos os cortes, seguiram-se para a lixadeira os

segmentos curvos que à mão seria mais custoso. Depois, fez-se o acabamento

manual com uma lixa de numeração superior (100, 120, 150 e 180). Em seguida,

aplicou-se o selador nas peças xilóides, objetivando a impermeabilização destas. A

esfera de aço, com as dimensões citadas no projeto, foi obtida em lojas

especializadas (esferas de rolamentos). Esta foi encaixada ao apêndice do martelo,

por intermédio de um pino helicoidal. A mesma esfera gira em torno do próprio eixo,

sem que haja desgaste interno graças ao processo de enroscamento desta peça.

Tal processo visa adequar à superfície envolvida, no caso a parte interna da esfera,

à superfície do pino, que é helicoidal.

Tabela 205 - Propriedades físicas e mecânicas do aço, conforme Pereira (1995)

PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DO AÇO (RECOZIDO)

Propriedades Valor

Módulo de elasticidade E (Gpa) 195

Coeficiente de Poisson 0,27

Densidade (kg/m³) 8000

Coeficiente de expansão térmica (°C-1) 17,5 x 10-6

Tensão de escoamento (MPa) 240

Tensão máxima (MPa) 620

Condutividade Térmica (N/m°C) 16,3


Tabela 21 - Propriedades físicas e mecânicas da Maracatiara, segundo Mainieri (1980)

PROPRIEDADES FÍSICAS Classificação

Massa específica (Densidade) a 15% de umidade (g/cm³) 0,97 Muito pesada

Radial 3,33 Baixa

Contrações (%) (do Tangencial 6,28 Baixa


p.s.f. até 0% de
umidade) Volumétrica 11,19 Baixa

Coeficiente de retratibilidade
0,492 Médio
volumétrica

PROPRIEDADES MECÂNICAS Classificação

Limite de Madeira verde - -


resistência
(kgf/cm²) Madeira a 15% de umidade - -

Coeficiente de influência da umidade (%) - -


Compressão
Axial
Coeficiente de qualidade σ / 100D a 15% de umidade - -

Limite de proporcionalidade – madeira verde


- -
(kgf/cm2)

Módulo de elasticidade – madeira verde (kgf/cm²) - -

Limite de Madeira verde 1.036,3 Médio


resistência
(kgf/cm2) Madeira a 15% de umidade - -

Flexão
Relação L/F – madeira verde 36 Alta
Estática

Limite de proporcionalidade – madeira verde (kgf/cm²) 530 Alto

Módulo de elasticidade – madeira verde (kgf/cm²) 125.460 Médio

Trabalho absorvido (kgf.m) 2,44 Médio


Choque
(madeira Coeficiente de resiliência R 0,39 Médio
seca ao ar)
Cato dinâmica R/D² 0,40 Baixa

Cisalhamento – madeira verde (kgf/cm²) 134 Alto

Dureza Janka – madeira verde (kgf) 789 Alta

Tração normal às fibras – madeira verde (kgf/cm²) 105,3 Alta

Fendilhamento – madeira verde (kgf/cm²) 12,11 Alto


Tabela 22 - Propriedades físicas e mecânicas do Pau-Cetim, segundo Mainieri (1980)

PROPRIEDADES FÍSICAS Classificação

Massa específica (Densidade) a 15% de umidade (g/cm³) 0,68 Média

Radial 4,5 Baixa

Contrações (%) (do Tangencial 6,1 Baixa


p.s.f. até 0% de
umidade) Volumétrica 11,1 Baixa

Coeficiente de retratibilidade
- -
volumétrica

PROPRIEDADES MECÂNICAS Classificação

Limite de Madeira verde 418 -


resistência
(kgf/cm²) Madeira a 15% de umidade 711 -

Coeficiente de influência da umidade (%) - -


Compressão
Axial
Coeficiente de qualidade σ / 100D a 15% de umidade - -

Limite de proporcionalidade – madeira verde


96 -
(kgf/cm2)

Módulo de elasticidade – madeira verde (kgf/cm²) - -

Limite de Madeira verde 949 Médio


resistência
(kgf/cm2) Madeira a 15% de umidade 1775 -

Flexão
Relação L/F – madeira verde - -
Estática

Limite de proporcionalidade – madeira verde (kgf/cm²) - -

Módulo de elasticidade – madeira verde (kgf/cm²) 157.000 Alto

Trabalho absorvido (kgf.m) - -


Choque
(madeira Coeficiente de resiliência R - -
seca ao ar)
Cato dinâmica R/D² - -

Cisalhamento – madeira verde (kgf/cm²) - -

Dureza Janka – madeira verde (kgf) 742 Alta

Tração normal às fibras – madeira verde (kgf/cm²) - -

Fendilhamento – madeira verde (kgf/cm²) - -


Postura ou comportamento da mão durante o manuseio do martelo do “kit

caranguejo”

O martelo do “kit caranguejo” foi projetado de acordo com os preceitos da

postura funcional defendidos por Segalle (2004) e os conceitos da postura neutra

alegados por Iida (1990). Tal mescla ocorre devido às propriedades que a primeira

possui como a procura de uma posição que for mais cômoda para a mão e o punho,

e a segunda, de não permitir qualquer desvio realizado pelo pulso (desvios radial e

ulnar); lembrando que Grandjean (1998) asseriu que durante o trabalho manual a

mão deve acompanhar o eixo longitudinal do braço.. Em outras palavras, o martelo

do “kit caranguejo” propõe ao usuário a possibilidade deste escolher a postura que

lhe for mais confortável, se que a posição eleita comprometa o punho, levando-o a

conferir trabalho dinâmico, e sim estático (trabalho de resistência).

Durante a análise da tarefa e entrevista que o usuário realiza, percebeu-

se que tal atividade é realizada em uma freqüência que oscila entre uma vez por

mês e duas vezes por semana. Portanto, trata-se de uma prática que não carrega

atributos análogos ao do trabalho realizado por pessoas que extraem a carne do

caranguejo para a sua comercialização, visto que a carga de trabalho realizada e

freqüência são bem maiores que a analisada. Por estes motivos, não houve

necessidade de atribuir apenas elementos da postura funcional para o martelo, uma

vez que o esforço praticado durante a quebra do crustáceo não compromete com os

ligamentos e músculos, de modo a acarretar desgaste físico acumulativo (o que

pode acontecer no segundo caso), como pro exemplo: LER/DORT.

As posturas que o “kit caranguejo” pode oferecer, de acordo com a

classificação usada por Pastre (2001), são: pentadigital pulpar, preensão palmar
plena, preensão dígito-palmar, pinça de precisão e pinça trigital polpa a polpa

(Figura 30).

Figura 20 – Posturas geradas pelo martelo do kit caranguejo.


6.3.3. Validação do produto

Testes de usabilidade

O teste aplicado para a validação do produto criado (no caso o modelo)

consiste em inserir o “kit caranguejo” em uma situação real de uso, a fim de obter

dados comparativos que possam atender às necessidades estabelecidas e aos pré-

requisitos elaborados. Cabe ainda relatar que o critério de avaliação utilizado se vale

apenas de recursos visuais (fotografia), de onde são obtidos dados para analise

postural da mão e do punho, além do collett (espécie de questionário ilustrado onde

dados são armazenados, como desconforto e dor em regiões especificadas da mão,

por exemplo), questionário e entrevistas.

Os resultados desta análise são gráficos comparativos de grau de

satisfação do usuário, assim como o de grau de confortabilidade em relação aos

produtos similares. Tais medidas devem corroborar com o briefing levantado na

etapa conceitual, portanto, promovendo o modelo do produto.

Podem-se, para reforçar a importância e função desta etapa, utilizar os

resultados obtidos da referida fase analisada na primeira versão do produto, testada

com um modelo, citados na fase configuracional.


7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se notar que os resultados do teste de usabilidade da modelo da

primeira versão do “kit caranguejo” atende as necessidades e aos pré-requisitos

projetuais pré-elaborados. Enfatiza-se, no entanto, que ainda há a necessidade de

avaliação quanto ao uso do martelo com os materiais e processo de fabricação

inteiramente definidos, ou seja, um teste de usabilidade com um protótipo (cabeça

de série) e o uso de outras técnicas (eletromiografia – EMG – dos grupos

musculares envolvidos, goniometria, células de carga, cinemetria, etc.), uma vez que

o referido trabalho adotou o modelo do produto como base para estudo.


8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Bioecologia do Caranguejo Uçá Ucides cordatus Linnaeus: “varreduras” em

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GLOSSÁRIO

ANATOMIA: Ciência que estuda a forma e estrutura dos seres organizados.

ARTELHOS: Dedos dos pés.

CANCRÍDEO: Termo referente à família de crustáceos marinhos, decápodes, na

qual se incluem os grandes caranguejos.

CINESIOLOGIA: O termo cinesiologia vem do grego, que significa estudo dos

movimentos. Os cinesiologistas combinam a anatomia, ciência que estuda a

estrutura do corpo, com a fisiologia, ciência que estuda a função do corpo, para

produzir a cinesiologia, a ciência dos movimentos do corpo.

CEFALOTÓRAX: Região anterior do corpo dos crustáceos e aracnídeos, formada

pela fusão da cabeça e do tórax.

CRUSTÁCEO: Classe de animais aquáticos que respiram por brânquias e têm

exoesqueleto calcário, p.ex., caranguejo e camarão.

CUBITAL: Parte referente ao cúbito (a ulna), osso do antebraço.

DISTAL: Parte distante em relação a um ponto de referência, no caso o osso.

ESCÁPULA: A Omoplata, Osso em forma de par, chato, delgado e triangular que

constitui a parte óssea posterior de cada ombro.

FISIOLOGIA: Parte da biologia que investiga funções orgânicas os processos ou

atividades vitais.

FULCRO: Suporte o qual algo gira; sustentáculo.

INÉRCIA: Resistência que todos os corpos materiais opõem à modificação do seu

estado de movimento.

JUNTURA: O mesmo que articulação.


MECÂNICA: Ciência que investiga os movimentos e as forças que os provocam.

MESOLITORAL: Região costeira banhada pelo mar, situada entre a linha mais alta

da maré e a linha mais baixa desta.

MÚSCULO GASTROCNÊMICO: Músculo que, em cada perna, se estende do fêmur

até o tendão do músculo solear, do mesmo lado, formando o tendão de Aquiles.

PERCENTIL: Percentual (parte) de uma amostra quantitativa (expressa por

números), referente a um determinado objeto.

PEREÓPODE: As partes de um crustáceo.

PROXIMAL: Parte próxima em relação a um ponto de referência, no caso o osso.

PRÓPODE: Parte ou articulação anterior ao dáctilo (pinça móvel).

QUELÍPODE: Região referente à garra e ao própode dos crustáceos.

SINOVIAL: Membrana cartilaginosa situada entre as extremidades de dois ossos,

que promove o movimento destes, evitando que o atrito os desgaste.

TÔNUS: Contração muscular leve e contínua, normalmente presente; tono; tensão.

TRANSLATÓRIO: Aquilo em que todas as partes de um corpo se deslocam

paralelamente entre si.


APÊNDICES
APÊNDICE – A
DESENHO TÉCNICO
APÊNDICE – B
RENDERING

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